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Revista Clarineta No. 1 (2016)
Revista Clarineta No. 1 (2016)
20 anos
de encontros
de clarinetistas
2
ClarinetA
Nossa Capa
nº1Ano
julho 2016
1 nº1
4 Editorial
40 40 Lançamentos
Ficha técnica:
Editores e Idealizadores: Daniel Oliveira (Orquestra do Theatro Gerais, Belo Horizonte), Nivaldo Orsi (Orquestra Sinfônica do Estado
São Pedro, São Paulo), Joel Luis Barbosa (UFBA, Salvador), Luís de São Paulo, São Paulo), Ovanir Buosi (Orquestra Sinfônica do Estado
A.E. Afonso - Montanha (USP, São Paulo), Sergio Burgani (UNESP, de São Paulo, São Paulo), Rosa Barros (IFG, Goiânia), Thiago Tavares
São Paulo) (Orquestra Sinfônica Brasileira, Rio de Janeiro)
Corpo Editorial Nacional: Amandy Bandeira de Araujo (UFRN, Conselho Editorial e Consultivo Internacional:
Natal), Cristiano Alves (UFRJ, Rio de Janeiro), Fernando José Fabien Lerat (NEOJIBA, Salvador/França), Henri Bok
Silveira (Uni-Rio, Rio de Janeiro), Guilherme Garbosa (UFSM, Santa (Solista Internacional, Holanda), Nuno Pinto (Escola Superior de
Maria), Iura Resende (UFSJR, São João del-Rei), Jacob Cantão (UFPA, Música e Artes do Espectáculo, Portugal), Nuno Silva (Escola de Música
Belém), Jaílson Raulino (UFPE, Recife), Johnson Machado (UFG, do Conservatório Nacional, Academia Nacional Superior de Orquestra,
Goiânia), Marcos Cohen (Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Orquestra Metropolitana de Lisboa, Portugal), Paulo Gaspar
Cláudio Santoro, Brasília), Maurício Loureiro (UFMG, Belo Horizonte), (Banda da Armada, Portugal)
Mônica Isabel Lucas (USP, São Paulo), Pedro Robatto (UFBA,
Salvador), Ricardo Dourado Freire (UnB, Brasília), Roberto César Design e ilustrações : Marcelo Pitel Revisão: Isabel Junqueira
Pires (CDMCC, Tatuí), Vinícius de Sousa Fraga (UFMT, Cuiabá)
Conselho Consultivo Nacional: André Erlich (Orquestra
Sinfônica do Paraná, Curitiba), Augusto Maurer (UFRGS, Porto Apoio Institucional
Alegre), Diego Grendene de Souza (Orquestra Sinfônica de Porto
Alegre, Porto Alegre), Diogo Maia (Orquestra Municipal de São
Paulo, São Paulo), Eduardo Gonçalves dos Santos (FAMES, PROGRAMA DE
Vitória), Flávio Ferreira da Silva (UFAL, Maceió), Glória Subieta PÓS- GRADUAÇÃO EM MÚSICA
(Amazonas Filarmônica, Manaus), Jairo Wilkens (Orquestra
Sinfônica de Campinas, Campinas), Jonatas Zacarias (Conservatório
Pernambucano de Música, Pernambuco), João Paulo Araujo (UFRN, PROGRAMA DE
Natal), José Batista Jr. (UFRJ, Rio de Janeiro), Luca Raele (Sujeito a PÓS- GRADUAÇÃO
Guincho), Maurício Soares Carneiro (Orquestra Sinfônica do Paraná, PROFISSIONAL EM MÚSICA
Curitiba), Ney Campos Franco (Orquestra Filarmônica de Minas UFBA
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que começa, como outras, em uma banda de música, o
protagonista lembra clarinetistas, métodos e gravações
que foram referências para ele, em Portugal e no Brasil.
Na “Dica do mestre”, o clarinetista Edmilson Nery fala
sobre seu procedimento de raspagem de palhetas, ferra-
mentas que indica e materiais que utiliza. Permite-nos
conhecer um pouco mais de sua trajetória e competên-
Editorial
cias profissionais. Este número traz ainda uma carta
do claronista Henri Bok e lançamentos de CD por cla-
rinetistas brasileiros.
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RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo estudar as variações nas
escolhas de andamento por clarinetistas, tal qual se manifestam nos quase
cem anos de gravações, através de um trecho do Quinteto para Clarineta e
Cordas K. 581 de Mozart. A análise inclui cinquenta e seis versões da obra, que
foram comparadas com base na duração total do trecho em tempo absoluto e
a variação de andamento tempo a tempo dentro de cada trecho das gravações
selecionadas. Os resultados demonstraram que há um aumento significativo
de versões à medida que nos aproximamos do período atual, mas isso não se
traduz em maior diversidade. Pelo contrário, há uma tendência recorrente de
cristalização na forma de executar o trecho selecionado.
Palavras-chave: clarineta, gravação, performance, criatividade.
A Clarineta
no tempo:
As liberdades de escolha no Quinteto de Mozart
artigo
6
cem anos quanto à flexibilidade do tempo e do an- zam poucas gravações buscando entendê-las em
damento em geral (BOWEN, 1996, 34; BOWEN, profundidade (ETHERIDGE, 1983; FRAGA, 2008;
2001; DAY, 2000, 145; LEECH-WILKINSON, 2010; GARBOSA, 2002; ISHIGAKI, 1988). Porém, quan-
LOTT, 2006; PHILIP, 1998). Além disso, o vibrato do nos valemos de uma quantidade maior de gra-
como o conhecemos é um procedimento mais re- vações, a audição pode não ser um meio confiável
cente do que se imaginava, já que no início do século na extração dos dados. O uso de dados estatísticos
XX ele se limitava a um artifício de expressividade em maior escala pode, por outro lado, quebrar um
em locais específicos (BROWN, 2003, 64; FABIAN, círculo vicioso de audições na extração de dados
2006, 202; LEECH-WILKINSON, 2009, 793). das interpretações (COOK, 2010, 13).
Observando os diferentes tipos de mídia envol-
vidos, características como o timbre podem não
corresponder àquelas ouvidas nas primeiras gra-
vações (e, paradoxalmente, nas mais atuais), mas
as relações temporais podem ter um maior grau de
acuidade em todo o período analisado. Assim, a es-
colha dos objetivos dessa pesquisa buscou privile-
giar essas relações.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 A COLETA DE DADOS
Um dos principais critérios para a escolha da
Uma das características mais importantes trazi- obra a ser estudada foi a maior quantidade de
artigo
das por esse enfoque é a comparação entre as prá- gravações disponíveis. Assim, verificou-se que o
ticas interpretativas de uma época e o que diziam Quinteto para Clarineta e Cordas K. 581 de Mozart
sobre ela os tutoriais e métodos. Os estudos sobre é o que mais versões possui, com mais de cem gra-
esse aspecto demonstram que seria extremamente vações conhecidas, ainda que nem todas estejam
difícil reconstruir a prática de um período somen- disponíveis. Dessas, foram utilizadas cinquenta e
te com a leitura desses tratados (DAY, 2000, 148) e seis versões de um período que vai de 1926 a 2012.
expõem os limites das tentativas de autenticidade Por conta das evidentes limitações que uma
ao demonstrar que a flexibilidade no tempo em ou- obra camerística impõe ao estudo de um instru-
tras épocas pode ser considerada extrema demais mento em particular, optou-se por um trecho em
hoje em dia (BOWEN, 1996, 33), inclusive para os que a clarineta figura em primeiro plano com um
adeptos da Performance Historicamente Informa- papel preponderante. Esse fator, aliado à necessi-
da (HOEPRICH, 2008, 204; WALLS, 2002, 32). dade de focar em poucos parâmetros para que a
Se por um lado as evidências desses estudos nos análise não seja inundada por dados sem utilida-
permitem problematizar as práticas do fazer mu- de musical (CRUTCHFIELD, 1983; FABIAN, 2006;
sical atual, por outro, esse tipo de abordagem não KATZ, 2003; LEECH-WILKINSON, 2010), levou à
é imune a críticas. Uma das principais preocupa- escolha dos primeiros vinte compassos do segun-
ções de quem estuda as gravações é o tratamento do movimento, Larghetto.
dispensado e a forma de interpretar os dados que Do ponto de vista dos clarinetistas escolhidos,
resultam dessas análises. Em geral, pesquisas que há sem dúvida alguns que acabaram com maior
incluem um grande número de gravações tendem a relevância que outros, seja por suas característi-
utilizar o computador como ferramenta de análise cas pessoais, seja pelo contexto em que se encon-
e os gráficos resultantes costumam ser criticados travam, ou por ambos. Assim, para citar somente
como sendo uma lacuna entre aquilo que o softwa- os ingleses, Charles Draper, Reginald Kell, Jack
re é capaz de descrever e o que o ouvido humano Brymer e Allan Hacker são clarinetistas que in-
pode perceber (ARCOS, 2013, 65). fluenciaram decisivamente a forma de tocar de
Entretanto, a audição não é só um dado biológi- seus contemporâneos. Outros, como o vienense
co, mas também culturalmente influenciada (AUS- Leopold Wlach, acabaram em destaque não só
LANDER, 2009, 81). Assim, o ouvido em sua flexi- por suas características pessoais, mas por poder
bilidade tende a ouvir o que ele “espera” (COOK, permanecer em sua terra natal quando muitos dos
2010, 13). Isso pode não ser um problema quando demais clarinetistas se viam obrigados a migrar por
lidamos com poucas versões, já que alguns dos es- conta das perseguições políticas. E, por fim, desne-
tudos de gravações de clarinetistas em geral utili- cessário dizer que alguns clarinetistas importantes
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nunca gravaram, ou o fizeram em menor número, devido às matizes variadas na compreensão do
ou ainda não gravaram a obra escolhida nessa pes- pulso e de como os músicos se articulam dentro
quisa. Sempre que possível, procurou-se incluir a dessa fluidez.
maior quantidade de visões diferenciadas e de na- Nos casos em que esse tempo não fica exata-
cionalidades diversas. mente definido, especialmente no início de algu-
As gravações obtidas por diferentes meios, des- mas gravações, optou-se por um julgamento mais
de a extração de vinis ou CDs a compartilhamento musical que de exatidão de ataque. Assim, essa so-
com colecionadores de versões antigas transferi- lução pareceu surtir melhores efeitos no resultado
das de suportes para o formato digital, foram todas final, ainda que baseada numa decisão arbitrária.
convertidas ao formato WAV, com resolução de 16 Uma vez concluídas as análises, foi possível
bits e taxa de amostragem de 44.100 Hz. Esse pro- criar gráficos contendo uma quantidade maior de
cesso foi realizado para permitir uma abordagem gravações. Esses gráficos permitiram a compara-
comum a todas as gravações. O programa utilizado ção entre as diferentes abordagens de cada clarine-
foi o Sonic Visualiser, que permite a análise visual tista. Os resultados foram agrupados e discutidos
de diversos elementos do áudio analisado. primeiramente considerando a proximidade tem-
poral de cada grupo, seguido de uma comparação
2.2 A ANÁLISE DOS DADOS entre os resultados de cada grupo.
A análise dos dados coletados foi feita de duas
formas: medindo a duração do tempo total do tre- 3. RESULTADOS
cho selecionado em minutos e comparando os re- Em 1989, o Quinteto para Clarineta e Cordas K.
sultados, e mapeando a variação tempo a tempo 581 completou duzentos anos de existência. Nesse
nesse mesmo trecho. No primeiro caso, a aborda- tempo, muitas foram as versões e leituras feitas da
gem deve levar em consideração o contexto, já que obra, como uma consequência da sua influência na
artigo
por natureza essa medição desconsidera variações escrita para clarineta e cordas. Harmonicamente, o
pontuais em frases e rubattos. No caso do trecho trecho em Ré maior caracteriza-se por um balanço
escolhido do Quinteto de Mozart, o fluxo dos tem- delicado entre a tensão de quarto e quinto graus e
pos é geralmente contínuo, o que permite a pre- o retorno à tônica. Agregada à textura das cordas,
sunção que a duração total de cada trecho gravado a linha da clarineta estabelece sua predominância,
corresponde à abordagem de cada clarinetista. que é praticamente absoluta durante todo o mo-
De qualquer forma, essa análise é complemen- vimento ao delinear o contorno melódico que se
tada pelo mapeamento da variação nas escolhas move conjuntamente ao acompanhamento reali-
de andamento tempo a tempo nos vinte primeiros zado pelos demais.
compassos do Larghetto. Com a ajuda do Sonic Vi- Essa realização sonora tem sua percepção varia-
sualiser, foi possível inserir uma barra de referên- da de acordo com o andamento escolhido, já que
cia em cada pulso de cada gravação. Depois, o pro- uma relação entre dominante-tônica pode ter seu
grama criou um gráfico sobre a variação temporal efeito conclusivo diminuído ou aumentado con-
entre essas barras, sinalizado por uma linha ascen- forme demore-se mais ou menos tempo. E como
dente para aceleração e descendente para menos ocorre com frequência, essas variações por vezes
movido. A Figura 1A demonstra a aparência do pro- sutis tendem a criar uma estrutura audível diferen-
grama, a adição dessas barras e o gráfico criado pela te em cada versão, com significações diversas na
abordagem do tempo na gravação. O fundo preto fluidez do discurso musical.
indica o uso do espectrograma nessa gravação em Uma das primeiras constatações sobre o estudo
particular. Logo abaixo, as demais gravações são do andamento que transparece em cada uma das
posicionadas e justapostas (Figura 1B). cinquenta e seis gravações estudadas surgiu quan-
Uma das características que fica evidente com do a duração total dos primeiros vinte compassos
o estudo de gravações é que o andamento é o re- do Larghetto foi medida. Ao dispor em um gráfico
sultado de uma negociação que ocorre durante a único todos esses resultados, com a duração em
performance; a partitura com sua relação propor- minutos em função do ano de gravação, certos as-
cional serve apenas como ponto de partida, como pectos puderam ser visualizados mais claramente,
cenário através do qual essa negociação toma par- demonstrando, por exemplo, o quanto a duração
te (COOK, 2009, 777). Assim, embora cada tempo do trecho variava de uma gravação para outra, so-
seja facilmente visualizado na partitura, perceber bretudo até a primeira metade do século XX.
com exatidão o momento em que ele “começa” e
“termina” pode tornar-se sutilmente complexo,
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nha, especialmente a partir de 1990. Assim, ainda
que atualmente tenhamos muito mais gravações
que há cinquenta anos, elas tendem a se adequar
a uma percepção mais restrita quanto à escolha do
andamento para esse trecho.
Um ponto no gráfico é uma forma sintética de
analisar a execução de um trecho qualquer; clari-
netistas se esforçam entre seus eternos dilemas
de material que incluem palhetas, instrumentos,
passam pelas questões técnicas de captação em
estúdio com posicionamento de microfones e ba-
Figura 2. Gráfico com variação da duração total lanceamento, indo até as questões de performance
das gravações de 1926 a 2012. propriamente ditas, como as escolhas sobre como
expressar uma determinada passagem. A análise
Nas duas primeiras décadas representadas na mais aprofundada de cada uma dessas versões so-
Figura 2, o número de gravações, embora não seja bre a variação do andamento a cada tempo pode
tão expressivo, inclui alguns dos principais expo- fornecer mais detalhes a respeito de cada uma des-
entes da clarineta do período. Charles Draper e Si- sas gravações, ainda que com algumas limitações.
meon Bellison escolhem um tempo consideravel- Uma das primeiras gravações na íntegra reali-
mente mais rápido e contrastam com as opções de zadas do Quinteto de Mozart foi feita por Charles
Luigi Amodio e Louis Cahuzac. Draper em 1926. A captação revela uma abordagem
Até meados de 1970, há dentre os clarinetistas do Larghetto que inclui o que pode ser considera-
do norte da Europa uma clara tendência de execu- do hoje em dia como uma execução bastante irre-
tar esse trecho mais lento em oposição aos demais. gular; há inúmeros pontos em que a clarineta e o
Luigi Amodio, o clarinetista do Scala de Milão du- restante do grupo não estão sincronizados pelos
rante a gestão de Toscanini, é uma exceção, muito nossos padrões atuais, o trecho é repleto de ace-
embora ele próprio tenha tido muitas ligações com lerações e retardos, fraseados na clarineta que não
a Alemanha nesse período (WESTON, 2002, 22). são acompanhados pelas cordas e vice-versa. Além
Pelo pouco espaço de tempo entre as gravações, do que, a variação de tempo é considerável quando
as diferenças de abordagem das versões de Leopold medida isoladamente.
Wlach em 1950 e 1952 são especialmente visíveis. Figura 3. Gravações de Charles Draper em 1926
Por outro lado, se a relação professor-aluno pode (azul) e 1933 (vermelho).
ter influenciado em algum nível nessa abordagem
do tempo durante a execução, o que se verifica nas
comparações Amodio-Bavier e Wlach-McColl, ela
também pode ser bastante enganadora em outros
casos, como Cahuzac-Etlinger e Cahuzac-Peyer.
A partir da década de 1980, há um número consi-
deravelmente maior de gravações surgindo. O perí-
odo de 1980 a 1990 comporta facilmente a mesma
quantidade de gravações das suas décadas anterio-
res, por exemplo. No entanto, ess maior quantida-
de de versões não é acompanhada por maior diver-
sidade de interpretações, ao menos no que tange à A Figura 3 demonstra uma análise do trecho se-
escolha dos tempos. lecionado da gravação de Draper realizada tempo
De fato, há uma tendência generalizante que fica a tempo. Nela é possível perceber a variação de an-
bastante evidente ao comparar os dados de todo o damento que ocorre no trecho selecionado. Os pa-
gráfico: as gravações tendem a ficar ligeiramente drões não são facilmente identificáveis como era
mais rápidas à medida que nos aproximamos do de se esperar; movimentos ascendentes em col-
período atual, como pode ser observado na linha cheias podem ser tocados tanto mais rapidamente,
descendente resultante na Figura 2. Ao mesmo como demonstrado nos compassos 1, 11 e 15, quan-
tempo, as durações do trecho selecionado nessas to menos (compassos 2 e 5). O mesmo pode ser
gravações tendem a se agrupar em torno dessa li- dito para ritmos pontuados, bastando comparar os
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primeiros tempos dos compassos 4 e 6. sagens. No outro espectro, alguns instrumentistas
O que fica claro no gráfico é a grande variação no irão cada vez mais optar por andamentos lentos,
andamento que pode ocorrer durante a sua execu- especialmente entre clarinetistas de tradição ou
ção. Embora ocorra em todo o trecho, ela é mais influência germânica.
perceptível do compasso 10 em diante, o que pode Ainda que a tendência de tocar mais lentam-
ser um indício de uma tentativa de intensificar a ente esse trecho tenha envolvido uma série de
tensão harmônica relativamente maior nesse pon- clarinetistas, ela é especialmente sentida nas duas
to que na primeira parte. Uma comparação entre gravações do período realizadas pelo austríaco
essa gravação e outra realizada por Draper alguns Leopold Wlach. Pouco depois do fim da Segunda
anos depois, por volta de 1933, demonstra uma Guerra, as gravações desse trecho chegaram a an-
escolha de andamento ligeiramente mais lento. É damentos bastante lentos, diferente de como se fa-
possível perceber ainda diferenças significativas zia anteriormente e de como se veio a fazer depois.
entre ambas as versões no tocante às escolhas na A opção por andamentos lentos fica mais clara
variação do andamento. Há momentos em que a quando comparamos Wlach com aqueles de
fluidez da linha melódica em uma das versões é o tradição não germânica do período. Clarinetistas
oposto da outra, como demonstram os diferentes como o inglês Reginald Kell, que toca utilizando
sentidos que as linhas do gráfico tomam em cada um vibrato sutil e expressivo na sua gravação de
ponto. 1951, Louis Cahuzac em 1948, Vladimir Sorokin em
Ainda assim, é nítido que na gravação de 1933 há 1950 e mesmo Benny Goodman em 1956 irão uti-
uma maior variação a partir do compasso 10, na lizar andamentos ligeiramente mais movidos. As
comparação com os compassos anteriores, tal qual linhas que representam as gravações desses clar-
a versão de 1926. Essa não parece ser uma regra que inetistas contrastam com a versão de Wlach em
pode ser aplicada livremente para as gravações do termos de andamento, como pode ser percebido
artigo
10
Figura 6. Gravações de Brymer, Peyer e Silfies.
Figura 5. Gravações de Wlach, Goodman, Kell, So- A partir da década de 1980, o surgimento da
rokin, Cahuzac e Simenauer. mídia digital vai suplantar pouco a pouco os meios
analógicos e as gravações espelham cada vez mais
Fora algumas dessas observações, as diferenças o produto acabado em estúdio sem perdas de qual-
entre as versões parecem ser muita mais a regra que a idade. A manipulação das edições convive lado a
exceção. Para além da complexa relação na fluidez do lado com a maior disponibilidade e facilidade no
andamento escolhida por cada clarinetista, é possível processo de gravação. Nesse contexto, o Quinteto
perceber que as gravações de Goodman, Sorokin, Si- de Mozart será gravado como nunca.
menauer e Kell procuram, cada uma à sua maneira, As versões demonstradas na análise da Figu-
uma maior movimentação a partir do compasso 10 ra 7 incluem uma amostragem bastante variada,
na segunda metade do trecho. As versões de Cahuzac com Sabine e Wolfgang Meyer, Michel Portal, Alan
e Wlach, ao contrário, concentram na primeira seção Hacker e Peter Schmidl. As abordagens mais con-
a maior parte das variações no andamento escolhido. trastantes são a de Hacker, um dos pioneiros na
Na década de 1960 do século XX, as gravações performance historicamente informada, e Wolf-
parecem concordar um pouco mais quanto a deter- gang Meyer. A diversidade que aparenta aqui pode
minadas escolhas. O célebre aluno de Wlach, Alfred ser o resultado de um conjunto de fatores num
Boskovsky, bem como Yona Ettlinger, pupilo de Lou- período em que a tradição, ao mesmo tempo que
is Cahuzac, apresentam bastante similaridades entre se afirma nas versões dos Meyer (especialmente
as abordagens de andamento escolhidas. Um pouco Sabine) e de Schmidl, é questionada por diferentes
mais ao fim da década, a gravação de Harold Wright abordagens como a de Hacker com instrumen-
vai na mesma linha, embora essas concordâncias se- tos de época e afinação diferenciada. Além dele,
jam mais expressivas nos primeiros dez compassos a formação de Michel Portal em música contem-
analisados. porânea e jazz podem ter sido fatores influentes
A gravação de William McColl é um claro diferen- que fizeram da sua gravação uma versão mais livre
cial no período e parece evocar uma escolha de tem- de convenções de estilo, por assim dizer.
po mais reflexiva e menos movida, talvez influencia-
da pela versão de seu professor, Leopold Wlach. O
andamento escolhido por McColl permite, no entan-
to, que ele crie maiores contrastes na sua variação de
tempo que todos os outros, especialmente na segun-
da parte do trecho.
Durante a década de 1970, clarinetistas como
Jack Brymer e Gervase de Peyer fizeram escolhas de
andamento bastante similares se comparadas aos
clarinetistas de décadas anteriores. Embora suas
gravações estejam separadas por seis anos de dif- Figura 7. Gravações de Schmdl, S. Meyer, Portal,
erença, eles concordam não só quanto à variação Hacker e W. Meyer.
de 35 a 40 pulsos por minuto em todo o trecho, mas Todas essas tendências que adentram os anos
também quanto à condução de pequenos motivos 1980, simbolizadas pela orientação mais tradi-
em pontos específicos, como demonstrado na Fig- cional na performance da clarineta, juntamente
ura 6 a seguir. com a música contemporânea e a performance
em instrumentos de época, irão gradativamente
uniformizar suas práticas em torno de um ideal de
maior precisão e talvez de uma tendência criada
11
pela referência cada vez maior de uma música con- dos aspectos comuns a todas as gravações escol-
hecida e difundida como o Quinteto de Mozart. hidas, com especial relevância aqui no andamento
Anos depois, em plena década de 1990, a ju- escolhido por cada intérprete.
staposição de clarinetistas com diferentes ori- Assim, as diferentes leituras feitas através das
entações e influências como Karl Leister, David versões estudadas do trecho do Quinteto de Mo-
Shifrin, Sabine Meyer, Michel Portal, Eric Hoeprich zart selecionado podem ser melhor identificadas
e Phillipe Cupper irá ilustrar esse aspecto de pa- quando adicionamos uma grande quantidade de
dronização. É possível observar na Figura 8 que há versões a um mesmo gráfico que inclua um perío-
diversos pontos de concordância nas escolhas de do maior de tempo e o comparamos com o período
andamento, mesmo sendo esse um gráfico com precedente. Escolhas eventualmente arbitrárias,
maior quantidade de gravações até aqui. Há aceler- problemas e distorções em estúdio e vieses par-
ações em praticamente todas as versões nos com- ticulares na análise podem ser minimizados com a
passos 5, 7, 14 e 17, bem como uma diminuição de média de todas as gravações obtidas em um deter-
andamento nos compassos 8, 13, 16 e 17. minado período.
12
ta, indo de 30 a 50 pulsos por minuto e algumas de quase todas as gravações pesquisadas no perío-
gravações aparentam ficar mais lentas ao final do do. O paradoxo aqui é que numa época em que a
trecho selecionado. informação circula mais livremente e que o pro-
A partir de 1980, a popularização cada vez maior cesso de gravação torna-se mais fácil e acessível,
dos meios de gravação e a conversão para suporte possibilitando o surgimento de diferentes ideias e
de mídia digital contribuíram de forma decisiva leituras, a análise objetiva dessas versões no Quin-
para o aumento do número de gravações do Quin- teto de Mozart demonstra que a pluralidade das
teto de Mozart. Entretanto, a maior quantidade de abordagens é cada vez menor.
versões da obra não se traduz numa maior plurali-
dade de opções; pelo contrário, há uma tendência 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
cada vez maior de visões muito parecidas, com o Se olharmos o panorama de 1926 a 2012, o
uso frequente de ênfases e variações nas frases de pequeno segmento escolhido de vinte compassos
forma bastante semelhante (Figura 11). do Quinteto de Mozart demonstrou uma grande
variedade de opções quanto à escolha do anda-
mento. E elas mudaram consideravelmente nesse
período. Exatamente por isso, essa pesquisa partiu
da necessidade de entender uma obra importante
dentro da literatura da clarineta pelo viés de suas
narrativas gravadas através do tempo, não pela
análise de sua partitura. Especular sobre a natureza
dessas mudanças indicadas nas gravações pode ser
Figura 11. Gravações de 1980 a 1999. um exercício complexo, já que a forma de tocar é
profundamente influenciada por fatores bastante
Além disso, a escolha do tempo inicial se re- distintos. A natureza do processo de gravação e as
stringe um pouco mais, indo de 35 a pouco menos transformações que ocorreram durante os pou-
de 50 pulsos por minuto, com variações pontuais co mais de cento e dez anos da sua existência, as
em maior grau em meados dos anos 1980. O gráfico diferentes formas de leitura que a obra de Mozart
na Figura 11 demonstra ainda uma tendência geral sofreu através do tempo, aspectos práticos do faz-
de diminuir o andamento à medida que a música er musical que vão desde as escolhas de material
flui em direção ao compasso 20, no final do trecho como palhetas e instrumentos no caso dos clari-
pesquisado. netistas a decisões interpretativas planejadas ou
Por fim, as gravações feitas durante o período inesperadas, a fluidez sonora de uma música que
dos últimos doze anos anteriores a 2012 demon- é camerística e depende da interação com os out-
stram a cristalização na abordagem do andamento ros em algum nível, todos esses aspectos, alguns já
em determinados momentos do trecho analisado. discutidos anteriormente, são fundamentais para a
O resultado na Figura 12 é que a soma da represen- compreensão das decisões em cada caso.
tação gráfica de todos os clarinetistas pesquisados Entretanto, a superfície de dados que emana
durante a década de 2000 apresenta um resultado dessa análise observa esse fenômeno por um outro
que concorda em diversos pontos e é muito menos ponto de vista. Ao justapor diferentes gravações em
variada que as análises dos períodos precedentes. grande quantidade, essa abordagem demonstrou
que independente das questões intrínsecas às práti-
cas de performance de cada período, e mesmo ao
processo de gravação em si, o resultado final para
os ouvintes é uma obra que teve sua leitura transfor-
mada em todo esse tempo e cuja pluralidade inicial
de abordagens foi sendo gradativamente diminuída.
Nesse sentido a comparação das gravações quanto
à duração total de cada uma no trecho selecionado
demonstrou resultados consistentes quando com-
Figura 12. Gravações de 2000 a 2012. parados com a análise da variação de andamento
Embora de forma sutil, a tendência de diminuir tempo a tempo em cada uma.
ligeiramente o andamento em direção ao final da Essa prática uniformizada pode não ser sentida
frase aparentemente persiste aqui também. É uma diretamente no dia a dia; de fato, muitas dessas
variação pequena mas consistente com os dados
13
influências podem não ser escolhas conscientes, BERRY, Wallace. 1998. Musical Structure and Performance. New
mas uma tendência natural de assimilação de uma Haven, London: Yale University Press.
prática em larga escala. Ainda assim, ela é uma real- BOWEN, José A. 1996. Performance Practice Versus Performance
idade quando comparamos a natureza da transfor- Analysis: Why Should Performers Study Performance. In: Perfor-
mação de alguns desses aspectos através dos tem- mance Practice Review. V. 9, N. 1, Article 3.
pos, como demonstrado aqui. Ter a consciência BOWEN, José A. 2001. Finding the Music in Musicology: Perfor-
desse aspecto é fundamental para melhor orientar mance history and musical works. In: Cook, Nicholas & Everist, Mark
as práticas de performance, especialmente no que (ed.). Rethinking Music. Oxford: Oxford University Press. pp. 424-451.
diz respeito ao seu aprendizado. BROWN, Clive. 2003. Joachim’s Violin Playing and the Perfor-
Essas considerações abrem caminho para no- mance of Brahms’s String Music. In: Musgrave, Michael & Sherman,
vas possibilidades da performance no instrumen- Bernard D. (ed.). Performing Brahms: Early evidence of performance
to atualmente. A ênfase na virtuosidade e na pre- style. Cambridge: Cambridge University Press, pp.48-98.
cisão não precisam necessariamente ser as únicas BROWN, Mark. 2013. Musicians May Be Most Creative ‘When
consideradas. Na verdade, quando acostumamos not Actually Playing Instrument’. In: Journal The Guardian. Dis-
nossos ouvidos aos padrões anteriores ao CD, per- ponível em: <http://www.theguardian.com/music/2013/oct/01/musi-
cebemos que há algo de encantador e transcen- cians-creative-research-mus>.
dente em algumas dessas gravações produzidas em COOK, Nicholas. 2001. Analysing Performance and Performing
vinyl e shellac, muitas delas antes da edição em es- Analysis. In: Cook, Nicholas & Everist, Mark (ed.). Rethinking Music.
túdio ser prática corrente. Por trás de ruídos e chia- Oxford: Oxford University Press. pp. 234-261.
dos, lapsos de ataque e algumas (poucas) notas COOK, Nicholas. 2009. Changing the musical object: approaches
trocadas eventualmente, há uma profusão de car- to performance analysis. In: Blazekovic, Zdravko (ed.). Music’s Intel-
acterísticas inaudíveis nas nossas gravações mod-
artigo
lectual History: Founders, Followers and Fads, pp. 775-790. New York:
ernas que se tornam perceptíveis, com um fluxo de RILM.
continuidade e direcionamento que dificilmente COOK, Nicholas. 2010. The Ghost in the Machine: Towards a mu-
se consegue obter nos dias atuais. sicology of
Com um pouco de tempo e paciência, perce- recordings. In: Musicae Scientiae, v. 14, N.2, pp. 3-21.
be-se na escuta que a forma com que esses instru- CRUTCHFIELD, Will. 1983. Vocal Ornamentation in Verdi: The
mentistas dialogam com a música que executam Phonographic Evidence. In: Kramer, Lawrence (ed.). 19th-Century
demonstra aos ouvidos mais atentos uma noção de Music. v. 7, n. 1, pp.3-54. University of California Press.
expressividade diferente. O refinamento e as sut- DAY, Timothy. 2000. A Century of Recorded Music: listening to
ilezas estão lá, embora repousem sobre eixos dif- musical history. New Haven: Yale University Press.
erentes dos nossos hoje. Dessas diferentes possib- DONINGTON, Robert. 1965. The Interpretation of Early Music.
ilidades podem resultar discussões sobre o nosso Londres: Faber and Faber.
próprio fazer musical atual; uma busca que possa DREYFUS, Laurence. 2007. Beyond the Interpretation of Music.
valorizar o saber criativo do performer/aluno como In: Dutch Journal of Music Theory. v. 12. n. 3, pp. 253-272.
um indivíduo pleno de capacidades artísticas para ETHERIDGE, David. 1983. Mozart’s Clarinet Concerto – The clari-
as quais a performance deve ser uma ferramenta netist view. Greta: Pelcican Publishing.
de liberação para uma atividade criativa, e não de FABIAN, Dorottya. 2006. The Recordings of Joachim, Ysaÿe and
repetição das formulações musicais já conhecidas. Sarasate in Light of Their Reception by Nineteenth-Century British
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15
a
ta Convid
A Clarine Meryelle Maciente
e a redução da ansiedade:
relações com os hábitos diários
16
trevistado, ou seja, um dia comum de ensaio, pelo sa e nos autores por ela citados e listados abaixo,
Inventário BAI; recomendam-se aqui alguns hábitos de saúde que
- 37% dos músicos afirmaram “sim” para sentir podem ser cultivados no dia a dia do músico, de
Ansiedade de Performance Musical (APM) e 52% maneira simples e sem grandes custos:
afirmaram senti-la “às vezes”, totalizando 89% de
músicos (189 indivíduos) que sofrem do proble- • prática regular de atividade física (em especial
ma com alguma frequência. Para Medo de Palco, as atividades aeróbicas), já que ajudam o organis-
13% afirmaram que o sentem e 35% afirmaram que mo e a mente a regularem diversas outras capaci-
o sentem “às vezes”, totalizando 48% dos músicos dades, tais como o humor, o sono, a concentração,
(102 indivíduos) que afirmaram ter essa sensação a memória, a autoestima, a pressão arterial, a cir-
debilitante em algum momento (pelo questioná- culação sanguínea, entre outras (GODOY, 2002 e
rio elaborado por esta autora); 2011; TOSTES; 2014; FOX, 1999; TOMÉ e VALEN-
- 15% dos indivíduos afirmaram “sim” (3%) ou TINI, 2006);
“às vezes” (12%) para sentir ansiedade durante o
estudo diário e 37% afirmaram “sim” (3%) ou “às • hidratação ideal do organismo (recomendado
vezes” (34%) para sentir ansiedade durante os en- para o indivíduo adulto uma média de 1,5 litros a 2,5
saios de orquestra, que são situações cotidianas e litros de água por dia, dependendo do tipo físico e
corriqueiras (também pelo questionário elabora- características do clima), já que a boa hidratação
do por esta autora), o que aponta para a necessi- auxilia na lubrificação de músculos e articulações,
dade de o músico desenvolver maiores cuidados na regulação da pressão arterial, batimentos car-
diários com a saúde psicológica, com a finalidade díacos, memória etc (PORTAL DA EDUCAÇÃO
de aliviar esses problemas. FÍSICA, 2015; INSTITUTO DE HIDRATAÇÃO E
- 35% obtiveram resultado de APM moderada e SAÚDE, 2009. Disponível em: http://goo.gl/6Kh-
17% obtiveram resultado para APM alta, totalizan- ziK);
do 53% de músicos (112 indivíduos) afetados pelo
problema em níveis significativos, segundo o K-M- • dormir um número adequado de horas por
PAI (KENNY, 2009 traduzido por ROCHA, 2011, noite (sugere-se de 7 a 9 horas como o ideal, para
avaliado por meio da escala de desenvolvida por um indivíduo adulto) (BBC BRASIL, 2015);
RAY et al, 2013).
Assim sendo, como foram detectados esses • cultivo diário de boa postura, seja no dia a dia,
percentuais altos de ansiedade no cotidiano des- seja na prática do instrumento, já que uma boa
ses músicos, além de grande presença de APM, postura favorece uma boa respiração e um bom
bem como também alguns hábitos de saúde pou- funcionamento geral do corpo para a prática no
co salutares, que ampliam esses sintomas e os instrumento, favorecendo a sensação de relaxa-
problemas decorrentes deles, torna-se necessário mento e de controle físico e emocional, neces-
divulgar as pesquisas e conclusões que vêm sen- sários a uma boa performance bem como maior
do desenvolvidas por vários pesquisadores, para coordenação motora (SUETHOLZ, 2015; ALCÂN-
abrandar esses problemas. TARA, 1999);
Vários destes autores pesquisados encontraram
grandes relações entre os hábitos diários dos mú- • prática de algum tipo de meditação, que fa-
sicos, a ansiedade e a APM, já que corpo e cérebro vorece a memória, a concentração, o foco, o auto-
estão intimamente conectados, influenciando-se controle, a paciência, a resiliência, a autoestima e
mutuamente e continuamente. A redução de an- promove uma sensação geral de satisfação (para
siedade e de APM também pode auxiliar na dimi- os mais interessados, uma aula de iniciação à prá-
nuição da incidência de tendinites, lesões, proble- tica de meditação pode ser vista no vídeo, de Lama
mas musculares e articulares, entre muitos outros Padma Samten, 2012, pelo link: <https://youtu.be/
problemas físicos, visto que vários deles têm gran- FWWZ52a3grg>);
de relação com a tensão emocional refletida na
parte física. Assim, trabalhando para a melhoria de • prática de Ioga, já que a esta prática estão
sua mente, de seu lado psicológico e emocional, o associadas diversas melhorias físicas e mentais
músico contribui também para sua a saúde física, como o maior controle da concentração, da sen-
melhorando por consequência a qualidade de sua sação de satisfação, do equilíbrio físico e mental,
performance, além de proporcionar maior satisfa- melhorias relativas à flexibilidade de músculos e
ção com suas atividades profissionais. tendões etc (RODRIGUES, M. R., 1992; HERMÓ-
Com base nos dados recolhidos nesta pesqui- GENES, 2004);
17
• prática de exercícios de controle da respira- nismo e à saúde física e mental, além de serem vi-
ção, como os Pranayamas (da Ioga), exercícios ciantes (SILVA, 2011; HERMÓGENES, 2004; BEAR
de Biofeedback (RABELO, 2014. Disponível em: et al., 2008; SHEEHAN, 2000; KENNY, 2011);
<http://goo.gl/mFFk2p>) e até mesmo por meio de
aplicativos de celular, como o “Breathing Zone”, • incorporar no cotidiano o uso de técnicas
o “Breath2Relax” e o “Essence – Breath to relax”. como a Visualização positiva (FREYMUTH,
Tais exercícios promovem melhorias nos estados 1999; GREENE, 2002 e 2001; GOLEMAN, 2013;
de humor, proporcionando calma, tranquilidade SHEEHAN, 2000), a Neurolinguística (BAN-
mental, diminuição da ansiedade, redução dos DLER, 1987) e a Prática mental (FREYMUTH,
batimentos cardíacos, redução da pressão arterial, 1999; GREENE, 2001; BRUSER, 1999), que buscam
melhorias na capacidade de concentração e me- concentrar a mente para os objetivos positivos que
morização; se deseja obter na música, alterando a percepção
das situações ruins e alterando a maneira como o
• prática regular de alguma atividade que o in- indivíduo percebe os traumas, momentos tensos,
divíduo identifique como atividade puramente situações estressantes, gerando uma melhoria nas
ligada ao lazer e ao prazer, como um hobby, uma percepções de estresse, bem como na interpreta-
atividade cultural, passeios, ou até mesmo a já ção das situações, melhorando o humor, o estado
mencionada atividade física regular (realizada, no mental geral e a sensação de controle, o que se re-
caso, somente com a finalidade de se obter prazer) flete na parte física;
(FREYMUTH, 1999; MACIENTE, 2012 e 2016);
• a busca de terapias psicológicas, seja a Psico-
• aumento da ingestão de alimentos saudáveis terapia, a Psiquiatria (SHEEHAN, 200), a Terapia
e não processados (que contém substâncias como Cognitivo-comportamental (BARROS NETO,
artigo
corantes e conservantes, que podem aumentar 2014), entre outras, que podem auxiliar qualquer
o estresse e a ansiedade em alguns indivíduos), indivíduo (e não somente os mais ansiosos, de-
como frutas, legumes e verduras, cereais integrais primidos, tensos ou com transtornos mais sérios,
e oleaginosas (nozes, amendoim, castanhas etc), como se pode pensar) a superar pequenos trau-
bem como aumento de ingestão de alimentos que mas e problemas emocionais, ampliando sua ca-
contenham triptofano e ômega 3, que amplificam pacidade de lidar com problemas, o que pode se
as capacidades de um funcionamento saudável do refletir no cotidiano, na saúde mental e emocio-
corpo e da mente, melhorando a saúde em geral, nal, bem como na performance, seja no cotidiano,
além de contribuir para o sono, a memória, a con- seja em situações de maior estresse.
centração, o relaxamento, melhoria do humor, di- Não se deve subestimar o potencial das melho-
minuindo a ansiedade geral e, por consequência, a rias nas sensações físicas e mentais ao se realizar
APM (SILVA, 2011; HERMÓGENES, 2004; BEAR et tais mudanças de hábito acima propostas, antes
al., 2008; SHEEHAN, 2000); de experimentá-las. É necessário que cada músi-
co perceba as mudanças possíveis e necessárias
• evitar o uso abusivo de substâncias estimulan- dentro de sua própria realidade e que experimen-
tes como bebidas e alimentos com cafeína (café, te as ideias propostas que lhe pareçam mais ade-
chás e refrigerantes, chocolates) já que, apesar de quadas, a fim de avaliar pessoalmente e perceber
alguns benefícios comprovados como melhorias em si mesmo os resultados obtidos. Várias dessas
na concentração, por exemplo, podem aumentar propostas têm como base diversos estudos cientí-
a ansiedade em indivíduos mais propensos. Os ficos que comprovaram os efeitos benéficos des-
mesmos efeitos benéficos obtidos pelo consumo ses hábitos na saúde, seja em algum aspecto físico
dessas substâncias podem ser obtidos, em subs- ou mental (ou em ambos) e o músico interessado
tituição, pela prática de atividade física regular ou nessas melhorias é convidado aqui se tornar seu
um número de horas de sono necessárias ao indi- próprio objeto de pesquisa.
víduo, sem os efeitos adversos (SILVA, 2011; HER-
MÓGENES, 2004; BEAR et al., 2008; SHEEHAN,
2000; KENNY, 2011); Para informações mais detalhadas sobre o as-
sunto, além da bibliografia completa acima ci-
• evitar o consumo de substâncias como o ál- tada, para aprofundamento do assunto, baixe a
cool, o fumo, os betabloqueadores, as drogas, pois Tese pelo link: https://meryelle.files.wordpress.
podem ser prejudiciais ao funcionamento do orga- com/2016/05/tesemeryfim.pdf.
18
O ensino da clarineta
em Belém do Pará:
considerações gerais
por Herson Mendes Amorim
19
ciada pelas instituições formais de ensino. As ban- Carneiro, Eustáquio Pereira Rebouças e Francisco
das de música, por exemplo, exercem um papel Ricardo Cavalcante de Albuquerque.
fundamental nesse contexto e diversos estudos, De acordo com a revisão da literatura da época,
como os de GRANJA (1984), ALVES (1999), SOUZA o primeiro curso de clarineta regular em Belém
(2002), BINDER (2006) e AMORIM (2012), apon- foi instituído pelo Conservatório de Música, atual
tam para um melhor entendimento da “função Instituto Estadual Carlos Gomes, em 1895. SALLES
exercida por essas instituições na formação e pre- (1995) relata em seu texto “Memória Histórica do
paração de instrumentistas que são encaminhados Instituto Carlos Gomes” que o primeiro professor
para a continuação dos estudos nas escolas de mú- de clarineta contratado para o Conservatório foi
sica e mesmo para a carreira profissional...” (AMO- Hermenegildo Alberto Carlos, que também atuava
RIM, 2012, p. 11). como professor de harmonia, solfejo, oboé e cor-
ne inglês. Pode-se observar, pelas prerrogativas do
A clarineta em Belém do Pará professor, que ele, como a maioria dos músicos de
A história da clarineta em Belém remonta às pri- sopro atuantes em Belém, era oriundo das bandas
meiras bandas de música, presentes no Pará desde de música. O que sabemos a respeito deste profes-
1853, quando foi criada a banda da Polícia Estadual, sor foi encontrado em periódicos da época. Ele era
conforme descreve SALLES (1985): militar, tinha a patente de capitão, era professor de
matemática em outras escolas de Belém e atuava
No Pará, não apenas na capital, mas também em também como regente de bandas.
várias cidades interioranas, existem bandas tradi- Com o fechamento do Conservatório, em 1908,
cionais e algumas são centenárias ou estão beirando abriu-se uma grande lacuna no ensino de música em
a esta idade provecta. A mais antiga é certamente a Belém por parte de instituições oficiais, mantidas
da polícia estadual, cuja organização data dos idos pelo governo. Os músicos atuantes na cidade tenta-
artigo
de 1853 (SALLES, 1985, p. 30). vam dar prosseguimento ao trabalho que era desen-
volvido na instituição, como atesta VIEIRA (2012):
Sobre a tradição paraense com instrumentos de
sopro, BARROS E GOMES (2004) escrevem: O instituto Carlos Gomes ficou fechado durante
20 anos, período do declínio da economia local. Não
A tradição musical no Pará com instrumentos de obstante, nesse período, o prosseguimento do traba-
sopro é bastante rica e com desdobramentos em di- lho musical desenvolvido pela instituição foi viabi-
versos contextos musicais, perpassando as frontei- lizado por cursos particulares de instrumento e por
ras entre as instituições de ensino formal, as bandas associações ou sociedades civis, como o Club Euter-
de música da capital e do interior (BARROS e GO- pe, a Tuna Luso Caixeiral, a Associação recreativa
MES, 2004, p. 20). Musical Portuguesa e o Centro Musical paraense,
que substituíram o investimento público. Essas as-
Provavelmente, os primeiros clarinetistas que sociações mantinham bandas de música, orques-
atuaram em Belém eram oriundos das bandas de tras, grupos camerísticos e promoviam concertos
música aqui presentes. Nas consultas realizadas públicos (VIEIRA, 2012, p. 181).
em jornais antigos, foi possível encontrar poucas
menções nominais a clarinetistas atuantes em Be- Em 1929, o Conservatório foi reaberto, contudo,
lém. No “Almanak – Administrativo, Mercantil e sem os cursos de instrumento de sopro, o que, de
Industrial”, no período de 1868 a 1873, encontrou- certa forma, manteve a lacuna com relação aos
se na seção “Músicos e professores de música ins- instrumentos de sopro. Essa lacuna começou a ser
trumental e vocal” os nomes dos clarinetistas João preenchida em 1964, quando houve o início do que
de Deus Pinto, Leopoldino Protamartyr de Mello, hoje é a Escola de Música da Universidade Federal
João Brígido Monteiro e Jerônimo Emiliano Fran- do Pará, como atesta BARROS E GOMES (2004):
ça. Não foi encontrada qualquer menção de ativi-
dades pedagógicas relacionadas a qualquer desses Outra data que pode ser vista como a que dá início
clarinetistas em nenhum periódico da época, por- à EMUFPA é março de 1964, quando Nivaldo [San-
tanto, não se pôde precisar qual deles atuava so- tiago] fundou a Orquestra e o Coral da UFPA, dan-
mente como músico ou professor. Foram encon- do início ao que seria o suporte estrutural embrio-
tradas menções a clarinetistas que atuaram como nário do que é hoje a Escola de Música (BARROS e
recitalistas em Belém, a saber: Raymundo João GOMES, 2004, p. 26).
20
Os músicos de sopro da orquestra “eram oriun- Conclusões
dos de bandas militares e pequenas formações ins- Com a questão geradora deste trabalho buscou-
trumentais” (BARROS e GOMES, 2004) e é men- se saber que tipos de metodologias são utilizadas
cionada a presença de clarinetas nos programas da no ensino da clarineta nas duas instituições e quais
orquestra desde a formação inicial. Os professores as contribuições destas mesmas metodologias para
de instrumento, nessa época, eram os próprios a profissionalização dos estudantes de clarineta.
integrantes da orquestra. Em 1972, houve uma ne- Concluiu-se que o modelo conservatorial1, utiliza-
cessidade de readequação dos cursos da escola às do em larga escala desde a instituição do Conser-
novas diretrizes do MEC, à época. Com isso, foi vatório em Belém, é a metodologia de ensino de
elaborado um fluxograma que demonstra os cami- clarineta mais utilizada em Belém nos dias atuais.
nhos que a escola tomaria no futuro, com vistas à Entretanto, conclui-se, também, que este modelo
implantação do curso em nível técnico, como ates- de ensino passa atualmente por mudanças signifi-
ta BARROS E GOMES (2004): cativas, que visam a adaptação de tal modelo à rea-
lidade atual do mercado de música na cidade de Be-
O fluxograma elaborado por Marbo Gianaccini lém que, a exemplo de outros lugares do país, está
contém aspectos que podem ser interpretados como dando lugar, cada vez mais, conforme observou-se
uma expressão concreta da pressão de uma outra durante todo o trabalho, ao contexto local e às ne-
lei, a LDB 5692/71. Com a introdução de discipli- cessidades do mercado de trabalho, que se mostra
nas e atividades muito mais comprometidas com diferente e mais competitivo, apresentando todos
o ensino e formação de um músico de nível técnico, os dias, desafios que devem ser superados por pro-
o ensino planejado sob a direção de Marbo tinha a fessores e alunos. Professores que precisam estar
profissionalização como fim e consequência natural preparados para mostrar aos alunos as mais varia-
(BARROS e GOMES, 2004, p. 46). das formas de se adaptar às exigências desse merca-
artigo
do, e alunos preparados para absorver as novas for-
Esse fluxograma previa seis vagas para o curso mas de trabalhar e assim se inserir com sucesso na
de clarineta. Nessa época, o professor era José Ri- profissão. Observou-se que as metodologias cons-
bamar de Sousa, que também atuava como vice tatadas dentro das instituições contribuem signi-
-regente da orquestra sinfônica.O professor José ficativamente para a profissionalização dos jovens
Ribamar formou um dos atuais professores da clarinetistas que nelas estudam, pois há um grande
EMUFPA, Professor Dr. Jacob Furtado Cantão, que apuro técnico instrumental dos alunos, que desen-
por sua vez foi o responsável direto e indireto pela volvem habilidades que os tornam capazes de in-
formação de inúmeros clarinetistas paraenses. gressar em grupos com alto grau de exigência musi-
Em 1986, foi criada a Fundação Carlos Gomes e cal, bem como em outros cursos de pós-graduação,
reintroduzidos os cursos de cordas e sopros no tanto no Brasil como em outros países. Os alunos
Conservatório Carlos Gomes. Foi a partir dessa também ingressam nas instituições militares da ci-
época que o Conservatório contratou professores dade e, atualmente, há alunos de clarineta, tanto do
estrangeiros de clarineta, como o professor Jindri- IECG quanto da EMUFPA, espalhados por diversas
ch Sidla, da República Tcheca, que deu aulas em escolas militares do Brasil. Essa é a constatação de
Belém entre 1992 e 1993 e Oleg Andryeyev, da Rús- que, mesmo necessitando de mudanças, o modelo
sia, que aqui lecionou de 1994 até 2004. Segundo re- utilizado contribui significativamente para a profis-
latos do Professor Dr. Marcos Cohen, que também sionalização dos clarinetistas da cidade. Observou-
foi professor do Conservatório, o primeiro pro- se que os professores realizam a adaptação do mo-
fessor a dar aula no Conservatório após a criação delo conservatorial de acordo com as necessidades
da Fundação Carlos Gomes foi Jacob Cantão, que dos alunos e do mercado. Essa adaptação, confor-
permaneceu ativo por muitos anos na instituição, me observou-se, necessita de formalização dentro
sendo inclusive regente da Banda Sinfônica, até se dos currículos oficiais das instituições, para que
retirar para trabalhar exclusivamente na Escola de haja a utilização por todos os professores, de ma-
Música da Universidade Federal do Pará. neira “oficial” e sistemática, pois ainda não há um
A metodologia utilizada pelos professores es- currículo “fechado” que seja utilizado como base
trangeiros de clarineta que atuaram em Belém era para os professores. Observou-se que, na prática, o
ligada ao modelo conservatorial de ensino, mode- material utilizado com os alunos depende de cada
lo este profundamente conectado à tradição Euro- professor e de sua observação quanto ao desenvol-
peia de música “erudita”. vimento pessoal deste aluno.
21
O histórico da clarineta e de sua introdução no da educação profissional no Brasil. O que obser-
Brasil, bem como de sua implantação nos cursos vou-se foi a aprovação, por parte dos professores
de música em Belém, nos deu um panorama geral e alunos, da maneira como se ensina clarineta nas
do desenvolvimento do ensino desse instrumento instituições e das metodologias utilizadas pois, se-
na cidade. Por meio, sobretudo, de depoimentos e gundo os entrevistados, sobretudo os alunos, as
fontes documentais, observaram-se aspectos im- instituições colaboram/colaboraram de maneira
portantes do que era utilizado pelos professores no significativa para a sua formação profissional, mes-
decorrer do século XX. Não foram encontrados re- mo com indicações expressivas para mudanças e
latos sobre a metodologia de clarineta utilizada nos adaptações visando cada vez mais contextualizar o
primeiros anos do Conservatório Carlos Gomes, que é ensinado. Com esta investigação buscou-se
pois as fontes documentais são escassas a respeito mostrar que as instituições locais de ensino, mes-
desse período, sendo as informações encontradas, mo necessitando realizar adaptações constantes
durante toda a investigação, somente em jornais da em seus currículos, bem como melhorias em suas
época. Entretanto, além de notícias de jornal, con- estruturas físicas, como bibliotecas, salas de aula
tou-se com informações do pesquisador Vicente e ensaio, estão cumprindo seu papel de contribuir
Salles, que mostraram que os professores de sopro para a profissionalização dos clarinetistas. Prova
que atuavam no início das atividades do conserva- disso é o grande número de alunos que são apro-
tório, trabalhavam ensinando diversos instrumen- vados todos os anos nas instituições militares que
tos, mostrando dessa forma que a origem desses têm atividades musicais em Belém. Esses alunos
professores eram as bandas de música, militares têm, por vezes, que trancar seus cursos para se de-
e civis, onde frequentemente os instrutores preci- dicarem exclusivamente às suas atividades milita-
sam dominar diversos instrumentos, sendo dota- res, mas demonstram extremo interesse quando
dos de habilidades diversas. Essa realidade pode retornam e retomam os cursos.
artigo
ser observada ainda nos dias de hoje. Um olhar Concluiu-se também que os professores de clari-
sobre todo esse histórico mostra a tradição da ci- neta que atuam em Belém têm dedicado conside-
dade com relação ao ensino de música e da clari- rável tempo para a melhoria constante dos cursos,
neta, mesmo com a constatação de um período tão mesmo enfrentando dificuldades como a falta de
grande sem atividades – 1908 a 1964 – nos cursos de materiais adequados aos seus alunos, o que fre-
instrumentos de sopro em Belém. quentemente pode causar desmotivação aos mais
Foram observadas, nas respostas dos questio- novos. Eles se mantêm firmes para que o nível do
nários aplicados, a trajetória tanto dos professo- ensino se eleve cada vez mais, e para que um maior
res quanto dos alunos. Os professores relataram, número de alunos tenha acesso a esse ensino, con-
por meio das respostas diretas e comentários adi- tribuindo assim com as políticas de inclusão. Com
cionais, como desenvolvem/desenvolveram suas este levantamento de informações e com os resul-
metodologias e confirmaram as constatações ob- tados desta investigação, no sentido de mapear
servadas nas análises posteriores. Os alunos, do o que se utiliza metodologicamente no ensino de
mesmo modo, mostraram suas observações no clarineta em Belém, espera-se que haja o contínuo
que tange ao ensino, bem como suas perspectivas aperfeiçoamento das metodologias identificadas
profissionais. Foi traçado um panorama metodoló- e a contextualização e adequação à realidade mu-
gico do Conservatório Carlos Gomes e da Escola de sical da cidade. Espera-se também que haja conti-
Música da UFPA nos dias atuais, e também aponta- nuação dos trabalhos investigativos a respeito do
dos caminhos possíveis para a implementação de papel da educação profissional no meio musical,
adaptações ao que é utilizado como metodologia sobretudo os estudos focados em instrumentos de
nesses locais. banda, que são ainda subestimadas enquanto es-
A análise das respostas obtidas nos questioná- paços de formação. Com esta investigação também
rios e comentários adicionais dos professores e espera-se estimular a pesquisa de temas relaciona-
alunos também mostrou que o ensino de clarineta dos ao ensino da clarineta no Brasil.
em Belém, bem como todo o processo de ensino/
aprendizagem caminha para uma mudança signi- Referências Bibliográficas
ficativa em diversos aspectos. A utilização do mo- ALVES, Cristiano Siqueira. Uma proposta de análise do papel for-
delo conservatorial nas instituições passa por um mador expresso em bandas de música com enfoque no ensino da
processo de adaptação, sobretudo na EMUFPA, clarineta. Dissertação. Mestrado em Música. Rio de Janeiro: Escola de
que tem buscado adequar-se às novas diretrizes Música da UFRJ, 1999.
22
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Florianópolis. 2010. do Pará. Belém. CEJUP, 2001.
Alameda Santos,1398 - 17
Jardins - São Paulo-SP CORETO
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Momento
matéria de capa
de comemoração:
20 anos
de encontros de
clarinetistas
organização Daniel Oliveira e Luís A.E. Afonso - Montanha
24
N ós fazemos parte de uma comunidade
com interesses em comum: a troca de
experiências e a exploração das espe-
cificidades de nossa área – as clarinetas.
Podemos observar uma constante evolução do
des sensoriais podem oferecer uma maior rique-
za nos aspectos estéticos e nas fontes de criação.
Por todas essas questões, nossa necessidade e
desejo de realizar encontros é visível, sejam eles
locais, nacionais ou internacionais, para uma
nível da prática da clarineta no Brasil, por meio maior interação.
dos resultados obtidos desde o século passado até O I Encontro Brasileiro de Clarinetistas, organi-
o momento. Isso ocorreu devido a uma reflexão zado e realizado por Ricardo Freire (UNB) em 1996
constante sobre o que estamos fazendo e na com- em Brasília (DF), marca o início desse processo de
paração com outras possibilidades de resultados. compartilhamento dos saberes de maneira mais
A maneira como pensamos e utilizamos nossas ampla, pela oportunidade de reunir pessoas das
práticas hoje vem das tradições de nossos meios e diversas regiões do País interessadas no mesmo as-
saberes compartilhados, pelas experiências acu- sunto. Nesse encontro, foi criada a Associação Bra-
muladas e adquiridas ao longo de nossas vidas, sileira de Clarinetistas (ABCL). Assim, 2016, ano de
construindo assim, uma herança cultural viva. De- lançamento desta revista, Clarineta, é um impor-
senvolvemos essa cultura por meio de muita pes- tante marco em relação à trajetória dos encontros
quisa e também pela busca incessante de novos co- para clarinetistas no País, pois celebramos 20 anos
nhecimentos para a melhoria de nossos objetivos, desse primeiro encontro.
resultando hoje em um alto nível alcançado pelos A partir dessa iniciativa, outros Encontros Bra-
clarinetistas e claronistas brasileiros, perante o ce- sileiros foram organizados nas diversas regiões
nário mundial. do Brasil: 1997, 2002 e 2010 – UNB, Brasília; 1998
Acreditamos que tal resultado só foi possível por – UFBA, Bahia; 1999 – UNI-RIO, Rio de Janeiro;
termos em comum o desejo de buscar maior com- 2000 – CDMCC Tatuí, São Paulo; 2007 – Memo-
preensão de nossas práticas e também pelo escla- rial da América Latina, São Paulo; 2009 – Conser-
recimento das inúmeras questões sobre nossa arte. vatório Pernambucano de Música, Pernambuco;
O Brasil tem dimensões continentais, o que 2011 – UFRN, Natal. Os encontros nacionais se
dificulta a aproximação das pessoas e, por esse multiplicaram em outros menores, como: 1999 – I
motivo, observamos em nossa escola de clarineta Simpósio Norte-Nordeste de Clarinetistas, UFBA;
algumas diversidades no uso desse instrumento. 2003 – Encontro Regional de Clarinetistas - Região
Com o acesso mais frequente à internet, os possí- Sudeste, SP, e I Encontro Regional de Clarinetistas
veis conhecimentos adquiridos em outras regiões da Bahia, UFBA; 2012 – I Colóquio para Clarine-
são e serão mais facilmente compartilhados. Acre- tistas, UFBA; 2013 – Encontro Regional de Clari-
ditamos, porém, que mesmo com a diversidade netistas, Brasília, e II Colóquio para Clarinetistas,
pertencemos a um só mundo, apenas com diferen- UFBA; e 2015 – Colóquio para Clarinete Baixo, USP.
tes pesquisas individuais que desenvolvemos para Em 2013, ocorreu o primeiro encontro latino-ame-
sustentar nossas próprias convicções e visões do ricano no País: o III Congresso Latino-Americano
mesmo objeto. de Clarinetistas, organizado em Brasília pela Clari-
A diversidade é fundamental: treinamos nossos peru. Os líderes regionais trabalharam efetivamen-
ouvidos e sentidos para perceber aspectos que ou- te para que os eventos se tornassem mais regula-
tras pessoas não veem do mesmo modo. Quando res. No biênio 2014-15, tivemos uma mudança na
elas se deparam com essas diferenças, todas as quantidade e frequência dos encontros pelo país.
convicções adquiridas são colocadas em jogo, re- Somente nesses dois anos aconteceram 9 eventos,
ajustando o conhecimento existente. Assim, a di- evidenciando a necessidade e vontade de com-
versidade é necessária para a evolução. partilhar nossos conhecimentos para um número
Devemos entender que todas as possibilida- cada vez maior de jovens clarinetistas.
25
dobrada de promover um evento de maior enver-
gadura, abrangência e intercâmbio continental,
demandaram ainda mais comprometimento por
parte da equipe de colaboradores. Contamos com
a presença de mais de uma centena de clarinetistas
de diversos estados brasileiros e de distintos países
da América do Sul e também da Europa. O evento
foi magnífico, marcado por um genuíno espírito
agregador, onde professores e alunos compartilha-
ram sua visão sobre arte, mercado e carreira. Com o
fundamental apoio das empresas Buffet-Crampon,
Festival Internacional D’Addario, Devon&Burgani e Vandoren, além da
de Clarinetistas parceira com a Semana Internacional de Música
do Rio de Janeiro (FICRJ) de Câmara do Rio de Janeiro, contamos com a pre-
Por: Cristiano Alves e Cesar Bonan sença dos clarinetistas estrangeiros Mariano Rey
(Argentina), Juan Ferrer (Espanha) e Nuno Pinto
Em novembro de 2013, sob a coordenação dos (Portugal), bem como de nossos mestres brasile-
professores Cristiano Alves e José Batista Júnior, iros, Alexandre Ribeiro, Daniel Oliveira, Dirceu
e organizado em conjunto por alunos e ex-alunos Leite, Fernando Silveira, Joel Barbosa, Ovanir Bu-
osi, Ricardo Freire, Rosa Barros e Sergio Burgani.
matéria de capa
26
conhecer ainda melhor a trajetória profissional e ros do RJ, foram reunidas as Bandas Sinfônicas de
pessoal de um dos grandes ícones do instrumen- ambas as instituições para um grande concerto
to, manifestando todo o nosso respeito, apreço e de gala, tendo como solistas os professores Juan
admiração. Na ocasião, os integrantes do Quinte- Ferrer e Mariano Rey, no Salão Leopoldo Miguez.
to Villa-Lobos estiveram presentes para também Nesta edição, contamos com o suporte da Bufett-
prestar sua homenagem ao mais antigo integrante Crampon, Cia. do Sopro, D’Addario Woodwinds,
deste conjunto que é um dos grandes patrimônios Devon&Burgani, Ministério de Cultura da Argenti-
culturais de nosso país, e encerraram a homena- na, Selmer Paris, Vandoren Paris e Yamaha Brasil,
gem com um belíssimo concerto. Amigos e familia- além de apoios institucionais da Casa do Choro,
res de Paulo Sergio estiveram presentes e vivemos Escola de Música da UFRJ, Corpo de Bombeiros do
momentos inesquecíveis! Desde a segunda edição Rio de Janeiro, Musical Express, Orquestra Petro-
do Festival, havia a preocupação de promover uma bras Sinfônica, Projeto Música nas Escolas de Barra
maior integração com instituições de ensino de Mansa e UniRio.
música no estado do Rio de Janeiro. Dessa forma,
uma das grandes novidades do III FICRJ, realizado
em novembro de 2015, foi o “FIC Visita”, através
do qual nos fizemos presentes e atuantes em três
importantes instituições: Colégio Henrique Lages
(Niterói), Faetec de Marechal Hermes e o Projeto
Música nas Escolas (Barra Mansa). Felizmente a
iniciativa gerou muitos e valiosos frutos. Além do
maior engajamento social alcançado, já se faz rea-
lidade a presença de alunos destas instituições em
cursos de Bacharelado em Clarineta e Licenciatura
na Escola de Música da UFRJ.
O III FICRJ teve ainda como um dos focos pri-
mordiais o estímulo ao desenvolvimento da per-
formance, didática e pesquisa em instrumentos
congêneres. Em 2015, a vigorosa inserção do claro- Simpósio para Clarinetistas
ne na agenda do Festival foi outra grande novida- USP - São Paulo – 2014
de. O resultado não poderia ter sido melhor! Re- Por: Luis Afonso Montanha e Daniel Oliveira.
cebemos grandes mestres do instrumento: Henri
Bok (Holanda), Paolo de Gaspari (Itália), Thiago O Simpósio para Clarinetistas USP foi realizado du-
Tavares, José Batista Júnior, Paulo Passos e What- rante os dias 15 e 16 de novembro de 2015, em São Paulo.
son Cardozo (Brasil). Tomaram parte ao evento A proposta desse evento foi discutir as possibili-
ainda os professores Gustavo Kamerbeek, Mariano dades da performance na universidade, realizando
Rey e Osvaldo Lichtenzveig (Argentina), Juan Fer- um diálogo entre o meio acadêmico e a demanda
rer (Espanha), Anderson Alves, Cristiano Costa, do mercado de trabalho, proporcionando assim,
Dirceu Leite, Marcos dos Passos, Ricardo Ferrei- novas possibilidades de linhas de pesquisas e áreas
ra e Ricardo Freire (Brasil). Assim como em 2014, de conhecimento e suas aplicações. Dentro das ati-
abordamos também aspectos referentes à didática vidades, foi realizada uma mesa redonda que dis-
e performance à requinta. cutiu a atuação da performance na universidade.
Nesta edição do FIC, realizamos uma oficina Participaram da mesa os professores: Luis Afonso
de improvisação, com quatro dias de atividades Montanha (como mediador), Joel Barbosa, Gui-
ministradas pelo professor Osvaldo Lichtenzveig. lherme Garbosa, Mauricio Loureiro, Ricardo Freire
Desfrutamos de uma incrível jam session no Quar- e Herson Amorim.
tel Central do Corpo de Bombeiros, onde Osvaldo Foram apresentados trabalhos acadêmicos vol-
se juntou a Ademir Junior (Brasília), encantando a tados para diversas áreas da performance e suas
todos os presentes! Além do QC dos Bombeiros e aplicações, tendo como palestrantes: Profa. Dra.
da Fundição Progresso (sede da Orquestra Petro- Monica Lucas (USP), Prof. Luciano Pereira (CDM-
bras Sinfônica, que nos proporcionou uma sensa- DCC), Prof. Sergio Burgani (UNESP), Prof. Daniel
cional estrutura de base), fomos muito bem acolhi- Oliveira (ORTHESP), Prof. Dr. Maurício Loureiro
dos por outro magnífico espaço: a Casa do Choro. (UFMG), Prof. Dr. Luis Afonso Montanha, Prof.
Por meio de uma valiosa parceria firmada entre a Dr. Ricardo Freire (UNB), Prof. Dr. Joel Barbosa
Escola de Música da UFRJ e o Corpo de Bombei-
27
(UFBA), Prof. Edmilson Nery (EMESP), Prof. Gus- mento; solidificar a escola introduzida pelo Prof.
tavo Barbosa (EMESP), Profa. Meryelle Maciente Henri Bok; promover concertos para divulgação do
(EMESP), Prof. Henri Bok (Holanda), Prof. Luca repertório; homenagear através de um concurso o
Raele e Prof. Alexandre Ribeiro. Prof. Henri Bok; organizar um coral, promovendo a
O Simpósio para Clarinetas USP teve como ob- interação de todos os participantes.
jetivo nas apresentações musicais destacar os tra- O encontro foi organizado pelos professores
balhos desenvolvidos nas formações de quartetos Luis Afonso Montanha, Diogo Maia e Daniel Oli-
e quintetos de clarineta. Contamos com a apresen- veira e fez parte da programação do 15º Festival
tação dos seguintes grupos: Klarinettemaschine, Música nas Montanhas, com a direção de Jean Reis.
Torcendo o Dedo, Clarinetc..., Madeira de Vento, O Encontro contou também com a colabora-
Sopros de PE, Quarteto NeoN, Quarto Elemento e ção dos professores: Flávio Ferreira (UFAL), José
Sujeito a Guincho. Batista Jr. (UFRJ), Nivaldo Orsi (OSESP), Paulo
Vale ressaltar a presença do Coral de Clarinetas Passos (Petrobrás Sinfônica), Guilherme Garbosa
Jayoleno dos Santos, coordenado pelo Prof. Gil- (UFSM), Maurício Carneiro (Belas Artes - Curi-
berto Portilho e também a apresentação do Prof. tiba), Mario Marques (OSMC) e Ney Franco (Or-
Nailor Azevedo Proveta. questra Filarmônica de Minas Gerais).
O evento contou com os seguintes apoiadores: O Encontro teve o apoio das marcas: D’Addario
D´Addario Woodwinds, Vandoren, Saluzzi Mouth- Woodwinds, Buffet-Crampon, Devon&Burgani,
pieces, Buffet-Crampon, Selmer Paris, Luis Rossi, Armazém do Sopro, Selmer Paris. Contamos ao
Gao – USA, MB Cases, Armazém do Sopro, Athelier todo com a participação de 25 claronistas.
Daniel Tamborin.
I Encontro Brasileiro de
Claronistas – Poços de Caldas MG
Por: Luis Afonso Montanha e Daniel Oliveira Encontro de Clarinetistas
de Brasília – 2015
O crescente interesse dos alunos pelo clarinete Por: Marcos Cohen
baixo (clarone) e o surgimento de uma escola de
clarinete baixo no Brasil tem como responsável o O Encontro de Clarinetistas de Brasília ocorreu
Prof. Henri Bok que, a partir de sua primeira visita entre os dias 21 e 23 de agosto de 2015, no Auditório
ao país no Encontro Brasileiro de Clarinetistas re- do Sesc 913 Sul, e incluiu apresentações, master-
alizado em 1997 em Brasília, possibilitou a vários classes, comunicações orais e lançamentos de CDs
profissionais o acesso a novas técnicas e lingua- e livros. A programação do evento constou das se-
gens. Assim, após esses 16 anos, notamos um cres- guintes apresentações: Concerto de Abertura com
cente interesse dos alunos pelo clarone e visuali- músicos e músicas do Centro Oeste - Kaçulinha,
zamos a necessidade de organizar um evento que Rosa Barros, Taís Vilar, Gustavo Koberstein, Hugo
pudesse aproximar os performers, pesquisadores e Macêdo, Fernando Machado, Manoel Carvalho,
estudantes desse instrumento. Eliana Costa, Cláudio Santoro, Jorge Antunes, Ro-
Os objetivos do I Encontro Brasileiro de Claro- drigo Lima, Marcos Cohen, Zoltan Paulinyi e Flávio
nistas foram: realizar um mapeamento e reunir os Figueiredo; Johnson Machado e Fabíola Pinheiro;
profissionais que se dedicam e pesquisam o instru- Arcortrio - Marcos Cohen, Celson Gomes e Cíntia
28
Vidigal; Duo Palheta ao Piano - Jairo Wilkens e Cle-
nice Ortigara; Alexandre Ribeiro Quarteto - Alexan-
dre Ribeiro, Gian Correa, Henrique Araújo e Léo Ro-
drigues; Trio de Palhetas da UnB - Bojin Nedialkov,
Ricardo Freire e Ebnezer Nogueira; João Paulo Araú-
jo e Líliam Barros; Joel Barbosa, Fabíola Pinheiro
e Quarteto Capital - Daniel Cunha, Igor Macarini,
Daniel Marques e Augusto Guerra Vicente; Assum
Trio - Johnson Machado, Fabiano Chagas e Diones
Correntino; Coral de Clarinetas do Encontro, regido
por Isabela Sekeff, e Brasília Popular Orquestra, regi-
da por Manoel Carvalho. Além disso, estavam inclu-
ídos na programação quatro masterclasses: Joel Bar-
bosa, João Paulo Araújo, Johnson Machado e Jairo
Wilkens; duas comunicações orais: Rosa Barros, A
Improvisação na Aprendizagem da Clarineta: o Es-
tudante como Agente de sua própria Aprendizagem
e Thiago Lopes - Concerto para Clarineta e Orques-
tra de Câmara de Vicente Alexim: uma Abordagem
Interpretativa; dois lançamentos de livro: Herson
Amorim, Bandas de Música - Espaços de Formação
Profissional e Líliam Barros, Vinte e Um; três lan-
çamentos de CD: Arcortrio, Música Brasileira para
Clarineta, Violino e Piano; Duo Palheta ao Piano,
II Simpósio para Clarinetistas
Música Brasileira para Clarineta e Piano e Alexandre
UNESP – São Paulo – 2015
Por:Daniel Oliveira
Ribeiro, Alexandre Ribeiro Quarteto.
O evento foi coordenado por Marcos Cohen (Or-
A segunda edição do Simpósio para Clarinetis-
questra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio San-
tas foi realizada entre os dias 10 e 12 de outubro no
toro), Eliana Costa (Espaço Musical das Sete No-
Instituto de Artes da UNESP-SP, com o tema: “a
tas), Leobertino Filho (Banda da Polícia Militar do
clarineta e o mercado de trabalho”. Participaram
Distrito Federal) e William Santos, Francisco Miran-
da organização os professores: Sergio Burgani, Dio-
da e José Carlos Trivelino (Clube do Choro de Brasí-
go Maia e Daniel Oliveira.
lia). Além do Sesc, que sediou o evento e hospedou
O Instituto de Artes da UNESP é responsável
os artistas convidados, e da Polícia Militar do Distri-
pela formação de muitos profissionais de referên-
to Federal, que ofereceu alojamento aos estudantes
cia no cenário nacional e internacional, e um dos
que vieram de outros estados, também participaram
objetivos desse evento era a união e o encontro de
como expositores o Hospital do Sax de Brasília, a Li-
muitas gerações de ex-alunos para que pudessem
vraria Musimed, o Ateliê de Clarinetas Devon&Bur-
mostrar um pouco do trabalho que estão realizan-
gani e o Armazém do Sopro.
do.
A atmosfera amigável e o ecletismo da programa-
Foram apresentados trabalhos acadêmicos vol-
ção marcaram o encontro, da mesma maneira que a
tados para diversas áreas da performance e suas
homenagem feita a dois dos principais clarinetistas
aplicações, tendo como palestrantes: Luciano
da cidade, Manoel Carvalho e Fernando Machado
Pereira (CDMCC), Prof. Dr. Joel Barbosa (UFBA),
que, em 2015, aposentaram-se da Orquestra Sinfô-
Profa. Paula Pires (ORTHESP), Prof. Thiago An-
nica do Teatro Nacional Cláudio Santoro e da Escola
celmo, Prof. Dr. Ricardo Freire (UNB), Profa. Rosa
de Música de Brasília, respectivamente. No foyer do
Barros, Prof. Dr. Jacob Cantão (UFPA), Prof. Luca
auditório do Sesc foi montado um memorial visual
Raele e Prof. Alexandre Ribeiro.
com fotos que retratavam a carreira desses dois pro-
As apresentações musicais foram divididas em
fissionais tão significantes para o desenvolvimento
minirrecitais, recitais e concertos.
da música na capital.
Das apresentações participaram os seguintes
Além dos coordenadores mencionados, também
profissionais:
auxiliaram no encontro Roberto Zamboni (Clube do
Minirrecitais: Luciano Pereira, Joel Barbosa,
Choro de Brasília), Líliam Barros (Escola de Música
Thiago Ancelmo, Giuliano Rosas, Daniel Golçal-
da Universidade Federal do Pará), Hugo Macêdo e
ves, Marcus Julius Lander, Thelma Lander, Ricar-
Heloína Cândido (Escola de Música de Brasília).
29
do Freire, Rosa Barros Alexandre Silva, Daniel Ro-
sas, Leandro da Silva Dias, Marcelo Soares, Sarah
Nascimento, Renato Sá, Thiago Tavares, Whatson
Cardoso, José Batista Jr., Tiago José Garcia, Cecília
Moita, Lara Diaz, Paula Pires e Horácio Gouveia.
Recitais: Sergio Burgani e Achille Pichi; Luís
Afonso Montanha, Betina Stegmann, Nelson Rios,
Marcelo Jaffé e Robert Suetholz; Nuno Silva, Daniel
Gonçalves, Daniel Oliveira, Piero Vicenti, Ovanir
Buosi, Horácio Gouveia, Cristiano Alves, Gabriel
Marin e Ricardo Ballesteiro.
Concertos: Jussan Cluxnei, Bruno Vinci, Fer-
nando Miranda, Quinteto Madeira de Vento, Nai-
lor Azevedo (Proveta), Alessandro Penezzi, Ivan
Sacerdote, Alexandre Ribeiro, Sujeito Guincho e
I Encontro Internacional
Marcio Pereira.
de Clarinetistas de Belém
Por: Herson Mendes Amorim e Thiago de Araújo Lopes
Durante o Simpósio, foram realizadas duas me-
sas redondas uma com o tema: “Pós-Graduação
Belém do Pará é historicamente um polo de mú-
em clarineta”, que contou com a mediação do Prof.
sicos de sopro para toda a região Norte do país, e há
Dr. Guilherme Garbosa e a participação do Prof. Dr.
matéria de capa
31
certo de encerramento, quando os estudantes tive-
ram a oportunidade de tocar ao lado de profissionais
brasileiros e estrangeiros de renome internacional.
Diversas questões relacionadas à história do clarone
no Brasil foram levantadas e discutidas, indicando a
necessidade de estudos acadêmicos que organizem
de forma sistemática tais informações. Algumas dis-
cussões indicaram o interesse pela criação oficial de
um círculo brasileiro de claronistas, mas as formas
viáveis para a institucionalização deste círculo serão
debatidas no próximo encontro. Sendo o primeiro
evento do gênero realizado no Estado de Alagoas,
os principais resultados do II Encontro Brasileiro de
II Encontro Brasileiro Claronistas – Região Nordeste foram: (1) a interação
de Claronistas - Região Nordeste de estudantes de música de diferentes estados da re-
Por: Flávio Ferreira gião nordeste e destes com profissionais brasileiros e
estrangeiros; (2) a inserção de Alagoas no cenário bra-
12 a 15 de novembro de 2015 - Maceió/AL sileiro de estudos sobre clarone; e (3) o estímulo para
Realização: UFAL, SESC AL e FAPEAL a realização de novos encontros musicais no estado.
Patrocínio: Fundação Municipal de Ação Cultural
matéria de capa
32
34
Entrevista: José
Botelho por José Batista Jr.
colaboração: Kleber Veiga
1. Onde e quando o senhor nasceu? pessoa fora de série e tinha muito orgulho de mim, sem-
Eu nasci no dia 24 de fevereiro de 1931, portanto es- pre muito perspicaz, sabia das coisas e sempre sabia até
tou com 85. Nasci em São Cristóvão, no Rio de Janeiro e onde poderia puxar a orelha do aluno. Realmente, um
fui para Portugal com 2 anos, onde morei por 20 anos. ótimo músico e professor.
Tenho dupla nacionalidade e hoje me considero um lu- Eu fui formado pelo Conservatório de Música do
so-brasileiro. Porto e aqui no Brasil fiz um curso de revalidação de
diploma, tendo aulas com Jayoleno Santos e José Car-
2. Quando começou o estudo da música e como co- los de Castro. Jayoleno foi uma figura espetacular, for-
nheceu a clarineta? mou uma geração especial de clarinetistas e dignificou
Música eu sempre gostei, desde criança. Aos três anos, a maneira de tocar clarineta no Brasil.
vendo uma banda passar escutei os pratos a tocar e achei
que era o bumbo. Como tinha um pequeno bumbo em 4. Quais foram as suas referências musicais?
casa fui tocá-lo e comecei a chorar por não ter o som que Minhas referências musicais foram os colegas princi-
eu gostaria. Minha irmã prometeu me mostrar o ins- palmente, bem como os artistas que tocavam em Portu-
trumento quando a banda passasse. Pois bem, a banda gal. Em Portugal, tínhamos um grupo de quatro colegas:
passou, ela me mostrou os pratos e eu disse que quando Gunther Arglebe [flautista], Gaio Lima, Carlos Fontes,
crescesse queria ser músico e tocar prato [risos]. que eram violinistas, e eu. Andávamos sempre juntos e o
Iniciei os estudos de música aos 7 anos, tocando vio- nosso assunto era somente música. Assistíamos concer-
lão. Aos 11 anos, ingressei na banda de música para tos e estávamos sempre ligados à música erudita e a tudo
tocar saxofone, mas ao conhecer a clarineta logo disse que estava acontecendo em Portugal. Como clarinetis-
que aquele seria o meu instrumento. Assim, me matri- ta, o Benny Goodman foi minha referência enquanto
culei no conservatório e comecei a estudar seriamente. criança, até que anos depois descobri a sua gravação do
Aos 16 anos, concorri e ingressei na Orquestra Sinfôni- concerto de Mozart [risos...]. Mas era um músico im-
ca do Porto. Participei por cerca de 5 anos até retornar pressionante, tanto que muitas obras de referência fo-
ao Brasil. ram dedicadas a ele.
Aqui no Rio, o Paulo Moura era também um músico
3. Poderia falar sobre os seus professores e sua excepcional. Durante o tempo que trabalhamos no Te-
formação? atro Municipal do Rio, não me lembro de vê-lo errar.
Meu professor foi Alberto da Costa Santos e que eu Tinha a sua forma particular de tocar mas foi, sem dú-
considero o meu pai musical. Ele era considerado uma vida, um grande ícone no Brasil e mundialmente. Foi
pessoa bastante controversa no tempo, por sempre fa- o primeiro clarinetista no mundo a gravar o Moto Per-
lar o que pensava sem ter “papas na língua”. Era uma petuo de Paganini utilizando respiração circular ainda.
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5. Quais os materiais usados na época: boquilhas, de parte eram franceses, que era a tradição de escola
palhetas e instrumentos? mais seguida aqui no Rio de Janeiro, o Baermann e ou-
[risos...] Olha, pra você ter uma ideia as boquilhas tros. Em Portugal, eu fiz um método chamado Romero,
eram o “rei do apito”, então tinham vários colegas muito bom também.
nossos que sofriam muito. A aquisição de palheta, bo-
quilha, instrumento e outros acessórios era muito di- 9. Fale sobre curiosidades e histórias engraçadas?
fícil. Eu toquei com uma boquilha de madeira muito Se eu fosse cineasta poderia fazer um filme sobre a
tempo em Portugal, sofri muito com as mudanças de orquestra sinfônica vista de fora pra dentro e de dentro
clima. As marcas eram Vandoren, Selmer, Chedeville pra fora [risos]. São muitas histórias ao longo da vida
e outras que não lembro. Comprávamos caixas com 30 e algumas não são publicáveis [risos]. Poderia passar
palhetas. Os instrumentos eram basicamente Selmer e todo o dia contando, vou contar algumas.
Buffet. Cheguei no Brasil tocando com a boquilha Sel- 1. Estava em São Paulo com a OSB [Orquestra Sinfônica
mer, que era a melhor da época. Mas o ser humano se Brasileira], o regente era Isaac Karabtchevsky. No progra-
adapta a tudo, é o único ser que vive em qualquer parte ma tínhamos a abertura de La Gazza Ladra, de Rossini en-
da terra... tre outras coisas. A introdução é semelhante ao Hino Nacio-
nal Brasileiro e quando a orquestra começa, um senhor na
6. Como foi o início da sua carreira musical e primeira fila levanta rápido e com a mão no peito, achando
quais eram as principais atividades? que seria o Hino Nacional [muitos risos].
Eu era aluno do Conservatório [de Música do Porto] 2. Uma outra situação foi em Brasília. Éramos qua-
e a minha atividade girava em volta da orquestra sinfô- tro orquestras: Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de
nica, ensaios todos os dias e etc. Antes disso, eu estava na São Paulo, OSB e a OSN [Orquestra Sinfônica Nacio-
banda de música me divertindo. Acho que todo clarine- nal de Brasília]. Tem uma coisa que eu não entendo no
entrevista
tista deveria tocar ao menos dois anos numa banda de Brasil, temos o Hino Nacional em duas tonalidades,
música para aprender a tocar muitas notas [risos]. uma para cantar e outra para tocar ou continência,
No Brasil, a minha atividade se ampliou com os cole- como falam os militares. Nesse dia, as quatro orques-
gas a fazer música de câmara, Noel Devos, Paolo Nardi, tras tinham que tocar juntas o Hino Nacional, daí uns
Kleber Veiga e outros. Tínhamos uma atividade muito tocaram no tom de Si bemol e outros no tom de Fá. Foi
grande de música de câmara e trabalhos diversos. uma grande confusão [muitos risos].
3. A outra curiosidade é sobre o Paulo Moura e se
7. Quais os colegas que mais admirava nessa época? passou no tempo em que trabalhamos no Teatro Mu-
Quando eu entrei na Orquestra do Teatro Municipal nicipal do Rio de Janeiro. Eu tive uma crise renal por
do Rio de Janeiro, tinha alguns músicos que eu admira- volta de 1960, e para fazer os exames precisava de um
va muito. O grande amigo Lenir Siqueira [flautista], valor muito alto no tempo. Era como se o salário fosse
José Cocarelli [oboísta], que era impressionante, o Jairo 16 mil cruzeiros e o exame custasse 12 mil. Minha única
Ribeiro, trompista – esse, se tivesse nascido na Alemanha, opção seria fazer um empréstimo no estado, mas isso
seria um dos grandes. Mais tarde, o Noel Devos [fagotis- demoraria um tempo, sendo que esse exame era urgen-
ta], o Celso Woltzenlogel, o Norton Morozowicz, ambos te. Cheguei cabisbaixo no ensaio e o Paulo perguntou
flautistas. Recentemente, quando eu fiz aniversário e tive o que havia acontecido. Comentei o que seria e segui-
que falar, deixei bem claro dizendo que o que eu sei devo a mos no ensaio. Ao final, ele me pergunta: Quanto você
todos vocês, e a minha formação foi muito assim: ouvin- precisa mesmo? Respondi e ele foi tirando um monte de
do. Músico é isso. dinheiro amassado do bolso até completar o valor do
exame. Disse ao Paulo que não poderia aceitar pois não
8. Quais os principais discos e métodos da época? conseguiria pagá-lo. Ele prontamente me disse que eu
Naquele tempo não existia CD, ouvíamos disco 78 poderia substituí-lo numa orquestra popular tocando
rotações. Eu lembro bem que eu tinha uma gravação saxofone, quando ele precisasse. Assim, quando ele pre-
de um clarinetista francês, Ulysse Delécluse, de um lado cisava eu pegava o saxofone do nosso amigo Giussepe
era a Sonatina de Honegger e do outro a Canzonetta de Sérgio [Pepino] e fazia o trabalho.
Pierné. Lembro muito que eu adorava aquilo quando
jovem [risos]. Mais tarde, um disco que me impressio- José Batista Jr é professor de clarineta da UFRJ -
nou muito foi o prêmio Disco de Ouro da Europa, do Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Karl Liester e o Quarteto Amadeus tocando o Quinteto
de Brahms. Gostava e gosto muito da Orquestra Sinfô- Kleber Veiga, oboísta aposentado
nica de Londres, uma orquestra vibrante, elástica, até da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal e
hoje eu ouço. amigo pessoal de José Botelho.
Os métodos eram os também conhecidos hoje. Gran- Realizada em 04/03/2016, no Rio de Janeiro
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A sonoridade em seu estado mais puro
Sound at its purest Level
Bem-vindo
Foi o Montanha que me apresentou ao cenário mu-
sical brasileiro. Fui convidado a participar do II En-
contro Brasileiro de Clarinetistas em Brasília em 1997
do Clarinete
da música brasileira.
Também toquei a premiere do meu Opus Um:
Baixo Brasileiro
Vinho do Porto Brasileiro, como “bis”.
Muitos encontros iriam se seguir, mas quem teria
pensado, em 1997, que o ano de 2015 veria o nasci-
traduzido por Robert Suetholz
mento e continuação de encontros especializados
revisão: Meryelle Maciente
de clarinete baixo, o primeiro em Poços de Caldas
Clarinete Baixo
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Experimente e
surpreenda-se
Clarinetas Devon & Burgani
dê um UP em sua carreira
MADE IN BRAZIL
Clarinetes
Clarinetes Devon
Devon +55 011-4059-2223
& Burgani +55 011-4059-2223
& Burgani
Lançamentos
CD Velha Amizade
(Nailor Proveta &
Alessandro Penezzi)
Um Cd de ilha deserta. É muito difícil usar pala-
vras para definir ou descrever este disco. A me- Bons ventos têm
lhor resenha sobre ele é o texto de seu encarte,
escrito pelo mestre Paulo Aragão, que não ca- chegado à Terra de
Santa Cruz!
beria aqui copiar. O que se pode fazer é exortar:
comprem e ouçam este disco. Leiam o texto do
encarte. Leiam as pequenas descrições de cada Sempre que é lançado um novo CD de um
faixa, quase todas dedicadas a amigos da dupla. clarinetista brasileiro devemos comemorar
Será muito bom para todos se assim o fizerem. muito, já que no Brasil esse tipo de emprei-
Ouçam várias vezes. Há muita variedade nes- tada – salvo raríssimas exceções – é fruto de
te disco. Muita nuance, muitos timbres, ritmos, patrocínio próprio e conta, inevitavelmen-
fraseados, texturas, improvisos, composições, te, com a ajuda dos amigos. Nunca se bus-
combinações, arranjos, sonoridades, harmonias, ca retribuição financeira mas, tão somente,
melodias, polifonias, muito controle instrumen- contribuir com a área – alargando as fron-
tal, virtuosismo, economia, bom gosto, talento. teiras sonoras de um Brasil tão carente de
Muita música. É daqueles discos que você vai coisas boas.
levar pra ilha deserta. Não quero aqui comentar O presente CD, além de contar com esse
todas as faixas. Qualquer descrição seria incapaz espírito indubitavelmente altruísta, vem
de abarcar a imensidão musical deste trabalho. ofertar não somente a divulgação de algu-
Muito mais que trabalho: apurado divertimento mas obras pouco conhecidas (desconhe-
entre dois mestres. Um cd de ilha deserta. cidas?) de Osvaldo Lacerda para clarineta
em diferentes combinações, mas também
por Luca Raele comemora sua imensa contribuição para o
repertório do nosso instrumento no século
XX. Junte a isso a invulgar clarineta de Cris-
tiano Alves e um time de amigos músicos de
primeira qualidade e será a receita mais que
perfeita para um CD de primeira grandeza.
O CD é esmerado em todos os pontos de
vista e a atuação de Cristiano Alves, perso-
nagem que dispensa introdução no meio
musical brasileiro, é impecável. O repertó-
rio para clarineta de Osvaldo Lacerda, que
já conta com trabalhos acadêmicos de qua-
lidade, pode contar hoje com uma gravação
de referência e que está acessível a todos.
E sabe o que é melhor? Esse é apenas o Volu-
me 1. 2017 tem mais!!!
Edmilsonsnery@gmail.com
dica do mestre
quando tinha acabado de entrar na OSESP. Havia uma porque tem um corte mais próximo à casca e, portan-
clarinetista americana, Lynn Ann Curts, que tocava to, uma resistência maior. Uso somente um canivete
na orquestra e que costumava trabalhar o raspado que tenho há 20 anos e ainda não perdeu o corte. Um
nas palhetas de numeração 4 e 5 (Vandoren). A partir canivete ou uma faca com cabo pesado facilitam mui-
disso, por curiosidade e através de alguma observa- to, o cabo leve acaba gerando degraus e imperfeições
ção do que ela realizava, comecei a raspar as palhetas, na palheta, além de um raspado mais grotesco. Não
mesmo sem sua orientação. Na época (1983), comu- gosto de lixa, embora já tenha usado, acho que o som
mente eu utilizava palhetas Vandoren tradicional 2 ½, fica muito brilhante.
entretanto comecei a experimentar a raspagem em Atualmente utilizo boquilha Vandoren B40, mas
palhetas de numeração 4. No começo me equivocava durante muito tempo usei uma Charles Bay. A troca
muito durante o procedimento; tornou-se um exercí- de boquilha e as mudanças pessoais alteraram o tipo
cio de tentativa e erro. Ficava muitas horas mexendo e de raspagem. A única coisa que prevalece tanto na
sempre testando na orquestra. Acabei ficando quase raspagem antiga como na atual é a procura do equi-
obsessivo com o procedimento, até chegar a um ras- líbrio, tipo da cana, textura da fibra da palheta (prefe-
pado específico que utilizei durante muito tempo. rentemente não muito fibrosa) e a cor mais “doura-
da” e pouco “rajada”.
Explique o processo de seleção das palhetas
EDMILSON: Hoje é assim: seleciono como referên- Quais são os tipos de raspagem e para que serve
cia uma palheta já em uso, abro a caixa nova e vejo as cada um?
que estão mais próximas desta. É importante não per- EDMILSON: Não acho que exista uma forma pa-
der essa referência, não deixar essa palheta morrer, drão para todo mundo; existem muitas variações.
procurar sempre estar repondo. Trabalho o equilíbrio Consegui, ao longo de todos esses anos, adquirir uma
(resistência e rigidez) naquelas que estejam mais pró- técnica natural, não só na raspagem, mas também na
ximas da força e do timbre, enquanto as mais distan- escolha do material e das ferramentas. Já vi alguns li-
tes acabo repassando para outras pessoas. vros acerca do tema, sugerindo técnicas de raspagem
que influenciam registros específicos do clarinete,
É uma opção comprar uma palheta muito mais pesada mas acho tudo muito relativo. Para mim não é tão
do que a referência? nítido, não há uma regra. Dentro de um mesmo tipo
EDMILSON: Hoje eu toco com Vandoren Tradi- de raspado existem muitas variações que são aplica-
cional 3 ½. Comprando uma palheta número 3 ½, te- das de acordo com o que ouço dos alunos em aula.
nho pouco material para trabalhar pela proximidade É um experimento contínuo. O grande problema é
à referência, forçando o limite dela. Prefiro utilizar ficar mudando muito, você vai perdendo a referência
uma numeração um pouco acima, assim a raspagem e o foco. Particularmente, não saberia criar uma me-
pode ter um rendimento maior. todologia para isso, acho que o objetivo é encontrar
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Ministrou algum curso para estudantes sobre es-
ses procedimentos?
EDMILSON: Nunca cheguei a ministrar um cur-
so, não por falta de oportunidade, mas pela dificul-
dade de poder explicar o assunto, embora acredite
que é sempre importante passar as informações
para os alunos. Sempre foi na própria aula e o maior
46
ClarinetA
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