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Panorama histórico do cinema

Plano Geral no Espírito Santo

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SeSc Departamento nacional Organização Preparação de texto
Gabriel Albuquerque Regiane Pimentel
Presidente do Conselho Nacional
Antonio Oliveira Santos Coordenação editorial e edição de texto Assistência editorial
Gabriela Cuzzuol Ribeiro Leonardo Almenara
Diretor Geral Leonardo Ribeiro
Maron Emile Abi-Abib Projeto gráfico, diagramação e capa Colaboraram
Fábio Birous (Estúdio Dr.Quem!) Alice B. Gomes
Diretor da Coordenadoria Werllen Castro Marcio Pessoa
de Educação e Cultura
Nivaldo da Costa Pereira Curadoria Revisão de texto
Erly Vieira Jr Vivian Plascak Jorge
Gerente de Cultura Gabriel Albuquerque
Márcia Costa Rodrigues Pesquisa
Apresentação Equipe Booklet Edições
Coordenador Técnico Marco Aurélio Lopes Filho Leonardo Ribeiro
de Cultura para o ES Leonardo Souza
Marco Aurélio Lopes Fialho Introdução
Gabriel Albuquerque Equipe Sesc/ES
SeSc Departamento regional Adryelisson Maduro
no eSpírito Santo Textos Gisele Bernardes
Erly Vieira Jr Leonardo Almenara
Presidente do Conselho Regional
José Lino Sepulcri

Diretor do Departamento Regional


Gutman Uchôa de Mendonça

Gerente de Cultura
Beatriz de Oliveira Santos

Coordenadora de Cultura
Colette Dantas

Gerente de Unidade
Paulo Neves Cruz

Assessor Técnico de Cinema


Gabriel Albuquerque

Assistente Técnico de Cinema


Leonardo Almenara

Estagiários de Cinema
Adryelisson Maduro
Gisele Bernardes

DaDos InternacIonaIs De catalogação-na-publIcação (cIp)


bIblIoteca central Da unIversIDaDe FeDeral
Do espírIto santo, es, brasIl

H673

plano geral — panorama histórico do cinema no espírito santo


/ erly vieira Jr, gabriel almeida albuquerque (org.). – 1. ed.
– vitória, es: centro cultural sesc glória, 2015. 178 p. Inclui
bibliografia.

Isbn: 978-85-69009-00-9

1. cinema – espírito santo (estado) – História. I. albuquerque,


gabriel almeida, 1978-.
cDu: 791(815.2)

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Panorama histórico do cinema
Plano Geral no Espírito Santo

2015
Vitória, eS

Erly Vieira Jr Booklet Edições


Gabriel Albuquerque (Org.) Sesc/eS

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Agradecimentos

aBD Capixaba
Alexandre Barcellos
Alexandre Serafini
Alice Gomes
Ana Murta
Angela Maria Battestin
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (apeeS)
Biblioteca Adelpho Poli Monjardim
Cleber Carminati
Dalmo Roger Ferreira
Fábio Pirajá
Gabriela Alves
Gabriel Menotti
Heloisa Ribeiro
Joanna Nolasco Ribeiro
Joel Cuzzuol
Letícia Chamoun
Luiz Eduardo Neves
Luiz Tadeu Teixeira
Margarete Taqueti
Mirtes Angela do Nascimento
Orlando Bomfim Netto
Panela Audiovisual
Ricardo Salles de Sá
Rosana Paste
Samyra Lobino
Sérgio Dias
Terezinha Mazzei
Ursula Dart
Vitor Graize
Waldir Segundo

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Apresentação

Quando se fala de atividade audiovisual, a primeira coisa que nos


vem à cabeça é uma exibição de filmes. Mas, na prática, o Sesc realiza bem
mais do que isso. O seu diferencial, comparativamente a outras instituições,
públicas e privadas, está no fato de abarcar em seu escopo programático
ações sistematizadas variadas e de diversos perfis que contribuem para o
aumento do repertório simbólico dos indivíduos.
Talvez essa deva ser apontada como a principal razão para que o Sesc
seja constantemente reconhecido pelo público por seu profundo compro-
misso com as localidades onde está inserido. A publicação de Plano geral:
um panorama histórico do cinema no Espírito Santo, de Erly Vieira Jr, não só
corrobora essa argumentação como vem reafirmar o papel transformador
inerente à atuação da instituição na sociedade brasileira.
O que o Sesc apresenta ao público é um material amplo e consistente
sobre a produção cinematográfica espírito-santense, que abre a oportunidade
para a difusão e o aprofundamento de conhecimentos específicos relevan-
tes e que se configura como um potente instrumento para a qualificação
da atuação de agentes culturais em todo o país, por trazer à tona não só
um levantamento, mas também uma rica reflexão acerca do cinema do
Espírito Santo.
Mais do que trazer um inventário, esta publicação opta por lançar mão
de um precioso texto analítico, minucioso e saboroso, capaz de criar um
diálogo pertinente da produção local com os diversos contextos culturais,
históricos e cinematográficos no qual ela está inserida.
Deve ser registrado também o caráter de ineditismo desse trabalho,
sobretudo por compreender a história do cinema no Espírito Santo desde
as suas origens até o ano de 2015 (data desta publicação), registrando assim
todo o seu lastro de ação. Trata-se de uma análise de expressivo fôlego e de
grande valia para o desenvolvimento de futuras ações do Sesc. Mas certa-
mente não será útil apenas ao Sesc. Sua leitura atenta trará ricos subsídios
a agentes culturais das mais diversas montas, sem dúvida um instrumento
valioso para melhor entender a realidade em que estes atuam.
Deve-se registrar que a proposta do Plano geral encaixa-se como uma
luva nas políticas de ação do Sesc para a área do audiovisual por ofertar
uma valiosa contribuição em duas vertentes, uma horizontalizada, dedicada
ao desenvolvimento do cinema no Espírito Santo; e outra verticalizada, que
relaciona o cinema local ao contexto cinematográfico e cultural brasileiro.
Se considerarmos como um dos papéis mais importantes do Sesc o
fomento do interesse pela pesquisa, estudo e discussão de temas relacionados
à linguagem audiovisual, a presente obra adquire uma dimensão extraor-
dinária ao propiciar, de uma só vez, tanto uma visão histórica quanto uma
análise crítica das produções espírito-santenses. E que fique bem evidente:

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isso, mais que um diferencial, é um elemento definidor e estruturante do
nosso trabalho.
Há um evidente traço de valorização da memória inerente ao tipo
de pesquisa realizado neste livro, mas deve-se salientar que a produção do
texto está impregnada de momentos reflexivos muito bem alinhavados.
Os temas tratados são vastos: filmes de ficções, experimentais, animações,
documentários, longas, curtas, 35 e 16 milímetros, digital, os cinemas de
rua, os cinemas multiplex, cineclubismo, cinefilia, o papel da universidade,
cinema amador, de gênero, enfim, nada escapa da pesquisa aqui empreen-
dida. O trabalho desenvolvido consegue amarrar uma construção didática,
com divisões temporais bem distribuídas que organizam e ao mesmo tem-
po estimulam a leitura, pois jamais se esquece da atmosfera cultural e do
contexto histórico no qual foi engendrado cada período analisado.
De maneira geral, esperamos que a iniciativa do Sesc do Espírito Santo
sirva como um estímulo e uma semente para projetos semelhantes pelo
Brasil, e que a imagem do trem dos irmãos Lumière adentrando a estação
de La Ciotat − a mesma imagem que passeou soberbamente pelas veredas
do Espírito Santo, conforme podemos constatar no belo texto deste estudo
− possa descortinar e sensibilizar a imaginação de todos que se propuserem
a participar dessa deliciosa aventura pelo cinema do Espírito Santo.

Sesc Departamento Nacional

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Prefácio

Para além dos círculos interessados especificamente no cinema local,


parece que poucos se dão conta de que já temos quase 90 anos de imagens
em movimento produzidas no Estado, desde que foram captadas as pri-
meiras imagens de um passeio de trem em Cenas de família, um conjunto
de tomadas silenciosas filmadas por Ludovico Persici, na década de 1920,
com o auxílio de seu invento, o Apparelho Guarany – uma máquina capaz
de filmar, projetar, copiar e medir o filme.
Ao longo desta viagem pela história do cinema espírito-santense, vimos
inúmeros ciclos cinematográficos surgirem e desaparecerem em meio à
luta dos realizadores capixabas por visibilidade para suas produções. Neste
sentido, muitas têm sido as tentativas de trazer luz à história do cinema
capixaba, sua produção e estratégias de difusão. Algumas publicações e
levantamentos de pesquisadores têm dado conta dessa trajetória, como o
livro de Fernando Tatagiba, ainda nos anos 1980, o livro de André Malverdes
sobre as salas de cinema do Espírito Santo e o catálogo da aBD Capixaba,
lançado durante a mostra A Vida é Curta, em 2007. Estes levantamentos
não só nos mostraram os sucessos, mas também os entraves que os reali-
zadores sofreram para narrar e mostrar suas histórias. Com a publicação
deste Plano geral: panorama histórico do cinema no Espírito Santo, percebemos
que, apesar de termos conquistado novas fronteiras, com avanços que se de-
monstram na qualidade e quantidade de produções anuais que são lançadas
na internet, nos festivais e nos cineclubes, ainda encontramos dificuldades
em alcançar as salas de cinema e as telas de tV, onde o mercado parece se
esconder dos capixabas.
Inúmeros ciclos se sucederam desde as primeiras imagens silenciosas
de Ludovico em 1926, mas até o ano de 1966, quando se inicia o ciclo de
cinema amador, só conhecemos registros dos cines jornais e filmes institu-
cionais. A paisagem mudaria radicalmente a partir de 1966, com a produção
de realizadores como Luiz Tadeu Teixeira, Ramon Alvarado, Paulo Torre
e tantos outros que nos brindaram com as imagens sufocantes da década
da repressão, embalados pelo jazz e o rock em noites insones pelos bares
boêmios da ilha.
Em um misto de poesia, romantismo e ativismo, os chamados anos de
chumbo viram surgir imagens em 16 milímetros e o cinema amador, que
era exibido junto aos clássicos e novos cinemas nos cineclubes na melhor
tradição cinéfila da época.
Porém, com o recrudescimento do cenário político, aquele ciclo
também se encerrou e o estado só passou a respirar cinema novamente a
partir da segunda metade da década de 1970 com alguns filmes esporádicos
dos incansáveis Luiz Tadeu e Ramon e a realização de alguns longas em
terras capixabas por realizadores de fora. Mas o final da década também

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trouxe Orlando Bomfim para o Espírito Santo, onde iniciaria uma série
de documentários sobre os imigrantes italianos de Santa Tereza, além de
Amylton de Almeida e seus impactantes documentários televisivos. O
movimento cineclubista universitário também floresceu entre 1978 e 1986,
com a participação ativa de Antônio Claudino de Jesus, Tião Xará, Marcos
Valério e muitos outros.
Além de ter apresentado as imagens de toda pobreza de São Pedro ao
mundo, o ciclo que se inicia em 1980 também trouxe novos questionamen-
tos, especialmente por parte do grupo Balão Mágico, sobre quem detém o
poder da imagem – em uma prévia do que seria a então nascente pós-mo-
dernidade capixaba que se apropriou do movimento punk, utilizando-se do
lema do it yourself e das novas câmeras domésticas de VHS, que nos tornaram
produtores e consumidores vorazes de imagens em movimento com um
caráter de criação coletiva, cooperativa e experimental e questionando o
caráter conservador da sociedade local em plena abertura democrática.
A partir de 1990, apesar da grande crise que se abateu sobre o cinema
nacional com o fechamento da Embrafilme no início do governo Collor, o
cinema capixaba vivenciou um novo ciclo, com a tentativa de implantação
de um polo de cinema por intermédio de uma linha de financiamento pelo
Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes), a criação da
Lei Rubem Braga, em 1991, e o surgimento do Vitória Cine Vídeo na capital.
E, enfim, nossa viagem chega ao século XXi, com a digitalização dos
equipamentos, possibilitando que mais e mais realizadores pudessem narrar
suas histórias para o mundo. A criação da aBD Capixaba no ano 2000 foi
um dos fatores importantes na consolidação da produção e difusão audio-
visual local. A associação propiciou que os realizadores locais passassem
a perceber o poder de trabalhar em conjunto, influenciando em políticas
públicas que originaram editais e fortaleceram os mecanismos de fomento
à atividade no Estado.
A aBD Capixaba também é responsável pela Mostra Produção Inde-
pendente, que privilegia há 10 edições os realizadores capixabas, fazendo
um trabalho de levantamento da produção audiovisual local por meio
do lançamento de DVDs Coletânea da Mostra e da revista Milímetros, na
qual acontecem discussões importantes para a produção cinematográfi-
ca capixaba.
Além disso, o movimento cineclubista vem crescendo desde o ano
de 2003, com a retomada nacional e a sua reorganização em um Conse-
lho Nacional de Cineclubes Brasileiros (cnc) e a reinclusão do Estado no
centro do movimento nacional com a presidência do cnc nas mãos de
um capixaba, Antonio Claudino de Jesus. Tivemos ainda nesta década o
surgimento do Cine Falcatrua, que iria projetar a atividade cineclubista
por meio do seu duelo com as majors, discutindo a questão dos direitos
autorais em tempos digitais.
Surgem ainda vários coletivos que começam a mudar as estratégias
de produção, não dependendo mais só de editais e leis de incentivo e
trabalhando de forma colaborativa, o que parece ser a nova cara da pro-
dução contemporânea.

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Atualmente, com o curso de cinema da Ufes, o cenário da formação
em audiovisual passa por uma mudança significativa. Com apoio do curso, o
setor se lança para novas experimentações que surgem aliadas às estratégias
de formação do curso. Um edital de longa-metragem tem possibilitado aos
realizadores locais a produção mais constante de longas; no entanto, estes
novos filmes ainda têm dificuldades em se inserirem nas telas de cinema
do país, devido ao alto custo da distribuição.
Constantemente, temos a impressão de estarmos recomeçando, quando
não um novo ciclo, um novo filme, uma nova série, um novo grupo, uma
nova parceria. No entanto, olhando para esta viagem que começou no trem
do Ludovico, vemos que já caminhamos e fizemos muito. Olhemos então
para o futuro e as novas possibilidades que se apresentam sem deixar de
olhar para trás e aprender com todos aqueles que vieram antes de nós e
que iluminaram as estradas com sonhos, imagens e sons. E que o público
possa seguir conosco em todas as telas.

Saskia Sá
Cineasta

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Introdução

Em 2014, quando as atividades do setor de cultura do Sesc/eS direcio-


naram suas forças para a ocupação do Sesc Glória, a equipe de cinema passou
a focar sua atenção máxima à produção local. Iniciou-se então uma pesquisa
que até aquele momento iria se ater somente ao mapeamento e catalogação da
produção financiada por recursos públicos estaduais e municipais, no Espírito
Santo, nos últimos cinco anos. Compreendendo que esses mecanismos são
alguns dos grandes responsáveis pela viabilidade da indústria de cinema e
audiovisual local e deparando-se com pouco volume de informações espe-
cíficas disponível para pesquisa, o Sesc/eS identificou a necessidade de obter
um panorama abrangente dessa produção, inclusive, quantitativo.
Resolvemos, então, ir além. As informações levantadas até aquele
momento identificaram um crescimento na produção local, talvez em
função do barateamento da tecnologia necessária à produção, talvez pela
efetividade da política pública voltada para este segmento. Entre 2009 e
2014, a produção resultante de iniciativas públicas aumentou cinco vezes.
Este dado deixou claro que o Sesc estava diante de uma pesquisa instigante.
Para além do uso como referência interna, para autoria da programação
desse setor do Sesc/eS, existia a necessidade de se seguir levantando dados
e de publicá-los em seguida para o grande público.
Fomos em busca de várias referências importantes para compor este
levantamento, como todos os catálogos do Festival de Cinema de Vitória,
o Vitória Cine Vídeo, e os da Mostra Produção Independente da aBD Ca-
pixaba. Somente nessas duas fontes já foi possível vislumbrar décadas de
produções de cinema no Espírito Santo, com dezenas de títulos e autores
importantíssimos para este panorama.
A pesquisa histórica foi fundamental para compreender como o
cinema se desenvolveu no Espírito Santo: quem foram seus realizadores,
entusiastas, cineclubistas; qual foi a importância dos cineclubes, das salas
de cinema e das obras cinematográficas. Tal pesquisa contou com o valoroso
trabalho feito por Fernando Tatagiba, bem como o de André Malverdes,
ambos com narrativas riquíssimas sobre os bastidores da cena audiovisual
capixaba, do parque exibidor, dos lugares e das pessoas que compõem
esta história.
O trabalho Catálogo de filmes: 81 anos de cinema no Espírito Santo, realizado
pela aBD Capixaba em 2007, e a pesquisa para o catálogo 101 filmes capixabas
realizado pelo Panela Audiovisual, em 2014, contemplam uma diversidade
importante de filmes, sobretudo, se considerarmos somente os trabalhos
realizados em película no primeiro caso, assim como filmes mais recentes,
em formatos digitais, no segundo.
Uma quantidade considerável de títulos ainda escapou de todas essas
referências supracitadas e, para solucionar essa questão, contamos com a

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ajuda fundamental dos realizadores, pesquisadores, cineastas e colabora-
dores, incluindo a consultoria do professor, pesquisador e realizador de
cinema, Erly Vieira Jr.
A importância desta pesquisa é embasada no sucesso de alguns pro-
jetos gerenciados pelo Sesc/eS, que resultaram em estimativas bastante
importantes, entre os quais merece destaque o projeto O cinema vai à escola,
desenvolvido ao longo de sete anos, via parceria Sesc/eS e Secretaria de
Estado da Educação (Sedu), em que a equipe ia a campo, em mais de 100
escolas públicas do Estado, em cerca de 20 cidades. Essa iniciativa concluiu
que, mesmo em 2008, já era possível realizar oficinas de produção de vídeo
com os alunos do ensino médio. Naquele ano, aproximadamente 30% dos
estudantes possuíam um aparelho de telefone celular com câmera de vídeo
e praticamente todas as escolas já possuíam um laboratório de informática
com softwares básicos de edição. Este dado permitiu que se formassem gru-
pos e que fossem produzidos vídeos com o equipamento de que os alunos
já dispunham. Em um período de seis anos, a percentagem de estudantes
que possuíam um aparelho de telefone celular chegou a 90%, dos quais
aproximadamente 30% utilizava esse equipamento para produzir vídeos.
Os jovens que atualmente estão cursando o ensino médio utilizam
tecnologia com mais desenvoltura e naturalidade do que seus pares de
qualquer outra época, ou mesmo os próprios professores. Segundo pes-
quisa realizada pela Fundação Perseu Abramo para o Sesc, em 2013, a
cada 100 pessoas que possuem celular, 17 delas usam mais o aparelho para
fotografar ou filmar do que para realizar ligações telefônicas. O que esses
dados anunciam é uma mudança de hábitos interessante, que comprova a
importância da imagem no cotidiano e a inclusão do vídeo no dia a dia do
jovem contemporâneo, como linguagem de expressão.
Soma-se a essas informações o relevante fato de que o número de
produções realizadas no Espírito Santo, do ano 2000 até hoje, é três vezes
maior do que todas as produções de 1920 até 2000, somadas. A difusão, por
sua vez, ainda é um gargalo. Desde as décadas de 1980 e 1990 as salas de
cinema sofreram severas baixas, ficando com um número muito inferior
ao alcançado nas décadas anteriores, situação causada, em grande parte,
pela introdução dos novos sistemas de videocassete doméstico para ver
filmes alugados em locadoras de vídeo, entre outros fatores. O município
de Vitória, que já teve cinemas em vários de seus bairros, em meados de
1990 não tinha nem metade do que tivera outrora. Entretanto, de 1995 até
2008, no Brasil, o número de salas de exibição cinematográfica pratica-
mente dobrou, passando de 1.033 para 2.063. Em 2007, o Brasil teve o 14º
maior público de cinema no mundo e a 15ª maior arrecadação de bilheteria,
segundo dados do Instituto Gênesis publicados em 2008.
Em 1994, após uma das maiores baixas da história no que diz respeito
ao cinema brasileiro, as verbas públicas destinadas à cultura aumentaram
consideravelmente no País. O impacto disso foi percebido no número de
produções de cinema desde então. Segundo pesquisa publicada pelo Insti-
tuto Jones dos Santos Neves, a participação nos gastos públicos executados
com cultura no Brasil demonstra que, entre 2004 e 2009, os municípios

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foram responsáveis por aproximadamente 50% do investimento, a união por
15% e os Estados por 35% do total. Ainda que deste total, mais de 50% seja
destinado à difusão cultural, em relação ao cinema, boa parte da produção
que de fato cresceu bastante, não chega às salas de exibição comerciais.
Embora Vitória seja umas das cidades com maior potencial exibidor do
País, dificilmente o cidadão comum irá se deparar com uma obra capixaba
em um dos cinemas espalhados pela cidade. A capital do Espírito Santo é
a segunda com a maior média de salas de cinema por habitantes no país,
com, aproximadamente, uma sala para cada 18 mil habitantes. Vitória está
no topo do ranking dos melhores mercados em ingresso de cinema per capita
no Brasil, com 2.8 ingressos por habitante, segundo dados publicados pelo
Instituto Gênesis, em 2008.
Segundo pesquisa do Sesc, a cada 100 pessoas que vão ao cinema no
Brasil, 14 delas dizem nunca ter visto sequer um filme brasileiro, 45 pre-
ferem filmes americanos, 33 preferem filmes brasileiros e 23 são indife-
rentes. Em 2014, o filme norte-americano Jogos Vorazes: Esperança – Parte
1 (Frances Lawrence, 2014) ocupou no fim de semana de sua estreia no
Brasil 50% das salas de cinema de todo país. Uma ação predatória contra
o cinema nacional.
É próprio do fazer cultural do Sesc ser uma instituição propositiva,
que considera a brasilidade como um dos critérios mais importantes ao
compor sua programação, zelando pela cultura nacional, como item fun-
damental da soberania de um povo, como elemento básico da formação da
autoestima e da cidadania de seus indivíduos, acreditando que a cultura
gera melhoria de vida e uma sociedade mais saudável para todos. Com
esta publicação, o Sesc realiza uma pequena homenagem a todos os artis-
tas que, desde Ludovico Persici, com uma câmera concebida e produzida
com suas próprias mãos, na década de 1920, realizou a primeira filmagem
em solo capixaba até os mais jovens realizadores que, com seus recursos
digitais, constroem a história desta linguagem no Espirito Santo. Este livro
traz à luz pesquisas que incluíram mais de 400 filmes, bem como o texto
especializado de Erly Vieira Junior, que, de forma sábia e criteriosa, conta
detalhes fundamentais para o maior entendimento acerca da história do
cinema capixaba. Esta publicação não intenciona concluir o debate sobre
a trajetória do audiovisual capixaba, pois sabe-se que nada se conclui aqui.
Lançamos esta obra para os que virão, e para estes deixaremos a responsa-
bilidade de compreender e contar o que está por vir.

Centro Cultural Sesc Glória

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Sumário

1926 — 1965, 20
23 ∙ Pioneiros da atividade cinematográfica no Espírito Santo
E, então, um trem resolve partir da estação..., 23
Em meio à invisibilidade, as primeiras imagens cinematográficas de Vitória,
28
Imagens do Espírito Santo durante o Estado Novo, 31
A era de ouro das salas de cinema no Espírito Santo, 34
Júlio Monjardim e o Jornal da tela, 37

39 ∙ Catalogação 1926 — 1955

1966 — 1979, 42
45 ∙ Da cinefilia à filmografia: sonhos e incertezas de uma geração
O ciclo de cinema amador nos anos 1960, 45
A resistência contracultural dos anos 1970 e o cinema ficcional, 50
Cinema documentário e cineclubismo: política e identidade no final da
década de 1970, 55

59 ∙ Catalogação 1966 — 1979

1980 — 1999, 65
67 ∙ Da chegada do vídeo à retomada do cinema capixaba
Onde está aquele povo barulhento?, 67
Do Balão ao Éden: a ascensão de uma nova geração, 69
Ficção e documentário: outros olhares, 72
E a década chega ao fim..., 73
A estagnação da era Collor, 74
A retomada do curta-metragem, 76
Videoarte e videoperformance, 79
Documentário, 82
Alternativas para a formação de novos realizadores, 82

85 ∙ Catalogação 1980 — 1999

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2000 — 2009, 92
95 ∙ Para o alto e avante: expansão e diversidade do cenário
audiovisual capixaba
O panorama pós-retomada, 95
A ampliação do circuito de festivais, 97
Novas salas de cinema e o renascimento do cineclubismo, 100
A geração da virada do século, 103
A produção dos veteranos, 107
Cinema de bordas, 109
A animação conquista espaço, 109
Uma nova geração de documentaristas, 111
A produção universitária, 113
Os primeiros coletivos juvenis, 114
Cinema e vídeo experimental, 116
Mangue negro e a renovação do cinema de horror brasileiro, 117

120 ∙ Catalogação 2000 — 2009

2010 — 2015, 137


139 ∙ Aqui, agora e daqui em diante
O boom dos longas digitais, 139
Novas perspectivas para o curta-metragem, 142
Um cinema jovem: os coletivos culturais e o curso de cinema da Ufes, 144
Novos caminhos para o cinema ficcional, 148
Engajamentos e tensões no cinema do real, 150
Documentários sobre esportes, 152
Animações e filmes experimentais, 152
A ascensão das webséries, 155

157 ∙ Catalogação 2010 — 2015

Referências Bibliográficas, 177

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1926
— 19
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26
1965
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Pioneiros da atividade cinematográfica
no Espírito Santo

E, então, um trem resolve partir da estação...

Década de 1920, começo do século passado. Um maquinista desce da


locomotiva, em meio à fumaça. Outro homem, agachado em frente ao trem,
aparentemente posando para a câmera, é retirado do meio dos trilhos por
ele. Na cena seguinte, em que um homem de chapéu caminha em direção
à câmera, o letreiro ao fundo revela onde estamos: na estação Coutinho,
integrante da Estrada de Ferro Leopoldina, no Ramal Sul do Espírito Santo.
É nessa estação que os passageiros vindos da cidade de Castelo costumavam
fazer baldeação para o trem que os levaria a Cachoeiro de Itapemirim e
Vitória. A pequena fila de passageiros esperando para embarcar é mostrada
em um take panorâmico, tremido e inquieto. Por volta de 20 segundos de
filme, a câmera fixa mostra a partida do trem de ferro, para, em seguida,
posicionar-se à janela de um dos seus vagões e nos conduzir por um pas-
seio de 19 minutos, não somente pelo sul do Estado, mas também pelos
pequenos eventos cotidianos vivenciados por uma família da região em
viagem de férias, quase um século atrás.
Essas são as primeiras imagens de Cenas de família, um conjunto de
tomadas silenciosas filmadas por Ludovico Persici, entre 1926 e 1929, nas
cidades de Castelo, Cachoeiro de Itapemirim e na praia de Marataízes.
Trata-se do mais antigo conjunto de imagens em movimento produzidas
no Espírito Santo, que conseguiram chegar aos nossos dias. Possivelmen-
te, estão aí os primeiros planos filmados por Ludovico em seu Apparelho
Guarany, já que as Cenas de família começaram a ser produzidas no mesmo
ano em que ele finalizou seu invento. Outro filme desse realizador que
sobreviveu à posteridade, um faroeste denominado Bang Bang (rodado em
Conceição do Castelo e cujas imagens hoje em dia encontram-se quase
totalmente desaparecidas), também data de 1926. Na falta de registros mais
exatos, não é possível afirmar com certeza qual dos dois filmes começou
a ser realizado primeiro.
Ainda sobre Cenas de família, também não se sabe ao certo qual era o
nome original do filme, nem se era um curta-metragem finalizado ou o
fragmento de um trabalho de maior fôlego. No entanto, a importância do
material se justifica por uma série de fatores – em especial por ter sido
produzido por aquele que talvez tenha sido o único cineasta capixaba da
primeira metade do século XX, além de um notável e aperfeiçoador de
equipamentos cinematográficos.
Filho de um relojoeiro, do qual herdou a profissão, Ludovico Persici
nasceu em Alfredo Chaves, sul do Espírito Santo, em 1899. Desde criança,

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cenas de Família

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manifestava interesse por montar e desmontar equipamentos mecânicos,
com o objetivo de entender o seu funcionamento – e, por vezes, executa-
va suas próprias invenções. Por volta de 1908, a chegada de um exibidor
itinerante à cidade proporcionou ao menino uma experiência transforma-
dora: fascinado pelo cinematógrafo, ele pede ao forasteiro alemão que lhe
explique seu funcionamento, e dele ganha, além da explicação, um pedaço
de filme. Nos anos seguintes, enquanto residia em várias cidades do sul do
Estado, exercendo os ofícios de relojoeiro e ourives, persistiu na obsessão
de construir seu próprio equipamento audiovisual.
O exercício da função de projecionista no único cinema da cidade
de Castelo, já nos anos 1920, continuou alimentando esse desejo e, depois
de longas madrugadas de trabalho, eis que em 1926, a partir de latas de
manteiga e lentes que ele próprio construiu, Persici finaliza o Apparelho
Guarany – uma máquina capaz de filmar, projetar, copiar e medir o filme,
além de tocar uma campainha anunciando o final da projeção. No ano
seguinte, ele obtém, no Rio de Janeiro, a patente do seu invento, que era
revolucionário exatamente por reunir, em um único aparato, as funções
de tantas máquinas diferentes. Todavia, mesmo com um certo apoio da
imprensa da época, não conseguiu obter patrocinadores para produzir sua
criação em larga escala. Entre os fatores que explicam o desinteresse em
apoiar a empreitada, tanto da parte do poder público quanto da iniciativa
privada, encontram-se a fragilidade da indústria nacional no período e,
especialmente, do campo cinematográfico, que ainda não havia se estabele-
cido como indústria, em um mercado dominado pela maioria esmagadora
de produções norte-americanas.
Após um período em Belo Horizonte, Persici retorna ao Espírito San-
to, então sem a máquina, em 1935. Nunca se soube do paradeiro desta, e o
falecimento precoce de seu inventor, vitimado pela tuberculose em 1944,
enterrou de vez a possibilidade de encontrá-la. A monografia da jornalista
Patrícia Bravin, Ludovico Persici e a origem do cinema no Espírito Santo (2006),
traz um estudo biográfico mais aprofundado sobre o cineasta.
Nos anos posteriores à invenção do Apparelho Guarany, Persici o
utilizou para realizar seus próprios filmes, muitas vezes exibidos em um
galpão atrás de sua residência, em Castelo, que funcionava como um ci-
nema improvisado. Não se pode afirmar exatamente quantas obras foram
produzidas, já que a maior parte desse material se perdeu, assim como a
maioria da produção do cinema silencioso ao redor do planeta, em uma
época em que ainda não havia cinematecas e outros órgãos destinados à
preservação de filmes e documentos históricos da área.
Durante muito tempo, acreditou-se que seu único filme conhecido era
Bang Bang, que teve alguns pequenos trechos incluídos no documentário A
máquina e o sonho (1974), realizado pelo crítico e cineasta carioca Alex Viany,
dedicado a retratar a vida e obra do cineasta e inventor capixaba. Se o nome
de Ludovico havia caído no ostracismo com o passar dos anos, o curta de
Viany não só reacendeu o interesse pela obra deste criador, como também
trouxe uma série de informações bastante relevantes, como o fato de Bang
Bang talvez ter sido o primeiro faroeste realizado no Brasil, muito antes do

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ciclo de filmes do gênero realizados nos anos 1950-1960 e iniciado com o
paulista Da terra nasce o ódio (1954), de Antoninho Hossri.
No livro Memórias de um médico da roça (1965), Ciro Vieira da Cunha
afirma que Ludovico foi o roteirista, fotógrafo (sua habilidade com a foto-
grafia foi elogiada por Viany) e diretor do filme, ensinando aos atores, em
sua maioria trabalhadores rurais e comerciantes de Conceição do Castelo,
a cair sobre as mesas, dar socos e pontapés.
A descoberta de Cenas de família, há pouco mais de dez anos, deu-se
de forma quase acidental: o pesquisador José Eugênio Vieira estava traba-
lhando em um livro sobre a história de Castelo, quando, em meio a uma
entrevista, soube da existência da obra, cuja única cópia encontrava-se na
Bahia. Como esse material ficou durante anos em uma sacola plástica, cerca
de três minutos dele foram perdidos por conta de mofos e fungos. A partir
do que restou, foi gerado um internegativo, que possibilitou uma cópia
no formato 16 mm, posteriormente digitalizada, num processo que durou
cerca de dois anos e teve a supervisão da cineasta e pesquisadora capixaba
Margarete Taqueti. Segundo ela, o material não possuía um nome, e foi
batizado como Cenas de família pelos técnicos do laboratório que realizou o
restauro. Em agosto de 2008, aconteceu sua primeira exibição pública, num
evento realizado no Palácio Anchieta. Atualmente, existem cópias digitais
do material em posse do Arquivo Público Estadual (ape-eS), bem como
disponíveis no YouTube, onde está acessível gratuitamente a qualquer pessoa.
O filme divide-se em duas partes: a primeira, que dura cerca de 14
minutos, com os registros de viagem, incluindo imagens no litoral e na
cidade grande; e a segunda parte, anunciada por um letreiro: “Panoramas da
Fazenda Exame, propriedade do Sr. José Mussi”. Principalmente na primeira
sessão, vemos o registro de vários flagrantes cotidianos: pessoas dançam,
reúnem-se para ouvir uma mulher tocando concertina, mergulham no mar
com seus maiôs e chapéus da época, riem, leem jornais. Alguns homens,
mais jovens, trocam socos de brincadeira e abraços carinhosos, contrastando
com a formalidade do conjunto paletó e gravata. Vemos também as casas
das pequenas cidades, o interior das lojas, uma estrada em construção (pos-
sivelmente a que liga Castelo a Muniz Freire) e até mesmo alguns carros e
um bonde nas ruas de uma cidade grande, até hoje não identificada. Seria
Cachoeiro do Itapemirim? Ou quem sabe Vitória, destino final da linha do
trem? Por vezes, essas pessoas parecem desfilar e, em outros momentos,
chegam a olhar para a lente e interagir com a câmera, como se já estivessem
familiarizadas há muito tempo com a presença dela em suas vidas. Alter-
nam-se poses fotográficas com momentos mais espontâneos – e, às vezes
as duas coisas ao mesmo tempo, como a família que posa como se fosse
para uma fotografia, enquanto as crianças menores refestelam-se com suas
cadeiras de balanço, roubando a atenção do espectador por alguns instantes.
Essas imagens, ao menos na primeira parte, são entremeadas com
tomadas da paisagem vista pelo trem em movimento, como se nos indicasse
o percurso da viagem. O fato de que o conjunto das primeiras imagens
cinematográficas realizadas no Espírito Santo registram um trem partindo
da estação nos remete à temática presente nas primeiras imagens dos irmãos

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Lumière, inventores do cinematógrafo, em seu A chegada do trem na estação
(1895), considerado por muitos o primeiro filme de todos os tempos1.
Claro que há toda uma diferença entre o contexto do primeiro cine-
ma dos Lumière e aquele em que Persici faz suas filmagens, três décadas
depois. Afinal, estamos tratando de um realizador e de atores/figurantes
que já eram espectadores do modo narrativo clássico, hegemônico a par-
tir 1915, graças ao cinema de Hollywood. Todavia, se não é possível falar
exatamente em “primeiro cinema” ao analisar o Cenas de família, pode-se
enquadrar as imagens do capixaba em um contexto de filme de registro,
que muito dialoga com uma certa vertente documentarista ainda bastante
popular no início do século XX.
Entre os primeiros filmes realizados, ainda no século XiX, há uma
fartura de eventos cotidianos e vistas de pontos turísticos dos diversos
cantos do planeta – como podem confirmar as primeiras imagens feitas no
Brasil, ainda em 1897, por José Roberto da Cunha Salles e Vittorio di Maio,
no Estado do Rio de Janeiro2. Esses filmes eram recebidos pelo público do
final do século XiX com grande interesse, exatamente por dialogarem com
a experiência nascente das metrópoles modernas, em termos de experiência
sensória, emocional e narrativa. O cinema surge em meio a todo um con-

1 Há uma série de controvérsias sobre qual seria o primeiro filme de todos os tempos.
Já em 1888, o francês Louis Le Prince filmou, em Leeds, no Reino Unido, 52 fotogramas
(cerca de 2 segundos) em papel fotográfico, em seu Roundhay Garden Scene, que não chegou
a ser exibido publicamente na época. Em 1890, William Kennedy Dickson, funcionário de
Thomas Edison, começou a realizar pequenos filmes experimentais, com seu cinetógrafo,
que daria origem, no ano seguinte, ao cinetoscópio, também de Edison. Ainda em 1891,
começam a ser produzidos os primeiros filmes de curta duração para o cinetoscópio, que
permitia ao espectador ver as imagens através de um pequeno visor. O cinematógrafo
dos irmãos Lumière dá um passo adiante, ao incorporar a ideia da projeção de imagens
ampliadas, em uma sala escura − cuja única fonte de luz seria a do projetor − o que torna
a experiência da exibição coletiva, e não mais individual, como no cinetoscópio. O dispo-
sitivo proposto pelos Lumière, que acabou se consolidando como o formato hegemônico
do cinema, teve sua primeira sessão pública em 28 de dezembro de 1895. Todavia, ainda
há outras controvérsias: a de que o inventor Charles Francis Jenkins havia inventado
um projetor antes, o phantoscope, cuja primeira exibição pública teria sido realizada em
junho de 1894; e a de que A chegada do trem na estação não teria sido exibido na primeira
sessão de cinema, uma vez que não consta do programa de dez filmes projetados naquela
noite, mas sim, teria sido apresentado ao público em janeiro de 1896. De qualquer modo,
o impacto do filme junto aos espectadores ajuda a estabelecer seu lugar no imaginário
geral como o “primeiro filme de todos os tempos”. Já a primeira sessão do cinematógrafo
em terras brasileiras aconteceria em 8 de julho de 1896, por iniciativa do exibidor belga
Henri Paillie, que na ocasião projetou oito filmetes com vistas de cidades europeias, numa
sala alugada na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.
2 Durante muito tempo acreditou-se que as primeiras filmagens em solo brasileiro
ocorreram por iniciativa do cinegrafista italiano Affonso Segreto, em junho de 1898, ao
registrar de um navio algumas vistas da Baía de Guanabara. Affonso era irmão de Paschoal
Segreto, dono da primeira sala de exibição cinematográfica no Rio de Janeiro. Estudos
recentes indicam que, na verdade, um conjunto de filmes realizados por Cunha Salles e
Vittorio di Maio haviam sido exibidos em Petrópolis, um ano antes – mais precisamente,
no dia 1º de Maio de 1897, conforme registra o anúncio na edição daquele dia da Gazeta
de Petrópolis. Entre eles, está Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara, do qual es-
tão preservados, no acervo do Arquivo Nacional, 24 fotogramas, o que faz dele o filme
brasileiro mais antigo a ter chegado aos dias de hoje.

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junto de atrações da virada do século, e sua forma de criar relatos sobre o
mundo bebia diretamente de outras formas modernas de entretenimento
populares do período, como o vaudeville, o jornalismo popular e até mesmo
as estratégias cenográficas e narrativas que buscavam envolver o público
nos grandes panoramas e nos museus de folclore e de estátuas de cera.
Em meio a todas essas atrações, os filmes de registros de viagens fa-
ziam imenso sucesso, chegando a constituir um gênero próprio e bastante
popular: o travelogue. Contudo, a partir do final da década de 1910, o inte-
resse pelas paisagens exóticas se esgotaria, e o foco dos filmes de viagem
passa a ser a dimensão humana, para os hábitos e costumes das pessoas. E
esse interesse pelo cotidiano resultaria numa farta produção de “filmes de
família”, como o passeio de trem com o qual Persici inauguraria a filmo-
grafia produzida no Espírito Santo.

Em meio à invisibilidade, as primeiras imagens cinematográficas de Vitória

Se na década de 1920 o trem de Ludovico Persici parecia anunciar


um futuro cinematográfico promissor, a década de 1930, no Espírito Santo,
parece esquecer o assunto. Nesse período, praticamente não há produção
audiovisual no Estado, ao contrário de outras regiões brasileiras, que viram
florescer, durante as primeiras décadas do século XX, uma série de ciclos
regionais, com ênfase em filmes ficcionais – com destaques para as cidades
de Pelotas (1913-14) e Porto Alegre (1925-33), no Rio Grande do Sul; Recife
(1923-31), em Pernambuco; e Cataguases (1925-29), em Minas Gerais, que
revelou ao país o talentoso cineasta Humberto Mauro. Esses ciclos, apesar
da curta duração, proporcionaram momentos importantes para a consoli-
dação de uma filmografia nacional, antes mesmo das primeiras tentativas
de se estabelecer uma indústria cinematográfica no país, a partir da criação
da Cinédia, em 1929.
Antes disso, o cinema nacional havia tido um breve e intenso período
de sucesso comercial: trata-se da Belle Époque do cinema brasileiro, ocorrida
no Rio de Janeiro, entre 1907 e 1911, quando centenas de filmes “naturais”
(documentários) e “posados” (ficcionais) – para usar a nomenclatura po-
pularizada na época – foram produzidos. Naquele momento, ainda não
havia interesse de distribuidoras estrangeiras no mercado brasileiro, o que
permitiu uma aliança entre produtores e exibidores locais, de modo que o
cinema nacional ocupasse a maioria esmagadora das telas.
Contudo, a partir da década de 1910, começaram a se instalar no Bra-
sil distribuidoras estrangeiras, oferecendo o melhor do cinema europeu
e norte-americano de então. Este último, favorecido pela interrupção da
produção europeia durante a Primeira Guerra Mundial, acabou se tornando
hegemônico a partir do final da década, como parte de um projeto ambi-
cioso de Hollywood para dominar os diversos mercados estrangeiros com
sua ampla oferta de filmes. Segundo Rubens Machado, no texto “O cinema
paulistano e os ciclos regionais Sul-Sudeste (1912-1933)”, a participação
norte-americana no mercado cinematográfico brasileiro era de 71% já em

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1921, atingindo 86% em 1929. Sem muito espaço nas telas (em torno de 2%
do mercado), a produção nacional minguava nesse período, concentrando-
se basicamente nesses ciclos regionais esporádicos.
A chegada do cinema sonoro (surgido em 1927) ao Brasil, no começo
dos anos 1930, anima alguns produtores a tentarem implantar um modelo
industrial, ainda que bastante rudimentar, no contexto nacional. A quase
totalidade da produção nacional estava, nesse período, concentrada no Rio
de Janeiro. Adhemar Gonzaga funda a Cinédia, cujo primeiro filme, Lábios
sem beijos (1930), seria dirigido por Humberto Mauro. Pouco adiante, em
1933, Carmem Santos cria a Brasil Vox Filmes, que seria rebatizada dois
anos depois como Brasil Vita Filmes.
Embora conseguissem obter sucesso com alguns de seus filmes, como
as comédias musicais ancoradas em cantores famosos, como Carmem
Miranda, Francisco Alves e Ary Barroso, estrelas de Alô, Alô, Brasil, grande
sucesso em 1935, essas iniciativas, contudo, não durariam muito tempo.
A Cinédia, aliás, seria uma exceção entre as produtoras, conseguindo se
manter por algumas décadas, com ocasionais sucessos de bilheteria, além
de esporádicas aberturas a filmes mais autorais, como os clássicos Ganga
bruta (1933), de Humberto Mauro, e Limite (1931), de Mário Peixoto, repre-
sentante solitário do cinema de vanguarda no Brasil. O filme de Peixoto,
um melodrama experimental mudo, obteve pouquíssima repercussão em
seu lançamento, e somente iria adquirir o status de obra-prima a partir do
final dos anos 1970, quando seria relançado e apresentado às novas gerações,
após um processo de restauro que durou quase vinte anos.
Na ausência de um ciclo regional, a filmografia capixaba praticamente
inexistiu nos anos 1930. Talvez a única exceção sejam as imagens realizadas
em 1938 por Luiz Gonzáles Batan3, oficialmente consideradas as mais antigas
produzidas na cidade de Vitória. Elas se filiam totalmente ao subgênero
dos “filmes de família”: trata-se de um conjunto de dez minutos de cenas,
mudas e em preto e branco, que reúnem momentos cotidianos e tomadas de
locais pitorescos de Vitória, como o Parque Moscoso, o porto de Vitória, um
campo de futebol e crianças brincando na praça Costa Pereira4. Batan vendia
equipamentos hospitalares, como representante da Casa Lohner. Um dia,
a empresa enviou-lhe uma câmera 16 mm para que revendesse a médicos
interessados, que ele acabou utilizando para registrar essas imagens. Quase
três décadas depois, elas foram exibidas publicamente sob o nome de Vitória,
1938, por iniciativa de seu filho mais novo, o cineasta Ramón Alvarado, que

3 Cf. “Para quem tem olhos para ver: O cinema no Espírito Santo” (2002), de Luiz Tadeu
Teixeira.
4 Muito provavelmente, devem existir outros registros cinematográficos realizados por
fotógrafos profissionais no Espírito Santo nesse período, no âmbito dos “filmes de família”
e de registro, especialmente por fotógrafos profissionais, que se aventuraram com o equi-
pamento de 16 mm. Há relatos, por exemplo, de latas de filmes com imagens realizadas
em Vitória e Campo Grande (bairro do município de Cariacica) há mais de 60 anos, por
Alfredo Mazzei, um dos mais importantes nomes da fotografia capixaba das décadas de
1930, 1940 e 1950. Esse material está em posse de seus herdeiros, que atualmente buscam
recursos para sua catalogação e digitalização. Todavia, somente as imagens captadas por
Batan vieram efetivamente a conhecimento público.

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Luiz Gonzáles Batan (na primeira imagem) e duas cenas de seu filme

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viria a ser um dos principais nomes do ciclo cinematográfico capixaba dos
anos 1960. E são essas imagens silenciosas que relatam aos espectadores do
presente um pouco das situações, dos gestos e dos hábitos vividos naquele
período de invisibilidade quase total para o cinema capixaba.

Imagens do Espírito Santo durante o Estado Novo

As diversas tentativas de se implantar uma indústria cinematográ-


fica brasileira, entre as décadas de 1930 e 1950, esbarraram em uma série
de fatores, envolvendo distribuição e exibição de filmes, que favoreciam
o produto estrangeiro (majoritariamente hollywoodiano), em detrimento
do equivalente nacional. Repetia-se no Brasil uma situação similar à de
inúmeros outros países que sofriam a pressão norte-americana diante
de um de seus mais importantes produtos de exportação. Esse processo,
ocorrido em escala mundial, no Brasil foi ampliado pela liberação de taxas
alfandegárias para filmes estrangeiros, em troca da importação de produtos
agropecuários brasileiros pelos Estados Unidos.
Cada vez mais, salas de cinema brasileiras mantinham uma progra-
mação exclusivamente norte-americana, atendendo às demandas de um
público amplo, que se acostumava a ler legendas. “Pra que testar o potencial
de bilheteria de um filme nacional, se Hollywood oferece diversas opções
de sucesso certo, estreladas por seus mais cobiçados astros e estrelas?”,
perguntavam-se os principais exibidores locais. As políticas de “boa vi-
zinhança” praticadas durante a Segunda Guerra Mundial (as mesmas que
trouxeram Orson Welles para rodar um filme em terras brasileiras, que
permaneceria inacabado) escondiam uma série de intensas pressões eco-
nômicas exercidas pelos interesses norte-americanos sobre o Estado Novo
de Vargas, que nada lembravam a cordialidade e cumplicidade da amizade
entre Pato Donald e Zé Carioca nos filmes da Disney, Alô, amigos (1942) e
Você já foi à Bahia? (1944). Ah, se os quindins de Iaiá pudessem falar, quanta
coisa eles não teriam pra contar...
Ainda assim, a década de 1940, para o cinema nacional, é marcada
por duas tentativas de se criar grandes estúdios legitimamente brasileiros,
que conseguissem de alguma forma romper o monopólio estrangeiro na
distribuição e exibição de filmes, ambas no eixo Rio-São Paulo. Em 1941, é
inaugurada a Atlântida, no Rio de Janeiro, que ficaria célebre por suas chan-
chadas de grande apelo popular, gerando um star-system próprio, ancorado
em comediantes como Oscarito, Grande Otelo e Dercy Gonçalves. Em 1949,
é a vez da Vera Cruz, no Estado de São Paulo – mais precisamente, em São
Bernardo do Campo –, que centrava-se em dramas superproduzidos, com
ocasionais comédias, como os três primeiros filmes estrelados por Mazzaropi.
Já a Cinédia, inaugurada na década anterior, emplacaria, em 1946, um
estrondoso sucesso: O ébrio, dirigido por Gilda de Abreu e estrelado pelo
cantor Vicente Celestino. O filme ficaria mais de três décadas em cartaz,
uma sobrevida comercial garantida pelas então numerosas salas de cinema
no interior do país, e atingiria a impressionante marca de oito milhões de

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espectadores. Com o sucesso das chanchadas da Atlântida e de filmes como
O ébrio, as décadas de 1940 e 1950 seriam, depois da Belle Époque do cinema
nacional ocorrida em 1907-1911, o segundo período na história do cinema
brasileiro em que a produção nacional conquistava o grande público (outros
dois momentos importantes seriam o boom das pornochanchadas, nos anos
1970, e a chegada da Globo Filmes, a partir de 2002).
Por outro lado, as medidas tomadas pelo governo federal para tentar
proteger o cinema nacional, durante esse período, foram, em sua maioria,
pífias – uma rara exceção foi o decreto de 1932 que obrigava as sessões de
filmes estrangeiros a exibirem um curta-metragem nacional como com-
plemento, geralmente um cinejornal. Aliás, sem a possibilidade de ciclos
regionais como os das décadas anteriores, a produção na maioria dos Es-
tados brasileiros restringia-se aos cinejornais e eventuais documentários,
muitas vezes produzidos por órgãos públicos, como o Instituto Nacional de
Cinema Educativo (ince), cuja produção de documentários era capitaneada
pelo pioneiro Humberto Mauro, até então famoso por seus melodramas
produzidos no Ciclo de Cataguases e na Cinédia. Humberto Mauro reali-
zaria 357 filmes para o ince, sendo 239 deles produzidos entre 1936, ano
de criação do órgão, e 1947. Apenas um deles, contudo, enfocaria o Espí-
rito Santo, ainda que rapidamente: o curta-metragem O ensino industrial no
Brasil – M.E.S. (1945), que mostrava algumas imagens do prédio da então
denominada Escola Técnica de Vitória.
Somente em 1942 seriam realizados dois documentários sonoros en-
focando temas capixabas, por meio do Gabinete de Cinema do Serviço de
Informação Agrícola (Sia), do Ministério da Agricultura, que tinha sede no
Rio de Janeiro. Trata-se dos curtas-metragens Vitória, a capital do Estado do
Espírito Santo (N. 183) e Aspectos turísticos da capital do Estado do Espírito Santo
(N. 184), ambos disponíveis no YouTube para o público em geral. Segundo
a Enciclopédia do cinema brasileiro (2000), este órgão foi um dos principais
centros de produção de documentários no Brasil durante o governo de
Getulio Vargas, ao lado do ince e do Dip (Departamento de Imprensa e
Propaganda). Sob o comando de Lafayette Cunha (que assina a fotografia
de ambos os filmes) e Pedro Lima, o Sia realizou diversos filmes em todo
o país, retratando não só as atividades do ministério, mas também aspectos
da agricultura, pecuária, expedições científicas e informações turísticas –
como no caso dos filmes citados.
Esses documentários, que fazem uso de narração em off, detalhando
informações históricas e geográficas, apresentam, em um tom entre o
jornalístico e o didático, alguns dos principais pontos da Grande Vitória: o
Convento da Penha, a Fortaleza de Piratininga (atual sede do 38º. Batalhão
de Infantaria do Exército), a então recém-construída Estrada do Contor-
no (atual Rodovia Serafim Derenzi), o centro de Vitória, a antiga pista de
terra batida do Campo de Aviação de Vitória e até mesmo o pouso de um
hidroavião, em Santo Antônio.
Esquecidos durante décadas, tanto esses dois curtas-metragens de
Lafayette Cunha quanto o de Humberto Mauro não são mencionados em
nenhum outro texto que conte a história do cinema local. Nem são propria-

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aspectos turísticos da capital do es

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mente capixabas, já que surgem como parte de uma iniciativa do governo
federal para estimular o turismo no Estado. Todavia, são filmes bastante
populares na internet, frequentemente compartilhados em sites, redes sociais
e comunidades frequentados não necessariamente por cinéfilos, mas sim
por interessados em imagens antigas (fotografias, vídeos) do Espírito Santo.
E é bastante revelador que sejam as únicas imagens rodadas no Estado,
nesse período, atualmente disponíveis para consulta: em uma época em
que os acontecimentos culturais locais mais relevantes incluíam concursos
para a eleição do “Príncipe dos Poetas Capixabas” (organizado pelo jornal
A Tribuna e vencido em 1941 por Narciso Araújo), a modernidade que batia
às portas dos grandes centros urbanos nacionais ainda teria que esperar
um pouco mais para poder ecoar em um Estado cuja capital ainda era um
recanto pitoresco e bucólico, com pouco mais de 45 mil habitantes. Ou no
máximo, poderia ser testemunhada à distância, pelas telas de cinema, em
algum telejornal ou chanchada da Atlântida.

A era de ouro das salas de cinema no Espírito Santo

Em 1950, a população da cidade de Vitória estava na casa dos 50


mil habitantes, pouco mais que o dobro de trinta anos antes. Embora o
pequeno porte da cidade à época possa ser um argumento para justificar
a quase inexistência de produções cinematográficas até meados da década
de 1960 (com exceção para os cinejornais a partir do final dos anos 1940),
nesse período houve grande efervescência em seu parque exibidor, o que
foi essencial na formação do público de cinema capixaba.
A história das salas de exibição de rua na Grande Vitória pode ser
dividida em três momentos principais.5 No primeiro momento, ocorrido
nos primórdios do século XX, predominavam os exibidores itinerantes e
improvisados (há registros de ocasionais sessões no Teatro Melpômene
em 1901), em uma cidade ainda em formação, bastante carente de obras
de infraestrutura e saneamento. Entre as exceções do período, está o Éden
Cinema, o primeiro cinematógrafo permanente de Vitória, inaugurado em
1907, que funcionava dentro do Éden Parque − um complexo que incluía
ainda jardim, bar, bilhar e apresentações musicais. Nesse período, as sessões
que, em sua maioria, apresentavam documentários silenciosos, eram acom-
panhadas por efeitos sonoros. O sonoplasta ficava atrás da tela e fazia uso de
vários materiais reunidos em uma espécie de “mesa de ruídos”, simulando,
por exemplo, trovoadas ao jogar grãos de arroz em uma placa de zinco.
No segundo momento, entre as décadas de 1930 e 1960, aumenta sig-
nificativamente o número das salas de cinema, então vistas como símbolo
de modernização e urbanismo. Esse status era conferido principalmente às
salas do centro de Vitória, onde se localizava a sede administrativa e o coração

5 Sobre a história das salas de exibição de rua na Grande Vitória, ver: No escurinho do
cinema (2008), do historiador André Malverdes, e História do cinema capixaba (1988), de
Fernando Tatagiba.

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1

2 3

1 Cine Glória, Vitória (ES)


2 Cine Penha, Marilândia (ES)
3 Cine Santa Cecília, Vitória (ES)

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do comércio da cidade, bem como as residências mais nobres, em especial
no entorno do Parque Moscoso. Mas também poderia ser estendido aos ci-
nemas de bairro − Jucutuquara, Lourdes, Campo Grande, Jardim América,
Paul, Ibes, Aribiri, São Torquato e centro de Vila Velha −, e até mesmo aos
das cidades de interior, cujo funcionamento era sinônimo da autonomia e
importância dessas regiões. Foi um período de grande fluxo de público, no
qual o espectador médio comparecia ao cinema pelo menos duas vezes por
mês – em 1955, a Grande Vitória chegou a ter 13 salas em funcionamento ao
mesmo tempo (onze anos antes, eram somente 14 salas em todo o Estado).
Já o terceiro momento, que ocorre a partir do final dos anos 1970,
seria o de retração do mercado, com o fechamento de muitos cinemas de
rua (somente entre 1980 e 1983, foram nove), e diminuição radical do pú-
blico, que a essa época migrava em massa para outras alternativas, como a
televisão e, a partir dos anos 1980, o mercado de videolocadoras.
No período áureo, algumas salas chegavam a ter capacidade para mais
de mil espectadores: eram os chamados “palácios cinematográficos”.6 En-
tre os primeiros estão: o Cine Central, que funcionou entre 1921 e 1935; o
Politeama, inaugurado em 1926, um grande barracão na avenida República,
célebre por sua “sessão colosso”, cujas filas se estendiam por toda a rua; e
o Teatro Carlos Gomes, que foi o primeiro cinema a exibir filmes falados
da cidade, a partir de 1929. Um dos mais imponentes era o Cine Teatro
Glória, inaugurado em 1932, com 1176 lugares divididos entre a plateia,
os camarotes e a galeria. O prédio, um marco arquitetônico da época, foi
erguido no mesmo terreno onde outrora funcionara o Éden Parque e no
qual atualmente funciona o Centro Cultural Sesc Glória.
Já na década de 1950, outros palácios foram inaugurados, como o
Cine São Luiz, em 1951, o segundo cinema no Brasil a ter um sistema de ar
condicionado – um luxo na época. A sessão de abertura exibiu a chanchada
Aviso aos navegantes (1950) e teve a presença de parte do elenco, que reunia
algumas das principais estrelas do cinema brasileiro de então, como Anselmo
Duarte e Adelaide Chiozzo. Na época, algumas obras nacionais conseguiam
romper o monopólio hollywoodiano nas salas de exibição, como as chan-
chadas da Atlântida e as produções da Vera Cruz, em especial a aventura
O cangaceiro (1953) e o melodrama Sinhá Moça (1953) – primeiro e segundo
lugar entre os filmes brasileiros, respectivamente, no concurso realizado
pelo jornal A Gazeta, em 1955, para escolher os favoritos do público capixaba.
Já o suntuoso Cine Santa Cecília, com suas 1453 poltronas, abriu suas
portas em 1955, e exigia de seus frequentadores o uso de traje social – até
mesmo os meninos precisavam usar calças. Ele funcionava no Parque
Moscoso, no mesmo local em que o Politeama havia reinado nos anos 1930
e 1940. Anos mais tarde, em 1967, seria inaugurado o Cine Juparanã, com
980 lugares, que, em sua programação, chegou a exibir filmes de Ingmar
Bergman (O sétimo selo) e Federico Fellini (Amarcord).
Mesmo entre os cinemas de bairro havia alguns palácios: o Cine
Capixaba, de São Torquato, surgido em 1955, tinha 1400 cadeiras, projeção

6 Cf. No escurinho do cinema (2008), do historiador André Malverdes,

36 Plano Geral

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em cinemascope e som estéreo. Além disso, algumas cidades de interior
contavam com grandes salas de exibição: o Cine Broadway, em Cachoeiro do
Itapemirim, tinha 1080 lugares; o CineIdelmar, em Colatina, 1000 lugares;
e o Cine Alba, em Baixo Guandu, tinha capacidade para 800 espectadores
– um número bastante expressivo para um município que, na época, tinha
pouco mais que 20 mil habitantes.

Júlio Monjardim e o Jornal da tela

Nesse período, as sessões dos filmes estrangeiros eram obrigatoria-


mente acompanhadas de um complemento em curta-metragem nacional
(por ordem do Decreto n°. 21.240, de 1932). Esta, que foi a primeira ação
do governo federal em prol de uma reserva de mercado para o cinema na-
cional, permitiu o florescimento de uma intensa produção de cinejornais
por todo o país. Entre as décadas de 1940 e 1970, a Atlântida produziu vários
exemplares do cinejornalismo, como Atualidades Atlântida, Notícias da semana
e o Jornal da tela. Por meio deles, a população das capitais e das cidades do
interior do país tinham acesso às imagens dos principais acontecimentos
políticos, econômicos, esportivos e culturais do Brasil e do mundo – e,
em alguns, havia também espaço para os acontecimentos locais. No Espí-
rito Santo, o Jornal da tela dedicava um minuto de cada edição semanal aos
assuntos do Estado. O responsável pela produção desse material local, nos
anos 1950 e 1960, era o capixaba Júlio Monjardim.
O historiador Luiz Cláudio Ribeiro, em seu artigo “Os cinejornais de
Júlio Monjardim”, conta que, desde muito jovem, Júlio já se interessava pela
fotografia e pelo cinema. Após adquirir uma câmera profissional (Paillard
Bolex, 16 mm), no final dos anos 1940, ele passou a realizar seus próprios
filmes, documentando os principais atos oficiais e obras da gestão do go-
vernador do Estado, Carlos Lindenberg, do pSD, partido de cuja ala jovem
Monjardim fora membro desde a adolescência.
Após criar sua própria produtora, a Espírito Santo Filmes, ele passa
a documentar oficialmente as obras do governo Jones dos Santos Neves
(1951-1955) e da gestão do prefeito de Vitória, Adelpho Poli Monjardim, entre
1955 e 1957. A partir de 1959, ele assume a direção do serviço de cinema
do governo do Estado (novamente Carlos Lindenberg) e, nessa condição,
passa a produzir material para o Jornal da tela, em uma colaboração que se
estenderia até 1965. Pode-se dizer que, em todo esse período, Julio Mon-
jardim foi o único realizador capixaba em atividade.
Até meados da década de 1980, ele seguiu registrando os principais
eventos e obras públicas do Estado. Também realizou inúmeras propagandas
e reportagens para tV, bem como documentários institucionais, feitos sob
encomenda. Parte do material produzido entre 1951 e 1955 chegou a ser
digitalizada, recebendo atualmente a denominação de Flagrantes capixabas.
Os filmes de Júlio Monjardim são testemunhas do processo de mo-
dernização, industrialização e urbanização que começou a acontecer em
larga escala no Espírito Santo, a partir da década de 1950, em especial na

1926 — 1965 37

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região da Grande Vitória, que passava por uma série de transformações,
firmando-se como um epicentro da vida intelectual e cultural do Estado.
Em 1960, a população da capital passava de 83 mil habitantes, chegando
a quase 200 mil em toda a Grande Vitória. Embora boa parte dos filmes
realizados por Monjardim tenha se perdido com o tempo, uma parcela
considerável desse acervo encontra-se atualmente em fase de catalogação
e digitalização, no Arquivo Público Estadual do Espírito Santo.
Essas transformações também iriam se refletir no consumo cultural, e
uma nascente cultura cinéfila começaria a florescer, ainda que timidamente,
nesse período. A fundação do Centro de Estudos Cinematográficos (cec),
primeira associação cinéfila do Espírito Santo, realizava reuniões semanais
para discussão de filmes e livros sobre o cinema, especialmente o cinema
francês. Nessa época, também surgem os primeiros críticos cinematográfi-
cos na imprensa local (como Henrique D. de Castro, o Hendicas, e Marien
Calixte), e até mesmo um programa de debates na Rádio Espírito Santo, o
Cinelândia Capixaba, comandado por José Américo Vidigal – que também
costumava ser o narrador dos cinejornais de Monjardim7.
Ainda que tenha existido por um breve período, o cec foi o primeiro
ponto de encontro dos cinéfilos capixabas, ainda nos anos 1950, e seria
sucedido pelos primeiros cineclubes, já na década seguinte, como o da
Aliança Francesa e o Cineclube Alvorada. Nesses espaços, não somente se
assistia e debatia cinema, mas também aconteciam os primeiros encontros
entre cinéfilos que tinham o desejo de filmar suas próprias ideias. Nessa
transição de cinéfilos a cineastas, começava a ser gestada a fagulha que daria
origem àqueles que seriam os filmes da primeira geração de realizadores
capixabas, num ciclo de produção que eclodiria no final dos anos 1960.

7 Cf. História do cinema capixaba (1988), de Fernando Tatagiba.

38 Plano Geral

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1920 — 1930 —
Bang Bang Vitória, 1938
de Ludovico Persici de Luiz Gonzalez Batan
FIcçÂo, Faroeste, 12', pb, MuDo, DocuMentÁrIo, 10', 16MM,
1926, conceIção Do castelo (es) pb, MuDo, 1938, vItórIa (es)

Um bandido sai pelas ruas da O filme é um apanhado de


cidade tentando escapar da per- imagens cinematográficas de
seguição do xerife. cenas familiares e cotidianas
da grande Vitória. Na década
Cenas de família de 1990, Ramón Alvarado, filho
de Ludovico Persici de Batan, telecionou o mate-
regIstro, 19', 16MM, pb, MuDo, rial e editou-o, sob o nome
1926-1929, cacHoeIro Do Um belo dia.
ItapeMIrIM e castelo (es)

O filme reúne cenas do coti-


diano das cidades de Castelo e
Cachoeiro de Itapemirim, am-
bas no Espírito Santo. Além dos
moradores, a obra revela tam-
bém locações como ruas, fa-
zendas e uma estação de trem.

1926 — 1965 39

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1940 — 1950 —
Aspectos turísticos da Flagrantes Capixabas
capital do estado do Comemorações do 1º
Espírito Santo (n.184) ano de Governo Jones
de Lafayette Cunha dos Santos Neves
DocuMentÁrIo, 8', 35MM, pb, de Julio Monjardim
sonoro, 1942, rIo De JaneIro (rJ) DocuMentÁrIo, reportageM,
11', 16MM, pb, sonoro,
Cenas de pontos turísticos das 1952, vItórIa (es)
cidades de Vitória e Vila Ve-
lha na década de 1940, como O filme apresenta uma série
o convento da Penha, o Campo de ações em comemoração
de Aviação, a Fortaleza de Pira- ao primeiro ano do Governo
tininga (atual 38º Batalhão de Jones Santos Neves, no Espí-
Infantaria) e o quartel da Força rito Santo. Este filme foi um
Policial (atual Polícia Militar do dos cinejornais exibidos nos
Espírito Santo). Filme de divul- cinemas no Espírito Santo.
gação turística produzido pelo Esta catalogação é referente
Serviço de Informação Agrícola ao trecho de 11 minutos do
do Ministério da Agricultura. filme telecinado com som e
entrevista de Julio Monjardim.
O ensino industrial
no Brasil – M.E.S. Flagrantes Capixabas
de Humberto Mauro Inauguração da
DocuMentÁrIo, 11', 35MM, pb, Superintendência do
sonoro, 1945, rIo De JaneIro (rJ) Porto de Vitória
de Julio Monjardim
Panorama do ensino indus- DocuMentÁrIo, reportageM,
trial no Brasil. O prédio da 5', 16MM, pb, sonoro,
Escola Técnica de Vitória – ES. 1955, vItórIa (es)
Fachada e interior da Escola
Técnica Nacional, professores, O filme apresenta o registro
alunos e atividades. Documen- cinematográfico do governa-
tário educativo produzido pelo dor Jones dos Santos Neves-
INCE – Instituto Nacional de visitando o Porto de Vitória,
Cinema Educativo. acompanhado por autoridades
locais. Este filme foi um dos
Vitória, a capital do cinejornais exibidos nos ci-
estado do Espírito nemas no Espírito Santo. Esta
Santo (n.183) catalogação é referente ao tre-
de Lafayette Cunha cho de 5 minutos do filme te-
DocuMentÁrIo, 8', 35MM, pb, lecinado com som e entrevista
sonoro, 1942, rIo De JaneIro (rJ) de Julio Monjardim.

Cenas de pontos turísticos da


cidade de Vitória na década
de 1940. Filme de divulgação
turística produzido pelo Ser-
viço de Informação Agrícola
do Ministério da Agricultura.

40 Plano Geral

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Flagrantes Capixabas Flagrantes Capixabas
Obras do Aterro em Plano de Valorização
Bento Ferreira do Espírito Santo
de Julio Monjardim de Julio Monjardim
DocuMentÁrIo, reportageM, DocuMentÁrIo, reportageM,
3', 16MM, pb, sonoro, 9', 16MM, pb, sonoro,
1951, vItórIa (es) 1955, vItórIa (es)

O filme apresenta cenas do O filme reúne imagens do de


desenvolvimento da cidade de trabalhadores executando obras
Vitória, em especial o aterro realizadas pelo Governo Jones
realizado na região de Bento dos Santos Neves, no Porto de
Ferreira. Este filme foi um dos Capuaba e no Porto de VItória.
cinejornais exibidos nos cine- Este filme foi um dos cinejor-
mas no Espírito Santo. Esta ca- nais exibidos nos cinemas no
talogação é referente ao trecho Espírito Santo e faz parte de
de 3 minutos do filme teleci- uma série de reportagens so-
nado, com som e entrevista de bre o Plano de Valorização do
Julio Monjardim. governador Jones do Santos
Neves. Esta catalogação é re-
Flagrantes Capixabas ferente ao trecho de 9 minutos
Obras do Governo do filme telecinado, com som e
Jones do Santos Neves entrevista de Julio Monjardim.
de Julio Monjardim
DocuMentÁrIo, reportageM, 21', Flagrantes Capixabas
16MM, pb, sonoro, 1951, vItórIa, Vitória em Marcha
regêncIa e santa leopolDIna (es) de Julio Monjardim
DocuMentÁrIo, reportageM,
O filme apresenta diversas 11', 16MM, pb, sonoro,
cenas do cotidiano e obras 1953, vItórIa (es)
realizadas durante o Governo-
Jones Santos Neves, incluin- O filme apresenta um regis-
do imagens feitas a bordo de tro cinematográfico do plano
um barco, na Baía de Vitória, urbanístico do governo Jones-
a construção do Farol de Re- dos Santos Neves para a cidade
gência, em Linhares e da Usina de Vitória, com obras como a
Hidrelétrica de Rio Bonito, no construção das duas pistas da
Rio Santa Maria. Este filme foi Avenida Vitória e o asfaltamen-
um dos cinejornais exibidos to da Rodovia Carlos Linden-
nos cinemas no Espírito Santo. berg, em Vila Velha. Também
Algumas cenas foram gravadas inclui imagens do desfile de
de dentro de um barco. sete de setembro de 1953. Este
filme foi um dos cinejornais
exibidos nos cinemas no Espí-
rito Santo. O filme apresenta
um registro cinematográfico do
plano urbanístico do governo
Jones dos Santos Neves para a
cidade de Vitória, com obras
como a construção das duas
pistas da Avenida Vitória e o
asfaltamento da Rodovia Car-
los Lindenberg, em Vila Velha.
Também inclui imagens do des-
file de sete de setembro de 1953.

1926 — 1965 41

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1966
— 19
alto a la agression, 1967

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66
1979
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Da cinefilia à filmografia: sonhos
e incertezas de uma geração

O ciclo de cinema amador nos anos 1960

“Repressão da ditadura, Teatro de Arena, Cinema Novo, Bossa Nova,


surrealismo, realismo fantástico – um universo inteiro de influências à
nossa frente: eis o que foi para nós, capixabas, a década de 1960. Não importa
o que você fazia – se combatente nas ruas diante do fuzil ou cassetete, se
cineasta, ator, músico ou pintor – a vida parecia explodir num milhão de
expectativas, em um interminável poder de criação. [...]Câmera na mão,
teatro na praça, poemas surgidos na balbúrdia noturna dos bares, pichações
nos virginais muros contra a ditadura e distribuição de panfletos arran-
cados dos jurássicos mimeógrafos. Era assim que vivíamos naqueles anos
que hoje chamam de dourados. Só que então não os chamávamos assim,
apenas tínhamos o privilégio e a sorte de vivê-los”1.
O depoimento de Antônio Carlos Neves a Jeanne Bilich revela o
cenário em que os realizadores de cinema desenvolviam seus processos
criativos nos inspiradores anos 1960. Apelidados de “anos de chumbo” pelo
peso político, foi uma das décadas de maior potência de criação artística da
história do Brasil. O Espírito Santo participou intensamente deste momento
de efervescência cultural que tomou conta no país. O acelerado processo de
urbanização da Grande Vitória refletia-se na vida intelectual da capital do
Estado, que finalmente começava a estabelecer um diálogo com as principais
propostas artísticas vigentes na produção brasileira a partir do final dos
anos 1950. O período posterior a 1964 presenciou uma intensa produção,
sem precedentes em termos de qualidade e quantidade, no cenário cultural
capixaba, tomado de assalto por artistas jovens e inovadores.
Seguindo os experimentos estéticos do pioneiro Audífax de Amorim,
vários novos poetas buscaram romper com a rigidez e o conservadorismo
das gerações anteriores, entre os quais: Xerxes Gusmão Neto, Cláudio La-
chini, Arlindo Castro e Carlos Chenier. Na crônica, entre a melancolia e a
fina ironia, destacava-se Carmélia Maria de Souza, verdadeira tradução de
uma geração boêmia e contestadora, que deu novo significado à melancolia
trazida pelo vento sul, que costuma soprar na ilha, “chegando de mansinho
e virando tudo do avesso”, e tomou-a para si como um dos mais intensos
elementos de sua identidade. Essa juventude compartilhava uma série de
inquietações políticas e estéticas, traduzidas em discussões que se estendiam
a bares como o Dominó (no Parque Moscoso), o Marrocos, que ficava na

1 Cf. As múltiplas trincheiras de Amylton de Almeida: O cinema como mundo, a arte como universo
(2005), de Jeanne Bilich, p. 72.

1966 — 1979 45

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rua Duque de Caxias, e o nascente Britz, próximo à rua Sete de Setembro,
e que viria a se tornar um lendário reduto boêmio nos anos 1970 e 1980.
Na música, os conjuntos de iê-iê-iê, que animavam os bailes, come-
çavam a ceder lugar à mistura de blues, jazz e rock d’Os Mamíferos, banda
fundada em 1968 e que contaria ainda com fortes doses de surrealismo e
literatura beat nas letras de suas canções. Já no teatro destacavam-se, entre
outros: o Grupo Geração, criado e dirigido por Antônio Carlos Neves, que
encenou Arena conta Zumbi (1966); o Grupo Equipe, de Paulo Torre, que
encenou Entre quatro paredes (1966), de Jean Paul Sartre; e a satírica monta-
gem de Vitória, de Setembro a Setembrino (1969), escrita e dirigida por Milson
Henriques, verdadeiro agitador cultural do período e um dos atores mais
presentes nos palcos e nos curtas-metragens da época.
Nas artes visuais, toda uma geração de artistas finalmente apresenta-
va ao público capixaba as principais discussões da arte moderna de então:
Maurício Salgueiro, Raphael Samú, Freda Jardim, Marian Rabello, Roberto
Newman, Carlos Chenier, entre outros – alguns deles professores e alunos
da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes),
recém federalizada. Em destaque, a impressionante série de esculturas
cinéticas e luminosas de Salgueiro, que lhe renderam grande projeção
fora do Estado. Entre 1966 e 1970, o Museu de Arte Moderna do Espírito
Santo, uma iniciativa independente e sem financiamento público, esteve
em plena atividade, chegando a realizar três edições do Salão Nacional de
Artes Plásticas, além de diversas exposições temporárias.
A divisão cinematográfica do mam-eS também era bastante atuante,
realizando diversas exibições de filmes autorais, especialmente europeus,
e clássicos norte-americanos, em diversos espaços do centro da cidade,
especialmente no prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (atual
Escola de Arte FaFi). Quem coordenava as sessões e os debates era o jorna-
lista cultural Marien Calixte, atuante em várias áreas da cultura e também
no rádio e no jornalismo impresso. Outros cineclubes também atraíam os
cinéfilos locais no final dos anos 1960, como o da Aliança Francesa, que
trazia muitas das novidades da Nouvelle Vague para os capixabas, e o do Co-
légio Marista, que funcionou por um curto período de tempo. E talvez o
mais conhecido deles tenha sido o Cineclube Alvorada, criado em 1965, por
Ramón Alvarado e Edgar Bastos. Nas sessões semanais, realizadas no iBeU, a
intelectualidade capixaba poderia conferir obras como O processo, de Orson
Welles, e a trilogia do silêncio, de Michelangelo Antonioni, além de vários
filmes franceses, tchecos, poloneses, italianos e brasileiros. Assim, era possível
ampliar o acesso ao que de melhor se fazia no cinema moderno mundial.
Além de participar dos debates, alguns frequentadores começaram a
tomar a consciência de que “era necessário partir para a prática” – para usar
as palavras de Fernando Tatagiba, em seu livro História do cinema capixaba
(1988). E foi em um desses debates que Ramón Alvarado conheceu Rubens
de Freitas Rocha, que tinha uma câmera Paillard Bolex e rolos de filmes 16
milímetros. Desse encontro, nasceu o primeiro curta-metragem ficcional
do Espírito Santo e o primeiro filme de uma nascente geração de cineas-
tas: Indecisão, finalizado em agosto de 1966 e dirigido pelo próprio Ramón.

46 Plano Geral

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ponto e vírgula

alto a la agression

Kaput

1966 — 1979 47

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Indecisão inaugura um ciclo de cinema amador capixaba, que vai
durar poucos anos, mas vai fazer bastante barulho no cenário cultural
local. Trata-se de um conjunto de filmes ficcionais, de curta-metragem,
realizados em 16 mm – a bitola dos cineclubes, já que as salas de cinema
comerciais utilizavam o formato 35 milímetros. Ao todo, seriam finali-
zados onze filmes (mais quatro inacabados), entre 1966 e 1971, exibidos
em cineclubes e festivais dentro e fora do Estado. Seis são os diretores
surgidos nesse ciclo: além de Ramón Alvarado e Rubens Freitas Rocha,
temos ainda Antônio Carlos Neves, Luiz Eduardo Lages, Paulo Torre e
Luiz Tadeu Teixeira.
Nessas obras, utilizavam-se negativos preto e branco, câmeras em-
prestadas e luz natural. Muitos planos com câmera na mão, filmando bem
de perto os rostos dos personagens, como se tentassem captar a intangível,
porém asfixiante e melancólica atmosfera do período – como no célebre
close da atriz Marlene Simonetti em Kaput (1967), de Paulo Torre, ou no
rosto emoldurado no encarte do lp Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos
Beatles, lançado naquele mesmo ano.
Se, por um lado, esses filmes pecavam pela precariedade técnica
(e, em alguns casos, por roteiros não muito elaborados), por outro eles
transbordavam na vontade de experimentar visualmente e de trazer para
dentro de si não somente as referências que inspiravam seus realizadores –
especialmente os filmes europeus do período –, mas também as principais
questões políticas e sociais que esquentavam os debates da intelectualidade
de esquerda da época. São filmes de protesto contra os problemas de seu
tempo, em especial a repressão dos primeiros anos da ditadura militar. Um
exemplo de como isso aparece nos filmes é a menção, em Kaputalter egos −
eram indivíduos em conflito permanente entre seus ideais e a dureza do
mundo exterior.
Daí cenas como a tortura do personagem de Milson no pau de arara,
em Alto a la agression (1967), de Antônio Carlos Neves, ou o artigo de jornal
contra a Guerra do Vietnã, que custará a vida do protagonista de Kaput,
engajado no movimento estudantil. Ou ainda, o poeta que vê, na impossibi-
lidade de escrever um novo poema, o contraste entre os devaneios boêmios
e a dura realidade social que o cerca, em Pêndulo (1967), de Ramón Alvarado.
Também eram marcantes os dilemas nos romances entre personagens de
classes sociais diversas, como em Palladium (1966), de Luiz Eduardo Lages,
e Indecisão (1966).
E, claro, podemos incluir neste rol o forte simbolismo que atravessa
todas as cenas de Ponto e vírgula (1969), filme de estreia de Luiz Tadeu Tei-
xeira: um personagem que tortura e esmaga uma barata, ao mesmo tempo
que outro homem tem diversas portas fechando-se diante de si, nos mais
diferentes ambientes de seu cotidiano. A versão original deste filme possuía
apenas um minuto e meio de duração, mas, em 1979, ele foi estendido para
cinco minutos, com a inclusão das imagens de outro filme, realizado pelo
cineasta em 1971 e até então inacabado: Variações sobre um tema de Maiakovs-
ki (inspirado no poema “A plenos pulmões”, do escritor russo). Uma das
sequências incluídas nessa versão é a de uma pantomima representando

48 Plano Geral

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um haraquiri, interpretada pelo próprio Luiz Tadeu e que amplia o sentido
metafórico presente na versão original do curta.
Boa parte dessa produção tinha um endereço certo: os festivais de
cinema amador organizados pelo Jornal do Brasil e patrocinados pela loja
de departamentos Mesbla. Esses festivais revelaram vários nomes que
iriam fazer a história do cinema brasileiro nas décadas seguintes: Xavier de
Oliveira, Antônio Calmon, José Carlos Avellar, André Luiz Oliveira, Murilo
Salles e Bruno Barreto (na época, ainda pré-adolescente). Sua importância
também pode ser medida pelos ciclos de produção que eles desencadea-
ram, em Estados que até então produziam poucos filmes – como Espírito
Santo e Minas Gerais. Entre 1965 e 1970, foram realizadas seis edições, que
recebiam trabalhos de diretores iniciantes, na bitola 16 mm, de diversas
regiões do país (à exceção da primeira edição, centrada no jovem cinema
carioca). Na década seguinte, ele se transformou no Festival Brasileiro de
Curta-metragem, incorporando filmes profissionais (35 mm) e realizando
mais cinco edições até encerrar suas atividades, em 1977, ano em que um
dos vencedores foi O caso Ruschi, filme da cineasta paulista Teresa Trautman.
Realizado em Santa Tereza, no interior do Estado, a obra mostrava a luta do
ecologista Augusto Ruschi em defesa de uma reserva biológica da região,
prestes a ser vendida a uma multinacional.
Alguns filmes do ciclo chegaram a ser selecionados para o festival,
em seus respectivos anos de realização: A queda (1966), de Paulo Torre, Alto
a La Agression, Veia Partida (1968), de Antônio Carlos Neves, e Ponto e vírgula.
Baseado em um conto de Amylton de Almeida sobre uma difícil relação
entre pai e filho, Veia partida chegou a receber o prêmio de Melhor Fotografia
para Ramón Alvarado, na quarta edição do JB/Mesbla, realizada em 1968.
E foi incluído em uma mostra de cinema brasileiro realizada em Kiev, no
final de 1968. Nesse mesmo ano, Neves vai para a União Soviética, graças à
bolsa de estudos obtida na Academia de Artes e Ciências de Moscou, e de
lá só retornaria em 1974. Outro nome que vai para o exterior nessa época é
Luiz Eduardo Lages, que reside há vários anos na Suécia e relata ter exibido
seu curta Palladium nos institutos de cinema de Estocolmo, Viena e Roma,
bem como em uma mostra realizada nos anos 1960 no Estado norte-ame-
ricano de Maryland.
Toda a movimentação que esse ciclo cinematográfico produziu em
Vitória chega ao ápice com a realização do I Festival de Cinema Amador,
no Cine Jandaia, no dia 3 de dezembro de 1967. Nele, foram exibidos nove
curtas-metragens, sete deles com a participação de Ramón Alvarado na
equipe técnica (em quatro como diretor e três como diretor de fotografia)2.
Continuando sem patrocinadores e invisível ao poder público local, o movi-
mento começou a se desfazer em 1968, principalmente a partir do decreto
do ai-5. Além da ida de Neves para Moscou, Alvarado foi para o Rio de
Janeiro trabalhar profissionalmente com direção de fotografia, retornando
ocasionalmente ao Estado para filmar alguns documentários. Paulo Torre
seguiu a carreira de jornalista também no Rio, trabalhando nos veículos da

2 Cf. História do cinema capixaba (1988), de Fernando Tatagiba.

1966 — 1979 49

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grande imprensa por alguns anos, até retornar ao Estado – chegando a ser
chefe de redação de A Gazeta, função que exerceu até falecer, em 1995. Luiz
Tadeu Teixeira, que realizaria seu primeiro curta-metragem somente em
1969, continuaria nos anos seguintes a exercer o jornalismo e a dedicar-se
ao teatro, retomando a carreira de cineasta a partir dos anos 1990, reali-
zando curtas importantes como O ciclo da paixão (2000) e Graçanaã (2005)
e apresentando, durante anos, o programa Curta Vídeo, da tVe, dedicado
à produção audiovisual local de ontem e hoje.
Infelizmente, boa parte dos filmes realizados durante o ciclo capixaba
dos anos 1960 se perdeu. Dos poucos que restaram, somente costumam
circular, em cópias telecinadas duas décadas atrás, os curtas Ponto e Vírgula,
de Tadeu Teixeira, e Kaput, de Paulo Torre – este último também disponível
para streaming na internet, no Vimeo.com.
Mesmo com poucos recursos técnicos e certo grau de amadorismo, a
geração cinematográfica dos anos 1960 deixou como legado uma produção
repleta de novas ideias e forte espírito de invenção, tentando dialogar dire-
tamente com os novos cinemas que eclodiam ao redor do planeta durante
toda a década. Ela também se caracterizou por muita inquietação política
e vontade de falar de liberdade, duas constantes da juventude brasileira e,
por extensão, da intensa produção cultural que tomou conta do país no
período compreendido entre o golpe de 1964 e o endurecimento do regime
militar nos primeiros anos da década de 1970.

A resistência contracultural dos anos 1970 e o cinema ficcional

Em uma manhã de domingo, em junho de 1970, Vitória amanhe-


ceu com uma de suas árvores transformadas em um estilingue gigante.
Enquanto a maioria das pessoas não entendia o que estava acontecendo,
alguns curiosos interagiam com aquele insólito objeto, cujas tiras de plástico
eram capazes de acomodar uma pessoa, como se ela estivesse prestes a ser
“lançada”. Ao sair dos usuais museus e galerias de arte e escolher as ruas
da cidade como lugar e objeto de sua intervenção urbana, o jovem artista
Nenna fazia o gesto inaugural da arte contemporânea no Espírito Santo,
em total sintonia com o que acontecia no resto do mundo.
No mês anterior, o espetáculo cênico Ensaio geral, dirigido por Ru-
binho Gomes e que reunia nomes como Milson Henriques, Amylton de
Almeida, Luiz Tadeu Teixeira e Arlindo Castro, teve seu texto proibido pela
censura. A produção do espetáculo, a cargo do jornalista Antônio Alaerte,
tentou negociar sua liberação para ser apresentado sem texto, somente com
mímicas e música – mas a nova versão também foi proibida. Ainda assim,
os integrantes resolveram fazer uma única apresentação pública, ao final
da qual destruíram todo o cenário, feito de isopor e papelão, arremessan-
do-o para todos os cantos do teatro, naquilo que é considerado o primeiro
happening realizado em terras capixabas.
Em setembro daquele ano, foi a vez d’Os Mamíferos vencerem o iii
Festival Capixaba de Música Popular, com “Agite antes de usar”. Na edição

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do ano anterior, a banda já havia causado bastante estardalhaço ao se apre-
sentar com os rostos maquiados, muito antes da onda glam que tomaria
de assalto o mundo nos anos seguintes. Na letra da canção, o vocalista
Aprígio Lyrio cantava: “Mas pra fazer melhor efeito, agora/ Agite antes de usar/
Ponha o mal estar pra fora/ Agite antes de usar”, bem fiel ao espírito contestador
daquela juventude.
Um dos pontos altos dessa movimentação da contracultura do
comecinho dos anos 1970 prometia ser o Festival de Guarapari, evento
musical produzido por Rubinho e Alaerte, que pretendia ser uma espécie
de Woodstock brasileiro. Mesmo enfrentando uma série de problemas
financeiros, quase sem infraestrutura e a marcação cerrada da repressão
militar, o evento trouxe uma multidão a Três Praias, para curtir shows
antológicos, como os de Milton Nascimento, Soma, A Bolha, Novos Baia-
nos, Tony Tornado e Luiz Gonzaga, contando ainda com Chacrinha como
mestre de cerimônias.
Passado o desbunde da contracultura, o cenário artístico capixaba
continuou sua efervescência durante os anos seguintes, arriscando-se nas
mais diversas direções que a nova década possibilitava. Na música, tivemos
Chico Lessa, Esther Mazzi, Aprígio Lyrio e Os Mamíferos, e, sob uma nova
encarnação, mais jazzística: o Mistura Fina. Na literatura, romances de alta
inventividade, como Reino dos Medas (1971) e A crônica de Malemort (1977),
de Reinaldo Santos Neves, e Blissful Agony (1972), de Amylton de Almeida.
Nas artes visuais, além de Nenna, toda uma nova e influente geração de
artistas: Hilal Sami Hilal, Carmem Có, Nelma Pezzin, Neusa Mendes, Co-
racy, Jeveaux, Atílio Colnago, Ronaldo Barbosa. E as artes cênicas, com a
reinauguração do Teatro Carlos Gomes e uma série de políticas públicas
destinadas à área, viviam um momento bastante fértil, congregando não
somente os artistas surgidos na década anterior, mas também ganhando
o reforço, a partir de 1976, do Grupo Ponto de Partida, iniciado na Ufes e
bastante premiado, dentro e fora do Espírito Santo.
Nessa época, a Universidade inaugura dois seminais espaços expositi-
vos: em 1976, a gap (Galeria de Arte e Pesquisa), que funcionaria na Capela
Santa Luzia, no centro de Vitória; e, em 1977, a gaeU (Galeria Espaço Uni-
versitário), no campus de Goiabeiras. Ao mesmo tempo, uma nova geração
de cineclubistas começava a ganhar forças em um circuito que teria papel
crucial na vida cultural do Estado até meados dos anos 1980.
Com tanta coisa acontecendo, surge a pergunta: e a produção cine-
matográfica local, onde estaria? Não estava, pelo menos naquela primeira
metade da década. Com o final do ciclo de cinema amador, a produção
local silenciou-se por longos anos, enquanto várias outras áreas cultu-
rais cresciam em termos de qualidade, quantidade, profissionalização e
formação de público. Uma rara exceção, nessa geração, foram os poucos
trabalhos de Luiz Tadeu Teixeira no período: o curta-metragem inacabado
Variações sobre um tema de Maiakovski (que seria incorporado, em 1979, a
uma segunda edição do Ponto e Vírgula, seu filme de estreia) e o docu-
mentário em super-8 chamado Castelo: Corpus Christi (1978), que só seria
finalizado em vídeo e exibido publicamente quase duas décadas depois.

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Ramón Alvarado, que havia fixado residência no Rio de Janeiro, retornaria
esporadicamente ao Estado, para filmar documentários como O mastro do
Bino Santo (1971), primeiro filme dedicado às manifestações tradicionais
da cultura popular local – no caso, o congo e a festa de São Benedito no
município de Serra.
Não que nada tenha sido filmado em solo capixaba no período. Muitas
vezes com recursos do governo do Estado (o mesmo que jamais apoiara
a produção autoral local até então), uma série de longas-metragens feitos
por produtoras paulistas e cariocas foram rodados, utilizando cenários e
figurantes locais.
Entre eles, podemos citar três longas de Jece Valadão: O vale do Canaã
(1970), adaptação do livro de Graça Aranha, com ares de faroeste Spaghetti,
rodado em Santa Leopoldina; Obsessão (1973), baseado em argumento de
Janete Clair e filmado em Castelo; e Nós, os canalhas (1975), com algumas
cenas filmadas em Vitória. E também: uma comédia de Fauzi Mansur, estre-
lada por Renato Aragão e Dedé Santana, A ilha dos paqueras (1970), contendo
cenas do Porto de Vitória. Carlo Mossy, um dos mestres da pornochanchada,
produziu a comédia erótica Quando as mulheres querem provas (1975), dirigida
por Cláudio MacDowell, ambientada na Praia da Costa (mais precisamente
no antigo Hostess Hotel), em Vila Velha. O filme teve grande sucesso de
público: mais de 500 mil espectadores, segundo dados oficiais, divulgados
pela Ancine. Alguns desses filmes ainda hoje são de fácil acesso ao espec-
tador, lançados comercialmente em DVD, reprisados na tV por assinatura
ou mesmo disponíveis no Youtube.
Já Sagarana: o duelo (1973), de Paulo Thiago, foi rodado em vários mu-
nicípios: entre eles, Nova Venécia, Linhares, João Neiva e principalmente
São Mateus, mostrando que o sertão de Guimarães Rosa também poderia ser
encontrado nas paisagens capixabas, aqui registradas sob a bela fotografia
de Mário Carneiro. O filme chegou a representar o Brasil na seleção oficial
do Festival de Berlim, em 1974.
A vida de Jesus Cristo (1971), baseado na encenação do Auto da Paixão
de Cristo, realizada anualmente na cidade de São Roque, foi dirigido por
José Regattieri, que também assina o roteiro do longa junto com William
Cobbett. Nele, misturam-se atores locais com alguns artistas de renome
nacional, como Fernanda Montenegro, que fez o papel de Samaritana.
Apesar de filmados no Estado, tais filmes não devem ser catego-
rizados como cinema espírito-santense: são obras que pouco ou nada
contribuíram para o crescimento da produção audiovisual local, já que o
máximo de participação permitida aos espírito-santenses era a de atuarem
como figurantes.
Uma exceção a isso é o longa-metragem Paraíso no Inferno (1977), de
Joel Barcellos. Mais conhecido como ator, com intensa participação nos
filmes do Cinema Novo, Barcellos (nascido em Vitória) veio ao Estado para
realizar um trabalho bastante autoral, e envolveu em sua equipe (tanto na
trilha sonora quanto no elenco) diversos nomes do cenário cultural local –
o que abre espaço para alguns pesquisadores afirmarem ser este o primeiro
longa-metragem “realmente capixaba”. No filme, estão em cena Alcione

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Dias, Joelson Fernandes e o grupo Mistura Fina, que apresenta uma das
canções mais marcantes do filme, “Daqui a duzentos anos”. Também estão
lá os bares da época (em especial o Britz) e vários jovens artistas fazendo
figurações em diversas cenas de boemia e festa.
Ao contar a história de um jovem músico que se recusa a assinar um
contrato tentador, abandonando a iminente carreira de popstar para traba-
lhar em uma mineradora, o filme assume muitas vezes um tom alegórico,
bastante comum em certa parcela autoral do cinema brasileiro dos anos
1960-1970. Se as tomadas em meio à zona norte da cidade, com as praias
ainda quase intactas (pouco antes da chegada da especulação imobiliária à
região), dão um ar paradisíaco ao cenário, o inquietante conflito interior
do protagonista ganha força em vários momentos.
Em uma sequência que se assemelha a um videoclipe, ao som do
tema de Tristão e Isolda, de Wagner, vemos os barracões destruídos na orla
da ilha, emoldurados pela imponência do convento no alto da montanha.
Cabeças humanas, aparentemente decapitadas em uma mesa, alternam-
se a cabeças de peixe recém pescado que, por sua vez, contrapõem-se à
grandeza do maquinário que extrai e transporta o minério de ferro. Entre
a monotonia dos trens de carga que deslizam horizontalmente na tela e
a flutuação imprevisível do pequeno barco pesqueiro na Baía de Vitória,
é como se presenciássemos a eclosão do inferno nesse paraíso constante-
mente refletido nas incrédulas lentes dos óculos escuros usados por vários
de seus personagens.
Por outro lado, poucas são as incursões ficcionais dos realizadores
capixabas nesse período, geralmente lançando mão do formato super-8,
mais popularizado no Brasil para os filmes caseiros, mas que também
serviu como alternativa para vários realizadores iniciantes/independentes
pelo país afora, graças ao seu baixo custo de produção. Destacam-se aqui
os primeiros curtas-metragens de Sérgio Medeiros, O roubo do filme (1977)
e E agora, Alfredo? (1978).
Alheia a toda essa efervescência contracultural da capital capixaba,
outra experiência ficcional em super-8 se dá no faroeste em média-me-
tragem Olho de gato (1975). O filme foi rodado na cidade de Pancas, no
norte do Estado, região célebre pela mineração, por conta das paisagens
naturais (que nos remetem aos westerns clássicos) e dos causos envolvendo
pistoleiros. A empreitada ficou a cargo do relojoeiro Ailton Claudino de
Barros, o Carioca, que assina a direção, e do lavrador e cinéfilo José Au-
gusto Damaceno, protagonista da trama, que narra a descoberta de uma
pedra valiosa, o olho de gato, por um garimpeiro, que é escondida em uma
fazenda e desperta a cobiça do dono da propriedade. Culminando com um
duelo aos moldes dos clássicos do gênero, o filme mobilizou boa parte da
cidade em sua produção, mas encontra-se desaparecido há alguns anos.
O processo de investigação do paradeiro de sua única cópia é o mote do
documentário Olho de gato perdido, que seria realizado em 2009 por Vitor
Graize. Vale lembrar que, até a realização do documentário, o filme de
Damaceno e Carioca era totalmente desconhecido pelos pesquisadores
do audiovisual capixaba.

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tutti, tutti, buona gente, propriamente buona

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Já no campo da animação, temos o trabalho pioneiro do trio Mário
Aguirre, Ricardo Conde e Marco Antonio Neffa, em O Rei do Ibes e outros
experimentos (1977), série de seis filmetes, de 30 segundos cada, filmados
quadro a quadro no formato super-8.

Cinema documentário e cineclubismo: política e identidade no final da


década de 1970

No campo do documentário de curta e média-metragem, o Estado


chegou a atrair algumas produções de outros Estados, como Ticumbi (1977),
de Eliseu Visconti, sobre a manifestação popular de Conceição da Barra,
além de A máquina e o sonho (1974), de Alex Viany; O mastro do Bino Santo,
de Ramón Alvarado; e o Caso Ruschi (1977), de Teresa Trautman – os dois
últimos exibidos no festival de Brasília, em 1973 e 1978, respectivamente.
E é projeto de um cineasta mineiro, então residente no Rio de Janei-
ro, que vai mudar de vez a história da produção audiovisual no Espírito
Santo. Quando Orlando Bomfim vem a Santa Tereza, em 1975, documentar
a memória da imigração italiana no Espírito Santo, ele inicia uma série
importantíssima de documentários em curta e média-metragem que dão
visibilidade a várias manifestações culturais capixabas, não somente ma-
peando o imaginário de nossas tradições populares, mas também dando-
lhes voz para que apresentassem ao público não somente sua força e beleza,
mas também denunciassem os principais problemas enfrentados na época.
Tudo começou quando Orlando percebeu que, mesmo com a proxi-
midade das comemorações do centenário da imigração italiana no Brasil,
o Espírito Santo nunca era mencionado na mídia nacional em reportagens
que abordavam o tema: algo inaceitável para o cineasta, por se tratar de
um Estado que não só recebeu muitos imigrantes como também ainda
preservava vários costumes e tradições, alguns dos quais há muito haviam
se perdido na própria Itália. Após dois anos de pesquisa e entrevistas, o
trabalho resulta no média-metragem Tutti, tutti, buona gente, propriamente buona
(1976), que conta a história dessa imigração no Estado a partir dos relatos
de seus descendentes. O filme chegou a ganhar o troféu Humberto Mauro/
Coruja de Ouro de melhor documentário, concedido pela Embrafilme – a
mais importante premiação do curta-metragem brasileiro na época.
O contato com a diversidade cultural capixaba acabou por fazer com
que Orlando Bomfim fixasse residência no Espírito Santo, rendendo uma
sequência de mais seis documentários em 35 mm e 16 mm, até meados dos
anos 1980. No Festival de Brasília de 1979, três de seus filmes foram exibidos:
Ticumbi – Canto para liberdade (1978), Augusto Ruschi Guainumbi (1979) e Itaúnas
– Desastre ecológico (1979), vencedor na categoria documentário da mostra
competitiva daquele ano. Também desse período é Mestre Pedro de Aurora –
Para ficar menos custoso (1978), sobre um cantador de jongo do norte do Estado.
Em todos esses trabalhos, Orlando abordaria não somente a cultura
popular, mas também questões ambientais, fosse o trabalho do biólogo Au-
gusto Ruschi, fosse a cidade soterrada pelas dunas paradisíacas de Itaúnas.

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Mestre pedro de aurora

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Essa empreitada continuaria ao longo das décadas seguintes, especialmente
durante o período em que ele foi diretor da tVe, canal educativo local,
entre 1987 e 1990. Esse resgate de algumas raízes da cultura capixaba irá
contribuir para o reconhecimento de uma identidade cultural na qual se
mesclam matrizes europeias, africanas e indígenas. Muitos dos aspectos
aqui retratados seriam resgatados nos anos seguintes pela publicidade e
pelo marketing turístico como ícones da cultura popular espírito-santense
– desde panelas de barro e congo até as tradições italianas, passando pelos
beija-flores e orquídeas de Ruschi.
O interesse de Orlando pela alteridade traduz-se, em seus filmes, por
uma recusa à voz embebida de autoridade de um narrador em off: Tutti,
tutti, buona gente, propriamente buona, por exemplo, dispensa totalmente esse
recurso; em outros filmes, a narração é reduzida ao mínimo necessário.
Estabelece-se, assim, uma comunicação em que a fala do entrevistado é
reconhecida, mesmo que situada dentro do discurso do realizador. Essa
possibilidade de o “povo” falar no filme, segundo Orlando, fazia parte de
toda uma tentativa do cinema brasileiro reencontrar o diálogo com a popu-
lação, o espectador, agora dotado de voz com a revogação do ai-5, em 1978.
Já Ticumbi – Canto para liberdade, um dos mais inventivos filmes dessa
safra, enfatiza os pontos de vista dos participantes da tradicional encena-
ção, com raros depoimentos de especialistas (no caso, os pesquisadores
Hermógenes da Fonseca e Rogério Medeiros), dedicando ainda um terço
do filme (o final) a uma longa sequência de trechos da procissão e dos
cânticos, alternados com fotos de africanos em trajes típicos e imagens do
barqueiro que interpreta o papel de rei do congo, sentado em seu barco,
vestindo seus trajes cotidianos.
Com a inauguração da tV Gazeta, em 1976, iniciam-se as atividades de
seu telejornal local, na época utilizando equipamento cinematográfico de
16 mm para captação de imagens, a cargo de Julio Monjardim e sua equipe.
Glecy Coutinho, que atuaria como cineasta a partir da década de 1990, fora
a primeira mulher repórter do Estado.
É também nesse período que o jornalista e crítico de cinema Amylton
de Almeida começa a realizar seus documentários televisivos, utilizando a
estrutura técnica da emissora.
O primeiro deles, São Sebastião dos Boêmios (1976), é um dos mais
relevantes filmes de toda a produção capixaba. Retratando o cotidiano do
bairro São Sebastião (atual Novo Horizonte, no município da Serra), na
época a zona de prostituição da Grande Vitória, o média-metragem já trazia
elementos que seriam a marca registrada do cineasta, mesclando um olhar
atento aos oprimidos a uma potente crítica social, repleta de fortes doses
de ironia e sagacidade. Em seguida, ele realiza Os pomeranos, de 1977, que
venceria o I Festival de Verão da Rede Globo, em que concorriam docu-
mentários produzidos pelas emissoras afiliadas de todo o Brasil. Amylton
venceria novamente o festival em sua terceira edição, em 1980, com O úl-
timo quilombo (1980) – e ambos os documentários seriam exibidos em rede
nacional, como parte da premiação.
Amylton também exerceria a crítica cinematográfica durante muitos

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anos. Iniciou a carreira no jornal O diário, em 1969, e, a partir de 1972, passou
a trabalhar no Caderno Dois de A Gazeta, função que desempenhou até seu
falecimento, em 1995, e pela qual se tornou o mais importante crítico de
cinema do Espírito Santo durante todo o período em que esteve em ativi-
dade, embora raramente voltasse um olhar otimista ou mesmo generoso à
produção cinematográfica brasileira (ou capixaba) do período.
Em 1976, existiam dez salas de cinema em atividade em Vitória, além
de um cine drive-in, na Praia de Camburi, que durou pouquíssimos meses.
No entanto, raras eram as oportunidades de exibição, nesses espaços, dos
curtas capixabas realizados no período. Estes, por outro lado, encontrariam
um amplo espaço de circulação no nascente circuito cineclubista espírito-
santense, que fomentava exibições e debates em todo o Estado. A ponta
de lança desse circuito era o movimento cineclubista universitário que
floresceu entre 1978 e 1986, sob a batuta de nomes como Antônio Claudino
de Jesus, Tião Xará e Marcos Valério, entre outros. Com o intuito de fazer o
cinema (especialmente o brasileiro) chegar ao máximo de pontos possível,
projetando as películas diretamente na parede, o cineclubismo encontrou
um ambiente bastante favorável na Ufes, que vivia um momento de gradual
abertura política e cultural, iniciado em 1976, com forte movimentação
também nas áreas de teatro e artes visuais, além da retomada das atividades
do Dce (Diretório Central dos Estudantes), a partir de 1978.
Rapidamente, a Universidade chegou a contar com 13 cineclubes
funcionando em seus diversos centros: 12 no campus de Goiabeiras e um
no de Alegre. Em 1979, o município de Santa Tereza sediou a iii Jornada
Nacional de Cineclubes, espaço onde se discutiam as principais articulações
políticas e culturais do movimento. Parte da memória desse período encon-
tra-se registrada no documentário Na parede, na toalha, no lençol, realizado
em 1998 por Lizandro Nunes, Luciana Gama, Ursula Dart e Virgínia Jorge.
O curta, verdadeiro tributo a uma geração de muita luta pela democrati-
zação do acesso ao cinema, chegou a ser premiado, em 1999, nos festivais
de cinema e vídeo da Paraíba (Melhor vídeo documentário) e do Paraná
(Prêmio Especial do Júri).
O cineclubismo e a realização de documentários foram as principais
frentes de ação no campo cinematográfico local, entre o final da década de
1970 e o início dos anos 1980. Por um lado, havia a necessidade de produzir
imagens que pensassem os principais aspectos culturais do Espírito Santo,
desde o mapeamento das manifestações tradicionais aos principais impasses
sócio-culturais da época. Por outro, como essa produção não encontrava
espaço nas salas de cinema, era necessário buscar outras estratégias de
exibição, como as sessões seguidas de debate do circuito cineclubista –
nelas, o espectador encontrava possibilidades para se aproximar, de alguma
forma, dos engajamentos dos cineastas frente às questões que a realidade
lhes apresentava, e poder ele mesmo fazer suas reflexões. Outra alternativa
era atingir o amplo público televisivo, e foi nela que Amylton de Almeida
apostou para inserir na agenda pública a urgência do que retratava – como
mostraria, poucos anos depois, a gigantesca repercussão de Lugar de toda
pobreza (1983), um dos marcos centrais da filmografia produzida no Espírito
Santo na década seguinte.

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1960 — Boa sorte, palhaço Kaput
de Antonio Carlos Neves de Paulo Torre
Alto a la agression FIcção, 16MM, cor, MuDo, FIcção, 12', 16MM, pb,
de Antonio Carlos Neves 1967, vItórIa (es) 1967, vItórIa (es)
FIcção, 15', 16MM, cor,
1967, vItórIa (es) Rapaz mantém amor não cor- Um jovem fuma maconha para
respondido por uma moça, o fugir da realidade que o oprime.
A história de um estudante que que o leva a rever alguns con- Entretanto, com a descoberta
é preso e torturado pela polícia ceitos de sua vida. do amor, percebe que a fuga
durante a ditadura militar. não é a solução, mas, sim, a
Cirurgia no coração luta. Em 1991, por iniciativa de
A queda no Espírito Santo Nenna e Marcos Valério, o fil-
de Paulo Torre DocuMentÁrIo, 5', 16MM, cor, me foi recuperado, com cópia
FIcção, 15', 16MM, cor, MuDo, 1967, vItórIa (es) disponível em vídeo.
MuDo, vItórIa (es)
Documentário científico que No meio do caminho
Narra a história de uma moça registra a primeira cirurgia de de Antonio Carlos Neves
comum, que se encontra di- coração realizada no Espírito FIcção, DraMa, 16MM, pb,
vidida entre os mais íntimos Santo, por uma equipe chefiada MuDo, 1966, santa Isabel (es)
desejos de sua alma e os valo- por Adib Jatene.
res de uma sociedade tradicio- Triângulo amoroso entre um
nalista, cheia de preconceitos Indecisão homem, uma mulher e um pa-
e convenções. de Ramon Alvarado dre. Filme inacabado. Durante
FIcção, 12', 16MM, pb e cor, as filmagens, em Santa Isabel,
Automobilismo MuDo, 1966, vItórIa (es) a equipe foi expulsa da cidade.
de Rubens Freitas Rocha
DocuMentÁrIo, 15', 16MM, Uma universitária de classe mé- O cristo e o cristo
cor, MuDo, 1966, vItórIa (es) dia dividida entre dois amores: de Ramon Alvarado
um empresário burguês e um DocuMentÁrIo, 5', 16MM, pb,
Mostra as performances de proletário. O filme conta a his- MuDo, 1966, vIla velHa (es)
carros de corrida na estrada tória dess triângulo amoroso e
que liga dois bairros de Vitória: as crises entre seus personagens Documentário sobre a Festa da
Praia do Suá e Jucutuquara. e o mundo. Primeiro filme de Penha, tradicional celebração
ficção realizado em Vitória. em homenagem à padroeira
do Espírito Santo, que acontece
anualmente durante oito dias
em Vila Velha.

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O pêndulo Primeira revolta
de Ramon Alvarado de Antonio Carlos Neves
FIcção, 7', 16MM, pb, MuDo, FIcção, 16MM, pb, MuDo,
1967, vItórIa (es) 1966, vItórIa (es)

Trata-se do relato do cotidiano Garoto encontra velocípede


de um jovem poeta que alterna velho no lixo e, com ajuda de
momentos de euforia (quando amigos, reforma o brinquedo.
se encontra com intelectuais à Entretanto, não consegue ficar
noite nos bares de Vitória) com com o brinquedo, por achar
a depressão do dia seguinte. que ele foi roubado. Baseado
Baseado em poemas de Carlos em conto homônimo de An-
Chenier, que também interpre- tonio Carlos Neves.
ta o protagonista.
Veia partida
Palladium de Antonio Carlos Neves
de Luiz Eduardo Lages FIcção, 25', 16MM, pb, 1968,
FIcção, 10', 16MM, pb, rIo De JaneIro (rJ)
MuDo, 1966, vItórIa (es)
A história do relacionamento
Um romance entre um casal amargo entre pai e filho, nos
de jovens de diferentes classes últimos momentos de vida do
sociais. pai. O roteiro foi baseado em
um conto de Amylton de Al-
Ponto e vírgula meida.
de Luiz Tadeu Teixeira
eXperIMental, 2', 16MM, A Melhor fotografia para Ramon
pb, 1969, vItórIa (es) Alvarado no IV Festival de Cinema
Amador JB/Mesbla, Rio de Janeiro
Duas histórias se passam para- (1968) A Exibido na Mostra do Ci-
lelamente: um homem tortura nema Brasileiro em Kiev (União
uma barata e um cidadão, tenta, Soviética, 1968)
em vão, transpor “portas que
se fecham para ele”. A mon-
tagem final, com 6 minutos
de duração, realizada em 1979,
inclui trechos de outro filme
do cineasta, o inacabado Varia-
ções para um tema de Maiakóvski
(1971), e nova trilha sonora.

60 Plano Geral

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1970 — Brincadeira dos E agora, Alfredo?
velhos tempos? de Sergio Medeiros
Augusto Ruschi de Ramon Alvarado FIcção, 15', super-8, cor,
Guainumbi DocuMentÁrIo, 11', 35MM, 1978, vItórIa (es)
de Orlando Bomfim Netto cor, 1977, rIo De JaneIro (rJ)
DocuMentÁrIo, 11', 35MM, Alfredo é um belo jovem que
cor, 1979, santa tereza (es) Por meio de uma visão histó- vive em dificuldade financeira.
rica, o filme fala sobre a pipa Após casar-se com uma mulher
Estudos científicos do pesqui- (brinquedo popular) como fator rica e feia, sua vida se transfor-
sador Augusto Ruschi na pre- de resistência cultural à mas- ma em um inferno e ele passa
servação da natureza, incluindo sificação. a se fazer de tudo para se livrar
os beija-flores e as orquídeas. da esposa.
A Selecionado para o Festival de
A ilha dos paqueras Gramado (RS) (1978) Itaúnas – desastre
de Fauzi Mansur ecológico
FIcção, 87', 35MM, 1970, Caieiras velhas de Orlando Bomfim Netto
rIo De JaneIro (rJ) de Ney Sant’Anna, Nonato DocuMentÁrIo, 8', 35MM, cor,
Estrela e Ângela Cozetti 1979, conceIção Da barra (es)
Depois de simular um naufrá- DocuMentÁrIo, 10', 35MM,
gio, dois tarefeiros, o coman- cor, 1979, aracruz (es) O filme narra um desastre
dante e o showman do navio, ecológico: o desmatamento de
acompanhados por quatro Os índios tupiniquins do lito- Itaúnas (ES). Ocorrido em 1948,
modelos, se safam para uma ral do Espírito Santo têm suas tornou a região inabitável em
ilha, sem saberem que ela é terras reduzidas ao limite da menos de 29 anos.
base de contrabandistas. Se- aldeia e extraem sua subsis-
gundo filme da dupla Didi e tência do mangue A Melhor curta-metragem no fes-
Dedé (Os Trapalhões), rodado tival de Brasília (DF) (1979)
em diversos pontos do litoral Caso Ruschi
sudeste Brasileiro, inclusive no de Tereza Trautman Mestre Pedro de
Porto de Vitória. DocuMentÁrIo, 23', 16MM, Aurora – para ficar
cor, 1977, santa tereza (es) menos custoso
A vida de Jesus Cristo de Orlando Bomfim Netto
de William Cobbet A disputa pela Reserva Bio- DocuMentÁrIo, 10', 35MM, cor,
FIcção, 105', 35MM, pb, lógica de Santa Lúcia entre 1978, conceIção Da barra (es)
1971, são roque (es) o cientista Augusto Ruschi e
o governo do Espírito Santo, Documentário sobre o último
Encenação do nascimento, que tenta vender a área a uma tirador de jongo e raiz, líder
vida, paixão e morte de Jesus multinacional. dos cantadores e festeiros da
Cristo, realizada por moradores região de Vila de Santana, em
da comunidade de São Roque. A Prêmio do festival brasileiro do Conceição da Barra, Espírito
História baseada no Auto da curta-metragem, Rio de Janeiro (RJ) Santo.
Paixão de Cristo, encenado por (1977) A Prêmio especial do júri no
José Regattieri. festival de Brasília (DF), 1978

Castelo: Corpus Christi


de Luiz Tadeu Teixeira
DocuMentÁrIo, 12', super-8,
cor, 1978, castelo (es)

Registro da festa de Corpus


Christi em Castelo (ES). Pre-
paração para a festa e procissão.

1966 — 1979 61

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Nós, os canalhas O mastro de Bino Santo O roubo do filme
de Jece Valadão de Ramon Alvarado de Sergio de Medeiros
FIcção, 103', 35MM, pb e cor, 1975, DocuMentÁrIo, 10', pb, FIcção, 20', 35MM, super-8,
rIo De JaneIro (rJ) e vItórIa (es) MuDo, 1971, vItórIa (es) cor, 1977, vItórIa (es)

História de dois gêmeos quase Documentário sobre a festa da Em plena ditadura militar um
homônimos que, nascidos e puxada e fincada do mastro de grupo se reúne para produzir
criados no interior do Espírito São Benedito, realizada anual- um filme. Alguns aconteci-
Santo, partem para o Rio, em mente na cidade da Serra (ES). mentos estranhos desenca-
momentos distintos de suas deiam clima de desconfiança
vidas. Enquanto o primeiro Os pomeranos e medo. A suspeita é de que
está envolvido com o crime, o de Amylton de Almeida algum agente do regime militar
segundo é vítima de bandidos. DocuMentÁrIo, 40', 16MM, cor, esteja infiltrado na equipe. A
1977, santa MarIa De JetIbÁ (es) paranóia reina quando o ma-
Obsessão terial filmado desaparece do
de Jece Valadão Retrata uma comunidade de laboratório de revelação.
DraMa, 100', cor, 1973, castelo (es) imigrantes nórdicos que se
isolou e mantém costumes e O sonho e a máquina
Na pequena cidade de Castelo tradições em Santa Maria de de Alex Viany
é inaugurada, numa praça pú- Jetibá. DocuMentÁrIo, 20', 16MM, pb e
blica, uma estátua de Neuza cor, 1974, castelo e cacHoeIro
Rangel, ex-noiva do prefeito A Vencedor do I Festival de Verão De ItapeMIrIM e castelo (es)
Bernardo Graça. A moça foi da Rede Globo (1977)
morta a tiros em circunstâncias Documentário sobre Ludovi-
não desvendadas pela polícia. O Rei do Ibes e outros co Persici. Mostra desde sua
Bernardo, ressentido pela mor- experimentos família, sua trajetória de vida
te da noiva que esperava um de Mario Aguirre, Ricardo até sua criação: a máquina de
bebê, resolve desvendar o caso. Conde e Marco Antonio Neffa filmar, revelar e projetar filmes.
anIMação, 3', super-8,
A Melhor filme no Festival de 1977, vItórIa (es) O Vale do Canaã
Santos (SP) de Jece Valadão
Uma série de experimentos FIcção, 94', 35MM, cor, 1970,
Olho de gato em desenho animado quadro santa leopolDIna (es)
de José Damaceno e Ailton a quadro filmados em Super-8.
Claudino de Barros São aproximadamente 6 filme- A história de um imigrante
FIcção, 30', super-8, tes de 30 segundos cada um. italiano que chega ao Vale do
1975, pancas (es) Trata-se do primeiro trabalho Canaã, no Espírito Santo, no
em animação realizado no Es- início do século XX, e enfrenta
Faroeste rodado em 1975, na pírito Santo. muitas dificuldades para re-
cidade de Pancas (ES), dirigido começar a sua vida. Baseado
pelo lavrador e amante do cine- no romance Canaã, de Graça
ma, José Augusto Damaceno. A Aranha.
realização do filme mobilizou
toda a cidade e hoje permanece A Prêmio melhor diretor e melhor
apenas na lembrança daqueles atriz no Festival de Santos (SP), 1970
que participaram do projeto,
já que o paradeiro do filme é
desconhecido.

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Paraíso no inferno São Sebastião Tutti, tutti, buona
de Joel Barcellos dos boêmios gente, propriamente
FIcção, 72', 35MM, cor, de Amylton de Almeida buona
1977, vItórIa (es) e Wladmir Godoy de Orlando Bomfim Netto
DocuMentÁrIo, 39', 16MM, DocuMentÁrIo, 28', 35MM,
O filme narra a história de cor, 1976, serra (es) cor, 1976, santa tereza (es)
um jovem poeta que recusa
um contrato para unir-se a São Sebastião foi a maior zona No centenário da imigração ita-
um amigo e formar uma ban- de prostituição da América La- liana, a colonização do Espírito
da com potencial de sucesso, tina, durante os anos 1970. O Santo é abordada do ponto de
unicamente para preservar a documentário descreve perso- vista dos habitantes de Santa
própria liberdade. Ele passa, nagens que habitam e frequen- Tereza, o mais forte e repre-
então, a levar uma vida tradi- tam o local, em uma narrativa sentativo núcleo de imigração
cional de operário até que um que intercala momentos de do estado.
acontecimento envolvendo o alegria e tristeza, próprios dos
amigo muda seu destino... boêmios. A Prêmio Coruja de Ouro, Troféu
Humberto Mauro da Embrafilme,
Quando as mulheres Ticumbi São Paulo (SP), 1976
querem prova de Elyseu Visconti
de Cláudio MacDowell DocuMentÁrIo, 17', 35MM, Variações para um
coMéDIa, 90', 35MM, cor, 1975 cor, 1977, rIo De JaneIro (rJ) tema de Maiakovski
de Luiz Tadeu Teixeira
O filme narra as aventuras do Registro da festa de Ticumbi FIcção, 16MM, pb, 1971, vItórIa (es)
paquerador Bira, belo jovem como se apresenta na cidade
que decide passar as férias em de Conceição da Barra, Espí- Cenas de rua da cidade de Vi-
Vitória e acaba se envolvendo rito Santo, executada pelos tória são acrescidas de uma
em confusões que incluem vá- remanescentes do quilombo encenação em pantomima de
rias mulheres e boatos de que local, notável pela pureza ét- um haraquiri, inspirada num
ele seja gay. Estrelado pelo galã nica. A festa do Ticumbi é a poema de Maiakovski. Filme
da pornochanchada brasileira, dramatização da disputa entre não finalizado. Entretanto, al-
Carlo Mossy, o filme foi um o Rei Congo e o Rei Bamba e guns de seus trechos foram uti-
grande sucesso de bilheteria suas respectivas cortes. São lizados na montagem final de
na época. 16 personagens e um violeiro Ponto e Vírgula (1969), do mesmo
que dançam e cantam ao som diretor. História baseada em A
Sagarana: o duelo de vigorosos pandeiros de in- Plenos Pulmões, poema de Vla-
de Paulo Thiago fluência árabe. dimir Maiakovski.
FIcção, 98', cor, 1973, vItórIa (es)
A Melhor trilha sonora, 10º Festival
No sertão brasileiro, um mata- de Brasília (1977)
dor de aluguel volta para casa e
encontra sua mulher envolvida Ticumbi – canto
com um pistoleiro. Começa, para a liberdade
então, o duelo entre dois ho- de Orlando Bomfim Netto
mens, acostumados a matar, DocuMentÁrIo, 12', 35MM, cor,
pelo amor dessa mulher. O fil- 1978, conceIção Da barra (es)
me concorreu ao Urso de Ouro
no Festival de Berlim (1974). O Ticumbi, seus intérpretes e
a relação realidade versus mis-
A Melhor fotografia e melhor ator ticismo e a fantasia versus he-
coadjuvante para Wilson Grey, com rança cultural.
o prêmio Coruja de Ouro da Em-
brafilme (1973) A Melhor filme da
Embrafilme baseado em obra lite-
rária, Embrafilme (1973)

1966 — 1979 63

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1980
— 19
eu sou buck Jones, 1997

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80
1999
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Da chegada do vídeo à retomada
do cinema capixaba

Onde está aquele povo barulhento?

A orquestra e os tiros de canhão da “Abertura 1812”, de Tchaikovsky,


ecoam, com toda pompa. Contudo, em lugar dos usuais fogos de artifício
e das comemorações de vitória, as imagens que se sucedem são devasta-
doras: centenas de pessoas, a maioria mulheres e crianças, avançam sobre
o lixo descarregado pelos caminhões, disputando espaço com os urubus.
Recolhe-se de tudo, em meio aos detritos, à carniça e ao lixo hospitalar.
Alguns, mais afoitos, sobem em cima dos veículos ainda em movimento, na
esperança de conseguir algo em estado menos degradado. Mãos de crianças
em idade pré-escolar avançam em meio aos dejetos e recolhem frutas ou
potes já abertos de iogurte, degustados sem maiores cerimônias no meio
de todo mundo, enquanto caminham indiferentes à presença da câmera.
Ao final, um plano geral revela centenas de palafitas erguidas em meio ao
mangue, muitas delas acessíveis apenas por frágeis pinguelas. A legenda
finalmente anuncia onde estamos: “Bairro São Pedro – Vitória, eS, 1983”.
Essas são as cenas iniciais de Lugar de toda pobreza (1983), documen-
tário televisivo de Amylton de Almeida, que retrata, em pouco mais de
50 minutos, a dureza cotidiana dos moradores das cercanias do maior
depósito de lixo da Grande Vitória. Milhares de pessoas que vivem da
coleta, reaproveitamento e ocasional revenda daquilo que usualmente é
descartado pelo resto da população. São barracos de madeira, sem água
encanada ou energia elétrica, construídos em áreas invadidas: alguns deles
quase soterrados em meio aos detritos, que chegam à altura das janelas – e
é de uma dessas janelas que uma mãe, cercada por dois filhos pequenos,
enumera para a câmera as principais reivindicações dos habitantes daquele
bolsão de pobreza.
Nada ali nos remete às atuais imagens do belíssimo pôr do sol no
deque da Ilha das Caieiras, com seus restaurantes de frutos do mar e sua
forte vocação turística, amplamente registrada pelos principais fotógrafos
capixabas nas duas últimas décadas. O choque com o presente, em que a
região, ainda que predominantemente de baixa renda, encontra-se razoa-
velmente urbanizada, é inevitável. Se nós, espectadores contemporâneos,
estamos muito distantes do contexto original daquelas imagens, o realismo
cru com que elas foram captadas nos transporta a uma experiência radical
e sem maiores concessões. Neste retrato, o azul imaculado do céu é sempre
atravessado pelo bando de urubus em revoada.
Estamos nos anos 1980, meio a uma gravíssima recessão econômica,
com elevada taxa de desemprego, agravada pelo êxodo rural ainda bastante

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intenso, e apenas no início de uma década na qual a hiperinflação irá atin-
gir níveis estratosféricos. Ao mesmo tempo, vive-se, na Grande Vitória, a
continuidade dos grandes projetos industriais iniciados na década anterior,
a implantação de grandes siderúrgicas e um processo de urbanização e mo-
dernização cada vez mais intenso, especialmente nos bairros mais nobres da
cidade. São duas faces de um mesmo processo, muito embora uma delas (a
mais favorecida) pareça desconhecer o que acontece do outro lado da ilha.
O filme abre mão dos usuais narradores e apresentadores, ainda tão
comuns no documentário televisivo da época (e também nos trabalhos
anteriores do cineasta), para dar ampla voz aos seus protagonistas. Há toda
uma crença naquilo que a câmera registra, especialmente nos depoimentos
de quem vive naquelas condições precárias. Em meio ao aparente caos, aos
poucos começamos a perceber a organização interna dessa comunidade,
guiados pelas falas da líder da Associação de Catadores, dona Leda dos San-
tos. Seguem-se depoimentos não só dos catadores, mas também de outros
intermediários dessa cadeia produtiva. Uma mulher relata a dificuldade de
seu marido epilético para obter emprego fixo, enquanto a fachada de seu
barraco, erguido numa pedra, é enquadrada de modo a destacar a placa de
madeira que ocupa metade de uma parede, com os dizeres “obra financiada
pela Caixa Econômica Federal” – num contundente comentário irônico da
câmera, típico de Amylton para ampliar o caráter de denúncia de seus filmes.
Ao mesmo tempo em que são relatados os violentos conflitos entre a
polícia (defendendo os supostos proprietários das terras) e os “invasores”,
testemunhamos, num momento de trégua, a construção de novos casebres
em meio ao charco – e o melancólico piano que acompanha as imagens
confere alguma doçura àqueles corpos franzinos que tentam equilibrar as
tábuas nos ombros enquanto atravessam a densa lama do mangue, quase
atingindo-lhes a cintura. Aliás, o uso da trilha sonora erudita, com for-
te viés melodramático, busca sacudir a apatia do próprio espectador, ao
contrapor a dureza das imagens da vida no lixão a trechos de conhecidas
composições do repertório erudito (como Carmina Burana, de Carl Orff ),
ou mesmo “Desapareceu um povo”, canção religiosa bastante popular nas
igrejas pentecostais da época, cujos versos indagavam: “Onde está aquele povo
barulhento/ Onde está que não se vê nenhum irmão?”.
A intenção era, claramente, provocar o choque necessário no especta-
dor de classe média – tanto que o impacto do filme junto à opinião pública
foi fulminante, após ser exibido pela tV Gazeta e, posteriormente, em rede
nacional. Se hoje essa estratégia pode soar sensacionalista, na época ela
parecia ser a opção mais viável, traduzindo inclusive uma visão altamente
pessimista do cineasta, em um período no qual a forte crise econômica
não permitia vislumbrar nenhuma possibilidade de esperança futura. Daí
a necessidade de conferir visibilidade ao tema junto às audiências televisi-
vas, trazendo-o para a agenda pública, de modo a obrigar, de algum modo,
o Estado a investir em infraestrutura na região – algo que só aconteceria
efetivamente a partir do final da década.
Lugar de toda pobreza, além de aproveitar bem as especificidades do meio
televisivo, também traz em si as marcas do fazer videográfico, que seria o

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modo de produção de imagens predominante no Espírito Santo durante
boa parte dos anos 1980, seja no campo do documentário, da ficção ou da
nascente videoarte. Destaco aqui: a mobilidade das câmeras de vídeo, per-
mitindo se filmar em qualquer lugar, seja no formato U-Matic profissional
das emissoras de tV da época, ou nos formatos caseiros Betamax e VHS,
largamente utilizados pelos produtores independentes; a possibilidade de se
assistir ao material logo após sua gravação, sem ter que recorrer aos proce-
dimentos laboratoriais de revelação de filmes; o baixo custo de produção e
a liberdade para se filmar mais imagens. O vídeo de Amylton, por exemplo,
contou com dez horas de material bruto, o que dá uma proporção, entre
as imagens captadas e as editadas, em torno de 10 para 1 – bem maior que
nos filmes feitos em película 16 mm ou 35 mm, que variavam geralmente
entre 2 e 3 para 1. Além disso, foram necessários seis meses de trabalho,
no qual a equipe pôde imergir no cotidiano daquela comunidade.

Do Balão ao Éden: a ascensão de uma nova geração

No entanto, há um elemento fundamental que ficou de fora: a par-


ticipação dos moradores no processo. Inclusive, parte das lideranças da
região entendiam que o vídeo reforçava o preconceito, ao mostrar so-
mente os problemas no lixão e não dar visibilidade às outras articulações
dos movimentos sociais em São Pedro. Seria necessário que outro projeto
envolvesse aquela população na produção de suas próprias imagens: o
Vídeo comunitário em São Pedro, realizado por estudantes da Ufes entre
1986 e 1987 (entre eles, diversos integrantes do grupo de contracultura
denominado Balão Mágico). Nele, como conta Cleber Carminati, um dos
principais articuladores da cena audiovisual da época, as vídeo-reportagens
eram conduzidas pelos próprios moradores, e depois exibidas e debatidas
nas reuniões das associações de bairro.
A experiência de uma proto-tV comunitária em São Pedro era parte
de um projeto maior de toda uma geração de videomakers brasileiros nos
anos 1980: a de pensar o vídeo como uma alternativa aos discursos hege-
mônicos televisivos, um questionamento consciente das relações de poder
que envolvem a produção e a difusão de imagens. E esse pensamento se
nutria da possibilidade (ainda que um tanto utópica) das câmeras de vídeo,
por serem mais baratas e portáteis, permitirem ao cidadão médio ser ele
mesmo produtor das imagens que consome – uma condição que só se tor-
naria plenamente possível já no século XXi, com os celulares, redes sociais
e sites de compartilhamento de vídeos, caseiros ou não. Isso irá desembocar
em várias frentes pelo país afora: além da eclosão das tVs comunitárias,
também teremos um boom de documentários com engajamento social, além
da produção de videoficções e da nascente videoarte. E uma característica
atravessará boa parte dessa produção jovem e independente: a afirmação
de um caráter de criação coletiva, cooperativa, do it yourself, experimental,
questionando por vezes as tradicionais hierarquias das funções na equipe
cinematográfica tradicional.

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Um prenúncio desse novo modus operandi no audiovisual capixaba pode
ser observado em Criaturas da Noite, vídeo realizado por Virgínio Lima em
1983. Com duração de oito minutos, ele apresenta os integrantes do grupo A
Canalhada em um espetáculo que na época causou muita polêmica, chegando
a ser vaiado durante a Mostra de Dança realizada em junho daquele ano.
Mas o coletivo que iria fazer bastante “barulho” no período seria o
Balão Mágico, que atuou em diversas frentes na Ufes a partir de 1983: per-
formance, pichação, happening, rádios livres, vídeo e outros ativismos (para
além das desgastadas formas de articulação partidária). Influenciados tanto
pelas propostas artísticas e comportamentais da contracultura, quanto pela
cultura de massa televisiva, seus integrantes buscavam questionar toda uma
postura conservadora que ainda insistia em dar as cartas na universidade e
na sociedade capixaba, mesmo no período de abertura política. A produção
audiovisual do grupo não se restringiu somente a trabalhos acabados, as-
sumindo também um caráter de permanente processo. E com o primeiro
vídeo “propriamente dito”, Refluxo (1986), dirigido por Sérgio Medeiros, eles
inauguram um intenso movimento videográfico na Ufes, que atravessaria
toda a segunda metade da década.
Trata-se de uma obra de ficção científica, ambientada em dezembro de
2010, após a destruição da civilização pela guerra nuclear. Ao som robótico
de Kraftwerk, uma locução feminina nos apresenta uma cidade-laboratório,
construída para oferecer condições de vida a parte dos sobreviventes, que
pretendem erguer um “Quinto Império”, com ares neonazistas – subesti-
mando que outros humanos, mutantes, atingidos pela catástrofe, também
sobreviveram, rastejando e alimentando-se de baratas, procriando como
ratos fora dos muros da cidadela.
De repente, um reggae eletrônico. Somos apresentados à cúpula do
Quinto Império: em plano-sequência, quase sem cortes, iluminação expres-
sionista, maquiagem e mise-en-scène teatrais. O tom de deboche e acidez
marcam essa paródia da histeria totalitarista. Já os atores que representam
os mutantes são retratados com máscaras de papel machê, capas plásticas e
gestos de ampla teatralidade. Decide-se então enviar uma cobaia ao passa-
do. O mundo de 1986 é tão distópico quanto o “futuro”: drogas injetáveis,
alienação coletiva, inexistência de solidariedade. Enquanto a cobaia (in-
terpretada pela futura cineasta Sáskia Sá) perambula pela cidade, ao sabor
de encontros incertos e que vão se revelando (ou não) como parte de um
pesadelo dentro de outro.
Refluxo faz da precariedade técnica e dos poucos recursos cenográficos
os elementos de sua força. A opção pelo preto e branco de alto contraste,
ao mesmo tempo que busca encobrir a falta de equipamentos de ilumi-
nação e a baixa resolução da imagem captada pela câmera, acaba criando
uma atmosfera densa, repleta de sombras pontiagudas. Feito em caráter
cooperativo, com atores estreantes e equipe reduzida, ele traduz, em sua
trama, toda uma atmosfera de ceticismo que circulava nos subterrâneos
da aparente euforia com a chegada da “tal Nova República” no Brasil. Não
à toa, quando a personagem de Saskia percorre a região de São Pedro, em
pleno 1986, as pinguelas e os casebres fincados no meio da lama ainda es-

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tão lá, e os personagens parecem ter poucas esperanças na diminuição do
abismo entre ricos e pobres.
Entre os principais integrantes da ala videográfica do Balão Mágico,
citam-se Cleber Carminati, Ernandes Zanon, Sáskia Sá, Antônio Chalhub
e Paulo Sérgio Socó, este último mais interessado no campo da videoarte.
Entre os trabalhos do grupo, inclui-se ainda o documentário O resgate (1987)
e Rendam-se Terráqueos, dirigido por Chalhub e que compila uma série de
esquetes, performances e outras intervenções realizadas pelos integrantes
do grupo desde 1984 e finalizado em 2002. Em 1999, o Balão seria tema
do documentário Pacíficos e ruidosos, de Rodrigo Linhales, Tati Rabello e
Larissa Machado.
Segundo Cleber Carminati, outros trabalhos universitários do período
incluem os vídeos: Formólia (1986), de Ricardo Nespoli e Paulo Sérgio Socó;
Janelas (1987), de Ricardo Nespoli e Renzo Pretti; e Aedes Aegyptis (1986-87),
projeto de caráter performático dos artistas visuais Rosana Paste, Mac e
Celso Adolfo (egresso do grupo A Canalhada), sob o qual seria realizado A
vida íntima de Nefertiti (1987), espécie de “novela” sobre o cotidiano da rainha
egípcia que foi um ícone de beleza no tempo dos faraós.
Rosana, Mac e Celso integrariam, posteriormente, o grupo Éden Dio-
nisíaco do Brasil, do qual também fizeram parte Cleber Carminati, Saskia
Sá, Rita Elvira, Gabi Lima e Lobo Pasolini. Nas palavras de Rosana Paste, o
grupo partia de releituras cênicas da história da arte para criar “quadros
performáticos, mutantes e improvisados”, apresentados em espaços cênicos
– como o Theatro Carlos Gomes, que foi palco da montagem de Quadros
Bíblicos, em 1989, na qual a cabeça de São João Batista era entregue em um
televisor. O grupo não se interessava pelas convenções do teatro, preferindo
produzir obras abertas e inacabadas: “Nossa pesquisa estava direcionada
para o corpo, a dança, o improviso, a releitura e a interpretação dos ‘ismos’
das artes, de artistas, de contextos relacionados a fatos históricos”, recorda
a artista. O espetáculo encerrava com a exibição da videoperformance O
inferno de Dante (1989), realizada no Morro do Moreno, em que todos os
integrantes do grupo estavam nus e angustiados, buscando um lugar de
sobrevivência. Rosana relata que o mar tinha que ser vermelho e que, para
obter o efeito desejado, foi colocado papel celofane da mesma cor na frente
da tela, colorindo os corpos e a paisagem: “o céu, o mar, a terra, tudo passou
a ser o inferno”. O espírito anárquico e demolidor das performances do
Éden continuaria em uma série de outros trabalhos videográficos, alguns
concluídos e outros inacabados (como a videoperformance Panos e luzes,
de 1988), em um trabalho de pesquisa permanente durante todo o período
em que o grupo existiu.
Sérgio Medeiros, junto a outros integrantes do Balão Mágico, seguiria
com o Projeto de Pesquisa de Linguagem Imagética, iniciado com Refluxo
e em atividade até hoje. Por meio dele, realizaria diversas adaptações lite-
rárias, como o média-metragem Diga adeus a Lorna Love (1988), reunindo
quatro contos do livro de Francisco Grijó, e Fuga de Canaã (1991), primeiro
longa-metragem em vídeo feito no Estado, a partir do romance homônimo
de Renato Pacheco. Antes disso, no comecinho dos anos 1980, ele havia

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realizado mais dois trabalhos no formato super-8: o curta Santa Maria Julião
(1980) e o longa Sinais de fascismo (1980), inspirado no Caso Argolas, um
esquema de tráfico e corrupção de menores nas instituições carcerárias do
Espírito Santo, denunciado em reportagem do jornal A Gazeta por Amylton
de Almeida e Glecy Coutinho, em 1978. Quando exibido pela primeira vez,
no cineclube da Ufes, o longa-metragem foi apreendido por um grupo de
policiais do DopS, em uma manobra ilegal e que feria a autonomia univer-
sitária. O longa foi mutilado, com a retirada das cenas que denunciavam os
policiais envolvidos nos crimes citados, e ficou muitos anos sem ser exibido.

Ficção e documentário: outros olhares

Outros trabalhos de videoficção incluem ainda a série Telecontos


capixabas, realizada por Antonio Carlos Neves para a tVe, entre 1983 e
1986. Somente um único trabalho ficcional no formato 35 mm é realizado
no Espírito Santo em toda a década de 1980: o longa-metragem carioca
Corpo a corpo, todos os sonhos do mundo (1984), de Iberê Cavalcanti. O filme
é uma tragédia familiar, ambientada em uma fazenda em Guarapari, e
contou com alguns capixabas no elenco (Glecy Coutinho, Agostino Laz-
zaro e Paulo de Paula) e na equipe técnica. Rodado em 1981, ainda sob o
nome de Veias abertas, o longa de Cavalcanti seria o vencedor do Rio Cine
Festival em 1984.
No campo do documentário, o vídeo também deixou uma farta
produção, como a continuidade da série de documentários televisivos
iniciada no final da década de 1970 por Amylton de Almeida: além de
Lugar de toda pobreza, foram realizados O último quilombo (1980), premiado
no iii Festival de Verão da Rede Globo; Piúma: Conchas (1988); Nasce uma
cidade (1989), que retrata as origens de Itanhenga (hoje, Nova Rosa da Pe-
nha), outro bairro pobre e violento da Grande Vitória; e Incêndio nas mentes
( já em 1990), retratando a perseguição aos descendentes de alemães no
Espírito Santo durante a Segunda Guerra Mundial, acusados de colaborar
com o regime nazista.
Já Orlando Bomfim transitaria entre o cinema e o vídeo, mantendo
seu projeto de mapeamento das manifestações culturais tradicionais, como
em As paneleiras do barro (1983), média-metragem que buscava resgatar a
confecção da panela de barro capixaba, em um momento em que a atividade
corria grande risco de extinção, e Dos reis magos aos tupiniquins (1985), regis-
trando a história da Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida. Ele realizaria
ainda uma série de documentários televisivos, à frente da tVe (emissora
da qual foi diretor no período), entre os quais se destaca Um inferno na ilha
(1986), sobre o bairro São Pedro. Também no começo da década, outros
colaboradores de Bomfim acabam por fixar residência no Espírito Santo,
como o compositor e maestro Jaceguay Lins, autor de várias trilhas sonoras
do cinema brasileiro, e o diretor de fotografia Douglas Lynch.
Lynch dirigiria o documentário Receita artesanal (1988), sobre o preparo
da moqueca capixaba, cujo roteiro, de autoria de Adilson Vilaça e Heloísa

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Figueiredo, fora o vencedor do concurso realizado pelo Departamento
Estadual de Cultura em 1986. Realizado em 16 milímetros, o curta recebeu
um prêmio especial no Rio Cine Festival, em 1989.
Tendo o vídeo como suporte, Clóves Mendes dirige Balduíno, El Africano
(1989), documentário sobre o octogenário artista Balduíno: poeta e artista
circense, denominado “O rei da panderetologia”. Temos aqui um grande
retrato, com largo uso de closes, no qual vemos Balduíno preparar sua
maquiagem cênica, enquanto nos conta sua história, fala da condição de
artista e negro, recita seus versos, batuca, canta e faz surpreendentes ma-
labarismos com seu instrumento musical. Mesclando trechos da entrevista
com imagens de arquivo em seus treze minutos de duração, o curta seria
premiado no Festival del Cinema Latino Americano de Trieste, na Itália.
Já o artista multimídia Nenna, também no final do período, registraria
em vídeo suas experiências com o escultor Franz Krajcberg e o videomaker,
músico e pesquisador Arlindo Castro. Daí resultariam dois documentários
que seriam finalizados mais de vinte anos depois: respectivamente, Krajcberg
(2004) e 88AC – Uma viagem Nenna Arlindo Castro (2004).

E a década chega ao fim...

O final dos anos 1980, ao mesmo tempo que contaria com poucas salas
de cinema de rua funcionando na Grande Vitória, testemunha a inauguração
do Cineclube Ludovico Persici, no Centro Cultural Carmélia M. de Souza,
o primeiro do Eestado a funcionar em 35 mmilímetros. Durante toda a
década, ainda teremos uma forte movimentação cineclubista no Estado,
dando continuidade ao trabalho iniciado na década anterior. E, em 1988,
o escritor Fernando Tatagiba publica o livro História do cinema capixaba, a
primeira publicação do gênero no Estado.
Destaca-se, nesse período, a atuação do celp (Centro de Estudos Lu-
dovico Persici), entidade que promovia cursos, debates críticos e eventos
audiovisuais como os “Noitões do Carmélia”, que viravam a noite com
mostras de filmes e outras atrações culturais, marcando época na vida
cultural da cidade. O celp também editou, no ano de 1990, o jornal Trippé,
primeiro periódico cinematográfico feito no Espírito Santo, que durou so-
mente duas edições, nas quais abriu espaço para a crítica cinematográfica
e as discussões sobre política cultural.
Vale lembrar que vários movimentos juvenis marcaram a produção
cultural capixaba no período: além do vídeo, temos uma nova geração de
artistas – como Lando, Hélio Coelho e Zupo – seguindo uma forte tendên-
cia nacional de redescoberta da pintura (graças à chamada Geração 1980).
Outros artistas visuais iriam se dedicar a: performance, fotografia, grafite
e intervenção urbana. Também temos toda uma nascente cena roqueira
(bandas como Thor, Combatentes da Cidade, Pó de Anjo), uma boa fase para
o teatro e a dança, e um período de ouro na literatura, em que a coleção
Letras Capixabas, da Fcaa-Ufes, revelou vários jovens escritores em seus
40 títulos, publicados entre 1981 e 1989.

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Encerrando a década em que o vídeo tomou a linha de frente da
produção audiovisual capixaba, temos a videoarte Graúna barroca (1989), de
Ronaldo Barbosa e Ricardo Nespoli. Realizado a partir de uma intervenção
na praia do Rio Negro, em Fundão, o vídeo utiliza elementos da própria
região, como fogo, gravetos e água, que são animados pelos movimentos
da própria natureza – na contramão das animações eletrônicas que eram
a novidade entre os videomakers da época. O curta levou diversos prêmios
em festivais dentro e fora do Brasil, incluindo o de Melhor Videoarte no
33º Festival de Cinema e tV de Nova Iorque, em 1991.

A estagnação da era Collor

A década de 1990 começa de forma catastrófica para o cinema brasi-


leiro de longa-metragem. No dia 16 de março daquele ano, o recém-em-
possado presidente Fernando Collor de Mello extinguiu, em um único
ato, a Embrafilme (principal financiadora dos filmes nacionais), o Concine
(órgão regulador da área) e reduziu o Ministério da Cultura a uma secretaria
da Presidência da República, com todos os cortes orçamentários que isso
implica. Foi um duro golpe para o cinema nacional, que já vinha atraves-
sando uma crise na década anterior, perdendo grande parte de seu público
para a televisão e para o nascente mercado das videolocadoras. Até então,
os dois únicos filões de mercado que não haviam sido atingidos pela crise
eram o infantil e o pornográfico. Ambos, contudo, também foram atingi-
dos pelas medidas implantadas por Collor, que paralisaram a produção e
a distribuição dos filmes nacionais até a metade da década: vale lembrar
que, entre 1991 e 1996, nem mesmo Xuxa e Os Trapalhões, os campeões
do segmento infantil na época, estrelaram longas-metragens. Já o cinema
pornô gradualmente foi migrando para o rentável mercado de home vídeo
e, por volta de 1995, suas novas produções já não ocupavam mais as salas
de cinema do país.
O choque foi imediato. Em 1992, foram concluídos nove filmes (in-
cluindo os pornôs), e lançados apenas três. Em 1993, dos 11 títulos realizados,
apenas quatro chegaram às telas brasileiras – atingindo cerca de 0,5% da
bilheteria total do ano, um número irrisório quando lembramos que, em
meados dos anos 1970, o cinema nacional detinha um terço do total de
ingressos vendidos no Brasil.
A situação começa a melhorar a partir de 1996, quando Carlota Joaquina
(1994), de Carla Camurati, e O quatrilho (1995), de Fábio Barreto, alcança-
ram grande sucesso de público, ultrapassando a barreira de um milhão
de espectadores – e, no caso do filme de Barreto, obtendo uma indicação
para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa nova fase, denominada
pelos historiadores de “Retomada do Cinema Brasileiro”, irá se estender
até 2002. Nela, a produção nacional consegue um novo fôlego, graças à
consolidação de leis de incentivo federais, como a Lei do Audiovisual e Lei
Rouanet. Seria necessário, contudo, esperar quase uma década até que as
salas de cinema pudessem finalmente acolher uma parcela representativa

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desses filmes – que encontravam raros espaços para serem exibidos em
um crescente circuito nacional de festivais e mostras.
No período Pré-Retomada, o Espírito Santo, Estado que praticamen-
te não produziu cinema na década de 1980, parecia ser uma pequena luz
no fim do túnel em que todo o setor mergulhara durante a era Collor. A
partir da abertura de uma linha de financiamento de projetos culturais
disponibilizada pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito
Santo (Bandes), vislumbrou-se a possibilidade de criação de um “polo de
cinema” no Espírito Santo – termo amplamente usado pela imprensa local
e até nacional naqueles anos. Curiosamente, o primeiro filme realizado
com esses recursos foi um curta-metragem experimental – Miragem das
fontes, de Gelson Santana, produzido pela Universidade Federal Fluminense
(UFF) em 1990.
Em um momento em que praticamente não se rodaram longas-me-
tragens no país, os recursos do Bandes atraíram alguns projetos de outros
Estados, que utilizaram cenários, figurantes e, em escala bem menor, atores
e técnicos locais como contrapartida para suas realizações. São eles: Vagas
para moças de fino trato (1993), de Paulo Thiago; Lamarca (1994), de Sérgio
Rezende e Fica comigo (1996), de Tizuka Yamazaki. Desses, apenas Lamarca
conseguiu alguma repercussão, tendo atingido a marca de 130 mil especta-
dores no ano de seu lançamento – um feito, em um ano no qual somente
sete filmes nacionais chegaram às telas, a maioria não atingindo sequer a
marca de dez mil ingressos vendidos. O filme de Sérgio Rezende também
proporcionou um papel de destaque ao ator capixaba Eliezer de Almeida,
que chegou a ganhar o troféu de Melhor Ator Coadjuvante no Prêmio Cidade
de São Paulo de Cinema, oferecido pela Prefeitura Municipal de São Paulo
aos melhores filmes nacionais realizados entre 1990 e 1994. Outro longa
que utilizou cenários do Espírito Santo, na época, embora sem o apoio do
Bandes, foi O guarani (1996), de Norma Bengell.
Se o “polo de cinema” capixaba teve vida curta, ao menos a linha de
financiamento do Bandes possibilitou a realização de um longa-metragem
local – o primeiro, no formato 35 mm, totalmente concebido, produzido
e dirigido por profissionais do cenário cultural capixaba. Trata-se de O
amor está no ar (1997), dirigido por Amylton de Almeida, que começou a
ser filmado em 1994. Com um elenco que mesclava diversos atores locais
com nomes de renome nacional, e uma equipe técnica majoritariamente
espírito-santense, ele conta a história de Lora Berg, mulher de meia ida-
de, culta e de boa posição social, que apresenta um programa de namoro
por correspondência em uma emissora de rádio am. Lora apaixona-se por
Carlos Henrique, dezoito anos mais jovem e desempregado, dando início a
um tumultuado relacionamento amoroso. A trama, com várias referências
à ópera Tannhäuser, de Richard Wagner, é um autêntico melodrama, no
melhor estilo da Hollywood clássica que o cineasta tanto exaltara em suas
críticas cinematográficas – dialogando, em especial, com o universo de seu
diretor favorito, Douglas Sirk.
Amylton faleceria em 1995, após uma batalha contra um câncer
fulminante, enquanto ainda se captavam recursos para a finalização do

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longa, que, durante as filmagens, havia estourado bastante seu orçamento
inicial. Ele seria concluído dois anos depois pela produtora Luciana Vellozo
e pelo co-roteirista Fabiano Gonçalves, a partir de algumas anotações do
cineasta – tendo sido reduzido a pouco mais da metade da duração inicial
prevista pelo roteiro. O amor está no ar ainda enfrentaria dificuldades para
distribuição comercial, chegando a pouquíssimos espectadores – ainda as-
sim, foi exibido em alguns festivais, garantindo a Eliane Giardini o prêmio
de Melhor Atriz em Gramado, no ano de seu lançamento. Trata-se de um
filme a ser redescoberto.
Dois longas-metragens em vídeo foram realizados no período: além
de Fuga de Canaã (1991), de Sérgio Medeiros, adaptação do romance homô-
nimo de Renato Pacheco, há também Kazhumbi Ojo Kalunga/ Mal das águas
(1992), releitura livre do Tubarão de Spielberg, dirigida por Sidemberg
Rodrigues. Rodado entre 1987 e 1991, no formato VHS e com direito a um
tubarão mecânico, o longa foi realizado com recursos próprios, tendo sido
restaurado e reexibido publicamente em 2012, quando se completaram 20
anos de sua sessão inicial.

A retomada do curta-metragem

Como, além dos recursos do Bandes no Estado, havia poucas possi-


bilidades de financiamento no país, durante a primeira metade dos anos
1990, muitos veteranos do cinema nacional, impossibilitados de filmar,
acabaram migrando (uns temporariamente, outros de modo definitivo)
para outros campos – como a televisão, a publicidade e o jornalismo. Para
os jovens realizadores, muitos deles recém-egressos das faculdades de ci-
nema do país, a única forma de se fazer cinema, naquele momento, era o
curta-metragem – mesmo com o formato não conseguindo mais espaço
nas salas de exibição convencionais, já que a Lei do Curta havia caído no
governo Collor.
No Brasil, a segunda metade dos anos 1980 havia se tornado conhecida
pela “primavera do curta”: um período em que o formato não só possuía
um mercado próprio, mas também ganhava reconhecimento nos festivais
dentro e fora do país. Talvez o mais bem-sucedido exemplar dessa fase
tenha sido Ilha das flores (1989), de Jorge Furtado, vencedor do Urso de
Prata do Festival de Berlim na categoria Melhor Curta em 1990. Embora a
viabilidade comercial do curta tenha decrescido significativamente na Era
Collor, a produção continuou a pleno vapor, movida pelos custos relati-
vamente baixos, pela liberdade criativa e pelos recursos obtidos por meio
das diversas leis de incentivo e fundos culturais mantidos pelos governos
estaduais e municipais, que se consolidavam em diversos cantos do país.
Estados como Pernambuco, Minas Gerais, Ceará, Bahia e o Distrito Federal,
entre outros, vêm se somar aos já tradicionais Rio de Janeiro, São Paulo e
Rio Grande do Sul em termos de uma produção cinematográfica constan-
te e de reconhecida qualidade. E é nesse formato que o cinema capixaba
iria finalmente renascer nos anos 1990 – agora não mais como um ciclo

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efêmero, mas como um setor que viria a se consolidar nos anos seguintes,
até atingir o grau de diversidade que possui nos dias de hoje.
A principal vitrine para o curta, nos anos da retomada, era o nascente
circuito de festivais que se instalava nos mais diversos Estados brasileiros.
Em 1990, surge o Festival Internacional de Curtas de São Paulo e, no ano
seguinte, o Curta Cinema, no Rio de Janeiro – ambos eventos de grande
porte dedicados exclusivamente ao formato. Além disso, já existiam mostras
de curtas em festivais mais tradicionais, como o de Brasília, o de Grama-
do, o Rio Cine e a Jornada da Bahia. Nos anos seguintes, surgiriam vários
outros festivais em todo o país – entre eles, em 1994, o Vitória Cine Vídeo.
Durante os primeiros três anos, esse festival que transformaria toda
a cena cultural do Estado era uma mostra de caráter não-competitivo, no
Cine Metropolis, na Ufes, gerida pelo próprio poder público. A partir da
quarta edição, em 1997, o festival passa a ser realizado pela Galpão Produções,
com direito a uma mostra competitiva de curtas metragens em película (16
mm e 35 mm) e outra em vídeo, além do lançamento de longas-metragens
brasileiros inéditos no circuito capixaba. E, entre 1997 e 2007, o Cine-
Teatro Glória (atual Centro Cultural Sesc Glória) foi seu principal espaço
de exibições, sempre atraindo um público superior a 1.000 espectadores
por noite. Ao final dos anos 1990, ele já era um dos principais festivais de
curta-metragem do país, não apenas mantendo o público espírito-santense
em dia com as principais tendências do audiovisual brasileiro, mas também
dando visibilidade à produção local e revelando novos nomes, através de seu
concurso de roteiros, iniciado em 1998. Tendo chegado à 21ª edição em 2014,
o festival mantém ainda, desde 2011, uma mostra competitiva de “longas”.
Outro fator importante para que o curta-metragem capixaba pudesse
se consolidar foi a criação da Lei Rubem Braga, do município de Vitória,
mecanismo de renúncia fiscal cujos recursos arrecadados são destinados a
projetos culturais. Implantada em 1991, a lei foi, durante mais de uma década,
a principal fonte de financiamento para filmes e vídeos locais, ainda que, no
começo, os valores aprovados nem sempre fossem suficientes para cobrir todo
o orçamento previsto, o que fazia com que muitas obras tivessem que esperar
alguns anos até serem concluídas, quando finalmente apareciam outras (raras)
fontes de patrocínio. Hoje em dia, diversos municípios do Espírito Santo já
contam com suas leis de incentivo, o governo do Estado possui um sistema
de editais próprio e o governo federal também abre vários outros, em uma
conjunção que possibilita a realização de um número maior de projetos.
Entre os primeiros trabalhos que contaram com o apoio da Lei Rubem
Braga, constam algumas experiências em vídeo, como TV Reciclada (1992),
de Arlindo Castro e Ronaldo Barbosa. Híbrido de videoarte e documentário
ensaístico, o média-metragem traça uma série de questionamentos sobre o
lugar da televisão no imaginário contemporâneo, a partir de esquetes e gags
visuais repletas de efeitos de edição e computação gráfica (alguns a cargo de
Hans Donner, de quem Arlindo Castro era bastante próximo), bem ao gosto
da produção videográfica brasileira da época. Já Sacramento (1992), de Luiza
Lubiana e Ricardo Sá, também com recursos da Lei Rubem Braga, foi filmado
em Super-8 e finalizado em vídeo. Trata-se de uma releitura do mito de São

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1

1 solidão vadia
2 sacramento

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Sebastião, pelo prisma de um universo onírico e repleto de arquétipos que
nos remetem a tempos imemoriais, em uma linguagem que seria aprofun-
dada nos curtas seguintes da diretora – por exemplo, em A lenda de Proitner
(1995), que levou o prêmio de Revelação no Festival de Cuiabá, em 1996, e é
um dos mais importantes títulos da filmografia capixaba da década de 1990.
Ricardo Sá, de lá para cá, iria se tornar um dos principais documenta-
ristas do Estado, com algumas interessantíssimas incursões no cinema fic-
cional, adotando uma linguagem bastante experimental. Solidão vadia (1997),
realizado em 16 mm, é um exemplar dessa segunda vertente, retratando
alegoricamente o encontro de um pescador com uma mulher proibida, em
uma pequena aldeia, com ecos de Expressionismo Alemão – história que
também seria lançada em uma montagem alternativa, em vídeo Betacam,
sob outro título: Tempestade em Akkarrar (1997). Outro nome dessa geração
é Marcel Cordeiro, com os curtas Passo a passo com as estrelas (1995), híbrido
de ficção científica distópica com tinturas neorrealistas, e Flora (1996) –
drama ambientado nos anos 1940, em uma cidade de interior, que rendeu
o prêmio de Melhor Atriz à mineira Regina Braga, no Rio Cine Festival de
1996. Já Margarete Taqueti irá estrear na direção com O fantasma da mulher
de algodão (1995), que resgata metaforicamente a lenda urbana que aterrori-
zava os banheiros das escolas públicas, ambientada na época da repressão.
Um dos filmes mais importantes dessa safra é Eu sou Buck Jones (1997),
estreia na direção de Glecy Coutinho, nome bastante atuante no cenário
cultural capixaba desde os anos 1960, como jornalista, professora univer-
sitária e atriz. O curta recria um episódio real, ocorrido na infância da
cineasta, em João Neiva, no qual, um garoto, fascinado pelo cowboy Buck
Jones, herói dos faroestes de matinê, chega a cometer um assassinato para
não perder o último episódio de seu seriado cinematográfico favorito. Cal-
cado na delicada interpretação de seu protagonista mirim, o filme rendeu
ao ator João Vitor Marangoni o Prêmio Revelação no Vitória Cine Vídeo
de 1997. Uma análise mais detalhada dos curtas e longas produzidos em 16
mm e 35 mm na década de 1990 encontra-se no artigo “A ‘década perdida’
dos historiadores foi um período de euforia e perspectiva para os cineastas
capixabas”, de João Barreto, publicado ao final deste livro.

Videoarte e videoperformance

No campo do vídeo experimental e da videoperformance, a produção


também segue ganhando volume e se arriscando em novos territórios. Pio-
neiros dos anos 1980, o grupo Eden Dionisíaco do Brasil realizaria Comida,
sexo e morte (1992), trabalho performático que apresentaria um dos nomes
mais atuantes da videoarte capixaba: Lobo Pasolini. Seus trabalhos no perío-
do destacam-se pelo intenso acento irônico e pela irreverente apropriação
de elementos da nascente cena clubber, da cultura pop e de ícones gays e
camp. Destacam-se aqui 1-2-3 Terezinha Remix (1995), Oneman show (1996) e
A autobiografia de todo mundo (1998), os dois últimos realizados em parceria
com a artista Rosana Paste, sempre transitando entre a autoficção e a esté-

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tica do vídeo experimental. A produção posterior de Lobo ainda incluiria
trabalhos bastante instigantes como Love in the age of graphic design (2003) e
Entrevista de trabalho (2005), enquanto Rosana firmaria seu nome como uma
das principais diretoras de arte dos filmes capixabas, realizando ocasionais
trabalhos de videoarte, como O juramento (1999) e Menina moça (2007). Outro
nome de destaque é Nenna, realizador de Vydeo (1997), do qual participam
Saskia Sá, Joel Barcellos e Franz Krajcberg.
Já o artista plástico Júlio Tigre irá se dedicar a uma série de investi-
gações videográficas, seja no registro audiovisual de intervenções e per-
formances, seja na criação de dispositivos que problematizem a própria
produção da imagem. Exemplo disso é Lugar algum (1998), instalação que
consiste em um cavalete, onde a câmera é posicionada, capaz de ser girado
em velocidades alteradas, graças a uma manivela na parte inferior, obri-
gando o operador a agachar-se para manuseá-la. Com isso, a câmera chega
a girar, 360º na direção anti-horária, sem que o cameraman seja filmado.
A cada volta, a velocidade vai aumentando, e a imagem vai borrando até
desaparecer por completo.
Já na virada dos anos 1990 para os 2000, uma nova geração de video-
makers surgiria, tendo como principal vitrine as mostras competitivas do
Vitória Cine Vídeo: Jean R., Rodrigo Linhales, Tati Rabello, Larissa Machado,
Joel Vieira Junior, Cristiano Amigo Vidal e Sanny Lys são alguns desses no-
mes. Em comum, seus trabalhos exploravam as diversas potencialidades do
vídeo digital, do videografismo e dos dispositivos de produção e exibição,
além das diversas formas de apropriação dos signos da cultura de massa.
Uma declaração de Tati Rabello, proferida num debate realizado no Museu
de Arte do Dionísio Del Santo (maeS), em 2003, sintetiza esse estado das
coisas: “Mais que a edição, o que mais me interessa é a manipulação da
imagem, os efeitos da mesa”.
Muitos desses realizadores transitaram entre a videoarte, o videocli-
pe, a animação, as videoinstalações e as intervenções urbanas – em uma
tradução da estética frenética e apropriativa que marcou boa parte da pro-
dução daquela virada de século. Alguns desses trabalhos chegaram a ser
apresentados em salões e galerias de arte (como o Salão do Mar, realizado
na Casa Porto das Artes Plásticas) ou em exposições coletivas de videoins-
talação (como a Vide, de 2000), além de intervenções urbanas em espaços
públicos, como os vãos da Terceira Ponte (Em Vão, 2001) e a concha acústica
do Parque Moscoso (2004).
Também foram realizados diversos trabalhos híbridos, que incorpora-
vam a estética da videoarte para a ficção – Roteiro do banal (1999) e O morcego
beija-flor (2000), de Joel Vieira Junior –, para a autoficção – Joel (1999) e Meu
pé de feijão (2001), também de Joel Vieira Junior – e para o documentário.
Nesta última categoria, destacam-se: Múltiplos de um (1998), Ecótono (1999) e
Pacíficos e ruidosos (1999), de Rodrigo Linhales, Larissa Machado e Tati Rabello,
sendo os dois primeiros trabalhos em uma vertente mais ensaística; C.33
(1999), biografia de Oscar Wilde, dirigida por Jean R., que também faz largo
uso de animações gráficas; e, mais recentemente, a série O processo (2008),
de Mirabolica (Rodrigo Linhales e Tati Rabello) e Gabi Stein.

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1 2

3 4

5 6

1 comida, sexo e morte


2 c.3.3.
3 A autobiografia de todo mundo
4 tv reciclada
5 Moda
6 looping

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Documentário

Já em uma vertente mais próxima às linguagens já consolidadas do


documentário, também foram realizados vários trabalhos importantes,
como Costa Pereira (1995), de Clóves Mendes, um “docudrama” sobre a praça
homônima, localizada no centro de Vitória; Cachoeiro em três tons (1994), ro-
teirizado por Luiz Trevisan e dirigido por Clóves Mendes, sobre três gerações
da família que trouxe ao mundo os compositores Raul Gonçalves Sampaio,
Raul Sampaio e Sérgio Sampaio; Uacataca Tinguilim (1998), de Federico Nicolai,
cujo título vem do barulho produzido pelo vendedor de quebra-queixo, ao
anunciar seu produto pelas ruas da cidade; Moda (1993), estreia na direção
de Saskia Sá, egressa do Balão Mágico; e Na parede, na toalha, no lençol (1998),
premiado documentário sobre o movimento cineclubista dos anos 1970,
dirigido por Lizandro Nunes, Luciana Gama, Ursula Dart e Virgínia Jorge.
Todos esses trabalhos tiveram o vídeo como suporte, tendência que iria se
ampliar nacionalmente na década seguinte, graças à praticidade e aos baixos
custos, possibilitando aos documentaristas gravarem uma quantidade bem
maior de material e experimentar outras estratégias de interação com seus
entrevistados, e até mesmo novas linguagens.
Também se inclui nessa safra o videodocumentário Ilha do rock, lançado
em fevereiro de 1993 por Dan Zecchinelli, Nazareth Pirola, Andrea Zuchi e
Beto Castelluber. Durante 25 minutos, esboçava-se, no ritmo frenético da
linguagem de videoclipe, um mapa da emergente cena roqueira da Grande
Vitória, que iria crescer exponencialmente durante o restante dos anos 1990.
Foram entrevistadas oito bandas, dos mais diferentes estilos: Urublues, The
Rain, Illness, Lordose pra Leão, Porrada!!!, Camisa de Força, Skelter e Clube
Big Beatles. Muitas delas viriam a gravar seus lps e cDs nos anos seguintes
e encontrariam um fiel público nas festas do campus da Ufes, do Camburi
Clube, nos eventos da FaFi e nos festivais Rock Lama, realizados na rua da
Lama, em Vitória, epicentro da cultura alternativa capixaba durante toda
a década. Em 2011, a própria rua da Lama seria tema do documentário
Uma volta na Lama, realizado por Ursula Dart, filme que busca investigar as
transformações da cidade a partir das diversas mudanças que a rua havia
passado e das diversas cenas culturais que nela deixaram seus rastros.

Alternativas para a formação de novos realizadores

A década de 1990 presenciou a abertura das primeiras salas de cinema


no Shopping Vitória (os Cines Vitória 1, 2 e 3) e do Cine Metrópolis, na
Ufes – um espaço dedicado aos filmes de fora do “circuitão”, especialmente
brasileiros, europeus e independentes norte-americanos. Mas também viu,
num curto espaço de tempo, o fechamento de todas as salas do centro de
Vitória: o São Luiz, o Glória, o Santa Cecília e o Paz. Já a Fafi, transformada
em Escola de Arte pela Prefeitura de Vitória e oferecendo cursos livres
e programação cultural variada, foi espaço para a realização de algumas
mostras filmes em 16 mm, por volta de 1993-1995, exibindo clássicos do

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cinema francês, alemão e japonês. Também o Cineclube Ludovico Persici,
no Centro Cultural Carmélia M. de Souza, antes de encerrar as atividades,
chegou a abrigar uma extensa mostra em comemoração ao centenário do
cinema, entre 1994 e 1995, com exibição semanal de vários clássicos. Entre
as poucas opções que restavam ao público cinéfilo local, estavam as video-
locadoras, especialmente a Camburi Video e a Show Vídeo, que chegaria a
ser considerada uma das dez melhores do país.
Por outro lado, a crescente atividade audiovisual no Estado começou a
despertar o interesse de vários jovens, sedentos por capacitação técnica, de
modo que as oficinas e cursos livres de curta e média duração foram se tor-
nando uma constante durante toda a década de 1990. Alguns longas-metragens,
como Fica comigo e A morte da mulata (que seria finalizado em 2002) chegaram
a oferecer oficinas técnicas para formação de mão de obra, e o próprio Vitória
Cine Vídeo passaria a oferecer minicursos e oficinas a partir de 1997. Se um
curso superior de Cinema na Ufes, todavia, só se tornaria realidade a partir de
2010, o mais perto que se oferecia em termos de formação audiovisual vinha
do curso de Rádio e tV, iniciado pela Faesa em 1995 e, em menor escala, com
as poucas disciplinas na área, ofertadas pela Ufes nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Artes Plásticas. Daí o grande interesse dos futuros realizadores
em participar dos cursos livres então ofertados na Grande Vitória.
Três cursos de longa duração marcariam época e seriam responsáveis
por revelar novos realizadores. O primeiro deles foi “Corpo e imagem”, rea-
lizado na Fafi durante todo o ano de 1992, com apoio da tVe e da tV Gazeta,
e coordenado por Amylton de Almeida. Dele surgiu o vídeo-documentário
Cupido no ar (2002), escrito e produzido por alunos do curso, e dirigido por
Roberto Partelli, Raquel Lucena e Fabiano Gonçalves. Dessa turma, surgiria
ainda boa parte da equipe do longa O amor está no ar.
Já os outros dois cursos, de nome “Realização Cinematográfica”,
foram coordenados por Valentina Krupinova, cineasta russa radicada no
Brasil, e tiveram como resultado curtas-metragens ficcionais em película
16 milímetros. O primeiro deles ocorreu em 1994 e deu origem ao filme
Gringa Miranda, cujo roteiro foi escrito por Valentina, Ricardo Sá e Luiz
Tadeu Teixeira. Nele, foram revelados nomes como Gabby Egito (atualmente
radicada nos Estados Unidos, onde dirige seus filmes), Marcos Figueiredo
(de Bem-vindos ao paraíso) e Carlos Augusto de Oliveira (que viria a residir
na Dinamarca e realizar diversos filmes, entre os quais uma coprodução
com o Brasil, o longa-metragem Rosa Morena, de 2010).
O segundo curso aconteceu no segundo semestre de 1997 e resultou
no curta Labirintos móveis (1998). Deste grupo, sairia toda uma geração de
diretores, atores e técnicos: Lizandro Nunes, Ursula Dart, Virgínia Jorge,
Erly Vieira Jr, Vanessa Frisso, Alessandra Toledo, Leandro Queiroz, Tatiana
Martinelli, Janaína Serra, Luciana Gama, entre outros – em sua maioria,
estudantes de Jornalismo ou Publicidade da Ufes e ávidos frequentadores
dos cursos, oficinas, mostras e festivais que aconteciam na época. Esse
grupo continuou trabalhando junto durante o começo dos anos 2000, à
medida que vários de seus integrantes faziam seus primeiros filmes e que
cada um se especializava em sua respectiva função técnica.

1980 — 1999 83

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Em 1998, Janaína Serra e Vanessa Frisso produziram um curso de
Super-8, resultando no curta-metragem O enforcado, que envolveu diversos
dos realizadores acima citados, além de outros que foram se agregando ao
grupo: Ana Cristina Murta, Alexandre Serafini, Aracely Cometti, Gustavo
Feu, Herbert Pablo. No mesmo ano, Erly Vieira Jr venceria o I Concurso de
Roteiros Capixabas do Vitória Cine Vídeo, com Macabéia, que seria rodado
em 1999 e finalizado em 2000, contando com boa parte dessa turma na
equipe técnica e no elenco.
Ainda em 1999, Virgínia Jorge realizaria De amor e bactérias, filmado
em super-8 e finalizado em vídeo (Betacam), praticamente com a mesma
equipe dos filmes acima citados (agregando ao grupo Fabrício Coradello e
Rosana Paste). Premiado no Festival de Cinema do Maranhão e no festival
universitário Vide Vídeo, da UFrJ, o curta é o verdadeiro marco inaugural
dessa geração capixaba surgida no final dos anos 1990, tanto em termos de
estética e de linguagem, quanto no modo de produção.
Se a década iniciara em meio às trevas e à incerteza para o cinema
brasileiro, seu final apresentava-se bastante promissor para o audiovisual
capixaba. Um panorama bastante otimista desenhava-se para os anos seguin-
tes, fortalecido por uma série de novos fatores: barateamento dos custos de
produção, a ampliação dos canais de financiamento e patrocínio e a inces-
sante atividade de numerosos realizadores, técnicos e atores – sendo que
muitos deles iniciaram sua trajetória em algum momento dos anos 1990.

84 Plano Geral

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1980 — Criaturas da noite Lugar de toda pobreza
de Virgínio Lima de Amylton de Almeida
As paneleiras de barro eXperIMental, 8', víDeo, DocuMentÁrIo, 58', víDeo,
de Orlando Bomfim Netto cor, 1983, vItórIa (es) cor, 1983, vItórIa (es)
DocuMentÁrIo, 55', 16MM,
cor, 1983, vItórIa (es) e Registro do grupo A Canalha- A vida dos catadores de papel
rIo De JaneIro (rJ) da (Virgínio Lima, Rita Elvira, que fazem do lixo sua fonte de
Du Piran, Robson Ruy, Celso vida e alimentação, na região
História da confecção da pa- Adolfo, San Vita, Mariano, Célia da Grande São Pedro.
nela de barro capixaba no mo- Sampaio e Maurílio Gualandi),
mento em que houve risco de apresentando um espetáculo de Nasce uma cidade
extinção de sua produção, por dança que causou polêmica em de Amylton de Almeida
causa da urbanização e da fal- Vitória em 1983. DocuMentÁrIo, 57', víDeo,
ta de reconhecimento de sua cor, 1989, carIacIca (es)
importância para a cultura do Diga adeus a
Espírito Santo. Lorna Love A ocupação de um novo bairro
de Sergio de Medeiros em Cariacica: Itanhenga.
Balduíno, El Africano FIcção, 30', víDeo, cor,
de Cloves Mendes 1988, vItórIa (es) O inferno
DocuMentÁrIo, 13', víDeo, de Éden Dionisíaco do Brasil
cor, 1989, vItórIa (es) Adaptação de quatro contos do eXperIMental, 12', víDeo,
livro homônimo de Francisco cor, 1989, vItórIa (es)
Documentário sobre Balduíno, Grijó. Primeira produção do
El Africano, o Rei da Pandere- Projeto de Pesquisa Linguagem Performance de criação coletiva,
tologia – poeta, artista de circo Imagética. releitura do Inferno de Dante.
e exímio tocador de pandeiro. Originalmente produzido para
Dos reis magos o encerramento do espetáculo
A Premiado no Festival de Trieste aos tupiniquim cênico “Quadros Bíblicos”, do
(Itália) de Orlando Bomfim Netto Éden Dionisíaco do Brasil.
DocuMentÁrIo, 10', 35MM,
Corpo a corpo – todos cor, 1985, serra (es) Os votos do
os sonhos do mundo Frei Palácios
de Iberê Cavalcanti Os movimentos culturais na de Ramon Alvarado
DraMa, 87', 35MM, cor, 1984, rIo Vila de Nova Almeida e a restau- DocuMentÁrIo, 8', 35MM, cor,
De JaneIro (rJ) e guaraparI (es) ração do altar da Igreja dos reis 1980, vItórIa e vIla velHa (es)
magos são pano de fundo para
O filme narra a saga da tra- uma síntese história do Brasil. Documentário sobre a vida do
dicional família do industrial Frei Pedro Palácios, a partir da
Gastão Odem, que entra em Graúna Barroca memória arquitetônica, pictó-
mergulha em profunda crise de Ronaldo Barbosa rica e iconográfica.
após o falecimento da matriar- eXperIMental, 19', víDeo, cor,
ca Ângela. Revelam-se, então, 1989, vItórIa e FunDão (es) O último quilombo
segredos guardados às sete cha- de Amylton de Almeida
ves e o que se desvela é um Criado a partir da interferência DocuMentÁrIo, 43', víDeo, cor,
quadro dramático permeado do artista Ronaldo Barbosa na 1979, vItórIa e são Mateus (es)
por opressão, medo e violência. praia do Rio Negro, norte do
Espírito Santo. Aborda a Comunidade Espírito
A Melhor filme no I Rio Cine Fes- Santo, em São Mateus, formada
tival, 1984 A Medalha de Ouro no Philadelphia por descendentes de escravos
Film Festival (EUA, 1991) A Melhor que sobrevivem de atividades
Videoarte, 33º Festival de Cinema e herdadas de seus antepassados.
TV de Nova Iorque (1991) A Special
Merit Awards, 15º Festival de Vídeo A Vencedor do 3º Festival de Verão
de Tokyo – JVC ( Japão, 1992) da Rede Globo (1980)

1980 — 1999 85

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Piúma – Conchas Sinais de fascismo
de Amylton de Almeida de Sergio de Medeiros
DocuMentÁrIo, 51', víDeo, FIcção, 70', super-8, cor,
cor, 1988, pIúMa (es) 1980, vItórIa (es)

Documentário realizado para História real de um menor


resgatar a identidade cultural preso na delegacia de Argolas,
de Piúma através do seu arte- em Vila Velha. O fato desper-
sanato de conchas. ta a curiosidade da imprensa,
que passa a investigar o caso.
Receita artesanal É descoberto um esquema em
de Douglas Lynch que policiais civis são acusados
DocuMentÁrIo, 15', 16MM, cor, de torturar e vender crianças
1988, lItoral capIXaba (es) para exploração sexual.

Um panorama da situação dos


pescadores do litoral do Espíri-
to Santo; revela os segredos da
receita da moqueca capixaba.

A Roteiro vencedor do concurso


Ludovico Persici promovido pelo
Departamento Estadual de Cultura
de Vitória (ES) (1986) A Prêmio
especial do júri no IV Rio Cine
Festival, Rio de Janeiro (RJ) (1989)

Refluxo
de Sergio de Medeiros
FIcção, 33', víDeo, cor,
1986, vItórIa (es)

Ficção científica ambientada


num futuro pós-apocalíptico.
Criação coletiva do grupo co-
nhecido como Balão Mágico.

Santa Maria Julião


de Sergio de Medeiros
FIcção, 8', 16MM, cor,
1980, vItórIa (es)

Antenor, um senhor de idade


que vive solitário, encontra-se
em avançado estado de deca-
dência física e psicológica. Ele
ocupa seu tempo entre relem-
brar uma musa do passado e
perseguir um rato que sempre
deixa escapar, por ser seu único
companheiro. A história é nar-
rada do ponto de vista do rato.

86 Plano Geral

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1990 — Autobiografia de Cachoeiro em três tons
todo mundo de Clóves Mendes
1-2-3 Terezinha Remix de Lobo Pasolini DocuMentÁrIo, 33', betacaM, cor,
de Lobo Pasolini FIcção/eXperIMental, 8', super 1994, cacHoeIro Do ItapeMIrIM (es)
eXperIMental, 6', super-vHs, vHs, cor, 1998, vItórIa (es)
cor, 1995, vItórIa (es) Três gerações de uma família
Video que se apropria do for- de músicos capixabas: o maes-
Releitura irônica da estória de mato de um talk show para tro Raul Gonçalves Sampaio,
Terezinha de Jesus, atravessa- explorar a obsessão por cele- o compositor Raul Sampaio
da pelos signos da cultura pop bridade, a moda e a cultura pop Cocco e o cantor e compositor
de consumo. em geral. Sérgio Sampaio.

A lenda de proitner A Melhor Vídeo no 6º Vitória Comida, sexo e morte


de Luiza Lubiana Cine Vídeo de Lobo Pasolini
FIcção, 21', 16MM, cor, FIcção, 5', super-vHs,
1995, rIo bonIto (es) Bem-vindos ao paraíso cor, 1992, vItórIa (es)
de Marcos Figueredo
Menino vive acorrentado pela FIcção, 9', 16MM, cor, 1998, Performance colaborativa do
perna em uma choupana às santa leopolDIna (es) grupo Éden Dionisíaco do Bra-
margens de uma lagoa. Ele ob- sil, concebida por Lobo Paso-
serva o mundo por uma fresta, Três irmãos órfãos vivem iso- lini e filmada em um casarão
absorvendo o comportamento lados em uma região monta- em ruínas.
de um casal de velhos bizarros, nhosa do interior do Espírito
que são seus algozes. Quando Santo, habitada por colonos de Costa Pereira – a
cresce, liberta-se do cativeiro origem germânica. A trama se história de uma
e tende a repetir o comporta- constrói com relação incestuo- cidade contada a
mento aprendido na infância. sa e crime passional. partir de uma praça
de Clóves Mendes
A Troféu Caxiponé – Filme Reve- C.3.3 Oscar Wilde DocuMentÁrIo/FIcção, 35', cor,
lação Festival de Cuiabá (MT), 1997 de Jean R betacaM, cor, 1995, vItórIa (es)
DocuMentÁrIo, 10', betacaM,
A miragem das fontes cor, 1999, vItórIa (es) Costa Pereira foi governador
de Gelson Santana de várias províncias, inclusive
FIcçÂo, 12', 16MM, cor, Conta a história dos últimos do Espírito Santo. Aqui, trou-
1990, nIteróI (rJ) 10 anos de vida do escritor ir- xe desenvolvimento em ple-
landês Oscar Wilde. A história no período do Império. Este
A ânsia humana em sua busca se passa na Inglaterra do fim documentário ficção relata a
pela identidade. A percepção do século XIX, e narra desde história da praça que leva seu
da resposta contida em si, no o envolvimento com o jovem nome, contada pelo próprio
próprio interior. inglês Lord Alfred Douglas, até Costa Pereira, em uma atuação
o julgamento, prisão e morte “fantasmagórica”.
no exílio.

A Melhor vídeo no 6° Vitória Cine


Vídeo, 1999 A Melhor vídeo no 1°
Festival de Cine-Vídeo da Amazô-
nia, Porto Velho (RO)

1980 — 1999 87

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De amor e bactérias Fica comigo Fuga de Canaã
de Virginia Jorge de Tizuka Yamasaki de Sergio de Medeiros
FIcção, 12', betacaM, FIcção, 98', 35MM, cor, FIcção, 110', víDeo, cor, 1991,
cor, 1999, vItórIa (es) 1996, guaraparI (es) vItórIa e santa leopolDIna (es)

Qual é a semelhança entre A desordem afetiva do mundo A história da família de imi-


uma senhora em uma cadeira de uma adolescente é discutida grantes alemães Jank e a série
de rodas e um barquinho na pela relação de amor entre Bel de tragédias que a atormenta
superfície seca de uma mesa? e seu pai. no município de Santa Leopol-
Qual a relação entre um moi- dina. Adaptação do romance
nho de milho e as bactérias A Melhor atriz para Luciana Riguei- homônimo de Renato Pacheco.
no interior de uma vaca? Estas ra no Festival de Gramado (1996)
e outras respostas você pode Ilha do Rock
procurar, e talvez até encontre, Flora de Dan Zecchinelli,
neste pequeno filme que quer de Marcel Cordeiro Nazareth Pirola, Andrea
olhar onde ninguém quer ver. FIcção, 15', 35MM, cor, 1996, Zuchi e Beto Castelluber
DoMIngos MartIns (es) DocuMentÁrIo, 25', víDeo,
A Melhor vídeo universitário no cor, 1993, vItórIa (es)
Festival Vide Vídeo UFRJ (Rio de Anos 1940. Flora vive a ilusão
Janeiro, RJ, 2000) A Melhor su- do retorno do marido, sumido Um mapa da emergente cena
per-8 no 23º Festival Guarnicê de há sete anos. Chega à cidade roqueira da Grande Vitória no
Cinema (São Luis, MA, 2000) e quer informações sobre as começo da década de 1990, a
saídas de trem. As duas vidas se partir de oito bandas: Urublues,
Ecótono entrelaçam. O rapaz se envolve The Rain, Illness, Lordose pra
de Tati Rabello, Rodrigo com os delírios de Flora. Leão, Porrada!!!, Camisa de For-
Linhales e Larissa Machado ça, Skelter e Clube Big Beatles.
DocuMentÁrIo, 5', betacaM, A Melhor Atriz – Regina Braga,
cor, 1999, vItórIa (es) Rio Cine Festival – Rio de Janeiro Incêndio nas mentes
– RJ (1996) de Amylton de Almeida
Vídeo ensaio sobre a cidade de DocuMentÁrIo, 45', víDeo, cor,
Vitória, produzido para exposi- Gringa miranda 1990, aFonso clÁuDIo (es)
ção na Casa Porto de Artes em Direção coletiva
comemoração ao 448º aniver- FIcção, 12', 16MM, cor, Investigação sobre a crueldade
sário da cidade. 1995, vItórIa (es) contra descendentes de imi-
grantes europeus no Espírito
Eu sou Buck Jones Uma estrangeira chega ao Santo durante a Segunda Guer-
de Glecy Coutinho Brasil e, deslumbrada com a ra Mundial.
FIcção, 20', 16MM, cor, 1997, tropicalidade, torce a perna
DoMIngos MartIns (es) ao tentar imitar Carman Mi- Kazhumbi Ojo Kalunga
randa. No hospital, conhece (Mal das águas)
Baseado em um fato real ocor- uma enfermeira que a leva a de Sidemberg Rodrigues
rido em 1943, no interior do um pai-de-santo, onde “baixa FIcção, 58', vHs, cor,
Espírito Santo, o filme nar- o espírito” de sua musa. Tudo 1992, vItórIa (es)
ra a fascinação de um garoto termina numa escola de sam-
pelo cinema, fato que o leva ba com a gringa fantasiada de Os habitantes da aldeia de
às últimas consequências para Carmen Miranda em um happy Koanhama jamais poderiam
assistir ao último capítulo do end. Entretanto, no final, um imaginar as consequências da
seriado que tem o maior ídolo pequeno imprevisto acontece... condenação de um feiticeiro à
do faroeste americano daquele fogueira. Apesar da ligação dos
tempo: Buck Jones. seus rituais com a morte de
crianças da tribo e com a seca
A Melhor ator capixaba (para João que reduziu as lavouras, sacrifi-
Vitor Marangoni) no IV Vitória cá-lo pode ter libertado a fúria
Cine Vídeo, 1997 de outro vilão: um tubarão.

88 Plano Geral

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Labirintos móveis Na parede, na O amor está no ar
Direção coletiva toalha, no lençol de Amylton de Almeida
FIcção, 12', 16MM, cor, de Virgínia Jorge, FIcção, 82', 35MM, cor,
1998, vItórIa (es) Luciana Gama, Lizandro 1997, vItórIa (es)
Nunes, Ursula Dart
Um grupo de amigos se reúne DocuMentÁrIo, 20', betacaM, Lora Berg é uma mulher de ori-
para comemorar o noivado de cor, 1998, vItórIa (es) gem germânica, culta, solitária,
Fred e Soraya. Alguém suge- sofisticada, que apresenta um
re o registro em foto, mas a Documentário sobre o mo- programa de encontros amoro-
câmera está sem filme. Todos vimento cineclubista que re- sos numa rádio AM de Vitória.
concordam em escrever um constrói, a partir dos relatos de Ela se envolve com Carlos Hen-
poema, passando de mão em seus principais participantes no rique, um jovem de 22 anos,
mão. Na medida em que cada Espírito Santo, a atmosfera de desempregado e semianalfabe-
um escreve, surgem episódios um movimento que desejava to, que deixou o interior para
reveladores que aconteceram transformar a vida das pessoas morar na periferia de Vitória.
no réveillon do ano anterior, por meio do cinema. Após certo tempo, o romance
que são lembrados com humor revela imensas dificuldades
e tristeza. Afinal, os “labirintos” A Melhor Vídeodocumentário no provocadas pelas diferenças.
das relações humanas podem Festival de Vídeo da Paraíba, 1999 A
ser traiçoeiros. Prêmio especial do júri no Festival A Melhor atriz para Eliane Giardini
de Cinema e Vídeo de Curitiba, 1999 no Festival de Gramado (RS), 1997
Lamarca
de Sérgio Rezende O amor e o humor na O ciclo da paixão
FIcção, 130', 35MM, cor, música brasileira dos de Luiz Tadeu Teixeira
1994, espírIto santo, rIo séculos XVIII e XIX FIcção, 13', 35MM, cor,
De JaneIro e baHIa de Sergio de Medeiros 1999, vItórIa (es)
FIcção, 15', 35MM, cor,
Baseado na vida de um dos 1998, vItórIa (es) História de amor em quatro
mais importantes e pesquisa- estações (o encontro, a desco-
dos líderes da luta armada no O encontro de quatro persona- berta, a entrega e o desencon-
Brasil, o capitão do Exército gens em uma taberna de beira tro) conduzida por um “caçador
Carlos Lamarca, morto aos 33 de estrada, entre a corte do de imagens” que vagueia pela
anos, em 1971, pelos órgãos de Rio de Janeiro e Vila Rica de cidade durante a madrugada.
segurança do regime militar. Ouro Preto, em uma noite de
1801. Enquanto bebem vinho e A Prêmio especial do júri no VII
A Troféu APCA de melhor ator aguardam o amanhecer para se- Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES)
para Paulo Betti (1995) A Melhor guir viagem, eles contam cau- (2000)
ator coadjuvante para Eliezer de sos e cantam belas e curiosas
Almeida no Prêmio Cidade de São canções da época. Baseado no O enforcado
Paulo de Cinema (1995) espetáculo No caminho de Vila de Virgínia Jorge, Ana
Rica, do maestro Sérgio Dias. Cristina Murta, Alexandre
Múltiplos de um Serafini e Alexandre Vassena
de Tati Rabello, Rodrigo FIcção, 3', super-8, cor,
Linhales, Leonardo Taffuri 1998, vItórIa (es)
e Larissa Machado
eXperIMental, 4', betacaM, Após uma consulta de tarô,
cor, 1998, vItórIa (es) e Walbério e o tarólogo charlatão
ouro preto (Mg) descobrem que é impossível
enganar o destino.
Retrato de um indivíduo que se
percebe em meio a uma socie-
dade de pessoas comuns.

1980 — 1999 89

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O fantasma da Pacíficos e Ruidosos Roteiro do Banal
mulher de algodão de Tati Rabello, Rodrigo de Joel Vieira Junior
de Margarete Taqueti Linhales, Larissa Machado FIcçÂo, 8', betacaM, cor,
FIcção, 35', 16MM, cor, e Cristiano Vidal 1999, vItórIa (es)
1995, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 12', betacaM,
cor, 1999, vItórIa (es) Como o próprio nome, uma
Livre associação do “fantasma” história de amor despreten-
– que aparecia nos banheiros es- Documentário sobre o Balão siosa, fortemente visual. Uma
colares na década de 1970 – com Mágico, movimento cultural metáfora contemporânea sobre
os tormentos de uma geração de ocorrido em Vitória na década o amor. Baseado em história da
adolescentes, diante da transfor- de 1980. escritora Mara Coradello.
mação biológica do corpo.
A Melhor Videodocumentário no Sacramento
O Guarani 6º Vitória Cine Vídeo de Luiza Lubiana e Ricardo Sá
de Norma Bengell FIcção, 8', super-8/u-MatIc,
FIcção, 91', 35MM, cor, Passo a passo cor, 1992, MatIlDe (es)
1996, rIo De JaneIro (rJ) com as estrelas
de Marcel Cordeiro O filme narra a volta do mito
Adaptação do romance ho- FIcção, 19', 16MM, pb, de São Sebastião. Uma sacer-
mônimo de José de Alencar, 1995, vItórIa (es) dotisa retira-o da árvore e lava
ambientado no início da colo- suas chagas nas águas límpidas
nização portuguesa no Brasil. O sonho de chegar às estrelas de um rio.
Narra o amor de Ceci, filha de leva Alan a percorrer estradas
Dom Antônio de Mariz, pelo e países até chegar a Bricks, A Melhor fotografia e melhor trilha
índio Peri, que recebe a missão no ano de 2079. Numa fave- sonora original no II Festival Nacional
de levar a jovem até o Rio de la pós-apocalíptica, conta-se a de Vídeo de Vitória – Fenavi (1992)
Janeiro, para protegê-la do ata- história deste personagem.
que de índios revoltados pelo Solidão vadia
assassinato acidental de uma A Melhor Curta no festival de de Ricardo Sá
índia Aimoré pelo irmão da Anteprima (Itália, 1996) e Melhor FIcção, 17', 16MM, cor,
jovem. O filme teve cenas fil- filme no Bellaria Cine Festival (Itá- 1997, serra (es)
madas no Convento da Penha. lia, 1995)
Naquela vila esquecida pelo tem-
One man show Rito de passagem po, a chegada de uma visitante
de Lobo Pasolini de Sergio de Medeiros faz aflorar sentimentos adorme-
eXperIMental, 1', vHs, FIcção, 15', u-MatIc, pb, cidos na mente de um pescador
cor, 1991, vItórIa (es) 1996, vItórIa (es) atormentado pela solidão.

Trabalho experimental, reali- A proposta do filme é um exer-


zado em parceria com Rosana cício de metalinguagem que
Paste. integra elemtntos da denúncia
cinematográfica com denún-
A Vídeo Revelação no 4º Vitória cias em torno do desapareci-
Cine Vídeo mento de crianças no Brasil.
Quantas serão sacrificadas em
rituais de magia negra?

90 Plano Geral

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Tempestade em Vydeo
Akkarrar de Nenna
de Ricardo Sá eXperIMental, 40', víDeo,
FIcção, 15', betacaM, cor, cor, 1995, vItórIa (es)
1997, vItórIa e serra (es)
Experimento audiovisual rea-
Um chalé é o estopim de uma lizado pelo artista Multimídia
tragédia envolvendo um pes- Nenna.
cador, uma vadia e uma beata.

TV reciclada
de Arlindo Castro
DocuMentÁrIo, 28', vHs,
cor, 1992, vItórIa (es)

Documentário ensaístico sobre


a TV reciclada; a hipócrita cor-
dialidade cotidiana numa ten-
tativa de se expressar verdadei-
ramente, ainda que na ficção.

Uacataca Tinguilim
de Federico Nicolai
DocuMentÁrIo, 18', vHs,
cor, 1997, vItórIa (es)

Documentário sobre o vende-


dor ambulante de quebra-quei-
xo e as características que o
doce oferece. Destacando sua
música, pela forma como o
anuncia e a cidade de Vitória,
por meio de seu trajeto e suas
origens familiares.

Vaga para moças


de fino trato
de Paulo Thiago
FIcção, 95', 35MM, cor,
estéreo, 1992, vItórIa (es)

O filme narra a história de


três mulheres vivem em um
mesmo apartamento e dividem
seus dramas e conflitos.

A Melhor cenografia (Clovis Bueno)


A Melhor atriz (Norma Bengell,
Maria Zilda e Lucélia Santos) no
Festival de Brasília (DF) (1993)

1980 — 1999 91

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2000
— 20
no princípio era o verbo, 2005

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00
2009
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Para o alto e avante: expansão e
diversidade do cenário audiovisual capixaba

O panorama pós-retomada

O início dos anos 2000 apontava uma série de boas perspectivas


para o cinema brasileiro, a começar pelo retorno do público aos filmes
nacionais: em 2000, O auto da compadecida ultrapassaria dois milhões de
ingressos vendidos; dois anos depois, seria a vez de Cidade de Deus chegar
a 3,3 milhões; e, em 2003, ano em que Carandiru levaria 4,6 milhões de
pessoas aos cinemas, outros seis filmes também quebrariam a barreira de
um milhão de espectadores. Entre 2000 e 2009, outros 30 filmes ainda
atingiriam essa marca.
A fase conhecida como “retomada” do cinema brasileiro se encerra
em 2002, uma vez que a produção já estava a pleno vapor e todo um novo
público, acostumado com o esquema multiplex dos shopping centers, começava
a se familiarizar com a vertente mais comercial dessa filmografia. Alguns
Estados fora do eixo Rio-São Paulo, ainda que timidamente, a princípio, já
começavam a implantar mecanismos de financiamento de longas-metra-
gens, a exemplo do que ocorrera na década anterior com os curtas. A partir
de 2003, também cresce exponencialmente o número de editais nacionais
para a área audiovisual. Todos esses canais de incentivo público permitiam
que um maior número de obras autorais pudesse obter recursos para sua
realização – e encontrar seu espaço tanto no circuito de festivais nacio-
nais (cujo número saltaria de pouco mais de vinte, em 2000, para mais de
uma centena, cerca de quatro anos depois) e estrangeiros, quanto em uma
rede de cineclubes que enfim renascia, agora apoiada na ampla (e barata)
circulação de cópias digitais dos filmes.
A digitalização também rendeu muitos frutos no campo da produção
audiovisual: a ampla oferta de câmeras de alta resolução e programas de
computador para edição e finalização de som e imagem, a preços muito
mais baratos que os formatos analógicos de cinema (16 e 35 mm) e vídeo
(Betacam Sp) permitiu que muito mais gente pudesse filmar e com uma
frequência bem maior. Por isso, surgiram inúmeras produtoras audiovisuais,
em um mercado que se segmentava a passos rápidos. Se, nos anos 1990, a
aquisição de uma câmera e uma ilha de edição em Betacam exigia quantias
superiores a 100 mil dólares, com menos de 1/10 desse valor era possível
comprar uma boa câmera DV e montar uma ilha digital, já em meados dos
anos 2000. Outros equipamentos, mais simples e baratos, também se popu-
larizaram, abrindo espaço para um boom de oficinas de realização audiovisual
em projetos sociais voltados aos jovens das periferias de grandes cidades.
E a chegada das câmeras fotográficas DSlr, capazes de filmar em HD, já no

2000 — 2009 95

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final da década, intensificariam ainda mais esse quadro de barateamento e
popularização dos meios de produção.
Já no Espírito Santo, os primeiros anos do século XXi testemunharam
os ecos desse processo no cenário local. Embora o setor não tenha obtido a
gigantesca repercussão junto ao público que o cenário musical possuía na
época, e a possibilidade de ser fazer longas-metragens fosse ainda muito
distante, o campo audiovisual teve seu crescimento acelerado e tornou-
se bem mais complexo do que as sementes lançadas na década anterior
permitiam imaginar.
Não somente o número de produções foi diversas vezes multiplica-
do, como vários foram os canais para financiamento dessas empreitadas:
a consolidação da Lei Rubem Braga, em Vitória; o surgimento de novas
leis de incentivo em outros municípios; o florescimento de uma produ-
ção universitária de baixíssimo orçamento e intenso potencial criativo; as
ocasionais seleções de projetos locais em editais nacionais (como Petrobrás
Cultural e o MinC); as quatro edições do Doc-tV (parceria entre MinC,
Fundação Padre Anchieta, secretarias estaduais de cultura e emissoras de
tV públicas), que proporcionaram um salto na produção de documentá-
rios televisivos de média-metragem no Estado1; o Concurso de Roteiros
do Vitória Cine Vídeo (revelando novos nomes e permitindo a realização
de seus filmes de estreia);2 e os editais da Secretaria de Estado da Cultura,
primeiramente restritos à finalização de filmes (desde 2005) e, a partir de
2008, gradualmente ampliados para abrangerem também a produção de
curtas e longas-metragens ficcionais, além de documentários, animações,
videoclipes, webséries, cineclubes, entre outros.
Algumas janelas de exibição também se abriram na televisão local.
Além do Curta Vídeo, da tVe, iniciado em meados dos anos 1990 e centrado
na exibição de curtas e médias-metragens seguidos de entrevistas com

1 Por meio deste edital, foram realizados quatro documentários de média-metragem, a


saber: Viagem Capixaba: Um olhar de Rubem Braga e Carybé, hoje ( João Moraes, 2004), Assim
caminha Regência (Ricardo Sá, 2005), Touro Moreno ( Juliano Enrico, 2007) e Olho de gato
perdido (Vitor Graize, 2009).

2 Esses concursos de roteiro, realizados anualmente pelo festival (exceto em 2003),


garantiam aos vencedores parte dos recursos necessários para a realização dos curtas-
metragens. As três primeiras edições premiaram filmes finalizados no formato 16 mm,
enquanto que os contemplados nos anos seguintes foram finalizados em 35 mm e,
posteriormente, em formato digital. Em 16 edições do concurso, foram contemplados
os seguintes roteiros (note que, em parênteses, consta a data do concurso, não a de fi-
nalização; seguida do nome do roteirista, que não necessariamente é o diretor do filme):
Macabéia (1998, Erly Vieira Jr); Escolhas (1999, Ana Cristina Murta); Mundo cão (2000,
César Chaia, Sérgio Marangoni, Poliana Cogo e Saskia Sá); Manoela (2001, Aristeu Carlos
Simões); A passageira (2002, Glecy Coutinho); Primeira Paróquia do Cristo Sintético (2004,
Gabriel Menotti), Vanessa (2005, Rebeca Monteiro Tosta); Agrados para Cloé (2006, Jefinho
Pinheiro); Dia de sol (2007, Virgínia Jorge); Raiz que racha a rua (2008, Alexandre Serafini);
A ladeira (2009, Iza Rosemberg); Pela parede (2010, Lucas Bonini e Wayner Tristão); Pique
esconde (2011, Dominique Lima); Doppelganger (2012, Giandro Gomes); Talvez amanhã (2013,
Jefinho Pinheiro); Intenso (2014, de Ricky Fundão de Oliveira Negreiros). À exceção do
roteiro de Rebeca Monteiro Tosta, todos os outros curtas foram realizados – os dois
últimos vencedores, atualmente, estão em fase de produção.

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seus diretores, também podemos destacar o Produção Independente, da tV
Assembleia, e a exibição, em meados da década, de alguns curtas-metragens
no domingo à noite, pela tV Gazeta, num projeto que teve vida bastante
curta. A partir de 2003, entra no ar, no Canal Universitário, o programa
Bitola, produzido pela tV Faesa (uma das emissoras que compõem o Canal),
também exibindo curtas e entrevistando realizadores, mantendo-se no
ar até os dias de hoje. Já em rede nacional, alguns filmes conseguiram
ser exibidos em programas como o Zoom (da tV Cultura de São Paulo),
Curta Brasil (da tV Educativa do Rio de Janeiro) e na programação do
Canal Brasil. Já na segunda metade da década, a internet passa a ser um
meio privilegiado para a difusão audiovisual, em especial em sites como
o YouTube e o Vimeo.

A ampliação do circuito de festivais

Em termos de mostras, presenciamos o crescimento e a consolidação


do Vitória Cine Vídeo como um dos principais festivais do país, servindo
inclusive como plataforma para lançamento nacional de vários curtas e
médias locais. Outros festivais foram surgindo, alguns com recortes especí-
ficos: a MoVa Caparaó, que teve sete edições anuais, entre 2004 e 2010, era
voltada para o vídeo ambiental, enquanto a produção universitária contou
com a mUV (Mostra Universitária de Vídeos), com três edições entre 2004 e
2006, e o rec, realizado pelo curso de comunicação da FaeSa, surgido em
2005 e que, a partir do ano seguinte, passou a ser uma mostra competitiva
nacional, até sua quinta e última edição, em 2009.
Outro festival de vida curta (seis edições), mas bastante importante foi
o Festival de Jovens Realizadores Audiovisuais do Mercosul, realizado em
conjunto por entidades do Espírito Santo (Instituto Galpão e Instituto Marlin
Azul) e do Ceará (Aldeia Audiovisual), alternando-se entre as capitais dos
dois Estados, sendo que a primeira, terceira e quinta edições (2004, 2007
e 2009), foram realizadas em Vitória. Voltado para a circulação de filmes
dirigidos por adolescentes e jovens, em sua maioria oriundos de oficinas de
inclusão audiovisual, o festival articulou uma rede entre núcleos e projetos
sociais de todo o país, inclusive alguns bastante atuantes no Espírito San-
to. Ainda no campo da inclusão audiovisual, vale lembrar que o Instituto
Marlin Azul esteve à frente de várias iniciativas importantes e premiadas,
como o ima.Doc (de produção de vídeo-documentários), o Núcleo Animazul
(oferecendo capacitação de longa duração para a produção de animações) e
o Projeto Animação, que esteve em ação entre 2002 e 2010, e cujos filmes
envolviam a participação de centenas de estudantes da rede pública, de
ensino fundamental e médio, realizando anualmente curtas-metragens de-
correntes de oficinas práticas, como os multipremiados Mangue e tal (2002)
e Portinholas (2003), este último inspirado em livro infantil de Ana Maria
Machado e ambos agraciados com a Menção Honrosa do XXVi Festival do
Novo Cinema Latino-Americano de Havana, Cuba. Vale lembrar ainda que
dezenas de outros núcleos e projetos de inclusão audiovisual surgiram no

2000 — 2009 97

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1

1 exterminador
2 olhos Mortos

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decorrer da década, oferecendo inúmeras oficinas de realização, muitas vezes
contando com estudantes universitários ou profissionais recém-formados
como instrutores.
Dos festivais surgidos nesse período, o mais importante e duradouro é
a Mostra Produção Independente, realizada pela aBD Capixaba, (Associação
Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas), braço local da principal
entidade nacional de cineastas independentes. A Mostra, iniciada em 2004,
é realizada anualmente, tendo chegado, em 2014, à sua décima edição (nos
anos de 2005 e 2013, ela não foi realizada). Ela possui uma seção competitiva,
exclusiva para filmes realizados no Espírito Santo, incluindo ainda mostras
especiais de acordo com o tema de cada edição, sessões de lançamento de
curtas e longas, além da distribuição de um DVD-coletânea com os filmes
concorrentes e da revista-catálogo Milímetros, espaço importantíssimo para
discussão e crítica do cinema capixaba contemporâneo.
Funcionando como um amplo panorama anual da filmografia capixaba,
o evento revelou vários novos cineastas em suas premiações, como Rodrigo
Aragão, um dos principais mestres do cinema brasileiro de horror. Embo-
ra já trabalhasse com cinema desde 1994, no campo dos efeitos especiais,
Aragão estrearia na direção em 2005, com O Chupa-Cabras, curta-metra-
gem realizado em Guarapari com orçamento de apenas 300,00 reais, e que
levaria os troféus de melhor filme pelo Júri Oficial e pela Confederação
dos Cineclubes da ii Mostra Produção Independente, no ano seguinte. Ele
ainda venceria a Mostra novamente em 2014, quando Mar Negro receberia
o troféu de Melhor Ficção.
Outros nomes revelados pela Mostra incluem Alberto Labuto (Fra-
casso, prêmio Desconstrução – Melhor Filme, em 2008) e a dupla Ramon
Zagoto e Natanael Souza (Melhor Vídeo capixaba por Maicou Diéquision, em
2009). Já na década seguinte, seria a vez de Mariana Preti (Melhor Filme
e Melhor Direção por Romance a la Nelson, em 2012); André Ehrlich Lucas
e Lucas Veteski (Melhor Documentário por Espírito Santo Futebol Clube,
também em 2012); e Elisa Capai (Melhor Documentário por Tão longe é
aqui, em 2014).3 A fundação da aBD Capixaba, em 2000, também foi um
passo importante para os realizadores locais. Como entidade de classe, ela
foi peça fundamental em uma série de reivindicações dos profissionais
junto ao poder público, como editais, leis de incentivo e outras iniciativas
para fomento, circulação e memória do audiovisual capixaba, como o Ca-

3 Entre os não-estreantes, também há uma farta lista de premiados: Jefinho Pinheiro


(Melhor Ficção e prêmio do Júri Popular, por Dores e odores, na I Mostra, em 2004); Ricardo
Sá (Melhor Documentário em 2004, por O cordel dos Atingidos e Melhor filme por A es-
trada silvestre, em 2010); Bob Redins (Prêmio do Júri popular em 2006, por Em busca da
Glamourânssia 2); Erly Vieira Jr (Prêmio Reconstrução – Melhor Filme em 2008, por Eu
que nem sei francês); João Moraes e Leonardo Gomes (Melhor Vídeo em Negro & Negro, por
N’ Goma – Jongos do Sul Capixaba, em 2009); Juliano Enrico e Raul Chequer (Melhor Ficção
por Raquetadas para a Glória, em 2011); Klaus Berg Bragança (Melhor Documentário por
Locus, em 2011); Luiz Eduardo Neves (Melhor Videoclipe por Mais Loko, em 2012); Diego
Scarparo e Henrique Gomes (Melhor Animação, por Sangue e Rosa, em 2014) e Carolini
Covre (Melhor Videoclipe por Onde está o grande tema?, em 2014).

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tálogo de filmes: 81 anos de cinema no Espírito Santo, publicado em 2007. Seu
primeiro presidente, durante o biênio 2000-2002, foi o documentarista
Orlando Bomfim, a quem se seguiram Luiz Tadeu Teixeira, Sáskia Sá (por
dois mandatos consecutivos), Carla Osório, Alexandre Serafini e Ricardo
Sá, seu atual presidente.

Novas salas de cinema e o renascimento do cineclubismo

Quanto aos espaços tradicionais de exibição, observou-se a rápida mul-


tiplicação de salas de cinema em shopping centers, embora a maioria apenas
cedesse espaço para os poucos longas-metragens nacionais contemplados
com lançamentos de grande porte por grandes distribuidoras. Duas salas
na cidade de Vitória, contudo, graças a seu perfil de exibição voltado ao
circuito independente, configuram-se durante todo o período como espa-
ços de resistência, abrigando lançamentos de filmes capixabas, mostras e
festivais: o Cine Metrópolis, na Ufes, e o Cine Jardins, em Jardim da Penha.
Vale lembrar que, nos anos de 2003 e 2004, o Museu de Arte do Espírito
Santo (maeS) realizou exibições gratuitas do projeto 10 Maes Vídeo, que
consistia em programas com uma a duas horas de duração, com curadoria
da cineasta Margarete Taqueti. A cada dez dias, o conjunto da obra de um
realizador local – sendo a maioria videoartista – ficava em cartaz, havendo
ainda um debate após a sessão de abertura de cada programa.
O Espírito Santo também foi um dos protagonistas do renascimento
do movimento cineclubista, a partir de 2003, quando o Ministério da Cul-
tura criou uma série de linhas de fomento para a implantação de espaços
alternativos de exibição pelo Brasil. Um dos principais articulistas do mo-
vimento é o capixaba Antônio Claudino de Jesus, cujo trabalho resultou na
implantação de uma sólida rede formada pelos vários cineclubes criados
no decorrer da década, principalmente em cidades de interior que não
possuíam salas de cinema, tendo como foco principal fazer a ponte entre
o público e a produção audiovisual independente brasileira.
No entanto, foi uma iniciativa de um grupo de então estudantes
universitários que mudaria radicalmente a forma de se pensar salas al-
ternativas de exibição em todo o país, como conta o pesquisador Gabriel
Menotti em seu texto “Pirate Film Societies” (2014). Surgido em 2003,
em um fértil período de ativismo estudantil na Ufes (e depois oficializado
como um projeto de extensão), agregando estudantes de Comunicação,
Psicologia e Artes, o Cine Falcatrua foi um coletivo que organizava exibi-
ções gratuitas de filmes utilizando computadores domésticos e projetores
emprestados pela própria Universidade e tendo como fonte principal
para sua programação os filmes disponíveis nas redes de compartilha-
mento peer-to-peer (p2p) da internet. As sessões semanais, usualmente
às quartas-feiras, apresentavam cópias “piratas” de alguns dos principais
lançamentos cinematográficos situados fora do circuito blockbuster – e
que, em uma cidade como Vitória, então com poucas salas de cinema,
demorariam meses para finalmente entrar em cartaz, ou jamais seriam

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exibidos. Filmes como Fahrenheit 11/9 (2004), de Michael Mooree Kill Bill,
Vols. 1 e 2 (respectivamente 2003 e 2004), de Quentin Tarantino, foram
exibidos meses antes de entrarem em cartaz no Brasil. A prática de do-
wnload de arquivos digitais e legendagem de filmes para o português,
embora fosse uma infração explícita aos imperativos do copyright, bem
como sua exibição pública, muitas vezes ocorrida ao ar livre no campus da
própria universidade (para acomodar o imenso público que frequentava
as sessões), configuravam o modus operandi do grupo, talvez o primeiro
cineclube digital brasileiro – em uma época em que raríssimas eram as
salas de cinema digital “oficiais” do país.
Questionava-se, assim, uma série de questões inerentes ao circuito
das salas de exibição, desde os critérios de curadoria baseados na disponi-
bilidade de cópias físicas (e os diversos custos inerentes à sua utilização,
que eram praticamente zerados com a adoção de cópias digitais) até a
própria experiência de se assistir um filme, explorando possibilidades que
iam muito além do clássico dispositivo cinematográfico da sala escura –
sem contar as estratégias de divulgação, que aliavam a colagem de cartazes
fotocopiados pelas paredes do campus universitário à utilização das redes
sociais mais populares da época (Orkut e Fotolog), em uma atualização da
lógica do it yourself para o contexto da comunicação mediada por redes. Em
poucos meses, a fama do Cine Falcatrua chegara ao resto do país – e até
mesmo aos olhos e ouvidos de entidades de proteção de direitos autorais
e distribuidoras de filmes exibidos ilegalmente pelo coletivo, como a Lu-
mière e a Europa Filmes, que chegaram a processar a Ufes por violação de
direitos autorais.
Em lugar de se configurar como uma derrocada, tal episódio acabou
reinventando o próprio coletivo, que passou a contar com o apoio de di-
versos cineastas brasileiros para a exibição de seus filmes, e com a chancela
do próprio movimento cineclubista. O uso de cópias digitais inclusive ins-
pirou o Ministério da Cultura a criar um programa de Pontos de Difusão
Digital, que proveria núcleos em todo o país com equipamentos digitais
para projeções, utilizando cópias de filmes nacionais fornecidas pela Pro-
gramadora Brasil, com direitos autorais flexibilizados para exibições não
comerciais – procedimentos que seriam fundamentais para a eclosão de
novos cineclubes nas mais diversas cidades. O Cine Falcatrua continuaria
em atividade até 2008, centrando seu foco em discussões curatoriais e de
artes visuais, e promovendo pelo Brasil afora uma série de festivais que
questionavam a própria experiência do espectador.4

4 Entre eles, destacam-se: Mostra de Conteúdos Livres (2005), somente com filmes rea-
lizados em copyleft, CreativeCommons ou outras licenças de flexibilização de direitos
autorais; Agosto Cinema Clube (2005), festival para discussão de filmes em mesa de bar;
Festival Corta-Curtas (2006), em que o projecionista escolhe, no momento da exibição,
quais trechos de filmes seriam apresentados; Kino-Arcade (2006), híbrido de mostra de
vídeos e cine-campeonato de fliperama; Se repete como farsa – Mostra internacional de filmes
de intervenção urbana (2007); Festival-Dispositivo (2007), um festival espacializado, calcado
em videoinstalações e exclusivo para filmes de planos-sequências; e o Laboratório de
Roteiro Pornô (2008).

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1

2 3

1 no princípio era o verbo


2 baseado em histórias reais
3 Macabéia
4 céu de anil

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A geração da virada do século

Tendo como pano de fundo o cenário descrito até aqui, bem mais
consolidado que o das décadas anteriores, a produção de filmes multiplicou-
se exponencialmente, chamando atenção por sua riqueza e diversidade. Já
em um primeiro momento, ela ganha visibilidade no circuito nacional de
festivais de cinema, ancorada por alguns filmes realizados por jovens cineas-
tas, selecionados para diversas mostras em todo o país e recebendo diversas
premiações. Três deles são os carros-chefes dessa primeira metade da década:
Macabeia (2000), Baseado em histórias reais (2002) e No princípio era o verbo (2005).
Macabeia é uma releitura irônica e humanista da personagem Ma-
cabéa, do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector (embora não seja
uma adaptação literária), transposta para o universo kitsch e colorido dos
subúrbios da Grande Vitória na virada do século. Escrito por Erly Vieira Jr
(que divide a direção com Lizandro Nunes e Virgínia Jorge), foi o primeiro
ganhador do Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo (1998) e reuniu
boa parte da equipe dos curtas Labirintos móveis e De amor e bactérias. Sele-
cionado para quinze festivais (mais da metade dos festivais brasileiros da
época), ele recebeu seis prêmios, sendo três deles no Festival de Gramado,
em 2001, onde obteve os Kikitos de Melhor Filme, Roteiro e Atriz (para
Janine Corrêa), na categoria 16 milímetros.
Baseado em histórias reais é a estreia na direção de Gustavo Moraes. Ali-
nhavam-se aqui três tramas interligadas, ambientadas no ápice da ditadura
militar: a prisão e tortura de um jovem guerrilheiro após um fracassado
assalto a banco, a pressão policial para que a reportagem não seja publicada
num jornal e uma dona de casa que prepara um bolo. Trata-se de um thriller
ágil, calcado na direção segura e em interpretações marcantes. Selecionado
para mais de 30 mostras dentro e fora do Brasil, o filme conseguiu treze
prêmios, sete deles em festivais estrangeiros, inclusive o Cacho Pallero,
concedido pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional, no 31º
Festival de Huesca, na Espanha (2003).
Já No princípio era o verbo, de Virgínia Jorge, é considerado um dos mais
importantes curtas-metragens brasileiros dos anos 2000. Sua carreira em
festivais é impressionante: foram 14 prêmios, entre eles Melhor Roteiro,
Prêmio Especial do Júri e Aquisição do Canal Brasil, em Gramado (2006).
Além disso, o curta foi o vencedor do I aXn Film Festival, realizado pelo
canal de televisão aXn em 2006, no qual concorreram 564 trabalhos de
vinte países da América Latina.
Rodado em preto e branco, o filme de Virgínia tem sua trama am-
bientada num bar da periferia de Vitória, durante o Carnaval. O ritmo do
cotidiano vai se impondo sutilmente, aos poucos, até envolver o espec-
tador completamente nas prosaicas conversas de bar, com seus causos,
lorotas e filosofias de boteco, sempre em diálogos muito bem-cuidados,
em tom naturalista. É um filme que aposta na oralidade onde o real e o
inventado se confundem: nas palavras do cineasta e crítico Rodrigo de
Oliveira, “uma possibilidade real de transformação da experiência humana
pela palavra”, que se traduz em personagens como “o menino que vira

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1

2 3

4 5

1 nunca mais vi erica


2 Manoela
3 grinalda
4 Meninos
5 escolhas

104 Plano Geral

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caixa de papelão para escutar melhor aquilo que os ruídos da cidade o
impedem de perceber”.
Entre os trabalhos que caracterizariam a híbrida e potente produção
audiovisual da década de 2000, constam importantes obras desses direto-
res. Doses de ironia e humor continuaram sendo, por exemplo, a marca
da obra cinematográfica de Erly Vieira Jr, que realizaria, entre outros, o
falso documentário Saudosa (2005, co-dirigido por Fabrício Coradello) e
uma trilogia com a atriz Letícia Braga: Grinalda (2006), Eu que nem sei francês
(2008) e Avenca (2009). Os thrillers de alta tensão e os videoclipes seriam as
vertentes seguidas por Lizandro Nunes, que dirigiria obras de sucesso como
Céu de anil (2003) e Nunca mais vi Érica (2007). As crônicas do cotidiano,
por sua vez, permaneceriam sendo a opção de Virgínia Jorge durante toda
a década, a exemplo do delicado Dia de sol (2009); enquanto documentário
e ficções seriam os gêneros em que Gustavo Moraes investiria. Entre as
produções, destaca-se a comédia romântica wse ontem (2005, co-dirigida
por Roberto Seba), único representante brasileiro na mostra Shoot Goals,
Shoot Films, do Festival de Berlim (2005), voltada para filmes que tivessem
o futebol como temática.
A variedade de gêneros presentes na produção cinematográfica dos
anos 2.00 deve-se também a importantes trabalhos que iriam aos poucos,
imprimindo a marca de seus diretores. Alexandre Serafini se especializaria
em thrillers de suspense, como Observador (2005) e o extremamente bem-
sucedido 2 e meio (2010), e Ana Murta, que assina A pedra que o estilingue lança
(2009), documentário que revê, quase quarenta anos depois, o impacto da
intervenção do estilingue gigante feita pelo artista Nenna em 1970, e traça
paralelos entre as relações entre memória, afeto e paisagem urbana nesses
dois momentos históricos distintos.
Já Ursula Dart, produtora e diretora de fotografia de diversos curtas,
também desenvolveria sólida carreira como documentarista, realizando,
entre outros, Meninos (2009), documentário de invenção que lança um olhar
microscópico do cotidiano de João Gabriel, um garoto de nove anos, como
tantos outros que vivem na periferia da Grande Vitória. Todas as tardes,
após a escola e enquanto a mãe não chega do trabalho, ele brinca sozinho
com sua espada de plástico, carrinhos, figurinhas, sempre rodeado por
várias grades onipresentes, sejam as do portão da casa, rodeando a varanda
ou vistas de relance pela porta da sala ou janela do quarto, ou mesmo a
da própria programação televisiva. Há aqui ecos de cinema direto, de uma câ-
mera que testemunha em sua invisibilidade a solidão do menino, “e assim
se faz companheira dele e, ao mesmo tempo, tão solitária quanto ele”,
como bem define o crítico e cineasta Rodrigo de Oliveira em seu ensaio
“O cinema do Espírito Santo nos anos 2000”.
Fabrício Coradello dirige, além de Saudosa, os curtas Manoela (2002),
experimento pop-psicodélico estrelado por Helena Santos, e o cáustico
Instruções para suicídio doméstico (2002), emulando os vídeos de instruções
que acompanhavam máquinas de costura e fornos micro-ondas recém-
-adquiridos, em uma crítica direta à mercantilização de tudo, até do que é
interdito e invendável. Já Jefinho Pinheiro irá investigar os dramas humanos

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1 Mundo cão
2 enquanto houver fantasia
3 graçanaã

106 Plano Geral

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fazendo uso de uma impactante mise-en-scène não naturalista, calcada numa
crença na força da palavra, em trabalhos como P.S. Pecados Castigados (2005),
Azulzinho (2007) e, especialmente, o lirismo neobarroco Agrados para Cloé
(2009), sempre trabalhando com o diretor de fotografia Patrick Tristão –
que desde então assinaria a fotografia de diversos curtas e longas capixabas.
Cabe também destacar o trabalho de Carlos Augusto de Oliveira, cujo
Olhos mortos (2002) é uma sensível adaptação de um conto de Tchekhov
para o contexto rural brasileiro, traduzido numa atmosfera marcante e in-
tensa. O cineasta, em seguida, iria dividir sua carreira entre a Dinamarca e
o Brasil, com diversos curtas e longas, sempre marcados por uma direção
de atores extremamente minuciosa, como no premiado longa-metragem
Rosa Morena (2010), realizado em São Paulo.

A produção dos veteranos

Realizadores de outras gerações mantiveram o ritmo de produção


durante toda a década. Luiz Tadeu Teixeira, por exemplo, assina a direção
de dois curtas-metragens de alta voltagem poética: O ciclo da paixão (2000),
narrativa livre que narra o amor em suas quatro estações (o encontro, a
descoberta, a entrega e o desencontro) a partir dos versos de Viviane Mosé
e Caê Guimarães e imagens de alta poesia; e Graçanaã (2006), retorno ima-
ginário do escritor Graça Aranha à região serrana do Espírito Santo, onde
escreveu o romance Canaã, para um acerto de contas com o passado – no
qual o próprio cineasta também interpreta o personagem principal. Gle-
cy Coutinho e Margarete Taqueti mergulham na história de algumas das
principais mulheres escritoras capixabas do século XX, como Maria Stella
de Novaes (Relicário de um povo, 2003) e Haydeé Nicolussi (Festa na sombra,
2005). Também temos novos trabalhos de Orlando Bomfim, Clóves Mendes,
Saskia Sá, Luiza Lubiana e Sebastião Ribeiro Filho, enquanto Marcel Cordeiro
assina o controverso longa-metragem ficcional A morte da mulata (2002).
Mas o veterano com atividade mais intensa no período será Ricardo
Sá: durante o período ele realizou quase uma dezena de documentários de
curta e média-metragem, ora engajando-se em questões ambientais e sociais
(especialmente entre as comunidades indígenas e quilombolas), ora repen-
sando, com altas doses de ironia, o descaso com a memória das tradições
populares, como em Assim caminha Regência (2005) e Procurando Madalena
(2010) – ou ainda juntando as duas coisas, como no lírico A estrada silvestre
(2009), um dos mais bem-sucedidos documentários capixabas, que conduz
livremente o espectador a um passeio entre o que ainda permanece dos
saberes indígenas, quilombolas e pomeranos na contemporaneidade. Já no
campo da ficção, a verve política de Ricardo faz-se presente em dois traba-
lhos de narrativa bastante ousadas, com fortíssimas referências ao Cinema
Marginal dos anos 1960/1970: A sabotagem da moqueca real (2003) e Enquanto
houver fantasia (2006), paródia demolidora do seriado A ilha da fantasia, am-
bientada na Grande Vitória de uma realidade paralela, na qual nós, os visi-
tantes, adentramos sob a calorosa recepção do pitoresco Seu Manoelzinho.

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1

1 Profissão de fé
2 portinholas

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Cinema de bordas

Seu Manoelzinho, ou melhor Manoel Loreno, é pedreiro e cineasta,


e vive em Mantenópolis, um dos mais pobres municípios do interior do
Espírito Santo. Desde a década de 1990, ele vem realizando médias e lon-
gas-metragens em vídeo, com parcos recursos e elenco local, muitas vezes
flertando com o imaginário do faroeste, do romance e do “terrir”. A palavra
“amador” não se encaixa exatamente aqui, sendo mais adequado falarmos
de “cinema de bordas” – conceito criado pela escritora e pesquisadora
Bernadette Lyra pra dar conta de uma produção situada fora dos cânones
cinematográficos e das regras do “bem fazer” audiovisual, realizada muitas
vezes por cineastas autodidatas em regiões periféricas do Brasil, resultando
em filmes miscigenados, verdadeiras “pilhagens” que se apropriam “pelas
beiradas” do imaginário dos gêneros clássicos do cinema de massas, sem
se envergonhar de sua precariedade técnica ou de seu orçamento zero.
Descoberto pela mídia em 2004 e tornado célebre em todo o país, Seu
Manoelzinho tem os seguintes destaques entre sua insólita filmografia, que
ultrapassa uma dezena de títulos: O rico pobre (2002), O homem sem lei (2006)
e A gripe do frango (2008) – todos exibidos na mostra Cinema de Bordas,
realizada pelo Itaú Cultural, em São Paulo.
Também fora dos cânones oficiais, podemos destacar as produções do
núcleo capitaneado por Martin Boldt, em Santa Maria do Jetibá, realizando
desde o final dos anos 1990 diversos curtas, médias e longas-metragens em
vídeo, falados na língua pomerana, e que reúnem toda a comunidade em sua
realização, com o intuito de preservar os costumes e tradições pomeranos,
uma vez que eles não mais existem em sua região de origem (antigamente
situada entre a Alemanha e a Polônia), mas somente nas comunidades de
descendentes da imigração no Espírito Santo.
Ainda como “cinema de bordas”, podemos mencionar as ficções em
curtas e médias-metragem de Mark Miranda, que chegou a obter patrocínio
da Lei Rubem Braga para vários de seus filmes, com destaque para Lasanha e
quatro queijos (2002) e até mesmo o erótico Swing Capixaba (2002), produzido
e dirigido por Clóvis Rosa, e que teve distribuição focada no mercado de
videolocadoras e home video.

A animação conquista espaço

Um campo que finalmente irá deslanchar no Espírito Santo nessa


década é a animação. Embora haja registros de experimentos realizados na
virada dos anos 1970/1980 por um grupo que incluía o artista gráfico Marco
Antônio Neffa e o jornalista Ricardo Conde, é somente a partir de 2000
que essa produção começa a tomar corpo. Além dos projetos inclusivos do
Instituto Marlin Azul (Projeto Animação e Núcleo Animazul), observa-se
também uma grande leva de trabalhos autorais. O primeiro deles é Orelhão
(2000), de André Holzmeister, utilizando técnicas de modelagem e animação
em 3D, recurso que também está presente em trabalhos como Em busca

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1

2 3

1 brilhantino
2 o evangelho segundo seu João
3 Meninos da guarani

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do ZZZ (2001), de Jean R. e Luiza Lubiana e A persistência da luz (2007), de
Camila Lombardi e Davi de Jesus Cáo.
Uma série de trabalhos em 2D (desenho animado) e animação em
flash, desenvolvido por Gabriel Menotti, compõem uma sátira bastante
ácida ao universo das raves e dos clubes de música eletrônica, em especial
nos personagens que participam de uma espécie de “culto” religioso para
o qual só se pode participar se Fluo, hostess da paróquia, for com a cara do
visitante – é o caso de Profissão de fé (2003), A Fluo dança (2003) e Primeira
Paróquia do Cristo Sintético (2010). Menotti também irá desenvolver uma série
de trabalhos conceituais, no campo mais experimental da videoarte, como Pile
Driver Balalaika e Faca só lâmina, ambos de 2008. Já a dupla Wolmyr Alcântara
e Felipe Gaze irá mesclar 2D e 3D em Esta noite tem peleja (2009), baseado
num conto do folclorista Luís da Câmara Cascudo e que recebeu o prêmio
de Melhor Curta-Metragem de Animação no 6º Animaserra (rJ), em 2011.
Experimentando a animação desenhada/pintada diretamente na pe-
lícula, temos o artista plástico Hélio Coelho e a explosão de imagens em
seu Insano Jazz (2009). Já Tati Rabello e Rodrigo Linhales (Mirabólica) irão
realizar Exterminador (2005), mesclando ilustrações e efeitos de computação
gráfica em uma releitura pop contemporânea do mito de Xangô e Oyá, com
forte influência de quadrinhos e do cinema B dos anos 1970. Cabe ainda
destacar Ai de ti (2009), de João Moraes, baseado na crônica homônima de
Rubem Braga e que conta com os desenhos de Diego Scarparo – que seguiria
uma sólida carreira como animador e editor nos anos seguintes.

Uma nova geração de documentaristas

Além de Ricardo Sá, outros nomes irão se dedicar ao documentário,


com resultados bem relevantes. João Moraes realiza Viagem capixaba: um
olhar de Rubem Braga e Carybé, hoje (2004), revisitando o clássico encontro
entre dois dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Em seguida,
empreende um mergulho no folclore capixaba, em filmes como o premia-
do O Evangelho segundo seu João (2006), que enfoca as sábias tiradas de um
veterano mestre de Folias de Reis, capaz de reinventar a própria bíblia para
explicar as origens do folguedo popular ao qual dedicou uma vida inteira,
e N’Goma – Jongos do sul capixaba (2009), co-dirigido por Leonardo Gomes.
Lucia Caus, diretora do festival Vitória Cine Vídeo, realiza o sensível
e premiado Homens (2008), enfocando a temática lgBt e co-dirigido pelo
paraibano Bertrand Lira. Gabriel Perrone assina Nicole (2007), enquanto
que Edson Ferreira realiza diversos trabalhos de temática social e racial
(como Auroras de ébano, de 2005), com destaque para Marcas da Vila (2010),
que investiga as feridas deixadas pelo incêndio no mercado da Vila Rubim,
em Vitória, ocorrido uma década e meia antes. Já Marcus Konká realiza o
longa-metragem Meninos da Guarani (2009), abordando a urgente questão
do extermínio de jovens negros nas periferias das grandes cidades, a partir
dos relatos das famílias que perderam seus filhos na região de Jacaraípe,
no município da Serra.

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1 cave canem
2 cine Falcatrua

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Outros trabalhos de destaque, desta vez abordando o universo musical,
são Vivendo de Rock no ES (2007), de Mila Neri, e No olho da rua (2008), de
Luiz Eduardo Neves, centrado na cena do hip hop local. O próprio realizador
embarcaria, nos anos seguintes, na realização de videoclipes de artistas desse
gênero musical, além de criar o site Panela Audiovisual, verdadeiro banco
de filmes capixabas disponíveis para streaming online.
Há ainda uma série de bons documentários realizados através do
projeto Revelando os Brasis, projeto do governo federal voltado para a pro-
dução audiovisual em municípios de até vinte mil habitantes. No primeiro
ano do projeto (2005), foram realizados, entre outros: Brilhantino (de Ériton
Berçaco), que fala de um ermitão que vive em uma caverna nos arredores
de Muqui, com uma notável fotografia valorizada pelos ângulos insólitos
de câmera; O sonho de Loreno (de Amanda Almondes), em Mantenópolis,
retratando o cineasta Seu Manoelzinho; e Bate-paus (de Jorge Kuster Jacob),
em Vila Pavão, sobre a perseguição sofrida pelos descendentes de pomera-
nos durante a Segunda Guerra Mundial. Outro título a destacar é As últimas
responsadeiras (2007), de Patrick Camporez Mação, rodado em Vila Valério, e
que acompanha um grupo de mulheres que fazem orações (os responsos)
para reencontrar objetos furtados ou desaparecidos. Jorge Kuster Jacob
também realizaria, em 2009, Hochtijd – Casamento pomerano, em parceria
com Adriana Jacobsen, resgatando as peculiaridades de um rito europeu de
origem medieval, ainda presente nos dias de hoje, ainda que atravessado
por novos significados, em especiais o de resistência de uma identidade
cultural e étnica emigrada, e que não mais existe em seu país de origem.

A produção universitária

A partir de 2004, uma nova leva de realizadores começa a surgir,


advindos, em sua maioria, do meio universitário, seja através do curso de
Rádio e tV da Faesa ou dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Ufes, es-
pecialmente ligados a projetos de pesquisa e extensão, como o graV (Grupo
de Estudos Audiovisuais) e o Cine Falcatrua. O que marca essa produção é,
principalmente, um renovado interesse nos experimentos de linguagem,
como o estudo de mise-en-scène empreendido por Salon de La Paix (2004), de
Bob Redins e o flerte com a linguagem do videoclipe, nos documentários
da dupla Bento Abreu e Rodolfo Sily, da produtora Olhos Coloridos, como
Contra maré (2008) e Laja 100 (2012).
Especificamente em trabalhos de realizadores ligados ao graV, essa
experimentação irá se traduzir em engajamentos micropolíticos e perfor-
máticos no real (como Compre na mercearia da esquina, realizado em 2005 por
Vitor Lopes e Vitor Graize, ou Auto-Vitrato, feito em 2007 por Maria Inês
Dieuzeide), ou no flerte com vertentes contemporâneas do documentário,
como o filme-dispositivo, em trabalhos como Rodrigo, Gustavo e Marcelo
(2006), de Vitor Lopes (vencedor de Melhor curta no ii festival rec) e Cave
Canem (2007), de Heraldo Borges, Marijana Mijoc, Hugo Reis e Maria Inês
Dieuzeide, selecionado para o Festival de Hamburgo, na Alemanha, em 2007.

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Esse pensamento conceitual do documentário ecoará em empreitadas
mais ambiciosas, como O Aleph (2007), de Hugo Reis e William Sossai, re-
gistro do processo de gravação do cD homônimo de Fabiano Araújo, filme
que impressiona pelo apuro visual e sonoro; e Olho de gato perdido (2009),
de Vitor Graize, documentário de criação que mergulha na ausência de
um filme tido como desaparecido há décadas, e que lança mão de várias
estratégias experimentais tanto para resgatar as memórias dos entrevistados
quanto para engajar o espectador nessa busca. Outro trabalho de destaque
é Não é só uma passagem (2005), de Igor Pontini, registro, nos moldes do
cinema direto, das manifestações estudantis ocorridas no mesmo ano contra
o aumento da passagem de ônibus e que, para o crítico Rodrigo de Olivei-
ra, seria o projeto de maior impacto político do cinema capixaba recente,
“porque não só há respiro, como ele é ofegante: o filme que participa da
manifestação e toma tiro da polícia tanto quanto aqueles a quem registra
em imagem, cinema e realidade colados de maneira radical”.
Há também a busca por novas temáticas, até então pouco exploradas
na produção local, como as questões envolvendo a comunidade lgBt, como
na ficção Despertai (2008), de Edson Poloni e Lorenzo de Angeli, e as diver-
sas gradações da discriminação racial, como nos filmes de Alex Andrade,
diretor de Você viu algum negro aí? (2007), e Ramon Zagoto, que realizaria
com Natanael Souza a ficção Maicou Diéquision (2009). Destaca-se ainda o
documentário O caso Araceli (2005), de Tatiana Beling e Diego Herzog, pro-
funda análise sobre o crime que chocou o país na década de 1970. Outros
cineastas egressos dessa geração só iriam assinar trabalhos de maior fôlego
na década seguinte, como Iza Rosemberg (A ladeira, 2010) e André Félix,
cujo documentário A cor do fogo e a cor da cinza tem sido bastante premiado
na atual safra de festivais (2014-2015).

Os primeiros coletivos juvenis

Além do Cineclube Falcatrua, outros coletivos juvenis, marcados pela


prática colaborativa e compartilhada, dedicaram-se ao fazer audiovisual
nos anos 2000. Surgida na Ufes, em 2007, o Expurgação atua em diversas
frentes: design, música, audiovisual, artes visuais e ativismos diversos. Aqui,
alia-se o apuro técnico a uma forte vertente de experimentação e pesquisa,
explorando uma ampla gama de suportes e linguagens.
Os primeiros vídeos experimentais do Expurgação já revelam um
amplo desejo de invenção, como em Paiol (2008), de Alexandre Barcelos,
cuja exibição no Vitória Cine Vídeo do mesmo ano incluiu uma interven-
ção sonora feita pelos integrantes do coletivo, espalhados pela plateia. Já
o documentário em longa-metragem Suprasubstancial (2009), de Dalmo
Rogério e Gustavo Senna, parte de uma pesquisa que busca adaptar o cor-
po humano como suporte para os movimentos da câmera, atualizando a
utopia visionária de uma câmera-corpo, almejada desde os primórdios do
cinema. Outro coletivo dessa geração a ser destacado é a banda Sol na Gar-
ganta do Futuro, cujo premiado Cabra Cega (2007) apropria-se de imagens

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1 paiol
2 Fracasso
3 Free Williams

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em Super-8 captadas nos anos 1970 e ressignificadas dentro do imaginário
contemporâneo da ditadura militar do período, num curioso híbrido entre
videoclipe e documentário experimental (found footage).
Já os criadores da Revista Quase, surgida em 2002, resolvem migrar
seu humor escrachado para o vídeo, em especial através da tV Quase, ini-
ciada em 2009 como um canal no YouTube. Entre as produções iniciais
estão um impagável piloto para tV e videoclipes com o mesmo espírito
demolidor das charges e textos com os quais o coletivo ficou famoso, e que
iriam resultar em trabalhos extremamente bem-sucedidos no começo da
década seguinte, inclusive no campo da ficção.
Antes disso, Juliano Enrico, um dos integrantes do grupo, já havia
realizado o documentário em média-metragem Touro Moreno (2007), sobre a
vida do septuagenário lutador homônimo, dentro e fora dos ringues. Nele,
misturam-se as glórias e derrocadas do passado e os sonhos do presente,
enquanto Touro Moreno treina seus filhos na esperança de que algum seja
campeão de boxe – feito que quase seria obtido quando Esquiva e Yama-
guchi Falcão conquistaram, respectivamente, medalhas de prata e bronze
nas Olimpíadas de Londres, em 2012.

Cinema e vídeo experimental

O mais prolífico nome da geração universitária surgida em meados


da década passada, todavia, não vem de nenhum coletivo. Trata-se de Gui
Castor, verdadeiro garimpeiro de imagens, flâneur contemporâneo a filmar
compulsivamente, muitas vezes realizando filmes inteiros sozinho, com
orçamentos mínimos. Sua extensa filmografia inicia-se em 2005, com base
num processo de criação que, em suas próprias palavras, é completamente
aberto, em constante construção, abrindo espaço para quaisquer imprevi-
sibilidades – bem ao espírito de um certo “cinema livre”, quase artesanal,
praticado por alguns jovens realizadores brasileiros de sua mesma geração.
Destacam-se os curtas-metragens Maia (2006), A cabra (2011) e Cavalo Ferro
(2012) e os longas-metragens digitais Anjo Preto (2007), centrado na figura
do sambista capixaba Edson Papo-Furado, e Harmonia do inferno (2008), que
retrata o cotidiano da catadora de papel Elvira da Boa Morte.
Aliás, essa prática de sempre coletar imagens, como se a câmera fos-
se uma extensão do olho do cineasta, e retrabalhá-las permanentemente,
até se atingir um resultado desejado, que em muito se aproxima de uma
ideia de atelier emprestada das artes visuais, torna-se uma constante na
produção audiovisual experimental deste novo século. Podemos aqui des-
tacar os trabalhos de uma série de videoartistas, como: Veruska Almeida,
cujo Todavia, contudo, entretanto, embora (2006), entrelaça palavra e imagem
em um poema visual que vaga incansável pela cidade; Alberto Labuto,
diretor de Fracasso (2007), exercício rigoroso sobre a impossibilidade de se
reproduzir o movimento a partir de imagens estáticas; e Wayner Tristão,
cujo Viaduto (2009) fala do choque entre duas realidades distintas a partir
do ruído urbano. Nesse rol, também cabe citar os trabalhos de coletivos

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já citados, como o Sol na Garganta do Futuro e o Expurgação – sendo que
estes últimos, ao lado de Gui Castor, são os nomes dessa geração que mais
mergulham nesse espírito de permanente atelier de imagens.
A artista plástica Elisa Queiroz, através de sua eQ Produções, tam-
bém produzirá uma série de trabalhos performáticos entre a ficção e a
videoarte, como Wonderbra (2003), Free Williams (2004, Menção Honrosa
no Xi Vitória Cine Vídeo) e A novilha rebelde (2005). Neles, a figura obesa da
artista é apresentada em releituras irônicas de ícones femininos da cultura
de massa (Esther Williams, Julie Andrews), questionando os padrões de
beleza e sensualidade de forma bem-humorada – ampliando assim o que
ela já fazia em seus trabalhos artísticos anteriores.
Videoartistas de gerações anteriores também marcam presença com
trabalhos instigantes, como: Lobo Pasolini (Entrevista de trabalho, 2005), que
ironiza o rígido código de frases e posturas corporais do mundo corpora-
tivo; Rosana Paste (Menina Moça, 2007), estudo plástico sobre a demolição
da antiga passarela em frente ao campo da Ufes, centrando-se na relação
entre afeto, identidade e paisagem da intrusão do maquinário pesado da
construção civil na experiência cotidiana; e a dupla da Mirabólica, que irá
realizar O processo (2008), série de mini-documentários (alguns em parceria
com Gabi Stein) enfocando o modus operandi de artistas visuais como Julio
Tigre, Marcelo Gandini e as já citadas Rosana Paste e Elisa Queiroz.

Mangue negro e a renovação do cinema de horror brasileiro

E não daria para falar do cinema no Espírito Santo nos anos 2000 sem
mencionar aquele que é o mais importante filme realizado aqui durante esse
período. Trata-se de Mangue negro (2008), de Rodrigo Aragão. Se a década
para ele iniciava longe do cinema, envolvido com o espetáculo Mausoléu
(2001), uma espécie de casa de terror itinerante, ao final dela ele assumi-
ria a direção desse longa-metragem de zumbis ambientado no vilarejo de
pescadores Perocão, em Guarapari. Sem nenhum apoio de verba pública,
o filme foi realizado com um orçamento reduzidíssimo – 60 mil reais, a
maioria desse valor empregada em maquiagem de efeitos e 700 litros de
gosma e sangue cenográfico.
Com elenco e equipe técnica trabalhando de graça, as filmagens
ocorreram em finais de semana, durante cerca de três anos, aproveitando
a disponibilidade de cada um. O resultado impressiona desde a primeira
sequência do filme pela mão segura do diretor em construir o ritmo interno
das cenas e criar atmosferas, especialmente aproveitando a trilha sonora a
partir de composições pré-existentes do maestro Jaceguay Lins. Além disso,
Aragão estabelece, com bastante propriedade, um diálogo consciente com as
regras do cinema de horror, com ocasionais doses de humor – em especial
os filmes de George Romero, Lucio Fulci e Sam Raimi, além da antológica
revista de terror brasileira Calafrio, que circulou entre 1981 e 1993.
O resultado alçou o diretor ao epicentro do cinema de horror brasileiro,
e obteve repercussão mundial: selecionado para diversos festivais importantes

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do gênero, como o Sci-Fi London (Inglaterra) e o Fantaspoa (Porto Alegre),
o longa recebeu diversos prêmios importantes, inclusive internacionais.
Mangue negro chegou a ser exibido no circuito japonês e foi lançado
em DVD na Alemanha, no final de 2009, sob o nome de Brain dead zombies.
Seu sucesso foi além do público de cinema fantástico e de terror e a crítica
especializada. Como lembra o crítico Rodrigo de Oliveira, a seleção do filme
para a I Semana dos Realizadores, realizada no Rio de Janeiro em 2009, que
reunia a nata do cinema autoral brasileiro, fez com que o filme de Aragão
abandonasse “o gueto dos filmes de fantasia para dialogar com a vanguar-
da do panorama brasileiro”5. E a soma de todos esses pequenos grandes
passos (na verdade, gigantescos degraus!) explica como Rodrigo Aragão se
tornou um dos mais celebrados e respeitados cineastas contemporâneos
em atividade no país.

5 Cf. “O manguezal contra-ataca: A vida e a carreira de Rodrigo Aragão, o mais bada-


lado cineasta capixaba da atualidade” (2010), artigo de Rodrigo de Oliveira publicado na
revista Milímetros, n.2.

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Mangue negro

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2000 — A fuga A iniciação
de Saskia Sá de Gui Castor
88 AC – uma viagem FIcção, 17', 35MM, 2007, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 40', DIgItal,
Nenna e Arlindo Castro 2007, vItórIa (es)
de Nenna Um velho e sua vida miúda é
DocuMentÁrIo eXperIMental, 8', invisível. Seus sonhos deixa- Através de entrevistas com o
HI-8, cor, 2004, espírIto santo dos pelas calçadas suburbanas. pai de santo Robson Cuzzuol
Uma foto e uma fuga. Mas tudo e da convivência no terreiro
Viagem pelo litorial norte do pode mudar. Ilé AséIgbá Alagunnon, o filme
ES, empreendida pelos artistas aproxima o espectador dos ri-
Nenna e Arlindo Castro no fi- Agrados pra Cloê tuais sagrados que fazem parte
nal da década de 1980, na qual de Jefinho Pinheiro da essência do candomblé.
são abordados temas compro- FIcção, 21', 35MM, cor,
metidos com a nacionalidade 2009, vItórIa (es) Albertinho
brasileira. de 150 alunos da rede
História cotidianas que, narra- municipal de Vitória
A Melhor Vídeo Experimental na das por meio de uma narrativa anIMação, 12', 35MM,
I Mostra Produção Independente, poética, belas paisagens e uma cor, 2006, vItórIa (es)
2004 abordagem lúdica, versam so-
bre a fé e o tempo. A história de um menino que
A banda tem um sonho: voar. Uma ho-
De José Augusto Muleta A Roteiro Premiado no 8º Concur- menagem a Alberto Santos Du-
FIcção, 7', DIgItal, cor, so de Roteiro Capixaba (13º Vitória mont e ao centenário do voo
2005, espírIto santo Cine Vídeo) A Menção Honrosa na do 14 bis.
V Mostra Produção Independente
Às vezes, a vida dá uma “banda” (Vitória, 2009) A Prêmio Porta Curtas e Reperife-
na gente. ria, no Festival Audiovisual Visóes
A gripe do frango Periféricas (RJ) (2007)
A estrada silvestre de Manoel Loreno
de Ricardo Sá (Seu Manoelzinho) Alcova
DocuMentÁrIo, 45', HDv, FIcção, 57', vHs, cor, 2008, de Eduardo Moraes
cor, 2009, vItórIa (es) MantenópolIs (es) FIcção, 4', DIgItal, cor,
2007, espírIto santo
Um registro dos saberes dos Uma lei determina o exter-
povos Guarani, Pomerano e mínio de todos os frangos por Dentro de uma alcova, um
Quilombola no Espírito Santo. conta de uma doença. Um homem acorda preso em um
amigo de Seu Manoelzinho é ritual diabólico, executado pelo
A Melhor filme na VI Mostra Pro- transformado em frango e ele seu "eu vilão" e presenciado
dução Independente (Vitória, 2010) precisa saber qual das aves é por um outro "eu adormecido".
ele, para salvá-lo da morte.
A Fluo Dança Alles blau
de Gabriel Menotti Ai de ti! de Sérgio Oliveira Dias
anIMação, 3', DIgItal, de João Moraes DocuMentÁrIo, 20', víDeo, pb
cor, 2003, vItórIa (es) anIMação, 6', HDv, cor, 2009, e cor, 2000, espírIto santo
cacHoeIro De ItapeMIrIM (es)
A hostess da Primeira Paróquia Imigrantes alemães, católicos
ensina os primeiros passos da Baseado na mais famosa crô- e luteranos chegam ao Espíri-
música eletrônica. nica de Rubem Braga (“Ai de to Santo em 1847, formando a
Ti, Copacabana”), é uma fábu- colônia de Vila Isabel.
A Prêmio do Júri – Primeiro Lugar la irônica sobre Copacabana e
na Mostra Universitária de Vídeos seus pecados.
(MAES) A Menção Honrosa no 11º
Vitória Cine Vídeo A Menção Honrosa na VI Mostra
de Produção Independente (Vitó-
ria, 2010)

120 Plano Geral

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Alive at the Cavern Pub Anjo preto A persistência da luz
de Léo Rangel e Edu Hening de Gui Castor de Camila Torres e Davi Caó
anIMação, 6', HDv, cor, DocuMentÁrIo, 74', MInI- anIMação, 3', DIgItal, cor,
2008, vItórIa (es) Dv, cor, 2007, vItórIa (es) 2008, espírIto santo

A banda Club Big Beatles é in- Edson Rodrigues do Nascimen- Em um quarto vazio há um
terrompida durante o ensaio to, ou Edson Papo-Furado, o berço que balança sem parar
por um suposto cobrador. As- “Anjo Preto”, sambista da velha e alguém que o observa imó-
sustados, os músicos fogem pe- guarda capixaba. vel. Mas o companheiro não
las ruas da cidade de Vitória e consegue aceitar que a força
são perseguidos por, além do Animação iniciada de um trauma reduza a vida a
cobrador, um grupo de fãs. de Thiago Lessa uma memória.
anIMação, 1', DvD, cor, 2007
A morte da mulata A retomada do
de Marcel Cordeiro Fragmentos de animações Linharinho
FIcção, 104', DIgItal, cor, agrupados de forma não-nar- de Ricardo Sá
2002, vItórIa (es) rativa sobre a trilha “Sinfonia DocuMentÁrIo, 11', DvcaM,
Iniciada”, de José Renato Ri- 2008, espírIto santo
Um escritor escreve seu livro e beiro de Moraes.
não se dá conta de que os per- Em 2007, um grupo de 300
sonagens têm vida própria. Um A Novilha Rebelde quilombolas retomam uma
dia, Alberto é ferido e, deliran- de Elisa Queiroz e área que nos anos 1970 lhes
do, percebe que está vivencian- Erly Vieira Jr foi tomada por uma empresa
do a trama e, inclusive, sendo FIcção, MusIcal, 18', MInI- de celulose. Um ano depois,
chantageado pelos personagens. Dv, cor, 2005, vItórIa (es) parte dos que participaram do
levante se encontram para ava-
A Melhor Filme de Língua Es- Novilha chega com suas ideias liar a importância do ocorrido
trangeira no Festival de Cinema coloridas e joviais para cuidar para o movimento quilombola
da Flórida (EUA) A Melhor Diretor dos filhos cinzentos do Seu do Sapê do Norte.
no Festival de Cinema da Flórida Zebu.
(EUA) A Melhor Ator no Festival A sabotagem da
de Cinema da Flórida (EUA) A Me- A passageira Moqueca Real
lhor Atriz no Festival de Cinema de Glecy Coutinho de Ricardo Sá
da Flórida, EUA (2002) FIcção, DraMa, 10', 35MM, FIcção, 14', 35MM, cor,
cor, 2006, vItórIa (es) 2003, cacHoeIro De
Anexos ItapeMIrIM e vItórIa (es)
de Gabriel Perrone, Tiago É quase uma história sobre a
de Luca e Duda Novaes vida, o amor e a morte. História de um revolucionário
FIcção, 12', HDv, cor, 2003, que decide fazer pirataria de TV
são paulo (sp) e vItórIa (es) A Vencedor do V Concurso de para mostrar a verdadeira face
Roteiro Capixaba A Melhor Filme do imperialismo norte-ameri-
Duas pessoas, criaturas erran- ( Júri Popular), 13º Vitória Cine Vì- cano no Brasil.
tes na atmosfera densa de uma deo (2006)
grande metrópole. E se uma As cores do
fosse uma a tal “alma gêmea A pedra que o Espírito Santo
da outra”? estilingue lança de Geruza Contti
de Ana Cristina Murta DocuMentÁrIo, 17', cor,
A Vencedor do Troféu Marlim Azul DocuMentÁrIo, 20', DIgItal, 2000, vItórIa (es)
pelo Voto Popular A Vencedor do cor, 2009, vItórIa (es)
Prêmio de Melhor Direção de Arte Abordagem da obra da pintora
no 27º Festival Guarnicê de Cinema Documentário sobre a obra de primitivista Nice.
arte O Estilingue Gigante, do ar-
tista plástico Nenna, realizada
em 1970.

2000 — 2009 121

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Assim caminha Avenca Barratos
Regência de Erly Vieira Jr., Lizandro de Marcos Veronese
de Ricardo Sá Nunes e Virgínia Jorge anIMação, 6', cor, 2008
DocuMentÁrIo, 55', MInI-Dv, FIcção, 11', 35MM, cor,
cor, 2005, regêncIa (es) 2009, vItórIa (es) A história é contada pela pulga
Chicote sobre uma barata e um
Em Regência, Litoral Norte do “Pé de pitanga é danado pra dar rato que disputam o poder de
ES, seu Miúdo se dedica a pre- marimbondo/ Avenca só dá em um planeta arrasado. Após Ratão
servar a memória de um herói casa de gente feliz” (Douglas Sa- assumir como presidente, o po-
nacional esquecido: Caboclo lomão). Terceira parte de uma der lhe sobe a cabeça e comete
Bernardo. trilogia realizada em parceria os mesmos erros que os huma-
com a atriz Letícia Braga. nos. Baratiza, revoltada, reclama
Até quando? das ações de Ratão e trava uma
de Gustavo Moraes Azulzinho batalha pela presidência.
FIcção, 18', 35MM, cor, de Jefinho Pinheiro
2008, vItórIa(es) FIcção, 10', MInI-Dv, cor, Baseado em
2007, vItórIa (es) histórias reais
Um pai é capaz de tudo para de Gustavo Moraes
ajudar um filho, quando o amor Azul é a cor dos sonhos de uma FIcção, 15', 35MM, cor,
não tem limites. Até quando? família e de seu fogão. 2002, vItórIa (es)
É um encontro de ideias que
discute o quanto somos capazes Baby Bon Bon Uma análise e uma crítica ao
de encarar o dia a dia, e de con- de Marcel Cordeiro período da Ditadura Militar no
tinuar a acreditar num sonho FIcção, 75', HDv, cor, Brasil, com personagens reais e
de uma vida melhor para todos 2008, espírIto santo complexos, muitas vezes esque-
nós, apesar de nossas próprias cidos pelo tempo. No ano de
limitações. Arildo é um homem de 45 anos, 1972, durante a ditadura, duas
viúvo, sem trabalho e sem es- histórias se cruzam. Na primei-
Auroras de ébano perança de um futuro melhor. ra, um jovem membro de um
de Edson Ferreira Decide, então, prostituir o filho, grupo guerrilheiro é preso du-
DocuMentÁrIo, 23', DIgItal, Ricardo, de 11 anos. O menino rante a tentativa de um assalto
cor, 2005, vItórIa (es) fica prisioneiro do pai, em uma a banco. Uma jornalista que
condição de apatia e passivida- presencia a cena decide escre-
Personagens da classe média de. Passa suas horas a memori- ver um artigo sobre o fato. Na
negra do Espírito Santo relatam zar os números e olhar sempre segunda história, uma mulher
suas visões sobre o papel de- o mesmo desenho animado. prepara uma receita de bolo.
sempenhado pelos afrodescen-
dentes na formação do Estado. Bárbara A Melhor Diretor (Curtas-Metra-
Discutem também o precon- de Bernando F. Leitão gens) no 2º Festival de Varginha
ceito racial. FIcção, 3', super-8, cor, (MG) A Melhor Primeiro Filme no
2005, guaçuí (es) Prêmio Primeiro Plano, 12ª Mostra
Auto-Vitrato Curta Cinema AMelhor Filme, Júri
de Maria Inês Dieuzeide O recorte da vida de uma mu- Popular no 9º Vitória Cine Vídeo,
eXperIMental, 2', DvD, lher, após a perda de seu ma- Vitória (ES) A Melhor Ator, Menção
cor, 2007, vItórIa (es) rido. Honrosa no 9º Vitória Cine Vídeo,
Vitória (ES) A Menção Honrosa no
Uma câmera, um espelho, al- Curta Mostra Brasil no 2º Goiânia
guns reflexos. Mostra Curtas (GO) A Melhor Rotei-
ro no 1º Plano no Festival de Cinema
de Juiz de Fora (MG) A Melhor Fil-
me de Ficção no 3º Festival Latino
Americano de Campo Grande (MS)
A Melhor Filme no Júri Popular no
2003 Austin Film Festival (Austin,
EUA) A Prêmio Cacho Pallero –

122 Plano Geral

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Ibero Americano no 31º Festival de Brilhantino Cave Canem
Cine – Huesca, Espanha A National de Ériton Berçaco de Heraldo Ferreira,
Board of Review Film Award, Nova DocuMentÁrIo, 16', MInI- Marijana Mijoc, Hugo Reis
York (EUA) A Kim's Video Award, Dv, cor, 2005, MuquI (es) e Maria Inês Dieuzeide
Columbia University Film Festival, DocuMentÁrIo, 3', MInI-Dv,
Nova York (EUA) A Melhor Direção Após envolver-se em conflitos pb, 2007, espírIto santo
de Arte 2003, Columbia Univer- de terras, Brilhantino passa a
sity Film Festival, New York (EUA) viver em uma caverna no in- Não há lugar como o lar!
A Faculty Honors 2003, Colum- terior de sua propriedade ru-
bia University Film Festival, New ral. O filme mostra o cotidiano A Prêmio Especial do Júri na III
York (EUA) A Diretor do Ano no 5º deste memorável morador de Mostra Produção Independente
Short Shorts Film Festival, Califór- Muqui, que olha a vida com (2007) A Selecionado para o 23º
nia (EUA) A Hors Concurs no 15º ironia, poesia e crítica. Festival Internacional de Curtas-
Angers Premiers Plans Film Festival, metragens de Hamburgo (2007) A
Angers (França) Bubblegum Black Melhor Documentário no 3º REC
de Luiz Eduardo Neves – Festival Nacional de Videos Uni-
Batuque moleque FIcção, 4', MInI-Dv, cor, versitários, Vitória, 2007
de Fábio Carvalho 2009, vIla velHa (es)
e Alcione Dias Céu de anil
DocuMentÁrIo, 17', DIgItal, As tias também amam. de Lizandro Nunes
cor, 2003, vItórIa (es) FIcção, 18', 35MM, cor, 2003
Bud & Rose
O vídeo documenta o projeto de Sérgio Dias Célio tem seu carro dominado
Congo na Escola, realizado em FIcção, DraMa, 15', MInI-Dv, por três assaltantes. Vive uma
uma escola da rede municipal, cor, 2009, vItórIa (es) situação limite em que qual-
promovendo a inclusão social quer ato pode ser determinante
de estudantes de 4 a 14 anos, O filme narra trajetória de duas no desfecho da trama. Entrela-
da Ilha das Caieiras e Grande irmãs artistas (de fato, uma çando dois possíveis desfechos,
São Pedro. seria o alter ego da outra) em o filme mostra como atitudes
suas incursões por sete cidades, mínimas podem mudar a tra-
Belinha onde tentam ganhar dinheiro jetória da vida.
de Orlando Bomfim Netto suficiente para comprar uma
FIcção, 13', MInI-Dv, cor, 2007 casa nas montanhas. Para tanto, Chamas na ilha
elas terão que superar os obstá- de Marcos Veronezi
Na crescente onda da indus- culos, e adotar a máxima de que FIcção, DraMa, 20', cor, 2006
trialização e extrema compe- "os fins justificam os meios”.
tição, com crianças e bebês Clara é uma bela jovem, mora-
abandonados, Belinha, uma Casaca, o reco-reco dora de uma favela da ilha de
mulher de meia idade e carente de cabeça esculpida Vitória. Ela conhece um co-
de recursos adota uma criança de Luciana Gama mandante de um navio estran-
com problemas de saúde e a ela DocuMentÁrIo, 24', betacaM, geiro e decide partir com ele
dedica toda as forças. cor, 2003, espírIto santo em busca de uma vida melhor.

O documentário Casaca, o reco-


-reco de cabeça esculpida, narra
de forma dinâmica e descon-
traída um pouco da história do
instrumento e sua inserção na
cultura contemporânea.

2000 — 2009 123

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Chupa-cabras Contra Maré Dia de sol
de Rodrigo Aragão de B. A. R. S (Bento de Virginia Jorge
FIcção, 16', MInI-Dv, cor, Abreu e Rodolfo Silly) FIcção, realIsMo FantÁstIco,
2004, guaraparI (es) DocuMentÁrIo, 6', Dv, cor, 2008 15', 35MM, cor, 2009, vItórIa (es)

Aparição de uma criatura mis- O documentário questiona a Esta é uma história sobre uma
teriosa e aterrorizante, na ca- falta de opções e a condição menina, um passarinho e um
lada da noite: o Chupa-cabras caótica dos transportes públi- quintal. Uma menina que cor-
cos na Grande Vitória. re. Um quintal de chão bati-
A Melhor Filme pelo Júri Oficial do. E um curió que parou de
e Prêmio da Confederação dos Ci- Creme de alface cantar. A estória de qualquer
neclubes, II Mostra Produção In- de André Kiepper um. Num domingo típico dos
dependente, Vitória, 2006 FIcção, 15', Dv, cor, quintais. Essa é uma história
2003, vItórIa (es) sobre um canto e uma peleja.
Classe média Um dia de sol.
urbana brasileira A felicidade que acaba com o
de Gustavo Moraes pote de cosmético. Baseado em A Vencedor do 9º Concurso de Ro-
FIcção, 3', cor, 2004 texto de Caio Fernando Abreu. teiros do Vitória Cine Vídeo

Em uma bela tarde de sol, em Descida do Jucu Dona Maria,


uma grande cidade brasilei- de Federico Nicolai muito prazer
ra, um comentário malicioso DocuMentÁrIo, 10', víDeo, de Iza Rosemberg
muda, completamente, o fu- cor, 2000, vIla velHa (es) DocuMentÁrIo, 5', MInI-Dv,
turo de três jovens. cor, 2007, vItórIa (es)
Documentário sobre a desci-
Como se fosse ontem da ecológica do rio Jucu, que D. Maria é uma senhora que
de Gustavo Moraes acontece todo primeiro domin- vive no interior do Estado do
e Roberto Seba go do ano, no balneário da Bar- Espírito Santo. Com simpatia e
FIcção, 6', cor, 2005 ra do Jucu (ES). Destaque para humildade ela conta um pouco
esporte e diversão. da sua vida simples, das lutas,
Final de um campeonato de dos sofrimentos.
futebol infantil de bairro. De Despertai
um lado, o goleiro invicto. Do de Edson Poloni Dores e odores
outro, a artilheira do campeo- FIcção, 25', MInI-Dv, cor, de Jefinho Pinheiro
nato. Nos pés dela: a decisão. 2008, vItórIa (es) e Patrick Tristão
Nas mãos dele: muito mais que FIcção, 21', MInI-Dv, pb e
o titulo de campeão. Único fil- O pai de César descobre que ele cor, 2004, vItórIa (es)
me brasileiro selecionado para tem um namorado, Justine se
a mostra Shoot Goals, Shoot Fil- mete em bastante encrenca e Um poeta, uma lavadeira, um
ms, do Festival Internacional Regi começa a namorar uma pa- dono de bar, uma barata e uma
de Cinema de Berlim (2005). ciente. Despertai mostra a vida naftalina preta. As histórias
dessas três pessoas, seus relacio- desses personagens são costu-
Compre na mercearia namentos e círculo de amizades. radas por lembranças e poesias
da esquina O vídeo traz um olhar peculiar que revelam as dores e odores
de Vitor Graize e Vitor Lopes do cotidiano homossexual, suas de suas vidas.
FIcção, 4', DIgItal, cor, 2005 vidas, seus amores e sexo.
A Melhor Filme ( Júri Oficial e Júri
Foram dez meses de investi- Popular) na I Mostra Produção In-
mento no mais conhecido dos dependente (Vitória, ES, 2004)
fundos monetários: o cofrinho.

124 Plano Geral

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El chivo a Baco Em transe Estação Itueta
de Gui Castor de Darlan Machado de Bianca Sperandio
DocuMentÁrIo, 20', DIgItal, e Felipe Mecenas DocuMentÁrIo, 18', MInI-Dv,
cor, 2009, barcelona anIMação, 3', DvD, cor, cor, 2008, (es) e Itueta (Mg)
2009, espírIto santo
Gabriela é uma transexual Se promessas de prosperidade
equatoriana que abandonou Experimentação gráfica utili- dividiam os moradores da pe-
suas raízes para se entregar a zando vários recursos de vídeo quena cidade de Itueta (MG)
prostituição. El chivo a Baco, é para criar um transe passando quando foi anunciada a cons-
um filme que mostra através por quatro estágios diferentes trução da Usina Hidrelétrica de
de Gabriela, que o sacrifício de de frequência de som e edição Aimorés, mudanças profundas
muitas pessoas para seguir seu de imagem. e irreversíveis foram tragica-
caminho é a solidão. mente vivenciadas enquanto a
Enquanto houver cidade era inundada pelas águas
Ele fantasia do Rio Doce e um novo espa-
de 150 alunos da rede de Ricardo Sá ço urbano era precariamente
pública de Vitória FIcção, 30', 35MM, cor, erguido. Estação Itueta é um
anIMação, 12', 35MM, 2006, vItórIa (es) vídeo-documentário-interven-
cor, 2007, vItórIa (es) ção, realizado no momento em
Paródia da série de TV Ilha da que uma cidade tenta recriar
Ele é o cara. Homenagem ao fantasia, com pitadas de engaja- suas redes de relações sociais
compositor Noel Rosa. mento socioambiental, em lin- em um novo espaço para ar-
guagem de cinema de bordas. raigar a vida num novo tempo.
Em busca da
glamourânssia A Troféu Estilo na III Mostra Pro- Esta noite tem peleja
II – O Glamour dução Independente (2007) de Wolmyr Alcantara
de Bob Redins e Felipe Gaze
FIcção, 17', MInI-Dv, cor, Entrevista de trabalho anIMação, 11', cor,
2006, vItórIa (es) de Lobo Pasolini 2009, vItórIa (es)
eXperIMental, 8', MInI-Dv,
Sátira à busca desenfreada pelo cor, 2005, espírIto santo Com narração de cordel e
consumo e pelo glamour animações produzidas sobre
Um brasileiro vivendo no ex- gravuras em aquarela, o curta
A Melhor Curta pelo Júri Popular terior se apresenta em uma recupera um conto tradicional
no Festival REC de Vídeos Univer- entrevista de trabalho como de Luís da Câmara Cascudo,
sitários Brasileiros Vitória, 2006 A faxineiro. Para conseguir o em- maior folclorista brasileiro.
Melhor Filme pelo Júri Popular na prego ele não hesita em enver-
II Mostra Produção Independente, nizar a verdade. A Melhor Curta-Metragem de Ani-
Vitória, 2006 mação do 6º Festival de Cinema,
Escolhas Animação, Quadrinhos e Games
Em busca dos ZZZ de Ana Cristina Murta da Serra Carioca (Animaserra 2011)
de Jean R. e Luiza Lubiana FIcção, 12', 16MM, cor,
anIMação 3D, 8', DIgItal, 2003, vItórIa (es)
cor, 2001, vItórIa (es)
A história narra um ano da
Homem vive solitário em seu vida de Flávio, um homem
castelo no espaço sideral e tem que desenvolve obsessão por
problemas de insônia. Até que sua escova de dentes.
uma noite ele tem uma boa
ideia, resolve seu problema e A Vencedor do II Concurso de
dorme profundamente. Roteiros Capixabas, no Vitória
Cine Vídeo

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Eu que nem sei francês Fracasso Ginga
de Erly Vieira Jr. de Alberto Labuto de Gustavo Moraes
FIcção, 6', MInI-Dv, cor, 2008, eXperIMental, 14', MInI-Dv, DocuMentÁrIo, 55', DIgItal,
vItórIa (es) e nIteróI (rJ) cor, 2007, vItórIa (es) cor, 2004, salvaDor (ba)

E o corpo, fala? Segunda parte Um vídeo que tem seu enredo Documentário sobre capoeira
de uma trilogia realizada em baseado no fracasso da tentativa acompanhando cinco adoles-
parceria com a atriz Letícia de representar, com imagens centes de Salvador, Bahia
Braga. estáticas, um movimento.
Graçanaã
A Prêmio Reconstrução (Melhor A Prêmio Desconstrução (Melhor de Luiz Tadeu Teixeira
Vídeo) na 4ª Mostra de Produção filme) na IV Mostra Produção Inde- DraMa, 15', 35MM, cor, 2006,
Independente (Vitória, 2008) pendente (Vitória, 2008) A Menção vItórIa (es) e santa tereza (es)
Honrosa na Mostra do Filme Livre
Expedição Tabacchi (Rio de Janeiro, 2008) Um retorno imaginário do es-
de Marcel Cordeiro critor Graça Aranha às mon-
DocuMentÁrIo, 30', DIgItal, Frames tanhas do Espírito Santo, local
cor, 2009, espírIto santo de Edson Ferreira onde viveu em 1890, durante
DocuMentÁrIo, 15', DIgItal, os primórdios da imigração ale-
Documentário acerca da pri- cor, 2008, vItórIa (es) mã na região, e do qual extraiu
meira expedição de imigrantes elementos para escrever sua
italianos no Brasil, a expedição A partir das lentes de uma câ- obra-prima, o romance Canaã.
Tabacchi. mera fotográfica digital, Frames Nessa viagem espiritual, ele faz
aborda os olhares e as relações um acerto de contas com o seu
Exterminador com a notícia de três fotojor- passado.
de Tati Rabello e Rodrigo nalistas capixabas.
Linhales (Mirabólica) Geração Gota D'Água
anIMação, 3', DIgItal, Free Williams de Rômulo Mussielo
cor, 2005, vItórIa (es) de Elisa Queiroz DocuMentÁrIo, 30', DIgItal,
eXperIMental, 10', MInI-Dv, cor, 2009, vItórIa (es)
Animação inspirada na lenda cor, 2004, vItórIa (es)
de Xangô e Oyá. Documentário que trata das vi-
Releitura bem-humorada da vências, da luta política da or-
Festa na sombra estrela hollywoodiana Esther ganização e do recrutamento de
de Margarete Taqueti Williams e dos musicais ex- militância estudantil da UFES,
e Glecy Coutinho travagantes coreografados por entre os anos de 1976 e 1982.
DocuMentÁrIo, 30', DvcaM, Busby Berkeley.
cor, 2005, vItórIa (es) Grinalda
A Menção Honrosa no 11º Vitória de Erly Vieira Jr.
Um passeio lúdico sobre a vida Cine Vídeo FIcção, 11', MInI-Dv, cor, 2006,
e a obra da escritora, poeta e re- vItórIa (es) e nIteróI (rJ)
volucionária Haydeé Nicolussi. Frestas
de Cineclube Kbça Nem todo homem é como
e Atitude Jovem Charles Aznavour. Ex-marido,
DocuMentÁrIo, 15', DIgItal, então, muito menos... Primeira
cor, 2009, vItórIa (es) parte de uma trilogia realizada
em parceria com a atriz Letícia
Quando jovens de periferia Braga.
têm como meta acessar a uni-
versidade, uma série de reali- A Melhor vídeo ( Júri Popular) no
dades se desnudam. O que os 13º Vitória Cine Vídeo
motivaram a entrar no ensino
superior? Afinal, eles abriram
portas ou passaram por frestas?

126 Plano Geral

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Harmonia no inferno Ilha do Vento Sul Lasanha quatro queijos
de Gui Castor de Flávio Sarlo de Mark Miranda
DocuMentÁrIo, 63', DIgItal, DocuMentÁrIo, 28', víDeo, FIcção, 17', MInI-Dv, cor,
2007, vItórIa (es) cor, 2000, vItórIa (es) 2002, vItórIa (es)

Elvira Pereira da Boa Morte tem O jazz de Vitória, seus músicos Um brinde à amizade.
69 anos. Vive e trabalha dentro e suas particularidades.
de um depósito de lixo. Luta La vie en rose
para criar seus filhos e netos, Insano jazz de Ricardo Sá
obter seus documentos básicos de Hélio Coelho DocuMentÁrIo, 7', DIgItal,
e ter uma casa. O filme nos anIMação, 5', 35MM, cor, cor, 2007, espírIto santo
possibilita refletir sobre a in- 2009, vItórIa (es)
diferença da sociedade frente a Resgate da trajetória cinema-
uma realidade adversa presente Narrativa aleatória que preten- tográfica dos atores capixabas
em nosso tempo. de, de certa maneira, ilustrar a Paulo de Paula e Branca San-
trilha sonora: um free jazz. A tos Neves, em uma colagem
Hochtijd – Casamento música tem lugar no primeiro pizziniana.
Pomerano plano, como uma personagem
de Adriana Jacobsen e invisível que percorre em um Linhas paralelas
Jorge Kuster Jacob ritmo frenético toda a trajetória de Orlando Bomfim Netto
DocuMentÁrIo, 40', 35MM, das imagens. FIcção, 14', 35MM, cor, 2010
cor, 2008, vIla pavão (es)
Isabelita Bandida Neusa relembra situações dos
O ritual do casamento pome- de Isabel Aigner, Rubia seus 30, 45 e 60 anos, revelan-
rano no município de Vila Pella e Melissa Guizzardi do pessoas e acontecimentos
Pavão, desde os preparativos anIMação, 1', DIgItal, em suas constantes viagens
até o encerramento da festa cor, 2006, vItórIa (es) de trem num entrelaçado de
de casamento, que dura três tempo e espaço. Adaptação do
dias. Nele, são revividos os ri- Menina de nove anos se aven- livro de Wanda Sily.
tos de passagens de ancestrais tura em busca da realização de
europeus, transformados com o seus desejos. Lita
passar do tempo para se adapta- de Gui Castor
rem à realidade contemporânea Lágrima eXperIMental, 2', 35MM,
dos descendentes de colonos de Gui Castor cor, 2005, vItórIa (es)
pomeranos capixabas. FIcção, 3', DIgItal, 2009, vItórIa (es)
Uma senhora utiliza a memória
Homens A fé presente na vida de uma para alimentar seu espírito.
de Lucia Caus e Bertrand Lira senhora.
DocuMentÁrIo, 22', 35MM, A Prêmio Júri Online no XII Vitó-
cor, 2008, espírIto santo Lally e Lalí ria Cine Vídeo, Vitória (ES) (2005)
(es) e paraíba (pb) de Sergio de Medeiros A Prêmio do Júri por Pesquisa de
FIcção, 15', 35MM, cor, Linguagem e Expressão Poética no
Histórias de coragem revelam 2006, vItórIa (es) V Primeiro Plano – Festival de Ci-
desencontros e alegrias vividos nema de Juiz de Fora, MG, 2006.
por homossexuais em pequenas A exploração do trabalho infan-
cidades do nordeste do Brasil. til é abordada de forma lúdica.
O filme mostra um dia na vida
A Melhor Direção no II For Rain- de Lalí, uma menina que vende
bow, Fortaleza (CE) A Menção milho à noite. Adaptação de
Honrosa no 16º MIX BRAZIL, São conto de Renato Pacheco.
Paulo A Menção Honrosa no 7º
Santa Maria Vídeo e Cinema, Santa
Maria (RS) A Melhor Curta Metra-
gem 2008 do IV FestAruanda, João
Pessoa (PB)

2000 — 2009 127

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Macabéia Manada Mangue negro
de Erly Vieira Jr., Lizandro de Luiza Lubiana de Rodrigo Aragão
Nunes e Virgínia Jorge FIcção, 12', 35MM, cor, 2005, FIcção, terror, 105', DIgItal,
FIcção, 19', 16MM, cor, vItórIa e Itaúnas (es) cor, 2008, guaraparI (es)
2000, vItórIa (es)
Moça acorda desmemoriada Em um manguezal cercado
Imagine a Macabéia. Aque- em uma praia deserta. Ouve por montanhas, uma peque-
la mesma do livro da Clarice tambores. Corre ao encontro do na comunidade se sustenta da
Lispector. Sem graça, parada na som e se depara com uma tribo extração desmedida dos recur-
vida... Como seria a vida dela de caçadores de búfalos. Lá, ela sos naturais. Nela, Luiz, um
nos dias de hoje? Está é a histó- também encontra o amor. tímido jovem, tenta há muito
ria de Marluce, que pensa, age, tempo declarar seu amor por
sente e sonha como uma Ma- Mangue e tal Raquel, uma bela moça que se
cabéia do final dos anos 1990. de 150 alunos da torna objeto de desejo de mui-
Rede Municipal de tos homens da região. Quan-
A Roteiro Vencedor I Concurso de Ensino de Vitória do estranhos acontecimentos
Roteiros Capixabas, do Vitória Cine anIMação, 15', 35MM, pb e começam a mudar as feições
Vídeo A Melhor roteiro, Melhor cor, 2002, vItórIa (es) daquele universo, terríveis
atriz e Melhor curta-metragem 16 criaturas surgem das entranhas
mm no 29º Festival de Gramado, A cidade de Vitória sob diversos do mangue em busca de carne
RS A Menção Honrosa para a atriz pontos de vista. humana. Agora, Luiz deve lutar
Janine Corrêa no XXXIV Festival de desesperadamente para salvar
Brasília) A Prêmio de Contribuição A Melhor Curta-metragem 35 mm aquilo que lhe é mais caro: a
Artística do 6º Festival de Cinema do Júri Especial/Eletrobrás no VII vida de Raquel.
Universitário, Niterói, RJ (2001) Florianópolis Audiovisual Mer-
A Prêmio Especial do Júri do 7º cosul, 2003 A Menção Honrosa A Melhor Filme Juri Popular, Bue-
Vitória Cine Vídeo 13º Cine Ceará, 2003 A Menção nos Aires Rojo Sangre A Melhor
Honrosa, I MoVA Caparaó, Gua- Diretor Estreante, Santiago Rojo
Maia çuí, ES, 2004 A Menção Honrosa Sangre A Melhor Filme do Ano,
de Gui Castor e no 26º Festival Internacional do Omelete Marginal
Orlando Lemos Novo Cinema Latino-Americano
DocuMentÁrIo, 11', DIgItal, de Havana, Cuba, 2004 A Melhor Manoela
2007, peDra MenIna (es) Vídeo Amador no II Festival Lati- de Fabrício Coradello
no-Americano de Vídeo Ambiental FIcção, 10', 35MM, cor,
A simplicidade reunida em da Chapada Diamantina (BA) 2002, vItórIa (es)
um jogo.
Manoela, estudante de Direito,
Maicoun Diéquison mora sozinha e nega esmola
de Ramon Zagoto e a um mendigo que a aborda
Natanael de Souza diariamente.
FIcção, 9', DIgItal, cor,
2009, vItórIa (es) A Roteiro Vencedor do IV Concur-
so de Roteiros Capixabas, do Vitória
Maicoun Diequison é um jo- Cine Vídeo (2001)
vem de periferia fã de Michael
Jackson. Apesar de terem no-
mes parecidos, o Máicou brasi-
leiro não tem as mesmas chan-
ces que o astro do pop.

A Melhor Filme na V Mostra Pro-


dução Independente (2009)

128 Plano Geral

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Maurício Capixaba Meninos da Guarani Moqueca só capixaba,
de Oliveira: o de Marcus Konká o resto é peixada
pescador de sons DocuMentÁrIo, 71', MInI- de Gustavo Moraes
de Clóves Mendes Dv, cor, 2009, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 30', cor,
DocuMentÁrIo, 30', DIgItal, 2009, vItórIa (es)
cor, 2007, vItórIa (es) O impacto da violência nas fa-
mílias que perderam seus fi- A história do Espírito Santo
A vida e obra do músico capi- lhos para o narcotráfico na Rua apresentada de forma lúdica e
xaba Maurício de Oliveira. Ba- Guarani e em suas adjacências, contemporânea, desde os ín-
seado na biografia “O pescador localizados na Serra, municí- dios até os dias de hoje, usando
de sons”. pio da Região Metropolitana a culinária como fio condutor.
da Grande Vitória. Uma tese de que a Moqueca Ca-
Memória pixaba é o resultado da mistura
de Roberto Burura Mestre Vitalino e que é hoje o povo capixaba.
DocuMentÁrIo, 5', DvcaM, nós no barro
cor, 2008, espírIto santo de 150 alunos da rede A Arara de Bronze, no Tour Film
pública de Vitória Brazil Internacional Festival 2010
Registro de fragmentos reco- anIMação, 12', 35MM,
lhidos em um mergulho no cor, 2008, vItórIa (es) Mundo cão
mar da memória. Imagens de Saskia Sá
originalmente captadas em Um boneco de barro que ganha FIcção, 17', 16MM, cor,
Super-8. vida e sai de Pernambuco para 2002, vItórIa (es)
participar de um baile funk em
Menina moça Vitória. O filme é uma home- A história de Jolly, uma cade-
de Rosana Paste nagem ao centenário de nasci- linha bem-nascida e de indis-
DocuMentÁrIo, 3', MInI-Dv, mento de Mestre Vitalino. cutível pedigree. Herdeira de
cor, 2007, espírIto santo uma fortuna, ela descobre que
Meu pé de feijão nem tudo no mundo é “bom
Registro das últimas horas da de Joel Vieira Junior para cachorro”.
passarela utilizada para pedes- eXperIMental, 7', cor,
tres, localizada sobre a Avenida 2001, vItórIa (es) A Roteiro Vencedor do III Concur-
Fernando Ferrari, Vitória (ES). so de Roteiros Capixabas do Vitória
Apresenta os elementos urbanos A vida se resume no princípio Cine Vídeo A Menção Honrosa no
do crescimento, distribuição e básico que é morrendo que se Festiva de Taguatinga (DF) (2003)
reconstrução de novos espaços. renasce.
Não é só uma
Meninos A Melhor vídeo no 8º Vitória Cine passagem
de Ursula Dart Vídeo (2002) de Igor Pontini
DocuMentÁrIo, 5', 35MM, DocuMentÁrIo, 13', MInI-
cor, 2009, vItórIa (es) Milagre Dv, cor, 2005, vItórIa (es)
de Luiza Lubiana
Um dia na vida de um menino FIcção, 15', cor, 2009, serra Contrários ao aumento da tarifa
de 9 anos. e alFreDo cHaves (es) do sistema Transcol, durante
4 dias, milhares de estudantes
A Menção Honrosa no 16º Vitória Um bando de ciganos se aloja ocupam as principais avenidas
Cine Vídeo, 2009 nas terras de um italiano. Um da capital.
dos ciganos se apaixona pela
filha do dono das terras. O ita- A Prêmio Cine Curta CUCA – UNE
liano, preconceituoso, manda (2007) A Melhor Filme Mostra
matar o cigano. A moça aban- MAES (2006) A Menção Honrosa
dona sua família, vai ao enter- Festival Universitário REC (2006)
ro de seu grande amor e pede
a Deus um milagre. A morte,
com sua comitiva, também vai
ao enterro do cigano.

2000 — 2009 129

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Nino e Dado em A do Júri e Aquisição do Canal Bra- O caso Araceli: A
Guerra Definitiva silnono XXXIV Festival de Cinema cobertura da Imprensa
de Leo Rangel de Gramado (RS) (2006) A Prêmio de Tatiana Beling
anIMação, 5', DvD, cor, Espaço Unibanco de Cinema – SP DocuMentÁrIo, 20', MInI-
2005, cor, espírIto santo (2006) A Melhor Ator para Augusto Dv, cor, 2005, vItórIa (es)
Madeira, Festival de Atibaia Inter-
Um poderoso general coman- nacional do Audiovisual (Atibaia, SP, Em maio de 1973, a menina
da, de forma, implacável, a per- 2007) A Melhor Curta-Metragem Araceli Crespo foi raptada, dro-
seguição dos palhaços Nino e em 35mm e Melhor Filme Segundo gada, assassinada e morta em
Dado. Em meio ao avanço e o Júri Popular no Curta-SE (Ara- Vitória (ES). Os acusados eram
conquistas militares, Nino e caju, 2007) A Melhor Direção de membros de duas das mais tra-
Dado são a última ameaça ao Curta-Metragem e Melhor Curta- dicionais e poderosas famílias
domínio e transformação do Metragem no XI Festival Brasileiro do Estado. O documentário
mundo em sociedades frias, de Cinema de Miami (2007) aborda a cobertura da imprensa
sem cor e sem vida. no caso, abordando questões
Nunca mais vi Erica como a fabricação de verdades,
No olho da rua de Lizandro Nunes a mercantilização da notícia, a
de Luiz Eduardo Neves FIcção, 20, 35MM, 2007, vItórIa (es) incompetência e a corrupção
DocuMentÁrIo, 20', da polícia e do judiciário da
MInI-Dv, cor, 2008 Erica, após anos longe da capi- época, entre outras.
tal, reencontra um ex-namora-
“No Olho da Rua” retrata por do que desperta lembranças e A Melhor Vídeo Documentário
meio de uma edição ágil e de- desejos incontroláveis. (Prêmio do Júri Popular) na 6ª
poimentos fragmentados, as- Curta Barra (Vila Velha, ES) 2006
sim como os samplers do rap, O Aleph A Melhor Vídeo Documentário
a realidade de representantes de Hugo Reis e no 1º Festival Nacional de Vídeo
de um movimento cultural de William Sossai de Colatina (ES) 2006 A Melhor
resistência na sociedade do ca- DocuMentÁrIo, 26', MInI- Vídeo Documentário (Prêmio do
pital: o Hip Hop. Dv, cor, 2007, vItórIa (es) Júri Oficial) na 3ª Mostra de Vídeo
Universitário do Museu de Arte do
No princípio Durante um ano, Hugo Reis ES (2006) A Melhor Vídeo Docu-
era o verbo e William Sossai registraram mentário (Prêmio do Júri Popular)
de Virgínia Jorge todo o processo de gravação na 3ª Mostra de Vídeo Universitário
FIcção, 18', 35MM, cor, do primeiro disco de música do Museu de Arte do ES (2006) A
2005, vItórIa (es) instrumental brasileira do jo- Melhor Vídeo Documentário (Prê-
vem compositor Fabiano Araú- mio do Júri Popular On-Line) no
Fábula composta por três estó- jo. Nessa história, cada músico 13º Vitória Cine Vídeo (2006)
rias que se fundem num vai e é um personagem dotado de
vem lírico e bem-humorado, talentos e falhas. O resultado O ciclo da paixão
refletindo sobre o conceito da disso tudo é uma experiência de Luiz Tadeu Teixeira
verdade e sobre a busca por sinestésica inesquecível. FIcção, 13´, 35MM, cor,
explicações do fenômeno co- 1999, vItórIa (es)
tidiano. Observador
de Alexandre Serafini História de amor em quatro
A Vencedor do 1º AXN Film Fes- FIcção, suspense, 12', 35MM, estações (o encontro, a desco-
tival A Vencedor do 1ºPrêmio de cor, 2005, vItórIa (es) berta, a entrega e o desencon-
Juri Popular do XII Vitória Cine tro) conduzida por um “caçador
Vídeo, Vitória(ES) (2005) A Melhor A história de Douglas, um ra- de imagens” que vagueia pela
Curta-Metragem em 35mm, Se- paz que meteu o “mouse” onde cidade durante a madrugada.
gundo a Crítica, e Melhores Atores não devia. Baseado em poemas de Caê
Brasileiros para Darcy do Espírito Guimarães e Viviane Mosé.
Santo e Fábio Matos, no VII Festival
Internacional de Curta-Metragem A Prêmio especial do júri no VII
de Belo Horizonte (MG) (2006) A Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES)
Melhor Roteiro, Prêmio Especial (2000)

130 Plano Geral

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O cordel dos atingidos O homem que não Olhos Mortos
de Ricardo Sá pode responder por de Carlos Augusto de Oliveira
DocuMentÁrIo, 22', MInI-Dv, sua própria existência FIcção, 15', pb e cor, 2002,
cor, 2003, espírIto santo de Gui Castor alFreDo cHaves e vItórIa (es)
DocuMentÁrIo, 10',
Através de um cordel, este vídeo DIgItal, cor, 2005 Garota toma conta de criança
retrata o processo de retirada de que nunca dorme.
cinco mil pessoas do Vale do Uma alusão à condição atual
Jequetinhonha (MG), por causa dos ameríndios. O pé redondo
da construção de uma barragem. de Maurício Ribeiro Junior
O homem que FIcção, 25', MInI-Dv, cor,
A Melhor Documentário na I Mos- sonhava fotografia 2007, guaraparI (es)
tra Produção Independente (2004) de Tião Xará
FIcção, 15', 35MM, cor, Toda a verdade sobre a lenda
O evangelho 2009, espírIto santo que aterrorizou Guarapari, so-
segundo seu João bre um demônio que apareceu
de João Moraes e Reginaldo descobre em uma num forró.
Eduardo Souza Lima manhã que está sonhando fo-
DocuMentÁrIo, 17', tografia. Quando os sonhos A Prêmio de Originalidade na III
35MM, cor, 2006 começam a ficar recorrentes, Mostra Produção Independente
conta para seu amigo de tra- (Vitória, 2010)
Este não é um filme sobre Fo- balho que, zoando da situação,
lia de Reis. Revela um homem recomenda que ele procure O processo –
“santo”, de 74 anos, que coman- um analista. Quando ele vai Elisa Queiroz
da esta manifestação folclórica ao analista, este também pare- de Gabi Stein e Mirabólica
há 56 anos. Apesar de ser anal- ce não dar muita importância DocuMentÁrIo, 4', HDv,
fabeto, tem a função de ser um para o problema de Reginaldo cor, 2009, vItórIa (es)
sábio. Não deixa perguntas sem e a tensão com os sonhos, em
respostas, o que o leva a criar vez de melhorar, torna-se mais Retratando a artista Elisa Quei-
parábolas e abordagens inéditas intensa. Porém, tudo se resolve roz, este é um dos episódios da
e peculiares. naturalmente, sem a necessida- série de minidocumentários
de de intervenção do analista. que retrata o processo criati-
A Troféu OnLine, Melhor Filme e vo de artistas plásticos e suas
Menção Especial do Júri pelo Resgate O homem sem lei artes visuais.
da Cultura Oral no XIII Vitória Cine de Manoel Loreno
Vídeo, Vitória(ES) (2006) A Troféu (Seu Manoelzinho) O processo –
ABD-MA de Melhor Filme no 30º FIcção, 72', vHs, cor, 2006, Julio Tigre
Guarnicê Cine Vídeo (São Luís, MA) MantenópolIs (es) de Gabi Stein e Mirabólica
DocuMentÁrIo, 4', HDv, cor,
O Gilbertinho prefere Faroeste que narra a vingança 2008, espírIto santo
cópias digitais de Johny, mocinho do filme,
de Gilbertinho que junta uma tropa e sai à caça Documentário sobre o processo
anIMação, 1', DIgItal, do homem que matou seu pai. de criação do artista plástico
cor, 2006, vItórIa (es) Julio Tigre.
Olho de gato perdido
A mascote do Cine Falcatrua de Vitor Graize O processo –
apresenta um bom argumento DocuMentÁrIo, 52', HD, Marcelo Gandini
contra filmes em película. cor, 2009, pancas (es) de Gabi Stein e Mirabólica
DocuMentÁrIo, 7', HDv,
Em 1975, um relojoeiro, um cor, 2009, vItórIa (es)
lavrador, um soldado e um es-
tudante se uniram para filmar Um dos episódios da série de
na cidade de Pancas o faroeste minidocumentários que retrata
Olho de Gato. o processo criativo de artistas
plásticos e suas artes visuais.

2000 — 2009 131

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O processo – O sonho de Loreno Portinholas
Rosana Paste de Alana Almondes de 150 Alunos da Rede
de Gabi Stein e Mirabólica DocuMentÁrIo, 17', MInI-Dv, Municipal de Vitória
DocuMentÁrIo, 5', HDv, cor, 2006, MantenópolIs (es) anIMação, cor, 35MM,
cor, 2009, vItórIa (es) 2003, vItórIa (es)
A história de Seu Manoelzi-
O processo criativo da artista nho, que ficou famoso pelos Uma menina descobre um
Rosana Paste. filmes que dirige em Mante- mundo novo por meio da arte.
nópolis (ES).
Orelhão A Menção Honrosa no XXVI Festi-
de André Holzmeister Paiol val do novo Cinema Latino-Ame-
anIMação 3D, 4', DIgItal, de Alexandre Barcelos ricano de Havana, Cuba (2004) A
cor, 2000, vItórIa (es) DocuMentÁrIo/ eXperIMental, Melhor Trilha Sonora Original e
2', DIgItal, cor, 2008, vItórIa (es) Melhor Animação em Curta-Metra-
Jovem vândalo tenta, sem su- gem de 35mm A Menção Honrosa
cesso, fazer uma ligação em um Ritual lóki expurgativo. no XXVII Festival Guarnicê (MA),
telefone público. Então resolve 2004 A 3º Lugar no IV Festival
depredar o orelhão, que não vai Ponto de Vista Brasileiro Estudantil de Animação
deixar isso barato... de Thiago Rocha – Animarte (RJ), 2005 A Melhor
DocuMentÁrIo, 15', MInI-Dv, Trilha Sonora Original e Melhor
O rico pobre cor, 2009, espírIto santo Animação em Curta-Metragem de
de Manoel Loreno 35mm no 8º Florianópolis Merco-
(Seu Manoelzinho) Assim como uma pintura em sul Audiovisual, 2004
FIcção, 56', vHs, cor, 2002, tela, uma fotografia ou uma
MantenópolIs (es) escultura fazem as pessoas re- Pour Elise
fletirem, o grafitte tem a mesma de Erly Vieira Jr.
Um homem do interior vê sua proposta. No entanto, vai da FIcção, 15', cor, 2004, vItórIa
vida se transformar quando ga- cabeça de cada um interpretá- e santa tereza (es)
nha dez milhões de reais na -lo como arte ou não.
loteria. Decidido a mudar de Esta é a história da jovem Elisa
vida, ele coloca fogo em todos Ponto final e de sua tia Ana, que vive num
os seus pertences, inclusive no de Ramon Zagoto e asilo. Ou não.
próprio bilhete premiado, que Alex Andrade
estava no bolso do casaco. DocuMentÁrIo, 18', DIgItal, Profissão de Fé
cor, 2009, vItórIa (es) de Gabriel Menotti
Ortlieb – Amor à Terra anIMação, 1', DIgItal,
de Tati Wuo e Elisângela Belo Depois de trinta anos como cor, 2003, vItórIa (es)
DocuMentÁrIo, 14', DIgItal, ponto final de ônibus na cida-
cor, 2002, espírIto santo de de Vitória, o Terminal Dom Uma breve profissão de fé na
Bosco vai abaixo, substituído Primeira Paróquia do Cristo
Este vídeo documenta a situa- por terminais mais bonitos e Sintético, a igreja evangélica
ção da população atingida pela modernos. A uma semana da clubber.
construção da usina hidrelétri- demolição, usuários e trabalha-
ca de Aimorés (MG), no período dores contam as histórias que A Prêmio do Júri – Segundo Lugar
de dezembro de 1999 a março fizeram dele um dos lugares na Mostra Universitária de Vídeos
de 2002. Retrata os impactos mais peculiares da cidade. (MAES) A Menção Honrosa no 10º
sociais e ambientais vividos Vitória Cine Vídeo A Segundo Lu-
pela população das zonas ur- gar no 11º Festival do Minuto (2003)
banas e rurais da cidade. A Menção Honrosa no 8º Florianó-
polis Audiovisual Mercosul (2004)

132 Plano Geral

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P. S. Post Scriptum Salon de La Paix Suprasubstancial
de Jefinho Pinheiro de Bob Redins de Dalmo Rogério Ferreira
FIcção, 18, MInI-Dv, cor, FIcção, 12', MInI-Dv, cor, e Gustavo Senna
2005, espírIto santo 2004, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 60', HDv,
cor, 2009, vItórIa (es)
Agradeço à vida a oportunidade Reflexão/crítica sobre os va-
de escrever enquanto poderia lores burgueses e como estes Documentário experimental
ter ficado calada. Beijos. Ali- estão impregnados em cada que buscava apresentar a câ-
ce. P. S: Não aguento mais essa palavra que dissemos ou cada mera como extensão do corpo,
merda! gesto que fazemos. conduzindo, a partir de uma
investigação sobre os movi-
Raiz que racha a rua Sapo no pé de boi mentos desse corpo e sobre a
de Alexandre Serafini sempre sai pisado própria imagem.
FIcção, 12', DIgItal, de Ricardo Sá
2009, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 11', Swing capixaba
MInI-Dv, cor, 2006 de Clóvis Rosa
Um dia, meu irmão, a inocên- FIcção, erótIco, 48', MInI-
cia acaba. Nos quilombos no Norte do Es- Dv, cor, 2002, vItórIa (es)
pírito Santo, a quem pertence
A Roteiro Vencedor do 10º Concur- verdadeiramente a água? Quando uma grande amizade
so de Roteiros do Vitória Cine Ví- junta dois casais num motel,
deo Saudosa tudo pode acontecer. Uma his-
de Erly Vieira Jr. e tória de amor, cumplicidade
Relicário de um povo Fabrício Coradello e muito erotismo, como você
de Margarete Taqueti DocuMentÁrIo, 15', 35MM, nunca viu.
DocuMentÁrIo, 56', MInI- cor, 2005, MunIz FreIre (es)
Dv, cor, 2003, vItórIa (es) Tipitunga
Nem tudo em Saudosa é ficção. de Jefinho Pinheiro
A vida e obra da escritora Ma- e Patrick Tristão
ria Stella de Novaes, professo- A Melhor Ficção no II Tudo Sobre FIcção, 5', betacaM, cor,
ra, escritora e um dos nomes Mulheres (MT), 2006 2003, vItórIa (es)
mais atuantes do cenário in-
telectual capixaba em meados Siga minhas mãos Um dia na vida de um brasi-
do século XX. de Luciana Gama leiro, pai de família pedreiro e
DocuMentÁrIo, 52', DvcaM, amante do futebol. Tipitunga
Rodrigo, Gustavo cor, 2009, vItórIa (es) existe entre pedras, lamas, bote-
e Marcelo cos e biritas. Assim como nosso
de Vitor Lopes Siga minhas mãos surge daquela país, ele resiste no buraco.
eXperIMental, 3', DIgItal, brincadeira de olhar para as
cor, 2006, vItórIa (es) nuvens e enxergar figuras. Bas-
ta olhar para formações rocho-
Videodocumentário experi- sas do nosso estado para perce-
mental sobre os meninos Ro- ber uma diversidade de formas
drigo, Gustavo e Marcelo. que estimulam a imaginação.
Uma viagem pelo interior do
A Melhor Vídeo no Festival REC Espírito Santo.
de Vídeos Universitários Brasileiros
(Vitória, 2006) A Melhor Vídeo pela
Ascine no Festival Internacional
de Curtas do Rio de Janeiro (2006)

2000 — 2009 133

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Todavia, Contudo, Transversal Viaduto
Entretanto, Embora de Paulo Gois Bastos, de Wayner Tristão
de Veruska Almeida Priscilla Thompson eXperIMental, 6', DIgItal,
DocuMentÁrIo/ eXperIMental, Pessini e Vitor Graize cor, 2009, vItórIa (es) e
7', MInI-Dv, cor, 2006, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 13', MInI- belo HorIzonte (Mg)
Dv, cor, 2006, vItórIa (es)
Com o roteiro criado a partir Um encontro casual entre duas
da edição, o vídeo cria um elo Casa. Caminho. Objeto de es- realidades é interrompido pelo
entre texto, imagem e som e tudo. Trabalho. Uma avenida e ruído da cidade. Entre tantas
suas possibilidades interativas. seus desdobramentos. Vida. Es- interferências, duas alegorias
paço. Algumas lembranças, mo- urbanas se esforçam para se
Tonho, O Elefante dos de olhar e projeções para tornarem compreendidas.
de Diego Romão e um futuro não muito distante.
Andressa Marinho Viagem capixaba:
anIMação, 2', super vHs, Último dia de verão um olhar de Rubem
cor, 2000, vItórIa (es) de Wayner Tristão Braga e Carybé
anIMação, 3', DIgItal, de João Moraes
Tonho, um filhote de elefan- cor, 2008, vItórIa (es) DocuMentÁrIo, 52', DvcaM, cor,
te, enfrenta perigos na floresta 2004, cacHoeIro Do ItapeMIrIM (es)
onde mora e conta com a ajuda O último dia de verão.
de seus amigos para solucio- O documentário refaz o roteiro
ná-los. Vai Brincar na Rua dos livros produzidos pelo es-
de Jefinho Pinheiro critor Rubem Braga e o artista
Touro Moreno DocuMentÁrIo, 6', MInI- plástico Carybé, na década de
de Juliano Enrico Dv, cor, 2009, serra (es) 1950, redescobrindo as diversas
DocuMentÁrIo, 50', DIgItal, manifestações culturais capixa-
cor, 2007, espírItIo santo Minidocumentário de um en- bas. Uma viagem capixaba de
saio. É gente que chega, que sai, Carybé e Rubem Braga, livro de
A saga do lutador, boêmio Tou- é cachorro que passa, é criança arte com desenhos de Carybé,
ro Moreno dentro, fora dos rin- que brinca e telefone que toca. e Crônicas do Espírito Santo,
gues. Aos 69 anos ele enfrenta uma coletânea de crônicas de
lutadores de boxe mais novos, Vampsida temática capixaba escrita por
relembra lutas antigas, visita de Cloves Mendes Rubem Braga, foram a base
lugares que fizeram parte de FIcção, 16', 35MM, cor, para o filme.
sua vida, se dedica ao treina- 2002, vItórIa (es)
mento dos filhos, campeões
amadores de boxe rumo à pro- Uma história de amor impossí-
fissionalização. vel entre o último vampiro e a
última mulher sem o vírus HIV.
A Melhor Vídeo pelo Júri Popular,
14º Vitória Cine Vídeo, 2007

134 Plano Geral

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Vitória de Darley Você viu algum Zen ou Não Zen:
de Renato Rosati negro por aí? Eis a Questão
FIcção, 15', 35MM, cor, 2006, de Alex Andrade de 150 alunos da rede
vItórIa (es) e rIo De JaneIro (rJ) DocuMentÁrIo, 4', DvD, cor, municipal de Vitória
2007, espírIto santo anIMação, 10', 35MM,
A rotina de um edifício é abala- cor, 2004, vItórIa (es)
da quando Darley, um sem-teto, O vídeo busca mostrar a peque-
resolve se instalar no corredor na quantidade de estudantes Um monge budista imagina
do prédio, com disposição para negros na Universidade Federal como seria sua vida em um
conviver com os moradores. do Espírito Santo e questiona o grande centro.
O filme aborda questões como reconhecimento da identidade.
intolerância, racismo e dificul- A Prêmio de Melhor Trilha Sonora
dade de convivência social. Wonderbra Original para Curta-Metragem em
de Elisa Queiroz 35mm, no XXVIII Festival Guarni-
A Prêmio do Júri Popular do Fes- eXperIMental, 10', MInI-Dv, cê (MA) (2005) A Menção Honrosa
tival de Curtas-Metragens de Di- cor, 2003, vItórIa (es) 35mm/Júri Oficial no V Curta-se
reitos Humanos – Entretodos, São (SE) (2005)
Paulo, 2007 Vídeo que discute a valoriza-
ção estética do corpo obeso e
Vitória para mim do desejo das curvas do corpo
de 150 alunos da Rede feminino.
Municipal de Vitória
anIMação, 15', 35MM, X9
cor, 2005, vItórIa (es) de Marcelo Cordeiro
DocuMentÁrIo, 53', MInI-Dv,
A vitória de cada um. cor, 2004, espírIto santo

A Melhor Filme Infanto-Juvenil, Em 2003, morreram mais pes-


X Florianópolis Audiovisual Mer- soas no Espírito Santo do que
cosul, 2006 palestinos no mesmo ano. En-
trevistas com os protagonistas
Vivendo de Rock da violência no Estado: poli-
no Espírito Santo ciais, presos, juiz, sociólogos
de Mila Neri e o programa Ronda da Cidade.
DocuMentÁrIo, MInI-Dv, 21', 2007 Os contos da violência mistu-
rados à alegria e sensualidade
Este documentário reúne de- de um povo.
poimentos dos personagens
mais atuantes da cena hardcore
no Estado, a partir do questio-
namento: “É possível viver de
rock no Espírito Santo?”

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2010
— 20
Mar negro, 2013

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10
2015
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Aqui, agora e daqui em diante

O boom dos longas digitais

No momento em que este texto é escrito, em janeiro de 2015, o cine-


ma de longa-metragem produzido no Espírito Santo atinge um nível talvez
impensável até poucos anos atrás, quando esse tipo de produção ainda pa-
recia parte de um horizonte utópico para os realizadores locais. Uma série
de acontecimentos, envolvendo produções realizadas no Estado, chama a
atenção para a consolidação de um novo panorama na cadeia produtiva do
audiovisual capixaba, bem mais sólido que nas décadas anteriores.
O primeiro deles ocorre na Mostra de Cinema de Tiradentes, um
dos centros gravitacionais do cinema brasileiro contemporâneo, quando
dois filmes capixabas fazem suas estreias, aguardadas com certa ansiedade
e bem-recebidas pelo público, crítica e imprensa especializada, a nível
nacional: Teobaldo morto, Romeu exilado (2015), de Rodrigo de Oliveira, e As
fábulas negras (2015), produzido por Rodrigo Aragão.
Teobaldo morto, Romeu exilado, uma história de autoexílio, partidas e
chegadas, concorreu na Mostra Aurora, espaço que costuma revelar (inclu-
sive aos olhos do circuito internacional) realizadores que estão trilhando
caminhos autorais mais arriscados e inovadores, em propostas por vezes
bastante radicais. Não é a primeira vez de Rodrigo de Oliveira nessa com-
petição: seu longa-metragem anterior, As horas vulgares (2011), codirigido
por Vitor Graize, havia sido selecionado em 2012. Para Cléber Eduardo,
curador da mostra, trata-se de um filme ao mesmo tempo “minimalista”
e “barroco”, acumulado de emoções e intensidades – minimalista, pelas
informações a conta-gotas, pelos poucos cortes, privilegiando a encenação;
barroco “pelas palavras, pelo tom de certas cenas, pelos elementos visuais
e míticos somados aos corpos, pelo desfecho com adeus adiado, como se o
filme não quisesse se despedir”.
Já As fábulas negras é composto de cinco episódios, realizados pelos
quatro mais importantes nomes do cinema brasileiro de horror: além de
Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e o lendário José Mojica Marins
– em uma produção totalmente rodada em terras capixabas, com orçamento
reduzido. Nele, diversas lendas brasileiras, tradicionais ou contemporâneas,
são reapresentadas: do Saci à Loira do Banheiro (no Espírito Santo mais
conhecida como “Mulher de Algodão”), passando por Iara e pelo Lobiso-
mem, e incluindo um mito contemporâneo, criado pelo próprio Aragão
a partir do desequilíbrio ambiental que nos cerca – o Monstro do Esgoto.
Ainda em janeiro, são iniciadas as filmagens de Os incontestáveis, pri-
meiro longa de Alexandre Serafini. Trata-se de um road movie, com Opalas

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1
2

1 teobaldo morto, romeu exilado


2 a noite do chupacabras
3 as Horas vulgares

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e Mavericks, que parte da Grande Vitória até chegar à região do Contesta-
do, ao noroeste, na divisa com Minas Gerais. É o quarto longa-metragem
realizado por intermédio de um edital específico do governo do Estado,
cuja primeira edição ocorrera em 2009. Com o suporte deste mesmo edi-
tal, também foram viabilizados, além de Teobaldo morto, Romeu exilado, o já
mencionado As horas vulgares, filme que aposta em diálogos densos e uma
rigorosa mise-en-scène corporal na tradição do cinema francês pós-Nouvelle
Vague (como nas obras de Philippe Garrel e Jean Eustache), e Entreturnos
(2014), drama suburbano de Edson Ferreira que atualiza, para o contexto
contemporâneo, uma tradição humanista do cinema brasileiro dos anos
1970/1980, em uma trama marcada por reviravoltas e golpes de montagem
que põem em questão os pontos de vista narrativos, desconstruindo as
imagens que o espectador acreditava ter solidamente construído para cada
um dos protagonistas.
Um mês antes, Entreturnos havia sido um dos integrantes da comitiva
de filmes brasileiros participantes do 36º Festival Internacional del Nuevo
Cine Latinoamericano, realizado em Havana, em Cuba – poucos meses
depois de receber o prêmio do Júri Popular no 21º Vitória Cine Vídeo,
onde ocorrera sua estreia. Além disso, janeiro também anuncia a lista de
indicados ao Oscar 2015, trazendo, na categoria de documentário, O sal da
terra (de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado) que, apesar de não ser
um filme propriamente “capixaba”, teve cenas rodadas no Estado, além de
ter contado com recursos financeiros dos governos do Espírito Santo e de
Minas Gerais.
Esse cenário, repleto de perspectivas animadoras, não surgiu da noite
para o dia: ele começa a ser traçado a partir do final da década anterior,
quando surgem os primeiros longas-metragens digitais capixabas, ainda
realizados de forma independente. Essa leva, iniciada com Anjo preto (Gui
Castor, 2007), já chamava a atenção no final do ano seguinte, quando o
Vitória Cine Vídeo organizou uma mostra especial, na semana anterior ao
festival, reunindo os três longas locais finalizados em 2008: Mangue Negro,
de Rodrigo Aragão, Baby Bon bom, de Marcel Cordeiro e Harmonia do infer-
no, de Gui Castor. No ano seguinte, a extremamente positiva repercussão
nacional e internacional de Mangue Negro coloca o cinema de longa-me-
tragem capixaba no mapa dos grandes festivais – o que seria continuado
pelos filmes realizados em 2011: As horas vulgares, primeira obra capixaba
a participar da Mostra Aurora, principal sessão competitiva de Tiradentes,
e A noite do Chupacabras, segundo longa-metragem de Rodrigo Aragão, ins-
pirado no mito contemporâneo que habitava os tabloides e programas de
tV sensacionalistas dos anos 1990, e que também teria uma bem-sucedida
carreira nos festivais internacionais de cinema fantástico e de horror.
No ano de 2013 vem à luz o terceiro e mais bem-sucedido longa-
metragem de Aragão, Mar Negro que, trazendo uma história de zumbis com
forte viés político-ambiental, é selecionado para a mostra Novos Rumos,
do Festival do Rio. Assim como nos filmes anteriores do cineasta, há uma
(cada vez mais) potente construção de ritmo e atmosfera e um diálogo in-
tenso com o cinema de mestres do horror, como Lucio Fulci, Sam Raimi e

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George Romero, sempre temperados com farta dose de humor negro para
se criticar as convenções do status quo vigente. Já Outro sertão (2013), codi-
rigido entre a capixaba Adriana Jacobsen e a mineira Soraia Vilela, numa
coprodução entre duas empresas capixabas (Instituto Marlin Azul e Galpão
Produções), recebe o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília desse
mesmo ano. O documentário aborda o período em que o escritor Guima-
rães Rosa atuou como vice-cônsul do Brasil na Alemanha (1938-1942), em
plena ascensão do Nazismo.
Já o ano de 2014 traz, além da ficção científica Crônicas estelares – Livro
de memórias, de Marcelo N. Reis, originalmente realizada como websérie,
um filme voltado ao universo do surfe: A onda da vida, de José Augusto
Muleta e Raphael Gasparini, que conseguiria a difícil tarefa de entrar em
circuito nacional, ainda que com poucas cópias, chegando a algumas salas
de grandes redes como o Cinemark. Já do outro lado do planeta, os três
primeiros longas-metragens de Rodrigo Aragão entram em cartaz no Japão,
sendo que Mar Negro também seguiria os passos de Mangue Negro e seria
lançado em DVD na Alemanha, sob o nome de Bloodbath.

Novas perspectivas para o curta-metragem

Já no cenário do curta-metragem, a produção continua intensa e


diversificada, e a disponibilização de diversos filmes em sites de streaming
vem ampliando seu público, atingindo outros nichos para além dos canais
tradicionais (festivais, televisão, acervos institucionais). Em março de 2011,
é a vez do Panela Audiovisual entrar no ar, funcionando como um espaço,
dentro da internet, para divulgação dessa produção, tentando agrupar uma
produção até então pulverizada em sites como YouTube e Vimeo, ou mesmo
em torrents. Por outro lado, o circuito cineclubista, fortalecido pela criação
da occa (Organização dos Cineclubes Capixabas), em 2011, começa a realizar
suas primeiras mostras competitivas – com destaque para a Mostra Curta
Colorado, promovida pelo cineclube de mesmo nome, sediado em Cariacica.
Além disso, o desenvolvimento do campo audiovisual no interior do
Estado também abre caminho para outros espaços de exibição, como o Fecin
– Festival de tV e Cinema do Interior, surgido em 2012, em Muqui, e que
já realizou, até o momento, três edições anuais, sendo que na última delas
foram premiados os capixabas: Abrigo ao sol (2013), de Emerson Evêncio, nas
categorias Melhor Ficção e Melhor Atriz (para Teuda Bara); Fragma (2013),
de Eduardo Moraes, na categoria Júri Popular; e Últimos refúgios: Reserva
Biológica de Duas Bocas (2013), de Alexandre Barcelos, na categoria Web.
Outra iniciativa de difusão do audiovisual no interior do Estado veio
com as Mostras Capixabas de Audiovisual, promovidas pelo governo do
Estado por meio da Rede Cultura Jovem, entre os anos de 2010 e 2011. O
projeto envolvia oficinas de realização e exibições de filmes dirigidos por
adolescentes e jovens, em diversos municípios do Espírito Santo. Cada uma
das quatro mostras abrangia um recorte específico: etnográfico, histórico-
cultural, ambiental e rural. Cabe destacar também que esse incentivo à

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1

1 a noite do chupacabras
2 2 e meio

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iniciação audiovisual possibilitou tanto a criação quanto o fortalecimento
de pequenos núcleos de produção nas diversas regiões do Estado.

Um cinema jovem: os coletivos culturais e o curso de cinema da Ufes

A própria Rede Cultura Jovem, voltada para o incentivo a coletivos


culturais a partir de uma grande rede de interação e troca, também teve
vida curta, mas seus editais possibilitaram a criação de núcleos de produ-
ção audiovisual independentes, revelando uma série de novos realizadores,
atuando em curtas-metragens de baixo orçamento e em webséries. Mesmo
depois de encerrada a Rede, surgiram novos coletivos culturais, o que per-
mite atestar a centralidade dessa lógica compartilhada no modo de produção
da nova geração de cineastas surgidos nesta década.
Alguns desses coletivos fizeram parte da seleção da primeira edição
do Foco Capixaba, mostra competitiva criada em 2012, dentro do 19º Vitória
Cine Vídeo, para dar maior visibilidade à produção local. Dois deles foram
realizados com recursos dos editais da Rede Cultura Jovem: A história do
puteiro mais antigo de Vitória (2012), de Sidney Spacini (pela Tom Tom Tom
Filmes), e Confinópolis – A terra dos sem-chave (2011), de Raphael Araújo, in-
tegrante da Camarão Filmes & Ideias Caóticas, surgida em 2001.
Além desses dois títulos, outros cinco curtas-metragens fizeram parte
da primeira edição da mostra: Os lados da rua (Diego Zon, 2012), La isla de las
muñecas (Wayner Tristão e Lucas Bonini, 2012), Ao vivo de Bergue (Paulo Sena,
2011), Galinha d’Angola (Daniel Salaroli, 2012) e Romance a la Nelson (Mariana
Preti, 2012) – a maioria desses realizadores, inclusive, iniciaram suas car-
reiras a partir de 2010. Nas edições seguintes do festival, o Foco Capixaba
foi mantido, tornando-se uma de suas principais mostras competitivas – e
a sessão que atrai o maior número de espectadores de todo o evento.
O filme de Spacini assume-se como um falso-documentário, buscando
reinventar lúdica e ironicamente o passado da cidade de Vitória a partir
de uma perspectiva insólita, relatando os causos do fictício prostíbulo
Higher Ground, com base em fragmentos de episódios reais e forte dose
de invenção. Já Confinópolis, vencedor do Foco Capixaba, é uma adaptação
da HQ homônima, originalmente publicada na revista Prego, e assume toda
uma estética bem mais elaborada que os primeiros trabalhos de inspiração
trash da Camarão Filmes, ainda que o modo de produção punk e colabora-
tivo seja mantido. O filme aponta sua ironia para a questão crucial: “Daqui
em diante, para onde vamos?”. Daí a opção pela ficção científica futurista,
de fotografia estourada, caseira e em alto contraste. Aqui, o diálogo com
o do it yourself do punk faz-se fundamental para a instalação de uma visão
absolutamente distópica e corrosiva de um status quo vigente, ao mesmo
tempo desconstruído estética e politicamente.
Também participou da competição do Foco Capixaba, naquele ano,
a Garupa Filmes, representada pela dupla Wayner Tristão e Lucas Bonini,
que assina o documentário La isla de las muñecas (2012), em que o uso de
imagens de Super-8 confere uma dimensão onírica e fantasmagórica a um

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1

1 Confinópolis
2 eu zumbi

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1

2 3

1 pela Janela
2 Desfragmentos
3 coisa de menino
4 o uivo da carne
4

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pequeno santuário insular localizado ao sul da Cidade do México. Outros
trabalhos da produtora incluem, além de diversos videoclipes, a ficção Pela
parede (2012) também assinada pela dupla, além de Homem-ilha (2011), de
Daniela Camila e Ana Paula Sobreiro, cujas imagens, captadas sob um olhar
documental e realista, são convertidas em um relato ficcional conduzido
pela locução em off do protagonista, um pescador em exílio aparentemente
distante do caos urbano, vez por outra permitindo-se mergulhar em me-
mórias esmaecidas pela textura do Super-8.
Outros coletivos juvenis a serem destacados incluem o Ethos Diálogos
Visuais, premiado na 8ª Mostra Produção Independente (Melhor Fotografia
para Maíra Tristão) pelo documentário Além do mar que há entre lá e cá (Ma-
theus Costa e Henrique Gaudio, 2012), retratando os catraieiros da baía de
Vitória, e a Onírios Produções, com destaque para o instigante exercício de
horror metalinguístico Eu, Zumbi, coisas de bar ou Passa a régua e traz a conta
(Alexander S. Buck, 2011).
A produção do curso de Cinema e Audiovisual da Ufes, iniciado em
2010, também se fez presente na ala de estreantes do primeiro Foco Capi-
xaba, com Romance a la Nelson (2012), drama “rodrigueano” escrito e diri-
gido por Mariana Preti – que levaria os troféus de Melhor Filme e Melhor
Direção na Mostra Produção Independente, realizada pela aBD Capixaba
em julho daquele mesmo ano.1 Nos anos seguintes, os cineastas egressos
da faculdade de cinema seriam responsáveis por muitos outros trabalhos
relevantes, oxigenando o cenário local com sua diversidade de propostas
e vontade de arriscar. Entre as ficções, destacamos Algo sobre nós (2013), de
Diego Locatelli, O uivo da carne na terra da luz (2014), de Eduardo Madeira,
101 (2014), de Edson Rangel, e Pela janela (2014), de Diego de Jesus – cada
qual explorando, a seu modo, caminhos estéticos pouco percorridos no
cinema capixaba.
Já entre os documentários, podemos citar Sinal vermelho (2013), de
Naiara Bolzan e Cristina Margon, sensível documentário sobre artistas de
rua, Menção Honrosa no Foco Capixaba do 20º Vitória Cine Vídeo; Calado
(2014), de Lívia Gegenheimer, impactante ensaio visual e sensorial sobre a
presença dos navios de grande porte ao redor da Ilha de Vitória; Desfragmentos
(2014), de Melina Leal Galante, sobre um insólito cemitério de azulejos; e
Anchieta – Nossa história (2014), documentário em primeira pessoa de Hegli
Lotério, que parte de um time de futebol amador para empreender uma
redescoberta da figura do próprio pai da cineasta.
Já Perto da minha casa (2013), de Diego Locatelli e Carolini Covre, acom-
panha um grupo de adolescentes da periferia de Vila Velha, que encontram
em um areal da vizinhança um território pedindo para ser explorado,
sensorialmente, em toda intensidade, por seus corpos que correm, esca-

1 Além do curso da Ufes, também encontra-se em funcionamento, desde 2006, o curso


técnico de Rádio e tV do Centro Estadual de Educação Técnica (ceet) Vasco Coutinho,
mantido pelo Governo do Estado. Oferecendo cursos com duração entre um ano e meio
(diurno) e dois anos (noturno), ele tem formado, em quase uma década de funcionamento,
diversos técnicos atuantes no mercado audiovisual capixaba.

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lam e se equilibram por entre os vãos que separam as gigantescas pilhas
de contêineres surgidos ali da noite para o dia. Este é, até o momento, o
exemplar que mais circulou em festivais nacionais e o mais premiado dessa
safra de filmes universitários.

Novos caminhos para o cinema ficcional

Nos últimos anos, diversas obras ficcionais têm explorado estetica-


mente as tensões entre o real e o imaginário, a partir de abordagens bastante
distintas entre si: se os premiados Os lados da rua (vencedor do Cine Ceará,
em 2012) e Abrigo ao sol (Melhor Filme segundo o público no festival carioca
Curta Cinema, em 2013), partem do lirismo e da delicadeza para oferecer
novas alternativas para seus protagonistas enfrentarem a dureza e a solidão
cotidiana, em Galinha D’Angola, o mágico e o onírico são apresentados sem
maiores cerimônias, como se fossem feitos da mesma matéria que a reali-
dade concreta, de modo que a transição de uma a outra dessas dimensões
emane naturalmente aos olhos do espectador.
Míope (2013), de Gabi Stein, é um exercício do olhar calcado na ex-
ploração sensorial do desfoque, enquanto que Guerra fria (2014), de Paulo
Sena, oferece um interessante diálogo entre as mise-en-scènes do cinema e
do teatro. Também se destaca a poesia visual com que Saskia Sá empreen-
de um mergulho no universo interior da protagonista de Exílio (2015), e a
homenagem empreendida por Erly Vieira Jr. ao deboche e a ironia pop da
artista plástica e videomaker Elisa Queiroz, precocemente falecida em 2011,
ao roteirizar e filmar um argumento inédito dela em Pra casa agora eu vou
(2012).
Entre os projetos de maior repercussão no início dos anos 2010 te-
mos as incursões da tV Quase, criações coletivas muitas vezes produzidas
originalmente para veiculação na internet, e posteriormente reformatadas
em curtas-metragens de comédia escrachada, como Cachaça – Caçadores
do Alambique Perdido (2010), Seu Zezin e a Lei Velho Cagado (2010), Raquetadas
para a Glória (2011), Loja de Inconveniências – A maldição do Caipora (2012), e a
animação As descobertas de Fifi (2010).
Há também incursões solo de seus integrantes: Juliano Enrico, já
residindo fora do Espírito Santo, adaptaria sua série de charges Irmão de
Jor-El para a televisão, numa série de desenhos-animados estreada em
2014 na grade do canal de tV por assinatura Cartoon Network. Já Klaus
Berg Bragança, outro integrante do coletivo, assinaria Locus (2011), denso e
inventivo estudo sobre as diversas formas da loucura.
Talvez as mais potentes incursões de cineastas veteranos no campo da
ficção em curta-metragem, nesses últimos anos – ao lado de Loja de incon-
veniências, esse híbrido de ficção e animação com um roteiro “demolidor” e
uma direção de arte “tão saborosa quanto delirante” – sejam 2 e meio (2010),
de Alexandre Serafini e A cabra (2011), de Gui Castor. O primeiro radicaliza a
pesquisa de seu diretor no campo do suspense, desta vez levando o especta-
dor ao universo do mercado de carros roubados nas labirínticas quebradas

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1 exílio
2 Míope
3 sombras do tempo
4 abrigo ao sol

3 4

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da periferia da região metropolitana, amparado pelos envolventes diálogos
assinados pelo escritor Saulo Ribeiro (em uma parceria que será repetida em
Os incontestáveis), rendendo a Otoniel Cibien o prêmio de Melhor Ator no
17º Vitória Cine Vídeo. Já o segundo, iniciado com as imagens cruas de um
parto, aos poucos vai transportando o espectador a uma atmosfera de total
louvação ao artifício, num misto de estranheza e nonsense, transbordando
ironia na surpreendente citação ao bolero de Altemar Dutra, dublado pelo
também cineasta João Moraes.

Engajamentos e tensões no cinema do real

Colhendo os frutos do boom observado na década anterior no campo


do documentário, vemos a produção capixaba no segmento continuar a
pleno vapor. Nesta primeira metade de década, por exemplo, muitas são
as realizações engajadas no diálogo com comunidades usualmente opri-
midas pelos interesses dos grandes empreendimentos e suas estratégias
de resistência. Nesse cinema de guerrilha, Ricardo Sá continua a ser um
nome de destaque, realizando, em parceria com Werá Djekupe, o híbrido
de documentário e etnoficção Reikwaapa (2013), investigação sobre os ritos
de passagem nas aldeias guarani do Espírito Santo, que aos poucos estão
sendo esquecidos pelas gerações mais jovens – o filme seria o vencedor
do Foco Capixaba no 20º Vitória Cine Vídeo, em 2013. A temática indígena
também estaria presente na ficção Como a noite apareceu (2010), de Alexan-
dre Perim, com roteiro de Jovany Salles Rey, rodado com elenco indígena
e totalmente falado na língua guarani, e no documentário Borum-Krenak
(2013), de Adriana Jacobsen, que conta a história dos botocudos na região
do vale do Rio Doce. Já a questão da resistência quilombola aparece no
documentário Imprensados (2013), de Ariel Lacruz, Breno Vinicius Silva,
Lígia Sancio, Tião Xará e Vitor Hugo Simon.
Nas abordagens da cultura popular, vertente iniciada na produção local
ainda década de 1970 e mantida constante nos anos seguintes, destacam-
se os documentários: Pedras pretas (2012), de Marcos Valério Guimarães,
sobre as manifestações tradicionais da região de Itaúnas; Casaca (2013), de
Orlando Bomfim, sobre a história do instrumento musical mais caracterís-
tico do folclore capixaba; e Mulheres do congo (2014), de Sandy Vasconcelos,
abordando, por meio das questões de gênero, uma perspectiva pouco usual
nesse campo do documentário. Outro mergulho bastante interessante é
Tramas (2014), de Leonardo Gomes, que mescla lendas e tradições culturais
a aspectos contemporâneos da região do Vale do Caparaó, no sudoeste do
Espírito Santo.
Há também trabalhos de resgate da memória cultural capixaba que
enfoquem a música popular, como é o caso de Um Sampaio teimoso (2010),
de Nayara Tognere. Feito em coprodução entre eS e rJ, o curta investiga a
figura de um dos mais emblemáticos compositores capixabas: o cachoei-
rense Sérgio Sampaio, autor de um dos hinos da contracultura nacional, a
marcha-rancho “Eu quero é botar meu bloco na rua”, concorrente no Vii

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Festival Internacional da Canção (1972), cujo compacto chegou a vender
mais de quinhentas mil cópias na época.
Já em um trânsito multicultural, registrando suas flanêries pelos quatro
cantos do planeta, Gui Castor continua sua série de documentários expe-
rimentais, sempre em incessante movimento, destacando-se aqui Café com
Pernas (2011), Bratislava (2011) e Cavalo Ferro (2013). Neste último, a câmera
comporta-se como passageiro a interagir com as mais diversas paisagens
internas e externas, registrando fugazes impressões e explorando as sensa-
ções visuais e sonoras no trajeto do trem da estrada de ferro Vitória-Minas.
O espaço urbano também reaparece sob diversas formas nos docu-
mentários realizados a partir de 2010. Seja pelo estranhamento de uma
cidade que, por conta do crescimento acelerado, já não se reconhece mais
nas memórias afetivas da cineasta em Uma volta na lama (2010), de Ursula
Dart, que parte de imagens de arquivo para confrontar presente passado
e explorar o imaginário em torno da rua da Lama, em Jardim da Penha,
principal reduto boêmio/alternativo de Vitória a partir da década de 1980;
seja pelo exercício curatorial de intervenção urbana, repaginando a paisagem
cotidianamente percorrida a partir do trabalho de sete artistas plásticos
contemporâneos, em O ano em que fizemos contato (2010), de Erly Vieira Jr;
ou, ainda, pelo embate entre a dureza da realidade cotidiana e o exercício
da imaginação como instância criadora, tanto na invenção de uma emissora
de televisão imaginária (a tV Metrô), dotada de uma complexa grade de
exibição que reinventa os canais habituais, quanto na performatização, seja
como transformista ou diretor de teledramaturgia, ofícios experimentados
por Wagner, jovem protagonista do premiado A cor do fogo e a cor da cinza
(2014), de André Félix.
Há também a possibilidade (concretíssima) de reinvenção do próprio
corpo, como nos documentários Rainhas da noite (2010), de Diego Herzog,
sobre drag queens, e Meninos do Arco-íris (2013), de Herbert Pablo, sobre
transgêneros, vencedor da Mostra Quatro Estações, voltada para filmes de
temática lgBt, no 20º Vitória Cine Vídeo. E (porque não?) os mergulhos,
nem sempre racionalmente explicáveis, empreendidos por Lucia Caus nos
mistérios das paixões amorosas (Estranho amor, 2010) e na fé (Somos todos
filhos de Jorge, 2012), cujas experiências reverberam em nossos corpos e que
são atentamente investigados pela documentarista, continuando a forma
de abordagem iniciada em seu curta Homens (2008).
As paixões políticas e suas fissuras também encontram seu lugar em
O que bererico vai pensar? (2012), de Diego Scarparo. O filme explora os re-
flexos da Ação Integralista Brasileira, em Burarama, no interior do Estado,
ao tentar explorar o silêncio velado, mantido através das gerações, entre
os descendentes de duas famílias de imigrantes italianos, cujos patriarcas
eram amigos bastante próximos, até se desentenderem por divergências
ideológicas – em um abismo que se estende por várias décadas. Outros
embates também são possíveis: seja pela ação política direta das manifes-
tações civis, nos petardos black block de Davis Alvim, Setembro negro (2013)
e Casagrande e as ruas do medo (2014), ou na gag visual demolidora de Sol
na Garganta do futuro e Wanessa (2010), de Ítalo Galiza, Jamile Ghil e Marcos

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Luppi, que parte de um gritante erro de escalação no show de abertura
de uma cantora pop, convocando um conjunto musical experimental que
pouco agradaria ao fã-clube da “artista-celebridade”, para lançar, por cima
da constrangedora vaia, a pergunta: “O pop poupa a poesia?”

Documentários sobre esportes

Ainda no território das paixões e distopias, há três documentários


dedicados ao futebol capixaba. O primeiro deles é Espírito Santo Futebol
Clube (2012), de André Erlich Lucas e Lucas Vetekesky, que acompanha a
campanha do time homônimo, sendo, nas palavras do crítico Rodrigo de
Oliveira, “um filme sobre uma equipe à beira da inexistência, repleto de
dramas menores e mais tradicionais, mas que acaba se filiando à figura
do presidente, do menos pobre entre os pobres, justamente por ser o que
mais arrisca – e o que cai do lugar mais alto”. Em seguida, temos Vitória F.
C. (2014), de Vitor Graize e Igor Pontini, que, nos moldes do cinema direto,
acompanha um dos mais tradicionais times locais no ano de seu centená-
rio, como uma espécie de observador invisível, porém ruidoso o suficiente
para fazer falar, junto ao espectador, o silêncio de uma campanha esportiva
ocorrida sem maiores estardalhaços ou acontecimentos extraordinários,
mas que ainda assim, nos fazem comungar das fraquezas e das pequenas
paixões que movem o dia a dia dessa agremiação. O terceiro filme, também
partilhando, de certa forma, da melancolia que envolve o filme de Graize
e Pontini, é Invisível (2014), de Diego de Jesus, que parte da constatação de
que a maioria esmagadora da população da Grande Vitória não torce para
nenhum time local, para daí investigar os anseios e distopias daqueles que
se dedicam a fazer parte das frágeis torcidas organizadas do futebol capixaba.
Todavia, em lugar de se contentar com os silêncios, o filme busca dar voz
a alguns torcedores solitários, como se suas palavras pudessem, de alguma
forma, desafiar a aridez do vazio que os rodeia.
Ainda no campo do documentário esportivo, o montanhismo é o tema
de Amigo imaginário: Uma conquista feminina no Espírito Santo (2013), de Oswaldo
Badin, detentor de três troféus (Melhor Filme pelo Júri Oficial, pelo Júri
Popular e Melhor Filme Brasileiro) na mostra internacional do Rio Moun-
tain Festival 2013. Já na vertente do documentário ambiental, mesclando
a preocupação ecológica com forte apuro estético, tanto na bem-cuidada
fotografia quanto na concepção sonora arrojada, temos a série de Últimos
Refúgios, nas quais destacam-se Itaúnas (2011), de Yuri Salvador, Toninho Ma-
teiro (2012), de Reinaldo Guedes, e Duas Bocas (2013), de Alexandre Barcelos.

Animações e filmes experimentais

No campo da animação, a produção também segue com títulos bem


relevantes, como o atmosférico Tortoise e a Espeleosofia (2010), de Gabriel
Albuquerque, ensaio existencial que mistura animação em 2D, 3D e aquarela.

152 Plano Geral

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1

1 O ano em que fizemos contato


2 alguns tritões

2010 — 2015 153

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1

1 uMa
2 loja de inconveniências – a maldição do caipora

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Gabriel, desde a década anterior, tem sido um dos mais atuantes ani-
madores do cenário local, não só trabalhando em diversos projetos, mas
também lecionando e incentivando o trabalho do novos animadores. Outro
destaque é o psicodélico Saia (2014), de Davi de Jesus Cáo, animação em 3D
selecionada para o Panorama Internacional do Anima Mundi, 2014. Temos
ainda o mergulho expressionista com toques de malandragem carioca de
Sangue e Rosa (Diego Scarparo e Henrique Gomes, 2011) e a adaptação do conto
de Machado de Assis, Um apólogo (Darcy Alcântara, Felipe Gaze, Wolmyr
Alcântara e Délio Freire, 2012), transposto para o contexto do surgimento
da primeira escola de samba brasileira.
Alexandre Barcelos assinaria uma das mais radicais experiências
sensoriais realizadas no cinema capixaba, com seu curta-metragem experi-
mental Uma (2011). Tendo recebido, no 18º Vitória Cine Vìdeo, os prêmios
“Inovação e novas linguagens” e “Melhor Curta-metragem Capixaba”, o filme
tem como pontos de partida uma visão da Terra como um macrorganismo
vivo e a atmosférica composição “Aerial”, do Moby, um dos nomes mais
importantes da história da música eletrônica mundial. Exploram-se aqui,
em uma série de metáforas visuais e sonoras, as possibilidades técnicas
dos meios analógicos e digitais, partindo tanto de imagens microscópicas
quanto astronômicas, mesclando sons da natureza e do espaço urbano e
usando recursos técnicos como adaptadores caseiros de lentes 35 mm para
filmadoras DSlr e até mesmo os efeitos das vibrações sonoras nas tintas.
Outro trabalho experimental de destaque é Encontros (2013), de Ro-
nalson Filho, exercício em found footage, que parte da coleta e apropriação
de imagens caseiras anônimas, em sua maioria registros de viagem e de
cenas cotidianas, postadas por desconhecidos no site Vimeo, para a cons-
trução de uma narrativa ficcional totalmente mediada por mensagens
instantâneas de celular. E, no campo da videoperformance, Rubiane Maia
apresenta o díptico Esboços de um corpo desconhecido (2014), no qual utiliza
o próprio corpo em contato com diversos alimentos, para daí estabelecer
novas relações com eles.

A ascensão das webséries

Por fim, cabe citar a produção de narrativas seriadas para veiculação


em internet, filão que só recentemente começa a ser explorado por uma
nova geração de realizadores. A primeira experiência capixaba nesse campo
data de uma década atrás, com os dois episódios efetivamente realizados e
veiculados da ficcional Menina do blog (2005), de Roberto Seba, que inclusive
eram disponibilizados para download em uma webpage própria.
A própria tV Quase fez, durante toda sua existência, diversos experi-
mentos nesse campo, como as pérolas de humor ácido Loja de Inconveniências
(2010), Novela beijo gay (2011) e Lei Velho Cagado (2012). Também participou
de Overdose (2013), série televisiva criada e dirigida pelo humorista carioca
Arnaldo Branco. Overdose fala de uma banda de rock fracassada, cujos in-
tegrantes incluem membros do coletivo: Daniel Furlan, Juliano Enrico e

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Raul Chequer. Exibida na mtV, seu sucesso fez com que os dois primeiros
fossem contratados como VJs da emissora.
Nos últimos quatro anos, pode-se dizer que tivemos um boom de
webséries capixabas, tanto surgidas de maneira independente, quanto
patrocinadas pelos editais da Rede Cultura Jovem. Em termos de docu-
mentário, destacam-se os projetos Na cola (3 episódios, 2012), sobre jovens
artistas dos morros e periferias da Grande Vitória e Pedal (três episódios,
2014), ambos de Ramos Zagoto, este último abordando a ciclomobilidade
urbana; Sex-Oh (3 episódios, 2012), da Tom Tom Tom Filmes, em que os
entrevistados falam abertamente sobre suas experiências sexuais; Eu modo
mundo (3 episódios, 2011), do Coletivo Compartilhe ou Nada, Piedade, Berço
do samba, terra de bamba (3 episódios, 2011), do Grupo Raízes da Piedade,
retratando as memórias e o cotidiano da tradicional escola de samba do
Centro de Vitória. Há projetos realizados fora da Grande Vitória, como Pé
na estrada (2012-2013), de Giandro Gomes, rodada em Muniz Freire e no
Vale do Caparaó; e Raiz Forte (3 episódios, 2012), de Charlene Bicalho, so-
bre estética afrodescendente e cabelos crespos, contendo depoimentos de
mulheres negras de diversas regiões do Espírito Santo.
Em um campo mais ficcional, além da já citada incursão na ficção cien-
tífica futurista, Crônicas estelares (Marcelo Reis, 2012, 7 episódios), devemos
destacar também Valdemar (10 episódios e um spin-off, 2013-2014), de Victor
Neves, Pedro Melatte e Renato Miranda), suspense com toques surrealistas
ambientando em uma universidade fictícia, com fortes influências de séries
como Twin Peaks (David Lynch) e O reino (Lars Von Trier), destacando-se por
seu roteiro bastante ambicioso e repleto de tramas paralelas.
Dialogando com as mais diversas referências culturais, buscando
produzir novas imagens do presente e pondo em questão a usual imagérie
de nossas tradições. Assumindo uma vocação cosmopolita que aponta para
as potencialidades do presente para marcar seu lugar no mundo – esse é
a condição atual da produção audiovisual capixaba, nesta segunda década
do século XXi.
Se ainda não ocupamos um lugar de destaque no panorama nacional,
ao menos estamos bem-servidos em termos de diversidade de propostas
e olhares. À medida que o contexto da produção vai se firmando cada vez
mais, cabe aos realizadores em atividade no Espírito Santo dar continui-
dade a essa trajetória, em que a reflexão sobre realidade que nos cerca é
um ato cada vez mais necessário. E que a segunda metade desta década
possa cada vez mais confirmar essas promessas. A sensação que fica é que,
mesmo depois de tantos anos, o jogo está apenas começando, só que agora,
finalmente parece que é para valer.

156 Plano Geral

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2010 — A baleia Jubarte A cabra
de Alexandre Campaneli de Gui Castor
+1 Brasileiro anIMação , 4', HDv, cor, FIcção, 12', HDv, cor,
de Gustavo Moraes 2013, vItórIa (es) 2010, espírIto santo
FIcção, 17', DIgItal, cor,
2015, vItórIa (es) Uma baleia jubarte vivia feliz A vida é um inferno desejado.
a nadar até o dia em que fica
Música e drama se encontram presa no lixo lançado no mar A Troféu Melhor Filme Livre na
quando Torquato, um taxista pelos humanos. Mostra do Filme Livre, Rio de Ja-
viúvo, enfrenta toda a sorte de neiro, 2011
brutalidade nas ruas para criar Abrigo ao Sol
sua filha a duras penas, expres- de Emerson Evêncio A casa do sítio e
sando suas frustrações e sua per- FIcção, 18', H.264, cor, suas magias
severança soltando a voz. 2013, vItórIa (es) de Ianh Moll Zovico
anIMação, 2', DIgItal, cor,
101 Sob o sol deita-se a memória 2012, vIla velHa (es)
De Edson Rangel de uma espera. E depois do
FIcção, 9', DIgItal, cor, 2014, es horizonte? O que lhe espera? A casa do sítio, como é chama-
A busca idosa e pulsante move da por seus residentes, ganha
Um artista vive uma noite in- essa mulher, que tenta dar sen- vida. Animações de papel são os
comum em sua casa, onde um tido ao tempo. responsáveis por gerar a alegria
estranho invasor, de quem não do casal Mônika e Carlão (ar-
pode fugir, revelará seu medo A Prêmio Melhor Filme Panorama quiteta e engenheiro) ao cons-
mais oculto. Nacional – Prêmio de Público, 23° truir a casa dos sonhos, com
Festival Internacional de Curtas todo amor e carinho.
2 e Meio do Rio de Janeiro – Curta Cinema
de Alexandre Serafini 2013 A Melhor Curta pelo Voto do A Melhor Vídeo Arte no I Panela
FIcção, 18', 35MM, cor, Júri e Prêmio Especial de Atuação Audiovisual, Vila Velha, 2013
2010, vItórIa (es) – Atriz Teuda Bara, 9° Mube Vitrine
Independente – São Paulo, 2013 Acaso
Com o roubo de seu carro de A Prêmio Melhor Filme e Prêmio de Christiane Reis
trabalho, Hernani, um mecâ- Melhor Atriz – Atriz Teuda Bara, FIcção, 11', HDv, cor,
nico de elevadores, toma uma 8° Encontro Nacional de Cinema e 2011, vItórIa (es)
atitude desesperada. Vídeo dos Sertões, 2013 A Prêmio
Melhor Filme e Prêmio Melhor Duas vidas distintas: Luíza é
A Melhor Ator (para Otoniel Ci- Diretor, 2° Festival de Cinema de tatuadora e estuda Design de
bien) A Melhor Curta Capixaba no Santa Rosa (RS), 2013 A Prêmio da Moda. Com a vida agitada, é
17º Vitória Cine Vídeo ABD/ES, 20° Festival de Vitória – rodeada de amigos e está pas-
Vitória Cine Vídeo, 2013 A Menção sando por uma mudança. Ruan
Honrosa, Festival Chico de Cine- é recém-formado e está procu-
ma 2013, Palmas (TO) A Menção rando emprego. Desanimado,
Honrosa na IX Mostra Produção não pensa em outra coisa que
Independente, Vitória, 2014 não seja sua carreira e estabi-
lidade financeira. Será que o
acaso vai colaborar para esses
dois mudarem suas formas de
verem a vida e serem felizes?

2010 — 2015 157

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A cidade viva e A fantástica vida de A história do puteiro
seus diálogos Baffus Bagus Bagarius mais antigo de Vitória
de Juliano Koscky de Alexander S. Buck de Sidney Spacini
DocuMentÁrIo, 3', DIgItal, FIcção, 13', DIgItal, cor, FIcção, 11', DIgItal, cor,
cor, 2012, espírIto santo 2012, vItórIa (es) 2011, vItórIa (es)

Carlitos e Saltimbanque são Exilado de seu mundo, Baf- O pseudo-documentário A


dois artistas de rua que buscam fus Bagus Bagarius vaga pelas História do Puteiro Mais Antigo
conquistar seu lugar ao sol em ruas da cidade até encontrar na de Vitória contará pedaços da
meio ao caos urbanista tentan- publicidade a única forma de história do prostíbulo “Higher-
do sempre encarar o cotidiano manter sua existência. Ground” que acaba de ser fe-
de forma lúdica. chado e resgatará seus princi-
A Melhor Ficção no I Festival Pa- pais personagens.
A Melhor Documentário no I nela Audiovisual, Vila Velha, 2013
Festival Panela Audiovisual, Vila A ladeira
Velha, 2013 A grande árvore de Iza Rosenberg
de Orlando da Rosa Farya FIcção, 15', DIgItal, cor,
A cor do fogo e DocuMentÁrIo, 30', DIgItal, 2011, espírIto santo
a cor da cinza 2014, IbIraçu (es)
de André Félix Dona Santa é uma senhora que
DocuMentÁrIo, 23', DIgItal, Uma homenagem ao monge tem um caminho a percorrer.
cor, 2014, vItórIa (es) Dayju San  que revela  a expe- Mesmo com problema na perna
riência da criação do primeiro e sacolas pesadas para carregar,
Wagner vive na favela e desde Mosteiro Zen Budista da Amé- ela não desiste de subir a ladei-
os 7 anos de idade é proprie- rica Latina, reconhecido como ra. Nessa história cotidiana, há o
tário da Rede Metror, um ca- um espaço de importância am- contraste do tempo entre gera-
nal de televisão feito de papel biental, turística e educacio- ções e a contemplação das coisas
e lápis de cor. Após 11 anos e nal. O Mosteiro Zen Morro da que sempre deixamos pra trás.
mais de 70 novelas transmiti- Vargem, localizado no municí-
das, Wagner dirige atrizes reais pio de Ibiraçu, foi fundado em A Vencedor do Concurso de Ro-
pela primeira vez. 1974, e trouxe o conhecimento teiros do 16º Vitória Cine Vídeo
da Escola Soto Zen, introduzida
A Troféu ABD-SP de Destaque da no Japão pelo Mestre Dogen
Mostra Brasil no 25º Festival In- Zenji (1200-1253), fundador
ternacional de Curtas de São Paulo do Mosteiro Eihei-ji, no ano
– Kinoforum A Prêmio Especial de 1244. O local tornou-se
do Júri no 21º Vitória Cine Vídeo uma referência em educação
A Melhor Filme na X Mostra Pro- ambiental e na vivência desta
dução Independente, Vitória, 2015 filosofia.

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Além do mar que Ali, na Costa Pereira Amor mascarado
há entre lá e cá de Matheus Costa, Heitor de alunos da Escola do
de Henrique Gaudio Riguette, Henrique Gaudio Campo e Estação de Ciências
e Matheus Costa e Ana Paula Gonçalves Margarete Cruz Pereira
DocuMentÁrIo, 23', DIgItal, DocuMentÁrIo, 28', DIgItal, anIMação, 8', DIgItal, cor,
cor, 2011, espírIto santo cor, 2012, vItórIa (es) 2013, carIacIca (es)

Nadando contra a corrente, a O filme aborda a questão do A história de um amor adoles-


catraia constitui-se num dos uso do espaço público e os dife- cente que mistura o Carnaval
mais antigos meios de trans- rentes investimentos afetivos e de Máscaras e o Congo, duas
porte entre a capital e a cidade simbólicos que a ele se direcio- tradições da região.
de Vila Velha (ES). Em plena nam. Trata mais especificamen-
“cultura do automóvel”, sur- te de uma praça localizada na A Melhor Filme Infantojuvenil
preende que existam pessoas região central da capital Vitória. no FATUX – Festival Brasileiro
que preferem “o remo à roda”. O que nos interessa é saber: o de Filmes de Aventura, Turismo e
No entanto, é isso que per- que pode um espaço? Sustentabilidade, Paraty (RJ)
cebemos quando olhamos de
perto os pequenos barcos que Algo sobre nós A mão tagarela
insistem em cruzar a abarrota- de Diego Locatelli de Erly Vieira Jr
da baía do centro. Símbolos de FIcção, 15', HD, cor, DocuMentÁrIo, 13', HDv,
“tempos que não voltam mais”, 2013, vItórIa (es) cor, 2010, vItórIa (es)
os catraieiros testemunham que
a história não consiste apenas Um jovem mora em uma ci- Uma tarde no atelier do artista
do passado, mas se situa e se dade sitiada por indústrias que Hélio Coelho.
escreve no presente. exportam aço. Ao dormir, sem-
pre tem problemas, pois escuta Anchieta
A Melhor Fotografia na VIII Mostra o som ambiente composto pelos de Hegli Barbosa Lotério
Produção Independente (Vitória, ES) ruídos dessas, que o impedem DocuMentÁrIo, 15', DIgItal,
de descansar. Essa “insônia so- cor, 2014, espírIto santo
A lenda do nora” reflete na melancólica e
apartamento 103 retraída vida do jovem. Time de futebol amador ativo
de Ianh Moll Zovico há mais de 30 anos, no bairro
FIcção, 4', DIgItal, cor, Alguns tritões de Argolas (Vila Velha, ES), An-
2012, vIla velHa (es) de André Ehrlich Lucas chieta desperta em Hegli Lo-
DocuMentÁrIo, 16', Dcp, tério, filha de um de seus fun-
Homem perde uma aposta e cor, 2015, vIla velHa (es) dadores, a curiosidade quanto
resolve encarar o desafio de às histórias que tanto escutou
entrar no apartamento mais Alguns tritões de Vila Velha. na infância. Nesse contexto,
assombrado de sua cidade. o documentário é uma busca
por esses fragmentos que cul-
minam em outras histórias de
laços de amizade e família.

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Angorá A onda da vida – uma As curvas de Niemeyer
de Emerson Evêncio história de amor e surf de alunos do Projeto
FIcção, 11', 35MM, cor, de José Augusto Muleta Animação Instituto Marlim
2011, vItórIa (es) FIcção, 75', HDv, cor, Azul (IMA AZUL)
2014, regêncIa (es) anIMação, 10', 35MM,
Angorá é um desencontro entre 2010, cor, vItórIa (es)
Bruno, Fabrício, Silvio e Lucio, Tudo começa quando três jo-
suas crises e um gato. O filme é vens amigos surfistas partem A menina Estela embarca numa
uma tentativa recortada e não para uma viagem Brasil afora nave do tempo junto com Oscar
linear de aproximar o Medo, a em busca de novas experiências, Niemeyer, um dos mais impor-
Culpa, o Ego e o Sensível pelo ondas perfeitas e novos sonhos. tantes arquitetos modernos do
olhar felino. Destino? Quem sabe? Uma aven- mundo, para descobrir as prin-
tura que vai mudar as vidas de cipais obras do artista em uma
A noite do Chupacabras Joel, Thiago e Caio para sempre. aventura fantástica de curvas
de Rodrigo Aragão e cores.
FIcção, 104', HD, cor, A Melhor Filme no Festival de Vis-
2011, guaraparI (es) conde do Rio Branco, 2013 As descobertas de Fifi
de Yuri Custódio
A rixa entre duas famílias, Silva Ao vivo de Bergue anIMação, 2', DIgItal, cor,
e Carvalho, é a distração per- de Paulo Sena 2010, espírIto santo
feita para camuflar os ataques FIcção, 12', DIgItal, cor,
do Chupacabras. Enquanto os 2011, espírIto santo A inocente cadelinha Fifi des-
rivais entram em combate, a si- perta para a puberdade e tenta
nistra criatura lambe de sangue Bergue liga a TV e acompanha ao lidar com o turbilhão de hor-
vítimas sem chance de defesa. vivo um sequestro inusitado: ele mônios.
Num clima de Bang Bang, e fá- mesmo mantendo uma refém
bula épica, A noite do Chupacabras em sua própria casa. Culpado As fábulas negras
promete belos banhos de san- ou inocente? A essência não está de Rodrigo Aragão, Petter
gue, muitos tiros e um monstro nos fatos, talvez nas impressões Baiestorf, Joel Caetano
100% latino-americano. deixadas pelo caminho. e José Mojica Marins.
FIcção, 93', HD, cor,
A Melhor Criatura, Cinefantasy A própria cauda 2015, guaraparI (es)
(São Paulo, 2011) de Virginia Jorge
FIcção, 15', HD, pb e cor, Um grupo de crianças em-
A nona vítima 2015, vItórIa (es) barca numa aventura macabra
de Diego Zon povoada por personagens do
FIcção, 11', DIgItal, cor, Um homem, uma mulher e imaginário popular brasileiro
2012, vItórIa (es) o bicho que há em cada um – lobisomem, bruxa, fantasma,
de nós. monstro e Saci. Com o encon-
Oito misteriosos assassinatos tro antológico entre quatro
ocorrem no campus da Ufes. A Melhor Filme na X Mostra Pro- dos nomes mais importantes
Os crimes que abalam a Gran- dução Independente, Vitória, 2015 do terror nacional: Rodrigo
de Vitória, tornando-se foco Aragão, Petter Baiestorf, Joel
da imprensa local. Enquanto Caetano e José Mojica Marins,
a polícia permanece sem sus- o eterno Zé do Caixão.
peitos, um nono assassinato
poderá ocorrer.

A Melhor Montagem no Festival


de Cinema de Maringá em 2012

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As horas vulgares Baía do Espírito Santo Borum-Krenak
de Rodrigo de Oliveira de Claudino de Jesus De Adriana Jacobsen
e Vitor Graize DocuMentÁrIo, 30', HDv, DocuMentÁrIo, 10', DIgItal,
FIcção, 123', HD, pb, cor, 2014, vIla velHa (es) cor, 2013, vItórIa (es)
2011, vItórIa (es)
Uma visão acerca do processo A história desconhecida de um
Na noite vazia de Vitória, Théo de implantação dos portos no povo que sobreviveu à coloni-
e Lauro se reencontram. Entre canal de Vitória e sua reper- zação do Vale do Rio Doce.
a cumplicidade dessa noite e a cussão na vida e na cultura
lembrança de noites passadas das pessoas, bem como sua Bratislava
com velhos amigos, bebidas e influência na paisagem e no De Gui Castor
jazz, eles irão confrontar a rea- meio ambiente. DocuMentÁrIo/ eXperIMental,
lidade e o desencanto. 8', HDv, cor, 2011, vItórIa (es) e
Bar do Pantera bratIslava (repúblIca tcHeca)
A sombra da mucuri de Juliana Gama
de alunos da Escola Estadual DocuMentÁrIo, 26', HDv, A vida produz um som.
de Ensino Fundamental cor, 2013, carIacIca (es)
e Médio de Mucurici Cachaça – os caçadores
anIMação, 10', DIgItal, cor, O Bar do Pantera é um local do alambique perdido
MucurIcI e vItórIa (es) de aparência simples, mas que de Juliano Enrico
se tornou uma das referências FIcção, 13', DIgItal, cor,
A obra resgata a história da culturais para o município de 2010, vItórIa (es)
Guerra do Contestado, um con- Cariacica. Espaço de convivên-
flito por fronteiras registrado cia e troca de ideias, a história O pacato aventureiro Aço Fino é
no noroeste capixaba entre as do bar se confunde com a his- obrigado a embarcar numa pe-
décadas de 1940 e 1960, envol- tória de vida de muitas pessoas rigosa jornada em busca de um
vendo os estados do Espírito que passam por ali. misterioso Alambique Perdido.
Santo, Minas Gerais e Bahia.
A animação também mostra o Boa Noite A Prêmio de Pesquisa de Lingua-
desenvolvimento do município de Victor Neves gem, 17º Vitória Cine Vídeo, 2010
ao longo das décadas. FIcção, 9', Full HD, cor,
2014, vItórIa (es) Café com pernas
Atrás de uma bola de Gui Castor
de Gustavo Moraes O zelador passa os dias nas FIcção, 39', HDv, cor,
FIcção, DIgItal, 10', dependências do prédio onde 2010, espírIto santo
vItórIa (es), 2015 trabalha. Aos poucos, mudan-
ças em sua rotina passam a in- É um filme que mostra o con-
Uma bola chutada com força; comodá-lo e ele sente que está flito de um homem encurrala-
uma criança correndo atrás perdendo seu espaço. do no próprio mundo. Simples
dessa bola e um carro vindo fatos cotidianos confluem e se
na direção desse menino com A Vencedor da Mostra Ecos, Vi- entrecruzam, gerando proble-
a bola. Esta situação, vista um tória, 2014 máticas que ele atravessa.
dia em uma rua, originou a
ideia deste curta-metragem.
Entreter e ao mesmo tempo
questionar as escolhas que fa-
zemos e a vida que escolhemos
levar. Atrás de uma Bola… é
acima de tudo uma saudação
e celebração da vida.

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Calado Coisa de Menino Confinópolis – a terra
de Lívia Gegenheimer de Bipe Couto e dos sem-chave
DocuMentÁrIo, 14', HD, Dayana Cordeiro de Raphael Araújo
cor, 2014, vItórIa (es) FIcção, 17', DIgItal, cor, FIcção, 16', HD, cor, 2012,
2014, vItórIa (es) vItórIa e vIla velHa (es)
O corpo estranho e majestoso
em meio à metrópole. Calado Descobertas e perdas. Um abis- Confinópolis é um lugar onde o
é a profundidade que um navio mo entre pai e filho. De forma totalitarismo reina e as pessoas
imerge em água. Que imerge sensível, o curta metragem Coi- são trancadas em seus próprios
em nós. sa de Menino retrata a história corpos que, no lugar de rostos,
de João, um menino de 10 anos têm fechaduras sem chave. O
Casaca que, após a morte da mãe, viu a clima de policiamento e violên-
de Orlando Bonfim Netto relação com o seu pai, Olavo, se cia dominam a narrativa. Con-
DocuMentÁrIo, 20', DIgItal, tornar cada vez mais distante. tada em preto e branco, a his-
cor, 2013, espírIto santo Buscando preencher o vazio, tória torna o absurdo do estado
João cria em suas brincadeiras totalitário ainda mais contras-
A origem da casaca. um universo de expectativas, tante, sem floreios ou discursos
medos, ansiedades e desejos. amistosos. Nesse cenário um
Cavalo ferro sujeito sem nome começa a agir
de Gui Castor A Menção Honrosa na X Mostra contra o patrulhamento impos-
DocuMentÁrIo, 20', HDv, Produção Independente, Vitória, to pelo totalitário Fechadura
cor, 2013, espírIto santo 2015 Hernandez, e em suas buscas
ele descobre que pode mudar
A viagem de trem como o in- Como a noite apareceu a realidade do aprisionamento
tervalo de um tempo de vida de Regina Mainardi em Confinópolis.
para outro que o espera. direção Alexandre Perim
FIcção, 30', HDv-all, cor, A Melhor Filme Curta Metragem,
Cláudio 2010, aracruz (es) FEST 2012 – Festival Internacional
de Raphael Araújo de Cinema Jovem, Espinho – Por-
FIcção, 7', DIgItal, 2013, Muito antigamente, antes da tugal A Melhor Arte na 8ª Mostra
vItórIa e vIlHa velHa (es) chegada do homem branco à Produção Vitória, 2012 A Melhor
terra dos guaranis, quando a Filme do Foco Capixaba no 19° Vi-
Um cotidiano sufocante em noite ainda não existia, o jo- tória Cine Vídeo
uma cidade engarrafada en- vem guerreiro Abarayra sai
contra uma saída silenciosa. pelo mundo à procura de uma
mulher para casar. A escolhida é
Yanhuri, a belíssima filha da mí-
tica Cobra Grande. Porém, logo
após o casamento, movidos pela
curiosidade, os dois amigos de
Abarayra abrem um coco proi-
bido, desencadeando uma série
de misteriosos acontecimentos.

A Melhor Roteiro na Oitava Mostra


Produção Independente, Vitória,
2012

162 Plano Geral

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Crônicas estelares – Doppelganger Entreturnos
livro de memórias de Giandro Gomes de Edson Ferreira
de Marcelo N. Reis e Joel Vieira Jr FIcção, 82', HD, cor, 2014,
FIcção, 60', HD, cor, FIcção, 13', HD, cor, 2013, vItórIa e vIla velHa (es)
2014, vItórIa (es) MunIz FreIre (es)
Beto (Paulo Roque) é um cobra-
Tendo seu planeta destruído Renato é um psicopata foragi- dor de ônibus casado com Gilda
pelos Greys, Amaryllis (Babi do do sanatório que se esconde ( Janaína Kremer), que anseia
Chagas), uma alienígena, vem na antiga fazenda da família e ter um filho. Quando Beto se
à Terra para evitar que o mes- pede ajuda à sua irmã gêmea, aproxima de Leia (Lorena Lima),
mo aconteça, e com a intenção Cláudia, chamando-a para um dona do bar que ele frequenta,
de se vingar dos assassinos de encontro. Mesmo com o apelo conhece Valcir (Luis Miranda),
sua raça. Um grupo secreto das desesperado de sua mãe que um estrangeiro recém-chegado
forças armadas, a U.C.I.A, trei- tenta impedi-la, Cláudia retor- na cidade que vai completar o
na jovens abduzidos (pessoas na à fazenda onde passou sua triângulo amoroso que resul-
sequestradas por alienígenas) infância e, depois do disparo de ta numa gravidez. Em meio às
para desenvolverem suas mu- uma arma, começa um estranho dificuldades em lidar com esta
tações. Seu trabalho é investigar diálogo com Renato. No decor- situação, os personagens circu-
as misteriosas invasões aliení- rer da conversa surge a dúvida: lam pela cidade e descobrem
genas no Brasil, descobrindo qual dos dois está morto? mais sobre si mesmos, enquan-
que uma guerra universal exis- to aprendem a enfrentar seus
tente há anos está chegando a A Vencedor do 14º Concurso de Ro- conflitos pessoais.
Terra, e a humanidade terá de teiro Capixaba, Vitória Cine Vídeo
lutar, ou deixará de existir. A Melhor Filme pelo Júri Popular
Embaraçadas no 21º Vitória Cine Vídeo, 2014
Delete love de Paulo Sena
de Gabi Stein FIcção, 12', 2K, cor, Espírito Santo
FIcção, 13', 35MM, cor, 2014, vItórIa (es) Futebol Clube
2010, vItórIa (es) de André Ehrlich Lucas
Duas mulheres, uma história e Lucas Vetekesky
Este arquivo será removido to- e dois limites. Ligadas pelos DocuMentÁrIo, 29', HD,
talmente e não poderá ser re- afetos, pela poesia e pelo cordão cor, 2012, vItórIa (es)
cuperado. Você tem certeza que umbilical, elas se encontram,
deseja apagar esta pasta <amor> se desencontram e se amam. O retrato de um clube de fu-
da sua memória? <sim><não> Embaladas pela dança de seus tebol capixaba e a luta do seu
vazios elas entendem o sentido principal dirigente para con-
Desfragmentos do começo e do fim. seguir patrocínio.
de Melina Leal Galante
DocuMentÁrIo, 13', DIgItal, Encontros A Melhor Curta/Fórum doc BH
cor, 2014, vItórIa (es) De Ronalson Filho 2012 A Melhor Documentário na 8ª
FIcção, 9', DIgItal, cor, Mostra de Produção Independente
“O fim é o início de uma exis- 2013, vItórIa (es)
tência”. A partir de um local
de despejo de pisos e azulejos “Sua chamada está sendo en-
usados, quantas memórias e caminhada para a caixa de
histórias podem ser recriadas? mensagens...” (Filme realizado
a partir de found footage encon-
trada no Vimeo).

2010 — 2015 163

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Estranho amor Eu, Zumbi, coisas Finados – O luto e
de Lucia Caus de bar ou Passa a a eterna saudade
DocuMentÁrIo, 26', DIgItal, régua e traz a conta de Caio Perim
cor, 2010, vItórIa (es) e de Alexander S. Buck DocuMentÁrIo, 15', HD,
rIo De JaneIro (rJ) FIcção, 8', DIgItal, cor, cor, vItórIa (es)
2012, vItórIa (es)
Mulheres reais contam como No dia de finados, aborda-se a
se entregaram de corpo e alma, Proximidade com o real em relação do brasileiro com a data,
fizeram loucuras, sofreram e uma realidade absurda. Cotidia- focando em sua ligação cultural
sorriram por um sentimento no, cinema, violência e zumbi. e emocional, culminando no
incontrolável. As disparidades de uma situação inevitável e eterno sentimento
inesperada a partir de dois pon- de saudade.
Evo tos de vista. Uma assumida fic-
de Rubiane Maia e ção com propósito de realidade. Fragma
Renata Ferraz de Eduardo Moraes
FIcção, 15', HDv, cor, A 1° lugar na 1ª Ecos Mostra Livre , FIcção, DIgItal, cor,
2015, vItórIa (es) Vitória, 2011 A Melhor Vídeo Expe- 2013, vItórIa (es)
rimental na 10ª Mostra de Audiovi-
Chove torrencialmente. Uma sual Universitário de Mato Grosso Duas vidas procuram dar signi-
mulher procura abrigo em uma A 1º Lugar Categoria Experimental ficado a um tempo vivido, so-
antiga pensão, a única casa em Vale Curtas 2011 A Melhor Curta nhado e, acima de tudo, sentido.
um raio de quilômetros. Existe Fantástico Cinefestival – 1º Festi-
apenas uma vaga em um quar- val de Cinema Brasileiro do Vale A Melhor Montagem no 3º Festi-
to compartilhado. Parece ser do Jaguaribe val Internacional Unasur Cine (Ar-
suficiente para ela, que pre- gentina) A Melhor Fotografia no
tende seguir viagem tão logo Exílio 10º La Pedrera Short Film Festival
a chuva cesse. No entanto, a Saskia Sá (Uruguai) A Prêmio de Incentivo
espera pode ser mais longa que FIcção, 20', HDv, cor, na 9º Mostra ABD Capixaba (ES)
a duração de uma tempestade. 2015, vItórIa (es) A Melhor Curta-Metragem – Júri
Popular no 3º Fecin (ES) A Melhor
Eu, Mulher Uma mulher... Um Exílio... A Curta-Metragem – Ficção (2º Lugar)
de Adryelisson Maduro areia dos sonhos... Um filme no 20º Festival de Vídeo de Teresina
DocuMentÁrIo, 16', HD, abismo. Exílio é conduzido (PI) A Melhor Curta-Metragem (2º
cor, 2015, vItórIa (es) através de imagens do dester- Lugar) no 8º Curta Ourinhos (SP)
ro voluntário da mulher, presa
Histórias de opressões e limi- em um não-lugar entre as suas
tações vividas por mulheres lembranças, o presente árido e
trans, da infância à vida adulta. um futuro incerto. Ela segue
cega ao mundo que a circunda
e entregue aos caminhos que
surgem sem possibilidade de
escolha, sendo, assim, escolhi-
da por eles.

164 Plano Geral

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Galinha d'angola Guerreira Ilhados
de Daniel Salaroli de Wolmyr Alcantara de Lucas Bonini e
FIcção, 11', Full HD, cor, e Darcy Alcantara Wayner Tristão
2012, espírIto santo anIMação, 7', DIgItal, DocuMentÁrIo, 15', 35MM,
cor, 2015, vItórIa (es) cor, 2014, vIla velHa (es)
Um menino procura seu pai,
no meio da mata. O caminho Há um clima de tensão no elen- Concluída em 1989, a terceira
leva a um sonho estranho. O co e na produção às vésperas da ponte é um marco da cons-
curta-metragem foi rodado estreia da peça Guerreira, pois trução civil capixaba. Sob seu
no interior do Espírito Santo, Regina, a jovem atriz princi- pilar central existe uma casa
numa região onde a Mata Atlân- pal, que interpreta Maria Ortiz, habitada por um pescador.
tica ainda se encontra bastante está atrasada. Mesmo sem ela, a
preservada. Todos os atores são peça começa, com a esperança Ilhas Cayman
pessoas que vivem em Todos os de que Regina consiga chegar de Gabriel Perrone
Santos, pequena vila próxima a tempo de sua personagem FIcção, 15', 35MM, cor,
ao local das filmagens. entrar no palco. O desafio seria 2011, vItórIa (es)
simples se a atriz, no caminho,
A Menção Honrosa no Foco Capi- não se deparasse com um gran- Motorista de táxi leva um pas-
xaba – 19º Vitória Cine Vídeo, 2012 de engarrafamento na ponte sageiro que não sabe dizer o
A Menção Honrosa – 1º FECIM, que leva ao teatro, o carro que endereço do seu destino, mas
Muqui, ES, 2012 dá defeito, a filha hipoglicêmi- ao dar as orientações, o taxis-
ca que ameaça desmaiar e um ta descobre estar percorrendo
Guerra fria histérico diretor que está nos um caminho conhecido. Mo-
de Paulo Sena nervos por conta do atraso da mentos críticos na vida de um
FIcção, 17', 2K, cor, sua atriz principal. homem podem ser a base para
2014, vItórIa (es) grandes mudanças.
Homem ilha
É igual no teatro. Um persona- de Ana Paula Sobreiro A Melhor Direção – Festival Inter-
gem precisa morrer para nas- e Daniela Camilo nacional de Curtas de Silhouette
cer outro. E o ator se aproxima FIcção, 11', HDv, cor, (França) A Melhor Curta de Ficção
de si mesmo. 2011, vIla velHa (es) – International Short Film Festival
2011 (Suíça) A Troféu Marlim Azul
Um velho marujo encalha- de Melhor Ator (Luiz Carlos Vas-
do em uma ilha deserta tem concelos) no 18º Vitória Cine Vídeo
o tempo todo para pensar no A Melhor Fotografia no Festival La-
que já fez e no que abandonou. tino Americano de Cinema – Curta
Tudo isso, porém, está somente Neblina (Brasil/Chile/Argentina)
a alguns metros de distância e
parece aproximar-se a cada vez.

2010 — 2015 165

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Imprensados Invisível La Serena
de Ariel Lacruz, Breno De Diego de Jesus de Giandro Gomes
Vinicius Silva, Lígia DocuMentÁrIo, 24', HDv, FIcção, 87', HDv, cor,
Sancio, Tião Xará e cor, 2015, carIacIca (es) 2010, MunIz FreIre (es)
Victor Hugo Simon
DocuMentÁrIo, 20', cor, Poucos em meio à multidão: História do encontro entre
2013, espírIto santo torcedores de dois dos princi- Nina, idosa excêntrica e solitária
pais times de futebol do Espí- conhecida como “Dona Louca”
O documentário mostra a luta rito Santo são minoria mesmo e Pigmeu, menino foragido de
pelo reconhecimento do direito jogando em casa. um orfanato, que ela acredita
do Território Quilombola do ser o retorno do filho falecido.
Sapê do Norte, que abrange A Melhor Filme na X Mostra Pro-
áreas nos municípios de Con- dução Independente, Vitória, 2015 Läjä Cem
ceição da Barra e São Mateus de Bento Abreu e
no Espírito Santo, bem como as Já era uma vez Rodolfo Sily
dificuldades enfrentadas pelos de Ana Beatriz Valença DocuMentÁrIo, 8', DIgItal,
quilombolas com os extensos anIMação, 5', DIgItal, cor, 2012, espírIto santo
cultivos de eucalipto para celu- cor, 2012, serra (es)
lose que cerca as comunidades, A Läjä Records bateu a marca
segundo os depoimentos das Cinderela e o Príncipe Encanta- dos 100 títulos lançados, e pra
principais lideranças locais. do se casam para serem felizes comemorar, lançou um vídeo
para sempre. Todavia o tempo institucional sob a alcunha de
Inconstância passa e suas vidas tomam um Läjä Cem.
de Diego de Jesus rumo diferente do esperado.
DocuMentÁrIo, 18', DIgItal, Loja de Inconveniências
cor, 2013, vItórIa (es) Jeitinho brasileiro – A maldição do Caipora
de Alexander S. Buck de Juliano Enrico
Com o crescimento das cida- FIcção, 5', DIgItal, cor, FIcção, 15', DvD, cor,
des, locomover-se nos grandes 2010, vItórIa (es) 2012, vItórIa (es)
centros urbanos tornou-se um
problema. Insconstância traz uma Em uma situação extrema, re- Na estranha loja do seu Arge-
reflexão sobre a mobilidade ur- flexões e memórias de uma vida miro, Jairo vai comprar cigar-
bana nas grandes cidades e sobre que poderia ser de qualquer bra- ros e acaba sendo apresentado
as escolhas governamentais. sileiro(a). Uma metáfora ficcio- a diversas lendas do local.
nal acerca do jeitinho brasileiro.
A Melhor Filme do Júri Popular,
La isla de las muñecas 19º Vitória Cine Vídeo, 2012
de Wayner Tristão
e Lucas Bonini
DocuMentÁrIo, 6', HDv, cor,
2012, espírIto santo

Em uma ilha habitada por brin-


quedos, o lado lúdico pode ser
preterido ao fantasmático.

166 Plano Geral

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Locus Marcas da vila Meninos do arco-íris
de Klaus Berg de Edson Ferreira de Herbert Fieni e
DocuMentÁrIo, 26', DIgItal, DocuMentÁrIo, 17', MInI-Dv, Lamartine Neto
cor, 2011, alegre (es) cor, 2010, espírIto santo DocuMentÁrIo, 23', Full HD,
cor, 2013, vItórIa (es)
Locus, documentário gravado Marcas da Vila resgata o dra-
em Alegre, interior sul do Espí- ma vivido pelos familiares das Documentário de conteúdo
rito Santo, aborda a problemáti- quatro vítimas fatais do maior livre que aborda o transbor-
ca da convivência com a loucu- incêndio da história do Espírito damento das fronteiras entre
ra no espaço público através de Santo, ocorrido no dia 1º de os gêneros masculino e femi-
um passeio de estranhamento julho de 1994. nino, utilizando como fio con-
pela cidade. Com depoimentos dutor da narrativa a lenda do
de moradores, psicólogos, espe- Meio a meio arco-íris, que nos conta que as
cialistas, autoridades policiais e de Danilo Amorim crianças podem mudar de sexo
municipais, a narrativa propõe anIMação, 3', HD, 2012, se passarem por baixo de sua
um debate sobre o imaginário são paulo (sp) luz mágica.
do que é loucura e de quem é
louco, em Alegre. Duas formigas brigam por uma A Melhor Filme na Mostra Quatro
frutas no galho de uma árvore Estações, 20º Vitória Cine Vídeo,
A Melhor Documentário na VII até que algo inesperado acon- 2013 A Menção Honrosa na IX Mos-
Mostra Produção Independente, tece. tra Produção Independente, 2014
Vitória, 2011
Meltdown Meu nome é Fulano
Mar Negro de Victor Neves, Pedro de Naiara Bolzan
de Rodrigo Aragão Melatte e Renato Miranda DocuMentÁrIo, 15', HDv,
FIcção, 100', HD, cor, FIcção, 16', DIgItal, cor, cor, 2014, vItórIa (es)
2013, guaraparI (es) 2015, vIla velHa (es)
“Bom dia! Boa Tarde! Boa Noite!
Uma estranha contaminação Mulher passa férias sozinha em Meu nome é Fulano. Eu pode-
atinge uma pequena vila de uma casa de veraneio. ria estar fazendo outra coisa,
pescadores. Quando peixes e mas estou aqui dentro deste
crustáceos se transformam em Memória sobre coletivo e gostaria de vender
horrendas criaturas transmis- as águas essas maravilhas pra vocês!”
soras de morte e destruição, o de Keyla Cezini Vendedores ambulantes: co-
solitário Albino luta pelo gran- DocuMentÁrIo, 15', DIgItal, nheça o cotidiano de quem vive
de amor da sua vida, arriscando cor, 2011, espírIto santo sem o amparo da lei.
a própria alma numa desespe-
rada fuga pela sobrevivência, O filme aborda o cotidiano dos
catraieiros da baía de Vitória.
A Melhor Ficção na IX Mostra de Por meio de entrevista, as his-
Produção Independente (2014) tórias e desafios desses profis-
sionais são reveladas.

2010 — 2015 167

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Míope Nega do ébano O bom da brincadeira
de Gabriele Stein de Valentina Krupnova de Ricardo Sá
FIcção, 12', DIgItal, cor, FIcção, 20', DIgItal, cor, DocuMentÁrIo, 15', HDv,
2012, vItórIa (es) 2012, vItórIa (es) cor, 2014, espírIto santo

Tudo parece absolutamente fos- Uma bela moça de origem O carnaval de Roda D’Água em
co e sem graça para Amilcar, negra é ameaçada de morte três momentos – 1992, 2002 e
um jovem não desprovido de pelo padrasto. Apesar de ser 2012 – é analisado pelos brin-
recursos e sem ambições espi- “liberada” pelos pistoleiros, é cantes da região.
rituais ou materiais exageradas. obrigada a fugir para dentro
Quando de repente tudo lhe de uma mata fechada onde O congueiro do
parece incrivelmente nítido e encontra um abrigo na casa santo preto
cheio de detalhes, Amilcar des- dos pivetes-infratores. Eles a de Fábio Carvalho
cobre que é míope, passa a usar acolhem, mas exigem que ela DocuMentÁrIo, 23', HDv, cor,
óculos e sua vida se torna cem participe dos assaltos que eles 2013, vItórIa e serra (es)
vezes mais rica e interessante praticam na cidade. Em um
do que antes. A partir daí, ele certo momento acontece uma O congo capixaba tem como
experimenta novas sensações, reviravolta: a moça conhece al- um de seus maiores ícones o
até então desconhecidas. guém, como o príncipe encan- Mestre Antônio Rosa (1923-
tado da história da Branca de 1999), homem responsável,
Mulheres do Congo Neve, conduzindo a trama para durante cerca de 50 anos, pela
de Sandy Vasconcelos um desfecho surpreendente. Festa de São Benedito, realizada
DocuMentÁrIo, 16', DIgItal, no município da Serra (ES), em
cor, 2014, espírIto santo O ano em que louvor ao padroeiro das ban-
fizemos contato das de congo e de boa parte
O congo através do olhar fe- de Erly Vieira Jr da população capixaba. É uma
minino. A batida do tambor, DocuMentÁrIo, 19', HDv, história de luta permanente que
o canto doce da corneta e a cor, 2010, vItórIa (es) atravessou toda uma vida em
origem do congo são cercados favor da manutenção dessa festa
de mistérios assim como o sur- Uma ilha. Sete artistas. Diversas e das bandas de congo, tradição
gimento da mulher. cartografias de uma cidade na herdada de seus pais e trans-
qual habita meu desassossego. mitida aos seus filhos e netos.
A Prêmio do Público da Mostra (Documentário livremente ins-
Outros Olhares, 21º Vitória Cine pirado nas obras dos artistas O maestro em si
Vídeo, 2014 David Caetano, Douglas Salo- de Diego Zon
mão, Elisa Queiroz, Hélio Coe- DocuMentÁrIo, 20', DIgItal,
lho, Julio Schimidt, Maruzza cor, 2010, alegre (es)
Valdetaro e Rosindo Torres).
A vida e obra do músico ale-
grense Wilson Laerte, um jo-
vem senhor, fiel à sua cidade
interiorana, que dorme sonhan-
do em reger orquestra e acorda
vivendo como maestro.

168 Plano Geral

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O menino que queria Os lados da rua Outro sertão
salvar o mundo de Diego Zon de Adriana Jacobsen
de Alexandre Campaneli FIcção, 15', DIgItal, cor, e Soraia Vilela
anIMação, 8', HDv, cor, 2012, MuquI (es) DocuMentÁrIo, 73', HDv,
2010, vItórIa (es) cor, 2013, espírIto santo
Carrão é um garoto que, apesar
Um menino decide salvar o de seu comportamento excên- Outro Sertão é um documen-
mundo e recebe a ajuda de sua trico, vive livremente o ritmo de tário sobre a estadia de João
amiga imaginária, uma árvore vida de uma típica cidade de in- Guimarães Rosa na Alemanha
falante. terior. Ao ser surpreendido por nazista. O filme resgata a ex-
um acontecimento que ameaça periência do então vice-côn-
O que bererico destruir seu mundo particular, sul em Hamburgo entre 1938
vai pensar? precisará encontrar um cami- e 1942. Através de imagens de
de Diego Scarparo nho que o liberte novamente. arquivo da época, documentos,
DocuMentÁrIo, 28', HD, cor, 2012, testemunhos de pessoas (inclu-
cacHoeIro Do ItapeMIrIM (es) A Melhor Curta-metragem, 22º sive judeus que fugiram para
Cine Ceará A Melhor Ator (Da- o Brasil por Hamburgo) que o
Um registro dos reflexos da nilo Andrade) e Melhor Direção conheceram e uma entrevista
“Acção Integralista Brasileira” de Arte no 3º Festival de Cinema inédita com o próprio escritor,
numa pequena vila no inte- Curta Amazônia A Melhor Som/ o documentário revela novos
rior do Espírito Santo, onde Trilha Sonora na VIII Mostra de aspectos de sua biografia.
a relação de duas famílias de Produção Independente, Vitória,
imigrantes italianos, cujos pa- 2012 A Melhor ator no 3º Festival A Prêmio Especial do Júri no 46º
triarcas eram grandes amigos, Nacional de Cinema de Petrópo- Festival de Brasília A Melhor Do-
é abalada seriamente por diver- lis A Melhor Filme ( Juri Popular) cumentário Brasileiro (Prêmio do
gências ideológicas e políticas. Mostra “Casa da América Latina” Público) Mostra Internacional de
A mágoa perdura por décadas e – Festival de Curtas-Metragens de Cinema de São Paulo (2013) A Me-
atravessa gerações no pequeno Bruxelas (Bélgica) A Melhor Ator lhor Filme, Melhor Direção, Me-
vilarejo de Floresta (hoje deno- no I FestCine São Gonçalo A Me- lhor Roteiro e Melhor Montagem
minado Burarama, distrito de lhor Ator e Melhor Direção de Arte no Encontro Nacional de Cinema
Cachoeiro de Itapemirim). Por no IV Festival Jericoacoara Cine- e Vídeo dos Sertões (PI, 2014) A
meio desses registros, temos ma Digital A Menção Honrosa no Melhor Filme, Melhor Direção e
uma experiência humanizada Festival Internacional de Cine de Melhor Uso de Material de Arquivo
do que foi a influência dos re- Barranquilla (Colômbia) no Recine (RJ, 2014)
gimes totalitários no mundo e
dos ecos dessas ideologias em O uivo da carne
lugares remotos. Ali a vila se na terra da luz
comportou como um pequeno de Eduardo Madeira
país. O micro desnuda o macro. FIcção, 21', HDv, cor,
2014, vItórIa (es)

Mulher resignada foge de casa e


encontra refúgio em um hotel
onde estranhas situações pare-
cem conversar com suas afeta-
ções mais íntimas e pessoais.

2010 — 2015 169

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Pássaro de papel Pela janela Pique esconde
de Léo Alves de Diego de Jesus de Dominique Lima
FIcção, 15', HDv, cor, FIcção, 20', Dcp, cor, FIcção, 10', 35MM, cor,
2014, MuquI (es) 2014, vItórIa (es) 2012, vItórIa (es)

Um fotógrafo passa por um Após ouvir a briga dos vizinhos, Depois de ser incomodado por
momento reflexivo e busca jovem começa a descobrir que Mateus, um menino de 11 anos,
em si lembranças do passado, a sua vida talvez não seja como João começa a lembrar do pas-
decidindo voltar momentanea- ela imagina. sado. Mas suas lembranças são
mente ao antigo vilarejo onde confusas e não consegue saber
morava com o pai. Lá, além de Pela parede que o seu passado pode estar
recordações de momentos que de Wayner Tristão do seu lado.
ainda parecem vivos e latentes, e Lucas Bonini
ele captará imagens de pessoas FIcção, 25', 35MM, pb, A Vencedor do Concurso de Ro-
comuns do lugar que, aos pou- 2011, vIla velHa (es) teiros do 18º Vitória Cine Vídeo
cos, passam a fazer parte de sua
memória fotográfica. A partir A parede que serve para isolar Planície
das imagens, as pessoas são territórios também funciona De Gabriel Perrone
“conduzidas” para um quarto como suporte de integração FIcção, 15', HDv, cor, 2015,
obscuro, um universo que des- social numa cidade ocupada vItórIa (es) e porto (portugal)
conhecem, uma gaiola invisí- por tanta informação.
vel que condiciona a imagem Pedro e Daniel têm forte ami-
e a mobilidade humana. Quem Perto da minha casa zade. Entre eles, há apenas um
somos e para onde vamos por de Diego Locatelli e segredo.
meio das fotografias? Carolini Covre
DocuMentÁrIo, 15', Full HD, A Melhor Filme na X Mostra Pro-
A Prémio do Júri Popular no 7º cor, 2013, vIla velHa (es) dução Independente, Vitória, 2015
Festival de Cinema de Triunfo, PE
Em meio aos centros urba- Pomeranos sob olhar
Pedras pretas – Itaúnas nos, encontramos pontos de de pomeranos
de São Benedito resistência que reconfiguram de Julio Carlos Dettmann
e São Sebastião os espaços. Em Vila Velha, um DocuMentÁrIo, 19', DIgItal,
de Marcos Valério Guimarães grupo de jovens ressignifica cor, 2012, pancas (es)
DocuMentÁrIo, 25', HDv, cor, um depósito de contêineres.
2012, Itaúnas e vIla velHa (es) Este documentário registra o
A Melor Filme pelo Júri Popular e olhar de pomeranos notáveis
A festa de São Benedito e São Melhor Montagem no 20º Vitória residentes em Laginha – Pan-
Sebastião, em Itaúnas, norte do Cine Vídeo, 2013 A Melhor Direção cas (ES), acerca de 5 aspectos
Estado do Espírito Santo, é o (Mostra Municípios) no 14º Goiânia da cultura pomerana: história,
momento maior do rico fol- Mostra Curtas, 2014 costumes, artesanato, culinária
clore da região. Expressão de e dança. Traz uma abordagem
uma forma histórica de vida, sensível sobre o cotidiano de
marcada por escravidão, tragédia pessoas simples, mas que re-
ecológica e a modernidade in- presentam toda uma geração
dustrial do eucalipto e do álcool, de imigrantes pomeranos resi-
o folclore também é uma forma dentes no Espírito Santo.
de exercício político, do direito à
vida. Um bem simbólico maior.

170 Plano Geral

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Pra casa agora eu vou Primeira paróquia Redescobrindo a
de Erly Vieira Jr do Cristo Sintético Mata Atlântica
FIcção, 9', HD, cor, de Gabriel Menotti de Leonardo Merçon
2012, vItórIa (es) anIMação, 14', DIgItal, natureza/MeIo aMbIente, 20', Full
cor, 2010, vItórIa (es) HD, cor, 2014, espírIto santo
Memórias de um libertador de
anões de jardim. Um filme com É noite de revelações e o Re- A Mata Atlântica apresenta uma
anões, comic sans e Google tradu- dentor foi barrado na porta. biodiversidade rica e singular,
tor. Produzido para a exposição Um filme sobre o apocalipse e tanto em termos científicos,
Elisa, realizada na GAEU-Ufes, nostalgia rave. quanto em formas e cores,
sob curadoria de Neusa Mendes. resultado da ação de milhões
Inspirado em uma ideia original A Roteiro Vencedor do 6º Concurso de anos de seleção natural. O
de Elisa Queiroz de Roteiros do Vitória Cine Vídeo manto natural verde das mon-
tanhas, com escarpas íngremes,
Pra durar enquanto Procurando Madalena é drenado por vales profun-
o mundo durasse de Ricardo Salles de Sá dos, formando córregos e rios,
de Ricardo Salles de Sá DocuMentÁrIo, 26', MInI-Dv, que seguem ziguezagueando
DocuMentÁrIo, 26', Full HD, cor, 2010, espírIto santo em direção ao mar. O docu-
cor, 2014, nova alMeIDa (es) mentário Redescobrindo a Mata
Madalena do Jucu é um samba Atlântica é uma narrativa visual
A história da construção da de Martinho da Vila, adapta- que exalta as belezas da Mata
Igreja de Reis Magos, em Nova do da toada Madalena, que é Atlântica, tendo como perso-
Almeida (ES), na Serra (ES), er- cantada pelas bandas de Con- nagem principal o Muriqui, o
guida no início da colonização go do Espírito Santo há mais maior macaco das Américas.
portuguesa no Brasil, por jesuí- de 70 anos. O documentário Dentro deste contexto, o do-
tas e indígenas. revela o universo do congo cumentário mostra a visão de
– uma manifestação cultural pesquisadores, professores e
Praias e cachoeiras genuinamente capixaba ainda estudantes que participaram
de Giandro Gomes desconhecida pela maioria dos do Programa Difusão da Biodi-
vIDeoclIpe, 4', HDv, cor, brasileiros, ao mesmo tempo versidade da Mata Atlântica. O
2012, alegre (es) em que versões sobre a origem programa estimula, em crian-
da Madalena são apresentadas ças e adolescentes, o interesse
Videoclipe da música “Praias e pelos congueiros. pela ciência da biodiversidade
Cachoeiras”, da banda Alldeia, e a introdução desses jovens
gravado na Cachoeira da Fuma- Quando a criança nasce em temas relacionados ao co-
ça durante o projeto “Websé- de Ricardo Salles de Sá nhecimento e conservação da
rie Pé na Estrada”, patrocinado DocuMentÁrIo, 30', Full HD, Mata Atlântica.
pela Secult-ES. cor, 2015, vItórIa (es)
Rainhas da noite
Gravidez e parto entre os gua- de Diego Herzog
ranis do Espírito Santo, ontem DocuMentÁrIo, 30', MInI-Dv,
e hoje. cor, 2010, vIla velHa (es)

O palco e a vida de artistas per-


formáticos que se apresentam
vestidos de mulher nos clubes
noturnos capixabas.

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Raquetadas Romance a la Nelson Sangue & rosa
para a glória de Mariana Pretti de Diego Scarparo e
de Juliano Enrico FIcção, 8', DIgItal, cor, Henrique Gomes
FIcção, 7', DIgItal, cor, 2012, vItórIa (es) anIMação, 14', HD, cor, 2011,
2011, espírIto santo cacHoeIro De ItapeMIrIM
Como nas tragédias rodri- (es) e rIo De JaneIro (rJ)
Um trailer épico sobre supe- guianas, o amor incestuoso, a
ração e esperança num mun- paixão lésbica e o amor não Ardeal, Cárpatos, Romênia. O
do pós-apocalíptico dominado correspondido destroem a vida sinistro Conde Orlok apaixo-
por impiedosos jogadores de de três jovens. Julia, Vanessa e na-se pela descrição da noiva
frescobol. Lucas estão entrelaçados num do corretor de imóveis e parte
ciclo amoroso, nenhum deles para Londres num navio. Até
A Melhor Ficção na VII Mostra Pro- correspondido, mas todos eles então, tudo vai de acordo com
dução Independente, Vitória, 2011 apaixonados. a história clássica de vampiro,
mas algo de inesperado acon-
Reikwaapa – Ritos de A Melhor Ficção e Melhor Direção tece no meio do oceano, e nos-
passagem Guarani na VIII Mostra Produção Indepen- so vilão vai aportar no Rio de
de Ricardo Sá e dente, Vitória, 2012 Janeiro, em 1931, onde dá sua
Marcelo Guarani surpreendente contribuição
DocuMentÁrIo, 16', DIgItal, Saia para a música brasileira.
cor, 2013, espírIto santo de Davi de Jesus Cáo
anIMação, 5', DIgItal, A Melhor Animação na IX Mostra
Na passagem da infância para a cor, 2013, vItórIa (es) de Produção Independente (Vitória,
adolescência, os guaranis rea- ES, 2014)
lizam ritos. O documentário Os episódios de Saia conti-
discute a ressignificação desses nuavam indefinidamente. Sua Sinal vermelho
ritos no cotidiano das aldeias conclusão, quando veio, foi de Cristina Margon
guaranis do ES. chocante. Para todos, já era e Naiara Bolzan
tarde mais. DocuMentÁrIo, 15', DIgItal,
A Melhor Filme do Foco Capixaba, cor, 2013, espírIto santo
20º Vitória Cine Vídeo
O Sinal Vermelho é a deixa dada
Revelações de um para os artistas de rua mos-
cineasta canibal trarem todos os seus talentos.
de Rodrigo Aragão Diferentes artistas contam o
FIcção, 14', HDv, cor, motivo de escolherem a rua
2015, guaraparI (es) como palco para exibirem suas
artes e como são recebidos pela
Denilson sempre quis ser um população capixaba.
cineasta consagrado e estar sob
os holofotes. Mesmo apoiado A Menção Honrosa na IX Mostra
pelas suas companheiras, a falta Produção Independente (Vitória,
de recursos, ou talento, con- ES) A Menção Honrosa do Foco
duzem o trio por um caminho Capixaba, 20º Vitória Cine Vídeo
obscuro, saturado por práticas
medonhas.

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Seu Zezin e a Lei Silentio Somos todos
Velho Cagado de Erly Vieira Jr filhos de Jorge
de Raul Chequer DocuMentÁrIo, 13', HD, de Lucia Caus
FIcção, 4', DIgItal, cor, cor, 2010, vIana (es) DocuMentÁrIo, 9', DIgItal,
2010, espírIto santo cor, 2012, espírIto santo
Documentário sobre a exposi-
A Lei Velho Cagado de Incentivo ção Silentio, realizada em Via- O curta dá vida ao santo guer-
à Cultura é um projeto do Insti- na pelo artista paraibano José reiro que sai pelas ruas em
tuto Quase de Desenvolvimento Rufino, sob curadoria de Neu- plena festa de São Jorge. Neste
Sustentável, com o objetivo de sa Mendes. Este vídeo é parte percurso, o espectador se de-
democratizar a produção artís- da Ação Educativa do projeto para com relatos emocionados,
tica do nosso país. Este é o pri- RE Invenção de uma cidade, curiosos e cheios de devoção de
meiro vídeo da série que mos- contemplado pelo Edital Arte pessoas que têm o santo como
trará como a nova lei mudou a e Patrimônio 2009, do Paço das fiel protetor.
vida de milhares de brasileiros. Artes/MinC/Iphan.
Tarde fria
Siga minhas mãos Sol na Garganta do de Leandro Sherman
de Luciana Gama Futuro e Wanessa FIcção, 8', DIgItal, cor,
DocuMentÁrIo, 52', betacaM, de Jamilla Ghil e Ítalo Galiza 2014, vItórIa (es)
cor, 2010, espírIto santo eXperIMental, coMéDIa, 3',
HD, cor, 2010, vItórIa (es) Tarde fria mostra, pela ótica de
Documentário que narra as um rapaz, como a vida está cada
lendas e causos de 6 pedras O pop poupa a poesia? Ou o vez mais solitária em nossa so-
com formas do Espírito Santo. inusitado encontro entre Wa- ciedade.
São elas: Pedra Menina, em Do- nessa (Camargo) e a banda Sol
res do Rio Preto; Pedra da Ema, na Garganta do Futuro? Teobaldo morto,
em Burarama – Cachoeiro de Romeu exilado
Itapemirim; Pedra do Elefante, Sombras do tempo de Rodrigo de Oliveira
em Nova Venécia; Moxuara, em de Edson Ferreira FIcção, 118', Dcp, cor, 2015,
Cariacica; Mestre Álvaro, na FIcção, 15', 35MM/Dcp, vItórIa e buraraMa (es)
Serra; e o Frade e a Freira, entre cor, 2012, vItórIa (es)
Itapemirim e Rio Novo do Sul. João é um músico de 32 anos
Sombras do tempo é um mer- que opta pelo isolamento numa
gulho ao mais íntimo de um propriedade no interior do Bra-
homem: suas memórias, mar- sil após Flora, sua mulher grávi-
cadas por mistérios e ausências. da, romper com ele. Depois de
O tempo é o fio condutor, onde três meses, quando finalmente
passado e presente se misturam parece estar pronto para reparar
e revelam uma mente em busca seus erros junto a Flora e acom-
de significados. panhar o parto de seu filho, João
é surpreendido pela misteriosa
visita de Max, seu melhor ami-
go, há muitos anos desaparecido
e dado como morto.

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Tortoise e a Tudo bem? Últimos Refúgios:
Espeleosofia de Eduardo Moraes Toninho Mateiro
de Gabriel Albuquerque FIcção, coMéDIa/DraMa, 12', de Reinaldo Guedes
anIMação, 9', DIgItal, cor, cor, 2010, espírIto santo DocuMentÁrIo, 30', Full HD,
2010, espírIto santo cor, 2013, vIla velHa (es)
A hipócrita cordialidade co-
Tortoise e a Espeleosofia¹ é uma tidiana numa tentativa de se O documentário conta a his-
animação que combina diver- expressar verdadeiramente, tória de um antigo caçador
sas técnicas (animação 2D em ainda que na ficção. que se tornou forte aliado em
aquarela e animação 3D), para pesquisas sobre a região do
contar a história de uma tarta- Últimos Refúgios: Parque Estadual Paulo Cesar
ruga que vive o tédio de habitar Itaúnas Vinha, localizado entre as cida-
um aquário preenchido apenas de Yuri Salvador des de Vila Velha e Guarapari,
com água. Delirando entre o DocuMentÁrIo, 24', Full HD, no Espírito Santo. O “matuto”
sonho e a realidade, Tortoise cor, 2012, Itaúnas (es) Toninho Mateiro cresceu na
vive as experiências e conse- região do parque e hoje é con-
quências da privação do sono Últimos Refúgios: Itaúnas exibe siderado um dos principais es-
e estímulos. Esse ambiente é imagens da fauna e flora da pecialistas práticos de natureza
explorado através do olhar e região e mostra como grupos do Estado. Através da visão do
arte de Gabriel Albuquerque e humanos se apropriam inte- protagonista, o filme mostra
Olhos Coloridos. lectualmente e materialmente um panorama sobre o local,
dos recursos naturais. O filme incluindo um alerta sobre a
1. espeleosofia: s. f (spéleo=ca- traz depoimentos de habitan- preservação da área.
verna + sofia=sabedoria) Cor- tes da pequena vila instalada
rente do pensamento surgida no entorno do parque, como Uma
da vida nas cavernas. 2. Cam- pescadores, e opiniões de am- de Alexandre Barcelos
po científico da espeleologia, a bientalistas e biólogos. DocuMentÁrIo, 14', 35MM,
ciência que estuda as cavernas. cor, 2011, vItórIa (es)
3. Corrente platônica do pen- Últimos Refúgios:
samento. Reserva Biológica Visão do planeta Terra como
de Duas Bocas um macro-organismo vivo. As-
Tramas de Alexandre Barcelos sim como as células, o homem
de Leonardo Gomes Souza DocuMentÁrIo, 25', Full HD, participa desta rede energética
DocuMentÁrIo, 30', HDtv, cor, 2013, espírIto santo pelo equilíbrio de um imenso
cor, 2014, espírIto santo sistema.
O filme traz como tema a água
Com histórias de lendas, cul- e fala de uma das principais ca- A Prêmio Inovação e Novas Lin-
tura, sonhos e fazeres do Capa- racterísticas da Reserva, a pre- guagens e Melhor Curta-Metragem
raó, Tramas mostra as riquezas servação de recursos hídricos. Capixaba – 18º Vitória Cine Vídeo
humanas que há na montanha O documentário é composto 2011 A Prêmio “Porta Curtas” Me-
sagrada. por imagens que revelam a rica lhor Curta-Metragem – VII Mostra
biodiverdade preservada pela Produção Independente, Vitória,
unidade de conservação. 2011 A Melhor Filme Brasileiro de
Curta-Metragem, Categoria Expe-
rimental no 4º Festival de Cinema
Curta Amazônia, Porto Velho, 2013

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Um apólogo Vento Sul Vitória F.C.
de Darcy Alcântara, de Saskia Sá de Vitor Graize e Igor Pontini
Felipe Gaze, Wolmyr FIcção, 13', HDv, cor, DocuMentÁrIo, 29', HDv,
Alcântara e Délio Freire 2014, vItórIa (es) cor, 2014, vItórIa (es)
anIMação, 8', DIgItal,
cor, 2012, vItórIa (es) Volto à Vitória em um dia de Um clube de futebol no ano
sol de junho, quando o vento de seu centenário: a trajetó-
Baseado no conto homônimo de vira sul e o céu se torna azul. ria do Vitória Futebol Clube,
Machado de Assis, um apólogo Volto sem nunca ter saído. Vi- o time mais antigo do estado
revive o início da primeira esco- tória. Minha ilha. A cidade que do Espírito Santo, nas finais do
la de samba do Brasil, a “Deixa nunca foi minha. campeonato estadual de 2012.
Falar”, fundada por Ismael Silva,
no Rio de Janeiro. As persona- Victor A Melhor Filme do Foco Capixaba,
gens do filme guardam todas de Felipe Gaze, Wolmyr 21º Vitória Cine Vìdeo, 2014
um mistério comum: jamais Alcantara e Darcy Alcantara
mostram o rosto. Aproveitando anIMação, 1', DIgItal, Vivendo de Rock
a época em que se passa o filme, cor, 2015, vItórIa (es) no Espírito Santo
os anos 1930 do século XX, foi de Mila Neri
possível brincar ainda com a Os pingos da chuva parecem DocuMentÁrIo, 17', MInI-Dv,
forma do cinema mudo. não incomodar um estranho cor, 2015, vIla velHa (es)
homem e seu surrão quando
A Melhor Curta Metragem de Ani- esses atravessam na madrugada Em pouco mais de 20 minu-
mação do Festival Panela Audiovi- a fachada de um cemitério na tos, o curta conta a história de
sual, Vila Velha, 2013 (ES) alameda mal iluminada. En- pessoas que vivem, ou tentam
quanto o carro policial ronda viver, profissionalmente do
Uma volta na Lama a esquina, o misterioso sujeito, punk/hardcore.
de Ursula Dart cuja face permanece oculta na
DocuMentÁrIo, 26', HD, névoa densa, aperta o passo até
cor, 2010, vItórIa (es) chegar em um pequeno cômo-
do onde dedica o restante da
Uma cidade cresce. Uma rua madrugada ao seu enigmáti-
se modifica. co projeto. A manhã seguinte
traz a revelação surpreendente
Um Sampaio teimoso de todo o mistério envolto na
De Nayara Tognere figura e o verdadeiro motivo
DocuMentÁrIo, 13', DIgItal, cor, de sua pressa: o homem é um
2010, cacHoeIro De ItapeMIrIM artista, criador de brinquedos a
(es) e rIo De JaneIro (rJ) partir de materiais reutilizáveis,
como garrafas pets, latas e cai-
O filme revela particularidades xas, fazendo assim a alegria das
da vida de Sérgio Sampaio atra- crianças do bairro onde vive.
vés de depoimentos de amigos,
familiares, imagens de arquivo
e sua própria música, mostran-
do a incontestável importância
do cantor e compositor para a
música brasileira.

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