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História

COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA


7
ALFREDO BOULOS JÚNIOR
Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

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História Sociedade & Cidadania
História – 7o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Bárbara Berges, Beatriz Montagnolli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa Andréa Dellamagna
Foto de capa Mekdet/Getty Images
Arte e produção Vinicius Fernandes (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambila
Iconografia Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)
Ilustrações Getulio Delphin, Héctor Gomez, Manzi, Mozart Couto, Osvaldo Sequetin
Cartografia Allmaps, Selma Caparroz, Sonia Vaz

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
   História sociedade & cidadania : 7o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.
  
   Componente curricular: História.
   ISBN 978-85-96-03551-4 (aluno)
   ISBN 978-85-96-03552-1 (professor)

   1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115042 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Parque Nacional do Iguaçu: Patrimônio Natural Mundial.
Paraná, 04/2019. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 deste livro foram produzidas com fibras
de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
EDITORA FTD.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD
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APRESENTAÇÃO
Caro aluno, cara aluna,

Quero lhe dizer algo que para mim é importante e, por isso, gostaria que você
soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foram necessários o tra-
balho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro.
O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades,
além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas pági-
nas produzidas pelo autor damos o nome de originais.
O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao
autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem ao autor que
refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do
livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão, do Jurídico, entre outros.
Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam
as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas
no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, elaborados por especialistas, os
cartógrafos, e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais
denominados ilustradores.
Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra),
preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e
imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável.
Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam
e padronizam o texto.
A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros
autores e das imagens que irão compor o livro.
Todo esse trabalho é acompanhado pela Diretoria e Gerência Editorial.
Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica,
onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois
de pronto, o livro chega às mãos dos consultores comerciais e educacionais, que
o apresenta aos professores, profissionais que dão vida ao livro, objeto ao mesmo
tempo material e cultural.
Meu muito obrigado, do fundo do coração, a todos esses profissionais, sem os
quais esta Coleção não existiria! Por fim, agradeço à minha equipe e, também, a
você, leitor, motivo de nossa existência.
O autor

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SUMÁRIO

UNIDADE 1
AMÉRICA E ÁFRICA ANTES DOS EUROPEUS.....8
CAPÍTULO 1
Povos indígenas saberes e técnicas......................10
Os astecas...........................................................................11
A sociedade asteca......................................................13
Saberes e técnicas dos astecas.............................14
Os maias..............................................................................15
Sociedade e economia................................................16
Saberes e técnicas maias......................................... 17

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Os incas................................................................................18
Sociedade incaica........................................................19
Saberes e técnicas incas.......................................... 20
Técnica, trabalho e impostos...................................21
Os tupis................................................................................ 22
Modo de viver................................................................. 23
Técnicas e saberes tupis...........................................24
Saberes e técnicas dos indígenas do Brasil...... 26
Atividades...............................................................................27
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

CAPÍTULO 2
Povos e culturas africanas:
malineses, bantos e iorubás................................... 33
África: aspectos físicos............................................. 34
O Império do Mali.......................................................... 34
Os bantos........................................................................... 40
Reino do Congo..............................................................41
Bantos no Brasil........................................................... 45
Os iorubás.......................................................................... 46
Política e economia.....................................................47
A arte de matriz iorubá.............................................. 48
O Reino de Benin.......................................................... 49
Iorubás no Brasil.......................................................... 50
Atividades........................................................................ 53
#JovensnaHistória................................................... 58

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UNIDADE 2 Renascimento: características............................ 85
O humanismo................................................................... 86
ARTE E RELIGIÃO.............................................................. 60 Arte e técnica no Renascimento...........................87
O Renascimento italiano............................................87
CAPÍTULO 3 Fases do Renascimento............................................ 88
Mudanças na Europa feudal.................................... 62 A expansão do Renascimento................................ 92
Escritores........................................................................ 92
O aumento da produção de alimentos.............. 63 Pintores........................................................................... 94
O revigoramento do comércio e das cidades.65 Cientistas do Renascimento................................... 95
As feiras.......................................................................... 66 Atividades.........................................................................97
Cidades novas e antigas........................................... 66
Comerciantes, artesãos e suas corporações....67 CAPÍTULO 5
As cidades se libertam.............................................. 68 Reforma e Contrarreforma.................................... 103
As Cruzadas................................................................... 69
Motivos da Reforma...................................................104
Conhecimento e arte.................................................... 71
Os primeiros reformadores................................... 105
A universidade............................................................... 71
Martinho Lutero............................................................ 106
Crise, doenças e revoltas..........................................72 A reforma de Lutero...................................................107
A Guerra dos Cem Anos..............................................73 A Igreja e a doutrina de Lutero............................. 109
Rebeliões camponesas..............................................75
João Calvino....................................................................110
Atividades.........................................................................76 Expansão do calvinismo.......................................... 111
CAPÍTULO 4 A Reforma na Inglaterra..........................................112
A Reforma Católica ou a Contrarreforma......113
Renascimento e humanismo...................................81 A Inquisição...................................................................115
A ideia de modernidade............................................. 82 Atividades.......................................................................116
O contexto..................................................................... 83 #JovensnaHistória................................................. 120

BJANKA KADIC/ALAMY/FOTOARENA

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Atividades.........................................................................76

UNIDADE 3 Economia colonial.......................................................176


A mineração..................................................................176
FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO................... 122 A agropecuária............................................................178
O controle da colônia pela metrópole..............179
CAPÍTULO 6 A administração espanhola................................... 180
Estado Moderno, absolutismo Sociedade e poder na América espanhola...... 181
e mercantilismo.............................................................. 124 Atividades...................................................................... 182
O fortalecimento do poder dos reis.................. 125 CAPÍTULO 9
A monarquia inglesa................................................. 126
América portuguesa: colonização.....................191
A monarquia francesa............................................. 129
Guerras que fortaleceram o rei.............................131 O encontro....................................................................... 192
O absolutismo................................................................ 132 Expedições, feitorias e pau-brasil.................... 193
Teóricos do absolutismo......................................... 133 A disputa pela Nova Terra...................................... 194
O reinado de Luís XIV, o Rei-Sol............................ 134 As capitanias hereditárias..................................... 195
O mercantilismo: riqueza e poder O Governo-Geral............................................................197
para o Estado ............................................................. 136 As Câmaras Municipais........................................... 201
Principais características A economia colonial...................................................202
do mercantilismo.................................................... 136 Chegam os africanos...............................................203
O mercantilismo variou no tempo O engenho.....................................................................203
e no espaço............................................................... 138 Engenho colonial........................................................204
A formação das monarquias ibéricas............. 139 América portuguesa: um grande canavial?.....206
A formação de Portugal.......................................... 140 A sociedade colonial..................................................209
A formação da Espanha.......................................... 140 A nobreza da terra.....................................................209
Atividades.......................................................................141 Os comerciantes........................................................ 210
Os trabalhadores assalariados............................. 210
CAPÍTULO 7 Os escravizados..........................................................211
As Grandes Navegações............................................147 Atividades...................................................................... 212
Desbravando mares................................................... 148 #JovensnaHistória................................................. 218
Enfrentando perigos................................................. 149
O comércio de especiarias orientais
no século XIV............................................................ 149
O que levou os portugueses a navegar
em mar aberto?......................................................... 152
Portugal, o primeiro nas Grandes
Navegações.................................................................. 153
Navegando com os portugueses......................... 154
As navegações espanholas....................................157
KAVALENKAU/SHUTTERSTOCK.COM

Cabral toma posse das terras brasileiras....... 161


Outros europeus........................................................... 163
Atividades...................................................................... 164
CAPÍTULO 8
Conquista e colonização espanhola
da América.......................................................................... 169
A conquista das terras astecas...........................170
A conquista das terras incas.................................172
A resistência inca.......................................................173
Um novo olhar sobre as razões
da conquista espanhola........................................174

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UNIDADE 4 Nassau no Brasil holandês....................................252
Artistas e cientistas no Brasil holandês...........253
GENTES E TERRAS DA AMÉRICA A Restauração...............................................................255
PORTUGUESA....................................................................220 A reação luso-brasileira..........................................255
A concorrência holandesa e a queda
CAPÍTULO 10 nos preços do açúcar............................................ 257
Africanos no Brasil.......................................................222 Atividades......................................................................258
Havia escravidão na África antes CAPÍTULO 12
dos europeus?............................................................223 A formação do território
Guerra e tráfico atlântico.......................................224 da América portuguesa............................................264
Os responsáveis pelo tráfico.................................224
Quantos eram e de onde foram Os agentes da expansão territorial..................265
trazidos os africanos?..........................................225 Os soldados.....................................................................265
A travessia......................................................................229 Os bandeirantes...........................................................268
O trabalho........................................................................230 São Paulo, a capital bandeirante.........................268
A caça aos indígenas...............................................269
Alimentação e violência.......................................... 231
A busca de ouro e diamantes................................270
Resistência.....................................................................232
O sertanismo de contrato.......................................270
Os quilombos...............................................................234
Comunidades remanescentes
Os jesuítas........................................................................271
de quilombos............................................................237 A criação de gado........................................................273
O gado no Nordeste...................................................273
Atividades......................................................................239
O gado no Sul...............................................................275
CAPÍTULO 11 As novas fronteiras da América
Europeus disputam o mundo Atlântico........248 portuguesa...................................................................276
Atividades...................................................................... 281
A disputa do mundo atlântico pelos #JovensnaHistória.................................................286
europeus — séculos XVI e XVII.........................249
A União Ibérica............................................................249 Bibliografia.........................................................................288
A independência dos Países Baixos...................249
A guerra por açúcar e escravizados...................250

SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS

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UNIDADE

1 AMÉRICA E ÁFRICA
ANTES DOS EUROPEUS

Na América, o contato entre ameríndios, europeus e

MUMEMORIES/SHUTTERSTOCK.COM
africanos foi marcado por desencontros e muita violên-
cia. Mas além disso, caracterizou-se por trocas culturais
e mútuas influências. Depois desses encontros e desen-
contros, europeus, ameríndios e africanos nunca mais
foram os mesmos, especialmente no campo da alimen-
tação; exemplo disso é a variedade de plantas de dife-
rentes origens de que nos alimentamos hoje no Brasil.
SERHII HREBENIUK/SHUTTERSTOCK.COM

Maçãs. Quiabos.

ANDREW HAGEN/SHUTTERSTOCK.COM

Uvas.

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ZELJKO RADOJKO/SHUTTERSTOCK.COM

BONDART PHOTOGRAPHY/SHUTTERSTOCK.COM
Milhos. Melancia.

Nesta página e na anterior você vê fotos de alimentos que consumimos em nosso dia a dia. Você é capaz
de saber quais são nativos da América? Quais foram trazidos pelos europeus? Quais tem origem africana?
Teste seus conhecimentos: no caderno, indique com o número 1 as plantas nativas da América, com o
número 2, as plantas introduzidas pelos europeus e, com o número 3, aquelas de origem africana.

GUENTERMANAUS/SHUTTERSTOCK.COM

Açaí.

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CAPÍTULO

1 POVOS INDÍGENAS
SABERES E TÉCNICAS

Observe o mapa com atenção.

Povos da América no início do século XVI

ALLMAPS
Círculo Polar Ártico

OCEANO
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer

Equador
Principais grupos 0º
linguísticos
Esquimó-aleutino
OCEANO Na-Dene
Trópico de Capricórnio PACÍFICO Sioux-Dakota
Iroqueses
Algonquino-Wakash
Uto-Astecas
Maias
Aruak
Chibcha
Karib
Tupi-Guarani

Quíchua
0 1 910
Outros
70º O
Fonte: HISTÓRIA das civilizações. São Paulo: Abril, 2001. v. 3. p. 113.

1. Quantos grupos linguísticos estão representados nesse mapa?


2. Que relação podemos estabelecer entre o número e a diversidade de povos ameríndios?

10

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Os astecas
Os astecas viveram em Aztlán (daí o seu nome), no norte da América, até por volta
do século XII, quando deixaram sua região de origem em busca de terras férteis. No início
do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à beira do
lago Texcoco e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán.
Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os astecas dominaram diversos
povos da região. Assim, a cidade de Tenochtitlán passou a ser a cabeça de um grande
império, o Império Asteca..
Os povos submetidos aos astecas eram obrigados a pagar impostos. Caso se recusas-
sem, eram castigados com expedições punitivas – que incluíam saques e rapto de pessoas.
Além de pagar impostos, os povos dominados também eram obrigados a cultuar o
deus asteca da guerra, das tempestades e do Sol, visto na imagem a seguir. Isso ajuda a
explicar por que os povos sob o domínio asteca se rebelavam com frequência.
CODEX TELLERIANO-REMENSIS/BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ROSTOCK/FOUNDATION FOR THE ADVANCEMENT OF MESOAMERICAN STUDIES, INC

Representação
do deus asteca
Huitzilopochtli descrito
no Códice (Codex)
Telleriano-Remensis,
século XVI.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

A dominação asteca
Veja o que diz um historiador sobre a dominação asteca.

Todos os povos subjugados pelos astecas eram obrigados a pagar-lhes pesados


impostos, sob diversas formas: penas raras (do pássaro Quetzal, por exemplo),
pedras preciosas (como o jade), alimentos (milho, cacau), pessoas para oferecer em
sacrifício aos deuses. Consta que, todos

BIBLIOTECA BODLEIAN, OXFORD, REINO UNIDO


os anos, chegavam à capital do império
7 mil toneladas de milho, 4 mil toneladas
de feijão e cerca de 2 milhões de peças
de algodão. Prata e ouro, em enormes
quantidades, eram levados todos os dias
à poderosa cidade de Tenochtitlán, dona
do lago e cabeça de um vasto império.
KARNAL, Leandro. A conquista do México. São Paulo:
FTD, 1996. (Para conhecer melhor, p. 9-10).

Códice Mendoza, 1542. O pagamento de


impostos era feito em mercadorias. Oficiais
do imperador faziam uma lista detalhada
dos tributos enviados. Repare que nesta lista
constam mantas de diferentes formas e modelos,
vestes cerimoniais com cocares e penas,
feixes de plumas, colares e sacas de cacau.

a) O que os astecas exigiam dos povos dominados?

b) De acordo com o texto, o que se pode concluir sobre os astecas?

c) Tente responder: como será que os povos dominados reagiram à opressão asteca?

# DICA!
Animação sobre a formação do Império asteca.
IMPÉRIO asteca: grandes civilizações. 2015. Vídeo (22min8s). Publicado pelo canal Filmow.
Disponível em: https://www.dailymotion.com/video/x2p80lm. Acesso em: 19 maio 2022.

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A sociedade asteca
No topo da pirâmide social estava o imperador, considerado um ser semidivino. Abaixo
do imperador vinham os nobres, que atuavam como funcionários públicos, sacerdotes
ou chefes militares. Estes tinham enorme prestígio na sociedade asteca; os mais valentes
ingressavam nas ordens militares, como a dos cavaleiros-águia.

A CONQUISTA DO MÉXICO/EDITORA FTD/1996


Nessa ilustração, vê-se, no canto inferior direito, um guerreiro pertencente à ordem dos
cavaleiros-águias, século XVI.

Abaixo dos nobres vinham os comerciantes, com destaque para os atacadistas, espe-
cialmente os que trabalhavam com artigos de luxo. A seguir, vinham os artesãos, que
eram conhecidos por sua habilidade e requinte. Os artesãos astecas se destacavam na
ourivesaria, na joalheria e no trabalho com plumas.
Já os camponeses eram o grupo mais numeroso da sociedade asteca. Eles eram
obrigados a pagar pesados impostos, prestar serviço militar e trabalhar gratuitamente
na conservação de estradas e canais e na construção de monumentos. Os camponeses,
geralmente, passavam a vida no mesmo pedaço de terra, saindo apenas quando eram
chamados para combater.
Por fim, havia os escravizados, prisioneiros de guerra, condenados pela justiça ou
então indivíduos que tinham dívidas por causa de envolvimento com o jogo ou a bebida.

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Saberes e técnicas dos astecas
©BANCO DE MEXICO DIEGO RIVERA & FRIDA KAHLO MUSEUMS TRUST, MEXICO, D.F .FOTO: BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Detalhe de A grande cidade de Tenochtitlán, afresco do muralista mexicano Diego Rivera.

Numa época em que os livros de História do México mostravam os espanhóis como


“os únicos construtores” da nação, o artista Diego Rivera inovou ao valorizar a atuação
dos povos indígenas nos diversos campos da vida social do país.
Desde antes da chegada dos europeus, as cidades construídas pelos povos da América
chamavam a atenção dos visitantes. Para construir Tenochtitlán, por exemplo, os astecas
utilizaram conhecimentos de cálculo e técnicas apuradas de construção civil.
Na capital asteca destacavam-se as chinampas, ilhas artificiais feitas sobre estacas
fixadas no fundo do lago. Para fixá-las, os astecas, além de bons construtores, tinham
de ser ótimos nadadores e dominar técnicas de respiração. A fertilidade das terras pan-
tanosas garantia a produção de alimentos para os habitantes da
Lacustre: que está
próximo ou sobre um lago. cidade lacustre
lacustre.. Nessas ilhas, eles cultivavam flores, verduras e
plantas medicinais, entre outras. Cortada por canais e aquedutos,
ruas largas e retas, Tenochtitlán provocou enorme admiração nos conquistadores espa-
nhóis nascidos em cidades relativamente menores, de ruas tortas e estreitas. A cidade de
Tenochtitlán continua chamando a atenção dos estudiosos de hoje.

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Os maias
Os maias estão entre as civilizações mais antigas da América. Seus ancestrais viviam
nas montanhas da atual Guatemala desde 2500 a.C.
Inicialmente, os maias eram caçadores e coletores e se deslocavam constantemente
pela selva em busca de alimentos (caça, pesca e colheita). Mais tarde, domesticaram
plantas, como o milho, a pimenta e o feijão, e se estabeleceram na Península de Yucatán,
local em que os arqueólogos descobriram, em meio à floresta tropical, as cidades de
Tikal e Copán. Depois, os maias ocuparam também cidades já existentes, como Uxmal e
Chichén-Itzá, situadas ao norte.
A área onde se desenvolveu a civilização maia corresponde ao sul do México atual,
quase toda a Guatemala e partes de El Salvador, Honduras e Belize. Observe o mapa a
seguir.

Principais cidades maias

ALLMAPS
90º O

OCEANO
ATLÂNTICO
Chichén-Itzá
Mayapán
Golfo do México
Uxmal
DALLAS MUSEUM OF ART, TEXAS, EUA.

20º N
YUCATÁN
FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Palenque

Tikal
Piedras
Negras Mar das Antilhas

Vaso de cerâmica
com cena de
Copán
jogo de bola.
Guatemala, 0 90

período clássico
tardio, c. 700-850. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 236.

Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-Estado, ou seja, cidades


com governo, leis e costumes próprios. Em caso de guerra contra um inimigo comum, as
cidades maias se organizavam em confederações, mas nunca chegaram a constituir um
império, a exemplo dos astecas e dos incas.

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Sociedade e economia
A sociedade maia era hierarquizada: a elite era formada por nobres e sacerdotes;
abaixo deles vinham os artesãos e os trabalhadores livres, agricultores em sua maioria. Os
nobres e os sacerdotes ajudavam o governante máximo de cada cidade a dirigi-la. Ele tinha
o título religioso de Hunac Ceel e era visto pelo povo como representante dos deuses.
Os camponeses acreditavam que, para conseguir boas colheitas, tinham de pagar
impostos a esse governo “sagrado”. Os impostos eram pagos com parte do que eles pro-
duziam e com trabalhos gratuitos para o governo (como reparo e construção de estradas).
A agricultura tinha grande importância na vida dos maias. A maioria deles vivia no campo,
onde cultivava feijão, abóbora, algodão, cacau, abacate e milho. O milho era a base de
sua alimentação. Eles comiam milho assado, cozido ou na forma de farinha.
Os camponeses cavavam canais para irrigar as pequenas mudas de milho, uma vez
que o terreno era seco em decorrência do sol constante na região. Isso pode ser deduzido
pela vegetação nativa que crescia pelo milharal, o cacto, típico de solos áridos.

SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE CACAXTLA, TLAXCALA, MÉXICO. FOTO: DEA/G DAGLI ORTI/AGB PHOTO LIBRARY

Pintura mural maia com cena de cultivo de milho descoberta por arqueólogos no Templo Vermelho,
na cidade de Tlaxcala (México), c. 600-700 a.C.

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Saberes e técnicas maias Dialogando
Pirâmides Observando os

vestígios dessas
As grandes e sofisticadas construções maias e o desloca- duas construções
mento de enormes blocos de pedra revelam seus conhecimentos grandiosas, é
de engenharia e cálculo. As pirâmides serviam de esteio para os possível dizer que
templos religiosos, aos quais se chegava por meio de uma escadaria os maias tinham
conhecimentos
íngreme. Algumas pirâmides, como a de Tikal, tinham mais de 60 apurados de
metros de altura. Muitas cidades maias surgiram em torno dos engenharia e
centros cerimoniais.. matemática?
ANGELIKA STERN/ISTOCK/GETTY IMAGES

Templo dos Guerreiros em forma de pirâmide e, em volta dele, os vestígios do Palácio das Mil Colunas.
Chichén-Itzá (México), 2014.

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Os incas
Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas chegaram
ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII.
Naquelas terras altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram
a cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos
povos da região ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve Pachacuti
como primeiro imperador. No processo de formação do seu império, os incas assimilaram
elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que mais tarde espalhariam
pelos Andes.
O Império Inca expandiu-se consideravelmente em razão das sucessivas conquistas. Ele
era dividido em várias regiões administrativas, cujos governadores deviam prestar contas
de seus atos ao imperador. A interligação entre as regiões do império era feita por uma
eficiente rede de estradas construídas nas encostas das montanhas. Jovens eram treinados
desde a infância para correr por elas, levando e trazendo informações e produtos por
longas distâncias. As principais estradas incas ligavam o interior a Cuzco, uma cidade
planejada que servia como capital do império incaico.
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

Mulher e criança peruanas caminham por estrada inca próxima a Cuzco (Peru), 2015.

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Sociedade incaica
O imperador – conhecido como Inca ou Filho do Sol – era visto como semidivino e
possuía enormes poderes e privilégios; seu cargo era hereditário. Abaixo dele estavam os
sacerdotes e os chefes militares, todos saídos da nobreza. Depois vinham os artesãos, os
soldados, os projetistas e os funcionários públicos. Esses profissionais viviam em cidades e
eram sustentados pelo governo, que armazenava riquezas com os impostos cobrados das
comunidades camponesas e dos povos sob o domínio inca.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

O texto a seguir foi escrito pelo historiador Serge Gruzinski. Leia-o com atenção.

O Império do Sol
[...] O império inca era composto por um mosaico de povos e de paisagens natu-
rais, dispersos num quadro montanhoso [...].
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

Criança falante da
língua quéchua ao lado
de um lhama. Vale
Sagrado dos Incas,
próximo a Cuzco (Peru),
2016.

A força dos incas é primeiramente o império de uma língua, o quéchua, imposta


às populações tributárias e ensinada aos chefes dos grupos derrotados. É também
o resultado de um centralismo estatal [...]. É a eficácia de uma rede viária de vinte
mil quilômetros que cobria a maior parte do país. Por fim, é um laço [...] religioso, o
culto ao Sol Inti, que não parava de reafirmar a superioridade do Inca.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século (1480-1520): as origens da globalização. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999. (Virando séculos, p. 77-78).

a) Segundo o autor, a força inca residia em quatro pilares. Quais são eles?

b) C
 om base nesse texto, o que se pode concluir sobre o relacionamento entre o
Império Inca e os povos sob seu domínio?

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Saberes e técnicas incas
Edificações incas
Maquete: representação Antes de começar uma construção, os incas produziam uma
em escala reduzida de
maquete de argila e pedra que os ajudava a formar uma ideia
uma obra de arquitetura
ou engenharia a ser da obra depois de pronta. Na construção, usavam grandes blocos
executada. de pedra, que eram cortados e encaixados uns nos outros sem a
Índias: nome dado necessidade de uma substância colante.
à parte americana
do Império espanhol. Em Machu Picchu existem edificações em que se pode ver o
O nome completo é modo de organização dos bairros de uma cidade inca. Restam,
“Índias Ocidentais”. ainda hoje, construções incas intactas e um número grande de
vestígios delas em cidades como Cuzco, Lima e Quito.
Veja o que disse um cronista espanhol do século XVI sobre Cuzco.
Era grande e majestosa e deve ter sido fundada por gente
capaz e inteligente. Tem ruas muito boas, embora estreitas, e as
casas estão construídas de maciças pedras, belamente unidas [...]
Praça das Armas. Cuzco era a cidade mais rica das Índias,, pelo grande acúmulo de
À direita, monumento
em homenagem
riquezas que chegavam a ela com frequência, para incrementar
ao imperador inca a grandeza dos nobres.
Pachacuti. Cuzco (LEÓN, 1553 apud NEVES, 1996, p. 77, 80).
(Peru), 2017.

SAIKO3P/SHUTTERSTOCK

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Técnica, trabalho e impostos
Habitando regiões montanhosas, os incas desenvolveram uma

HARRY ZIMMERMAN/SHUTTERSTOCK.COM
técnica agrícola que consistia em construir terraços na forma de uma
imensa escada para a prática da agricultura (sistema de terraços).
Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes
ao frio, como a batata; nos do meio, milho, abóbora e feijão; nos
mais baixos, semeavam as árvores frutíferas. Com isso, conseguiam
colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas se dedicavam
também ao pastoreio: criavam o lhama e a alpaca, animais usados
no transporte e dos quais obtinham lã e leite.
Os camponeses constituíam a maioria da população. Cada Lhama.

GAIL JOHNSON/SHUTTERSTOCK.COM
aldeia era formada por um conjunto de famílias camponesas unidas
por laços de parentesco que recebia o nome de ayllu;; o chefe do
ayllu era o kuraka
kuraka..
As terras de cada ayllu eram divididas em três partes: uma para
o imperador, uma para os deuses (controlada pelos sacerdotes) e
outra para as famílias camponesas. Além de trabalhar em todas
as terras, os camponeses tinham de prestar serviços gratuitos ao
Estado, plantando, construindo ou reformando; essa obrigação
tinha o nome de mita.. Alpaca.

POOLPS27/SHUTTERSTOCK.COM

Vestígios do sistema de terraços nos arredores de Machu Picchu (Peru), 2018.

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Os tupis
Quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou, havia milhões de indígenas agrupados em
mais de mil povos falantes de cerca de 1 300 línguas. Boa parte dessas línguas pertencia
ao tronco tupi. Calcula-se que, na época, a população tupi era de 1 milhão de pessoas.
Os povos tupis tinham uma origem comum: a atual Floresta Amazônica. Suas casas
eram ruidosas e movimentadas. Suas aldeias eram grandes se comparadas às da Amazônia
atual. Por volta de 500 a.C., eles começaram a se expandir; uma parte deles caminhou
pelo interior em direção ao sul; outra parte rumou até a foz do Rio Amazonas e depois
avançou pelo litoral no sentido norte-sul.
Os tupis praticavam a agricultura, com destaque para o cultivo da mandioca, planta
que foi descoberta e domesticada por eles. Para complementar sua dieta caçavam, pes-
cavam e coletavam produtos da floresta.
Entre os grupos tupis que habitavam o litoral estavam os tupinambás da área onde
hoje é o Rio de Janeiro; e os tupiniquins que tinham suas aldeias onde hoje é Porto Seguro,
na Bahia.
LUCIOLA ZVARICK/PULSAR IMAGENS

Crianças falantes de língua tupi se refrescam e se divertem tomando banho no lago Mauaiaca.
Aldeia Ipavú, Parque Indígena do Xingu (MT), 2018.

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Modo de viver
Os povos tupis tinham um jeito parecido de viver e falavam línguas semelhantes, o que
facilitava a comunicação entre eles ao longo da costa. Suas aldeias tinham uma população
que variava entre 500 e 3 000 pessoas e eram formadas por quatro ou oito casas (malocas,
em tupi), feitas de madeira e cobertas com folhas de palmeira. As casas eram dispostas
em torno de um pátio central, onde aconteciam as festas e as reuniões. Cada casa era
habitada não apenas por pai, mãe e filhos, mas também avós, avôs, primos, sobrinhos,
netos e outros membros da família (família extensa).

Corte do pau-brasil

Transporte do
pau-brasil

Troca do pau-brasil
com os europeus

Detalhe do mapa de
um atlas de 1542 do
francês Jean Rotz.
Na imagem, vemos
a representação de
uma aldeia tupi e suas
malocas. Na parte
superior da imagem,
vemos cena de
transporte e escambo
de pau-brasil entre
indígenas e europeus;
no canto inferior
esquerdo, crianças
brincando; e, à direita,
conflitos entre grupos
indígenas. Observe
a disposição das
malocas (casas),
ao centro.

BIBLIOTECA BRITÂNICA, LONDRES

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MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA. FOTO: ROMULO FIALDINI/TEMPO COMPOSTO
Técnicas e saberes tupis

Objetos que contam história


Os mantos indígenas vistos nesta página
foram confeccionados pelos tupinambás,
grupo falante de língua tupi que habitava
o litoral brasileiro. São confeccionados com
fibras naturais (embira) e penas de guará,
ave de plumagem vermelha do litoral norte
brasileiro. Informa-nos um estudioso que:
Todos os anos, os tupinambás saíam
em grandes expedições para obter as
penas da ave guará [...]. Essas capas de
penas, denominadas pelos tupinambás
de Guará-abacu e Assoyane, cobriam o
indivíduo até a altura do joelho.
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil.
Brasília, DF: MEC, 1994. p. 250.

Manto tupinambá. Copenhague


(Dinamarca), século XVI.

O manto acima servia para vestir os


meninos durante importante festa que
celebra a passagem da adolescência para
a fase adulta; o manto da direita, para
homenagear os adultos do sexo mascu-
lino que se destacavam por sua valentia
ou religiosidade.
Os tupinambás nos deixaram seis
exemplares de mantos, todos conservados
em museus da Europa. O manto acima
está no Museu Nacional de Copenhague,
na Dinamarca; e o da direita, no Museu
do Homem, em Paris, na França.

IS
AR
Manto tupinambá. Paris (França), século XVII. ME
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U DO
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Mais da metade dos brasileiros consome farinha de mandioca, diariamente. A man-
dioca foi domesticada pelos povos tupis da Amazônia.

O processamento da mandioca
O alimento básico de numerosas sociedades indígenas é constituído pela mandio-
ca-brava e seus derivados. Nessa variedade de mandioca existe um poderoso veneno
[...], mas os índios desenvolveram técnicas especiais para torná-la comestível. Nós
aprendemos deles essas técnicas.
Descasca-se e rala-se a mandioca, lava-se a massa com água sobre uma peneira,
espremendo-a depois com as mãos. Em seguida, a polpa é colocada numa prensa: na
esteirinha manual ou no tipiti [...]. O sumo que escorre por entre as malhas é recolhido
numa panela e decantado. O líquido chama-se tucupi e perde o veneno quando deixado
ao sol ou aquecido ao fogo, servindo então para temperar a comida, junto com outros
condimentos. Lava-se também o sedimento branco do fundo da panela, o polvilho,
para livrá-lo do veneno. Depois de torrado em tachos, obtém-se a tapioca.
A polpa da mandioca é retirada da prensa e seca ao sol em forma de pães. Para
fazer farinha, esses pães são esfarelados e torrados. Para fazer beijus, mistura-se a
massa esfarelada com um pouco de água, espalhando-a sobre tachos rasos. Pazinhas
de madeira em forma de meia-lua servem para virar os beijus sobre o torrador. Com
a farinha fazem-se ainda bebidas [...], tortas e mingau. A farinha é guardada em [...]
cestas e cabaças.
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Formas de humanidade: manifestações
socioculturais indígenas. Guia temático para professores. São Paulo: MAE-USP: LEMAD-FFLCH-USP, 2008. p. 12.
CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS

RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS


À esquerda,
fotografia do tipiti,
espremedor de palha
usado para espremer
a mandioca e
preparar a farinha.
Santarém (PA), 2011.

À direita, moça da
nação kamayurá,
falante de uma
língua tupi, ralando
mandioca para
preparação do beiju.
Aldeia kamayurá,
Parque Indígena do
Xingu, Gaúcha do
Norte (MT), 2012.

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Saberes e técnicas dos indígenas do Brasil

A pintura corporal nas terras onde hoje é o Brasil


Os indígenas enfeitavam seus corpos de muitas maneiras. Colares, cocares, enfeites
labiais, brincos e outros adereços foram encontrados em todo o território, usados de
muitas maneiras pelos diferentes povos. Alguns deles usavam brincos, braceletes e colares
no dia a dia, e outros somente em ocasiões especiais. Já o ato de se embelezar e pintar o
corpo estava ligado, geralmente, a festas e ocasiões especiais. As cores e os desenhos das
pinturas variavam de acordo com o acontecimento. As pinturas femininas eram especiais,
mas, como as dos homens, também se relacionavam a determinados rituais ou ocasiões.
Não é exagero dizer que os saberes e as técnicas indígenas estão presentes nas pin-
turas corporais de diferentes povos. Segundo um estudo sobre o assunto:
[...]
As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra
e outros materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da
arte ocidental, assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata
de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particu-
laridades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções. [...]
O CONCEITO de arte e os índios. Povos Indígenas no Brasil. [S. l.], 2018.
Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Artes. Acesso em: 17 maio 2022.
LUCIOLA ZVARICK/PULSAR IMAGENS

Indígenas da etnia tuyuka, da aldeia Utapinopona, fazendo pintura facial. Manaus (AM), 2018.
A tinta vermelha é extraída do urucum, e a preta, do jenipapo.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP VIA GETTY IMAGES


I. Retomando
1 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua
resposta.
a) No início do século XIV, depois de muito caminhar, os astecas
chegaram ao Vale do México e, em 1325, fundaram a cidade
de Tenochtitlán.
b) Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os
astecas dominaram diversos povos da região e formaram um
grande império, o Império Asteca.
c) Alguns povos subjugados pelos astecas eram obrigados a pagar-
-lhes pesados impostos, moedas de ouro e prata.
d) Além de pagar impostos, os povos dominados também eram Lista de pagamento de impostos
obrigados a cultuar o deus asteca da guerra. Isso ajuda a expli- feito em mercadorias.
car por que os povos dominados aceitaram a dominação asteca. Códice asteca, século XVI.

2 Sobre a sociedade asteca, leia o que um historiador diz a respeito.


A teoria do poder fundava-se na afirmação de que os deuses puseram os
nobres à frente dos homens comuns por serem estes coléricos e travessos, incapa-
zes de governar a si mesmos. A obrigação dos nobres era serem pais de seu povo e
um modelo para ele (“uma luz, uma tocha, um modelo, uma medida”, diz o Códice
florentino);
florentino); a do povo, obedecer, trabalhar e pagar tributos. [...]
FLAMARION, Ciro. Poder político e religião nas altas culturas pré-colombianas: astecas, maias e incas.
In: VAINFAS, Ronaldo (org.). América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
(Coleção Jubileu. Os grandes acontecimentos históricos em suas datas comemorativas, p. 17).

a) Qual é a explicação dada no texto para o poder dos nobres sobre os homens comuns?
b) Quais são os adjetivos usados para descrever os homens comuns?
c) Segundo o texto, nobres e homens comuns tinham obrigações entre si. O que cabia a cada
uma das partes?
d) Avalie e comente a teoria asteca do poder, colocando-se no lugar de uma pessoa comum da
sociedade asteca da época.

3 Avalie as afirmações a seguir e indique as corretas.


a) A vida da maioria no Império Asteca era opressiva; todos os povos dominados tinham de
pagar pesados tributos.
b) Os astecas exigiam que os tributos fossem pagos a eles em ouro, prata e pedras preciosas.
c) Os tributos pagos aos astecas fizeram a riqueza e o poder de Tenochtitlán, capital do Império.
d) Os tributos pagos aos astecas acabavam beneficiando a todos os povos do Império.

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4 Os astecas possuíam saberes e técnicas que impressionam até hoje.
Sobre esse assunto, copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha.
a) Os astecas sabiam construir ilhas artificiais, chamadas códices, onde plantavam flores, alimen-
tos e plantas medicinais.
b) Os astecas dominavam as técnicas de fazer canais de irrigação e aquedutos, o que possibilitava
o aumento da produção de alimentos.
c) Os astecas tinham conhecimentos avançados de arquitetura, o que lhes permitia construir
cidades com ruas largas e retas.
d) O artista mexicano Diego Rivera valorizou em seus murais a ação dos conquistadores espanhóis.

5 Leia o texto a seguir sobre a sociedade asteca.


A ocupação territorial era organizada segundo uma hierarquia, na qual as
elites sociais ocupavam as áreas mais próximas ao centro, enquanto [...] o povo
ficava nas áreas mais periféricas. As casas das classes privilegiadas eram maiores
e construídas com pedras, enquanto as casas da população mais simples eram
feitas de adobe.. O edifício residencial mais importante era o palácio real, chamado
de Palácio de Moctezuma II, que fazia frente à grande praça e estava Adobe: tijolo
ao lado do centro cerimonial.
SALVAT, Ana Paula dos Santos. Colonizada, mas não silenciada: a permanência da cultura asteca na configuração
artística e arquitetônica do zócalo, na Cidade do México. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE,
12., 2017, Campinas. Anais [...]. Campinas: Unicamp, 2017. p. 66.
a) Como era organizada a ocupação territorial na sociedade asteca?
b) As construções arquitetônicas das elites ocupavam qual área da cidade? Justifique.
c) Qual é a diferença entre as moradias das elites e a da população mais simples?
d) Em sua opinião, por que o palácio do imperador era construído na área central da cidade?
e) Reflita e tente responder: por que o pesquisador de hoje tem mais facilidade de saber como
eram as casas da nobreza do que as das pessoas comuns?

6 Observe as cenas da imagem a seguir com atenção.


a) O que se pode saber sobre a vida econômica
BETTMANN/GETTY IMAGES

dos astecas com base nessa imagem do


Códice Mendoza?
b) Descreva as cenas de trabalho.
c) Esses desenhos podem ser considerados uma
fonte importante para os historiadores, ou o
que tem importância para eles são apenas os
documentos escritos?

Detalhe do Códice Mendoza,


México, c. 1500.

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7 Copie no caderno a alternativa correta.
a) Os maias se estabeleceram na Península de Yucatán e domesticaram plantas como o açaí, o
guaraná e a mandioca
b) Os maias nunca formaram um Império. Organizavam-se em cidades-Estado, ou seja, cidades
com governos e leis próprios.
c) Os camponeses maias pagavam impostos ao governo sagrado com ouro e pedras preciosas
que retiravam das minas.
d) A indústria tinha grande importância na vida dos maias. A mandioca era a base de sua
alimentação.

8 Avalie as afirmações e indique as corretas.


a) Os incas tinham uma agricultura desenvolvida, utilizavam um sistema de irrigação por canais
e uma técnica agrícola que se aproveitava de terraços cavados nas encostas das montanhas
(sistema de terraços).
b) Cada aldeia era formada por um conjunto de famílias camponesas unidas por laços de paren-
tesco, que recebia o nome de ayllu; o chefe do ayllu era o kuraka.
c) Os habitantes do ayllu plantavam milho, feijão, batata e pastoreavam os lhamas e as alpacas
(animal de carga semelhante ao lhama).
d) Todas as terras do ayllu eram para o imperador e sua família.
e) Os camponeses eram obrigados a prestar serviços remunerados ao Estado; essa obrigação
recebia o nome de encomienda.

9 Observe a imagem e, depois, responda às questões.

3523STUDIO/SHUTTERSTOCK.COM

Vista de Machu Picchu (Peru). Fotografia de 2019.

a) Na imagem, veem-se vestígios de uma técnica agrícola utilizada pelos incas. Que técnica era
essa?
b) Em que consistia essa técnica?
c) O que eles cultivavam nos degraus mais altos? Por quê?
d) E nos degraus mais baixos?
e) O que conseguiam aplicando essas técnicas e saberes?

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10 Em grupo. Imaginem que vocês trabalham em uma agência de turismo e precisam
convencer pessoas que estão indecisas a fazer uma viagem a Machu Picchu. Façam um
relatório ilustrado (desenhos, fotografias, mapas), incentivando-as a conhecer o Templo
do Sol, a Tumba Real, As Três Ventanas, A Praça Sagrada e o Templo do Condor. Postem
o trabalho no blogue da turma.

11 Observe a imagem a seguir. Ela é uma obra de arte da artista indígena macuxi
Carmézia Emiliano.
CARMÉZIA EMILIANO/COLEÇÃO AUGUSTO LUITGARDS

Obra de Carmézia Emiliano que mostra o trabalho comunitário em uma aldeia indígena, 2009.

a) O que vemos na imagem?


b) O que os indígenas estão fazendo?
c) A imagem demonstra uma hierarquia entre os indígenas?
d) O que as crianças fazem na cena se reproduz na vida real?
e) A sabedoria indígena nos ensina o respeito ao meio ambiente, de onde tiramos o sustento.
Qual era a base alimentar dos tupis?

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II. Integrando com Ciências
Hoje, mais de 500 anos após a chegada dos europeus na América, a humanidade
começa a avaliar sua imensa dívida para com os ameríndios. Muitas plantas de que a
humanidade se alimenta hoje foram descobertas e domesticadas pelos ameríndios. Entre
elas estão as plantas alimentícias, como o milho, a batata e a mandioca; e as medicinais,
a exemplo do quinino.
Algumas plantas alimentícias são estimulantes e fizeram a fortuna de muitas indústrias
ao redor da Terra. Entre as mais conhecidas estão:
1. Guaraná [...]. Era pouco

J.L.BULCÃO/PULSAR IMAGENS
difundido na América. A partir
do século XIX, os Mawé, do rio
Madeira, tinham praticamente
o monopólio desse produto.
É um estimulante notável,
contendo pequeno teor de
cafeína. O plantio do guaraná
está difundido, hoje, por várias
regiões e o seu uso aumenta a
cada dia.
RIBEIRO, Berta G. A contribuição dos povos
indígenas à cultura brasileira. In: GRUPIONI,
Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da
(org.). A temática indígena na escola:
novos subsídios para professores de 1o e 2o
graus. São Paulo: Global; Brasília, DF: MEC:
Unesco, 1995; p. 204-205.

Folha e fruto do guaraná.

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2. Atualmente, o Brasil é o sétimo maior produtor mundial de cacau e o terceiro
maior consumidor de chocolate.
[...] A importância econômica do cacaueiro é traduzida principalmente pelo
consumo de chocolate e confeitos sob as mais variadas formas, por todo o mundo e
pela utilização de manteiga de cacau, nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos
[...] O cacau já era cultivado pelos índios muito antes da chegada dos europeus
na América. O mundo [...] só tomou conhecimento da existência do cacau depois que
Cristóvão Colombo descobriu a América. [...] No México era cultivado principalmente
pelos Astecas e pelos Maias na América Central. [...]
Esse cacaueiro era chamado Cacahualt

NNATTALLI/SHUTTERSTOCK.COM
o que designava o “Sagrado”, e os astecas
acreditavam que esta planta era de origem
divina e o próprio profeta Quatzalcault
ensinava ao povo como cultivá-la, tanto
para o alimento como para o embele-
zamento de paisagens. De acordo com
os historiadores, o seu cultivo era de tal
importância que exigia ser acompanhado
de solenes cerimónias religiosas, fato que
provavelmente influenciou o botânico
sueco Carolus Linneu (1707-1778), a deno-
minar a planta de Theobroma cacao, de
origem grega Theos e Bromos e signifi-
cando “alimentos dos deuses”. [...]
QUEIROGA, Vicente de Paula et al. (org.).
Cacau (Theobroma cacao, L.) orgânico sombreado:
tecnologias de plantio e produção da amêndoa fina.
Cacau. Campina Grande: AREPB, 2021. p. 11; 15-16.

a) Pesquise sobre o guaraná procurando descobrir:


• suas propriedades;
• seus benefícios para a saúde.

Com base na pesquisa, produzam um pequeno vídeo sobre o assunto e postem nas
redes sociais da escola.
b) Quando os europeus chegaram à América, o cacau já era cultivado por astecas e maias.
Pesquise e responda com base no roteiro a seguir.
I. Qual é a importância do cacau na atualidade?
II. Qual é o seu hábitat original?
III. Como o cacau era utilizado pelos nativos da floresta?
IV. Qual é o seu nome científico? E qual é o significado desse nome?

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CAPÍTULO

2 POVOS E CULTURAS AFRICANAS:


MALINESES, BANTOS E IORUBÁS

A África é um continente com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados,


dezenas de países e centenas de povos com culturas e línguas singulares. Por ser o berço
da humanidade e o lugar de origem dos ancestrais de milhões de brasileiros, a África e
sua história têm grande importância para nós.

África: político (2022)

ALLMAPS
JEFF GREENBERG/EASYPIX BRASIL

LUDOVIC MAISANT/EASYPIX BRASIL


1 4
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
Mar Negro Cáspio

EUROPA
Túnis
I. Madeira
(PORT.) Argel
TUNÍSIA

Rabat Mar Medi


S ter râneo
Is. Canárias O CO
(ESP.) RR Trípoli
MA Cairo
Trópico El Aaiún EGITO
de Cânc ARGÉLIA (parte asiática)
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RIC LAFFORGUE/EASYPIX BRASIL

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2 Bissau
GUINÉ-BISSAU GUINÉ Ouagadougou
Ndjamena DJIBUTI
Djibuti

THOMAS COCKREM/ALAMY/FOTOARENA
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SOMÁLIA
TOGO

Freetown DO Abuja
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GUINÉ EQUATORIAL Brazaville DO CONGO Bujumbura Vitória


Kinshasa BURUNDI
Dodoma SEICHELLES
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Windhoek Gaborone Pretória MAURÍCIO


2012.
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(cap. administrativa)
JOHNER IMAGES/ALAMY/FOTOARENA

Maputo
3 ÁFRICA
DO SUL
Mbabane
SUAZILÂNDIA
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Bloemfontein LESOTO
(cap. jurídica) Maseru
Greenw

Cidade do Cabo
(cap. legislativa)
e
iano d

OCEANO
Merid

ÍNDICO

0 805

Jovem 0º 40º L
sul-africano, Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
2015. Atlas geográfico escolar. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 4

33

AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 33 01/08/22 13:20


África: aspectos físicos
Quando observamos o mapa da África, vemos ao norte um imenso mar de areia,
que tem o nome de deserto do Saara. Nesse deserto viviam povos nômades, chamados
berberes, que controlavam as importantes rotas comerciais do norte africano.
Ao sul do Saara está o Sahel, uma faixa de terra que vai desde o oceano Atlântico até
o Mar Vermelho. No Sahel viviam povos negros chamados, genericamente, de sudaneses,
como os bambaras, os fulas, os mandingas, os haussás, entre outros. A extensa área habitada
por eles era chamada de Sudão (em árabe, Biladal-Sudan
Biladal-Sudan,, que significa “terra de negros”).
O Sudão ocidental é cortado
África: vegetação
por dois importantes rios: o 30°LL
30°
EUROPA 0°

ALLMAPS
Senegal e o Níger. Esses rios per-
Mar Mediterrâneo
mitiam que os povos do Sahel
tivessem água para suas neces- Trópico d
e Câncer

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sidades básicas e também para

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fertilizar a terra e cultivar cereais,

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legumes e verduras. Além disso, Rio
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serviam como via de locomoção


er

e transporte. Em canoas ágeis


feitas com troncos de árvores, Equador
Lago 0°
o
ng

Vitória
Meridiano de Greenwich

os povos do Sahel transporta-


Co

o Lago
Ri Tanganica OCEANO
OCEANO
vam mercadorias como sal, ouro ÍNDICO
ATLÂNTICO
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e noz-de-cola, saídos dos portos Malauí
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do mar Mediterrâneo, ou que R
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para lá seguiam. DESERTO DO Ri


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Florestas KALAHARI
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Savanas

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Vegetação mediterrânea

Deserto
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. 0 1 060
Oásis
África e Brasil africano. 3. ed.
São Paulo: Ática, 2012. p. 13.

O Império do Mali
Império: Unidade política que congrega
Foi justamente no Sudão ocidental, entre os rios várias outras unidades, que podem ser
Senegal e Níger, nas terras habitadas pelos man- compostas por povos diferentes entre si,
dingas, que se formou o Império do Mali, um dos que mantêm suas formas de governar locais,
mas prestam obediência ao poder central,
maiores e mais duradouros da história da África. Boa controlado pelo chefe de todos os chefes.
parte do que sabemos sobre o Império Mandinga (ou (SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 16).
do Mali) chegou até nós através dos griôs.

34

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PARA SABER MAIS

GETULIO DELPHIM
Os griôs
Os griôs eram indivíduos encarregados de preservar e
transmitir as histórias, os conhecimentos e as canções de seu
povo por meio da oralidade.
No passado, os griôs eram procurados por muitos reis
africanos para trabalharem como professores particulares de
seus filhos. Eles ensinavam arte, conhecimento sobre as plantas,
tradições, história e davam conselhos aos jovens príncipes.
Além dos griôs contadores de histórias,, havia também
os griôs músicos e os cantores,, que interpretavam e con-
servavam canções tradicionais; e havia, ainda, mulheres griôs,
que faziam o mesmo que os griôs homens.
No passado, quando um griô falecia, seu
corpo era enterrado dentro de um baobá, árvore
considerada sagrada e cujos troncos são ocos.
Acreditava-se que, ao enterrar o corpo de um
griô nessas árvores, suas histórias e canções
continuariam sendo divulgadas e conhecidas
por muitos.

Ilustração representando um
griô contador de histórias.

ESCUTAR E FALAR
Um ditado dos griôs africanos que chegou aos nossos dias é: “cada dia se aprende
algo novo; basta saber ouvir”. Prepare-se para falar sobre a importância, na vida, de
saber escutar.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

35

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A formação do Império do Mali
Contam os griôs que tudo começou Etnia: grupo com
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

com o príncipe de etnia mandinga chamado modo de vida


próprio, com uma
Sundiata Keita. Ele e seus guerreiros vence-
história comum,
ram os sossos, seus opressores, na Batalha de falante da mesma
Kirina, por volta de 1230. E, depois de vencer língua e que partilha
os mesmos valores,
também outros povos vizinhos, fundaram o mitos e crenças.
Império do Mali.
No poder, Sundiata Keita se converteu ao islamismo, religião
criada por Maomé e cujo princípio fundamental é a crença num
único deus. Segundo alguns historiadores, ele se converteu movido
pela ideia de poder participar do comércio que, na época, era
controlado pelos árabes islâmicos.
No Mali, o imperador era a maior autoridade, mas ele ouvia
seus auxiliares (o conselho); e, sempre que precisava tomar uma
decisão importante, ouvia também dois altos funcionários: o
O cavalo e o cavaleiro, chefe das forças armadas e o senhor do tesouro, que era res-
estátua mali em
terracota. Djenné ponsável pela guarda dos depósitos de ouro, marfim, cobre e
(Mali), séculos XIII-XIV. pedras preciosas.
A HISTÓRIA DOS HOMENS - AS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA, DE C. MAUCLER E H. MONIOT. PARIS, LELLO & IRMÃOS, 1987

O imperador do Mali
ouvia as queixas
de seus súditos em
audiências públicas
realizadas tanto
no seu palácio
quanto em uma
praça próxima. Ele
comparecia a essas
audiências em trajes
requintados, tendo
seus conselheiros ao
lado e, atrás deles, um
grupo de soldados;
as sessões eram
abertas pelos griôs.
Ilustração de 1987.

36

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Sundiata Keita preocupou-se também em proteger o império dos ataques dos ber-
beres; por isso, deslocou sua capital para Niani, ao sul do Mali. Nas estradas que ligavam
Niani à região Nordeste, formaram-se importantes cidades africanas, como Djenné, Gao
e Tombuctu.

PARA SABER MAIS


Tombuctu
Situada às margens do rio Níger, o terceiro maior da África, Tombuctu servia como
ponto de chegada e de partida das caravanas comerciais que atravessavam o deserto.
Por Tombuctu passavam sal e o ouro das minas malinesas, os tecidos e os grãos, além
de peles, plumas, marfim e instrumentos de metal. Ao longo do século XIV, a cidade se
tornou também um dos mais importantes centros intelectuais do mundo, reunindo cerca
de 150 escolas de estudo do Corão, com milhares de estudantes vindos de vários lugares.
Em Tombuctu foi erguida também a mesquita de Sankoré, onde passou a funcionar a
universidade de mesmo nome, que se mantém em atividade até os dias atuais.
OVERSNAP/ISTOCK/GETTY IMAGES

Na imagem, vemos a mesquita construída na época do Império do Mali, que abriga até hoje a importante
Universidade de Sankoré. Tomboctu (Mali). Fotografia de 2018.

37

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Economia malinesa
O Império do Mali era o maior produtor de ouro da África
ocidental, mas sua população praticava também a agropecuária, o
artesanato e o comércio. No vale do rio Níger, os malineses cultiva-
vam arroz, milhete
milhete,, inhame, algodão e feijão; além disso, criavam
bovinos, ovinos e caprinos. Os artesãos malineses eram habilidosos
no trabalho em metal e em madeira.
Os mercadores malineses (conhecidos como wangara
wangara)) comer-
Milhete: variedade cializavam sobretudo ouro, cobre, sal e noz-de-cola. No Mali, o
de milho em grão cobre era muito apreciado, e o sal, quase tão valioso quanto o
muito miúdo.
ouro. Na África ocidental, os malineses são conhecidos até hoje
Árido: seco.
como bons comerciantes.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Leia o texto com atenção.


A noz-de-cola é um produto da floresta [...]. No
interior desse fruto de diversas variedades, ficam
os gomos, com um sumo extremamente amargo,
que, ao ser consumido nas regiões áridas do
deserto [...], sacia a sede e produz uma sensação
de bem-estar graças ao seu alto teor de cafeína.

MARY EVANS/EASYPIX BRASIL


De conservação delicada, era transportado
com cuidado, envolto em folhas verdes e largas,
tendo de ser constantemente reembalado para
que seu frescor fosse mantido. Oferecido aos visi-
tantes ilustres, não podia faltar entre os bens das
pessoas de maior distinção. [...] Tinha alto valor de
troca, o que compensava as longas distâncias e os
cuidados especiais relacionados ao seu comércio.
No Brasil a noz-de-cola, conhecida como
obi e orobó, tem lugar de destaque na realiza- Noz‑de‑cola, ilustração
ção de alguns cultos religiosos afro-brasileiros. de Gustav Pabst, 1887.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 18.

a) A noz-de-cola é uma planta nativa da África. Para que serve o seu fruto?

b) A
 noz-de-cola exigia cuidados especiais no seu transporte e na sua conservação.
Apesar disso, era muito vendida nos mercados de Tombuctu. Como você explica isso?

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A força e o declínio do Império do Mali
O Império do Mali controlou uma área imensa, chegou a ter cerca de 45 milhões
de habitantes e durou 230 anos. Segundo o historiador José Rivair de Macedo, a longa
duração e o poder do Império do Mali podem ser explicados pelos seguintes motivos:
• possuía um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros com capa-
cidade de reprimir rebeldes em caso de revolta;
• controlava as áreas de extração do ouro;
• tinha uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob seu
domínio;
• adotava uma política de consulta aos povos dominados e respeitava suas tradições e
religiões.
O Mali, maior império
©SANTIAGO URQUIJO/GETTY IMAGES

africano daqueles tempos,


conservou sua liderança
na região até a metade do
século XV, quando entrou em
declínio por causa de confli-
tos entre seus líderes e do
surgimento de novos centros
de poder, a exemplo do
Reino de Songai. Durante sua
expansão, esse reino conquis-
tou a cidade de Tombuctu,
em 1470, tornando-se, assim,
a principal força política da
região.

Escultura em madeira na região


do Mopti (Mali). Fotografia de
2021. As figuras malinesas têm
traços característicos, o que as
torna facilmente reconhecíveis.

39

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Os bantos
Na África, ao sul do deserto do Saara (subsaariana), viviam, e vivem ainda hoje, os
bantos, povos que possuíam uma origem comum e falavam línguas aparentadas denomi-
nadas de bantas.
Por volta de 1 500 a.C., os povos bantos partiram de onde hoje é a República de
Camarões e se deslocaram para o centro, o leste e o sul do continente africano; esse
deslocamento durou cerca de 2 500 anos e foi a maior migração já vista na história da
África subsaariana. Durante o deslocamento, os bantos domesticaram plantas e animais e
conquistaram povos que viviam da caça e da pesca.
Os bantos eram povos agricultores e tinham domínio da técnica de pro-
dução do ferro, usado por eles para fazer instrumentos de trabalho e armas
Metalurgia:
de guerra; isso os colocava em vantagem sobre os povos que desconheciam
trabalho que
transforma a técnica da metalurgia e ajuda a explicar sua vitória sobre esses povos.
metais em Assim, as regiões ocupadas pelos bantos se tornaram terras de agricultores
objetos.
que dominavam a metalurgia.
DANIEL CYMBALISTA

DANIEL M ERNST/SHUTTERSTOCK.COM

À esquerda, jovem angolano falante da língua umbundo. À direita, mulher carioca descendente de povos
da região congo‑angolana. As duas fotografias são atuais. Boa parte dos habitantes do Rio de Janeiro
descende de povos bantos.

40

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Reino do Congo
A bacia do rio Zaire, chamado de Congo pelos portugueses, era habitada desde
longo tempo por grupos bantos, como o bacongo, o luba, o lunda e o quicongo.
Segundo uma tradição, no final do século XIII, os bacongos dominaram grupos menores
falantes das línguas umbundo e quicongo. Sob a liderança de um líder lendário de
nome Nimi-a-Lukeni, eles expandiram seus domínios por meio de guerras, alianças e da
cobrança de tributos.
Nimi-a-Lukeni recebeu o título de manicongo (senhor do Congo) e passou a ser
considerado o herói fundador do Reino do Congo. Depois, edificou seu palácio em
Mbanza Congo e, desse centro de poder, o Reino do Congo passou a controlar um
amplo território.
Na capital, o manicongo exercia sua autoridade com o auxílio de 12 conselheiros, entre
os quais estavam os secretários reais, os oficiais militares, os homens da lei, os coletores
de impostos, entre outros. Desses 12 conselheiros, quatro eram mulheres e representavam
o clã das avós do rei.
BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA, PARIS. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Gravura extraída da obra Descrição da África, de Olfert Dapper, c. 1686, que mostra a vista de Mbanza
Congo, capital do Reino do Congo.

41

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Vida econômica
No Reino do Congo, os homens caçavam, pescavam e coleta-
vam alimentos; já o trabalho na agricultura era feito por mulheres.
Sorgo: cereal rico em Elas cultivavam legumes, verduras, frutas (laranja, limão, romã, figo,
proteínas; é parecido banana) e cereais, com destaque para o sorgo sorgo.. Além disso, os
com o milho, mas tem os
congos criavam galinhas, porcos, carneiros, bois e cabras e pratica-
grãos menores.
Ráfia: tipo de palmeira vam o artesanato: teciam com fibras das folhas de ráfiaráfia;; forjavam
com folhas enormes das o ferro, com o qual produziam instrumentos de trabalho (pás e
quais se extrai a fibra de enxadas) e armas (espadas e lanças); e eram hábeis escultores, tanto
mesmo nome.
no trabalho em madeira quanto em cobre.
Os congos conheciam técnicas apuradas de fusão do ferro.
Segundo a tradição, o fundador do Reino do Congo era um rei
ferreiro, por isso os trabalhos em ferro eram reservados aos nobres.

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Máscara congolesa
usada em cerimônias
de iniciação e rituais
fúnebres. Kuba,
antigo reino africano
da República do
Congo, século XX.

42

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No Congo, o comércio era intenso. Da capital do Congo partiam as caravanas que iam
ao interior buscar ou levar produtos, com especial destaque para o ferro e o sal. O ferro
era extraído na província de Nsundi, no norte do reino. Já o sal, raro e precioso, vinha das
salinas de Mpinda e da província de Ndembu, no sul.

Reino do Congo (século XVI)

ALLMAPS
Kundi Okango
o Nsundi
ng
o Co
Ri
Mbula 5º 30’ S
Mpangu Songo
Kiova
Kongo
a Niaza
Mpinda Mbata

Mukatu Mbanza Congo/


Nsoyo
São Salvador
Nkusu Nsonso
CONGO
Mpemba

Wandu
Wembo
Mbamba

OCEANO Ndembu
ATLÂNTICO

Capital do reino
Luanda
Cidade
0 45
Limite de província

15º 30’ L

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 39.

(lubatas)) e cidades (mbanzas


Aldeias (lubatas (mbanzas)) pagavam tributos ao manicongo, que, em
troca, oferecia-lhes proteção espiritual, pois era visto como intérprete da vontade dos
ancestrais e dos espíritos. Os tributos eram pagos em espécie (sorgo, vinho da palma,
metais, frutas, gado, marfim e peles) e em dinheiro. A moeda do Congo era o nzimbu,,
uma espécie de concha marinha pescada na ilha de Luanda; a exploração dessas conchas
era monopólio do rei. O manicongo repartia parte dos bens arrecadados com os líderes
de linhagens e das aldeias, estabelecendo, assim, uma aliança e um equilíbrio de poder
no reino.

43

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Portugueses no Congo
Os portugueses chegaram ao Congo em 1483 e logo procuraram fazer comércio com
as lideranças africanas. Algumas dessas lideranças também se aproximaram dos portugue-
ses com a mesma intenção. Esse foi o caso do manicongo Nzinga Mbemba, que trocou seu
nome para Afonso I, converteu-se ao catolicismo e passou a se vestir à moda portuguesa.
No seu reinado (1507-1542), com o objetivo de modernizar o Reino do Congo,
Afonso I enviou cartas ao rei português D. João III, pedindo a ele que lhe enviasse profissio-
nais para ensinar os congos a construir grandes navios, professores para instruir os jovens
e missionários para divulgar o catolicismo. Mas do Reino de Portugal só lhe chegaram
missionários e mercadores de escravizados. Ao perceber que seu reino corria perigo, o
manicongo escreveu outra carta ao rei de Portugal pedindo que proibisse o comércio de
africanos escravizados. Mas não foi atendido: o tráfico continuou intenso.
Ao longo dos séculos seguintes, as relações entre os portugueses e os congos piora-
ram bastante. Os reis de Portugal viam o Reino do Congo apenas como uma área para
expandir o catolicismo e comerciar. Em 1665, diante do interesse português nas ricas minas
de ouro da região, os congos se revoltaram contra
o domínio português, mas foram vencidos
na batalha de Mbwila. Nela morreram o
manicongo, muitos nobres e milhares
de soldados congos. Depois disso,
o Reino do Congo foi declinando.
Os principais motivos desse
declínio foram: o despovoa-
mento causado pelo tráfico
de pessoas, o aumento das
guerras internas para obter
prisioneiros, a chegada dos
portugueses e a conse-
quente desorganização
SUN

dos poderes locais.


UGA
L/AL
AMY
/FOT
AREO
NA

Máscara de um povo da
região congo-angolana.
Fotografia de 2010.

44

AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 44 05/08/22 09:37


Bantos no Brasil
A maioria dos milhões de africanos entrados no Brasil entre os séculos XVI e XIX era
falante de línguas bantas, como o quimbundo, o quicongo e o umbundo. Isso ajuda a
explicar por que essas línguas estão entre as que mais influenciaram o português falado
no Brasil.

Palavras bantas
Berimbau – Arco musical, instrumento indispensável na
Fubá – Farinha de milho ou arroz.
capoeira.
Caçula – O mais novo dos filhos ou dos irmãos. Jiló – Fruto do jiloeiro, de sabor amargo.
Canjica – Papa de milho-verde ralado a que se juntam leite
Moleque – Menino, garoto, rapaz.
de coco, açúcar, cravo e canela.
Carimbo – Selo, sinete, sinal público com que se autenticam Quiabo – Fruto do quiabeiro, muito usado na
documentos. cozinha cerimonial afro-brasileira e baiana.
Cochilo – Ato de cochilar, dormir levemente. Quitute – Petisco, iguaria de apurado sabor.
Dendê – Palmeira ou fruto da palmeira. Óleo vermelho obtido Samba – Dança e música popular brasileira de
da palmeira dendê, de grande uso na culinária religiosa afro- compasso binário e acompanhamento sincopado;
-brasileira e baiana; óleo de palma no português de Portugal. a música que acompanha essa dança.
Fonte: CASTRO, Yedda Pessoa de. Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro.
Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.

PARA SABER MAIS


Jongo: herança cultural dos povos bantos
Entre as manifestações culturais
MARCO ANTONIO SÁ/PULSAR IMAGENS

de raiz banta no Brasil está o jongo,


canto e dança coletivos que contam
com percussão de tambores que
floresceu durante a expansão da
cafeicultura no Vale do Paraíba flumi-
nense e paulista. Em 2005, o jongo foi
registrado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
como Patrimônio Cultural Imaterial do
Brasil. O jongo é praticado em todos os
estados brasileiros da região Sudeste e
é chamado também de caxambu.

Apresentação do grupo Jongo de


Piquete (SP), 2007.

45

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Os iorubás
Nas terras da África ocidental viveram povos igualmente importantes na formação
cultural do Brasil; entre esses povos merecem especial atenção os iorubás.
JOHNNY GREIG/ALAMY/FOTOARENA/2007

FABIO COLOMBINI/2013
À esquerda, mulher
nigeriana; à direita, mulher
baiana. Hoje, os iorubás
são contados aos milhões
na Nigéria e no Benin e
possuem grande número
de descendentes no Brasil
e em Cuba.

Os iorubás construíram uma civilização marcadamente urbana, com cidades de ruas


e avenidas retas e mercados movimentados; entre as principais cidades iorubás daquela
época estavam Ifé, Keto e Oió (capital política).

Iorubo: cidades (séculos XII a XV)

ALLMAPS

Rio
Oió Níge
r
Obá

Keto
nue
egbá Rio Be
akposo Ado Ekiti
Cidades do Iorubo, daomé
Ifé
palavra empregada pelo Abomei egbado Owó
bra

Ijebu-Ode iorubá
am

africanista brasileiro
Benin
An

Alberto da Costa e Silva Ajudá Porto Novo


o
Ri

para designar o domínio Popó Grande 6º N


territorial dos povos
iorubás, chamado em Golfo do Benin
inglês de Yorubaland.
Delta do
Níger
Meridiano de Greenwich

OCEANO
ATLÂNTICO
0 80

Fonte: SCARAMAL, Eliesse (org.). Para estudar a história da África. Projeto Abá: estudos
africanos para qualificação de professores do Sistema básico de Ensino/Coordenação Geral/
Projeto Abá: Léo Carrer Nogueira. Anápolis: Núcleo de Seleção-UEG, 2008. p. 44.

46

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Política e economia
A força econômica das cidades iorubás vinha, sobretudo, do
comércio; seus comerciantes (homens e mulheres) circulavam por
terra e pelos rios da região em canoas carregadas de produtos da Curtume:
estabelecimento no qual
floresta (pele de leopardo, pimenta, marfim, noz-de-cola), além de se curte couro.
objetos de couro, metal e marfim confeccionados por seus artesãos. Serralheria: oficina na
Na cidade de Oió, capital política dos iorubás, havia bairros qual se fazem peças em
ferro.
especializados em curtume
curtume,, serralheria
serralheria,, fundição.
Ifé, que teve seu período de maior esplendor entre os séculos
XII e XV, era a cidade sagrada dos iorubás, sua capital religiosa, e
é vista por eles até hoje como o umbigo do Universo, local onde
tudo começou. Daí a importância espiritual de Ifé para todas as
comunidades iorubás, na África e no Brasil.
Em Ifé, o poder político e religioso era exercido pela mesma
pessoa, o onioni;; ele administrava a cidade, distribuía a justiça e era
o responsável pelos cultos religiosos visando às boas colheitas.
Era o oni também quem confirmava a autoridade dos líderes
de outras cidades iorubás, como Keto e Oió; quando alguém
chegava ao poder, tinha de se dirigir a Ifé para ter sua autoridade
confirmada por ele.
Apesar de compartilharem uma
BETTMANN/GETTY IMAGES

mesma língua e possuírem uma


base cultural comum, os iorubás não
chegaram a compor um Estado cen-
tralizado, à semelhança dos antigos
malineses; as suas cidades eram
cidades-Estado ou cidades-reino,
como preferem alguns especialis-
tas no assunto. As cidades iorubás
não formaram uma unidade polí-
tica; eram independentes umas das
outras.

Sua alteza Aderemi I (à direita e de


branco), oni da cidade de Ilê Ifé, na
Nigéria, 1943. Note que o oni está
vestido à moda de seus ancestrais.

47

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A arte de matriz iorubá
Os iorubás produziam esculturas atraentes e realistas, como cabeças humanas feitas
em bronze e de tamanho natural.
O estilo próprio de Ifé na confecção das cabeças humanas não perdurou, mas influen-
ciou a arte produzida no Reino de Benin.
A arte de matriz iorubá merece especial atenção não apenas por sua qualidade esté-
tica, mas por ser importante fonte para o conhecimento dos iorubás.
As peças impressionam o observador por seus traços realistas e variedade de expressões.
Técnica da cera perdida
Passo 1:: esculpir a peça desejada em cera de abelha.
Passo 2:: aplicar argila na escultura e deixar uma aber-
tura para a cera de abelha escorrer.
Passo 3:: colocar a peça no fogo para a argila endure-
cer e a cera de abelha escorrer pela abertura.
Passo 4:: despejar o metal líquido no molde de argila.
Após esfriar, quebrar a argila e retirar a peça de metal pronta.

Dialogando

AGE FOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL


No século XX, quando as esculturas iorubás foram descobertas

pelos arqueólogos, o estudioso alemão Leo Frobenius afirmou que
elas tinham sido feitas por artistas gregos que, ao naufragar nas
costas da África, levaram sua arte para as “selvas da Nigéria”.
O que se pode dizer da visão desse estudioso?

Escultura do rosto de um rei iorubá em bronze, século XII.

ESCUTAR E FALAR
A visão que você tinha da África antes de começar a ter aula e a ler este capítulo é
a mesma de agora? Se a resposta for não, o que mudou na sua visão da África?
Releia, pense, pesquise, dialogue e prepare-se para falar sobre o assunto.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

48

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O Reino de Benin
Outro importante polo da cultura iorubá foi o Reino de Benin.
Segundo a tradição, o Reino de Benin foi fundado por um descen-
dente de Oduduwa
Oduduwa.. Assim como acontecia em Ifé, o rei de Benin Oduduwa: divindade
era representante de uma divindade e governante da comunidade. iorubá a quem se atribui
a criação do mundo.
Ele governava com o título de obá. Quando um obá chegava ao
poder, tinha de ir a Ifé para ter o seu poder reconhecido.
A cidade mais importante do reino também se chamava Benin;
suas ruas e avenidas retas eram maiores do que as de muitas cidades
europeias. Seus comerciantes vendiam peixe seco, inhame, cobre,
sal, dendê, couro e carne, além de escravizados obtidos geralmente
por meio de guerras. O comércio era a base da economia do Reino
de Benin.
O palácio do obá era enorme, com galerias decoradas com
placas e esculturas de bronze, além de marfins na forma de colhe-
res, cabos de faca e olifantes (trompas feitas de presas de elefantes
e esculpidas com cenas do dia a dia).
GRANGER/FOTOARENA
No final do século XIX, os ingleses
dominaram extensas áreas da África,
inclusive o Reino de Benin, onde
eles promoveram um dos maiores
saques de obras de arte de que
se tem notícia. Isso explica por
que importantes obras da arte
de Benin integram, hoje, o
acervo do Museu Britânico. A
arte de matriz iorubá atingiu
um nível de excelência em Ifé e
Benin, mas não se restringiu à
África; sua influência alcançou
a Europa e a América (com
destaque para Cuba e Brasil).

Placa de Benin, intitulada


O obá com os europeus.
Nigéria, séculos XV-XVI.

49

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Iorubás no Brasil
Segundo o estudioso Pierre Verger, foi principalmente após 1830, quando os muçulma-
nos destruíram a cidade de Oió, capital política dos iorubás, que eles foram trazidos para o
Brasil como escravizados, tendo entrado, em grande número, pelo porto de Salvador. Entre
os iorubás aqui chegados havia muitos sacerdotes, príncipes, líderes políticos e artistas,
que foram empregados, sobretudo, em trabalhos urbanos e domésticos, na cidade de
Salvador e no Recôncavo Baiano. Trazidos à força e em condições adversas, os iorubás
fizeram história e arte em solo brasileiro.
A arte de matriz iorubá pode ser vista em várias regiões do Brasil, mas é a Bahia seu
principal polo de irradiação; lá nasceram ou vivem alguns dos grandes nomes da música
e das artes plásticas de matriz iorubá.
Na música temos vários artistas herdeiros da tradição iorubá, como os integrantes dos
blocos Olodum e Ilê Aiyê e a cantora Margareth Menezes..

MARCUS BRANDT/DPA/ALAMY/FOTOARENA
Margareth Menezes é uma
cantora, compositora e
produtora musical que,
nos seus mais de
20 anos de carreira,
tornou-se popular.
Viajou a todos
os continentes,
contabilizando várias
turnês mundiais e
álbuns lançados.
Os álbuns Elegibô e
Kindala alcançaram,
respectivamente,
a 1 a e 2a posições
da Billboard World
Albuns. Na fotografia,
vê-se Margareth se
apresentando na Costa
do Sauípe (BA), em 2013.

50

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Nas artes plásticas temos nomes importantes, como os escultores Emanoel Araújo
e Mestre Didi e os pintores Carybé e Menelaw Sete (conhecido como Picasso do Brasil).
Emanoel Araújo é escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo,
pintor e museólogo. Foi professor de artes gráficas e escultura na The City University of
New York, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e fundador do Museu Afro Brasil,
em São Paulo, do qual também é diretor-curador.
MARCUS LEONI/FOLHAPRESS

O artista plástico Emanoel


Araújo na abertura da exposição
“Barroco ardente e sincrético –
Luso‑afro‑brasileiro”, no Museu Afro
Brasil. São Paulo (SP), 2017.

Mestre Didi,, escultor e escritor baiano, expoente da arte de matriz iorubá no Brasil.
VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

ROMILDO DE JESUS/FUTURA PRESS

Cetro da ancestralidade,
obra de Mestre Didi.
Mestre Didi no Museu Afro Brasil. Salvador (BA). Fotografia
São Paulo (SP), 2009. de 2015.

51

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Carybé é o nome artístico de Hector Julio Páride Bernabó, pintor brasileiro de origem
argentina, radicado na Bahia. Suas obras, tanto pinturas quanto desenhos, esculturas e
talhas, trabalhavam temas retirados da vida social e religiosa da Bahia. Ilustrou também
obras literárias, como Macunaíma,, de Mário de Andrade, e O sumiço da santa,, de
Jorge Amado.

COLEÇÃO PARTICULAR/INSTITUTO CARYBÉ/COPYRIGHTS CONSULTORIA


ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Hector Bernabó, pintor de origem argentina


radicado no Brasil. Fotografia de 1966. Obra sem título de Carybé, c. 1961.

SEM TÍTULO, PESCADORES, OST, 1995 (VERGER)/COPYRIGHTS CONSULTORIA

Obra sem título de


Carybé, 1995.

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ATIVIDADES África: comércio transaariano
(séculos X a XV)
20º L

SONIA VAZ
EUROPA
Argel Túnis
NÃO ESCREVA Fez KAIRUAN M a r M
IFRIQIYA editerrâ
NO LIVRO. Marrakesh MARROCOS neo
Trípoli
TAFILELT Cairo
Ghadames EGITO
Trópico de Fezzan
Câncer Idjill Teghazza TUAT

I. Retomando

Ma
Taodeni Ghat
o

rV
er
l
Rio Ni
Awill AIR Suakin

m
Bilma ÁSIA

elh
Galam Tombuctu Takedda

o
Cabo GANA Gao
Verde Agadés n
de

Ri
HAUSSÁ Lago ETIÓPIA eÁ

o
Futa od
DARFUR Golf


Jalon Chade

ge
Oió

r
Serra Leoa

1 Observe o mapa. AKAM BENIN Ibo


Ifé
Fernando Pó Congo
SIDAMA

Golfo da Guiné Rio


a) Qual é o assunto principal do mapa? Equador LAGOS
Lago

Vitória
b) As maiores fontes de ouro, de sal e de OCEANO
ATLÂNTICO CONGO LUANDA
OCEANO
ÍNDICO
LUBA
noz-de-cola estavam localizadas na: Lago
Niassa
I. África setentrional.

AR
Rotas comerciais GRANDE

SC
ZIMBÁBUE
II. África meridional.

GA
transaarianas
MONOMOTAPA

DA
Trópico de
Sahel

MA
Capricórnio
III. África ocidental. Maiores fontes de ouro

IV. África oriental. Maiores fontes de sal


Maiores fontes de
0 1 075
noz-de-cola
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
Cidade
africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 13.

EDITORA SARAIVA
2 Leia o texto a seguir.
[...] os africanos dominavam as técnicas de mineração
do ouro. E muitas outras técnicas. Como as agrícolas, por
exemplo. Num continente com solos em geral pobres e com
chuvas escassas e mal distribuídas, os africanos foram obri-
gados a desenvolver práticas agrícolas complexas. Muitos
povos conheciam as técnicas de irrigação, de rotação de
plantios, da adubagem com esterco animal e restos de
cozinha, da construção de [...] plataformas nas encostas
das montanhas, a fim de impedir a erosão e ali plantar.
Misturavam também [...] diferentes tipos de plantas, para
assegurar a colheita de pelo menos uma delas. Assim, se o Fac-símile da capa do livro
A África explicada aos
ano fosse mal para o painço, podia ser bom ou razoável para meus filhos, de Alberto da
o sorgo e o milho. Costa e Silva.
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 26-27.
a) Do que trata o texto?
b) Que atividades econômicas são citadas no texto?
c) O que estimulou os africanos a desenvolverem complexas técnicas agrícolas?
d) A agricultura foi uma descoberta revolucionária na história da humanidade e os africanos con-
tribuíram enormemente para o desenvolvimento dessa atividade. O texto apresenta algumas
técnicas agrícolas utilizadas pelos africanos. Quais são elas?

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3 Observe o mapa com atenção. Império do Mali (séculos XIII a XV)
Tróp

ALLMAPS
ich
ico d
a) Qual é o assunto do mapa? e Cânc

de Greenw
er

b) Utilizando os seus conhecimentos


sobre os aspectos físicos da África,

Meridiano
tuaregue
descreva a localização geográfica Audagoste Walata
do Império do Mali. Tacrur
Gana Tombuctu ÁFRICA

Ri
o
Se
c) Qual era a capital do Império do

ne
Gao

ga
l
Djenné Lago
Mali? Às margens de qual rio foi Chade

Rio
Rio
haussá


OCEANO Niani

ge
construída essa cidade?

Volta
ATLÂNTICO

r
d) Explique a localização e a impor- Oió
iorubá
ashanti
Império do Mali fon
tância (comercial e intelectual) da (limites aproximados)
Ifé
Benin
ibo

Capital do império
cidade de Tombuctu durante o Cidade
0 452


período de existência do Império
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial.
do Mali. Paris: Larousse, 2001. p. 216.

4 O Império de Mali controlou uma área imensa, chegou a ter 45 milhões de habitantes
e durou 230 anos. Que motivos explicam a sua longa duração?

5 Leia o texto com atenção e responda ao que se pede.


No reino do Congo [...] moravam povos agricultores
EDITORA ÁTICA

que, quando convocados pelo mani Congo,, partiam em


sua defesa contra inimigos de fora ou para controlar
rebeliões de aldeias que queriam se desligar do reino.
Aldeias ( lubatas) e cidades ([m]banzas) pagavam tribu-
tos ao mani Congo,, geralmente com o que produziam:
alimentos, tecidos de ráfia vindos do nordeste, sal vindo
da costa, cobre vindo do sudeste e zimbos (pequenos
búzios afunilados colhidos na região de Luanda que
serviam de moeda). [...]
Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de
aldeias que pagavam tributos ao poder central, devendo
Fac-símile da capa do livro fidelidade a ele e recebendo proteção, tanto para os
África e Brasil Africano, de assuntos deste mundo como para os assuntos do além,
Marina de Mello e Souza.
pois o mani Congo também era responsável pelas boas
relações com os espíritos e os ancestrais.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 38-39.
a) Como a autora do texto descreve os habitantes do reino do Congo?
b) Dê o significado de:
• mani Congo; • mbanzas;
• lubatas; • zimbos.
c) Quais eram as obrigações do povo para com o rei do Congo, e deste para com os seus súditos?

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6 Em seu caderno, copie as alternativas verdadeiras sobre o Reino do Congo. Em
seguida, corrija a(s) falsa(s).
a) Nimi-a-Lukeni recebeu o título de manicongo e é considerado o herói fundador do Reino do Congo.
b) Os 12 conselheiros do manicongo eram todos homens com idade superior a 60 anos.
c) Entre os congos, as mulheres se dedicavam à caça, à pesca e à coleta de alimentos; já o
trabalho na agricultura era feito por homens.
d) Os congos conheciam técnicas apuradas de fusão do ferro. Segundo a tradição, o fundador do
Reino do Congo era um rei ferreiro, por isso os trabalhos em ferro eram reservados aos nobres.
e) No Congo, o comércio era intenso. Da capital do Congo partiam as caravanas que iam ao
interior buscar ou levar produtos, com especial destaque para o ferro e o sal.
f) Aldeias (lubatas) e cidades (mbanzas) pagavam tributos ao manicongo que, em troca,
oferecia-lhes proteção espiritual.

7 Leia com atenção as razões da expansão dos bantos. Os estudiosos formularam duas
teorias para explicar a extraordinária expansão e conquista territorial dos bantos pela
África.
I. A primeira defende que, por serem bons agricultores, os bantos conseguiam se alimentar
melhor, viver mais tempo e se multiplicar com rapidez; com esse aumento da população, foi
preciso buscar novas terras para plantar e viver. Daí a velocidade e a abrangência da expansão
banta.
II. Outra teoria associa a expansão dos bantos ao domínio do ferro, com o qual faziam armas
mais eficientes. De posse dessas armas, venciam os adversários que iam encontrando pelo
caminho, ocupando novos espaços em pouco tempo.

• Qual das duas explicações você considera mais convincente?

8 Leia a lista a seguir e, no caderno, aplique G para as palavras de origem grega e B


para as de origem banta.
a) Poliesportivo. c) Cochilo. e) Biografia. g) Quiabo.
b) Canjica. d) Filosofia. f) Caçula. h) Democracia.

9 Leia o texto a seguir com atenção e responda ao que se pede na página seguinte.
Utilizando instrumentos musicais
ALEXANDRE MACIEIRA/TYBA

como o Agogô e o Akoting (semelhante ao


banjo), os griôs e griotes estavam presen-
tes em inúmeros povos, da África do Sul à
Subsaariana, transitando entre os territórios
para firmar tratados comerciais por meio
da fala e também ensinando às crianças de
seu povo o uso de plantas medicinais, os
cantos e danças tradicionais e as histórias
ancestrais. Diferente da civilização ociden- Jovem tocando agogô. Grupo Cultural Jongo
tal, que prioriza a escrita como principal da Serrinha. Rio de Janeiro (RJ), 2016.

55

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método para transmissão de conhecimentos [...], em sociedades de tradição oral a
fala tem um aspecto milenar e sagrado, e é preciso refletir profundamente antes de
pronunciar algo, pois cada palavra carrega um poder de cura ou de destruição.
PEREIRA, Joseane. Griots: os contadores de histórias da África Antiga. Revista Aventuras na História,
São Paulo, 26 out. 2020. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/
historia-griots-contadores-de-historias-da-africa-antiga.phtml. Acesso em 23 mai. 2022.
a) Avalie as afirmações a seguir e escreva no caderno as corretas.
I. A s culturas tradicionais africanas têm a escrita como principal meio de transmissão de
conhecimentos, costumes e valores.
II. Os griôs são responsáveis por transmitir oralmente as histórias, os ensinamentos, os contos
e as danças de seus ancestrais.
III. Nas sociedades de tradição oral, a fala tem valor inestimável.
b) O que as sociedades tradicionais africanas recomendam em relação ao uso das palavras? Por quê?
c) E você, que uso tem feito da palavra? Tem refletido antes de falar?
d) Você já disse palavras ofensivas a alguém? Já disseram palavras ofensivas a você? Se sim,
escreva de modo resumido como você se sentiu.

10 Escreva em seu caderno as afirmações verdadeiras. Em seguida, corrija as falsas.


a) Os iorubás viveram nas terras da África ocidental e, assim como os bantos, foram muito impor-
tantes na formação cultural do Brasil.
b) Os iorubás construíram uma civilização marcadamente urbana, com cidades movimentadas
como Ifé, Keto e Oió.
c) A força econômica das cidades iorubás vinha, sobretudo, da agricultura e da pecuária.
d) Na cidade de Oió, capital política dos iorubás, havia bairros especializados em curtume, ser-
ralheria e fundição.
e) Os iorubás, assim como os antigos malineses, constituíram um Estado centralizado com grande
extensão territorial.
RO
BIN

11
.PH
/SH
O trecho a seguir é de uma canção de UT
TE
RS
TO
autoria de Carol Afreekana, Regiane CK
.CO
M

Cordeiro e Sistah Mari. Leia-o com


atenção.

Emi Fé É (Eu Te Amo em Yorubá)


Tradição yorubá que nos encanta
Odoyá amada África
Por nos trazer tamanha dádiva
De resgatar nossas mais profundas tradições de amor
Tão pouco contadas nos dias de hoje
Mas que sempre estiveram em nosso interior
AFREEKANA, Carol; CORDEIRO, Regiane; MARI, Sistah. Emi Fé É. Cifraclub.
Belo Horizonte, c1996-2022. Disponível em: https://www.cifraclub.com.br/
dawtas-of-aya/emi-fe-e-eu-te-amo-em-yoruba/letra/. Acesso em: 31 maio 2022.

56

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Com base nesse trecho da canção é possível perceber:
I. a valorização pelas autoras da tradição iorubá, mas não da África como um todo;
II. a valorização da tradição iorubá e de seu continente de origem, a África;
III. a valorização da África, apesar da tradição iorubá encantar as pessoas.

Está correto o afirmado em:


a) I. b) I e III. c) II. d) III.

12 Copie no caderno as afirmações corretas e corrija as incorretas.


a) Com a destruição da cidade de Oió, após 1830, muitos iorubás foram trazidos para o Brasil,
tendo entrado, sobretudo, pelo porto de Salvador.
b) Entre os iorubás entrados no Brasil, havia muitos príncipes, líderes políticos, sacerdotes e artistas.
c) A arte de matriz iorubá pode ser vista em várias regiões do Brasil, mas é a Bahia seu principal
polo de irradiação.
d) Entre os herdeiros da tradição banto na atualidade estão os blocos afro Olodum e Ilê Aiyê.
e) A influência da arte iorubá se restringiu à África, pois os escravizados trazidos ao Brasil foram
obrigados a apagar as memórias de sua cultura de origem.

II. Integrando com Língua Portuguesa


DENNIS VAN DE WATER/SHUTTERSTOCK.COM
Leia os provérbios africanos a seguir com atenção.
I. Uma mentira estraga mil verdades.
II. Quando
Quando as teias de aranha se juntam, elas podem
amarrar um leão.
III. Se
Se você danificar o caráter de outro, você danifica
o seu próprio.
IV. A lua move-se lentamente, mas cruza a cidade
V. O vento não quebra uma árvore que se dobra.
PROVÉRBIOS africanos 2. Portal Geledés. São Paulo, 1 jun. 2012. Disponível
em: https://www.geledes.org.br/proverbios-africanos-2/. Acesso em: 16 abr. Baobá, a árvore que é um dos
2022.
símbolos fundamentais das
a) Procure no dicionário e escreva o significado mais adequado culturas africanas tradicionais.
à palavra “provérbio” com base nas sentenças que você leu. Madagascar, 2017.
b) Pesquise ou converse com seus colegas para conhecer provérbios que usamos no Brasil. Logo
após, associe o provérbio africano a um dos usados por nós.
c) Leia novamente os provérbios:
Uma mentira estraga mil verdades.
O vento não quebra uma árvore que se dobra.
I. Interprete os provérbios.
II. Os provérbios são associados à sabedoria popular, sendo vistos como conselhos ou regras
sociais. Escolha um dos dois provérbios que você acabou de ler e reflita sobre as situações
reais em que você pode aplicá-los.

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#JOVENS NA Estudo
de r e cepção
r te e de
HISTÓRIA (de obr
a
o
s
s
d
d
e
a
a
in dústria
produt l)
cultura

PASSO 1 Ler
Leia com atenção a entrevista dada por Kunumi MC, artista indígena jovem que vive na cidade de São
Paulo (SP).

Kunumi MC e a difusão da cultura guarani


[Pergunta:] O vídeo de “Xondaro Ka’aguy Reguá” [...] é seu último trabalho, né?
O resultado é impressionante, pode falar um pouco do conceito? [...]
“Xondaro Ka’aguy Reguá”, guerreiro da floresta em português, fala de um guerreiro
que nasceu das águas e que vai levar seu povo, os indígenas, para uma nova era. [...].
A música eu canto somente em guarani. É uma forma de levar um pouco da minha
cultura para as pessoas que não conhecem como é a realidade indígena. Porque cada
um tem uma cultura e, também, tem sua própria língua. Eu falo guarani, então,
acredito muito que, quando eu canto rap em guarani, eu carrego dentro de mim toda
minha ancestralidade e junto com eles (os ancestrais) nós fazemos a luta. [...]
[Pergunta:] Agora vamos para uma
PRODUTORA DOC

rápida viagem no tempo: quais são as pri-


meiras lembranças que você tem da sua
infância?
Eu me lembro que comecei fazendo um
curta-metragem já aos 6 anos de idade. E foi
ali que comecei a gostar de estar de frente
para a câmera, e fazer o que eu mais gosto: me
expressar. Com o tempo fui me descobrindo e
descobri o que queria ser: um MC de rap.
Depois que eu fiz esse curta-metragem,
aos 6 anos de idade, comecei a estudar aqui
na aldeia Krukutu. [...].
Um dia, decidi escrever também, vendo
meu pai. Ele é o escritor Olívio Jekupé e tem
vários livros publicados. [...].

Fac-símile do cartaz do filme Kunumi, the native thunder.


O documentário, de 2016, retrata a história de Kunumi MC.

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[...]
Quando meu pai me falou que eu tinha o dom de ser um escritor, ele me levava
direto na cidade onde dava palestras. Comecei cedo a andar com ele, fui aprendendo
cedo a realidade dos não indígenas na cidade. Aprendendo a falar em português também.
Até que uma amiga (a escritora Heloísa Prieto) chegou e meu pai mostrou nossos
textos pra ela. Foi quando eu e meu irmão, Tupã Mirim, publicamos nosso primeiro livro
Contos dos curumim guarani (2014) e eu fui o mais jovem escritor indígena do Brasil.
DI GIACOMO, Fred. Futurismo Indígena: com ficção científica, Kunumi MC quer quebrar estereótipos e mostrar como
tecnologias indígenas são avançadas. Ecoa UOL, São Paulo, 1 jul. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/
reportagens-especiais/kunumi-mc-quer-quebrar-estereotipos-e-mostrar-como-tecnologias-indigenas-sao-avancadas/.
Acesso em: 27 maio 2022.

PASSO 2 Questionar
Depois de ler o texto, responda:
a) Qual o problema vivido por Kunumi MC?
b) Qual foi a solução encontrada por ele?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Analisem a obra de Kunumi MC e registrem o que vocês sentiram e imaginaram, e o que faz
sentido para vocês.
d) Conversem sobre o videoclipe e registrem no caderno as impressões acerca dos cenários, da letra, da
melodia, das cores e dos personagens.
e) De posse dessas observações, realizem um debate seguindo o roteiro:
• Qual a mensagem predominante no videoclipe?
• Como vocês interpretam a obra do artista?
• Que sentimentos essa obra desperta em vocês?
• Onde e como se percebe a relação com a ancestralidade?
• Na opinião do grupo, a mensagem é coerente com a intencionalidade do artista?
• Vocês consideram que o artista e sua obra contribuem para a causa que ele defende? Justifiquem.
f) Após o debate, elaborem um relatório contendo as impressões do grupo.

PASSO 4 Apresentar e publicar


g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com a
#jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
h) Realizei as tarefas a que me propus?
i) Cumpri os prazos determinados?
j) Expressei minhas ideias com objetividade?
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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UNIDADE

2 ARTE E RELIGIÃO

Observe a imagem desta página e da página seguinte com atenção.

FONTE 1
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Cristo em
Majestade,
século XIII.

60

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FONTE 2

STEFANO RAVERA/ALAMY/FOTOARENA

Bênção
de Cristo,
de Rafael
Sanzio.
c1505-1506.

1. Quem é o personagem central das obras?

2. Que semelhanças você vê entre essas imagens? E as diferenças?

3. É possível perceber mudanças no modo de representação da figura humana?

4. Em qual das imagens a figura humana é representada com mais realismo?

61

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CAPÍTULO

3 MUDANÇAS NA
EUROPA FEUDAL

Você já imaginou como seria o mundo sem os óculos,


DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
que nos ajudam a ver melhor? Sem as universidades, que
acumulam e produzem conhecimentos necessários à nossa
saúde e conforto? Sem os garfos, que nos ajudam a comer
coisas gostosas? Sem os vidros nas janelas das casas, que
permitem clarear o ambiente e conservar o calor?
Pois bem, óculos, universidades, vidros nas janelas,
garfos... tudo isso foi inventado na Idade Média. Inclusive
o livro, tão útil à nossa formação como cidadãos, é uma
invenção medieval. Ora, assim sendo, não se pode dizer que
a Idade Média foi uma época de atraso e estagnação. Este
capítulo vai ajudar você a perceber isso mais claramente.

AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

Garfo de ouro, c. 1650.


O penhorista, detalhe da
traição de Judas, afresco de
Giovanni Canavesio. Capela
de Notre-Dame des Fontaines,
Haute-Saône (França), século XIV. Fachada da
Faculdade
de Direito de
Recife (PE), 2015.
BJANKA KADIC/ALAMY/FOTOARENA

62

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O aumento da produção de alimentos
A partir do século XI, a Europa feudal passou por mudanças significativas, algumas
das quais merecem especial atenção: Drenagem: retirada do
a) a expansão das áreas de cultivo em razão da derrubada de excesso de água de um
terreno ou lugar.
florestas e da drenagem de pântanos.
b) o desenvolvimento de importantes inovações técnicas,, como:
• a charrua,, um arado com rodas e uma relha de ferro que permite revolver a terra
mais profundamente, como mostrado na imagem a seguir.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

O Mês de Outubro:
arar e semear. Escola
Francesa, século XV.

• a introdução do sistema de rotação trienal,, isto é, a divisão da terra cultivável em três


campos, deixando um deles em repouso, como demonstrado no esquema a seguir;
1o ano 1o ano 1o ano 2o ano 2o ano 2o ano 3o ano 3o ano 3o ano
1o ano 1o ano 1o ano 2o ano 2o ano 2o ano 3o ano 3o ano 3o ano
EDITORIA DE ARTE

Trigo IITrigo IITrigo II Aveia II


Aveia IIAveia II Repouso Repouso
II Repouso
II II
Aveia IAveia IAveia I IITrigo IITrigo
Trigo Repouso
II Repouso
I Repouso
IAveia II
IAveia IIAveiaTrigo
II ITrigo I Trigo I Repouso
Repouso II Repouso
II II
Aveia IAveia IAveia I Repouso
Repouso
I Repouso
I I Trigo ITrigo I Trigo I

Repouso
Repouso
III Repouso
III III Trigo III
Trigo IIITrigo III Aveia III
Aveia III
Aveia III
Repouso
Repouso
III Repouso
III III Trigo III
Trigo IIITrigo III Aveia III
Aveia III
Aveia III

Repare que, enquanto dois campos eram cultivados, o terceiro permanecia em descanso. Além disso,
a cada ano, mudava-se o produto cultivado nos campos que estavam em uso. Essa nova técnica
permitia o descanso do solo e a reposição dos nutrientes e garantia duas colheitas anuais.

63

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BRIDGEMAN/FOTOARENA
Detalhe da Ilustração
para os Georgianos
por Vírgilio, c. 1500.

• um novo modo de atrelar o cavalo usado para puxar o arado. Antes, o cavalo era
atrelado pelo pescoço, o que limitava bastante seu rendimento porque o sufocava.
A partir do século X, passou a ser atrelado pelo peito, o que aumentava seu rendi-
mento e resistência no trabalho, como visto na cena representada na imagem acima;
• o aprimoramento e a

BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL
difusão dos moinhos
acionados pela força do
vento ou da água, o que
contribuiu para aumentar
a velocidade e a qualidade
da moagem de grãos.

Moinho movido pela força


da água, de Rene d'Anjou.
Representação do século XV.

Com a ampliação das áreas cultivadas e a difusão das


Dialogando
inovações técnicas, ocorreu um aumento da produção de ali-
mentos; bem alimentadas, as pessoas passaram a viver mais,  om base no que
C
a ter mais filhos, e as mortes por fome e doenças diminuíram. você aprendeu em
Matemática, responda:
Todas essas mudanças foram a causa e o efeito do aumento
qual foi a porcentagem
da população. Segundo o historiador Hilário Franco Júnior, do aumento da
entre os séculos X e XIII, a população da Europa ocidental população entre os
saltou de 22 milhões para 55 milhões. séculos X e XIII?

64

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O revigoramento do comércio e das cidades
Com o aumento da oferta de alimentos, já não havia necessidade de tanta gente
trabalhando na agricultura. Então, muitos camponeses deixaram o campo em busca de
um novo meio de vida: alguns foram trabalhar como artesãos (sapateiros, carpinteiros,
ferreiros); outros se tornaram mercadores ambulantes, levando e trazendo mercadorias
de um lugar para outro. Os moradores do campo passaram a trocar os alimentos que
produziam por artigos produzidos nas cidades (roupas, sapatos e móveis); isso estimulou
o artesanato, o comércio local e a vida urbana.
A partir do século XI, o comércio europeu de longa distância também se intensificou.
Observe o mapa.

Principais rotas comerciais (século XIV)


ALLMAPS
Rotas comerciais 30°
30°LL
h

Oslo
enwic

Terrestres Novgorod
Mar Estocolmo
Marítimas do
e Gre

Norte Moscou
Feira
iano d

Área comercial
Hamburgo
Merid

de Champagne
Bremen Lübeck
Londres Amberes
Bruges Leipzig Kiev
Lagny
OCEANO Paris Frankfurt
Provins Mar
ATLÂNTICO Bar-sur- Augsburgo EUROPA Cáspio
Troyes
-Aube

Santiago de Veneza
Compostela Gênova Mar Negro
N
Medina do
Florença 40°
Campo Pisa
Roma Constantinopla
Lisboa Toledo
Nápoles ÁSIA
Sevilha
Antioquia
M a r Trípoli
M
Túnis e
d
i
t
e
r 0 475
r â
ÁFRICA n e o

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 64-65.

Entre as rotas comerciais representadas no mapa, três eram especialmente importantes:


a) cidades italianas ao Oriente (via mar Mediterrâneo). Os mercadores de Gênova e
Veneza compravam artigos de luxo (sedas, perfumes, porcelanas) e especiarias nos
portos de Constantinopla, Antioquia e Trípoli e os revendiam com grande lucro no
norte da Europa;
b) sul ao norte da Europa (por terra). Uma rota ligava Veneza a Hamburgo; a outra
ligava Gênova a Bruges, passando pela região de Champagne (França), onde eram
realizadas importantes feiras;
c) cidades do norte da Europa. As cidades de Bruges, Bremen, Hamburgo, Lübeck,
localizadas no norte da Europa, comerciavam entre si e com outras cidades europeias,
como Londres, na Inglaterra, e Novgorod, na Rússia.

65

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As feiras
Feira: evento em um
Com o aumento do volume de comércio, surgiram também
local público em que as feiras
feiras.. As feiras medievais duravam de 15 a 60 dias, aconte-
as pessoas expõem e ciam uma ou duas vezes por ano e reuniam mercadores vindos
vendem mercadorias.
dos mais diferentes lugares. Nelas, era possível ver, por exemplo,
um genovês vendendo pimenta, um inglês oferecendo lã, um
hamburguense vendendo madeira.
Dialogando
Como cada comerciante comparecia à feira com a moeda de
Aponte diferenças sua região, e como as moedas tinham valores diferentes, surgiram
entre as feiras
medievais e a feira
os cambistas, pessoas que faziam o câmbio (a troca) do dinheiro.
livre atual mais Os cambistas colocavam as moedas sobre um banco de madeira
próxima de você. para examiná-las. Por isso, receberam o nome de banqueiros.

Cidades novas e antigas


Com as inovações técnicas, diminuiu a
BIBLIOTECA ESTENSE, MODENA, ITÁLIA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

necessidade de mão de obra na agricultura;


muitas pessoas se mudaram, então, do
campo para as cidades. No início da Idade
Média, as cidades geralmente eram peque-
nas, com poucos moradores, que viviam,
sobretudo, do trabalho no campo.
A partir do século XI, porém, com o
aumento do artesanato e do comércio, as
cidades cresceram e novas cidades surgiram.
Algumas nasceram ao redor das feiras; outras,
às margens de rios; e outras, ainda, em torno
do castelo de um nobre. As cidades medie-
vais eram chamadas de burgos. Por isso, seus
habitantes foram chamados de burgueses.
Mas é preciso considerar que o processo
de urbanização foi lento. Conforme afirma
um historiador:
Em 1300, menos de 20% da população
do Ocidente reside em cidades e a maior
aglomeração é, de longe, Paris, com 200...
mil habitantes [...].
Vida na cidade e vida no campo. LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades.
Escola Italiana, 1470. São Paulo: Editora da Unesp, 1998. (Prismas, p. 26).

66

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Comerciantes, artesãos e suas corporações
Em muitas cidades medievais, uma pessoa só podia trabalhar em um ofício se perten-
cesse a uma corporação,, isto é, a uma associação de profissionais de um mesmo ramo
de atividade. As corporações de ofício protegiam seus associados contra a concorrência e
os amparavam na velhice e na doença. Havia duas modalidades de corporações de ofício:
a de comerciantes e a de artesãos.
As corporações de comerciantes eram chamadas de ligas e reuniam profissionais de
diversas cidades da Europa. A mais rica delas, a Liga Hanseática,, possuía numerosos
navios e chegou a dominar o comércio do norte europeu.
As corporações de artesãos (sapateiros, tecelões, ferreiros, tintureiros etc.) eram
dirigidas por mestres. Estes estabeleciam regras para o ingresso na profissão e contro-
lavam o preço, a qualidade e a quantidade do que ia ser produzido. Assim, evitavam
a concorrência entre seus associados. Um sapateiro não podia usar um tipo de couro
inferior nem cobrar mais do que seu colega.
O artesão começava a vida como aprendiz, trabalhando na oficina de um mestre
em troca de alimentação, roupa e moradia; depois de algum tempo, fazia uma prova
prática e, uma vez aprovado, tornava-se um oficial.. O oficial recebia um pagamento em
dinheiro e, depois de cerca de
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

sete anos de trabalho, fazia


outra prova: tinha de apre-
sentar um produto que fosse
considerado uma obra-prima;
se fosse aprovado e tivesse
juntado dinheiro para abrir
uma oficina própria, tornava-
-se um mestre..

Mestre e aprendiz de tinturaria.


Escola Francesa, século XV.

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As cidades se libertam
Grande parte das cidades medievais se localizava nas terras de condes, duques ou
bispos, a quem os moradores tinham de pagar impostos e prestar serviços gratuitos, como
consertar estradas e pontes.
Para se libertarem desse controle, os habitantes das cidades, artesãos e comerciantes
em sua maioria, lutaram de várias formas para obter autonomia. Por vezes, os habitantes
das cidades conseguiram autonomia por meio de rebeliões contra o aumento de impostos
e as autoridades; outras vezes, por meio da compra de cartas de franquia,, documento
que dava a eles o direito de administrar sua cidade.
Com a carta de franquia em mãos, eles elegiam representantes, que eram, geralmente,
comerciantes ou banqueiros. É dessa época um ditado popular que dizia: “O ar da cidade
torna o homem livre”.
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Revolta dos Maillotins (1382), de Jean de Froissart, século XV. A imagem representa os parisienses
em armas rebelados contra o aumento de impostos.

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As Cruzadas
Desde o século V, cristãos europeus peregrinavam a centros
religiosos, como Jerusalém e Santiago de Compostela, para pagar
promessas, fazer pedidos ou como forma de penitência
penitência..
Em 1071, os turcos de religião muçulmana conquistaram
Jerusalém e proibiram os cristãos de visitar o túmulo de Jesus.
Reagindo a isso, em 1095, o papa Urbano II convocou os cristãos Penitência: sacrifício
que uma pessoa faz
para uma guerra contra os “infiéis”, a fim de reconquistar a Terra para receber o perdão
Santa.. Tinham início assim as Cruzadas:: expedições militares que
Santa dos pecados.
partiram da Europa, entre os séculos XI e XIII, a fim de combater Terra Santa: nome que
se dava a Jerusalém.
os muçulmanos no Oriente e retomar a Terra Santa.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Batalha entre cristãos


e muçulmanos.
Escola Francesa,
século XIV.

Os participantes das Cruzadas consideravam-se “marcados pelo sinal da cruz”, por isso
bordavam uma cruz na roupa. Daí o nome de Cruzadas. As Cruzadas reuniram milhares
de pessoas: homens, mulheres, crianças, nobres e camponeses, ricos e pobres, civis e
religiosos. Os nobres iam a cavalo e bem armados; a maioria, porém, ia a pé e sem armas.
Os motivos das Cruzadas foram de ordem material, social e religiosa:
• os dirigentes da Igreja queriam reconquistar Jerusalém, desviando a violência prati-
cada pela nobreza guerreira para fora da Europa;
• os mercadores ambicionavam aumentar o comércio com o Oriente;
• os nobres esperavam obter terras e outras riquezas orientais;
• as pessoas comuns esperavam obter a salvação eterna, pois a Igreja prometia aos
participantes o perdão dos pecados.

69

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As principais Cruzadas
Caminhos das primeiras Cruzadas (séculos XI a XIII)

ALLMAPS

Europa das Cruzadas
OCEANO Estados cristãos

ico
Mar do
ATLÂNTICO

Bált
Norte Domínios muçulmanos
ar 1 Primeira cruzada
M
2 Segunda cruzada
INGLATERRA 3 Terceira cruzada
50°
N Londres
4 Quarta cruzada
3

Metz Ratisbona
Paris 1
2 Viena

EUROPA
Veneza Mar Negro
Gênova 4
Zara
Marselha Constantinopla
ESTADOS ÁSIA
Barcelona
Roma DA
IGREJA Edessa
Lisboa Antioquia
REINO DAS
Palermo DUAS Trípoli
Mar Mediterrâneo Chipre
SICÍLIAS
Tiro
ich

São João d’Acre


de Greenw

Tânger Creta
Jerusalém

Cairo
Meridiano

ÁFRICA 0 410
EGITO

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2001. p. 66-68.

As quatro Cruzadas
Primeira Cruzada Segunda Cruzada Terceira Cruzada Quarta Cruzada
(1096-1099) (1147-1149) (1189-1192) (1201-1204)
Essa Cruzada foi motivada
Foi chefiada pelos reis
principalmente por
da França e da Inglaterra
interesses econômicos.
e pelo imperador da
Os comerciantes de Veneza
Foi comandada região onde é hoje a
ajudaram os cruzados
pelo rei da França e Alemanha. Os cruzados
Foi liderada por nobres fornecendo navios,
pelo imperador da estabeleceram
de várias partes da alimentos e dinheiro.
região onde é hoje a um acordo com os
Europa e conseguiu Em troca, exigiram que os
Alemanha. Os líderes muçulmanos que,
reconquistar Jerusalém cruzados atacassem uma
se desentenderam e a na época, haviam
temporariamente. cidade que também era
expedição foi derrotada reconquistado
cristã – Constantinopla –
pelos muçulmanos. Jerusalém; o acordo
porque os comerciantes
permitia aos cristãos
dessa cidade eram seus
realizarem peregrinações
concorrentes no comércio.
a Jerusalém novamente.
E assim foi feito.
Depois dessas quatro Cruzadas, cujos caminhos você vê representados no mapa acima, foram organizadas
outras quatro, sem que se conseguisse retomar Jerusalém.

Mudanças causadas pelas Cruzadas


As Cruzadas provocaram mudanças importantes no Ocidente europeu, entre as quais
cabe citar:
• o aumento do comércio entre o Ocidente e o Oriente e entre as várias regiões da Europa,
o que contribuiu para a prosperidade dos comerciantes europeus e de suas cidades;

70

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• a maior participação dos europeus, especialmente dos italianos, no rico comércio de
especiarias e artigos de luxo orientais pelo mar Mediterrâneo, comércio antes controlado
pelos muçulmanos;
• o enfraquecimento da nobreza guerreira, que se endividou e perdeu parte de seus
membros nas Cruzadas.

Conhecimento e arte
O revigoramento do comércio e das cidades ocorrido a partir do século IX impulsionou
o conhecimento e a arte; a importância do cálculo para a burguesia; o clima de maior
liberdade das cidades; e o aumento das trocas culturais entre pessoas de diferentes regiões.
Tudo isso favoreceu o avanço da ciência e a criação da universidade.

A universidade
A universidade foi uma criação medieval e pode ser definida como uma associação
de professores ou de alunos com a intenção de buscar o conhecimento. A Universidade
de Bolonha (Itália), por exemplo, foi criada por uma associação de alunos; já a de Paris
(França) nasceu de uma associação de professores. A primeira se destacava na área do Direito,
enquanto a segunda era forte em Medicina. Conhecedores dessas características, os estudan-
tes buscavam a que mais lhes interessasse. A primeira universidade da Europa foi a de Bolonha
(século XII); depois foram fundadas várias outras, como Oxford e Cambridge (Inglaterra), Paris
e Montpellier (França), Salamanca (Espanha) e
BIBLIOTECA ANGÉLICA DE ROMA. ITÁLIA

Coimbra (Portugal). A universidade era formada


geralmente por quatro faculdades: Artes,
Medicina, Direito e Teologia.

Iluminura do século XV que representa uma aula na


Universidade de Bolonha. Repare que a maioria dos
alunos acompanha a aula atentamente; já o primeiro
aluno da segunda fileira (da esquerda para a direita)
está distraído, olhando para trás.

Dialogando
# DICA!
a V ocê tem participado das aulas?
Entrevista com o professor de Filosofia Rodrigo Martins sobre o
surgimento das universidades na Idade Média. b Por quê?
ESCOLÁSTICA: o surgimento e a importância das universidades. 2016. c Quais são as consequências de
Vídeo (5min27s). Publicado pelo canal HR Digital Audiovisual. Disponível
em: https://youtu.be/jDiMO-SSczo. Acesso em: 31 maio 2022. conversar com os colegas durante
a explicação do professor?

71

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Crise, doenças e revoltas
Vimos que, entre os anos 1000 e 1300, a Europa prosperou, embalada pelo crescimento
da população e das cidades. Nas primeiras décadas do século XV, no entanto, iniciou-se na
Europa uma crise prolongada, marcada por fome, doenças, guerra e revoltas sociais.
Naquelas décadas, a oferta de alimento tornou-se insuficiente para atender à popula-
ção, que crescia em ritmo acelerado; além disso, ocorreram chuvas torrenciais seguidas de
más colheitas, e áreas agrícolas passaram a ser usadas para a criação de ovelhas e extração
da lã. Isso tudo ajuda a explicar uma crise de fome ocorrida entre 1315 e 1317, que matou
milhares de europeus. Além disso, as condições de higiene na Europa eram péssimas; o
lixo das casas era lançado às ruas e não havia serviços de coleta, encanamento ou esgoto.
Epidemia: doença Fome e falta de higiene colaboraram para que uma terrível
que surge rapidamente
num lugar e acomete,
epidemia,, a Grande Peste, atingisse toda a Europa, desde Portugal, a
epidemia
ao mesmo tempo, oeste, até a Rússia, a leste. Calcula-se que entre 1347 e 1350 a Grande
um grande número Peste matou cerca de um terço da população europeia. A peste era
de pessoas.
transmitida por pulgas que picavam os ratos e, depois, os seres humanos.
Maior que essa doença, só o medo causado por ela. Houve casos em que a população
abandonou sua cidade apenas porque ouviu dizer que a peste estava chegando.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Gravura
representando
uma vítima fatal da
epidemia de peste
bubônica durante
as Cruzadas.
Escola Francesa,
século XIV.
A epidemia não
fazia distinção: ricos,
pobres, remediados,
todos eram vitimados
por ela. Trazida por
navios vindos do
Oriente, a peste
atacou primeiro as
cidades portuárias,
locais de ampla
movimentação de
pessoas e onde as
condições de higiene
eram péssimas.

72

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A Guerra dos Cem Anos
Um episódio que também contribuiu para a crise do século XIV foi a Guerra dos Cem
Anos (1337-1453): um conflito armado entre a França e a Inglaterra que, na verdade, durou
116 anos e foi interrompido diversas vezes. Os principais motivos dessa longa guerra foram
a disputa pela rica região de Flandres e o interesse do rei da Inglaterra Eduardo III em se
tornar também rei da França.
ALBUM/EASYPIX BRASIL

Representação
da Batalha
de Fromingny
(França),
ocorrida em
1450. Autor
desconhecido,
século XV. A
Guerra dos
Cem Anos foi
um exemplo
típico de guerra
medieval:
um conflito
por títulos e
senhorios,
no interior
da nobreza.

Inicialmente, os ingleses conseguiram várias vitórias sobre os franceses e ocuparam


parte de seus domínios, inclusive a cidade de Paris. Depois, o exército profissional de Carlos
VII conseguiu libertar Paris das mãos dos ingleses. Um destaque nessa guerra foi a atuação
de uma jovem de nome Joana d’Arc. A partir de Paris, Carlos VII organizou o governo e
a cobrança de impostos, fortalecendo, assim, o poder monárquico.
Com o final da guerra, vencida pelos franceses em 1453, e o fortalecimento da realeza,
a nobreza se enfraqueceu. Além disso, a cavalaria perdeu força diante do surgimento das
armas de fogo, especialmente o canhão. Com isso, o poder militar da nobreza, baseado
no manejo da espada e da lança, também diminuiu.
Já a burguesia dos dois reinos ganhou força, passando a ocupar importantes cargos
na administração pública.

73

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

A extraordinária história de Joana d’Arc


Joana d’Arc nasceu em 1412, numa família camponesa do interior da França. Aos
12 anos, afirmou ter ouvido vozes vindas do céu que lhe diziam para livrar a França dos
ingleses e coroar o rei. Aos 17 anos, Joana conseguiu um cavalo e partiu em direção ao
Castelo de Chinon, residência do rei, para falar da revelação que tivera.
Depois de passar por vários e demorados testes diante dos teólogos do palácio real,
Joana d’Arc recebeu das mãos do rei uma espada, um estandarte e o comando geral dos
exércitos franceses. Sob seu comando, os franceses obtiveram várias vitórias. Mas, depois, ela
caiu numa armadilha e foi vendida aos ingleses, que a entregaram a um tribunal da Inquisição.
Este a acusou de herege e de usar roupas masculinas; condenada por esse tribunal, Joana
foi morta numa fogueira em 1431. Em 1456, um novo processo provou Estandarte:
bandeira de guerra.
sua inocência. Séculos depois, em 1920, ela foi canonizada.

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Joana d’Arc, da Série Liebig: Les femmes célèbres dans l’histoire, 1922.

a) Que aspecto da vida de Joana d’Arc você achou mais interessante?

b) Será que o fato de ela ser mulher e de pertencer ao campesinato dificultou sua acei-
tação por parte do rei?

c) Como você interpreta o fato de uma camponesa de apenas 17 anos, iletrada, ter lançado
a ideia de que Deus lhe havia dado a missão de salvar a França?

74

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Rebeliões camponesas
Com as mortes provocadas por fome, peste e/ou guerra, começou a Jacquerie: nome
faltar mão de obra nos campos e a produção agrícola diminuiu, acarretando derivado de Jacques
Bonhomme,
prejuízos para a nobreza. Para compensar suas perdas, a nobreza aumentou que pode ser
o controle sobre os camponeses e os tributos pagos por eles. Além disso, traduzido por “João
na mesma época, os reis elevaram os impostos pagos por seus súditos. Os Ninguém”, apelido
que a nobreza dava
camponeses, então, reagiram promovendo revoltas, como a Jacquerie
Jacquerie,, na aos camponeses.
França (1358), e a Revolta de Watt Tyler,, na Inglaterra (1381).
Jacquerie é, na verdade, o nome de uma série de revoltas que explodiram nas proxi-
midades de Paris e no interior da França, ao mesmo tempo. Os milhares de camponeses
que delas participaram incendiaram castelos, mataram nobres e queimaram documentos
que os prendiam a seus senhores. Estes reagiram e, de posse de melhores armas e de
treinamento militar, sufocaram a revolta, massacrando os rebeldes.
Anos depois, cerca de 10 mil camponeses ingleses, liderados por Watt Tyler, foram a
Londres e exigiram do rei Ricardo II o fim da servidão e a diminuição dos impostos pagos
por eles. Na presença dos rebeldes, o rei concordou, mas, em seguida, voltou atrás e se
uniu aos nobres, arrasando as aldeias camponesas. Embora tenham sido massacradas
pelos exércitos do rei e da nobreza, essas revoltas contribuíram para o enfraquecimento
da servidão na Europa ocidental.
CHRISTOPHEL FINE ART/UIG/GETTY IMAGES

Aspecto da revolta
camponesa de 1358.
Crônicas, de Jean de
Froissart, manuscrito
do século XV.

75

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Leia o texto com atenção.
[...] para saber o que foi a Idade Média é necessário começar desconfiando do
que já se disse [...] sobre ela. Quem já não ouviu, até em telenovela, adolescentes
revoltados contra a autoridade dos mais velhos dizendo: “Nós não estamos na Idade
Média!”?
MICELI, Paulo. O feudalismo. São Paulo: Atual, 1994. (Discutindo a história, p. 11).

a) Segundo o texto, o que os jovens querem dizer com a frase “Nós não estamos na Idade Média”?
b) A Idade Média pode ser considerada uma época de atraso e ignorância? Justifique.

2 A partir do século XI, a Europa passou por importantes mudanças. Complete no


caderno o esquema com as palavras a seguir e descubra as mudanças ocorridas.

alimentos rotação mais doenças


peito menos charrua

Europa feudal (século XI)


Europa feudal – século XI
ALEX SILVA

EXPANSÃO DAS INOVAÇÕES


ÁREAS DE CULTIVO TÉCNICAS

a) **** Cavalo Moinho


atrelado
pelo Sistema de
b) **** c) ****
trienal
AUMENTO DA PRODUÇÃO DE d) ****

Pessoas e) **** mortes


g) **** filhos
vivem mais por fome e f) ****

76

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3 Observe o gráfico. Europa: estimativa da população
a) O que ele mostra? entre 800 e 1300 (em milhões)
55 000

EDITORIA DE ARTE
b) Em que século a população aumen-
tou mais?

População
35 000
c) No título do gráfico há a palavra 26 000

“estimativa”. O que ela significa? 18 000


22 000

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário. As cruzadas. 800 1000 1100 1200 1300

São Paulo: Brasiliense, 1991. p.17-18. Ano

4 Sobre processos ocorridos na Idade Média estão corretas as alternativas:


a) C
 om o aumento da oferta de alimentos, muitos camponeses deixaram o campo em busca de
outro meio de vida.
b) Parte dos que deixaram o campo foi trabalhar como industriais, outra parte como agricultores.
c) O
 s moradores do campo passaram a trocar roupas e sapatos que confeccionavam por alimen-
tos produzidos nas cidades.
d) As trocas comerciais entre campo e cidade estimularam a vida urbana.

5 Observe o mapa da página 65 com atenção.


a) De que trata o mapa?
b) Como o cartógrafo diferenciou as rotas terrestres das rotas marítimas?
c) Identifique as duas principais rotas terrestres que ligavam o sul ao norte da Europa (a cidade
de onde partiam e a cidade a que chegavam).
d) O que eram as feiras medievais representadas no mapa?

6 Observe o cartaz ao lado com atenção.


a) Quando e onde aconteceu a feira que o cartaz anuncia?

CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO


b) Quem são os personagens vistos em segundo plano?
c) Q
 ue construções existentes na imagem lembram a
Idade Média?

7 Sobre as feiras medievais, copie no caderno a


alternativa correta.
a) A
 s feiras medievais aconteciam uma vez por semana e
reuniam mercadores vindos dos mais diferentes lugares.
b) A
 s feiras medievais eram semelhantes em tudo às
feiras livres atuais.
c) A
 s feiras medievais comercializavam sobretudo ali-
mentos trazidos de sítios relativamente próximos.
d) C
 omo cada comerciante comparecia à feira com a
moeda de sua região, e como as moedas tinham
valores diferentes, surgiram os cambistas, pessoas
que faziam o câmbio (troca) do dinheiro.

77

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8 A imagem ao lado foi produzida em
meados do século XV e representa o
trabalho de um aprendiz fiscalizado
por seu mestre.
a) Crie uma legenda para a imagem.
b) Explique como se dava a passagem de
aprendiz para mestre.

BRIDGEMAN/FOTOARENA
9 Leia o diagrama a seguir. Seu desafio é elaborar, no caderno, as dicas que resultaram
nas palavras de cada linha.

1. C H A M P A G N E

2. L I G A

3. C O R P O R A Ç Ã O * D E * O F Í C I O

4. L I G A * H A N S E A T I C A

5. C A R T A * D E * F R A N Q U I A

6. A P R E N D I Z

7. C A M B I S T A S

10 Leia o texto a seguir com atenção.

EDITORA VOZES
Os mercadores medievais
[...] na ldade Média, nasceram ou se desenvolve-
ram inúmeras cidades: as mais importantes eram
as sedes do poder dos reis e dos príncipes, e também
de sua burocracia. [...] Um novo tipo do homem
apareceu, o mercador. Os mais ricos mercadores
comerciavam em toda a Europa, e até mesmo na
Ásia e na África, e eram também banqueiros. [...]

Fac-símile da capa do livro


Uma breve história da Europa,
de Jacques Le Goff.

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A troca das moedas era complicada e a ausência de uma moeda única entravou o
desenvolvimento de um sistema econômico baseado no dinheiro: o capitalismo.
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 77-78.

Com base na leitura do texto, identifique em seu caderno a alternativa correta.


a) Na Idade Média nasceram diversas cidades, criações humanas que nunca tinham existido antes.
b) Surgiram os mercadores, os mais ricos comerciavam somente na Europa.
c) A existência de várias moedas facilitava o comércio na Idade Média.
d) A existência de várias moedas dificultava o comércio na Idade Média.

11 Em seu caderno, elabore um quadro sobre as Cruzadas. Na primeira coluna, copie as


perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
a) O que eram?
b) Como começaram?
c) Por que receberam esse nome?
d) Quem participou das Cruzadas?

12 Leia a letra da canção de Seu Jorge.


Burguesinha
Vai no cabeleireiro Burguesinha, burguesinha
No esteticista Burguesinha, burguesinha
Malha o dia inteiro Burguesinha...
Pinta de artista Tem o que quer.
[...]
BURGUESINHA. Intérprete: Seu Jorge. Compositores: Seu Jorge, Gabriel Moura e Pretinho da Serrinha.
In: AMÉRICA BRASIL: O DISCO. Rio de Janeiro: EMI Music, 2007. 1 CD, faixa 3.

VANESSA CARVALHO/ZUMAPRESS/EASYPIX BRASIL

O cantor e compositor
Seu Jorge em
apresentação em
São Paulo (SP), 2021.

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O termo “burguesinha” está associado a um grupo social surgido na Idade Média.
a) Que grupo é esse?
b) Por quem esse grupo era formado?
c) Por que o cantor se refere à personagem da letra como “burguesinha”?
d) Aponte paralelos entre a personagem da canção e os burgueses medievais.

13 Identifique a alternativa correta. As Cruzadas provocaram mudanças importantes no


Ocidente europeu, entre as quais cabe citar:
a) o aumento do comércio entre Ocidente e Oriente, bem como entre as várias regiões da Europa.
b) u
 ma menor participação dos europeus, especialmente dos italianos, no rico comércio de espe-
ciarias e artigos de luxo orientais pelo mar Mediterrâneo, comércio feito com os mercadores
muçulmanos.
c) o
 fortalecimento da nobreza guerreira, que se endividou e perdeu parte de seus membros
nas Cruzadas.
d) a diminuição do comércio de curta e de longa distância, o que contribuiu para a falência dos
comerciantes europeus e suas cidades.

14 As sucessivas crises enfrentadas pela Europa ao longo do século XIV motivaram


diversos motins populares. Sobre as revoltas camponesas do século XIV, indique a
alternativa correta.
a) A
 Jacquerie ocorreu na França, em 1358, e teve como motivo imediato o aumento dos
impostos cobrados dos camponeses.
b) As revoltas foram violentamente reprimidas, mas os camponeses saíram vencedores.
c) Os camponeses possuíam vantagens de armas e de treinamento em relação à nobreza.
d) As revoltas camponesas contribuíram para fortalecer a servidão na Europa.

II. Integrando com Ciências


Leia a notícia a seguir.
A peste bubônica voltou a virar notícia em julho de 2020, quando casos da doença
foram confirmados na Ásia.
PESTE bubônica: 5 pontos para entender o que é a doença. Revista Galileu, São Paulo, jul. 2020.
Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/07/
peste-bubonica-5-pontos-para-entender-o-que-e-doenca.html.
Acesso em: 26 abr. 2022.

Com base em seus estudos deste capítulo e em pesquisa, responda:


a) O que é a peste bubônica e quando se deu sua primeira grande ocorrência na história?
b) Como a doença é transmitida?
c) Quais são os sintomas da doença?
d) O que facilitou a rápida expansão da peste bubônica na Europa durante a Idade Média?

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CAPÍTULO

4 RENASCIMENTO
E HUMANISMO

UNITED ARCHIVES GMBH/ALAMY /FOTOARENA


Cena do filme As tartarugas ninja, de Steve Barron, 1990.

1. Você conhece esses personagens?


2. As Tartarugas Ninja fazem enorme sucesso. Você já viu alguma HQ, filme, desenho ou jogo de
videogame com esses personagens?
3. Você sabia o nome de cada uma delas?
4. Por que será que elas têm nomes de artistas do Renascimento italiano?
5. O que você sabe sobre esse movimento cultural?

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A ideia de modernidade
O Renascimento italiano é tido como um momento decisivo para o desenvolvimento da
modernidade. Nesse modo de ver a História, os artistas e cientistas do Renascimento fecharam
a cortina do tempo medieval para abrir outra, a de um tempo novo, a da modernidade.
O historiador inglês Jack Goody discorda disso; para ele, essa versão de que somente
o Renascimento italiano impulsionou a modernidade é fruto do olhar europeu sobre a
Renascença. Na opinião desse historiador, os conhecimentos e as técnicas dos bizantinos,
muçulmanos, judeus, indianos e chineses foram muito importantes para o florescer da
modernidade e do próprio Renascimento italiano. As culturas desses povos do Oriente
penetraram o Ocidente por meio de um longo processo de trocas culturais, que teve como
principal via o mar Mediterrâneo.
Jack Goody nos lembra ainda que o “Renascimento como sinônimo de florescimento
cultural que ocorre a partir de uma volta ao passado” aconteceu também nos mundos
bizantino, islâmico, hindu, judeu e chinês, entre outros. O que existiu, portanto, foram
Renascimentos, e não Renascimento.
Concluindo, para Jack Goody:
EDITORA UNESP

• a modernidade é fruto de um
longo processo de trocas culturais
de diferentes povos e tradições;
• o Renascimento italiano não é o
único, existiram outros, a exemplo
do bizantino, do islâmico, do
hindu, do judeu e do chinês.
Ao verem o Renascimento ita-
liano como único e reconhecerem
apenas a cultura greco-romana
como digna de ser relida e admi-
rada, os renascentistas italianos
incluíram o Ocidente antigo, mas
excluíram os saberes, as técnicas e
as artes recebidas de outros povos
com quem os europeus mantive-
ram intensas trocas culturais ao
longo do tempo.

Fac-símile da capa do livro


Renascimentos: um ou
muitos?, de Jack Goody.

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O contexto
Vimos que, a partir do século XI, a Europa ocidental passou por uma série de mudanças
importantes: uma delas foi o aumento da produção de alimentos por causa da expansão
das áreas agrícolas e da utilização de novas técnicas de cultivo da terra. Com o aumento
da produção de alimentos, as pessoas passaram a viver mais e a ter mais filhos, o que
levou ao crescimento da população.
Ao mesmo tempo, ocorreram o crescimento do comércio com o Oriente, o apare-
cimento das feiras e das casas bancárias, e o revigoramento das cidades. Mercadores
circulavam pela Europa em suas caravanas, levando e trazendo mercadorias de diferentes
lugares do mundo; os banqueiros trocavam moedas; e os donos de navios aumentavam
sua frota.
A burguesia (mercadores, banqueiros e donos de navios) enriqueceu, adotando novos
valores e novas práticas. Medir, calcular, pesar, experimentar, operações essenciais ao
sucesso dos negócios, passaram a ser socialmente valorizadas.

Interior de uma
farmácia. Escola
Italiana, século XV.
Na imagem, vendedor
pesa em uma balança
mercadoria comprada
por uma mulher, que
paga com uma moeda.
No decorrer da Idade
Média, o ofício de
mercador aumentou
gradualmente de
importância.

BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

Essas mudanças, que vinham ocorrendo na Europa desde o século XI, inspiraram
uma nova visão de mundo, da arte e do conhecimento; e, ao mesmo tempo, criaram as
condições materiais para o surgimento do Renascimento,, um movimento cultural intenso
que começou no século XIV nas cidades italianas, se propagou pela Europa e foi decisivo
na formação do mundo moderno.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Conceito e preconceito
Renascimento foi o nome que os renascentistas deram à época vivida por eles e conside-
rada uma ruptura com a época anterior, a Idade Média, que eles chamavam de “Idade das
Trevas” ou “longa noite dos mil anos”. Os renascentistas acreditavam que, ao desconsiderar
a arte e o conhecimento produzidos na Idade Média e revalorizar as obras greco-romanas
da Antiguidade, estavam fazendo renascer a cultura. Daí o nome Renascimento.
Hoje, a maioria dos

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


historiadores já não aceita
essa visão; o Renascimento,
por sua vez, já não é visto
apenas como ruptura,
mas também como con-
tinuidade da arte e do
conhecimento produzidos
na Idade Média.

Músicos da Idade Média


tocando trompa, nakers,
viela, violino, triângulo, gaita
de fole e flauta, c. 1477.

a) S egundo o texto, a quem se deve a ideia de que a Idade Média foi a "Idade das
Trevas"? E o que explica isso?

b) Qual é a origem do nome Renascimento?

c) Como o Renascimento é visto pelos historiadores atuais?

d) V
 imos que a expressão "Idade das Trevas", usada pelos renascentistas para se
referirem à Idade Média, é indício de uma visão que os historiadores atuais consi-
deram equivocada. Pesquise expressões preconceituosas usadas hoje no dia a dia
e comente-as.

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Renascimento: características
Para melhor compreender o Renascimento, vamos apresentar algumas de suas características.
• Valorização do passado greco-romano: os artistas e cientistas do Renascimento viam
as obras dos gregos e romanos da Antiguidade como modelo e inspiração para suas obras.
• Antropocentrismo: o ser humano passa a ser visto como um ser criativo, virtuoso e
dono de seu próprio destino. Na época medieval predominava o teocentrismo (tudo
convergia para Deus).
• Individualismo: atualmente, a palavra individualismo é usada muitas vezes como
sinônimo de egoísmo. No Renascimento, porém, tinha sentido positivo: significava
capacidade individual, talento e criatividade.
• Uma nova visão do tempo: para os renascentistas, o tempo pertence ao ser humano e
este deve usá-lo para se aperfeiçoar, conhecer, experimentar e enriquecer (se esse for seu
desejo). Já na visão medieval, o tempo pertencia a Deus; por isso, seria pecado emprestar
dinheiro a juros, ou seja, cobrar pelo tempo em que o dinheiro esteve emprestado.
GALERIA DA ACADEMIA. VENEZA, ITALIA

Estudo das
proporções do
corpo humano
feito pelo artista
e cientista
Leonardo da
Vinci para o livro
De Architectura,
de Marco Vitrúvio.
1492.

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O humanismo
Uma das correntes de ideias que mais contribuíram para a formação Humanista:
do Renascimento foi o humanismo, movimento intelectual que propunha intelectual que se
dedicou aos estudos
o estudo dos autores antigos (gregos e romanos) para construir um novo da língua e da cultura
conhecimento do ser humano e do mundo. Os humanistas traduziram greco-romanas e que
e divulgaram os textos dos antigos e, com base neles, aprofundaram o se inspirou nelas para
produzir suas obras.
conhecimento de línguas, literatura, filosofia, história e matemática.
Inicialmente, o termo humanista era usado apenas em relação aos eruditos dispostos a
reformar o currículo das universidades. Posteriormente, aplicou-se a todos aqueles que se
esforçavam para criar uma nova cultura. Imbuídos desse ideal, os humanistas opuseram-se
aos dogmas da Igreja, desafiando seu domínio cultural e propondo o uso da razão e da
experiência para se chegar à verdade objetiva.
Os humanistas rejeitavam a
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

cultura dominante, fortemente


influenciada pela Igreja. Mas isso não
quer dizer que eles eram ateus; na
verdade, eram cristãos que queriam
reinterpretar as mensagens da Bíblia
com base nos ideais da Antiguidade.
Ideais esses que valorizavam o indiví-
duo, sua liberdade e sua participação
na vida das cidades.
Francesco Petrarca (1304-1374),
um dos mais notáveis humanistas,
defendia o ideal de imitação dos pen-
sadores gregos e romanos. Imitação
para ele não significava cópia ou
repetição, mas inspiração nos ideais
greco-romanos de valorização do
ser humano e da busca do novo.
Segundo Petrarca, era preciso negar
o “barbarismo” medieval e recuperar
a "idade de ouro" dos antigos gregos
e romanos.

Francesco Petrarca,
de Tancredi Scarpelli, século XIX.

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Arte e técnica no Renascimento
Os artistas do Renascimento introduziram inovações técnicas que marcaram a história
da arte. Eis algumas delas:
• realismo na representação da figura humana e das paisagens, isto é, o esforço em
representá-las exatamente como são. Eles estudavam geometria, anatomia, matemática
e as aplicavam em suas obras para que elas apresentassem equilíbrio, harmonia e
expressividade;
• d
 omínio da perspectiva,, técnica
ÓLEO SOBRE TELA, 62 CM × 45,8 CM, BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

que permite transmitir a sen-


sação de profundidade em uma
superfície plana. Por meio dela, os
artistas obtinham efeitos tridimen-
sionais em suas telas e afrescos
(veja nesta página a aplicação
da perspectiva na reprodução do
quadro Madona das rochas,, de
Leonardo da Vinci).
• iniciativa de o artista pintar
a si próprio (autorretrato)..
Além de produzir imagens
de si próprios, os pintores do
Renascimento passaram a assinar
suas obras, de modo a deixar sua
marca e obter projeção social.

Madona das rochas,


de Leonardo da Vinci, século XV.

O Renascimento italiano
O Renascimento começou nas movimentadas cidades da península Itálica, como Siena,
Florença, Milão e Bolonha. Essas cidades eram governadas por homens ricos e poderosos que
queriam criar novas imagens de si e da sociedade em que viviam. Para isso, financiavam artis-
tas, cientistas e letrados. Comerciantes, banqueiros, príncipes e papas que financiavam um
artista ou cientista eram chamados de mecenas,, isto é, protetores das artes e das ciências.

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Fases do Renascimento
O Renascimento italiano pode ser dividido em três fases: o Trecento (século XIV), o
Quattrocento (século XV) e o Cinquecento (século XVI).
O Trecento foi um período de transição para a arte renascentista. Seus principais
centros culturais foram as cidades de Siena e Florença. Dois importantes artistas dessa
época são Dante Alighieri, na literatura, e Giotto di Bondone, na pintura.
Dante Alighieri (1265-1321) foi autor
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

do longo poema Divina comédia,, obra com


características ao mesmo tempo medievais e
renascentistas. O poema narra a viagem do
próprio Dante, ao lado do poeta romano Virgílio,
pelo inferno e pelo purgatório até chegar ao
paraíso. Essa narrativa tem uma conotação reli-
giosa medieval. Seu lado moderno, porém, está
no fato de representar as pessoas que Dante
encontrou no reino dos mortos agindo como
seres humanos vivos: sentindo amor, ódio,
alegria, tristeza etc.

Afresco de Dante Alighieri em sua obra


A divina comédia, século XV.

Giotto di Bondone (1266-1337) é o

BRIDGEMAN/FOTOARENA
grande mestre do Trecento na pintura. Em
suas obras, as figuras começam a ganhar
vida e movimento; os rostos se tornam
mais expressivos e os cenários começam
a ter profundidade. Vários de seus per-
sonagens agem com naturalidade, o que
era pouco comum na época. Observe a
imagem ao lado.

São Francisco dá seu manto a um pobre,


afresco de Giotto di Bondone, 1297.

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No século XV – o chamado Quattrocento –, a cidade de Florença, governada pela
família Médici de 1434 a 1492, tornou-se o principal centro da arte renascentista. Os
Médici foram importantes mecenas dos artistas florentinos. Entre estes, destacaram-se
Brunelleschi, Donatello e Botticelli.
Filippo Brunelleschi (1337-1446) foi pintor, escultor e arquiteto, e tinha conhe-
cimentos aprofundados de matemática e geometria. Seu trabalho mais conhecido é
a cúpula da catedral de Florença, ou Catedral de Santa Maria del Fiore. Observe a
imagem a seguir.

Catedral de Santa
Maria del Fiore.
Florença (Itália), 2019.

MUSEO NAZIONALE DEL BARGELLO, FLORENÇA, ITÁLIA. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL


BLACKMAC/SHUTTERSTOCK.COM

Donatello (1386-1466) é considerado o primeiro dos


grandes escultores renascentistas. Repare no vigor, no realismo
e na força psicológica do Davi esculpido por ele (ao lado). Com
seu talento e técnica, Donatello influenciou fortemente a arte
escultórica moderna.

Davi, de Donatello, 1408-1411.

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Sandro Botticelli (1445-
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

1510) foi um dos principais pin-


tores da cidade de Florença no
Quattrocento;; o artista se ins-
Quattrocento
pirou inicialmente na mitologia
greco-romana e, mais tarde, na
tradição cristã para realizar sua
obra.

Madona adorando o menino Jesus


com o jovem São João, de Sandro
Botticelli, século XV.

No século XVI – o Cinquecento –, a cidade de


MUSEU DO LOUVRE, PARIS

Florença perdeu importância e Roma passou a ser


o principal polo cultural do Renascimento. Entre os
maiores nomes da pintura italiana no Cinquecento
estão Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti
e Rafael Sanzio. A influência desses artistas marcou
praticamente toda a arte ocidental até o início do
século XX.
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi pintor, escul-
tor, arquiteto, cientista, engenheiro e inventor. Projetou
armas, pontes e cidades e pintou obras como a Mona
Lisa e A última ceia,, que continuam a ser objeto de
admiração, estudo e debate. Seu conhecimento de
anatomia, o uso primoroso da técnica da perspectiva
(chiaroscuro)) fizeram de
e do jogo de luz e sombra (chiaroscuro
Da Vinci um dos maiores pintores de todos os tempos.
Observe a reprodução da tela intitulada Mona Lisa..

Mona Lisa, conhecida também como La Gioconda, de Leonardo da


Vinci, c. 1503-1505. É talvez a pintura mais famosa do mundo.
Para alguns, o sorriso sutil e misterioso da personagem evoca
indiferença; para outros, alegria contida; e para outros ainda,
ironia. Talvez Da Vinci quisesse mesmo provocar essa dúvida.

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Michelangelo Buonarroti (1475-1564) foi escultor, pintor e arquiteto. É conhecido
como “poeta do corpo” pela forma precisa como representou cada músculo, ruga ou
veia e pela plasticidade e força interior de seus personagens. Muito jovem ainda, esculpiu
Pietà;; três anos depois, talhou

BRIDGEMAN/FOTOARENA
o colossal Davi em um bloco de
mármore com 4,15 metros de
altura. Michelangelo tornou-se
conhecido também pelos afres-
cos que pintou na Capela Sistina
(Vaticano). São centenas de
figuras, algumas enormes, cuja
produção custou ao artista quase
cinco anos de trabalho. As cenas
dessa obra são de episódios da
Bíblia, desde a criação do mundo
até o juízo final.

Detalhe de O juízo final,


de Michelangelo Buonarroti,
século XVI. Cristo é representado
como o juiz que separa os
eleitos, que vão para o paraíso,
e os condenados ao inferno.

Rafael Sanzio (1483-1520) utilizou com eficiência as técni-


Dialogando
cas de pintura criadas durante o Renascimento. Foi o retratista
oficial de alguns dos homens mais ricos e poderosos de seu a A cena representada
tempo. Por sua capacidade de representar madonas graciosas é estática ou sugere
movimento?
e delicadas, é considerado o “mestre das emoções medidas”.
Nesse ambiente turbulento, o Cinquecento viu surgir b Pode-se perceber
também um pensador original, com sólida formação intelectual o realismo na
representação
e experiência na vida pública, o florentino Nicolau Maquiavel
da figura humana?
(1469-1527). Sua obra mais conhecida e divulgada é O prín- Justifique.
cipe,, uma reflexão sobre as ações que o governante deve c Que valores
empreender para conquistar e manter o poder. Por considerar renascentistas
a política como um campo independente da moral e da religião, estão presentes
Maquiavel é tido como o fundador da ciência política. no afresco?

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A expansão do Renascimento
O Renascimento se expandiu a partir da Itália para outras partes da Europa. Um
fator que contribuiu para a divulgação das obras renascentistas foi o aperfeiçoamento da
imprensa por Johannes Gutenberg (1400-1468), o que permitiu a impressão de muitos
textos em pouco tempo. Grandes nomes do Renascimento se destacaram também em
Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda e Alemanha.

Escritores
Luís Vaz de Camões (1524-1580) é considerado o maior poeta da língua portuguesa.
Sua obra-prima, Os lusíadas,, é um poema em homenagem ao povo português e conta
a viagem do navegador Vasco da Gama às Índias.

PARA SABER MAIS


Camões: homem de pensamento e de ação
Camões tinha sólida formação intelectual; era capaz de ler tanto em latim quanto
em grego. Mas não se dedicou só aos estudos; levou uma vida agitada e cheia de
aventuras. Daí se dizer que ele “segurava a pena numa das mãos e a espada na outra”.
Em luta contra os muçulmanos, no norte da África, perdeu o olho direito. Em viagem
à costa da China, naufragou próximo ao atual Vietnã; mas, nadando, conseguiu salvar
os manuscritos de Os lusíadas..
Para escrever essa obra, ele se inspirou tanto em suas longas viagens quanto nos
escritos dos autores gregos e latinos. Em Os lusíadas,, Camões diz em versos que as
navegações portuguesas não foram obra de um único homem (Vasco da Gama), mas
o resultado do esforço do povo português.
AGE FOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL

Ilustração atual representando


o poeta Luís Vaz de Camões.

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Miguel de Cervantes (1547-1616) foi um extraordinário escritor espanhol, e sua
principal obra é Dom Quixote de La Mancha.. Seus principais personagens são Dom
Quixote, um nobre sonhador que quer reviver as glórias dos cavaleiros medievais, e seu
escudeiro Sancho Pança, que só pensa em dormir e comer bem, além de demonstrar
enorme senso prático. Assim, Cervantes ironiza tanto os ideais da cavalaria medieval,
cultivados por Dom Quixote, quanto o modo de vida burguês, associado à figura de
Sancho Pança.
GRANGER/EASYPIX BRASIL

# DICA!
Vídeo sobre a vida e
as obras de William
Shakespeare.
WILLIAM Shakespeare,
por Leandro Karnal.
2016. Vídeo (12 min).
Publicado pelo canal
Shakespeare Brasil
UFPR. Disponível em:
https://youtu.be/
bL2UmixWsEg. Acesso
em: 6 jun. 2022.

Dom Quixote e Sancho


Pança em gravura do
século XVII.

Thomas Morus (1478-1535) foi um escritor e jurista inglês, autor de Utopia,, obra
na qual descreve uma ilha imaginária, habitada por uma sociedade justa e fraterna. Com
isso, Morus pretendeu criticar as injustiças e abusos de seu tempo.
William Shakespeare (1564-1616) também era inglês e foi um dos maiores
autores de peças teatrais do mundo; criou tragédias, como Romeu e Julieta,, Hamlet
e Macbeth;; comédias, como Sonho de uma noite de verão;; e dramas históricos,
como Henrique VIII.. Muitas delas foram adaptadas para televisão, cinema e história
em quadrinhos. Em suas obras, Shakespeare aborda temas universais e propõe reflexões
que continuam a despertar interesse e admiração.

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Pintores
Hieronymus Bosch (1450-1516) foi um pintor holandês. Suas pinturas, como
O jardim das delícias,, As tentações de Santo Antão e A nave dos loucos,, mesclam
fantasia e realidade.
Flamengo: habitante
Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), era flamengo e repre- da região hoje
sentou cenas camponesas e do cotidiano popular, como se pode pertencente à Bélgica e
a parte da Holanda.
observar na reprodução de sua obra Dança camponesa,, a seguir.

Dança
camponesa,
de Pieter
Bruegel, 1568.

ÓLEO SOBRE PAINEL, 114 CM × 164 CM, KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENA, ÁUSTRIA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Albrecht Dürer (1471-1528) foi o


BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

mais original entre os pintores renas-


centistas alemães. Dono de uma técnica
primorosa, transmite em suas obras uma
sensação de realismo, encantamento e
magia.

Autorretrato de Albrecht Dürer, 1498.

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Cientistas do Renascimento
Durante o Renascimento, as verdades baseadas na tradição e na autoridade foram
contestadas; em seu lugar, foram criadas novas verdades baseadas na observação, na expe-
riência e na crítica. Essa atitude investigativa contribuiu para um grande avanço científico.
Andreas Vesalius (1514-1564) é considerado o pai da anatomia moderna.. Na Europa,
até meados do século XVI, o que se sabia de anatomia humana (veias, órgãos, músculos,
ossos) era herança do médico grego Galeno, que viveu e trabalhou na Roma antiga. Galeno
fez seus estudos com base na dissecação de animais, especialmente de macacos, o que o
levou a cometer erros inevitáveis. Esses erros sobreviveram por cerca de 1500 anos até a
publicação, em 1543, da obra De humani corporis fabrica, fabrica, do médico belga Andreas
Vesalius, que, aos 23 anos, já era professor na Universidade de Bolonha, na península Itálica.
Lançada originalmente em sete volumes, a obra de Vesalius revolucionou a ciência
médica: até então, ninguém havia feito uma descrição tão precisa e detalhada da anatomia
humana. Sua obra se conserva atual em muitos pontos, apesar de todas as descobertas
feitas posteriormente.

SMITHSONIAN LIBRARIES, WASHINGTON, EUA

Estudo anatômico da musculatura humana feito por Andreas Vesalius e artistas por ele
contratados, em seu livro De humani corporis fabrica, 1543.

95

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Outro importante cientista da época foi

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Nicolau Copérnico (1473-1543), matemático
e físico nascido onde hoje é a Polônia. Ele des-
creveu os movimentos da Terra e formulou a
teoria do heliocentrismo (o Sol como centro
do sistema planetário). Lembre-se de que, na
época de Copérnico, os doutores da Igreja
defendiam o geocentrismo,, ou seja, a ideia
de que a Terra ocupa o centro do Universo e o
Sol gira ao seu redor.

Retrato de Nicolau Copérnico,


autor desconhecido, 1877.

Mas foi Galileu Galilei (1564-1642) o


ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA

cientista que comprovou a teoria do heliocen-


trismo, proposta por Nicolau Copérnico. Por
meio de um pequeno telescópio, construído
por ele mesmo, Galileu verificou que a Terra era
apenas mais um astro entre milhões de outros.
Concluiu também que a Terra efetuava dois
movimentos: um ao redor de si mesma e outro
ao redor do Sol. Por defender o heliocentrismo,
Galileu foi julgado por um tribunal da Igreja e,
para escapar à morte, negou sua teoria.
Considerado o criador da física moderna,
Galileu Galilei foi um dos mais brilhantes cien-
tistas que o mundo já conheceu. Descobriu os
satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e que
a velocidade da luz é superior à do som.

Telescópio usado por Galileu durante


a comprovação do heliocentrismo,
século XVII. Fotografia de 2020.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Sobre a relação entre modernidade e renascimento europeu, estão corretas as alternativas:
a) o Renascimento europeu foi importante para o surgimento da modernidade;
b) os artistas e cientistas do Renascimento europeu não contribuíram para a modernidade;
c) a ideia de que só o Renascimento europeu impulsionou a modernidade é correta;
d) a ideia de que só o Renascimento italiano impulsionou a modernidade supervaloriza a Europa
e exclui os outros renascimentos, a exemplo do indiano e do chinês.

2 Avalie as afirmações com atenção.


I. Segundo o historiador Jack Goody, o que existiu foram Renascimentos, e não Renascimento.
II. Em outras partes do mundo, além da Europa, também ocorreu um florescimento cultural a
partir de uma volta ao passado.
a) As afirmações I e II estão corretas, mas não têm relação entre si.
b) A afirmação I está correta; e a II, errada.
c) As afirmações I e II estão corretas; e a II explica a I.
d) Somente a afirmação II está correta.

3 Monte em seu caderno um quadro sobre o Renascimento europeu. Na primeira


coluna, copie as perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
a) O que foi?
b) Quando começou?
c) Quem financiava os artistas e cientistas?
d) Com que objetivo eles financiavam os cientistas?

4 As afirmações a seguir descrevem características do Renascimento. Leia-as com atenção.


I. O ser humano no centro do universo.
II. Inspiração nas obras dos gregos e romanos da Antiguidade.
III. O tempo pertence ao ser humano e, por isso, este deve usá-lo para experimentar, conhecer
e aperfeiçoar.
IV. O ser humano é capaz de tudo, desde que tenha capacidade individual e talento.
As afirmações tratam, respectivamente, do(a):
a) antropocentrismo – valorização do passado greco-romano – individualismo – nova visão do tempo;
b) individualismo – valorização do passado greco-romano – nova visão do tempo – antropocentrismo;
c) antropocentrismo – valorização do passado greco-romano – nova visão do tempo – individualismo;
d) individualismo – valorização do passado greco-romano – antropocentrismo – nova visão do tempo.

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5 O humanismo foi um movimento intelectual que propunha o estudo dos autores
greco-romanos para construir um novo conhecimento do ser humano e do mundo.
Escreva em seu caderno quais meios os humanistas usavam para chegar à verdade?
a) A inteligência e a malícia.
b) A intuição e a experiência.
c) A pesquisa e a fé.
d) A razão e a experiência.

6 Observe a obra a seguir, de Leonardo da Vinci. Ela expressa algumas das inovações
técnicas introduzidas pelos artistas do Renascimento e que marcaram a História da
Arte. Sobre esse assunto, copie em seu caderno a(s) alternativa(s) correta(s) e justi-
fique suas escolhas.
GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA, ITÁLIA

A anunciação, de Leonardo da Vinci, 1472-1475.

a) N
 a pintura, pode-se observar o realismo na representação da figura humana, isto é, o esforço
do artista em representá-la com exatidão.
b) N
 a pintura, Leonardo da Vinci demonstra o domínio da técnica inovadora da perspectiva,
transmitindo ao observador a sensação de profundidade para a paisagem ao fundo.
c) A
 rtistas renascentistas como Leonardo da Vinci pintavam com base apenas na intuição; por
isso, suas obras apresentam equilíbrio, harmonia e expressividade.
d) O
 bserva-se na pintura que os elementos que compõem a paisagem, como as flores e as
árvores, não foram desenhados com precisão, pois os renascentistas não representavam a
natureza de forma realista.

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7

EDITORA ATUAL
Leia o texto com atenção e observe as imagens
a seguir.
[A] impressão inédita de olhar-se para
uma parede pintada e parecer que se vê para
além dela, como se ali tivesse sido aberta
uma janela para um outro espaço, o espaço
pictórico, era o principal efeito buscado pelos
novos artistas. A pintura tradicional, gótica
ou bizantina, praticamente se restringia ao
plano bidimensional das paredes, produzindo
no máximo um efeito decorativo. O novo
estilo multiplicava o espaço dos interiores e,
com a preocupação de dar às pessoas, aos
objetos e paisagens retratados a aparência
mais natural possível, parecia multiplicar a
própria vida.
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual. p. 32.
Fac-símile da capa do livro
a) O
 texto trata de uma inovação técnica introduzida O Renascimento, de Nicolau Sevcenko.
pelos artistas renascentistas. Qual técnica é essa?
b) Em qual das imagens a seguir foi utilizada a técnica descrita no texto?
I. II.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

I. Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo II. Virgem com o menino, de Sandro


Socorro. Botticelli, c. 1465-1470.

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8 Escreva no caderno as afirmações corretas.
a) Os artistas e cientistas do Renascimento se inspiravam nas obras dos gregos e romanos da
Antiguidade.
b) Os artistas renascentistas pintavam retratos, paisagens e cenas da mitologia grega e romana,
recusando-se a representar temas extraídos da Bíblia.
c) O Renascimento restringiu-se às cidades italianas de Florença, Milão e Bolonha, por serem
governadas por famílias ricas e poderosas.
d) O estudo da matemática foi fundamental para a representação da perspectiva na pintura e
na arquitetura.
e) Os escritores renascentistas contaram com o aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg
para a divulgação e a circulação de suas obras.

9 Observando a obra de Albrecht Dürer, é possível perceber três inovações introduzidas


na pintura pelos renascentistas. Quais são elas?
ÓLEO SOBRE PAINEL, 52 CM × 41 CM, MUSEU DO PRADO, MADRI, ESPANHA. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

Autorretrato
de Albrecht
Dürer, 1498.

10 O trecho a seguir é de um importante humanista do Renascimento chamado Pico


della Mirandola.
Finalmente, pareceu-me ter compreendido por que razão é o homem o mais
feliz de todos os seres animados e digno [...] de toda a admiração [...]. Coisa ina-
creditável e maravilhosa. E como não? Já que precisamente por isso o homem é
dito e considerado justamente um grande milagre e um ser animado, sem dúvida
digno de ser admirado.
(MIRANDOLA, 2001 apud LIMA, 2017, p. 179).

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a) Qual é o assunto do texto?
b) A
 qual das características do Renascimento podemos relacionar esse trecho de Pico della
Mirandola? Justifique.
c) P ara Pico della Mirandola, o homem é a medida de todas as coisas; e para você, o que é o
ser humano?

11 Leia o texto com atenção.


"Há dois mil anos a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram
em torno dela. O papa, os cardeais, os príncipes, os sábios, capitães, comerciantes,
[...] e crianças de escola, todos achando que estão imóveis nessa bola de cristal.
Mas agora nós vamos sair para fora, Andrea, para uma grande viagem. Porque o
tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo.
[...]
As cidades são estreitas e as cabeças também. [...] Mas agora, veja o que se diz:
se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se move, meu amigo".
BRECHT, Bertold. A Vida de Galileu.
In: MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo.
História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 1993. p. 15.

a) O
 trecho “a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram em torno dela” diz
respeito a qual ideia?
b) O que o autor quis dizer com “porque o tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo”?
c) Interprete o que o autor quis dizer com “se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se
move, meu amigo”?

12 Observe a tirinha com atenção.

ARMANDINHO, DE ALEXANDRE BECK

Tirinha do personagem Armandinho.

a) Na cena 2, o heliocentrismo é citado. Quem formulou essa teoria?


b) Esse cientista conseguiu provar a teoria do heliocentrismo? Justifique.
c) Na cena 3, Armandinho usa a palavra “umbigocentrismo”. O que ele quis dizer com isso?
d) Você concorda com a crítica feita pelo autor da tirinha?
e) Você já teve alguma atitude “umbigocêntrica”? Por quê?

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II. Integrando com Língua Portuguesa
Leia o texto com atenção.

RAFFAELLO BENCINI/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


Da crueldade e da piedade e se é melhor ser amado
que temido ou melhor ser temido que amado
[...]
Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido
ou o inverso? A resposta é que seria de desejar ser ambas
as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais
seguro ser temido do que amado, quando se tem de
desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se
pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que
são ingratos, volúveis, simulados e dissimula-
dos, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar
e, enquanto lhes fizeres bem, pertencem
inteiramente a ti, te oferecem o sangue,
o patrimônio, a vida e os filhos, como
disse acima, desde que o perigo
esteja distante; mas, quando pre-
cisas deles, revoltam-se.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe.
São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 79-80.

Nicolau Maquiavel,
de Santi di Tito, século XVI.

a) A qual pergunta Maquiavel busca responder?


b) Qual é a resposta dada por ele?
c) Leia o trecho a seguir e responda.
“geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos,
volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar”.
I. Pesquise o que é um adjetivo.
II. Quais adjetivos são utilizados para a palavra “homens”?
III. Eles são positivos ou negativos?
IV. Como o uso de adjetivos nos ajuda a compreender a visão do autor sobre os homens?
d) Roda de conversa. Você prefere ser temido ou amado?

102

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CAPÍTULO

5 REFORMA E
CONTRARREFORMA

Observe o mapa.

As primeiras comunidades luteranas no Brasil


MT

ALLMAPS
BA
GO
BOLÍVIA MG

MS
Petrópolis – 1845 ES

SP RJ Santa Izabel – 1847


PARAGUAI (atual Domingos Martins)

Trópico
PR de C apricó
Nova Friburgo – 1824 rnio
Rio de Janeiro – 1827
Joinville – 1851
SC OCEANO
Blumenau – 1857
ATLÂNTICO
Santa Izabel – 1861
ARGENTINA (atualmente parte de Águas Mornas)
RS
Três Forquilhas – 1826 (atual Terra de Areia)
Campo Bom – 1827
São Leopoldo – 1824

URUGUAI
0 190

50°LO
50°

Fonte: KLUG, João. Lutero e a reforma religiosa. São Paulo: FTD, 1998. p. 42.

1. Em quais estados se instalaram as primeiras comunidades luteranas no Brasil?

2. Você sabe qual foi o povo que trouxe o luteranismo para o Brasil?

3. Na época em que os luteranos chegaram ao Brasil, a religião oficial do Estado brasileiro era a católica.
Como será que eles faziam para praticar sua religião?

4. Para o luteranismo, a leitura da Bíblia tem uma especial importância na prática religiosa. Você sabe
por quê?

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A Reforma foi uma das mais importantes divisões do cristianismo. A Reforma e o
Renascimento ocorreram ao mesmo tempo e expressam uma grande renovação de ideias
e atitudes.

Motivos da Reforma
Na Idade Média, a Igreja Católica era rica e poderosa. Os bispos possuíam feudos
enormes. O papa celebrava acordos políticos, interferia na escolha dos reis, era chamado a
coroá-los etc. Mas havia um grande número de pessoas, grupos sociais e líderes políticos
e religiosos descontentes com a Igreja e com o imenso poder do papa. Os motivos dessa
insatisfação eram:
a) O poder universal do papa.. No século XV, muitos reis passaram a ver o papa (líder de
toda a cristandade europeia) como um obstáculo ao fortalecimento do poder real. E se
opunham também à saída de dinheiro de seus reinos e principados para Roma, a sede
do papado. Esse dinheiro saía em razão das taxas e tributos pagos à Igreja pelos fiéis.
b) Corrupção e despreparo do clero.. Muitos membros da Igreja tinham comprado o
cargo de bispo ou cardeal. Vários papas chegavam à chefia da Igreja por pertencerem
a famílias poderosas. Os padres tinham geralmente pouca instrução e preparo religioso
para orientar os fiéis. Relíquia: parte do
c) A venda de indulgências e falsas relíquias
relíquias.. Bispos e padres corpo de um santo,
praticavam o comércio de artigos religiosos. Vendiam um objeto ou de qualquer objeto
que a ele pertenceu.
qualquer dizendo que era um pedaço de osso do jumento
montado por Jesus e várias outras falsas
GRANGER/EASYPIX BRASIL

relíquias. E mais: bispos e padres vendiam


também indulgências,, isto é, o perdão
dos pecados, em troca de uma doação em
dinheiro à Igreja.
Essas práticas abusivas de membros da
Igreja provocaram uma grande insatisfação
entre cristãos de diferentes condições sociais
e contribuíram para o surgimento de ideias
e movimentos reformadores.

Cena de um panfleto de Martinho Lutero.


Xilogravura, c. 1525. A cena representa
a venda de indulgências em uma igreja.

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Os primeiros reformadores
Entre os maiores críticos da Igreja naquela época estavam os reformadores John
Wycliff e Jan Huss.
Wycliff (1320-1384) se formou em teolo-
gia pela Universidade de Oxford (na Inglaterra)
e traduziu a Bíblia para o inglês, a língua de

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
seu povo. Até então, tanto a Bíblia quanto as
missas eram em latim. Afirmando que havia
um grande contraste entre o que a Igreja era
e o que deveria ser, ele criticava, sobretudo, o
acúmulo de riquezas por parte dos bispos e
papas e a falta de instru- Herege: aquele que
ção dos sacerdotes. Por contraria a doutrina
isso, Wycliff foi levado a oficial da Igreja.
um tribunal religioso, que
o acusou de ser herege
herege..
Jan Huss (1369-1415) era
professor da Universidade de
Praga (na atual República
Tcheca), teólogo e bri-
lhante orador; ele se
tornou conhecido por
fazer seus sermões
no idioma tcheco,
língua de seu povo e
para a qual traduziu
a Bíblia, que estava
em latim. Por seus
ataques à corrupção e
ao luxo do alto clero, Jan
Huss foi acusado de ser
herege e queimado vivo,
em 1415. Ainda hoje ele
é visto por muitos tchecos
como um mártir.

Retrato de Jan Huss.


Autor desconhecido, século XIX.

105

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Martinho Lutero
No início do século XVI, na região onde hoje é a Alemanha, um monge de nome
Martinho Lutero revoltou-se contra a venda de indulgências e ousou discordar da doutrina
católica; com isso, deu início ao movimento conhecido como Reforma protestante..
Martinho Lutero nasceu em 1483, na cidade alemã
de Eisleben, e recebeu de seus pais uma educação
bastante rígida. Com 18 anos, para alegria de seu
pai, que queria vê-lo advogado, Lutero entrou
na Universidade de Erfurt para estudar Direito.
No entanto, ele se interessava mais pelo
estudo da Bíblia e vivia preocupado com a
salvação eterna. Por isso, trocou o curso
de Direito pelo de Teologia e ingressou
num convento agostiniano. Estudioso
e persistente, aos 29 anos Lutero
tornou-se doutor em Teologia.
No convento, ele fazia tudo o
que julgava necessário à salvação
da alma: jejuava, orava e lia a
Bíblia por noites inteiras. Apesar
disso, continuava a se sentir
um pecador. Lutero só superou
sua crise pessoal e espiritual ao
romper com a Igreja e propor
uma nova doutrina.

Detalhe do vitral da capela da cidade


de Coburgo (Alemanha), século XIX.
Lutero defendia a necessidade de
todos aprenderem a ler para poderem
conhecer a Bíblia, fato que contribuiu
DAVE BARTRUFF/CORBIS/GETTY IMAGES

para a alfabetização de milhares de


alemães.

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A reforma de Lutero
Em 1517, o papa prometeu que todo aquele que desse dinheiro para construir a nova
Basílica de São Pedro, em Roma, receberia, em troca, uma indulgência plena,, isto é, o
perdão de todos os pecados. Indignado, Martinho Lutero pregou na porta de sua paróquia
as 95 teses,, um documento contendo duras críticas à Igreja. Leia a seguir algumas teses
de Lutero:
Tese 24.. [...] a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa
magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
Tese 32.. Serão condenados [...], juntamente com seus mestres, aqueles que se
julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
Tese 86.. Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos
[romanos ricos], não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de
São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise.
São Paulo: Atual, 1993. (História geral em documentos, p. 36-37).

ALBUM/FOTOARENA

Dialogando
O que Lutero
critica na
Tese 32?

Martinho Lutero
prega no interior
de uma igreja.
Gravura de 1588.

107

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Por insistir na defesa de suas ideias, Lutero foi expulso da Igreja pelo papa.
O imperador católico Carlos V, que governava a região da atual Alemanha, também o
considerou herege e mandou queimar seus escritos. Perseguido, Lutero se refugiou no
castelo de um nobre que apoiava suas ideias. Ali, ele traduziu a Bíblia para o alemão,
possibilitando que ela pudesse ser lida por um número muito maior de pessoas.
Vários príncipes da região onde hoje é a Alemanha se converteram ao luteranismo e
se apropriaram das terras da Igreja Católica em seus principados; com isso, aumentaram
seu poder e sua riqueza.
FINE ART PHOTOGRAPHIC LIBRARY/CORBIS/GETTY IMAGES

Lutero traduzindo
a Bíblia para
o alemão no
castelo de
Wartburg.
Eugene Siberdt,
1898.

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A Igreja e a doutrina de Lutero
Doutrina: conjunto
Lutero fundou uma Igreja e criou para ela uma nova doutrina de princípios de uma
baseada nos pontos apresentados a seguir. religião ou filosofia.

Doutrina luterana
1. A justificação pela fé: é a fé em Deus que salva uma pessoa, e não as boas obras que
ela praticou.
2. Sacerdócio universal: todo cristão é capaz de interpretar a Bíblia por si mesmo.
3. A Bíblia, por meio da qual Deus se revela, é a única fonte da verdade.
4. O batismo e a eucaristia são os dois únicos sacramentos.
5. O culto aos santos e às imagens não tem fundamento.
6. Qualquer membro da Igreja pode se casar.
Diante do avanço do luteranismo, o imperador Carlos V proibiu o culto luterano nos
principados católicos. Os príncipes luteranos protestaram contra essa proibição; daí o termo
protestante para nomear os seguidores das igrejas surgidas a partir da Reforma. As ideias
de Lutero se espalharam com velocidade. O aperfeiçoamento da imprensa contribuiu muito
para isso.
ALICE-D/SHUTTERSTOCK.COM

Castelo de Wartburg, próximo a Eisenach (Alemanha), em fotografia de 2020. Foi nesse local em que Lutero
traduziu a Bíblia para o Alemão.

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PARA SABER MAIS
A impressão de livros e a Reforma
A impressão de livros é uma invenção chinesa. Na década de 1440, na Europa, o
alemão Johannes Gutenberg aperfeiçoou a imprensa, o que tornou possível utilizar uma
mesma matriz para imprimir muitos exemplares. Em consequência disso, o preço do livro
baixou e o número de leitores aumentou muito.
O primeiro livro impresso na oficina de Gutenberg foi a Bíblia.
GRANGER/FOTOARENA

A gravura, do século XV, representa


um trabalhador usando a prensa
para imprimir textos e Gutenberg
examinando uma prova impressa.

Dialogando
 oje, muitos dizem que o livro em papel
H
será substituído pelo livro digital, tido
por alguns como mais econômico e mais
durável. Os defensores do livro em papel,
por sua vez, afirmam que ele é mais
confortável, menos cansativo e que, por
isso, jamais será substituído pelo e-book.
E você, o que pensa sobre o assunto?

João Calvino
GODONG/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

Da região hoje conhecida


como Alemanha, o protestan-
tismo espalhou-se rapidamente
para outros países com a ajuda de
importantes reformadores, como
João Calvino (1509-1564).

Nos templos calvinistas, como este que você


vê na imagem, o púlpito e o pastor ocupam
posição de destaque. É que, para Calvino,
o culto devia resumir-se a “quatro paredes
e um sermão”. Fotografia de 2010.

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Calvino também defendia a salvação pela fé,, refutava o culto às imagens e admitia
apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Mas, diferentemente de Lutero, Calvino
acreditava na predestinação absoluta;; ou seja, que as pessoas nada podiam fazer para
mudar seu destino. Para ele, alguns são predestinados por Deus à vida eterna, e outros,
à morte eterna.
Por divulgar suas ideias, Calvino foi acusado de ser herege pelos católicos franceses.
Então deixou a França e refugiou-se em Genebra, na Suíça, onde encontrou pessoas
abertas às suas ideias. Em 1541, tornou-se a principal figura do governo de Genebra, onde
exigiu que seus habitantes levassem uma vida puritana, isto é, acordassem cedo, dor-
missem cedo e se dedicassem à oração e ao trabalho. Além disso, proibiu festas, teatro,
jogos de azar e bebidas alcoólicas. Quem desobedecesse pagava multa, era expulso da
igreja ou punido com a morte.

Expansão do calvinismo
Dialogando
A valorização do estilo de vida puritano contribuiu para a
rápida difusão do calvinismo pela Europa: na Escócia, os calvinistas a A intolerância
foram chamados de presbiterianos;; na Inglaterra, de puritanos;; religiosa continua
a causar conflitos
e na França, de huguenotes..
no Brasil de hoje?
Na França, as guerras entre protestantes e católicos registra-
b O que você pensa
ram um episódio de muita violência; na noite de 24 de agosto de sobre uma pessoa
1572, dia de São Bartolomeu, os católicos, apoiados pelo governo, desrespeitar a
mataram milhares de huguenotes nas ruas de Paris. religião de outra?
SCIENCE SOURCE/FOTOARENA

Massacre do Dia
de São Bartolomeu
em Paris. Escola
Alemã, século XVI.

111

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A Reforma na Inglaterra
ÓLEO SOBRE TELA, 239 × 134,5 CM, NATIONAL MUSEUMS
LIVERPOOL. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Na Inglaterra, o movimento reformista foi conduzido pelo


rei Henrique VIII. Ele vinha querendo se livrar da interferên-
cia do papa e dos impostos cobrados pela Igreja Católica
no seu país. Então, pediu ao papa que anulasse seu
casamento com Catarina de Aragão (filha dos reis da
Espanha), alegando que ela não conseguia dar-lhe um
filho homem para ser seu herdeiro.
Ao ter seu pedido negado pelo papa, Henrique VIII
decidiu agir: rompeu com a Igreja de Roma (1531) e se
casou novamente, dessa vez com Ana Bolena, uma dama
da corte. Ao saber disso, o papa anulou o casamento e
o excomungou. O Parlamento inglês reagiu apoiando
Henrique VIII e aprovando o Ato de Supremacia
(1534). Esse ato declarava o rei o novo chefe da Igreja
na Inglaterra, chamada, então, de Igreja Anglicana..
Como chefe da nova Igreja, Henrique VIII confiscou as
terras e os mosteiros da Igreja Católica e os vendeu ou doou
aos nobres e burgueses que o apoiaram. Assim, o rei inglês se
Henrique VIII,
fortalecia, acumulando o poder político e religioso.
de Hans Holbien,
c. 1537.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Observando o mapa da Europa após a Reforma, podemos perceber as áreas com


predomínio de católicos, luteranos, calvinistas e anglicanos.

Europa: Reforma protestante (século XVI)


0° 20° L a) Qual é a área abrangida pelo mapa?
ALLMAPS

Edimburgo
b) D
 e que forma o mapa transmite as
o

Copenhague
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OCEANO Londres Amsterdã
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ATLÂNTICO Praga
Nantes Paris
40 Orléans Salzburgo
°N
Genebra Zurique Viena c) C
 om base no mapa, cite dois
Bordeaux Trento
Lyon
Valladolid
Mar Negro Estados católicos, dois luteranos e
Roma Áreas de domínio
Toledo
Sevilha
católico dois calvinistas.
Áreas de domínio
wich

M a rM e d luterano
ÁSIA
Green

i te
r r
ân Áreas de domínio
iano de

e o
ÁFRICA calvinista
0 695
Áreas de domínio Fonte: MICELI, Paulo. História moderna.
Merid

anglicano
São Paulo: Contexto, 2013. p. 80.

112

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A Reforma Católica ou a Contrarreforma
Para tentar conter o avanço do protestantismo e fortalecer o Concílio: assembleia de bispos
catolicismo, a liderança católica iniciou o movimento conhecido para decidir sobre assuntos
relativos à Igreja.
como Reforma Católica ou Contrarreforma. Essa reforma foi
Inquisição: fundada em 1231
impulsionada pelos jesuítas e pelo Concílio de Trento e fez uso por uma bula do papa Gregório
do Tribunal do Santo Ofício, também chamado de Inquisição
Inquisição,, IX, que estipulava o modo
para reprimir e punir seus adversários. como os inquisidores deviam
agir para localizar e interrogar
A Ordem dos Jesuítas foi fundada em 1534 pelo militar os hereges e convencê-los a se
espanhol Inácio de Loyola, que estabeleceu entre seus inte- retratarem. Em 1252, o papa
grantes uma rigorosa disciplina e obediência. Conhecidos como Inocêncio IV permitiu o uso de
tortura para obter confissões.
“soldados de Cristo”, os jesuítas dedicaram-se a divulgar o cato- Se a pessoa confessasse,
licismo na Europa e a evangelizar os povos da Ásia, da África recebia uma penitência;
caso contrário, era quase
e da América.
sempre condenada a morrer
Os jesuítas atuaram também na educação, criando uma na fogueira.
rede de colégios em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil.
ÓLEO SOBRE TELA, 70,5 × 97,2 CM, BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Representação do Concílio de Trento. Escola Italiana, c. 1630.

113

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O Concílio de Trento foi convocado em 1545 pelo papa Paulo III e interrompido
várias vezes, em razão de guerras e de uma peste ocorrida naquela região da Itália. Ao
final dos debates, em 1563, o Concílio rejeitou a doutrina da justificação pela fé de Lutero
e a doutrina da predestinação de Calvino.
O Concílio também:
• considerou crime a venda de indulgências;
• reafirmou o poder do papa;
• conservou os sete sacramentos e o culto à Virgem Maria e aos santos;
• propôs a criação de seminários para instruir e formar os sacerdotes;
• reeditou o Index
Index,, isto é, a relação de livros que os católicos estavam proibidos de ler.
Muitas vezes, esses livros eram queimados em grandes fogueiras.
ÓLEO SOBRE PAINEL. 122 CM × 83 CM. MUSEU DO PRADO. MADRI. FOTO: DEA/G DAGLI ORTI/AGB PHOTO LIBRARY

Detalhe da obra
São Domingos
e os albigenses,
de Pedro
Berruguete,
1495. A obra
mostra a
queima de livros
considerados
heréticos.

114

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A Inquisição
Durante a Contrarreforma, o papa Paulo III reativou o Tribunal do Santo Ofício
(Inquisição), órgão da Igreja encarregado de vigiar, julgar e punir qualquer pessoa acusada
de heresia. Às vezes, bastava uma simples suspeita para que a pessoa fosse chamada a
depor nesse tribunal. E, conforme suas respostas, podia ser condenada à perda de bens
(terra, casa, móveis), à prisão perpétua e, às vezes, à morte na fogueira. As principais
vítimas da Inquisição foram hereges, protestantes, judeus e mulheres consideradas bruxas.
Tribunais do Santo Ofício foram instalados na Espanha (1478), em Portugal (1536) e na
Itália (1542).

A Inquisição em Portugal e no Brasil


Em Portugal, as principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício foram os cristãos-novos,
isto é, judeus que se convertiam ao cristianismo para fugir das perseguições das autorida-
des católicas. Mesmo assim, muitas vezes eles eram perseguidos pelo Santo Ofício sob a
acusação de continuarem praticando o judaísmo às escondidas.
Para escapar à perseguição,
BIBLIOTHEQUE DES ARTS DECORATIFS, PARIS. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX

muitos deles se mudaram para as


capitanias da Bahia e de Pernambuco,
onde se estabeleceram como senho-
res de engenho e comerciantes. Mas
aqui também tiveram de enfrentar a
truculência da Inquisição.
Em 1591, ocorreu a primeira visita
de um representante do Santo Ofício
ao Brasil. Ele percorreu as capitanias da
Bahia, de Pernambuco, de Itamaracá e
da Paraíba, e mandou prender vários
cristãos-novos, enviando-os para
Lisboa.
No Brasil, africanos e indígenas
também foram denunciados como
praticantes de feitiçaria e bruxaria.
Os membros do Santo Ofício não
aceitavam suas religiões, seus cos-
tumes e suas práticas.

Homem condenado à fogueira


pela Inquisição. Escola
Francesa, século XVIII.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Um dos motivos da Reforma foi o imenso poder do papa. A interferência do papa
na escolha dos reis é considerada de ordem:
a) religiosa. c) política. e) cultural.
b) social. d) econômica.

2 Leia o texto a seguir.


[...] Formado sacerdote em Praga, conhecedor dos escritos de Wycliff, seus ensi-
namentos e ataque contra a prática do papado de oferecer a remissão dos pecados
por meio da venda de indulgências e de colocar sua autoridade acima da de Cristo,
renderam-lhe não somente o exílio em Boêmia como, posteriormente, por conti-
nuar lutando contra os erros da Igreja, condenação como herege pelo Concílio de
Constança em 1415, sendo queimado vivo em uma fogueira. [...]
BARBOSA, Luciane Muniz Ribeiro. Igreja, Estado e educação em Martinho Lutero:
uma análise das origens do direito à educação. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 59.

O reformador a que o texto se refere é:


a) John Wycliff. c) Martinho Lutero.
b) Jan Huss. d) João Calvino.

3 Monte em seu caderno um quadro com as informações solicitadas. Na primeira


coluna, copie as perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
a) O que foi?
b) Quais foram as razões da Reforma?
c) Qual ato de Lutero deu início à Reforma?

4 Enumere em seu caderno os fatos da vida de Lutero na ordem em que ocorreram.


a) Nasceu em 1486 na Alemanha.
b) Indignou-se com a venda de indulgências.
c) Tornou-se doutor em Teologia.
d) Escreveu e fixou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg.
e) Traduziu a Bíblia para o alemão.
f) Foi expulso da Igreja pelo papa.

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5 Interprete. O que Lutero quis dizer com a Tese 28?
Tese 28.. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro
e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise.
São Paulo: Atual, 1993. (História geral em documentos, p. 36).

6 Avalie as afirmações. São pontos da doutrina luterana:


I. A fé em Deus é o que salva uma pessoa, e não as boas obras que ela praticou.
II. Nenhum cristão é capaz de interpretar a Bíblia por si mesmo.
III. A Bíblia é a única fonte da verdade.
IV. O batismo e a eucaristia são os únicos sacramentos.

Escreva no caderno a alternativa que contém as afirmações corretas.


a) I, II, III. b) I, II, IV. c) II, III e IV. d) I, III e IV.

7 Compare o interior destas duas igrejas e responda às questões.


LUIZ BARRIONUEVO/SHUTTERSTOCK.COM

JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS


1 2

Interior de uma igreja em São Paulo (SP), 2020. Interior de uma igreja em Jaraguá do Sul (SC), 2012.

a) Qual delas é a católica? E qual é a protestante?


b) Como você chegou a essa conclusão?

8 Na atividade anterior, você identificou as diferenças entre o catolicismo e o lutera-


nismo. Nesta, identifique três semelhanças entre eles.

9 Compare a doutrina de Calvino à de Lutero, indicando uma semelhança e uma dife-


rença entre elas.

10 Sobre a Contrarreforma, pesquise e responda ao que se pede.


a) Quem são os jesuítas?
b) Qual o significado de: concílio; Inquisição; heresia.

11 No século XIX, milhões de europeus vieram para o Brasil em busca de trabalho e terra
própria. Entre eles estavam os alemães, que trouxeram consigo o luteranismo. Veja
o que um estudioso fala sobre o assunto. Em seguida, responda às questões.

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O luteranismo no Brasil
A religião oficial [...] do império brasileiro era

TALES AZZI/PULSAR IMAGENS


o catolicismo; por isso, os imigrantes europeus
protestantes não eram bem-vistos. Em torno
desse assunto travaram-se calorosos debates
entre os que só aceitavam imigrantes católicos Igreja Evangélica de Confissão Luterana
e os que não se importavam com a religião. [...] no Brasil (IECLB), conhecida como Igreja
Chegou-se a uma solução intermediária: os do Relógio. Gramado (RS), 2019.
imigrantes não católicos seriam tolerados, mas não poderiam construir igrejas.
Outro aspecto que dificultava a vida dos protestantes era o fato de que os casa-
mentos entre eles, assim como os batismos, não eram reconhecidos, pois, como
não existia o registro civil, os registros [...] católicos eram considerados oficiais. [...]
Essa situação só começou a mudar depois da Proclamação da República, em
1889, quando a Igreja e o Estado foram separados [...].
KLUG, João. Lutero e a reforma religiosa. São Paulo: FTD, 1998. (Para conhecer melhor, p. 41-42).
a) Q
 uais foram as principais dificuldades enfrentadas pelos imigrantes protestantes que vieram
para o Brasil no século XIX?
b) Por que a Proclamação da República, em 1889, foi decisiva na trajetória dos luteranos no Brasil?

12 O concílio de Trento foi um importante instrumento da Contrarreforma. Anote em


seu caderno as afirmações corretas sobre esse concílio.
a) Reafirmou o poder do papa.
b) Propôs a criação de seminários para formação dos padres.
c) Organizou o Index, isto é, relação de livros que os católicos podiam ler.
d) Suspendeu a Inquisição, um tribunal com objetivo de vigiar, julgar e punir qualquer pessoa
acusada de heresia.
e) Manteve apenas dois sacramentos.

II. Leitura e escrita em História


Vozes do passado
Analise atentamente algumas teses de Martinho Lutero
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

e responda às questões.


Tese 6.. O papa não tem o poder de perdoar culpa
a não ser declarando ou confirmando que ela foi per-
doada por Deus [...].
Tese 27.. Pregam doutrina mundana os que dizem
Martinho Lutero,
que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a de Lucas Cranach,
alma sairá voando [do purgatório para o céu]. [...] século XIX.

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Tese 43.. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao
necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
VIANNA, Alexander Martins. Estudo introdutório às 95 teses de Martinho Lutero.
Revista Espaço Acadêmico, n. 34, p. 1-11, mar. 2004. p. 4-6.

a) O que Lutero afirma na Tese 6?


b) Qual é o conteúdo da Tese 27?
c) Como você interpreta a Tese 43?
d) Reflita e opine sobre a Tese 43 de Lutero. Justifique sua opinião.

Vozes do presente
Leia o texto com atenção.
O papa Francisco [...] participará

PETER KROCKA/SHUTTERSTOCK.COM
das comemorações organizadas com
motivo dos 500 anos da Reforma de
Martinho Lutero, que provocou um
cisma na Igreja Católica, em um
gesto histórico de reconciliação com
os protestantes.
Um dos pontos centrais da
visita do papa [...] será a sua pre-
sença em uma cerimônia conjunta
[...] para comemorar o aniversário
da reforma impulsada por Lutero,
o fundador da igreja protestante,
cujas críticas ao comércio de privi-
légios e indulgências lhe custaram
a excomunhão em 1520.
A cisão gerada por Lutero, [...]
quando negou a autoridade papal,
deu lugar a massacres e guerras
atrozes e desenvolveu um ódio
tenaz entre as duas comunidades
Papa Francisco. Dublin (Irlanda), 2018.
cristãs que se estendeu por séculos.
PAPA Francisco diz que Martinho Lutero levou Bíblia às pessoas. Exame, [s. l.], 28 out. 2016. Disponível em:
https://exame.com/mundo/papa-francisco-diz-que-martinho-lutero-levou-biblia-as-pessoas/. Acesso em: 3 jun. 2022

a) A
 participação do papa Francisco no evento descrito no texto é considerada um gesto histórico
de reconciliação. Quando e por que se deu a divisão da cristandade a que o texto se refere?
b) Quais foram as principais críticas de Martinho Lutero à Igreja Católica?
c) Qual foi a punição dada a Lutero no período da Reforma protestante?

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#JOVENS NA s ta
HISTÓRIA Entrevi

PASSO 1 Ler
Leia o texto com atenção.

Uma jovem cientista


Tradicionalmente, aos fins de ano, a revista americana Time elege a personalidade
que teve mais destaque no ano [...]. Agora, pela primeira vez na história, uma criança
foi eleita “Criança do Ano” pelo periódico.
Trata-se de Gitanjali Rao, uma jovem cientista de 15 anos que usou a tecnologia
para resolver questões sociais [...].
“Sempre fui alguém que queria colocar um sorriso no rosto de outras pessoas.
Esse era o meu objetivo diário, apenas fazer alguém sorrir”, contou à Time.. [...] E então,
quando eu estava na segunda ou terceira série, comecei a pensar sobre como podemos
usar a ciência e a tecnologia para criar mudanças sociais."
Gitanjale [...] foi responsável pela criação do aplicativo Kindly, que é capaz de detec-
tar o cyberbullying em seu estágio inicial, com base em inteligência artificial.
[...]
“Comecei a codificar algumas palavras que poderiam ser consideradas bullying
e, então, meu mecanismo pegou essas palavras e identificou as que são semelhantes.
Você digita uma palavra ou frase e, se for intimidadora, ele oferece a opção de editá-la
ou enviá-la como está”, explicou. “O objetivo não é punir. Como uma adolescente, eu
sei que os adolescentes tendem a atacar às vezes. Em vez disso, dá a você a chance de
repensar o que está dizendo para saber o que fazer na próxima vez”, completa.
[...]
LUIZ RAMPELOTTO/EUROPANEWSWIRE/PICTURE-ALLIANCE/DPA/IMAGEPLUS

Por fim, juntando uma turma de 30 mil


jovens alunos, orientados por Gitanjali, a ado-
lescente incentiva sua geração a lutar pelo que
deseja. “Acho que mais do que qualquer coisa
no momento, só precisamos encontrar algo pelo
qual somos apaixonados e achar uma solução
para aquilo. Mesmo que seja algo tão pequeno
quanto recolher o lixo. Tudo faz a diferença. Não
se sinta pressionado a inventar algo grande.”
QUEM É Gitanjali Rao, a primeira “Criança do Ano” da Revista
Time. Revista Claudia, São Paulo, 4 dez. 2020. Disponível em:
https://claudia.abril.com.br/noticias/quem-e-gitanjali-rao-a-primeira-
crianca-do-ano-da-revista-time/. Acesso em: 28 jun. 2022.

Gitanjali Rao, na sede da Organização das


Nações Unidas. Nova York (Estados Unidos), 2018.

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PASSO 2 Questionar
Depois de ler o texto, responda:
a) Qual foi o problema identificado por Gitanjali Rao?
b) Qual a solução encontrada por ela para solucionar o problema?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) E m grupo. Pesquisem sobre iniciativas como a de Gitanjali Rao, nas redes sociais, que impactam a
vida das pessoas de forma positiva, a fim de ampliar o conhecimento sobre o tema.
d) Ao término da pesquisa, escolham pessoas na comunidade para serem entrevistadas a fim de descobrir
iniciativas que contribuem para a construção de um mundo melhor. Vocês podem escolher parentes,
professores, vizinhos. A ideia principal é saber o que ela faz ou gostaria de fazer para melhorar a vida
na comunidade ou no município.
e) A entrevista pode ser virtual ou presencial. A seguir, distribuam de maneira equitativa e democrática
as tarefas, como:
• elaborar a pauta da entrevista;
• combinar local e horário com a pessoa entrevistada;
• levar gravador, papel para anotações e máquina fotográfica ou celular para o registro fotográfico;
• gravar a entrevista em áudio ou em vídeo;
• transcrever a entrevista, sendo fiel à fala do entrevistado;
• editar texto e imagem (fotografia, desenho, pintura);
• diagramar a versão final.
• Para a entrevista, estejam acompanhados de um adulto responsável.
f) No roteiro, é importante registrar: nome e idade da pessoa entrevistada; profissão; qual ou quais ações
ela realiza etc.
g) Comentem por escrito ou em um áudio os principais pontos da entrevista; e apresentem a entrevista e
o trabalho a que ela se dedica, além das fotografias produzidas.
h) Com esse material em mãos, compartilhem com os colegas os resultados alcançados. Depois dessas
trocas, cada grupo fará um relatório com suas descobertas e as conclusões a que chegou.

PASSO 4 Apresentar e publicar


i) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com a
#jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
j) Realizei as tarefas a que me propus?
k) Cumpri os prazos determinados?
l) Expressei minhas ideias com objetividade?
m) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
n) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
o) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

121

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UNIDADE

3 FORMAÇÃO DO
ESTADO MODERNO

CELSO PUPO/FOTOARENA

Observe as imagens e perceba


a força das torcidas dos times de
futebol. Pois bem, nessas ocasiões,
os torcedores cantam, pulam, gri-
tam, comemoram gols, incentivando
seu time, e sofrem quando ele está
perdendo.

Torcida do Flamengo no estádio do


Maracanã. Rio de Janeiro (RJ), 2015.
MARCO GALVÃO/FOTOARENA

Torcida do Corinthians na Arena


Corinthians. São Paulo (SP), 2018.

122

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Imagine agora que, no dia seguinte a esses jogos pelo campeonato brasileiro ou estadual, ocorra um
jogo da seleção brasileira contra a seleção inglesa; qual será a atitude de paulistas e cariocas que estavam
em lados opostos no dia anterior?
A resposta você já sabe: vão juntos torcer apaixonadamente pela seleção brasileira. O que terá feito com
que essas pessoas que estavam em lados opostos num determinado dia passassem para o mesmo lado no
dia seguinte?

RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS


Torcedores da Seleção Brasileira de Futebol na Arena Castelão. Fortaleza (CE), 2014.

Ora, é que gaúchos, mineiros, goianos, paulistas, fluminenses, baianos, piauienses, cearenses, entre
outros, são brasileiros e, como tal, têm crenças, hábitos e interesses comuns. Tem um sentimento de per-
tencer a uma mesma nação, o Brasil.
Essa situação que acabamos de descrever se reproduz também na Inglaterra, entre torcedores do Liver-
pool e do Manchester, por exemplo. No dia seguinte a um jogo entre esses times, suas torcidas certamente
também estariam do mesmo lado, torcendo com paixão pela seleção inglesa de futebol. Os ingleses, assim
como nós, também se sentem pertencentes a uma nação.

1. Quando será que os habitantes das terras inglesas passaram a se sentir ingleses?
2. Como se deu esse processo?
3. E em outras partes da Europa, como França, Portugal e Espanha, como isso se deu?

Após o estudo desta unidade, volte a estas páginas e tente responder a essas perguntas.

123

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CAPÍTULO

6 ESTADO MODERNO, ABSOLUTISMO


E MERCANTILISMO

A pintura a seguir, intitulada A família de Luís XIV,, é de autoria do pintor francês


Jean Nocret (1615-1672). Observe-a com atenção.
ÓLEO SOBRE TELA 298 CM × 419 CM. BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

5 1

4
6

A família de Luís XIV, de Jean Nocret, 1670. 1 – Rei Luís XIV; 2 – Mãe do rei;
3 – Delfim, filho do rei; 4 – Esposa do rei; 5 – Cunhada do rei; 6 – Irmão do rei.

1. O que essa pintura mostra?


2. Como o rei Luís XIV e sua mãe estão representados?
3. O rei Luís XIV foi representado como o deus do Sol; será que isso foi por acaso?
4. Será que a obra foi feita sob encomenda ou criada espontaneamente?
5. O estilo adotado pelo pintor é o barroco. Pesquise sobre esse estilo e identifique na obra duas
características desse estilo de arte.

124

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O fortalecimento do poder dos reis
Na Europa, a partir do século XI, ocorreu um crescimento do comércio e das cidades e
a formação de um novo grupo social, a burguesia, composta basicamente por mercadores
e artesãos.
Os burgueses, então, percebendo a importância da monarquia para o sucesso de seus
negócios, apoiaram o rei por meio de doações e empréstimos. O rei, por sua vez, passou a
favorecê-los, fazendo leis que protegiam o comércio e concedendo aos burgueses cargos
na administração do reino.
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Nessa iluminura do
século XIII, o Rei Afonso II
(1152-1196) confirma os
privilégios concedidos aos
mercadores da cidade de
Barcelona, na região onde
hoje é a Espanha.

A nobreza também se aproximou do rei, visando manter privilégios, como os de


receber pensões e altos postos no exército real. Os camponeses, por sua vez, passaram a
ver o rei como alguém capaz de protegê-los contra os abusos da nobreza.
Então, aos poucos, por meio de doações, da arrecadação de impostos e da venda
de cargos públicos, o rei conseguiu recursos para montar um exército assalariado e per-
manente e pagar funcionários para administrar o seu reino. Assim, ganhou força para
estabelecer uma moeda única e leis comuns para todo o reino e, com isso, foi impondo
sua autoridade a todos os súditos. O fortalecimento gradual do poder dos reis entre os
séculos XI e XV é conhecido como processo de formação do Estado Moderno.. Em cada
país da Europa, esse processo teve tempo e ritmos próprios.

125

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A monarquia inglesa
Apresentaremos a seguir alguns exemplos do processo de fortalecimento do poder
real ou da centralização política na Europa; estudaremos os casos da Inglaterra, da França,
de Portugal e da Espanha.
No século XI, Guilherme, o Conquistador,, duque da Normandia (região do norte da
França) conquistou a Inglaterra e se tornou rei com o título de Guilherme I.. Durante seu
Xerife: palavra de reinado, ele exigiu que todos os senhores feudais prestassem juramento
origem inglesa (sheriff ). de fidelidade apenas ao rei, dividiu as terras inglesas em condados e
Na Inglaterra medieval, nomeou funcionários reais (os xerifes
xerifes)) para administrá-los. Além disso,
era o nome dado ao
funcionário encarregado proibiu as guerras particulares entre a nobreza. Com essas medidas,
de administrar e o rei Guilherme submeteu a nobreza, dando início ao processo de
exercer a autoridade
fortalecimento do poder real inglês. A conquista da Inglaterra liderada
sobre um condado.
por ele foi registrada na famosa Tapeçaria de Bayeux..
A Tapeçaria de Bayeux é uma obra de 70 metros de comprimento que descreve em 58
cenas a conquista da Inglaterra pelos normandos liderados por Guilherme, o Conquistador.
Atualmente, ela se encontra no Museu de Bayeux, na cidade de mesmo nome, no norte
da França. Note, a seguir, que a narrativa lembra uma história em quadrinhos.
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Detalhe da Tapeçaria de Bayeux. Inglaterra,


século XI. Normandos desembarcam cavalos
necessários à guerra de conquista.
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Detalhe da Tapeçaria de Bayeux. Inglaterra,


século XI. Normandos constroem fortificações
para melhor combater os ingleses.

126

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Detalhe da Tapeçaria de Bayeux.
Inglaterra, século XI. Guilherme,
o Conquistador, encoraja seus homens
na luta pela conquista da Inglaterra.
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Henrique II (1154-1189), um dos sucessores de Guilherme I,


acelerou o processo de fortalecimento do poder real exigindo # DICA!
que todas as questões fossem julgadas por tribunais reais, e não
Trecho do filme
pelos da nobreza. Ricardo Coração de Leão,, seu filho e sucessor, Robin Hood, no qual
passou a maior parte do tempo fora do país lutando nas Cruzadas. o rei João Sem Terra
discursa aos nobres.
João sem Terra (1199-1216), irmão de Ricardo, envolveu-
ROBIN Hood. 2010.
-se em guerras demoradas e perdeu boa parte das terras que Vídeo (5min38s).
sua família possuía na França; por isso, o rei João ganhou esse Publicado pelo canal
Maria Helena Gomes
apelido. Para custear gastos militares, João determinou sucessivos
Martins. Disponível
aumentos de impostos, provocando uma revolta da nobreza, que em: https://youtu.be/
o obrigou a assinar a Magna Carta (1215). Leia a seguir um trecho fewsJRD9114. Acesso
em: 21 jun. 2022.
desse documento.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

A Carta Magna
João, pela graça de Deus, rei da Inglaterra, senhor da Irlanda, duque da Normandia
e da Aquitânia, conde de Anjou, [...] [determina que]:
[...] Nenhum imposto [...] será estabelecido no nosso reino, sem o consenso geral [...].
Para obter o consenso geral a fim de lançar [...] impostos [...] mandaremos convocar
[...] os arcebispos, bispos, abades, condes e grandes barões por meio de cartas, e além
disso mandaremos convocar [...] todos os nossos vassalos diretos. [...]
Todos os mercadores poderão livre e seguramente sair da Inglaterra, nela entrar,
permanecer e passar, quer por terra quer por água, para comprar e vender, sem
receio de extorsões ilegais de acordo com o antigo costume. [...]
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas.
São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 234-237.

a) Que elementos do texto indicam que João sem Terra era um membro da nobreza?

b) Quais grupos o rei se comprometia a consultar em caso de aumento de impostos?

c) A Magna Carta também favorecia a burguesia? Justifique.

d) Pode-se dizer que a Magna Carta limitou o poder do rei? Justifique.

127

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Henrique III (1216-1272) desrespeitou a Magna Carta, impondo a cobrança de novos
impostos, o que provocou outra revolta da nobreza. A burguesia também participou dessa
revolta e, com isso, ganhou o direito de fazer parte do Grande Conselho, que, em 1265,
passou a ser chamado de Parlamento.. Os reis medievais convocavam e dissolviam o
Parlamento e também propunham o assunto a ser debatido.
Com o tempo, o Parlamento ganhou força e foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos
Lordes,, integrada por representantes do clero e da alta nobreza (barões, condes e duques),
e a Câmara dos Comuns,, formada por representantes da pequena nobreza e da burguesia.
DEA PICTURE LIBRARY/GETTY IMAGES

Iluminura do século XIII, em que está representado o rei inglês Eduardo I (1272-1307), filho de
Henrique III, dirigindo uma reunião do Parlamento. Como a criação de novos impostos dependia
da aprovação do Parlamento, o rei recorria a ele em busca de apoio; o Parlamento, por sua vez,
usava seu poder para aumentar sua influência. Assim, criou-se na Inglaterra uma tradição
segundo a qual o poder de governar não cabia apenas ao rei, mas ao rei e ao Parlamento juntos.

128

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Reino da França (1173) A monarquia francesa

ALLMAPS

Na França, o primeiro rei a impor sua autoridade
REINO DA
ESCÓCIA Mar do
a todos os grupos sociais foi Felipe Augusto (1180-
Norte
1223). Felipe conquistou feudos imensos casando-se
PAÍS DE
GALES por interesse, comprando terras dos nobres e usando
REINO a força de um exército profissional assalariado para
OCEANO fortalecer o poder real. Para a capital do reino,
ANÇA

DA
ATLÂNTICO
Felipe Augusto escolheu a cidade de Paris.
DA FR

INGLATERRA
IMPÉRIO
REINO DE GERMÂNICO
LEÃO REINO
NO

DE Reino da França (1230)


EI

CONDADO NAVARRA
R

PORTUCALENSE REINO

ALLMAPS

REINO DE DE ARAGÃO
CASTELA

Green o de
40° N

wich
REINO DA

n
CALIFADO ALMÔADA

Meridia
Mar Mediterrâneo ESCÓCIA
Mar do
Norte
PAÍS DE
0 410 GALES
REINO
DA
INGLATERRA

OCEANO
ATLÂNTICO
REINO
DA
FRANÇA
IMPÉRIO
REINO GERMÂNICO
DE
REINO
DE
NAVARRA França (limites atuais)
PORTUGAL REINO

ALLMAPS
REINO DE DE ARAGÃO 0° Mar do
CASTELA Norte PAÍSES
40° N REINO BAIXOS
UNIDO
CALIFADO ALMÔADA ALEMANHA
Mar Mediterrâneo BÉLGICA

50° N
h

LUXEMBURGO
enwic

0 410 Paris
e Gre
iano d

OCEANO
SUÍÇA
Merid

ATLÂNTICO FRANÇA

ITÁLIA

No mapa acima, vê-se o território da França antes do reinado MÔNACO

de Felipe Augusto; no mapa do centro, a França depois dele. ANDORRA


ESPANHA Córsega
Comparando esses dois mapas, percebe-se que, sob o reinado de
Felipe Augusto, o território da França tornou-se três vezes maior.

Mar
Mediterrâneo
0 230

Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo, 1990. p. 71-79.

Luís IX (1226-1270) também contribuiu para a centralização do poder na França ao


permitir que todo aquele que fosse condenado por um tribunal da nobreza recorresse a
um tribunal do rei, além de impor uma moeda única para todo o reino da França.

129

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

O texto a seguir é de 1265. Leia-o com atenção.


Que ninguém possa fazer moeda semelhante àquela do rei [...].
Que nenhuma moeda seja aceita no reino, a partir da festa de São João [...] fora da
moeda do rei, e que ninguém venda, compre e faça negócios senão com esta moeda. E
a moeda do rei pode e deve correr no seu reino inteiro, sem oposição de outras moedas
particulares que possam existir.
[...] E que ninguém possa danificar a moeda do rei, sob pena física e multa.
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas.
São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 243.

a) Q
 uem é o respon-

BRIDGEMAN/FOTOARENA
sável por esse texto
e qual é o lugar
que o autor ocupa
na sociedade?

b) C
 omo você chegou
a essa conclusão?

c) Contextualize. A que
processo histórico
se pode relacionar
esse documento de
época?

O rei Luís IX embarca para


as Cruzadas. Repare que
seu manto é bordado com
a flor-de-lis, símbolo da
monarquia francesa.
Século XV.

Felipe IV,, o Belo (1285-1314), deu continuidade à centrali- Clero: conjunto de sacerdotes
zação política, exigindo que o clero também pagasse impostos. de uma religião; no caso,
bispos, arcebispos, padres.
Como o papa se opôs a essa decisão, Filipe IV convocou os Estados Gerais: assembleia
Estados Gerais,
Gerais, que, em 1302, aprovaram sua decisão. Assim, formada por representantes
pouco a pouco, o rei foi ganhando poder e impondo sua auto- da nobreza, do clero e da
burguesia.
ridade a todo o reino.

130

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Guerras que fortaleceram o rei
Duas importantes guerras também colaboraram para a centralização política na
Europa: a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que enfraqueceu a nobreza, pois muitos
nobres morreram no conflito, e as guerras de religião.
As guerras de religião foram uma série de conflitos armados entre católicos e hugue-
notes ocorrida na segunda metade do século XVI. Esses conflitos opuseram duas grandes
famílias da nobreza – a dos Guise, católica, e a dos Bourbon, protestante – e resultaram
em episódios sangrentos. Um deles ocorreu em 24 de agosto de 1572, na França, quando
a rainha Catarina de Médici, interessada em afirmar o poder monárquico, ordenou a
matança de protestantes. A violência se estendeu ao interior do país, ocasionando a morte
de 30 mil protestantes. O episódio ficou conhecido como A Noite de São Bartolomeu.

COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA

A Noite de São Bartolomeu, 1572, de Gaspard Bouttats, c. 1670.

Na França, as guerras entre católicos e protestantes chegaram ao fim no reinado de


Henrique IV que, ao assumir o trono em 1589, renunciou ao protestantismo com a célebre
frase: “Paris bem vale uma missa”. Nove anos depois, ele assinou o Édito de Nantes,, que
concedia liberdade religiosa aos protestantes.

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O absolutismo
Durante o processo de centralização política, algumas monarquias Absolutismo:
absolutismo,, regime político caracterizado por regime político que
europeias adotaram o absolutismo
se desenvolveu na
uma grande concentração de poder nas mãos do rei. Os monarcas Europa ocidental entre
absolutistas podiam convocar o exército, criar e cobrar impostos, fazer os séculos XV e XVIII.
leis e declarar guerra a outros reinos. Mas, ao contrário do que possa O absolutismo teve,
portanto, tempo e
parecer, o poder do rei absolutista tinha limites; ele tinha seu poder lugar definidos.
limitado pelos costumes da época, pela tradição e pela existência de
ministros fortes. Entre os fatores que contribuíram para o estabelecimento do absolutismo
estão: o aperfeiçoamento da imprensa, a Reforma Protestante e a política de caça às bruxas.
A imprensa melhorou o sistema de comunicação em toda a extensão do reino, aumen-
tando o poder do rei sobre seus súditos. A Reforma Protestante enfraqueceu o poder
universal do papa, propiciando, assim, o fortalecimento do poder do rei. A política de caça
às bruxas foi aplicada contra as populações camponesas: inicialmente os reis espalhavam o
pânico no campo, acusando os camponeses, sobretudo mulheres, de praticarem feitiçaria.
Depois, com a desculpa de combatê-la, os reis condenavam essas pessoas à morte na
fogueira ou na forca. E, dessa forma, estendiam sua autoridade também ao campo.
GRANGER/FOTOARENA

Gravura do século XVI que mostra camponesas alemãs sendo queimadas sob a acusação de bruxaria.
A imagem representa um fato real ocorrido em 1555. Os reis passaram a definir o crime de feitiçaria
como de lesa-majestade (traição ao rei) e, com essa justificativa, reprimiram brutalmente homens e,
principalmente, mulheres, camponeses em sua maioria.

132

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Teóricos do absolutismo
Conforme os reis impunham sua autoridade, em toda a extensão do reino surgiam
pensadores que refletiam sobre o absolutismo monárquico. Alguns deles, como veremos
a seguir, justificavam esse regime político.
Thomas Hobbes (1588-1679): filósofo inglês e autor da obra Leviatã,, dizia que, no
princípio, os homens viviam em estado natural, obedecendo apenas aos seus interesses
particulares. Por isso, a vida era uma guerra permanente de “todos contra todos” e o
homem era o “lobo do homem”. Então, para evitar a destruição da humanidade, os seres
humanos teriam renunciado a todo direito e a toda liberdade em favor de um único senhor,
o Estado absolutista. Portanto, segundo Hobbes, foram os próprios seres humanos que
entregaram seu poder a um homem, o monarca absolutista.
Jacques Bossuet (1627-1704): bispo francês e autor de A política tirada da Sagrada
Escritura,, uma teoria apoiada na Bíblia. Para Bossuet, o rei era o representante de Deus
na Terra e, como tal, era infalível. Assim, o direito que
o rei tinha de governar de modo absoluto era de
origem divina; por isso, a teoria criada por Bossuet é
chamada de Teoria do Direito Divino dos Reis..
Segundo essa teoria, o maior crime que um
súdito podia cometer seria o de traição
ao rei (lesa-majestade).

LEONARD DE SELVA/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Jacques-Benigne
Lignel Bossuet.
Escola Francesa, 1814.

133

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O reinado de Luís XIV, o Rei-Sol
O absolutismo variou no tempo e no espaço. O rei que melhor encarnou o absolutismo na
Europa ocidental foi o francês Luís XIV (1643-1715), o Rei-Sol, que reinou de fato por 54 anos.
No poder, ele julgava e punia; dava ordens e fiscalizava sua execução; decidia pessoalmente
pelo Estado francês. Enfim, agia de acordo com a frase atribuída a ele: “O Estado sou eu”.
Durante seu longo reinado, além de usar o exército para impor sua autoridade,
Luís XIV procurou também atender aos interesses da nobreza e da burguesia. Atraiu a
nobreza, distribuindo pensões e cargos bem remunerados. E, na sua corte, no famoso
Palácio de Versalhes (residência do rei), abrigava e sustentava milhares de outros nobres,
garantindo-lhes uma vida de luxo e ostentação.
SEBASTIENDURAND/SHUTTERSTOCK.COM

Detalhe do portão do
Palácio de Versalhes,
decorado com a
flor-de-lis, símbolo
do Rei-Sol. Versalhes
(França), fotografia
de 2017.

Para agradar a burguesia, o rei entregou a direção da economia a Jean-Baptiste Colbert,


membro de uma importante família burguesa. Para manter a balança comercial favorável,
Colbert aumentou os impostos sobre os produtos estrangeiros, dificultando sua entrada no
país, e diminuiu os impostos sobre as exportações francesas. Além disso, concedeu prêmios
em dinheiro a várias manufaturas francesas, sobretudo as de artigos de luxo.
Colbert estimulou a economia, mas não conseguiu equilibrar as finanças, principal-
mente por causa dos gastos escandalosos da corte, das sucessivas guerras externas e da
fuga de investimentos, motivada pela intolerância religiosa. É que, em 1685, o Rei-Sol
proibiu a liberdade de culto dos protestantes (muitos deles ricos negociantes), que, por
isso, deixaram o país rumo à Suíça, Inglaterra e Holanda, levando com eles seus capitais.

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PARA SABER MAIS
O barroco europeu
Na Europa de Luís XIV, o estilo de pintura predominante foi o barroco; esse estilo
surgiu na Itália no final do século XVI e tinha como principais características:
• disposição dos elementos na tela quase sempre em diagonal, dando a ideia de
movimento;
• gosto pelas oposições, com acentuado contraste entre o claro e o escuro e entre luz
e sombra;
• predominância de temas religiosos, ou ligados à vida da nobreza ou ainda ao cotidiano
das pessoas comuns.
Na Espanha, viveu um importante representante do barroco: o pintor Diego
Velázquez, um filho de nobres nascido em 1599, em Sevilha, que na época era a cidade
mais rica da Espanha. Ele retratou ÓLEO SOBRE TELA, 100,5 CM × 119 CM. BRIDGEMAN/FOTOARENA

indivíduos da nobreza espanhola


do século XVII e também pessoas
simples do povo. Observe as
imagens ao lado.

A velha cozinheira, de Diego Velázquez,


1618. Nessa imagem, o autor usa tons
escuros para o fundo e ilumina os rostos e
os objetos que pretende destacar.

ÓLEO SOBRE TELA, 163,8 CM × 198,7 CM. BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Outro artista filiado Flamengo: natural


das terras que hoje
ao barroco é o flamengo correspondem
Anthony van Dyck. Pintor aos territórios
oficial da corte de Carlos I da da Bélgica e da
Holanda.
Inglaterra, ele representou o
modo de viver, de se vestir e de se comportar
próprio da nobreza inglesa do século XVII.

Os filhos de Carlos I,
de Anthony van Dyck, 1637.

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O mercantilismo: riqueza e poder para o Estado
As monarquias absolutistas europeias adotaram um conjunto Mercantilismo: o
de ideias e práticas econômicas que, mais tarde, foram chamadas termo deriva do alemão
de mercantilismo
mercantilismo.. O mercantilismo é um conjunto de ideias e merkantilismus. As
monarquias absolutistas
práticas adotado pelas monarquias absolutistas europeias, entre os deram grande apoio às
séculos XV e XVIII, para conseguir riqueza e poder. É importante atividades comerciais
(mercantis); daí o
lembrar que absolutismo e mercantilismo caminham juntos; são
nome mercantilismo.
duas faces da mesma moeda.
SHARON WILEY/FLORIDA KEYS NEWS BUREAU/AFP

Joias encontradas em restos de


um navio espanhol do século XVII.
Nuestra Señora de Atocha foi o
navio que afundou na Flórida
em 1622, e levava cobre, prata,
ouro, tabaco, pedras preciosas,
joias e anil da Espanha para
Cartagena, Porto Belo e Havana.
Flórida (EUA), 2011.

Principais características do mercantilismo


Entre as principais características do mercantilismo, podemos citar:
• metalismo:: crença segundo a qual quanto mais ouro e prata uma nação possuísse, mais
rica ela seria. Com base nessa crença, procurava-se acumular metais preciosos no país;
• balança comercial favorável:: princípio decorrente do metalismo. Na época, o dinheiro
era feito de ouro e prata; assim, a forma de reter ouro e prata em um país era exportar
o máximo e importar o mínimo, mantendo-se assim a balança comercial favorável;
• protecionismo:: incentivo ao comércio e à manufatura nacionais, protegendo-os da
concorrência estrangeira. Recomendava-se, por exemplo, o aumento dos impostos sobre
os produtos estrangeiros a fim de torná-los mais caros, favorecendo os similares nacionais;
• exclusivo colonial:: as colônias deviam comerciar exclusivamente com suas metrópoles.
Um exemplo: os colonos da América espanhola deveriam comerciar somente com a
Espanha (metrópole) e comprar somente dos espanhóis aquilo de que necessitassem.
Mas, na prática, não era isso que ocorria; muitas vezes, os colonos comerciavam
diretamente com outros países e continentes.

136

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O mercantilismo

IVAN PONOMAREV/SHUTTERSTOCK.COM
FER GREGORY/SHUTTERSTOCK.COM

BENTINHO
a) Acumular ouro e prata b) Manter a balança
em seus países. comercial favorável
(exportando mais do
que importando).

METRÓPOLE
COMÉRCIO

MYSTICALINK/SHUTTERSTOCK.COM
COLÔNIA
c) Proteger da concorrência estrangeira os
produtos nacionais, como tecidos de seda, d) As colônias só deviam
e, no caso da França, dificultando a entrada poder comerciar com
de mercadorias estrangeiras em seus reinos. suas metrópoles.

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O mercantilismo variou no tempo e no espaço
Na Espanha do rei Felipe II (1556-1598) predominou o metalismo; a Espanha buscou
acumular metais preciosos. Já na França de Colbert predominou o protecionismo; o governo
intervinha na economia, protegendo as manufaturas francesas.
A Inglaterra da rainha Elizabeth I (1558-1603) adotou o protecionismo; empenhou-
-se em incentivar o comércio exterior e a marinha mercante de seu país. Para incentivar
o comércio exterior, Elizabeth I
LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

concedia prêmios às manufaturas


inglesas, enquanto aumentava
os impostos sobre os produtos
estrangeiros, principalmente dos
tecidos franceses. Ela também
protegeu a indústria naval e a
mineração. Por estar em uma
ilha, a Inglaterra precisava de
navios para comerciar com outros
países. E, para fazer navios, pre-
cisava de madeira e de ferro.
A monarquia inglesa também
acumulou capitais custeando e
apoiando a pirataria nas costas
da América, da África e da Ásia.

Drake navega pelo


mundo, de Peter
Jackson, 1964.
Corsário: pirata
O corsário Francis
que tinha carta
Drake conta à rainha
de corso, licença
Elizabeth I seu plano
para a prática
ousado de velejar ao da pirataria.
redor do mundo.

Essas medidas dos reis absolutistas fortaleceram os Estados nacionais e, ao mesmo


tempo, promoveram o crescimento de um grupo social que lucrava com o comércio, a bur-
guesia mercantil. O acúmulo de capitais por meio da circulação de mercadorias preparou
o caminho para a Revolução Industrial. Assim, o mercantilismo criou as condições para a
emergência do capitalismo.. O capitalismo é um sistema socioeconômico caracterizado
por propriedade privada dos meios de produção (terras, fábricas, equipamentos etc.),
relações assalariadas de trabalho e produção visando ao lucro.
Por isso, para alguns historiadores, o mercantilismo foi um período de transição para
o capitalismo.

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A formação das monarquias ibéricas
Tanto a monarquia portuguesa quanto a monarquia espanhola se formaram durante
as lutas dos cristãos para expulsar os árabes muçulmanos da Península Ibérica. Essas lutas
são chamadas de Reconquista,, pois o objetivo dos cristãos era justamente reconquistar
as terras perdidas para os árabes.
Com a invasão dos árabes muçulmanos, a liderança cristã se retirou para o norte da
Península Ibérica, onde fundou os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão. A partir do
século IX, no entanto, animada pelo espírito das Cruzadas e pelas desavenças entre os
próprios muçulmanos, a liderança cristã iniciou as lutas de Reconquista. Acompanhe esse
processo nos mapas a seguir.

Reconquista da Península Ibérica

ALLMAPS
ALLMAPS

Século XI Século XII


LEÃO
40°
N
LEÃO NAVARRA 40° NAVARRA
N
CASTELA ARAGÃO
CONDADO DE PORTUGAL
BARCELONA CASTELA ARAGÃO
CONDADO DA
CATALUNHA

CALIFADO DE CÓRDOBA
OCEANO
ATLÂNTICO
REINO ALMORÁVIDA
Mar Mar
OCEANO Mediterrâneo Mediterrâneo
ATLÂNTICO

ÁFRICA 0° ÁFRICA
0 250 0 250
ALLMAPS

ALLMAPS
Século XIII Século XV
LEÃO
FRANÇA FRANÇA
40° NAVARRA 40°
N N NAVARRA

PORTUGAL ARAGÃO
PORTUGAL ARAGÃO
OCEANO CASTELA OCEANO CASTELA
ATLÂNTICO ATLÂNTICO
ALGARVE
CALIFADO ALMÔADA
Mar Mar
GRANADA Mediterrâneo GRANADA Mediterrâneo

0° ÁFRICA 0° ÁFRICA
0 250 0 250

Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann.


Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. p. 182.

Como se vê nessa sequência de mapas, a partir do século XI os reinos cristãos reconquistaram pouco a
pouco os territórios perdidos para os árabes na Península Ibérica, processo em meio ao qual se formaram
os reinos de Portugal e da Espanha.

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A formação de Portugal
No século XI, o nobre Henrique de Borgonha ganhou do rei de Leão e Castela, como
recompensa por sua participação na luta contra os árabes, uma faixa de terra: o Condado
Portucalense.. Seu filho e herdeiro, Afonso Henriques, continuou a combater os árabes e,
ao mesmo tempo, liderou a luta para conquistar a independência do condado. Em 1139,
ele rompeu com o reino de Leão e Castela e proclamou a independência do condado, fun-
dando assim o Reino de Portugal. Afonso Henriques sagrou-se rei, o primeiro de Portugal,
e deu início à dinastia de Borgonha. Os reis dessa dinastia continuaram lutando contra os
árabes e, em 1249, incorporaram as terras do Algarve, na região sul. Completou-se assim
a formação do Reino de Portugal.

A formação da Espanha
Na região vizinha a Portugal, a
luta dos cristãos contra os árabes
muçulmanos era liderada pelos reis
de Aragão e Castela. No século XIII,
esses dois reinos contavam com
cidades portuárias movimentadas,
como Barcelona, por exemplo,
e uma burguesia próspera que
colaborava com a monarquia forne-
cendo dinheiro para a luta contra os
árabes de religião muçulmana.
Em 1469, ocorreu um fato deci-
sivo para a formação da Espanha: os
reis cristãos Fernando de Aragão e
Isabel de Castela se casaram e uniram
suas terras e seus esforços no combate
aos árabes. Em 1492, os exércitos de
Fernando e Isabel ampliaram seu terri-
tório reconquistando Granada, último
PICTURES FROM HISTORY/AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

reduto árabe na Península Ibérica.


Anos depois, com a conquista de
Navarra, completou-se a formação do
Reino da Espanha.

Os reis católicos Fernando II de Aragão


e Isabel I de Castela com sua filha,
Joana de Castela, em obra de obra
de Pedro Marcuello, 1482.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Faça no caderno um quadro sobre as relações dos grupos sociais com a monarquia
na Europa ocidental a partir do século XI. Escreva o objetivo de cada um dos grupos
sociais listados abaixo em relação à monarquia. Na primeira coluna, copie as pergun-
tas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
Título do quadro: Relação dos grupos sociais com a monarquia
a) Burguesia
b) Nobreza
c) Camponeses

2 Qual foi a consequência política da aproximação dos grupos sociais com o rei?

3 Leia as afirmativas com atenção.


I. Na Inglaterra, Guilherme I exigiu um juramento de fidelidade dos senhores feudais.
II. Na França, o primeiro monarca a impor sua autoridade foi Felipe Augusto.

Escreva no caderno as alternativas corretas. Com base no que você estudou e nessas
afirmativas, pode-se dizer que o processo de formação do Estado Moderno, nos
diferentes países europeus:
a) aconteceu em tempos distintos.
b) foi gradual.
c) aconteceu apenas no século XII.
d) ocorreu de forma rápida.

4 Leia o texto a seguir com atenção.

Privilégios de Henrique II aos tecelões de Londres (1154-1162)


Henrique pela graça de Deus, rei da Inglaterra, duque da Normandia e
Aquitânia, conde de Anjou, aos bispos, juízes, viscondes, barões, oficiais e a todos
os seus fiéis [...].
Sabei que concedi licença aos tecelões de Londres para Guilda: associação que
terem a sua guilda em Londres, com todas as liberdades e agrupava indivíduos com
interesse comum.
costumes que tinham no tempo do rei Henrique (I), meu

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avô e assim, que ninguém dentro da cidade se
LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

intrometa neste ofício salvo por permissão (dos


tecelões) [...]. Por isso quero e ordeno firmemente
que eles possam praticar legalmente o seu ofício
em toda a parte [...]. Assim paguem-me sempre
em cada ano 2 marcos de ouro pela festa de
S. Miguel. E proíbo a quem quer que seja fazer-
-lhes injúria ou insulto a este respeito, sob pena
de 10 libras de multa [...]. Em Winchester.
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média:
textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 167.

Gravura representando
o Rei Henrique II.
Escola Inglesa, século XIX.

a) Quem escreveu esse texto?


b) No texto, o que o rei concede aos tecelões de Londres?
c) O que o rei exige em troca da concessão?
d) Relacione o conteúdo do texto ao processo de fortalecimento do poder dos reis na Europa.
e) Com base no texto, é possível afirmar que o rei é um nobre? Justifique.

5 Observe a sequência de mapas a seguir.

Reino da França (1173) O mapa à esquerda Reino da França (1230)


representa o terri-
ALLMAPS

ALLMAPS
0° 0°

tório da França antes


Green o de
wich

REINO DA
do reinado de Felipe REINO DA
n
Meridia

ESCÓCIA Mar do ESCÓCIA


Norte
Augusto; o mapa Mar do
Norte
PAÍS DE PAÍS DE
GALES à direita, a França GALES
REINO

REINO
depois dele. DA
INGLATERRA

OCEANO
a) O que se pode con- OCEANO
ANÇA

DA
ATLÂNTICO cluir comparando os ATLÂNTICO
REINO
DA
dois mapas?
DA FR

INGLATERRA FRANÇA
IMPÉRIO IMPÉRIO
REINO DE
REINO
GERMÂNICO b) De que forma o rei REINO GERMÂNICO
LEÃO
NO

DE
DE
Felipe Augusto agiu REINO NAVARRA
EI

CONDADO NAVARRA DE
R

REINO
PORTUCALENSE REINO para conseguir o PORTUGAL
DE ARAGÃO
REINO DE DE ARAGÃO REINO DE
CASTELA
CASTELA
40° N que vemos repre- 40° N
CALIFADO ALMÔADA
Mar Mediterrâneo sentado no mapa CALIFADO ALMÔADA
Mar Mediterrâneo

da direita?
0 410 0 410

Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo, 1990. p. 71-79.

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6 Observe a imagem e, depois, responda às questões.

MUSEU DOBRÉE, NANTES, FRANÇA

Ilustração de
um manuscrito
de 1504.
a) Quem é a personagem?
b) Ela lutou contra os ingleses em uma guerra. Qual guerra foi essa?
c) O que foi essa guerra e o que a motivou?
d) Que construções são essas que vemos ao fundo e o que elas lembram?

7 O absolutismo é um regime político que se caracteriza por uma grande concentração


de poder nas mãos do rei. Explique como cada um dos fatores a seguir relacionados
contribuiu para o estabelecimento do absolutismo.
a) A imprensa.
b) A Reforma Protestante.
c) A política de caça às bruxas.

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8

BRIDGEMAN/FOTOARENA
Observe a imagem com atenção.
O personagem central desta pintura,
o rei francês Luís XIV, está represen-
tado como Apolo, deus grego do Sol
e da música.
a) Por que será que a cabeça do rei está
circundada por raios luminosos?
b) E esses louros que estão em sua
cabeça, o que significam?
c) Você considerou o título da pintura
adequado a ela? Justifique.
d) Com que intenção essa pintura teria sido
feita?

Triunfo de Luís XIV,


gravura de José Werner,
século XVII.

9 Sobre o regime absolutista, copie em seu caderno a alternativa correta. Em seguida,


corrija as incorretas.
a) O absolutismo é um regime político cujo poder está extremamente concentrado nas mãos da
nobreza.
b) O poder dos monarcas absolutistas não tinha nenhum tipo de limite.
c) Contribuíram para o estabelecimento do absolutismo o aprimoramento da imprensa, a
Contrarreforma e a política de caça às bruxas.
d) Thomas Hobbes acreditava que os homens haviam renunciado aos direitos e à liberdade em
favor do Estado absolutista.

10 Quais das características a seguir diz respeito ao mercantilismo? Justifique.


a) Metalismo.
b) Balança comercial favorável.
c) Liberalismo.
d) Exclusivo colonial.

11 Compare o processo da formação da monarquia portuguesa ao da monarquia espa-


nhola, apontando uma semelhança e uma diferença.

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do passado
Leia o texto a seguir com atenção.

O que é rei e como é colocado no lugar de Deus (XIII)


Vigários de Deus são os reis cada um no seu reino Vigário de Deus: no texto,
situados sobre as gentes para mantê-las em justiça e em tem o sentido de substituto
de Deus na Terra.
verdade [...] assim como o imperador no seu império. E
isto demonstra-se amplamente de duas maneiras: a primeira delas é espiritual
segundo o mostraram os profetas e os santos [...]; a outra é, segundo a natureza,
assim como demonstraram os homens sábios [...]. E os santos disseram que o rei é
senhor colocado na terra no lugar de Deus para cumprir a justiça e dar a cada um
o seu direito, e além disso o chamaram coração e alma do povo [...]. E na ordem
natural disseram os sábios que o rei é cabeça do reino, porque assim como da
cabeça nascem os sentidos que comandam todos os membros do corpo, assim pelo
mandado do rei, que é o senhor e a cabeça de todos os do reino, devem-se dirigir,
e guiar e estar de acordo com ele para o obedecer e auxiliar e proteger e manter o
reino no qual ele é alma e cabeça, eles são os membros.
Afonso X, o Sábio.
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média:
textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 217.
a) Quem é o autor do texto?
b) Q
 ue posição ele ocupava na
sociedade?
c) Q
 ue argumentos ele usa
para defender a ideia de que
os reis são vigários de Deus?
d) P ara o autor do texto, quem
é o rei e quem são os súditos
de um reino?
e) E m que teoria o autor do
texto se baseia para desen-
volver seus argumentos?

O rei Afonso X em uma Ilustração


do Livro dos jogos, 1282.
ORONOZ/ALBUM/FOTOARENA

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Vozes do presente
Veja o que um historiador atual diz sobre a etiqueta na corte de Luís XIV.

[...] os observadores registravam que todos os atos do rei eram planejados “até o
mínimo gesto”. Os mesmos eventos se produziam todos os dias nas mesmas horas,
a tal ponto que uma pessoa poderia acertar seu relógio pelo rei.
Havia normas formais para a participação nesse espetáculo – quem tinha
direito a ver o rei, a que horas e em que partes da corte, se tal pessoa podia se
sentar numa cadeira ou num tamborete [...] ou tinha que permanecer de pé. [...]
Luís esteve no palco durante quase toda a sua vida [...]. Os objetos materiais mais
intimamente associados ao rei também se tornavam sagrados [...]. Assim, era uma
ofensa dar as costas ao retrato do rei [...], entrar em seu quarto de dormir vazio sem
fazer uma genuflexão ou conservar o chapéu na sala em Genuflexão: ato de veneração
que a mesa está posta para o seu jantar. pelo qual dobramos nosso
joelho direito até tocar o solo
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. e voltamos à posição normal.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. p. 101-102.

DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
O doge de Gênova em
Versalhes, de Claude
Hallé, 1685. A tela
registra o momento
em que o governante
da cidade italiana de
Gênova reverencia o rei
Luís XIV. Na ocasião,
o governante fez um
discurso pedindo
desculpas ao rei e
retirou o chapéu a cada
vez que pronunciou o
nome dele.

a) C
 opie no caderno o trecho que prova que a vida na corte de Luís XIV obedecia a uma etiqueta
e a uma hierarquia rígidas.
b) Segundo o texto, como o rei agia em público?
c) N
 o segundo parágrafo, o autor afirma que era uma ofensa “entrar no quarto vazio do rei sem
dobrar o joelho”. O que isso diz sobre a figura do rei?
d) A qual dos autores estudados neste capítulo se pode associar este texto?

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CAPÍTULO

7 AS GRANDES
NAVEGAÇÕES

TAMARA KLINK
Tamara Klink navegando em Thyboron (Dinamarca), 2020.

A personagem fotografada é a velejadora brasileira Tamara Klink. Você já ouviu falar dela?
As viagens marítimas nos barcos a vela atuais são muito mais seguras do que foram
no passado. Os velejadores de hoje contam com instrumentos de precisão, alta tecnologia
de informação, quantidade suficiente de comida, conhecimento do regime dos ventos,
mapas e roteiros muito bem-feitos.
Já os navegadores europeus dos séculos XV e XVI não tinham rádio para pedir socorro
em caso de tempestade, seus mapas eram imprecisos e seus roteiros de viagem, incom-
pletos. Mas, apesar disso, eles se lançaram ao mar em viagens de longa distância. Nessa
aventura marítima encontraram terras e povos desconhecidos para eles e chegaram a dar
uma volta inteira ao redor da Terra. Como será que conseguiram tal proeza?

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Desbravando mares
Você já imaginou o que é viajar para lugares distantes em embarcações frágeis e
pequenas? Viajar em barcos lotados e com pouco espaço para os tonéis de água? Viajar
sem certeza do caminho a ser seguido? Pois bem, esses foram alguns dos desafios enfren-
tados pelos europeus durante as Grandes Navegações: conjunto de viagens de longa
distância realizadas pelos europeus durante os séculos XV e XVI.
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EM
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Fonte: NOVO Conhecer.


São Paulo: Abril, 1977. v. 7. p. 1657.

Mapa elaborado com base nos escritos de Ptolomeu, do século II.

# DICA!
Animação sobre as motivações e as invenções que propiciaram as Grandes Navegações.
GRANDES Navegações. 2011. Vídeo (5min3s). Publicado pelo canal Tchibum!
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lS_UYBPSTds. Acesso em: 6 jun. 2022.

Dialogando
O mapa de Ptolomeu (90-168), um sábio da Antiguidade, foi um dos instrumentos
de que os europeus dispunham no início das Grandes Navegações.
a O que os europeus conheciam do mundo na época em que esse mapa foi feito?
b No mapa de Ptolomeu, o sul da África é chamado de “terra incógnita”. O que isso significa?

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Enfrentando perigos
Para velejar em alto-mar os europeus daqueles tempos enfrentaram perigos reais e
imaginários.
Entre os perigos reais estavam ventos desfavoráveis, ameaças de encalhe, lugares
estranhos, fome, doenças e sede no interior dos navios.
Os perigos imaginários também eram muitos. Por exemplo, a crença de que a Terra
era achatada e que aquele que se afastasse muito do litoral cairia num abismo; de que
na altura da linha do Equador os navios se incendiariam; de que o mar era habitado por
monstros terríveis etc.

COLEÇÃO PARTICULAR
Nessa gravura de 1558, vemos a serpente marinha, um dos monstros que os europeus daquela época
acreditavam que existisse no oceano Atlântico.

Se era assim tão perigoso, por que, então, os europeus se lançaram às Grandes
Navegações? É o que veremos a seguir.

O comércio de especiarias orientais


no século XIV Cruzado: nome dado ao
indivíduo integrante das
Quando os cruzados voltavam do Oriente, depois de terem Cruzadas pelo fato de
ter na roupa o desenho
combatido os muçulmanos, traziam com eles especiarias
especiarias,, como de uma cruz.
pimenta-do-reino, cravo, canela, gengibre, mostarda, noz-moscada, Especiaria: do latim,
entre outras. Por sua capacidade de conservar os alimentos e de species, que significa
torná-los mais saborosos, esses temperos passaram a ser cada vez espécie. Na Europa
medieval, especiaria
mais consumidos na Europa no decorrer do século XIV. Além das era o nome dado a um
especiarias, os europeus passaram a consumir também os artigos produto especial, que
de luxo orientais, como os tecidos de algodão da Índia, os tapetes servia como tempero,
remédio ou perfume.
da Pérsia, a seda e a porcelana da China e as pérolas do Japão.

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Importantes especiarias da época das Grandes
Navegações
Canela
VALERY121283/
SHUTTERSTOCK.COM

Originária do Ceilão [atual Sri Lanka], é a mais antiga das


especiarias. Hoje, além de tempero, é usada como aromatizante,
na fabricação de licores e outras bebidas, na feitura de doces, como
estimulante, como remédio antidiarreico, entre outras finalidades.
Açafrão
VASILEVICH ALIAKSANDR/
SHUTTERSTOCK.COM

É a especiaria mais cara do mundo. Os monges budistas


tingem suas vestes com o amarelo do açafrão, ligado ao simbo-
lismo da iluminação e da sensatez.
Cravo
Também chamado de “cravo-da-índia” ou “cravinho”. Embora
PAIROJ SROYNGERN/
SHUTTERSTOCK.COM

conhecido desde muito antes de Cristo, só chegou à Europa no


século IV. Apenas no século XVI os europeus chegaram às ilhas
Molucas, lugar de origem do cravo. [...]
Noz-moscada
[…] nativa das Ilhas Banda, nas Molucas […]. No interior do
fruto a pesada semente, a noz-moscada, está coberta por uma
NATALY STUDIO/
SHUTTERSTOCK.COM

malha avermelhada, a maça. Ambas são usadas hoje na culi-


nária (doçaria, molhos, picles, carnes), na perfumaria, [e] como
bebida. [...]
Pimenta
Existem muitos tipos de pimenta, em geral confundidos
entre si. Os principais são: pimenta-preta; [...] pimenta-branca;
NATTIKA/SHUTTERSTOCK.COM

[...] pimenta-longa: também chamada de “pimenta-de-rabo”, era


muito apreciada pelos antigos, foi a mais usada na Europa até a
Idade Média e é a mais ardida. Pimenta-malagueta: [...] conhe-
cida desde a Antiguidade e muito utilizada até nossos dias. [....]
Atualmente a pimenta é cultivada em vários lugares do mundo,
o que propiciou o aparecimento de vários novos tipos, como as
pimentas-de-cheiro, tão apreciadas no Brasil.
Gengibre
SILVY78/SHUTTERSTOCK.COM

[…] originário da Índia e da Malásia, encontrado por Marco


Polo e por viajantes europeus posteriores, adaptou-se bem à
América. [...] Usado na confecção de pães e doces, nas indús-
trias de carnes, de licores e bebidas leves, em pastas de dente e
chiclete e na perfumaria.
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a
expansão marítima. São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 16-17).

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Como na época ainda não havia geladeiras, os europeus usavam as especiarias para
conservar a carne e tornar seu sabor agradável. Além de servir para temperar alimentos,
eram usadas no preparo de remédios e perfumes. No século XIV, o rico comércio de espe-
ciarias e de artigos de luxo orientais era quase todo controlado por mercadores árabes e
italianos.. Valendo-se de sua larga experiência comercial, os árabes traziam as mercadorias
do Oriente até cidades como Cairo e Alexandria, na África, e Tiro e Antioquia, na Ásia
Menor (veja essas cidades no mapa). Ali os mercadores italianos compravam esses produtos
das mãos dos árabes e os revendiam na Europa com grande lucro. Observe no mapa a
seguir as rotas das especiarias.

Rota das especiarias (1401-1500)

ALLMAPS
30° L 60° L

EUROPA

Veneza
Gênova Mar 45° N
de Aral
Mar Negro

M
Constantinopla
ar
Roma


GRÉCIA

sp
ANATÓLIA
Sardes
io
TURQUIA
Atenas Éfeso
Antioquia
ARÁBIA ÁSIA
Tiro Palmira
Mar Mediterrâneo
Damasco Bagdá
Alexandria
Ctesifonte Susa
Gaza 30° N
Cairo Apologos
Ormuz
ÍNDIA
Leuceccome

Trópico de Câncer Golfo de Omã


Ma

Medina
rV

Mascate
erm

Gidá
PENÍNSULA
Meca
elh

ARÁBICA OMÃ
o

ÁFRICA Goa
Salalah Mar Arábico Costa do
Malabar
Muza 15° N
Canã Calicute
Aden
Cochin
Zélia Cabo das
especiarias

OCEANO
0 510
ÍNDICO

Fonte: AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a
expansão marítima. São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 11).

Dialogando
Com base no mapa e nas informações do texto:
a Cite dois portos do oceano Índico onde os árabes carregavam seus navios
de especiarias.
b Indique duas cidades do Mediterrâneo oriental onde os italianos compravam
especiarias dos árabes para revendê-las na Europa.
c Dê o nome de duas cidades da África onde os árabes vendiam as
especiarias aos mercadores italianos.

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O que levou os portugueses
a navegar em mar aberto?
No século XIV, os portugueses já participavam do comércio de especiarias orientais.
É que, ao distribuir essas especiarias pela Europa, os mercadores italianos fundaram entre-
postos comerciais em cidades portuguesas como Porto e Lisboa; lá eles vendiam especiarias
aos portugueses que, por sua vez, revendiam-nas em Londres (Inglaterra) e em outras
cidades do norte da Europa.
Para ampliar sua participação no rico comércio mundial de especiarias, os portugueses
precisavam evitar o mar Mediterrâneo (que era quase todo controlado pelos italianos) e
buscar as especiarias na fonte, isto é, no Oriente;; controlando as fontes de especiarias
conseguiriam obtê-las a preços mais baixos e podiam revendê-las na Europa com grande lucro.
Além da motivação econômica, houve também a religiosa: o desejo dos portugueses
de expandir a fé cristã e combater o que chamavam de infiéis
infiéis.. Por motivos religiosos e
comerciais, o rei português D. João I organizou, em 1415, uma grande Infiel: nome usado
expedição que tomou dos muçulmanos a cidade de Ceuta, no norte pelos cristãos para
da África. Esse fato simboliza o marco inicial da expansão marítima designar um indivíduo
árabe muçulmano.
portuguesa.
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

Ceuta, cidade
localizada no
norte da África,
importante
entreposto
comercial de
marfim, ouro
e pessoas
escravizadas,
século XVI.

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Portugal, o primeiro
nas Grandes Navegações
Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações por vários
motivos; apresentaremos a seguir alguns deles.
• A centralização do poder:: Portugal foi o primeiro país europeu
a possuir uma monarquia centralizada, isto é, um rei com con-
Pioneiro: primeiro, líder.
trole sobre todo o território do reino. Portulano: espécie
• A Revolução de Avis:: em 1383, aproveitando-se da morte do de roteiro que incluía
descrição detalhada
rei de Portugal, o rei de Castela tentou ocupar o trono portu- das costas marítimas,
guês, mas o povo de Portugal, liderado pela burguesia, resistiu distância entre um lugar
e venceu os castelhanos na Revolução de Avis (1383-1385). O e outro e desenhos
dos melhores portos
líder dessa revolução, D. João, mestre de Avis, sagrou-se rei com para se atracar.
o título de D. João I. Retribuindo a ajuda recebida, os reis da Bússola: agulha
dinastia de Avis apoiaram o comércio e a navegação, principais magnética
permanentemente
negócios da burguesia portuguesa na época.
apontada para o norte
• A experiência na navegação em mar aberto:: os portugue- que permitia aos
navegantes manobrar
ses adquiriram essa experiência praticando a pesca em alto-mar
o navio na direção
(sardinha, bacalhau, atum e baleia). No Reino de Portugal, a desejada. A bússola foi
pesca era o principal meio de conseguir alimento, pois a pro- inventada pelos chineses
e levada para a Europa
dução agrícola era insuficiente para alimentar a população. pelos árabes.
• O desenvolvimento de técnicas e conhecimentos neces-
sários à navegação:: os portugueses aperfeiçoaram mapas
e portulanos
portulanos,, adaptaram a bússola às suas embarcações e
inventaram a caravela.

PARA SABER MAIS

A caravela
Sabe-se hoje que foram os portugueses os primeiros a projetar e construir uma
caravela, fato ocorrido por volta de 1440. Além de serem ligeiras e fáceis de manobrar,
as caravelas podiam entrar em rios, contornar bancos de areia e zarpar com certa
velocidade no caso de um ataque. Além disso, podiam também efetuar manobras
rápidas que dispensavam o uso de remos, eram capazes de navegar contra o vento e
em zigue-zagues.

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Navegando com os portugueses
Com uma monarquia centralizada, mercadores ricos e o apoio de capitães experientes,
de estudiosos e construtores de navios, os portugueses iniciaram o périplo africano,, isto
é, o contorno da África para chegar ao Oriente.

Cronologia da expansão portuguesa – século XV Feitoria: entreposto


comercial fortificado.
1419 – Os
Os portugueses chegam às Ilhas da Madeira. Era usado também para
1443 – A
Atingem
tingem a Ilha de Arguim, junto ao rio do Ouro, e, no controlar a circulação
naval e defender o
ano seguinte, o rio Senegal. Quatro anos depois, criam território. As feitorias
a primeira feitoria e iniciam o comércio de ouro em pó, portuguesas na África
pessoas escravizadas, armas de fogo e pólvora. tiveram importante papel
no comércio com as chefias
1456 – C
Chegam
hegam às Ilhas do Cabo Verde e constroem engenhos africanas envolvendo
de produção de açúcar utilizando mão de obra africana armas, ouro, marfim e
pessoas escravizadas.
escravizada.
1482 – Erguem
Erguem o castelo de São Jorge da Mina e,
PICTURES FROM HISTORY/AGB PHOTO LIBRARY

nesse mesmo ano, chegam à foz do rio Zaire,


iniciando a exploração da região do Congo.
1488 – Bartolomeu
Bartolomeu Dias contorna o Cabo das Tormentas,
situado no extremo sul da África. Para valorizar o
feito, o rei de Portugal, D. João II, muda o nome
do local para Cabo da Boa Esperança.
1498 – V
Vasco
asco da Gama chega a Calicute, na Índia,
uma das mais importantes fontes de espe-
ciarias orientais.
Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, em
1498, os portugueses realizavam seu maior sonho:
chegar ao Oriente contornando a África. Ao regressar
a Lisboa, Vasco da Gama levou consigo uma fortuna
em pimenta, canela e gengibre. A venda dessas
especiarias possibilitou aos investidores um lucro
extraordinário (alguns historiadores falam em 600%).

Vasco da Gama chega a Calicute,


na Índia, de Ernesto Casanova, c. 1880.

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BRIDGEMAN/FOTOARENA

Aberto o caminho marítimo para


o Oriente, os portugueses ergueram
muitas feitorias nas áreas banhadas
pelo oceano Índico. Ao mesmo tempo,
com a chegada de Cabral à região
mais tarde conhecida como Brasil,
os portugueses ergueram feitorias
também no litoral leste da América
do Sul. Assim, apoiados em suas
feitorias africanas, asiáticas e ame-
ricanas, os portugueses passaram a
controlar boa parte do comércio pelo
oceano Índico e pelo Atlântico Sul.
Portugal tornou-se, então, a cabeça
de um imenso império: o Império
Ultramarino Português.. Observe o Mercador português é recebido por anfitriões indianos.
mapa. Início do século XVI.

Navegações portuguesas (séculos XV e XVI)

ALLMAPS
90° O 0° 90° L

Círculo Polar Ártico

ÁSIA

EUROPA
AMÉRICA
DO NORTE PORTUGAL Pequim
Açores Lisboa JAPÃO
Madeira Ceuta CHINA Kyushu
Trópico de Câncer Macau
ÍNDIA
AMÉRICA Cabo Cabo Bojador
Verde GUINÉ ÁFRICA Calicute OCEANO
CENTRAL FILIPINAS
São Jorge
Málaca
PACÍFICO
Equador da Mina
CONGO 0°
OCEANO AMÉRICA Melinde OCEANO
PACÍFICO DO SUL ÍNDICO
Porto MOÇAMBIQUE
Trópico de Capricórnio
Seguro Cabo
da Boa OCEANIA
Esperança

OCEANO
Meridiano de Greenwich

Rotas dos navegadores portugueses ATLÂNTICO


Vasco da Gama
Pedro Álvares Cabral
0 2 400
Primeira viagem até o Japão

Círculo Polar Antártico

Fonte: ARRUDA, José Jobson de. Atlas histórico básico. 17. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 19.

O Império Português tinha dezenas de feitorias e fortes entre a América e o Japão e controlava boa parte do
comércio por meio do oceano Índico e do Atlântico Sul. Esse comércio entre as possessões portuguesas na Ásia,
na África e na América rendeu enormes lucros à monarquia portuguesa no século XVI.

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A partir do século XV, o oceano Atlântico tornou-se importante rota de comércio
e ganhou a importância que tinha o Mediterrâneo na história antiga e medieval. Essa
projeção do oceano Atlântico pode ser melhor compreendida por meio da incorporação
da África ao império colonial português.
No século XVII, em especial após a intensificação da produção de açúcar no nordeste
brasileiro e nas Antilhas, o Atlântico tornou-se o centro das mais importantes atividades
econômicas da expansão europeia. E também espaço de intensas trocas de mercadorias,
ideias e culturas e de circulação de pessoas.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Geograficamente, o Atlântico é um “[...] oceano com um formato de Intrépido:


corajoso.
S, limitado ao norte pelo oceano Glacial Ártico, a sudoeste pelo Pacífico,
a sudeste pelo Índico e ao sul pelo Glacial Antártico. Desse modo, devemos a esses
intrépidos navegadores não só o conhecimento das delimitações desse oceano e a exis-
tência do Novo Mundo, mas também a confirmação da esfericidade de nosso planeta.
Perceberíamos a influência da geografia na conquista atlântica, uma vez que
foi dos países europeus de maior projeção sobre esse oceano que saíram os navios
para explorá-lo.
Constataríamos o esforço produzido
pelo império português no desenho do
Oceano Atlântico Atlântico. A oportunidade de se consoli-
SONIA VAZ

OCEANO GLACIAL ÁRTICO dar como uma das primeiras monarquias


Círculo Polar Ártico
absolutistas da Europa e de explorar a
ainda viva vontade de lutar contra infiéis
EUROPA
foi convertida em ação de desbravamento
AMÉRICA e conquista [...]. O conhecimento [...] das
DO NORTE
ÁSIA costas africanas, do litoral brasileiro e
Trópico de Câncer

ÁFRICA
das diversas ilhas atlânticas levou a que
esse oceano fosse por eles chamado de
Equador
Mar Português. [...]". 0°

OCEANO ROTH, Luiz Carlos de Carvalho. O renascimento do


AMÉRICA ATLÂNTICO
Atlântico: os grandes impérios marítimos. In: SILVA,
DO SUL
Francisco Carlos Teixeira da et al. (org.). Atlântico:
Trópico de Capricórnio
a história de um oceano. Rio de Janeiro: Civilização
OCEANO Brasileira, 2015. p. 106-107.
Meridiano de Greenwich

PACÍFICO
OCEANO
ÍNDICO
a) Compare o texto ao mapa. A descrição
do oceano Atlântico, feita pelo autor,
está correta? Justifique.
Círculo Polar Antártico OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
b) Q
 uem são os navegadores a que o
0 1 789 texto se refere?
ANTÁRTIDA

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. c) O


 que levou o oceano Atlântico a ser
Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro, 2018. p. 32. chamado de Mar Português?

156

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As navegações espanholas
Enquanto os portugueses buscavam o caminho
marítimo para o Oriente navegando em direção ao leste, os
espanhóis, seus principais concorrentes, esforçavam-se para
atingir o mesmo objetivo navegando para o oeste. Os reis
espanhóis Fernando e Isabel também se empenhavam na busca
de um novo caminho marítimo para o Oriente. Em 1492, esses reis
aprovaram o audacioso plano do navegador genovês Cristóvão
Colombo. O plano de Colombo consistia em chegar ao Oriente
navegando em direção ao Ocidente, isto é, dando a volta ao redor
do mundo, pois acreditava que a Terra era redonda. Além disso,
julgava que ela fosse menor do que realmente é. O que ele não

KAVALENKAU/SHUTTERSTOCK.COM
sabia, porém, é que no meio do caminho havia outro continente.
Colombo saiu do porto de Palos com três caravelas – Santa
María, Pinta e Niña – e, depois de velejar por cerca de dois meses,
embalado por fortes ventos favoráveis, teve uma grata surpresa:
encontrou um continente “novo” para os europeus: a América.
Era 12 de outubro de 1492. Mas, como pensou ter chegado às
Monumento de Cristóvão
Índias, chamou de “índios” os diversos povos que habitavam essas Colombo. Barcelona
terras havia milhares de anos. (Espanha), 2018.

Expansão ultramarina espanhola (séculos XV e XVI)



SELMA CAPARROZ

Rotas dos navegadores


espanhóis
Meridiano de Greenwich

Primeira viagem de
Cristóvão Colombo (1492)
Fernão de Magalhães/
Sebastião Elcano (1519-1522)

Círculo Polar Ártico

ÁSIA
EUROPA
AMÉRICA
PORTUGAL ESPANHA
DO NORTE
Palos OCEANO
Ilha de
PACÍFICO
Trópico de Câncer CUBA Guanaani
ÍNDIA
OCEANO HAITI FILIPINAS
PACÍFICO AMÉRICA
ÁFRICA
Equador CENTRAL

AMÉRICA
OCEANO OCEANO
DO SUL
Porto ATLÂNTICO ÍNDICO
Trópico de Capricórnio Seguro
Cabo da OCEANIA
Boa Esperança
Fonte: ATLAS da história
do mundo. São Paulo:
Folha de S.Paulo;
0 3 105 Estreito de
Magalhães Times Books, 1995.
p. 154-155.

157

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Leia o texto a seguir com atenção

Os europeus e o Pacífico
As grandes navegações e

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


explorações sob a bandeira dos
castelhanos tiveram início sob o
reinado de Fernando de Aragão e
Isabel de Castela (1479-1516). [...]
O então denominado mar
do sul – o Pacífico – foi avis-
tado pela primeira vez por
um europeu em 1513, por via
terrestre, em uma expedição
organizada por Vasco Nuñez de
Balboa, residente [...] no atual
Panamá. Com base em infor-
mações obtidas com os nativos,
[...] Balboa atravessou a serra
de Darién, avistou o oceano e
tomou posse [dele] em nome dos
reis da Espanha.
Por tugal, por sua vez,
enviou, em 1514, uma expedição
com duas caravelas, coman-
dada por Estevão Fróis e João
de Lisboa, para explorar as [...]
terras do sul e procurar uma
passagem para o oceano des-
coberto pelos castelhanos. A
expedição passou por Cananeia, Navegador português Fernão de Magalhães, século XVI.
São Paulo [...].
Os navegadores [portugueses] avançaram por costas Castelhano: espanhol.
desconhecidas [...] e descobriram a foz de um grande rio, poste- Foz: lugar onde
deságua um rio.
riormente batizado rio da Prata; fizeram incursão rio adentro,
Charrua: grupo
até onde hoje se situa a cidade de Buenos Aires, e mantiveram indígena.
o primeiro contato com os Charrua [...].

158

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Esse rio estava nas terras da Espanha, que prontamente enviou outra expedição,
sob o comando de Juan Dias de Solis, para levantar suas riquezas e buscar a procu-
rada passagem para o Oriente. Em janeiro de 1516, [...] Solis foi morto [...].
O reconhecimento das costas das terras do sul e a busca de uma passagem
para o outro oceano [...] tiveram sequência com outra expedição armada pelos
castelhanos [...].
O comando foi entregue ao português Fernão Magalhães [...].
Fernão Magalhães partiu em setembro de 1519 [...]. Em janeiro de 1520, ele chegou
ao rio da Prata [...]; deu sequência à busca ao longo de um litoral desconhecido e
que apresentava uma série de dificuldades para a navegação; e adentrou ao mar do
sul, por ele batizado de Pacífico, em novembro daquele ano, com apenas três dos
seus navios. Em março de 1521, Magalhães chegou às ilhas de São Lázaro, depois
denominadas de Filipinas; no mês seguinte, foi morto em confronto com nativos de
uma das ilhas do arquipélago.
Juan Sebastian Elcano assumiu o comando. A continuidade das explorações levou
às procuradas Molucas, produtoras de cravo e de outros produtos de interesse dos
europeus. [...] A expedição contornou o cabo da Boa Esperança e completou a pri-
meira circum-navegação da Terra. Em setembro de 1522, a nau Victoria chegou ao
porto de Sevilha com 18 sobreviventes e uma carga de cravo, canela e noz-moscada,
cujo valor tornou a viagem lucrativa do ponto de vista financeiro.
Essa viagem resultou na descoberta de uma passagem para o Oriente pelo
novo mundo e na identificação do oceano Pacífico, apenas avistado anteriormente.
Resultou também na comprovação [...] da esfericidade da Terra e na indicação de que
a sua circunferência seria superior àquela estimada por Ptolomeu.
VELOSO FILHO, Francisco de Assis. A expansão europeia dos séculos XV e XVI: contribuições para uma
nova descrição geral da Terra. Revista Equador (UFPI), Piauí, v.1, n. 1, p. 4-25, jun./dez. 2012. p. 10, 13-14.

a) Em 1513, Vasco Nuñez de Balboa avistou o “mar do sul”, batizado por Fernão de
Magalhães de oceano Pacífico. Explique qual caminho esse europeu percorreu para
avistar o oceano. Esse caminho foi por terra ou por mar?

b) Em dupla. Expliquem a frase: “avistou o oceano e tomou posse [dele] em nome dos
reis da Espanha”.

c) O que os portugueses fizeram após a descoberta do Pacífico pelos castelhanos?

d) Com base no texto e com o auxílio de um mapa-múndi, desenhe em uma folha de


papel sulfite um mapa traçando a rota percorrida por Fernão de Magalhães e, depois
dele, por Juan Sebastian Elcano para chegarem ao Oriente.

e) A
 ponte uma semelhança entre as navegações atlânticas e as navegações pelo Pacífico
durante os séculos XV e XVI.

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PARA SABER MAIS
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

Navio de Fernão
Magalhães de nome
Vitória, cuja viagem
pelo Pacífico está
representada no atlas
de Abraham Ortelius
de 1580.

O navegador português Fernão de Magalhães saiu da Espanha em


1519 e chegou às Filipinas, no oceano Pacífico, após atravessar o extremo Manila: hoje,
sul da América do Sul por um canal natural. Em 1571, uma nova expedição capital das
Filipinas.
espanhola chegou às Filipinas e ocupou ManilaManila,, que se tornou o mais
importante posto comercial espanhol na Ásia.
Na segunda metade do século XVI, após a conquista espanhola das Filipinas, um
intenso comércio, legal e ilegal, passou a ocorrer por meio de uma rota que ligava dois
domínios espanhóis: Acapulco, no México, e Manila, nas Filipinas; essa rota se estendia
até a China passando por Macau, que, à época, pertencia a Portugal. O dinheiro usado
nessa importante rota comercial eram moedas espanholas chamadas de “moedas de
oito”. Em pouco tempo, o comércio pela rota Manila-Acapulco passou a ser de mão
dupla e “animado” por piratas de países adversários da Espanha. Em 1573, partiu de
Manila, na direção leste, o primeiro galeão abastecido de riquezas do Oriente (seda
chinesa, cetim, porcelanas e especiarias); e, navegando pelo Pacífico, chegou a Acapulco.
De lá, retornou a Manila carregado de prata das minas espanholas na América. Leia o
que duas historiadoras especializadas disseram sobre o assunto:
Ao fim do século XVI, a quantidade de metais fluindo de Acapulco para Manila
ultrapassou a soma que estava envolvida nos carregamentos do Atlântico. Entre 1570
e 1780, um número estimado entre 4 e 5 mil toneladas de prata fluíram para o leste
da Ásia ao longo da rota Acapulco-Manila. Conforme os metais hispano-americanos
fluíam [...], tanto asiáticos quanto europeus enriqueceram. [...]
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História Mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 186.

160

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Cabral toma posse das terras brasileiras
Animado com o lucro da viagem de Vasco da Gama, o rei de Portugal, D. Manuel,
decidiu enviar outra expedição às Índias, a fim de firmar o comércio português com o Oriente.
Essa esquadra, comandada pelo nobre Pedro Álvares Cabral, partiu de Lisboa em
9 de março de 1 500. Era formada por 13 navios (dez naus e três caravelas) e cerca de
1 500 pessoas, incluindo escrivão, cartógrafos, padres, soldados e navegadores experientes,
como Bartolomeu Dias, o primeiro europeu a contornar a África.
O rei encarregou Cabral de tomar posse das terras que encontrasse pelo caminho. Por
isso, Cabral ordenou aos pilotos de sua esquadra que se afastassem do litoral africano,
velejando cada vez mais em direção ao Ocidente.
Depois de 43 dias no mar, os tripulantes avistaram pássaros e algas marinhas, sinal
de que havia terra por perto. Finalmente, na tarde do dia seguinte, 22 de abril de 1 500,
uma quarta-feira, avistaram um monte verde-azulado de formas arredondadas, ao qual
deram o nome de Monte Pascoal, pois era semana da Páscoa.
Os portugueses desembarcaram junto a uma aldeia do povo tupiniquim, no lugar onde
é hoje Porto Seguro, na Bahia. Lá, fincaram uma cruz de madeira para dizer que daquela
data em diante aquelas terras eram deles. Depois de tomar posse, estabelecer contato
com os indígenas e ordenar a celebração da primeira missa, Cabral enviou um navio de
volta a Lisboa levando uma carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão de sua esquadra,
para o rei de Portugal.
MARCOS AMEND/PULSAR IMAGENS

CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS


À esquerda, marco
do local de celebração
da primeira missa
realizada pelos
portugueses em 1500.
Porto Seguro (BA),
fotografia de 2016.

À direita, monumento em
homenagem à primeira
missa, em Coroa
Vermelha, município de
Santa Cruz Cabrália (BA),
fotografia de 2019.

161

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

A carta de Caminha é um importante documento histórico. Leia a seguir um trecho


que fala da nova terra:
Nesta terra, até agora, não pudemos saber se existe ouro, nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro. Porém, a terra em si é de bons ares, assim frios e tem-
perados. As águas são muitas e infinitas. A terra é tão grandiosa que, querendo
aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
Porém, o melhor fruto que podemos tirar dela, me parece, será salvar esta gente,
tornando-a cristã.
E, desta maneira, aqui conto a Vossa Alteza o que vi nesta Vossa terra.
TORRES, Adriana; PEREIRA, André. Ilustração: Tibúrcio. A carta de Pero Vaz de Caminha.
Adaptação e atividades. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991. p. 21.

a) O que se pode concluir da leitura da primeira frase?

b) E
 m que trecho da carta se percebe a intenção dos portugueses em expandir sua
religião?

c) E
 m que trecho o escrivão diz que considera a nova terra como propriedade do rei
de Portugal?

Império Português (século XVI)



ALLMAPS

Círculo Polar Ártico

OCEANO
ÁSIA
ATLÂNTICO
EUROPA
AMÉRICA PORTUGAL JAPÃO
Açores Ceuta OCEANO
DO NORTE
Madeira Tânger Ormuz PACÍFICO
Trópico de Câncer Mazagão Diu
Goa Macau
OCEANO AMÉRICA Cabo ÁFRICA
Verde
PACÍFICO CENTRAL GUINÉ
Cochim
Málaca
Equador São Jorge da Mina

AMÉRICA Luanda
MOÇAMBIQUE
DO SUL Recife
ANGOLA (Monomotapa)
BRASIL Salvador
Trópico de Capricórnio
Meridiano de Greenwich

MADAGASCAR
Rio de Janeiro OCEANIA
Cabo da
Boa Esperança OCEANO Fonte: ATLAS da história
ÍNDICO do mundo. São Paulo:
0 3 395
Estreito de Folha de S.Paulo;
Magalhães
Times Books, 1995.
Depois de passar pelas terras que os indígenas chamavam de Pindorama, os
portugueses atingiram Moçambique (1507), na costa oriental da África; Macau
(1517), na China; e Kyushu (1542), no Japão. Portugal ergueu, assim, um imenso
império marítimo-comercial com possessões banhadas por três oceanos
(Atlântico, Índico e Pacífico). O Império Português se assentava em uma rede de
feitorias e fortalezas erguidas em três continentes (África, América e Ásia). Como
mostra esse mapa do século XVI, o Império Português ia do litoral da América do
Sul até o Japão, passando pelos litorais da África, da Índia e da China.

162

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Outros europeus
Ingleses, franceses e holandeses também cobiçavam as especiarias orientais. Para
chegar a elas, navegaram em direção ao Oriente por diversos caminhos.
Em 1497, o navegador genovês Giovanni Caboto, navegando a serviço da Inglaterra,
tentou em vão encontrar uma passagem para o Oriente pelo extremo norte. Nessa viagem,
Caboto explorou alguns pontos da América do Norte.
Em 1534, foi a vez do navegador francês Jacques Cartier buscar uma passagem para
o Oriente pelo extremo norte. Ele explorou o rio São Lourenço e tomou posse, em nome
do rei da França, de parte dos atuais Canadá e Estados Unidos. Tanto os ingleses quanto
os franceses daquela época dedicavam-se à pirataria.
A Holanda lançou-se às navegações só no final do século XVI. Mas em poucas décadas
conquistou terras em diversos continentes: região do Cabo (África); Java, Ceilão e ilhas
Molucas (Ásia); Nova Amsterdã (atual Nova York), Antilhas e nordeste do Brasil (América).
As Grandes Navegações provocaram mudanças importantes no cenário mundial, entre
as quais cabe citar:
• o extraordinário crescimento do volume e do valor do comércio mundial;;
• o oceano Atlântico passou a ser mais importante do que o mar Mediterrâneo como rota
de comércio. Com isso, assistiu-se ao declínio das cidades italianas e à ascensão dos
países banhados pelo Atlântico, como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda;
• a construção de vastos impérios coloniais pelos europeus e a apropriação da riqueza
dos povos africanos, asiáticos e ameríndios;
• a consciência, por parte de muitos europeus, da enorme diversidade de povos e
culturas e da necessidade de conviver com essas diferenças.

MUSEU DE GRÃO VASCO VISEU, PORTUGAL. FOTO: THE PICTURE ART COLLECTION/ALAMY/FOTOARENA/
ÓLEO SOBRE MADEIRA, 130,2 CM × 79 CM
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

À esquerda, vemos como


um europeu representou os
indígenas da América antes de
conhecê-los, de Walter Raleigh.
Escola Alemã, século XVI.

À direita, Adoração dos Reis


Magos, de Vasco Fernandes,
1501-1506. Pintura feita após
a estada dos portugueses no
Brasil. Observe que um dos Reis
Magos, no centro da tela, está
caracterizado como indígena.

163

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 A respeito do comércio de especiarias e de artigos orientais de luxo no século XIV,
escreva em seu caderno as alternativas corretas. Em seguida, corrija as incorretas.
a) A utilização das especiarias na alimentação tinha a finalidade de melhorar o sabor dos alimen-
tos, embora não contribuísse muito para a conservação deles.
b) As especiarias eram utilizadas na alimentação e na fabricação de remédios e perfumes.
c) Os mercadores espanhóis e portugueses controlavam o comércio de especiarias e artigos de
luxo orientais no século XIV.
d) As mercadorias do Oriente eram levadas até o Mediterrâneo pelos árabes, onde eram com-
pradas pelos italianos para serem revendidas na Europa.

2 Descreva os motivos econômicos e religiosos que levaram os portugueses a navega-


rem em alto mar no século XV.

3 Leia o texto a seguir com atenção e depois responda às questões em seu caderno.

O valor das especiarias


[...] Cada especiaria é nativa apenas de uma ou de algumas poucas regiões
tropicais do globo, e durante muito tempo não puderam ser transplantadas com
facilidade para outras áreas. Por isso, as especiarias sempre estiveram relacionadas
ao comércio. [...] E por serem muito desejadas, alcançaram preços altos, desde os
tempos mais antigos.
No Egito, algumas especiarias eram tão caras, que somente a corte do faraó e os
nobres podiam adquiri-las. [...] Já os romanos achavam que pimenta era sinônimo de
riqueza, dizendo um ditado: “Caro como a pimenta”.
Hoje em dia, quase todas as especiarias tornaram-se produtos mais comuns
e por isso são mais baratas. Mas os seus cheiros, suas cores e seus sabores, bem
como a sua história, continuam a fascinar as pessoas de todo o mundo.
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a expansão marítima.
São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 5-6).
a) Por que os europeus dos séculos XIV e XV tinham de obter especiarias por meio do comércio?
b) Por que as especiarias alcançavam altos preços? Justifique.
c) Os antigos romanos usavam o ditado “caro como a pimenta”. No Brasil, já se usou o ditado
“a preço de banana”. Compare os dois ditados explicando se a relação entre os dois é de
semelhança ou diferença.
d) No Brasil de hoje, a pimenta é muito usada. Faça uma pesquisa rápida: quais tipos de pimenta
são mais populares no Brasil?

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4 Com base no mapa da página 155, responda às questões.
a) Para chegar até o Japão, por quais oceanos uma embarcação saída de Portugal navegava?
b) Cite os nomes dos portos acessados pela expedição de Pedro Álvares Cabral quando navegava
pelo oceano Atlântico e oceano Índico.
c) No mapa, o que as setas a seguir representam.

I II

I. Ponto aproximado de retorno das embarcações de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral
a seu país de origem.
II. O ponto de partida das expedições de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral,
respectivamente.
III. O ponto de chegada das embarcações de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
IV. A seta roxa indica o ponto de partida da expedição de Vasco da Gama; e a verde, o ponto
de retorno da expedição de Cabral.
d) Você tem vontade de conhecer um outro continente? Qual?
e) Caso a viagem fosse de navio, por quais oceanos você teria de navegar?

5 Escreva em seu caderno quais afirmações a seguir estão corretas.


a) O pioneirismo português se explica por um conjunto de fatores complementares.
b) Portugal foi o primeiro país europeu a possuir uma monarquia centralizada.
c) O rei D. João I incentivou o comércio e a navegação em retribuição ao apoio recebido da
nobreza portuguesa na Revolução de Avis.
d) O conhecimento técnico em navegação não foi um fator decisivo nas navegações portuguesas
de longa distância.

6 Avalie as afirmações a seguir e escreva em seu caderno a alternativa correta.


I. O lucro da viagem de Vasco da Gama às Índias foi altíssimo.
II. Vasco da Gama retornou das Índias com grandes quantidades de pimenta, canela e gengibre,
produtos muito cobiçados na Europa.
a) Somente a afirmação I está correta.
b) Somente a afirmação II está correta.
c) Ambas estão corretas e a II explica a I.
d) Ambas estão corretas, mas a II não tem relação com a I.

7 Com a chegada dos portugueses ao Oriente, e a montagem de feitorias na África,


na América e na Ásia, os portugueses passaram a controlar boa parte do comércio
por dois importantes oceanos; são eles:
a) oceano Pacífico e oceano Antártico.
b) oceano Atlântico e oceano Pacífico.
c) oceano Atlântico e oceano Índico.
d) oceano Atlântico e oceano Antártico.

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8 Com base no mapa da página 157 “Expansão ultramarina espanhola (séculos XV e
XVI)”, responda às questões.
a) Explique o plano de Cristóvão Colombo aprovado pelo rei espanhol Fernando e pela rainha
espanhola Isabel.
b) Como foi a viagem de Cristóvão Colombo realizada em 1492?

9 Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: qual dos termos a seguir é o melhor para
falar sobre a chegada dos portugueses aonde hoje é o Brasil? Justifiquem.
a) Achamento. c) Invasão.
b) Descoberta. d) Encontro entre dois mundos.

10 Muitas foram as consequências das Grandes Navegações, ocorridas entre os séculos


XV e XVI. Descreva as consequências quanto:
a) ao comércio mundial. c) aos países europeus.
b) aos mares e oceanos. d) à percepção da diversidade existente no mundo.

11 Leia as fontes 1 e 2 com atenção.

FONTE 1

O texto a seguir é um relato do português Francisco Correia a respeito do naufrágio


da nau Nossa Senhora da Candelária, na ilha Incógnita, século XVII.
[...] Tinha somente a aparência de homem na cara, na cabeça não tinha cabelos mas
uma armação, como de carneiro, revirada com duas voltas; as orelhas eram maiores
que as de um burro, a cor era parda, o nariz com quatro ventas, um só olho no meio
da testa, a boca rasgada de orelha a orelha e duas ordens de dentes, as mãos como
de bugio, os pés como de boi e o corpo coberto de escamas, mais duras que conchas.
AMADO, Janaína; GARCIA, Ledonias Franco. Navegar é preciso: grandes descobrimentos marítimos europeus.
São Paulo: Atual, 1989. (História em documentos, p. 26).

GRANGER/EASYPIX BRASIL
FONTE 2

a) O
 texto da fonte 1 é
descritivo ou explicativo?
Justifique.
b) O que mostra a fonte 2?
c) Q
 ue relação se pode
estabelecer entre a fonte 1
e a fonte 2?

Monstros marinhos habitantes


do Atlântico Norte. Detalhe de
uma escultura em madeira de
Sebastian Münster, 1550.

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II. Integrando com Língua Portuguesa
Leia o texto com atenção.
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador Bojador: Cabo situado na costa do Marrocos. À época
Tem que passar além da dor, das Grandes Navegações, era conhecido como Cabo do
Medo, onde se acreditava que o mundo acabava.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
PESSOA, Fernando. Mar português. In: PESSOA,

NITO/SHUTTERSTOCK.COM
Fernando. Mensagem. São Paulo: FTD, 1992.
(Coleção Grandes Leitura, p. 71).
a) Q
 uantas estrofes e quantos versos
tem o poema?
b) Qual é o assunto abordado?
c) A
 quem se refere o pronome pos-
sessivo “nosso” e por que ele está
relacionado à palavra mar?
d) Q
 uais verbos utilizados no texto
explicam a tristeza das mães e a
apreensão dos filhos?
e) O
 que poderia explicar a tristeza
das mães?
f) C
 omo você interpreta o trecho:
“Valeu a pena? / Tudo vale a pena
/ Se a alma não é pequena.”

Estátua do poeta e escritor Fernando


Pessoa. Lisboa (Portugal), 2014.

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III. Integrando com Ciências
Conhecedor da vida no mar, o poeta português Luís Vaz de Camões falou-nos, na sua
obra Os Lusíadas,
Lusíadas, do escorbuto, uma doença que acometia muitos navegadores.

E foi que, de doença crua e feia,


A mais que eu nunca vi, desampararam
Muitos a vida, e em terra estranha e alheia Crua: cruel.
Os ossos para sempre sepultaram. Desampararam: perderam.
Disformemente: grandemente.
Quem haverá que, sem o ver, o creia,
Juntamente: ao mesmo tempo.
Que tão disformemente ali lhe incharam
As gengivas na boca, que crescia
A carne e juntamente apodrecia?
CAMÕES, Luís Vaz de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 132.
a) Como Luís de Camões descreve o escorbuto?
b) E
 xplique com suas palavras os sintomas do escorbuto, segundo
Luís de Camões.
c) P esquise. Que outros sin-
JOHN COPLAND/SHUTTERSTOCK.COM
tomas, além dos indicados
por Camões, podem apa-
recer em uma pessoa com
escorbuto?
d) A
 tualmente, sabe-se que
essa doença é provocada
pela falta de vitamina C,
carência prolongada de
frutas e verduras. As gen-
givas inchavam tanto que
cobriam os dentes, impe-
dindo a pessoa de comer
e causando sangramen-
tos. Pesquisem os tipos de
alimentos que contém vita-
mina C e que, portanto,
devem ser consumidos
por nós.

Estátua de Camões
em Lisboa, Portugal.

168

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CAPÍTULO

8 CONQUISTA E COLONIZAÇÃO
ESPANHOLA DA AMÉRICA

Observe a imagem com atenção.

BIBLIOTECA NACIONAL, PARIS. FOTO: ANN RONAN PICTURES/GETTY IMAGES

Guerreiros astecas defendendo o templo de Tenochtitlán contra conquistadores, 1519-1521.

Os personagens representados nessa imagem são guerreiros astecas.

1. Onde eles parecem estar?

2. O que eles parecem estar fazendo?

3. Por que será que, no canto direito, há um asteca caído na escada, de cabeça para baixo?

4. Na imagem, eles parecem estar festejando ou resistindo a um ataque?

169

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A conquista das terras astecas
Os espanhóis iniciaram a conquista das terras americanas pelas ilhas do Caribe, às
quais deram os nomes de São Salvador e Hispaniola. Observando os enfeites usados pelos
indígenas que ali viviam, os espanhóis concluíram que havia ouro no local e obrigaram os
indígenas a extraí-lo. Esgotado o ouro das ilhas, eles partiram para a conquista do continente.
Em 1519, o oficial espanhol Hernán Cortez desembarcou com 508 soldados, além
de cavalos e canhões, nas terras onde hoje está o México. Os indígenas provavelmente
estranharam aqueles homens brancos, com roupas e armas de ferro, montados em seres
estranhos (os astecas desconheciam o cavalo). Os espanhóis, por sua vez, também devem
ter estranhado os modos de viver, de se vestir e a língua dos astecas.
Império Asteca: Passado o primeiro momento, os espanhóis descobriram que
nunca foi uma vários povos do Império Asteca estavam revoltados com a domi-
unidade política;
era, na verdade,
nação asteca. Entre esses povos estavam os habitantes da cidade de
um conjunto de povos Tlaxcala. Os espanhóis aliaram-se então a esses povos e marcharam
com diferentes graus sobre Tenochtitlán, a capital do Império Asteca. Ajudados pelos
de subordinação
aos astecas. Alguns tlaxcaltecas e por milhares de outros aliados indígenas, Cortez e seus
povos pagavam soldados conquistaram Tenochtitlán em 1521, matando milhares de
tributos a eles, mas astecas, entre os quais seu imperador Montezuma.
tinham uma relativa
autonomia. Outros Após a conquista de Tenochtitlán, Cortez instalou-se no palácio
eram governados pelos de Montezuma, e seus auxiliares ocuparam outros palácios mexicas.
astecas, e outros,
ainda, só pagavam

GRAVURA COLORIDA, 1892/ARCHIVES CHARMET/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


tributos à força,
quando eram vítimas
de expedições punitivas
promovidas pelos
astecas.

Batalha de Tepexic.
Esta imagem é uma
cópia de um dos
80 desenhos que
constam do Lienzo de
Tlaxcala, obra feita
por artistas indígenas
da cidade de Tlaxcala
no século XVI. O
homem representado
a cavalo, quase no
centro da imagem,
é Hernán Cortez. Ao
lado dele estão os
tlaxcaltecas.

170

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Leia o que uma historiadora diz sobre a conquista espanhola.


O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que
havia imaginado. Destruía pirâmides para construir igrejas, derrubava habitações
para obter o desenho da praça ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras
nos canais para que os cavalos pudessem circular melhor na cidade. Reconstituía-se
tudo o que era possível para que o núcleo urbano lembrasse a Europa.
THEODORO, Janice. Descobrimentos e Renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. (Repensando a história, p. 63).

a) Interprete o que a autora quis dizer com: “O colonizador, como se fosse um escultor,
talhou a América na forma em que havia imaginado”.
b) Com base nesse texto e na imagem, é possível dizer que os espanhóis tentaram
impor sua cultura e religião aos povos da América? Justifique.

BELIKOVA OKSANA/SHUTTERSTOCK.COM

Em primeiro plano, vemos as ruínas do Templo Mayor, principal edifício religioso asteca. As pedras
de demolição desse templo foram usadas para erguer a Catedral Metropolitana da Cidade do México
(vista ao fundo). A catedral, assim como toda a cidade, foi construída sobre as ruínas da cidade asteca
de Tenochtitlán. Cidade do México (México). Fotografia de 2018.

171

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A conquista das terras incas
A busca por riqueza e poder animou outro aventureiro espa-
nhol, Francisco Pizarro, a organizar uma expedição com o objetivo
de conquista. Seu alvo era o Império Inca, situado na Cordilheira
dos Andes.
Acompanhado de apenas 180 homens, parte dos quais
a cavalo, Pizarro partiu do Panamá e chegou à cidade inca de
Tumbez. Depois, em 1532, conquistou a cidade de Cajamarca.
Inca: título equivalente Então, instalou-se nessa cidade e convidou o inca Atahualpa para
ao de imperador.
um encontro reservado.

MOZART COUTO

Nessa ilustração atual, baseada em relatos de cronistas espanhóis, Atahualpa vai ao encontro de Pizarro
numa liteira carregada por seus guerreiros.

Assim que Atahualpa chegou, Pizarro mandou prendê-lo e ordenou a seus soldados
que atirassem nos incas de surpresa. Em seguida, os espanhóis partiram para a conquista
de Cuzco, a mais importante cidade do Império Inca. Para isso, contaram com a ajuda
de vários povos indígenas, inimigos dos incas, a exemplo dos wankas. E, além disso, os
espanhóis se aproveitaram, também, da divisão entre os próprios incas, motivada pelas
disputas pelo trono entre os irmãos Atahualpa e Huáscar. Depois de tomar Cuzco, em
1533, Pizarro fundou a Ciudad de los Reyes,
Reyes, atual Lima, e fez dela a capital do domínio
espanhol na América andina.

172

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A resistência inca
Os incas não se deram por vencidos e, liderados pelo imperador Manco Inca, abriram
uma luta de vida ou morte contra os espanhóis, no sul do Peru. Veja o que um histo-
riador diz sobre o assunto.
[...] Manco revoltou-se e, seguido por milhares de súditos, refugiou-se [...] próximo
da cidade sagrada de Machu Picchu, local inacessível e desconhecido dos espanhóis. [...]
Manco fundou na região um novo império com todos os valores e tradições do
antigo. Restabeleceu a antiga religião, o culto ao Sol e ao Inca, numa atitude consciente
de rechaço ao cristianismo.
[...]
MARK GREEN/ALAMY/FOTOARENA
A resistência indígena também se
manifestou no cotidiano através de
formas [...] de continuidade cultural.
A mais conhecida delas af lorou no
âmbito religioso, em que vários nativos
fingiam adorar o Deus cristão, mas
permaneciam cultuando suas próprias
divindades.
[...]
Estas diversas formas de resistên-
cia – armadas ou culturais, individuais
ou coletivas – reafirmam a ideia de que
os indígenas não apenas sofreram a
conquista, mas também foram agentes
desse processo.
SCHMIDT, Benito Bisso. A Espanha e a América no
final do século XV: o descobrimento e a conquista. In:
WASSERMAN, Claudia (coord.). História da América
Latina: cinco séculos (temas e problemas). Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2000. p. 36-37.

Túpac Amaru, o último líder da


resistência inca, foi preso e
decapitado pelos espanhóis em
1572. No Peru, alguns estados
independentes só foram dominados
depois de sua morte. Pintura de 2013.

173

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Um novo olhar sobre as razões
da conquista espanhola
Cortez chegou ao México com apenas 508 homens e Pizarro entrou no Peru com 180
homens. Então, como que centenas de espanhóis conseguiram vencer milhões de nativos?
Essa é uma pergunta que sempre provocou a curiosidade dos historiadores.
Segundo o historiador Matthew Restall, a conquista espanhola da América deveu-se
a quatro fatores principais.
O primeiro e mais determinante foram as doenças trazidas pelos europeus e contra
as quais os corpos indígenas não tinham resistência; essas doenças, como sarampo, varíola
e gripe, mataram mais do que as armas de fogo. O sucessor de Montezuma foi uma dessas
vítimas: reinou por apenas 80 dias e morreu de varíola.
O segundo fator foi que os espa-

GRANGER/FOTOARENA
nhóis souberam aproveitar a desunião e
a rivalidade entre os ameríndios. Tanto
os astecas quanto os incas tinham
muitos inimigos, que formaram verda-
deiros exércitos indígenas para ajudar os
espanhóis a tomar as terras astecas e
incas. Para conquistar Tenochtitlán, por
exemplo, Cortez contou com a ajuda do
povo tlaxcalteca.

# DICA!
Vídeo do Instituto Butantan sobre a
epidemia de varíola através dos séculos.
A VARÍOLA – As grandes epidemias.
2016. Vídeo (5min8s). Publicado pelo
canal Butantan. Disponível em:
https://www.youtube.com/
watch?v=vSi823WmbzY.
Acesso em: 9 jun. 2022.

Astecas com varíola, doença transmitida,


na época, pelos espanhóis aos povos da
América. História Geral das coisas da
Nova Espanha, de Frei Bernardino
de Sahagún, século XVI.

174

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O terceiro fator foram as armas dos conquistadores, que tinham poder destrutivo
superior às armas dos indígenas. Podemos destacar: a armadura de ferro e a espada de aço
(resistência), o cavalo (mobilidade) e as armas de fogo, e que, no caso do canhão, impres-
sionavam também pelo barulho que faziam.
O quarto fator foi que os espanhóis sabiam muito mais sobre os astecas e os incas do que
esses povos sobre os europeus. Os espanhóis procuraram se informar a respeito das discórdias
e disputas entre os indígenas e estimularam a guerra entre eles, aliando-se a um dos grupos.
Vencida a guerra, apossavam-se de tudo e submetiam, inclusive, seus aliados.
Soma-se a isso o fato de os espanhóis usarem intérpretes e guias nativos ou náufragos
para conhecer os pontos fracos de seus adversários.
Calcula-se que, na data da chegada de Colombo (1492), viviam na América cerca
de 57 milhões de ameríndios. Em 1560, restavam apenas cerca de 10 milhões! Essa
diminuição brusca da população ameríndia é considerada, pelo pesquisador Tzvetan
Todorov, uma das maiores tragédias da
STR/AFP
história humana.
No entanto, segundo o historiador
Matthew Restall, a conquista espanhola
da América não foi rápida nem total..
A tomada de Tenochtitlán, em 1521, e de
Cuzco, em 1533, significou a conquista das
capitais dos impérios asteca e inca, e não do
território desses impérios como um todo. A
expansão dos conquistadores espanhóis no
território americano foi gradual e encontrou Arqueóloga limpa o crânio do esqueleto de uma
sérias resistências por parte dos indígenas. mulher, encontrado no túmulo de uma sacerdotisa
Os maias,, por exemplo, organizaram várias ameríndia. Lima (Peru), fotografia de 2013.
Por meio da pesquisa de fósseis, arqueólogos e
revoltas contra os espanhóis nas décadas paleontólogos contribuem para o conhecimento
que se seguiram à conquista da América. da história dos povos da América.

ESCUTAR E FALAR

Algumas doenças antigas, Autoavaliação. Responda em seu caderno.


como o sarampo, ressurgiram e
a Expressei minhas ideias com objetividade?
estão fazendo muitas vítimas ao
b Usei tom de voz e gestos adequados?
redor do mundo. Como gover-
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
nos e pessoas podem contribuir
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
para erradicar uma epidemia
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
como a do sarampo? Pesquisem
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
e preparem-se para falar.

175

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Economia colonial
Durante o processo de conquista, os espanhóis iniciaram também a colonização da
América, isto é, a ocupação, a exploração econômica e a administração do território
americano.

A mineração
Com a descoberta das ricas minas de prata de Potosí (na Mita: antigo hábito
atual Bolívia), em 1545, e em Zacatecas (no México atual), no ano inca pelo qual os
seguinte, a mineração se transformou na atividade mais importante habitantes das aldeias
eram obrigados a realizar
na América espanhola. Considerando as minas como suas proprieda- serviços gratuitos para
des, o rei da Espanha mandou distribuir lotes auríferos àqueles que o Império Inca durante
alguns dias por ano. Esse
tivessem dinheiro para iniciar sua exploração. Já o penoso trabalho de
hábito foi adaptado pelos
arrancar a prata do fundo das minas deveria ser feito pelos indígenas. espanhóis.
As duas principais formas de trabalho forçado na América
espanhola foram a mita e a encomienda.
A mita era a obrigação que os membros das aldeias tinham de trabalhar para os
espanhóis durante quatro meses por ano. Esses trabalhadores (os mitayosmitayos)) recebiam por
seu trabalho cerca de um terço do salário de um trabalhador livre daquela época.
A encomienda era o direito dado ao colono espanhol (encomendero
(encomendero)) de explorar o
trabalho indígena nas minas, plantações e fazendas por certo período. Em troca do direito
sobre o trabalho indígena, o colono devia pagar tributos à metrópole espanhola e dar aos indí-
genas assistência material e

JOHN JUDKYN MEMORIAL, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


religiosa, ou seja, alimentá-
-los e ensinar-lhes a religião
católica. Mas os colonos
quase nunca cumpriam sua
parte: milhares de indígenas
morreram por maus-tratos
ou de fome e sem nada
saber sobre o cristianismo.

A crueldade de Petrus de Calyce,


de Théodore de Bry, século XVI.
Indígenas escravizados
trabalham como carregadores
para os espanhóis.

176

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Potosí: prata, suor e sangue


Um dos exemplos mais cruéis de trabalho forçado em todos os tempos foi o uso dos
indígenas nas minas de prata de Potosí, na Bolívia atual. Além de prejudicial à saúde, o
trabalho nas minas de Potosí era muito difícil. A galeria que descia para o interior da mina
era estreita. Suas escadas eram feitas de madeira e couro. Os trabalhadores desciam
de três em três. O primeiro levava uma pequena candeia, que pouco iluminava. Cada
trabalhador devia extrair por dia duas arrobas de prata, isto é, cerca de 30 kg, e subir
com o mineral numa bolsa amarrada ao pescoço.
AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

Indígenas extraem prata


na mina de Potosí
(na atual Bolívia),
gravura de Théodore
de Bry, 1596.

Devido ao baixo salário e às más condições de trabalho, muitos trabalhadores


morriam de fome ou doenças, como a pneumonia; outros, de acidentes, como soter-
ramentos e quedas de grandes alturas; muitos, ainda, tornavam-se dependentes do
consumo de bebidas alcoólicas. Frei Domingo de Santo Tomás, um padre que viveu na
época, escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é suor e sangue dos indígenas”.

Dados oficiais sobre a produção de prata em Potosí, em pesos


De 1545 até 1556 127 500 000
De 1556 até 1789 819 258 500
De 1789 até 1803 46 000
Fonte: PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América.
São Paulo: Contexto, 2001. p. 38.

a) Qual foi o período áureo de exploração da prata em Potosí?


b) Em que período a quantidade de prata obtida foi menor?
c) O que se pode concluir pelos dados da tabela?

177

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A agropecuária
Na América colonial espanhola, praticavam-se a agricultura e a pecuária em grandes
propriedades, nas fazendas. Entre os principais produtos da agricultura estavam o cacau,
a batata, o milho e o tabaco (nativos da América) e a cana-de-açúcar (introduzida
na América pelos europeus). Além disso, criavam-se gados de corte e de transporte
(mulas e cavalos).
No final do século XVIII, com o declínio da mineração, a agricultura e a pecuá-
ria se desenvolveram ainda mais; aumentou o número de fazendas que produziam
gêneros como cacau, na Venezuela; açúcar e tabaco, em Santo Domingo e Cuba. Os
trabalhadores dessas fazendas eram, geralmente, africanos escravizados, trazidos para
a América em grande número desde o século anterior. A grande fazenda escravista
produtora de um gênero tropical, como o cacau, destinado ao mercado externo é
chamada de plantation.

América espanhola: economia (século XVII)


Toda a produção de prata, ouro,
ALLMAPS

açúcar, tabaco, charque (carne


salgada), couro e sebo era vendida
Zacatecas à Espanha e às cidades coloniais
Trópico de Câncer Havana
(mercado interno). Além disso, a
CUBA
HISPANIOLA
produção e a venda de alimentos nas
Vera Cruz
VICE-REINADO
Santo Domingo vilas e cidades coloniais foram um
DA NOVA ESPANHA
Cartagena OCEANO importante setor da economia na
Porto Belo
ATLÂNTICO América colonial espanhola.
Panamá

Equador

VICE-
OCEANO -REINADO
Linha de Tordesilhas

DO PERU
PACÍFICO
Lima AMÉRICA
PORTUGUESA Dialogando
Potosí
Ouro

Prata Trópico de Capricórnio


a Qual é o assunto do mapa?
Tabaco
b De que forma o mapa informa
Anil
o leitor sobre as áreas
Cana-de-açúcar Buenos
Aires efetivamente ocupadas
Algodão
pela Espanha no início do
Cacau
século XVII?
Alpaca

Lhama c Qual é a área de criação


Gado de alpacas e lhamas?
Áreas efetivamente
dominadas pela d Para onde era vendida a
Espanha no início
do século XVII
0 1080
produção de prata, ouro,
Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de. açúcar, tabaco, charque
Atlas história geral. São Paulo: Scipione, 1997. p. 39. (carne salgada), couro e sebo?

178

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O controle da colônia pela metrópole
Para cuidar de seus negócios com a América espanhola e exercer um controle rígido
sobre a região, a Espanha criou dois importantes órgãos:
• a Casa de Contratação: órgão encarregado de controlar o comércio e a navegação
entre a Espanha e suas colônias americanas, que funcionava desde 1503, na cidade
portuária de Sevilha, na Espanha. Os navios que faziam o comércio entre a Espanha e a
América só podiam sair ou entrar por um único porto: Sevilha. E, na América, os únicos
portos autorizados a comerciar com a Espanha eram: Havana (Cuba), Vera Cruz (México),
Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Por meio dessa política mercantilista,
que restringia o comércio a alguns portos e visava aumentar o poder e a riqueza da
monarquia espanhola, a Espanha obtinha lucros extraordinários.
• o Conselho das Índias: órgão criado pela monarquia espanhola em 1524, para admi-
nistrar suas colônias na América. O órgão era formado por um Conselho nomeado e
dirigido pelo rei da Espanha. Seu poder era imenso: podia fazer leis, ministrar a justiça
e nomear funcionários para as colônias e destituí-los.

M
.CO
CK
Vista interna do Palácio Real Alcázar. Sevilha (Espanha). Fotografia

TO
RS
TTE
de 2019. Nesse palácio, funcionava a Casa de Contratação. Nesta

HU
imagem, é possível perceber a existência de dois traços da arquitetura

P/S
ED
FR
árabe medieval: os arcos em forma de ferradura e as colunas finas.

179

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A administração espanhola
Inicialmente, o governo da Espanha transferiu a particulares, homens como Cortez
e Pizarro, o direito de explorar e administrar as terras americanas. Esses homens, os
adelantados (adiantados), recebiam dos reis da Espanha o poder político e militar na
América, mas eram obrigados a enviar para a metrópole um quinto de toda a riqueza
extraída e produzida nas áreas conquistadas por eles.
Mais tarde, ao perceber que as riquezas americanas aumentavam, mas eram desviadas,
a monarquia espanhola anulou o poder dos adelantados e aumentou o controle sobre
suas colônias da América. Para isso, instituiu dois vice-reinados: o Vice-Reinado de Nova
Espanha (1535), no atual México, e o Vice-Reinado do Peru (1542). Posteriormente, já
no século XVIII, foram criados os de Nova Granada e do Rio da Prata.. Para defender as
colônias de ataques de piratas, fato comum na época, o governo espanhol criou também
quatro Capitanias Gerais:: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile, todas situadas em áreas
estratégicas.
No território colonial,
América Espanhola (séculos XVI a XVIII)
foram criadas as Câmaras

ALLMAPS
Municipais. Chamadas
na América de cabildos,
eram encarregadas de VICE-REINO DA
NOVA ESPANHA
(1535) CAPITANIA
administrar as cidades e GERAL DA FLÓRIDA
Trópico de Câncer
fazer cumprir as leis do CAPITANIA
GERAL DE CUBA
governo espanhol. Eram
também responsáveis CAPITANIA
CAPITANIA
GERAL DA
GERAL DA VENEZUELA
pela segurança. Os vere- GUATEMALA
VICE-REINO DE
Equador NOVA GRANADA
adores dessas câmaras (1717) 0°

eram quase sempre filhos


de espanhóis nascidos na VICE-REINO
DO PERU
(1542)
América, que mais tarde
Trópico de Capricórnio
ficaram conhecidos como VICE-REINO
DO RIO
criollos..
criollos DA PRATA
CAPITANIA (1776)
OCEANO GERAL
DO CHILE
PACÍFICO

OCEANO
ATLÂNTICO

Fonte: THE TIMES Atlas of the 0 1 165


World History. Londres: 90° O
Times Books, 1990. p. 161.

180

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Sociedade e poder na América espanhola
As sociedades hispano-americanas eram formadas basicamente por cinco grupos:
chapetones,, criollos
chapetones criollos,, mestiços, indígenas e negros escravizados.
• Chapetones: colonos nascidos na Espanha, também chamados de peninsulares; ocu-
pavam os principais cargos políticos, militares e religiosos, e tinham enormes privilégios.
• Criollos: filhos de espanhóis nascidos ÓLEO SOBRE TELA, 80,7 X 105,4 CM, BREAMORE HOUSE, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

na América. Eram ricos fazendeiros,


donos de minas e grandes comercian-
tes. Não podiam ocupar altos cargos,
exceto o de vereador nas Câmaras
(cabildos).
Municipais (cabildos ).
• Mestiços:: filhos de espanhóis ou de
criollos com indígenas ou africanas.
Ocupavam funções de pouco prestígio,
como pedreiros, carpinteiros, ferreiros
e capatazes de fazenda.
• Indígenas:: constituíam a maioria da
população e eram duramente explo-
Espanhol, indígena e seus filhos
rados nas fazendas, nas tecelagens e
mestiços, de Juan Rodríguez Juarez,
nas minas. c. 1715.
• Africanos escravizados:: trabalhavam
principalmente nas grandes planta- ÓLEO SOBRE TELA, 81,3 X 106,1 CM, MUSEU DE ARTE DE LOS ANGELES. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

ções de cacau na Colômbia, Equador,


Venezuela e Cuba. No início da colo-
nização, o número de escravizados na
América espanhola era pequeno.
As sociedades coloniais hispano-
-americanas eram formadas por uma
minoria de brancos, com grande riqueza
e poder; e uma maioria de índigenas,
mestiços e africanos, que realizavam tra-
balho mal remunerado ou escravo. Além
disso, índigenas, negros e mestiços eram
discriminados pelas elites coloniais. Os
mestiços, por exemplo, eram proibidos
de circular com armas, joias de ouro ou Mulher nobre com sua escrava negra,
roupas de seda. de Vicente Albán, c. 1783.

181

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 O trecho a seguir é de um texto retirado de um livro de documentos históricos. Leia-o
com atenção.
Tudo começou com Cristóvão Colombo que deu ao povo o nome de índios. [...]
“Tão afáveis, tão pacíficos são eles”, escreveu Colombo ao rei e à rainha da Espanha
[...]. “Amam a seus próximos como a si mesmo [...]; embora seja verdade que andam
nus, suas maneiras são decentes e elogiáveis”.
(BROWN, 1973 apud PINSKY et al., 2011, p. 24-25).
a) Quem é Cristóvão Colombo?
b) Para quem ele fala?
c) Sobre quem Colombo fala?
d) Quais adjetivos Colombo usa para descrever os ameríndios?
e) O texto permite inferir que Colombo elogiou a nudez dos indígenas? Justifique.

2 O texto a seguir é do historiador Matthew Restall. Leia-o com atenção.


Na manhã de 8 de novembro de 1519, na estrada que cruzava o lago Texcoco, no Vale
do México, ocorreu um encontro único na história mundial, Montezuma e Cortez viram-se
frente a frente.

SCIENCE SOURCE/ALAMY/FOTOARENA
Há séculos este evento é considerado simbólico do
grande encontro de continentes que atravessava, então,
sua terceira década – e com bons motivos. Pela primeira
vez, um imperador americano nativo saudava um repre-
sentante dos europeus que vieram conquistar e colonizar
suas terras. A ocasião foi amistosa, com ambos os lados
ansiosos por exibir um [...] compromisso com a diploma-
cia. Sem embargo,, o choque de culturas ficou também
imediatamente evidente. Em questão de meses os dois
lados estariam encalacrados numa guerra sangrenta,
que provocaria a morte de Montezuma e sua sucessão
por Cortez no posto de homem mais poderoso do México
central. Ilustração de Cortez
Embargo: dúvida. RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. ajoelhado diante de
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 150. Montezuma, século XVI.

182

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a) Quem eram Montezuma e Cortez?
b) Interprete. Qual é o significado do termo “encontro de continentes” no texto?
c) Anote no caderno a afirmativa correta. Sobre o texto, é possível afirmar que:
I. ele descreve o confronto entre Cortez e Montezuma.
II. nenhum dos dois líderes se esforçou para ser (ou parecer) respeitoso.
III. o
 encontro entre Cortez e Montezuma, que inicialmente foi amistoso, desembocou em
uma guerra entre eles.
IV. o
 conflito entre as forças lideradas por Cortez e as comandadas por Montezuma terminou
com a vitória destas sobre aquelas.

3 Avalie as afirmações e copie no caderno as corretas.


a) Chegando à América, Cortez logo descobriu que os astecas tinham uma relação amigável
com os povos sob o seu domínio.
b) Os espanhóis conquistaram Tenochtitlán com a ajuda dos povos rebelados contra o domínio asteca.
c) Os principais aliados dos espanhóis na conquista de Tenochtitlán foram os tlaxcaltecas, inimi-
gos ferrenhos dos astecas.
d) Os espanhóis conviveram em harmonia com os astecas, dividindo com eles o governo do
Império Asteca.

4 O texto a seguir é sobre as populações maias, habitantes da América Central e sul


do México. Leia-o com atenção.
[...] Estabelecidas havia mais de dois

STEFAN EMBER/ALAMY/FOTOARENA
mil anos naquela região, organizadas
em cidades com sofisticada arquitetura
e senhoras de um repertório cultural
que envolvia um sistema de escrita e
elaborados conhecimentos astronômicos,
essas populações realizaram grandes
revoltas indígenas nas primeiras décadas
que se seguiram à Conquista e, em uma
nova onda [...], nas últimas décadas do
século XVIII.
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela.
História da América Latina.
São Paulo: Contexto, 2016. p. 21.

Máscara maia de Palenque.


Chiapas (México),
fotografia de 2015.

183

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a) O que a leitura desse texto permite concluir sobre a relação entre os espanhóis e os maias?
b) Esse
 texto reforça ou contraria a ideia de que a conquista espanhola foi rápida e fácil?
Por quê?

5 O texto a seguir é uma carta de Hernán Cortez ao rei da Espanha, datada de 1519.
Leia-a com atenção.
Deixei toda aquela província de Cempoala [...], que contém cerca de cinquenta
mil guerreiros e cinquenta cidades e fortalezas, na mais profunda paz e segurança; e
todos esses nativos [...] eram súditos de Montezuma [...]. Ao tomarem conhecimento,
por meu intermédio, da existência de Vossa Alteza e de Vosso imenso poder Real,
manifestaram seu desejo de se tornarem vassalos de Vossa Majestade e meus aliados,
e rogaram-me que os protegesse do grande senhor que os dominava pela tirania [...].
Em face disso, têm se mostrado muito leais e verdadeiros no serviço de Vossa Alteza,
e creio que sempre o serão, livres agora que estão da tirania de outrora e tendo em
vista que sempre foram por mim honrados e bem tratados.
(CORTEZ, 1519 apud RESTALL, 2006, p. 132).

a) Quem foi Cortez e que posição ele ocupava?


b) O que ele relata no texto?
c) C
 opie no caderno o trecho do texto em que Cortez afirma que os nativos se sujeitaram aos
espanhóis de livre e espontânea vontade.
d) Como Cortez se refere:
• ao rei da Espanha?
• a Montezuma?
• a si próprio?
e) C
 om base no que você estudou neste capítulo, é possível perceber exagero ou fantasia na
carta de Cortez ao rei?

6 Sobre a reação dos incas aos espanhóis, é correto afirmar que:


a) os incas colaboraram com os espanhóis, facilitando, assim, a conquista de suas terras.
b) os incas resistiram aos espanhóis, refugiando-se próximo à cidade de Machu Picchu e fun-
dando um novo império.
c) os incas deixaram rapidamente o culto ao Sol e ao Inca para seguir o cristianismo.
d) os incas conseguiram resistir aos espanhóis e conservar a integridade de seu império.

7 Segundo o historiador Matthew Restall, a conquista espanhola da América deveu-se


a quatro fatores principais.
a) Quais são eles?
b) Qual desses fatores foi o mais determinante?

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8 O trecho a seguir foi escrito por um poeta mexica, e é uma homenagem aos mexicas
que tombaram na guerra contra os espanhóis.
A morte
que os nossos pais, irmãos e filhos receberam

EDITORA UNESP
não lhes chegou porque eles deviam alguma coisa,
nem porque roubaram ou mentiram,
nem por qualquer vilania,
mas pelo valor e honra
do nosso país e nação,
pelo valor do nosso império mexicano
e pela honra e pela glória
do nosso deus e senhor Uitzilopochtli [...].
BAUDOT, Georges; TODOROV, Tzvetan. Relatos astecas da conquista.
São Paulo: Unesp, 2019. p. 23.

Fac-símile da capa do livro Relatos astecas da Conquista,


de Georges Baudot e Tzvetan Todorov.

I. O poema feito por um poeta mexica é:


a) um relato de guerra contra os espanhóis.
b) uma explicação para a morte dos espanhóis.
c) uma homenagem aos que morreram na luta contra os espanhóis.
d) uma poesia religiosa dirigida ao deus Uitzilopochtli.

II. O trecho da poesia permite inferir que o poeta:


a) tem vergonha de ser mexica.
b) culpa os mexicas por terem perdido a guerra.
c) afirma e valoriza sua identidade mexica.
d) preferia ser espanhol a mexica.

9 Sobre as formas de trabalho na América espanhola, escreva no caderno as afirmações


corretas.
a) A mita era um antigo hábito inca pelo qual os membros das aldeias eram obrigados a realizar
serviços gratuitos para o Império Inca.
b) Os espanhóis transformaram a mita em uma obrigação pela qual os membros das aldeias
tinham de trabalhar para eles quatro meses ao ano.
c) A encomienda era o direito que os colonos espanhóis tinham de explorar o trabalho dos
indígenas nas minas, plantações e fazendas por certo período.
d) A mita desapareceu após a conquista espanhola da América.
e) Apesar das condições de trabalho nas minas de prata de Potosí serem desfavoráveis, não
chegavam a prejudicar a saúde dos indígenas.

185

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10 Leia o diagrama a seguir. Seu desafio é elaborar, e­­m seu caderno, as dicas que resul-
taram nas palavras de cada linha.

a) C O R T E Z
b) M O N T E Z U M A
c) T E N O C H T I T L Á N

d) C O N Q U I S T A

e) A T A H U A L P A
f) P I Z A R R O

SCIENCE SOURCE/ALAMY/FOTOARENA
g) P O T O S Í
Atahualpa, último
imperador inca.
h) M I T A
i) T Ú P A C * A M A R U

11 Por que o governo espanhol instituiu quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais
na América espanhola?

12 As sociedades hispano-america-


nas eram formadas basicamente
AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

por cinco grupos: chapetones ,


criollos , mestiços, indígenas e
negros escravizados. Quem eram
e o que faziam?
a) Chapetones.
b) Criollos.
c) Mestiços.
d) Indígenas.
e) Negros escravizados.

Menina albina filha de


espanhol e mestiça,
de Miguel Cabrera, 1763.

186

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II. Leitura e escrita em História
Leitura de imagem
A imagem é de uma pintura mural que está no Palácio Nacional na Cidade do México,
onde funciona a sede do governo mexicano, e mede 4,29 x 5,27 metros. Foi pintada pelo
mexicano Diego Rivera, um dos pintores mais respeitados do século XX. Observe-a com
atenção e depois responda às questões.

SÉBASTIEN LECOCQ/ALAMY/FOTOARENA
5 4

2 3

Detalhe do mural de Diego Rivera, século XX.

a) O que você vê ao centro e em primeiro plano (cena 1)?


b) O que se vê na cena 2 (à esquerda)?
c) As cenas 3, 4 e 5 mostram o trabalho forçado dos indígenas; descreva-as.
d) Quem ficava com a maior parte da riqueza extraída ou produzida na América?
e) Tente responder: com que intenção a pintura foi produzida?

187

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Vozes do passado
O texto a seguir é a reunião de estrofes de dois poemas astecas do século XVI,
chamados por eles de Cantos tristes.. Os versos descrevem a cidade de Tenochtitlán às
vésperas de sua rendição, em agosto de 1521. Leia-os com atenção.

Os astecas narram a Conquista


Pelos caminhos jazem [flechas] Preço de jovem, de sacerdote,
partidas; de criança e de donzela.
os cabelos estão espalhados. [...]
As casas estão destelhadas, Ouro, jade, ricas mantas,
seus muros avermelhados. plumas de quetzal;
Germes se espalham por ruas e tudo isso que é precioso
praças, nada foi levado em conta.
[...] [...]
As águas estão rubras, tintas Chorai, amigos meus,
[de sangue], Compreendei que com estes
e quando a bebemos, fatos
é como se bebêssemos água perdemos a Nação Mexicatl.
salgada. A água azedou, se azedou a
[...] Nos puseram preço. comida. [...]
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Coletânea de documentos de
história da América para o 2o grau – 1a série. 2. ed. São Paulo: SE/CENP, 1985. p. 7.
ALBUM/EASYPIX BRASIL

Ilustração atual de como seria


a capital asteca Tenochtitlán.

a) O texto pode ser classificado como historiográfico ou literário?


b) Identifique e copie em seu caderno o trecho em que se diz que a conquista da capital asteca
pelos espanhóis trouxe também problemas de saúde pública.
c) Transcreva um trecho do poema em que se percebe que seus autores eram astecas.
d) O
 texto é inspirado em um fato real. Tente responder: por que seus autores são tão convin-
centes na descrição dos fatos?
e) E labore, com suas palavras, um pequeno texto sobre o que a conquista da capital asteca
significou para seus habitantes.

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Vozes do presente
Houve um povo indígena, os mapuche, que nunca foi conquistado pelos espanhóis.
Esse povo habitava, e ainda habita, onde hoje é o sul do Chile. Leia o texto a seguir.

Luan-Taru – O grande herói mapuche


Assim que desembarcaram na parte leste do que hoje é América do Sul, os espa-
nhóis iniciaram suas guerras de conquista [...]. A região mapuche [...] logo passou a
ser também espaço da cobiça. Muitas foram as batalhas entre eles e os invasores.
Numa dessas escaramuças,, em 1546, um menino mapuche [...] foi capturado pelas
tropas inimigas. Seu nome era Luan-Taru [...], que na língua mapundungun queria
dizer “veloz”. Ele tinha pouco mais de 11 anos e foi levado para
servir ao comandante Pedro Valdívia. Durante muito tempo Escaramuça: pequeno
participou das batalhas, cuidou dos cavalos, [...] e aprendeu duelo dentro de uma
batalha maior.
táticas militares. [...]
COLEÇÃO PARTICULAR

O jovem Luan-Taru, representado em parte de um painel de Pedro Subercaseaux, início do século XX.

189

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No ano de 1552 Luan-Taru montou num cavalo e deu de rédea Originário: nativo.
pelo campo afora. [...] Ele imediatamente se apresentou diante dos Encantou: faleceu.

chefes mapuche e ofereceu-se para ensiná-los a lutar. Mostrou o


cavalo – até então desconhecido pelos originários – ensinou-os a montar e a tal ponto
que os mapuche tornaram este animal quase como uma parte do seu ser.
[...] Luan-Taru ainda os ensinava a lutar em campo aberto, introduzia novas armas,
mostrava as técnicas de guerra aprendidas com os espanhóis [...]. Tamanha foi a lide-
rança deste jovem mapuche que em pouco tempo era escolhido como o Toqui (chefe
máximo na guerra).
[...] Sob a liderança do jovem Toqui, os mapuche enfrentaram por anos, sem fra-
quejar, as tropas espanholas. A palavra de ordem que movia as gentes [mapuches] era
o seu grito de guerra: “adiante, mapuches, vamos tomar Madrid”. Ele não chegou a
Madrid, mas tampouco foi vencido em batalha. Sua morte se deu num acampamento
perto do Rio Maule. Luan-Taru descansava nos braços da sua mulher, Guacolda, numa
tenda de campanha. Emboscado por uma pequena tropa liderada por Francisco de
Villagra, ele foi surpreendido e transpassado por uma lança, no ano de 1557. O jovem
Toqui encantou,, mas a luta mapuche não acabou. Como um verdadeiro mestre ele
havia ensinado seu povo, e a resistência seguiu pelos 300 anos afora.
TAVARES, Elaine. O povo Mapuche segue em luta. Instituto de Estudos Latino-americanos.
Florianópolis, 15 jan. 2015. Disponível em: http://www.iela.ufsc.br/noticia/o-povo-mapuche-segue-em-luta.
Acesso: 9 jun. 2022.

a) Qual é o assunto do texto?


b) O que mais chamou sua atenção na história de Luan-Taru?
c) Copie em seu caderno a alternativa correta. Luan-Taru contribuiu com seu povo:
I. ensinando os espanhóis sobre a utilização do cavalo como arma de combate e aprendendo
com eles táticas de guerra indígenas.
II. apresentando o cavalo aos chefes mapuche e aprendendo com eles táticas de guerra
indígenas.
III. ensinando aos mapuche a utilização do cavalo como arma de combate e as técnicas de
guerra aprendidas com os espanhóis.
IV. aprendendo com os mapuche táticas de guerra indígena e ensinando-os sobre a utilização
do cavalo como arma de combate.
V. convencendo seu povo a resistir aos espanhóis enquanto não recebiam ajuda dos povos
mexicas.
d) Por que será que a resistência indígena é um assunto pouco conhecido na escola?
e) L uan-Taru, líder guerreiro do povo mapuche, morreu em uma emboscada, mas sua imagem
e sua luta continuam vivas na lembrança do povo chileno. Pesquise e escreva no caderno
sobre a história de Luan-Taru, com destaque para sua atuação à frente do povo mapuche na
resistência aos espanhóis.

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CAPÍTULO

9 AMÉRICA PORTUGUESA:
COLONIZAÇÃO

O mapa a seguir é de 1556. Observe-o com atenção.

COLEÇÃO PARTICULAR

1. O que se vê na cena circulada em vermelho?


2. E na cena circulada em verde, o que se vê?
3. O que se observa na cena circulada em azul?
4. E no mar, o que se vê?
5. Será que a relação entre portugueses e indígenas foi amigável como na cena mostrada no mapa?
6. Será que os indígenas aceitaram pacificamente dividir com os portugueses as terras onde viviam?

191

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O encontro
Os povos tupis expandiam-se pelo litoral quando a esquadra de Tupiniquim: grupo
Cabral chegou à atual cidade de Porto Seguro, na Bahia, em 22 de abril Tupi que habitava
onde hoje é Porto
de 1500. O que será que os tupiniquins pensaram quando viram os Seguro, na Bahia.
portugueses chegando às terras habitadas por eles?
Os tupiniquins estranharam quase tudo: as enormes embarcações, as roupas, as botas,
os chapéus, as armas e a língua daqueles homens de pele branca e face rosada. Os
portugueses, por sua vez, também estranharam os tupiniquins. Esse estranhamento ficou
registrado na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Gravura retratando
Francisco de Almeida
(1450-1510), nobre,
soldado e explorador
português.
Gravura retratando
chefe indígena,
de Garnier Frères, 1876.

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons


narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura [...]; e nisso têm tanta ino-
cência como têm em mostrar o rosto [...].
[...] Os cabelos [...] são corredios [...] de boa grandura e rapados até por cima das orelhas.
Essa terra, Senhor, [...] é toda praia [...] e muito formosa [...]. Até agora não pudemos
saber se haja ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal. [...] Contudo a terra em si é
de muitos bons ares. [...] As águas são muitas, infinitas [...].
CASTRO, Therezinha de. A Carta de Caminha. In: CASTRO, Therezinha de.
História documental do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995. p. 29, 34-35.

Inicialmente, essa parte da América Dialogando


não despertou o entusiasmo dos portugue-
ses. Em primeiro lugar, porque nelas não a Como os indígenas foram descritos por Caminha?
encontraram ouro nem prata; em segundo b O que Caminha estranhou nos tupiniquins?
lugar, porque vinham tendo lucros enormes c E os tupiniquins, o que estranharam nos
com o comércio de especiarias (pimenta, portugueses?
cravo, canela, noz-moscada, gengibre etc.) d E a terra onde hoje é o Brasil, como foi descrita
provenientes da África e das Índias. por Caminha?

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Expedições, feitorias e pau-brasil
Nos primeiros contatos com a nova terra, os portugueses não Pau-brasil: as árvores de
acharam ouro nem prata, mas encontraram uma árvore típica da pau-brasil chegavam a ter
um metro de diâmetro na
Mata Atlântica: o pau-brasil
pau-brasil,, que tinha valor comercial, pois era base e de 20 a 30 metros de
usado na Europa para tingir tecidos e construir móveis e casas. Seu altura (o equivalente a um
tronco tem cor de brasa; daí o nome pau-brasil. edifício de 8 andares).

Ao saber da existência do pau-brasil, o rei de Portugal auto- Feitoria: armazém


fortificado no qual era
rizou a construção de feitorias para armazenar e comercializar a guardada a madeira até
valiosa madeira. Eram os indígenas que cortavam e transportavam que as naus chegassem
para buscá-la.
os troncos até as feitorias erguidas no litoral. Lá, realizava-se a
troca: os indígenas davam aos portugueses as toras da madeira e recebiam em troca
colares, facas, machados, espelhos (objetos úteis a eles, em geral). Esse tipo de troca de
um produto por outro é chamado de escambo..
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Mapa ilustrado português de


1565 representando a América
portuguesa. Nele, vê-se um indígena
erguendo o machado como quem
vai cortar o pau-brasil e uma
indígena com uma criança no colo.

193

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A disputa pela Nova Terra
Logo, os franceses também passaram a frequentar o litoral brasileiro e, por meio de
alianças com os tupinambás, inimigos dos tupiniquins, levavam daqui grandes carregamen-
tos de pau-brasil. Diante da ameaça francesa, a monarquia portuguesa reagiu enviando
ao litoral brasileiro duas expedições comandadas por Cristóvão Jacques. Mas logo concluiu
que era impossível policiar um litoral tão extenso como o de sua colônia na América.
Assim, por medo de perder a terra para os franceses e pelo interesse em fazê-la produzir
riquezas, o rei D. João III (1502-1557) decidiu colonizar o território conquistado. Para isso,
enviou para cá, em 1530, uma expedição colonizadora..
A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa combateu os franceses; explo-
rou o litoral brasileiro; e, em uma área habitada por indígenas guaianases e carijós, fundou
São Vicente (1532), a primeira vila do Brasil. Ali mandou erguer uma capela e o primeiro
engenho, destinado à produção de açúcar.
MUSEU PAULISTA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SP /ÓLEO SOBRE TELA

Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto, 1900. A tela de Calixto pode ser vista como
uma homenagem à chegada dos portugueses. O pintor opõe as roupas volumosas, capacetes
e espadas dos europeus às peles, plumas e flechas dos indígenas. Gestos, poses, bandeira,
cruzeiro... Tudo sugere a ideia de que os portugueses viriam a ser os novos senhores da terra.
O pintor omitiu as tensões e lutas entre os indígenas e os colonizadores. Sua obra serve
para representar não o século XVI, quando se deu a fundação de São Vicente, mas o final do
século XIX, quando a história oficial procurava mostrar um Brasil independente de Portugal e
reconciliado com ele.

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As capitanias hereditárias
Capitania hereditária:
Para dar continuidade à colonização da América portuguesa, o unidade administrativa
rei de Portugal dividiu o território colonial em 15 imensas faixas de cujas terras continuavam
pertencendo a Portugal.
terra, as capitanias hereditárias,
hereditárias, e entregou sua administração a
Sesmaria: lote de terras
12 homens, os capitães donatários. Por meio da carta de doação,, pertencente a Portugal
o rei de Portugal concedia o cargo de donatário, e por meio do e destinada ao cultivo
agrícola.
foral estabelecia seus direitos e deveres.

Os deveres dos donatários eram:


• desenvolver o cultivo de cana-de-açúcar na capitania;
• expandir a fé cristã;
• organizar a defesa militar;
• estimular a ocupação portuguesa da terra.

Os direitos dos donatários eram:


• retirar para si a vintena (5% do negócio do pau-brasil);
• cobrar impostos em rios e portos;
Capitanias hereditárias (1534-1536)
• julgar os crimes dos habitantes da capitania,

ALLMAPS
40ºOO
40º
com poderes para condenar à morte indíge- Equador

nas, negros e homens livres pobres;
• conceder sesmarias
sesmarias,, terras do tamanho de
DISTRIBUÍDAS

MARANHÃO 1
MARANHÃO 2
TERRAS NÃO

uma fazenda, a quem tivesse recursos para


CEARÁ

RIO GRANDE DO NORTE 1


PIAUÍ
RIO GRANDE
produzir riquezas; DO NORTE 2

ITAMARACÁ
• ter uma grande sesmaria.
O sistema de capitanias hereditárias foi PERNAMBUCO

utilizado inicialmente na Ilha da Madeira e,


BAHIA
depois, no Brasil e em Angola.
Tordesilhas

OCEANO
ILHÉUS ATLÂNTICO

PORTO SEGURO

O mapa ao lado, redesenhado pelo engenheiro ESPÍRITO SANTO


Jorge Cintra, representa as capitanias do
norte da colônia divididas de forma vertical e SÃO VICENTE 1 SÃO TOMÉ

não horizontal, como se pensava. SANTO AMARO


Trópic
o de Ca
SÃO VICENTE 2 pricór
n io
SANTANA
0 320

Elaborado com base em: MELO, Alice. Uma questão de


limites. Revista de História da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro, ano 10, n. 108, p. 12, set. 2014.

195

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Poucas capitanias tiveram o sucesso esperado. A maioria delas fracassou pelas seguin-
tes razões:
• falta de recursos de alguns donatários;
• grande extensão de terras a serem administradas;
• falta de comunicação entre elas;
• resistência dos indígenas à ocupação de suas terras;
• ataques de corsários.
Além disso, alguns donatários nem chegaram a vir para a América. Outros foram
mortos em combate com os indígenas.
Inicialmente, apenas Pernambuco e São Vicente prosperaram. Posteriormente, a Bahia
também se desenvolveu, em virtude da cana-de-açúcar. Entre os fatores que contribuíram
para o sucesso da produção açucareira onde hoje é o Nordeste estão: a fertilidade do solo,
o clima adequado ao cultivo de cana e a relativa proximidade com a Europa.
MOZART COUTO

Esse desenho
é um esforço
para nos
ajudar a
imaginar o
que pode
ter sido a
resistência
dos povos
tupis.

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O Governo-Geral
Diante do fracasso da maioria das capitanias, o rei de Portugal decidiu centralizar a
administração, criando, em 1548, o Governo-Geral. Parte do poder dos donatários passava
para o governador-geral. Os governadores eram, geralmente, homens que tinham prestado
serviços ao Império Português na África ou no Oriente, ou eram parentes de pessoas
influentes. Assim, formaram-se, pouco a pouco, no interior do Império Português, redes
de poder baseadas no favor, no parentesco e em interesses particulares.
Em março de 1549, chegou à Bahia o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa,,
acompanhado de três auxiliares: o capitão-mor, que cuidava da defesa; o ouvidor-mor, encar-
regado da justiça; e o provedor-mor, responsável pelas finanças. Com eles vieram também
funcionários, carpinteiros, soldados e jesuítas, religiosos chefiados pelo padre Manoel da
Nóbrega. Tão logo chegaram, os portugueses guerrearam contra os indígenas que resistiam
à ocupação portuguesa. Após vencê-los, apossaram-se de suas terras e nelas construíram e
fundaram, naquele mesmo ano, a cidade de São Salvador, primeira capital do Brasil.
As primeiras casas da cidade eram todas muito simples. Essas casas e os armazéns
ficavam na parte baixa da cidade, onde hoje é o bairro do Comércio. A casa do governador
e a casa da Câmara Municipal ficavam na parte alta, onde estão hoje a Praça Municipal,
a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e o Terreiro de Jesus.

Salvador: planta da cidade (1549)

ALLMAPS
G

M
J

E I
B
B H I
J
B
F D

A
I
A - Palácio do governador
J
B - Guaritas
C - Igreja da Ajuda
E B
C’ - Palácio do bispo Baía de B
C C’
Todos-os-
D - Casa da Câmara -Santos K I

E - Igreja da Conceição Ermida


F - Armazéns
G - Hospital I B
I
B
H - Portas da cidade I
I - Fosso em torno dos muros
J - Caminho em degraus
K - Caminho em rampa
L - Caminho para a Vila Velha L 0 38
M - Caminho para o Colégio

Fonte: SOUSA, Avanete Pereira. Salvador, capital da colônia.


São Paulo: Atual, 1995. (A vida no tempo do açúcar, p. 6).

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Duarte da Costa,, o segundo governador (1553-1558) também veio acompanhado de
vários colonos e de jesuítas. Entre eles estava o padre José de Anchieta, que fundou no planalto
de Piratininga, em 1554, o Colégio de São Paulo, origem da vila que, depois, transformou-se
na cidade de São Paulo.
Enquanto isso, D. Álvaro da Costa, filho do governador, liderava uma guerra contra os
tupinambás no litoral baiano. Conhecida como Guerra de Itapuã,, essa luta foi vencida
pelos portugueses, que tomaram terras dos nativos e as usaram para erguer engenhos.
O governador Duarte da Costa deu pouca atenção às capitanias ao sul, e os franceses
se aproveitaram disso para invadir a Baía de Guanabara, onde fundaram uma colônia
comercial chamada França Antártica (1555). Lá, com a ajuda dos tupinambás, inimigos
dos portugueses, conseguiram permanecer por 12 anos.
MUSEU DO PÁTEO DO COLÉGIO, SP

Ao lado, maquete representando a


Vila de São Paulo na época de sua
fundação. Abaixo, vista do Pátio
do Colégio, em São Paulo (SP), em
fotografia de 2016. Nesse local foi
erguida a primeira construção da
atual cidade. O Pátio do Colégio
abriga hoje um museu, uma
igreja, uma biblioteca temática e
importantes projetos sociais.
DANIEL CYMBALISTA/PULSAR IMAGENS

198

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Mem de Sá,, o terceiro
BIBLIOTECA DA AJUDA, PORTUGAL

governador (1558-1572), também


guerreou contra grupos indígenas
que resistiam aos portugueses. E,
por meio dessas guerras, conse-
guiu terra e escravizados para os
engenhos. Além disso, Mem de Sá
combateu os franceses, que haviam
fundado uma colônia comercial na
Baía de Guanabara. Durante esse
combate, Estácio de Sá, sobrinho
de Mem de Sá, mandou erguer um
forte no local, que deu origem à
cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro (1565). Dois anos depois, os
franceses foram expulsos dali.

Primeira carta portuguesa da Baía


do Rio de Janeiro, de Luís Teixeira,
cartógrafo Real, 1573-1578.
À esquerda, a recém-criada cidade
de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Em 1621, com o objetivo


Brasil: divisão do território (1621)
de melhorar a defesa e o con-

ALLMAPS
60º O 40º O

trole do território, a monarquia


portuguesa dividiu o terri-
Equador
tório colonial em duas áreas 0º
Belém
São Luís
administrativas: Estado do ESTADO DO

Maranhão,, com capital em São TERRAS


MARANHÃO
Olinda
DA
Recife
Luís (que, em 1751, passaria a 10º S
ESPANHA
10ºS
se chamar Estado do Grão-Pará Salvador
ESTADO
(capital até 1763)
TORDESILHAS

e Maranhão, com capital em DO BRASIL


Porto Seguro
Belém), e Estado do Brasil,, OCEANO
Vitória ATLÂNTICO
com capital em Salvador. Trópico de São
Paulo
Capricórnio
Rio de Janeiro
São Vicente

OCEANO
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício PACÍFICO 0 585
de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed.
Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 22.

199

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

A história do povo Tupinambá de Olivença que não está nos livros


Há quinhentos
quinhentos anos [...] os portugueses invadiram nossas terras, deram o nome
de Brasil a nosso território […] e apelidaram os nativos como índios, achando que
tinham chegado à Índia. […]
Hoje estamos exigindo nossos direitos, que sabemos que temos desde muito
tempo, bem antes da invasão. […]
Agora os fazendeiros […] falam que vivem nessa terra há Tupinambá: significa
“o mais antigo” ou o
80 anos, mas eles esquecem que bem antes de Pedro Álvares
“primeiro” e se refere
Cabral invadir o Brasil, nós nativos […] tupinambá,, já habitá- a uma grande nação
vamos essas terras. indígena.
Coronel: indivíduo
Governo, fazendeiros e coronéis não falam dessa dívida que com poder e influência
têm com o povo Tupinambá de Olivença. Lembremos que, em para controlar as
áreas política, social
1560, Mem de Sá ordenou que matassem todos os Tupinambá e econômica de uma
de Olivença, o que ficou conhecido na história como a Batalha região, geralmente no
interior do país.
dos Nadadores no rio Cururupe, que significa rio dos sapos.
Batalha dos
Mas também ficou conhecido como rio de sangue, porque a Nadadores: travada
água do rio ficou vermelha como sangue. Centenas de corpos também dentro
d’água, na região do
dos guerreiros tupinambás foram colocados enfileirados no Cururupe, em Ilhéus
meio da praia. […] (BA), entre homens
de Mem de Sá e
Mesmo com todo mal que […] fazem contra nós, índios os tupinambás que
Tupinambá de Olivença, eles têm que saber que, das árvores reagiam à destruição
de suas aldeias.
que eles derrubaram, ficaram muitas sementes, e essas semen-
tes brotaram e vêm brotando a cada dia que passa.
TUPINAMBÁ, Kaluanã. A história do povo Tupinambá de Olivença que
não está nos livros. Índios On-line. [S. l.], 22 ago. 2012.
Disponível em: http://www.indiosonline.net/ha-historia-do-povo-tupinamba-de-olivenca-que-nao-esta-nos-livros/.
Acesso em: 9 jun. 2022.

a) Quem é o autor do texto?

b) Como ele vê a chegada de Cabral?

c) Que interesses o autor do texto defende?

d) Que argumentos ele usa em defesa do seu ponto de vista?

e) O que o autor quis dizer no último parágrafo?

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As Câmaras Municipais
Com o avanço da colonização na América portuguesa, o rei de Portugal criou as
Câmaras Municipais, órgãos encarregados de administrar as vilas e cidades brasileiras.
Os vereadores das câmaras eram eleitos entre os “homens
“ bons”,
”, isto é, pessoas com
riqueza e prestígio social, a exemplo dos grandes proprietários de terra e dos grandes
comerciantes. Pesquisas recentes demonstram que era isso que acontecia nas Câmaras
Municipais de Salvador, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Além da riqueza e do prestígio,
era preciso ter também “pureza de sangue”: não eram aceitos, por exemplo, descendentes
de negros nem de judeus.
Reunidos nas Câmaras, os “homens bons” decidiam, entre outras coisas, sobre:
• a realização de obras públicas (calçadas, estradas e pontes);
• alguns impostos, a exemplo dos que eram pagos pelos vendedores ambulantes;
• a conservação, limpeza e arborização das ruas;
• os salários pagos a trabalhadores livres;
• o abastecimento de gêneros da terra, como farinha de mandioca.
Se por um lado os vereadores dessas câmaras representavam os interesses do rei de
Portugal e tinham de cumprir suas ordens, por outro, por serem habitantes da Colônia, tinham
interesses próprios que divergiam dos interesses do rei. Eram comuns, por exemplo, as divergên-
cias em torno do preço do açúcar: os senhores do engenho pediam um preço maior do que
aquele que os comerciantes portugueses queriam pagar. Quando isso acontecia, os vereadores
das câmaras escreviam para o governador pedindo que ele os ajudasse junto ao rei.

ROBERT NAPIORKOWSKI/SHUTTERSTOCK.COM

Prédio onde funcionava a Câmara Municipal de Diamantina (MG). Hoje é sede do fórum da cidade.
Fotografia de 2019.

201

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A economia colonial
Para dar início à exploração econômica da América portuguesa, o rei de Portugal
escolheu o açúcar de cana. Havia boas razões para essa escolha, como: a) o solo, o clima
do litoral nordestino e a existência de floresta para obtenção de madeira (lenha) favoreciam
o cultivo e o beneficiamento da cana; b) os portugueses já tinham produzido açúcar nas
ilhas da Madeira e de Cabo Verde; c) o açúcar alcançava bons preços na Europa, gerando
recursos para a monarquia portuguesa.
Inicialmente, os capitais investidos nos primeiros engenhos foram emprestados por
holandeses, italianos e portugueses. Mas, algum tempo depois, os senhores de engenho
já produziam açúcar com capitais próprios.
Quanto à mão de obra,, a monarquia portuguesa auto- Guerra justa: guerra contra
justas” contra indígenas hostis aos portugueses e
“guerras justas”
rizou o Governo-Geral a promover “guerras
considerados “bárbaros” por eles.
os indígenas a fim de escravizá-los. Isso explica por que os
três primeiros governadores-gerais fizeram guerras aos nativos, destruíram aldeias e obtive-
ram terras e escravizados para os engenhos. Basta ver que, em 1572, no engenho Sergipe
do Conde, um dos maiores da Bahia, mais de 90% dos trabalhadores eram indígenas.
COLEÇÃO PARTICULAR

Conquista dos campos de Guarapuava, atribuída a


Joaquim José de Miranda, século XVIII. O desenho é uma Dialogando
das raras imagens de resistência indígena ao avanço dos
colonizadores. A cena representa os kaingang resistindo P or que será que as guerras contra os indígenas
à ocupação de suas terras onde é hoje o Paraná. foram chamadas de "guerras justas"?

202

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Chegam os africanos
Na passagem do século XVI para o XVII, no Nordeste, os senhores de engenho
começaram a comprar africanos para substituir os indígenas no trabalho. E o fizeram
pelas seguintes razões: a) a falta de indígenas nas áreas açucareiras por fuga ou morte
por doenças e maus-tratos; b) os interesses econômicos envolvendo o tráfico de africanos
pelo Atlântico; c) a experiência dos portugueses com a mão de obra africana escravizada
na produção de açúcar nas ilhas de Cabo Verde e Madeira.
Muitos africanos trazidos para o Brasil nos séculos XVI e XVII eram bantos, povos
agricultores e pastores com grande domínio da metalurgia do ferro.
ERIC LAFFORGUE/EASYPIX BRASIL

ERIC LAFFORGUE/ART IN ALL OF US/CORBIS/GETTY IMAGES

Acima, mulher angolana e, à direita, moça


moçambicana em fotografias recentes.
Ambas pertencem a povos bantos.

O engenho
Nos tempos coloniais, o açúcar era produzido em engenhos. Inicialmente, engenho
era o nome que se dava ao equipamento usado na fabricação do açúcar. Com o tempo,
passou a significar um conjunto que incluía as matas, o canavial, a casa de engenho (onde
se produzia o açúcar), a roça (onde se plantavam os alimentos), a casa-grande (habitação
do senhor do engenho), a senzala (moradia dos escravizados), a capela (onde se realizavam
batizados, missas etc.) e a moradia dos trabalhadores livres.

203

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Engenho colonial
MANZI

Canavial

Feitor-mor
Senzala Aquele que
Onde viviam coordenava e
os escravizados. controlava o processo
produtivo na
fazenda; encarregado
dos trabalhadores
Transporte escravizados.
de cana.

Casa-grande
Onde viviam o senhor
de engenho, sua família
e agregados.

Moinho
Movido por tração Transporte
hidráulica, sua força de lenha para
era transmitida para a fornalha.
a moenda. Casa das caldeiras
Espaço que recebia o caldo
recolhido das moendas e
limpava-o das impurezas.

Moenda
Quando não havia tração hidráulica, era
movida por força animal ou humana.

Fonte: REVISTA de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 9, n. 94, p. 31, jul. 2013.

204

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O trabalho no engenho
1. Depois de plantar e cortar a cana,
os escravizados transportavam-na nos
ombros ou em carros de bois até a moenda.
GETULIO DELPHIN

2. Na moenda, a cana era moída.


O caldo escorria por calhas até um
recipiente grande. Dali era retirado
em vasilhas e levado até as caldeiras.

3. Na casa das caldeiras,


o caldo era cozido
em grandes tachos
e se retiravam dele
as impurezas. Daí o
melado grosso era 4. Na casa de
colocado em formas de purgar, o melado
barro, com um orifício permanecia
no fundo, e levado nessas formas
para a casa de purgar. até se cristalizar.
Durante a
formação dos
cristais de açúcar,
o furo das formas
permanecia
5. Depois, o açúcar era retirado das formas com o formato de um bloco fechado. Depois
duro (os pães de açúcar). Eles eram encaixotados e transportados nos era aberto,
ombros dos escravos ou em carros de bois até os pontos de venda. permitindo a
Repare os trabalhadores retirando os potes de açúcar das formas. passagem do mel.

205

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América portuguesa: um grande canavial?
Durante muito tempo, a América portuguesa foi descrita nos livros de História como
um grande canavial escravista voltado exclusivamente para a venda de açúcar à Europa.
Segundo essa visão, a economia colonial não tinha uma dinâmica própria, pois dependia
das vendas para o exterior. Estudos recentes, no entanto, provaram que a economia
colonial era diversificada e tinha dinâmica própria, como veremos a seguir.

Agricultura diversificada
No Brasil colonial, além do açúcar, eram produzidos muitos outros gêneros, como
fumo, algodão, cacau, castanha-do-pará, guaraná, couro e alimentos como mandioca,
feijão, milho, frutas e legumes.
O fumo ou tabaco, planta conhecida dos indígenas, começou a ser cultivado a partir
do século XVII, no interior da Bahia, incluindo Sergipe, então comarca baiana, e no litoral
de Pernambuco. Há notícias de sua produção também no Pará, no Maranhão e no Rio de
Janeiro. Por ser mais simples e mais barata do que o cultivo de cana-de-açúcar, a lavoura
fumageira cresceu rapidamente. Ao lado da cachaça, era um produto muito consumido,
tanto no território colonial quanto no exterior. O tabaco não se destinava somente à
Europa, mas circulava por todo o império português. Nas Índias, era trocado por tecidos
e na África, por escravizados.
O algodão,, um produto nativo da América, também era conhecido dos indígenas,
que o utilizavam, entre outras coisas, para tecer suas redes. Na colônia portuguesa, o
cultivo de algodão ganhou importância no século XVIII, quando a região dos atuais estados
do Maranhão, de Pernambuco, do Ceará e do Pará se destacou como grande exportadora
de fibras para as fábricas da Inglaterra.
RHJPHTOTOS/SHUTTERSTOCK

NEIRFY/SHUTTERSTOCK.COM

Algodão.

Castanha-do-pará.
PHOTOONGRAPHY/
SHUTTERSTOCK.COM

Cacau.

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COLEÇÃO PARTICULAR

A pecuária teve, desde cedo,


importante papel nos engenhos
coloniais: os animais faziam girar a
moenda, transportavam a cana e
serviam como alimento. Os carros
de boi eram usados para transportar
pessoas e artigos que circulavam pela
colônia. A pecuária era, portanto, um
setor decisivo para o funcionamento
da economia colonial como um todo.
No século XVII, já havia uma pecuá-
ria diversificada que incluía bovinos,
ovinos, equinos e muares, além de
aves. Os currais atendiam tanto à
população do engenho quanto à das Família de proprietários rurais, de Johann Moritz
vilas e cidades. Rugendas, c. 1835.

Produção de alimentos
Havia uma grande quantidade de chácaras

TINGLEE1631/SHUTTERSTOCK.COM
nas proximidades dos engenhos e ao redor de
vilas e cidades. Essas chácaras cultivavam:
• mandioca, da qual se fazia farinha (a man-
dioca era bastante cultivada na Bahia, em
Pernambuco e no Rio de Janeiro);
• feijão, milho e legumes;
• frutas, com destaque para o limão, a laranja
e a banana.
Essa produção de alimentos abastecia os pro- Mandioca.
dutores e suas famílias, a população dos engenhos,
ALCHEMIST FROM INDIA/SHUTTERSTOCK.COM

as vilas e as cidades coloniais. Todas essas lavouras,


portanto, produziam para o mercado interno..
Durante muito tempo, acreditou-se que
as relações entre colônia (Brasil) e metrópole
(Portugal) eram reguladas pelo Pacto Colonial..
Ou seja, pela obrigação de o Brasil colonial
só comerciar com Portugal, sua metrópole.
Pesquisas recentes, no entanto, mostraram que
não era bem assim. Leia o que a professora
Sheila de Castro Faria diz sobre o assunto. Milho.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Colônia sem pacto colonial


[...] No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, vem à tona um
grande dinamismo nas relações comerciais dos principais portos do Brasil com o rio
da Prata, no sul da América, com Costa da Mina, Angola e Moçambique, na África
e Índia, com Goa e Macau na Ásia. [...] Colonos do Brasil, portanto, comercializavam
diretamente com outras regiões, furando a ideia de “pacto colonial”.
Por outro lado, os comerciantes que forneciam escravos para o Brasil no século
XVIII negociavam diretamente com traficantes e chefes locais da África. Eram esses
comerciantes, residentes no Brasil, que [...] detinham o monopólio do Monopólio:
exclusividade.
lucrativo tráfico negreiro – e não a metrópole.
FARIA, Sheila de Castro. A colônia é mais embaixo. Revista de História da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p. 71, jul. 2008.
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

a) O pacto colonial era o compromisso de a


colônia (Brasil) só comerciar com a metró-
pole (Portugal); segundo o texto, era isso
mesmo que acontecia? Justifique.
b) A
 inda segundo o texto, quem detinha o
controle sobre o tráfico de escravizados
para o Brasil no século XVIII?

Venda no Recife, de Johann Moritz Rugendas,


c. 1835. Novos estudos informam que na colônia
havia um intenso comércio interno, como sugere
a imagem desse armazém de secos e molhados.

ESCUTAR E FALAR
Em dupla.
dupla. Pesquisas recentes sobre o comércio do Brasil colonial com outras partes
do mundo alteram muito o que se sabia sobre o assunto. Reflitam e respondam: qual é a
importância da pesquisa em História?
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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A sociedade colonial
Novos estudos lançam um novo olhar sobre a sociedade colonial.
Primeiramente, é preciso dizer que na América portuguesa havia várias regiões eco-
nômicas e diversas “sociedades”.
A seguir, estudaremos alguns aspectos importantes da sociedade colonial açucareira.
Além dos senhores de engenho, havia nela comerciantes, lavradores de cana, roceiros,
vaqueiros, trabalhadores assalariados e escravizados. Os senhores de engenho eram livres e
brancos; os que trabalhavam nos canaviais geralmente eram negros, em boa parte africanos.
Mas havia também técnicos e artesãos livres, escravizados, brancos, mestiços ou negros.

A nobreza da terra
O grupo social de maior prestígio na sociedade açucareira era o dos senhores de
engenho.. Eram eles os donos das terras, do maquinário e dos escravizados.
Muitos senhores de engenho descendiam dos primeiros colonizadores portugueses e
se consideravam a nobreza da terra. Os laços de sangue, reforçados por casamentos entre
pessoas dessa nobreza, ajudavam a preservar o prestígio e o poder desse grupo social.
A nobreza da terra expandia seu poder para além do mundo rural, ocupando cargos
importantes nas Câmaras Municipais das vilas e cidades coloniais.
Nas proximidades dos grandes engenhos
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

viviam também homens livres, conhecidos como


“lavradores de cana”, ”, assim chamados porque
possuíam terras onde cultivavam cana-de-açúcar,
mas dependiam do senhor para moê-la. Em troca,
pagavam com uma parte do açúcar obtido.
A moradia do senhor de engenho era a casa-
-grande, assim descrita pelo escritor Gilberto Freyre:
[...] [possuía] grossas paredes de taipa ou de
pedra e cal, coberta de palha ou de telha-vã,
alpendre na frente e dos lados, telhados caídos
em um máximo de proteção contra o sol forte e
as chuvas tropicais, [...] cheia de salas, quartos,
corredores, duas cozinhas [...], despensa, capela
[...].
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala.
São Paulo: Global, 2006. p. 30-31.

Fac-símile da capa do livro O Brasil colonial, v. 1 (1443-1580),


organizado por João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa.

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Os comerciantes
EDITORA ATUAL

As maiores fortunas no Brasil colonial


estavam nas mãos dos comerciantes de
escravizados, de produtos europeus e india-
nos (tecidos, ferramentas, entre outros) e de
produtos locais (animais e alimentos). Muitos
comerciantes usavam o dinheiro conseguido
pelo comércio para se tornarem senhores de
engenho. Houve também comerciantes que
se casavam com as filhas dos senhores de
engenho e, com isso, conseguiam chegar ao
nível social deles.

Os trabalhadores assalariados
Muitos engenhos empregavam assala-
riados.. No quadro a seguir, você vai conhecer
riados
algumas das ocupações desses trabalhadores
Fac-símile da capa do livro A economia colonial
brasileira (séculos XVI-XIX), de João Fragoso, em um engenho baiano da segunda metade
Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria. do século XVII.

Ofício O que fazia o trabalhador


Feitor-mor Administrava o engenho.

Mestre de açúcar Controlava o trabalho de beneficiamento do açúcar.

Purgador Trabalhava na purificação do açúcar.

Caldeireiro Trabalhava nas caldeiras.

Oficial de açúcar Auxiliava o mestre de açúcar.

Feitor de campo Vigiava e castigava os escravizados.


Fonte: SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade
colonial (1550-1835). São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 265-276.

Entre os trabalhadores assalariados dos grandes engenhos, havia também artesãos


(carpinteiros, pedreiros, ferreiros etc.), que recebiam por dia ou por tarefa. Entre eles, o
feitor-mor e os especialistas na produção do açúcar (mestres de açúcar, purgadores e
caldeireiros) recebiam os salários mais altos. O salário desses profissionais era anual. O
mestre de açúcar – responsável pela qualidade do produto – era geralmente o mais bem
pago do engenho.

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Os escravizados
Grande parte da população colonial era formada por africanos escravizados e seus
descendentes. Do trabalho deles dependia o funcionamento da economia colonial: a
lavoura, a pecuária, a coleta, a pesca, o transporte de mercadorias etc.
Os que trabalhavam carpindo, plantando, colhendo e pescando eram chamados
“escravos de campo” e constituíam 80% dos escravizados dos maiores engenhos. Os
que trabalhavam na fabricação de açúcar formavam 10% do total. Os Oleiro: aquele que
(oleiro,, faz peças de barro
domésticos (cozinheira, faxineira, arrumadeira etc.) e os artesãos (oleiro
ou cerâmica.
carpinteiro, ferreiro etc.), juntos, compunham os outros 10%.

# DICA!
Reportagem sobre o
legado africano para
a cultura brasileira.
SÉRIE mostra
influências da cultura
africana no Brasil –
Repórter Brasil (noite).

ÓLEO SOBRE TELA, 71,5 CM × 91,5 CM, MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, ROTTERDAM, HOLANDA
2013. Vídeo (4min39s).
Publicado pelo canal
TV Brasil. Disponível
em: https://youtu.be/
FLzyt6fsYKc. Acesso
em: 9 jun. 2022.

Detalhe de Paisagem com


plantação (engenho),
de Frans Post, 1668.

O local de moradia dos escravizados chamava-se senzala,, uma palavra de origem


banta que significa “povoado” ou “comunidade”. Portanto, provavelmente, foram os pró-
prios africanos que deram esse nome às suas moradias. As senzalas eram habitações feitas
geralmente de pau a pique e cobertas de sapé.
Estudos recentes sobre registros de batismo, casamento e morte de escravizados
vêm mostrando que as famílias escravas tinham práticas, visões e valores próprios. E mais:
reagiam à imposição de seus senhores, tomavam iniciativas e buscavam viver do seu jeito.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Leia o texto a seguir com atenção.

A primeira missa
Continuamos navegando pela costa até que,

EDITORA VOZES
no Domingo de Páscoa, o capitão determinou que
todos fossem para a terra assistir à missa. Mandou
também armar um altar, que foi muito bem pre-
parado. Ali, na presença de todos, Frei Henrique
celebrou a missa, acompanhado de outros padres
e sacerdotes. A missa, na minha opinião, foi ouvida
por todos com muito prazer e devoção.
Acabada a missa, Frei Henrique tirou a batina
e subiu em uma cadeira alta, com todos nós
espalhados pelo areal fez um importante sermão
sobre a história do Evangelho. Em seguida, tratou
de nossa vinda e do achamento desta terra, que
ocorreu pela graça de Deus. Suas palavras foram
muito a propósito e causaram muita emoção.
TORRES, Adriana. A carta de Pero Vaz de Caminha. Fac-símile da capa do livro
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991. p. 14. A carta de Pero Vaz de Caminha.

Releia o trecho a seguir: “Frei Henrique celebrou a missa, acompanhado de outros


padres e sacerdotes". Com base nesse trecho, é possível inferir que:
I. havia padres e sacerdotes nas terras onde hoje é o Brasil antes da chegada dos portugueses.
II. entre os tripulantes da expedição de Pedro Álvares Cabral havia padres e sacerdotes.
III. a presença de padres na tripulação comprova que um dos objetivos dos portugueses era
evangelizar.
IV. a presença de padres na tripulação comprova que o único objetivo dos portugueses era
evangelizar.

Está correto o afirmado em:


a) II e III. b) I e IV. c) I, II e IV. d) I, II, III e IV.

212

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2 Relacione a imagem a seguir ao texto da atividade anterior. Identifique uma seme-
lhança e uma diferença.
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO

Primeira missa no
Brasil, de Victor
Meirelles, 1860.

3 O documento que instituiu o Governo-Geral em 1548 definiu qual seria a política indi-
genista adotada por Portugal no Brasil: os indígenas foram classificados em mansos
e selvagens.

Leia o que uma historiadora diz sobre o assunto.


Os primeiros [índios mansos] se tornariam súditos cristãos dos reis de Portugal
e viveriam nas aldeias coloniais sob a administração portuguesa; enquanto os
últimos [índios selvagens] seriam combatidos através das guerras justas e, uma
vez vencidos, seriam legalmente escravizados.
ALMEIDA. Maria Regina Celestino de. Catequese, aldeamentos e missionação. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA,
Maria de Fátima (org.). O Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. (O Brasil Colonial, v. 1, p. 436).

a) O significado de política indigenista no texto é:


I. a política de alguns grupos indígenas na relação com outros.
II. a política do governo português na relação com os indígenas do Brasil.
III. a política dos indígenas na relação com os colonizadores.
IV. a política de aliança entre indígenas e portugueses.
b) Avalie as afirmações a seguir e copie em seu caderno as corretas.
I. Os indígenas foram classificados pelo governo português no Brasil em mansos e selvagens.
II. Os mansos eram aqueles que resistiram aos portugueses.
III. Os mansos eram aqueles que se aliaram aos portugueses.
IV. Os selvagens eram os que por resistirem deviam ser combatidos, mas nunca escravizados.
c) Qual é o significado de “guerras justas” no texto?

213

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4 Copie em seu caderno o mapa mental sobre a colonização da América portuguesa.
Substitua cada letra do mapa mental por uma das palavras do quadro.

escambo • donatários • perder • riqueza • colonizadora


feitorias • franceses • São Vicente • carta de doação
engenho • foral • capitanias hereditárias

PAU BRASIL

Contrução de a) b) troca de um produto por outro

Presença de c) no litoral D. João III, por medo de d) a terra e interessado em produzir e), envia expedição f)

MARTIM AFONSO DE SOUZA

Combateu
Fundação de g) (1532) 1o h) de açúcar
franceses

DIVISÃO
DO
TERRITÓRIO

i) 15 imensas faixas


j) e k) Capitães l)
de terra

214

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5 Copie em seu caderno as frases a seguir e classifique-as como deveres ou direitos dos
donatários.
a) Julgar os habitantes da capitania, podendo inclusive condenar à morte indígenas, negros e
homens livres pobres.
b) Desenvolver a agricultura da cana-de-açúcar na capitania.
c) Cobrar impostos em rios e portos.
d) Organizar a defesa militar.
e) Conceder sesmarias, isto é, grandes propriedades rurais.
f) Expandir a fé cristã.
g) Tirar para si 5% no negócio do pau-brasil.
h) Estimular a ocupação portuguesa da terra.

6 Escreva em seu caderno as alternativas corretas. Poucas capitanias prosperaram.


Com exceção de Pernambuco, São Vicente e Bahia, as demais capitanias fracassaram
por causa da:
a) falta de recursos de alguns donatários.
b) grande extensão das terras a serem administradas.
c) selvageria e traição dos povos indígenas.
d) ataques dos portugueses vindos com D. João III.

7 Leia com atenção o texto da professora Avanete Pereira Sousa.


Na América portuguesa, a instituição de um governo-geral (1548) e a fundação da
cidade de Salvador, para ser a sua sede (1549), assinalaram as mudanças de atitude do
poder metropolitano, [...] [eram] uma nova estratégia

ALAMEDA EDITORIAL
de ocupação, de domínio e de exploração das terras
brasileiras [...]. Os motivos que levaram à fundação
de Salvador estiveram também presentes na criação
de diversas outras cidades do Império [Português]: a
ocupação do território, a defesa, a administração e a
exploração comercial das terras conquistadas.
SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no século XVIII: poder político local e atividades
econômicas. São Paulo: Alameda Editorial, 2012.

a) P or que a historiadora diz que a criação do Governo-


Geral e a fundação de Salvador significaram uma
mudança de atitude do governo português?
b) Segundo a autora, os motivos que levaram à fundação
de Salvador estão presentes na criação de outras cidades
do Império Português. Quais são esses motivos?
c) Em grupo. Elaborem uma campanha publicitária incenti-
vando as pessoas a visitarem Salvador. Cada grupo pode
abordar um aspecto: geografia; economia; gastronomia; Fac-símile da capa do livro
lugares de memória (museus, bibliotecas); povos que A Bahia no século XVIII,
constituíram a cidade; arte (música, dança, teatro). de Avanete Pereira Sousa.

215

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8 As câmaras municipais eram órgãos encarregados de administrar vilas e cidades
brasileiras. Os vereadores dessas câmaras eram grandes proprietários de terras,
comerciantes ricos e sacerdotes. Sobre as Câmaras Municipais, responda às questões.
a) O que era necessário para ser vereador das Câmaras Municipais?
b) Sobre quais assuntos os vereadores decidiam?

9 As afirmações a seguir dizem respeito à sociedade colonial açucareira. Escreva em


seu caderno a que cada uma delas se refere.
a) Constituíam grande parte da população da América portuguesa e eram responsáveis por
atividades diversas, sobretudo trabalhos rurais; representavam cerca de 80% da força de
trabalho nos maiores engenhos.
b) Realizavam atividades diversas, como nos ofícios especializados e artesanais dos engenhos.
c) Formava o grupo social de maior prestígio no Brasil colônia, concentrando em suas mãos o
poder econômico e político.
d) Conseguiram acumular as maiores riquezas da época e, muitas vezes, estabeleciam laços
familiares com os senhores de engenho, conseguindo chegar ao topo da hierarquia social.
e) Possuíam suas próprias terras, mas dependiam dos senhores de engenho para beneficiar sua
produção agrícola.
SAMUEL ERICKSEN/SHUTTERSTOCK.COM

Vista aérea da cidade de Salvador (BA). Fotografia de 2021. Na imagem pode-se ver o Elevador Lacerda,
o Mercado Modelo e parte da Baía de Todos os Santos.

216

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II. Leitura e escrita em História
AUGUSTO_SANTOS/SHUTTERSTOCK.COM

Vozes do presente
Acarajé e
Leia o texto a seguir com atenção. pimenta.
O que é certo é que os nossos antepas-
sados africanos trouxeram para o Brasil os
conhecimentos e as técnicas que desenvol-
veram ao longo dos séculos. [...]
Os africanos sabiam como trabalhar os solos dos trópicos e introduziram no Brasil
um bom número de vegetais, como, por exemplo, o dendê, a malagueta, o quiabo, o
maxixe, o jiló, os inhames, várias espécies de bananas, diversos tipos de abóboras e
de feijões, o tamarindo e a melancia. Difundiram, ademais, nas terras brasileiras, o
cultivo do arroz e o seu uso como prato diário. A eles se deve também o uso do leite de
coco nas comidas. A sua contribuição para a culinária brasileira foi importantíssima,
a tal ponto que muitos dos pratos que temos como caracteristicamente nossos são de
origem africana: o vatapá, o caruru,
OM
o mungunzá, o abará, o acarajé [...] e
CK.C
T E RSTO

THAN
H VA
N/SH
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muito mais.
HI
HO T
SILVA, Alberto da Costa.
A África explicada aos meus filhos.
São Paulo: Agir, 2012. p. 155.

Quiabo.

LHMFOTO/SHUTTERSTOCK.COM
AFRICA STUDIO/SHUTTERSTOCK.COM

Dendê.

Melancia.

a) Dê um título para o texto que você acabou de ler.


b) O texto trata das contribuições africanas para um aspecto da vida cultural. Qual é ele?
c) Que outros aspectos da vida cultural brasileira têm raízes africanas? Cite pelo menos dois.

217

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#JOVENS NA Construçã
o
HISTÓRIA e uso de
ios
questionár

PASSO 1 Ler

O texto a seguir foi escrito especialmente para esta coleção pelo professor Murilo Batista
Barros. Leia-o com atenção.

Projeto Identidade Étnica: pessoas cacheadas, crespas e trançadas


Aila Horrane tinha 13 anos e era aluna do 8 o ano da EMEIEF Construindo o
Saber, no município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará,
quando se deu conta da existência do racismo na escola. “Meu cabelo era sempre
motivo de piadas”, lembra a estudante. Ela ouviu mais de uma vez frases do
TO

tipo “Molha esse cabelo para ver se você consegue domá-lo”. Na hora do
RR
IP
HO
TO

intervalo, ela observou que outras garotas passavam por situações de


/SH
UT
T ER

discriminação e racismo dentro da escola. Os intervalos passaram a


S TO
CK.C

ser um momento importante para esses estudantes compartilharem


OM

suas experiências pessoais, tanto as do ambiente escolar quanto as


de fora dele.
Foi durante as aulas de História da professora Eleonalva Costa
que Aila e outros estudantes viram abertura para compartilharem
essas experiências, já que a professora tinha uma proposta peda-
gógica antirracista. “Ali nasceu o projeto Identidade Étnica:
Étnica: pessoas
cacheadas, crespas e trançadas para combater o racismo dentro e fora
das paredes da nossa escola”, diz Aila.
O objetivo do grupo era entender os danos causados pelo racismo
à vida escolar. Nas rodas de conversa, promovidas pelo projeto,
os participantes relatavam suas experiências pessoais. “Eram
momentos emocionantes de histórias de superação e empodera-
mento”, destaca a estudante.
Depois, o projeto cresceu. Crianças, adolescentes, pais, ex-alu-
nos e pessoas de vários bairros de Maracanaú chegaram à escola
municipal Construindo o Saber para participarem das discussões
e oficinas oferecidas nas atividades do projeto. “São estudantes de
nossa escola, de outras escolas, universitários, familiares dos estudan-
tes, convidados que trabalham com um currículo afro-referenciado,

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funcionários da escola e técnicos da Secretaria de Educação de Maracanaú”, conta Aila,
que hoje cursa pedagogia na Universidade Federal do Ceará.
As atividades abrangem palestras, exposições fotográficas, rodas de conversas,
relatos de histórias de vida e aprendizagem, apresentações de poesias construídas
pelos estudantes do grupo ou poesias de algum autor com tema de africanidades e
resistência, exibições de curtas metragens, apresentações de dança, canções, debates,
dentre outras. É um percurso de (re)conexão com a ancestralidade africana, uma
importante contribuição para o fortalecimento desse legado na escola e na vida desses
estudantes e seus familiares.
BARROS, Murilo Batista. Projeto Identidade Étnica: Pessoas Cacheadas, Crespas e Trançadas.
(Texto elaborado para esta obra).

PASSO 2 Questionar
Depois de ler o texto, responda:
a) Qual o problema identificado por Aila?
b) Qual a solução encontrada por ela?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Pesquisem sobre “racismo e discriminação nas escolas” em jornais, revistas, redes sociais etc.
d) Em seguida, conversem sobre as informações que conseguiram com a pesquisa e elaborem perguntas
sobre o tema. Essas perguntas serão parte de um questionário a ser respondido pelos colegas de escola.
Lembrem-se de não fazer um questionário muito extenso, a fim de que todas as perguntas sejam
respondidas. Vocês podem perguntar, por exemplo, se a pessoa já passou por situações de racismo ou
discriminação dentro da escola; se já viu algum colega passar; se essas situações são frequentes; se já
houve na escola alguma campanha a respeito desse tema etc.
e) Definidas as questões, escolham como o questionário será aplicado. Façam uma folha de perguntas para
cada entrevistado.
f) Com os questionários respondidos em mãos, verifiquem cada folha de respostas e anotem em uma planilha
os resultados obtidos. Depois, analisem e interpretem as respostas obtidas, a fim de concluir a pesquisa.
g) Discutam esses resultados e elaborem um texto com propostas de ações para um ambiente escolar livre
de racismo e com respeito a todas as pessoas.

PASSO 4 Apresentar e publicar


h) A presentem o resultado para a turma. Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da
escola e marquem a postagem com #jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
i) Realizei as tarefas a que me propus? l) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
j) Cumpri os prazos determinados? m) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
k) Expressei minhas ideias com objetividade? n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

219

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UNIDADE

4 GENTES E TERRAS DA
AMÉRICA PORTUGUESA

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
Observe o mapa a seguir com atenção.

FONTE 1

América portuguesa: principais povoações (século XVI) Indígenas.


ALLMAPS

50° O

BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL
Equador

Nobre português.
TR ATADO DE TORD ESILH AS

Natal
Filipeia (atual
João Pessoa)
Igaraçu
Olinda GIBSON GREEN/ALAMY/FOTOARENA
São Cristóvão
Salvador
Ilhéus OCEANO
ATLÂNTICO
Santa Cruz
Porto Seguro

OCEANO Vitória
PACÍFICO Espírito Santo
Rio de Janeiro
São Paulo Trópico d
e Capric
Santos órnio
São Vicente
Itanhaém Jesuíta.

Áreas sob influência


de cidades e vilas

Áreas conhecidas e
Fonte: MELLO E SOUZA, Laura de.
relativamente povoadas (org.). História da vida privada
0 480 Limite atual no Brasil: cotidiano e vida privada
da fronteira brasileira da América portuguesa. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. p. 18-19.

220

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Em 1627, o historiador Frei Vicente do Salvador escreveu que os portugueses pareciam carangue-
jos, pois ficavam apenas “arranhando as costas brasileiras”. De fato, como se pode ver no mapa da
página anterior, até o final do século XVI a população luso-brasileira concentrava-se somente no
litoral.
Isso aconteceu porque, na época, avançar pelo interior era difícil demais, por causa de animais
peçonhentos, de doenças variadas e da resistência indígena à ocupação de suas terras.
A partir do final do século XVI, essa situação começou a mudar: a colonização avançou tanto para
o interior quanto pelo litoral.
A fonte 1 é do século XVI; a fonte 2, de meados do século XVIII. Observe-as.

FONTE 2

COLEÇÃO PARTICULAR
Tratado de Madri (1750)
ALLMAPS

50º O

Marabitanas
São
Equador
Joaquim Macapá
0º Vaqueiro.
São
Gabriel Gurupá Belém
COLEÇÃO PARTICULAR
Barra do Fortaleza
Rio Negro
Tabatinga Natal
João
Pessoa
Recife
Príncipe
da Beira

Salvador
Vila Bela da
Santíssima
Trindade Cuiabá
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO Coimbra Tropeiro.
PACÍFICO
Iguatemi Rio de Janeiro

COLEÇÃO PARTICULAR
córnio São Paulo
de Capri
Trópico

Tratado de Madri (1750)


Limite atual da fronteira brasileira Rio Grande
Colônia do 0 315
Fortes Sacramento de São Pedro

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar.


8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 30. Afrodescendentes.

1. O que você percebe comparando os mapas?


2. Quem terá contribuído para isso?
3. Os limites do Tratado de Madri são muito diferentes dos do Brasil atual?

Ao final da unidade, retome estas páginas e tente responder a essas perguntas.

221

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CAPÍTULO

10 AFRICANOS NO BRASIL
LUCIANA WHITAKER/FOLHAPRESS

CLAUDIA GUIMARÃES/FOLHAPRESS
1 2
FERNANDA PICCOLO/FOTOARENA

BOB DAEMMRICH/ALAMY/FOTOARENA
3 4

Observe as fotografias dessas personalidades.


1. O que elas têm em comum?
2. Quais delas você conhece?
3. Você tem acompanhado a contribuição delas à vida social brasileira?
4. Teste seus conhecimentos: escreva no caderno o nome delas e o trabalho que desenvolvem.

222

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Havia escravidão na África antes dos europeus?
A escravidão é uma instituição muito antiga e existiu em várias partes da Terra. Na
África, antes da chegada dos europeus (século XV), também havia escravizados. Segundo
a professora Leila Leite Hernandez, nas sociedades tradicionais africanas as pessoas podiam
ser escravizadas por quatro motivos principais:
• guerra entre diferentes povos por terra e poder;
• fome:: quando um indivíduo não tinha meios para se alimentar, ele oferecia a si mesmo
e a sua família para trabalharem na condição de escravos;
• punição judicial:: quando uma pessoa cometia um crime e, por isso, era condenada
à escravidão;
• penhora humana:: quando o indivíduo oferecia a si mesmo como garantia de um
empréstimo e, se não pudesse pagar, era escravizado.
Mas, segundo o professor José Rivair de Macedo, na África a escravidão tinha carac-
terísticas próprias. Nas sociedades africanas:
• os escravizados eram minoria;

SELO NEGRO EDIÇÕES


• eles faziam trabalhos exaus-
tivos, mas, depois de algum
tempo, eram integrados ao
grupo vencedor da guerra
como pessoas livres;
• o filho de um homem livre
com uma mulher escravizada
nascia livre e era incorporado
à linhagem do pai.
Além disso, em algumas
sociedades africanas os escra-
vizados podiam se casar com
pessoas livres e ocupar postos
importantes no governo, como
ocorria nos reinos de Oió e
Daomé, ou no exército, como
ocorria em Songai.

Fac-símile de capa do livro A África na


sala de aula, de Leila Leite Hernandez.

223

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Guerra e tráfico atlântico
No século XV, com a chegada

MUSEU BRITÂNICO. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


dos portugueses à África, a escra-
vidão se avolumou e as guerras
se multiplicaram. Parte dos líderes
africanos (chefes de linhagem,
príncipes, reis) desejava armas de
fogo para manter ou ampliar seu
poder. Os europeus, por sua vez,
desejavam escravizados. Então, na
África, começaram a acontecer
guerras com o objetivo de conse-
guir prisioneiros para trocá-los por
armas de fogo e outros produtos.
Segundo o historiador
Manolo Florentino, cerca de 75%
dos africanos vendidos à América
foram produto de guerras feitas
para obter novos escravizados.
Mas se uma parte das lideran-
ças africanas se envolveu com a
obtenção e venda de escravizados,
outra parte resistiu e denunciou
os prejuízos que isso causava às Mapa português do noroeste da África feito por Bastian Lopez
suas comunidades. em 1558.

Os responsáveis pelo tráfico


No século XVI, com o aumento da procura por trabalhadores Tráfico atlântico:
nos engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro, teve início o comér- nome dado ao comércio
de homens e mulheres
cio de africanos para a América portuguesa. Esse negócio envolvia escravizados pelo oceano
pessoas e produtos de vários continentes (Europa, África, América e Atlântico entre os séculos
Ásia) e é chamado pelos historiadores atuais de tráfico atlântico.
atlântico. XVI e XIX.

O tráfico atlântico durou mais de 300 anos e envolveu euro-


peus de várias nações (portugueses, ingleses, franceses, dinamarqueses, entre outros),
africanos (chefes, reis e negociantes) e, mais tarde, mercadores do Rio de Janeiro, da
Bahia e de Pernambuco.. Muitos desses mercadores, sobretudo do Rio de Janeiro e de
Salvador, acumularam fortunas com o tráfico.

224

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Quantos eram e de onde foram trazidos os africanos?
Segundo David Eltis e David Richardson, dois especialistas no tema, o número de
africanos trazidos para a América pelo tráfico atlântico foi de 10 565 217. Desses, 4 860 000
foram destinados ao Brasil. Vieram pessoas da África Ocidental,, da África Central e de
Moçambique,, na costa leste africana. Localize essas regiões no mapa.

África: regiões de origem dos africanos trazidos ao Brasil


EUROPA 0°

ALLMAPS
M a r
M
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e
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Tunísia e r r â n e o
Marrocos

Argélia
Saara Líbia
Ocidental Egito
Trópico de Câncer

Ma
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ÁSIA

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Cabo Mauritânia

o
Verde
Mali Níger Sudão Eritreia
Senegal Chade
Burkina
Faso Djibuti
Guiné
Benin

Nigéria
Togo

Gâmbia
Gana

Costa Etiópia
Guiné- do Rep. Centro- Sudão
-Bissau Marfim -Africana do Sul
Camarões Somália
Serra
ÁF Leoa COSTA
Equador
R IC Libéria Uganda
A DA MINA Congo Ruanda Quênia
OC Gabão 0°
ID OCEANO
EN Guiné República
TA Equatorial Democrática Burundi ÍNDICO
L do Congo
Tanzânia
Seicheles

OCEANO Angola
Comores
ATLÂNTICO ÁFRICA Zâmbia
Malauí

CENTRAL
car

Moçambique
Maurício
agas

Zimbábue
Namíbia
Mad
Meridiano de Greenwich

Trópico de Capricórnio Botsuana

Suazilândia
África Lesoto
do Sul 0 397
Fronteiras atuais

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA.


Atlas geográfico escolar. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 43.

A África Ocidental é uma extensa área que vai do Senegal ao Gabão; nela foram embarcados 25%
dos africanos escravizados destinados ao Brasil, a maioria deles era da Costa da Mina. Já a África Central
(região congo-angolana) vai do norte do Gabão à fronteira entre Angola e Namíbia. Essa região,
juntamente a Moçambique, na costa leste, forneceu 75% dos africanos escravizados destinados ao Brasil.

225

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Africanos ocidentais

ARQUIVO BUYENLARGE, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


A maioria dos africanos oci-
dentais desembarcados no Brasil
era da Costa da Mina, área de
cerca de 600 km2 entre Gana e
Nigéria atuais. Ao longo da costa
africana, se encontravam os prin-
cipais portos e feitorias usados no
tráfico de pessoas para o Brasil. A
maioria dos africanos ocidentais
entrou pelos portos da Bahia e
se concentrou no Nordeste: Bahia
(75,6%), Pernambuco (11,4%) e
Maranhão (8,2%).
No século XVIII, com a des-
Castelo São Jorge da Mina, erguido em 1482 pelos portugueses
coberta do ouro nas Minas Gerais
na região da Costa da Mina, no litoral da África Ocidental.
e a crise do açúcar no Nordeste, Litogravura do século XVI.
parte dos africanos ocidentais foi
vendida para as áreas de mineração. E, no século XIX, com a crise da mineração e o
desenvolvimento da cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo, muitos deles foram
trabalhar nos cafezais.
CHRISTIANO JR./COLEÇÃO PARTICULAR

SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS

À esquerda, negra brasileira filha de africanos da Costa da Mina, fotografada por Christiano Jr. em c. 1860.
Boa parte das pessoas que foram trabalhar nos cafezais era dessa origem (MOURA, Carlos Eugênio Marcondes
de. A travessia da calunga grande: três séculos de imagens sobre o negro no Brasil. São Paulo: Edusp, 2000).
À direita, moça baiana descendente de africanos ocidentais em fotografia de 2019. Salvador (BA).

226

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Africanos da região congo-angolana e de Moçambique
Os povos da região con- Proporção de africanos escravizados
go-angolana tinham origem da região congo-angolana
comum, falavam línguas bantas Anos Para o Brasil
e contavam com certa unidade 1501 a 1650 95%
cultural. Essa região forneceu a 1651 a 1725 68%
maioria dos africanos entrados 1726 a 1825 70%
no Brasil. Observe a tabela. 1826 a 1866 88%
Fonte: SLENES, Robert W. Africanos centrais. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz;
GOMES, Flávio dos Santos (org.). Dicionário da escravidão e liberdade:
50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 64.

A maioria dos africanos da região congo-angolana entrou no Brasil pelos portos do Rio
de Janeiro. Enquanto durou o tráfico atlântico, o Rio de Janeiro foi o maior porto receptor
de escravizados da América. Os falantes das línguas quicongo, quimbundo e umbundo,
que continuam sendo faladas hoje em Angola, foram os mais duramente atingidos pelo
tráfico. Isso ajuda a explicar por que essas línguas influenciaram fortemente o português
falado no Brasil.
Os africanos, independentemente da região de origem, foram trazidos para trabalhar
nas plantações, minas e habitações deste lado do Atlântico.
Observando o gráfico, é possível concluir que os períodos de alta do açúcar, do ouro
e do café coincidem com o aumento da entrada de africanos no Brasil.

Brasil: africanos escravizados desembarcados (mil)

EDITORIA DE ARTE
650
600
550
500
450
400
350
Alta agrícola
300
250
200
Queda do ouro
150
Alta do açúcar Alta do ouro
100
Crise europeia
50 Invasão concorrência do açúcar antilhano Fim do tráfico no Brasil
0 holandesa
1551-1560

1561-1570

1571-1580

1581-1590

1591-1600

1601-1610

1611-1620

1621-1630

1631-1640

1641-1650

1651-1660

1661-1670

1671-1680

1681-1690

1691-1700

1701-1710

1711-1720

1721-1730

1731-1740

1741-1750

1751-1760

1761-1770

1771-1780

1781-1790

1791-1800

1801-1810

1811-1820

1821-1830

1831-1840

1841-1850

1851-1860

Elaborado com base em: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. África, números do tráfico atlântico. In: SCHWARCZ,
Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (org.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 63.

227

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No Brasil, os africanos não eram chamados pelo nome de sua etnia, mas sim pelo do
porto ou da região onde tinham sido embarcados. Um africano de etnia bacongo, por
exemplo, era chamado aqui de cabinda, se esse fosse o nome do porto africano por onde
ele havia embarcado. Outro exemplo: os diferentes povos embarcados na Costa da Mina
(África Ocidental) eram chamados aqui simplesmente de minas.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

COLEÇÃO PARTICULAR
À esquerda, uma africana mina,
ou seja, embarcada na Costa
da Mina, em fotografia de 1864,
de Christiano Jr.

À direita, vemos um congo, em


representação de Johann Moritz
Rugendas do século XIX; esse era
originalmente o nome do porto
de embarque, e não da etnia.

ESCUTAR E FALAR

A perda do nome
Na hora do embarque para o Brasil, o africano era “batizado”, ou seja, perdia seu
nome original e passava a ter um nome português. Esse nome, dado no batismo, devia
ajudar a apagar da memória do africano todo o seu passado: sua família, seus amigos,
sua língua e seu lugar de origem.
• O que você sentiria se trocassem o seu nome, e o(a) levassem para um lugar distante
e diferente do seu? Como você reagiria? Crie um pequeno roteiro e prepare-se para
falar sobre o assunto para os colegas.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

228

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A travessia
Nas fortalezas do litoral africano, homens, mulheres e crianças eram forçados a embar-
car em navios conhecidos como navios negreiros.. A viagem das praias da África Ocidental
para o Brasil durava de 30 a 45 dias, conforme o lugar de partida e o de chegada. As
condições da viagem eram péssimas, a comida era pouca e de má qualidade. Os navios iam
superlotados: onde cabiam 100 pessoas iam 300, e muitas morriam durante a travessia.
Mesmo assim, o lucro dos traficantes era grande: o preço de venda de um lote era, em
média, três vezes maior que o de compra.

HÉCTOR GOMEZ

Além de pessoas escravizadas,


a carga incluía roupas e
mantimentos. O número de pipas
de água era pequeno, para não
Tonéis de água ocupar muito espaço no navio.
e mantimentos. Com isso, alguns escravizados
bebiam água do mar e adoeciam.

Os africanos chegavam ao litoral brasileiro confusos, cansados e sem saber onde


estavam. Nos mercados do Rio de Janeiro, de Salvador, de Recife e de São Luís, eles eram
examinados, avaliados e vendidos. O preço por um homem adulto valia o dobro do de
uma mulher e, geralmente, três vezes mais do que de uma criança ou um idoso.

229

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O trabalho
Os africanos não vieram para a América por vontade própria; foram trazidos para
trabalhar. No Brasil, eles trabalhavam de 12 a 15 horas por dia: o trabalho começava entre
4 e 5 horas da manhã e ia até o anoitecer. Por vezes, as manhãs dos feriados e domingos
eram usadas no conserto de cercas, estradas e em outros serviços. O homem trabalhava
como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, pedreiro, carregador e em várias outras
funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava,
passava, realizava partos, vendia doces e salgados etc.
ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO

Negros de carro, de Jean-Baptiste Debret, século XIX. Note que é uma representação feita por um pintor
sobre o que ele viu à sua volta.

Entre os trabalhadores afrodescendentes havia também liber-


Carta de alforria: tos, nome que se dava àqueles que tinham conseguido a carta de
documento que era alforria após longos anos de trabalho.
dado ou vendido
Os africanos aqui desembarcados trouxeram consigo não
ao escravizado por
seu proprietário e apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas. E, o que é
comprovava sua importante dizer, essas culturas africanas marcaram profundamente
condição de liberdade.
nosso modo de viver, pensar e sentir.

230

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Alimentação e violência
Nas grandes fazendas, a maioria dos escravizados recebia uma cuia de feijão e uma
porção de farinha de mandioca ou de milho. Vez por outra, recebia também rapadura e
charque (que, conforme a região, tinha o nome de carne-seca, carne-do-sul, carne-do-
-ceará etc.). De modo geral, a alimentação dos escravizados era insuficiente e pobre em
proteínas, o que acarretava sérios problemas de saúde e envelhecimento precoce.
Os escravizados recebiam castigos por qualquer pequena falta. Entre os instrumentos
de castigo estavam a palmatória, a gargalheira e a máscara de flandres. A máscara de
flandres,, feita de zinco ou folha de flandres, era um instrumento que permitia à vítima
enxergar e respirar, mas a impedia de se alimentar.
XANDO PEREIRA/FOLHAPRESS

FERNANDO VIVAS/AG. A TARDE/FUTURA PRESS


À esquerda, integrantes
da banda feminina Didá
durante uma apresentação
no Pelourinho, Salvador
(BA), 1998. Note que as
percussionistas utilizam
réplicas da máscara de
flandres.

À direita, a mesma banda


em apresentação no
Carnaval, também
em Salvador.
Fotografia de 2011.

PARA SABER MAIS


A negra Anastácia: mito e religiosidade
Contam que, no século XVIII, teria vivido no interior mineiro uma escravizada de nome
Anastácia, uma negra de olhos azuis. Por sua rara beleza, Anastácia teria despertado
ciúmes na mulher de seu senhor, que, por isso, a obrigou a usar a máscara de flandres.
Muito tempo depois, em 1968, durante a comemoração dos 90 anos da Abolição
da escravatura, na igreja do Rosário, no Rio de Janeiro, Anastácia foi homenageada e
descrita como santa pelos milagres que teria realizado.
Na verdade, Anastácia é um mito da nossa história; não há provas materiais da sua
existência. Mas as histórias contadas sobre ela fazem parte da memória da escravidão e
continuam inspirando atitudes de devoção e respeito entre as gentes de Minas Gerais.

231

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Capoeira: dança e luta
ao mesmo tempo, a Resistência
capoeira foi uma forma
de diversão e defesa
desenvolvida no Brasil Onde houve escravidão no mundo, houve resistência. No
pelos africanos e seus Brasil, não foi diferente. O excesso de trabalho, a disciplina rigo-
descendentes. rosa, os castigos, o fato de o senhor não cumprir com a promessa
Congado: tipo de
de libertar o escravizado quando este conseguia juntar dinheiro
dança dramática que
representa a coroação para comprar sua carta de alforria, tudo isso provocou diferentes
de um rei (e, às vezes, formas de resistência. Os escravizados resistiam praticando religiões
de uma rainha) do
Congo, constituída de
de origem africana; jogando capoeira
capoeira;; promovendo festejos, como
um cortejo com passos o congado
congado,, o reisado
reisado,, o jongo; e fundando irmandades.
e cantos, em que a As irmandades eram associações organizadas por leigos e
música acompanha a
expressão dramática que tinham sede em igrejas católicas. Para que uma irmandade
dos textos, e que funcionasse, era necessário que tivesse seus estatutos aprovados
se caracteriza pela por uma autoridade da Igreja Católica. As irmandades promoviam: o
embaixada e por lutas
simbólicas de espada. culto aos seus santos padroeiros; a cooperação entre seus membros
Reisado: festa popular para construir, reformar ou ornamentar uma igreja; a assistência
que se realiza na mútua entre seus integrantes. A assistência era de ordem material
véspera e no Dia de
Reis. Tipo de auto
(protegendo suas famílias da pobreza) e espiritual,, garantindo
natalino surgido no aos integrantes apoio na hora da morte (missa de corpo presente,
final do século XIX, sepultamento digno e orações em sua intenção).
difundindo-se no
Norte e Nordeste; é
CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

constituído de um
figurante acompanhado
por um coro cantando
peças em sequência.

Crianças quilombolas
jogam capoeira durante
Festa de Cultura Afro
em homenagem ao Dia
da Consciência Negra.
Araruama (RJ), 2015.

232

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Havia irmandades de brancos, outras de mestiços. Havia também irmandades de ricos
e outras de pobres. Vivendo em uma época em que não podiam frequentar as irmandades
nem as “igrejas dos brancos”, os negros fundaram suas próprias irmandades, sendo as
mais requeridas as de Nossa Senhora do Rosário e as de São Benedito. Uma delas foi a
Irmandade dos Homens Pretos de Salvador, um espaço associativo de ajuda mútua e de
manutenção de uma identidade negra.
A Irmandade dos

FRED S. PINHEIRO/SHUTTERSTOCK.COM
Homens Pretos de Salvador
foi fundada em 1685 por
mulheres e homens originá-
rios da região onde hoje é
Angola. Além da assistên-
cia dada a seus associados
na doença, na velhice e
na morte, a irmandade se
empenhava também em
conseguir dinheiro para a
compra de cartas de alforria.
A igreja-sede da irmandade
começou a ser construída
por escravizados e libertos
em 1704 e foi reformada
recentemente; situada no
Largo do Pelourinho, a
irmandade e sua igreja foram
e continuam sendo um dos
centros de apoio à popula-
ção negra de Salvador.

Igreja de Nossa Senhora do


Rosário dos Pretos construída no
século XVIII. Salvador (BA), 2019.

233

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Os quilombos
Os africanos e seus descendentes resistiram também deso-
bedecendo, recusando-se a trabalhar, quebrando ferramentas,
incendiando plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senho-
Quilombo: agrupamento res, negociando melhores condições de vida e trabalho, fugindo
de pessoas que fugiam sozinhos ou com companheiros e formando quilombos
quilombos.. Observe
da escravidão.
o mapa a seguir.

Quilombos mais conhecidos (séculos XVII a XIX)

ALLMAPS
Equador

do Trombetas (1866-88)
Maracanã e Macajubá
(século XIX)

Turiaçu (século XVIII)


Cumbe
do Preto Cosme
(1831)
(1838)
Palmares
(1630-95)

Oitizeiro (1807)
Buraco do Tatu (1744-65)
Nossa Senhora dos
Pindaituba, Moluca e
Males e Cabula (1807)
Joaquim Teles (1795)
Urubu (1826)
da Carlota ou do Piolho
(1770-95)
do Kalunga
(1790-1888) de Jacuípe e Jaguaribe (1705-06)
Magarojipe e Muritiba (1713)
Campos da Cachoeira (1714)
Orobó, Tupim e Andaraí (1796-97)
Campo Grande, Isidoro, do Camisão (1726)
do rio das Mortes e do Taperoá, Canavieiras (1733)
rio das Velhas, Ambrósio Nazaré e Santo Amaro (1734)
e imediações de Sabará Jacobina e Rio das Contas (1735-36)
OCEANO e Ouro Preto (século XVIII) Jacobina e Xique-Xique (1801)

PACÍFICO
Jabaquara Manuel Congo (1838)
io
e Capricórn (1883-88) Luanda (1880)
Trópico d Iguaçu ou Bomba, Estrela, Gabriel
(século XIX)

OCEANO
Alagoa e Enseada
do Brito ATLÂNTICO
(sem data)

Negro Lucas, do arroio


Quilombo do Rio Pardo
(sem data) 0 288

60º O
Muitos dos quilombos que aparecem no mapa ainda não foram Fonte: SCHWARCZ, Lilia Moritz;
REIS, Letícia Vidon de Souza
estudados. Existiram quilombos por todo o território brasileiro, (org.). Negras imagens:
desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas. Uns pequenos ensaios sobre a cultura e
(20 ou 30 habitantes), outros grandes (com milhares de escravidão no Brasil. São Paulo:
Edusp, 1996. p. 26.
habitantes). O mais famoso deles foi o Quilombo dos Palmares.

234

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O Quilombo dos Palmares
O maior e mais duradouro de todos os quilombos brasileiros foi o dos Palmares. Teve início
numa noite de 1597, quando cerca de 40 escravizados fugiram de um engenho do litoral nor-
destino e se refugiaram na Serra da Barriga, uma região montanhosa situada no atual estado
de Alagoas. Como no lugar havia grande quantidade de palmeiras, chamou-se Palmares.
Palmares cresceu rapidamente e, segundo o historiador João José Reis, chegou a
ter cerca de 15 mil habitantes. Os africanos e seus descendentes eram maioria, mas em
Palmares havia também brancos pobres e indígenas expulsos de suas terras pelos colonos.
Os palmarinos viviam em liberdade e a seu modo num conjunto Quimbundo: língua
de povoações chamadas mocambos (de mukambo mukambo,, “esconderijo” em do grupo banto
falada em Angola.
quimbundo).
quimbundo ).
Para sobreviver, plantavam milho, feijão, mandioca, batata-doce; criavam porcos e
galinhas; caçavam cotias, raposas, tatus; confeccionavam objetos de cerâmica, palha tran-
çada e madeira; e faziam vasos, enxadas, pás e pilões. Geralmente, a produção de cada
mocambo era distribuída entre seus membros. As sobras
eram guardadas para as épocas de guerra, colheita ou
festa, ou para serem trocadas nas vilas mais próximas,
como Porto Calvo, Serinhaém e Alagoas.

Representação de cena do cotidiano no Quilombo dos


Palmares baseada em pesquisa histórica.

MOZART COUTO

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A guerra Zumbi: provavelmente
Palmares era uma ameaça à ordem escravista, por isso sempre está associado a Nzumbi,
título que os povos
tirou o sono dos senhores de engenho e das autoridades portu- bantos davam a um chefe
guesas. Desde cedo, os poderosos enviaram expedições contra o militar e religioso.
grande quilombo. Várias delas foram derrotadas pelos quilombo- Mercenário: que trabalha
sem outro interesse que
las. Durante a guerra, um jovem guerreiro nascido em Palmares
não o dinheiro.
começou a se destacar por sua firmeza. Seu nome, Zumbi
Zumbi..
As autoridades decidiram, então, contratar o bandeirante Domingos Jorge Velho para
destruir o Quilombo dos Palmares. Em troca, ele exigiu um quinto do valor dos quilombolas
aprisionados, 500 mil réis em panos e roupas, e 100 mil em dinheiro vivo.
A superioridade militar e um maior conhecimento da Serra da Barriga desequilibraram
a luta em favor dos mercenários
mercenários.. Depois de vários ataques, Jorge Velho e seus 6 500
homens, armados inclusive com canhões, invadiram e incendiaram a capital palmarina
em 6 de fevereiro de 1694. Ferido em combate, Zumbi conseguiu escapar e resistiu por
vários meses. Mas depois, traído por um homem de sua confiança, foi morto em 20 de
novembro de 1695.
Em 1978, a comunidade negra brasileira transformou o dia 20 de novembro – aniver-
sário da morte de Zumbi – em Dia Nacional da Consciência Negra. Ou seja, um dia para
refletir com profundidade sobre o racismo no Brasil e buscar formas para superá-lo.
CELSO PUPO/FOTOARENA

Homenagem a Zumbi, feita pelo bloco afro Filhos de Gandhi, durante o Dia Nacional da Consciência Negra
na cidade do Rio de Janeiro (RJ), 2012.

236

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Comunidades remanescentes de quilombos
No Brasil de hoje existem povoações habitadas pelos descendentes dos antigos qui-
lombolas. Espalhadas por todo o território nacional, são chamadas de comunidades
remanescentes de quilombos.. São mais de 80 mil pessoas vivendo de um jeito parecido
com o de seus antepassados.
A Constituição brasileira de 1988 reconheceu a propriedade definitiva das terras ocu-
padas por comunidades quilombolas. O artigo 68 diz:
Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os títulos respectivos.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 11 jun. 2022.

Mas conseguir obter essa propriedade definitiva das terras não tem
Dialogando
sido tarefa fácil. Além da demora do processo, há o fato de que muitas
dessas terras são cobiçadas por fazendeiros e, por vezes, estão localizadas Há comunidades
remanescentes
em áreas de mananciais e de reservas de extração vegetal e mineral.
de quilombos
Muitos habitantes das atuais comunidades quilombolas vêm tra- no seu estado?
vando uma luta árdua para reunir provas de que são descendentes Quais?
de escravizados e de que as terras em que vivem lhes pertencem.
SERGIO AMARAL/OLHAR IMAGEM

Pai e filhos de uma comunidade remanescente de quilombo. Quilombo Vão de Almas, Cavalcante (GO), 2015.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

O texto a seguir é do africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com atenção.


De que a presença afri-

ANA CAROLINA FERNANDES/FOLHAPRESS


cana em nossa cultura é
profunda, talvez o melhor
testemunho esteja no por-
tuguês que falamos [...]. As
línguas africanas, espe-
cialmente o quimbundo
(ou idioma dos ambun-
dos), o quicongo (ou língua
dos congos), o umbundo
(ou idioma dos ovimbun-
dos) e o iorubá, marcaram
profundamente não só o
vocabulário do português
do Brasil, mas também [...]
a construção das frases, e
[...] a maneira como pro-
O africanista Alberto da Costa e Silva na sede da Academia
nunciamos as palavras. Brasileira de Letras, a qual já presidiu. Rio de Janeiro (RJ), 2006.
Poucos se dão conta de
que os verbos cochichar, cochilar [...] e zangar, os substantivos Africanista:
bagunça [...], caçula, cafuné [...], fuxico [...], lenga-lenga [...], quitanda estudioso dos
assuntos africanos.
[...], os adjetivos [...] dengoso, encabulado e zonzo e numerosíssimos
Enfadonho:
outros termos que usamos no dia a dia são de origem africana. cansativo.
E o que fazem os portugueses, quando têm de zangar com o
caçula dengoso que estava cochilando durante uma lenga-lenga como esta?
Eles [...] se aborrecem com o benjamim manhoso que dormitava durante esta
conversa enfadonha..
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 156-157.

a) S egundo o texto, que línguas africanas influenciaram profundamente o português


falado no Brasil?

b) Q
 uais são os termos que os portugueses usam para dizer caçula, dengoso e
cochilar?

c) Q
 ual é a importância dos conhecimentos transmitidos nesse texto para nós,
brasileiros?

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NÃO ESCREVA

ATIVIDADES
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Sabe-se que na África a escravidão tinha características próprias. Quais das alterna-
tivas contêm essas características?
a) Os escravos constituíam a maioria da população.
b) Jamais eram integrados ao grupo vencedor como pessoas livres.
c) O filho de um homem livre com uma mulher escravizada nascia livre.
d) E m algumas sociedades africanas, os escravizados podiam ocupar postos importantes no
governo ou no exército.

2 Leia o texto com atenção.


A documentação sobre as formas de produção dos escravos é escassa para o
período anterior ao século XVII, sobretudo para as zonas interioranas. Não obs-
tante,, existem indicações precisas de que [...] ao longo de toda a era do tráfico pelo
tante
Atlântico, cerca de três quartos dos africanos vendidos para as Américas resultassem
de guerras.
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos
entre a África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. p. 85.

a) São sinônimos dos termos grifados no texto, respectivamente:


I. pouca; apesar disso.
II. abundante; porém.
III. insuficiente; assim.
IV. exuberante; apesar disso.
b) Uma interpretação possível do texto é:
I. Desde o início, as fontes históricas do século XVII confirmam que a guerra foi o único meio
de obtenção de escravizados.
II. Os povos vencidos eram transformados em prisioneiros de guerra até o século XVII, o que
não aconteceu mais a partir de então.
III. Para as Américas, foram trazidos apenas os prisioneiros de guerra vindos do interior.
IV. A maioria dos escravizados trazidos para as Américas pelo tráfico atlântico foi obtida por
meio da guerra.

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3 Leia o quadro a seguir com atenção.

Embarcação Pastora de Lima


Nome da embarcação Pastora de Lima

Porto onde a viagem começou Rio de Janeiro

Principal lugar de aquisição de escravizados Moçambique

Principal local de desembarque de escravizados Bahia (porto não especificado)

Data em que a viagem começou 04/08/1816

Data em que o navio chegou com escravizados 16/1/1817

Nome do capitão Manoel José Dias

Total de escravizados embarcados 404

Total de escravizados desembarcados 290

Mortes de escravizados durante a travessia do Atlântico 114


Fonte dos dados: COMÉRCIO transatlântico de escravos: base de dados. Slave Voyages. [S. l.], c2021.
Disponível em: https://www.slavevoyages.org/voyage/database#. Acesso em: 11 jun. 2022.

a) Qual é o assunto do quadro?


a) O
 fato de a embarcação ter saído do porto do Rio de Janeiro é um indício de que brasileiros
também participaram do tráfico atlântico? Explique.
c) O
 que se pode saber das condições de viagem dos escravizados pelo Atlântico com base no
quadro?

4 Observe o mapa com atenção.


a) Em que século o

COLEÇÃO PARTICULAR
mapa foi feito?
b) O que o mapa
representa?
c) Qual é a
importância da
região mostrada
no mapa para
se compreender
a formação do
povo brasileiro?

Mapa produzido por


J. Janssonius, c. 1650.

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5 Observe com atenção as fontes 1 e 2 e responda ao que se pede.
FONTE 1

O texto a seguir foi escrito por Mahommah Gardo Baquaqua, africano nascido onde
hoje é o Benin e trazido para Pernambuco como escravizado em 1845. Depois de
obter a liberdade, ele escreveu um livro do qual se retirou o trecho a seguir.
"Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado, e
as mulheres de outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar de pé, éramos
obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós,
o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos." [...] [Havia
dias em que os escravizados ficavam sem água e sem comida.] "Houve um pobre
companheiro que ficou tão desesperado pela sede que tentou apanhar a faca do
homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais soube o que
lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar", [...].
VIEIRA, Leonardo. Historiadores traduzem única autobiografia escrita por ex-escravo que viveu no Brasil. O Globo,
Rio de Janeiro, 27 nov. 2014. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/historia/historiadores-traduzem-unica-
autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795. Acesso em: 11 jun. 2022.

FONTE 2
COLEÇÃO PARTICULAR

Desenho de 1830 de um navio especializado no tráfico de escravos.

a) Q ual é o assunto do texto?


b) Segundo o autor, como era o tratamento dispensado aos escravizados no navio negreiro?
c) O fato de o autor do texto ter passado pela experiência de viajar em um navio negreiro como
escravizado torna seu relato mais confiável? Justifique.
d) Agora observe a imagem (fonte 2): ela reforça ou nega a descrição feita por Baquaqua na
fonte 1? Justifique.

241

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6 Leia o texto a seguir com atenção.

Estudos históricos recentes estimam que chegaram ao Brasil em torno de 1,2


milhão de africanos ocidentais, entre homens, mulheres e crianças. Contudo, o
número real foi bem maior, pois, além das viagens de navios negreiros não docu-
mentadas, houve muitos escravizados, sobretudo no período do tráfico ilegal, no
século XIX, que, para escapar ao controle das autoridades, foram declarados pelos
traficantes como procedentes da África Centro-Ocidental, embora sua real origem
fosse acima do Equador.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos.
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 77.

a) P esquise e desenhe em seu caderno o contorno do mapa da África, trace a linha do equador
e delimite a região de onde vinham os africanos ocidentais.
b) Uma interpretação possível do texto é:
I. o número de africanos ocidentais trazidos para o Brasil é muito inferior ao documentado
pelos traficantes;
II. o número de africanos ocidentais entrados no Brasil é igual ao da região congo-angolana;
III. a quantidade de africanos ocidentais trazidos para o Brasil é bem maior que o registrado;
IV. a proibição do tráfico acima da linha do Equador impediu traficantes de fazerem negócio
na região.

7 Monte no caderno um quadro sobre o trabalho escravo no Brasil colonial. Liste ao


menos três trabalhos realizados por homens e três feitos por mulheres que viviam
sob a escravidão.

8 Leia um trecho da canção “Hoje tem capoeira”.

Olha, pega a beriba [berimbau] e começa a tocar


Pandeiro, atabaque não pode faltar
No jogo ligeiro que lá na Bahia
Aprendi a jogar
Meia-lua, rasteira, martelo e pisão
Solta a mandinga conforme a razão
Na reza cantada pede proteção
E hoje tem capoeira (coro)
No toque da viola chega pra roda (coro)
E vamos jogar (coro) [...]
HOJE tem capoeira. Intérprete: Mestre Camisa.
Compositor: Olho de Gato. In: MESTRE Camisa: capoeira.
Intérprete: Mestre Camisa. Rio de Janeiro:
Sony Music, 1993. 1 disco vinil, lado B, faixa 2.

242

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SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS
Roda de capoeira. Salvador (BA), 2019.

a) Que instrumentos musicais utilizados na roda de capoeira são citados na música?


b) A
 capoeira caracteriza-se por movimentos ágeis (golpes) utilizando os pés, as mãos, misto de
dança e luta. Transcreva os nomes de alguns golpes da capoeira citados na música.
c) O que é capoeira?
d) O que representava a capoeira para os negros escravizados?
e) E m 2014, a capoeira foi considerada Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco. Qual a impor-
tância deste título?
f) Você já participou de uma roda de capoeira? Se sim, conte como foi.

9 Leia o que diz uma historiadora.


A garantia de uma boa morte, com funeral, tumba e missa,
é um tema tratado com grande cuidado nos compromissos das Ancestralidade:
irmandades negras. Os altíssimos custos que envolviam esses ritos, legado recebido
dos ancestrais.
além da importância da ancestralidade para os africanos, certa-
mente foi um atrativo ímpar para o ingresso numa fraternidade.
REGINALDO, Lucilene. Irmandades. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos.
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 273.

Com base na leitura desse texto, avalie as afirmações a seguir.


I. Um dos motivos que levava os africanos e seus descendentes a ingressarem em uma irman-
dade era o direito a uma “boa morte” (funeral, sepultamento e missa).
II. Os africanos escravizados e seus descendentes davam grande importância à ancestralidade e
sabiam que os ritos envolvendo a morte eram muito caros.
a) Somente a afirmação I está correta.
b) Somente a afirmação II está correta.
c) Ambas estão corretas, e a II não justifica a I.
d) Ambas estão corretas, e a II justifica a I.

243

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10 Como vimos, o artigo 68 da Constituição

LINEU KOHATSU/OLHAR IMAGEM


brasileira de 1988 estabelece:
Aos remanescentes das comu-
nidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida
a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 11 jun. 2022.

Sobre a resistência negra ontem e hoje, Festa Marujada no Quilombo Mangal e Barro
responda às questões em seu caderno. Vermelho. Sítio do Mato (BA), 2015.
a) O que são comunidades remanescentes de quilombos?
b) Escreva uma frase sobre o artigo 68 e sua importância para a História do Brasil.
c) Um dos maiores quilombos do Brasil se chama Kalunga e está situado no norte do estado de
Goiás. Pesquise e escreva sobre ele com base no seguinte roteiro:
I. significado do nome Kalunga;
II. tamanho do quilombo;
III. número de comunidades existentes no quilombo;
IV. manifestações culturais.

11 Leia o texto a seguir.


Mulheres quilombolas: liderança e resistência para combater a invisibilidade
A CONAQ (Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas) estima que
no Brasil os quilombolas são aproximadamente dois milhões de pessoas, ou 130
mil famílias, presentes em todos os estados brasileiros. Grande parte dessa popu-
lação ainda vive em áreas rurais e distantes dos centros urbanos [...]. Atualmente,
essas comunidades são espaços de manutenção e resistência da cultura negra,
da ancestralidade africana e têm sua sobrevivência vinculada à liderança de
mulheres negras.
MULHERES quilombolas: liderança e resistência para combater a invisibilidade. ONU Mulheres Brasil. [S. l.], 12 set. 2017.
Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/mulheres-quilombolas-lideranca-e-resistencia-para-combater-a-invisibilidade/.
Acesso em: 11 jun. 2022.

Copie em seu caderno as alternativas corretas.


a) As comunidades quilombolas se concentram sobretudo no Sudeste.
b) A maior parte da população quilombola vive no campo.
c) Não existem quilombos urbanos, apenas quilombos rurais.
d) Os quilombos preservam a cultura negra e as tradições africanas.

244

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II. Integrando com Matemática
Tráfico atlântico (1501-1875)
África Brasil
Períodos
(embarcados) (desembarcados)
1501-1525 0 0

1526-1550 0 0

1551-1575 388 332

1576-1600 931 536

1601-1625 1 670 1 412

1626-1650 39 981 32 144

1651-1675 8 431 6 680

1676-1700 81 492 72 423

1701-1725 241 128 210 355

1726-1750 424 141 370 889

1751-1775 353 404 321 142

1776-1800 453 519 417 812

1801-1825 1 043 489 937 165

1826-1850 881 532 791 045

1851-1875 9 798 7 900

Total 3 539 904 3 169 835

Fonte dos dados: COMÉRCIO transatlântico de escravos: base de dados. Slave Voyages.
[S. l.], c2021. Disponível em: https://www.slavevoyages.org/voyage/database.
Acesso em: 4 ago. 2022.

a) Nessa tabela, o que cada coluna indica?


b) Quantos africanos escravizados foram embarcados para o Brasil no século XVI?
c) Procure na tabela o número 210 355 e explique o que ele indica.
d) N
 o período coberto pela tabela, quantos africanos escravizados foram embarcados para o
Brasil? E quantos desembarcaram no Brasil?
e) C
 alcule a diferença entre a quantidade de africanos escravizados embarcados e desembarcados
no Brasil no período coberto pela tabela.
f) O que essa diferença representa? Por que isso acontecia?

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III. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

A escravidão antiga, a servidão e a escravidão moderna


Na Roma antiga, os escravizados eram pessoas de
diversas origens: europeus, asiáticos e africanos, que tra-
balhavam em minas, pedreiras, atividades agropastoris,
serviços domésticos e ainda como cozinheiros, médicos,
músicos, dançarinos e professores dos filhos dos ricos.

A/A. DAGLI ORTI/DEAGOSTINI/GETTY IMAGES


Os escravizados dos romanos podiam ser vendidos,
surrados, queimados com ferro em brasa e até mesmo
crucificados. A escravidão romana, no entanto, não se
baseava apenas na violência. Um escravo podia obter a
liberdade por desejo do seu dono ou por serviços pres-
tados. E, enquanto liberto, podia tornar-se cidadão
com direito de votar e ser votado.

A servidão medieval
Na Europa ocidental, durante a Idade Média
(séculos V ao XV), também existiram escravizados,
mas eles eram minoria. Uma grande parte dos tra-
balhadores era formada por servos da gleba, assim
Estátua romana, do século I a.C.,
chamados por encontrarem-se presos à terra, ou de uma menina escravizada
seja, por não poderem deixar o feudo em que viviam dormindo.
e trabalhavam. Eles recebiam do senhor um lote de
Corveia: obrigação de trabalhar de graça
terra que deviam cultivar. Em troca do direito de usar para o senhor dois ou três dias por semana.
essa terra para seu sustento, os servos tinham uma Talha: obrigação de entregar para o senhor
série de obrigações para com o seu senhor, como a cerca de 30% ou 40% do que produzia no
lote que tinha recebido para seu próprio uso.
corveia e a talha
talha..

Escravidão moderna
Na Idade Moderna, que na divisão tradicional da História tem início no século XV,
ocorre um grande movimento de expansão marítimo-comercial, liderado por Portugal e
Espanha. Durante essa expansão, Portugal constituiu um grande império com feitorias
e colônias na África, na Ásia e na América. Nesse contexto, a África foi incorporada ao
circuito comercial europeu. Navegando e comerciando pela costa africana, durante o século
XV, os portugueses buscavam obter ouro e escravizados. Ouro para acumular; escravizados
para vender.

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No século seguinte, o Império português ampliou suas conquistas na África, na
Ásia e na América. E, com a expansão das plantações de cana-de-açúcar na América
portuguesa, envolveu-se em um negócio lucrativo e duradouro: obter e vender africanos
escravizados para a parte da América onde hoje é o Brasil. Teve início, assim, a escravidão
moderna.
Vamos conhecer as semelhanças e as diferenças entre a escravidão antiga, a servidão
medieval e a escravidão moderna. Observe os quadros a seguir.

Semelhanças
Escravidão antiga (Roma) Escravidão moderna (Brasil)
Condição Podiam ser vendidos, alugados, surrados e deixados em testamento.

Direito O escravizado não tinha direitos como pessoa nem de propriedade.

Trabalho Não podia escolher seu trabalho.

Família e honra Não tinha sua família nem sua honra reconhecidas.

Diferenças
Escravidão antiga (Roma) Escravidão moderna (Brasil)
Pessoas de diversas origens e etnias: gregos, Inicialmente indígenas. A partir do século XVII,
Origem
egípcios, macedônios, sírios, entre outros. africanos.

Podiam ter ocupações de maior prestígio como


Não podiam ter ocupações de maior prestígio,
Ocupações músico, dançarino e professores dos filhos
a exemplo dos escravizados dos romanos.
dos ricos.

Aquele que conseguia a liberdade podia O liberto não obtinha cidadania plena; não
A situação
tornar-se cidadão com direito de votar, de ser podia votar nem ser votado, podendo se tornar
do liberto votado e, portanto, de ocupar cargos públicos. escravizado novamente a qualquer momento.

Diferenças
Servidão Escravidão moderna
O servo estava preso à terra; quando o senhor O escravizado podia ser comprado, vendido e alugado;
concedia a outra pessoa a terra (o feudo), junto iam era visto, portanto, como uma mercadoria que
os trabalhadores. pertencia a quem o comprou.

O servo trabalhava gratuitamente nas terras do seu


Os escravizados não recebiam uma terra para dela
senhor e recebia o direito de usar um lote para retirar
retirar seu próprio sustento.
seu sustento.

a) Escreva duas frases comparando a escravidão antiga à escravidão moderna.


b) Caracterize a servidão medieval.
c) Diferencie a servidão medieval da escravidão moderna.

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CAPÍTULO

11 EUROPEUS DISPUTAM
O MUNDO ATLÂNTICO

O samba a seguir é de autoria do conhecido artista brasileiro Martinho da Vila; leia


sua letra com atenção.

Aprendeu-se a liberdade Vamos preparar


RAPHAEL DIAS/GETTY IMAGES

Combatendo em Guararapes Lindos mamulengos


Entre flechas e tacapes Pra comemorar a libertação
Facas, fuzis e canhões E lá vem maracatu
Brasileiros irmanados Bumba meu boi, vaquejada
Sem senhores, sem senzala Cantorias e fandangos
E a Senhora dos Prazeres Maculelê, marujada
Transformando pedra em bala Cirandeiro, cirandeiro
Bom Nassau já foi embora Tua hora é chegada
Fez-se a revolução Vem cantar esta ciranda
E a festa da Pitomba é a Pois a roda está formada
reconstituição Ô cirandeiro
Jangadas ao mar refrão:
Pra buscar lagosta Cirandeiro, cirandeiro ó
Pra levar pra festa A pedra do teu anel
Em Jaboatão Brilha mais do que o sol
ONDE o Brasil aprendeu a liberdade. Intérprete: Martinho da Vila. Compositor: Martinho da Vila. In:
BATUQUE NA COZINHA. Intérprete: Martinho da Vila. Rio de Janeiro: RCA Victor, 1972. LP, B, faixa 3.
Disponível em: http://martinhodavila.com.br/js_albums/batuque-na-cozinha/. Acesso em: 13 jun. 2022.

O cantor brasileiro Martinho da Vila desfila com a escola de samba


Vila Isabel no Sambódromo do Rio de Janeiro (RJ), em 2016.

1. O que será que o sambista quis dizer com: “Aprendeu-se a liberdade combatendo em Guararapes”?
2. Há algum indício na letra da religiosidade brasileira?
3. Você já viu um desfile de maracatu? E de bumba meu boi e vaquejada, você já viu?
4. Por que será que o governante holandês no Brasil é chamado de “bom Nassau”? O que você sabe a
respeito dele?

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A disputa do mundo atlântico
pelos europeus — séculos XVI e XVII
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro duas vezes. Essas inva-
sões estão relacionadas às disputas por poder e riqueza entre Espanha, Portugal e Holanda.
Vejamos como isso se deu.

A União Ibérica
No século XVI, o Império espanhol era imenso e possuía Países Baixos Espanhóis:
territórios em vários continentes, entre eles os Países Baixos território que corresponde ao que
hoje é a Holanda e a Bélgica.
Espanhóis,, região rica e de maioria protestante.
Espanhóis
Em 1580, o Império espanhol aumentou ainda mais. Naquele ano, o rei de Portugal,
D. Henrique, morreu sem deixar herdeiros; então, o rei da Espanha, Felipe II, parente do
rei morto, tornou-se também rei de Portugal. O domínio da Espanha sobre Portugal e suas
colônias, entre elas o Brasil, ficou conhecido como União Ibérica e durou 60 anos. Durante
esse tempo, os adversários da Espanha tornaram-se também inimigos de Portugal. Foi este
o caso dos Países Baixos Espanhóis.

A independência dos Países Baixos


No final do século XVI, o rei Felipe II da Espanha tentou impor o catolicismo nos Países Baixos
e passou a cobrar altos impostos de seus habitantes. Estes, então, revoltaram-se e guerrearam
contra a Espanha e, em 1581, declararam sua independência, formando um novo país: a Holanda.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA /ÓLEO SOBRE TELA

Família
holandesa,
de Jacob
Gerritsz
Cuyp. França,
século XVII.

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A guerra por açúcar e escravizados
Inconformado com a perda da Holanda, o rei espanhol Felipe II proibiu Portugal e suas
colônias de comerciarem com os holandeses, que tinham grande participação na refinação
e comercialização do açúcar brasileiro na Europa. Diante disso, em 1621, os holandeses
criaram uma grande empresa, a Companhia das Índias Ocidentais,, para invadir as
colônias portuguesas na América e na África.
Na América, o alvo dos holandeses era o Nordeste brasileiro, que, à época, era o maior
produtor de açúcar do mundo. Já na África, os holandeses queriam conseguir africanos
escravizados para vendê-los ao Brasil. Assim, os holandeses lucrariam com a venda de
açúcar e o comércio de escravizados.

ATOSAN/SHUTTERSTOCK.COM
Castelo de São Jorge da Mina. Elmina (Gana), fotografia de 2019. Em 1637, os holandeses conquistaram
São Jorge da Mina e, em 1641, tomaram São Paulo de Luanda, ambas no litoral da África.

A invasão da Bahia
A primeira invasão holandesa ocorreu na Bahia, capitania com grande número de
engenhos de açúcar.
Os holandeses chegaram a Salvador em 1624, com 26 navios, 3 300 homens e
450 canhões, prenderam o governador português e conquistaram a cidade sem muita
dificuldade. A população da cidade retirou-se para o interior e de lá organizou a resis-
tência. Uma das táticas dos luso-brasileiros foi a guerra de emboscadas:: os habitantes
da Bahia saíam da mata em pequenos grupos e atacavam os holandeses de surpresa.
Os espanhóis, por sua vez, enviaram a Salvador uma esquadra com 52 navios e mais
de 12 mil homens para combater os holandeses. Pressionados por mar e por terra, os
holandeses se renderam.

250

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A invasão de Pernambuco
Dois anos depois de invadirem a Bahia, os holandeses voltaram
a Salvador, saquearam suas riquezas e, na volta para a Holanda,
prenderam navios espanhóis carregados de prata que seguiam para
a Espanha. Essa riqueza ajudou-os a financiar a segunda invasão.
Em 1630, navios e canhões holandeses entraram de novo em
águas brasileiras; dessa vez para invadir Pernambuco, o maior pro-
dutor mundial de açúcar na época.
Os holandeses conquistaram Olinda e Recife com relativa facili-
dade. O então governador Matias de Albuquerque retirou-se para o
interior com homens e armas e lá fundou o Arraial do Bom Jesus,,
principal forte da resistência luso-brasileira.
No entanto, com o apoio de alguns moradores, entre eles o
senhor de engenho Domingos Fernandes Calabar, que os guiou,
os holandeses progrediram: conquistaram o Rio Grande do Norte,
a Paraíba e o Arraial do Bom Jesus, no interior de Pernambuco. O Dialogando
governador Matias de Albuquerque, então, mandou incendiar os P or que será que o
canaviais e se retirou com seus seguidores para Alagoas. Antes, governador mandou
porém, conseguiu prender Calabar e mandou executá-lo. executar Calabar?

ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

Detalhe de gravura mostrando um engenho na Paraíba, de Frans Post, 1643. A imagem mostra habitantes
da colônia sob a bandeira holandesa, o que indica que Calabar não foi o único a adotar tal posição.

251

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Nassau no Brasil holandês
A guerra deixou atrás de si um rastro de destruição. Para reerguer e administrar as
áreas conquistadas pelos holandeses, a Companhia das Índias Ocidentais enviou ao Brasil
o conde João Maurício de Nassau. Como governador do Brasil holandês, Nassau adotou
uma política baseada em três pontos:
• empréstimos aos senhores de engenho luso-brasileiros para que recuperassem suas
lavouras e comprassem escravizados;
• melhoramentos em Recife:: calçamento de ruas, abertura de canais, construção de
pontes, jardins e hospitais;
• tolerância religiosa,, a fim de evitar possíveis conflitos entre os senhores de engenho
(católicos) e os holandeses (protestantes).
HANS VON MANTEUFFEL/PULSAR IMAGENS
WILFREDOR

À esquerda, vista interna da Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife


(PE), 2020. Acima, fachada do Centro Cultural Judaico de
Pernambuco, Recife (PE), 2020. No governo de Nassau, os
judeus também puderam praticar sua religião; no Recife da
época havia duas sinagogas (templos onde realizavam seus
cultos). Uma delas era a Kahal Zur Israel, primeira sinagoga
das Américas, fundada em 1636. O prédio foi restaurado e
atualmente abriga o Centro Cultural Judaico de Pernambuco.

Durante seu governo, Nassau promoveu a conquista de portos de fornecimento de escra-


vizados na África e estendeu a dominação holandesa de Sergipe ao Maranhão. No Recife,
Nassau também ordenou a construção de uma ponte ligando o antigo porto à ilha de Antônio
Vaz e esta ao continente. Nessa ilha criou um jardim botânico, um zoológico e construiu o
Palácio de Friburgo, residência do governador e sede do governo. O lugar onde essas obras
foram feitas recebeu o nome de Cidade Maurícia (atualmente bairro de Santo Antônio).

252

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Artistas e cientistas no Brasil holandês
Nassau trouxe para o Nordeste cientistas, como Georg Marcgraf e Willem Piso, e pinto-
res, como Albert Eckhout e Frans Post, o mais conhecido dos pintores vindos com Nassau.
COLEÇÃO PARTICULAR

Detalhe do
mapa de Georg
Marcgraf e
Joan Blaeu
mostrando o
território
brasileiro
sob domínio
holandês, c. 1647.
O trabalho de
arte é do pintor
e gravurista
Frans Post.

Leia agora o trecho de um texto sobre Frans Post e suas obras


retratando o Brasil.

Quando Frans Post chegou ao Brasil, em 1624, tinha 24 anos


e já trazia um aprendizado sobre a arte de pintar paisagens. [...]
Seus quadros retratando paisagens brasileiras revelam
vários aspectos da vida no Nordeste do século XVII: vegetação,
# DICA!

arquitetura, construções, [...] vestimentas, costumes etc. Além O vídeo mostra a relação
entre Maurício de Nassau
disso, eles demonstram o impacto que a natureza tropical teve e os judeus que saíram
sobre o artista, acostumado com uma luminosidade e uma da Europa fugindo da
Inquisição.
paisagem muito diferentes.
MAURÍCIO de Nassau
Várias de suas obras hoje pertencem a importantes museus e os judeus no Brasil.
brasileiros ou mesmo estrangeiros. Numa época em que a pro- 2019. Vídeo (5min29s).
Publicado pelo canal
dução artística colonial quase só abordava temas religiosos, Lucas Rocha Xavier.
a obra de Post permite uma visão mais ampla da realidade Disponível em: https://
youtu.be/w0wBafBdV68
brasileira daquela época.
Acesso em: 16 jun. 2022.
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 37.

253

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O pintor Albert Eckhout expressou seu encantamento ao representar paisagens e
habitantes do Brasil. Observe as imagens e leia um trecho do texto sobre o artista.
ÓLEO SOBRE TELA, 287 X 182 CM, MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA, COPENHAGUE

ACERVO MUSEU NACIONAL DE COPENHAGUE, DINAMARCA/ÓLEO SOBRE TELA


Arara,
de Albert
Eckhout,
c. 1665.
Esse quadro
retrata
a arara
vermelha,
um entre
os muitos
pássaros
registrados
nas pinturas
do artista
quando
esteve no
Brasil.
Homem africano, de Albert
Eckhout, c. 1641. A imagem
foi pintada no Nordeste.

Albert Eckhout, outro artista


MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA, COPENHAGUE. FOTO: AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

holandês trazido por Nassau, aqui


viveu entre 1637 e 1644. Sua obra
se destaca pelos retratos dos tipos
humanos brasileiros – índios,
negros e mestiços – [...], compondo
um interessante painel [...]. Muitos
dos seus desenhos, especialmente
naturezas-mortas, serviram de
base para a execução de grandes
peças de tapeçarias, executadas
na França, usadas para enfeitar
as paredes dos palácios e residên-
cias na Europa. Tanto nas obras
originais como nessas tapeçarias
chamam atenção os elementos exó-
Abacaxi, melancia e outras frutas, de Albert Eckhout, ticos, demonstrando a visão que os
c. 1641. europeus tinham do Novo Mundo.
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 37.

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A Restauração
Enquanto os holandeses multiplicavam seus lucros no Brasil, os portugueses responsabili-
zavam a união com a Espanha pela situação crítica em que se encontravam economicamente.
Então, pegaram em armas contra a Espanha e, em 1640, conseguiram libertar-se do domínio
espanhol. O episódio ficou conhecido como Restauração.. D. João IV assumiu o trono
português e, no ano seguinte, firmou com a Holanda um acordo de paz por dez anos.

A reação luso-brasileira
Enquanto isso, no Brasil, a Companhia das Índias Ocidentais exigia que Nassau cobrasse
o dinheiro emprestado aos senhores de engenho e restringisse o crédito dado a eles. Além
disso, proibiu a livre prática da religião católica. Vendo-se pressionado pela Companhia,
Nassau deixou o Brasil em 1644.
Os holandeses, então, começaram a confiscar terras dos senhores Confiscar: tomar um
de engenho que não conseguiam saldar suas dívidas. Os senhores bem de uma pessoa
por força da lei.
de engenho reagiram rompendo a aliança com os holandeses e jun-
tando-se à resistência luso-brasileira. Teve início, assim, a Insurreição Pernambucana
(1645), nome dado à luta pela expulsão dos holandeses. As principais batalhas das tropas
luso-brasileiras contra os holandeses foram as Batalhas dos Guararapes,, ocorridas em
1648 e 1649, ambas vencidas pelos luso-brasileiros.
Animado pela vitória em Guararapes, o governo português enviou a Pernambuco uma
frota de guerra. Atacados por terra e por mar, os holandeses foram vencidos na Batalha
da Campina do Taborda e, em 1654, deixaram o país.

ÓLEO SOBRE TELA, 122 X 217 CM, MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

Detalhe do painel da Batalha de Guararapes pintada em 1758. Essa imagem faz parte de uma série que busca
elevar à condição de heróis os pernambucanos católicos que venceram e expulsaram o invasor protestante.
Repare, à esquerda da imagem, um religioso com uma cruz em uma das mãos.

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PARA SABER MAIS
O texto a seguir é sobre Henrique Dias, importante protagonista de nossa história.

Henrique Dias
Henrique Dias foi um importante personagem
do século XVII. Consta que nasceu em Pernambuco,
talvez no alvorecer seiscentista. Era filho de africanos,
provavelmente escravizados, e foi alforriado ainda
criança [...].
ÓLEO SOBRE TELA, 96 X 70 CM, ACERVO MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO, RECIFE

Na década de 1630, Dias se alistou para comba-


ter os holandeses, atuando em tropas comandadas
por Matias de Albuquerque (c. 1590-1647). É
possível que Henrique Dias tenha recrutado
muitos escravizados que fugiram dos enge-
nhos e preferiram se proteger alistando-se
em tropas de libertos. A partir de 1633, o
nome de Henrique Dias começou a apare-
cer nas crônicas sobre as batalhas contra
os holandeses. Logo ganhou distinção por
seus atos de heroísmo e de bravura, pela
Retrato de Henrique Dias, de autor participação nos embates de Igaraçu e nas
desconhecido, século XVII. batalhas de retomada de Goiana. [...]
Henrique comandou uma tropa de libertos [...] ficando conhecido como “governa-
dor das companhias de crioulos, pretos e mulatos”. Em 1647, suas tropas já contavam
com mais de trezentos combatentes, muitos dos quais “homens pretos” (nomencla-
tura de africanos na época). Falava-se que suas tropas eram compostas de “quatro
nações”: uma com “crioulos” (nascidos no Brasil) e as outras três de africanos, nomea-
dos “ardas”, “minas” e “angolas” – portanto, centro-africanos e africanos ocidentais [...]
Apesar de um efetivo modesto, as tropas sob comando de Henrique Dias parti-
ciparam das Batalhas dos Guararapes, em 1649.
Quando a guerra com os holandeses acabou, Henrique Dias continuou morando
em seu arraial, onde tinha mandado construir, em 1646, uma igreja de taipa e coberta
de telhas, dedicada a Nossa Senhora. [...]
Exigiu também, a garantia de que seus soldados ganhariam cartas de alforria,
sugerindo que parte de sua tropa era formada por cativos que haviam abandonado
os engenhos e engrossado o contingente [...].
GOMES, Flávio dos Santos; LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia negra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 245-246.

256

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A concorrência holandesa e a queda nos preços do açúcar
Forçados a deixar o Nordeste brasileiro, os holandeses levaram para as Antilhas as
técnicas de produção de açúcar. E como os holandeses possuíam uma grande frota naval
e experiência comercial, em pouco tempo o açúcar antilhano passou a disputar com o
açúcar brasileiro a liderança no mercado europeu.
Além disso, entre 1650 e 1700, a Europa viveu uma crise econômica profunda; com
isso, a procura pelo açúcar diminuiu e seus preços caíram pela metade.
A expulsão dos holandeses
deu início à crise da economia Antilhas holandesas

ALLMAPS
70° O
açucareira no Brasil. Portugal
não tinha condições financei- HAITI REP.
DOMINICANA
ras de reerguer os engenhos Porto Rico
(EUA)
do Nordeste, nem de competir
com o produto holandês no
mercado europeu. M a r d o C a r i b e

Mesmo assim, os pro-


15° N
prietários rurais continuaram
investindo na montagem de AN
TILH
AS HOLANDESA
S
I. Aruba (HOL)
engenhos e ampliando as terras I. Curaçao (HOL)
I. Bonaire (HOL)
destinadas à lavoura da cana. 0 140

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA


COLÔMBIA VENEZUELA
E GEOGRAFIA. Atlas geográfico escolar.
7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 39.
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Escravizados
trabalhando
em um
moinho para
a moagem
de cana-de-
-açúcar nas
Antilhas,
de Angelo
Agostini,
século XIX.

257

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Vimos que os habitantes dos Países Baixos Espanhóis se revoltaram contra a Espanha
e, em 1581, declararam sua independência, formando um novo país, a Holanda. Que
relação há entre a independência da Holanda e as invasões holandesas no Brasil?

2 Por que os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro?

3 Sobre a invasão holandesa a Pernambuco, identifique as alternativas corretas.


a) Na época em que foi invadido pelos holandeses, Pernambuco era o maior produtor mundial
de açúcar.
b) Durante a invasão a Pernambuco, os holandeses tiveram dificuldade de conquistar Olinda e Recife.
c) Durante a invasão holandesa a Pernambuco, a resistência luso-brasileira fundou o Arraial do
Bom Jesus.
d) Depois de conquistarem Pernambuco, os holandeses conquistaram também Bahia, Sergipe e
Alagoas.

4 Leia o texto e responda às questões.


Seu primeiro relatório [de Nassau], expedido em 1638 [...], enuncia as regras do jogo
colonial no Atlântico Sul.
[...] “Necessariamente deve COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

haver escravos no Brasil, e por


nenhum modo podem ser dis-
pensados: se alguém sentir-se
nisto agravado, será um escrú-
pulo inútil [...] é muito preciso que
todos os meios apropriados se
empreguem no respectivo tráfico
na Costa da África”.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos
viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. O engenho, de Johann Moritz Rugendas, c. 1835.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 210.

a) C
 om base no texto, pode-se dizer que o posicionamento de Nassau diante da escravidão era
diferente do adotado pelos colonizadores portugueses?
b) Q
 uais eram os objetivos dos holandeses com a conquista de territórios no Brasil e na África
quase ao mesmo tempo?

258

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5 Acerca do governo de Maurício de Nassau no Brasil holandês, leia o texto a seguir e
responda ao que se pede.
ACERVO MUSEU ANTIGA PINACOTECA, MUNIQUE, ALEMANHA

Paisagem com
Tamanduá-í
e Palanquim,
de Frans
Post, 1649.

Maurício de Nassau foi responsável pelo primeiro contato do Brasil com a


Europa moderna, [...] desenvolvendo no Nordeste do país um governo baseado na
liberdade, no comércio e no estímulo às ciências e às artes.
MELLO, Evaldo Cabral de. Entre dois mundos: Maurício de Nassau. In: FIGUEIREDO, Luciano (org.).
História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. p. 376.
a) Qual é o assunto do texto?
b) C
 om base nos seus conhecimentos, cite medidas tomadas por Nassau que confirmam a ideia
de modernidade citada no texto.
c) Cite um motivo para o governo de Nassau ser considerado um governo baseado na liberdade.
d) E mbora o governo de Nassau tenha trazido de fato a modernidade e a tolerância religiosa
para a região que governou, havia um elemento bastante antigo e muito distante da ideia de
liberdade na economia local. Que elemento era esse? Justifique sua resposta.

6 Leia o texto, observe a imagem e depois responda às questões da página seguinte.


Ao entrarem na Vila de Olinda, os holandeses já encontraram, sob o ponto de
vista urbano, uma aglomeração definida, com as características que se encontram
em outras vilas e cidades do Brasil, com memórias de núcleos urbanos de Portugal
[...]. Olinda, a Lisboa pequena, em feliz comparação da época, impressionou, quer
pelo luxo das igrejas ou pelo casario de pedra ou taipa [...]. Mas a vila situada por
sobre as colinas não se permitia fortificar [...] a preferência dos técnicos recai sobre
o povoado do Recife, embora o ônus de construir tudo de novo [...].
MENEZES, José Luís. Arquitetura e urbanismo no Recife do conde João Maurício de Nassau. In: HERKENHOFF, Paulo (org.).
O Brasil e os holandeses (1630-1654). Rio de Janeiro: GMT Editores: Sextante, 1999. p. 86-103.

259

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Escreva no caderno a alternativa correta. Por qual razão a vila do Recife foi escolhida
como sede do Brasil holandês?
a) Olinda já tinha muitos habitantes.
b) O fato de que ela podia ser fortificada e Olinda, não.
c) O desejo dos holandeses de construir uma cidade nova.
d) O interesse em aproveitar as águas do rio Capibaribe.
e) O fato de ser banhada pelo mar.

7 Leia o texto a seguir com atenção.


[...] [Em] 1 o de dezembro de 1640, em Lisboa, revoltosos populares e da
nobreza tomaram o poder e restauraram a independência portuguesa. D. João,
duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, [...] no palácio hoje designado
Palácio da Independência. Todavia, foi necessário reforçar o exército, fabri-
car armas e fortalezas nas zonas fronteiriças para garantir a independência,
através das guerras da restauração, que duraram de 1640 a 1668, pois só então,
com o tratado de paz em Lisboa, os espanhóis reconheceram a independência
portuguesa.
FERRÃO, Nuno Sotto Mayor. A restauração da independência portuguesa de 1o de dezembro de 1640 e a restauração
do feriado nacional. Crónicas do Professor Nuni Sotto Mayor Ferrão. [S. l.], 1o dez. 2016. Blogue.
Disponível em: https://cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/a-restauracao-da-independencia-65806.
Acesso em: 13 jun. 2022.

Escreva no caderno a alternativa correta. Com base na análise do texto, podemos


afirmar que:
a) os espanhóis reconheceram a independência portuguesa em 1o de dezembro de 1640.
b) as guerras de Restauração duraram de 1640 a 1680, quando foi assinado o tratado de paz
em Madri.
c) a independência de Portugal só foi reconhecida pela Espanha após uma guerra concluída com
a assinatura de um tratado de paz em Lisboa, em 1688.
d) o movimento pela Restauração portuguesa contou somente com a participação de populares.
e) a luta pela Restauração da independência de Portugal contou somente com a participação
da nobreza.

8 Avalie as afirmações e escreva no caderno as alternativas corretas.


a) Os holandeses se retiraram do Brasil em 1654, após serem vencidos na Batalha da Campina
do Taborda.
b) A saída dos holandeses do Brasil não tem relação com a queda do preço do açúcar brasileiro
no mercado externo.
c) Os holandeses levaram para as Antilhas as técnicas de produção de açúcar.
d) A concorrência da produção holandesa nas Antilhas estimulou o aumento da venda do açúcar
brasileiro.
e) O açúcar antilhano produzido pelos holandeses passou a disputar o mercado internacional
com o açúcar brasileiro.

260

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

Alimentação europeia
Ao contrário dos portugueses, que rapidamente se adaptaram aos alimentos
produzidos no Brasil (farinha de mandioca, caça, peixes etc.), os holandeses de tudo
traziam da Europa para se alimentar. Carnes de boi e de carneiro salgadas, toucinho,
presunto, língua de boi, salmão, bacalhau salgado e seco, arenque, farinha de trigo,
cerveja, vinhos da Espanha, da França e do Reno, queijo, manteiga, azeite, azeitonas,
alcaparras, figos, passas e amêndoas, entre outros produtos, eram constantemente
trazidos da Holanda para o Nordeste. [...]
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 29.

BIRMINGHAM MUSEUMS AND ART GALLERY, REINO UNIDO

Preparação de um banquete de Pieter Aertsen, c. 1600.

Responda com base no texto.


a) Anote em seu caderno a alternativa correta.
I. Os holandeses conseguiram adaptar-se rapidamente ao consumo de farinha de mandioca.
II. Os holandeses preferiam consumir a farinha de trigo importada da Europa.
III. Assim como os portugueses, os holandeses só consumiam produtos vindos de seu próprio país.
IV. Os holandeses preferiam importar apenas bebidas, a exemplo do vinho e da cerveja.
b) O que é possível concluir sobre as importações holandesas para o Nordeste?
c) Você já experimentou comidas de outros países? Se sim, quais? Você gostou?
d) A
 culinária faz parte da cultura de um povo. Pesquise e cite comidas de origem europeia muito
consumidas no Brasil.

261

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III. Integrando com Matemática
Com base no gráfico a seguir, elaborado pelo economista Roberto Simonsen, e em
seus conhecimentos sobre a presença holandesa no Nordeste, responda às questões.

Brasil: evolução da economia açucareira (1570-1670)

EDITORIA DE ARTE
1800

1600

1400
massa (em toneladas)

1200

1000

800

600

400

200
0
1570 1580 1590 1600 1610 1620 1630 1640 1650 1660 1670

Fonte: AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce inferno: açúcar: guerra e escravidão no Brasil holandês (1580-1654).
São Paulo: Atual, 1991 (História em documentos, p. 33).

a) O que o gráfico registra?


b) Identifique, em relação à quantidade de açúcar exportada, os períodos em que é possível perceber:
• crescimento. • decrescimento.
c) E m que ano ocorreu a maior exportação de açúcar? Quantas toneladas, aproximadamente,
foram exportadas nesse ano?
d) A
 leitura do gráfico permite saber o comportamento da economia açucareira durante a pre-
sença holandesa no Nordeste? Justifique.
e) Com o fim do domínio holandês, o que ocorreu com a economia açucareira? Por que isso ocorreu?

IV. Você cidadão!


Leia o texto e observe a imagem com atenção.
Diferentemente do que ocorria no Nordeste colonial, onde a produção de açúcar
contava apenas com a força humana, animal ou da água, boa parte da produção de
açúcar atual é feita em usinas, nas quais o trabalho de limpar, moer, aquecer, purificar,
filtrar, cozinhar e empacotar é mecanizado.

262

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Mas, assim como no passado colonial, ainda se pratica a queimada para se retirar
a palha da cana. Essa prática prejudica os moradores que vivem próximos às áreas de
queimada; eles reclamam de sujeira nas casas; aumento do consumo de água para limpar
a sujeira; acidentes em rodovias em razão da falta de visibilidade; problemas respiratórios;
eliminação de animais silvestres, como pássaros e outros; emissão de gases prejudiciais ao
meio ambiente.

THOMAZ VITA NETO/PULSAR IMAGENS


Queimada em plantação de cana-de‑açúcar. Irapuí (SP), 2020.

a) C
 ompare o modo como se produzia o açúcar nos tempos coloniais com a maneira que ele é
produzido hoje.
b) E scolha duas importantes consequências da queimada para a população que mora nas pro-
ximidades, e faça um comentário a respeito delas.

ESCUTAR E FALAR
Imagine que você more nas proximidades de uma área onde ocorrem queimadas.
Pesquise e se prepare para falar em público sobre os males decorrentes dessa prática e
sugira providências cabíveis para solucionar o problema.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

263

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CAPÍTULO

12 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO
DA AMÉRICA PORTUGUESA

O avanço da colonização da América portuguesa se deveu à ação dos soldados, dos


bandeirantes, dos jesuítas e dos criadores de gado. As duas imagens a seguir representam
os bandeirantes. A fonte 1 é uma aquarela; a fonte 2, uma ilustração. Ambas foram feitas
por Ivan Washt Rodrigues, um artista contemporâneo. Observe-as com atenção.

FONTE 1 FONTE 2
IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR

IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR

1. Descreva o bandeirante representado na fonte 1.


2. Descreva o bandeirante representado na fonte 2.
3. Compare as duas versões e opine: qual delas se parece mais com o bandeirante de carne e osso?

264

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Os agentes da expansão territorial
Entre os quatro tipos de agentes da expansão territorial, citados na página anterior,
estavam os soldados, que foram enviados para defender e proteger as costas das terras
onde hoje é o Brasil.

Os soldados
Desde o início da colonização, piratas franceses, ingleses e holandeses atacavam o
litoral brasileiro para levar o pau-brasil e outras riquezas da terra; muitas vezes, eles se
aliavam a grupos indígenas inimigos dos portugueses. Na região onde é hoje a Paraíba,
por exemplo, os franceses mantinham estreita ligação com os potiguaras.
Durante a União Ibérica,, a pirataria no litoral brasileiro se intensificou, pois os ini-
migos da Espanha também passaram a atacar as colônias portuguesas, a exemplo do
Brasil. Para combater a pirataria, foram enviados ao litoral do Brasil soldados portugueses
e espanhóis. Esses soldados ergueram fortes e povoados, que estão na origem de várias
capitais brasileiras,, como:
• Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves.. Fundado pelos portugueses em
1585, em torno do qual se formou a cidade de João Pessoa, capital da Paraíba.
• Forte dos Reis Magos.. Construído em forma de estrela, foi fundado em 1598 por
soldados luso-brasileiros e deu origem a Natal, capital do Rio Grande do Norte.

TALES AZZI/PULSAR IMAGENS

Vista aérea do Forte dos Reis Magos, com a cidade de Natal ao fundo. Natal (RN). Fotografia de 2017.

265

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• Forte de São Luís.. Fundado em 1612, está na origem da cidade de São Luís,
capital do Maranhão. O forte foi fundado pelos franceses, que ali estabeleceram
uma colônia comer-

ANDRE DIB/PULSAR IMAGENS


cial, com o objetivo de
explorar as riquezas
da região. No entanto,
três anos depois, eles
foram expulsos pelos
soldados espanhóis e
portugueses.

A imagem mostra os muros do


forte em torno do qual se
formou a cidade de São Luís;
atrás, o Palácio dos Leões,
sede do Governo do Estado do
Maranhão. Fotografia de 2019.

• Forte do Presépio de Santa Maria de Belém.. Fundado por soldados portugueses


em 1616. O forte foi erguido para proteger o pequeno povoado português chamado
Feliz Lusitânia, que deu origem à cidade de Belém, capital do Pará.
MAURO AKIIN NASSOR/FOTOARENA

Vista de Belém, capital do Pará, a partir do Forte do Presépio de Santa Maria de Belém, fundado por soldados
portugueses em 1616. Fotografia de 2020.

266

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PARA SABER MAIS
O texto a seguir foi escrito para esta coleção pelo historiador Clodomir Freire. Leia-o
com atenção.
RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS

Sede da 10a Região Militar do Exército Brasileiro, antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
Fortaleza (CE), fotografia de 2013.

A polêmica em torno da fundação de Fortaleza


Se você fizer um passeio por Fortaleza acompanhado por um guia turístico, ele
provavelmente o(a) levará até a 10a Região Militar do Exército Brasileiro e a apresen-
tará como o marco inicial da capital cearense. Esse é o local de fundação do Forte de
Schoonenborch, erguido pelos holandeses, em 1649, na margem esquerda da foz do
Riacho do Pajeú. Depois da expulsão dos holandeses, os luso-brasileiros mudaram
o nome do forte para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em torno da qual
teria se formado a cidade de Fortaleza.
GENTIL BARREIRA
Já o Movimento Marco Zero de
Fortaleza, que tem à frente o his-
toriador Adauto Leitão, discorda da
data e do local de fundação da capital
cearense; ele afirma que a origem de
Fortaleza está na Barra do Ceará, onde
Pero Coelho ergueu o Fortim de São
Tiago, em 1604. O movimento luta para
que isso seja reconhecido oficialmente.
FREIRE, Clodomir. A polêmica em torno da
fundação de Fortaleza. Texto escrito
especialmente para esta coleção.

Marco Zero. Fortaleza (CE). Fotografia de 2017.

267

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Os bandeirantes
Em meados do século XVI, enquanto a capitania de Pernambuco progredia, embalada
pela produção de açúcar, a capitania de São Vicente vinha perdendo força. Por falta de
trabalho, parte da população vicentina passou a subir a Serra do Mar e, aos poucos,
formou um povoado: São Paulo do Campo de Piratininga.

São Paulo, a capital bandeirante


O povoado, que mais tarde veio a ser a vila e depois a cidade de São Paulo, teve
um crescimento lento. Em 1660, São Paulo era um povoado pobre; com poucas casas e
pessoas que plantavam milho e mandioca e criavam porcos e galinhas para sobreviver.
Os paulistas acreditavam que a única solução para a pobreza Sertão: no período colonial,
estava no sertão
sertão.. Por isso, decidiram organizar bandeiras,, ou a palavra designava todo o
seja, expedições particulares que partiam geralmente de São interior inexplorado do território.
Atualmente, refere-se a uma
Paulo, com o objetivo de capturar indígenas para serem vendi- área específica do Nordeste.
dos como escravizados e achar ouro e pedras preciosas.
Uma grande bandeira era formada por um ou dois bandeirantes experientes, alguns
jovens de origem portuguesa, vários mestiços e centenas de indígenas escravizados, usados
como guias, carregadores, guerreiros e cozinheiros.
MOZART COUTO

P24-2-HIS81-7-04-LA-RIL-006

Ilustração atual de uma bandeira feita com base em pesquisa histórica.

268

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A caça aos indígenas Missões
jesuíticas: grandes
Desde o início, os paulistas prenderam e escravizaram indígenas. aldeamentos
organizados pelos
A partir de 1620, porém, com o crescimento das plantações de trigo padres jesuítas
em São Paulo, aumentou muito a procura por trabalhadores. Então, com o objetivo
os paulistas organizaram grandes bandeiras de caça aos indígenas. de catequizar os
indígenas.
Para conseguir aprisionar muitas pessoas de uma só vez, atacavam as
missões jesuíticas.
jesuíticas.
As principais bandeiras de caça aos indígenas, chefiadas por
Antônio Raposo Tavares, destruíram, em apenas dez anos (1628-
1638), as missões de Guairá (Paraná), Itatim (Mato Grosso do Sul)
e Tape (Rio Grande do Sul).

A resistência guarani
Acreditava-se que a maioria dos indígenas escravizados pelos
bandeirantes era vendida no Rio de Janeiro e na Bahia para tra-
balhar nas plantações de açúcar. Mas o historiador John Manuel

IN
Monteiro comprovou que a maioria desses indígenas era desti-

ET
QU
SE
DO
nada às fazendas de trigo de São Paulo, que vinham crescendo e

L
VA
OS
exigindo muitos trabalhadores. Além de trabalhar no cultivo de
trigo, eles também produziam e transportavam a farinha de
trigo de São Paulo ao porto de Santos, no litoral paulista.
Os indígenas, bem como os africanos, nunca acei-
taram a escravidão pacificamente, reagindo a ela de
várias formas: suicídio, fugas para o interior e rebe-
liões. Depois da destruição das missões de Guairá,
Itatim e Tape, por exemplo, os indígenas enfrenta-
ram os bandeirantes, inclusive usando armas de
fogo. Nessa luta, os indígenas venceram duas
importantes batalhas: a de Caasapaguaçu,,
em 1638, e a de Mbororé,, em 1641. Após
essas derrotas, o bandeirismo de caça aos
indígenas entrou em declínio.

Dialogando
 lgumas rodovias e praças do Brasil têm nomes indígenas. A rodovia Índio
A Ilustração feita com
Tibiriçá, em São Paulo, por exemplo, é uma delas. Por que será que alguns base em pesquisa
indígenas foram homenageados e outros esquecidos? histórica.

269

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A busca de ouro e diamantes
Desde cedo, os bandeirantes encontraram pequenas quantidades de ouro no leito
dos rios. No século XVII, uma crise econômica levou o rei de Portugal a escrever aos
bandeirantes para que procurassem ouro e pedras preciosas no sertão. Em 1674, Fernão
Dias Pais partiu de São Paulo em direção ao sertão e pensou ter encontrado esmeraldas;
mas eram turmalinas, pedras verdes sem nenhum valor comercial.
A trilha aberta por Fernão Dias, no entanto, serviu para outras bandeiras, que, seguindo
o mesmo caminho, descobriram ouro. Entre elas, cabe destacar as bandeiras de:
• Antônio Rodrigues Arzão, Sabará (Minas Gerais), por volta de 1693;
• Pascoal Moreira Cabral, Cuiabá (Mato Grosso), em 1719;
• Bartolomeu Bueno da Silva, Vila Boa (Goiás), por volta de 1725.

Principais bandeiras (séculos XVII e XVIII)

ALLMAPS
50º O

Equador

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Tratado de Tordesilhas

Vila Bela Salvador


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Capricórnio Manuel Preto e
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A. R. Tavares ares
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São Paulo Fonte:
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SETE POVOS
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Bandeiras de busca DAS MISSÕES


ôn de et al. Atlas
io

de ouro e diamantes A nt Fer


Bandeiras de caça
histórico escolar.
Porto Alegre
aos indígenas 8. ed. Rio de
0 400
Missões Janeiro: FAE,
1991. p. 24.
Com a descoberta do ouro, os paulistas organizaram as monções, isto é, expedições
comerciais que seguiam de canoa pelos rios, para vender alimentos, roupas e ferramentas
nas regiões mineradoras.

O sertanismo de contrato
Nos séculos XVII e XVIII, os bandeirantes foram contratados por fazendeiros e auto-
ridades para combater indígenas ou negros rebelados. Esse tipo de “negócio” entre
bandeirantes e poderosos era chamado de sertanismo de contrato.

270

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Os jesuítas
A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa fundada pelo militar espanhol Inácio
de Loyola, em 1534.
Os padres jesuítas possuíam uma rigorosa disciplina e um elevado nível de instrução,
propondo-se a divulgar o catolicismo na Ásia, na África e na América.
Os jesuítas vieram para o Brasil em 1549, acompanhando o primeiro governador-geral,
Tomé de Sousa, e dedicaram-se ao ensino da religião cristã e à formação de crianças. Para
isso, fundaram colégios nas principais vilas e cidades do litoral brasileiro.
No litoral, por sua vez, as doenças e as guerras contra os colonizadores mataram
milhares de indígenas; e aqueles que não morreram, refugiaram-se no interior. Os jesuítas,
então, também foram para o interior e lá criaram missões. A maior parte dessas missões
localizava-se na Amazônia e na região Sul.

As missões jesuíticas no território colonial (séculos XVI a XVIII)

ALLMAPS
50º O

Equador

s Belém Turiaçu
azona
Rio Am
Gurupi São Luís
Rio Xingu

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Potosí Rio
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e
DOS ANDES

Paraguai

Capricórnio
Trópico de São Paulo Rio de Janeiro
Guairá
Rio

Sete Povos Tape


Paraná

das Missões

Área de apresamento de indígenas


Rio

Missões portuguesas
Missões espanholas
0 390 Grande bandeira de
Antônio Raposo Tavares

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar.


8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.

271

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Nas missões jesuíticas, os indígenas cultivavam cereais, frutas e
GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS

erva-mate; extraíam cacau, baunilha, guaraná e plantas medicinais


da floresta; produziam tecidos, mobílias e esculturas de madeira etc.
Vários desses produtos eram exportados para a Europa, com grande
lucro. E tinham também um tempo reservado ao lazer e ao estudo.
Povoando vários pontos do
interior brasileiro, as missões #
DICA!
jesuíticas contribuíram para a Vídeo sobre a trajetória dos jesuítas
ampliação e a conquista do ter- como missionários e educadores.
ritório da América portuguesa. OS PRIMEIROS tempos: a educação
pelos Jesuítas. 2010. Vídeo (9min53s).
Publicado pelo canal
Univesp. Disponível em:
Escultura em madeira policromada feita por https://youtu.be/ic28PaXiM14.
indígenas dos Sete Povos das Missões. São Acesso em: 13 jun. 2022.
Miguel das Missões (RS). Fotografia de 2019.

GETÚLIO DELPHIM
11 12

10
9
5 1
3
2

6 7

6
8

1. Igreja. 4. Cotiguaçu: 5. Oficinas. 8. Cabildo: local 10. Horta.


2. Cemitério. abrigo para 6. Moradias. de reunião 11. Curral.
3. Colégio. idosos, viúvas 7. Praça: centro de das lideranças. 12. Estrebaria.
e órfãos. convivência. 9. Pomar.

Ilustração de uma missão jesuítica feita com base em pesquisa histórica.

Dialogando
a Dentre os locais numerados, quais eram usados pelos jesuítas para reunir e/ou catequizar os indígenas?
b Em quais locais os habitantes das missões produziam aquilo de que precisavam para viver?

272

AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 272 04/08/22 13:56


A criação de gado
A criação de gado foi a atividade mais impor-
tante para o povoamento dos sertões do Nordeste
e das campinas do Sul, contribuindo muito para a

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS


expansão territorial da América portuguesa.

O gado no Nordeste
Introduzido no Nordeste pelo governador-geral
Vaqueiros vestidos com gibão
Tomé de Sousa, o gado era usado, sobretudo, para de couro em meio a Caatinga,
mover a moenda dos engenhos e transportar cana. na comunidade do Muquén.
Por isso, inicialmente, era criado no próprio engenho. Petrolina (PE), 2021.
No entanto, com o crescimento dos rebanhos, os animais passaram a ser vistos como um
estorvo, pois pisoteavam as plantações e ocupavam terras úteis ao plantio de cana. Então,
senhores de engenho passaram a criar seus rebanhos em áreas vizinhas às suas propriedades.
Em 1701, o rei de Portugal proibiu a criação de gado no litoral, pois também tinha interesse
em lucrar com o açúcar. Tudo isso contribuiu para o avanço do gado pelo sertão.
Observe, no mapa a seguir, os caminhos do gado na época.

Caminhos do gado (séculos XVI a XVIII)


OCEANO
ALLMAPS

ATLÂNTICO
Equador

zonas
Rio Ama Forte São Luís
Forte N. S. da Assunção

Forte dos Reis Magos


a
a íb

rn
Pa Forte Filipeia
Olinda
R io

Recife
i sc o

São Cristóvão
nc
Fra

Salvador
ão

Cuiabá
oS
Ri

OCEANO
A expansão das fazendas de gado
Vila Rica
PACÍFICO São acompanhou o curso dos rios
o Paulo
apricórni Rio de Janeiro
Trópico
de C Sorocaba
São Vicente
nordestinos, com destaque para
Curitiba 0 620 dois deles: o Rio São Francisco,
Porto Alegre chamado “rio dos currais”, ou
Áreas de criação de gado “Velho Chico”, e o Rio Parnaíba,
Sentido de expansão da pecuária que facilitou a ocupação do Piauí,
Limites atuais do Brasil estado colonizado do interior
50º O

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al.


para o litoral.
Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.

O gado tinha a vantagem de locomover-se sozinho pelos caminhos, sobreviver em


regiões áridas, exigir pouca mão de obra e fornecer alimentação nutritiva e couro.

273

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

“Guerra dos Bárbaros” ou “Bárbara Guerra”?


Os povos indígenas do sertão nordestino,
como os cariri, janduí, canindé e icó, reagiram
ao avanço dos criadores de gado sobre as suas
terras. Os conflitos entre esses povos e os criado-
res foram sangrentos e demorados (de 1650
a 1720) e são conhecidos como Guerra dos
Bárbaros.. Veja o que se diz sobre o assunto:
Bárbaros

A [...] historiografia [...] divide a Guerra


dos Bárbaros em dois conflitos: a Guerra do
Recôncavo e a Guerra do Açu. No interior da
Bahia [...] as disputas ocorreram entre 1651
e 1679, gerando os confrontos da serra do
Orobó, Aporá e do Rio São Francisco. A Guerra
IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR
do Açu [...] ocorreu no território compreendido
por Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e
Paraíba, entre 1680 e 1720. A união de vários
grupos muito diferentes demonstra a resis-
tência dos povos indígenas, e sua capacidade
de reunir esforços se comprova pela longa
duração da Guerra [...]. A Guerra dos Bárbaros
resultou no controle luso-brasileiro sobre os
Um indígena tapuia na representação
sertões nordestinos. Como butim butim,, os colonos de um artista contemporâneo.
receberam terras e escravos [...]. Trata-se de
episódio fundamental da história colonial, Bárbaros: nome pejorativo que os colonos
davam aos povos indígenas.
compondo o quadro sangrento da ocupação
Butim: recompensa.
dos sertões nordestinos.
VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 269-270.

Historiadores especializados concluíram que a vitória dos colonos sobre os indígenas


rebelados só foi possível por causa da aliança dos primeiros com indígenas aldeados e da
ajuda dos bandeirantes paulistas contratados pelas autoridades para exterminar indígenas.

a) O que se pode concluir sobre a expansão da pecuária no sertão nordestino?

b) De que forma os historiadores especializados explicam a vitória dos colonos sobre


os indígenas rebelados?

274

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O gado no Sul
Com a destruição das missões jesuíticas de Guairá pelos bandeirantes, o gado das
missões espalhou-se pelas campinas do Sul. E como nessa área o pasto é de excelente
qualidade, em pouco tempo o número de mulas, cavalos, bois e vacas cresceu muito.
Atraídos por esses imensos rebanhos sem dono, moradores de São Paulo, de Desterro
(atual Florianópolis) e de Laguna (SC) passaram a disputá-los. Eles caçavam o gado sel-
vagem, consumiam a carne e exportavam o couro, iniciando, assim, a ocupação do Sul.
O rei de Portugal também se interessou pelo Sul e mandou erguer um povoado na
margem esquerda do Rio da Prata – a Colônia do Sacramento (1680). A imensa área
entre essa colônia, no extremo sul, e Laguna, no litoral catarinense, era considerada “terra
de ninguém”, onde o gado se reproduzia livremente.
Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, a população das minas passou a neces-
sitar de animais de carga, pois os carros de boi não conseguiam circular pelas ladeiras
acidentadas da região. Então, o Sul passou a fornecer para a região mineira mulas, jumen-
tos, bois, vacas e o valioso charque (carne-seca).
Interessada nas riquezas da região Sul, em 1737, a monarquia portuguesa mandou
fundar o Forte do Rio Grande de São Pedro. Três anos depois, para reforçar sua presença
no Sul, enviou para a região quatro mil açorianos e concedeu a Açoriano: habitante
cada família um pequeno lote de terra, armas, instrumentos agríco- da ilha dos Açores,
pertencente a Portugal
las, sementes e animais. Os açorianos ergueram diversas vilas, dentre e localizada no oceano
elas Porto dos Casais,, atual Porto Alegre, que se tornou a capital Atlântico.
do atual Rio Grande do Sul.

THIAGOSANTOS/SHUTTERSTOCK.COM

Monumento aos açorianos. Porto Alegre (RS), fotografia de 2021.

275

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As novas fronteiras
da América portuguesa
Os luso-brasileiros avançaram sobre as terras que, pelo Tratado
de Tordesilhas, pertenciam à Espanha. O governo português, então,
buscou legalizar os territórios conquistados por meio de uma série
de acordos internacionais. Os mais importantes foram:
Sete Povos das • Tratado de Madri (1750), assinado entre Portugal e Espanha.
Missões: território
que abrangia as atuais Estabelecia que a Colônia do Sacramento pertencia à Espanha.
cidades de São Borja, Em troca, Portugal recebia a área de Sete Povos das Missões,
Missões,
São Miguel, São Nicolau, sete grandes aldeamentos organizados pelos jesuítas espanhóis,
Santo Ângelo, São Luís
Gonzaga, São Lourenço onde viviam cerca de 30 mil indígenas da nação guarani. Pelo
e São João, situadas no Tratado de Madri, os jesuítas deveriam abandonar as missões
Rio Grande do Sul.
com seus móveis e bagagens, levando apenas os indígenas. O
território das missões e as casas ficariam com os portugueses.
Os guaranis não aceitaram a ideia de ter de se mudar das terras
em que viviam. A maioria dos jesuítas também não; eles argumen-
tavam que, além de serem livres, os guaranis eram donos do
território e que nem Portugal nem Espanha tinham direito
a ele. Incentivados por jesuítas, os indígenas pegaram em
armas contra soldados portugueses e espanhóis, impe-
dindo que se cumprisse o acordo. Tinha início, assim, a
Guerra Guaranítica (1754-1756).
Em pouco tempo, a guerra se transformou em um
PULSAR IMAGENS

massacre, pois portugueses e espanhóis montaram


um exército numeroso, com armas de pequeno porte
FERNANDO BUENO/

e canhões. Os espanhóis, vindos de Buenos Aires e


Montevidéu, atacaram pelo sul; os luso-brasileiros, envia-
dos do Rio de Janeiro, avançaram pelo Rio Jacuí. Os dois
exércitos se juntaram na fronteira com o Uruguai e venceram
a resistência indígena, ocupando Sete Povos, em maio de 1756.
Com o final da Guerra Guaranítica, as tensões entre Portugal
e Espanha voltaram a se intensificar.

Estátua de Sepé Tiaraju. São Miguel das Missões (RS), fotografia de 2017. Uma
das principais lideranças indígenas na Guerra Guaranítica foi Sepé Tiaraju, que
lutou tenazmente em defesa do direito dos guaranis ao território de Sete Povos
das Missões. Para o movimento indígena do Brasil, Sepé foi uma das principais
lideranças da História do Brasil.

276

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• Tratado de Santo Ildefonso (1777), assinado entre Portugal e Espanha. Os espa-
nhóis obtinham o território de Sete Povos das Missões e da Colônia do Sacramento e
devolviam a Portugal algumas terras que haviam ocupado no atual Rio Grande do Sul.
Considerando-se prejudicados, os portugueses exigiram da Espanha um novo acordo.
• Tratado de Badajós (1801), assinado entre Portugal e Espanha. Os portugueses ficavam com
o território de Sete Povos das Missões e a Espanha garantia para si a Colônia do Sacramento.
THIAGOSANTOS/SHUTTERSTOCK.COM

Ruínas do Sítio
Arqueológico São
Miguel das Missões
(RS). Fotografia de
2018. No ano de 1983,
a Unesco declarou
esse conjunto
arquitetônico como
Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural.

Como se pode ver no mapa a seguir, as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de


Badajós eram bem parecidas com as fixadas pelo Tratado de Madri. Consolidava-se, assim,
a formação histórico-geográfica da América portuguesa.

Principais tratados de limites


ALLMAPS

40º O

São Joaquim
Marabitanas Macapá
Equador
São Gabriel 0º
Rio Am
Barra do azonas
Rio Negro Gurupá Belém

Fortaleza
ós

Tabatinga ra
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Rio Xingu

TRATADO DE TORDESILHAS

M Natal
o
Ri
o
Ri

João Pessoa
OCEANO
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Rio Tocan

Recife
PACÍFICO Príncipe
da Beira
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Rio OCEANO
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co

54º O po Vila Bela Salvador



ATLÂNTICO
ncis
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da Santíssima
Ri

Fra

Trindade
o

São Nicolau

Tratado de Madri
o

Santo Ângelo Cuiabá


Ri

São Luiz (1750)


São João Batista
São Borja São Lourenço
Coimbra Tratado de Santo
São Miguel Ildefonso (1777)
30º S Porto
Jesus Maria José dos
Casais Trópico de Capricórnio Iguatemi Rio de Janeiro Área incorporada ao
Brasil pelo Tratado
uai

São Paulo de Badajós (1801)


Parag

Santa
Tecla Rio Grande
0 240 R Sete Povos das
io

de São Pedro Fonte: ALBUQUERQUE,


Missões
Colônia do OCEANO Fortes Manoel Maurício de
ai
Paraná

gu

Sacramento ATLÂNTICO
u

et al. Atlas histórico


Rio Ur

R io
da P Limites atuais do
Rio

rata São Miguel


0 535
Brasil escolar. 8. ed.
Missões jesuíticas Rio de Janeiro:
FAE, 1991. p. 30.

277

AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 277 04/08/22 13:56


PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Brasil: terra de muitos povos


O Brasil absorveu diversos

FABIO COLOMBINI
povos e culturas ao longo de sua
formação histórica; por isso, é
conhecido por ser um país mul-
tiétnico e pluricultural. Dentre
os povos formadores do Brasil,
estão, em ordem cronológica,
os indígenas, os portugueses e
os africanos.

Menina indígena guarani mbya, 2017.

Em 1500, quando os
AJR_PHOTO/SHUTTERSTOCK.COM

portugueses aqui chegaram,


os indígenas eram muitos e
possuíam culturas e línguas
próprias, que foram e conti-
nuam sendo importantes na
nossa formação histórica. Os
portugueses, por sua vez,
traziam na sua bagagem
uma língua rica, uma forma
de governo (a monarquia) e
a religião católica, que foram
igualmente importantes.

Mulher portuguesa, 2016.

278

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Depois, foi a vez de os afri-

FILIPE FRAZAO/SHUTTERSTOCK.COM
canos entrarem no Brasil. Eles
foram trazidos de diferentes
pontos da África como escravi-
zados, a partir do século XVI, e
também marcaram profunda-
mente nossos modos de agir,
falar, pensar e sentir.

Mulher afro-brasileira, 2016.

No século XIX, entraram no Brasil milhares de europeus, com destaque para os


italianos e os alemães, que também fizeram história entre nós. Aqui, esses imigrantes
enfrentaram duras condições de trabalho, tanto nos cafezais paulistas quanto no Sul
do Brasil. Muitos italianos reagiram aos maus-tratos no campo indo para as cidades em
busca de trabalho na indústria, que então se desenvolvia. Já os alemães eram protes-
tantes e vieram para o Brasil para viver em colônias agrícolas, como São Leopoldo (RS) e
Blumenau (SC). Os alemães tinham pouco contato com a sociedade brasileira e conserva-
ram por mais tempo a cultura e
CULTURA EXCLUSIVE/GETTY IMAGES

as visões de mundo trazidas de


seu país de origem.

Senhor italiano, 2015.

279

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Os japoneses foram considerados distantes

NID GOLOTI/E+/GETTY IMAGES


em tipo físico, religião e língua. Apesar disso, por
se acreditar na importância do trabalho deles
para o progresso do Brasil, foram aceitos no país.
Começaram a chegar em 1908 e, inicialmente,
foram para o interior de São Paulo, onde introduzi-
ram novas técnicas agrícolas e novos plantios.

Mulher japonesa, 2019.

Posteriormente, para fugir do nazismo


nazismo,, entraram no Brasil os Nazismo: doutrina
política criada
judeus e, mais tarde um pouco, em consequência da Segunda Guerra na Alemanha, na
Mundial, vieram os árabes cristãos. Tanto os judeus quanto os árabes década de 1920.
Pressupunha o
preferiam viver em cidades e destacaram-se como mascates, empre-
racismo contra os
sários, profissionais liberais e políticos. judeus e diversos
As trocas culturais entre todos esses povos ajudam a explicar a outros grupos
étnicos.
intensa mestiçagem cultural presente hoje no território brasileiro.
a) O texto afirma que o Brasil é um país multiétnico e pluricultural. Descreva esses dois
termos, usando suas palavras.
b) O
 bserve os alunos de sua escola e responda: todos eles são descendentes de um
mesmo grupo étnico? Se a resposta for não, de quais grupos eles descendem?
b) E você, de que grupo descende: indígena, europeu, africano ou asiático?

ESCUTAR E FALAR
Pesquise, reflita e prepare-se para falar sobre a importância da empatia e do respeito
para conviver em harmonia em um país multiétnico e pluricultural, como é o Brasil.
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

280

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Leia as fontes a seguir com atenção.

FONTE 1

Frotas e caminhos
A enorme extensão do território, os acidentes geográficos naturais, a presença
de indígenas [...], as doenças tropicais desconhecidas e a densa floresta atlântica que
cobria grande parte do litoral brasileiro dificultavam [...] a penetração até o interior.
FURTADO, Júnia Ferreira. Cultura e sociedade no Brasil colônia. São Paulo: Atual, 2000. p. 43.

FONTE 2
América portuguesa: povoamento (século XVI)

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OCEANO R. T
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PACÍFICO Espírito Santo
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São Paulo
apricórnio
P aragu

C São Sebastião do Rio de Janeiro


Trópico de
R.

Santos
Itanhaém São Vicente Mapa elaborado com
Áreas sob influência base em: INSTITUTO
R.

das cidades e vilas


O C E A NO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
Áreas conhecidas e ai
AT L Â NT I CO E ESTATÍSTICA. Brasil:
gu

relativamente povoadas
ru

500 anos de povoamento.


R. U

Limite atual da 0 460


fronteira brasileira Rio de Janeiro: IBGE,
50° O
2007. p. 22.

a) Segundo a autora do texto da fonte 1, quais fatores dificultaram a penetração do interior


pelos portugueses? Copie em seu caderno as alternativas corretas.
I. Pequena extensão do território colonial. III. Floresta que cobria o litoral.
II. Resistência indígena. IV. Clima temperado.
b) A fonte 2 reforça ou nega a fonte 1? Justifique.

281

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2 Leia as afirmativas a seguir.
I. Durante a União Ibérica, a pirataria no litoral brasileiro cresceu.
II. Os inimigos da Espanha passaram a atacar as colônias de Portugal.

Qual dos termos a seguir liga corretamente as afirmativas acima?


a) Porém.
b) Por isso.
c) Porque.
d) Então.

3 Sobre a ação de piratas e corsários no litoral brasileiro:


a) Como o governo luso-espanhol reagiu?
b) Copie o quadro a seguir em seu caderno e indique, em uma terceira coluna, os nomes das
cidades que se formaram em torno dos fortes.

Nome do forte Data

Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves 1585

Forte dos Reis Magos 1598

Forte de São Luís 1612

Forte de Schoonenborch 1649

Forte do Presépio de Santa Maria de Belém 1616

Forte de São José do Rio Negro 1669

c) Explique a importância desses fortes para a formação histórico‑geográfica do território da


América portuguesa.

4 Faça um quadro em seu caderno e preencha-o com os significados de:


a) bandeiras;
b) sertanismo de contrato;
c) missões.

5 Durante muito tempo, os indígenas foram mostrados como seres passivos, que se
renderam aos ataques dos bandeirantes sem reagir.
O que você estudou neste capítulo confirma ou nega essa visão sobre os indígenas?
Justifique em seu caderno.

282

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6 O texto a seguir foi escrito pela historiadora Maria Leônia Chaves de Resende. Leia-o
com atenção e, depois, responda às questões.
Sertão mineiro loteado à força
As entradas para os sertões de Minas foram movidas por um tripé de interesses: o
ouro e as pedras preciosas e, por extensão, a terra (para o plantio de roças e controle
sobre passagens e rotas comerciais), e os indígenas (que se prestavam como mão de
obra para a lavra mineral, agrícola ou como trabalhadores domésticos). Com esse
objetivo, inúmeras expedições militares foram organizadas para avançarem pelo
interior [...].
Não demorou para que, distorcendo

CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS


a realidade, os indígenas fossem tachados
como “invasores”, o que justificou mais vio-
lência contra as populações indígenas. De
fato, agiam em defesa própria, respondendo
à ocupação de suas terras. É verdade que os
povos nativos – coroados, puris, botocudos,
kamakãs, pataxós, panhames, maxakalis,
entre outros – encontraram-se, ao final, em
minoria de armas e homens, atacados por
doenças e reduzidos a uma pequena área
geográfica.
RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Invasões bárbaras.
Indígena da etnia pataxó. Porto Seguro Revista de História da Biblioteca Nacional,
(BA), 2019. Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, jul. 2008. p. 37.

a) Segundo a autora, o que movia as expedições militares aos sertões de Minas?


b) Como os grupos indígenas foram vistos ao longo da história do Brasil?
c) De que formas essas expedições aos sertões de Minas afetaram os indígenas que lá viviam?

7 Em grupo. Pesquisem sobre situação atual de um povo indígena do Brasil e, em


seguida, apresentem o resultado da pesquisa à classe. Procurem saber:
• quantos são;
• onde estão;
• seus meios de sobrevivência;
• seus principais problemas e o que os indígenas têm feito para enfrentá-los.

8 Observe o mapa da página 271 e responda.


a) Pelo título, ficamos sabendo que o tema do mapa são as missões jesuíticas. O que eram essas
missões?
b) Em quais regiões do território colonial encontrava-se o maior número de missões jesuíticas?
c) Qual era o objetivo dos jesuítas na América portuguesa?

283

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9 O trecho a seguir diz respeito à sociedade que se formou em torno da pecuária no
Nordeste e foi escrito por um historiador cearense. Leia-o com atenção e, depois,
responda em seu caderno ao que se pede.
De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde
a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o
mocó [bolsa de tiracolo] ou alforje [saco] para levar comida, a maca para guardar
roupa, a mochila para dar milho

RITA BARRETO/FOTOARENA
ao cavalo, a peia [correia] para
prendê-lo em viagem, as bainhas
de faca, [...] a roupa de entrar no
mato, os banguês [equipamentos
de transporte] para o curtume ou
para apurar o sal; para os açudes,
o material de aterro era levado
em couro puxado por juntas de
bois que calcavam a terra com
seu peso [...].
ABREU, João Capistrano de. Capítulos de
História Colonial: (1500-1800). Brasília:
Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.
(Biblioteca Básica Brasileira, p. 135). Vaqueiro na caatinga. Euclides da Cunha (BA), 2019.
a) Liste, com base no texto, as utilidades que o couro tinha para a sociedade que se formou em
torno da pecuária no Nordeste.
b) O que se pode concluir pela leitura do texto?

10 Leia o texto a seguir com atenção.


A criação de gado, uma das principais atividades econômicas, ligava-se necessaria-
mente ao mercado interno, não sendo os animais destinados somente à alimentação,
mas também ao trabalho. Engenhos eram movidos, na maioria dos casos, à força
animal; o transporte, quase sempre terrestre, mesmo para o escoamento de artigos
de agroexportação, tinha bois e mulas como força motriz; o trabalho nas unidades
agrárias tornava imprescindível a utilização de animais de tração.
Em suma, a pecuária era um setor básico para o funcionamento da economia
como um todo. Dessa forma, veem-se amplas áreas especializadas nessa atividade,
como o sertão do Rio São Francisco até os rios Tocantins e Araguaia, amplas áreas
do Piauí, do Maranhão, o sertão da Bahia, os campos de Curitiba, o litoral do norte
fluminense, a capitania da Paraíba do Sul e a Comarca do Rio das Mortes (atual sul
de Minas Gerais).
FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; FARIA, Sheila de Castro.
A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX).
São Paulo: Atual, 1988. (Discutindo a história do Brasil, p. 58-59).

284

AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 284 04/08/22 13:56


Com base na leitura do texto, copie em seu caderno as alternativas corretas.
a) A criação de gado era uma das principais atividades econômicas do Brasil colonial.
b) O gado era usado para mover as moendas dos engenhos, mas não para transporte de mercadorias.
c) A criação de gado é considerada um setor decisivo para o funcionamento da economia colonial.
d) A pecuária era praticada em várias partes do Brasil colonial, exceto no Piauí, no Maranhão e
no sertão da Bahia.

11 Responda o que se pede.


a) Monte um quadro, em seu caderno, sobre os tratados a seguir e preencha-o com: ano de
assinatura; quem assinou; o que esse tratado definia.
I. Tratado de Madri.
II. Tratado de Santo Ildefonso.
III. Tratado de Badajós.
b) Qual foi o primeiro tratado a reconhecer as novas fronteiras da América Portuguesa?

II. Leitura e escrita em História


Vozes do passado
O medo sempre esteve presente na vida dos bandeirantes, apesar da habilidade que
tinham no mato, a qual, em boa parte, era devida ao que aprenderam com os indígenas.
Veja o que disse, numa carta de 1785, um integrante de uma expedição fluvial, que
seguiu de São Paulo para o Mato Grosso.
O acordar bem escuro para embarcar já não me dava abalo, nem o dormir dentro
do mato: só quando chovia, trovejava, e havia grandes tempestades à noite é que
me afligia bastante, suposto que estava a enxuto. Tinha muito medo de onças e de
qualquer cobra que subisse à minha cama, e por isso sempre se armava entremeio das
outras, o chão bem varrido no modo possível, e com uma espingarda e uma pistola à
cabeceira. Tive várias vezes algumas ameaças de moléstia, que não porfiava adiante;
e era do que tinha mais medo.
SOUZA, Laura de Mello e. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas
fortificações. In: NOVAES, Fernando A.; SOUZA, Laura de Mello (org.). História da vida privada no Brasil:
cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
(História da vida privada no Brasil, v. 1, p. 56).
a) Quem é o autor do texto?
b) O que o autor do texto mais temia?
I. Acordar cedo. IV. Ser mordido por uma cobra.
II. Dormir no mato.
III. Ser atacado por uma onça. V. Contrair uma doença.
c) Reescreva o texto com suas próprias palavras.
d) Pesquise: para ir de São Paulo ao Mato Grosso, quais os principais rios usados pelos bandei-
rantes?

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#JOVENS NA cumental
HISTÓRIA A nális
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PASSO 1 Ler
Leia o texto com atenção.

Uma voz nas comunidades


Rene Silva, morador do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, tinha 11 anos em
2005, quando lançou o “Voz “Voz da Comunidade”.
Comunidade”. O jornal era feito numa folha de papel ofício
dobrada. Cem exemplares xerocados foram distribuídos à época no próprio Adeus, tendo
como reportagem principal o esgoto a céu aberto numa rua da favela. Mas o periódico
“Voz das Comunidades”.
mensal foi crescendo. [...]. E ganhou nome plural: “Voz Comunidades”. [...] [O jornal,
neste ano,] completará 16 anos, terá formato standard, 12 páginas e 15 mil exemplares
[...], que serão entregues no Alemão, no Complexo da Penha e no Morro do Vidigal. [...]
— O mais gratificante é que conseguimos tornar o “Voz” uma referência dentro
das comunidades. As pessoas têm um canal, um espaço para falar e pedir, a fim de
que possamos cobrar do poder público. Já reivindicamos várias questões em relação,
por exemplo, à falta de iluminação pública, a esgoto a céu aberto, e a problemas de
escassez e qualidade da água. Se acontece alguma coisa, positiva ou negativa, imedia-
tamente os moradores sabem a quem recorrer — diz Rene.
O jornalista [...] conta que a decisão de criar um jornal comunitário nasceu da
leitura de publicações, quando ainda era aluno [na escola]:
— Abria os jornais e nunca via a favela sendo

REGINALDO PIMENTA/FUTURA PRESS


representada de maneira positiva. Sempre via
notícias ruins sobre mortes, tiroteios, tráfico. As
comunidades têm muito mais coisas.
[...]
Pelo seu trabalho, o jovem editor recebeu
prêmios nacionais e internacionais. [...]
SCHMIDT, Selma. Jornal ‘Voz da comunidade’ completa 16 anos
com tiragem 150 vezes maior: ‘Conseguimos virar referência’,
diz Rene Silva. O Globo, Rio de Janeiro, 13 ago. 2021.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/jornal-voz-da-
comunidade-completa-16-anos-com-tiragem-150-vezes-maior-
conseguimos-virar-referencia-diz-rene-silva-1-25153380.
Acesso em: 27 maio 2022.

Rene Silva no Complexo do Alemão,


no Rio de Janeiro (RJ), 2013.

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PASSO 2 Questionar
Depois de ler o texto, responda:
a) Qual foi o problema identificado por Rene Silva?
b) Qual foi a solução encontrada por ele para solucionar o problema?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Analisem artigos e reportagens produzidos pelos jovens jornalistas do Jornal A Voz das
Comunidades. Cada grupo deverá escolher uma reportagem diferente.
d) Façam um levantamento sobre as informações a seguir.
• Quem escreveu a reportagem: analisem o perfil do repórter (idade, gênero, etnia, escolaridade, entre
outras).
• Qual é o tema da reportagem.
• A que público a reportagem se destina.
• Quais palavras, expressões e imagens sintetizam a ideia central da reportagem.
• Se, na opinião de vocês, o repórter conseguiu passar uma mensagem clara para o leitor ou se há
barreiras no discurso que impedem a compreensão.
• Quais são as impressões do grupo em relação ao discurso e qual é a mensagem recebida.
e) Em seguida, organizem as respostas e elaborem um relatório.

PASSO 4 Apresentar e publicar

VOZ DAS COMUNIDADES


f) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes
sociais da escola e marquem a postagem com
#jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
g) Realizei as tarefas a que me propus?
h) Cumpri os prazos determinados?
i) Expressei minhas ideias com objetividade?
j) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
k) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
l) A
 ceitei críticas aos meus argumentos e
comportamento?

Fac-símile da capa do jornal


Voz das Comunidades,
de agosto de 2021.

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Esse livro apresenta, de forma didática, a influência dos africanos
Bibliografia e seus descendentes na construção da sociedade brasileira.
ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial:
(1500-1800). Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O Brasil holandês. São Paulo:
(Biblioteca Básica Brasileira). Penguin Classics, 2010.
Um dos primeiros livros da historiografia brasileira que investiga a Livro que reúne trechos dos mais importantes documentos sobre
formação do Brasil e seu processo de ocupação. a história do governo holandês no Nordeste brasileiro.

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma his- LIMA, Cinthia Almeida. Breves considerações sobre o humanismo
tória do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-O- de Giovanni Pico della Mirandola e Blaise Pascal. Revista Eletrô-
rientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. nica Espaço Teológico, São Paulo, v. 11, n. 20, p. 176-183, jul./
dez. 2017.
Livro com linguagem acessível sobre a História e Cultura Afro‑bra-
sileiras, contadas pela perspectiva de historiadores negros. O artigo aborda o humanismo nas obras de dois filósofos renas-
centistas.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pú-
blica de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. MICELI, Paulo. História moderna. São Paulo: Contexto, 2013.
Um dos mais conceituados especialistas em Idade Moderna expli- O historiador narra, com base em mapas e documentos históricos,
ca o papel da propaganda na construção da imagem de um rei na os acontecimentos mais relevantes que caracterizam o período
França do século XVIII. Moderno.

CAMPOS, Raymundo Carlos Bandeira. Grandezas do Brasil no PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Mé-
tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996. dia: textos e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.
A partir dos discursos do jesuíta André Antônio Antonil, o autor Antologia dos principais textos e documentos medievais, abrange
apresenta o papel da sociedade açucareira no Brasil dos séculos os aspectos socioculturais, econômicos e políticos do medievo.
XVII e XVIII.
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da Améri-
DAVIDOFF, Carlos. Bandeirantismo: verso e reverso. São Paulo: ca Latina. São Paulo: Contexto, 2014.
Brasiliense, 1982. Livro que apresenta os principais personagens e debates relacio-
O autor analisa como a historiografia oficial construiu a imagem nados à complexidade dos processos históricos da América Latina.
dos bandeirantes como heróis e ocultou as práticas ligadas à es-
cravização indígena. RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das especiarias: o império
da pimenta e do açúcar. São Paulo: Contexto, 2006.
FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portugue- O historiador mostra, por meio de manuscritos raros, como Por-
sa. São Paulo: Atual, 2004. tugal construiu seu império colonial com o lucrativo comércio de
O livro aborda os vários modelos de constituição familiar na Amé- especiarias.
rica portuguesa.
REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um
FRAGOSO, João Luís Ribeiro; GOUVÊA, Maria de Fátima. O Brasil fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das
colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. v. 1. Letras, 1996.
Artigos de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimen- Obra que apresenta um panorama complexo da escravidão e da
to, que apresentam o estado da arte do Brasil colonial. resistência negra em busca de liberdade.

FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; RAMINELLI, Ronald. Andanças RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio
pelo Brasil colonial: catálogo comentado (1503-1808). São Pau- de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
lo: Ed. Unesp, 2009. Obra que analisa mitos consolidados sobre o processo de conquis-
O catálogo reúne narrativas de viagens que mencionam o Brasil. ta da América pela Espanha.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global, SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos.
2003. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
Uma das mais importantes obras historiográficas que discute a Nesse livro, o autor explica de forma simples como a cultura afri-
formação da sociedade brasileira pela mistura de culturas e raças. cana está ligada à trajetória dos brasileiros.

GRUZINSKI, Serge. A passagem do século (1480-1520): as ori- SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no século XVIII: poder político
gens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. e atividades econômicas. São Paulo: Alameda, 2012.
Estudo que faz um panorama sobre a expansão marítima euro- A autora aprofunda os diferentes aspectos da urbanização da
peia e o intercâmbio entre povos distantes na virada do século XV Bahia no contexto da estrutura colonial portuguesa.
para o XVI.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo:
NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia R. Os povos da Ática, 2006.
América: dos primeiros habitantes às primeiras civilizações urba- Importante obra que apresenta um panorama do continente afri-
nas. São Paulo: Atual, 1996. (História geral em documentos). cano, desde sua formação até a contemporaneidade.
Obra sobre os povos que habitavam a América antes da chegada
dos europeus. VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-
1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
MATTOS, Regiane A. História e cultura afro-brasileira. São Livro de referência com verbetes essenciais para o estudo dos três
Paulo: Contexto, 2007. primeiros séculos da história do Brasil.

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ISBN 978-85-96-03551-4

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