Você está na página 1de 356

7

7
Alfredo BOULOS Júnior

História
História

ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS


COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA

MANUAL DO PROFESSOR
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA

D1_PNLD24_2111_CAPA_Hist_Boulos_V7_MP.indd 3 15/08/22 14:24


História
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA
7
MANUAL DO PROFESSOR

ALFREDO BOULOS JÚNIOR


Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 1 01/09/22 22:06


História Sociedade & Cidadania
História – 7o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Bárbara Berges, Beatriz Montagnolli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa Andréa Dellamagna
Foto de capa Mekdet/Getty Images
Arte e produção Vinicius Fernandes (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambila
Iconografia Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
   História sociedade & cidadania : 7o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.
  
   Componente curricular: História.
   ISBN 978-85-96-03551-4 (aluno)
   ISBN 978-85-96-03552-1 (professor)

   1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115042 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Parque Nacional do Iguaçu: Patrimônio Natural Mundial.
Paraná, 04/2019. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 deste livro foram produzidas com fibras
de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
EDITORA FTD.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD
CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 CNPJ 61.186.490/0016-33
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Avenida Antonio Bardella, 300
www.ftd.com.br Guarulhos-SP – CEP 07220-020
central.relacionamento@ftd.com.br Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 2 01/09/22 22:06


Em nossos dias, já ninguém duvida de que a história do mundo deve ser reescrita
de tempos em tempos. Esta necessidade não decorre, contudo, da descoberta de
numerosos fatos até então desconhecidos, mas do nascimento de opiniões novas,
do fato de que o companheiro do tempo que corre para a foz chega a pontos de
vista de onde pode deitar um olhar novo sobre o passado...

GOETHE. Geschichte der Farbenlehre. In: SCHAFF, Adam. História e verdade.


São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 267.

III

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 3 01/09/22 22:06


SUMÁRIO
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA.............................................................................................V
1. METODOLOGIA DA HISTÓRIA.......................................................................................................................V
1.1 VISÃO DE ÁREA........................................................................................................................................V
1.2 CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS........................................................................................................VI
1.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..................................................................................................................IX
1.4 OBJETIVOS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA..........................................................................................X
1.5 CONCEITOS-CHAVE DA ÁREA DE HISTÓRIA.......................................................................................XI
2. METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM........................................................................................XIV
2.1 O CONHECIMENTO HISTÓRICO ESCOLAR.........................................................................................XIV
2.2 A NOVA CONCEPÇÃO DE DOCUMENTO..............................................................................................XIV
2.3 O TRABALHO COM IMAGENS FIXAS...................................................................................................XVI
2.4 O TRABALHO COM IMAGENS EM MOVIMENTO (O CINEMA NA SALA DE AULA)..............................XX
2.5 O PISA E A COMPETÊNCIA LEITORA...................................................................................................XXI
2.6 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES/ESCRITORES.....................XXV
2.7 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA...........................................XXV
2.8 TEXTOS DE APOIO........................................................................................................................... XXVIII
3. A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O CONTEXTO ATUAL.................................................. XXXII
3.1 A LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE À BNCC................................................................................... XXXII
3.2 A BNCC E A BUSCA POR EQUIDADE............................................................................................. XXXIII
3.3 BNCC E CURRÍCULOS..................................................................................................................... XXXIII
3.4 BNCC E A ELABORAÇÃO DE CURRÍCULOS.................................................................................. XXXIV
3.5 O PODER TRANSFORMADOR DA EDUCAÇÃO............................................................................... XXXIV
3.6 A NOSSA COLEÇÃO E A BNCC........................................................................................................ XXXIV
3.7 AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS PROPOSTAS PELA BNCC.......................................................... XXXV
3.8 TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS E COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS........... XXXVI
3.9 O TRABALHO DOCENTE E A CULTURA DIGITAL.........................................................................XXXVIII
4. AVALIAÇÃO..................................................................................................................................................XLI
4.1 AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O SAEB E AS CIÊNCIAS HUMANAS..........................................XLIII
4.2 ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO..................................................................................................XLIV
5. PROJETOS DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR...................................................................................XLV
5.1 O QUE É UM PROJETO DE TRABALHO?............................................................................................XLV
5.2 PROJETO DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR...............................................................................XLVII
5.3 PARTE 1 - ATIVIDADES DESTINADAS A TODOS OS ANOS.............................................................XLIX
5.4 PARTE 2 - ATIVIDADES ESPECÍFICAS................................................................................................LII
6. AS SEÇÕES DO LIVRO................................................................................................................................. LV
6.1 PÁGINA DE ABERTURA DE CAPÍTULO................................................................................................ LV
6.2 CORPO DO CAPÍTULO........................................................................................................................... LV
6.3 BOXES....................................................................................................................................................LVI
6.4 ATIVIDADES...........................................................................................................................................LVI
6.5 PARTE ESPECÍFICA E FORMATO LATERAL......................................................................................LVIII
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS..................................................................................LIX
8. SUBSÍDIOS PARA PLANEJAMENTO.........................................................................................................LXI
ORIENTAÇÕES PARA ESTE VOLUME......................................................................................................1

IV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 4 01/09/22 22:06


1 METODOLOGIA
DA HISTÓRIA

1.1 VISÃO DE ÁREA


Vivemos hoje imersos em um presente contínuo (presentismo), que tende a tornar invisíveis as relações
entre a nossa experiência presente e o passado público. Vivemos também em um universo mediado por ima-
gens, no qual uma avalanche de personagens, fatos e processos chega até nós por meio das representações
que deles são produzidas. Por isso, e cada vez mais, “substituímos nossas experiências pelas representações
dessas experiências” (SALIBA, 2017, p. 117-118).
Vivendo imersos nesse mundo virtual e apreendendo o que “aconteceu” por meio dos telejornais, com
frases sintéticas e imagens fragmentadas, os jovens são levados a identificar aquilo que estão vendo como
a “verdade” e a explicar o presente com base nele próprio. Ocorre que o complemento desse presentismo
avassalador é a destruição do passado, o que pode afetar muito, e negativamente, as novas gerações. Veja o
que diz sobre o assunto o historiador britânico Eric Hobsbawm:

A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vincu-


lam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos
mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de
hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgâni-
ca com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo
ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca
[...]. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas,
memorialistas e compiladores. [...].
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 13.

Se a destruição do passado pode resultar em uma tragédia para as novas gerações, a alienação dela de-
corrente pode facilitar a emergência e a imposição de ditaduras brutais, como as que vitoriaram nas décadas
de 1930 e 1940 em países da Europa Ocidental e Oriental. Ademais, a consciência de que o passado se per-
petua no presente é fundamental para o nosso sentido de identidade. Saber o que fomos ajuda-nos a com-
preender o que somos; o diálogo com outros tempos aumenta a nossa compreensão do tempo presente.
Como observou um estudioso:

[...] O passado nos cerca e nos preenche; cada cenário, cada declaração, cada
ação conserva um conteúdo residual de tempos pretéritos. Toda consciência atual
se funda em percepções e atitudes do passado; reconhecemos uma pessoa, uma
árvore, um café da manhã, uma tarefa, porque já os vimos ou já os experimen-
tamos. (LOWENTHAL, 1998).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental.
Brasília: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 160.
(Explorando o ensino, v. 21).

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 5 01/09/22 22:06


Quanto ao modo de abordar o passado, consideramos importante evitar o anacronismo1 e, seguindo a
recomendação de Georges Duby, lembrar que, para conhecer uma determinada sociedade do passado, é im-
portante nos colocarmos na pele das pessoas que viveram naqueles tempos.
Essa postura, sugerida por ele na abordagem do medievo ocidental, é, a nosso ver, uma postura útil no
trabalho com qualquer sociedade humana, independentemente de tempo ou lugar.
Como lembra Marc Bloch no seu clássico Apologia da História ou o ofício do historiador (2001),
além de prejudicar o conhecimento do presente, a ignorância do passado compromete também a nossa
ação no presente. Assim sendo, não é demais lembrar que a História tem um duplo compromisso: com o
passado e com o presente, bem como com as relações entre um e outro. Dissertando sobre esse duplo com-
promisso da História, Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky observaram:

Compromisso com o presente não significa, contudo, presentismo vulgar, ou


seja, tentar encontrar no passado justificativas para atitudes, valores e ideolo-
gias praticados no presente (Hitler queria provar pelo passado a existência de
uma pretensa raça ariana superior às demais). Significa tomar como referência
questões sociais e culturais, assim como problemáticas humanas que fazem par-
te de nossa vida, temas como desigualdades sociais, raciais, sexuais, diferenças
culturais, problemas materiais e inquietações relacionadas a como interpretar
o mundo, lidar com a morte, organizar a sociedade, estabelecer limites sociais,
mudar esses limites, contestar a ordem, consolidar instituições, preservar tradi-
ções, realizar rupturas...
Compromisso com o passado não significa estudar o passado pelo passado,
apaixonar-se pelo objeto de pesquisa por ser a nossa pesquisa, sem pensar no que
a humanidade pode ser beneficiada com isso. Compromisso com o passado é pes-
quisar com seriedade, basear-se nos fatos históricos, não distorcer o acontecido,
como se esse fosse uma massa amorfa à disposição da fantasia de seu manipula-
dor. Sem o respeito ao acontecido a História vira ficção. Interpretar não pode ser
confundido com inventar. E isso vale tanto para fatos como para processos.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar: por uma História prazerosa e consequente.
In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 23-24.

Vale dizer ainda que o historiador se volta para o passado a partir de questões colocadas pelo presente.
Depois de estabelecer um determinado recorte, ele transforma o tema em problema e seleciona o conjunto
de variados documentos históricos (materiais e imateriais). A partir daí, trata-o com base em instrumentos
e métodos próprios da História. Por isso se diz que toda narrativa histórica está relacionada a seu tempo e
também é objeto da História.

1.2 CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS


Se por um lado “toda a história é filha do seu tempo”; por outro, é preciso lembrar que ela é o fruto
de várias tradições de pensamento que se materializam em diferentes correntes historiográficas. No texto a
seguir, a professora Sandra Regina Ferreira de Oliveira apresenta, em linhas gerais e de modo resumido, os
pressupostos de três importantes escolas historiográficas, que podem ser úteis à nossa reflexão e docência.
A familiaridade com essas correntes pode, por exemplo, ajudar a reconhecer a opção teórica do autor do
material didático que estamos analisando e o lugar de onde ele fala.
1
Anacronismo: “consiste em atribuir aos agentes históricos do passado razões ou sentimentos gerados no presente, interpretando-se, assim, a história em função de critérios
inadequados, como se os atuais fossem válidos para todas as épocas.” (BRASIL. Ministério da Educação. PNLD 2018: história – guia de livros didáticos – Ensino Médio.
Brasília, DF: MEC; SEB, 2017. p. 99).

VI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 6 01/09/22 22:06


[...] São três as correntes mais discutidas: Positivismo, Materialismo Históri-
co e Nova História.
Positivismo é o nome de uma corrente filosófica originada no século XVIII,
no contexto do processo de industrialização da sociedade europeia. Para os pen-
sadores positivistas cabe à história fazer um levantamento descritivo dos fatos.
“A história por eles escrita é uma sucessão de acontecimentos isolados retratan-
do, sobretudo, os feitos políticos de grandes heróis, os problemas dinásticos, as
batalhas, os tratados diplomáticos etc.” (BORGES, 1987, p. 32-33). Neste sentido,
os documentos oficiais são as principais fontes de investigação, assim como as
ações do Estado são as eleitas para constituírem a narrativa histórica. A concep-
ção de tempo nesta forma de abordagem histórica é caracterizada pela lineari-
dade (sucessão) dos fatos porque são os fatos o objeto de estudo da história.
Com a efetivação do capitalismo na sociedade europeia do século XIX prolife-
ram-se as críticas à sociedade burguesa e outra teoria explicativa para a realidade
foi elaborada buscando a superação da mesma – o materialismo dialético. Karl
Marx e Friedrich Engels podem ser destacados como os principais pensadores des-
ta corrente filosófica para a qual a necessidade de sobrevivência do [ser humano]
impele-o a transformar a natureza e, ao transformar a natureza, transforma a si
mesmo numa relação dialética. Essa ação humana não se dá de forma isolada,
mas em conjunto. Portanto, o “ponto de partida do conhecimento da realidade são
as relações que os homens mantêm com a natureza e os outros homens” (BORGES,
1987, p. 35), analisadas a partir das condições materiais de existência.
A investigação histórica realizada a partir dos pressupostos do materialismo
dialético considera que a realidade é dinâmica, dialética e repleta de contradi-
ções, gerada pela luta entre as diferentes classes sociais. Portanto, a concepção
de tempo que podemos identificar nesta corrente de pensamento busca explicar
o passado, não somente a partir do tempo do acontecimento, mas da contradi-
ção que pode ser encontrada em todo fato e, para compreender a contradição,
faz necessário deslocar-se temporalmente, intentando como determinados fatos
se constituíram historicamente e por que se apresentam de tal forma aos ho-
mens e mulheres no presente.
Ainda que com o materialismo histórico tenha se constituído uma forma
diferente de investigação sobre o passado e, consequentemente, provocado mu-
danças na narrativa histórica, foi com a Nova História, mais precisamente com a
Escola dos Annales, em 1929, que a concepção de tempo na historiografia sofre
significativas alterações.
A alteração na concepção de tempo deve ser compreendida a partir da con-
cepção de História, ou melhor, de como se constrói a narrativa histórica para
os pensadores da Nova História. Para estes, todos os acontecimentos humanos
poderiam ser entendidos como temáticas para a construção da História e não
somente a narrativa dos feitos de alguns homens relacionados à política de seus
países. Da mesma forma, toda produção humana seria passível de ser entendida
enquanto fonte para a pesquisa do historiador, e não somente os documentos
oficiais.
Esta forma de se entender a História rompeu com a ideia do tempo do acon-
tecimento, com a concepção de que a humanidade caminha de forma irreversí-
vel para algum ponto pré-estabelecido e também com a noção de um progresso
linear e contínuo. O papel do historiador, nesta perspectiva, é considerar o tempo
da duração nas análises dos acontecimentos. Para alcançar tal intento não basta
estudar os fatos a partir de sua organização cronológica, mas considerar tam-
bém os movimentos de continuidade e mudança.

VII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 7 01/09/22 22:06


Fernand Braudel é quem anuncia a importância de considerarmos as dife-
rentes temporalidades na investigação histórica. Para ele, há o tempo do acon-
tecimento (breve duração), da conjuntura (média duração) e da estrutura (longa
duração). Bittencourt (2008, p. 206), explicando essas diferentes concepções, afir-
ma que:
“[...] o acontecimento (fato de breve duração) corresponde a um momen-
to preciso: um nascimento, uma morte, a assinatura de um acordo, uma greve
etc.; a estrutura (fato de longa duração), cujos marcos cronológicos escapam à
percepção dos contemporâneos: a escravidão antiga ou moderna, o cristianismo
ocidental, a proibição do incesto etc.; a conjuntura (fato de duração média) que
resulta de flutuações mais ou menos regulares no interior de uma estrutura: a
Revolução Industrial inglesa, a ditadura militar brasileira, a Guerra Fria etc.”
A concepção de tempo apresentada pelos historiadores da Escola dos Anna-
les nos indica que deve ser considerada, na construção da História, a simulta-
neidade das durações, assim como os movimentos de permanências e mudanças
que ocorrem em uma sociedade ao longo de um determinado período. Para reali-
zar esta abordagem, não é possível considerar somente a cronologia como ponto
de partida para a compreensão do tempo histórico.
Os conteúdos e as metodologias apresentados nos livros didáticos relacionam-
-se diretamente com estas concepções historiográficas apresentadas aqui de forma
sucinta. Nos manuais destinados aos professores, os autores explicitam suas op-
ções teóricas, o que merece ser destacado e contribui na melhoria da qualidade das
obras, visto que é ponto pacífico entre os historiadores que todos os sujeitos falam
de determinados lugares sociais e que são influenciados pelas características destes
lugares. Estas informações são valorizadas nas resenhas que compõem o Guia do
PNLD porque é importante que o professor identifique de que “lugar” o autor fala.
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira. Os tempos que a História tem... In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: Ensino Fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010.
(Explorando o Ensino, v. 21, p. 42-45).

Nesta coleção, pautamo-nos por alguns referenciais teóricos da História Nova, daí entendermos a História
como um conhecimento em permanente construção. Por isso tomamos o documento como ponto de partida,
e não de chegada, na construção do conhecimento e, além disso, incorporamos a ação e a fala das mulheres,
dos negros, dos indígenas, dos operários e de outros sujeitos históricos antes relegados ao esquecimento.
Ao longo da obra, utilizamos também a história social inglesa, recorrendo mais de uma vez aos trabalhos
de Christopher Hill, E. P. Thompson e Hobsbawm para compreender episódios decisivos na formação do
mundo atual, como a Revolução Inglesa, a Revolução Industrial, a Revolução Francesa, o imperialismo, o mo-
vimento operário, entre outros.
Por fim, é preciso dizer que demos maior ênfase ao conhecimento da história política e do passado públi-
co, sem prejuízo para momentos de ênfase na história cultural, por considerarmos que neste nível de ensino
isso é decisivo para o desenvolvimento de uma consciência crítica por parte do aluno. Com essa consciência,
ele pode orientar sua prática como cidadão, exercitando a construção de saberes balizados pela:

[...] capacidade de comunicação e diálogo, instrumento necessário para o


respeito à pluralidade cultural, social e política, bem como para o enfrentamen-
to de circunstâncias marcadas pela tensão e pelo conflito. A lógica da palavra, da
argumentação, é aquela que permite ao sujeito enfrentar os problemas e propor
soluções com vistas à superação das contradições políticas, econômicas e sociais
do mundo em que vivemos.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC, 2018. p. 398.

VIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 8 01/09/22 22:06


Em um artigo importante sobre o assunto, a historiadora Maria de Lourdes Mônaco Janotti chama a aten-
ção para o perigo de se valorizar o privado em detrimento do público:

A História não é terreno do “interessante” e do mundo privado enquanto


tal. Este cresce em relação direta à redução das atividades da vida pública e
à consciência da cidadania, como tão bem explicou Hannah Arendt, podendo
levar, como o fez nos anos [19]20 e [19]30, à privatização do próprio Estado pe-
las ditaduras nazifascistas. Tal experiência deu-se no Brasil num passado muito
próximo, durante a ditadura getulista e a ditadura militar, por mais de 45 anos,
neste século.
Mesmo considerando [...] fundamentais os estudos sobre a vida privada no
passado e no presente [...] é fundamental rever determinada prática da investiga-
ção e do ensino da História que, inspirada em uma estreita leitura da Nova His-
tória com seus novos objetos e abordagens, acaba por não estabelecer nenhuma
“relação orgânica com o passado público da época em que vivemos” (HOBSBAWM).
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. História, política e ensino. In: BITTENCOURT, Circe (org.).
O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 43-44).

1.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS


A seguir, vamos expor, de modo simplificado, os pressupostos teóricos que pautaram a nossa escrita e
que, até certo ponto, tornaram-se consenso entre os historiadores atuais.
1o É impossível resgatar episódios do passado tal qual ocorreram. O passado está morto e não se
pode “desenterrá-lo”, só se pode conhecê-lo por meio de vestígios deixados pelos seres humanos na sua
passagem pela Terra.
2o Só se pode investigar o passado por meio de questões colocadas pelo presente. De tempos
em tempos, formulam-se novas questões sobre o passado que conduzem a novas pesquisas, das
quais resultam novas reescritas da História. Ou seja, cada época coloca novos problemas, e é a par-
tir deles que nos debruçamos sobre o passado para investigar, crivar as fontes, comparar, analisar e
construir uma versão dos fatos. Buscando romper com uma visão passadista da História, entendemos
que o presente também é suscetível de conhecimento histórico, desde que o ancoremos na própria
História.
3o Todo conceito possui uma história. A cidadania na cidade de Atenas, durante a Antiguidade, por
exemplo, era muito diferente da cidadania no Brasil de hoje. A consciência disso é fundamental na edu-
cação histórica, seja para a construção do conceito de cidadania, seja para a sua contextualização espaço-
-temporal. Facilitar isso ao aluno ajuda-nos a evitar a formulação de juízos anacrônicos consubstanciados
no senso comum, tais como: “o tempo passa e nada muda”, “os políticos são todos iguais” e outras
frases do gênero.
4o O conhecimento histórico é algo construído com base em um procedimento metodológico. A
História é, ela própria, uma construção. Durante muito tempo se acreditou que os historiadores che-
gavam a verdades definitivas. Hoje se sabe que a História produz verdades parciais. Depois da coleta,
seleção e crítica dos vestígios, seguem-se a análise destes e a produção de uma versão possível sobre
o fato ou processo em questão. As conclusões a que chegam os historiadores devem, por isso mes-
mo, ser relativizadas. Como observou um estudioso, as Ciências Humanas hoje estão convencidas de
que:

IX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 9 01/09/22 22:06


[...] ao término de suas investigações, não é a verdade que irão encontrar, mas
verdades, descobertas após um longo e penoso processo de produção histórica.
SALIBA, Elias Thomé. A produção do conhecimento histórico e suas relações com a narrativa fílmica.
In: FALCÃO, Antônio Rebouças; BRUZZO, Cristina (coord.). Coletânea lições com cinema.
São Paulo: FDE: Diretoria Técnica, 1993, p. 92.

5o O conhecimento histórico é limitado. Atualmente, é consenso entre os historiadores que a História


não é um saber acabado. O conhecimento histórico é algo construído com base em um método e em um
conjunto de procedimentos pertinentes ao ofício do historiador. Enfim, atualmente, historiadores com di-
ferentes perspectivas admitem que a História é uma construção e que o conhecimento histórico é parcial
e incompleto, daí a necessidade de a História ser reescrita, constantemente, à luz das novas pesquisas
que vão sendo realizadas.
Contribuindo com esse debate, o historiador Holien Gonçalves Bezerra afirmou:

[...] Ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno terá condições de


exercitar nos procedimentos próprios da História: problematização das questões
propostas, delimitação do objeto, exame do estado da questão, busca de infor-
mações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos sujei-
tos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação
e comprovação de hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos
conceitos (historicidade), proposta de explicação para os fenômenos estudados,
elaboração da exposição, redação de textos. [...]
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2016. p. 42.

1.4 OBJETIVOS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA


Nesta obra didática, levamos em conta a perspectiva do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), no tocante aos objetivos para o ensino de História, seja para nortear a nossa compreensão
da História, seja para balizar a nossa prática docente. Segundo as matrizes curriculares de referência para
o Saeb, os objetivos do ensino da História são:
• facilitar a construção, por parte do educando, da capacidade de pensar histori-
camente, sendo que esta operação engloba uma percepção crítica e transforma-
dora sobre os eventos e estudos históricos;
• favorecer a aquisição de conhecimentos sobre diferentes momentos históricos, a
fim de desenvolver a habilidade de coordenação do tempo histórico;
• contribuir para a compreensão dos processos da História, através da análise
comparada das semelhanças e diferenças entre momentos históricos, de forma
a perceber a dinâmica de mudanças e permanências;
• propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que este
seja capaz de formar uma opinião possível sobre os eventos históricos estudados;
• possibilitar a integração dos conteúdos cognitivos com os aspectos afetivos e
psicomotores do educando, valorizando as características relacionais nas ativi-
dades de ensino-aprendizagem.
PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curriculares de referência para o Saeb.
2. ed. Brasília, DF: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999. p. 63.

Atingir esses objetivos, ainda que parcialmente, pode ajudar o aluno a interpretar situações concretas da
vida social, posicionar-se criticamente diante da realidade vivida e construir novos conhecimentos.

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 10 01/09/22 22:06


1.5 CONCEITOS-CHAVE DA ÁREA DE HISTÓRIA
O ensino de História, nos anos finais do Ensino Fundamental, não pretende fazer do aluno um historia-
dor. Seu compromisso maior é com a facilitação, ao aluno, do acesso à construção do conhecimento históri-
co, por meio do uso e do cruzamento de fontes variadas e de diferentes tipos de documento (BRASIL, 2018,
p. 398). Nesta obra, trabalhamos alguns conceitos-chave na nossa disciplina – como o de História, tempo,
cronologia, cultura, patrimônio cultural, identidade, memória, política e cidadania.
A seguir, organizamos uma espécie de glossário com esses conceitos, que pode ser útil ao trabalho do
professor na preparação de sua aula.
História: Marc Bloch define a História como o estudo das sociedades humanas no tempo. Para ele:

O historiador nunca sai do tempo [...], ele considera ora as grandes ondas de fe-
nômenos aparentados que atravessam, longitudinalmente, a duração, ora o momento
humano em que essas correntes se apertam no nó poderoso das consciências.
BLOCH, Marc L. B. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 135.

Seguindo a trilha aberta por Bloch, o historiador Holien Bezerra afirma que a História busca desvendar
“[as] relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços” (BEZERRA,
2003, p. 42). Outra definição de História:

[...] A história é a arte de aprender que o que é nem sempre foi, que o que
não existe pôde alguma vez existir; que o novo não o é forçosamente e que, ao
contrário, o que consideramos por vezes eterno é muito recente. Esta noção per-
mite situarmo-nos no tempo, relativizar o acontecimento, descobrir as linhas de
continuidade e identificar as rupturas [...].
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: Ensino Fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação:
Secretaria de Educação Básica, 2010. (Explorando o Ensino, v. 21, p. 18).

Há autores atuais, como Hayden White, por exemplo, que entendem a História como um gênero da lite-
ratura e querem reduzi-la à ficção. Nós discordamos dessa visão e ressaltamos que a História, ao contrário da
Literatura, tem compromisso com a evidência e, parafraseando Marc Bloch, lembramos ainda que, diferente-
mente do literato, o historiador só pode afirmar aquilo que tem condições de provar.
Tempo: conceito-chave em História. É uma construção humana; e o tempo histórico, uma construção
cultural dos povos em diferentes tempos e espaços. As principais dimensões do tempo são: duração, suces-
são e simultaneidade. Isso pode ser trabalhado em aula apresentando-se as diferentes maneiras de vivenciar
e apreender o tempo e de registrar a duração, a sucessão e a simultaneidade dos eventos – tais conteúdos
tornam-se, portanto, objeto de estudos históricos. O tempo que interessa ao historiador é o tempo históri-
co, o tempo das transformações e das permanências. O tempo histórico não obedece a um ritmo preciso e
idêntico como o do relógio e/ou dos calendários. Por isso o historiador considera diferentes temporalidades/
durações: a longa, a média e a curta duração.
Cronologia: sistema de marcação e datação baseado nas regras estabelecidas pela ciência astronômica,
que tenta organizar os acontecimentos em uma sequência regular e contínua.
Cultura:
Entende-se por cultura todas as ações por meio das quais os povos expres-
sam suas “formas de criar, fazer e viver” (Constituição Federal de 1988, art. 216).
A cultura engloba tanto a linguagem com que as pessoas se comunicam, contam
suas histórias, fazem seus poemas, quanto a forma como constroem suas casas,

XI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 11 01/09/22 22:06


preparam seus alimentos, rezam, fazem festas. Enfim, suas crenças, suas visões
de mundo, seus saberes e fazeres. Trata-se, portanto, de um processo dinâmico de
transmissão, de geração a geração, de práticas, sentidos e valores, que se criam e
recriam (ou são criados e recriados) no presente, na busca de soluções para os pe-
quenos e grandes problemas que cada sociedade ou indivíduo enfrentam ao longo
da existência.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.
Patrimônio Cultural Imaterial: para saber mais. Brasília, DF: Iphan, 2012. p. 7.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/cartilha_1__parasabermais_web.pdf.
Acesso em: 2 ago. 2022.

Segundo os PCN:
[...] cultura abrange um conjunto de crenças, conhecimentos, valores, cos-
tumes, regulamentos, habilidades, capacidades e hábitos construídos pelos seres
humanos em determinadas sociedades, em diferentes épocas e espaços.
BRASIL. Ministério da Educação. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e suas Tecnologias: História. Brasília: SEB, 2002. p. 71-72.

Sobre esse conceito, o professor Holien Gonçalves Bezerra afirma:

[...] Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as


formas de organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas,
dos ritos, das religiões, das festas etc. Assim, o estudo das identidades sociais,
no âmbito das representações culturais, adquire significado e importância para
a caracterização de grupos sociais e de povos.
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. p. 46.

Patrimônio cultural: segundo um estudioso:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial [...] nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de
criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as
obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às mani-
festações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. In: BITTENCOURT, Circe (org.).
O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 134).

Identidade: pode ser definida como a construção do “eu” e do “outro” e a construção do “eu” e do
“nós”, que têm lugar nos diferentes contextos da vida humana e nos diferentes espaços de convívio social.
Essa construção baseia-se no reconhecimento de semelhanças/diferenças e de mudanças/permanências. So-
bre o assunto, disse uma ensaísta:

Um dos objetivos centrais do ensino de História, na atualidade, relaciona-se


à sua contribuição na constituição de identidades. A identidade nacional, nessa
perspectiva, é uma das identidades a ser constituída pela História escolar, mas,
por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relações com
o local e o mundial. A constituição de identidades associa-se à formação da ci-
dadania, problema essencial na atualidade, ao se levar em conta as finalidades
educacionais mais amplas e o papel da escola em particular.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos.
São Paulo: Cortez, 2004. (Docência em formação), p. 121.

A construção de identidades está relacionada também à memória.

XII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 12 01/09/22 22:06


Memória: segundo Pedro Paulo Funari:

A memória [...] é uma recriação constante do presente, do passado enquanto


representação, enquanto imagem impressa na mente.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Antiguidade clássica: a história e a cultura a partir dos documentos.
2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p. 16.

Memória pode ser definida também pelo modo como os seres humanos se lembram ou se esquecem do
passado; já a História pode ser vista como a crítica da memória. Em sociedades complexas, como esta em que
vivemos, a memória coletiva dá origem a lugares de memória, como museus, bibliotecas, espaços culturais,
galerias, arquivos ou uma “grande” história, a história da nação. A memória nos remete à questão do tempo.
Política: o termo “política” teve sua origem na Grécia antiga e foi sendo ressignificado ao longo do tem-
po. A palavra “política” está estreitamente relacionada à ideia de poder. Segundo Nicolau Maquiavel (1469-
1527), o fundador da política como ciência, a política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder. Já
para Michel Foucault (1926-1984), o poder não se concentra somente no Estado, mas está distribuído por
todo o corpo social. Seguindo essa trilha, dois estudiosos observaram que:

Há relação de poder entre pais e filhos, alunos e professores, governantes e


governados, dirigentes de partido e seus filiados, patrões e empregados, líderes de
associações sindicais e seus membros, e assim por diante. A verdade é que tais
relações são, no mais das vezes, sutis, móveis, dispersas e de difícil caracterização.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos.
2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 335.

Cidadania: o conceito de cidadania – chave na nossa proposta de ensino de História – tem como base as
reflexões do historiador Jaime Pinsky:

Afinal, o que é ser cidadão?


Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante
a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade,
votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a
democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo
na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma
velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.
PINSKY, Jaime. Introdução. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9.

A compreensão da cidadania em uma perspectiva histórica de lutas, confrontos e negociações, e constituída


por intermédio de conquistas sociais de direitos, pode servir como referência para a organização dos conteúdos
da disciplina de História. Vale lembrar ainda que os conceitos possuem uma história, e que esta variou no tem-
po e no espaço. Cientes disso, evitamos visões anacrônicas, a-históricas ou carregadas de subjetividade.
O trabalho com História na sala de aula é uma construção coletiva e se faz com base no saber aceito
como legítimo pela comunidade de historiadores. Antes de tudo, porém, é preciso considerar que esse saber
acadêmico não deve ser confundido com o conhecimento histórico escolar, embora lhe sirva de suporte.

XIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 13 01/09/22 22:06


2 METODOLOGIA DE
ENSINO-APRENDIZAGEM

2.1 O CONHECIMENTO HISTÓRICO ESCOLAR


Para Bittencourt, o conhecimento histórico escolar:

[...] não pode ser entendido como mera e simples transposição de um co-
nhecimento maior, proveniente da ciência de referência e que é vulgarizado e
simplificado pelo ensino. [...] “Nenhuma disciplina escolar é uma simples filha
da ‘ciência-mãe’”, adverte-nos Henri Moniot, e a história escolar não é apenas
uma transposição da história acadêmica, mas constitui-se por intermédio de um
processo no qual interferem o saber erudito, os valores contemporâneos, as prá-
ticas e os problemas sociais.
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017
(Repensando o ensino, p. 25).

Para a construção do conhecimento em sala de aula, a historiadora Margarida Maria Dias de Oliveira pro-
põe que sejam dados os seguintes passos:

1. elege-se uma problemática (tema, período histórico);


2. tem-se o tempo como categoria principal (como o assunto em estudo foi enfren-
tado por outras sociedades);
3. dialoga-se com o tempo por meio das fontes (utilizam-se o livro didático, mapas,
imagens, músicas [...]);
4. utilizam-se instrumentos teóricos e metodológicos (conceitos, formas de proce-
der);
5. constrói-se uma narrativa/interpretação/análise (pede-se um texto, um debate,
uma peça teatral, uma redação, uma prova).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Introdução. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: ensino fundamental. Brasília, DF: MEC: SEB, 2010. (Explorando o ensino, v. 21, p. 11).

Em outras palavras, seleciona-se o tema e transforma-o em problema por meio de um conjunto de ques-
tões. Estuda-se, então, o passado para entrar em contato com as experiências dos seres humanos de outros
tempos no enfrentamento desse problema e retorna-se ao presente.

2.2 A NOVA CONCEPÇÃO DE DOCUMENTO


Na visão positivista da História, o documento era visto, sobretudo, como prova do real. Aplicada ao livro
escolar, essa forma de ver o documento assumia um caráter teleológico – o documento cumpria uma fun-
ção bem específica: ressaltar, exemplificar e, sobretudo, dar credibilidade à argumentação desenvolvida pelo
autor. Na sala de aula, isso se reproduzia: o documento servia para exemplificar, destacar e, principalmente,
confirmar a fala do professor durante a exposição.

XIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 14 01/09/22 22:06


Com a Escola dos Annales, fundada pelos historiadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch2, adveio uma
nova concepção de documento, que nasceu da certeza de que o passado não pode ser recuperado tal como
aconteceu e que a sua investigação só pode ser feita com base em problemas colocados pelo presente. Essa nova
corrente historiográfica, que se formou a partir da crítica ao positivismo, propôs um número tão grande e signifi-
cativo de inovações que o historiador Peter Burke referiu-se a ela como “a Revolução Francesa da historiografia”.
Contrapondo-se à escola positivista, tributária do pensamento do filósofo alemão Leopold von Ranke,
que via o documento como prova do real e capaz de falar por si mesmo, a Escola dos Annales propunha
uma ampliação e um novo tratamento a ser dado ao documento. Eis o que diz Jacques Le Goff, um dos teó-
ricos da Nova História:

A História Nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a história


de Langlois e Seignobos2, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito,
por uma história baseada numa multiplicidade de documentos figurados, produtos de
escavações arqueológicas, documentos orais etc. Uma estatística, uma curva de preços,
uma fotografia, um filme, ou para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma
ferramenta, um ex-voto são, para a História Nova, documentos de primeira ordem [...].
LE GOFF, Jacques apud MARTINS, Ronaldo Marcos. Cuidado de si e educação matemática: perspectivas,
reflexões e práticas de atores sociais (1925-1945). Tese (Doutorado). Rio Claro: Unesp, 2007. p. 23.

Mas, se por um lado, é consensual entre os historiadores que estamos vivendo uma “revolução docu-
mental”; por outro, a reflexão sobre o uso de documentos em sala de aula merece, a nosso ver, uma maior
atenção. Com base nas reflexões daqueles que pensaram sobre o assunto e na nossa experiência docente,
recomendamos que, ao trabalhar com documentos na sala de aula, o professor procure:
a) evitar ver o documento como “prova do real”, procurando situá-lo como ponto de partida para se cons-
truírem aproximações em torno do episódio focalizado;
b) ultrapassar a descrição pura e simples do documento e apresentá-lo aos alunos como matéria-prima de
que se servem os historiadores na sua incessante pesquisa;
c) considerar que um documento não fala por si mesmo. É necessário levantar questões sobre ele e a partir
dele. Um documento sobre o qual não se sabe por quem, para que e quando foi escrito é como uma fo-
tografia sem crédito ou legenda: não tem serventia para o historiador;
d) levar em conta que todo documento é um objeto material e, ao mesmo tempo, portador de um
conteúdo;
e) considerar que não há conhecimento neutro: um documento tem sempre um ou mais autores e ele(s)
tem(têm) uma posição que é necessária identificar. Visto por esse ângulo, o trabalho com documentos
tem pelo menos três utilidades:
• facilita ao professor o desempenho de seu papel de mediador. A sala de aula deixa de ser o espaço
onde se ouvem apenas as vozes do professor e a do autor do livro didático (tido muitas vezes como nar-
rador onisciente, que tudo sabe e tudo vê) para ser o lugar onde ecoam múltiplas vozes, incluindo-se aí
as vozes de pessoas que presenciaram os fatos focalizados;
• possibilita ao aluno desenvolver um olhar crítico e aperfeiçoar-se como leitor e produtor de textos
históricos;
• diminui a distância entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, uma vez que os alunos são con-
vidados a se iniciarem na crítica e na contextualização dos documentos, procedimento importante para
a educação histórica.
2
Nomes dos historiadores franceses por meio dos quais a história metódica, mais conhecida como positivista, chegou ao seu auge na segunda metade do século XIX.

XV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 15 01/09/22 22:06


2.3 O TRABALHO COM IMAGENS FIXAS
Vivemos em uma civilização da imagem. Uma grande quantidade de imagens é posta diante dos olhos
dos nossos alunos todos os dias, em uma velocidade crescente, constituindo importante fonte para o conhe-
cimento da História, o que, certamente, pode ajudar na formação de um leitor atento, crítico e autônomo:
um leitor capaz de receber criticamente os meios de comunicação; capaz de perceber que a imagem efême-
ra que a mídia veicula como verdadeira pode ser – e quase sempre é – a imagem preferida, a que se esco-
lheu mostrar. Esse fato não passou despercebido pelos professores, que, reconhecendo o potencial pedagó-
gico das imagens, passaram a utilizá-las com frequência no ensino de História.

2.3.1 • Cuidados ao trabalhar com imagens


Ao se decidir pelo uso de imagens fixas na sala de aula, o professor deve levar em conta que essa prática
pedagógica requer vários cuidados, alguns dos quais listaremos a seguir.

A imagem é polissêmica
Misto de arte e ciência, técnica e cultura, a imagem é polissêmi-

MUSEU DO LOUVRE, PARIS, FRANÇA


ca. Até um simples retrato admite várias interpretações. Exemplo
disso é ver um álbum de fotografias em família: uma foto que
desperta alegria ou satisfação nos avós pode ser causa de inibição
ou vergonha para os netos. Outro exemplo dessa característica da
imagem é Mona Lisa, certamente o quadro mais conhecido do
mundo. Já se afirmou que, se estivermos melancólicos, temos ten-
dência a ver, no sorriso enigmático da personagem retratada, me-
lancolia; se estivermos alegres, ela nos parecerá contente. Ou seja,
ela expressa os nossos sentimentos no momento em que a vemos.

A imagem é uma representação do real


De natureza polissêmica, a imagem é uma representação do
real e não a sua reprodução. Sobre isso, relata Pierre Villar que,
certa vez, perguntou a seus alunos: “O que é Guernica?”. Eles lhe
responderam imediatamente: “Guernica é um quadro!”. Daí co-
menta o arguto historiador Pierre Villar:

Efetivamente, [...] Guernica – no espírito de muita gente


que não tem mais o cuidado de saber exatamente de onde isto
surgiu – é um quadro de Picasso. [...] Guernica tornou-se a re- Mona Lisa, pintura de Leonardo da Vinci,
presentação de um fato preciso. O fato preciso está esquecido, c. 1503-1505.
a representação continua. [...].
VILLAR, Pierre apud D’ALESSIO, Marcia Mansor et al. Reflexões sobre o saber histórico. São Paulo: Unesp, 2017. p. 30. (Prismas).

O fato preciso a que o historiador está se referindo é, como se sabe, o bombardeio da pequenina cidade
espanhola de Guernica pela aviação nazista, a mando de Hitler, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
O fato, o bombardeio, ocorrido em 26 de abril de 1937, foi esquecido; a representação produzida por Picasso,
um óleo sobre tela, com o nome de Guernica, permaneceu marcando gerações. Não é demais repetir: quando
o professor perguntou: “O que é Guernica?”, os alunos lhe responderam: “Guernica é um quadro!”.

XVI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 16 01/09/22 22:06


A imagem possui um efeito de realidade
O que torna mais escorregadio o terreno para quem se decide pelo uso de imagens na sala de aula é
justamente o fato de a imagem possuir um efeito de realidade, ou seja, a capacidade de se parecer com a
própria realidade.
Se apresentarmos ao aluno a imagem de Dom Pedro I e a de Dom Pedro II e perguntarmos qual deles é o
pai e qual é o filho, muitos dirão, provavelmente, que Dom Pedro I é filho de Dom Pedro II.
Sobre a construção das imagens de Dom Pedro I, como jovem, e de Dom Pedro II, como velho, observou
uma estudiosa:

[...] A ilustração do pai jovem e do filho velho tem causado certa perplexi-
dade aos jovens leitores e falta a explicação do aparente paradoxo. A imagem de
um D. Pedro II velho foi construída no período pós-monárquico e demonstra a
intenção dos republicanos em explicar a queda de uma monarquia envelhecida
que não teria continuidade. É interessante destacar a permanência dessas ilus-
trações na produção atual dos manuais, reforçando uma interpretação utilizada
pelos republicanos no início do século XX, mesmo depois de variadas pesquisas
e publicações historiográficas sobre os conflitos e tensões do período.
BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 12. ed.
São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 80).
COLEÇÃO PARTICULAR

MUSEU IMPERIAL, PETRÓPOLIS, RIO DE JANEIRO

Retrato de D. Pedro I feito pelo artista Simplício Retrato de D. Pedro II feito por Pedro Américo, 1873.
Rodrigues de Sá, c. 1826.

XVII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 17 01/09/22 22:06


Ver não é sinônimo de conhecer
Vivemos em um tempo em que se busca reduzir o acontecimento à sua imagem, em vez de explicá-lo e
contextualizá-lo historicamente, isto é, em uma época em que querem nos fazer crer que ver é sinônimo de
conhecer. No entanto, é preciso que se repita à exaustão: “eu vi” não significa “eu conheço”. Assim, ver no
noticiário televisivo um episódio do conflito no Oriente Médio não significa conhecer aquele conflito, seus
motivos, seu contexto, o teatro de operações etc. Sobre isso, disse um estudioso:

Os historiadores se deparam hoje com este fenômeno histórico inusitado: a


transformação do acontecimento em imagem. [...] Não se busca mais tornar po-
liticamente inteligíveis uma situação ou um acontecimento, mas apenas mostrar
sua imagem. Conhecer se reduz a ver ou, mais ainda, a “pegar no ar”, já que a
mensagem da mídia é efêmera. [...]
SALIBA, Elias Thomé. Experiências e representações sociais: reflexões sobre o uso e o consumo de imagens.
In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
(Repensando o ensino, p. 122).

Um equívoco recorrente quando o assunto é imagem é a afirmação de que ela fala por si mesma. Como
lembrou uma ensaísta:

É ilusório pensar-se que as imagens se comuniquem imediata e diretamente


ao observador, levando sempre vantagem à palavra, pela imposição clara de um
conteúdo explícito. Na maioria das vezes, ao contrário, se calam em segredo,
após a manifestação do mais óbvio: por vezes, [...] em seu isolamento, se retra-
em à comunicação, exigindo a contextualização, única via de acesso seguro ao
que possam significar. Por outro lado, são difíceis de se deixarem traduzir num
código diverso como o da linguagem verbal.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica.
São Paulo: Edusp, 1993. (Texto e Arte, v. 9, p. 12).

De fato, a imagem é captada pelo olho, mas traduzida pela palavra. Tomá-la como fonte para o conheci-
mento da História envolve vê-la como uma representação, uma estratégia, uma linguagem com sintaxe pró-
pria. Para obter as informações a partir dela é indispensável desnaturalizá-la e contextualizá-la, interrogan-
do-a com perguntas, tais como: por que, por quem, em que contexto foi produzida. É indispensável, enfim,
perceber que a imagem não reproduz o real. Ela congela um instante do real, “organizando-o” de acordo
com uma determinada estética e visão de mundo.

2.3.2 • Imagens fixas na sala de aula


O trabalho com imagens pode ajudar no desenvolvimento da competência de ler e escrever a partir do registro
visual, bem como estimular as habilidades de observar, descrever, sintetizar, relacionar e contextualizar. Além dis-
so, contribui decisivamente para a “educação do olhar”, usando uma expressão cunhada por Circe Bittencourt.
Com base nas reflexões de alguns estudiosos e na nossa experiência didática, e cientes de que essa tarefa não é
das mais fáceis, propomos a seguir alguns procedimentos para introduzir a leitura de imagens fixas na sala de aula.
Passo 1: apresentar ao aluno uma imagem (fotografia, pintura, gravura, caricatura etc.) sem qualquer
legenda ou crédito. A seguir, pedir a ele que observe a imagem e descreva livremente o que está vendo. A
intenção é permitir ao aluno que associe o que está vendo às informações que já possui, levando em conta,
portanto, seus conhecimentos prévios. Nessa leitura inicial, o aluno é estimulado a identificar o tema, as
personagens, suas ações, posturas, vestimentas, calçados e adornos, os objetos presentes na cena e suas ca-

XVIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 18 01/09/22 22:06


racterísticas, o que está em primeiro plano e ao fundo, se é uma cena cotidiana ou rara. Enfim, estimular no
aluno a capacidade de observar, identificar e traçar comparações.
Passo 2: buscar com os alunos o máximo de informações internas e externas à imagem.
Para obter as informações internas (quando o destaque forem as pessoas), fazer perguntas como: quem
são? Como estão vestidas? O que estão fazendo? Quem está em primeiro plano? E ao fundo? Já quando o
destaque for um objeto, perguntar: o que é isto? Do que é feito? Para que serve ou servia? Onde se encontra?
Quanto às informações externas, perguntar: quem fez? Quando fez? Para que fez? Em que contexto fez?
Passo 3: de posse das informações obtidas na pesquisa, pedir que o aluno produza uma legenda
para a imagem. A legenda pode ser predominantemente descritiva, explicativa, analítica e/ou ainda
conter uma crítica.
Professor, na produção da legenda pelo aluno, estaremos trabalhando principalmente as habilidades de
reconhecer, descrever, associar, relacionar, sintetizar e, por fim, contextualizar; levar os alunos a contextuali-
zar o oceano de imagens que seus olhos absorvem a todo instante numa velocidade crescente talvez seja um
dos maiores desafios do professor de História.
Por fim, uma pergunta: por que trabalhar com imagens em sala de aula?
Trabalhamos com imagens na sala de aula com três propósitos: a) educar o olhar; b) contribuir para a for-
mação ou consolidação de conceitos; c) estimular a competência escritora.
Na nossa prática docente, nós, professores de História, habitualmente propomos um texto, interrogamos
o texto e, assim, estimulamos o alunado a produzir textos a partir de um texto. O que estamos propondo
é, além de continuar estimulando a produção de textos a partir de um texto, levar o alunado a produzir um
texto a partir da imagem (texto para ela, sobre ela, a partir dela).
Quando usar uma imagem na aula de História? O trabalho com imagens em História pode ser feito:
a) No início de um bloco de conteúdos, para introduzir um assunto e estimular o interesse do aluno. Por
exemplo, pode-se usar uma imagem atual de uma votação em sala de aula para introduzir o trabalho
com o conceito de democracia na Grécia antiga e também para evidenciar os laços que unem o passado
ao presente;
b) Durante a exposição dialogada, como forma de elucidar um aspecto do conteúdo. No caso da prática do con-
trabando/desvio nas Gerais do século XVIII, por exemplo, imagens dos santos ilustram um dos recursos usados
pela população das Minas para burlar o fisco, fazendo o ouro e os diamantes passarem pelas autoridades;
c) No início e no final de um bloco de conteúdos. Um exemplo é a imagem intitulada História de um go-
verno, de Belmonte. No início, pode ser utilizada para provocar o aluno a falar sobre o que ele sabe ou
imagina saber a respeito da personagem e sobre a relação entre a expressão fisionômica desta em cada
um dos quadrinhos e as datas que aparecem neles. No final, pode ser usada para cotejar as hipóteses le-
vantadas inicialmente pelo aluno com o conhecimento construído durante o estudo do tema.
BELMONTE

Tirinha de Belmonte,
História de um
governo, na qual
aparecem diversas
caricaturas de
Getúlio Vargas.

XIX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 19 01/09/22 22:06


2.4 O TRABALHO COM IMAGENS EM MOVIMENTO
(O CINEMA NA SALA DE AULA)
Ao se decidir pelo uso de filmes ou vídeos em sala de aula, o professor deve levar em conta que o cinema
é um misto de arte e técnica, um artefato construído para agradar e vender, que envolve equipes numerosas
e altos custos de produção. Seu compromisso, muitas vezes, é com o espetáculo e não com a verdade. O rit-
mo com que as imagens se sucedem, e tudo o mais, é cuidadosamente pensado para esse fim. Mas o cine-
ma é também um produto e uma expressão cultural do modo como a sociedade se vê, uma forma de lazer e
de informação universal cotidianamente consumida.

2.4.1 • O cinema serve ao professor de História?


Sim, certamente, mas de uma maneira muito peculiar. Daí a necessidade de tomarmos alguns cuidados ao utilizá-lo.
Primeiro, é preciso levar em conta que toda imagem cinematográfica é testemunho de uma presença: a
da câmera e a da equipe que realizou a filmagem. O que vemos na tela é um registro fotomecânico, repro-
duzido por um projetor. Essa evidência, geralmente, não é percebida pelo espectador comum, ou simples-
mente não interessa a ele, que busca no filme diversão e emoção por algumas horas ou minutos. Já o pro-
fessor de História vê o mesmo filme com outros olhos, pois o que pretende é tratar o cinema como uma das
fontes para o seu trabalho de construção/reconstrução da História.
Todo filme, seja ele ficcional ou documental, é uma fonte a ser considerada pelo historiador, pois o que se
vê na tela é um tipo de registro do que aconteceu em algum lugar, em algum momento.
No gênero ficcional, temos o registro de atores, figurinos, cenários, luzes etc., filmados numa ordem di-
versa da que vemos na tela. A ordenação das sequências é arranjada depois, no momento da montagem.
No filme documental, a câmera registra imagens selecionadas pelo documentarista, previamente ou no calor
da hora. Depois de revelados os negativos, o realizador os monta, corta o que não lhe agrada, coloca-os em
uma determinada ordem, dá-lhes certo ritmo, insere trechos de outros filmes, depoimentos etc. A isso se
chama editar. Se ele não age assim, não temos filme, mas o que os profissionais chamam de “material bru-
to”, algo parecido com um automóvel inteiramente desmontado, que não serve a nenhum motorista.
O filme editado expressa a visão de um indivíduo ou grupo que quer nos convencer da versão que arru-
mou para mostrar na tela (ou no vídeo).
No filme O menino do pijama listrado (2008), o diretor quis mostrar

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO. MARK HERMAN. IMAGEM FILMES. EUA, 2008


que a amizade entre duas crianças pode superar todas as barreiras (sociais,
políticas, culturais…) e que o ódio pode ferir mortalmente aquele que odeia.
Nessa obra, o filho de um oficial nazista veste uma roupa listrada para
entrar, sem ser notado, onde está o seu amiguinho judeu, e acaba sendo
morto pelos nazistas liderados por seu pai. Ao fazer uso do filme ficcional,
sugerimos lembrar ao estudante que se está diante de uma versão, de uma
representação, e não dos fatos históricos tal como eles ocorreram.
Mas nem por isso a ficção “de época” deve ser tratada como uma mentira
inconsequente, interesseira. Ela é uma narrativa que procura transformar em ima-
gens verossímeis o acontecido, ou imaginar como pode ter acontecido, servindo-
-se dos meios disponíveis na ocasião em que o filme foi realizado. Assim, desquali-
ficar um filme porque não apresenta a “verdade” é uma ingenuidade. Ora: o que
é uma verdade acabada do ponto de vista histórico?
Geralmente, o filme histórico revela mais sobre a época em que foi fei- Cartaz do filme O menino do
to do que sobre a época que pretendeu retratar. Um exemplo: Danton, o pijama listrado, 2008.

XX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 20 01/09/22 22:06


Processo da Revolução (1983), de Andrzej Wajda, é um filme sobre a Revolução Francesa de 1789, mas a
obra que Wajda realiza é mais uma crítica ao autoritarismo e ao clima de medo vivido na Polônia dos anos
1980 (lugar e tempo em que o diretor viveu) do que uma narrativa sobre o episódio vivido pelos franceses
em 1789 (época em que o filme foi ambientado).

2.4.2 • Alguns outros cuidados…


O uso de filmes na sala de aula exige:
a) muitas horas de preparo. Decidindo por um filme, o professor deve assisti-lo pelo menos duas vezes. Na
segunda, deve marcar, com muita atenção, as principais sequências, cenas e planos, para saber repeti-los
no momento adequado da aula, comentando-os;
b) clareza por parte do professor sobre a época em que o filme foi realizado, os objetivos dos responsáveis
por sua realização, sua inserção como produto de cultura entre outros do mesmo período. Chamando a
atenção do aluno para essas informações, você o estará estimulando a ver os filmes com outros olhos;
c) consciência de que o filme ficcional se comunica por meio de procedimentos artísticos. O educador deve
libertar-se de um costume muito presente na atividade didática, que é o de tratar o romance, a poesia,
a pintura e mesmo o cinema como meros suportes de um conteúdo. Caso contrário, o espectador ficará
preso apenas ao enredo e não prestará atenção à forma como este lhe foi apresentado;
d) percepção de que o sentido de um filme narrativo está no modo como ele conta a história, seu ritmo, a
duração e a sucessão dos planos, o posicionamento da câmera, os tipos de luz e de fotografia escolhidos,
o uso ou não da música, o estilo de interpretação dos atores, e assim por diante. Tudo isso muito bem
amarrado é que nos dá a significação e o prazer de um bom filme. Um bom livro não se transforma ne-
cessariamente em um bom filme.
Concluindo, cada forma de arte possui procedimentos e linguagem específicos. Por isso, o educador que
faz uso do cinema e de outros recursos audiovisuais deve levar em conta todos esses aspectos. Somente as-
sim o cinema pode ser aproveitado duplamente: como arte espetacular e como fonte para o conhecimento
da História.

2.5 O PISA E A COMPETÊNCIA LEITORA


O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – tradução da sigla em inglês) é um exame que bus-
ca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de ida-
de. Ele é organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e ocorre de
três em três anos. O critério de correção obedece à Teoria de Resposta ao Item, o mesmo utilizado na correção
do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e a posição dos participantes é definida em relação à média.
Na primeira edição do Pisa, em 2000, o Brasil obteve 396 pontos em leitura; na sexta, ocorrida em 2015,
atingiu a casa dos 407 pontos. Na edição de 2018, a média dos estudantes brasileiros foi a 413 pontos, um
pequeno avanço em relação ao exame de 2015. É certo que houve uma melhoria desse indicador em rela-
ção à primeira edição, quando o resultado do Brasil foi de 396 pontos, mas essa elevação, segundo critérios
da OCDE, não é estatisticamente relevante. Portanto, a situação de dificuldade com a competência leitora,
entre nossos estudantes, tem permanecido estável por muito tempo, por isso o assunto merece atenção.
Sabendo que o Pisa constrói as questões das provas de leitura com o objetivo de medir a compreensão e
a interpretação de textos e imagens, e o grau de autonomia do aluno para compreender a realidade e reco-
nhecê-la por meio da representação gráfica, conclui-se que nossos alunos precisam muito desenvolver tanto
a competência leitora quanto a escritora. Daí a ênfase que demos a esse trabalho.

XXI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 21 01/09/22 22:06


Apresentamos, a seguir, alguns textos que subsidiam a nossa decisão de assumir que ler e escrever tam-
bém são compromissos da área de História.
Texto 1

Ler e escrever: um compromisso de todas as áreas


O que seria ler e escrever nas diferentes áreas do currículo escolar? Esse
é um dos objetivos que estabelecemos para este livro: desconfinar a discussão
sobre leitura e escrita, ampliando o seu âmbito desde a biblioteca e a aula de
português para toda a escola. E um dos méritos desse desconfinamento foi a
descoberta da leitura e da escrita como confluências multidisciplinares para a
reflexão e ação pedagógica.
[...]
Temos claro que ler e escrever sempre foram tarefas indissociáveis da vida
escolar e das atribuições dos professores. Ler e escrever bem forjam o padrão
funcional da escola elitizada do passado, que atendia a parcelas pouco nume-
rosas da população em idade escolar. Ler e escrever massiva e superficialmente
tem sido a questão dramática da escola recente, sem equipamentos e estendida
a quase toda a população.
A sociedade vê a escola como o espaço privilegiado para o desenvolvimento
da leitura e da escrita, já que é nela que se dá o encontro decisivo entre a crian-
ça e a leitura/escrita. Todo estudante deve ter acesso a ler e escrever em boas
condições, mesmo que nem sempre tenha uma caminhada escolar bem traçada.
Independente de sua história, merece respeito e atenção quanto as suas vivên-
cias e expectativas. Daí a importância da intervenção mediadora do professor e
da ação sistematizada da escola na qualificação de habilidades indispensáveis
à cidadania e à vida em sociedade, para qualquer estudante, como são o ler e o
escrever.
NEVES, Iara Conceição Bittencourt. Introdução. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et. al. (org.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 11-12.

Texto 2
Para uma boa formação, os alunos precisam entender bem o que leem e saber pensar e escrever.

Não basta ensinar História


Ensinamos História por dois motivos principais: iniciar os jovens no conhe-
cimento da história da humanidade (ou de parte dela) e transmitir-lhes informa-
ções indispensáveis à construção da tão desejada cidadania, ou seja, a formação
de uma sociedade de indivíduos conscientes, responsáveis, autônomos. Este ide-
al, não por acaso, está expresso no artigo 2o da lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, como também é
enfatizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais, instrumento criado pelo Mi-
nistério da Educação para orientar os professores a aperfeiçoar os currículos
escolares. [...]
Gostaria de tratar aqui particularmente desse princípio – educar para cida-
dania –, sempre reafirmado por aqueles que refletem sobre educação, mas talvez
ainda não suficientemente compreendido e desenvolvido. Felizmente não pre-
cisamos mais imaginar, como muitos de nós fazíamos em tempos de ditadura,
que o ensino de História destina-se a formar rebeldes, nem acreditar que o seu

XXII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 22 01/09/22 22:06


objetivo, segundo antigos pressupostos conservadores, seria estimular o amor à
pátria e aos seus heróis.
[...] Num país onde a grande maioria da população não sabe ler, ou mal en-
tende o que (logo não sabe também escrever), o ensino de História, e de outras
disciplinas, deve, em consequência, vir acompanhado de investimentos perma-
nentes em leitura, redação e reflexão – competências que as aulas expositivas e
o tradicional sistema de perguntas e respostas não ajudam a desenvolver.
[...] Ao reduzir o aprendizado a uma série de questões isoladas umas das
outras, o método não favorece a compreensão da dinâmica histórica, isto é, do
todo formado pelas múltiplas relações entre situações, acontecimentos, agentes
sociais e suas respectivas motivações, período histórico, ou seja, a complexidade
e a lógica inerentes ao fato histórico. [...]
Há muitas formas de orientar os alunos a ler o texto histórico, desviando-os
da terrível decoreba. Um exemplo, à maneira de um jogo de desconstrução e
reconstrução, é propor-lhes que identifiquem, a partir de uma espécie de “per-
guntas-chaves”, as informações básicas existentes, digamos, num capítulo do
livro didático: o acontecimento principal e os secundários (o quê?); os agentes
históricos envolvidos – grupos sociais, instituições, indivíduos e seus respectivos
interesses e motivações (quem?); o período histórico e as datas mais importantes
(quando?); o lugar geográfico, político, social (onde?). Com base nessas respostas,
que mais adiante serão enriquecidas com respostas de outras perguntas (como?
e por quê?), o aluno poderá redigir seu texto-resumo, no qual irão figurar as
informações essenciais. Essa sinopse do fato histórico é o “esqueleto”, o núcleo
desse fato, e é também o que vai possibilitar ao aluno se situar no tempo, no
espaço, na história, é o seu “chão” histórico, é a base para argumentação.
Outro procedimento importante é levar os alunos a diferençar as noções
gerais das particulares, operação mental que os ajuda a hierarquizar os fatos.
O modo mais simples de trabalhar tais noções é, neste caso também, orientar
a leitura. Num texto em que o assunto, por exemplo, seja mudanças, pedir que
registrem os tipos de mudanças (econômicas, políticas, culturais); em seguida,
que identifiquem ou detalhem as inúmeras mudanças e as enquadrem nos tipos
gerais. É preciso ainda deixar claro para os alunos que o texto histórico, como
qualquer texto científico ou didático, contém uma série de categorias de análise
e conceitos próprios ao conhecimento. São condições do conhecimento. Deter-
minar que façam um glossário, consultando o próprio livro e o dicionário, ao
invés de se limitarem ao vocabulário existente em alguns livros, é outra forma
de enfatizar que cabe a eles o ato de conhecer.
Longe de dificultar a aprendizagem, tais procedimentos desenvolvem e va-
lorizam a inteligência dos alunos, fazendo-os se sentir pensantes, produtivos,
capazes de compreender, reproduzir, e até mesmo refazer, na forma de textos,
uma certa lógica da história. Os primeiros textos, redigidos sob a orientação do
professor, são o primeiro ponto de chegada, que se tornará novo ponto de partida
quando os alunos sentirem-se em condições de escrever com mais autonomia, já
tendo assimilado os conceitos necessários, já estando mais familiarizados com o
texto histórico e, estimulados pelo professor, cada vez mais aptos a fazerem suas
próprias deduções, seus questionamentos à própria História etc.
“Escrever para aprender”, lembra Gisele de Carvalho, que assim recupera
algumas das grandes tarefas do educador: “Se [...] escrever significa registrar os
caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da ma-
téria que ensinamos, temos uma tarefa em comum [...]: se todos nós, de uma
forma ou de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever...”.

XXIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 23 01/09/22 22:06


Admiramos hoje a desenvoltura com que os jovens manejam seus computa-
dores, navegam nesses mares antes inimagináveis da Internet, criam seus blogs,
repaginam-se permanentemente, enviam e recebem mensagens em tempo real
(usando uma língua um tanto estranha, é bem verdade!).
Aparentemente nenhum mistério os detém, e eles nos dão demonstrações
diárias de habilidade, curiosidade, criatividade. Nosso desafio, prepará-los nessa
era planetária para a grande aventura do conhecimento e da lucidez, talvez seja
mais fácil de superar do que pensamos.
RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar história.
Nossa História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 6, p. 76-78. abr. 2004.

Texto 3
O texto a seguir é de Fernando Seffner, mestre em Sociologia e doutor em Educação pela UFRGS.

O que se espera que o aluno escreva em história?


A leitura e a escrita de textos históricos devem levar em conta a necessidade
de explicação e utilização de conceitos. Conceitos entendidos aqui como ferramen-
tas de análise, e como possibilidade de universalizar uma discussão. Trabalhamos
em história sempre com a análise de situações determinadas. Discutir a qualidade
da escrita histórica envolve analisar os recursos conceituais utilizados, as fontes
consultadas, a problemática construída, as questões propostas e o estilo narrativo.
Digamos que a situação em estudo seja o 31 de março de 1964 no Brasil. O
professor seleciona questões e prepara atividades de leitura sobre o tema, a partir
de trechos de livros didáticos, notícias de jornais da época, depoimentos colhidos
pelos alunos com seus pais, parentes e vizinhos, observação e descrição de fotos
e imagens do movimento militar, trechos de discursos e outras falas de época e
trechos de filmes que transitam por este acontecimento. Enriquecida a discussão
com essa variedade de material, o professor busca com os alunos os conceitos que
melhor podem expressar a análise do período estudado. Nesse caso, uma possi-
bilidade seria trabalhar os conceitos de mudança e permanência (o que deveria
mudar, na opinião de cada um dos grupos envolvidos no episódio? O que deveria
permanecer como estava, na opinião de cada um dos grupos envolvidos?), e os
conceitos de golpe militar, revolução e contrarrevolução.
Finalizando a discussão, o professor pode propor a cada aluno uma produção
escrita, analisando a situação estudada. Essa análise deve ser feita a partir dos con-
ceitos estudados e questões discutidas. Uma boa proposta é pedir ao aluno que rela-
cione o 31 de março de 1964 com outros episódios da história brasileira, nomeados
como revolução ou golpe, nos quais também houve um tensionamento entre grupos
que propunham mudanças ou permanências na estrutura política brasileira. Dessa
maneira, a escrita de textos de análise histórica pelo aluno possibilita operar com
conceitos que permitem a comparação entre características de diferentes períodos
históricos.
Ler é compreender o mundo, e escrever é buscar intervir na sua modificação. Ao
pedir que o aluno escreva um texto de análise histórica, estaremos sempre buscando
extrair dele uma posição frente à discussão. Portanto, estamos trabalhando no senti-
do de que cada aluno desenvolva uma capacidade argumentativa própria, utilizando
conceitos claros, num ambiente democrático de troca de ideias e convívio de opiniões
diferenciadas. Isso colabora para a formação da identidade política de cada aluno. O
que não podemos permitir é que as atividades de leitura e escrita na aula de história
se transformem num ritual burocrático, em que o aluno lê sem poder discutir, res-

XXIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 24 01/09/22 22:06


ponde questionários mecanicamente e escreve texto buscando concordar com o pro-
fessor para ter sua boa nota assegurada. Aqui, vale parodiar a frase de Dante Alighie-
ri, ao descrever as diferentes partes do inferno: “os níveis mais baixos do inferno estão
reservados para aqueles que, em tempos de crise moral, se mantiveram neutros ou
indiferentes”. Temos que lutar para a construção de uma postura crítica e filosófica
frente aos textos, fugindo da leitura instrumental ou dogmática, que termina sempre
em “decoreba”. Uma postura que exija do aluno leitor uma posição, uma opinião fun-
damentada. Buscamos formar alunos que elaborem seu projeto de vida, posicionan-
do-se frente às questões polêmicas da vida social, construindo alternativas políticas
viáveis e manifestando com clareza e argumentação coerente suas opiniões. [...]
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et al. (org.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 119-120.

2.6 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A FORMAÇÃO


DE LEITORES/ESCRITORES
O desenvolvimento da competência leitora e escritora é responsabilidade de todas as áreas de conheci-
mento e não somente da área de Língua Portuguesa. A História, importante ciência humana, pode e deve
dar uma contribuição decisiva nesse processo, e uma das condições para isso é o trabalho planejado com di-
ferentes tipos de textos e com uma diversidade de linguagens (cinematográfica, fotográfica, pictórica, a dos
quadrinhos, a do desenho, a da charge, entre outras).
Boa parte do que os alunos aprendem em História na escola é resultado da leitura (de textos e imagens), daí
a importância de familiarizá-los também com os procedimentos de leitura, específicos e diferenciados, adequa-
dos a cada um desses registros. Sem adentrarmos na discussão teórica sobre o assunto, é importante lembrar
que imagem e texto possuem estatutos diferentes e demandam tratamentos e abordagens diferenciadas.
Sabendo-se que a leitura possibilita o acesso a conteúdos e conceitos históricos, a tarefa de ensinar a ler e escre-
ver deve ser vista como parte integrante da disciplina de História durante o Ensino Fundamental – Anos Finais. Ao
receberem um tratamento adequado, os textos e as imagens deixam de servir só para ilustrar ou exemplificar um
determinado tema e passam a ser materiais a serem interrogados, confrontados, comparados e contextualizados.
Com esse objetivo, estimulamos a leitura de diferentes gêneros de texto e exploramos de forma sistemática
a leitura e interpretação de imagens fixas. Além disso, incentivamos a escrita, inclusive porque ler e escrever são
competências interdependentes e complementares. Daí termos usado na obra textos historiográficos, históricos,
literários, oficiais, biográficos, científicos, depoimentos, entrevistas, notícias, obras de arte, fotografia, desenho,
charges, caricaturas, tiras de quadrinhos, mapas, gráficos, tabelas, cartazes de propaganda, entre outros.
Mas somente o trabalho sistemático e planejado permite aos alunos, como leitores e escritores, com a
mediação do professor, conquistar autonomia para ler e contextualizar textos e imagens.

2.7 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A PROMOÇÃO


DA CIDADANIA
Como vimos, com base na reflexão de Jaime Pinsky (2003), o termo “cidadania” pode ser definido como
condição de quem possui direitos civis, políticos e sociais. Para uma maior compreensão do conceito e da
prática da cidadania na história recente do Brasil, vamos apresentar, de modo breve, uma importante expe-
riência cidadã da nossa história: a luta do Movimento Negro pela inserção da África nos currículos escolares.

XXV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 25 01/09/22 22:06


2.7.1 • Por que estudar a temática afro e a temática indígena?
Desde 1981, o mais destacado dos movimentos sociais de defesa dos direitos das populações negras
no Brasil já reivindicava a inserção da História da África e dos afro-brasileiros nos currículos escolares, o
que, por si só, evidencia sua importância nas conquistas posteriores envolvendo legislação e Estado. Nas
décadas seguintes, o Movimento Negro manteve-se ativo e, juntamente com seus aliados da sociedade ci-
vil, conseguiu uma grande conquista em 2003, quando, coroando uma luta de décadas, foi promulgada a
lei no 10.639/2003, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileiras.
A lei no 11.645/2008 modificou a lei no 10.639/2003 e acrescentou a obrigatoriedade de também se estu-
dar história e cultura dos povos indígenas no Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas e particulares.
Então, perguntamos nós, é por obediência à lei que se deve estudar a temática afro e a temática indígena?
Não só, pois, além de obedecer à lei e contribuir, assim, para a construção da cidadania, há razões para
se trabalhar a temática afro e a indígena na escola que merecem ser explicitadas, a saber:
a) o estudo da matriz afro e indígena é fundamental à construção de identidades;
b) esse trabalho atende a uma antiga reivindicação dos movimentos indígenas e dos movimentos negros: “o
direito à história”;
c) o estudo dessas temáticas contribui para a educação voltada à tolerância e ao respeito ao “outro” e, as-
sim sendo, é indispensável a toda população brasileira, seja ela indígena, afro-brasileira ou não.
Cabe lembrar também que a população indígena (817 mil pessoas), segundo o Censo do IBGE (2010),
vem crescendo e continua lutando em defesa de seus direitos à cidadania plena. Já os afro-brasileiros (par-
dos e pretos, segundo o IBGE) constituem cerca de metade da população brasileira. Além disso, todos os
brasileiros, independentemente da cor ou da origem, têm o direito e a necessidade de conhecer a diversida-
de étnico-cultural existente no território nacional. Sobre esse assunto, o historiador Itamar Freitas disse:

Em síntese, nossos filhos e alunos têm o direito de saber que as pessoas são
diferentes. Que o mundo é plural e a cultura é diversa. Que essa diversidade deve
ser conhecida, respeitada e valorizada. E mais, que a diferença e a diversidade
são benéficas para a convivência das pessoas, a manutenção da democracia, e a
sobrevivência da espécie. [...]
FREITAS, Itamar. A experiência indígena no ensino de História. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010.
(Explorando o ensino, v. 21, p. 161).

2.7.2 • Festival Afro-Arte: expressões culturais Afro-brasileiras


no ambiente escolar
Apresentamos, a seguir, uma ação pedagógica implementada no âmbito do Festival Afro-Arte, realizado anu-
almente desde 2010 nas escolas do município de Maracanaú (CE). A proposta desse festival é colaborar para um
projeto pedagógico que promova o respeito à diversidade e à diferença, em perspectiva interdisciplinar.

Construir o Álbum Cultura, Memória e Identidade


O Álbum Cultura, Memória e Identidade é um mostruário da expressão cultu-
ral escolhida pelo grupo mobilizador da escola para representá-la nas próximas
etapas de seleção e participação da culminância do IX Festival Afro-Arte: Expres-
sões Culturais Afro-brasileiras no Ambiente Escolar. No álbum pode conter to-
dos e quaisquer materiais complementares úteis para uma avaliação detalhada

XXVI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 26 01/09/22 22:06


do trabalho realizado na escola. Referimo-nos a tudo

PRISCYLA ARAUJO DE OLIVEIRA


aquilo que pode ilustrar e acrescentar informações à
experiência; tais como: as atividades desenvolvidas pe-
los alunos, registros escritos, fotográficos, registros em
vídeos, áudio e outras formas de registro que demons-
trem como é a expressão e o que a constitui, como co-
res, sons, figurino, instrumentos, objetos utilizados, o
envolvimento dos alunos e comunidade escolar.

Considerando a diversidade de expressões culturais


possíveis, não há um modelo padrão para a confecção do
álbum. Cada escola irá definir a melhor forma de docu-
mentar a expressão cultural selecionada, usando sua cria-
tividade, mas informando de modo bastante preciso como
ela é e como se apresenta na região. A ficha de identifica-
ção da expressão cultural será anexada ao álbum.
Uma das ações do
Festival Afro-Arte Para a construção do álbum (Portfólio), os passos são:
é o projeto “Saias
que contam”. • Fotografar, filmar e gravar a expressão cultural selecionada.
Fotografia de alunas • Arquivar, separadamente, as fotos, produções textuais de diversos gêneros
da rede pública (dissertação, cordel, poesias...) e gravação.
participantes desse
projeto. Maracanaú, • Selecionar o material que fará parte do álbum.
(CE), 2018. • Definir a forma de apresentação dos registros.
• Organizar o álbum de forma ordenada e lógica.
• Preencher e anexar a ficha de identidade da expressão cultural.

Monitorando e avaliando
Durante todo o processo, as ações desenvolvidas serão monitoradas e avalia-
das pelos/as participantes, podendo ser redirecionadas, sempre que necessário.
No final, uma avaliação geral também pode ser feita, para dimensionar os resul-
tados alcançados, as dificuldades, as ações futuras, os ganhos relacionados ao
trabalho desenvolvido em torno da valorização dos conhecimentos e da cultura
afro-brasileira na comunidade escolar do município.
A mobilização cultural pode se transformar em uma ação forte e poderosa
de educação das relações étnico-raciais, bem como as atividades do IX Festival
Afro-Arte no Ambiente Escolar no município de Maracanaú. É muito importante
que esta mobilização contribua para o desenvolvimento de políticas públicas que
afirme direitos historicamente negados, ao mesmo tempo em que desmobilizem
preconceitos, desigualdades e discriminação de toda ordem. Por isso, é funda-
mental que todo o processo seja documentado e o material produzido colocado
à disposição da comunidade escolar em feiras culturais nas escolas, bibliotecas
e demais lugares públicos no município, inclusive na internet.
É preciso também monitorar os efeitos gerados e dar continuidade à mobi-
lização cultural nesta proposta. Essas medidas pretendem estabelecer uma cul-
tura de respeito à diversidade de afirmação dos direitos de todas as pessoas no
Brasil, independentemente da etnia ou cor da pele.
GRANGEIRO, Ilza (coord.); BRAGA, Marigel; LIMA, Glaudia de; MIRANDA, Marcos; MURILO, Sérgio.
Guia metodológico para preparação do IX Festival Afro-Arte: expressões culturais afro-brasileiras no ambiente
escolar. Diretoria de Educação: Coordenadoria de desenvolvimento curricular: Maracanaú, 2018. p. 9-10.

XXVII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 27 01/09/22 22:06


2.8 TEXTOS DE APOIO
O objetivo desta seção é oferecer alguns textos relevantes sobre História e ensino de História.
Texto 1

O conhecimento
O conhecimento antigamente era estável, as transformações ocorriam muito
lentamente. Para obter conhecimento, o homem se dedicava a uma série de exer-
cícios mentais que se repetiam em livros, na sala de aula e no cotidiano. Podíamos
memorizar uma série de informações, aprender regras de retórica, decorar tabua-
das e seríamos reconhecidos pela comunidade como homens cultos, ponderados
nas decisões, prováveis “vencedores”. Nesse mundo marcado pela tranquilidade,
pela repetição, pelas relações sensoriais e não virtuais, nesse mundo antigo so-
brava tempo até para amar. Os ancestrais deixavam como herança modelos que
serviam de modelo para uma vida. Não era dinheiro mas gerava tranquilidade.
Existia nesse velho mundo um horizonte seguro para onde devíamos caminhar.
Hoje é assim?
Não.
Como as mudanças eram lentas, o homem podia perpetuar formas de com-
portamento, podia ensinar fórmulas, sugerir procedimentos ou ainda contar fá-
bulas exemplares. Casamento era para a vida toda, emprego público significava
segurança na velhice, diploma, um eterno seguro-desemprego.
Como cada coisa ocupava, por muito tempo, o mesmo lugar nós podíamos en-
sinar uma receita adequada para o sucesso: estude! Tenha um diploma! Vá para a
cidade! Tome Biotônico Fontoura! A relação entre expectativa e resultado era, quase,
linear.
[...]
E agora como ficam os modelos?
Primeiro, nós temos que descobrir o que são modelos. E isso representa um
longo aprendizado, tarefa para um professor.
[...]
Se não sabemos colocar o problema, observar uma situação por diferentes
ângulos, trabalhar inúmeras variáveis, estabelecer relações, discutir as premis-
sas, não encontraremos o campo da provável solução. Se não sabemos questio-
nar hipóteses também não saberemos enfrentar mudanças.
Como enfrentar a mudança?
Identificando, comparando, relacionando, traduzindo e abstraindo.
THEODORO, Janice. Educação para um mundo em transformação. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2016. p. 51-53.

Texto 2

O papel do professor de História


É necessário [...] que o ensino de História seja revalorizado e que os profes-
sores dessa disciplina conscientizem-se de sua responsabilidade social perante
os alunos, preocupando-se em ajudá-los a compreender e – esperarmos – a me-
lhorar o mundo em que vivem.
Para isso, é bom não confundir informação com educação. Para informar aí
estão, bem à mão, jornais e revistas, a televisão, o cinema e a internet. Sem dúvi-

XXVIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 28 01/09/22 22:06


da que a informação chega pela mídia, mas só se transforma em conhecimento
quando devidamente organizada. E confundir informação com conhecimento tem
sido um dos grandes problemas de nossa educação... Exatamente porque a infor-
mação chega aos borbotões, por todos os sentidos, é que se torna mais importante
o papel do bom professor.
[...]
Mais do que livro, o professor precisa ter conteúdo. [...] É inadmissível um
professor que quase não lê. Se o tempo é curto, se as condições de trabalho
são precárias, se o salário é baixo, se o Estado não cumpre sua parte, discuta-
-se tudo isso nas esferas competentes e lute-se para melhorar a situação dos
docentes, em vez de usar isso tudo como desculpa para a falta de empenho
pessoal em adquirir conhecimento, entrar em contato com uma bibliografia
autorizada, conhecer novas linhas de pensamento e discutir com os colegas
estratégias para melhor operacionalizar nas salas de aula o patrimônio cultu-
ral e histórico.
[...]
Valendo-se dessas considerações, é preciso que o professor tenha claro o
que e como ensinar.

Pela volta do conteúdo nas aulas de História


O passado deve ser interrogado a partir de questões que nos inquietam no
presente (caso contrário, estudá-lo fica sem sentido). Portanto, as aulas de His-
tória serão muito melhores se conseguirem estabelecer um duplo compromisso:
com o passado e o presente.
Compromisso com o presente não significa, contudo, presentismo vulgar, ou
seja, tentar encontrar no passado justificativas para atitudes, valores e ideolo-
gias praticados no presente [...]. Significa tomar como referência questões sociais
e culturais, assim como problemáticas humanas que fazem parte de nossa vida
[...].
[...] Compromisso com o passado é pesquisar com seriedade, basear-se nos
fatos históricos, não distorcer o acontecido, como se esse fosse uma massa amor-
fa à disposição da fantasia de seu manipulador. Sem o respeito ao acontecido a
História vira ficção. Interpretar não pode ser confundido com inventar. E isso
vale tanto para fatos como para processos. [...]
Afirmações baseadas apenas em filiações ideológicas são, no mínimo, des-
prezíveis, podendo tornar-se perigosas quando, além de não verdadeiras, acabam
se tornando veículos do preconceito e da segregação. É o caso de, por exemplo,
“verdades” como “os índios não são bons trabalhadores”, “as mulheres são infe-
riores”, “os jovens são sempre revolucionários” [...].
[...] Defendemos, pois, a “volta” do conteúdo às salas de aula, da seriedade. E,
do óbvio: a tentativa de interpretação deve, necessariamente, ser precedida pelo
entendimento do texto.
[...]
Um modo mais construtivo (sem trocadilhos) seria adotar como postura de
ensino (que se quer crítico) a estratégia de abordar a História a partir de ques-
tões, temas e conceitos. [...]
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar: por uma História prazerosa e consequente.
In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 22-25.

XXIX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 29 01/09/22 22:06


Texto 3

Exploração do espaço e dos objetos


Os projetos de Educação em ambientes de museus sistematizaram uma me-
todologia cujas etapas podem ser sintetizadas em: observação, registro, exploração
e apropriação [...]. Essas etapas não precisam ser trabalhadas separadamente. É
possível realizar uma abordagem simultânea ou enfatizar um dos aspectos, o
que dependerá dos objetivos definidos, da faixa etária dos alunos e do tempo e
dos recursos disponíveis para a atividade.

Construção do conhecimento
A finalização do trabalho deve ocorrer, necessariamente, com produções dos
alunos. Nessas produções, os estudantes deverão sintetizar o processo vivenciado
e avaliar tanto a experiência como a si mesmos em relação ao desenvolvimento
da atividade. Assim, sugerimos a produção de caderno de textos, desenhos, gráfi-
cos, painéis, jornal-mural, vídeos e a organização de uma exposição com objetos
e imagens. A seguir, propomos duas atividades que podem ser realizadas em
grupos e por diferentes faixas etárias:
• Colagem com recortes de revistas e papel colorido, além de desenho e pintura
para criar uma imagem a respeito da visita da turma à exposição.
• Elaboração de uma história com os objetos da exposição que suscitaram mais
interesse.
• Em grupo: Se pudessem criar um museu, como ele seria? Sobre qual tema?
Que elementos – objetos e imagens – escolheriam para uma exposição?
ABUD, Kátia Maria. Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
(Coleção Ideias Em Ação, p. 141-143).

Texto 4

Visita a museu
A partir de nossa experiência como educadores de museu, gostaríamos de
apresentar alguns pontos fundamentais que devem ser levados em conta no pla-
nejamento de uma visita:
• Definir os objetivos da visita;
• Selecionar o museu mais apropriado para o tema a ser trabalhado; ou uma das
exposições apresentadas, ou parte de uma exposição, ou ainda um conjunto de
museus;
• Visitar a instituição antecipadamente até alcançar uma familiaridade com o
espaço a ser trabalhado;
• Verificar as atividades educativas oferecidas pelo museu e se elas se adéquam
aos objetivos propostos e, neste caso, adaptá-las aos próprios interesses;
• Preparar os alunos para a visita através de exercícios de observação, estudo de
conteúdos e conceitos;
• Coordenar a visita de acordo com os objetivos propostos ou participar de visita
monitorada, coordenada por educadores do museu;

XXX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 30 01/09/22 22:06


• Elaborar formas de dar continuidade à visita quando voltar à sala de aula;
• Avaliar o processo educativo que envolveu a atividade, a fim de aperfeiçoar o
planejamento das novas visitas, em seus objetivos e escolhas.
ALMEIDA, Adriana Mortara; VASCONCELLOS, Camilo de Mello.
Por que visitar museus. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula.
12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. p. 114.

Texto 5

Orientações para o uso da internet


Se a utilidade da internet é consenso entre os educadores, os procedimentos para seu uso têm sido alvo
de acalorados debates. Uma das questões que mais têm preocupado os educadores é que, se por um lado
a internet facilita o acesso a um leque amplo de textos e imagens, por outro, pode criar o hábito de buscar
o “trabalho pronto”, usando o famoso copiar/colar/imprimir; ou seja, encerrando a pesquisa naquele que
deveria ser o seu primeiro passo. No que tange ao nosso campo de atuação, a questão pode ser resumida na
seguinte pergunta: a internet serve ao professor de História?
Sim, certamente; para isso, sugerimos alguns procedimentos.
a) Definir previamente os objetivos da pesquisa e solicitar aos alunos que, enquanto estiverem pesquisando,
não desviem a atenção da proposta inicial, entrando em salas de bate-papo ou locais para ouvir música
ou jogar.
b) Encorajar a problematização dos materiais encontrados na rede; depois de localizar os sites que tratam
de um mesmo assunto ou tema, estimular o alunado a questionar as fontes em que os sites se apoiam,
identificar as ausências de informações significativas sobre o assunto, confirmar a veracidade das infor-
mações veiculadas, e, por fim, estimular o posicionamento crítico frente às informações e análises ali
disponíveis.
c) Sugerir ao aluno que relacione os sites encontrados a outros materiais sugeridos em aula, favorecendo a
percepção de que sites, livros, revistas científicas e entrevistas são fontes complementares. Isso poderá fa-
cilitar a percepção de que um tema histórico pode ser melhor compreendido se recorrermos a diferentes
fontes e à sua crítica.
d) Alertar o alunado para o fato de que nem tudo o que está na rede é verdade e que as homepages são
por vezes muito pouco consistentes. Por isso, a indicação do tema deve vir acompanhada de perguntas
que orientem o aluno a investigar. Sugerimos, quando possível, oferecer um conjunto de sites confiáveis
sobre o assunto.
e) Incentivar os alunos a trocarem informações com colegas de outras escolas do Brasil e/ou de outros pa-
íses via redes sociais. Através delas, os alunos poderão também entrar em contato com autores, órgãos
governamentais, instituições privadas, blogues de professores, entre outros. Esse acesso a informações/
versões significativas é, com certeza, útil à educação histórica.
Assim utilizada, a internet pode ajudar os estudantes a desenvolverem competências e habilidades que
lhes permitam apreender as várias durações temporais nas quais os diferentes atores sociais desenvolveram
ou desenvolvem suas ações, condição básica para que sejam identificadas semelhanças/diferenças, mudan-
ças/permanências e dominações/resistências existentes no processo histórico.

XXXI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 31 01/09/22 22:06


3 A BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
E O CONTEXTO ATUAL
Esta coleção, que agora oferecemos à leitura, foi escrita no contexto de um amplo debate nacional em
torno da construção de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que define as aprendiza-
gens essenciais a que todos os alunos devem ter direito ao longo da Educação Básica.

3.1 A LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE À BNCC


A BNCC está respaldada em um conjunto de marcos legais. Um deles é a Constituição Federal de 1988,
que, em seu artigo 210, já determinava que: “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”
(BRASIL, 2016).
Outro marco é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (lei no 9.394/1996), que no inciso IV
de seu artigo 9o, afirma:
A União incumbir-se-á de: [...] estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 131, n. 248, 23 dez. 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 22 out. 2018.

A LDB determina também que as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos.
Esta relação entre o básico-comum e o que é diverso está presente no artigo 26 da LDB, que diz que “os
currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter base nacional comum,
a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifi-
cada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”
(BRASIL, 1996).
Disto decorre que o currículo a ser construído deve, então, ser contextualizado. Entende-se por contextu-
alização: a inclusão e a valorização das diferenças regionais, ou mesmo locais, e o atendimento à diversidade
cultural3. Isso é coerente com o fato de que o foco da BNCC não é o ensino, mas a aprendizagem como es-
tratégia para impulsionar a qualidade da Educação Básica em todas as etapas e modalidades.

3
Outro marco legal em que a BNCC se apoia é na lei no 13.005 de 2014, que promulgou o Plano Nacional de Educação: BRASIL. Lei no 13.005, de 25 de junho de 2014.
Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 151, n. 120-A, p. 1, 26 jun. 2014.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 22 out. 2018.

XXXII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 32 01/09/22 22:06


3.2 A BNCC E A BUSCA POR EQUIDADE
A busca por equidade na educação demanda currículos diferenciados e afinados com as inúmeras realida-
des existentes no país. A equidade leva em conta também a variedade de culturas constitutivas da identida-
de brasileira. E, além disso, reconhece a diversidade de experiências que os alunos trazem para a escola e as
diferentes maneiras que eles têm de aprender.
A busca por equidade visa também incluir grupos minoritários, como indígenas, ciganos, quilombolas e o
das pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola. E se compromete com alunos porta-
dores de deficiência, reconhecendo a necessidade de práticas pedagógicas inclusivas, conforme estabelecido
na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei no 13.146/2015).
A busca por equidade quer, enfim, propiciar igualdade de oportunidades para que todos possam ingres-
sar, aprender e permanecer na instituição escolar. Uma escola pensada e organizada com base nesse princí-
pio estará aberta à pluralidade e à diversidade, garantindo, assim, que todos possam desenvolver habilidades
e competências requeridas no mundo contemporâneo. E conseguirá acolher e estimular a permanência dos
estudantes na instituição escolar, independentemente de etnia, religião ou orientação sexual.

3.3 BNCC E CURRÍCULOS


A BNCC e os currículos estão afinados com os marcos legais citados no item 3.1 deste manual e têm papéis
complementares. E, para cumprirem tais papéis, o texto introdutório da BNCC propõe as seguintes ações:

• contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares [...];


• decidir sobre as formas de organização interdisciplinar dos componentes curri-
culares [...];
• selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas [...];
• conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os
alunos nas aprendizagens;
• construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de re-
sultado [...];
• selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos [...];
• criar e disponibilizar materiais e orientações para os professores [...];
• manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curri-
cular [...];
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 16-17.

A implementação da BNCC deverá levar em conta, então, os currículos elaborados por estados e mu-
nicípios, bem como por escolas. Além de incorporar essas contribuições, a BNCC recomenda contemplar
também temas relevantes para o mundo em que vivemos e dar a esses temas um tratamento interdisciplinar.
Entre esses temas, merecem especial atenção:
• Direitos das crianças e adolescentes (lei no 8.069/1990);
• Educação para o trânsito (lei no 9.503/1997);
• Estatuto do Idoso (lei no 10.741/2003);
• Preservação do meio ambiente (lei no 9.795/1999);
• Educação alimentar e nutricional (lei no 11.947/2009);
• Educação em direitos humanos (decreto no 7.037/2009).

XXXIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 33 01/09/22 22:06


3.4 BNCC E A ELABORAÇÃO DE CURRÍCULOS
No aspecto pedagógico, os conteúdos curriculares deverão estar a serviço do desenvolvimento de com-
petências. Competência pode ser definida como possibilidade de utilizar o conhecimento em situações que
requerem sua aplicação para tomar decisões pertinentes.
Não é demais lembrar que a elaboração de currículos com base em competências está presente em gran-
de parte das reformas curriculares de diversos países do mundo. É esta também a abordagem adotada nas
avaliações internacionais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
coordena o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).

3.5 O PODER TRANSFORMADOR DA EDUCAÇÃO


Por acreditarmos no poder transformador da educação, buscamos somar nossos esforços aos dos educa-
dores preocupados com igualdade, equidade, definição de aprendizagens essenciais a que todos devem ter
direito, além de respeito à diversidade e às histórias e culturas locais.
Nesse contexto, acreditamos que, se tais princípios e pressupostos pautarem a construção dos currículos
nos níveis estadual e local, vão colaborar para a formação integral do ser humano, posicionando-o como
protagonista no processo complexo de construção do conhecimento. E podem, além disso, contribuir tam-
bém para aumentar a capacidade do alunado de mobilizar esse conhecimento e aplicá-lo na busca de solu-
ções para os desafios que lhe são postos pela realidade.
Sabemos que, em educação, toda mudança é um processo longo e complexo, que envolve vários atores
sociais. Mas esperamos que esse esforço conjunto, do qual nos dispusemos a participar, empreste maior qua-
lidade à educação e ajude a equalizar oportunidades e reduzir as desigualdades hoje existentes no nosso país.

3.6 A NOSSA COLEÇÃO E A BNCC


Nesse contexto pautado por reflexão, debates e mudanças, e valendo-nos de uma experiência com a es-
crita da História acumulada ao longo dos anos, buscamos produzir materiais impressos e digitais alinhados
aos pressupostos da BNCC, tais como: respeito à pluralidade e à diversidade; busca por equidade e alinha-
mento a uma educação voltada para a inclusão.
Durante a escrita da nossa coleção didática de História, buscamos afinar a nossa sensibilidade a essas in-
tenções nas escolhas iconográficas, nas abordagens culturais e na seleção de conteúdos, oferecendo assim à
leitura uma obra capaz de contribuir efetivamente para a formação integral do ser humano, independente-
mente de sua origem ou condição social.
É um dos propósitos da nossa obra que esses princípios cheguem à carteira do aluno, de norte a sul do
país, em forma de textos, imagens e atividades escolares. E, assim, somar nossos esforços aos dos educa-
dores, pensadores e professores que, de fato, querem contribuir para a construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva.
Acreditamos que essas escolhas vão impactar positivamente a aprendizagem dos alunos. E isso não é pouco
quando se sabe que os leitores (alunos e professores) são a razão principal da nossa existência. Voltando-nos
aos nossos colegas professores, criamos o Livro do professor com orientações página a página, que incorporam
experiências e reflexões oriundas da pesquisa acadêmica e do dia a dia da sala de aula.
Por fim, vale dizer que Austrália, Chile, Reino Unido e Estados Unidos construíram e implementaram uma
base curricular nacional que tem favorecido a diminuição das discrepâncias educacionais e a melhoria da
qualidade da educação. Por que nós não havemos de conseguir?

XXXIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 34 01/09/22 22:06


3.7 AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS PROPOSTAS PELA BNCC
Alinhados à preocupação com o desenvolvimento global do estudante, elencamos a seguir as 10 competên-
cias gerais presentes na BNCC, que subsidiaram a produção da coleção de História que ora oferecemos à leitura.

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo


físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar
aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática
e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criati-
vidade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver
problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às
mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-
-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das lin-
guagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar infor-
mações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (in-
cluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, pro-
duzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na
vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de co-
nhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias
do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e respon-
sabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem
e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em
relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,
com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazen-
do-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, re-
siliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular:
educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 9-10.

XXXV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 35 01/09/22 22:06


3.8 TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS
E COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS
3.8.1 • Temas Contemporâneos Transversais
Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) presentes na BNCC desafiam os estudantes a se posicio-
narem diante de questões urgentes e decisivas para seu desenvolvimento socioemocional, intelectual e en-
quanto cidadãos. Os TCTs se interligam às competências gerais e específicas e, ao mesmo tempo, estimulam
a reflexão e o debate sobre desafios do dia a dia dos estudantes, contribuindo para que desenvolvam seu
projeto de vida, e preparando-os para atuarem com consciência e autonomia na comunidade em que vivem.
Os TCTs estimulam os estudantes a refletirem e a agirem para melhorar o meio ambiente, adotarem
o consumo consciente, aprenderem a lidar com o próprio dinheiro, a cuidarem de sua saúde, com aten-
ção à alimentação, a respeitarem as regras de trânsito, a reconhecerem e valorizarem a diversidade cul-
tural existente no Brasil, e a usarem a ciência e a tecnologia para solucionar problemas e em defesa da
humanidade.
Vale dizer também que, no atual contexto, o enfrentamento desses temas por todos é necessário e ur-
gente. Daí serem chamados de contemporâneos; além disso, os TCTs podem e devem ser trabalhados por
diferentes disciplinas, daí serem chamados de transversais. Os Temas Contemporâneos Transversais não in-
tegram nenhuma área de conhecimento em especial, mas atravessam todas elas, e se conectam à realidade
dos estudantes.
Em alguns temas como, por exemplo, educação ambiental, já temos acúmulo de experiências exitosas de
trabalho interdisciplinar (Geografia, História, Ciências, entre outras), mas os 15 temas, a exemplo de ciência
e tecnologia, atravessam todos os componentes curriculares e desafiam os estudantes a encontrarem solu-
ções para problemas de âmbito comunitário, nacional e/ou mundial.
O trabalho com TCTs pode enfim contribuir para a realização de um duplo objetivo: uma educação volta-
da para cidadania e uma prática educativa que enxerga o estudante como protagonista e, portanto, no cen-
tro do processo de aprendizagem.
Na nossa obra os TCTs estão articulados a um dos modos de organização do currículo; e aparecem ao
longo dos quatros livros. Nos esforçamos para trabalhá-los de modo contextualizado e a partir de situações
vividas por diversos estudantes.

Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser


humano e, quando isso deixa de acontecer, produz alienação e perda do senti-
do social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do
processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e
não se interagem.
Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) têm a condição
de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma inte-
grada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes
em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos
objetos do conhecimento descritos na Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC. Brasília, DF: MEC, 2019, p. 6.

Os Temas Contemporâneos Transversais são em número de 15 e estão agrupados em seis macroáreas


temáticas (meio ambiente, economia, saúde, cidadania e civismo, multiculturalismo, ciência e tecnologia),
como pode ser observado no organograma a seguir.

XXXVI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 36 01/09/22 22:06


MEIO AMBIENTE
Educação Ambiental
Educação para o Consumo
ECONOMIA

EDITORIA DE ARTE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Trabalho
Ciência e Tecnologia
Educação Financeira
Educação Fiscal
Temas
MULTICULTURALISMO Contemporâneos
Diversidade Cultural Transversais na BNCC SAÚDE
Educação para valorização
Saúde
do multiculturalismo nas
matrizes históricas e Educação Alimentar
culturais Brasileiras e Nutricional
CIDADANIA E CIVISMO
Vida Familiar e Social
Educação para o Trânsito
Educação em Direitos Humanos
Direitos da Criança
e do Adolescente
Processo de envelhecimento,
respeito e valorização do Idoso

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC. Brasília, DF: MEC, 2019, p. 7.

3.8.2 • Competências socioemocionais


Alguns TCTs referem-se a vida socioemocional dos estudantes, razão pela qual deve haver espaço para que
possam ser discutidos, principalmente no que tange às relações interpessoais e às diferentes realidades exis-
tentes dentro das comunidades escolares. O trabalho com esses temas, tais como saúde e educação para o
consumo, favorece o desenvolvimento das competências socioemocionais, colabora para a saúde mental dos
estudantes e para o combate ao bullying, promovendo também a cultura de paz na escola e na sociedade.
A BNCC valoriza as competências socioemocionais, listamos a seguir algumas que consideramos relevan-
tes para o trabalho com estudantes de diferentes perfis.
Autoconsciência
Envolve o conhecimento de cada pessoa, bem como de suas forças e limitações,
sempre mantendo uma atitude otimista e voltada para o crescimento.
Autogestão
Relaciona-se ao gerenciamento eficiente do estresse, ao controle de impulsos e
à definição de metas.
Consciência social
Necessita do exercício da empatia, do colocar-se “no lugar dos outros”, respeitan-
do a diversidade.
Habilidades de relacionamento
Relacionam-se com as habilidades de ouvir com empatia, falar clara e objetiva-
mente, cooperar com os demais, resistir à pressão social inadequada (ao bullying,
por exemplo), solucionar conflitos de modo construtivo e respeitoso, bem como
auxiliar o outro quando for o caso.
Tomada de decisão responsável
Preconiza as escolhas pessoais e as interações sociais de acordo com as normas,
os cuidados com a segurança e os padrões éticos de uma sociedade.
BRASIL. Ministério da Educação. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao
bullying. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, [20--]. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-
como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em: 2 ago. 2022.

XXXVII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 37 01/09/22 22:06


3.9 O TRABALHO DOCENTE E A CULTURA DIGITAL

3.9.1 • Aprendizagem e protagonismo do estudante


A metodologia educacional que se propõe ativa entende os estudantes enquanto protagonistas da apren-
dizagem, com consequente mudança na forma como vivenciam esse processo e como se posicionam diante
dele. Em uma postura ativa, os estudantes experimentam novas formas de se relacionar com a aprendiza-
gem, desenvolvendo autonomia e responsabilidade a partir do entendimento da aplicabilidade social do que
se aprende.
Leia o que diz o professor José Moran:

Num sentido amplo, toda a aprendizagem é ativa em algum grau, porque


exige do aprendiz e do docente formas diferentes de movimentação interna e
externa, de motivação, seleção, interpretação, comparação, avaliação, aplicação.
[...] Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodo-
logias em que os alunos se envolvam em atividades cada vez mais complexas,
em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de ma-
teriais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar
inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa.
As metodologias ativas são caminhos para avançar mais no conhecimento
profundo, nas competências socioemocionais e em novas práticas. [...] A apren-
dizagem é mais significativa quando motivamos os alunos intimamente, quando
eles acham sentido nas atividades que propomos, quando consultamos suas mo-
tivações profundas, quando se engajam em projetos em que trazem contribui-
ções, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de realizá-las.
Além da mobilidade, há avanços nas ciências cognitivas: aprendemos de
formas diferentes e em ritmos diferentes e temos ferramentas mais adequadas
para monitorar esses avanços. [...]
O papel do professor é ajudar os alunos a ir além de onde conseguiriam
fazê-lo sozinhos.
MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. José Moran: educação
transformadora. São Paulo, c2018. Disponível em: https://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/
metodologias_moran1.pdf. Acesso em: 18 ago. 2022.

Tendo como pressuposto a garantia de atender às necessidades e aos interesses dos jovens estudantes em
relação a um processo de aprendizagem integral, onde a educação percorra caminhos indispensáveis para a
formação do aluno enquanto cidadão, a BNCC preconiza que as escolas devem:

garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvol-


vimento de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e
ação, essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 465.

Os pressupostos apresentados pela BNCC dialogam com o pensamento expresso por diversos autores ao
compreender o indivíduo em sua totalidade, o que necessariamente inclui o contexto no qual está inserido.
Para que sejam alcançados esses objetivos, as metodologias ativas, ainda que não sejam fechadas em estru-
turas preconcebidas, se sustentam em pilares educacionais, tais como: centralização do processo de aprendi-
zagem no estudante; estímulo à autonomia; criação de espaços nos quais se desenvolvam problematizações e
reflexões acerca da realidade e desenvolvimento da produção do conhecimento de forma individual e coletiva.
Uma educação que privilegie a autonomia dos estudantes, garantindo o protagonismo no processo de
aprendizagem, portanto, deve incluir metodologias que atendam a essa demanda, com materiais relevantes,
assuntos contemporâneos e que conversem com a realidade dos estudantes, colocando-os em posições de

XXXVIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 38 01/09/22 22:06


atuar na resolução de problemas, refletir, tomar decisões, trabalhar de forma coletiva e avaliar os resulta-
dos, buscando o aprofundamento do conhecimento produzido.
Nessa abordagem, é privilegiada a construção coletiva do conhecimento, mediante as interações entre os
diferentes atores que participam do processo de aprendizagem e com o assunto estudado, com práticas que
envolvem a escuta, mas também as discussões, exposições, trocas e questionamentos. Esses procedimentos,
com a mediação do professor, favorecem inclusive o trabalho com estudantes que possam ter diferenças sig-
nificativas de formação. O estudante, em ambiente que tenha a metodologia ativa como norteadora, se apro-
pria dos conhecimentos, compreendendo as possibilidades e as situações de utilização, diante da articulação
que estabelece entre a sua própria vivência, a escola, a comunidade e a sociedade em diferentes escalas. A
partir dessa abordagem, além do engajamento dos estudantes aos conteúdos trabalhados, ao aprimoramente
de habilidades, atitudes e valores, as metodologias ativas contribuem para o desenvolvimento das competên-
cias socioemocionais, criando espaços para que reflitam sobre o lugar que ocupam no mundo e tenham a
suas vivências e saberes socioculturais valorizados na produção do conhecimento científico.
Esta coleção valoriza o protagonismo dos estudantes, a diversidade das culturas juvenis e oportuniza o
trabalho com as metodologias ativas. Nesse sentido, a seção #Jovens na História merece especial atenção,
uma vez que ela propõe o uso de diferentes estratégias, entre as quais podemos destacar:
• revisão bibliográfica (Estado da Arte);
• análise documental (sensibilização para análise de discurso);
• construção e uso de questionários;
• estudo de recepção (de obras de arte e de produtos da indústria cultural);
• observação, tomada de nota e construção de relatórios;
• entrevistas;
• análise de mídias sociais (análise das métricas das mídias e sensibilização para análise de discurso multimodal).

3.9.2 • O trabalho docente


As possibilidades abertas por uma proposta didática-pedagógica centrada na aprendizagem não retiram
a importância do professor, mas promovem um deslocamento, o professor deixa de ser aquele que transfere
conhecimento e passa a ser o mediador, incentivando os estudantes a construírem conhecimento.
Em uma metodologia que se pretende ativa, o professor atua como facilitador e orientador do processo
de aprendizagem, superando o antigo papel de provedor único de informação e conhecimento. O trabalho
do professor também está pautado no planejamento do processo de ensino e aprendizagem, de modo a
proporcionar as condições necessárias para que ele se efetive.
Assim, antes que sejam definidos os métodos e as técnicas aplicados no desenvolvimento da aprendiza-
gem, o professor deve considerar os diferentes contextos que envolvem o grupo escolar, a fim de criar meios
que integrem e alcancem as diferentes realidades. A partir de situações que dialoguem com o universo do
estudante, o saber escolar não se resume à reprodução do conteúdo, mas envolve levar o estudante a apre-
ender também o processo de produção do conhecimento.
As metodologias ativas não se valem de propostas de avaliação mecânicas e repetitivas, mas das que se
apoiam na ação dos estudantes. No caso da História, esses vão produzir conhecimento histórico escolar a
partir de roteiros elaborados e/ou orientados pelo professor.
Espera-se que as propostas valorizem a ação dos estudantes a partir de problemáticas reais, que passem
pela discussão de valores universais, como empatia, respeito e equidade, processos investigativos e de refle-
xão, possibilidade de explorar diferentes fontes de conhecimento, dados e informações, além de variadas
linguagens, incluindo os meios digitais e artísticos, alternando trabalhos individuais e de construção coletiva.
Para que seja possível aplicar metodologias ativas de aprendizagem, é preciso que sejam fornecidos os
meios para os estudantes desenvolverem as competências gerais e específicas. Nesse contexto, o planeja-
mento do docente diante da metodologia aplicada se faz ainda mais necessário, já que, para alcançar os re-
sultados esperados, devem ser elaboradas estratégias didáticas contextualizadas e intencionais, objetivando
acelerar o processo centrado na aprendizagem.

XXXIX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 39 01/09/22 22:06


O método envolve a construção de situações de ensino que promovam uma
aproximação crítica do aluno com a realidade; a opção por problemas que geram
curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e so-
luções; bem como a identificação de soluções hipotéticas mais adequadas à situação
e a aplicação dessas soluções. Além disso, o aluno deve realizar tarefas que requeiram
processos mentais complexos, como análise, síntese, dedução, generalização.
MEDEIROS, Amanda Andrade de; MENDES, Ana Clara Manhães. Módulo 3: Metodologias ativas de ensino-
-aprendizagem: projetos, problematização e o lúdico. In: OLIVEIRA, Cynthia Bisinoto Evangelista de (org.).
Docência na socioeducação. Brasília: Universidade de Brasília, Campus Planaltina, 2014. p. 323.

O planejamento, no sentindo mais amplo, não trata apenas das atividades a serem propostas, mas da
contextualização e da compreensão da heterogeneidade dos estudantes, considerando os anseios próprios
dessa etapa da vida e seus projetos de vida. O planejamento de metodologias ativas, portanto, passa por
criar espaços de valorização das diferentes competências e formas de aprendizagem para que as relações
com o saber científico possam ser estabelecidas. Assim, o conteúdo é apreendido e aplicado na formação
cidadã e autônoma, preparando o estudante para ser um agente de transformação social.

3.9.3 • A cultura digital


A ampliação do acesso aos recursos digitais, ocorrida nas últimas décadas, é um dos fatores que mais têm
modificado a interação entre as pessoas. O uso de celulares e computadores e a interconexão proporcionada
pela internet transformaram significativamente as práticas sociais nos mais diversos campos da atividade hu-
mana e permitiram a interação entre pessoas e entre pessoas e máquinas.
Extremamente atual e necessário, o ensino-aprendizagem no campo das Tecnologias Digitais da Informa-
ção e Comunicação (TDICs) deve ser fomentado e trabalhado no contexto escolar, uma vez que o domínio
de seus usos instrumentaliza os estudantes não só para sua aprendizagem na escola, mas também para sua
atuação no contexto social.
A atividade escolar sobre o uso de tecnologias digitais, unida às experiências prévias dos estudantes sobre o
tema, possibilita o desenvolvimento de habilidades voltadas a uma participação consciente e democrática dos
estudantes na sociedade por meio da comunicação digital, assim como a reflexão sobre os fundamentos das
TDICs e sobre aspectos relacionados à comunicação de dados e à segurança de rede, por exemplo. As tecnolo-
gias digitais são ferramentas que possibilitam o diálogo entre os diversos componentes curriculares e entre as
áreas de conhecimento, por meio da realização de pesquisas, do planejamento para a apresentação de traba-
lhos e da partilha de informações, favorecendo as interações com o mundo virtual e globalizado que nos cerca.
Com relação às práticas e ao uso de recursos digitais, é função dos profissionais da Educação, entre eles
professores, gestores, funcionários de escola, elaboradores de políticas educacionais e fornecedores de pro-
dutos e serviços educacionais, estimular a escola a valorizar a construção de conhecimento fundamentada
em valores éticos e democráticos, inclusive quanto ao acesso à informação e às práticas multimidiáticas de
expressão de valores e manifestações culturais de maneira crítica e responsável.
Isso ocorre pelo fato de os recursos tecnológicos permitirem a análise, a produção, a avaliação e o com-
partilhamento de informações em tempos e espaços distintos daqueles que estão naturalizados no interior
das escolas. Então, ao serem integrados às práticas pedagógicas, permitem a ampliação do universo cultural,
social e de conhecimento dos estudantes.
Esta coleção também abre terreno para o pensamento computacional, que leva ao desenvolvimento
de competências e habilidades específicas associadas à identificação de padrões, à abstração, à visualização
e à generalização. No desenvolvimento de propostas pelas metodologias ativas, o pensamento computacio-
nal conecta-se ao desenvolvimento do pensamento lógico e do pensamento algébrico (tal como previsto na
BNCC), e por isso sua prática não deve ser entendida como uma preparação dos jovens para trabalhar com
computação, mas como uma forma de lidar com problemas que demandam a capacidade de analisar e or-
ganizar logicamente as informações para, posteriormente, resolvê-los de modo eficiente.

XL

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 40 01/09/22 22:06


4 AVALIAÇÃO

Sabe-se que o processo de construção do conhecimento é dinâmico e não linear, assim, avaliar a aprendi-
zagem implica avaliar também o ensino oferecido. É importante que toda a avaliação esteja relacionada aos
objetivos propostos e, para atingi-los, é indispensável que os alunos aprendam mais e melhor. Assim sendo,
os resultados de uma avaliação devem servir para reorientar a prática educacional e nunca como um meio
de estigmatizar os alunos.
Para pensar a avaliação, cuja importância é decisiva no processo de ensino-aprendizagem, lançamos mão
das reflexões de César Coll e dos PCN. Para César Coll, a avaliação pode ser definida como uma série de atu-
ações que devem cumprir duas funções básicas:
• diagnosticar – ou seja, identificar o tipo de ajuda pedagógica que será oferecida aos alunos e ajustá-la
progressivamente às características e às necessidades deles.
• controlar – ou seja, verificar se os objetivos foram ou não alcançados (ou até que ponto o foram).
Para diagnosticar e controlar o processo educativo, César Coll recomenda o uso de três tipos de avaliação.

Avaliação Inicial Avaliação Formativa Avaliação Somatória

Os tipos e graus de
Os esquemas de conhecimento Os progressos, dificuldades, aprendizagem que estipulam
Como avaliar? relevantes para o novo material bloqueios etc., que marcam os objetivos (finais, de nível
ou situação de aprendizagem. o processo de aprendizagem. ou didáticos) a propósito
dos conteúdos selecionados.

No início de uma nova Durante o processo No final de uma etapa


Quando avaliar?
fase de aprendizagem. de aprendizagem. de aprendizagem.

Consulta e interpretação do
Observação sistemática e Observação, registro e
histórico escolar do aluno.
pautada do processo de interpretação das respostas
Registro e interpretação das
aprendizagem. Registro das e comportamentos dos alunos
O que avaliar? respostas e comportamentos
observações em planilhas a perguntas e situações
dos alunos ante perguntas e
de acompanhamento. que exigem a utilização dos
situações relativas ao novo
Interpretação das observações. conteúdos aprendidos.
material de aprendizagem.
COLL, César. Psicologia e currículo. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998. (Série Fundamentos, p. 151).

A avaliação inicial busca verificar os conhecimentos prévios dos alunos e possibilita a eles a tomada de
consciência de suas limitações (imprecisões e contradições dos seus esquemas de conhecimento) e da neces-
sidade de superá-las.
A avaliação formativa visa avaliar o processo de aprendizagem. A avaliação formativa pode ser feita por
meio da observação sistemática do aluno, com a ajuda de planilhas de acompanhamento (ficha ou instru-
mento equivalente em que se registram informações úteis ao acompanhamento do processo). Cada profes-
sor deve adequar a planilha de acompanhamento às suas necessidades.

XLI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 41 01/09/22 22:06


A avaliação somatória procura medir os resultados da aprendizagem dos alunos, confrontando-os com
os objetivos que estão na origem da intervenção pedagógica, a fim de verificar se estes foram ou não alcan-
çados ou até que ponto o foram.
Note-se que os três tipos de avaliação estão interligados e são complementares. Por meio deles o pro-
fessor colhe elementos para planejar; o aluno toma consciência de suas conquistas, dificuldades e possibili-
dades; a escola identifica os aspectos das ações educacionais que necessitam de maior apoio. A avaliação,
portanto, deve visar ao processo educativo como um todo, e não ao êxito ou fracasso dos alunos.
Oferecemos para leitura um texto sobre metacognição, conceito que nos auxilia a pensar de que forma
as progressões de conteúdo nos capítulos, unidades e anos podem ser avaliadas durante o ciclo do Ensino
Fundamental – Anos Finais.

A metacognição
Deve ser ressaltada a importância do trabalho com a metacognição, o qual
consiste, fundamentalmente, no processo de autorreflexão por parte do aluno
acerca da relação que estabeleceu com os conteúdos específicos de cada unida-
de ou capítulo. O objetivo da metacognição é que o aluno seja capaz de identi-
ficar o que aprendeu, comparando com o que já sabia, informando o que consi-
derou mais significativo na aprendizagem, além de destacar os pontos mais ou
menos positivos.

Elementos históricos Indicadores de compreensão pelo aluno


Tem experiências no estabelecimento de limites históricos, como antes de Cristo e
depois de Cristo, geração, década e século. É capaz de: estabelecer sequência de datas
Cronologia
e períodos; determinar sequência de objetos e imagens; relacionar acontecimentos com
uma cronologia.
É capaz de compreender tipos de testemunho que o historiador utiliza. Distingue fontes
primárias de fontes secundárias. É consciente da necessidade de ser crítico na análise de
Testemunhos
documento. Tem consciência de como os historiadores empregam os testemunhos para
chegar a uma explicação do passado.
Linguagem Compreende o significado de determinadas palavras num contexto histórico.
Estabelece comparações simples entre passado e presente com referência a uma
Semelhança e diferença
diversidade de períodos, culturas e contextos sociais.
Entende que a História é tanto um estudo da continuidade como da mudança.
Continuidade e mudança Compreende que um acontecimento histórico pode responder a uma multiplicidade de
causas.
É capaz de se identificar com pessoas que viveram no passado e cujas opiniões, atitudes,
Identificação cultura e perspectiva temporal são diferentes das suas.

O desenvolvimento de múltiplas e diferentes atividades de avaliação pode


substituir a antiga prática de avaliar apenas a memorização do conteúdo com
testes. Entre as atividades sugeridas para avaliação em História, podem ser ci-
tadas:
• atividades realizadas em sala de aula – trata-se de avaliar diariamente, se pos-
sível, a participação e o esforço do aluno em sala de aula. Nesse caso, incluem-
-se os trabalhos produzidos individualmente ou em grupo, os quais são apre-
sentados em sala de aula, seja oralmente, seja por escrito.

XLII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 42 01/09/22 22:06


• atividades que indiquem capacidades de síntese e redação – nesse caso, são
definidos, essencialmente, os aspectos formativos dos critérios, ou seja, a capa-
cidade do aluno para organizar e produzir sua narrativa histórica.
• atividades que expressem o domínio do conteúdo – trata-se de verificar a ca-
pacidade do aluno de comunicar o conteúdo que domina e o grau em que de-
sempenha essa comunicação.
• atividades que expressem a aprendizagem – procura-se, aqui, analisar o desen-
volvimento das capacidades cognitivas do aluno. Por exemplo, quando a pro-
posta de avaliação se referir a um tema tratado no curso, pode ser solicitado
ao aluno que:
• faça uma apresentação o mais geral possível do tema, a qual pode ser empre-
gada para avaliar sua capacidade de explicação e conceituação;
• referencie o tema estudado do ponto de vista temporal, aplicando noções de
tempo como duração, sucessão e simultaneidade;
• faça uma análise do tema proposto, partindo de questões mais gerais para ou-
tras mais específicas e avaliando o estabelecimento de relações de causalidade.
• atividades que explicitem procedimentos – trata-se de evidenciar procedimentos
como aqueles que permitem verificar se o aluno adquiriu a capacidade de lei-
tura de linguagens contemporâneas, como o cinema, a fotografia e a televisão.
Essa perspectiva de avaliação permite, inclusive, que se analise a capacidade
do aluno para lidar com os processos de produção do conhecimento histórico.
Trata-se, por exemplo, de avaliar se ele compreende um documento, ou seja,
se ele sabe identificar tipos de documento, explicar seus conteúdos, analisar a
forma como o documento apresenta o tema, elaborar questões baseadas no do-
cumento, sugerir outras fontes ou documentos que possam ser utilizados para
complementar o tema e elaborar conclusões pessoais com base nos documentos.
É importante que se construam procedimentos e estratégias para avaliar se
o aluno adquiriu conteúdos e construiu procedimentos e estratégias relativas ao
conhecimento histórico. Ademais, torna-se necessário verificar se ele aprendeu a
formular hipóteses historicamente corretas; processar fontes em função de uma
temática e segundo as hipóteses levantadas; situar e ordenar acontecimentos
em uma temporalidade histórica; levar em consideração os pontos de vista, os
sentimentos e as imagens próprias de um passado; aplicar e classificar docu-
mentos históricos segundo a natureza de cada um; usar vocabulário conceitual
adequado; e construir narrativas históricas baseadas em marcos explicativos (de
semelhanças e diferenças, de mudança e permanência, de causas e consequên-
cias, de relações de dominação e insubordinação).
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2009. p. 186-187, 189.

4.1 AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA:


O SAEB E AS CIÊNCIAS HUMANAS
Avaliações em larga escala são ferramentas potentes que fornecem um diagnóstico sobre a qualidade do
sistema educacional como um todo e contribuem para aprimorar e monitorar políticas públicas voltadas para
à qualidade e à equidade na Educação, nos âmbitos municipal, estadual, nacional e internacional.
Em âmbito nacional, uma das principais avaliações em larga escala para o Ensino Básico brasileiro é o
Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb, que foi criado em 1988 e aplicado pela primeira vez em

XLIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 43 01/09/22 22:06


1990. O Saeb desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
é aplicado no quinto e no nono anos do Ensino Fundamental: os estudantes respondem a itens e também a
um questionário socioeconômico, que fornece informações sobre os contextos em que eles vivem e que po-
dem estar associados ao seu desempenho. Assim sendo, o Saeb se constitui em um diagnóstico da educação
básica brasileira e de elementos que podem interferir no desempenho dos estudantes.
Com base nessas evidências, obtidas a cada dois anos, o Saeb informa os níveis de aprendizagem dos
estudantes avaliados e, a partir deles, o MEC e as secretarias estaduais e municipais de Educação podem
aprimorar e monitorar as políticas públicas visando a melhora na qualidade da educação e a diminuição das
desigualdades sociais. Vale frisar que as avaliações em larga escala, a exemplo do Saeb, permitem também
analisar a evolução do sistema educacional ao longo do tempo, de modo que se possa tomar e acompanhar
medidas para melhoria do ensino.
Em 1995, o Saeb passou por uma reestruturação metodológica para que os resultados da avaliação pudes-
sem ser comparados ao longo do tempo. Em 2005, ocorreu outra importante remodelação: o Saeb, passou a ser
composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica, a Aneb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar, a
Anresc, ou Prova Brasil. E, a partir de 2019, assistiu-se a outra mudança ainda: além de Língua Portuguesa e Ma-
temática, os alunos do 9º ano passam a ser avaliados também em Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
Em Ciências Humanas, a matriz de referência do Saeb é formada por eixos temáticos e eixos cognitivos e
contempla temas como poder, direitos humanos, identidades, entre outros.
Na nossa coleção, atividades de diferentes seções estimulam o desenvolvimento de habilidades, compe-
tências e TCTs relacionadas a esses temas e a outros presentes nos objetos de conhecimento da BNCC. Com
isso, visamos colaborar para os estudantes se prepararem para as avaliações em larga escala, em âmbitos
municipal, estadual ou nacional.
E, considerando que o percurso do estudante pelo sistema de ensino é um processo que passa por dife-
rentes etapas, essas atividades todas podem ser vistas como passos preliminares na preparação para avalia-
ções em larga escala a serem enfrentadas pelos estudantes em períodos subsequentes.

4.2 ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO


Recomendamos que se empreguem na avaliação:
a) observação sistemática: visa trabalhar as atitudes dos alunos. Para isso, pode-se utilizar o diário de
classe ou instrumento semelhante para fazer anotações. Exemplo: você pediu que os alunos trouxessem
material sobre a questão do meio ambiente, e um aluno, cujo rendimento na prova escrita não havia sido
satisfatório, teve grande participação na execução desta tarefa; isto deverá ser levado em consideração na
avaliação daquele bimestre.
b) análise das produções dos alunos: busca estimular a competência do aluno na produção, leitura e in-
terpretação de textos e imagens. Sugerimos levar em conta toda a produção, e não apenas o resultado
de uma prova, e avaliar o desempenho em todos os trabalhos (pesquisa, relatório, história em quadri-
nhos, releitura de obras clássicas, prova etc.). Note-se que, para o aluno escrever ou desenhar bem, é ne-
cessário que ele desenvolva o hábito.
c) atividades específicas: visam estimular, sobretudo, a objetividade do aluno ao responder a um questio-
nário ou expor um tema. Exemplo de pergunta: Pode-se dizer que no dia 22 de abril de 1500 o Brasil foi
descoberto? Resposta: Não, pois as terras que hoje são o Brasil eram habitadas por milhões de indígenas
quando a esquadra de Cabral aqui chegou. Complemento da resposta: 22 de abril foi o dia em que Ca-
bral tomou posse das terras brasileiras para o rei de Portugal.
d) autoavaliação: visa ajudar o aluno a ganhar autonomia e a desenvolver a autocrítica. O aluno avalia suas
produções, bem como os critérios usados nas avaliações.

XLIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 44 01/09/22 22:06


5 PROJETOS DE TRABALHO
INTERDISCIPLINAR

Com o objetivo de colaborar para a aplicação de um Projeto de Trabalho Interdisciplinar na escola, elabo-
ramos: a) um texto com orientações para a confecção de um Projeto Interdisciplinar; b) um Projeto que pode
ser aplicado pelos professores, desde que adaptado à realidade da escola onde lecionam. O trabalho com
Projetos permite: superar a representação do conhecimento como algo fragmentado e distanciado das vi-
vências dos alunos; levar em conta o que acontece no mundo social e do conhecimento; receber criticamen-
te a avalanche de informações disponibilizadas pelos meios de comunicação.

5.1 O QUE É UM PROJETO DE TRABALHO?


Segundo o educador espanhol Fernando Hernández, um dos precursores do ensino por projetos, o pro-
jeto de trabalho é um percurso por um tema-problema, que favorece a análise, a interpretação e a crítica
(como contraste de pontos de vista), além de uma atitude interdisciplinar. A interdisciplinaridade pode ser
entendida como uma proposta de trabalho coletivo em que cada disciplina observa o mesmo objeto de estu-
do a partir de seus referenciais, sem, no entanto, perder suas especificidades. Como disse um estudioso:

[...] a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre


os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um
projeto específico de pesquisa. [...]
(JAPIASSU, 1976 apud NOGUEIRA, 2001, p. 143).

A figura a seguir é uma representação esquemática e simplificada da interdisciplinaridade.

o g r a fi a • C i ê nc i as •
• Ge Edu
lês ca
g

ção a •
ia • In

Coordenação
EDITORIA DE ARTE
Físic
stór
Hi

• Ma
uês tem
r t u g át i ca • A
rte • Po
XLV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 45 01/09/22 22:06


Orientações para a elaboração de um Projeto
de trabalho interdisciplinar
O primeiro passo é compor uma equipe interdisciplinar que coordenará o Projeto. Essa equipe deverá
ajudar a integração e a correlação das disciplinas envolvidas, bem como o desenvolvimento das múltiplas
inteligências (MIs) dos alunos. Formada por profissionais de diferentes áreas, essa equipe deverá reunir-se
regularmente com os seguintes propósitos: delimitar o tema e definir como cada disciplina pode contribuir
para investigá-lo; estabelecer os objetivos e coordenar o processo; desafiar e apoiar os alunos, estimulando
a troca de informações entre eles e propondo novas questões; avaliar o processo e auxiliar na avaliação das
aquisições dos alunos; estimular o professor a ver-se como pesquisador e produtor do saber escolar (e não
como divulgador de um conhecimento produzido na universidade).

Etapas de um Projeto
Grosso modo, o Projeto pode ser desenvolvido em quatro etapas:
a) Escolha do tema ou objeto de estudo.
Essa escolha deve ser feita por meio de um amplo debate com os alunos, incorporando seus desejos e
interesses, pois o sucesso do Projeto dependerá, em boa parte, do envolvimento deles no processo. Para a
escolha do tema, propomos que se adotem os seguintes critérios:
1. É relevante, do ponto de vista do aluno?
2. Estimula a adoção de uma atitude investigativa?
3. Facilita o trabalho com valores e atitudes?
Sugestão: escolhido o tema, afixar uma faixa ou painel na entrada da escola com o título do Projeto,
com o objetivo de manter a comunidade externa informada e estimular sua participação.
b) Planejamento efetivo do Projeto, que inclui:
• definir as áreas de estudo. Envolver o maior número de disciplinas possível, estimulando as trocas, a inte-
gração e a correlação das disciplinas no interior do Projeto;
• delimitar o tempo requerido. O tempo poderá variar de um bimestre a um ano letivo;
• estabelecer os objetivos gerais. Os objetivos devem contemplar o estímulo à troca, à pesquisa, à recipro-
cidade, à curiosidade e ao compromisso diante do saber;
• fixar os objetivos específicos por área. Os objetivos específicos de cada disciplina devem manter relação
estreita com o tema do Projeto;
• planejar e propor ações para envolver professores, alunos e comunidade externa.
Professores: selecionar e oferecer aos professores textos científicos, jornalísticos e literários, acompanha-
dos de imagens, visando provocar a curiosidade e o interesse deles pelo tema e estimular seu posicionamen-
to frente ao assunto. Este material poderá também ser afixado em quadros situados na sala dos professores,
na sala da coordenação, na secretaria da escola. Posteriormente, então, convidá-los para trabalhar com esta
temática.
Alunos: debater o tema com os alunos em sala de aula, realizar entrevistas e coletar dados. O debate
pode ser estimulado pela visita de um palestrante ou alguém da comunidade que venha à escola falar aos
alunos sobre o tema. Podem-se também espalhar pela escola frases curtas, interrogativas e/ou reflexivas,
questionando o que se sabe sobre o tema, instigando os alunos a quererem conhecê-lo melhor.

XLVI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 46 01/09/22 22:06


Comunidade externa: ao longo do trabalho, pedir aos alunos que elaborem cartazes e folhetos explicati-
vos à comunidade externa, mostrando a importância do tema e solicitando a participação dela no Projeto.
c) Elaborar ação de um Roteiro de Trabalho:
O Roteiro – construído coletivamente a partir das demandas dos alunos e sob a supervisão da equipe
interdisciplinar – compreende as atividades a serem desenvolvidas, deve contemplar o uso de diferentes lin-
guagens e prever atividades extraclasse. Deverá também ser flexível o suficiente para ser alterado/reelabora-
do de acordo com novos problemas colocados pela pesquisa.
d) Apresentação/exposição do Projeto:
• Exposições científicas e/ou artísticas, abertas à comunidade, onde se exibirão cartazes, vídeos, slides,
maquetes, mapas, histórias em quadrinhos, charges, tabelas, gráficos, estatísticas, fotos, textos, carti-
lhas, encenações e outros trabalhos de autoria dos alunos; apresentação oral, conduzida pelos próprios
alunos, dos trabalhos realizados por eles (individuais ou em grupo).

5.2 PROJETO DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Título: Paz, Respeito e Tolerância


Em um mundo assombrado pela intolerância, pelo desrespeito entre pessoas e povos, e por diferentes
tipos de guerra, o debate sobre violência, desrespeito e intolerância torna-se decisivo para a formação de
uma cultura da paz. Partimos do suposto de que só o conhecimento e a reflexão permanente podem inspirar
atitudes de respeito e de tolerância e difundir a cultura da paz.
Como o tema é muito amplo, a escola poderá trabalhar o que considerar mais interessante ou necessário:
priorizar, por exemplo, o desrespeito e a intolerância entre pessoas e/ou etnias; ou a violência entre povos
e Estados Nacionais; as agressões dos seres humanos à flora/fauna/mares e rios. Cada um desses subtemas
pode ser transformado no tema de um novo Projeto. Seja qual for a abordagem e o recorte temático, é im-
portante historiar o tema e contextualizá-lo, levando em conta, portanto, as dimensões tempo e espaço.
Este nosso Projeto foi pensado para o Ensino Fundamental – Anos Finais. E pode ser dividido em dois mo-
mentos; num primeiro momento, os alunos dos quatro anos vão trabalhar a violência, o desrespeito e a into-
lerância na sua sala de aula, na sua escola e no seu bairro; num segundo momento, os alunos do 6º ano vão
investigar o tema no município; os do 7º ano, no âmbito do estado, os do 8º ano, no país como um todo, e
os do 9º ano, no âmbito mundial.

Equipe interdisciplinar
O Projeto deve ser coordenado por uma equipe interdisciplinar composta de 4 a 5 pessoas de diferentes
áreas, que devem atuar integrando atividades e procedimentos de modo a facilitar a troca e o diálogo entre
os envolvidos. Escolhido o tema, passa-se para a segunda etapa, isto é, o planejamento efetivo do Projeto,
que inclui:

Áreas de estudo
Neste Projeto, previu-se o trabalho para as seguintes disciplinas: História, Ciências, Educação Física, Lín-
gua Portuguesa, Arte, Matemática, Geografia, Informática, Inglês e Espanhol. O ideal é planejar ações para
envolver o máximo possível de disciplinas.

XLVII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 47 01/09/22 22:06


Tempo requerido
Um semestre ou um ano, a depender da decisão conjunta dos envolvidos.

Objetivos gerais
1. Ressaltar e estudar os casos de violência, desrespeito e intolerância nos espaços propostos pelo Projeto;
2. Favorecer atitudes de tolerância e respeito e difundir a cultura da paz tal como proposta pela ONU (Orga-
nização das Nações Unidas);
3. Questionar o uso da violência para a solução de problemas entre pessoas, povos e Estados Nacionais;
4. Conscientizar para o fato de que vivemos em uma sociedade multicultural e pluriétnica e incentivar o respei-
to pelas culturas e artes dos diferentes grupos étnicos que viveram e vivem no território onde é hoje o Brasil;
5. Conhecer e respeitar as culturas dos diferentes povos da Terra;
6. Facilitar a percepção de que é o conhecimento que favorece o respeito e a tolerância e de que não há
cultura superior à outra.

Objetivos por área de estudo


História:
• situar a violência, o desrespeito e a intolerância no tempo e no espaço;
• trabalhar os conceitos de paz, respeito, tolerância, mudanças/permanências, preconceito, discriminação
e racismo;
• estimular o repúdio a todos os tipos de preconceito (de raça, de classe, de gênero, de religião etc.).

Ciências:
• compreender a saúde como bem individual e coletivo, que deve ser promovido pela ação de diferentes
agentes;
• desenvolver o autocuidado, a autoestima e o respeito pelo próprio corpo e pelo do outro;
• reconhecer que a violência e o alto nível de estresse desencadeiam doenças, como hipertensão, síndro-
me do pânico, entre outras.

Educação Física:
• compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, como fator de integração
social e de formação da identidade;
• reconhecer a importância de atitudes pacíficas e do espírito de equipe para o crescimento individual e
coletivo durante a prática do esporte;
• participar de atividades coletivas, sendo solidário com os companheiros e cultivando o respeito ao adversário.

Língua Portuguesa:
• incentivar a leitura, a interpretação e, sobretudo, a produção de textos de diversos gêneros;
• desenvolver o trabalho com diferentes linguagens (escrita, oral, gestual, visual etc.);
• selecionar, organizar e confrontar informações textuais relevantes sobre o tema do Projeto para interpre-
tá-las e avaliá-las criticamente.

XLVIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 48 01/09/22 22:06


Arte:
• Estimular a educação do olhar e a produção artística, pondo os alunos em contato com a arte de povos
que constituíram o que é hoje o Brasil, incentivando o alunado a se expressar por meio de desenhos,
maquetes, pinturas, esculturas, peças teatrais, criações musicais etc.

Matemática:
• Desenvolver ou acompanhar cadeias de raciocínios;
• Lidar com cálculos e números;
• Resolver problemas lógicos, produzir e interpretar tabelas e gráficos.

Geografia:
• Levantar hipóteses sobre as possíveis razões da violência no meio urbano e rural;
• Discutir a situação da flora e da fauna;
• Trabalhar os conceitos de espaço, cidade, fauna, flora, desenvolvimento sustentável e degradação am-
biental e estimular a alfabetização cartográfica.

Informática:
• Conhecer e praticar o uso da internet, como ferramenta aplicada à comunicação, à pesquisa escolar e
ao desenvolvimento do conhecimento.

Inglês/Espanhol:
• Conhecer e usar as línguas inglesa/espanhola como instrumento de acesso a informações sobre diferen-
tes culturas e grupos sociais;
• Estimular nos alunos a produção oral e escrita e a interpretação nessas duas línguas.

Roteiro de trabalho
O roteiro de trabalho proposto a seguir pode e até mesmo deve ser adaptado às necessidades de cada es-
cola. Ele contém dois tipos de atividades: parte 1: atividades destinadas a alunos de todos os anos; parte 2:
atividades diferenciadas para cada um dos anos, visando investigar, mapear e debater o tema. Durante este
processo, os alunos testarão suas hipóteses e sugerirão soluções para os problemas levantados.

5.3 PARTE 1 – ATIVIDADES DESTINADAS A TODOS OS ANOS


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas

1. Concurso de elaboração de um logotipo para o Projeto. Espacial Arte e Informática

2. Pesquisa e registro do significado dos substantivos “paz”, “respeito” Língua Portuguesa,


Linguística
e “tolerância” em português/inglês e/ou espanhol. Inglês e Espanhol

3. Reflexão individual e/ou em grupos: “Sou uma pessoa preconceituosa? Intrapessoal História e Língua
E tolerante? Por quê?”. e Linguística Portuguesa

XLIX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 49 01/09/22 22:06


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
4. Entrevista com alunos da classe seguidas de relatos de casos
de violência e/ou desrespeito havidos entre eles (brigas,
xingamentos, apelidos).
• As pessoas têm respeitado seu próprio corpo e o das outras
pessoas? Tem havido respeito pessoa/pessoa na sala de aula? Língua Portuguesa,
Linguística, Interpessoal
Na escola? No bairro? Ciências, História
e Naturalista
e Geografia
• O ser humano tem apresentado respeito e tolerância em
relação à fauna, à flora e ao planeta?
• Como você está contribuindo ou pode contribuir para ajudar
a melhorar a situação atual?
5. Pesquisa e tradução de textos em inglês e/ou espanhol Língua Portuguesa,
Linguística e Interpessoal
envolvendo preconceitos vivenciados ou presenciados. Inglês e Espanhol
6. Elaboração de histórias em quadrinhos sobre a prática da
violência, do desrespeito e da intolerância na atualidade.
A história pode ser feita em grupo. Um aluno faz o papel Linguística, Espacial Arte, Língua Portuguesa
de roteirista; outro, de desenhista; outro responde pelo e Naturalista e Ciências
preenchimento dos balões de fala; outro faz o papel de editor
(comenta/critica a obra, a fim de aperfeiçoá-la).
7. Coleta de dados sobre a violência no bairro/lugar onde a escola Lógico-matemática História, Geografia
está situada; organizá-los na forma de tabela. e Interpessoal e Matemática
8. Levantamento das espécies animais e vegetais que correm
Ciências e Língua
risco de extinção no Brasil; apontar as razões principais deste Naturalista e Linguística
Portuguesa
fenômeno.
9. Levantamento das indústrias mais próximas da escola
Matemática, Ciências,
causadoras de poluição do ar e/ou rios, indicando por escrito Lógico-matemática,
Geografia e Língua
quais são os agentes poluidores e as consequências e prejuízos Naturalista e Linguística
Portuguesa
causados por eles às pessoas e ao ambiente.
10. Transformação dos dados coletados nas questões 7 a 9 em
porcentagens e gráficos na forma de pizza, barras ou colunas Lógico-matemática,
Matemática e Informática
que poderão ser expostos nas paredes da sala de aula e/ou da Matemática e Informática
escola.
11. Elaboração e encenação de uma peça sobre a violência, o Matemática, Ciências,
Lógico-matemática,
desrespeito e a intolerância, situando a questão no tempo e no Geografia e Língua
Naturalista e Linguística
espaço. Portuguesa
12. Pesquisa de letras de músicas em português, inglês ou
espanhol, que falem de paz, tolerância e respeito, explorando
Língua Portuguesa, Arte,
os recursos estilísticos, semânticos, gramaticais e poéticos Linguística e Musical
História e Geografia
presentes nas letras das canções. Promoção de um festival com
prêmios para melhor intérprete, melhor música, melhor arranjo.
13. Concurso para premiar o melhor texto contendo um pedido de
Linguística Língua Portuguesa
paz ao mundo.
14. Produção e exposição de um painel fotográfico sobre diferentes
tipos de violência, desrespeito e intolerância ocorridos na Arte, História e
Espacial e Linguística
História. As fotos deverão conter o nome do fotógrafo, Língua Portuguesa
data e legenda.

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 50 01/09/22 22:06


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
15. Investigação da situação da vegetação típica do estado
onde se encontra a escola. Elaborar dois mapas: um
indicando a área de ocorrência desse tipo de vegetação
Espacial, Naturalista Geografia, História
em 1500 e outro mostrando sua situação no presente.
e Lógico-matemática e Matemática
Levantar hipóteses e formular explicações sobre o que levou
a isso e o que tem sido feito em favor do desenvolvimento
sustentável no estado.
16. Investigação das doenças com grande incidência no Brasil,
Ciências, Língua
causadas por poluição do ar (como a asma) e das águas Linguística, Espacial,
Portuguesa, Arte,
(como o cólera e a leptospirose), e o que pode ser feito para Interpessoal e Naturalista
Informática e História
evitar ou minimizar o problema.
17. Entrevista com alunos com deficiência, procurando conhecer e
aprender um pouco mais sobre cada uma de suas limitações, Língua Portuguesa
Linguística
e registrar por escrito se já sofreram algum tipo de preconceito. e História
Qual? Onde? Como?
18. Interpretação e comentário do artigo 208, inciso III,
da Constituição Federal de 1988, que determina que:
“o dever do Estado com a educação será efetivado Língua Portuguesa,
Linguística e Naturalista
mediante a garantia de atendimento educacional Ciências e História
especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”.
19. Campanha de conscientização, contendo material escrito
e iconográfico, para incentivar a comunidade externa a ter Espacial, Linguística
Arte e Língua Portuguesa
atitudes de respeito e solidariedade com as pessoas com e Interpessoal
deficiência.
20. Debate sobre a afirmação do Barão de Coubertin, que sintetiza
o espírito olímpico: “O essencial não é vencer, mas competir
Língua Portuguesa,
com liberdade, cavalheirismo e valor”. Depois responder e Linguística
Educação Física
comentar se este princípio tem presidido a prática do esporte
nos Jogos Olímpicos da atualidade.
21. Organização de uma olimpíada escolar, resgatando o espírito
olímpico, ressaltando o respeito entre os atletas e a tolerância Cinestésica-corporal Educação Física
entre as diferentes torcidas. Elaboração de um jornal escolar e Linguística e Língua Portuguesa
sobre o evento.
22. Elaboração de coreografias inspiradas em músicas e danças do
folclore brasileiro, resgatando a diversidade cultural existente Cinestésica-corporal, Arte, Educação Física
no Brasil, registrando por meio de vídeos, fotos, textos, as Musical e Linguística e Língua Portuguesa
diferenças entre elas e chamando a atenção para a sua beleza.
23. Promoção de um amplo debate sobre o estatuto do torcedor,
lei no 10.671, de 15 de maio de 2003, no que se refere aos
direitos e deveres dos torcedores e à atitude das torcidas
Linguística, Espacial Língua Portuguesa,
organizadas dentro e nas imediações dos estádios. Apresentar
e Interpessoal História, Geografia e Arte
o resultado do debate e fornecer sugestões em cartazes com
fotos legendadas, mapas e comentários sobre a violência nos
estádios, suas razões e as formas de evitá-la.

LI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 51 01/09/22 22:06


5.4 PARTE 2 – ATIVIDADES ESPECÍFICAS
Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
1. Pesquisar e debater os problemas causados aos seres humanos
pela ocorrência dos mais variados tipos de violência (social,
Língua Portuguesa,
econômica, política, simbólica, étnica etc.). O 6o ano pesquisará Linguística
História e Geografia
a situação no município; o 7o ano no estado; o 8o ano no país;
e o 9o ano no mundo.
2. Elaborar um mapa da violência no município (6o ano), Espacial, Lógico-matemática Geografia, Matemática
no estado (7o ano), no Brasil (8o ano) e no mundo (9o ano). e Linguística e Língua Portuguesa
3. Produzir um boletim informativo sobre a evolução da violência
contra pessoas no município (6o ano); no estado (7o ano); no Língua Portuguesa,
Linguística e Interpessoal
Brasil (8o ano); e no mundo (9o ano). Apresentar à classe, na História e Informática
forma de um jornal falado, as notícias e os dados pesquisados.
4. Governante por um dia: que medidas você proporia para
solucionar o problema da violência, do desrespeito e da
intolerância? Os alunos do 6o ano vão se colocar no lugar do(a) Linguística, Interpessoal História, Geografia
prefeito(a); os do 7o ano no lugar do(a) governador(a); e Intrapessoal e Língua Portuguesa
os do 8o ano no lugar do(a) presidente(a) da República;
e os do 9o ano no lugar do(a) Secretário(a)-Geral da ONU.

Atividade-síntese do Projeto
Elaborar slogans, folders, banners, cartazes, fotos, mapas, tabelas, gráficos, panfletos, cartilhas e vídeos
objetivando uma grande campanha de conscientização sobre a necessidade de desenvolver atitudes de res-
peito e de tolerância no relacionamento com as pessoas. A campanha deverá enfatizar também a importân-
cia do respeito pelo patrimônio cultural4.
O 6o ano trabalhará a intolerância e o desrespeito na sala de aula, na escola e no bairro; o 7o, as diversas
formas de desrespeito a grupos humanos historicamente discriminados no Brasil, como negros, mulheres e
indígenas; o 8o, a agressão e o desrespeito à fauna e à flora; o 9o, a necessidade de paz, respeito e tolerância
entre os povos e os Estados Nacionais.

4
Segundo o artigo 216 da Constituição Federal de 1988, “constituem patrimônio cultural os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico” (BRASIL, 2016).

LII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 52 01/09/22 22:06


Apresentação/exposição do Projeto:
FICHA no 1 – Modelo de ficha de observação e avaliação dos educadores

Nome da escola:_______________________________________________________
Tema do Projeto:_______________________________________________________
Período de realização: __________________________________________________
Ano: _____ Turma: _____ Responsável pedagógico: _________________________

1. Escolha do tema – você o considerou satisfatório? Por quê?


2. Planejamento (foi amplo, detalhado e flexível?).
3. Envolvimento (foi intenso?).
4. Flexibilidade (houve correção do rumo quando necessário?).
5. Desempenho da Equipe Interdisciplinar durante o processo (foi satisfatório?).
6. A Equipe Interdisciplinar cumpriu a missão de guardiã do processo?
7. Adotou uma postura interdisciplinar e favoreceu a mediação, a pesquisa e o diálogo?
8. O que você aprendeu participando do desenvolvimento de um Projeto Interdisciplinar?
9. Que sugestões críticas você daria para melhorar o planejamento, a execução, a apresentação e a avaliação
do próximo Projeto?

LIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 53 01/09/22 22:06


FICHA no 2 – Modelo de ficha de observação e avaliação dos alunos

Nome da escola:_______________________________________________________
Tema do Projeto:_______________________________________________________
Período de realização: __________________________________________________
Ano: _____ Turma: _____ Responsável pedagógico: _________________________

1. Participação do(a) aluno(a):


a) na elaboração e execução das atividades;
b) no desenrolar do processo;
c) na criação e confecção de produtos e materiais para o Projeto;
d) na apresentação;
e) nas atividades que mais exigiam cooperação e solidariedade.
2. Desempenho do(a) aluno(a):
f) diante de diferentes situações-problema;
g) quanto à aquisição de conteúdos conceituais e procedimentais;
h) quanto à atitude;
i) nas diferentes avaliações;
j) quanto à capacidade de argumentação, oral e escrita;
k) quanto à resolução de problemas.
Obs.: convém verificar também o tipo de inteligência em que o(a) aluno(a) mostrou a maior desenvoltura e
aquele no qual mostrou a menor e, ao mesmo tempo, os tipos de estímulo de que necessita.

Autoavaliação
A autoavaliação é um aprendizado fundamental para a construção da autonomia do aluno; além disso,
democratiza o processo, pois envolve diferentes pontos de vista.
Sugestão de perguntas para a autoavaliação.
1. Você considerou interessante o trabalho realizado durante o Projeto?
2. Tinha conhecimentos anteriores que o auxiliaram na realização?
3. Foi fácil ou difícil? Se foi difícil, saberia dizer por quê?
4. Como você avalia sua participação no grupo? (Realizou tarefas que contribuíram para o trabalho? Sugeriu
formas de organizar o trabalho? Colaborou com seus colegas na realização de suas tarefas?).

LIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 54 01/09/22 22:06


6 AS SEÇÕES
DO LIVRO

A nossa coleção é composta de quatro volumes que buscam apresentar os conteúdos relativos à História
do Brasil e à História Geral de forma integrada. Disse uma historiadora que:

O objetivo central da História Integrada reside na superação da divisão entre


História Geral, das Américas e História do Brasil. Nessa perspectiva, a História
Integrada busca fornecer um estudo que possibilite ao aluno entender a simulta-
neidade dos acontecimentos históricos em espaços diferentes. Pode-se perceber,
entre outros aspectos, que em um mesmo tempo histórico foram vivenciadas
situações diferentes em diversas sociedades. Assim, enquanto em parte da Euro-
pa desenvolvia-se o sistema feudal e sedimentava-se o cristianismo, na América,
povos como os maias e incas organizavam-se em sociedades com características
próprias, construindo cidades e templos, com outra lógica religiosa.
BITTENCOURT, Circe. Desafios da História Integrada. Revista do Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas,
São Paulo, 2001. v. 1, p. 5.

Os livros estão organizados em unidades temáticas que abrigam um conjunto de capítulos.


Vejamos sua estrutura.

6.1 PÁGINA DE ABERTURA DE CAPÍTULO


Cada capítulo se inicia com uma página de abertura, que cumpre a função de introduzir a exposição dia-
logada. Esta página tem funções semelhantes às da página de abertura de unidade, sendo o seu foco volta-
do para o assunto a ser trabalhado no capítulo.

6.2 CORPO DO CAPÍTULO


Construímos o corpo do capítulo entrelaçando texto e imagem e intensificando a exploração pedagógica
do registro visual, que está no cerne de nossa proposta de ensino-aprendizagem. Nesta coleção, a imagem
não serve apenas para reforçar o texto ou dialogar com ele, mas também para a formação de conceitos.
No corpo do capítulo, buscamos também adotar uma linguagem e um tamanho de letra e de entrelinha-
mento adequados ao Ensino Fundamental – Anos Finais. Atentos ao fato de que muitos alunos têm chegado
ao 6o ano com menos de 10 anos de idade e que a maturidade de um aluno de 6o ano é bem diferente da
de um aluno de 9o ano, trabalhamos com diferentes corpos de letra e entrelinhamentos variados. Assim, no
texto principal do 6o e do 7o anos, trabalhamos com corpo 12,5 e entrelinhamento 18; no 8o e 9o anos, tra-
balhamos com corpo 11,5 e entrelinhamento 17.
Buscamos também fundamentar o texto didático com uma produção historiográfica qualificada. Nossa
preocupação não foi incorporar ao texto didático a última pesquisa acadêmica publicada sobre cada assunto
abordado na obra, mesmo porque isso seria impossível, mas incorporar um conhecimento consolidado e re-
conhecido pela comunidade de historiadores profissionais e pesquisadores do ensino de História.

LV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 55 01/09/22 22:06


Entre os exemplos desse esforço de atualização historiográfica, podemos citar a incorporação que fizemos
da crítica de Cláudia Viscardi ao conceito de “política do café com leite” e de sua proposta de se pensar a
força de outros quatro estados, além de São Paulo e Minas Gerais, na política da Primeira República; da crí-
tica de Jorge Ferreira ao conceito de populismo e de sua instigante e original interpretação do golpe civil-mi-
litar de 1964; da interpretação de Angela de Castro Gomes sobre o significado político da morte de Vargas,
entre outras. Do questionamento posto pelo historiador e antropólogo britânico Jack Goody (Renascimento
ou Renascimentos?), bem como sua análise das raízes históricas e culturais do Renascimento italiano, e dos
outros renascimentos havidos à época em outras partes do mundo; do novo olhar sobre a conquista espa-
nhola da América, presente na obra Sete Mitos da Conquista Espanhola, do historiador inglês Matthew
Restall; da perspectiva inovadora do historiador David Abulafia, que desloca sua câmera da terra firme para
as águas salgadas, a fim de ver e escrever a partir do Mediterrâneo uma obra monumental: O grande mar:
uma história humana do Mediterrâneo. E, por fim, mas não menos importante, do instigante Dicioná-
rio da escravidão e liberdade, que reúne brilhantes estudiosos das histórias e das culturas que atam a
África ao Brasil.

6.3 BOXES
Intercalados ao texto principal, inserimos os boxes Dialogando, Dica!, Para refletir, Escutar e falar e
Para saber mais, os primeiros são acompanhados de questões objetivas, reflexivas e/ou argumentativas.
Dialogando
Esse boxe é um convite à participação oral dos alunos; estes são desafiados a responder a uma questão
objetiva, a opinar, a interpretar uma imagem, um gráfico, uma tabela, um texto etc. Essa interrupção do tex-
to principal funciona como uma oportunidade para os alunos colocarem-se como sujeitos do conhecimento
e para dinamizar a aula.
Dica!
Sugestões de vídeos ao longo da obra para ampliar a abordagem do assunto estudado.
Para refletir
Esse boxe traz textos e imagens sobre os conteúdos estudados que, acompanhados de questionamentos
diretos, estimulam os alunos a refletir e discutir sobre os temas abordados.
Escutar e falar
Encoraja o aprimoramento da competência argumentativa dos estudantes e da escuta como elemento
básico do diálogo.
Para saber mais
Nesse boxe, são apresentados textos e imagens com o objetivo de ampliar ou detalhar um assunto deri-
vado do tema principal que possa interessar ao aluno.

6.4 ATIVIDADES
Aprender História depende da leitura e da escrita. E ler e escrever implicam compreensão, análise e in-
terpretação de uma diversidade de gêneros de textos e de imagens fixas (pintura, fotografia, charge) e em
movimento (filmes), além de gráficos, tabelas e mapas. As atividades desta coleção visam, sobretudo, auxiliar
o aluno a desenvolver as competências leitora e escritora, que são complementares e interdependentes, e a
capacitar o alunado para o exercício da cidadania. As imagens podem ser mais bem exploradas com a leitura
do texto instrucional sobre o assunto contido nestes materiais de apoio ao professor.

LVI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 56 01/09/22 22:06


Nas atividades também buscamos estimular os estudantes a: a) traçar paralelos entre o passado e o presente;
b) interrogar o presente, debater e, sobretudo, se posicionar diante de uma questão social, ajudando-o a se
preparar para o exercício da cidadania.
Nesta coleção, o número de atividades – incluindo as das várias seções – é propositadamente grande,
com vistas a oferecer ao educador um leque amplo de possibilidades de escolha, inclusive para suas avalia-
ções. Sabemos que não há tempo hábil para que os alunos se dediquem a todas elas em sala de aula. Suge-
rimos, então, que o professor escolha as atividades mais adequadas à sua proposta de ensino-aprendizagem,
ao projeto político-pedagógico da escola e à quantidade de horas-aula de que dispõe. As atividades estão
distribuídas em seções que consideramos importantes no nosso alinhamento à tese de que ler e escrever é
um compromisso de todas as áreas. São elas:

Retomando
As questões variadas dessa seção, apresentada em todos os capítulos, visam retomar e organizar o estudo
do tema abordado.

Leitura e escrita em História


Visa familiarizar o aluno com diferentes gêneros textuais e estimulá-lo a perceber quem está falando, de
que lugar fala, e capacitá-lo a identificar, relacionar e a contextualizar (habilidades das mais importantes em
História).
Partindo do pressuposto de que qualquer documento possui autoria, público e objeto específico, apresen-
tamos a seguir um roteiro construído a partir de nossas reflexões e da nossa prática docente.

Roteiro para leitura e análise de documentos escritos


1. Título e fonte de onde foi extraído.
2. Tipo de documento [carta, artigo de jornal, legislação, entrevista etc.].
3. Quando, por quem e onde foi produzido.
4. Quem fala [o(a) autor(a)].
5. De onde fala [posição que ocupa na sociedade].
6. Para quem fala? [Para o público em geral? Para seus pares? Para os seus subalternos? Para as autoridades?].
7. Principais ideias e conceitos no texto.
8. Conclusões a que a leitura permite chegar, considerando-se o que está explícito.
9. Conclusões a que a leitura permite chegar, considerando o que está implícito (lembrar que os silêncios de
um texto podem ser tão ou mais importantes do que aquilo que é dito).
10. Cruzar com outras fontes sobre o mesmo assunto.
11. Relacionar o texto com o contexto, salientando a importância dele para o estudo de determinada ques-
tão ou época.
12. Outras conclusões e/ou observações sobre o texto que se considere importante registrar.
Com esse roteiro espera-se ajudar os estudantes a conhecerem as condições de produção do texto em
foco, o lugar de onde se fala, o que foi dito e o que deixou de ser dito, e, aos poucos, permitir que perce-
bam a História como construção. Espera-se, portanto, que aprendam a ler e analisar tanto as vozes do pas-
sado quanto as vozes do presente. Ao mesmo tempo, espera-se que consigam contestar versões que apre-
sentam verdades acabadas e definitivas sobre o assunto estudado.

LVII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 57 01/09/22 22:06


Integrando com...
Com a seção Integrando com..., nos esforçamos para dar um passo, ainda que tímido, em direção à
adoção de uma perspectiva interdisciplinar. As atividades desta seção estimulam o aluno a mobilizar conheci-
mentos e conceitos de outros componentes curriculares

#Jovens na História
Esta seção convida os estudantes a aprofundarem o conhecimento sobre problemas contemporâneos, tra-
balharem noções introdutórias de práticas de pesquisa e participarem ativamente da construção de propostas
para a melhoria do bem-estar próprio, da comunidade em que vive, do país e até do planeta. Nela, são apre-
sentados exemplos de projetos e atitudes bem-sucedidos, sempre considerando o protagonismo e a diversida-
de de culturas juvenis.

6.5 PARTE ESPECÍFICA E FORMATO LATERAL


As orientações pedagógicas presentes neste Manual do professor também contam com uma parte es-
pecífica, que diz respeito a cada um dos volumes da coleção.
A parte específica é organizada em formato lateral e nela constam textos de introdução às unidades;
objetivos desenvolvidos em cada capítulo e justificativas da pertinência desses objetivos; indicações de com-
petências gerais, competências específicas e habilidades da BNCC que serão trabalhadas em cada capítulo;
encaminhamentos para ajudar o professor a desenvolver os conteúdos e a destacar aquilo que merece es-
pecial atenção; atividades complementares, com destaque para as que favorecem a interdisciplinaridade e
o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais; sugestões de livros, áudios, vídeos e textos de
apoio que visam complementar e enriquecer a aula.
Por fim, o Manual do professor oferece as referências bibliográficas com comentários breves que visam
facilitar futuras pesquisas.

LVIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 58 01/09/22 22:06



7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COMENTADAS
ABUD, Kátia Maria. Ensino de História. São Paulo: mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/
Cengage Learning, 2010. aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-
Livro com análises e sugestões práticas para o ensino como-fator-de-protecao-a-saudemental-e-ao-bullying.
de História. Acesso em: 2 ago. 2022.
Artigo que discute o conceito e a aplicação de com-
• BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala petências socioemocionais em ações de combate ao
de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repen- bullying.
sando o ensino).
O livro reúne reflexões sobre o currículo escolar de • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
História e as diferentes linguagens como recursos didáticos. Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC.
Contexto histórico e pressupostos pedagógicos.
• BITTENCOURT, Circe. Desafios da História Integrada. Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em: http://
Revista do Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/
São Paulo, v. 1, 2001. contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso
No artigo, a autora contribui com reflexões sobre a em: 2 ago. 2022.
História Integrada e os desafios que ela impõe. Documento que fornece definições conceituais e
apresenta as fundamentações legais dos Temas Contem-
• BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos porâneos Transversais (TCTs).
e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. (Docência em
formação). • COLL, César. Psicologia e currículo: uma aproximação
Reflexões sobre métodos e conteúdos da História es- psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. 3.
colar. O livro se divide em três seções, dedicadas a pensar ed. São Paulo: Ática, 1999. (Série Fundamentos).
a história da constituição dessa disciplina escolar, méto- Neste livro, César Coll formula uma proposta de cur-
dos e materiais didáticos. rículo tendo como base a interação entre Pedagogia e
Psicologia.
• BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do his-
toriador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. • D’ALESSIO, Marcia Mansor (org.). Reflexões sobre o
Obra sobre o fazer histórico, abordando questões saber histórico. São Paulo: Unesp, 1998.
epistemológicas que conformam uma concepção ampla e Neste livro, os entrevistados Pierre Villar, Michel Vo-
profunda sobre a História como ciência. velle e Madeleine Rebérioux avaliam a contribuição da
Escola dos Annales.
• BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da • FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Antiguidade clássica: a
República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto. história e a cultura a partir dos documentos. 2. ed.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
htm#:~:text=I%20%2D%20construir%20uma%20 Além do cuidado com as fontes e com os textos, o livro
sociedade%20livre,quaisquer%20outras%20 traz uma série de atividades de apoio à aprendizagem.
formas%20de%20discrimina%C3%A7%C3%A3o. • LIMA, Glaudia et al (org.). Guia metodológico para
Acesso em: 30 ago. 2022. preparação do IX Festival Afro-Arte: expressões cultu-
rais afro-brasileiras no ambiente escolar. Maracanaú:
• BRASIL. Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretoria de Educação: Coordenadoria de Desenvolvi-
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. mento Curricular, 2018.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 131, n. 248, Documento que oferece orientações pedagógicas
p. 27833, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www. para o trabalho em sala de aula no ensino da história da
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: África e da cultura afro-brasileira.
30 ago. 2022.
• HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A or-
• BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum ganização do currículo por projetos de trabalho: o co-
Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. nhecimento é um caleidoscópio. 5. ed. Porto Alegre:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o docu- Artes Médicas, 1998.
mento que orienta a formação dos currículos do Ensino Nesse livro, os autores refletem sobre o impacto de
Básico no Brasil. Estruturadas por meio de competências recentes transformações socioculturais sobre a educação e
e habilidades, a BNCC apresenta as aprendizagens essen- apresentam uma proposta de ensino por meio de projetos.
ciais previstas para a educação escolar.
• HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX
• BRASIL. Ministério da Educação. Competências (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
socioemocionais como fator de proteção à saúde mental Obra do renomado historiador inglês, na qual ele ana-
e ao bullying. Base Nacional Comum Curricular, Brasília, lisa os processos sociais ocorridos entre a Primeira Guerra
DF, 2019. Disponível em: http://basenacionalcomum. Mundial e a derrocada da União Soviética.

LIX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 59 01/09/22 22:06


• HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em • PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curricu-
construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Me- lares de referência para o Saeb. 2. ed. Brasília, DF: Instituto
diação, 2005. Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999.
A autora propõe uma proposta de avaliação que seja inte- Documento que apresenta o conjunto de aprendizagens,
grada aos processos cognitivos dos estudantes. conteúdos e habilidades utilizados como referência na constru-
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO ção do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb.

NACIONAL (IPHAN). Patrimônio Cultural Imaterial: para saber
• PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.). História da
mais. Iphan. Brasília, DF, 2012. Disponível em: http://portal.iphan.
cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.
gov.br/uploads/publicacao/cartilha_1_parasabermais_web.pdf.
Acesso em: 2 ago. 2022. Reunindo contribuições de intelectuais renomados, o livro
Documento que apresenta instrumentos e diretrizes dedica- apresenta uma análise da cidadania estabelecida na sociedade
dos à identificação e preservação do patrimônio cultural imaterial. ocidental.

• KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, • RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar história. Nossa
práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 6, p. 76-78, abril de 2004.
O livro se propõe a apresentar reflexões orientadas para Neste artigo, o autor defende a ideia de que, para uma boa
subsidiar as práticas de ensino com colaborações de quatorze formação escolar, além de aprender História, os alunos precisam
especialistas em História. entender o que leem e saber pensar e escrever.

• LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da foto- • SALIBA, Elias Thomé. A produção do conhecimento histórico
grafia histórica. São Paulo: Edusp, 1993. (Texto e Arte, v. 9). e suas relações com a narrativa fílmica. São Paulo: FDE: Dire-
Com base na análise de álbuns de família de imigrantes vindos toria Técnica, 1992. (Lições com cinema).
para São Paulo durante a Grande Imigração, entre 1890 e 1930, a Livro que reflete sobre a utilização do cinema como fonte
autora desenvolve uma pesquisa crítica da fotografia histórica. historiográfica e como ferramenta para o ensino de História.
• MARQUES, Janote Pires. Educação patrimonial e ensino da • SCHAFF, Adam. História e verdade. 6. ed. São Paulo: Martins
história local na educação básica. Ensino em Perspectivas, Fontes, 1995.
Fortaleza, v. 2, n. 4, p. 1-11, 2021. Livro em que o historiador elabora crítica a duas vertentes
Artigo sobre a importância da educação patrimonial e o en- teóricas do campo da História. Por um lado, Adam Schaff critica
sino da história local na formação dos estudantes da educação a pretensão objetivista do positivismo e por outro, o subjetivis-
básica.
mo do chamado presentismo.
• MEDEIROS, A. Docência na socioeducação. Brasília: Universi-
• SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar his-
dade de Brasília, Campus Planaltina, 2014.
Livro que apresenta múltiplas perspectivas sobre a educação tória. São Paulo: Scipione, 2009.
de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Dividido em doze capítulos, este livro cobre diferentes as-
pectos do ensino de História. As autoras abordam desde uma
• MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem perspectiva histórica do ensino desse componente curricular até
mais profunda. José Moran: educação transformadora. São reflexões sobre a avaliação em História no contexto escolar.
Paulo, c2018. Disponível em: https://www2.eca.usp.br/
moran/wp-content/uploads/2013/12/metodologias_moran1. • SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário
pdf. Acesso em: 18 ago. 2022. de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.
No texto, o pesquisador José Moran aprofunda a discussão Obra que apresenta conceitos históricos em formato de ver-
sobre a importância do uso das metodologias ativas para o de- betes, nos quais são elaboradas exposições que ajudam o leitor
senvolvimento integral dos alunos. a compreender elementos teóricos da História.

• NEVES, Iara C. Bitencourt (org.). Ler e escrever: compromisso • SILVA, Maria Lúcia Alves Teixeira. Ensino de história: meto-
de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, dologias ativas e aprendizagem significativa. Informação em
2011. Cultura, Mossoró, v. 3, n. 2, p. 27-46, jul./dez. 2021.
A obra busca explicar a importância da produção de conhe- Artigo sobre o ensino de História com foco nas metodolo-
cimento na educação contemporânea no intuito de proporcio- gias ativas.
nar uma efetiva transformação social.
• VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção
• NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jor- dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. São Pau-
nada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas
lo: Libertad, 1998. (Cadernos Pedagógicos do Libertad, v. 3).
inteligências. São Paulo: Érica, 2001.
Livro em que o professor Celso dos Santos Vasconcellos ela-
Livro em que o autor busca complexificar a visão a respeito
da pedagogia de projetos. bora uma contundente crítica às lógicas e efeitos da avaliação
escolar, que acaba, segundo o autor, por ter um papel predomi-
• OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino nantemente político.
fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria
de Educação Básica, 2010. (Explorando o ensino, v. 21). • VASCONCELOS, Celso dos Santos. Superação da lógica clas-
Coletânea de textos sobre o ensino de História. Nesses tex- sificatória e excludente da avaliação: do “é proibido reprovar”
tos, diferentes autores e autoras refletem a respeito de temas ao é preciso garantir a aprendizagem. São Paulo: Libertad,
que vão desde problematizações sobre os conteúdos ensinados 1998. (Coleção Cadernos Pedagógicos do Libertad, v. 5).
em História nas salas de aula até a incorporação das culturas in- Neste livro, o autor aborda o tema da avaliação e elabora
dígenas e afro-brasileira no ensino deste componente curricular. questões sobre alguns dos impasses vividos em ambiente escolar.

LX

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 60 01/09/22 22:06


8 SUBSÍDIOS PARA PLANEJAMENTO

Os quadros a seguir podem subsidiar o seu planejamento, a depender do cronograma da esco-


la, por meio de uma sugestão de organização dos objetivos e conteúdos em propostas bimestrais,
trimestrais e semestrais a serem desenvolvidas no ano letivo.

B – Bimestre    T – Trimestre    S – Semestre

OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Reconhecer as formas de organização social, os saberes e as
técnicas das sociedades americanas.
• Refletir sobre a dominação e a resistência no interior do Império Os astecas
Asteca.
• Comparar os astecas aos maias no tocante à política.
• Estudar a organização social dos incas.
• Conhecer as formas de organização social dos povos tupis.
Os maias
• Trabalhar a economia e o poder no Império do Mali.
UNIDADE 1 – AMÉRICA E ÁFRICA ANTES DOS EUROPEUS

• Situar o reino do Congo e conhecer sua formação.


• Estudar a economia e a sociedade congolesas.
• Trabalhar as relações entre os congoleses e os portugueses.
• Estudar as cidades iorubás. Os incas
• Analisar aspectos da arte de matriz iorubá.
• Situar o reino do Benin e compreender sua importância na África.
• Valorizar as contribuições da arte de matriz iorubá para a
formação da cultura brasileira.
Os tupis 1O 1O 1O

África: aspectos físicos

Os bantos

Os iorubás

LXI

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 61 01/09/22 22:06


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Evidenciar as mudanças ocorridas na Europa a partir do século O aumento da produção
XI, relacionando inovações técnicas e crescimento populacional. de alimentos
• Compreender o revigoramento do comércio, das cidades e a
formação da burguesia como processos interligados. O revigoramento do comércio
• Identificar os fatores que favoreceram as Cruzadas. e das cidades
• Difundir a cultura da paz, refletindo sobre as guerras com 1O
motivações religiosas.
Conhecimento e arte
• Reconhecer a universidade como uma criação medieval.
• Trabalhar o bloco conceitual dominação e resistência, tendo
como mote as revoltas populares ocorridas na Baixa Idade
Crise, doenças e revoltas
Média.
• Refletir sobre a situação social da mulher no medievo, tomando
como exemplo o caso de Joana d’Arc. A ideia de modernidade
• Relacionar as mudanças socioeconômicas às novas atitudes
e ideias surgidas no Renascimento e trabalhar os conceitos
de Renascimento, humanismo, mecenato, individualismo e O contexto (o surgimento
1O
antropocentrismo. do Renascimento)
• Trabalhar a “educação do olhar” com base nas obras pictóricas
do Renascimento europeu. Renascimento: características
• Conhecer a produção intelectual e artística de renascentistas
UNIDADE 2 – ARTE E RELIGIÃO

de várias partes da Europa.


• Estudar as motivações da Reforma. O humanismo
• Compreender o processo de ruptura desencadeado pelas
95 teses de Martinho Lutero e refletir sobre ele.
• Caracterizar a doutrina luterana. Arte e técnica no Renascimento 1O
• Evidenciar a relação entre imprensa e Reforma protestante.
• Debater sobre a Reforma Católica e a intolerância religiosa
praticada pelos membros da Inquisição. O Renascimento italiano
• Discutir sobre intolerância religiosa no passado e no presente.
A expansão do Renascimento 2O

Motivos da Reforma

Os primeiros reformadores

Martinho Lutero
2O
João Calvino

A Reforma na Inglaterra

A Reforma Católica
ou a Contrarreforma

LXII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 62 01/09/22 22:06


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Trabalhar o processo de formação das monarquias nacionais O fortalecimento do poder
com ênfase na monarquia portuguesa. dos reis
• Caracterizar o absolutismo como um fenômeno com tempo
e lugar definidos. O absolutismo
• Conhecer as práticas mercantilistas. 2O
O mercantilismo: riqueza
• Explicitar os fatores que favoreceram as Grandes Navegações e poder para o Estado
e o seu impacto para os povos envolvidos nesse processo.
A formação das monarquias
• Identificar as razões do pioneirismo português. ibéricas
• Descrever a formação do Império Ultramarino Português.
• Debater sobre as diferentes versões para o significado do Desbravando mares
5 de outubro de 1492.
O que levou os portugueses
• Trabalhar as representações que os portugueses construíram
a navegar em mar aberto?
a respeito da América e dos ameríndios.
• Explicitar as mudanças decorrentes das Grandes Navegações. Portugal, o primeiro nas
• Explicitar as interações que ocorrem nos oceanos Atlântico, Grandes Navegações
Índico e Pacífico. As navegações espanholas
• Comparar as navegações no Atlântico e no Pacífico entre
Cabral toma posse das terras
UNIDADE 3 – FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO

os séculos XIV e XVI.


• Descrever a conquista das terras astecas e incas. brasileiras
• Compreender a administração, a sociedade e a economia Outros europeus (navegadores
na América colonial espanhola. ingleses, franceses e holandeses)
• Construir os conceitos de mita, encomienda e plantation.
• Compreender o funcionamento da administração espanhola A conquista das terras astecas
na América.
• Conhecer alguns povos indígenas que aqui viviam nos tempos A conquista das terras incas
de Cabral. Um novo olhar sobre as razões
• Trabalhar as representações que os portugueses construíram da conquista espanhola
a respeito da América e dos ameríndios por meio da leitura
e da análise da carta de Caminha. Economia colonial
• Compreender os mecanismos de alianças, confrontos e resistência 3O 2O
O controle da colônia pela
nas relações entre os portugueses e os povos indígenas nas
metrópole
terras onde hoje é o Brasil.
• Identificar os motivos da colonização da América portuguesa. Sociedade e poder na América
• Compreender o funcionamento das capitanias hereditárias, dos espanhola
governos-gerais e câmaras municipais, destacando o poder dos O encontro (entre portugueses
“homens bons”. e indígenas)
• Trabalhar o bloco conceitual dominação e resistência, usando como
Expedições, feitorias e pau-brasil
matéria-prima a guerra pela posse da terra entre os tupinambás e
os portugueses (Guerra de Itapuã) e da resistência dos tupinambás
de Olivença aos portugueses que invadiram suas terras. A disputa pela Nova Terra
• Compreender os desafios da monarquia portuguesa ao se decidir
pela colonização das terras brasileiras. O Governo-Geral
3O
• Conhecer o engenho e o modo de produção do açúcar na Colônia.
As Câmaras Municipais
• Refletir sobre a relação entre a chegada dos africanos e a
economia açucareira.
A economia colonial
• Evidenciar a importância do mercado interno e da produção de
alimentos na economia colonial.
• Evidenciar a complexidade da sociedade colonial açucareira.
A sociedade colonial
• Debater a tese de que a escravidão no Brasil colonial foi mais
“amena” do que em outras partes da América.

LXIII

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 63 01/09/22 22:06


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Refletir sobre a relação entre guerra e tráfico atlântico de africanos.
Havia escravidão na África
• Conhecer os agentes responsáveis pelo tráfico atlântico e as
áreas na qual os africanos foram embarcados. antes dos europeus?
• Reconhecer as diferenças entre os africanos ocidentais e os da
região congo-angolana.
Guerra e tráfico atlântico
• Evidenciar a relação entre o aumento da entrada de africanos
no Brasil com os períodos de alta do açúcar, do ouro e do café.
• Estudar as dinâmicas comerciais das sociedades americanas e africanas.
• Refletir sobre o trabalho, a alimentação e a violência contra os A travessia (dos navios negreiros)
escravizados.
• Descrever as diferentes formas de resistência protagonizada pelos
africanos e seus descendentes no território colonial, a exemplo O trabalho (dos africanos
da capoeira, do jongo e das irmandades. e afrodescendentes)
• Mapear a formação de quilombos por todo território colonial,
grandes e pequenos, de curta e de longa duração.
• Trabalhar o conceito de Remanescentes de quilombos e indagar se os Alimentação e violência
alunos conhecem essas formações no estado ou região na qual vivem.
UNIDADE 4 – GENTES E TERRAS DA AMÉRICA PORTUGUESA

• Evidenciar a complexidade da sociedade colonial açucareira.


• Compreender a invasão holandesa no Nordeste como um Resistência (dos escravizados)
capítulo da disputa do mundo atlântico pelos europeus.
• Apresentar as invasões como uma tentativa dos holandeses
de aumentarem sua participação no lucrativo negócio do açúcar A disputa do mundo atlântico
e dos escravizados. pelos europeus – séculos XVI
• Questionar o mito de “bom homem” construído em torno da e XVII
figura de Maurício de Nassau.
• Evidenciar que os conflitos entre Espanha e Holanda e as invasões Nassau no Brasil holandês
holandesas no Nordeste brasileiro são processos simultâneos 4O 3O 2O
e interdependentes.
• Refletir e debater a construção e o significado do mito da
“união das três raças” durante a Insurreição Pernambucana. A Restauração
• Refletir sobre a prática da queimada no passado e no presente.
• Evidenciar para os estudantes os principais agentes da expansão
territorial da América portuguesa: soldados, bandeirantes, jesuítas Os agentes da expansão
e criadores de gado. territorial
• Identificar importantes cidades da região, onde hoje é o
Nordeste, que se formaram em torno de fortes e povoados
que foram fundados por soldados. Os soldados
• Discutir sobre a fundação da cidade de Fortaleza.
• Conceituar “bandeiras” e identificar seu papel na formação
histórico-geográfica do território da América portuguesa. Os bandeirantes
• Trabalhar a resistência guarani, a ação dos bandeirantes e as
vitórias obtidas pelos guaranis nos combates, a exemplo de
Caasapaguaçu e Mbororé.
• Avaliar o papel das bandeiras que pesquisaram o ouro nas Os jesuítas
terras onde hoje são Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
• Refletir sobre o papel das missões jesuíticas, sobretudo no norte
e sul da América portuguesa. A criação de gado
• Compreender a expansão da pecuária no sertão e no sul do
território colonial.
• Retomar e consolidar o conhecimento da formação histórico-geográfica
da América portuguesa por meio de mapas históricos. As novas fronteiras da América
• Identificar a distribuição da população brasileira no território portuguesa
em diferentes tempos e espaços considerando a diversidade.

LXIV

AV_HIS-F2-2111_V7_MPG_GERAL.indd 64 01/09/22 22:06


História
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA
7
ALFREDO BOULOS JÚNIOR
Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

AV2-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 1 16/08/22 13:05

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 1 02/09/22 09:40


História Sociedade & Cidadania
História – 7o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Bárbara Berges, Beatriz Montagnolli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa Andréa Dellamagna
Foto de capa Mekdet/Getty Images
Arte e produção Vinicius Fernandes (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambila
Iconografia Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)
Ilustrações Getulio Delphin, Héctor Gomez, Manzi, Mozart Couto, Osvaldo Sequetin
Cartografia Allmaps, Selma Caparroz, Sonia Vaz

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
História sociedade & cidadania : 7o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.

Componente curricular: História.


ISBN 978-85-96-03551-4 (aluno)
ISBN 978-85-96-03552-1 (professor)

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115042 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Parque Nacional do Iguaçu: Patrimônio Natural Mundial.
Paraná, 04/2019. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 deste livro foram produzidas com fibras
de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
EDITORA FTD.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD
CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 CNPJ 61.186.490/0016-33
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Avenida Antonio Bardella, 300
www.ftd.com.br Guarulhos-SP – CEP 07220-020
central.relacionamento@ftd.com.br Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

AV2-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 2 16/08/22 13:05 D1

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 2 02/09/22 09:40


APRESENTAÇÃO
Caro aluno, cara aluna,

Quero lhe dizer algo que para mim é importante e, por isso, gostaria que você
soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foram necessários o tra-
balho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro.
O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades,
além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas pági-
nas produzidas pelo autor damos o nome de originais.
O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao
autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem ao autor que
refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do
livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão, do Jurídico, entre outros.
Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam
as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas
no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, elaborados por especialistas, os
cartógrafos, e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais
denominados ilustradores.
Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra),
preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e
imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável.
Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam
e padronizam o texto.
A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros
autores e das imagens que irão compor o livro.
Todo esse trabalho é acompanhado pela Diretoria e Gerência Editorial.
Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica,
onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois
de pronto, o livro chega às mãos dos consultores comerciais e educacionais, que
o apresenta aos professores, profissionais que dão vida ao livro, objeto ao mesmo
tempo material e cultural.
Meu muito obrigado, do fundo do coração, a todos esses profissionais, sem os
quais esta Coleção não existiria! Por fim, agradeço à minha equipe e, também, a
você, leitor, motivo de nossa existência.
O autor

13:05 D1-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 3 03/08/22 22:03

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 3 02/09/22 09:40


SUMÁRIO

UNIDADE 1
AMÉRICA E ÁFRICA ANTES DOS EUROPEUS....8
CAPÍTULO 1
Povos indígenas saberes e técnicas .....................10
Os astecas ..........................................................................11
A sociedade asteca .....................................................13
Saberes e técnicas dos astecas ............................14
Os maias .............................................................................15
Sociedade e economia...............................................16
Saberes e técnicas maias ........................................ 17

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Os incas ...............................................................................18
Sociedade incaica .......................................................19
Saberes e técnicas incas ......................................... 20
Técnica, trabalho e impostos ..................................21
Os tupis............................................................................... 22
Modo de viver................................................................ 23
Técnicas e saberes tupis ..........................................24
Saberes e técnicas dos indígenas do Brasil ..... 26
Atividades ..............................................................................27
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

CAPÍTULO 2
Povos e culturas africanas:
malineses, bantos e iorubás .................................. 33
África: aspectos físicos ............................................ 34
O Império do Mali......................................................... 34
Os bantos .......................................................................... 40
Reino do Congo .............................................................41
Bantos no Brasil .......................................................... 45
Os iorubás ......................................................................... 46
Política e economia ....................................................47
A arte de matriz iorubá............................................. 48
O Reino de Benin ......................................................... 49
Iorubás no Brasil ......................................................... 50
Atividades ....................................................................... 53
#JovensnaHistória .................................................. 58

D1-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 4 03/08/22 22:03 D1

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 4 02/09/22 09:40


UNIDADE 2 Renascimento: características ........................... 85
O humanismo .................................................................. 86
ARTE E RELIGIÃO............................................................. 60 Arte e técnica no Renascimento ..........................87
O Renascimento italiano...........................................87
CAPÍTULO 3 Fases do Renascimento ........................................... 88
Mudanças na Europa feudal ................................... 62 A expansão do Renascimento............................... 92
Escritores....................................................................... 92
O aumento da produção de alimentos ............. 63 Pintores .......................................................................... 94
O revigoramento do comércio e das cidades 65 Cientistas do Renascimento .................................. 95
As feiras ......................................................................... 66 Atividades ........................................................................97
Cidades novas e antigas .......................................... 66
Comerciantes, artesãos e suas corporações ...67 CAPÍTULO 5
As cidades se libertam ............................................. 68 Reforma e Contrarreforma ................................... 103
As Cruzadas .................................................................. 69
Motivos da Reforma .................................................. 104
Conhecimento e arte ................................................... 71
Os primeiros reformadores .................................. 105
A universidade .............................................................. 71
Martinho Lutero........................................................... 106
Crise, doenças e revoltas .........................................72 A reforma de Lutero..................................................107
A Guerra dos Cem Anos .............................................73 A Igreja e a doutrina de Lutero ............................ 109
Rebeliões camponesas..............................................75
João Calvino ...................................................................110
Atividades ........................................................................76 Expansão do calvinismo ......................................... 111
CAPÍTULO 4 A Reforma na Inglaterra .........................................112
A Reforma Católica ou a Contrarreforma.....113
Renascimento e humanismo ..................................81 A Inquisição..................................................................115
A ideia de modernidade ............................................ 82 Atividades ......................................................................116
O contexto .................................................................... 83 #JovensnaHistória ................................................ 120

BJANKA KADIC/ALAMY/FOTOARENA

22:03 D1-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 5 03/08/22 22:03

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 5 02/09/22 09:40


Atividades
Atividades
........................................................................76
........................................................................76

UNIDADE 3 Economia colonial.......................................................176


A mineração .................................................................176
FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO.................. 122 A agropecuária............................................................178
O controle da colônia pela metrópole .............179
CAPÍTULO 6 A administração espanhola .................................. 180
Estado Moderno, absolutismo Sociedade e poder na América espanhola ..... 181
e mercantilismo ............................................................. 124 Atividades ..................................................................... 182
O fortalecimento do poder dos reis ................. 125 CAPÍTULO 9
A monarquia inglesa ................................................ 126
América portuguesa: colonização....................191
A monarquia francesa ............................................ 129
Guerras que fortaleceram o rei ............................131 O encontro ...................................................................... 192
O absolutismo............................................................... 132 Expedições, feitorias e pau-brasil ................... 193
Teóricos do absolutismo ........................................ 133 A disputa pela Nova Terra ..................................... 194
O reinado de Luís XIV, o Rei-Sol ........................... 134 As capitanias hereditárias .................................... 195
O mercantilismo: riqueza e poder O Governo-Geral ...........................................................197
para o Estado ............................................................ 136 As Câmaras Municipais .......................................... 201
Principais características A economia colonial..................................................202
do mercantilismo ................................................... 136 Chegam os africanos ..............................................203
O mercantilismo variou no tempo O engenho ....................................................................203
e no espaço .............................................................. 138 Engenho colonial.......................................................204
A formação das monarquias ibéricas ............ 139 América portuguesa: um grande canavial?.....206
A formação de Portugal ......................................... 140 A sociedade colonial.................................................209
A formação da Espanha......................................... 140 A nobreza da terra ....................................................209
Atividades ......................................................................141 Os comerciantes ....................................................... 210
Os trabalhadores assalariados............................ 210
CAPÍTULO 7 Os escravizados .........................................................211
As Grandes Navegações ...........................................147 Atividades ..................................................................... 212
Desbravando mares .................................................. 148 #JovensnaHistória ................................................ 218
Enfrentando perigos ................................................ 149
O comércio de especiarias orientais
no século XIV ........................................................... 149
O que levou os portugueses a navegar
em mar aberto? ........................................................ 152
Portugal, o primeiro nas Grandes
Navegações................................................................. 153
Navegando com os portugueses ........................ 154
As navegações espanholas ...................................157

KAVALENKAU/SHUTTERSTOCK.COM
Cabral toma posse das terras brasileiras ...... 161
Outros europeus .......................................................... 163
Atividades ..................................................................... 164
CAPÍTULO 8
Conquista e colonização espanhola
da América ......................................................................... 169
A conquista das terras astecas ..........................170
A conquista das terras incas................................172
A resistência inca ......................................................173
Um novo olhar sobre as razões
da conquista espanhola .......................................174

D1-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 6 03/08/22 22:03 AV

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 6 02/09/22 09:40


UNIDADE 4 Nassau no Brasil holandês ...................................252
Artistas e cientistas no Brasil holandês ..........253
GENTES E TERRAS DA AMÉRICA A Restauração ..............................................................255
PORTUGUESA ...................................................................220 A reação luso-brasileira .........................................255
A concorrência holandesa e a queda
CAPÍTULO 10 nos preços do açúcar ........................................... 257
Africanos no Brasil ......................................................222 Atividades .....................................................................258
Havia escravidão na África antes CAPÍTULO 12
dos europeus? ...........................................................223 A formação do território
Guerra e tráfico atlântico......................................224 da América portuguesa ...........................................264
Os responsáveis pelo tráfico ................................224
Quantos eram e de onde foram Os agentes da expansão territorial .................265
trazidos os africanos? .........................................225 Os soldados ....................................................................265
A travessia .....................................................................229 Os bandeirantes ..........................................................268
O trabalho .......................................................................230 São Paulo, a capital bandeirante........................268
A caça aos indígenas ..............................................269
Alimentação e violência ......................................... 231
A busca de ouro e diamantes...............................270
Resistência ....................................................................232
O sertanismo de contrato......................................270
Os quilombos ..............................................................234
Comunidades remanescentes
Os jesuítas .......................................................................271
de quilombos ...........................................................237 A criação de gado .......................................................273
O gado no Nordeste..................................................273
Atividades .....................................................................239
O gado no Sul..............................................................275
CAPÍTULO 11 As novas fronteiras da América
Europeus disputam o mundo Atlântico .......248 portuguesa ..................................................................276
Atividades ..................................................................... 281
A disputa do mundo atlântico pelos #JovensnaHistória ................................................286
europeus — séculos XVI e XVII ........................249
A União Ibérica ...........................................................249 Bibliografia ........................................................................288
A independência dos Países Baixos ..................249
A guerra por açúcar e escravizados ..................250
SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS

22:03 AV2-HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-LA-G24.indd 7 06/08/22 10:22

001a007_HIS-F2-2111-V7-INICIAIS-MP.indd 7 02/09/22 09:40


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
UNIDADE

1
Cientes de que vivemos em
um tempo em que se apreen-
de o acontecimento pelas re-
des sociais, por meio de uma AMÉRICA E ÁFRICA
imagem ou manchete e des-
conectado de seu contexto de ANTES DOS EUROPEUS
produção; cientes, também,
de que vivemos sob o impera-
tivo de um presenteísmo que
desqualifica o passado como
Na América, o contato entre ameríndios, europeus e

MUMEMORIES/SHUTTERSTOCK.COM
experiência política e social africanos foi marcado por desencontros e muita violên-
capaz de alimentar nossas re- cia. Mas além disso, caracterizou-se por trocas culturais
flexões sobre o presente; cien- e mútuas influências. Depois desses encontros e desen-
tes, ainda, de que a memória contros, europeus, ameríndios e africanos nunca mais
não pode ser confundida com foram os mesmos, especialmente no campo da alimen-
a História e que interrogamos tação; exemplo disso é a variedade de plantas de dife-
rentes origens de que nos alimentamos hoje no Brasil.
o passado a partir de questões
que nos afligem no presente,
SERHII HREBENIUK/SHUTTERSTOCK.COM

pois é próprio da História o tra-


tamento de um tema em uma
perspectiva temporal, esfor-
çamo-nos para, alinhados aos
documentos oficiais e coeren-
tes com nossa abordagem me-
todológica, oferecer explica-
ções plausíveis sobre o passado
público e as relações dele com
o presente, retiradas de uma Maçãs. Quiabos.
historiografia especializada e

ANDREW HAGEN/SHUTTERSTOCK.COM
com legitimidade acadêmica.
Na abertura de cada capítu-
lo, explicitamos os objetivos,
as justificativas e as principais
competências e habilidades a
serem trabalhadas. No corpo
do capítulo e nas atividades,
evidenciamos as nossas estra-
tégias para o desenvolvimento
dessas habilidades e compe-
tências.
Nas páginas de abertu-
Uvas.
ra de unidade, vamos citar
exemplos da articulação en-
tre objetivos, habilidades e
8
competências, por acreditar
que, ao longo da coleção, esse
procedimento contribuirá Nesta unidade, vamos
HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 8 desenvolver a ha- to com seus saberes e técnicas. Esse objetivo 20/08/22 19:41 HIS

para o importante propósito bilidade EF07HI03, a partir dos temas Povos articula-se à habilidade EF07HI03, às compe-
de “transformar a história em Indígenas: saberes e técnicas e Povos e cul- tências gerais 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e às competên-
ferramenta a serviço de um turas Africanas: malineses, bantos e iorubás, cias específicas 1, 2, 3, 4 e 6.
discernimento maior sobre de modo articulado às competências gerais Objetivo: Conhecer a organização social,
as experiências humanas e as de 1 a 10 e às competências específicas 1, 2, os saberes e técnicas de povos africanos, a
sociedades em que se vive.”, 3, 4, 6 e 7. exemplo dos iorubás, e sua importância na
conforme sugere a BNCC Vejamos, agora, dois exemplos dessa articu- formação do Brasil. Esse objetivo articula-se
(BRASIL, 2018, p. 401). lação. à habilidade EF07HI03, às competências ge-
Objetivo: Conhecer a forma de organiza- rais 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10 e às competências
ção social dos povos tupis e entrar em conta- específicas 1, 2, 3, 4, 6 e 7.
8

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 8 31/08/2022 09:48


TEXTO DE APOIO
A vasta dimensão territorial do
Brasil e a fertilidade de seu solo
são sempre tratadas como si-
ZELJKO RADOJKO/SHUTTERSTOCK.COM

BONDART PHOTOGRAPHY/SHUTTERSTOCK.COM
nais da potencialidade da rique-
za nacional, ainda em grande
parte inexplorada. Essa poten-
cialidade é ainda mais enfatiza-
da quando se pretende aludir às
características naturais que há
muito tornaram o Brasil “o País
do futuro”, com terra farta e rica,
clima ameno e povo “cordial”,
ingredientes raros e tão bem
contemplados pela natureza.
Mas, apesar de a extensão con-
tinental do Brasil ser há muito
Milhos. Melancia. considerada um dado “natural”,
a conformação territorial que
Nesta página e na anterior você vê fotos de alimentos que consumimos em nosso dia a dia. Você é capaz hoje conhecemos foi antes uma
de saber quais são nativos da América? Quais foram trazidos pelos europeus? Quais tem origem africana? lenta, longa e difícil construção,
Teste seus conhecimentos: no caderno, indique com o número 1 as plantas nativas da América, com o tecida ao longo de cinco séculos
número 2, as plantas introduzidas pelos europeus e, com o número 3, aquelas de origem africana. de história.
Essa construção deu-se, fun-
damentalmente, através de

GUENTERMANAUS/SHUTTERSTOCK.COM
duas estratégias diferentes, mas
complementares: a conquista
territorial e as negociações di-
plomáticas. Esses dois aspectos
da tomada de posse e ocupação
do território do que viria a ser
o Brasil podem ser observados
desde o momento inaugural da
chegada dos portugueses a nos-
sa costa, no alvorecer do século
XVI, quando as viagens ultrama-
rinas conjugavam o imaginário
do maravilhoso medieval com
as novidades técnicas náuticas
que impulsionaram a aventura
da expansão marítima. [...]
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA. Brasil, 500 anos de
povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
p. 19.

Açaí.

19:41 HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 9 ENCAMINHAMENTO 20/08/22 19:41

• Aprofundar o assunto com a leitura do texto: MILHO e suas riquezas – História. SindMilho &
Soja. São Paulo, c2022. Disponível em: https://www.fiesp.com.br/sindimilho/sobre-o-sind-
milho/curiosidades/milho-e-suas-riquezas-historia/. Acesso em: 5 ago. 2022.
Hoje, mais de 500 anos depois da conquista europeia das terras americanas, a humanida-
de começa a avaliar sua dívida para com os indígenas da América. A domesticação de plantas
alimentícias importantes no nosso dia a dia é apenas parte dela. A dívida é imensa e está
longe de ser resgatada.

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 9 31/08/2022 09:48


OBJETIVOS
• Reconhecer as formas de or-
ganização social, os saberes CAPÍTULO

1
e as técnicas das sociedades
americanas.
• Refletir sobre a dominação
POVOS INDÍGENAS
e a resistência no interior do SABERES E TÉCNICAS
Império Asteca.
• Comparar os astecas aos
maias no tocante à política.
• Estudar a organização social
dos incas. Observe o mapa com atenção.
• Conhecer as formas de orga-
nização social dos povos tupis. Povos da América no início do século XVI

ALLMAPS
Este capítulo visa colaborar para
a identificação de aspectos e pro-
cessos específicos das sociedades
americanas antes da chegada
dos europeus, com destaque
para as formas de organização
Círculo Polar Ártico
social e o desenvolvimento de
saberes e técnicas. Assim, preten-
demos contribuir para o desen-
volvimento das competências e
habilidades propostas.

BNCC OCEANO
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer
• Competências gerais: 1, 2, 3,
6, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1, Equador
Principais grupos 0º
2, 3 e 4. linguísticos
Esquimó-aleutino
OCEANO
• Habilidade: EF07HI03. Trópico de Capricórnio PACÍFICO
Na-Dene
Sioux-Dakota
Iroqueses
Algonquino-Wakash
ENCAMINHAMENTO Uto-Astecas
Maias
Aruak
• Explorar o mapa da página, Chibcha

informando que os povos Karib


Tupi-Guarani
ameríndios possuem culturas Jê
Quíchua
próprias e diferentes umas 0 1 910
Outros

das outras. O objetivo aqui é 70º O


Fonte: HISTÓRIA das civilizações. São Paulo: Abril, 2001. v. 3. p. 113.
estimular o alunado a perce-
ber a diversidade de povos e 1. Quantos grupos linguísticos estão representados nesse mapa?
culturas existentes na Amé-
rica por ocasião da chega- 2. Que relação podemos estabelecer entre o número e a diversidade de povos ameríndios?
Respostas pessoais.
da dos europeus. No mapa,
estão identificadas as áreas 10
habitadas por diversos povos
ameríndios. Com isso, pre-
Cada grupo dava um nome à região em que vi-
tende-se também estimular TEXTO DE APOIO
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 10
via, sem que houvesse um nome para designar o
14/07/22 11:53 AV-

o interesse do alunado pelo Não podemos dizer com exatidão quando e continente. Foi Américo Vespúcio – um navegador
estudo de alguns aspectos da como o continente foi povoado, mas sabemos veneziano que tomou parte em quatro expedi-
vida social desses povos. que na América desenvolveram-se muitos gru- ções de exploração e reconhecimento da América.
• Aprofundar o assunto com a pos com cultura neolítica. Para conhecê-los é NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia Ricca.
leitura do texto: ZORZETTO, preciso inseri-los na região em que viveram e Os povos da América: dos primeiros habitantes
Ricardo. A complexa ocupa- analisar o processo de desenvolvimento cultu- às primeiras civilizações urbanas.
São Paulo: Atual, 1996. p. 3-4.
ção das Américas. Revista ral por que passaram ao longo do tempo. Em
Pesquisa Fapesp, São Paulo, muitos casos, esses processos duraram séculos
23 jul. 2015. e envolveram grupos diversos, que se mistura-
ram através de migrações ou conquistas.
10

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 10 31/08/2022 09:48


TEXTO DE APOIO
Aspectos da cultura asteca
Consideram-se arte pré-colom-
Os astecas biana as manifestações artísticas
dos povos nativos da América
espanhola antes da chegada de
Os astecas viveram em Aztlán (daí o seu nome), no norte da América, até por volta Cristóvão Colombo, em 1492.
do século XII, quando deixaram sua região de origem em busca de terras férteis. No início Tudo o que resta das grandes
do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à beira do civilizações do período ante-
lago Texcoco e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán. rior à colonização do continente
americano pelos europeus é sua
Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os astecas dominaram diversos
“arte”. Neste caso “arte” compre-
povos da região. Assim, a cidade de Tenochtitlán passou a ser a cabeça de um grande ende objetos com funções defini-
império, o Império Asteca.. das, em geral mágica ou religiosa,
Os povos submetidos aos astecas eram obrigados a pagar impostos. Caso se recusas- e também artigos simplesmente
sem, eram castigados com expedições punitivas – que incluíam saques e rapto de pessoas. belos, criados para decoração. Fa-
zem parte do universo artístico
Além de pagar impostos, os povos dominados também eram obrigados a cultuar o dessas civilizações tanto os tem-
deus asteca da guerra, das tempestades e do Sol, visto na imagem a seguir. Isso ajuda a plos e casas quanto as esculturas,
explicar por que os povos sob o domínio asteca se rebelavam com frequência. relevos, pinturas, utensílios do-
mésticos, objetos ornamentais,
amuletos e tecidos. [...]
CODEX TELLERIANO-REMENSIS/BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA ROSTOCK/FOUNDATION FOR THE ADVANCEMENT OF MESOAMERICAN STUDIES, INC

Os astecas, ou mexicas, her-


dam alguns elementos da cul-
tura maia, como os templos edi-
ficados em plataformas sobre
pirâmides. Também entram em
contato com os toltecas antes de
se instalar na margem ocidental
do lago Texcoco e fundar Teno-
chtitlán. A cidade é construída
tanto em terra firme quanto em
pequenas ilhas artificiais dentro
Representação do lago, historicamente conheci-
do deus asteca da como a “Veneza americana”.
Huitzilopochtli descrito O centro político, religioso e eco-
no Códice (Codex) nômico é a construção chamada
Telleriano-Remensis, “Templo Maior”. Povo guerreiro, o
século XVI. militarismo predomina em todos
os aspectos da vida entre eles. Os
principais deuses patrocinam as
conquistas guerreiras [...], as ex-
pressões plásticas insistem na
iconografia relacionada com a
guerra. [...] As esculturas são só-
lidas, feitas em blocos maciços
desbastados e de formas estiliza-
das. Os artistas e artesãos astecas
têm grande habilidade manual:
trabalham os metais e as pedras
preciosas; dedicam-se à arte plu-
11 mária e à fabricação de tecidos
com motivos geométricos num
rico colorido; executam pinturas
murais e miniaturas em faixas de
11:53 AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 11 ENCAMINHAMENTO Imagens em movimento 01/08/22 09:47 pele de veado ou feltro fino.

Reportagem sobre uma exposição ARTE pré-colombiana. Enciclopédia


• Destacar que o Império Asteca nunca foi uma unida- ItaúCultural. São Paulo, 2015. Disponível
de política; era, na verdade, um conjunto de povos com cerca de 150 imagens e 24 peças as- em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
com diferentes graus de subordinação aos astecas. tecas, nunca antes expostas, realizada termo907/arte-pre-colombiana. Acesso em:
30 maio 2022.
• Comentar que alguns pagavam tributos, mas tinham no museu do Templo Maior, no México.
uma relativa autonomia; outros eram apenas go- • MUSEU mexicano apresenta peças aste-
vernados; e outros, ainda, só pagavam tributos à cas que nunca foram expostas. 2012. Ví-
força, quando eram vítimas de expedições punitivas deo (52s). Publicado pelo canal EFE Brasil.
promovidas pelos astecas. Disponível em: https://youtu.be/IbX7B
DYDHNs. Acesso em: 30 maio 2022.
11

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 11 01/09/2022 15:51


ENCAMINHAMENTO
• Comparar as formas de pa-
gamento de tributos aos
astecas aos modos atuais,
ressaltando as semelhanças
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

e diferenças.
A dominação asteca
• Tema Contemporâneo Trans-
versal: o trabalho com a do- Veja o que diz um historiador sobre a dominação asteca.
minação e a política fiscal Todos os povos subjugados pelos astecas eram obrigados a pagar-lhes pesados
pode colaborar para a refle- impostos, sob diversas formas: penas raras (do pássaro Quetzal, por exemplo),
xão sobre o tema educação
pedras preciosas (como o jade), alimentos (milho, cacau), pessoas para oferecer em
fiscal, da macroárea econo-
sacrifício aos deuses. Consta que, todos
mia.

BIBLIOTECA BODLEIAN, OXFORD, REINO UNIDO


os anos, chegavam à capital do império
O trabalho com a domina-
7 mil toneladas de milho, 4 mil toneladas
ção e a política fiscal asteca
de feijão e cerca de 2 milhões de peças
também pode contribuir para
de algodão. Prata e ouro, em enormes
o desenvolvimento da habili-
quantidades, eram levados todos os dias
dade EF07HI03.
à poderosa cidade de Tenochtitlán, dona
do lago e cabeça de um vasto império.
KARNAL, Leandro. A conquista do México. São Paulo:
TEXTO DE APOIO FTD, 1996. (Para conhecer melhor, p. 9-10).

Os povos “imperiais”
Existe uma correlação entre
império e sedentarismo, no
sentido que estamos dando
Códice Mendoza, 1542. O pagamento de
a esta palavra; nenhum povo impostos era feito em mercadorias. Oficiais
responde melhor à descrição do imperador faziam uma lista detalhada
de grupo sedentário do que os dos tributos enviados. Repare que nesta lista
habitantes da região central do constam mantas de diferentes formas e modelos,
México e dos Andes, lares res- vestes cerimoniais com cocares e penas,
pectivos dos impérios asteca e feixes de plumas, colares e sacas de cacau.
inca. [...] Mais do que criar o se-
dentarismo, os grandes regimes a) O que os astecas exigiam dos povos dominados?
tributários que foram chamados
de impérios se alimentavam b) De acordo com o texto, o que se pode concluir sobre os astecas?
dele; suas fronteiras paravam de b) Pode-se concluir que os astecas oprimiam os povos dominados por eles.
forma abrupta nas fronteiras da c) Tente responder: como será que os povos dominados reagiram à opressão asteca?
vida sedentária. [...]
c) Reagiram por meio de revoltas; uma dessas revoltas foi promovida pelo povo da cidade de Cuetlaxtlan,
A agricultura intensiva era a que aprisionou os coletores de impostos astecas e ateou fogo em seus corpos.
base daquela vida [...].
O grosso da população agrícola # DICA!
comum recebia terra e outros di- Animação sobre a formação do Império asteca.
reitos das autoridades da aldeia IMPÉRIO asteca: grandes civilizações. 2015. Vídeo (22min8s). Publicado pelo canal Filmow.
e da província, e em troca, por Disponível em: https://www.dailymotion.com/video/x2p80lm. Acesso em: 19 maio 2022.
meio de procedimentos estabe-
lecidos, desempenhava tarefas a) Exigiam impostos pagos em produtos e pessoas para serem oferecidas em sacrifício aos deuses. Quando
públicas e pagava tributos, que 12 eclodiam revoltas, os mexicas enviavam seu exército para reprimir os rebeldes e eliminar seus líderes.
passavam primeiro pelas auto-
ridades locais e depois pelo go-
vernante dinástico da província.
A unidade-aldeia era dividida que significa “volta” ou “rodada”,
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 12 e no centro do ao governante dinástico. Na verdade, nos Andes 01/08/22 09:47 AV-

em distritos, cada um dos quais México, de coatequitl


coatequitl,, mais uma vez “rodada de todo tributo era concebido como trabalho reali-
tinha um chefe com vários de- trabalho”). A obrigação passava de distrito a dis- zado [...] na esperança de um benefício recípro-
veres, entre eles a coleta de tri- trito e de aldeia a aldeia [...]. Para projetos maio- co da parte do governante.
butos. [...] Para as obras públicas res, uma grande parcela da população podia ser LOCKHART, James; SCHWARTZ, Stuart B.
– construção e manutenção de convocada de uma só vez. O sistema também A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro:
podia cobrar impostos em produtos, ou seja, o Civilização Brasileira, 2002. p. 59-61.
palácios, templos, estradas e sis-
temas de irrigação, ou o trabalho trabalho rotativo podia ser dirigido para o corte
nas terras do senhor – existia de madeira, a pesca ou outra atividade econo-
um sistema [...] de trabalho ro- micamente produtiva, sobretudo o plantio e a
tativo (chamado nos Andes de colheita em terras separadas para serem traba-
mita,, termo baseado na palavra
mita lhadas em comum ou terras que pertencessem
12

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 12 31/08/2022 09:48


TEXTO DE APOIO
A educação através dos
códices astecas
A sociedade asteca Os códices são os livros deixa-
No topo da pirâmide social estava o imperador, considerado um ser semidivino. Abaixo dos pelas civilizações pré-hispâ-
do imperador vinham os nobres, que atuavam como funcionários públicos, sacerdotes nicas da Mesoamérica. [...]
ou chefes militares. Estes tinham enorme prestígio na sociedade asteca; os mais valentes [As] expressões pictóricas se
ingressavam nas ordens militares, como a dos cavaleiros-águia. estruturavam através de três sis-
temas de escrita Cañizal (1994):
• O pictográfico;
• O ideográfico;

A CONQUISTA DO MÉXICO/EDITORA FTD/1996


• O fonético. [...]
Os códices formavam parte da
consciência histórica do povo
e a população sabia da impor-
tância dos livros para conservar
sua história, costumes, religião,
eram esses escritos que guia-
vam a vida dos astecas. Eram
consultados como manuais de
predestinação para a criança
que nascia, para orientar os no-
vos casais, para prognosticar
o tempo, para consultar as ge-
nealogias dos grandes chefes e
as decisões a serem aplicadas
pelos juízes nas suas decisões
judiciais, guardavam mapas e
estratégias militares. [...]
O Telpochcalli (casa dos jo-
Nessa ilustração, vê-se, no canto inferior direito, um guerreiro pertencente à ordem dos vens) eram escolas que depen-
cavaleiros-águias, século XVI. diam dos calpullis, espécies de
tribos ou bairros, que eram a
Abaixo dos nobres vinham os comerciantes, com destaque para os atacadistas, espe- base da organização da socie-
cialmente os que trabalhavam com artigos de luxo. A seguir, vinham os artesãos, que dade asteca, onde se aprendia
um ofício ou profissão de acordo
eram conhecidos por sua habilidade e requinte. Os artesãos astecas se destacavam na
com a especialidade do calpulli
ourivesaria, na joalheria e no trabalho com plumas.
e também aprendiam sobre as
Já os camponeses eram o grupo mais numeroso da sociedade asteca. Eles eram normas morais, a religião e as
obrigados a pagar pesados impostos, prestar serviço militar e trabalhar gratuitamente tradições.
na conservação de estradas e canais e na construção de monumentos. Os camponeses, Os que assistiam a estas esco-
geralmente, passavam a vida no mesmo pedaço de terra, saindo apenas quando eram las eram os maceguales, pessoas
chamados para combater. comuns do povo, sendo educa-
Por fim, havia os escravizados, prisioneiros de guerra, condenados pela justiça ou dos pelos telpuchtlato (profes-
então indivíduos que tinham dívidas por causa de envolvimento com o jogo ou a bebida. sores nahuas).
A educação nos Telpochcalli
13 começava aos 15 anos, o objeti-
vo era dar uma educação práti-
ca, social e religiosa. [...]
09:47 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 13 01/08/22 09:48
As mulheres também eram
educadas nos Telpochcalli de
• Facilitar ao estudante a compreensão da hierarquia presente na sociedade asteca e a iden- seus bairros, especial para as
tificação dos grupos sociais que a constituíam. jovens, com uma educação di-
• Comentar que, apesar da hierarquia, havia possibilidade de mobilidade social ascendente. recionada à vida religiosa e do-
méstica.
• Aprofundar o assunto com a leitura do texto: GUERREIRO, Dalia. Códice Mendonza. Bi-
RONCO, Adriana Patricia; MARTORELLI,
bliotecas e Humanidades Digitais. [S. I.], 2015. Disponível em: https://bdh.hypotheses.
Bárbara Cristina Paulucci Cordeiro. A
org/1262. Acesso em: 3 ago. 2022. educação através dos códices astecas.
Semioses, Rio de Janeiro, v. 1, n. 6,
p. 118-130, fev. 2010. p. 119-120, 122.

13

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 13 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com
a leitura do artigo: JACOB,
Jorcy Foerste. Murais de Saberes e técnicas dos astecas
identidades: as representa-
ções sobre os indígenas na

©BANCO DE MEXICO DIEGO RIVERA & FRIDA KAHLO MUSEUMS TRUST, MEXICO, D.F .FOTO: BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
ótica do muralismo mexica-
no (1920-1940). In: ENCON-
TRO INTERNACIONAL DA
ANPHLAC, 10., 2012, São
Paulo. Anais [...]. São Paulo:
ANPHLAC, 2012.
• Explicar que lacustre se re-
fere à cidade construída às
margens e sobre um lago.

Imagens em movimento
Animação em três dimen-
sões esquematiza a cidade de
Tenochtitlán.
• TENOCHTITLAN, the Capi-
tal of the Aztec Empire - 3D
animation 4K. 2021. Vídeo
(1min30s). Publicado pelo
canal Pike & Shot Channel.
Disponível em: https://youtu. Detalhe de A grande cidade de Tenochtitlán, afresco do muralista mexicano Diego Rivera.
be/VdUiVfxVB0I. Acesso em:
30 maio 2022. Numa época em que os livros de História do México mostravam os espanhóis como
“os únicos construtores” da nação, o artista Diego Rivera inovou ao valorizar a atuação
TEXTO DE APOIO dos povos indígenas nos diversos campos da vida social do país.
Desde antes da chegada dos europeus, as cidades construídas pelos povos da América
Templo asteca é descoberto
chamavam a atenção dos visitantes. Para construir Tenochtitlán, por exemplo, os astecas
em plena capital mexicana
utilizaram conhecimentos de cálculo e técnicas apuradas de construção civil.
Em meio ao burburinho da Ci-
dade do México, foram revelados,
Na capital asteca destacavam-se as chinampas, ilhas artificiais feitas sobre estacas
nesta quarta-feira [8 jun. 2017], fixadas no fundo do lago. Para fixá-las, os astecas, além de bons construtores, tinham
novos achados arqueológicos em de ser ótimos nadadores e dominar técnicas de respiração. A fertilidade das terras pan-
plena capital: uma gigantesca es- tanosas garantia a produção de alimentos para os habitantes da
trutura circular dedicada ao deus Lacustre: que está
asteca do vento, além de uma próximo ou sobre um lago. cidade lacustre
lacustre.. Nessas ilhas, eles cultivavam flores, verduras e
parte do campo em que o con- plantas medicinais, entre outras. Cortada por canais e aquedutos,
quistador Hernán Cortés apre- ruas largas e retas, Tenochtitlán provocou enorme admiração nos conquistadores espa-
ciou pela primeira vez o ritual do nhóis nascidos em cidades relativamente menores, de ruas tortas e estreitas. A cidade de
jogo de bola mesoamericano. Tenochtitlán continua chamando a atenção dos estudiosos de hoje.
Os vestígios que podem ser vis-
tos fazem supor que o templo, 14
com nome Ehécatl-Quetzalcóatl,
tinha dimensões monumentais
— os pesquisadores estimam um
tamanho de 34 metros de largu- condidos sob as ruas e14construções do centro
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd As descobertas, partes do complexo arqueoló- 01/08/22 12:16 D1_

ra e quatro de altura. A menos de histórico da Cidade do México. gico Templo Mayor, se situam no terreno do Hotel
sete metros e em paralelo ao tem- Catedral, destruído por um terremoto em 1985 e
— Os achados que vemos representam uma
plo, estão os resquícios do campo cujos donos pediram intervenção de especialis-
nova abordagem ao esplendor da cidade pré-
do jogo de bola, que pode ter tido tas após encontrarem vestígios arqueológicos.
-hispânica de Tenochtitlán — destacou a minis- Os pesquisadores estimam que a construção do
50 metros de comprimento.
tra da Cultura, María Cristina García, em entre- templo, conhecido como “Casa do Vento” e que
Ambos achados se somam a vista coletiva. está orientado em direção ao oratório a Tláloc,
um impressionante acervo de
María Cristina explicou que as estruturas deus da chuva, aconteceu entre 1486 e 1502.
vestígios descobertos na capi-
“ocupavam um lugar preponderante na confi- TEMPLO asteca é descoberto em plena capital mexicana. O Globo.
tal mexicana — e fazem parte Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/
de tesouros arqueológicos que guração da cidade hispânica” e, em particular, sociedade/historia/templo-asteca-descoberto-em-plena-capital-
provavelmente permanecem es- da grande praça central da cidade. mexicana-21450090#ixzz5N9I9OJD1. Acesso em: 3 ago. 2022.
14

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 14 31/08/2022 09:48


TEXTO DE APOIO
Chichén-Itzá e Kukulcán
As crônicas escritas pelos mis-
Os maias sionários espanhóis no século
XVI são um conjunto documen-
tal etnográfico acerca das comu-
Os maias estão entre as civilizações mais antigas da América. Seus ancestrais viviam nidades maias que viviam na
nas montanhas da atual Guatemala desde 2500 a.C. Península do Iucatã quando do
Inicialmente, os maias eram caçadores e coletores e se deslocavam constantemente período do contato. [...]
pela selva em busca de alimentos (caça, pesca e colheita). Mais tarde, domesticaram O personagem Kukulcán apa-
plantas, como o milho, a pimenta e o feijão, e se estabeleceram na Península de Yucatán, rece em várias destas crônicas
[...]. A etimologia da palavra re-
local em que os arqueólogos descobriram, em meio à floresta tropical, as cidades de vela que kuk é “pluma de ave ge-
Tikal e Copán. Depois, os maias ocuparam também cidades já existentes, como Uxmal e ral” e can
can,, “serpente, cobra” [...].
Chichén-Itzá, situadas ao norte. Portanto, este personagem está
A área onde se desenvolveu a civilização maia corresponde ao sul do México atual, associado à serpente emplu-
mada, um importante símbolo
quase toda a Guatemala e partes de El Salvador, Honduras e Belize. Observe o mapa a religioso pré-hispânico, que, na
seguir. versão religiosa do altiplano, re-
cebeu o nome de Quetzalcóatl.
Qual o seu significado segun-
Principais cidades maias do as crônicas? Nestes docu-
mentos, uma das associações de

ALLMAPS
90º O
Kukulcán refere-se aos assuntos
OCEANO
ATLÂNTICO
governamentais, e sua relação
Chichén-Itzá com a cultura material apareceu
Mayapán
Golfo do México
pela primeira vez na importante
Uxmal obra do primeiro bispo de Iuca-
tán, frei Diego de Landa, intitu-
lada Relaciones de las cosas de
DALLAS MUSEUM OF ART, TEXAS, EUA.

20º N
YUCATÁN Yucatán,, que em 1566 escreveu
Yucatán
FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Palenque que “… é opinião que, entre os


Tikal
itzaes que povoaram Chicheniza,
Piedras reinou um grande senhor cha-
Negras Mar das Antilhas
mado Cuculcan, e que mostra
ser isso verdade que o edifício
principal se chama Cuculcan…”
Vaso de cerâmica [...]. Fica evidente, deste modo,
com cena de que na obra de Landa, Kukulcán
Copán
jogo de bola. é um soberano maia. [...]
Guatemala, 0 90

período clássico
Chichén-Itzá foi centro he-
tardio, c. 700-850. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 236.
gemônico que conquistou mi-
litarmente grande parte da Pe-
nínsula do Iucatã, foi produtor e
distribuidor exclusivo de sal em
Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-Estado, ou seja, cidades toda Mesoamérica, controlou
com governo, leis e costumes próprios. Em caso de guerra contra um inimigo comum, as grande parte das rotas maríti-
mas maias através da constru-
cidades maias se organizavam em confederações, mas nunca chegaram a constituir um
ção de portos, além de ter sido
império, a exemplo dos astecas e dos incas. uma cidade responsável por
tributar várias cidades maias
15 [...]. O seu principal conjunto de
edifícios chama-se Grande Nive-
lação [...].
Embora a escrita de Chichén-
12:16 D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 15 ENCAMINHAMENTO 14/07/22 11:53
-Itzá não faça alusão direta ao
• Aprofundar o assunto acessando a reportagem: O LEGADO maia e os mistérios de Chichén- personagem Kukulcán, por ana-
Itzá, uma das sete novas maravilhas. Correio Braziliense. Brasília, 2015. Disponível em: logia etnológica e iconográfica,
é possível perceber que este
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2015/10/22/interna_turismo,
indivíduo foi representado em
503385/legado-maia.shtml. Acesso em: 3 ago. 2022. alguns edifícios da Grande Nive-
• Destacar as diferenças políticas entre maias e astecas, ressaltando que as cidades-Estado lação [...].
maias eram autônomas e, portanto, não eram subordinadas a um centro de poder único. NAVARRO, Alexandre Guida. O rei maia
Kukulcán e seus discursos de propaganda
política em Chichén-Itzá. Revista de
Arqueologia Pública, Campinas, n. 7, p.
7-19, jul. 2013. p. 8-9.
15

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 15 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que os maias sofre-
ram muitas perdas ao longo
de sua história. Apesar disso, Sociedade e economia
no presente, há povos que se
A sociedade maia era hierarquizada: a elite era formada por nobres e sacerdotes;
autoidentificam como maias
abaixo deles vinham os artesãos e os trabalhadores livres, agricultores em sua maioria. Os
no México, em Honduras,
em El Salvador, em Belize e nobres e os sacerdotes ajudavam o governante máximo de cada cidade a dirigi-la. Ele tinha
na Guatemala. o título religioso de Hunac Ceel e era visto pelo povo como representante dos deuses.
Os camponeses acreditavam que, para conseguir boas colheitas, tinham de pagar
impostos a esse governo “sagrado”. Os impostos eram pagos com parte do que eles pro-
duziam e com trabalhos gratuitos para o governo (como reparo e construção de estradas).
TEXTO DE APOIO A agricultura tinha grande importância na vida dos maias. A maioria deles vivia no campo,
Origem e transformações onde cultivava feijão, abóbora, algodão, cacau, abacate e milho. O milho era a base de
da sociedade maia sua alimentação. Eles comiam milho assado, cozido ou na forma de farinha.
Especialistas sugerem a exis- Os camponeses cavavam canais para irrigar as pequenas mudas de milho, uma vez
tência de três períodos mais ou que o terreno era seco em decorrência do sol constante na região. Isso pode ser deduzido
menos claros da antiga civiliza- pela vegetação nativa que crescia pelo milharal, o cacto, típico de solos áridos.
ção maia: o pré-clássico (600 a.C.
a 300 d.C.), o clássico (300 a 1050)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE CACAXTLA, TLAXCALA, MÉXICO. FOTO: DEA/G DAGLI ORTI/AGB PHOTO LIBRARY
e o pós-clássico (1050 a 1550). No
primeiro houve uma gradual
sedentarização, crescente rele-
vância da produção de milho, a
formação de vilas autônomas
e a constituição de sociedades
estratificadas. Entre os vários
sítios pré-clássicos maias já
descobertos, El Mirador é espe-
cialmente significativo pela sua
antiguidade e pelo grande porte
e imponência das suas constru-
ções públicas e privadas. Nesse
local – situado na região do Pe-
tén, extremo norte da Guatema-
la – arqueólogos descobriram
uma pirâmide que é a mais volu-
mosa do continente americano
e talvez do mundo (plataforma:
320 x 600 metros, altura: 170,40
metros), superando as famosas
pirâmides egípcias (Kéops tem
altura de 146,60 metros). [...]
O período clássico é o mais
conhecido [...]. O volume e a
qualidade das informações ar-
queológicas e históricas desse Pintura mural maia com cena de cultivo de milho descoberta por arqueólogos no Templo Vermelho,
período se devem a um peculiar na cidade de Tlaxcala (México), c. 600-700 a.C.
sistema de escrita. Denomina-
do de logográfico, ele combina
aproximadamente 800 signos,
16
entre fonéticos e ideográficos.
Mesmo com a virtual extinção
da escrita maia por imposição Mundo. A alcunha se deu
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 16 pelas maravilhosas guinte, junto com muitos outros reinos maias, 14/07/22 11:53 D1_
do poder colonial espanhol, epi- esculturas tridimensionais, por suas constru- especialmente do centro e do sul, por motivos
grafistas e outros cientistas con- ções cerimoniais e político-administrativas, que ainda estão sendo apurados pelos arqueó-
seguiram decodificar e entender pelos comprovados avanços intelectuais – espe- logos [...].
mais de 80% dos antigos glifos cialmente em astronomia – e pela continuidade AVILA, Carlos Federico Domínguez. Origem e transformações
[...]. Foi no período clássico que e harmonia do conjunto urbanístico. Explorado do estado e da sociedade na América Latina: apontamentos
os maias alcançaram seus mais desde o século XIX, Copán é provavelmente o sobre o cânone maia. Revista Hegemonia, Brasília, DF, n. 22
espetaculares projetos arquite- sítio arqueo­lógico maia melhor conhecido. Está (especial), p. 127-156, 2017. p. 130-131.
tônicos, técnicos e artísticos. O comprovado que uma dinastia copaneca reinou
reino de Copán, por exemplo, entre 426 e 822, tendo o auge de seu desenvol-
acabou sendo chamado pelos vimento econômico, político e social no século
especialistas de Atenas do Novo VIII. Mas Copán foi abandonado no século se-

16

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 16 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
Sim, pois sem esses conhecimentos eles não teriam • Aprofundar o assunto com a
tido condições de erguer esses grandiosos templos. leitura do texto: NAVARRO,
Saberes e técnicas maias Dialogando
Alexandre Guida. A civiliza-
ção maia: contextualização
Pirâmides Observando os historiográfica e arqueoló-
vestígios dessas gica. História, São Paulo, v.
As grandes e sofisticadas construções maias e o desloca- duas construções 27, n. 1, p. 347-377, 2008.
mento de enormes blocos de pedra revelam seus conhecimentos grandiosas, é
de engenharia e cálculo. As pirâmides serviam de esteio para os possível dizer que Dialogando. Chamar a
templos religiosos, aos quais se chegava por meio de uma escadaria os maias tinham atenção para a durabilidade
conhecimentos dessas construções.
íngreme. Algumas pirâmides, como a de Tikal, tinham mais de 60 apurados de
metros de altura. Muitas cidades maias surgiram em torno dos engenharia e
centros cerimoniais.. matemática?
Dica de leitura
ANGELIKA STERN/ISTOCK/GETTY IMAGES
Neste livro, o autor aborda,
com base em uma diversidade
de fontes (incluindo-se fontes
arqueológicas), a civilização
maia, sua abrangência, seus
mistérios e realizações.
• GENDROP, Paul. A civilização
maia. Rio de Janeiro: Zahar,
2005.

EDITORA ZAHAR
Imagens em movimento
O vídeo descreve os códices
maias e a sua decifração.
Templo dos Guerreiros em forma de pirâmide e, em volta dele, os vestígios do Palácio das Mil Colunas. • Os CÓDICES maias: os úni-
Chichén-Itzá (México), 2014. cos livros de uma civilização
americana | Mitologia. 2017.
17 Vídeo (4min55s). Publicado
pelo canal ARKANA. Dispo-
nível em: https://youtu.be/
11:53 +ATIVIDADES
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 17 Propor o jogo “Pif Paf maia”. Acessar o tex-
14/07/22 11:53
XuO781sslek. Acesso em: 3
to com as regras do jogo: PIF Paf maia. MD ago. 2022.
Explicar o sistema numérico maia, diferen-
Mat. Porto Alegre: UFRGS, [20-?]. Disponível
ciando-o do indo-arábico. Consultar o arti-
em: http://mdmat.mat.ufrgs.br/anos_iniciais/
go: MORAES, Denise. O sistema numérico
sn_maia/pif_maia.pdf. Acesso em: 3 ago 2022.
maia. InVivo. Rio de Janeiro, 2021. Disponí-
vel em: http://www.invivo.fiocruz.br/cien- • Interdisciplinaridade: essa atividade
ciaetecnologia/o-sistema-numerico-maia/. pode ser trabalhada com o professor de
Acesso em: 3 ago. 2022. Matemática.

17

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 17 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o texto a seguir.
O mundo inca era uma socie-
dade hierárquica, organizada
de forma rígida. No topo ficava
Os incas
o imperador, conhecido como
Sapa Inca, ou Inca Inigualável. Era Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas chegaram
considerado deus por seu povo e ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII.
exercia um poder absoluto sobre Naquelas terras altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram
seu reino. A família real controla-
a cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos
va o clero e o exército; havia um
conselho real formado pelos qua- povos da região ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve Pachacuti
tro membros mais importantes como primeiro imperador. No processo de formação do seu império, os incas assimilaram
da nobreza. Cada um deles era elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que mais tarde espalhariam
responsável por um dos suyus pelos Andes.
(quadrantes) do império. Cuzco, a
O Império Inca expandiu-se consideravelmente em razão das sucessivas conquistas. Ele
capital, com seus esplêndidos pa-
lácios e templos, era de domínio era dividido em várias regiões administrativas, cujos governadores deviam prestar contas
da família real e da nobreza. Lá, de seus atos ao imperador. A interligação entre as regiões do império era feita por uma
seus membros levavam uma vida eficiente rede de estradas construídas nas encostas das montanhas. Jovens eram treinados
de privilégio e sofisticação, aten- desde a infância para correr por elas, levando e trazendo informações e produtos por
didos por um cortejo de servos.
Em Cuzco, o povo era mantido à
longas distâncias. As principais estradas incas ligavam o interior a Cuzco, uma cidade
boa distância da região central. planejada que servia como capital do império incaico.
GUY, John et al. Grandes civilizações:
egípcios, gregos, romanos, chineses,
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

vikings, incas, astecas. São Paulo:


Melhoramentos, 2005. p. 172.

• Aprofundar o assunto com a


leitura do texto: PORTUGAL,
Ana Raquel. Revivendo tem-
pos incaicos. In: PORTUGAL,
Ana Raquel. O ayllu andino
nas crônicas quinhentistas.
São Paulo: Unesp: Cultura
Acadêmica, 2009. p. 69-100.

TEXTO DE APOIO
Civilização Inca
Em menos de um século, a
confederação cuzquenha lidera-
da pelos Incas chegou a fundar
o mais vasto Império da Amé-
rica pré-colombiana. Os territó-
rios que conquistaram por meio
de guerras incessantes cobriam
uma superfície de 950 mil quilô- Mulher e criança peruanas caminham por estrada inca próxima a Cuzco (Peru), 2015.
metros quadrados, equivalente
à da França, da Itália, da Suíça e 18
do Benelux reunidos. Ela se es-
tendia do norte ao sul, segundo o
eixo das cordilheiras [...]. A oeste,
fazia limite com o oceano Pací- incertas, mas é duvidoso 18que tivesse ultrapassado
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd A vocação imperialista dos Incas originou-se 14/07/22 11:53 AV-

fico. A leste, uma linha de forti- 10 milhões de habitantes às vésperas da chegada do sucesso que obtiveram nas guerras que lhes
ficações os protegia de incursões dos europeus. Compunha-se de uma centena de foram largamente impostas pelas populações
das tribos silvícolas indomáveis grupos étnicos de importância desigual, que se di- circundantes. A inesperada vitória de Pachakuti
e predadoras da Amazônia, que ferenciavam uns dos outros pela língua e pela cul- sobre os invasores Chanka rompera precário
tentavam esporadicamente subir tura. Por mais ligadas que tivessem sido por uma equilíbrio político dos Andes. De um lado, porém,
as encostas dos Andes para pe- “co-tradição” forjada no alvorecer de sua história, devia também cristalizar contra tal hegemonia
netrar no interior dos planaltos. durante as grandes fases de formação da unidade hostilidade das etnias vizinhas que se julgavam
A população compreendida nos pan-andina, essas etnias reagrupadas pelos Incas ameaçadas e cujas sucessivas derrotas só pode-
limites do Império tem sido obje- não constituíam mais que um conjunto político riam ampliar cada vez mais o poder cuzquenho.
to de estimativas vagas e contra- notoriamente heterogêneo. FAVRE, Henri. A civilização inca. Rio de Janeiro:
ditórias, fundadas em bases ainda [...] Zahar, 2004. p. 24-25.
18

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 18 31/08/2022 09:48


TEXTO DE APOIO
O imperador inca
Os incas foram responsáveis
Sociedade incaica por se apropriar do antigo deus
Wiracocha e “transformá-lo” em
O imperador – conhecido como Inca ou Filho do Sol – era visto como semidivino e Inti. Inti é outra divindade, pos-
possuía enormes poderes e privilégios; seu cargo era hereditário. Abaixo dele estavam os terior ao Wiracocha tiwanakota,
sacerdotes e os chefes militares, todos saídos da nobreza. Depois vinham os artesãos, os um avatar deste. A civilização de
soldados, os projetistas e os funcionários públicos. Esses profissionais viviam em cidades e Tiwanaku representava Wira-
cocha, “deus das varas”, o deus
eram sustentados pelo governo, que armazenava riquezas com os impostos cobrados das
criador, com clara inspiração
comunidades camponesas e dos povos sob o domínio inca. nas figuras antropomorfas da
cultura de Chavín de Huantar
[...]. Essa representação típica de
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
Wiracocha, estampada em tan-
tos tecidos e bastante recorrente
O texto a seguir foi escrito pelo historiador Serge Gruzinski. Leia-o com atenção. no artesanato andino, do norte
do Chile e Argentina ao Equa-
O Império do Sol dor, nos faz crer que os próprios
tiwanakotas tivessem adequado
[...] O império inca era composto por um mosaico de povos e de paisagens natu- o “deus das varas” da cultura
rais, dispersos num quadro montanhoso [...]. Chavín aos seus propósitos reli-
giosos. Os incas foram hábeis em
HADYNYAH/E+/GETTY IMAGES

cultuar avatares de Wiracocha


e de alguma forma ligá-los ao
culto do sol, Inti. O Inca, tendo
ele próprio saído da terra e sen-
Criança falante da do ao mesmo tempo filho do sol,
língua quéchua ao lado
era o ponto de comunicação en-
de um lhama. Vale
tre os três mundos, tendo a seu
Sagrado dos Incas,
próximo a Cuzco (Peru), serviço toda uma casta sacerdo-
2016. tal para corroborar sua suposta
divindade através de intrinca-
dos rituais que vivificavam os
mitos. Pela sua própria natureza
e plasticidade, o mito é sempre
modificado e coberto de novas
A força dos incas é primeiramente o império de uma língua, o quéchua, imposta significações com o passar do
às populações tributárias e ensinada aos chefes dos grupos derrotados. É também tempo. Os incas fizeram com
que muitos povos dominados
o resultado de um centralismo estatal [...]. É a eficácia de uma rede viária de vinte
acreditassem que o deus que
mil quilômetros que cobria a maior parte do país. Por fim, é um laço [...] religioso, o eles cultuavam era, em verda-
culto ao Sol Inti, que não parava de reafirmar a superioridade do Inca. de, Inti, o disco solar que garan-
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século (1480-1520): as origens da globalização. São Paulo: tia e regulava todos os ciclos da
Companhia das Letras, 1999. (Virando séculos, p. 77-78). vida. Isso fazia do Hanan pacha,
pacha,
o plano celestial, o espelho no
a) Segundo o autor, a força inca residia em quatro pilares. Quais são eles? qual a vida no Kay pacha,
pacha, o mun-
do daqui, estava refletida.
b) Com base nesse texto, o que se pode concluir sobre o relacionamento entre o
BELMONTE, Alexandre. Reflexões sobre a
Império Inca e os povos sob seu domínio? antiguidade da América: o altiplano andino
a) A língua quéchua; um governo fortemente centralizado; uma rede de estradas enorme; e o culto ao Sol como caso paradigmático. Nearco: Revista
Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.
Inti, que reafirmava a superioridade inca.
b) Conclui-se que o relacionamento era opressivo.
19 10, n. 1, p. 22-56, 2018. p. 43-44.

11:53 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 19 01/08/22 09:58 Dica de leitura
• Refletir sobre os elementos constitutivos do poder político no Império Inca. Livro que aborda os séculos
XV e XVI quando milhares de
• Reconhecer a estratificação social na sociedade incaica.
navegantes cruzaram o oceano
• Perceber a importância da imposição de uma língua, de um poder central e de um culto religio- Atlântico em busca de riquezas.
so para explicar a força dos incas.
• GRUZINSKI, Serge. A passa-
Para refletir. b) Comentar que a cobrança violenta dos impostos criava um ambiente de
gem do século (1480-1520): as
instabilidade e tensão permanentes no interior do Império; essas tensões internas ajudam a
origens da globalização. São
explicar o avanço da conquista espanhola na América.
Paulo: Companhia das Letras,
1999. (Virando séculos).
19

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 19 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Destacar o desenvolvimen-
to da arquitetura inca, rela-
cionando-a com os métodos Saberes e técnicas incas
de construção, que também
utilizam técnicas como a ma- Edificações incas
quete em escala.
Maquete: representação Antes de começar uma construção, os incas produziam uma
• Aprofundar o assunto com em escala reduzida de
maquete de argila e pedra que os ajudava a formar uma ideia
a leitura dos textos: O JAR- uma obra de arquitetura
ou engenharia a ser da obra depois de pronta. Na construção, usavam grandes blocos
DIM de ouro dos incas. Jornal
executada. de pedra, que eram cortados e encaixados uns nos outros sem a
GGN, [s. I.], 2014 Disponível
Índias: nome dado necessidade de uma substância colante.
em: https://jornalggn.com.br/ à parte americana
cultura/o-jardim-de-ouro-dos- do Império espanhol. Em Machu Picchu existem edificações em que se pode ver o
incas/. Acesso em: 3 ago. 2022; O nome completo é modo de organização dos bairros de uma cidade inca. Restam,
“Índias Ocidentais”. ainda hoje, construções incas intactas e um número grande de
OLIVEIRA, Denise de Fátima
Martins; MEDEIROS, Elisabeth vestígios delas em cidades como Cuzco, Lima e Quito.
Weber. O urbanismo incaico: Veja o que disse um cronista espanhol do século XVI sobre Cuzco.
as llactas e a construção do Era grande e majestosa e deve ter sido fundada por gente
Tahuantinsuyo. Revista Disci- capaz e inteligente. Tem ruas muito boas, embora estreitas, e as
plinarum Scientia, Santa Ma-
casas estão construídas de maciças pedras, belamente unidas [...]
ria, v. 5, n. 1, p. 45-57, 2004. Esse Praça das Armas. Cuzco era a cidade mais rica das Índias,, pelo grande acúmulo de
artigo explora elementos do À direita, monumento
riquezas que chegavam a ela com frequência, para incrementar
urbanismo incaico, com foco em homenagem
ao imperador inca a grandeza dos nobres.
especial sobre as llactas, cida-
Pachacuti. Cuzco
des planejadas e construídas (Peru), 2017.
(LEÓN, 1553 apud NEVES, 1996, p. 77, 80).

pelo Estado Inca.

SAIKO3P/SHUTTERSTOCK
TEXTO DE APOIO
A sede do poder
Durante longo tempo, Cuzco
não foi senão uma aglomera-
ção de cabanas indistintamente
agrupadas ao redor do santuá-
rio rústico, onde fora colocada
a imagem do Sol. Mas Pachakuti
transformou essa pequena al-
deia em sua vasta cidade cos-
mopolita, que compreendia, em
seu apogeu, talvez mais de 60
mil habitantes. [...]
[...] Essa cidadela compreen-
dia diversos arsenais e casernas,
bem como uma torre monumen-
tal de quatro ou cinco níveis que
repousava sobre uma base qua- 20
drada. Fora planejada para que
5 mil guerreiros nela pudessem
facilmente manter-se em guar-
nição e rechaçar um cerco. San- mos de altura, outras 25,20e outras 15, mas não há
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd tamente entalhadas e ajustadas umas às outras 14/07/22 11:53 D1_

cho de La Hoz, que a viu antes de qualquer uma que seja suficientemente peque- sem outro cimento além do betume. À meia al-
ser destruída, escreve que era a na para ser transportada em três carroças.” Com tura de muralha passava uma cornija de ouro
coisa mais bela que se poderia efeito, a fortaleza era defendida, do lado oposto de quatro palmos de largura. As portas, inteira-
admirar no país. “As rampas são da vila, por três muralhas sucessivas [...]. mente revestidas de ouro, abriam-se para um
feitas de pedras tão grandes que [...] o edifício mais notável da cidade, e o mais jardim coberto de fragmentos de ouro fino e
ninguém poderia imaginar, ao venerável de todo o Império, era o Templo do plantado com um milho cujo caule, folhas e es-
vê-las, que tivessem sido colo- Sol ou Qorikancha, que os imperadores não pigas eram igualmente de ouro. Em meio a essa
cadas nesse lugar pela mão do cessaram de embelezar e enriquecer ao longo vegetação artificial, passavam umas 20 lhamas
homem, são tão grandes quan- de seus reinados. Segundo Cieza de León, era de ouro em tamanho natural. [...]
to pedaços de montanha ou de uma vasta muralha retangular de 400 passos de FAVRE, Henri. A civilização inca.
rochedos, e algumas têm 30 pal- perímetro, construída em pedras secas, perfei- Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 62-63.
20

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 20 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Facilitar ao estudante a com-
preensão do sistema de ter-
Técnica, trabalho e impostos raços.
• Construir o conceito de ayllu.
Habitando regiões montanhosas, os incas desenvolveram uma

HARRY ZIMMERMAN/SHUTTERSTOCK.COM
técnica agrícola que consistia em construir terraços na forma de uma
• Favorecer a compreensão do
pagamento da mita na socie-
imensa escada para a prática da agricultura (sistema de terraços).
dade incaica.
Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes
• Explicar aos alunos que os
ao frio, como a batata; nos do meio, milho, abóbora e feijão; nos
incas desenvolveram um sis-
mais baixos, semeavam as árvores frutíferas. Com isso, conseguiam
tema de registro chamado
colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas se dedicavam kipu, que eram conjuntos de
também ao pastoreio: criavam o lhama e a alpaca, animais usados cordões de lã, nos quais se
no transporte e dos quais obtinham lã e leite. registrava a produção agrí-
Os camponeses constituíam a maioria da população. Cada Lhama. cola e os tributos recolhidos,
entre outros. Aprofundar

GAIL JOHNSON/SHUTTERSTOCK.COM
aldeia era formada por um conjunto de famílias camponesas unidas
por laços de parentesco que recebia o nome de ayllu;; o chefe do o assunto com a leitura do
ayllu era o kuraka
kuraka.. texto: URTON, Gary. Incas
As terras de cada ayllu eram divididas em três partes: uma para cobravam imposto agríco-
o imperador, uma para os deuses (controlada pelos sacerdotes) e la. Revista Pesquisa Fapesp,
São Paulo, jul. 2019.
outra para as famílias camponesas. Além de trabalhar em todas
as terras, os camponeses tinham de prestar serviços gratuitos ao Dica de leitura
Estado, plantando, construindo ou reformando; essa obrigação Neste livro, o autor busca re-
tinha o nome de mita.. Alpaca. contar aspectos do surgimento
e do desenvolvimento do povo

POOLPS27/SHUTTERSTOCK.COM
inca, destacando suas caracte-
rísticas, sua cultura e a divisão
existente na sociedade.
• FAVRE, Henri. A civilização
inca. Rio de Janeiro: Zahar,
2004.

Historiadores e antropólogos
dedicaram-se à análise do signifi-
cado do ayllu
ayllu,, estendendo-se até
os dias atuais, para compreender
como se formaram as comunida-
des indígenas de hoje. [...]
Os conceitos apresentados di-
ferem em particularidades, mas
o consenso entre os especialis-
tas é claro, o ayllu representa um
Vestígios do sistema de terraços nos arredores de Machu Picchu (Peru), 2018. grupo de parentesco. [...]
O movimento indigenista pe-
21 ruano utilizou ideologicamente
essa concepção de ayllu como
organização comunal detentora
de um território para defender
11:53 TEXTO DE APOIO
D1_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 21 14/07/22 11:53 os direitos de os indígenas te-
rem garantido o acesso à terra.
Algumas interpretações dadas ao ayllu no período pré-hispânico, históricas ou antropoló-
Nesse caso, não importavam
gicas, atribuem-lhe o sentido de sistema de parentesco, família extensa, linhagem, clã etc. as relações de parentesco, mas,
Outros estudos referem-se ao ayllu com uma conotação territorial, e essa interpretação só é sim, a comunidade que se podia
possível a partir do século XVI, quando cronistas espanhóis propagam o termo com uma acep- transformar numa cooperativa,
ção de agrupamento de índios ou pueblo
pueblo.. na qual todos produziriam para
O ayllu pré-hispânico é a família extensa que forma um grupo local detentor ou não de um terri- o bem do grupo.
tório utilizado comunitariamente para subsistência de seus integrantes. Sendo assim, o ayllu não é PORTUGAL, Ana Raquel. O ayllu andino
o território, a aldeia, mas o grupo familiar que está ligado por laços de parentesco e reciprocidade nas crônicas quinhentistas: um polígrafo
na literatura brasileira do século XIX (1885-
produtiva.
1897). São Paulo: Cultura Acadêmica,
[...] 2009. p. 101-102, 104, 106-107.
21

008a032_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 21 03/09/22 08:46


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que o conheci-
mento acumulado sobre os
indígenas do Brasil é pouco
disseminado entre nós, o
Os tupis
que leva muitas pessoas a re-
Quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou, havia milhões de indígenas agrupados em
produzir juízos extraídos do
mais de mil povos falantes de cerca de 1 300 línguas. Boa parte dessas línguas pertencia
senso comum. Um equívoco,
ao tronco tupi. Calcula-se que, na época, a população tupi era de 1 milhão de pessoas.
por exemplo, é considerar os
Os povos tupis tinham uma origem comum: a atual Floresta Amazônica. Suas casas
povos indígenas como para-
dos no tempo, como muitas eram ruidosas e movimentadas. Suas aldeias eram grandes se comparadas às da Amazônia
vezes vemos em noticiários, atual. Por volta de 500 a.C., eles começaram a se expandir; uma parte deles caminhou
jornais e revistas. As socie- pelo interior em direção ao sul; outra parte rumou até a foz do Rio Amazonas e depois
dades indígenas passaram avançou pelo litoral no sentido norte-sul.
por mudanças significativas. Os tupis praticavam a agricultura, com destaque para o cultivo da mandioca, planta
São histórias de milhares que foi descoberta e domesticada por eles. Para complementar sua dieta caçavam, pes-
de anos, marcadas por con- cavam e coletavam produtos da floresta.
frontos e alianças, desloca- Entre os grupos tupis que habitavam o litoral estavam os tupinambás da área onde
mentos, conquistas e per- hoje é o Rio de Janeiro; e os tupiniquins que tinham suas aldeias onde hoje é Porto Seguro,
das; enfim, uma história tão na Bahia.
movimentada e interessante
quanto a de outros povos.
LUCIOLA ZVARICK/PULSAR IMAGENS

Professor, os dados sobre a


população indígena em 1500,
quando os portugueses aqui
chegaram, são divergentes.
Alguns dizem que havia de
2 a 4 milhões de indígenas.
Outros afirmam que poderia
variar de 6 a 10 milhões. Ou-
tros, ainda, mais ponderados,
acham que seria de 3,5 a 6
milhões. De uma forma ou de
outra, eram milhões de indí-
genas, agrupados em cente-
nas de povos falantes de cerca
de 1 300 línguas.

TEXTO DE APOIO
O texto a seguir é de Eduar-
do Góes Neves, doutor em Ar-
queologia pela Universidade Crianças falantes de língua tupi se refrescam e se divertem tomando banho no lago Mauaiaca.
de Indiana e livre-docente pela Aldeia Ipavú, Parque Indígena do Xingu (MT), 2018.
Universidade de São Paulo.
Os índios antes de Cabral
22
É uma verdade estabelecida
para a maioria dos brasileiros
peia, tal processo é no 22Brasil conhecido como se instalaram há dezenas de milhares de anos,
que a história do país foi inau- AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 01/08/22 12:17 AV-

“descobrimento”, o que revela o preconceito e ocupando virtualmente toda a extensão desse


gurada em 22 de abril de 1500.
desconhecimento sobre as populações indíge- continente. Ao longo desse período, essas po-
O que aconteceu antes disso,
nas do Brasil e sua história. pulações desenvolveram diferentes modos de
domínio da “pré-história”, seria
A imagem das sociedades indígenas comum uso e manejo dos recursos naturais e diferentes
um pouco vago e na verdade
ao público geral é estática: indivíduos vivendo formas de organização social, o que é atestado
irrelevante para o posterior de-
em pequenas aldeias isoladas na floresta, repre- pelo crescente número de pesquisas arqueoló-
senvolvimento do Brasil, mere-
sentando um passado remoto, uma etapa evo- gicas realizadas no Brasil e países vizinhos.
cendo poucas páginas dos livros
didáticos. Ao contrário dos paí- lutiva de nossa espécie. Enfim, populações sem NEVES, Eduardo Góes. Os índios antes de Cabral: arqueologia e
história indígena no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI,
ses da América Espanhola, onde história. Nada mais errado. Sabe-se hoje que os
Luís Donizete Benzi (org.). A temática indígena na escola:
“conquista” é o termo utilizado povos indígenas que habitam o continente sul- novos subsídios para professores de 1o e 2o graus. São Paulo:
para designar a ocupação euro- -americano descendem de populações que aqui MEC: Mari: Unesco, 1995. p. 171.
22

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 22 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que um elemento
importante da cultura de um
Modo de viver povo é a língua; as línguas
são agrupadas em famílias e
Os povos tupis tinham um jeito parecido de viver e falavam línguas semelhantes, o que
estas, em troncos.
facilitava a comunicação entre eles ao longo da costa. Suas aldeias tinham uma população
• Aprofundar o assunto com
que variava entre 500 e 3 000 pessoas e eram formadas por quatro ou oito casas (malocas,
a leitura dos textos: ROSA,
em tupi), feitas de madeira e cobertas com folhas de palmeira. As casas eram dispostas
Giovanni Santa. Povos Tupi e
em torno de um pátio central, onde aconteciam as festas e as reuniões. Cada casa era
Aruak já habitavam Pará desde
habitada não apenas por pai, mãe e filhos, mas também avós, avôs, primos, sobrinhos, o século III, afirma arqueóloga.
netos e outros membros da família (família extensa). Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2012. Disponível em:
Corte do pau-brasil
https://www5.usp.br/noticias/
pesquisa-noticias/povos-
Transporte do tupi-e-aruak-ja-habitavam-
pau-brasil o-para-desde-o-seculo-iii-
afirma-arqueologa-do-mae/;
Troca do pau-brasil
INSTITUTO BRASILEIRO DE
com os europeus GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Modos de vida dos tupinambás
ou tupis. IBGE, Rio de Janeiro,
c2022. Disponível em: https://
brasil500anos.ibge.gov.
Detalhe do mapa de br/territorio-brasileiro-
um atlas de 1542 do e-povoamento/historia-
francês Jean Rotz. indigena/modos-de-vida-dos-
Na imagem, vemos
a representação de tupinamba-ou-tupis.html.
uma aldeia tupi e suas Acessos em: 30 maio 2022.
malocas. Na parte • Temas Contemporâneos
superior da imagem,
vemos cena de
Transversais: os temas traba-
transporte e escambo lhados nesta página e nas pá-
de pau-brasil entre ginas seguintes contribuem
indígenas e europeus; para o desenvolvimento da
no canto inferior
macroárea multiculturalis-
esquerdo, crianças
brincando; e, à direita, mo, pois o ensino da história
conflitos entre grupos das culturas indígenas se in-
indígenas. Observe sere nela.
a disposição das
malocas (casas),
ao centro.

margens dos rios, outros, o inte-


rior da floresta, e outros mais, as
montanhas. Alguns deles vivem
BIBLIOTECA BRITÂNICA, LONDRES
em grandes malocas comuni-
23 tárias, outros habitam aldeias
ovais compostas por várias ca-
sas ou pequenas malocas, ou,
ainda, casas separadas e disper-
12:17 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 23 Essa diversidade cultural dos povos01/08/22
indíge-
12:17 sas ao longo dos rios e das flo-
nas demonstra a multiplicidade de povos e restas. Do mesmo modo, alguns
Povos indígenas do Brasil das suas relações com o meio ambiente, com praticam preferencialmente a
o meio mítico religioso e a variação de tipos de pesca, outros, a caça, e outros,
Os linguistas organizam as línguas indígenas
organizações sociais, políticas e econômicas, de ainda, a agricultura ou a coleta
do Brasil em três troncos: Tupi, Macro-Jê e Aruak.
produção de material e de hábitos cotidianos de de frutos silvestres.
Mas existem algumas línguas que não se enqua-
vida. Pode-se afirmar que os modos de vida dos LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio
dram em nenhum desses troncos linguísticos. povos indígenas variam de povo para povo con- brasileiro: o que você precisa saber sobre
Cada povo indígena possui um modo próprio forme o tipo de relação que é estabelecida com os povos indígenas no Brasil de hoje.
de organizar suas relações sociais, políticas e Brasília: Ministério da Educação, Secretaria
o meio natural e o sobrenatural. Em razão disso,
de Educação Continuada, Alfabetização e
econômicas – as internas ao povo e aquelas com os lugares e os estilos de habitação variam de Diversidade: Laced/Museu Nacional, 2006.
outros povos com os quais mantém contato. [...] povo para povo. Alguns escolhem para morar as p. 43-45.
23

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 23 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Problematizar a permanên-

MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA. FOTO: ROMULO FIALDINI/TEMPO COMPOSTO


cia dos mantos e outros obje-
tos da cultura material indí- Técnicas e saberes tupis
gena em museus europeus.
• Informar que atualmente há
comunidades tupinambás
Objetos que contam história
que demandam na justiça a Os mantos indígenas vistos nesta página
volta desses mantos para seu foram confeccionados pelos tupinambás,
lugar de origem. grupo falante de língua tupi que habitava
o litoral brasileiro. São confeccionados com
fibras naturais (embira) e penas de guará,
TEXTO DE APOIO ave de plumagem vermelha do litoral norte
brasileiro. Informa-nos um estudioso que:
Ensino de História e
Todos os anos, os tupinambás saíam
cultura material
em grandes expedições para obter as
Dentre os diferentes tipos de
penas da ave guará [...]. Essas capas de
fontes históricas, a cultura ma-
terial revela-se uma das mais penas, denominadas pelos tupinambás
antigas (assim como as fontes de Guará-abacu e Assoyane, cobriam o
visuais e orais), pois é anterior indivíduo até a altura do joelho.
ao período no qual os seres hu-
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil.
manos desenvolveram a escrita. Brasília, DF: MEC, 1994. p. 250.
No entanto, sua utilização pela
ciência com o propósito de cons- Manto tupinambá. Copenhague
(Dinamarca), século XVI.
truir a História é desproporcio-
nal à sua ocorrência na humani-
dade, remontando tardiamente O manto acima servia para vestir os
ao século XIX da era cristã. [...] meninos durante importante festa que
[...] Os historiadores percebe- celebra a passagem da adolescência para
ram que os artefatos que os se- a fase adulta; o manto da direita, para
res humanos criam, produzem,
utilizam e consomem dizem
homenagear os adultos do sexo mascu-
respeito não só à sua trajetória lino que se destacavam por sua valentia
histórica, como também à cons- ou religiosidade.
trução de sua identidade. [...] Os tupinambás nos deixaram seis
Nesse sentido, o que somos, exemplares de mantos, todos conservados
não só do ponto de vista indi- em museus da Europa. O manto acima
vidual, mas também do pon-
to de vista coletivo, é moldado está no Museu Nacional de Copenhague,
com base na apropriação que na Dinamarca; e o da direita, no Museu
fazemos [...]. Em última análi- do Homem, em Paris, na França.
se, os artefatos construídos e
utilizados por nós cotidiana-
mente dizem respeito à nossa PA
RIS
Manto tupinambá. Paris (França), século XVII. M,
história. Como isso ocorre de OH
OME

UD
maneira prática? Em que medi- MU
SE

da fazemos história com base


nos objetos? É possível ensinar e
aprender história por meio dos 24
artefatos? [...]
ABUD, Kátia; SILVA, André Chaves de
Melo; ALVES, Ronaldo Cardoso. Ensino de
AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 24 05/08/22 09:34 AV-
História. São Paulo: Cengage Learning,
2010 (Coleção ideias em ação, p. 108-110).

24

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 24 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar a importância da
domesticação da mandioca
Mais da metade dos brasileiros consome farinha de mandioca, diariamente. A man- como contribuição original
dioca foi domesticada pelos povos tupis da Amazônia. de povos tupis da Amazônia
para a dieta alimentar da so-
O processamento da mandioca ciedade brasileira.
O alimento básico de numerosas sociedades indígenas é constituído pela mandio- • Interdisciplinaridade: pro-
ca-brava e seus derivados. Nessa variedade de mandioca existe um poderoso veneno por uma atividade interdis-
[...], mas os índios desenvolveram técnicas especiais para torná-la comestível. Nós ciplinar em conjunto com o
aprendemos deles essas técnicas. professor de Ciências, para
Descasca-se e rala-se a mandioca, lava-se a massa com água sobre uma peneira,
elaborar uma pesquisa sobre
as técnicas indígenas para
espremendo-a depois com as mãos. Em seguida, a polpa é colocada numa prensa: na
extrair os componentes noci-
esteirinha manual ou no tipiti [...]. O sumo que escorre por entre as malhas é recolhido
vos da mandioca.
numa panela e decantado. O líquido chama-se tucupi e perde o veneno quando deixado
ao sol ou aquecido ao fogo, servindo então para temperar a comida, junto com outros
condimentos. Lava-se também o sedimento branco do fundo da panela, o polvilho,
para livrá-lo do veneno. Depois de torrado em tachos, obtém-se a tapioca. alimentares, como a preferência
A polpa da mandioca é retirada da prensa e seca ao sol em forma de pães. Para pela “giroba”, uma bebida fermen-
fazer farinha, esses pães são esfarelados e torrados. Para fazer beijus, mistura-se a tada produzida por eles. [...]
massa esfarelada com um pouco de água, espalhando-a sobre tachos rasos. Pazinhas Os Tupinambá de Olivença vi-
vem em pequenas unidades re-
de madeira em forma de meia-lua servem para virar os beijus sobre o torrador. Com
sidenciais, distribuídas em uma
a farinha fazem-se ainda bebidas [...], tortas e mingau. A farinha é guardada em [...] área de cerca de 50 000 hectares.
cestas e cabaças. Apesar de não viverem isolados
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Formas de humanidade: manifestações dos vizinhos não indígenas, os
socioculturais indígenas. Guia temático para professores. São Paulo: MAE-USP: LEMAD-FFLCH-USP, 2008. p. 12. Tupinambá de Olivença vivem
em áreas residenciais com ca-
racterísticas próprias, comu-
CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS

RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS


À esquerda, mente designadas de lugares.
fotografia do tipiti, A designação lugar é normal-
espremedor de palha mente seguida do nome de um
usado para espremer dos habitantes da casa princi-
a mandioca e pal – geralmente daquele que a
preparar a farinha.
fundou: “o lugar de Miguel”, por
Santarém (PA), 2011.
exemplo. Com relação à organi-
zação socioeconômica, pode-se
À direita, moça da
nação kamayurá, dizer que as casas têm certa in-
falante de uma dependência no que diz respeito
língua tupi, ralando à produção e ao consumo. Cada
mandioca para casa possui sua roça e a farinha
preparação do beiju. ali produzida pertence exclusi-
Aldeia kamayurá, vamente àqueles que cultiva-
Parque Indígena do ram as mandiocas. [...]
Xingu, Gaúcha do
Os Tupinambá de Olivença
Norte (MT), 2012.
produzem uma enorme varie-
dade de alimentos a partir de
vários tipos de mandioca. Des-
25 taca-se a importância da pro-
dução de farinha de mandioca,
do beiju e da “giroba” [...] para a
vida social e também para a sub-
09:34 AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 25 TEXTO DE APOIO 01/08/22 12:17
sistência dos Tupinambá. [...]
Tupinambá de Olivença O sistema de plantio entre os
Tupinambá de Olivença é o da
Os Tupinambá de Olivença vivem na região de Mata Atlântica, no sul da Bahia. [...] agricultura de coivara, que im-
A vila hoje conhecida como Olivença é o local onde, em 1680, foi fundado por missionários jesuítas plica na derrubada e queima da
um aldeamento indígena. Desde então, os Tupinambá residem no território que circunda a vila, nas pro- mata, na limpeza do terreno e
ximidades do curso de vários rios, entre os quais se destacam os rios Acuípe, Pixixica, Santaninha e Una. depois na plantação.
Apesar da longa história de contato, a filiação ameríndia é fundamental para compreendermos a vida TUPINAMBÁ de Olivença. Povos Indígenas
no Brasil. [S. I.], c2021. Disponível
social dos Tupinambá de Olivença na atualidade. Não se trata de um resquício histórico remoto, mas
em: https://pib.socioambiental.org/pt/
de uma marca efetiva na organização social e modo de vida dos Tupinambá que hoje habitam a região. Povo:Tupinambá_de_Olivença.
Entre outros aspectos, destacam-se sua organização em pequenos grupos familiares e certos gostos Acesso em: 4 ago. 2022.
25

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 25 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Utilizar o tema da pintura
corporal para sublinhar a di-
versidade cultural entre os
povos indígenas do Brasil.
Saberes e técnicas dos indígenas do Brasil
A
• Ressaltar as inúmeras dife-
renças nas formas e significa-
A pintura corporal nas terras onde hoje é o Brasil
dos dessa pintura. Os indígenas enfeitavam seus corpos de muitas maneiras. Colares, cocares, enfeites
• Valorizar as técnicas e os sa- labiais, brincos e outros adereços foram encontrados em todo o território, usados de
beres presentes na confec- muitas maneiras pelos diferentes povos. Alguns deles usavam brincos, braceletes e colares
ção das pinturas corporais. no dia a dia, e outros somente em ocasiões especiais. Já o ato de se embelezar e pintar o
• Aprofundar o assunto com corpo estava ligado, geralmente, a festas e ocasiões especiais. As cores e os desenhos das
a leitura dos textos: FUNDA- pinturas variavam de acordo com o acontecimento. As pinturas femininas eram especiais,
ÇÃO NACIONAL DE ARTE, mas, como as dos homens, também se relacionavam a determinados rituais ou ocasiões.
Instituto Nacional de Artes Não é exagero dizer que os saberes e as técnicas indígenas estão presentes nas pin-
Plásticas. A arte e seus ma- turas corporais de diferentes povos. Segundo um estudo sobre o assunto:
teriais: arte e corpo: pintura [...]
sobre a pele e adornos de
As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra
povos indígenas brasilei-
e outros materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da
ros. Rio de Janeiro: Funarte:
arte ocidental, assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata
Inap, 1985; SILVA, Lucivaine
Melo da; MOREIRA, Maria de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particu-
Geralda A. história indígena laridades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções. [...]
na sala de aula: o uso do gra- O CONCEITO de arte e os índios. Povos Indígenas no Brasil. [S. l.], 2018.
Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Artes. Acesso em: 17 maio 2022.
fismo e da pintura corporal
como recurso didático. In:
LUCIOLA ZVARICK/PULSAR IMAGENS

CONGRESSO DE ENSINO,
PESQUISA E EXTENSÃO, 4.,
2017, Pirenópolis. Anais [...].
Pirenópolis, UEG, 2017.
O trabalho com esse tema
contribui para o desen-
volvimento da habilidade
EF07HI03.

Indígenas da etnia tuyuka, da aldeia Utapinopona, fazendo pintura facial. Manaus (AM), 2018.
A tinta vermelha é extraída do urucum, e a preta, do jenipapo.

26

AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 26 01/08/22 12:17 AV2

26

008a032_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 26 03/09/22 19:33


ENCAMINHAMENTO
1. c) Todos os povos subjuga-
dos pelos astecas eram obriga-

ATIVIDADES
ATIVIDADES NÃO ESCREVA dos a pagar-lhes pesados im-
NO LIVRO.
postos, sob a forma de penas
raras, pedras preciosas e ali-
mentos; d) Os povos domina-
dos eram obrigados a cultuar

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP VIA GETTY IMAGES


o deus asteca da guerra. Isso
I. Retomando ajuda a explicar por que os po-
vos dominados se revoltaram
contra a dominação asteca.
1 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua
Professor, comentar que os
resposta. 1. Alternativas A e B.
povos americanos não utiliza-
a) No início do século XIV, depois de muito caminhar, os astecas
vam moedas. Os espanhóis,
chegaram ao Vale do México e, em 1325, fundaram a cidade
de Tenochtitlán. depois de tomar desses povos
b) Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os os objetos de ouro ou prata,
astecas dominaram diversos povos da região e formaram um derretiam-nos e transforma-
grande império, o Império Asteca. vam-nos em moedas.
c) Alguns povos subjugados pelos astecas eram obrigados a pagar- 2. d) É provável que os estu-
-lhes pesados impostos, moedas de ouro e prata. dantes critiquem a teoria. O
d) Além de pagar impostos, os povos dominados também eram Lista de pagamento de impostos importante é avaliar os argu-
obrigados a cultuar o deus asteca da guerra. Isso ajuda a expli- feito em mercadorias. mentos que eles utilizam para
car por que os povos dominados aceitaram a dominação asteca. Códice asteca, século XVI.
justificar o seu ponto de vista.
2 Sobre a sociedade asteca, leia o que um historiador diz a respeito.
A teoria do poder fundava-se na afirmação de que os deuses puseram os Dica de leitura
nobres à frente dos homens comuns por serem estes coléricos e travessos, incapa- O livro aborda diferentes
zes de governar a si mesmos. A obrigação dos nobres era serem pais de seu povo e aspectos da vida social dos as-
um modelo para ele (“uma luz, uma tocha, um modelo, uma medida”, diz o Códice tecas e contém ilustrações e
florentino);
florentino); a do povo, obedecer, trabalhar e pagar tributos. [...] mapas baseados em pesquisa
FLAMARION, Ciro. Poder político e religião nas altas culturas pré-colombianas: astecas, maias e incas.
In: VAINFAS, Ronaldo (org.). América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
acadêmica.
(Coleção Jubileu. Os grandes acontecimentos históricos em suas datas comemorativas, p. 17).
• SOUSTELLE, Jacques. A civili-
a) Qual é a explicação dada no texto para o poder dos nobres sobre os homens comuns? zação asteca. Rio de Janeiro:
b) Quais são os adjetivos usados para descrever os homens comuns? Zahar, 2002.
c) Segundo o texto, nobres e homens comuns tinham obrigações entre si. O que cabia a cada
uma das partes? 2. a) O poder dos nobres sobre os homens comuns era da vontade dos deuses.

EDITORA ZAHAR
d) Avalie e comente a teoria asteca do poder, colocando-se no lugar de uma pessoa comum da
sociedade asteca da época. 2. d) Resposta pessoal.
2. b) “Coléricos” e “travessos” e, portanto, incapazes de governar a si mesmos.
3 Avalie as afirmações a seguir e indique as corretas. 3. Alternativas A e C.
a) A vida da maioria no Império Asteca era opressiva; todos os povos dominados tinham de
pagar pesados tributos.
b) Os astecas exigiam que os tributos fossem pagos a eles em ouro, prata e pedras preciosas.
c) Os tributos pagos aos astecas fizeram a riqueza e o poder de Tenochtitlán, capital do Império.
d) Os tributos pagos aos astecas acabavam beneficiando a todos os povos do Império.
2. c) Os nobres tinham obrigação de ser um modelo para o povo. Já o povo devia
trabalhar, pagar impostos e obedecer.
27

12:17 TEXTO DE APOIO


AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 27 O Livro XII, último assunto
05/08/22 09:34 do Códice Florentino, trata especifi-

camente da conquista de México-Tenochtitlán realizada por Her-


O Códice Florentino é um manuscrito composto por duas co-
nán Cortés e seus soldados. Este último Livro, assim como toda
lunas de textos, uma em castelhano e outra em língua nahuatl
nahuatl,,
e por imagens que estão dispostas ao longo da coluna em cas- a obra, possui duas narrativas – a castelhana e a nahuatl – e as
telhano. Produzida no período colonial, na segunda metade do imagens dispostas apenas na coluna castelhana. Assim, quando
século XVI, a obra foi confeccionada por Sahagún com o auxílio há um enfoque especificamente no Livro XII, percebem-se três
de seus alunos do Colégio de Santa Cruz de Tlatelolco, como tipos de narrativas.
Antonio Valeriano, Antonio Verjarano, Martín Jacobita, Pedro RODRIGUES, Flora Alice Lima. Visões sobre a conquista de México:
de San Buenaventura e Andrés Leonardo. A obra está dividida os relatos de Bernardino Sahagún e seus auxiliares indígenas.
em doze Livros, os quais delimitam temas diversos – desde a Dissertação (Mestrado em História) – Curso de Pós-Graduação em História,
origem dos deuses indígenas até a conquista de México-Teno- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
chtitlán. Seropédica, 2016. p. 1.
27

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 27 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
4. a) Os astecas sabiam construir
ilhas artificiais, chamadas chi- 5. a) A ocupação territorial era organizada segundo uma hierarquia, ou seja, a posição social dos grupos na sociedade.
nampas; d) O artista mexicano
Diego Rivera valorizou em seus 4 Os astecas possuíam saberes e técnicas que impressionam até hoje. 4. Alternativas B e C.
murais a atuação dos povos in- Sobre esse assunto, copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha.
dígenas nos diversos campos da a) Os astecas sabiam construir ilhas artificiais, chamadas códices, onde plantavam flores, alimen-
vida social. tos e plantas medicinais.
5. Realizar uma leitura e dis- b) Os astecas dominavam as técnicas de fazer canais de irrigação e aquedutos, o que possibilitava
cussão coletiva do texto, antes o aumento da produção de alimentos.
que os alunos elaborem, indi- c) Os astecas tinham conhecimentos avançados de arquitetura, o que lhes permitia construir
vidualmente, respostas para as cidades com ruas largas e retas.
alternativas. d) O artista mexicano Diego Rivera valorizou em seus murais a ação dos conquistadores espanhóis.
5. d) O objetivo da atividade é 5. b) Ocupavam a área central e ficavam próximas ao palácio do Imperador.
permitir aos alunos associarem 5 Leia o texto a seguir sobre a sociedade asteca.
o poder do imperador ao lugar A ocupação territorial era organizada segundo uma hierarquia, na qual as
central ocupado por ele no es- elites sociais ocupavam as áreas mais próximas ao centro, enquanto [...] o povo
paço asteca. Enquanto ele estava ficava nas áreas mais periféricas. As casas das classes privilegiadas eram maiores
no centro e a nobreza ocupava e construídas com pedras, enquanto as casas da população mais simples eram
as áreas ao redor do palácio, o feitas de adobe.. O edifício residencial mais importante era o palácio real, chamado
povo vivia na periferia da cidade.
de Palácio de Moctezuma II, que fazia frente à grande praça e estava Adobe: tijolo
6. Retomar com os alunos o sig-
nificado e a função dos códices ao lado do centro cerimonial.
SALVAT, Ana Paula dos Santos. Colonizada, mas não silenciada: a permanência da cultura asteca na configuração
como veículos de escrita que artística e arquitetônica do zócalo, na Cidade do México. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE,
transmitiam conhecimentos acu- 12., 2017, Campinas. Anais [...]. Campinas: Unicamp, 2017. p. 66.
mulados por um povo, no caso do a) Como era organizada a ocupação territorial na sociedade asteca? 5. d) Resposta pessoal.
Códice Mendoza, o povo asteca. b) As construções arquitetônicas das elites ocupavam qual área da cidade? Justifique.
Professor, auxiliar os alunos c) Qual é a diferença entre as moradias das elites e a da população mais simples?
na interpretação de cada uma d) Em sua opinião, por que o palácio do imperador era construído na área central da cidade?
das atividades representadas na
e) Reflita e tente responder: por que o pesquisador de hoje tem mais facilidade de saber como
imagem e retomar e consolidar eram as casas da nobreza do que as das pessoas comuns? 5. e) Resposta pessoal.
a ideia de uso da imagem como 5. c) Enquanto as casas da elite eram grandes e feitas de pedra, as da população mais simples eram pequenas
fonte para a construção do co- 6 Observe as cenas da imagem a seguir com atenção. e feitas de adobe.
nhecimento histórico.
a) O que se pode saber sobre a vida econômica
BETTMANN/GETTY IMAGES

6. b) Os alunos podem citar o dos astecas com base nessa imagem do


trabalho de transportar, remar, Códice Mendoza?
esculpir (tira 2), e de pescar e b) Descreva as cenas de trabalho.
tecer uma rede (tira 3).
c) Esses desenhos podem ser considerados uma
6. c) Comentar a relevância fonte importante para os historiadores, ou o
dessas fontes visuais, tendo em que tem importância para eles são apenas os
conta que os artistas que a de- documentos escritos?
senharam são astecas e contem- 6. a) É possível concluir que os astecas praticavam a
porâneos dos acontecimentos agricultura, a pesca, o artesanato e a tecelagem.
narrados no capítulo. 6. b) Resposta pessoal.
6. c) As fontes visuais são tão importantes quanto as
escritas para a construção do conhecimento em História.
Detalhe do Códice Mendoza,
TEXTO DE APOIO México, c. 1500.
A cidade asteca de
Tenochtitlán 28
A cosmologia orientava os as-
tecas em relação à sua percep-
ção de tempo, de espaço, o rela- sagrado, que faria a união
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 28 vertical com o céu e Grandes estradas foram construídas para li- 01/08/22 12:17 AV-
cionamento do ser humano com o inframundo, e era considerado o umbigo do gar a ilha ao continente e aos aquedutos. As
a natureza, a conduta e o cuida- mundo. Separadas por estradas em forma de três principais, e que permanecem até hoje,
do do corpo humano, princípios cruz, as quatro regiões ou bairros de Tenochti- são: ao sul, a Calzada de Iztapalaga (atualmente,
básicos de organização social, tlán eram Mayotlan, Teopan, Atzacualco e Cue- Estrada Tlalpan e Avenida San Antonio Abad);
religião, mitologia, ritual, mági- popan, e no centro estava o recinto cerimonial a oeste, a Calzada de Tlacopan (atualmente, Rua
ca, medicina e calendário. Nesse que era constituído por 78 edifícios, entre eles, México-Tacuba), e que se ligava ao aqueduto de
sentido, o desenho da cidade de o Templo Mayor.Mayor. As praças, no contexto urbano Chapultepec; ao norte, a Calzada de Tepeyácac
Tenochtitlán, refletia a ordem ameríndio eram locais de múltiplos usos, onde (atualmente, Estrada dos Mistérios).
que havia no universo: a área foi eram realizadas celebrações, trocas comerciais SALVAT, Ana Paula dos Santos. Colonizada, mas não silenciada:
a permanência da cultura asteca na configuração artística e
dividida em quatro partes que e cerimônias, sendo necessário que fossem am- arquitetônica do Zócalo, na Cidade do México. In: ENCONTRO
marcavam as quatro direções do plas para receberem o povo que passava grande DE HISTÓRIA DA ARTE, 12., 2017, Campinas. Anais [...]
universo, e ao centro, o espaço parte do tempo ao ar livre. Campinas, Unicamp, 2017. p. 65-66.
28

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 28 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura dos textos: MONTE-
7 Copie no caderno a alternativa correta. 7. Alternativa A. LEONE, Joana. Os muitos
a) Os maias se estabeleceram na Península de Yucatán e domesticaram plantas como o açaí, o milhos do vale sagrado dos
guaraná e a mandioca incas. Brasil de fato. [S. I.],
b) Os maias nunca formaram um Império. Organizavam-se em cidades-Estado, ou seja, cidades 2019. Disponível em: https://
com governos e leis próprios. www.brasildefato.com.
c) Os camponeses maias pagavam impostos ao governo sagrado com ouro e pedras preciosas br/2019/08/23/os-muitos-
que retiravam das minas. milhos-do-vale-sagrado-
d) A indústria tinha grande importância na vida dos maias. A mandioca era a base de sua
dos-incas/. Acesso em: 4
alimentação.
ago. 2022. Livro a respeito
8 Avalie as afirmações e indique as corretas. 8. Alternativas A, B e C. da alimentação no Império
a) Os incas tinham uma agricultura desenvolvida, utilizavam um sistema de irrigação por canais Inca, que toca em diversos
e uma técnica agrícola que se aproveitava de terraços cavados nas encostas das montanhas pontos sobre o modo de vida
(sistema de terraços). desse povo: NEVES, Ana Maria
b) Cada aldeia era formada por um conjunto de famílias camponesas unidas por laços de paren- Bergamin; HUMBERG, Flávia
tesco, que recebia o nome de ayllu; o chefe do ayllu era o kuraka. Ricca. Os povos das Américas:
c) Os habitantes do ayllu plantavam milho, feijão, batata e pastoreavam os lhamas e as alpacas dos primeiros habitantes
(animal de carga semelhante ao lhama). às primeiras civilizações
d) Todas as terras do ayllu eram para o imperador e sua família.
urbanas. São Paulo: Atual,
e) Os camponeses eram obrigados a prestar serviços remunerados ao Estado; essa obrigação
1996. (História geral em
recebia o nome de encomienda.
documentos).
9 Observe a imagem e, depois, responda às questões. • Sugerir aos alunos que ela-
borem um glossário no ca-

3523STUDIO/SHUTTERSTOCK.COM
derno, incluindo definições
elaboradas com as palavras
deles para os termos ayllu,
mita e kuraka, para que esse
recurso esteja disponível
para consulta.
9. O trabalho com esta ativida-
de pode contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade
EF07HI03.
Imagens em movimento
Vista de Machu Picchu (Peru). Fotografia de 2019. Vídeo legendado sobre a
9. b) Tratava-se de construir terraços na forma de uma imensa escada para a prática da agricultura. história de Machu Picchu.
a) Na imagem, veem-se vestígios de uma técnica agrícola utilizada pelos incas. Que técnica era
essa? 9. a) Essa técnica agrícola era o sistema de terraços.
• A ORIGEM de Machu Picchu.
b) Em que consistia essa técnica? 2019. Vídeo (3min18s). Pu-
c) O que eles cultivavam nos degraus mais altos? Por quê? blicado pelo canal National
d) E nos degraus mais baixos? 9. d) Nos degraus mais baixos, semeavam as árvores frutíferas. Geographic Portugal. Dispo-
e) O que conseguiam aplicando essas técnicas e saberes? nível em: https://youtu.be/
9. e) Conseguiam colheitas variadas e fartas o ano inteiro. rYPKVfKqGVc. Acesso em: 4
29
9. c) Nos degraus mais altos, os incas cultivavam espécies vegetais resistentes ao frio, como a batata,
e nos do meio, milho, abóbora e feijão.
ago. 2022.

12:17 TEXTO DE APOIO


AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 29 ma, o setor de Machu01/08/22
Picchu,
12:17 localizado a cerca de 2 430 metros

acima do nível do mar, onde é possível desfrutar do verde da selva


O Santuário Histórico de Machu Picchu está localizado 130 qui-
de Cusco.
lômetros a nordeste de Cusco. Cobre uma área de mais de 32.500
A paisagem do Santuário Histórico de Machu Picchu possui um
hectares. Em seu território, os incas construíram dezenas de sítios
grande valor ambiental com áreas de mata cerrada, circundadas
arqueológicos. Definitivamente, a mais famosa de todas é Machu
por um profundo desfiladeiro que forma o rio Urubamba. A pro-
Picchu, reconhecida como uma das 7 maravilhas do mundo mo-
jeção da cordilheira oriental dos Andes se apresenta, como uma
derno. Os turistas que fazem a Trilha Inca visitam este santuário
paisagem imponente, com imponentes montanhas nevadas e
onde podem desfrutar de incríveis paisagens.
uma vasta região de alta selva.
A geografia varia em todo o santuário. Por exemplo, a área de
A PAISAGEM do Santuário Histórico de Machu Picchu. Trilha Inca Machu Picchu.
Abra Málaga, localizada a 4 200 metros acima do nível do mar, [S. I.], c2022. Disponível em: https://trilhaincamachupicchu.org/santuario-
oferece surpreendentes paisagens montanhosas. Da mesma for- historico-machu-picchu/. Acesso em: 4 ago. 2022.
29

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 29 31/08/2022 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar as discussões sobre 11. c) Não. A imagem sugere que todos trabalham igualmente a favor da comunidade. Note que as crianças aju-
arte indígena acessando as dam os adultos a trabalhar para conseguir alimento para o grupo.
páginas que tratam do Coletivo 10 Em grupo. Imaginem que vocês trabalham em uma agência de turismo e precisam
MAHKU: MOVIMENTO dos convencer pessoas que estão indecisas a fazer uma viagem a Machu Picchu. Façam um
artistas Huni Kuin (AC). Instituto relatório ilustrado (desenhos, fotografias, mapas), incentivando-as a conhecer o Templo
Moreira Salles. [S. l.], [201-]. do Sol, a Tumba Real, As Três Ventanas, A Praça Sagrada e o Templo do Condor. Postem
Disponível em: https://ims. o trabalho no blogue da turma. 10. Produção pessoal.
com.br/convida/movimento-
dos-artistas-huni-kuin/; JAIDER 11 Observe a imagem a seguir. Ela é uma obra de arte da artista indígena macuxi
Esbell. Prêmio Pipa. [S. I.], 2021. Carmézia Emiliano.
Disponível em: https://www. CARMÉZIA EMILIANO/COLEÇÃO AUGUSTO LUITGARDS

premiopipa.com/pag/jaider-
esbell/. Acessos em: 4 ago. 2022.
10. Fontes para pesquisa:
MACHU Picchu: o santuário
histórico que irradia energia.
Perú. [S. I.], c2021. Disponível
em: https://www.peru.travel/pt/
atracoes/machu-picchu#locais-
de-interesse-em-machu-picchu;
VENDRAME, Fábio. Dez atrações
imperdíveis em Machu Picchu.
Viagem e turismo. [S. I.],
2012. Disponível em: https://
viagemeturismo.abril.com.
br/materias/dez-atracoes-
imperdiveis-em-machu-picchu/.
Acessos em: 5 ago. 2022.
11. Discutir com os alunos so-
bre os elementos presentes na
pintura, para auxiliá-los a ela-
borar interpretações a respeito
da obra.
A imersão na atividade 11 co-
labora para os estudantes desen-
volverem a competência geral 3. Obra de Carmézia Emiliano que mostra o trabalho comunitário em uma aldeia indígena, 2009.
11. a) Podem-se observar indígenas, alguns dentro de um lago, outros, nas margens, cada um praticando uma atividade.
a) O que vemos na imagem? 11. b) Os indígenas estão trabalhando, cada um desempenhando
uma função para a sobrevivência do grupo. Alguns pescam
TEXTO DE APOIO b) O que os indígenas estão fazendo?
com rede, outros, portam arco e flecha para pescar.
c) A imagem demonstra uma hierarquia entre os indígenas? As mulheres preparam o peixe,
O tupi nosso de cada dia cozinham e abastecem a lenha.
d) O que as crianças fazem na cena se reproduz na vida real?
Por que você está na pindaíba?
e) A sabedoria indígena nos ensina o respeito ao meio ambiente, de onde tiramos o sustento.
Pode ser porque está desempre-
Qual era a base alimentar dos tupis?
gado ou porque o salário é baixo. 11. d) Sim. Desde cedo, as crianças indígenas aprendem a trabalhar com os mais velhos; aprendem a caçar, plan-
Mas os índios de língua tupi há
séculos já podiam ficar na pin- 30 tar, pescar; e esses conhecimentos são transmitidos de geração para geração.
11. e) Os tupis viviam principalmente da agricultura, em especial do plantio de mandioca; da caça e da pesca.
daíba, sem esses motivos. É que
pindá,, em tupi, significa anzol.
pindá
Iba significa ruim. Então, pin- EAV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd
o que, então, Jabaquara, 30 nome de um bairro de
falavam tupi e os jesuítas usavam esse idioma 05/08/22 09:35 AV-
daíba quer dizer “anzol ruim”. São Paulo e um outro de Santos, tem a ver com para se comunicar com os índios, daí o motivo de
E, para os povos que viviam em isso? É que quara é um sufixo tupi que significa “criarem” uma língua a partir dos vários dialetos.
grande parte da pesca, anzol refúgio, entre outras coisas. Jabaquara significa Por isso, tanto bandeirantes como os religiosos
ruim é o mesmo que não ter o “refúgio dos fugitivos”. É o mesmo que quilombo usavam esta língua para nomear rios, povoados etc.
que comer. no idioma quimbundo. O Quilombo do Jabaquara, STEFANEL, Xandra. O tupi nosso de cada dia. Rede Brasil
[...] Jabá, em tupi, é “fuga, fugir, de Santos, era famoso e abrigou escravos fugitivos Atual. [S. I.], 2014. Disponível em: https://www.redebrasilatual.
até a abolição da escravatura, em 1888. com.br/revistas/2014/11/o-tupi-nosso-de-cada-dia-8105/.
fugitivo”. Quando os índios escra- Acesso em: 4 ago. 2022.
vizados pelos portugueses fugiam [...]
eles precisavam comer, mas, como
não podiam parar para caçar, le- Em todos os estados brasileiros existem cidades
vavam carne seca, que passou a com nomes de origem tupi, mesmo naqueles em
ser chamada de jabá. que não se falava a língua. É que os bandeirantes
30

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 30 31/08/2022 09:48


Imagens em movimento
Vídeo sobre a comercializa-
ção do guaraná na cidade de
Mauês, a 356 km de Manaus.
II. Integrando com Ciências • CONHEÇA a cidade que mais
Hoje, mais de 500 anos após a chegada dos europeus na América, a humanidade produz guaraná no mundo.
começa a avaliar sua imensa dívida para com os ameríndios. Muitas plantas de que a 2018. Vídeo (6min18s).
humanidade se alimenta hoje foram descobertas e domesticadas pelos ameríndios. Entre
Publicado pelo canal Super-
interessante. Disponível
elas estão as plantas alimentícias, como o milho, a batata e a mandioca; e as medicinais,
em: https://youtu.be/
a exemplo do quinino.
TCVN0KsZKEI. Acesso em: 8
Algumas plantas alimentícias são estimulantes e fizeram a fortuna de muitas indústrias
ago. 2022.
ao redor da Terra. Entre as mais conhecidas estão:
1. Guaraná [...]. Era pouco

J.L.BULCÃO/PULSAR IMAGENS
difundido na América. A partir
TEXTO DE APOIO
do século XIX, os Mawé, do rio
Madeira, tinham praticamente O guaraná na história
o monopólio desse produto. [...] Sabe-se que, com o de-
É um estimulante notável, clínio de suas conquistas no
contendo pequeno teor de Oriente, Portugal determinou a
cafeína. O plantio do guaraná abertura da Amazônia como o
seu celeiro provedor de espécies
está difundido, hoje, por várias
de valor comercial [...]. Confiou
regiões e o seu uso aumenta a aos jesuítas a instalação, ao lon-
cada dia. go do Amazonas, de “reduções”
RIBEIRO, Berta G. A contribuição dos povos ou aldeamentos de indígenas
indígenas à cultura brasileira. In: GRUPIONI, atraídos ou “resgatados” dos
Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da
(org.). A temática indígena na escola: altos rios, com o objetivo de
novos subsídios para professores de 1o e 2o sua cristianização e exploração
graus. São Paulo: Global; Brasília, DF: MEC:
Unesco, 1995; p. 204-205.
como mão de obra paga na ex-
tração das famosas “drogas do
sertão”. [...]
Nos breves, mas precisos re-
gistros feitos nas suas memórias
sobre as visitas missionárias que
fez à região do Tapajós, em 1762-
1763, o Bispo do Grão Pará, João
Folha e fruto do guaraná. de São José [...], beneditino, de-
monstra a importância do gua-
raná entre os Magués (mais um
dos diversos nomes dados aos
Sateré-Mawé ao longo dos sécu-
los). Ele chamou a atenção, em
particular, sobre o papel do seu
consumo como fator de coesão
social, de defesa guerreira e de
inserção econômica precoce no
mercado regional. Segundo o bis-
31 po, o guaraná era para os Magués
o seu “bem mais precioso”, con-
sumindo-o nas diferentes ações
que precediam uma guerra:
09:35 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 31 01/08/22 12:17
quando de suas “juntas” ou “con-
selhos”, quando se reuniam para
• Perguntar aos alunos se conhecem os frutos cacau e guaraná. A depender da região onde
decidir as ações estratégicas ou
vivem, é possível que só tenham contato com produtos industrializados produzidos a partir
outros “assuntos importantes”,
dessas matérias-primas, enquanto outros podem conhecê-los in natura. acrescentando que já nessa épo-
A leitura e a interpretação dos textos podem contribuir para os estudantes desenvolve- ca era empregado “como moeda
rem a competência geral 1. para pagamentos”.
FIGUEROA, Alba Lucy Giraldo. Guaraná,
a máquina do tempo dos Sateré-Mawé.
Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 11,
n. 1, p. 55-85, jan./abr. 2016. p. 67.
31

008a032_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 31 03/09/22 08:47


ENCAMINHAMENTO
Integrando com Ciências. a)
Sugestão de site para pesquisa:
GUARANÁ: muito além 2. Atualmente, o Brasil é o sétimo maior produtor mundial de cacau e o terceiro
de um refrigerante. Portal maior consumidor de chocolate.
Ciência & Consciência. [S. I.],
[...] A importância econômica do cacaueiro é traduzida principalmente pelo
2020. Disponível em: https://
consumo de chocolate e confeitos sob as mais variadas formas, por todo o mundo e
portalcienciaeconsciencia.
com.br/portal/2020/07/ pela utilização de manteiga de cacau, nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos
guarana-muito-alem-de-um- [...] O cacau já era cultivado pelos índios muito antes da chegada dos europeus
refrigerante/. na América. O mundo [...] só tomou conhecimento da existência do cacau depois que
b. I. A partir da semente do ca- Cristóvão Colombo descobriu a América. [...] No México era cultivado principalmente
cau é produzido o chocolate, pelos Astecas e pelos Maias na América Central. [...]
um alimento consumido em es-
cala mundial; e outros subpro- Esse cacaueiro era chamado Cacahualt

NNATTALLI/SHUTTERSTOCK.COM
dutos, como: geleias, xaropes, o que designava o “Sagrado”, e os astecas
sorvetes, doces, iogurtes e suco. acreditavam que esta planta era de origem
divina e o próprio profeta Quatzalcault
b. II. O cacaueiro é original de
florestas tropicais da América ensinava ao povo como cultivá-la, tanto
Central e do Sul, incluindo a para o alimento como para o embele-
Floresta Amazônica. zamento de paisagens. De acordo com
b. III. O cacau era utilizado pe- os historiadores, o seu cultivo era de tal
los nativos da floresta como importância que exigia ser acompanhado
bebida. de solenes cerimónias religiosas, fato que
provavelmente influenciou o botânico
b. IV. Theobroma cacao, pala-
vra que vem do grego e signifi- sueco Carolus Linneu (1707-1778), a deno-
ca alimento dos deuses. Profes- minar a planta de Theobroma cacao, de
sor, comentar que, hoje, o ca- origem grega Theos e Bromos e signifi-
cau é conhecido popularmente cando “alimentos dos deuses”. [...]
como manjar dos deuses. O QUEIROGA, Vicente de Paula et al. (org.).
Cacau (Theobroma cacao, L.) orgânico sombreado:
nome científico coincide com a tecnologias de plantio e produção da amêndoa fina.
ideia que os ameríndios tinham Cacau. Campina Grande: AREPB, 2021. p. 11; 15-16.

do cacaueiro; eles o considera-


a) Pesquise sobre o guaraná procurando descobrir: a) Respostas pessoais.
vam uma planta sagrada tão
• suas propriedades;
importante que os maias a uti-
lizavam como moeda de troca. • seus benefícios para a saúde.

Com base na pesquisa, produzam um pequeno vídeo sobre o assunto e postem nas
redes sociais da escola.
b) Quando os europeus chegaram à América, o cacau já era cultivado por astecas e maias.
Pesquise e responda com base no roteiro a seguir. b) Respostas pessoais.
I. Qual é a importância do cacau na atualidade?
II. Qual é o seu hábitat original?
III. Como o cacau era utilizado pelos nativos da floresta?
IV. Qual é o seu nome científico? E qual é o significado desse nome?

32

Imagens em movimento
AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C01-LA-G24.indd 32 05/08/22 09:35

Vídeo do Instituto Socioambiental sobre a


colheita de cacau nas terras indígenas Yano-
mami.
• ALTERNATIVA Cacau: a história do primei-
ro chocolate da Terra Indígena Yanomami.
2018. Vídeo (3min13s). Publicado pelo ca-
nal Instituto Socioambiental. Disponível
em: https://youtu.be/SZTEd9HGpUI. Aces-
so em: 5 ago. 2022.
32

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C01-MP-G24.indd 32 31/08/2022 09:48


OBJETIVOS
• Trabalhar a economia e o po-
CAPÍTULO der no Império do Mali.

2
• Situar o reino do Congo e co-
POVOS E CULTURAS AFRICANAS: nhecer sua formação.
• Estudar a economia e a socie-
MALINESES, BANTOS E IORUBÁS dade congolesas.
• Trabalhar as relações entre os
congoleses e os portugueses.
• Estudar as cidades iorubás.
• Analisar aspectos da arte de
A África é um continente com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados, matriz iorubá.
dezenas de países e centenas de povos com culturas e línguas singulares. Por ser o berço • Situar o reino do Benin e
da humanidade e o lugar de origem dos ancestrais de milhões de brasileiros, a África e compreender sua importân-
sua história têm grande importância para nós. cia na África.
• Valorizar as contribuições
da arte de matriz iorubá
África: político (2022) para a formação da cultura

ALLMAPS
JEFF GREENBERG/EASYPIX BRASIL

brasileira.

LUDOVIC MAISANT/EASYPIX BRASIL


1 4
OCEANO
ATLÂNTICO

Os objetivos contribuem
Mar
Mar Negro Cáspio

EUROPA

I. Madeira
(PORT.) Argel
Túnis
para que os alunos reconhe-
TUNÍSIA

Rabat Mar Medi


Is. Canárias
(ESP.) RR
OC
OS
Trípoli
ter râneo
çam a história e os saberes
M A
Trópico El Aaiún
de Cânc
er ARGÉLIA LÍBIA
Cairo
EGITO
(parte asiática) dos povos africanos e a di-
Mulher EGITO Homem
SAARA
versidade cultural no con-
Ma

OCIDENTAL
nigeriana, tunisiano,
r

ÁSIA
Ve

CABO MAURITÂNIA
tinente, além da relevância
rm

VERDE Nouakchott MALI


elh

2016. Praia NÍGER


en
2016.
o

Dacar SENEGAL Cartum ERITREIA Ád


Banjul GÂMBIA Bamako BURKINA Niamei
CHADE
SUDÃO
Asmara
olfo
de
deles na formação do Brasil.
RIC LAFFORGUE/EASYPIX BRASIL

FASO DJIBUTI G
2 Bissau
GUINÉ-BISSAU GUINÉ Ouagadougou
Ndjamena
Djibuti

THOMAS COCKREM/ALAMY/FOTOARENA
Conacri COSTA NIGÉRIA Adis Abeba 5 Assim, pretendemos contri-
No BENIN
GANA

SOMÁLIA
TOGO

Freetown DO Abuja
SERRA LEOA E REPÚBLICA SUDÃO
S

MARFIM ETIÓPIA

Monróvia Acra DO SUL
buir para as competências e
vo

A CENTRO-AFRICANA
LI

AM Bangui Juba

Equador Abidjan C
Po mé

A Malabo Iaundé 0º
RI

rto

UGANDA
Lo

(GUE)
Campala QUÊNIA
Mogadíscio
habilidade proposta.
O

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Libreville


NG

São Tomé REPÚBLICA RUANDA


GABÃO DEMOCRÁTICA Nairóbi
CO

GUINÉ EQUATORIAL Quigali


Brazaville DO CONGO Bujumbura Vitória
Kinshasa BURUNDI
Dodoma SEICHELLES
TANZÂNIA
OCEANO
ATLÂNTICO
Luanda
MALAUÍ
COMORES
Moroni
BNCC
Jovem ANGOLA Lilongue
e

ZÂMBIA
qu

Jovem Competências gerais: 1, 2, 3,


UE

Lusaca
bi

angolano, •
m

Harare
IQ

B
CA
a

AM Antananarivo

moçambicana,
AS

Trópico de Capricórnio ZIMBÁBUE


M

Port Louis
6, 7, 8, 9 e 10.
Ç

2015.
AG
e

NAMÍBIA
MO

ld

BOTSUANA
MA D
na

Windhoek Gaborone Pretória


MAURÍCIO
2012.
Ca

(cap. administrativa)
JOHNER IMAGES/ALAMY/FOTOARENA

Maputo
3 ÁFRICA
DO SUL
Mbabane
SUAZILÂNDIA • Competências específicas: 1,
ich

Bloemfontein LESOTO
(cap. jurídica) Maseru
2, 3, 4, 6 e 7.
Greenw

Cidade do Cabo
(cap. legislativa)

Habilidade: EF07HI03.
e


iano d

OCEANO
Merid

ÍNDICO

Jovem
0 805
Dica de leitura
0º 40º L
sul-africano, Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. O primeiro volume da cole-
2015. Atlas geográfico escolar. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 4 ção de História Geral da África
(em oito volumes, produzida
33 pela Unesco no Brasil e pelo Mi-
nistério da Educação) apresenta
um panorama das civilizações
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 33 ENCAMINHAMENTO 01/08/22 13:20
africanas durante a pré-história
• Mostrar a diversidade de povos e culturas do continente africano, privilegiando, no en- do continente africano com o
tanto, pessoas de territórios africanos onde, no passado, viveram ancestrais de milhões objetivo de colaborar para uma
de brasileiros, a exemplo da Nigéria, de Angola e de Moçambique. O conhecimento das nova leitura e melhor compre-
histórias dos antigos habitantes dos territórios ocupados hoje por esses países é importante ensão das sociedades e culturas
para que possamos compreender e evidenciar para os alunos os laços que ligam a história africanas.
brasileira à história africana. • KI-ZERBO, Joseph (ed.). Histó-
• Familiarizar os alunos com o mapa da África. ria geral da África I: metodo-
• Esclarecer que a África é um continente com dezenas de países e grande diversidade étnica logia e pré-história. 2. ed. rev.
e cultural. Brasília, DF: Unesco, 2010.
33

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 33 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de Im-
pério.
• Comentar que as teorias África: aspectos físicos
racistas formuladas pelos
europeus do século XIX leva- Quando observamos o mapa da África, vemos ao norte um imenso mar de areia,
ram a forjar visões estereoti- que tem o nome de deserto do Saara. Nesse deserto viviam povos nômades, chamados
padas e preconceituosas da berberes, que controlavam as importantes rotas comerciais do norte africano.
África e de seus habitantes.
Ao sul do Saara está o Sahel, uma faixa de terra que vai desde o oceano Atlântico até
Uma das mais recorrentes
o Mar Vermelho. No Sahel viviam povos negros chamados, genericamente, de sudaneses,
é a apresentação da África
como os bambaras, os fulas, os mandingas, os haussás, entre outros. A extensa área habitada
como um continente “sem
história”. Nessa versão, os por eles era chamada de Sudão (em árabe, Biladal-Sudan
Biladal-Sudan,, que significa “terra de negros”).
povos africanos são chama- O Sudão ocidental é cortado
África: vegetação
dos de “tribos” e suas lín- por dois importantes rios: o 30°LL
30°
EUROPA 0°

ALLMAPS
guas, de “dialetos”. Estudos Senegal e o Níger. Esses rios per-
Mar Mediterrâneo

e pesquisas desenvolvidos mitiam que os povos do Sahel


no século XX, sobretudo, tivessem água para suas neces- Trópico d
e Câncer

lo
Ma
após as independências afri-

i
sidades básicas e também para

Rio N

rV
ÁSIA

er
D ESERTO D O SA A R A

m
canas, permite-nos conhecer fertilizar a terra e cultivar cereais,

elh
Rio

o
Se
a rica e movimentada histó- legumes e verduras. Além disso, Rio

ne a l
SAHEL

g
ria da África e dos africanos

Ní g
serviam como via de locomoção

er
no Brasil. e transporte. Em canoas ágeis
A abordagem permite de- feitas com troncos de árvores, Equador
Lago 0°

o
ng
senvolver as competências es- Vitória

Meridiano de Greenwich
os povos do Sahel transporta-

Co
o Lago
Ri Tanganica OCEANO
pecíficas 1, 3 e 4. vam mercadorias como sal, ouro OCEANO ÍNDICO
ATLÂNTICO
Lago
e noz-de-cola, saídos dos portos Malauí
Zambez
do mar Mediterrâneo, ou que Rio

e
TEXTO DE APOIO para lá seguiam. m
o Li p
DESERTO DO Ri Trópico de Capricó
o rnio

op
KALAHARI
A África e seus habitantes Florestas
Ri o Orange
Savanas

O continente africano é cerca- Estepes

do a nordeste pelo mar Verme- Vegetação mediterrânea

Deserto
lho, ao norte pelo Mediterrâneo, Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. 0 1 060
Oásis
a oeste pelo oceano Atlântico e a África e Brasil africano. 3. ed.
São Paulo: Ática, 2012. p. 13.
leste pelo oceano Índico. O istmo
de Suez o liga à península Arábi-
ca. Em termos geográficos, suas
principais marcas são o deserto
O Império do Mali
Império: Unidade política que congrega
do Saara ao norte, o deserto do Foi justamente no Sudão ocidental, entre os rios várias outras unidades, que podem ser
Calahari a sudoeste, a floresta Senegal e Níger, nas terras habitadas pelos man- compostas por povos diferentes entre si,
tropical do centro do continente, que mantêm suas formas de governar locais,
dingas, que se formou o Império do Mali, um dos
as savanas, ou campos de vege- mas prestam obediência ao poder central,
tação esparsa e rasteira, que se- maiores e mais duradouros da história da África. Boa controlado pelo chefe de todos os chefes.
param áreas desérticas de áreas parte do que sabemos sobre o Império Mandinga (ou (SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
de florestas, e algumas terras africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 16).
do Mali) chegou até nós através dos griôs.
altas, como aquelas nas quais
nascem os rios que formam o
Nilo.
34
Os rios são os meios de comu-
nicação mais importantes do
rial central e deságuam 34no oceano Atlântico, na
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd uma dose de grandiosidade. As bordas sul e 01/08/22 13:51 AV-
continente. Entre eles se desta-
costa africana centro-ocidental; e, finalmente, o oeste do Saara são conhecidas como Sael, ou as
cam o Nilo, que nasce na região
Limpopo e o Zambeze, no sudeste do continen- praias do deserto. Nessas áreas de savana são
do lago Vitória e deságua no Me-
te, que deságuam na costa do oceano Índico, cultivados grãos e criados animais.
diterrâneo; o Senegal, o Gâmbia,
o Volta e o Níger, que nascem onde hoje é Moçambique. [...] SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.
nas montanhas do Fula Jalom e A grande faixa do Saara divide o continente. São Paulo: Ática, 2006. p. 11.
deságuam no oceano Atlântico, [...] O deserto se estende da costa do Atlântico à
em pontos diferentes da costa do mar Vermelho, cortado a oeste pelo rio Níger
ocidental africana; o Congo e o e a leste pelo rio Nilo. Às margens desses dois
Cuanza, que nascem nos pla- rios há terras férteis, nas quais a agricultura e
naltos do interior de Angola e a criação de animais permitiram o desenvolvi-
no coração da floresta equato- mento de sociedades complexas, que tiveram
34

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 34 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que boa parte do que
sabemos sobre o Império do
Mali chegou até nós pelos
PARA SABER MAIS griôs, que, por conservarem
e transmitirem o saber tra-

GETULIO DELPHIM
Os griôs dicional, eram chamados de
Os griôs eram indivíduos encarregados de preservar e “bibliotecas vivas”.
transmitir as histórias, os conhecimentos e as canções de seu • Destacar que foi por meio
povo por meio da oralidade. dos griôs e de achados ar-
No passado, os griôs eram procurados por muitos reis queológicos que ficamos
africanos para trabalharem como professores particulares de sabendo que o Império do
seus filhos. Eles ensinavam arte, conhecimento sobre as plantas, Mali teve seu núcleo origi-
tradições, história e davam conselhos aos jovens príncipes. nal organizado pelos povos
Além dos griôs contadores de histórias,, havia também mandingas.
os griôs músicos e os cantores,, que interpretavam e con- • Chamar a atenção dos alu-
servavam canções tradicionais; e havia, ainda, mulheres griôs, nos para a importância das
que faziam o mesmo que os griôs homens. fontes orais.
No passado, quando um griô falecia, seu • Perguntar o que entendem
corpo era enterrado dentro de um baobá, árvore por “saber ouvir” e se exis-
considerada sagrada e cujos troncos são ocos. tem diferentes formas de
Acreditava-se que, ao enterrar o corpo de um ouvir, de modo que enten-
griô nessas árvores, suas histórias e canções dam a importância da escu-
ta atenta, aprimorando as
continuariam sendo divulgadas e conhecidas
competências gerais 8 e 9.
por muitos.
• Aproveitar a autoavalia-
Ilustração representando um ção para questionar de que
griô contador de histórias. modo as reflexões propostas
se relacionam ao ditado griô.

ESCUTAR E FALAR
Dica de leitura
Um ditado dos griôs africanos que chegou aos nossos dias é: “cada dia se aprende Este livro apresenta in-
algo novo; basta saber ouvir”. Prepare-se para falar sobre a importância, na vida, de formações sobre a figura do
saber escutar. griô e sua importância para a
transmissão de conhecimen-
Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais.
tos tradicionais de povos do
a Expressei minhas ideias com objetividade? continente africano.
b Usei tom de voz e gestos adequados?
• LIMA, Heloisa Pires; HER-
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
NANDEZ, Leila Leite. Toques
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? do griô: memórias sobre
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? contadores de histórias afri-
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? canos. São Paulo: Melhora-
mentos, 2014.
35 Imagens em movimento
O documentário As griots
da Maré apresenta as narrati-
13:51 + ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 35 membro mais velho da comunidade e que
01/08/22 14:04
vas de moradoras da favela da
utilizam no dia a dia. Maré com o objetivo de traba-
Há um antigo provérbio, do poeta do Mali
Hampâté Bâ, que diz: “Quando morre um Respostas pessoais. lhar a memória local.
velho é como se uma biblioteca inteira fosse • Tema Contemporâneo Transversal: a valo- • AS GRIOTS da Maré. 2016.
incendiada”. Responda: rização da ancestralidade presente na fi- Vídeo (15min52s). Publicado
a) Você concorda com essa afirmação? gura do griô permite desenvolver o tema pelo canal ECOM. Disponível
b) Tragam ensinamentos de familiares mais processo de envelhecimento, respeito e em: https://www.youtube.
velhos para serem recontados em sala. valorização do idoso. com/watch?v=8fsKHop
c) Forneçam exemplos de ensinamentos tUUs. Acesso em: 8 ago. 2022.
que aprenderam com os avós ou com algum
35

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 35 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de etnia.
• Comentar que, à semelhan-
ça de outros Estados centra- A formação do Império do Mali
lizados africanos, o Império Contam os griôs que tudo começou Etnia: grupo com

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


do Mali abrigava um mosai- com o príncipe de etnia mandinga chamado modo de vida
co de etnias. próprio, com uma
Sundiata Keita. Ele e seus guerreiros vence-
história comum,
• Apresentar o processo de for- ram os sossos, seus opressores, na Batalha de falante da mesma
mação do Império do Mali. Kirina, por volta de 1230. E, depois de vencer língua e que partilha
os mesmos valores,
• Explicar o que levou Sundiata também outros povos vizinhos, fundaram o mitos e crenças.
Keita a se converter ao isla- Império do Mali.
mismo. No poder, Sundiata Keita se converteu ao islamismo, religião
A conversão de Sundiata ao criada por Maomé e cujo princípio fundamental é a crença num
islamismo é vista por historia- único deus. Segundo alguns historiadores, ele se converteu movido
dores atuais como uma estra- pela ideia de poder participar do comércio que, na época, era
tégia do líder africano de in- controlado pelos árabes islâmicos.
tegrar seu império ao circuito No Mali, o imperador era a maior autoridade, mas ele ouvia
mercantil islâmico. Sundiata seus auxiliares (o conselho); e, sempre que precisava tomar uma
Keita era um conhecedor dos decisão importante, ouvia também dois altos funcionários: o
costumes e tradições de seu O cavalo e o cavaleiro, chefe das forças armadas e o senhor do tesouro, que era res-
povo e, embora tivesse ade- estátua mali em
terracota. Djenné ponsável pela guarda dos depósitos de ouro, marfim, cobre e
rido ao islamismo, permitia (Mali), séculos XIII-XIV. pedras preciosas.
que a população continuasse
A HISTÓRIA DOS HOMENS - AS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA, DE C. MAUCLER E H. MONIOT. PARIS, LELLO & IRMÃOS, 1987
a praticar as religiões tradicio-
nais e a cultuar seus deuses.
Na Corte real, inclusive, con-
viviam lado a lado especialis- O imperador do Mali
tas no Corão e os djeli (griôs), ouvia as queixas
portadores e transmissores de seus súditos em
dos conhecimentos milenares audiências públicas
realizadas tanto
acumulados por seu povo. no seu palácio
quanto em uma
praça próxima. Ele
TEXTO DE APOIO comparecia a essas
audiências em trajes
requintados, tendo
O antigo Mali
seus conselheiros ao
O antigo Mali foi criado por lado e, atrás deles, um
diversos povos aparentados que grupo de soldados;
viviam na região situada entre as sessões eram
o rio Senegal e o rio Níger. Os abertas pelos griôs.
mais importantes deles eram Ilustração de 1987.
conhecidos como os mandingas
(ou malinquês, ou manden). [...]
Sundjata Keita (1230-1255) es-
tendeu a influência do Mali às
unidades políticas menores da
vizinhança, lançando as bases
36
de um Estado unificado que se
manteria hegemônico até a me-
tade do século XV. pequenos reinos locais.36 Havia duas categorias
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd O mansa era o representante máximo dos cos- 01/08/22 14:03 AV-

Integrado por diversos povos de províncias: as aliadas, cujos chefes conser- tumes ancestrais da comunidade, e mesmo que
além dos mandingas, como os vavam seus títulos (caso de Gana e Nima), e em sua corte alguns tivessem adotado a crença
soninkês, fulas, dogons, sossos as conquistadas, em que, ao lado dos chefes muçulmana, a população continuava a praticar
e bozos, o Mali evoluiu para tradicionais, era destacado um representante seus ritos e cultos tradicionais politeístas. Havia
uma condição que o aproxima- direto do mansa mansa.. na corte espaço para os eruditos das mesquitas,
va de um império, na medida O controle era, direta ou indiretamente, es- conhecedores do Corão e da lei corânica, e es-
que exercia sua hegemonia, tabelecido por um poder central, representado paço para os djeli
djeli,, ou griots
griots,, os conhecedores e
impondo-se militarmente, e ex- na figura de governante, designado pelo termo transmissores dos costumes seculares próprios
traía tributos dos povos venci- mansa. Este era tido como o líder supremo, o das populações locais.
dos. Era constituído de núcleos executor das decisões coletivas e o aplicador da MACEDO, José Rivair. História da África.
distintos de tribos, chefaturas e justiça [...]. São Paulo: Contexto, 2015. p. 55-56.
36

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 36 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com
a leitura do texto: GÖBEL,
Sundiata Keita preocupou-se também em proteger o império dos ataques dos ber- Alexandre; VIEIRA, Alexandre.
beres; por isso, deslocou sua capital para Niani, ao sul do Mali. Nas estradas que ligavam Tombuctu, o Patrimônio
Niani à região Nordeste, formaram-se importantes cidades africanas, como Djenné, Gao Cultural da Humanidade
e Tombuctu. no Mali. DW. [S. l.], 2013.
Disponível em: https://www.
PARA SABER MAIS dw.com/pt-002/tombuctu-
o-patrim%C3%B3nio-
cultural-da-humanidade-no-
Tombuctu
mali/a-16754965. Acesso em:
Situada às margens do rio Níger, o terceiro maior da África, Tombuctu servia como 8 ago. 2022.
ponto de chegada e de partida das caravanas comerciais que atravessavam o deserto.
Por Tombuctu passavam sal e o ouro das minas malinesas, os tecidos e os grãos, além
de peles, plumas, marfim e instrumentos de metal. Ao longo do século XIV, a cidade se
tornou também um dos mais importantes centros intelectuais do mundo, reunindo cerca
+ ATIVIDADES
de 150 escolas de estudo do Corão, com milhares de estudantes vindos de vários lugares. Em grupo. Pesquisem sobre
Em Tombuctu foi erguida também a mesquita de Sankoré, onde passou a funcionar a o artigo 216 da Constituição
universidade de mesmo nome, que se mantém em atividade até os dias atuais. Brasileira.
OVERSNAP/ISTOCK/GETTY IMAGES
a) Conceitue patrimônio cul-
tural.
b) Por que Tombuctu foi ele-
vada a Patrimônio Cultural da
Humanidade?
Respostas:
a) De acordo com o artigo 216,
patrimônio cultural são todos
os bens material ou imaterial,
individual ou em conjunto,
que se referem à identidade,
à ação, à memória dos mais
diversos grupos que formam a
sociedade brasileira.
b) Tombuctu foi elevada a Patri-
mônio Cultural da Humanida-
de pela Unesco, em 1988, pelo
seu conjunto arquitetônico e
pela sua relevância histórica.
• Tema Contemporâneo Trans-
versal: a atividade pode
Na imagem, vemos a mesquita construída na época do Império do Mali, que abriga até hoje a importante
Universidade de Sankoré. Tomboctu (Mali). Fotografia de 2018. contribuir para o desenvolvi-
mento do tema diversidade
cultural da macroárea multi-
37 culturalismo.

14:03 TEXTO DE APOIO


AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 37 mais de 180 escolas corânicas,
01/08/22 14:20 mais de vinte e cinco mil alunos
frequentavam suas aulas, numa população de cem mil habitan-
O conhecimento em Timbuktu tes. Os estudantes vinham dos mais diferentes lugares da África.
[...] A cidade de Timbuktu, situada ao sul do deserto, no Mali, Os livros não apenas eram escritos no Timbuktu, como também
ocupa uma posição única, ponto de encontro entre os povos Son- eram importados e copiados ali. Existia uma indústria bem de-
ghai, Wangara, Fulani, Tuaregue e Árabe. Ela tornou-se um cele- senvolvida de cópias na cidade, e as universidades e bibliotecas
brado centro de cultura islâmica e, desde o século XI, um impor- tinham um importante catálogo de trabalhos acadêmicos. Como
tante posto comercial. Segundo seus moradores, o ouro vem do era um lugar de farto comércio, onde as mercadorias que vinham
sul, o sal do norte, e o conhecimento divino, do Timbuktu. Lá, no do Mediterrâneo eram trocadas por ouro, diferentes profissionais
século XII, havia a Universidade de Timbuktu, que se organizava eram atraídos por sua prosperidade.
em três mesquitas, Mesquita de Sakore, que foi construída por MACIEL, Adriana Sucena. Estrangeiro de alguém. Dissertação. (Mestrado em Letras) –
volta do século IX, de Jingara Bar e de Sidi Yahya, havia também Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade PUCRio, Rio de Janeiro, 2011. p. 48.
37

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 37 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Destacar a importância do
ouro para a economia do
Mali. Economia malinesa
• Comentar que a economia O Império do Mali era o maior produtor de ouro da África
malinesa era diversificada e ocidental, mas sua população praticava também a agropecuária, o
incluía a prática da agrope- artesanato e o comércio. No vale do rio Níger, os malineses cultiva-
cuária, de artesanato e do vam arroz, milhete
milhete,, inhame, algodão e feijão; além disso, criavam
comércio. bovinos, ovinos e caprinos. Os artesãos malineses eram habilidosos
• Informar que a noz-de-cola no trabalho em metal e em madeira.
é encontrada hoje na versão Os mercadores malineses (conhecidos como wangara
wangara)) comer-
em pó para ser acrescida em cializavam sobretudo ouro, cobre, sal e noz-de-cola. No Mali, o
Milhete: variedade
bebidas quentes e é comer- de milho em grão cobre era muito apreciado, e o sal, quase tão valioso quanto o
cializada em armazéns e lo- muito miúdo.
ouro. Na África ocidental, os malineses são conhecidos até hoje
jas de produtos naturais. Árido: seco.
como bons comerciantes.

TEXTO DE APOIO PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Agricultura e civilização na
África subsaariana Leia o texto com atenção.
A agricultura constituía a base A noz-de-cola é um produto da floresta [...]. No
das sociedades africanas, uma interior desse fruto de diversas variedades, ficam
vez que elas eram autossuficien- os gomos, com um sumo extremamente amargo,
tes em cereais como o sorgo. Cria- que, ao ser consumido nas regiões áridas do
vam gado, cabras, ovelhas, gali-
deserto [...], sacia a sede e produz uma sensação
nhas e outras aves para prover a
de bem-estar graças ao seu alto teor de cafeína.

MARY EVANS/EASYPIX BRASIL


necessidade de proteínas, e su-
plementavam essas fontes com a De conservação delicada, era transportado
caça. Há registros de exportação com cuidado, envolto em folhas verdes e largas,
de sal e noz-de-cola, que atra- tendo de ser constantemente reembalado para
vessavam o Saara em direção ao
que seu frescor fosse mantido. Oferecido aos visi-
Oriente Médio e até mais longe.
Artigos de couro, originários das tantes ilustres, não podia faltar entre os bens das
regiões hoje conhecidas como pessoas de maior distinção. [...] Tinha alto valor de
Mali, Níger e Senegal, chegavam troca, o que compensava as longas distâncias e os
à Europa passando pela Espanha cuidados especiais relacionados ao seu comércio.
e tendo como intermediários os
comerciantes marroquinos, cujo No Brasil a noz-de-cola, conhecida como
nome foi erroneamente empres- obi e orobó, tem lugar de destaque na realiza- Noz‑de‑cola, ilustração
tado a esses produtos. ção de alguns cultos religiosos afro-brasileiros. de Gustav Pabst, 1887.
Do algodão cultivado eram fei- SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 18.
tos tecidos no tear tradicional
africano muito antes de ficarem a) A noz-de-cola é uma planta nativa da África. Para que serve o seu fruto?
famosos os estampados de Man- a) Serve para saciar a sede e, por ter um alto teor de cafeína, serve também como estimulante.
chester e da Holanda. A indús- b) A noz-de-cola exigia cuidados especiais no seu transporte e na sua conservação.
tria de cerâmica havia atingido Apesar disso, era muito vendida nos mercados de Tombuctu. Como você explica isso?
um nível avançado e produzia
utensílios para o uso doméstico. b) O seu alto valor de troca compensava as despesas com transporte e conservação. Era muito
Armas e ferramentas agrícolas 38 consumida também pelos mais ricos.
eram fabricadas em indústrias de
ferro que se estendiam desde o li-
toral ocidental do continente até
o Oriente, alcançando a Europa. Dica de leitura
AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 38 +ATIVIDADES 05/08/22 09:37 033

Ficou famosa a grande habilidade O livro busca destacar e comprovar a im- Qual era a base da economia malinesa?
no artesanato em ouro e em co- portância da matriz negro-africana em todo Resposta:
bre na África ocidental e central, o mundo, desde a Antiguidade até os tempos A base da economia do Mali era a mine-
sobretudo nas minas de cobre
modernos. ração, a agropecuária, o artesanato e o co-
das atuais regiões da Katanga e
Zâmbia. Foi esse o motivo inicial • NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). A matriz mércio.
que atraiu a Europa à África. africana no mundo. São Paulo: Selo Negro,
NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). A matriz 2008. (Sankofa – matrizes africanas da cul-
africana no mundo. São Paulo: Selo tura brasileira, v. 1).
Negro, 2008. (Sankofa – matrizes africanas
da cultura brasileira, v. 1, p. 115-116).
38

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 38 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Chamar a atenção dos alu-
nos para a duração do Impé-
A força e o declínio do Império do Mali rio do Mali.
O Império do Mali controlou uma área imensa, chegou a ter cerca de 45 milhões • Analisar os fatores que con-
de habitantes e durou 230 anos. Segundo o historiador José Rivair de Macedo, a longa tribuíram para a sua longevi-
duração e o poder do Império do Mali podem ser explicados pelos seguintes motivos: dade.
• possuía um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros com capa- • Identificar e analisar os fato-
cidade de reprimir rebeldes em caso de revolta; res que levaram ao seu declí-
nio no século XV.
• controlava as áreas de extração do ouro;
• tinha uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob seu
domínio;
TEXTO DE APOIO
• adotava uma política de consulta aos povos dominados e respeitava suas tradições e
O apogeu da dinastia Keita
religiões. ocorreu durante o século XIV, no
O Mali, maior império governo de Mansa Mussá (1307-
©SANTIAGO URQUIJO/GETTY IMAGES

africano daqueles tempos, 1332). [...] Seguidor do Corão,


conservou sua liderança Mansa Mussá cumpriu a obri-
gação da peregrinação à Meca
na região até a metade do
em 1324-1325 transformando o
século XV, quando entrou em evento numa estratégia de afir-
declínio por causa de confli- mação de poder ao divulgar no
tos entre seus líderes e do exterior a importância de seu
surgimento de novos centros Estado. [...]
de poder, a exemplo do No retorno da peregrinação,
Mansa Mussá trouxe sábios, poe-
Reino de Songai. Durante sua
tas e conhecedores da lei muçul-
expansão, esse reino conquis- mana para ensinar nas madras-
tou a cidade de Tombuctu, sas, isto é, as escolas corânicas,
em 1470, tornando-se, assim, sobretudo nas cidades de Tom-
a principal força política da buctu e Djenné. Mandou erguer
edifícios religiosos [...]. Um dos
região. mais belos templos construídos
neste estilo, a Grande Mesquita
de Djenné, foi classificado pela
Unesco como patrimônio histó-
rico da humanidade.

MACEDO, José Rivair. História da África.


São Paulo: Contexto, 2016. p. 57.
Escultura em madeira na região
do Mopti (Mali). Fotografia de
2021. As figuras malinesas têm
traços característicos, o que as
torna facilmente reconhecíveis.

39

09:37 Imagens em movimento


033a059-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 39 + ATIVIDADES 26/08/22 17:08

O vídeo conta, de forma didática, sobre os Em grupo. O Império do Mali durou cerca
reinos africanos antes da chegada dos euro- de 230 anos. O historiador José Rivair Mace-
peus. do apresenta quatro fatores para explicar a
• REINOS africanos | Tempo de Estudar | Histó- longevidade desse Império. Debatam e, em
ria | Rioeduca na TV. 2018. Vídeo (9min41s). seguida, escolham um que vocês considerem
Publicado pelo canal MultiRio. Disponível o mais importante.
em: https://youtu.be/dlWDqETvUjo. Acesso Resposta pessoal. Professor, o objetivo da
em: 8 ago. 2022. atividade é estimular o debate, a oralidade e
o desenvolvimento da autonomia de juízo.
39

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 39 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Reforçar a ideia de que a ex-
pansão dos povos bantos, a
partir de onde hoje é a Re-
pública de Camarões, foi a
Os bantos
maior já havida na África
Na África, ao sul do deserto do Saara (subsaariana), viviam, e vivem ainda hoje, os
subsaariana.
bantos, povos que possuíam uma origem comum e falavam línguas aparentadas denomi-
• Caracterizar os bantos como nadas de bantas.
povos agricultores e que
Por volta de 1 500 a.C., os povos bantos partiram de onde hoje é a República de
desenvolveram a técnica da
Camarões e se deslocaram para o centro, o leste e o sul do continente africano; esse
metalurgia, o que lhes con-
deslocamento durou cerca de 2 500 anos e foi a maior migração já vista na história da
feriu uma vantagem compe-
titiva sobre os demais povos. África subsaariana. Durante o deslocamento, os bantos domesticaram plantas e animais e
conquistaram povos que viviam da caça e da pesca.
• Mostrar, na imagem, as se-
Os bantos eram povos agricultores e tinham domínio da técnica de pro-
melhanças entre o indivíduo
nascido em Angola – país ha- dução do ferro, usado por eles para fazer instrumentos de trabalho e armas
Metalurgia:
bitado predominantemente de guerra; isso os colocava em vantagem sobre os povos que desconheciam
trabalho que
por bantos – e a moça do Rio transforma a técnica da metalurgia e ajuda a explicar sua vitória sobre esses povos.
de Janeiro, onde aportou metais em Assim, as regiões ocupadas pelos bantos se tornaram terras de agricultores
objetos.
grande número de bantos. que dominavam a metalurgia.
• Informar os alunos de que a
DANIEL CYMBALISTA

DANIEL M ERNST/SHUTTERSTOCK.COM
maioria dos africanos entra-
dos no Brasil ao longo dos
primeiros séculos de coloni-
zação era originária da re-
gião congo-angolana.
• Refletir sobre o que diz o his-
toriador Alberto da Costa e
Silva.
Desde pelo menos 600 a.C., a
África conhecia a metalurgia do
ferro. Os nativos adotavam uma
técnica de preaquecimento dos
fornos (que só seria desenvolvi-
da na Europa no século XIX) que
lhes permitia obter um ferro, e
também um aço, de alta quali-
dade, comparável, e até superior,
em alguns casos, ao que saía das
usinas europeias. [...]
SILVA, Alberto da Costa e. A África
explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro:
Agir, 2012. p. 28.
À esquerda, jovem angolano falante da língua umbundo. À direita, mulher carioca descendente de povos
da região congo‑angolana. As duas fotografias são atuais. Boa parte dos habitantes do Rio de Janeiro
Imagens em movimento descende de povos bantos.

Entrevista com o historia-


dor Mário Maestri e a doutora
40
em linguística Florence Carbo-
ni sobre as línguas africanas e
o português do Brasil. TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 40 de conhecimento internacional que abrigavam
bibliotecas enormes – em Timbuktu, os maiores
01/08/22 14:33 033

• Nação | TVE - A língua escra- O saber e o progresso tecnológico lucros eram obtidos com o comércio de livros.
vizada - parte 1. 2016. Vídeo Criaram filosofias religiosas, sistemas políti-
Em todo o continente e em diversas épocas, os
cos complexos e duráveis, obras de arte de alta
(27min2s). Publicado pelo povos africanos desenvolveram sistemas de es-
sensibilidade e sofisticação. A riqueza do ouro e
canal TVE RS. Disponível em: crita e altos conhecimentos na astronomia, ma- do marfim africanos não apenas compunha as
temática, agricultura, navegação, metalurgia, moedas como decorava os lares e as beldades
https://youtu.be/C5sK6Hd arquitetura e engenharia. Na medicina, pratica- da Índia, da China e da Europa. O melhor fer-
sUHE. Acesso em: 8 ago. 2022. vam cirurgias desde a cesariana até a autópsia, ro no mercado internacional do século doze, de
passando pela remoção de cataratas oculares e acordo com o historiador muçulmano al-Idrisi,
tumores cerebrais. Conheciam e aplicavam va- era o da África central e meridional.
cinas contra a varíola e outras doenças. Cons- NASCIMENTO, Elisa Larkin. O tempo dos povos africanos.
truíram cidades belíssimas e centros urbanos Brasília, DF: Unesco: MEC: Secad, 2007. p. 18.
40

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 40 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Explicar o processo de for-
mação do Reino do Congo.
Reino do Congo • Trabalhar com os alunos a
A bacia do rio Zaire, chamado de Congo pelos portugueses, era habitada desde ideia de que o reino do Con-
go expandiu suas fronteiras
longo tempo por grupos bantos, como o bacongo, o luba, o lunda e o quicongo.
por meio de guerras, alian-
Segundo uma tradição, no final do século XIII, os bacongos dominaram grupos menores
ças e cobrança de tributos.
falantes das línguas umbundo e quicongo. Sob a liderança de um líder lendário de
• Chamar a atenção para a or-
nome Nimi-a-Lukeni, eles expandiram seus domínios por meio de guerras, alianças e da
ganização política do Reino
cobrança de tributos.
do Congo, destacando a pre-
Nimi-a-Lukeni recebeu o título de manicongo (senhor do Congo) e passou a ser
sença de mulheres no gover-
considerado o herói fundador do Reino do Congo. Depois, edificou seu palácio em no, o que sugere um modo
Mbanza Congo e, desse centro de poder, o Reino do Congo passou a controlar um próprio de pensar a posição
amplo território. da mulher na sociedade.
Na capital, o manicongo exercia sua autoridade com o auxílio de 12 conselheiros, entre • Aprofundar o assunto com a
os quais estavam os secretários reais, os oficiais militares, os homens da lei, os coletores leitura dos textos: BATSÎKA-
de impostos, entre outros. Desses 12 conselheiros, quatro eram mulheres e representavam MA, Patrício. As origens do
o clã das avós do rei. reino do Kôngo segundo a
tradição oral. Sankofa: Re-
BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA, PARIS. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

vista de História da África e


de Estudos da Diáspora Afri-
cana, São Paulo, ano 3, n. 5,
p. 7-41, jul. 2010; FROMONT,
Cécile. Tecido estrangeiro,
hábitos locais: indumentá-
ria, insígnias reais e a arte da
conversão no início da era
moderna do reino do Congo.
Revista Anais do Museu Pau-
lista, São Paulo, v. 25, n. 2, p.
33-53, maio/ago. 2017.

guns autores ocidentais a pen-


sar que tivesse sido criado pelos
portugueses no início do século
Gravura extraída da obra Descrição da África, de Olfert Dapper, c. 1686, que mostra a vista de Mbanza XVI, hipótese que não resiste às
Congo, capital do Reino do Congo. provas históricas.
As receitas do governo pro-
41 vinham dos impostos [...]. O
tributo era pago em tecidos de
ráfia, em marfim e em seres hu-
manos capturados. Uma parte
14:33 033a059-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 41 TEXTO DE APOIO rio Congo, em 1482, o Reino do Congo, 26/08/22
uma 17:12
das
das receitas vinha também das
civilizações mais prestigiosas da África Central,
já tinha quase um século de existência. taxas de alfândega, de multas
Reino do Congo judiciárias e da pesca real das
O Reino do Congo remonta ao fim do século O rei, Manicongo, morava na capital Mbanza conchas marinhas, nzimbu
nzimbu,, na
XIV e ocupou um território que se estendia do Congo, que foi rebatizada pelos portugueses ilha de Luanda. A concha mari-
rio Kwilu-Nyari (ao norte do porto de Loango) com o nome de São Salvador, hoje situada na nha, nzimbu
nzimbu,, servia de moeda e
até o rio Loje (ao norte de Angola), do Atlântico atual Angola, perto da margem do rio Congo. o rei tinha monopólio sobre sua
ao rio Kwango, cobrindo o Baixo Congo (na atu- A estrutura política do Congo no século XVI produção e circulação. Um caso
al República Democrática do Congo), o enclave segue o exemplo das estruturas políticas dos único nos reinos africanos. [...]
de Cabinda, uma parte de Angola e do Congo- reinos costeiros africanos, cuja característica
MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma
-Brazaville. Isto significa que, quando o desco- principal é o Estado com poder centralizado. O Lino. O negro no Brasil de hoje. São
bridor português Diogo Cão lançou a âncora no grau de aperfeiçoamento desse reino levou al- Paulo: Global, 2006. p. 57-60.
41

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 41 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Identificar as caraterísticas
da economia do Congo.
• Diferenciar as atividades de- Vida econômica
senvolvidas pelas mulheres No Reino do Congo, os homens caçavam, pescavam e coleta-
das atividades realizadas pe- vam alimentos; já o trabalho na agricultura era feito por mulheres.
los homens. Sorgo: cereal rico em Elas cultivavam legumes, verduras, frutas (laranja, limão, romã, figo,
• Destacar que os congos co- proteínas; é parecido banana) e cereais, com destaque para o sorgo sorgo.. Além disso, os
nheciam as técnicas de fusão com o milho, mas tem os
congos criavam galinhas, porcos, carneiros, bois e cabras e pratica-
grãos menores.
do ferro. vam o artesanato: teciam com fibras das folhas de ráfiaráfia;; forjavam
Ráfia: tipo de palmeira
com folhas enormes das o ferro, com o qual produziam instrumentos de trabalho (pás e
quais se extrai a fibra de enxadas) e armas (espadas e lanças); e eram hábeis escultores, tanto
mesmo nome.
TEXTO DE APOIO no trabalho em madeira quanto em cobre.
Os congos conheciam técnicas apuradas de fusão do ferro.
A leitura e a interpretação
Segundo a tradição, o fundador do Reino do Congo era um rei
do texto de apoio com os estu-
dantes contribuem para o de- ferreiro, por isso os trabalhos em ferro eram reservados aos nobres.
senvolvimento da habilidade

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


EF07HI03.
O trabalho com o ferro na
África Centro-Ocidental
Para a África Centro Ocidental,
como também para outras re-
giões do continente africano, já
existem trabalhos que analisam
em minúcia as técnicas artesa-
nais da fundição e da forja de
ferro. […]. O trabalho artesanal
do ferro consistia, […] de várias Máscara congolesa
etapas distintas: o garimpo, a usada em cerimônias
preparação do arenito, a manufa- de iniciação e rituais
tura do carvão ou de outros com- fúnebres. Kuba,
bustíveis, a construção do forno antigo reino africano
de fundição, a fundição propria- da República do
mente dita, o refino e tratamento Congo, século XX.
do ferro florado para a forja, e, fi-
nalmente, a forja dos utensílios e
objetos acabados. […]
O mestre fundidor tinha um
papel crucial de controle e ge-
renciamento do processo da
fundição. É ele quem definia
todas as etapas do trabalho,
a quantidade e o tipo de tra-
balhador para cada tarefa de-
signada. Para a construção do
forno propriamente dito, podia
recrutar o trabalho familiar, de
trabalhadores agregados [...]. As
42
mulheres, acostumadas com a
produção da cerâmica, prepara-
vam e amassavam o barro para dido encontrado nos chapadões
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 42 ou jazidas. Os restritos às estações da seca. Madeiras molha- 01/08/22 14:38 AV-

as paredes do forno, enquanto arenitos com baixo teor de ferro necessitavam das pelas chuvas produziriam um carvão-com-
os homens e jovens cortavam de fornos maiores para que uma maior quan- bustível com alto grau de umidade que reduzi-
galhos e varas de madeira que tidade de minério fosse despejada em seu in- ria a eficiência dos fornos. [...]
eram usadas como suporte. […] terior a fim de que se produzisse a quantidade PENA, Eduardo Spiller. Notas sobre a historiografia da arte do
Os tamanhos dos fornos varia- de metal desejada. Outro fator ponderado pelo ferro nas Áfricas Central e Ocidental. In: ENCONTRO REGIONAL
mestre fundidor para se atingir uma determi- DE HISTÓRIA – O LUGAR DA HISTÓRIA, 17., 2004, Campinas.
vam de acordo com a demanda Anais [...]. Campinas: ANPUH, 2004. p. 34.
de metal que se desejasse pro- nada quantidade de metal era a duração do
duzir, tendo em conta algumas tempo da estação da seca, época propícia para a
variáveis colocadas pela nature- fundição. Diferentemente do processo da forja,
za. A principal delas era a qua- que podia ser realizado em qualquer parte do
lidade do minério para ser fun- ano, o garimpo e a fundição eram geralmente
42

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 42 03/09/22 09:13


ENCAMINHAMENTO
• Explorar o mapa do Reino do
Congo.
No Congo, o comércio era intenso. Da capital do Congo partiam as caravanas que iam
• Comentar sobre a importân-
ao interior buscar ou levar produtos, com especial destaque para o ferro e o sal. O ferro cia da atividade comercial no
era extraído na província de Nsundi, no norte do reino. Já o sal, raro e precioso, vinha das Reino do Congo.
salinas de Mpinda e da província de Ndembu, no sul.
• Esclarecer que o manicongo
era visto como um intérprete
Reino do Congo (século XVI) da vontade dos ancestrais e
dos espíritos.

ALLMAPS
• Trabalhar o conceito de impos-
tos e como eles eram pagos.
• Aprofundar o assunto com
Kundi Okango
o Nsundi a leitura do texto: OLIVEIRA,
ng
Ri
o Co José Carlos. A moeda “Zimbu”
Mbula 5º 30’ S
e a sua primazia entre outras
Mpangu Songo “moedas” de troca. Wizi-
Kiova
Kongo
Kongo. [S. l.], 8 jan. 2017.
a Niaza Disponível em: http://http://wizi-
Mpinda Mbata
kongo.com/historia-do-reino-
Mukatu Mbanza Congo/
Nsoyo
São Salvador
do-kongo/a-moeda-zimbu-e-
Nkusu Nsonso a-sua-primazia-entre-outras-
CONGO moedas-de-troca/. Acesso em:
Mpemba 8 ago. 2022.
Wandu • Tema Contemporâneo Trans-
Wembo
Mbamba
versal: o trabalho com esta
página quer contribuir para
OCEANO Ndembu o tema educação fiscal da
ATLÂNTICO macroárea economia.

Capital do reino
Luanda
Cidade
0 45
Limite de província

15º 30’ L

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 39.

dral construída na África Subsa-


(lubatas)) e cidades (mbanzas
Aldeias (lubatas (mbanzas)) pagavam tributos ao manicongo, que, em ariana pelos portugueses”, disse
Bruno [Pastre Máximo, arqueó-
troca, oferecia-lhes proteção espiritual, pois era visto como intérprete da vontade dos
logo].
ancestrais e dos espíritos. Os tributos eram pagos em espécie (sorgo, vinho da palma,
“[...] A árvore Yala-Nkuwu é
metais, frutas, gado, marfim e peles) e em dinheiro. A moeda do Congo era o nzimbu,, uma ligação com a ancestrali-
uma espécie de concha marinha pescada na ilha de Luanda; a exploração dessas conchas dade mediada pela lei e ordem.
era monopólio do rei. O manicongo repartia parte dos bens arrecadados com os líderes Diante dela, foram feitos muitos
de linhagens e das aldeias, estabelecendo, assim, uma aliança e um equilíbrio de poder julgamentos. O Ntotila é o ‘mo-
narca’ que governa o Reino do
no reino.
Kongo. [...].

43 O reconhecimento do Mbanza
Kongo é positivo para o mundo
porque estimula a pesquisa e re-
flexão sobre a história – comum
14:38 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 43 com a chegada dos portugueses e da religião ca-
01/08/22 14:40 a africanos, portugueses e brasi-
tólica na África Central, ao final do século XV. leiros.
Mbanza Kongo Um reino que crescia e influenciava parte da Foi do Reino do Kongo de onde
África, no século XIII, representa uma civilização partiu a maioria dos africanos
[...] o centro histórico de Mbanza Kongo, no
de riqueza cultural inestimável. [...] esse Império escravizados desembarcados
norte de Angola, foi inscrito pela Unesco na lis-
construiu a história e cultura de países como An- nas Américas [...].
ta de Patrimônio Mundial. gola, Congo, República Democrática do Congo e MBANZA KONGO, em Angola, recebe título
Capital política e espiritual do antigo Reino do Gabão e de seus descendentes em todo o mundo. de Patrimônio Mundial da Unesco. Nações
Kongo – região onde hoje estão localizados Ga- “Na cidade, existem 3 ‘lugares-chave’: Kulum- Unidas no Brasil, Brasília, DF: 10 jul.
bão, República do Congo, Angola e República De- 2017. Disponível em: https://brasil.un.org/
bimbi, Yala-Nkuwu e Ntotila. O Kulumbimbi é
pt-br/77039-mbanza-kongo-em-angola-
mocrática do Congo –, Mbanza Kongo representa descrita pelas autoridades científicas angola- recebe-titulo-de-patrimonio-mundial-da-
a importância da tradição kongo e seus conflitos nas como o vestígio material da primeira cate- unesco. Acesso em: 8 ago. 2022.
43

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 43 03/09/22 09:14


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que os primeiros
contatos entre as lideranças
africanas do Congo e dos Portugueses no Congo
portugueses foram basea- Os portugueses chegaram ao Congo em 1483 e logo procuraram fazer comércio com
dos no comércio. as lideranças africanas. Algumas dessas lideranças também se aproximaram dos portugue-
• Comentar as ações adota- ses com a mesma intenção. Esse foi o caso do manicongo Nzinga Mbemba, que trocou seu
das pelo manicongo Nzinga nome para Afonso I, converteu-se ao catolicismo e passou a se vestir à moda portuguesa.
Mbemba, com o objetivo de No seu reinado (1507-1542), com o objetivo de modernizar o Reino do Congo,
modernizar o seu Reino. Afonso I enviou cartas ao rei português D. João III, pedindo a ele que lhe enviasse profissio-
• Esclarecer as mudanças ocor- nais para ensinar os congos a construir grandes navios, professores para instruir os jovens
ridas na relação entre Portu- e missionários para divulgar o catolicismo. Mas do Reino de Portugal só lhe chegaram
gal e o Congo. missionários e mercadores de escravizados. Ao perceber que seu reino corria perigo, o
• Refletir com os alunos sobre manicongo escreveu outra carta ao rei de Portugal pedindo que proibisse o comércio de
a resistência africana ao co- africanos escravizados. Mas não foi atendido: o tráfico continuou intenso.
lonialismo europeu, lendo Ao longo dos séculos seguintes, as relações entre os portugueses e os congos piora-
uma das várias cartas envia- ram bastante. Os reis de Portugal viam o Reino do Congo apenas como uma área para
das pelo rei Afonso I ao rei de expandir o catolicismo e comerciar. Em 1665, diante do interesse português nas ricas minas
Portugal: de ouro da região, os congos se revoltaram contra
Dia a dia, os traficantes estão
o domínio português, mas foram vencidos
raptando nosso povo – crianças
deste país, filhos de nobres e na batalha de Mbwila. Nela morreram o
vassalos, até mesmo pessoas de manicongo, muitos nobres e milhares
nossa própria família. [...] Essa de soldados congos. Depois disso,
forma de corrupção e vício está o Reino do Congo foi declinando.
tão difundida que nossa terra
Os principais motivos desse
acha-se completamente despo-
voada. [...] Neste nosso reino, só declínio foram: o despovoa-
precisamos de padres e profes- mento causado pelo tráfico
sores, nada de mercadorias, a de pessoas, o aumento das
menos que sejam vinho e fari- guerras internas para obter
nha para a Missa. [...] É nosso de-
sejo que este reino não seja um
prisioneiros, a chegada dos
lugar de tráfico ou de transporte portugueses e a conse-
de escravos. quente desorganização
SUN

HOCHSCHILD, Adam. O fantasma do rei dos poderes locais.


UGA
L/AL

Leopoldo: uma história da cobiça, terror


AMY

e heroísmo na África colonial. São Paulo:


/FOT

Companhia das Letras,1999. p. 22.


OAR
ENA

• Comentar a revolta dos con-


golenses no século XVII.
• Analisar os fatores que leva- Máscara de um povo da
ram ao declínio do reino do região congo-angolana.
Congo. Fotografia de 2010.

Imagens em movimento
44
Programa que relata as-
pectos da História da África, Respostas:
incluindo a sociedade banta, + ATIVIDADES
AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 44 05/08/22 09:37 HIS

a) O rei acreditava que podia modernizar o


com destaque para os elemen- Em grupo. Debatam com seus colegas e seu Reino.
tos do sagrado e sua cultura. respondam as seguintes questões: b) Portugal tinha interesse nas riquezas do
• MOJUBÁ II. Episódio 1: His- a) Qual era o objetivo do rei do Congo ao Congo, na obtenção de escravizados e na
tória e Geografia. 2015. Ví- solicitar que Portugal enviasse professores e evangelização do reino.
deo (24min43s). Publicado profissionais para ensinar seus jovens?
Professor, esta atividade pode contri-
pelo canal Futura. Disponí- b) Analisando as ações de Portugal, qual se- buir para o desenvolvimento da compe-
vel em: https://youtu.be/ ria o real interesse dos portugueses em rela- tência geral 9.
0FY7Ld9c_mM. Acesso em: ção ao Congo?
8 ago. 2022.
44

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 44 31/08/2022 11:05


TEXTO DE APOIO
O legado africano
De que a presença africana em
Bantos no Brasil nossa cultura é profunda, talvez
A maioria dos milhões de africanos entrados no Brasil entre os séculos XVI e XIX era o melhor testemunho esteja no
falante de línguas bantas, como o quimbundo, o quicongo e o umbundo. Isso ajuda a português que falamos, no idio-
explicar por que essas línguas estão entre as que mais influenciaram o português falado ma no qual expressamos o que
pensamos, sentimos e somos.
no Brasil.
As línguas africanas, especial-
Palavras bantas mente o quimbundo (ou idioma
dos ambundos), o quicongo (ou
Berimbau – Arco musical, instrumento indispensável na
Fubá – Farinha de milho ou arroz. língua dos congos), o umbundo
capoeira.
(ou idioma dos ovimbundos) e
Caçula – O mais novo dos filhos ou dos irmãos. Jiló – Fruto do jiloeiro, de sabor amargo.
o iorubá, marcaram profunda-
Canjica – Papa de milho-verde ralado a que se juntam leite
Moleque – Menino, garoto, rapaz. mente não só o vocabulário do
de coco, açúcar, cravo e canela.
português do Brasil, mas tam-
Carimbo – Selo, sinete, sinal público com que se autenticam Quiabo – Fruto do quiabeiro, muito usado na
bém [...] a construção das frases,
documentos. cozinha cerimonial afro-brasileira e baiana.
e a fonética, ou a maneira como
Cochilo – Ato de cochilar, dormir levemente. Quitute – Petisco, iguaria de apurado sabor.
pronunciamos as palavras. Pou-
Dendê – Palmeira ou fruto da palmeira. Óleo vermelho obtido Samba – Dança e música popular brasileira de cos se dão conta de que os ver-
da palmeira dendê, de grande uso na culinária religiosa afro- compasso binário e acompanhamento sincopado;
-brasileira e baiana; óleo de palma no português de Portugal. a música que acompanha essa dança.
bos cochichar, cochilar, fungar,
xingar e zangar, os substantivos
Fonte: CASTRO, Yedda Pessoa de. Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro.
Rio de Janeiro: Topbooks, 2005. bagunça, [...] caçula, cafuné, [...]
carimbo, fuxico, fuzarca, gara-
PARA SABER MAIS pa, lenga-lenga, molambo, qui-
tanda, quitute, sunga e tanga,
Jongo: herança cultural dos povos bantos os adjetivos capenga, dengoso,
encabulado e zonzo e numero-
Entre as manifestações culturais
MARCO ANTONIO SÁ/PULSAR IMAGENS

síssimos outros termos que usa-


de raiz banta no Brasil está o jongo, mos no dia a dia são de origem
canto e dança coletivos que contam africana.
com percussão de tambores que E o que fazem os portugueses,
floresceu durante a expansão da quando têm de zangar com o ca-
cafeicultura no Vale do Paraíba flumi- çula dengoso que estava cochilan-
nense e paulista. Em 2005, o jongo foi do durante uma lenga-lenga como
registrado pelo Instituto do Patrimônio esta?
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Eles se irritam ou se aborre-
como Patrimônio Cultural Imaterial do cem com o benjamim manhoso
Brasil. O jongo é praticado em todos os que dormitava durante esta con-
estados brasileiros da região Sudeste e versa enfadonha.
é chamado também de caxambu. SILVA, Alberto da Costa e. A África
explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro:
Agir, 2012. p. 156-157.
Apresentação do grupo Jongo de
Piquete (SP), 2007.
Imagens em movimento
Vídeo do projeto Celebra-
45 ções e Saberes da Cultura Po-
pular, que integra o processo
de registro do jongo como Pa-
09:37 ENCAMINHAMENTO
HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 45 20/08/22 19:43
trimônio Cultural Brasileiro.
• Comentar que boa parte dos africanos trazidos para o Brasil era falante de línguas bantas. • O JONGO no Sudeste. 2016.
• Analisar a influência das línguas bantas no português falado no Brasil. Vídeo (25min36s). Publi-
• Dar exemplos de palavras em umbundo, quimbundo ou quicongo incorporadas à nossa cado pelo canal Tradições
língua. Culturais Brasileiras. Dispo-
• Comentar as manifestações culturais de origem banta existentes no Brasil, a exemplo do nível em: https://youtu.be/
jongo, da congada, entre outras. Ae2rRAALDRE. Acesso em:
8 ago. 2022.

45

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 45 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o fato de que
os iorubás e sua arte foram
e continuam sendo decisi-
vos na formação cultural do
Os iorubás
Brasil; estudá-los pode aju-
Nas terras da África ocidental viveram povos igualmente importantes na formação
dar a compreender aspectos
cultural do Brasil; entre esses povos merecem especial atenção os iorubás.
importantes da história e da
cultura brasileiras.

JOHNNY GREIG/ALAMY/FOTOARENA/2007

FABIO COLOMBINI/2013
• Destacar que os iorubás são
hoje um dos três maiores À esquerda, mulher
nigeriana; à direita, mulher
grupos étnicos da República baiana. Hoje, os iorubás
da Nigéria; vivem no oeste são contados aos milhões
do país, em partes da Repú- na Nigéria e no Benin e
blica do Benin e da República possuem grande número
de descendentes no Brasil
do Togo.
e em Cuba.
• Comentar que a história dos
iorubás não se restringe à da
África; é parte também da
história das Américas, espe- Os iorubás construíram uma civilização marcadamente urbana, com cidades de ruas
cialmente Cuba e Brasil. e avenidas retas e mercados movimentados; entre as principais cidades iorubás daquela
• Ressaltar a importância do época estavam Ifé, Keto e Oió (capital política).
povo iorubá na formação do
povo brasileiro. Iorubo: cidades (séculos XII a XV)
Explorar o mapa Iorubo: ci-

ALLMAPS
• 0º

dades (séculos XII a XV) com


Rio
as principais cidades ioru- Oió Níge
r
bás, a exemplo de Ifé e Oió, Obá

e explicar aos alunos que Keto


nue
egbá Rio Be
elas eram politicamente in- akposo Ado Ekiti
Cidades do Iorubo, daomé
dependentes. O elemento egbado
Ifé
palavra empregada pelo Abomei Owó

bra
comum dessas cidades era a Ijebu-Ode iorubá

am
africanista brasileiro
Benin

An
religião. Alberto da Costa e Silva Ajudá Porto Novo

o
Ri
• Esclarecer que os iorubás para designar o domínio Popó Grande 6º N
territorial dos povos
construíram uma sociedade iorubás, chamado em Golfo do Benin
predominantemente urba- inglês de Yorubaland.
na, que, por sua singularida- Delta do
Níger
de, continua sendo objeto
Meridiano de Greenwich

de estudo e debate.
OCEANO
ATLÂNTICO
0 80

+ ATIVIDADES Fonte: SCARAMAL, Eliesse (org.). Para estudar a história da África. Projeto Abá: estudos
africanos para qualificação de professores do Sistema básico de Ensino/Coordenação Geral/
Em grupo. Pesquisem so- Projeto Abá: Léo Carrer Nogueira. Anápolis: Núcleo de Seleção-UEG, 2008. p. 44.
bre a República da Nigéria e
escrevam um pequeno texto 46
a respeito desse importante
país na formação cultural do
Brasil. Pesquisem os seguintes Reportagem sobre a visita do rei de Ifé ao
Imagens em movimento
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 46 01/08/22 14:52 AV-
itens: localização geográfica, Brasil em junho de 2018.
economia, artes, idiomas, cul- Reportagem que apresenta aspectos da
turas e religiões. cultura nigeriana, partindo do futebol. • REI de Ifé, Adéyeye Ènitán Ogunwusi Ojaja
Material para pesquisa: II, visita a ABL. 2018. Vídeo (44min42s).
• CONHEÇA mais sobre a cultura da Nigéria,
VICENTINI, Paulo Fagundes Pu­blicado pelo canal Academia Brasileira
mais um participante da Copa das Confe-
(org.). Nigéria. Brasília, DF: de Letras. Disponível em: https://www.
derações. 2013. Vídeo (1min36s). Publicado
Thesaurus, 2011. (Série Diplo- youtube.com/watch?v=JJIXqZmqMxI.
pelo canal TV Brasil. Disponível em: https://
macia ao alcance de todos). Acesso em: 8 ago. 2022.
youtu.be/XjuwkbkeA9k . Acesso em: 8 ago.
Resposta: produção pessoal. 2022.

46

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 46 03/09/22 09:17


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que um elemento
decisivo na vida econômica
Política e economia dos iorubás era o comércio.
O próprio desenho das cida-
A força econômica das cidades iorubás vinha, sobretudo, do
des iorubás revela a impor-
comércio; seus comerciantes (homens e mulheres) circulavam por
Curtume:
tância da atividade comer-
terra e pelos rios da região em canoas carregadas de produtos da cial na vida de seu povo, já
estabelecimento no qual
floresta (pele de leopardo, pimenta, marfim, noz-de-cola), além de se curte couro. que quase todas elas tinham
objetos de couro, metal e marfim confeccionados por seus artesãos. Serralheria: oficina na praças, e há indícios de que
Na cidade de Oió, capital política dos iorubás, havia bairros qual se fazem peças em
nelas havia um grande mer-
ferro.
especializados em curtume
curtume,, serralheria
serralheria,, fundição. cado. Essas cidades possuíam
Ifé, que teve seu período de maior esplendor entre os séculos também bairros bem demar-
XII e XV, era a cidade sagrada dos iorubás, sua capital religiosa, e cados, área para a realização
é vista por eles até hoje como o umbigo do Universo, local onde de cerimônias religiosas, pa-
tudo começou. Daí a importância espiritual de Ifé para todas as lácio real e espaços de conví-
comunidades iorubás, na África e no Brasil. vio social.
Em Ifé, o poder político e religioso era exercido pela mesma • Comentar que os iorubás ti-
pessoa, o onioni;; ele administrava a cidade, distribuía a justiça e era nham uma capital política,
o responsável pelos cultos religiosos visando às boas colheitas. Oió, e uma capital religiosa,
Era o oni também quem confirmava a autoridade dos líderes Ifé.
de outras cidades iorubás, como Keto e Oió; quando alguém • Explicar quem era o oni e co-
chegava ao poder, tinha de se dirigir a Ifé para ter sua autoridade mentar sobre o seu poder.
confirmada por ele. • Ressaltar o fato de que os io-
Apesar de compartilharem uma rubás não formaram um Es-
BETTMANN/GETTY IMAGES

mesma língua e possuírem uma tado unificado.


base cultural comum, os iorubás não • Retomar e consolidar o tra-
chegaram a compor um Estado cen- balho com o conceito de ci-
tralizado, à semelhança dos antigos dade-Estado.
malineses; as suas cidades eram
cidades-Estado ou cidades-reino,
como preferem alguns especialis-
Imagens em movimento
tas no assunto. As cidades iorubás O vídeo busca resgatar ele-
não formaram uma unidade polí- mentos da cultura iorubá no
Brasil.
tica; eram independentes umas das
outras. • YORUBA − cultura. 2009.
Vídeo (7min50s). Publicado
pelo canal institutoyoruba.
Disponível em: https://youtu.
be/Ol4tzr_GfhU. Acesso em:
Sua alteza Aderemi I (à direita e de 8 ago. 2022.
branco), oni da cidade de Ilê Ifé, na
Nigéria, 1943. Note que o oni está
vestido à moda de seus ancestrais.

47

14:52 + ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 47 divindade e também governante da comunida-
01/08/22 14:53 c) Quem governava a aldeia?
de, composta por várias aldeias, cada qual com
Os reinos iorubás e daomeanos Respostas:
seu chefe, que cuidava dos seus membros mas
a) O responsável teria sido
Alguns dos vestígios arqueológicos mais im- prestava obediência ao oni. [....]
portantes dessa região estão em Ifé, terra de um líder divinizado chamado
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.
iorubás [...]. Conforme relatos orais, um líder di- São Paulo: Ática, 2007. p. 36-37. Odudua.
vinizado chamado Odudua foi responsável pela a) Alguns conhecimentos chegaram até nós b) Monarquia divina dirigida
prosperidade de Ilê Ifé, cidade onde vigorou um por meio de relatos orais. Segundo esses re- pelo oni.
sistema político-religioso adotado por várias
outras cidades e reinos dessa área. [...] latos, quem foi o responsável pela prosperi- c) Cada aldeia tinha um líder, o
Em Ilê Ifé foi criada uma forma de monar-
dade da cidade de Ilê Ifé? qual devia obediência ao oni.
quia divina, dirigida pelo oni
oni,, representante da b) Que sistema político predominou em Ilê Ifé?
47

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 47 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Apresentar aos alunos ou-
tras imagens de cabeças hu-
manas feitas em bronze em A arte de matriz iorubá
tamanho natural.
Os iorubás produziam esculturas atraentes e realistas, como cabeças humanas feitas
• Chamar a atenção dos alu- em bronze e de tamanho natural.
nos para o uso de metais na
O estilo próprio de Ifé na confecção das cabeças humanas não perdurou, mas influen-
arte iorubá.
ciou a arte produzida no Reino de Benin.
• Valorizar a arte iorubá e evi- A arte de matriz iorubá merece especial atenção não apenas por sua qualidade esté-
denciar a sua importância tica, mas por ser importante fonte para o conhecimento dos iorubás.
dentro e fora da África.
As peças impressionam o observador por seus traços realistas e variedade de expressões.
• Relacionar a arte iorubá à Técnica da cera perdida
história desse povo. Passo 1:: esculpir a peça desejada em cera de abelha.
• Estimular os alunos a conhe- Passo 2:: aplicar argila na escultura e deixar uma aber-
cerem, admirarem e produ- tura para a cera de abelha escorrer.
zirem releituras das escultu- Passo 3:: colocar a peça no fogo para a argila endure-
ras iorubás contribui para o
cer e a cera de abelha escorrer pela abertura.
desenvolvimento da compe-
Passo 4:: despejar o metal líquido no molde de argila.
tência geral 3.
Após esfriar, quebrar a argila e retirar a peça de metal pronta.
A afirmativa de Leo Frobenius desvela o modo precon-
Dialogando. O debate em ceituoso como ele e outros estudiosos europeus daquela
torno dessa questão pode aju- Dialogando época viam a África. Na visão dele, se as esculturas en-
contradas eram belas, não podiam ser africanas.

AGE FOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL


dar a desconstruir os estereó- No século XX, quando as esculturas iorubás foram descobertas
tipos da África presentes no pelos arqueólogos, o estudioso alemão Leo Frobenius afirmou que
imaginário nacional. elas tinham sido feitas por artistas gregos que, ao naufragar nas
costas da África, levaram sua arte para as “selvas da Nigéria”.
O que se pode dizer da visão desse estudioso?
Imagens em movimento
O vídeo apresenta alguns Escultura do rosto de um rei iorubá em bronze, século XII.
elementos da cultura iorubá e
alguns mitos dessa cultura. ESCUTAR E FALAR
• YORUBA documentário 2.
A visão que você tinha da África antes de começar a ter aula e a ler este capítulo é
2009. Vídeo (9min22s). Publi-
a mesma de agora? Se a resposta for não, o que mudou na sua visão da África?
cado pelo canal institutoyo- Releia, pense, pesquise, dialogue e prepare-se para falar sobre o assunto.
ruba. Disponível em: https://
youtu.be/Mnn3yZe4REQ. Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais.
Acesso em: 8 ago. 2022.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
TEXTO DE APOIO c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
Já se fizeram inventários das d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
diferenças estilísticas entre as
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
esculturas de Ifé e do Benin. Já
se apontou, por exemplo, a au- f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
sência de pupilas, comuns nas
imagens do Benin, nas cabeças
de Ifé, e a falta, naquelas, dos
48
orifícios onde, nestas, coloca-
vam-se cabelo, bigode e barba.
Assim é. Importa, porém, muito evitar os contrastes, em48Ifé; dramática, escava-
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd fonte em Ifé. Quer Iguega tenha realmente exis- 01/08/22 14:56 AV-

mais frisar que, enquanto a arte da, a acentuá-los no Benin. Olhos, bocas, ore- tido ou apenas simbolize o processo pelo qual o
de Ifé, pelo sentido de medida lhas são sublinhados, nas esculturas do Benin, Benin recebeu da cidade sagrada dos iorubas a
e equilíbrio, pela serenidade por linhas altas e grossas, e cada volume do ros- escultura em metal, os edos acolheram somen-
das formas, pela economia de to e do corpo como que se destaca dos demais. te a nova técnica, conservando-se fiel, contudo,
meios, se inscreve na linha do É uma escultura de fortes saliências e de fundos às suas tradições artísticas. Aprenderam o mé-
todo da cera perdida, mas continuaram com ele
que na Europa se denominou recessos, que, sob a luz, acentuam o contraste
a produzir as formas que dantes compunham
ideal clássico, a do Benin perten- entre o claro e o escuro, intensificam as som-
na madeira, na argila e no marfim. [...]
ce à vertente do barroco. bras e dão ênfase à intenção de movimento de
Silva, Alberto Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos
A principal diferença estaria, algumas figuras. portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p. 538.
portanto, na própria maneira de São tão distantes os dois estilos que, pouco
modelar as figuras: suave, rasa a parece indicar ter tido a arte do Benin a sua
48

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 48 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que o Reino de Be-
nin seguiu o mesmo modelo
O Reino de Benin de monarquia divinizada es-
tabelecido em Ilê Ifê.
Outro importante polo da cultura iorubá foi o Reino de Benin.
• Comentar sobre a estrutura
Segundo a tradição, o Reino de Benin foi fundado por um descen-
da capital de Benin, compa-
dente de Oduduwa
Oduduwa.. Assim como acontecia em Ifé, o rei de Benin Oduduwa: divindade
iorubá a quem se atribui
rando-a com algumas cida-
era representante de uma divindade e governante da comunidade.
a criação do mundo. des europeias da época.
Ele governava com o título de obá. Quando um obá chegava ao
• Destacar a importância da
poder, tinha de ir a Ifé para ter o seu poder reconhecido.
arte na história de Benin.
A cidade mais importante do reino também se chamava Benin;
• Esclarecer que no palácio de
suas ruas e avenidas retas eram maiores do que as de muitas cidades
Benin encontrava-se obras de
europeias. Seus comerciantes vendiam peixe seco, inhame, cobre,
arte com cenas do dia a dia,
sal, dendê, couro e carne, além de escravizados obtidos geralmente
contribuindo para que co-
por meio de guerras. O comércio era a base da economia do Reino nhecêssemos aspectos dessa
de Benin. cultura.
O palácio do obá era enorme, com galerias decoradas com
placas e esculturas de bronze, além de marfins na forma de colhe-
res, cabos de faca e olifantes (trompas feitas de presas de elefantes Imagens em movimento
e esculpidas com cenas do dia a dia). Reportagem sobre os
GRANGER/FOTOARENA
No final do século XIX, os ingleses “bronzes de Benin” que fo-
dominaram extensas áreas da África, ram saqueados da Nigéria por
inclusive o Reino de Benin, onde colonizadores britânicos no
eles promoveram um dos maiores século XIX.
saques de obras de arte de que • CRESCE pressão para que
se tem notícia. Isso explica por obras de arte na Alemanha
que importantes obras da arte sejam devolvidas à Nigéria.
de Benin integram, hoje, o 2021. Vídeo (1min55s). Pu-
acervo do Museu Britânico. A blicado pelo canal da TV Cul-
arte de matriz iorubá atingiu tura. Disponível em: https://
um nível de excelência em Ifé e youtu.be/nfkyyl13-ok. Aces-
Benin, mas não se restringiu à so em: 8 ago. 2022.
África; sua influência alcançou
a Europa e a América (com
destaque para Cuba e Brasil).

Placa de Benin, intitulada


O obá com os europeus.
Nigéria, séculos XV-XVI.

49

14:56 TEXTO DE APOIO


AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 49 de lagoas, furos e canais
01/08/22 costeiros,
15:00 que se estende desde o Volta
até o Níger, iam e vinham não só esses produtos, mas também as
A atividade mercantil deve ter tido, desde o início, certa impor- contas, os tecidos e o cobre, que se ia buscar talvez até mesmo no
tância no Benin. Pois as atividades agrícolas não explicariam o rá- litoral do Zaire.
pido crescimento, em poder e riqueza, da cidade e das áreas rurais O Benin transformou-se num empório de todos esses artigos
que a ela se subordinavam. − do cobre incomum e raro, só acessível aos grandes da terra, ao
[...] A cidade do Benin situava-se num ponto favorável ao en- inhame de consumo quotidiano. Com o tempo, o comércio tor-
contro dos mercadores. Por ela passavam o peixe seco e o sal que, nar-se-ia a atividade principal de sua gente e as transações com
procedentes da costa, seguiam para as savanas do norte. Do inte- os estrangeiros fizeram-se monopólio de obá.
rior para o litoral baixavam o inhame, o dendê, os feijões, os ani- Silva, Alberto Costa e.
mais de criação. E de leste para oeste, e do oeste para leste, pelos A enxada e a lança: a África antes dos portugueses.
caminhos na mata, no cerrado e na savana, e também pela série Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p. 539-540.
49

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 49 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, dentre os io-
rubás que chegaram ao Bra-
sil, havia pessoas de diferen- Iorubás no Brasil
tes grupos sociais: sacerdo-
Segundo o estudioso Pierre Verger, foi principalmente após 1830, quando os muçulma-
tes, artistas e até príncipes.
nos destruíram a cidade de Oió, capital política dos iorubás, que eles foram trazidos para o
• Chamar a atenção dos alunos Brasil como escravizados, tendo entrado, em grande número, pelo porto de Salvador. Entre
para a importância da arte de
os iorubás aqui chegados havia muitos sacerdotes, príncipes, líderes políticos e artistas,
matriz iorubá no Brasil.
que foram empregados, sobretudo, em trabalhos urbanos e domésticos, na cidade de
• Ressaltar a importância da Salvador e no Recôncavo Baiano. Trazidos à força e em condições adversas, os iorubás
cultura iorubá para se com-
fizeram história e arte em solo brasileiro.
preender a cultura baiana
A arte de matriz iorubá pode ser vista em várias regiões do Brasil, mas é a Bahia seu
em particular, já que, a partir
principal polo de irradiação; lá nasceram ou vivem alguns dos grandes nomes da música
da década de 1830, os ioru-
e das artes plásticas de matriz iorubá.
bás entraram em grande nú-
Na música temos vários artistas herdeiros da tradição iorubá, como os integrantes dos
mero na Bahia trazendo sua
língua, sua arte, sua religião, blocos Olodum e Ilê Aiyê e a cantora Margareth Menezes..
seus hábitos e seus costumes.

MARCUS BRANDT/DPA/ALAMY/FOTOARENA
TEXTO DE APOIO
A Escola Criativa Olodum Margareth Menezes é uma
A Escola Criativa Olodum é cantora, compositora e
uma obra do Grupo Cultural produtora musical que,
Olodum, fundado em 1979 no nos seus mais de
Pelourinho, e tem entre seus 20 anos de carreira,
principais objetivos a constru- tornou-se popular.
ção da cidadania a partir das ex- Viajou a todos
os continentes,
periências de vida dos próprios
contabilizando várias
alunos. Sua ação pioneira foi a turnês mundiais e
Banda Mirim do Olodum, com- álbuns lançados.
posta de crianças de 7 a 12 anos Os álbuns Elegibô e
expostas a situações de risco Kindala alcançaram,
e moradoras do Pelourinho. A respectivamente,
Banda Mirim é hoje reconhe- a 1 a e 2a posições
cida no exterior (em países es- da Billboard World
candinavos e da Europa ociden- Albuns. Na fotografia,
tal, como Alemanha e França). vê-se Margareth se
apresentando na Costa
A possibilidade de participar
do Sauípe (BA), em 2013.
do aprendizado, da criação e da
execução de diferentes ritmos
de matriz afro tem sido decisiva
para o ingresso e a permanên-
cia dessas crianças na educação
formal e no desenvolvimento
de uma consciência crítica a
respeito da sociedade brasileira
e do país. Uma estratégia da Es-
50
cola Criativa Olodum foi condi-
cionar a participação do aluno
na Banda ao desempenho dele em outras partes do Brasil.
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 50 Como exemplo, 01/08/22 15:19 AV-

na escola pública, fato que es- temos a Escola Pracatum, liderada pelo ar-
timulou tanto a permanência tista Carlinhos Brown, que busca conferir
da criança na escola quanto a dignidade às crianças e aos adolescentes
implementação do projeto de do Candeal, outro bairro de Salvador com
combate ao racismo que o Olo- densa população afro-brasileira. Temos,
dum vem desenvolvendo nas além disso, também experiências bem-su-
escolas da rede pública. cedidas com o grupo Meninos do Morum-
Assim, a Escola Criativa Olo- bi, em São Paulo, o Grupo Cultural Afro-
dum transformou-se em um Reggae, do Rio de Janeiro, e o Grupo Qui-
ícone e um modelo que tem se- lombo de Sergipe, em Sergipe.
guidores tanto na Bahia quanto Texto elaborado pelo autor.
50

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 50 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
• Comentar sobre a presen-
ça iorubá nas artes plásticas
Nas artes plásticas temos nomes importantes, como os escultores Emanoel Araújo brasileiras.
e Mestre Didi e os pintores Carybé e Menelaw Sete (conhecido como Picasso do Brasil). • Apresentar os trabalhos de
Emanoel Araújo é escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, Emanoel Araújo.
pintor e museólogo. Foi professor de artes gráficas e escultura na The City University of
• Estimular os alunos a refleti-
New York, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e fundador do Museu Afro Brasil, rem sobre a importância de
em São Paulo, do qual também é diretor-curador. suas obras.
• Aprofundar o assunto com a
MARCUS LEONI/FOLHAPRESS

leitura dos textos: CASTRO,


Tamara. A cor da cultura.
Cenpec. [S. l.], c2021. Dis-
ponível em: https://www.
cenpec.org.br/tematicas/
O artista plástico Emanoel a-cor-da-cultura-modos-de-
Araújo na abertura da exposição brincar; MUSEU AFROBRASIL.
“Barroco ardente e sincrético – São Paulo, c2009-2022. Site.
Luso‑afro‑brasileiro”, no Museu Afro Disponível em: http://www.
Brasil. São Paulo (SP), 2017.
museuafrobrasil.org.br/
pesquisa/publicacoes. Acessos
em: 8 ago. 2022.

+ ATIVIDADES
Mestre Didi,, escultor e escritor baiano, expoente da arte de matriz iorubá no Brasil. Em grupo. No Brasil, temos
muitos artistas herdeiros das
tradições iorubás: Margareth
VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

ROMILDO DE JESUS/FUTURA PRESS

Menezes, o Grupo Cultural Olo-


dum, Emanoel Araújo e Carybé.
Façam uma pesquisa sobre um
desses artistas e criem um vídeo
sobre o trabalho dele.

Dica de leitura
Artigo que discute a relação
da estética das obras de Mestre
Didi com a religiosidade afro-
-brasileira.
Cetro da ancestralidade, • SILVA, Natália Fernanda
obra de Mestre Didi. Freitas da; SIMÕES, Rosa Ma-
Mestre Didi no Museu Afro Brasil. Salvador (BA). Fotografia ria Araújo. Mestre Didi: um
São Paulo (SP), 2009. de 2015.
estudo sobre arte e cultura
afro-brasileira. In: WORLD
51 CONGRESS ON COMMUNI-
CATION AND ARTS, 6., 2012.
Austrália. Anais [...] Austrá-
15:19 AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 51 01/08/22 15:20
lia: WCCA, 2012.

51

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 51 03/09/22 19:36


ENCAMINHAMENTO
• Propor aos alunos que obser-
vem com atenção as obras de


arte.
Comentar as obras de Carybé.
Carybé é o nome artístico de Hector Julio Páride Bernabó, pintor brasileiro de origem
argentina, radicado na Bahia. Suas obras, tanto pinturas quanto desenhos, esculturas e
talhas, trabalhavam temas retirados da vida social e religiosa da Bahia. Ilustrou também
A
• Ressaltar a importância da
obras literárias, como Macunaíma,, de Mário de Andrade, e O sumiço da santa,, de
arte de matriz iorubá em
nossa cultura. Jorge Amado.
• Aprofundar o assunto com

COLEÇÃO PARTICULAR/INSTITUTO CARYBÉ/COPYRIGHTS CONSULTORIA


ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
a leitura dos textos: RIBEI-
RO, Ronilda Iyakemi. Alma
africana no Brasil: os ioru-
bás. São Paulo: Oduduwa,
1996; AS MÁSCARAS de Ge-
lede. Portal Geledés. [S.l.], 14
maio 2009. Disponível em:
https://www.geledes.org.
br/as-mascaras-de-gelede.
Acesso em: 8 ago. 2022.

+ ATIVIDADES
Em grupo. As máscaras são
um elemento presente na arte
iorubá. Inspirados na cultura
Hector Bernabó, pintor de origem argentina
iorubá, criem uma máscara radicado no Brasil. Fotografia de 1966. Obra sem título de Carybé, c. 1961.
utilizando materiais simples
como papel, barro e argila.

SEM TÍTULO, PESCADORES, OST, 1995 (VERGER)/COPYRIGHTS CONSULTORIA


Sugestão para pesquisa:
BEVILCQUA, Juliana Ribeiro
da Silva; SILVA, Renato Araújo
da. África em Artes. São Pau-
lo: Museu Afro Brasil, 2015.
Resposta: produção pessoal.
Imagens em movimento Obra sem título de
Carybé, 1995.
Reportagem apresenta as
obras de Carybé, sua criativi-
dade e seu estilo original.
•METRÓPOLIS: Carybé. 2016.
Vídeo (4min6s). Publicado
pelo canal Metrópolis. Dis-
ponível em: https://youtu.
be/nn6ORBT030Q. Acesso
em: 8 ago. 2022. 52
Reportagem sobre a pro-
dução artística de Emanoel
Araújo.
Dica de leitura
AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 52 01/08/22 15:21 AV-

• EMANOEL Araújo, artista Verbete da Enciclopédia Itaú Cultural so-


plástico e museólogo. 2014. bre o artista baiano Emanoel Araújo, que ex-
Vídeo (4min9s). Publicado plora em seu trabalho a presença da herança
pelo canal Jornal da Gazeta. africana na cultura brasileira.
Disponível em: https://youtu.
be/xLzTooPTdbg. Acesso em: • EMANOEL Araújo. Enciclopédia Itaú Cultu-
8 ago. 2022. ral. São Paulo, 29 set. 2022. Disponível em:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/
pessoa662/emanoel-araujo. Acesso em: 8
ago. 2022.
52

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 52 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
As atividades desta se-
ção contribuem para que os

ATIVIDADES
ATIVIDADES
alunos aprofundem os co-
África: comércio transaariano
(séculos X a XV) nhecimentos sobre a África,
20º L
considerando a rica história

SONIA VAZ
EUROPA

NÃO ESCREVA Fez


Argel Túnis
KAIRUAN M a r M
editerrâ
e diversidade que marcam o
NO LIVRO. Marrakesh MARROCOS IFRIQIYA Trípoli neo
TAFILELT
Ghadames EGITO
Cairo continente. Caso os alunos
Trópico de
Câncer Idjill Teghazza TUAT Fezzan
apresentem dúvidas na reali-
I. Retomando

Ma
Taodeni Ghat
o

rV
zação das propostas, identifi-

er
l
Rio Ni
Awill AIR Suakin

m
Bilma ÁSIA

elh
Galam Tombuctu Takedda

o
Cabo Gao
1. a) O comércio através do Saara, como se pode ver Verde
GANA
Agadés de
n
car se compreen­dem o enun-

Ri
HAUSSÁ Lago ETIÓPIA eÁ

o
Futa od
DARFUR Golf


no seu título. Jalon Chade

ge
Oió
ciado e se realizam correta-

r
Serra Leoa

1 Observe o mapa. AKAM BENIN Ibo


Ifé
Fernando Pó Congo
SIDAMA

mente a leitura dos mapas e


Golfo da Guiné Rio
a) Qual é o assunto principal do mapa? Equador LAGOS

Lago
Vitória
das imagens. Desse modo, é
b) As maiores fontes de ouro, de sal e de OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO CONGO LUANDA
LUBA
ÍNDICO possível avaliar as dificuldades
noz-de-cola estavam localizadas na: Lago
Niassa e propor atividades comple-
I. África setentrional.
mentares que trabalhem os

AR
Rotas comerciais GRANDE

SC
ZIMBÁBUE
II. África meridional.

GA
transaarianas
MONOMOTAPA
pontos que geram dúvidas.

DA
Trópico de
Sahel

MA
Capricórnio
III. África ocidental. Maiores fontes de ouro Se as dificuldades estiverem
IV. África oriental. Maiores fontes de sal
relacionadas à compreensão
1. b) Alternativa III. Maiores fontes de
0 1 075
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil noz-de-cola
Cidade
do conteúdo, retomar os pon-
africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 13.
tos de dificuldade e promover
atividades em duplas ou pe-

EDITORA SARAIVA
2Leia o texto a seguir. quenos grupos, facilitando as
[...] os africanos dominavam as técnicas de mineração discussões e a construção cole-
do ouro. E muitas outras técnicas. Como as agrícolas, por tiva do conhecimento.
exemplo. Num continente com solos em geral pobres e com
1. Fazer a leitura do mapa
com os alunos e destacar que
chuvas escassas e mal distribuídas, os africanos foram obri-
há vários símbolos indicativos
gados a desenvolver práticas agrícolas complexas. Muitos
das minas de sal na região em
povos conheciam as técnicas de irrigação, de rotação de
foco. Além de conservar os ali-
plantios, da adubagem com esterco animal e restos de
mentos e melhorar seu sabor,
cozinha, da construção de [...] plataformas nas encostas o sal é importante para o cor-
das montanhas, a fim de impedir a erosão e ali plantar. po humano. E, por ser escasso
Misturavam também [...] diferentes tipos de plantas, para e precioso na região, o sal che-
Fac-símile da capa do livro
assegurar a colheita de pelo menos uma delas. Assim, se o gou a ser usado como moeda.
A África explicada aos
ano fosse mal para o painço, podia ser bom ou razoável para meus filhos, de Alberto da Na África ocidental, merecem
o sorgo e o milho. Costa e Silva. destaque as minas de sal de
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 26-27. Teghazza.
a) Do que trata o texto? 2. a) O texto trata de saberes e técnicas dos povos africanos. 2. Professor, os itens desta
b) Que atividades econômicas são citadas no texto? 2. b) Mineração e agricultura. atividade querem contribuir
c) O que estimulou os africanos a desenvolverem complexas técnicas agrícolas? para o desenvolvimento da
d) A agricultura foi uma descoberta revolucionária na história da humanidade e os africanos con-
habilidade EF07HI03.
tribuíram enormemente para o desenvolvimento dessa atividade. O texto apresenta algumas
técnicas agrícolas utilizadas pelos africanos. Quais são elas?
2. c) Os solos pobres, a escassez e a má distribuição das chuvas.
2. d) As técnicas de irrigação, de rotação de plantios, da adubagem com esterco animal, da construção de
plataformas nas encostas das montanhas, a fim de impedir a erosão, entre outras.
53

15:21 Imagens em movimento


AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 53 01/08/22 15:23

Vídeo educativo que apresenta seis formações políticas africanas.


• SEIS fascinantes impérios africanos (que você deveria conhecer). 2016. Vídeo (5min40s). Publicado pelo canal Fatos Desco-
nhecidos. Disponível em: https://youtu.be/kS9r6BqfcYw. Acesso em: 8 ago. 2022.
A série O povo brasileiro, fundamentada na obra de Darcy Ribeiro, aborda no episódio três a matriz africana na formação
do Brasil.
• EPISÓDIO 3: matriz afro. 2000. Vídeo (26min). Publicado pelo canal SescTV. Disponível em: https://sesctv.org.br/programas-e-
series/o-povo-brasileiro/?mediaId= c26657a8830826bb509af13cf9f96e1a. Acesso em: 8 ago. 2022.
• Tema Contemporâneo Transversal: o contato com materiais da seção Imagens em movimento e o debate a respeito deles con-
tribuem para o desenvolvimento do tema educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes brasileiras.
53

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 53 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
3. b) O Império do Mali se formou na região conhecida como Sudão ocidental, entre os rios Senegal e Níger, nas
3. d) Professor, comentar que terras do Sahel habitadas pelos mandingas.
Tombuctu servia como pon- 3. c) A capital do Império do Mali era Niani e estava localizada às margens do Rio Níger.
to de chegada e de partida
3 Observe o mapa com atenção. Império do Mali (séculos XIII a XV)
das caravanas comerciais que Tróp

ALLMAPS
ich
ico d
a) Qual é o assunto do mapa? e Câ

de Greenw
ncer
atravessavam o deserto; era
b) Utilizando os seus conhecimentos
um importante centro de co- sobre os aspectos físicos da África,

Meridiano
mercialização de sal, ouro, descreva a localização geográfica
tuaregue

Audagoste Walata
tecidos, grãos, peles, marfim do Império do Mali. Tacrur
Gana Tombuctu ÁFRICA

Ri
e instrumentos de metal. Foi

o
Se
c) Qual era a capital do Império do

ne
Gao

ga
l
Djenné Lago
também um importante cen- Mali? Às margens de qual rio foi Chade

Rio
Rio
haussá


OCEANO Niani
tro intelectual do Império,

ge
construída essa cidade?

Volta
ATLÂNTICO

r
pois reunia mais de cem es- d) Explique a localização e a impor- Oió
iorubá
ashanti
Império do Mali fon
colas de estudo do Alcorão, tância (comercial e intelectual) da (limites aproximados)
Ifé
Benin
ibo

Capital do império
atraindo estudantes do isla- cidade de Tombuctu durante o Cidade
0 452

mismo de vários lugares. período de existência do Império


Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial.
do Mali. 3. d) Situada às margens do Rio Níger, no nordeste do Império do Paris: Larousse, 2001. p. 216.
• Tema Contemporâneo Trans- Mali e a sudoeste do deserto do Saara, \Tombuctu foi um importante centro comercial.
versal: o texto e os itens da 4 O Império de Mali controlou uma área imensa, chegou a ter 45 milhões de habitantes
atividade 5 podem colaborar e durou 230 anos. Que motivos explicam a sua longa duração?
para o trabalho com o tema 3. a) O Império do Mali, entre os séculos XIII e XV.
educação fiscal da macroárea
5 Leia o texto com atenção e responda ao que se pede.
economia. No reino do Congo [...] moravam povos agricultores
EDITORA ÁTICA

que, quando convocados pelo mani Congo,, partiam em


sua defesa contra inimigos de fora ou para controlar
rebeliões de aldeias que queriam se desligar do reino.
TEXTO DE APOIO
Aldeias ( lubatas) e cidades ([m]banzas) pagavam tribu-
As magníficas bibliotecas tos ao mani Congo,, geralmente com o que produziam:
do Império do Mali alimentos, tecidos de ráfia vindos do nordeste, sal vindo
O Mali formava um vasto Es- da costa, cobre vindo do sudeste e zimbos (pequenos
tado tradicional africano que búzios afunilados colhidos na região de Luanda que
ocupava todo o curso superior
serviam de moeda). [...]
e médio do rio Níger e o fluxo
do rio Senegal [...]. A prodigiosa Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de
performance deste império, fun- aldeias que pagavam tributos ao poder central, devendo
dado pelo legendário Sundjata Fac-símile da capa do livro fidelidade a ele e recebendo proteção, tanto para os
Keita no século XIII, alcançou África e Brasil Africano, de assuntos deste mundo como para os assuntos do além,
enorme fama e projeção no Marina de Mello e Souza.
mundo muçulmano e na cris- 5. c) O povo devia pagar tributos ao rei e pois o mani Congo também era responsável pelas boas
tandade europeia. ser fiel a ele; este, por sua vez, devia dar relações com os espíritos e os ancestrais.
proteção ao povo tanto no plano material
[...] quanto no espiritual. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 38-39.

A saber: no território do im- a) Como a autora do texto descreve os habitantes do reino do Congo?
pério, pespontavam bibliote- b) Dê o significado de: 5. a) Como povos agricultores 5. b) Mani Congo: senhor do
cas reunindo notável acervo de • mani Congo; que, ao serem convocados, de- • mbanzas; Congo. Lubatas: aldeias. Mbanzas:
obras em todos os temas e áreas fendiam o rei contra seus inimigos cidades. Zimbos: pequenos búzios
4. O Império • lubatas; • zimbos.
do conhecimento. As estimati- internos e/ou externos. que serviam como moeda.
Mali possuía c) Quais eram as obrigações do povo para com o rei do Congo, e deste para com os seus súditos?
vas do patrimônio de obras es-
um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros com capacidade de reprimir rebeldes em caso de revolta;
tocadas no Mali estão distantes controlava as áreas de extração de ouro, tinha uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob seu
de constituir um consenso. Con-
tudo, um número bastante acei-
54
domínio; adotava uma política de consulta aos povos dominados e respeitava a religião e as tradições deles.

to aponta um acervo prodigioso:


500 000 livros, documentos e
manuscritos. [...]
033a059-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 54 geografia, medicina, farmacologia, metalurgia, 26/08/22 17:16 AV2

Porém, o patrimônio de conhecimento do Mali jurisprudência, música, história, matemática e


Esplendidamente encaderna-
engenharia. Também são comuns as peças li-
dos, mantidos à disposição de infelizmente sofreu perdas imensas ao longo
leitores de todos os pontos do terárias e narrativas de reis e imperadores.
dos tempos, ocorridas principalmente com a
império, protegidos por compe- chegada dos colonialistas franceses à região. Em suma: livros para todos os gostos, interes-
tente corpo de bibliotecários e Ainda assim, milhares de manuscritos das bi- ses e desejos. Daí que, sem meias palavras, ta-
apoiados por uma legião de au- manho acúmulo de saberes coloca o Mali como
bliotecas sobreviveram até nossos dias, desper-
xiliares, os manuscritos sob ju- um dos grandes destaques no resguardo de sé-
tando admiração a todos que tiveram o privilé-
risdição das bibliotecas do Mali culos de produção intelectual.
gio de entrar em contato com este acervo.
constituíam, no século XIV, uma WALDMAN, Maurício.
das maravilhas da rede mundial [...] Abundam tratados de religião, álgebra, As magníficas bibliotecas do império do Mali.
de conhecimento. astronomia, botânica, agricultura, química, São Paulo: Kotev, 2017. p. 24.
54

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 54 03/09/22 09:18


TEXTO DE APOIO
A chegada dos portugueses
ao Reino do Congo
6 Em seu caderno, copie as alternativas verdadeiras sobre o Reino do Congo. Em Quando os portugueses che-
seguida, corrija a(s) falsa(s). 6. a) V; b) F; c) F; d) V; e) V; f) V. garam ao Congo, encontraram
a) Nimi-a-Lukeni recebeu o título de manicongo e é considerado o herói fundador do Reino do Congo. ali grandes mercados regionais,
b) Os 12 conselheiros do manicongo eram todos homens com idade superior a 60 anos. nos quais produtos específicos
a certas áreas, como sal, metais,
c) Entre os congos, as mulheres se dedicavam à caça, à pesca e à coleta de alimentos; já o
tecidos e derivados de animais,
trabalho na agricultura era feito por homens. eram trocados por outros, e um
d) Os congos conheciam técnicas apuradas de fusão do ferro. Segundo a tradição, o fundador do sistema monetário, no qual con-
Reino do Congo era um rei ferreiro, por isso os trabalhos em ferro eram reservados aos nobres. chas chamadas nzimbu
nzimbu,, coleta-
e) No Congo, o comércio era intenso. Da capital do Congo partiam as caravanas que iam ao das na região da ilha de Luanda,
interior buscar ou levar produtos, com especial destaque para o ferro e o sal. serviam de unidade básica. O
f) Aldeias (lubatas) e cidades (mbanzas) pagavam tributos ao manicongo que, em troca, estreitamento das relações com
oferecia-lhes proteção espiritual. os portugueses intensificou o
comércio regional e o interna-
7 Leia com atenção as razões da expansão dos bantos. Os estudiosos formularam duas cional e aumentou a importân-
teorias para explicar a extraordinária expansão e conquista territorial dos bantos pela cia dos comerciantes, muitos
África. 7. Resposta pessoal. deles não congoleses. O Congo
não era uma nação voltada para
I. A primeira defende que, por serem bons agricultores, os bantos conseguiam se alimentar
o comércio, exercido em grande
melhor, viver mais tempo e se multiplicar com rapidez; com esse aumento da população, foi parte pelos naturais de Loango
preciso buscar novas terras para plantar e viver. Daí a velocidade e a abrangência da expansão e posteriormente controlado
banta. pelos portugueses de São Tomé
II. Outra teoria associa a expansão dos bantos ao domínio do ferro, com o qual faziam armas e de Angola e pelos holandeses.
mais eficientes. De posse dessas armas, venciam os adversários que iam encontrando pelo Mas eram o comércio, principal-
caminho, ocupando novos espaços em pouco tempo. mente de escravos, e o controle
das minas, sempre aquém das
• Qual das duas explicações você considera mais convincente?
expectativas, os principais inte-
resses dos portugueses no Con-
8 Leia a lista a seguir e, no caderno, aplique G para as palavras de origem grega e B
go quando ali chegou Diogo Cão.
para as de origem banta. 8. a) G; b) B; c) B; d) G; e) G; f) B; g) B; h) G.
D. João II enviou Diogo Cão,
a) Poliesportivo. c) Cochilo. e) Biografia. g) Quiabo.
no ano de 1485, em mais uma
b) Canjica. d) Filosofia. f) Caçula. h) Democracia. expedição marítima que foi dar
no estuário do rio Zaire. Instruí-
9 Leia o texto a seguir com atenção e responda ao que se pede na página seguinte. dos para estabelecer contatos
Utilizando instrumentos musicais pacíficos e acompanhados de
ALEXANDRE MACIEIRA/TYBA

como o Agogô e o Akoting (semelhante ao intérpretes conhecedores de lín-


banjo), os griôs e griotes estavam presen- guas africanas, os enviados do
rei português tomaram conhe-
tes em inúmeros povos, da África do Sul à
cimento da cidade real no inte-
Subsaariana, transitando entre os territórios rior do continente e para lá en-
para firmar tratados comerciais por meio viaram emissários. Como estes
da fala e também ensinando às crianças de demorassem a voltar, retidos na
corte congolesa pela curiosidade
seu povo o uso de plantas medicinais, os
que despertou o que contavam,
cantos e danças tradicionais e as histórias os navios portugueses, recusan-
ancestrais. Diferente da civilização ociden- Jovem tocando agogô. Grupo Cultural Jongo do-se a esperar, zarparam sem
tal, que prioriza a escrita como principal da Serrinha. Rio de Janeiro (RJ), 2016. eles, levando alguns reféns. [...]
SOUZA, Marina de Mello e; VAINFAS,
55 Ronaldo. Catolização e poder no tempo
do tráfico: o reino do Congo da conversão
coroada ao movimento antoniano, séculos
XV-XVIII. Revista Tempo, Niterói, v. 3, n. 6,
p. 1-18, 1998. p. 4.
17:16 ENCAMINHAMENTO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 55 05/08/22 09:40

6. Professor, é possível fazer a correção coletiva e pedir aos alunos que corrijam as alterna-
tivas falsas de modo que se tornem verdadeiras. A prática permite que os alunos reflitam
sobre o conteúdo mais profundamente e possibilita, também, que as dúvidas possam ser
discutidas pela turma. A atividade quer contribuir para o desenvolvimento da habilidade
EF07HI03.
7. Professor, a ideia é estimular a capacidade de os alunos argumentarem em defesa de um
ponto de vista. Há também quem defenda que as duas explicações são complementares. A
atividade quer contribuir para o desenvolvimento da habilidade EF07HI03.

55

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 55 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
9. Professor, comentar com os 9. b) Recomendam pensar muito antes de dizer algo, pois além de serem sagradas, as palavras têm
alunos que os griôs são consi- um duplo poder: o de destruir e o de curar.
derados “bibliotecas vivas” e método para transmissão de conhecimentos [...], em sociedades de tradição oral a
que, no passado, quando um fala tem um aspecto milenar e sagrado, e é preciso refletir profundamente antes de
griô falecia, o seu corpo era pronunciar algo, pois cada palavra carrega um poder de cura ou de destruição.
enterrado dentro de um baobá, PEREIRA, Joseane. Griots: os contadores de histórias da África Antiga. Revista Aventuras na História,
árvore considerada sagrada e São Paulo, 26 out. 2020. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/
historia-griots-contadores-de-historias-da-africa-antiga.phtml. Acesso em 23 mai. 2022.
cujos troncos são ocos. Acre-
a) Avalie as afirmações a seguir e escreva no caderno as corretas. 9. a) Alternativas II e III.
ditava-se que, ao enterrar o
corpo de um griô nessas ár- I. As culturas tradicionais africanas têm a escrita como principal meio de transmissão de
conhecimentos, costumes e valores.
vores, suas histórias e canções
II. Os griôs são responsáveis por transmitir oralmente as histórias, os ensinamentos, os contos
continuariam sendo divulgadas
e as danças de seus ancestrais. 9. c) Respostas pessoais.
e conhecidas por muitos.
III. Nas sociedades de tradição oral, a fala tem valor inestimável.
11. A atividade permite desen-
b) O que as sociedades tradicionais africanas recomendam em relação ao uso das palavras? Por quê?
volver as competências gerais 8
c) E você, que uso tem feito da palavra? Tem refletido antes de falar?
e 9 ao possibilitar a autoanálise
e o aprimoramento da noção d) Você já disse palavras ofensivas a alguém? Já disseram palavras ofensivas a você? Se sim,
escreva de modo resumido como você se sentiu. 9. d) Respostas pessoais.
de empatia. Ao estimular que
os alunos reflitam acerca dos 10 Escreva em seu caderno as afirmações verdadeiras. Em seguida, corrija as falsas. 10.
próprios sentimentos, é possível a) V; b) V; c) F; d) V; e) F.
explorar os sentimentos que a) Os iorubás viveram nas terras da África ocidental e, assim como os bantos, foram muito impor-
provocam no outro. Se possível, tantes na formação cultural do Brasil.
fazer uma roda de conversa e b) Os iorubás construíram uma civilização marcadamente urbana, com cidades movimentadas
mediar de acordo com a comu- como Ifé, Keto e Oió.
nicação não violenta, em que c) A força econômica das cidades iorubás vinha, sobretudo, da agricultura e da pecuária.
o foco não deve ser a crítica d) Na cidade de Oió, capital política dos iorubás, havia bairros especializados em curtume, ser-
ao outro, mas em colocar os ralheria e fundição.
próprios sentimentos. Os de- e) Os iorubás, assim como os antigos malineses, constituíram um Estado centralizado com grande
bates promovidos auxiliam no extensão territorial.
combate à violência sistemática. RO
BIN

11
.PH
/SH
O trecho a seguir é de uma canção de UT
TE
RS
TO
autoria de Carol Afreekana, Regiane CK
.CO
M

Cordeiro e Sistah Mari. Leia-o com


TEXTO DE APOIO atenção.
A família africana Emi Fé É (Eu Te Amo em Yorubá)
Os anciãos em África desde sem- Tradição yorubá que nos encanta
pre desempenharam um papel
Odoyá amada África
decisivo. Além de fundamento da
família e da etnia, eram os condu- Por nos trazer tamanha dádiva
tores da vida, o elo de união entre De resgatar nossas mais profundas tradições de amor
o passado e o futuro, os repositó- Tão pouco contadas nos dias de hoje
rios da sabedoria.
Mas que sempre estiveram em nosso interior
O lugar onde nasce e se de-
AFREEKANA, Carol; CORDEIRO, Regiane; MARI, Sistah. Emi Fé É. Cifraclub.
senvolve a vida, a família é uma Belo Horizonte, c1996-2022. Disponível em: https://www.cifraclub.com.br/
instituição de referência e de dawtas-of-aya/emi-fe-e-eu-te-amo-em-yoruba/letra/. Acesso em: 31 maio 2022.
identidade da pessoa. A família
– nunca nuclear, mas alargada – 56
engloba todos os seus membros
(irmãos, primos, tios, avós). Tem
de existir entre eles uma grande
solidariedade. a AV-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd
uma etnia é um dom,56 uma riqueza; implica 01/08/22 15:35 033
a identidade social e cultural, a segurança do
Várias famílias com um ante-
indivíduo. Na etnia, o africano encontra as suas
passado comum formam o clã. Os
raízes e os valores de referência.
clãs formam a tribo ou a etnia. Há
elementos que unem os membros Os anciãos são os pilares da família e da etnia
da mesma etnia (tribo): o antepas- não só por conhecerem a sua história e a sua
sado comum, o chefe, a cultura cultura, como também por servirem de referência
(a tradição), a língua, o território aos costumes e aos segredos da vida. Acompa-
(a terra). Uma etnia possui uma nham os membros da família e ocupam um lugar
determinada história, um siste- central na etnia [...]
ma político e econômico e uma KALUMBA, León Ngoy. Anciões: os pilares da África. Revista
organização social. [...]. Pertencer Além-mar, Portugal, abr. 2002.
56

033a059_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 56 03/09/22 09:19


TEXTO DE APOIO
Os provérbios e as imagens
africanas são fontes de duplici-
Com base nesse trecho da canção é possível perceber: dade. E talvez até de uma “mul-
I. a valorização pelas autoras da tradição iorubá, mas não da África como um todo; tiplicidade” de conhecimentos,
II. a valorização da tradição iorubá e de seu continente de origem, a África; em que sociedades e grupos ét-
nicos construíram frases a partir
III. a valorização da África, apesar da tradição iorubá encantar as pessoas.
de fundamentos filosóficos, que
Está correto o afirmado em: 11. Alternativa C. foram guardados por séculos
nas memórias de mestres da
a) I. b) I e III. c) II. d) III. tradição e de seus aprendizes.
Estes mestres da tradição são
12 Copie no caderno as afirmações corretas e corrija as incorretas. 12. Alternativas A, B e C. iconológicos [...], pois transmi-
a) Com a destruição da cidade de Oió, após 1830, muitos iorubás foram trazidos para o Brasil, tem os conhecimentos e uti-
tendo entrado, sobretudo, pelo porto de Salvador. lizam as imagens míticas no
b) Entre os iorubás entrados no Brasil, havia muitos príncipes, líderes políticos, sacerdotes e artistas. sentido de orientar, no traba-
c) A arte de matriz iorubá pode ser vista em várias regiões do Brasil, mas é a Bahia seu principal lho, no lazer e no modo de fes-
polo de irradiação. tejar. São linguagens poéticas e
simbólicas que, no Brasil, estão
d) Entre os herdeiros da tradição banto na atualidade estão os blocos afro Olodum e Ilê Aiyê.
preservadas nas comunidades
e) A influência da arte iorubá se restringiu à África, pois os escravizados trazidos ao Brasil foram de terreiros e de quilombos, nas
obrigados a apagar as memórias de sua cultura de origem. cantigas e na experiência subje-
tiva da capoeira e, muitas vezes
II. Integrando com Língua Portuguesa na própria dinâmica do uso da
língua portuguesa.
DENNIS VAN DE WATER/SHUTTERSTOCK.COM Adentrar o conhecimento dos
Leia os provérbios africanos a seguir com atenção.
provérbios africanos nos coloca
I. Uma mentira estraga mil verdades. abertamente diante da circu-
II. Quando as teias de aranha se juntam, elas podem lação dos significados de seus
amarrar um leão. sentidos [...]. Nas sociedades
III. Se você danificar o caráter de outro, você danifica africanas, nada ocorre indivi-
dualmente. Os provérbios estão
o seu próprio.
ligados a outras estruturas so-
IV. A lua move-se lentamente, mas cruza a cidade ciais, seja a religiosidade ou o
V. O vento não quebra uma árvore que se dobra. imaginário coletivo. Eles perten-
PROVÉRBIOS africanos 2. Portal Geledés. São Paulo, 1 jun. 2012. Disponível
cem a uma rede de sistemas di-
em: https://www.geledes.org.br/proverbios-africanos-2/. Acesso em: 16 abr. Baobá, a árvore que é um dos versos, à vida cotidiana e à his-
2022. tória, além disso estão presentes
símbolos fundamentais das
a) Procure no dicionário e escreva o significado mais adequado culturas africanas tradicionais. também fora do continente afri-
à palavra “provérbio” com base nas sentenças que você leu. Madagascar, 2017. cano, já que verificamos sua
b) Pesquise ou converse com seus colegas para conhecer provérbios que usamos no Brasil. Logo propagação na diáspora.
após, associe o provérbio africano a um dos usados por nós. b) Resposta pessoal. O historiador Joseph Ki-Zerbo
c) Leia novamente os provérbios: aproxima-se da compreensão,
a) Provérbio: frase curta, geralmente de de que a palavra exerce poder
Uma mentira estraga mil verdades. origem popular e com ritmo e rima, rica
sagrado. Elas são assim utiliza-
O vento não quebra uma árvore que se dobra. em imagens, que sintetiza um conceito a das em religiões tradicionais no
respeito da realidade ou uma regra so-
I. Interprete os provérbios. c) Respostas pessoais. cial ou moral. continente africano e nas práti-
cas da diáspora. A palavra pos-
II. Os provérbios são associados à sabedoria popular, sendo vistos como conselhos ou regras
sui o poder de realização.
sociais. Escolha um dos dois provérbios que você acabou de ler e reflita sobre as situações
reais em que você pode aplicá-los. OLIVEIRA, Alan Santos de. Sankofa: A
circulação dos provérbios africanos –

57 oralidade, escrita, imagens e imaginários.


Dissertação (Mestrado em Comunicação)
– Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, Universidade de Brasília,
Brasília, 2016. p. 28-29, 36.
15:35 ENCAMINHAMENTO
033a059-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 57 26/08/22 17:16

12. A arte de matriz iorubá está presente em várias re­giões do Brasil, mas é na Bahia a sua
maior influência; de lá, destacam-se grandes nomes da música e das artes plásticas de matriz
iorubá, dentre eles, integrantes dos blocos Olodum e Ilê Aiyê e a cantora Margareth Menezes.
Integrando com Língua Portuguesa. c) II. Professor, o provérbio é um gênero textual de
tradição oral, composto por um verso breve, que expressa um valor moral ou ensinamento.
Ele é um registro dos valores culturais e sociais de um determinado grupo. Espera-se que
os estudantes façam associações entre o sentido do provérbio e situações vividas ou façam
ligações com outros textos (livros, séries, filmes, textos jornalísticos etc.).

57

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 57 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
Professor, a autoavaliação

#JOVENS NA
é um aprendizado fundamen-
tal para a construção da auto- ão
nomia do aluno; além disso, d o d e recepç
Es t u te e de
democratiza o processo, pois
envolve diferentes pontos de HISTÓRIA (de o br
t
a
o
s de ar
s da indústr
ia
vista. Sugestões de perguntas produ l)
para a autoavaliação: cultura
• Você considerou interessan-
te a atividade ou os traba-
lhos realizados?
PASSO 1 Ler
• Tinha conhecimentos ante- Leia com atenção a entrevista dada por Kunumi MC, artista indígena jovem que vive na cidade de São
Paulo (SP).
riores que o auxiliaram na
realização? Kunumi MC e a difusão da cultura guarani
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí-
[Pergunta:] O vídeo de “Xondaro Ka’aguy Reguá” [...] é seu último trabalho, né?
cil, saberia dizer por quê? O resultado é impressionante, pode falar um pouco do conceito? [...]
• Como você avalia sua parti-
“Xondaro Ka’aguy Reguá”, guerreiro da floresta em português, fala de um guerreiro
cipação no grupo? Realizou que nasceu das águas e que vai levar seu povo, os indígenas, para uma nova era. [...].
tarefas que contribuíram
A música eu canto somente em guarani. É uma forma de levar um pouco da minha
para o trabalho? Sugeriu
cultura para as pessoas que não conhecem como é a realidade indígena. Porque cada
formas de organizar o tra-
um tem uma cultura e, também, tem sua própria língua. Eu falo guarani, então,
balho? Colaborou com seus
acredito muito que, quando eu canto rap em guarani, eu carrego dentro de mim toda
colegas na realização de ta-
refas?. minha ancestralidade e junto com eles (os ancestrais) nós fazemos a luta. [...]
[Pergunta:] Agora vamos para uma
PRODUTORA DOC

• Você considera que a manei-


rápida viagem no tempo: quais são as pri-
ra como o tema foi abordado
ajudou na sua compreensão meiras lembranças que você tem da sua
dos conteúdos e propostas infância?
de atividades? Eu me lembro que comecei fazendo um
O trabalho com a seção curta-metragem já aos 6 anos de idade. E foi
quer contribuir para o desen- ali que comecei a gostar de estar de frente
volvimento das competências para a câmera, e fazer o que eu mais gosto: me
gerais 2 e 3 e da competência expressar. Com o tempo fui me descobrindo e
específica 3. descobri o que queria ser: um MC de rap.
• Temas Contemporâneos Depois que eu fiz esse curta-metragem,
Transversais: o desenvol- aos 6 anos de idade, comecei a estudar aqui
vimento da seção permite na aldeia Krukutu. [...].
aprofundar a macroárea te- Um dia, decidi escrever também, vendo
mática multiculturalismo. meu pai. Ele é o escritor Olívio Jekupé e tem
vários livros publicados. [...].

Fac-símile do cartaz do filme Kunumi, the native thunder.


O documentário, de 2016, retrata a história de Kunumi MC.

58

AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 58 05/08/22 09:46 AV2

58

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 58 31/08/2022 11:05


ENCAMINHAMENTO
c) Ao exibir o videoclipe, ati-
var as legendas em português,
[...] uma vez que o artista canta na
Quando meu pai me falou que eu tinha o dom de ser um escritor, ele me levava língua guarani. Recomenda-
direto na cidade onde dava palestras. Comecei cedo a andar com ele, fui aprendendo -se que os estudantes tenham
cedo a realidade dos não indígenas na cidade. Aprendendo a falar em português também. acesso à entrevista completa
Até que uma amiga (a escritora Heloísa Prieto) chegou e meu pai mostrou nossos para que possam ter mais subsí-
textos pra ela. Foi quando eu e meu irmão, Tupã Mirim, publicamos nosso primeiro livro
dios para a atividade proposta.
Ler a entrevista completa com
Contos dos curumim guarani (2014) e eu fui o mais jovem escritor indígena do Brasil.
DI GIACOMO, Fred. Futurismo Indígena: com ficção científica, Kunumi MC quer quebrar estereótipos e mostrar como os alunos e, em seguida, assistir
tecnologias indígenas são avançadas. Ecoa UOL, São Paulo, 1 jul. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ com eles ao videoclipe da músi-
reportagens-especiais/kunumi-mc-quer-quebrar-estereotipos-e-mostrar-como-tecnologias-indigenas-sao-avancadas/.
Acesso em: 27 maio 2022. ca “Xondaro Ka’aguy Reguá”:
• GIACOMI, Fred Di. Futurismo
PASSO 2 Questionar indígena. Instituto Socio-
Depois de ler o texto, responda: a) O artista percebe que as pessoas conhecem pouco da ambiental. [S. l.], 3 jul. 2020.
a) Qual o problema vivido por Kunumi MC? realidade de seu povo. Disponível em: https://acervo.
b) Qual foi a solução encontrada por ele? b) Kunumi MC resolveu cantar suas músicas em sua língua originária socioambiental.org/acervo/
e, dessa forma, ele acredita poder levar a cultura e a ancestralidade guarani para as pessoas que não as conhecem. noticias/futurismo-indigena.
PASSO 3 Pesquisar e agir Respostas pessoais. • “XONDARO Ka’aguy Re-
c) Em grupo. Analisem a obra de Kunumi MC e registrem o que vocês sentiram e imaginaram, e o que faz guá” (Official Video). 2020.
sentido para vocês. Vídeo (3min9s). Publicado
d) Conversem sobre o videoclipe e registrem no caderno as impressões acerca dos cenários, da letra, da pelo canal OWERÁ. Dispo-
melodia, das cores e dos personagens. nível em: https://youtu.be/
e) De posse dessas observações, realizem um debate seguindo o roteiro: cT7ZXxAMetY. Acessos em: 8
• Qual a mensagem predominante no videoclipe? ago. 2022.
• Como vocês interpretam a obra do artista? e) Professor, incentivar os es-
• Que sentimentos essa obra desperta em vocês?
tudantes a conhecerem outras
• Onde e como se percebe a relação com a ancestralidade?
• Na opinião do grupo, a mensagem é coerente com a intencionalidade do artista?
obras do artista.
• Vocês consideram que o artista e sua obra contribuem para a causa que ele defende? Justifiquem.
f) Após o debate, elaborem um relatório contendo as impressões do grupo.

PASSO 4 Apresentar e publicar


g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com a
#jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar Respostas pessoais.

h) Realizei as tarefas a que me propus?


i) Cumpri os prazos determinados?
j) Expressei minhas ideias com objetividade?
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

59

09:46 TEXTO DE APOIO


AV2-HIS-F2-2111-V7-U1-C02-LA-G24.indd 59 as linhas abissais impostas
05/08/22 09:47 às populações nativas por séculos

de exploração predatória, o ritmo e a poesia do rap ganham o


[...] Em uma sociedade multicultural, os signos identitários são
ambiente virtual para representar demandas ancestrais reais.
cotidianamente ressignificados, mas, apesar de uma constante
O discurso do rap marca [...] a luta por direitos constitucionais
celebração do móvel e da multiplicidade de identificações pos-
que diariamente são violados. Por intermédio da linguagem e
síveis no contexto tecnológico da globalização, a tradição per- da performance, híbrida e multicultural, os nativos brasileiros
siste. Tradição pensada não como sinal de imobilidade, mas de constituem-se como sujeitos conscientes de seus direitos como
adaptação, atravessamentos e fluxos culturais que constituem povos originários do Brasil.
as mais diversas camadas da população brasileira. [...] A cultura
SCHIFFLER, Michele Freire; NATHANAILIDIS, Andressa Zoi. O sujeito indígena
das populações nativas traz, a partir da mescla de linguagens,
brasileiro e os projetos globais: protagonismo e resistência no rap guarani.
saberes e culturas, o signo de luta e resistência contra a per- In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO OBSERVARE, 3., 2017, Lisboa.
petuação da colonialidade do poder. Contra o silenciamento e Anais [...] Lisboa: Universidade Autônoma de Lisboa, 2017, p. 2.
59

D3_HIS-F2-2111-V7-U1-C02-MP-G24.indd 59 01/09/2022 16:13


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
UNIDADE
Procurando manter coerên-

2
cia com a nossa abordagem
teórico-metodológica, expli-
citada na introdução teórico-
-metodológica deste manual, ARTE E RELIGIÃO
consideramos que esta unida-
de pode servir a três propósi-
tos básicos: descontruir a visão
preconceituosa que considera
a Idade Média como uma épo-
ca de obscurantismo; refletir
sobre o conceito de “moder- Observe a imagem desta página e da página seguinte com atenção.
nidade” e suas lógicas de in-
clusão e exclusão, com base FONTE 1
em uma concepção europeia,
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

e caracterizar humanismo e
Renascimentos, bem como as
relações das reformas religio-
sas com processos sociais e cul-
turais simultâneos, na Europa
e na América.
Na abertura de cada capítu-
lo, explicitamos os objetivos,
as justificativas e as principais
competências e habilidades a
serem trabalhadas. No corpo
do capítulo e nas atividades,
evidenciamos as nossas estra-
tégias para o desenvolvimento
dessas habilidades e compe-
tências.
Nas páginas de abertura de
unidade, vamos citar exem-
plos da articulação entre ob-
jetivos, habilidades e compe-
tências, por acreditar que, ao
longo da coleção, esse pro-
cedimento contribuirá para
o importante propósito de
“transformar a história em Cristo em
ferramenta a serviço de um Majestade,
discernimento maior sobre século XIII.
as experiências humanas e as
sociedades em que se vive”, 60
conforme sugere a BNCC
(BRASIL, 2018, p. 401).
Nesta unidade, vamos desen- Objetivo: Explicar60 o significado de “mo-
HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd Objetivo: Evidenciar a relação estreita 20/08/22 19:46 HIS

volver as habilidades EF07HI01, dernidade” e refletir sobre a importância entre imprensa e Reforma Protestante. Esse
EF07HI04 e EF07HI05, com base dos conhecimentos árabes, judeus, indianos objetivo articula-se à habilidade EF07HI05,
nos temas Mudanças na Europa e chineses para seu advento. Esse objetivo cujo desenvolvimento possibilita a relação
feudal; Renascimentos e huma- articula-se à habilidade EF07HI01, às compe- entre o advento da imprensa e a Reforma
nismo; Reformas religiosas, de tências gerais 1, 2, 3, 4 e 6 e às competências Protestante, às competências gerais 1, 2, 3,
modo articulado às competên- específicas 1, 2, 3, 4 e 6. 4, 6, 7, 9 e 10 e às competências específicas
cias gerais de 1 a 10 e às compe- 1, 2, 3, 4 e 7.
tências específicas de 1 a 7.
Vejamos, agora, exemplos
dessa articulação.
60

060a080_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 60 03/09/22 09:20


ENCAMINHAMENTO
Dando continuidade ao
processo de humanização das
FONTE 2 figuras verificado no Renasci-
mento, Rafael Sanzio pintou

STEFANO RAVERA/ALAMY/FOTOARENA
cada um de seus personagens
com gestos e expressões dis-
tintos, emprestando vida a
eles. Por meio dessas imagens,
buscamos facilitar aos alunos
a percepção das mudanças
ocorridas na arte europeia du-
rante a transição do medievo
para a modernidade. E, com
isso, prepará-los para o estudo
das mudanças verificadas na
época no campo da arte, da
religião e da política, temas
desta unidade.
2. Semelhanças: as obras
trabalham o mesmo tema e
expressam a religiosidade
daqueles tempos. Em ambas,
Cristo tem o braço direito er-
guido a nos abençoar. Dife-
renças: na obra do século XIII,
Cristo é mostrado de frente,
no centro da composição, sen-
tado em um trono celestial.
Já na obra de Rafael Sanzio,
Cristo é representado desnu-
do até a altura da virilha e tem
um manto vermelho cobrindo
Bênção seu quadril e seu ombro direi-
de Cristo, to. Ele tem a cabeça levemen-
de Rafael
te inclinada e o olhar suave
Sanzio.
c1505-1506. e sereno, apesar da coroa de
espinhos em sua cabeça. O au-
tor da primeira obra utiliza a
1. Quem é o personagem central das obras? têmpera – técnica de pintura
1. O personagem central das obras é Jesus Cristo.
2. Que semelhanças você vê entre essas imagens? E as diferenças? em que os corantes são mistu-
2. Respostas pessoais. rados com um aglutinante à
3. É possível perceber mudanças no modo de representação da figura humana? base de ovo –, já o autor da se-
4. Em qual das imagens a figura humana é representada com mais realismo? gunda obra faz uso da pintura
4. Na fonte 2. a óleo, técnica desenvolvida
3. Sim, a figura humana é representada com muito mais realismo e detalhes na fonte 2, ou seja, percebe-se
no Renascimento. Notar que
que houve mudança na forma de representar a figura humana. 61 na obra da fonte 1 a figura é
bidimensional e estática. Já na
obra de Sanzio, fonte 2, as li-
19:46 HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 61
nhas convergem
20/08/22 19:46
para o centro, criando assim
a impressão de um espaço tridimensional.
• Para aprofundar a análise de imagens re-
nascentistas acessar a publicação: ACIDINI,
Cristina. Mestres do renascimento: obras
primas italianas. São Paulo: Base7 Proje-
tos Culturais, 2013. Disponível em: https://
www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/renas-
cimento.pdf.Acesso em: 25 ago. 2022.

61

060a080_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 61 03/09/22 09:22


OBJETIVOS
• Evidenciar as mudanças
ocorridas na Europa a partir CAPÍTULO

3
do século XI, relacionando
inovações técnicas e cresci-
mento populacional. MUDANÇAS NA
• Compreender o revigora- EUROPA FEUDAL
mento do comércio, das ci-
dades e a formação da bur-
guesia como processos inter-
ligados.
• Identificar os fatores que fa- Você já imaginou como seria o mundo sem os óculos,

DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
voreceram as Cruzadas. que nos ajudam a ver melhor? Sem as universidades, que
• Difundir a cultura da paz, acumulam e produzem conhecimentos necessários à nossa
refletindo sobre as guerras saúde e conforto? Sem os garfos, que nos ajudam a comer
com motivações religiosas.
coisas gostosas? Sem os vidros nas janelas das casas, que
• Reconhecer a universidade permitem clarear o ambiente e conservar o calor?
como uma criação medieval.
Pois bem, óculos, universidades, vidros nas janelas,
• Trabalhar o bloco conceitual garfos... tudo isso foi inventado na Idade Média. Inclusive
dominação e resistência, ten-
o livro, tão útil à nossa formação como cidadãos, é uma
do como mote as revoltas
invenção medieval. Ora, assim sendo, não se pode dizer que
populares ocorridas na Idade
Média. a Idade Média foi uma época de atraso e estagnação. Este
capítulo vai ajudar você a perceber isso mais claramente.
• Refletir sobre a situação so-
cial da mulher no medievo,
tomando como exemplo o AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

caso de Joana d’Arc.


Garfo de ouro, c. 1650.
O penhorista, detalhe da
Os objetivos contribuem traição de Judas, afresco de
para que os estudantes com- Giovanni Canavesio. Capela
preendam o processo de tran- de Notre-Dame des Fontaines,
Fachada da
sição da Idade Média para a Haute-Saône (França), século XIV.
Faculdade
modernidade e percebam seu de Direito de
significado e suas lógicas de Recife (PE), 2015.
inclusão e exclusão, com base BJANKA KADIC/ALAMY/FOTOARENA

em uma concepção europeia.


Assim, pretendemos favorecer
o desenvolvimento das compe-
tências e habilidades propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2,
3, 4, 7 e 9.
• Competências específicas: 1,
2, 3, 4, 5 e 6. 62
• Habilidades: EF07HI01 e
EF07HI04.
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 62 01/08/22 16:35 HIS

ENCAMINHAMENTO alunado a ideia de que a Idade Média também, facilitar ao alunado a percep-
não pode ser considerada como uma ção de que os capítulos “Mudanças na
Nossa proposta é dar continuidade
Idade das Trevas, visão formulada pelos Europa feudal”, “Renascimento e hu-
ao estudo sobre a Idade Média iniciado intelectuais renascentistas. Essa estra- manismo” e “Reforma e Contrarrefor-
no 6o ano apresentando o processo de tégia pode colaborar para evitar que ma” contemplam processos históricos
transição para a Era Moderna. A par- os estudantes formem uma visão pre- simultâneos e entrelaçados. Portanto, é
tir das invenções representadas nestas conceituosa da Idade Média e, ao mes- correto afirmar que o Renascimento e
páginas, e tão importantes no nosso mo tempo, aguçar sua curiosidade por as reformas foram gestados durante o
dia a dia, pretende-se retomar com o esse tema tão envolvente. Pretende-se, “outono da Idade Média”.

62

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 62 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Chamar a atenção para as
mudanças ocorridas na agri-
O aumento da produção de alimentos cultura a partir do século XI.
• Comentar que uma dessas

A partir do século XI, a Europa feudal passou por mudanças significativas, algumas
mudanças foi a expansão das
áreas de cultivo por meio da
das quais merecem especial atenção: Drenagem: retirada do derrubada de florestas, da
a) a expansão das áreas de cultivo em razão da derrubada de excesso de água de um drenagem de pântanos e/ou
terreno ou lugar.
florestas e da drenagem de pântanos. da obtenção de terras por
b) o desenvolvimento de importantes inovações técnicas,, como: meio de diques e/ou barra-
gens. Nos tempos do feuda-
• a charrua,, um arado com rodas e uma relha de ferro que permite revolver a terra
lismo, o espaço cultivado era
mais profundamente, como mostrado na imagem a seguir.
restrito, havendo grandes
áreas de mata virgem, das
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

quais as pessoas retiravam


alimentos (caça, coleta vege-
tal, entre outros) que com-
pletavam sua dieta.
• Destacar as importantes ino-
vações técnicas, como o uso
da charrua, a adoção do sis-
O Mês de Outubro:
arar e semear. Escola
tema de rotação trienal e a
Francesa, século XV. utilização do cavalo na agri-
cultura.
No tocante às inovações
técnicas, pode-se acrescentar
que a charrua, além de ser um
tipo de arado mais pesado,
também era mais eficiente,
pois permitia revolver a terra e
trazer para a superfície os nu-
• a introdução do sistema de rotação trienal,, isto é, a divisão da terra cultivável em três trientes acumulados nas cama-
das inferiores. Já com relação à
campos, deixando um deles em repouso, como demonstrado no esquema a seguir;
1o ano 1o ano 1o ano 2o ano 2o ano 2o ano 3o ano 3o ano 3o ano adoção do sistema de rotação
1o ano 1o ano 1o ano 2o ano 2o ano 2o ano 3o ano 3o ano 3o ano
trienal, a cada ano mudava-se
o produto cultivado nos cam-
pos em uso. Além disso, esse
sistema aumentou a extensão
EDITORIA DE ARTE

Trigo IITrigo IITrigo II Aveia IIAveia II


Aveia II Repouso Repouso
II Repouso
II II
Aveia IAveia IAveia I IITrigo IITrigo
Trigo Repouso
II I Repouso
Repouso IAveia IIAveiaTrigo
IAveia II II ITrigo I Trigo I Repouso
Repouso II Repouso
II II
Aveia IAveia IAveia I Repouso
Repouso
I Repouso
I I Trigo ITrigo I Trigo I da área produtiva e permitiu
Repouso
Repouso
III Repouso
III III Trigo IIITrigo III
Trigo III Aveia III
Aveia III Aveia III uma variedade maior de cul-
Repouso
Repouso
III Repouso
III III Trigo III
Trigo IIITrigo III Aveia III
Aveia III
Aveia III tivos (trigo, centeio, cevada e
aveia), além de introduzir as
Repare que, enquanto dois campos eram cultivados, o terceiro permanecia em descanso. Além disso, leguminosas (ervilhas, lenti-
a cada ano, mudava-se o produto cultivado nos campos que estavam em uso. Essa nova técnica lhas e favas), que acrescenta-
permitia o descanso do solo e a reposição dos nutrientes e garantia duas colheitas anuais.
vam proteínas à dieta humana.
Já no que se refere à mudança
63 na forma de atrelar o cavalo,
pode-se acrescentar o fato de
que antes as correias eram co-
16:35 Imagens em movimento
HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 63 20/08/22 19:49 locadas no pescoço do animal,
Palestra de Eugen Weber que apresenta uma tapeçaria de acontecimentos políticos e pressionando a jugular e a tra-
sociais tecidos com muitos fios – religião, indústria, agricultura, demografia, governo, eco- queia, sufocando-o. A partir
nomia e arte. do século X, passou-se a atrelá-
-lo pelo peito, o que aumentou
• A HISTÓRIA da tradição Ocidental - 19 - a Idade Média. 2019. Vídeo (27min38s). Publicado pelo
muito o seu rendimento e a
canal Acroporium SP. Disponível em: https://youtu.be/OOarZpf1qbA. Acesso em: 19 maio 2022.
sua resistência (o cavalo deslo-
Documentário sobre a formação do sistema feudal na Europa. ca-se mais rápido que o boi e
• DISCOVERY na escola: castelos em guerra. 2018. Vídeo (53min03s). Publicado pelo canal consegue trabalhar até duas
Documentários Online. Disponível em: https://youtu.be/9u4dFFfM1HU. Acesso em: 19 maio horas a mais por dia).
2022.
63

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 63 31/08/2022 13:22


TEXTO DE APOIO
Mudanças no feudalismo
A invenção do arado pesado

BRIDGEMAN/FOTOARENA
(charrua) tornou possível tra-
balhar com mais eficiência, em
termos da produtividade do tra-
balho, os solos pesados do nor-
te da Europa. Foi uma resposta
tecnológica a uma mudança
radical das condições agroecoló- Detalhe da Ilustração
gicas ocasionada pela passagem para os Georgianos
da agricultura itinerante para a por Vírgilio, c. 1500.
agricultura permanente. Esse
instrumento torna possível uma
preparação mais eficiente e rá-
pida do solo. No entanto, seu uso
plenamente eficaz é limitado
quando atrelado a bois. O cavalo
é o animal de tiro ideal por ser
mais rápido. O problema é que
• um novo modo de atrelar o cavalo usado para puxar o arado. Antes, o cavalo era
o cavalo tinha uma capacidade
de tração muito inferior àquela atrelado pelo pescoço, o que limitava bastante seu rendimento porque o sufocava.
do boi, não apenas por ser me- A partir do século X, passou a ser atrelado pelo peito, o que aumentava seu rendi-
nos forte, mas principalmente mento e resistência no trabalho, como visto na cena representada na imagem acima;
devido ao sistema de atrelagem
• o aprimoramento e a

BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL
utilizado até então. Tratava-se
de um sistema no qual o ponto difusão dos moinhos
de apoio para o esforço de tra- acionados pela força do
ção se localizava no pescoço do vento ou da água, o que
animal, comprimindo a jugular. contribuiu para aumentar
A solução para esse problema
foi a invenção do “colar” de ca-
a velocidade e a qualidade
valo (“horse
(“horse collar”),
collar”), um sistema da moagem de grãos.
de atrelamento que deslocava o
ponto de apoio para o peito (ou
“ombros”) do cavalo. [...] Moinho movido pela força
da água, de Rene d'Anjou.
[...] O ponto culminante des- Representação do século XV.
se processo será atingido com a
passagem do sistema de rotação
bienal para o sistema de rotação
trienal. Nesse último, a parcela
a ser cultivada passa a ser divi- Com a ampliação das áreas cultivadas e a difusão das
Dialogando
dida em três faixas, sendo uma inovações técnicas, ocorreu um aumento da produção de ali-
semeada normalmente com um mentos; bem alimentadas, as pessoas passaram a viver mais, Com base no que
cereal de inverno (trigo ou cen- a ter mais filhos, e as mortes por fome e doenças diminuíram. você aprendeu em
teio) no final do outono, outra Matemática, responda:
Todas essas mudanças foram a causa e o efeito do aumento
permanecendo em “pousio”, e qual foi a porcentagem
a terceira, esta é a novidade, se- da população. Segundo o historiador Hilário Franco Júnior, do aumento da
meada no começo da primave- entre os séculos X e XIII, a população da Europa ocidental população entre os
ra com um cereal menos nobre saltou de 22 milhões para 55 milhões. séculos X e XIII?
como alimento humano (aveia, O aumento foi de cerca de 150%.
principalmente), mas também
menos exigente em nutrientes
64
que o trigo. Desse modo, em
vez de produzir somente sobre
metade da parcela a cada ano, ENCAMINHAMENTO
060a080-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 64 26/08/22 17:19 AV-

passa-se para 2/3 da área total,


o que representa um ganho de • Orientar os estudantes para que observem atentamente as imagens e percebam a importân-
área de 34% em relação ao siste- cia dos animais nas diferentes atividades cotidianas.
ma de rotação bienal. [...]
• Estimular a percepção da importância dos avanços técnicos e científicos no aumento e
ROMEIRO, Ademar Ribeiro. História do
crescimento econômico: as origens político/
envelhecimento da população.
culturais da Revolução Industrial. Texto • Interdisciplinaridade: propor discussões em conjunto com o professor do componente cur-
para discussão. Unicamp. IE, Campinas,
n. 312, p. 1-115, ago. 2017. p. 73-74. ricular Geografia sobre a estrutura populacional do período medieval.

64

060a080_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 64 03/09/22 09:23


TEXTO DE APOIO
Um novo conceito de Idade
Média nas Escolas
O revigoramento do comércio e das cidades [...] A função econômica da
cidade medieval, como local de
trocas, salientava a importância
Com o aumento da oferta de alimentos, já não havia necessidade de tanta gente das feiras que, formando ciclos
trabalhando na agricultura. Então, muitos camponeses deixaram o campo em busca de regionais ou interregionais, aca-
um novo meio de vida: alguns foram trabalhar como artesãos (sapateiros, carpinteiros, bavam gerando uma espécie de
ferreiros); outros se tornaram mercadores ambulantes, levando e trazendo mercadorias mercado contínuo. O exemplo
mais expressivo são as feiras de
de um lugar para outro. Os moradores do campo passaram a trocar os alimentos que
Champanhe. Igualmente impor-
produziam por artigos produzidos nas cidades (roupas, sapatos e móveis); isso estimulou tante era a ação dos credores,
o artesanato, o comércio local e a vida urbana. cambistas e banqueiros, neste
A partir do século XI, o comércio europeu de longa distância também se intensificou. dinamismo comercial das cida-
Observe o mapa. des medievais. A partir do final
do séc. XI e especialmente no
XII, intensificam-se a obtenção
Principais rotas comerciais (século XIV) de franquias e a constituição de
0° comunas.. Definidas por Jerome

ALLMAPS
Rotas comerciais 30°
30°LL
wich

Terrestres
Mar
Oslo
Estocolmo
Novgorod Baschet como “populações ur-
Green

Marítimas do
Norte Moscou banas em comunidades dotadas
Feira
iano de

Área comercial de uma personalidade jurídica”,


Hamburgo
Merid

de Champagne
Bremen Lübeck as comunas possuíam organiza-
Londres Amberes
Bruges Leipzig Kiev ção política autônoma – como o
Lagny
OCEANO Paris
Provins
Frankfurt
Augsburgo EUROPA
Mar Conselho e representes eleitos
ATLÂNTICO Troyes
Bar-sur- Cáspio
-Aube
–, formavam milícias urbanas
Santiago de
Compostela Gênova
Veneza
Mar Negro
N
e eram dotadas de uma justiça
Florença 40°
Medina do
Campo Pisa própria. A conquista dessas “li-
Roma Constantinopla
Lisboa Toledo
Nápoles ÁSIA berdades”, como afirma Bashet,
Sevilha
Antioquia foi vista por uma grande parcela
M a r Trípoli
Túnis
M
e
d
da historiografia como a luta da
i
t
e
r
burguesa contra a opressão feu-
r 0 475
ÁFRICA â n e o dal, realizada essencialmente
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 64-65. de forma violenta. Para o autor,
em que pese o caráter violento
de muitos desses movimentos,
Entre as rotas comerciais representadas no mapa, três eram especialmente importantes: a negociação entre mercadores,
a) cidades italianas ao Oriente (via mar Mediterrâneo). Os mercadores de Gênova e aristocracia e autoridade condal,
Veneza compravam artigos de luxo (sedas, perfumes, porcelanas) e especiarias nos por exemplo, foi um recurso re-
corrente. Nos casos em que o rei
portos de Constantinopla, Antioquia e Trípoli e os revendiam com grande lucro no
concedia as franquias, em geral,
norte da Europa; reservava-se o direito de nome-
b) sul ao norte da Europa (por terra). Uma rota ligava Veneza a Hamburgo; a outra ar as principais autoridades mu-
ligava Gênova a Bruges, passando pela região de Champagne (França), onde eram nicipais. Fourquin, por sua vez,
salienta que não houve “demo-
realizadas importantes feiras;
cracias urbanas” e que os gran-
c) cidades do norte da Europa. As cidades de Bruges, Bremen, Hamburgo, Lübeck, des mercadores dominavam,
localizadas no norte da Europa, comerciavam entre si e com outras cidades europeias, mesmo quando não se apropria-
como Londres, na Inglaterra, e Novgorod, na Rússia. vam da administração.
COSER, Miriam Cabral. Um novo conceito
65 de Idade Média nas Escolas. In: AMARAL
et al. Poder e Práticas Discursivas.
Seropédica: Editora Universitária UFRRJ,
2010. p. 9-10.

17:19 AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 65 Dica de leitura 01/08/22 17:07

Neste livro, o historiador francês Patrick


Gilli aborda as transformações de cidades
italianas durante o período comunal.
• GILLI, Patrick. Cidades e sociedades urba-
nas na Itália medieval. Editora da Unicamp:
Campinas, 2011.

65

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 65 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de feira
na Idade Média.
• Comentar que as feiras mais As feiras
famosas ocorriam na região Com o aumento do volume de comércio, surgiram também
Feira: evento em um
de Champagne, em cidades
local público em que as feiras
feiras.. As feiras medievais duravam de 15 a 60 dias, aconte-
como Troyes, Bar-sur-Aube e as pessoas expõem e ciam uma ou duas vezes por ano e reuniam mercadores vindos
Lagny, e atraíam mercadores vendem mercadorias.
dos mais diferentes lugares. Nelas, era possível ver, por exemplo,
de várias partes do globo.
um genovês vendendo pimenta, um inglês oferecendo lã, um
• Comparar as feiras medie-
hamburguense vendendo madeira.
vais com as feiras atuais. Dialogando
Como cada comerciante comparecia à feira com a moeda de
• Relacionar o aumento do Aponte diferenças sua região, e como as moedas tinham valores diferentes, surgiram
comércio e do artesanato ao entre as feiras
os cambistas, pessoas que faziam o câmbio (a troca) do dinheiro.
crescimento e ao surgimento medievais e a feira
livre atual mais Os cambistas colocavam as moedas sobre um banco de madeira
das cidades.
próxima de você. para examiná-las. Por isso, receberam o nome de banqueiros.
• Chamar a atenção para o Resposta pessoal.
fato de que o processo de ur-
banização nesse período se Cidades novas e antigas
deu de forma lenta.
Com as inovações técnicas, diminuiu a

BIBLIOTECA ESTENSE, MODENA, ITÁLIA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


• Destacar que nos primeiros
séculos da história medieval necessidade de mão de obra na agricultura;
havia cidades pequenas, sob muitas pessoas se mudaram, então, do
a autoridade de um bispo campo para as cidades. No início da Idade
ou um nobre, com poucos Média, as cidades geralmente eram peque-
moradores, que viviam prin- nas, com poucos moradores, que viviam,
cipalmente do trabalho agrí- sobretudo, do trabalho no campo.
cola ou, mais raramente, do A partir do século XI, porém, com o
artesanato. aumento do artesanato e do comércio, as
• Frisar que a partir do sécu- cidades cresceram e novas cidades surgiram.
lo XI, no entanto, ocorreu Algumas nasceram ao redor das feiras; outras,
o crescimento de algumas às margens de rios; e outras, ainda, em torno
cidades, antes acanhadas, do castelo de um nobre. As cidades medie-
bem como a criação de ou- vais eram chamadas de burgos. Por isso, seus
tras. habitantes foram chamados de burgueses.
Dialogando. As feiras me- Mas é preciso considerar que o processo
dievais ocorriam uma ou duas de urbanização foi lento. Conforme afirma
vezes por ano; as feiras livres um historiador:
atuais são, geralmente, se-
Em 1300, menos de 20% da população
manais. As feiras medievais
do Ocidente reside em cidades e a maior
ofereciam à venda produtos
variados trazidos de lugares aglomeração é, de longe, Paris, com 200...
distantes; as atuais comerciali- mil habitantes [...].
zam, sobretudo, alimentos tra- Vida na cidade e vida no campo. LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades.
Escola Italiana, 1470. São Paulo: Editora da Unesp, 1998. (Prismas, p. 26).
zidos de sítios relativamente
próximos.
Esta página contribui para
66
o desenvolvimento da com-
petência geral 6, na medida
em que ajuda o estudante a AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 66 05/08/22 09:54 AV2

apropriar-se de conhecimen-
tos e experiências que lhe per-
mitem entender relações pró-
prias do mundo do trabalho
em outros tempos.

66

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 66 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de cor-
poração.
Comerciantes, artesãos e suas corporações • Identificar as duas modalida-

Em muitas cidades medievais, uma pessoa só podia trabalhar em um ofício se perten- des de corporações de ofício
e explicar cada uma delas.
cesse a uma corporação,, isto é, a uma associação de profissionais de um mesmo ramo
• Comentar que as corpora-
de atividade. As corporações de ofício protegiam seus associados contra a concorrência e
os amparavam na velhice e na doença. Havia duas modalidades de corporações de ofício: ções tinham três finalidades
básicas: garantir aos seus
a de comerciantes e a de artesãos.
associados o monopólio de
As corporações de comerciantes eram chamadas de ligas e reuniam profissionais de
uma determinada atividade;
diversas cidades da Europa. A mais rica delas, a Liga Hanseática,, possuía numerosos
amparar seus membros na
navios e chegou a dominar o comércio do norte europeu. velhice ou em casos de inva-
As corporações de artesãos (sapateiros, tecelões, ferreiros, tintureiros etc.) eram lidez ou doença; e defender
dirigidas por mestres. Estes estabeleciam regras para o ingresso na profissão e contro- seus interesses diante do go-
lavam o preço, a qualidade e a quantidade do que ia ser produzido. Assim, evitavam verno da cidade.
a concorrência entre seus associados. Um sapateiro não podia usar um tipo de couro • As corporações de comercian-
inferior nem cobrar mais do que seu colega. tes, também chamadas de
O artesão começava a vida como aprendiz, trabalhando na oficina de um mestre “ligas”, eram as mais antigas
em troca de alimentação, roupa e moradia; depois de algum tempo, fazia uma prova e englobavam várias cidades.
prática e, uma vez aprovado, tornava-se um oficial.. O oficial recebia um pagamento em • Frisar que havia também as
dinheiro e, depois de cerca de corporações de artesãos: a
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

sete anos de trabalho, fazia dos tecelões, a dos tintureiros,


outra prova: tinha de apre- a dos ferreiros, entre outras.
sentar um produto que fosse Elas eram dirigidas por um
considerado uma obra-prima; grupo de mestres que estabe-
se fosse aprovado e tivesse lecia as regras para o ingresso
juntado dinheiro para abrir e a permanência na profissão.
uma oficina própria, tornava- A corporação mais rica foi a
-se um mestre.. Liga Hanseática, que, com seus
numerosos navios, chegou a
dominar o comércio no norte
da Europa. Fundada pelos mer-
cadores da região onde hoje é a
Alemanha, em 1161, ela conhe-
ceu seu apogeu nos 100 anos se-
Mestre e aprendiz de tinturaria. guintes, quando chegou a con-
Escola Francesa, século XV. gregar dezenas de cidades dis-
tribuídas por uma faixa de 1 500
quilômetros no eixo Novgorod-
-Reval-Lübeck-Hamburgo-
-Bruges-Londres.

67

09:54 AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 67 TEXTO DE APOIO A Hansa teutônica [...] não tem nem selo Na Hansa teutônica nenhuma das suas
05/08/22 09:54
nem conselho comum [...] cidades tem o poder de ordenar assem-
A Liga Hanseática Cada vez que, pela necessidade de agir, bleias ou fixar reuniões. Mas cada vez que
são redigidas cartas em nome de toda surgem dificuldades, as vilas da Hansa,
A Hansa teutônica [...] é uma confedera-
Hansa teutônica, elas são munidas do selo por consentimento mútuo, reúnem-se
ção permanente de cidades, vilas e comu-
da cidade onde foram escritas [...] Cada vez num local e decidem observar entre elas
nidades para assegurar o desenvolvimento
que é necessário deliberar sobre negócios o que consideram útil para os seus mer-
favorável e o sucesso do tráfico em terra e
pendentes, cada cidade envia os seus por- cadores [...]
no mar, realizar uma defesa eficaz contra
os piratas, bandidos e outros salteadores ta-vozes munidos de instruções que não PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe.
de terra e do mar, a fim de impedir que são chamados conselheiros, mas porta- História da Idade Média: textos e testemunhas.
-vozes. [...] São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 169.
pelas suas ciladas os mercadores se vejam
despojados de bens e proveitos. [...]
67

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 67 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Descrever o processo de li-
bertação das cidades.
• Trabalhar o conceito de carta As cidades se libertam
de franquia.
• Analisar a importância das Grande parte das cidades medievais se localizava nas terras de condes, duques ou
cartas de franquia para a bispos, a quem os moradores tinham de pagar impostos e prestar serviços gratuitos, como
emancipação das cidades consertar estradas e pontes.
medievais. Para se libertarem desse controle, os habitantes das cidades, artesãos e comerciantes
em sua maioria, lutaram de várias formas para obter autonomia. Por vezes, os habitantes
das cidades conseguiram autonomia por meio de rebeliões contra o aumento de impostos
+ATIVIDADES e as autoridades; outras vezes, por meio da compra de cartas de franquia,, documento
Leia o texto a seguir com que dava a eles o direito de administrar sua cidade.
atenção. Com a carta de franquia em mãos, eles elegiam representantes, que eram, geralmente,
A cidade contemporânea, ape- comerciantes ou banqueiros. É dessa época um ditado popular que dizia: “O ar da cidade
sar de grandes transformações, torna o homem livre”.
está mais próxima da cidade
medieval do que esta última
BRIDGEMAN/FOTOARENA

da cidade antiga. A cidade da


Idade Média é uma sociedade
abundante, concentrada em um
pequeno espaço, um lugar de
produção e de trocas em que se
mesclam artesanato e comércio
alimentado por uma economia
monetária. [...] a cidade con-
centra também os prazeres, os
da festa, os dos diálogos na rua,
nas tabernas, nas escolas, nas
igrejas e mesmo nos cemitérios.
Uma concentração de criativida-
de de que é testemunha a jovem
universidade, que adquire rapi-
damente poder e prestígio, na
falta de uma plena autonomia.
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades.
São Paulo: Editora Unesp, 1998. p. 25.
a) Qual o assunto do texto?
b) De acordo com o autor, a
cidade medieval se parece mais
com as cidades da Antiguidade
ou com as da atualidade?
c) Em dupla. Investiguem a
cidade do seu município e a
compare com as cidades medie-
vais, indicando semelhanças e
diferenças. Vocês podem com-
Revolta dos Maillotins (1382), de Jean de Froissart, século XV. A imagem representa os parisienses
parar atividades econômicas, em armas rebelados contra o aumento de impostos.
concentração populacional,
lazer, serviços, entre outros. 68
Professor, a proposta é que
os estudantes trabalhem com
análise, comparação e argu-
mentação. A atividade promove b)D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd
Da atualidade. 68 22/07/22 21:45 D2-H

o desenvolvimento da compe- c) Resposta pessoal.


d) Resposta pessoal.
tência geral 2 e das competên-
cias específicas 1 e 3. Imagens em movimento
d) Vimos que há um ditado me- O episódio integra uma série documental
dieval que diz: “O ar da cidade e trata sobre as origens das cidades, desde a
torna o homem livre”. Você Antiguidade, passando pelo período medie-
concorda? val até o atual.
Respostas: • CIDADE (Episódio 13). Ecce Homo [Seria-
a) As cidades no período me- do]. Direção: Pierre Lawrence. Canadá: Le
dieval. Group Coscient, 1999. 1. DVD (52min).
68

060a080_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 68 03/09/22 09:24


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que, desde o início da
Idade Média, os cristãos fize-
As Cruzadas ram peregrinações a centros
religiosos para pagar pro-
Desde o século V, cristãos europeus peregrinavam a centros messas, pedir uma graça ou
religiosos, como Jerusalém e Santiago de Compostela, para pagar como forma de penitência.
promessas, fazer pedidos ou como forma de penitência
penitência.. • Destacar que os três centros
Em 1071, os turcos de religião muçulmana conquistaram mais frequentados pelos pe-
Jerusalém e proibiram os cristãos de visitar o túmulo de Jesus. regrinos cristãos daqueles
Reagindo a isso, em 1095, o papa Urbano II convocou os cristãos Penitência: sacrifício
que uma pessoa faz
tempos eram Roma, Santiago
para uma guerra contra os “infiéis”, a fim de reconquistar a Terra para receber o perdão de Compostela e Jerusalém.
Santa.. Tinham início assim as Cruzadas:: expedições militares que
Santa dos pecados. • Trabalhar o conceito de pe-
partiram da Europa, entre os séculos XI e XIII, a fim de combater Terra Santa: nome que nitência.
se dava a Jerusalém.
os muçulmanos no Oriente e retomar a Terra Santa. • Refletir sobre a convocação do
papa Urbano II diante da proi-
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

bição, feita pelos turcos muçul-


manos, que impedia os cristãos
de visitar o túmulo de Jesus:
[...] Trata-se de um negócio
de Deus. É preciso que sem de-
mora vocês partam em socorro
de seus irmãos do Oriente [...].
Batalha entre cristãos
Como a maior parte de vocês já
e muçulmanos.
sabe, os turcos invadiram aquela
Escola Francesa,
região [...]. Por isso, eu os exorto
século XIV.
[chamo] e suplico – e não sou eu
quem os exorta, mas o próprio
Senhor – a socorrer os cristãos
e a levar aquele povo para bem
longe de nossas terras.
“A todos os que partirem e
morrerem no caminho, em terra
ou mar, ou que perderem a vida
combatendo os pagãos, será
Os participantes das Cruzadas consideravam-se “marcados pelo sinal da cruz”, por isso concedida a remissão dos pe-
bordavam uma cruz na roupa. Daí o nome de Cruzadas. As Cruzadas reuniram milhares cados. [...] Que sejam doravante
de pessoas: homens, mulheres, crianças, nobres e camponeses, ricos e pobres, civis e cavaleiros de Cristo os que não
eram senão bandoleiros [...].”
religiosos. Os nobres iam a cavalo e bem armados; a maioria, porém, ia a pé e sem armas.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. As cruzadas. São
Os motivos das Cruzadas foram de ordem material, social e religiosa: Paulo: Brasiliense, 1991. p. 26-27.
• os dirigentes da Igreja queriam reconquistar Jerusalém, desviando a violência prati-
cada pela nobreza guerreira para fora da Europa;
• os mercadores ambicionavam aumentar o comércio com o Oriente;
• os nobres esperavam obter terras e outras riquezas orientais;
• as pessoas comuns esperavam obter a salvação eterna, pois a Igreja prometia aos
participantes o perdão dos pecados.

69

21:45 D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 69 TEXTO DE APOIO [...] as expedições militares chamadas de cru-


22/07/22 21:45 “muçulmanos” ou o “Ocidente” e
zadas sempre foram um objeto de apropriação o “Oriente”. Categorias genera-
[...] Atualmente, graças a muitos debates e para a defesa de ideias ou para construções de lizadas, que simplificam propo-
pesquisas, os historiadores estão conscien- narrativas históricas. A relação com a noção de sitalmente complexas relações
tes da natureza plural e complexa das cruza- guerra santa, ou de guerra justa, contribuiu para e trocas culturais, reduzindo-as
das. Sem dúvida, elas possuíram um caráter que as expedições servissem como sinônimo de a amplos grupos homogêneos e
religioso, onde as indulgências, a retomada lutas a favor de valores ditos nobres e virtuosos, inconciliáveis entre si.
do Santo Sepulcro e o combate ao infiel de- como o combate ao infiel ou o terrorismo que RODRIGUES, Eric Cyon. As cruzadas e as
sempenharam um papel motivador para o ameaça o mundo. Essa característica dualista e apropriações contemporâneas da Idade
Média (2001-2020). Epígrafe, São Paulo,
estopim dos conflitos. Contudo, questões po- distorcida das cruzadas foi e ainda é explorada v. 10, n. 2, p. 296-329, 2021, p. 297,
líticas e militares do contexto também devem para a definição de identidades coletivas. As- 324-325.
ser levadas em conta. sim, haveria o “nós” e o “eles”, os “cristãos” e os
69

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 69 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Explorar o mapa Caminhos
das primeiras Cruzadas
(séculos XI a XIII). As principais Cruzadas
• Esclarecer que a Primeira
Cruzada foi liderada por no- Caminhos das primeiras Cruzadas (séculos XI a XIII)

ALLMAPS
bres vindos de várias partes OCEANO

Europa das Cruzadas
Estados cristãos

ico
da Europa. Era composta de ATLÂNTICO Mar do

Bált
Norte Domínios muçulmanos
ar 1 Primeira cruzada
50 mil homens das mais dife- M
2 Segunda cruzada
rentes origens. 50°
N
INGLATERRA
Londres
3
4
Terceira cruzada
Quarta cruzada
• Apontar que os cruzados 3

Metz
Paris 1 Ratisbona
receberam ajuda dos bizan- 2 Viena

tinos (cristãos ortodoxos), EUROPA


Veneza Mar Negro
Gênova
conseguindo conquistar Je- Marselha
4
Zara
Constantinopla ÁSIA
ESTADOS
rusalém. Os cruzados agiram Barcelona
Roma DA
IGREJA Edessa
Lisboa
com extrema violência, mas- REINO DAS
Antioquia

Palermo DUAS Trípoli


sacrando moradores de bair- Mar Mediterrâneo SICÍLIAS
Chipre
Tiro

wich
São João d’Acre
ros judeus e muçulmanos. Tânger Creta

de Green
Jerusalém

• Frisar que a Segunda Cruza- Cairo

Meridiano
ÁFRICA 0 410
EGITO
da foi vencida pelos muçul-
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2001. p. 66-68.
manos.
• Acentuar que na Terceira As quatro Cruzadas
Cruzada foi selado um acor- Primeira Cruzada Segunda Cruzada Terceira Cruzada Quarta Cruzada
do com os muçulmanos, que (1096-1099) (1147-1149) (1189-1192) (1201-1204)
voltaram a permitir aos cris- Essa Cruzada foi motivada
Foi chefiada pelos reis
tãos a realização de peregri- da França e da Inglaterra
principalmente por
nações a Jerusalém. interesses econômicos.
e pelo imperador da
Os comerciantes de Veneza
Foi comandada região onde é hoje a
• Destacar que na Quarta Cru- pelo rei da França e Alemanha. Os cruzados
ajudaram os cruzados
zada, com o ataque à Cons- Foi liderada por nobres
pelo imperador da estabeleceram
fornecendo navios,
de várias partes da alimentos e dinheiro.
tantinopla, os mercadores Europa e conseguiu
região onde é hoje a um acordo com os
Em troca, exigiram que os
Alemanha. Os líderes muçulmanos que,
italianos – venezianos e ge- reconquistar Jerusalém
se desentenderam e a na época, haviam
cruzados atacassem uma
noveses – obtiveram várias temporariamente.
expedição foi derrotada reconquistado
cidade que também era
cristã – Constantinopla –
ilhas no mar Egeu e passaram pelos muçulmanos. Jerusalém; o acordo
porque os comerciantes
permitia aos cristãos
a dominar parte do comércio realizarem peregrinações
dessa cidade eram seus
pelo Mediterrâneo. a Jerusalém novamente.
concorrentes no comércio.
E assim foi feito.
Depois dessas quatro Cruzadas, cujos caminhos você vê representados no mapa acima, foram organizadas
outras quatro, sem que se conseguisse retomar Jerusalém.
Imagens em movimento
Documentário sobre as Cru- Mudanças causadas pelas Cruzadas
zadas, analisando as princi- As Cruzadas provocaram mudanças importantes no Ocidente europeu, entre as quais
pais batalhas ocorridas e suas cabe citar:
motivações.
• o aumento do comércio entre o Ocidente e o Oriente e entre as várias regiões da Europa,
• AS CRUZADAS: a meia-lua e o que contribuiu para a prosperidade dos comerciantes europeus e de suas cidades;
a cruz. Direção: Mark Lewis
e Stuart Elliott. Reino Unido: 70
The History Channel, 2005.
Blu-ray (90min).
+ATIVIDADES
HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 70 de pesquisa, para o exercício da argumenta- 20/08/22 19:50 AV-

Dica de leitura ção e para o desenvolvimento da competên-


Em grupo. Organizem-se em quatro gru- cia específica 5.
O livro do escritor francês se pos. Cada grupo deve pesquisar sobre uma
baseia em crônicas medievais das Cruzadas. Aprofundem os assuntos trata-
para narrar a trajetória de um dos no quadro de resumo para apresentar aos
grupo de crianças que marcha colegas. Por fim, respondam: o que se pode
até Jerusalém, em 1212. dizer sobre as motivações das Cruzadas?
• SCHWOB, Marcel. A cruzada Resposta pessoal.
das crianças. São Paulo: Edi- Professor, a atividade contribui para o tra-
tora 34, 2020. balho com noções introdutórias de práticas
70

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 70 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, durante boa
parte da Idade Média, as
• a maior participação dos europeus, especialmente dos italianos, no rico comércio de únicas escolas eram as dos
especiarias e artigos de luxo orientais pelo mar Mediterrâneo, comércio antes controlado mosteiros ou das catedrais,
pelos muçulmanos; e os professores eram mon-
• o enfraquecimento da nobreza guerreira, que se endividou e perdeu parte de seus ges ou padres. No século XII,
membros nas Cruzadas. percebendo que a prática do
comércio exigia o conheci-
mento da escrita e do cálcu-
Conhecimento e arte lo, os burgueses passaram a
financiar a criação de escolas
O revigoramento do comércio e das cidades ocorrido a partir do século IX impulsionou leigas, isto é, desvinculadas
o conhecimento e a arte; a importância do cálculo para a burguesia; o clima de maior da Igreja. As universidades
liberdade das cidades; e o aumento das trocas culturais entre pessoas de diferentes regiões. daquela época eram dife-
Tudo isso favoreceu o avanço da ciência e a criação da universidade. rentes das de hoje. Eram as-
sociações de professores ou
de alunos que se reuniam
A universidade para defender seus interes-
A universidade foi uma criação medieval e pode ser definida como uma associação ses diante das autoridades.
de professores ou de alunos com a intenção de buscar o conhecimento. A Universidade • Salientar que, inicialmente,
de Bolonha (Itália), por exemplo, foi criada por uma associação de alunos; já a de Paris as universidades medievais
(França) nasceu de uma associação de professores. A primeira se destacava na área do Direito, não possuíam instalações
enquanto a segunda era forte em Medicina. Conhecedores dessas características, os estudan- próprias. Eram universida-
tes buscavam a que mais lhes interessasse. A primeira universidade da Europa foi a de Bolonha des “ambulantes”. As aulas
(século XII); depois foram fundadas várias outras, como Oxford e Cambridge (Inglaterra), Paris muitas vezes eram dadas
em lugares como celeiros ou
e Montpellier (França), Salamanca (Espanha) e
BIBLIOTECA ANGÉLICA DE ROMA. ITÁLIA

à beira de estradas: aonde


Coimbra (Portugal). A universidade era formada
o professor ia, os alunos o
geralmente por quatro faculdades: Artes,
acompanhavam em verda-
Medicina, Direito e Teologia. deiras viagens. Com o tempo,
as universidades passaram a
alugar salas para suas aulas.
Iluminura do século XV que representa uma aula na
Universidade de Bolonha. Repare que a maioria dos
A universidade medieval era
alunos acompanha a aula atentamente; já o primeiro constituída, geralmente, por
aluno da segunda fileira (da esquerda para a direita) quatro faculdades: Direito,
está distraído, olhando para trás. Medicina, Artes (mais tarde
chamada de Letras) e Teolo-
Dialogando gia (que na época era muito
# DICA! Respostas pessoais.
ligada à Filosofia).
a Você tem participado das aulas?
Entrevista com o professor de Filosofia Rodrigo Martins sobre o
surgimento das universidades na Idade Média. b Por quê? Dialogando. c) O objetivo aqui
ESCOLÁSTICA: o surgimento e a importância das universidades. 2016. é estimular a reflexão sobre a
c Quais são as consequências de
Vídeo (5min27s). Publicado pelo canal HR Digital Audiovisual. Disponível postura desejável numa sala
conversar com os colegas durante
em: https://youtu.be/jDiMO-SSczo. Acesso em: 31 maio 2022.
a explicação do professor?
de aula e incentivar o espírito
participativo.
71

19:50 Dicas de leitura


AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 71 +ATIVIDADES 01/08/22 17:32

Neste livro, o autor oferece um estudo rigoroso sobre


o papel da universidade na Idade Média, refutando a Em dupla. Vimos que as Cruzadas provocaram mudanças impor-
ideia de “idade das trevas” que é associada ao período. tantes na economia, na política e nas sociedades europeias. Depois
• ULLMANN, Reinholdo Aloysio. A universidade medie-
de debater o assunto, indiquem as conse­quências das Cruzadas que
val. Porto Alegre: Edipucrs. 2000. vocês consideram mais importantes. Justifiquem.
Resposta pessoal.
Livro que discute a educação e sua relação com a ges- Professor, com essa atividade, pretendemos estimular os alunos
tação do Estado Moderno durante a Idade Média. a buscar e selecionar informações significativas e utilizá-las para
• VERGER, Jacques. Homens e saber na Idade Média. São produzir um texto histórico coerente.
Paulo: Edusc, 1999.
71

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 71 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que os historiado-
res atribuem a crise social no
Ocidente europeu a diversos
motivos, dentre eles: Crise, doenças e revoltas
– a produção agrícola me-
dieval já não conseguia Vimos que, entre os anos 1000 e 1300, a Europa prosperou, embalada pelo crescimento
atender às necessidades da da população e das cidades. Nas primeiras décadas do século XV, no entanto, iniciou-se na
população, que vinha cres- Europa uma crise prolongada, marcada por fome, doenças, guerra e revoltas sociais.
cendo em ritmo acelerado; Naquelas décadas, a oferta de alimento tornou-se insuficiente para atender à popula-
– os limites técnicos da agri- ção, que crescia em ritmo acelerado; além disso, ocorreram chuvas torrenciais seguidas de
cultura medieval não per- más colheitas, e áreas agrícolas passaram a ser usadas para a criação de ovelhas e extração
mitiam grandes safras de
da lã. Isso tudo ajuda a explicar uma crise de fome ocorrida entre 1315 e 1317, que matou
alimentos; além disso, al-
gumas áreas de uso comum milhares de europeus. Além disso, as condições de higiene na Europa eram péssimas; o
passaram a ser usadas para lixo das casas era lançado às ruas e não havia serviços de coleta, encanamento ou esgoto.
a criação de ovelhas e a ex- Epidemia: doença Fome e falta de higiene colaboraram para que uma terrível
tração de lã; que surge rapidamente
num lugar e acomete,
epidemia,
epidemia , a Grande Peste, atingisse toda a Europa, desde Portugal, a
– a retração econômica ge- ao mesmo tempo, oeste, até a Rússia, a leste. Calcula-se que entre 1347 e 1350 a Grande
rou crises de fome e mortes, um grande número Peste matou cerca de um terço da população europeia. A peste era
e a subnutrição facilitou a de pessoas.
transmitida por pulgas que picavam os ratos e, depois, os seres humanos.
ocorrência de doenças (daí
Maior que essa doença, só o medo causado por ela. Houve casos em que a população
o ditado medieval: “Depois
da fome, a peste come”); abandonou sua cidade apenas porque ouviu dizer que a peste estava chegando.
–as péssimas condições de
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

higiene (não havia serviços


de coleta de lixo – este era Gravura
lançado às ruas – nem de representando
esgoto e tampouco água uma vítima fatal da
encanada). Aproveitando- epidemia de peste
-se da falta de higiene, os ra- bubônica durante
tos faziam ninhos nas casas. as Cruzadas.
Esse ambiente favoreceu a Escola Francesa,
século XIV.
ocorrência de um surto epi- A epidemia não
dêmico, a Grande Peste, que fazia distinção: ricos,
vitimou cerca de um terço da pobres, remediados,
população europeia. todos eram vitimados
por ela. Trazida por
navios vindos do
Imagens em movimento Oriente, a peste
atacou primeiro as
Documentário sobre a cidades portuárias,
Grande Peste que assolou a locais de ampla
Europa no século XIV. movimentação de
pessoas e onde as
• A PESTE negra na Idade Mé- condições de higiene
dia. 2017. Vídeo (90min20s). eram péssimas.
Publicado pelo canal History
Documentários. Disponível em:
https://youtu.be/L2-HoovP-Dk.
Acesso em: 2 jun. 2022. 72
TEXTO DE APOIO
A Grande Peste um inchaço, geralmente72 embaixo da virilha ou
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd estavam sãos fugiram apavorados de medo. E, 01/08/22 17:34 AV-
da axila, a vítima ficava privada de toda assis- assim, muitos morreram por descuido, os quais
No ano do Senhor, 1348, acon-
tência, e mesmo abandonada por seus paren- teriam escapado de outro modo. Muitos ainda,
teceu sobre quase toda a super-
tes. O pai deixava o filho em seu leito, e o filho que pegaram esta doença e dos quais se acre-
fície do globo uma tal mortan-
dade que raramente se tinha fazia o mesmo com o pai. Não é surpreendente, ditava que morreriam com certeza imediata-
conhecido semelhante. Os vivos, pois, que, quando numa casa alguém tinha sido mente sobre o chão, foram transportados, sem
de fato, quase não conseguiam tocado por este mal e tinha morrido, aconteces- a mínima discriminação, até a fossa de inuma-
enterrar os mortos, ou os evita- se muito frequentemente, todos os outros mo- ção. [...] E esta peste se prolongou além do ano
vam com horror. Um terror tão radores terem sido contaminados e mortos da anteriormente dito, durante dois anos seguidos,
grande tinha-se apoderado de mesma maneira súbita; e ainda mais, coisa hor- espalhando-se pelas regiões, onde, primeira-
quase todo o mundo, de tal ma- rorosa de ouvir, os cachorros, os gatos, os galos, mente, não tinha acontecido.
neira que, no momento que apa- as galinhas e todos os outros animais domés- PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média:
recia em alguém uma úlcera ou ticos tiveram o mesmo destino. Aqueles que textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 194-195.
72

060a080_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 72 03/09/22 09:25


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que a Guerra dos
Cem Anos foi um exemplo
A Guerra dos Cem Anos típico de guerra medieval;
um conflito no interior da
Um episódio que também contribuiu para a crise do século XIV foi a Guerra dos Cem
nobreza por títulos e senho-
Anos (1337-1453): um conflito armado entre a França e a Inglaterra que, na verdade, durou
rios. Isso explica a ambição
116 anos e foi interrompido diversas vezes. Os principais motivos dessa longa guerra foram do rei Eduardo III em possuir
a disputa pela rica região de Flandres e o interesse do rei da Inglaterra Eduardo III em se também a Coroa da França, e
tornar também rei da França. os bens e privilégios daí de-
correntes.
Explicar que o rei Carlos VII
ALBUM/EASYPIX BRASIL


da França reagiu à vitória dos
ingleses e, com um poderoso
exército, conseguiu retomar
Paris; a partir da capital fran-
cesa, organizou o governo e
Representação a cobrança de impostos, au-
da Batalha mentando, assim, o seu po-
de Fromingny der. Nesse contexto, emerge
(França),
ocorrida em
a lendária figura de Joana
1450. Autor d’Arc, uma camponesa que,
desconhecido, depois de passar por vários
século XV. A testes diante dos teólogos do
Guerra dos
Palácio, conseguiu conven-
Cem Anos foi
um exemplo cer o rei de que ouvira vozes
típico de guerra vindas dos céus que a incum-
medieval: biam de libertar a França dos
um conflito ingleses e coroar o rei.
por títulos e
senhorios,
no interior
da nobreza.

Inicialmente, os ingleses conseguiram várias vitórias sobre os franceses e ocuparam


parte de seus domínios, inclusive a cidade de Paris. Depois, o exército profissional de Carlos
VII conseguiu libertar Paris das mãos dos ingleses. Um destaque nessa guerra foi a atuação
de uma jovem de nome Joana d’Arc. A partir de Paris, Carlos VII organizou o governo e
a cobrança de impostos, fortalecendo, assim, o poder monárquico.
Com o final da guerra, vencida pelos franceses em 1453, e o fortalecimento da realeza,
a nobreza se enfraqueceu. Além disso, a cavalaria perdeu força diante do surgimento das
armas de fogo, especialmente o canhão. Com isso, o poder militar da nobreza, baseado
no manejo da espada e da lança, também diminuiu.
Já a burguesia dos dois reinos ganhou força, passando a ocupar importantes cargos
na administração pública.

73

17:34 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 73 01/08/22 17:37

Em grupo. Façam um levantamento de obras audiovisuais que retratem a história de


Joana d’Arc.
Se necessário, selecionem previamente fontes de consulta, considerando a classificação
indicativa.
Analisem as obras indicando de que forma Joana d’Arc foi retratada em cada uma delas.
Ao final, produzam uma análise crítica de uma delas.
Resposta: produção pessoal.
Professor, a atividade pode contribuir para o desenvolvimento da competência geral 2 e
da competência específica 4.
73

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 73 31/08/2022 13:22


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que, sob o comando
de Joana d’Arc, o exército fran-
cês obteve vitórias extraordi-
nárias, como na batalha de
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Orleans, em 1429. No ano se-


guinte, porém, Joana caiu em A extraordinária história de Joana d’Arc
uma armadilha e foi vendida Joana d’Arc nasceu em 1412, numa família camponesa do interior da França. Aos
aos ingleses, que a entregaram 12 anos, afirmou ter ouvido vozes vindas do céu que lhe diziam para livrar a França dos
a um tribunal da Inquisição;
ingleses e coroar o rei. Aos 17 anos, Joana conseguiu um cavalo e partiu em direção ao
acusada de herege e de só an-
Castelo de Chinon, residência do rei, para falar da revelação que tivera.
dar com roupas consideradas
Depois de passar por vários e demorados testes diante dos teólogos do palácio real,
masculinas, foi queimada viva
aos 19 anos de idade. Muitos Joana d’Arc recebeu das mãos do rei uma espada, um estandarte e o comando geral dos
séculos depois, em 1920, ela foi exércitos franceses. Sob seu comando, os franceses obtiveram várias vitórias. Mas, depois, ela
canonizada pela Igreja e se tor- caiu numa armadilha e foi vendida aos ingleses, que a entregaram a um tribunal da Inquisição.
nou padroeira da França. Este a acusou de herege e de usar roupas masculinas; condenada por esse tribunal, Joana
Para refletir. c) Segundo foi morta numa fogueira em 1431. Em 1456, um novo processo provou Estandarte:
bandeira de guerra.
Jacques Le Goff, para respon- sua inocência. Séculos depois, em 1920, ela foi canonizada.
der a essa pergunta várias hipó-

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
teses foram levantadas: ela era
uma iluminada; alguém teria
lhe ensinado o papel que de-
sempenhou; ela era uma pes-
soa inspirada por Deus. Conti-
nua em aberto a questão das
vozes ouvidas por Joana quan-
do tinha 12 anos. Professor, co-
mentar que, na época, desde o
mais humilde camponês até o
rei, todos acreditavam em “re-
velações”.

TEXTO DE APOIO
Joana d’Arc Joana d’Arc, da Série Liebig: Les femmes célèbres dans l’histoire, 1922.
Tão surpreendente quanto
possa parecer, o encontro ocorri- a) Que aspecto da vida de Joana d’Arc você achou mais interessante? a) Resposta pessoal.
do em Chinon entre a jovem des-
conhecida, vinda de tão longe, e b) Será que o fato de ela ser mulher e de pertencer ao campesinato dificultou sua acei-
o rei da França nada tem de inve-
tação por parte do rei? b) Sim; o modo como a mulher era vista naquela época e o grupo social a que
rossímil: na situação de desespe- ela pertencia certamente dificultaram a aceitação de Joana d´Arc no palácio real.
ro e de urgência em que ele se en-
c) Como você interpreta o fato de uma camponesa de apenas 17 anos, iletrada, ter lançado
contrava, como não tentar tudo?
Por outro lado, é preciso admitir a ideia de que Deus lhe havia dado a missão de salvar a França? c) Resposta pessoal.
na circunstância a influência
fora do comum da Pucelle. Mis-
teriosamente, ela se impôs. Mes- 74
mo que na época a cessação do
cerco de Orleans tenha parecido
miraculosa para muitos, ela pode anos, criada entre o pai74e a mãe num vilarejo tarina e Margarida, é concebível; e também mais
060a080-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 26/08/22 17:20 060
receber uma explicação natural: distante, sem horizonte cultural, tenha por si provável, desde então, que essas vozes só lhe da-
a relação de forças entre ingleses mesma formulado a ideia de que Deus lhe ha- vam edificantes conselhos e que a finalidade de
e franceses não era assim tão de- sua ação – a salvação do “santo” reino da França e
via dado a missão de salvar o reino da França
sigual que um sobressalto destes
do naufrágio? Para responder a essa pergunta, o socorro aos franceses mergulhados na tristeza –
últimos não pudesse modificar o
múltiplas hipóteses foram feitas [...]. não poderia ter sido sugerida pelo diabo. [...]
resultado. Joana d’Arc provocou
esse sobressalto, os homens de Um quarto de século mais tarde, os doutos O historiador de hoje, evidentemente desmu-
armas combateram e Deus lhes tratados que acompanham o processo de reabi- nido para decidir sobre a natureza das vozes,
concedeu a vitória. litação concluíram prudentemente: mesmo que limita-se a realçar que, segundo o espírito do
Mais que tudo, uma questão se nenhuma certeza possa ser trazida, a origem tempo, Deus podia agir pontualmente. [...]
coloca sempre: como conceber sobrenatural das vozes, identificadas por Joana LE GOFF, Jacques. Homens e mulheres da Idade Média. São
que uma iletrada de dezessete como sendo as do arcanjo Miguel e das santas Ca- Paulo: Estação Liberdade, 2013. p. 355, 358.
74

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 74 31/08/2022 13:23


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, entre 1377 e
1380, o governo inglês autori-
Rebeliões camponesas zou por três vezes a cobrança
de um imposto geral “por
Com as mortes provocadas por fome, peste e/ou guerra, começou a Jacquerie: nome cabeça” para cobrir os gastos
faltar mão de obra nos campos e a produção agrícola diminuiu, acarretando derivado de Jacques da guerra contra a França.
Bonhomme, Além disso, os senhores in-
prejuízos para a nobreza. Para compensar suas perdas, a nobreza aumentou que pode ser
o controle sobre os camponeses e os tributos pagos por eles. Além disso, traduzido por “João
gleses sobrecarregavam os
Ninguém”, apelido camponeses com trabalho
na mesma época, os reis elevaram os impostos pagos por seus súditos. Os forçado e taxas.
que a nobreza dava
camponeses, então, reagiram promovendo revoltas, como a Jacquerie
Jacquerie,, na aos camponeses. • Tema Contemporâneo Trans-
França (1358), e a Revolta de Watt Tyler,, na Inglaterra (1381). versal: A leitura e a interpre-
Jacquerie é, na verdade, o nome de uma série de revoltas que explodiram nas proxi- tação do texto de apoio desta
midades de Paris e no interior da França, ao mesmo tempo. Os milhares de camponeses página podem contribuir para
que delas participaram incendiaram castelos, mataram nobres e queimaram documentos os estudantes desenvolverem
que os prendiam a seus senhores. Estes reagiram e, de posse de melhores armas e de o tema educação fiscal, da
macroárea economia.
treinamento militar, sufocaram a revolta, massacrando os rebeldes.
Segundo Hilário Franco Jr., o
Anos depois, cerca de 10 mil camponeses ingleses, liderados por Watt Tyler, foram a
movimento francês Jacquerie
Londres e exigiram do rei Ricardo II o fim da servidão e a diminuição dos impostos pagos pode ser explicado pela crise
por eles. Na presença dos rebeldes, o rei concordou, mas, em seguida, voltou atrás e se conjuntural resultante da Gran-
uniu aos nobres, arrasando as aldeias camponesas. Embora tenham sido massacradas de Peste, dos impostos crescen-
pelos exércitos do rei e da nobreza, essas revoltas contribuíram para o enfraquecimento tes e dos problemas decorren-
da servidão na Europa ocidental. tes da Guerra dos Cem Anos
(desorganização da produção,
insegurança, novos impostos,
CHRISTOPHEL FINE ART/UIG/GETTY IMAGES

entre outros).

que enfrentavam a reação senho-


rial. Tais movimentos não eram
revolucionários, mas reacioná-
rios, buscando a volta a um pas-
sado recente, considerado menos
duro. Eram mais contra a conjun-
tura do que contra a estrutura. Foi
Aspecto da revolta o caso da revolta de Flandres ma-
camponesa de 1358. rítima (1323-1328), iniciada com a
Crônicas, de Jean de recusa ao aumento dos impostos
Froissart, manuscrito e ao dízimo eclesiástico, que atin-
do século XV. giam sobretudo os camponeses
médios, logo seguidos pelos arte-
sãos de Bruges e de Ypres. Pouco
depois, a liderança do movimento
foi assumida por proprietários ru-
rais ricos. Por fim, o rei francês es-
magou os revoltosos, que tiveram
seus bens confiscados.
O mesmo se aplica à Jacquerie
(maio-junho de 1358), começada
75 na região parisiense e propagada
por outros territórios franceses. O
movimento não foi contra a mi-
séria, como se pensou por muito
17:20 060a080-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 75 TEXTO DE APOIO hereditária, dificultou-se a abertura de novas ofi-
26/08/22 17:21
tempo, mas resultou de uma con-
cinas, em Flandres recorreu-se à violência contra
a indústria artesanal rural que se formava como juntura difícil, advinda da peste
A instabilidade dos séculos XIV-XVI negra, da legislação salarial de
escapatória ao oligopólio corporativo.
[...] A relativa alta de preços industriais, en- 1351 e 1354, do crescente peso
quanto os preços agrícolas caíam, atraía muitos O resultado daquele estado de coisas, tanto dos impostos, dos problemas ge-
camponeses para as cidades. Dessa forma, au- no campo quanto nas cidades, foi uma série de rados pela Guerra dos Cem Anos.
mentava a oferta de mão de obra urbana, o que sublevações populares. Algumas eram contra a Na rebelião campesina inglesa
permitia ao patriciado burguês pressionar os sa- miséria, em regiões mais pobres, caso do movi- de 1381, a questão fiscal também
lários para baixo, rompendo a tendência altista mento dos Tuchins (1366-1384), camponeses e ar- teve peso decisivo. [...]
gerada pela peste negra. As corporações de ofício tesãos arruinados do Auvergne e do Languedoc. FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média:
fecharam-se ainda mais, zelosas de seus privi- As revoltas camponesas mais importantes, po- nascimento do Ocidente. São Paulo:
légios: a condição de mestre tendeu a se tornar rém, mobilizaram trabalhadores em boa situa­ção, Brasiliense, 2001. p. 135-136.
75

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 75 31/08/2022 13:23


ENCAMINHAMENTO
1. b) Professor, sugerimos apro-
veitar esta questão para traba-

ATIVIDADES
lhar a noção de anacronismo. NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
“[...] anacronismo, que con-
siste em atribuir aos agentes
históricos do passado razões
ou sentimentos gerados no
presente, interpretando-se,
assim, a história em função de 1. a) Os jovens querem dizer que não estão mais em uma época de
critérios inadequados, como se I. Retomando atraso e estagnação, como algumas pessoas se referiam à Idade Média,
chamada durante muito tempo de “noite dos 1000 anos”.
os atuais fossem válidos para
1. b) Não. Na Idade Média foram criados os livros, os óculos, as
todas as épocas” (BRASIL. Mi- universidades, os garfos, os vidros, as janelas etc., e se manteve a
nistério da Educação. PNLD 1 Leia o texto com atenção. produção filosófica e científica.
2018: história: guia de livros di- [...] para saber o que foi a Idade Média é necessário começar desconfiando do
dáticos: Ensino Médio. Brasília, que já se disse [...] sobre ela. Quem já não ouviu, até em telenovela, adolescentes
DF: Secretaria de Educação Bá- revoltados contra a autoridade dos mais velhos dizendo: “Nós não estamos na Idade
sica, 2017. p. 99). O historiador Média!”?
Jacques Le Goff costuma expli-
MICELI, Paulo. O feudalismo. São Paulo: Atual, 1994. (Discutindo a história, p. 11).
car que para a compreensão de
uma época, devemos vestir a a) Segundo o texto, o que os jovens querem dizer com a frase “Nós não estamos na Idade Média”?
pele das pessoas que a viven- b) A Idade Média pode ser considerada uma época de atraso e ignorância? Justifique.
ciaram.
2 A partir do século XI, a Europa passou por importantes mudanças. Complete no
caderno o esquema com as palavras a seguir e descubra as mudanças ocorridas.
Dica de leitura
Livro que aborda as princi-
pais características da Idade alimentos rotação mais doenças
Média. peito menos charrua
SILVA, Marcelo Cândido da.
História medieval. São Paulo:
Contexto, 2019. Europa feudal (século XI)
Europa feudal – século XI

ALEX SILVA
EDITORA CONTEXTO

EXPANSÃO DAS INOVAÇÕES


ÁREAS DE CULTIVO TÉCNICAS

a) Charrua Cavalo
a) **** Moinho
b) peito atrelado
c) rotação pelo Sistema de
d) alimentos b) **** c) ****
e) menos trienal
f) doenças AUMENTO DA PRODUÇÃO DE d) ****
g) mais

Pessoas e) **** mortes


g) **** filhos
vivem mais por fome e f) ****

76

+ATIVIDADES
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 76 08/08/22 07:59 AV2

Em grupo. Entrevistem familiares e/ou Professor, após a realização das entrevis-


pessoas da comunidade escolar, buscando tas, organizar uma roda de conversa para
que a turma discuta os resultados. A ativi-
compreender a visão que possuem sobre a
dade colabora para o desenvolvimento das
Idade Média e o uso preconceituoso desse
competências gerais 1 e 4 e das competên-
conceito nos dias atuais.
cias específicas 3 e 6 e permite aos estudan-
Organizados em pequenos grupos, elabo-
tes entrarem em contato com as noções in-
rem as perguntas que devem compor a en-
trodutórias do gênero entrevista.
trevista.
Resposta: produção pessoal.
76

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 76 31/08/2022 13:23


ENCAMINHAMENTO
6. c) A Igreja à esquerda, muito presente no mundo medieval; o castelo, um importante símbolo da Idade Média 5. a) Professor, comentar que
europeia; e a fonte, ao centro, construção muito apreciada pelos antigos romanos e que adentra a Idade Média. o tema do mapa está, geral-
mente, no título.
3 Observe o gráfico. Europa: estimativa da população
entre 800 e 1300 (em milhões) 6. a) O evento cultural quis
a) O que ele mostra?
55 000 apresentar aos visitantes

EDITORIA DE ARTE
b) Em que século a população aumen-
tou mais? 3. b) No século XIII.
como era uma “feira medie-
val”. Por isso, a existência de

População
35 000
c) No título do gráfico há a palavra
“estimativa”. O que ela significa? 22 000
26 000
personagens e de um cenário
18 000
3. a) O crescimento da população entre que lembra a época. b) Notar
os anos 800 e 1300.
Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário. As cruzadas. 800 1000 1100 1200 1300
que ambos têm uma coroa na
São Paulo: Brasiliense, 1991. p.17-18. Ano cabeça. O rei traz uma espada
3. c) Estimativa significa cálculo aproximado; na época não havia censo populacional, como os de hoje em dia.
na mão direita e o brasão de
4 Sobre processos ocorridos na Idade Média estão corretas as alternativas: 4. Alternativas A e D. Portugal, na esquerda.
a) Com o aumento da oferta de alimentos, muitos camponeses deixaram o campo em busca de
outro meio de vida. 5. d) Eram eventos que duravam de 15 a 60 dias, aconteciam uma ou duas
vezes por ano e reuniam mercadores de várias partes do mundo.
b) Parte dos que deixaram o campo foi trabalhar como industriais, outra parte como agricultores.
TEXTO DE APOIO
c) Os moradores do campo passaram a trocar roupas e sapatos que confeccionavam por alimen-
tos produzidos nas cidades. A intensificação das trocas
d) As trocas comerciais entre campo e cidade estimularam a vida urbana. comerciais nesse período (ini-
cialmente interna e depois ex-
5. b) Ele as diferenciou indicando as marítimas com
5 Observe o mapa da página 65 com atenção. setas azuis e as terrestres com setas vermelhas. terna) foi o elemento prepon-
derante para o Renascimento
a) De que trata o mapa? 5. a) O mapa trata das principais rotas comerciais do século XIV.
Urbano. O comércio estimulou o
b) Como o cartógrafo diferenciou as rotas terrestres das rotas marítimas? crescimento dos núcleos popu-
c) Identifique as duas principais rotas terrestres que ligavam o sul ao norte da Europa (a cidade lacionais existentes e transfor-
de onde partiam e a cidade a que chegavam). 5. c) Uma delas ligava Gênova a Bruges, mou o caráter essencialmente
passando pelas feiras da região de Cham- agrícola da sociedade, ou seja,
d) O que eram as feiras medievais representadas no mapa?
pagne, na França; e a outra ligava Veneza as primeiras cidades mercantis
6. b) Um rei e uma rainha. a Hamburgo.
6 Observe o cartaz ao lado com atenção. resultaram da transformação
do caráter destas aglomerações
a) Quando e onde aconteceu a feira que o cartaz anuncia?

CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO


medievais sem função urbana.
b) Quem são os personagens vistos em segundo plano?
No bojo de todas estas mudan-
c) Que construções existentes na imagem lembram a ças, as cidades se estruturaram
Idade Média? em torno das praças de merca-
do e a partir desse momento “a
7 Sobre as feiras medievais, copie no caderno a troca comercial torna-se função
alternativa correta. 7. Alternativa D. urbana; essa função fez surgir
a) As feiras medievais aconteciam uma vez por semana e uma forma (ou formas: arquite-
reuniam mercadores vindos dos mais diferentes lugares. turais e/ou urbanísticas) e, em
b) As feiras medievais eram semelhantes em tudo às decorrência, uma nova estrutura
feiras livres atuais. do espaço urbano” [...]
c) As feiras medievais comercializavam sobretudo ali- Como atividade econômica
mentos trazidos de sítios relativamente próximos. essencialmente urbana, a rea-
tivação do comércio foi criando
d) Como cada comerciante comparecia à feira com a as condições para a estrutura-
moeda de sua região, e como as moedas tinham ção do modo de produção capi-
valores diferentes, surgiram os cambistas, pessoas talista e para a destruição dos
que faziam o câmbio (troca) do dinheiro. pilares da economia feudal. A
6. a) Ocorreu entre 18 e 21 de junho de 2015, em uma cidade de Portugal chamada Viana do Castelo. cidade foi o lócus para a con-
77 cretização desse processo, pois
ali se reuniam os comerciantes
e a riqueza por eles acumulada,
ali se concentravam os artesãos
Dica de leitura
EDITORA VOZES

07:59 AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 77 08/08/22 08:37


ocupados com a produção ne-
Neste livro, o autor reflete sobre a organização e as cessária à atividade comercial, e
tensões entre diferentes grupos e sujeitos do Ocidente nesta medida se dava a ruptura
da economia feudal.
medieval.
DANTAS, Geovany Pachelly Galdino.
• LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Feira de Macaíba/RN: um estudo das
Petrópolis: Vozes, 2018. modificações na dinâmica socioespacial
(1960/2006). Dissertação (Mestrado em
Dinâmica e Reestruturação do Território)
– Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Natal, 2007. p. 65.

77

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 77 31/08/2022 13:23


ENCAMINHAMENTO
8. a) Resposta possível: Repre-
sentação de um mestre e seu 8. a) Resposta pessoal.
aprendiz, século XV. b) O apren-
diz trabalhava para o mestre em
8 A imagem ao lado foi produzida em
meados do século XV e representa o
troca de alimentação e moradia.
trabalho de um aprendiz fiscalizado
Depois de uma prova, tornava- por seu mestre.
-se oficial e passava a receber
a) Crie uma legenda para a imagem.
pelo trabalho. Após anos de tra-
b) Explique como se dava a passagem de
balho e, com dinheiro próprio,
aprendiz para mestre.
tornava-se mestre e montava 8. b) Resposta pessoal.

BRIDGEMAN/FOTOARENA
sua própria oficina.
9. Respostas possíveis: 1. Re-
gião da França, na qual eram
realizadas importantes feiras.
2. Nome dado às corporações 9 Leia o diagrama a seguir. Seu desafio é elaborar, no caderno, as dicas que resultaram
de comerciantes. 3. Associa- nas palavras de cada linha. 9. Respostas pessoais.
ção de profissionais de um
mesmo ramo de atividade. 4. 1. C H A M P A G N E
A mais rica e importante liga 2. L I G A
de comerciantes da Europa. 5.
Documento que concedia aos 3. C O R P O R A Ç Ã O * D E * O F Í C I O
habitantes das cidades o direi- 4. L I G A * H A N S E A T I C A
to de administrá-las. 6. Jovem
que trabalhava na oficina de 5. C A R T A * D E * F R A N Q U I A
um mestre em troca de ali- 6. A P R E N D I Z
mentação, roupa e moradia.
7. C A M B I S T A S
7. Pessoas que faziam a troca
das diferentes moedas que cir-
culavam nas feiras. 10 Leia o texto a seguir com atenção.

EDITORA VOZES
Os mercadores medievais
TEXTO DE APOIO [...] na ldade Média, nasceram ou se desenvolve-
O crescimento ram inúmeras cidades: as mais importantes eram
populacional na Europa as sedes do poder dos reis e dos príncipes, e também
medieval de sua burocracia. [...] Um novo tipo do homem
[...] o crescimento populacio- apareceu, o mercador. Os mais ricos mercadores
nal está claramente ligado às comerciavam em toda a Europa, e até mesmo na
inovações de técnicas agrícolas Ásia e na África, e eram também banqueiros. [...]
verificadas na época. Discute-se,
contudo, o tipo de ligação: o in-
cremento demográfico pressio-
nou por uma produção maior e
assim surgiram as inovações, ou
Fac-símile da capa do livro
as novas técnicas permitiram
Uma breve história da Europa,
uma alimentação melhor e des-
de Jacques Le Goff.
ta forma o crescimento da popu-
lação? Para nós, pouco importa.
Basta constatar que, realmente, 78
a partir de um certo momento,
houve uma melhoria na quali-
dade da dieta e isto contribuiu
menstruação, gravidez 78e lactação), daí a ane-
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd ção da Europa Ocidental passando de 18 mi- 22/07/22 21:45 AV2
para uma queda na mortalidade.
mia e, portanto, a menor defesa do organismo lhões de indivíduos no ano de 800 para mais de
A alteração na dieta pode contra certas doenças. No entanto, o progresso 22 no ano 1000, quase 26 em 1100, quase 35 em
mesmo explicar a mudança na tecnológico – e especialmente o novo método 1200 e mais de 50 em 1300. [...]
proporção entre população mas- de atrelagem animal, a charrua e o sistema de FRANCO JÚNIOR, Hilário. As cruzadas. São Paulo:
culina e feminina, favorável à rodízio de cultivos – fez com que, desde o século Brasiliense, 1991. p. 16.
primeira na Alta Idade Média e à
segunda posteriormente. Tal se
X, se consumissem leguminosas (ervilha, lenti- Dica de leitura
lha, feijão, grão-de-bico etc.) e maior quantida-
devia ao fato de a dieta na Alta Livro que traça um estudo sobre a vida co-
de de carne, ovos e laticínios, possibilitando a
Idade Média ser pobre em pro- tidiana e o trabalho na Idade Média.
teínas e sobretudo em ferro, ele- diminuição da mortalidade feminina.
mentos que a mulher necessita Em função desses fatores, verificou-se um • FOSSIER, Robert. O trabalho na Idade Mé-
em maior quantidade (devido à claro incremento demográfico, com a popula- dia. Petrópolis: Vozes, 2018.
78

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 78 31/08/2022 13:23


capitalistas e proletários nos
idos de 1848, quando esse con-
ceito apareceu no Manifesto co-
munista com um sentido forte-
A troca das moedas era complicada e a ausência de uma moeda única entravou o mente político e revolucionário.
desenvolvimento de um sistema econômico baseado no dinheiro: o capitalismo. Por outro lado, os significados
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 77-78.
atribuídos à burguesia variavam
muito entre as diversas regiões
Com base na leitura do texto, identifique em seu caderno a alternativa correta. da Europa moderna. Segundo
James S. Amelang, no Noroeste
a) Na Idade Média nasceram diversas cidades, criações humanas que nunca tinham existido antes.
europeu desse período, um bur-
b) Surgiram os mercadores, os mais ricos comerciavam somente na Europa. guês era quem residia em uma
c) A existência de várias moedas facilitava o comércio na Idade Média. cidade e gozava de certos privi-
légios e direitos, situação base-
d) A existência de várias moedas dificultava o comércio na Idade Média.
10. Alternativa D. ada no direito de nascimento,
no fato de o indivíduo residir
11 Em seu caderno, elabore um quadro sobre as Cruzadas. Na primeira coluna, copie as
há muito tempo na cidade e na
perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
posse de um mínimo de riqueza
a) O que eram? 11. a) As cruzadas eram expedições militares que partiram da Europa, (geralmente casa ou outros bens
entre os séculos XI e XIII, a fim de combater os muçulmanos no Oriente. imóveis urbanos). Até o sécu-
b) Como começaram?
11. b) Em 1071, os turcos de religião muçulmana conquistaram Jeru- lo XVIII, Paris definia o burguês
c) Por que receberam esse nome? salém e proibiram os cristãos de visitar o túmulo de Jesus. Reagindo a
como o indivíduo que tivesse
d) Quem participou das Cruzadas? isso, em 1095, o papa Urbano II convocou os cristãos para uma guer- vivido na cidade por mais de
ra contra os “infiéis”, a fim de reconquistar a Terra Santa.
um ano, que não trabalhasse
11. c) Porque os participantes das Cruzadas consideravam-
12 Leia a letra da canção de Seu Jorge. -se “marcados pelo sinal da cruz”, e por isso bordavam uma como criado, que não moras-
cruz na roupa. se em casa alugada e pagasse
Burguesinha 11. d) Pessoas de várias origens e condições sociais: nobres, camponeses, os impostos regularmente. Em
comerciantes, outros países no mesmo perío-
Vai no cabeleireiro Burguesinha, burguesinha do, ser burguês significava ser
mendigos, crianças,
No esteticista Burguesinha, burguesinha idosos,entre outros. portador de um título legal que
Malha o dia inteiro Burguesinha... correspondesse a um determi-
Pinta de artista Tem o que quer. nado estatuto e a uma categoria
associada tanto a uma atividade
[...]
econômica rendosa como a um
BURGUESINHA. Intérprete: Seu Jorge. Compositores: Seu Jorge, Gabriel Moura e Pretinho da Serrinha. estilo de vida aproximado ao
In: AMÉRICA BRASIL: O DISCO. Rio de Janeiro: EMI Music, 2007. 1 CD, faixa 3.
da nobreza. [...] as classes mais
VANESSA CARVALHO/ZUMAPRESS/EASYPIX BRASIL
baixas podiam definir como
burguês o patrão, seu chefe, nor-
malmente uma pessoa rica que
empregava pessoas da classe
inferior; enquanto para os aris-
tocratas, o burguês era definido
como uma pessoa ridícula, de
modos grosseiros, falta de gosto
e inadaptado socialmente. En-
O cantor e compositor
tre as atividades profissionais
Seu Jorge em
consideradas componentes da
apresentação em
São Paulo (SP), 2021. burguesia francesa do século
XVIII estavam os artesãos ri-
cos, os negociantes, os merca-
dores, os profissionais liberais,
os banqueiros e os funcionários
do governo (em geral, os de bai-
79 xo escalão), o que demonstra a
heterogênea composição social
da burguesia, que comportava
desigualdades imensas, além de
21:45 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 79 vezes existem entre burgueses e capitalistas.
09/08/22 15:39
tensões e conflitos entre seus
Além disso, essa associação rígida também não membros. Apenas um ponto
Burguesia dá conta das variações históricas e geográficas unificava esse vasto espectro
É sempre difícil definir um grupo social, ainda assumidas pelo conjunto da burguesia ao longo social: o fato de que um burguês
mais como a burguesia, cujos significados mu- do tempo. Outra definição bastante empregada deveria ter propriedades. [...].
daram ao longo do tempo, mas que também são é aquela cunhada por Marx e Engels em mea-
BURGUESIA. In: SILVA, Kalina Vanderlei;
alvo de controvérsias. A definição mais simples dos do século XIX, segundo a qual a burguesia SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de
de burguesia é aquela que associa o termo ao é a classe dos capitalistas modernos, proprie- conceitos históricos. São Paulo:
comerciante, ao burguês e ao capitalista. Uma tários dos meios de produção e exploradores Contexto, 2009. p. 34-35.
associação que, no entanto, simplifica a he- da classe dos trabalhadores assalariados. Essa
terogeneidade profissional dos membros da definição, apesar de correta, foi criada para de-
burguesia, anulando as diferenças que muitas linear apenas as diferenças que antagonizavam
79

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 79 31/08/2022 13:23


ENCAMINHAMENTO
12. c) Professor, comentar
12. b) Era formado por comerciantes, donos de manufaturas e banqueiros, enfim, pessoas enriquecidas com o
que, com o tempo, o termo comércio, a troca de moedas e a manufatura.
burguês passou a significar O termo “burguesinha” está associado a um grupo social surgido na Idade Média.
também “pessoa rica”. a) Que grupo é esse? 12. a) A burguesia.
13. Justificativa: Houve inten- b) Por quem esse grupo era formado? 12. c) Porque a personagem leva uma vida cheia de regalias.
sificação do comércio de cur-
c) Por que o cantor se refere à personagem da letra como “burguesinha”?
ta e de longa distância, o que
d) Aponte paralelos entre a personagem da canção e os burgueses medievais.
contribuiu para a prosperida-
12. d) Ambos têm acesso aos bens materiais e a uma vida confortável.
de dos comerciantes europeus 13 Identifique a alternativa correta. As Cruzadas provocaram mudanças importantes no
e de suas cidades. Ocidente europeu, entre as quais cabe citar: 13. Alternativa A.
a) o aumento do comércio entre Ocidente e Oriente, bem como entre as várias regiões da Europa.
b) uma menor participação dos europeus, especialmente dos italianos, no rico comércio de espe-
TEXTO DE APOIO ciarias e artigos de luxo orientais pelo mar Mediterrâneo, comércio feito com os mercadores
Peste Negra do Século XIV muçulmanos.

Esta foi a maior, a mais trágica c) o fortalecimento da nobreza guerreira, que se endividou e perdeu parte de seus membros
epidemia que a história registra, nas Cruzadas.
tendo produzido um morticínio d) a diminuição do comércio de curta e de longa distância, o que contribuiu para a falência dos
sem paralelo. Foi chamada Peste comerciantes europeus e suas cidades.
Negra pelas manchas escuras que
apareciam na pele dos enfermos. 14 As sucessivas crises enfrentadas pela Europa ao longo do século XIV motivaram
[...] teve início na Ásia Central, diversos motins populares. Sobre as revoltas camponesas do século XIV, indique a
espalhando-se por via terrestre
alternativa correta. 14. Alternativa A.
e marítima em todas as direções.
Em 1334 causou cinco milhões de a) A Jacquerie ocorreu na França, em 1358, e teve como motivo imediato o aumento dos
mortes na Mongólia e no norte impostos cobrados dos camponeses.
da China. Houve grande mortan- b) As revoltas foram violentamente reprimidas, mas os camponeses saíram vencedores.
dade na Mesopotâmia e na Síria,
cujas estradas ficaram juncadas c) Os camponeses possuíam vantagens de armas e de treinamento em relação à nobreza.
de cadáveres dos que fugiam das d) As revoltas camponesas contribuíram para fortalecer a servidão na Europa.
cidades. No Cairo os mortos eram
atirados em valas comuns e em
Alexandria os cadáveres ficaram
insepultos. Calcula-se em 24 mi-
II. Integrando com Ciências
lhões o número de mortos nos
países do Oriente [...] Leia a notícia a seguir.
Em 1347 a epidemia alcançou
A peste bubônica voltou a virar notícia em julho de 2020, quando casos da doença
a Crimeia, o arquipélago grego e
a Sicília. Em 1348 embarcações foram confirmados na Ásia. c) Os sintomas da doença são: inchaço, febre, calafrios, dor de cabeça, fa-
diga e dores musculares.
genovesas procedentes da Cri- PESTE bubônica: 5 pontos para entender o que é a doença. Revista Galileu, São Paulo, jul. 2020.
meia aportaram em Marselha, Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/07/
peste-bubonica-5-pontos-para-entender-o-que-e-doenca.html.
no sul da França, ali dissemi- Acesso em: 26 abr. 2022.
nando a doença. Em um ano, a a) A peste bubônica é uma epidemia terrível que teve sua primeira grande ocorrência na
Europa, entre 1347 e 1350. Na ocasião, matou quase um terço da população europeia.
maior parte da população de
Com base em seus estudos deste capítulo e em pesquisa, responda:
Marselha foi dizimada pela pes-
te. Em 1349 a peste chegou ao a) O que é a peste bubônica e quando se deu sua primeira grande ocorrência na história?
centro e ao norte da Itália e dali b) Como a doença é transmitida? b) É transmitida por pulgas que picam ratos e ratazanas e, de-
se estendeu por toda a Europa. pois, contaminam os seres humanos.
c) Quais são os sintomas da doença?
Em sua caminhada devastadora,
semeou a desolação e a morte d) O que facilitou a rápida expansão da peste bubônica na Europa durante a Idade Média?
nos campos e nas cidades. Povo- d) A fome e as péssimas condições de higiene; os lixos das casas eram lançados nas ruas e não havia serviços de
ados inteiros se transformaram 80 coleta, encanamento ou esgoto.
em cemitérios. Calcula-se que a
Europa tenha perdido pelo me-
nos um terço de sua população.
Esta epidemia inspirou o livro o povo de bubões. Em seguida
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C03-LA-G24.indd 80 o aspecto da doen- “Entre tanta aflição e tanta miséria de nossa 05/08/22 09:56

Decamerão,, de Giovanni Bocac-


Decamerão ça começou a alterar-se; começou a colocar man- cidade, a autoridade das leis, quer divinas quer
cio, que viveu de 1313 a 1375. [...] chas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais humanas, desmoronara e dissolvera-se. Minis-
manchas estavam nos braços, nas coxas e em tros e executores das leis, tanto quanto outros
Assim descreve Bocaccio os homens, todos estavam mortos, ou doentes, ou
sintomas: outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as
manchas apareciam grandes e esparsas; em ou- haviam perdido os seus familiares e assim não
“Apareciam, no começo, tanto podiam exercer nenhuma função. Em conse-
tras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo
em homens como nas mulheres, quência de tal situação permitia-se a todos fa-
modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era
ou na virilha ou nas axilas, algu- zer aquilo que melhor lhes aprouvesse”.
mas inchações. Algumas destas indício inevitável de morte, também as manchas
REZENDE, Joffre Marcondes de.
cresciam como maçãs, outras passaram a ser mortais”. À sombra do Plátano: crônicas de história da medicina.
como um ovo; cresciam umas Retrata, a seguir, a situação de caos que se ins- São Paulo: Editora Unifesp, 2009.
p. 78-79.
mais, outras menos; chamava-as talou na cidade:
80

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C03-MP-G24.indd 80 31/08/2022 13:23


OBJETIVOS
• Relacionar as mudanças so-
CAPÍTULO cioeconômicas às novas ati-

4
tudes e ideias surgidas no
RENASCIMENTO Renascimento e trabalhar os
conceitos de Renascimento,
E HUMANISMO humanismo, mecenato, in-
dividualismo e antropocen-
trismo.
• Trabalhar a “educação do
olhar” com base nas obras
pictóricas do Renascimento
europeu.
• Conhecer a produção inte-
lectual e artística de renas-
centistas de várias partes da
Europa.

Esses objetivos possi-


bilitam a identificação de
características dos Renasci-
mentos, principalmente na
Europa, uma das bases para
a formação da moderni-
dade, contribuindo, assim,
para o desenvolvimento das
competências e habilidades
propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2, 3,
Cena do filme As tartarugas ninja, de Steve Barron, 1990. UNITED ARCHIVES GMBH/ALAMY /FOTOARENA 4, 5, 6, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
2, 3 e 4.
1. Você conhece esses personagens? • Habilidades: EF07HI01 e
EF07HI04.
2. As Tartarugas Ninja fazem enorme sucesso. Você já viu alguma HQ, filme, desenho ou jogo de
videogame com esses personagens?
3. Você sabia o nome de cada uma delas?
4. Por que será que elas têm nomes de artistas do Renascimento italiano?
5. O que você sabe sobre esse movimento cultural? Respostas pessoais.

81

ENCAMINHAMENTO
081a102-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 81 uma tartaruga semelhante, Eastman desenhou
26/08/22 17:23
Splinter) [...]. Ele deu o nome de
mais duas e, no dia seguinte, eles escreveram seus artistas favoritos às tarta-
Professor, leia o que se diz: rugas após encontrar um livro
uma história para suas Tartarugas Ninja e cria-
As Tartarugas Ninja foram criadas por Kevin
ram uma revista em quadrinhos. As primeiras esfarrapado de arte renascentis-
Eastman e Peter Laird – amigos artistas de Nor-
1 000 cópias foram produzidas em 1984. Este se- ta no esgoto. [...].
thampton, Massachusetts, que costumavam
sair juntos para desenhar personagens de qua- ria o início de uma franquia multimilionária de SILVA, Ruan Bitencourt. Donatello,
quadrinhos, desenhos animados, filmes, séries, Leonardo, Michelangelo e Rafael:
drinhos. Uma noite, enquanto Laird estava ab- artistas renascentistas ou tartarugas
sorto assistindo TV, Eastman (na esperança de jogos e brinquedos. ninja? Universo Racionalista. [S. l.],
distrair seu amigo) desenhou uma tartaruga Nos quadrinhos e nos desenhos animados, 16 out. 2016. Disponível em: https://
universoracionalista.org/donatello-
em pé com feições humanas, uma máscara e as tartarugas são nomeadas por seu sensei, o
leonardo-michelangelo-e-rafael-artistas-
nunchakus com um logotipo [...] acima – escrito professor ninja amante da arte Hamato Yoshi, renascentistas-ou-tartarugas-ninja/.
“Tartaruga Ninja”. Laird respondeu desenhando que foi transformado em um rato (apelidado de Acesso em: 8 ago. 2022.
81

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 81 31/08/2022 12:21


+ATIVIDADES
Em grupo. Organizem-se em
cinco grupos. Cada um vai ser
responsável por pesquisar um
Renascimento diferente do A ideia de modernidade
italiano: bizantino, judaico, is-
lâmico, hindu e chinês. Pesqui- O Renascimento italiano é tido como um momento decisivo para o desenvolvimento da
sem sobre o contexto histórico modernidade. Nesse modo de ver a História, os artistas e cientistas do Renascimento fecharam
de um desses Renascimentos e a cortina do tempo medieval para abrir outra, a de um tempo novo, a da modernidade.
suas características. Construam
O historiador inglês Jack Goody discorda disso; para ele, essa versão de que somente
um relatório que sintetize os
resultados da pesquisa. o Renascimento italiano impulsionou a modernidade é fruto do olhar europeu sobre a
Produção pessoal. Renascença. Na opinião desse historiador, os conhecimentos e as técnicas dos bizantinos,
Professor, a atividade pode muçulmanos, judeus, indianos e chineses foram muito importantes para o florescer da
contribuir com o desenvolvi- modernidade e do próprio Renascimento italiano. As culturas desses povos do Oriente
mento da habilidade EF07HI01 penetraram o Ocidente por meio de um longo processo de trocas culturais, que teve como
e da competência geral 3.
principal via o mar Mediterrâneo.
Imagens em movimento Jack Goody nos lembra ainda que o “Renascimento como sinônimo de florescimento
Aula de Leon Kossovitch, cultural que ocorre a partir de uma volta ao passado” aconteceu também nos mundos
professor de Estética no De- bizantino, islâmico, hindu, judeu e chinês, entre outros. O que existiu, portanto, foram
partamento de Filosofia da Renascimentos, e não Renascimento.
USP, em que se discute a perio- Concluindo, para Jack Goody:
EDITORA UNESP

dização histórica no campo das


artes, e se problematiza, entre • a modernidade é fruto de um
outros, o corte entre arte me- longo processo de trocas culturais
dieval e Renascimento. de diferentes povos e tradições;
• AULA inaugural 2013 – De- • o Renascimento italiano não é o
partamento de Filosofia/ único, existiram outros, a exemplo
USP. Vídeo (65min24s). Pu- do bizantino, do islâmico, do
blicado pelo canal OJRUSP. hindu, do judeu e do chinês.
Disponível em: https://you-
Ao verem o Renascimento ita-
tu.be/4XYoArxQzyQ. Acesso
em: 9 ago. 2022. liano como único e reconhecerem
apenas a cultura greco-romana
como digna de ser relida e admi-
TEXTO DE APOIO rada, os renascentistas italianos
O texto a seguir é do histo- incluíram o Ocidente antigo, mas
riador Jack Goody. excluíram os saberes, as técnicas e
Renascimento e as artes recebidas de outros povos
modernidade com quem os europeus mantive-
Iniciando com as “primeiras ram intensas trocas culturais ao
luzes” (primi
(primi lumi)
lumi) do século XIV, longo do tempo.
o Renascimento italiano é visto
com frequência como o momento
decisivo no desenvolvimento da Fac-símile da capa do livro
“modernidade”, em relação não Renascimentos: um ou
apenas às artes e às ciências, mas muitos?, de Jack Goody.
também, do ponto de vista do de-
senvolvimento econômico, em
relação ao advento do capitalismo.
82
Não há dúvida de que esse foi um
momento importante na história
mundial. Mas quão singular ele foi italiano como a chave para a modernidade e para da comunicação puramente oral, o conhecimento
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 82 22/07/22 22:33 AV-
em geral? Existe aqui tanto um pro- o capitalismo. [...] Em minha opinião, as origens da da leitura e da escrita tornou a linguagem visível,
blema histórico específico quanto modernidade e do capitalismo são mais amplas e transformou-a em objeto material, que podia ser
um problema sociológico geral. encontram-se não apenas no conhecimento árabe, repassado entre culturas e existia da mesma forma
Todas as sociedades estagnadas mas também nos influentes empréstimos da Índia no correr do tempo. Consequentemente, todas as
requerem algum tipo de renasci- e da China. O que chamamos de capitalismo tem
mento para voltarem a se mover, culturas escritas poderiam às vezes olhar para
suas raízes numa cultura letrada eurasiana mais trás e reviver o conhecimento passado, como foi o
e isso pode implicar um olhar re- ampla, que se desenvolveu rapidamente desde a
trospectivo sobre épocas anteriores caso dos humanistas europeus, e possivelmente
Idade do Bronze, com troca de produtos e infor-
(a Antiguidade, no caso da Europa) levar a uma florescência cultural, isto é, a uma
mações. O conhecimento da leitura e da escrita foi
ou outro tipo de florescência. importante porque permitiu o crescimento tanto nítida explosão de progresso. [...]
Esse é o meu polêmico pano de do conhecimento quanto da economia, que depois GOODY, Jack. Renascimentos: um ou muitos?
fundo. Não vejo o Renascimento proporcionaria a troca de produtos. Ao contrário São Paulo: Unesp, 2011. p. 11-12.
82

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 82 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
O Renascimento pode ser
entendido como um movimen-
O contexto to cultural, de amplas reper-
cussões no tempo e no espaço,
que floresceu na Europa entre
Vimos que, a partir do século XI, a Europa ocidental passou por uma série de mudanças
os séculos XIV e XVI. Decisivo
importantes: uma delas foi o aumento da produção de alimentos por causa da expansão na conformação do mundo
das áreas agrícolas e da utilização de novas técnicas de cultivo da terra. Com o aumento moderno, ele foi estimulado
da produção de alimentos, as pessoas passaram a viver mais e a ter mais filhos, o que por uma série de mudanças so-
levou ao crescimento da população. cioculturais e políticas.
Ao mesmo tempo, ocorreram o crescimento do comércio com o Oriente, o apare-
• Refletir sobre o texto a se-
cimento das feiras e das casas bancárias, e o revigoramento das cidades. Mercadores
guir, do historiador Nicolau
circulavam pela Europa em suas caravanas, levando e trazendo mercadorias de diferentes Sevcenko.
lugares do mundo; os banqueiros trocavam moedas; e os donos de navios aumentavam A história da cultura renascen-
sua frota. tista nos ilustra com clareza todo
A burguesia (mercadores, banqueiros e donos de navios) enriqueceu, adotando novos o processo de construção cultu-
valores e novas práticas. Medir, calcular, pesar, experimentar, operações essenciais ao ral do homem moderno e da so-
ciedade contemporânea. Nele já
sucesso dos negócios, passaram a ser socialmente valorizadas.
se manifestam, já muito dinâmi-
cos e predominantes, os germes
do individualismo, do raciona-
lismo e da ambição ilimitada,
típicos de comportamentos mais
imperativos e representativos do
Interior de uma nosso tempo. [...]
farmácia. Escola SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento.
Italiana, século XV. São Paulo: Atual, 1994. p. 2.
Na imagem, vendedor
pesa em uma balança • Frisar que a burguesia ascen-
mercadoria comprada dia socialmente e trazia con-
por uma mulher, que sigo novos valores e novas
paga com uma moeda. atitudes. O cálculo, indispen-
No decorrer da Idade
Média, o ofício de
sável ao sucesso das ativida-
mercador aumentou des burguesas, tornou-se
gradualmente de fundamental. Comerciantes
importância. e banqueiros eram, antes de
tudo, calculadores do tem-
po, do espaço e dos riscos.
• Aprofundar o assunto com a
BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL leitura do texto: CARNEIRO,
Essas mudanças, que vinham ocorrendo na Europa desde o século XI, inspiraram
Alfredo. Renascimento: o pe-
ríodo que definiu a Era Mo-
uma nova visão de mundo, da arte e do conhecimento; e, ao mesmo tempo, criaram as
derna. Netmund.org - Arte,
condições materiais para o surgimento do Renascimento,, um movimento cultural intenso
Cultura e Filosofia. [s. d.].
que começou no século XIV nas cidades italianas, se propagou pela Europa e foi decisivo
Disponível em: https://www.
na formação do mundo moderno. netmundi.org/filosofia/2017/
renascimento-periodo-que-
83 definiu-era-moderna/. Aces-
so em: 22 ago. 2022.

22:33 TEXTO DE APOIO


AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 83 artístico que valoriza a arte clássica – 02/08/22
o Renas- 07:49
cimento – mergulha em uma atmosfera de luxo
e de festa. Ele desabrocha principalmente nas
Dica de leitura
A Europa floresce: Renascimento e
humanismo cortes reais e principescas. O Renascimento co- O livro corresponde exata-
meçou na Itália, de onde se espalhou por toda mente ao título: é uma breve
[...] No século XVI, a maior parte dos europeus a Europa. A França contribui com criações parti- história da Europa, apresenta-
vive ainda na Idade Média, mas as mudanças se cularmente brilhantes, como os castelos do Vale
aceleram, as grandes descobertas estimulam o da em suas várias dimensões:
do Loire. [...] sociais, culturais e territoriais.
interesse pelos horizontes mundiais. O afluxo
de metais preciosos americanos – ouro e prata LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa.
Petrópolis: Vozes, 2008. p. 86-87. • LE GOFF, Jacques. Uma breve
– permite o aumento da moeda em circulação.
A difusão de livros impressos espalha o conhe- história da Europa. Petrópo-
cimento e a cultura. Um novo florescimento lis: Vozes, 2014.
83

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 83 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
Para refletir. d) Infelizmente,
são vários os exemplos, entre
os quais podemos citar as ex-
pressões: “só podia ser mu-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

lher”, usada quando alguém


comete alguma imperícia no Conceito e preconceito
trânsito, e “baianada”, usa-
Renascimento foi o nome que os renascentistas deram à época vivida por eles e conside-
da no Sudeste para signifi-
rada uma ruptura com a época anterior, a Idade Média, que eles chamavam de “Idade das
car erro. O uso de expressões
Trevas” ou “longa noite dos mil anos”. Os renascentistas acreditavam que, ao desconsiderar
iguais a essas é um indício de
forte preconceito, e a escola é a arte e o conhecimento produzidos na Idade Média e revalorizar as obras greco-romanas
um espaço privilegiado para da Antiguidade, estavam fazendo renascer a cultura. Daí o nome Renascimento.
se desconstruir e combater Hoje, a maioria dos

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


todo tipo de preconceito, seja historiadores já não aceita
ele de raça, gênero, orienta- essa visão; o Renascimento,
ção sexual, origem ou classe por sua vez, já não é visto
social. apenas como ruptura,
Por tratar criticamente de mas também como con-
expressões preconceituosas, tinuidade da arte e do
esta atividade contribui para conhecimento produzidos
a valorização da diversidade na Idade Média.
e, portanto, para o desenvolvi-
mento da competência geral 9. b) Os homens que viveram entre os
séculos XIV e XVI acreditavam que,
ao desconsiderar a arte e o conheci-
Dica de leitura mento produzidos na Idade Média e
revalorizar as obras greco-romanas
Transcrição da aula inaugu- da Antiguidade clássica, estavam
ral do Programa de Pós-gra- fazendo renascer a cultura. Daí o
nome Renascimento.
duação em História Social da
USP ministrada, em 2011, pelo Músicos da Idade Média
professor Modesto Florenzano, tocando trompa, nakers,
na qual o historiador retoma viela, violino, triângulo, gaita
as transformações do conceito de fole e flauta, c. 1477.
historiográfico de Renascimen-
to desde o fim do século XIX a) Segundo o texto, a quem se deve a ideia de que a Idade Média foi a "Idade das
até o século XXI. Trevas"? E o que explica isso? a) Essa ideia se deve aos renascentistas, que percebiam a época
vivida por eles como sendo de ruptura com a época anterior.
• FLORENZANO, Modesto. O b) Qual é a origem do nome Renascimento? c) De um lado, é visto como rup-
(conceito de) Renascimen- tura; de outro, como continuidade
to: do zênite ao nadir. (Aula c) Como o Renascimento é visto pelos historiadores atuais? da arte e da cultura produzidas na
Idade Média.
Inaugural do Programa de d) Vimos que a expressão "Idade das Trevas", usada pelos renascentistas para se
Pós-graduação em História referirem à Idade Média, é indício de uma visão que os historiadores atuais consi-
Social-USP, 2011). Revista deram equivocada. Pesquise expressões preconceituosas usadas hoje no dia a dia
de História Blog. São Paulo, e comente-as. d) Resposta pessoal.
2021. Disponível em: http://
revhistoria.usp.br/blog/?p=
264. Acesso em: 3 jun. 2022. 84

TEXTO DE APOIO AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 84 XVI que elaborou tal conceito. Ou melhor, tal preconceito, pois o 02/08/22 07:51 D2-H
termo expressava um desprezo indisfarçado em relação aos sé-
O (pré) conceito de Idade Média culos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século
XVI. Este se via como o renascimento da civilização greco-latina,
Se numa conversa com homens medievais utilizássemos a ex- e portanto tudo que estivera entre aqueles picos de criatividade
pressão “Idade Média”, eles não teriam ideia do que estaríamos artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, é claro) não pas-
falando. Como todos os homens de todos os períodos históricos, sara de um hiato, de um intervalo. Logo, de um tempo intermedi-
eles viam-se na época contemporânea. De fato, falarmos em Ida- ário, de uma idade média.
de Antiga ou Média representa uma rotulação a posteriori, uma FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média -
satisfação da necessidade de se dar nome aos momentos pas- O nascimento do Ocidente.
sados. No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 17.

84

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 84 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que os renascentis-
tas consideravam a arte dos
Renascimento: características antigos gregos e romanos
expressiva e perfeita e que
admiravam o conhecimento
Para melhor compreender o Renascimento, vamos apresentar algumas de suas características.
acumulado por eles. Por isso,
• Valorização do passado greco-romano: os artistas e cientistas do Renascimento viam propunham o estudo da pro-
as obras dos gregos e romanos da Antiguidade como modelo e inspiração para suas obras. dução greco-romana.
• Antropocentrismo: o ser humano passa a ser visto como um ser criativo, virtuoso e • Explicar que o ser humano
dono de seu próprio destino. Na época medieval predominava o teocentrismo (tudo passa a ser o centro das aten-
convergia para Deus). ções. Anteriormente, predo-
• Individualismo: atualmente, a palavra individualismo é usada muitas vezes como minava o teocentrismo me-
sinônimo de egoísmo. No Renascimento, porém, tinha sentido positivo: significava dieval, a ideia de que tudo
capacidade individual, talento e criatividade. converge para Deus e de que
o homem é apenas um ser
• Uma nova visão do tempo: para os renascentistas, o tempo pertence ao ser humano e
corrompido pelo pecado.
este deve usá-lo para se aperfeiçoar, conhecer, experimentar e enriquecer (se esse for seu
• Destacar que, no entanto,
desejo). Já na visão medieval, o tempo pertencia a Deus; por isso, seria pecado emprestar
longe de serem ateus, os re-
dinheiro a juros, ou seja, cobrar pelo tempo em que o dinheiro esteve emprestado.
nascentistas eram cristãos,
mas queriam interpretar a
GALERIA DA ACADEMIA. VENEZA, ITALIA

Bíblia à luz do conhecimento


e da experiência herdados da
Antiguidade. Tinham inte-
resse por tudo o que era hu-
mano e viam o ser humano
como uma fonte inesgotável
de energia e talento para a
Estudo das ação, a virtude e a glória.
proporções do • Ressaltar que, na Idade Mé-
corpo humano dia, predominava a concep-
feito pelo artista
e cientista ção cristã de tempo, ideali-
Leonardo da zada por Tomás de Aquino e
Vinci para o livro outros teólogos medievais.
De Architectura, Eles consideravam que o
de Marco Vitrúvio.
1492.
tempo pertence a Deus. Os
renascentistas rompem com
essa concepção. Para eles, o
tempo pertence ao ser hu-
mano, que pode usá-lo em
benefício próprio para se
aperfeiçoar, conhecer, expe-
rimentar e, inclusive, enri-
quecer.

85

07:51 Dica de leitura


D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 85 Imagens em movimento 22/07/22 22:33

Artigo que mostra como Leonardo da Vinci Vídeo sobre a originalidade e diversidade
foi um dos pioneiros nos estudos sobre o cor- da obra de Leonardo da Vinci.
po humano. • A OBRA e a genialidade de Leonardo da
• SILVA, Alessandro. Leonardo da Vinci, o Vinci. 2020. Vídeo (4min9s). Publicado pelo
desbravador do corpo humano. Jornal da Canal History Brasil. Disponível em: https://
Unicamp, Campinas, jul./ago. 2013. Disponível youtu.be/YyMWc5EdeKI. Acesso em: 9 ago.
em: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/568/ 2022.
leonardo-da-vinci-o-desbravador-do-corpo-
humano. Acesso em: 9 ago. 2022.
85

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 85 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que os humanistas
buscaram renovar o padrão
de ensino e o currículo das
universidades medievais,
O humanismo
que, na época, ofereciam
Uma das correntes de ideias que mais contribuíram para a formação Humanista:
basicamente três carreiras:
do Renascimento foi o humanismo, movimento intelectual que propunha intelectual que se
direito, medicina e teologia. dedicou aos estudos
o estudo dos autores antigos (gregos e romanos) para construir um novo da língua e da cultura
O conhecimento nesses cen-
tros de estudo era fortemen- conhecimento do ser humano e do mundo. Os humanistas traduziram greco-romanas e que
te influenciado pela Igreja e e divulgaram os textos dos antigos e, com base neles, aprofundaram o se inspirou nelas para
produzir suas obras.
baseava-se no princípio da conhecimento de línguas, literatura, filosofia, história e matemática.
autoridade, ou seja, basta- Inicialmente, o termo humanista era usado apenas em relação aos eruditos dispostos a
va que um doutor da Igreja, reformar o currículo das universidades. Posteriormente, aplicou-se a todos aqueles que se
ou alguém apoiado em suas esforçavam para criar uma nova cultura. Imbuídos desse ideal, os humanistas opuseram-se
ideias, fizesse uma afirma- aos dogmas da Igreja, desafiando seu domínio cultural e propondo o uso da razão e da
ção para que ela fosse consi- experiência para se chegar à verdade objetiva.
derada verdadeira. Os humanistas rejeitavam a

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


• Frisar que os humanistas se cultura dominante, fortemente
opuseram às verdades da influenciada pela Igreja. Mas isso não
Igreja medieval, desafiando quer dizer que eles eram ateus; na
seu domínio cultural e pro- verdade, eram cristãos que queriam
pondo um novo currículo uni- reinterpretar as mensagens da Bíblia
versitário que incluía história, com base nos ideais da Antiguidade.
matemática e literatura. Ideais esses que valorizavam o indiví-
• Aprofundar o assunto com a duo, sua liberdade e sua participação
leitura do texto: NEPOMU- na vida das cidades.
CENO, Luís André. Huma- Francesco Petrarca (1304-1374),
nismo e Modernidade – Pe-
um dos mais notáveis humanistas,
trarca faz 700 anos. Revista
defendia o ideal de imitação dos pen-
De Italianística, São Paulo,
sadores gregos e romanos. Imitação
n. 10-11, p. 23-37, 2005.
para ele não significava cópia ou
repetição, mas inspiração nos ideais
greco-romanos de valorização do
TEXTO DE APOIO ser humano e da busca do novo.
Do mesmo modo que as ou- Segundo Petrarca, era preciso negar
tras obras representativas do
o “barbarismo” medieval e recuperar
pensamento humanista, [...] o
Elogio da loucura – escrito em a "idade de ouro" dos antigos gregos
1509 e publicado em 1511 – con- e romanos.
servou ao longo de praticamen-
te cinco séculos grande valor
cultural e notável atualidade,
especialmente pela defesa in- Francesco Petrarca,
condicional que Erasmo faz da de Tancredi Scarpelli, século XIX.
liberdade, como fundamento
indispensável para a educação 86
das pessoas, jamais admitindo
sua subordinação a qualquer
instituição detentora de poder
categoricamente que toda
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 86 educação saudável ria, a Ética e a Filosofia – todas elas fortemente 02/08/22 07:54 AV-
social. Em seu caso e à sua épo-
deveria ser uma educação sem qualquer con- inspiradas na cultura clássica.
ca, foi contra o domínio que a
Igreja mantinha durante séculos trole religioso. Especificamente sobre educação, Essas afirmações animaram seus críticos a di-
sobre a educação e a cultura que Erasmo escreveu o livro A civilidade pueril, pueril, no zer que ele era um dos grandes inspiradores de
ele dirigiu sua poderosa crítica, qual supera a tendência dominante de seu tem- Martinho Lutero, com quem, aliás, manteve acir-
e já que não era possível “esco- po de considerar apenas as crianças e jovens de radas disputas teológicas durante toda a vida. [...].
lher os próprios pais ou a pátria, elite. Em outro livro, Sobre os meninos, meninos, ou Dos MICELI, Paulo. História Moderna.
cada um pode moldar sua per- meninos,, Erasmo defendeu a adoção dos prin-
meninos São Paulo: Contexto, 2013. p. 72-73.
sonalidade pela educação”. En- cípios culturais do humanismo em toda a práti- A leitura do texto pode colaborar para o
tretanto, diretamente alinhado ca educativa e não mais de valores estritamente desenvolvimento da habilidade EF07HI04.
ao anticlericalismo que Bosch religiosos, propondo o incentivo ao ensino de
mostra em sua tela, afirmava disciplinas como a Poética, a Retórica, a Histó-
86

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 86 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Acentuar que as cidades
italianas de Florença, Siena,
Arte e técnica no Renascimento Milão e Bolonha podem ser
consideradas o berço do Re-
nascimento.
Os artistas do Renascimento introduziram inovações técnicas que marcaram a história • Destacar que, em busca de
da arte. Eis algumas delas: visibilidade, os homens ri-
• realismo na representação da figura humana e das paisagens, isto é, o esforço em cos dessas cidades pagavam
representá-las exatamente como são. Eles estudavam geometria, anatomia, matemática para que pintores os retra-
tassem sozinhos, em primei-
e as aplicavam em suas obras para que elas apresentassem equilíbrio, harmonia e
ro plano, ou em meio a per-
expressividade; sonagens bíblicos.
• domínio da perspectiva,, técnica • Ressaltar que, entre os gran-
ÓLEO SOBRE TELA, 62 CM × 45,8 CM, BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

que permite transmitir a sen- des mecenas da época, esta-


sação de profundidade em uma vam os membros de famílias
poderosas, como os Médici,
superfície plana. Por meio dela, os
de Florença; os Sforza, de
artistas obtinham efeitos tridimen- Milão; e os Bentivoglio, de
sionais em suas telas e afrescos Bolonha.
(veja nesta página a aplicação • Destacar que o realismo na
da perspectiva na reprodução do representação da figura hu-
quadro Madona das rochas,, de mana foi um traço comum
Leonardo da Vinci). aos artistas do Renascimen-
to. Com a ajuda das ciências,
• iniciativa de o artista pintar
pessoas, paisagens e objetos
a si próprio (autorretrato)..
passaram a ser representa-
Além de produzir imagens dos de forma realista.
de si próprios, os pintores do
Renascimento passaram a assinar
suas obras, de modo a deixar sua
diretrizes. A busca pela individu-
marca e obter projeção social. alidade incentivou a produção de
autorretratos pelos grandes mes-
tres. Foi na Renascença Italiana
que o retrato ganhou uma nova
dimensão e as principais bases da
Madona das rochas, estatística surgiram. Elas foram
de Leonardo da Vinci, século XV. lentamente modificadas nos sé-
culos seguintes, mas demoraram
muito para serem confrontadas.
O Renascimento italiano Existem características únicas,
desenvolvidas nos retratos do
Renascimento italiano, que ser-
O Renascimento começou nas movimentadas cidades da península Itálica, como Siena,
viram de modelo para o restante
Florença, Milão e Bolonha. Essas cidades eram governadas por homens ricos e poderosos que da Europa até o final do século
queriam criar novas imagens de si e da sociedade em que viviam. Para isso, financiavam artis- XVII. Quando o homem foi co-
tas, cientistas e letrados. Comerciantes, banqueiros, príncipes e papas que financiavam um locado no centro dos questiona-
mentos filosóficos, a religião não
artista ou cientista eram chamados de mecenas,, isto é, protetores das artes e das ciências. foi excluída, mas a visão sobre ela
mudou. Além dos quadros com
87 temas bíblicos, a admiração pela
cultura greco-romana e seu legado
artístico se refletiram em novos
temas para a arte. Além disso, a
07:54 AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 87 TEXTO DE APOIO do mecenato, por meio do qual uma cidade,
02/08/22 uma
07:54 busca por uma nova forma de
corte ou mesmo uma família patrocinava de- representação e espacialidade
O retrato renascentista terminados artistas. Foi também nesse período visual marcaram a escolha dos
que surgiu a noção do artista intelectual. Antes, artistas renascentistas. Assim, o
Se o desejo pela representação de si já existia o trabalho artístico era visto como algo menor,
antes do Renascimento, foi durante esse período retrato também ganha força, pois
uma tarefa que demandava o uso das mãos e era um dos temas de interesse era o
que ele atingiu seu apogeu. Movida pelos ideais realizada por artesãos especializados. Durante o homem e seu lugar no mundo.
do humanismo e florescendo nas cidades italia- Renascimento, os artistas modificaram a visão
nas, a imagem de si tomou novas e importantes quanto ao estatuto de sua produção, sublinhando FERAZZA, Laura. A construção do homem
características a partir do século XV. As famílias moderno: o retrato renascentista. Estado
a necessidade de um conhecimento intelectual
da Arte. São Paulo, 19 mar. 2020.
de nobres e comerciantes, que dominavam as vinculado ao prático. Assim, a autoria das obras Disponível em: https://estadodaarte.
cidades-Estado italianas, usaram seu crescente tornou-se relevante, cada artista desenvolvendo estadao.com.br/construcao-homem-arte-
poder para investir em arte. Assim surgiu o sistema em certa medida seu estilo dentro das novas renascentista/. Acesso em: 9 ago. 2022.
87

D4_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 87 01/09/2022 21:08


TEXTO DE APOIO
A literatura de Dante
O século XX conheceu grandes
interpretações da obra de Dante
Alighieri. Tanto Vida Nova quan-
Fases do Renascimento
to a Divina Comédia e Da Monar- O Renascimento italiano pode ser dividido em três fases: o Trecento (século XIV), o
quia foram tema de ensaios que Quattrocento (século XV) e o Cinquecento (século XVI).
se tornaram clássicos dos estu-
dos internacionais sobre Lite- O Trecento foi um período de transição para a arte renascentista. Seus principais
ratura: Ernst Curtius, Benedetto centros culturais foram as cidades de Siena e Florença. Dois importantes artistas dessa
Croce, Eric Auerbach, Ezra Pound, época são Dante Alighieri, na literatura, e Giotto di Bondone, na pintura.
Jorge Luís Borges, dentre outros
Dante Alighieri (1265-1321) foi autor
nomes ilustres das letras, dedi-

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


caram linhas que se tornaram do longo poema Divina comédia,, obra com
axiomáticas sobre o grande poe- características ao mesmo tempo medievais e
ta de Florença e abriram possibi- renascentistas. O poema narra a viagem do
lidades de pesquisa e debate não
só na área da literatura renas- próprio Dante, ao lado do poeta romano Virgílio,
centista italiana, mas para todas pelo inferno e pelo purgatório até chegar ao
as disciplinas que se ocupam dos paraíso. Essa narrativa tem uma conotação reli-
fenômenos literários [...].
No Renascimento italiano, a Co- giosa medieval. Seu lado moderno, porém, está
média era considerada um com- no fato de representar as pessoas que Dante
pleto compêndio de conhecimen- encontrou no reino dos mortos agindo como
tos da tradição cristã e guia para
seres humanos vivos: sentindo amor, ódio,
estudos sobre temas vindos da
Antiguidade greco-latina, citado alegria, tristeza etc.
para explicar fenômenos físicos,
políticos, jurídicos, artísticos...
nas cartas endereçadas a seu me- Afresco de Dante Alighieri em sua obra
cenas Lorenzo di Pierfrancesco A divina comédia, século XV.
de Médici, Américo Vespúcio
cita Dante, afirmando que o poe-
ta estava certo ao descrever o céu
noturno, quando da mudança de
hemisfério, e Cristóvão Colom-
Giotto di Bondone (1266-1337) é o

BRIDGEMAN/FOTOARENA
bo, ao descrever as matas ame-
ricanas, responde à descrição de grande mestre do Trecento na pintura. Em
Dante do monte do Purgatório e suas obras, as figuras começam a ganhar
da selva que circunda o Paraíso
Terrestre. Calvino retira de Dante vida e movimento; os rostos se tornam
a ideia de que é possível expres- mais expressivos e os cenários começam
sar com palavras o conhecimen- a ter profundidade. Vários de seus per-
to que se tem do mundo, tanto o
mundo além-túmulo quanto o do
sonagens agem com naturalidade, o que
espaço sideral. [...] era pouco comum na época. Observe a
Dante foi um dos autores que imagem ao lado.
contribuiu para a construção do
legado da literatura no mundo
ocidental; mas seria teleológico São Francisco dá seu manto a um pobre,
tratar sua obra como produto de afresco de Giotto di Bondone, 1297.
um artista que se colocava como
um literato gênio; essa concepção,
surgida no Romantismo, torna es-
treito o projeto cognitivo dantesco.
VERMEERSCH, Paula. Calvino, leitor de
Dante. Instituto de Estudos da Linguagem
88
(IEL), Campinas, p. 1-5, 2003. Trabalho
apresentado na Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 88 ENCAMINHAMENTO 02/08/22 07:55 D2-H

Imagens em movimento •Destacar que o Trecento corresponde à fase inicial de


Vídeo com apresentação de diversas obras do artista italiano Giotto. elaboração da cultura renascentista, quando são gesta-
• GIOTTO. 2010. Vídeo (4min55s). Publicado pelo canal Multime- dos e divulgados alguns dos padrões e valores da nova
dia Senior Setubal. Disponível em: https://youtu.be/HsLlS2IX29Y. arte e do pensamento humanista. Na Itália desse perío-
Acesso em: 9 ago. 2022. do, destacam-se Giotto, Duccio e Cimabue, na pintura; e
Vídeo sobre a vida e a obra de Dante Alighieri. Dante, Petrarca e Boccaccio, na literatura.
• LITERATURA Fundamental 01 – Divina Comédia – Pedro Heise. 2013. A análise da obra dos renascentistas pode contri-
Vídeo (28min30s). Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: buir para o desenvolvimento da competência geral 3.
https://youtu.be/Pr9LHIB1eYk. Acesso em: 9 ago. 2022.
88

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 88 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Informar que a cidade de Flo-
rença se tornou o principal
No século XV – o chamado Quattrocento –, a cidade de Florença, governada pela polo cultural da Europa, em
família Médici de 1434 a 1492, tornou-se o principal centro da arte renascentista. Os parte devido ao fato de ter
Médici foram importantes mecenas dos artistas florentinos. Entre estes, destacaram-se sido governada, entre 1434
Brunelleschi, Donatello e Botticelli. e 1492, pelos Médici, uma
Filippo Brunelleschi (1337-1446) foi pintor, escultor e arquiteto, e tinha conhe- família de ricos banqueiros e
cimentos aprofundados de matemática e geometria. Seu trabalho mais conhecido é comerciantes florentinos que
a cúpula da catedral de Florença, ou Catedral de Santa Maria del Fiore. Observe a criaram um ambiente propí-
imagem a seguir. cio às artes e aos estudos.
• Comentar que Lourenço de
Catedral de Santa Médici, o Magnífico, foi um
Maria del Fiore.
mecenas arrojado e o maior
Florença (Itália), 2019.
colecionador de obras de arte
do seu tempo, tendo incenti-
vado sistematicamente a pro-
dução cultural e artística.
• Destacar que Donatello mar-

MUSEO NAZIONALE DEL BARGELLO, FLORENÇA, ITÁLIA. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL


cou sua época; seus persona-
gens têm força psicológica e
suas obras têm um sentido
de monumentalidade.
• Esclarecer que, durante o
Quattrocento, a técnica do
quadro produzido em cavale-
te superou a técnica do afresco
e as telas substituíram o qua-
BLACKMAC/SHUTTERSTOCK.COM

dro em madeira, facilitando o


trabalho dos pintores. A partir
de então, as obras podiam ser
transportadas, o que intensifi-
cou sua comercialização.
Donatello (1386-1466) é considerado o primeiro dos A análise das obras de Dante
grandes escultores renascentistas. Repare no vigor, no realismo Alighieri e Giotto di Bondone
e na força psicológica do Davi esculpido por ele (ao lado). Com pode contribuir para o desen-
seu talento e técnica, Donatello influenciou fortemente a arte volvimento da competência
geral 3.
escultórica moderna.

Davi, de Donatello, 1408-1411. pavilhões –, é por isto mais pró-


xima dos cenários de teatro do
que da realidade das ruas de Flo-
89 rença. Utilizaram-se temas clás-
sicos, religiosos e míticos porque
ainda não se conseguia romper
com os parâmetros morais con-
07:55 TEXTO DE APOIO
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 89 por Leonardo da Vinci, o infinito ganha uma repre-
22/07/22 22:33
vencionais, mas, gradualmente,
sentação espacial através da perspectiva cônica.
Esta técnica procura um realismo ótico com as foram sendo substituídos os sig-
No Quattrocento algo importante aconteceu na
imagens diminuindo de tamanho à medida que nos de notação das crenças reli-
arte pictórica renascentista. Em especial na Itália,
se encontram mais afastadas e com as linhas giosas medievais e os acessórios
em Florença, desenvolveu-se um sistema de figu-
cênicos do teatro e da arquite-
ração em perspectiva, uma representação plástica convergindo para um mesmo ponto, o ponto de
tura clássica presentes em suas
que, pelos quatro séculos seguintes, satisfez as ne- fuga. O ponto de encontro das linhas é o lugar
propostas por um novo sistema
cessidades figurativas da civilização ocidental. em que a ação se perde na distância e por isso
de representação. [...]
Começou com Brunelleschi, na construção da representa o infinito. [...]
RAPOSO, Maria Tereza Resende. O conceito
cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore. [...] A A pintura do Quattrocento é devedora dos ce-
de imitação na pintura renascentista e
partir das contribuições de Filippo Brunelleschi e nários e acessórios tradicionais do teatro antigo impressionista. Metanoia, São João del-
de Leon Battista Alberti, posteriormente elaboradas e medieval – rochedos, troncos, arcos, colunas, Rei, n. 1, p. 43-50, 1998-1999. p. 44.
89

D4_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 89 01/09/2022 21:08


ENCAMINHAMENTO
• Informar que, no Cinquecen-
to, Florença, apesar de ter de-
Sandro Botticelli (1445-

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


clinado, continuou se envol-
vendo em disputas comerciais 1510) foi um dos principais pin-
e guerras com outras cidades tores da cidade de Florença no
da Itália (nelas se confronta- Quattrocento;; o artista se ins-
Quattrocento
vam exércitos mercenários pirou inicialmente na mitologia
chefiados pelos condottieri, greco-romana e, mais tarde, na
chefes de tropas). tradição cristã para realizar sua
• Esclarecer que, no Cinque- obra.
cento, Roma passou a ser o
principal centro de produ-
ção renascentista. Os papas
Júlio II (1510-1513) e Leão X Madona adorando o menino Jesus
(1513-1521), este último fi- com o jovem São João, de Sandro
lho de Lourenço de Médici, Botticelli, século XV.

criam um ambiente de luxo


e requinte cultural, propí-
cio à produção artística, e
atraíram para Roma artistas
da estatura de Leonardo da No século XVI – o Cinquecento –, a cidade de

MUSEU DO LOUVRE, PARIS


Vinci (1452-1519), Michelan- Florença perdeu importância e Roma passou a ser
gelo Buonarroti (1475-1564) o principal polo cultural do Renascimento. Entre os
e Rafael Sanzio (1483-1520). maiores nomes da pintura italiana no Cinquecento
• Destacar que a influência estão Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti
desses artistas foi decisiva e e Rafael Sanzio. A influência desses artistas marcou
marcou praticamente toda a praticamente toda a arte ocidental até o início do
arte ocidental até o início do século XX.
século XX. Eles incorporaram
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi pintor, escul-
os aperfeiçoamentos técni-
tor, arquiteto, cientista, engenheiro e inventor. Projetou
cos e as descobertas formais
armas, pontes e cidades e pintou obras como a Mona
que vinham se multiplicando
desde Giotto e lhes deram Lisa e A última ceia,, que continuam a ser objeto de
um acabamento refinado e, admiração, estudo e debate. Seu conhecimento de
ao mesmo tempo, rico de sig- anatomia, o uso primoroso da técnica da perspectiva
nificações. (chiaroscuro)) fizeram de
e do jogo de luz e sombra (chiaroscuro
• Aprofundar o assunto com a Da Vinci um dos maiores pintores de todos os tempos.
leitura do livro: MENDONÇA, Observe a reprodução da tela intitulada Mona Lisa..
Débora Barbam. Botticelli:
pintura e teoria. São Paulo: Mona Lisa, conhecida também como La Gioconda, de Leonardo da
Cultura Acadêmica, 2012. Vinci, c. 1503-1505. É talvez a pintura mais famosa do mundo.
Para alguns, o sorriso sutil e misterioso da personagem evoca
indiferença; para outros, alegria contida; e para outros ainda,
ironia. Talvez Da Vinci quisesse mesmo provocar essa dúvida.
+ATIVIDADES
90
Produza um carrossel de
imagens identificadas por
uma legenda mínima sobre TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 90 naturais, ótica, anatomia, engenharia [...]. O 05/08/22 09:57 AV-

Leonardo da Vinci e sua obra. pintor foi, também, um estudioso das propor-
Produção pessoal. Leonardo da Vinci e Mona Lisa ções humanas. Usava a perspectiva em muitas
A atividade quer colaborar O sorriso misterioso de Mona Lisa, populari-
de suas obras, mas nem sempre seguia rigo-
para o desenvolvimento das zado em pôsteres, cartões, camisetas a partir do rosamente as regras. [...] Mona Lisa demorou
competências gerais 3 e 4. quadro de 77 por 53 cm, pintado pelo renascen- cerca de quatro anos para ficar pronta. A tela
tista Leonardo da Vinci no século XVI, tornou- viajou com o pintor por muitas cidades e per-
-se um ícone da cultura ocidental [...]. Parte da maneceu na corte francesa após sua morte. [...]
fama e do mistério relacionados ao quadro es- LEMOS, Ingrid. Mona Lisa faz 500 anos. Ciência e Cultura, São
tão ligados ao próprio artista. Leonardo era uma Paulo, v. 56, n. 2, p. 60-61, abr./jun. 2004. p. 60.
personalidade especial, entendia de ciências
90

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 90 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Informar que Michelangelo
Buonarroti, aos 23 anos, es-
Michelangelo Buonarroti (1475-1564) foi escultor, pintor e arquiteto. É conhecido culpiu a Pietà e, três anos de-
como “poeta do corpo” pela forma precisa como representou cada músculo, ruga ou pois, o colossal Davi.
veia e pela plasticidade e força interior de seus personagens. Muito jovem ainda, esculpiu • Comentar que Rafael Sanzio
Pietà;; três anos depois, talhou usou com maes­tria uma série

BRIDGEMAN/FOTOARENA
o colossal Davi em um bloco de de técnicas herdadas de seus
mármore com 4,15 metros de antecessores, o que explica a
altura. Michelangelo tornou-se perfeição das suas figuras –
conhecido também pelos afres-
religiosas e/ou da mitologia
greco-romana.
cos que pintou na Capela Sistina
• Frisar que Maquiavel é consi-
(Vaticano). São centenas de
derado por muitos o funda-
figuras, algumas enormes, cuja
dor da política como ciência.
produção custou ao artista quase Sua principal obra, O prínci-
cinco anos de trabalho. As cenas pe, tem sido objeto de deba-
dessa obra são de episódios da tes frequentes. Para alguns,
Bíblia, desde a criação do mundo Maquiavel criou a ideia de
até o juízo final. que os fins justificam os
meios, isto é, qualquer meio
é válido para se chegar ao
poder; para outros, ele ape-
Detalhe de O juízo final,
nas registrou sua longa ex-
de Michelangelo Buonarroti,
século XVI. Cristo é representado periência na vida pública.
como o juiz que separa os • Aprofundar o assunto com a
eleitos, que vão para o paraíso, leitura dos textos: MARTINS,
e os condenados ao inferno. Karla Denise. Michelangelo:
da criação do universo ao ju-
ízo final, breve análise sobre
o trabalho da Capela Sistina.
a) Sugere movimento, como se pode notar observando os corpos, as vestes e os gestos dos personagens. Contemporâneos – Revista
Rafael Sanzio (1483-1520) utilizou com eficiência as técni- de História Contemporânea,
Dialogando
cas de pintura criadas durante o Renascimento. Foi o retratista [s. l.], maio/out. 2008; ACIDINI,
oficial de alguns dos homens mais ricos e poderosos de seu a A cena representada Cristina; DELPRIONI, Alessan-
tempo. Por sua capacidade de representar madonas graciosas é estática ou sugere dro. Mestres do Renascimen-
movimento? to: obras-primas italianas. São
e delicadas, é considerado o “mestre das emoções medidas”.
Nesse ambiente turbulento, o Cinquecento viu surgir b Pode-se perceber Paulo: Base7 Projetos Cultu-
o realismo na rais, 2013.
também um pensador original, com sólida formação intelectual
representação
e experiência na vida pública, o florentino Nicolau Maquiavel Dialogando. c) Individualis-
da figura humana?
(1469-1527). Sua obra mais conhecida e divulgada é O prín- Justifique. mo: basta ver a singularidade
cipe,, uma reflexão sobre as ações que o governante deve c Que valores de cada corpo retratado (o
empreender para conquistar e manter o poder. Por considerar renascentistas feminino e o masculino); o an-
a política como um campo independente da moral e da religião, estão presentes tropocentrismo: na cena, Cris-
Maquiavel é tido como o fundador da ciência política. no afresco? to é mostrado como um ho-
b) Sim; note que o artista se esforçou para reproduzir, com fidelidade, formas, gestos e expressões humanas. mem de formas exuberantes,
c) Individualismo; antropocentrismo; corpo como fonte de beleza. 91 musculoso, viril; o corpo como
fonte de beleza (e não de pe-
cado, como na Idade Média):
Respostas: os corpos dos personagens são
09:57 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 91 02/08/22 07:59
pintados de modo a impres-
a) Mármore.
Pesquise imagens em sites confiáveis da sionar o observador.
b) O artista apresentou a Virgem Maria segu-
obra Pietà e responda:
rando em seus braços o filho, já sem vida.
a) De que material a obra é feita?
c) Resposta pessoal.
b) O que o artista representou nessa obra?
d) O realismo presente na representação dos
c) Que sentimentos essa obra despertou
músculos, das veias e do corpo de Jesus; o es- Professor, os itens desta
em você?
quema de composição triangular bastante usa- atividade querem contribuir
d) Que elementos permitem concluir que do no Renascimento; a assinatura do artista na para o desenvolvimento da
a obra é renascentista? faixa que atravessa o peito da Virgem Maria. competência geral 3.
91

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 91 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que a expansão
marítima luso-espanhola e a
consequente descoberta de
novas rotas comerciais ligan-
A expansão do Renascimento
do a Europa ao Oriente cola-
O Renascimento se expandiu a partir da Itália para outras partes da Europa. Um
boraram para a decadência
fator que contribuiu para a divulgação das obras renascentistas foi o aperfeiçoamento da
econômica das cidades ita-
imprensa por Johannes Gutenberg (1400-1468), o que permitiu a impressão de muitos
lianas e para a ascensão de
cidades europeias banhadas textos em pouco tempo. Grandes nomes do Renascimento se destacaram também em
pelo Atlântico. Esse foi um Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda e Alemanha.
dos fatores que contribuí-
ram para que o Renascimen- Escritores
to se expandisse a partir da
Itália para outras regiões da Luís Vaz de Camões (1524-1580) é considerado o maior poeta da língua portuguesa.
Europa. Sua obra-prima, Os lusíadas,, é um poema em homenagem ao povo português e conta
• Aprofundar o assunto com a a viagem do navegador Vasco da Gama às Índias.
leitura do material: OBRAS
completas de Luís de Camões. PARA SABER MAIS
Biblioteca do Senado. Brasí-
lia, DF, [21--]. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/ Camões: homem de pensamento e de ação
bdsf/handle/id/518762. Aces- Camões tinha sólida formação intelectual; era capaz de ler tanto em latim quanto
so em: 9 ago. 2022. em grego. Mas não se dedicou só aos estudos; levou uma vida agitada e cheia de
aventuras. Daí se dizer que ele “segurava a pena numa das mãos e a espada na outra”.
Em luta contra os muçulmanos, no norte da África, perdeu o olho direito. Em viagem
TEXTO DE APOIO à costa da China, naufragou próximo ao atual Vietnã; mas, nadando, conseguiu salvar
Camões: artista os manuscritos de Os lusíadas..
Renascentista Para escrever essa obra, ele se inspirou tanto em suas longas viagens quanto nos
O Renascimento, como época, escritos dos autores gregos e latinos. Em Os lusíadas,, Camões diz em versos que as
buscava harmonizar diversas navegações portuguesas não foram obra de um único homem (Vasco da Gama), mas
tendências contraditórias, cen- o resultado do esforço do povo português.
tro de sua importância cultural. AGE FOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL
Podia-se perceber, desde 1516,
no Cancioneiro Geral de Garcia
de Resende, a influência de Dante
e Petrarca na utilização de no-
vos gêneros líricos, como o so-
neto trazido da Itália por Sá de Ilustração atual representando
Miranda, bem como o desenvol- o poeta Luís Vaz de Camões.
vimento das novas ideias e do
doce estilo novo italiano, na po-
esia de Antônio Ferreira e Diogo
Bernardes. A literatura desse
importante período norteou-se
em dupla vertente. A primeira
estava subordinada à corren-
te humanística de influência 92
clássica provinda da Itália e a
segunda, guiada pelas ‘novida-
des’ produzidas pelas descober-
tas renascentistas que tinham e humanos do seu momento
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 92 histórico”. Foi um gência humana aliada ao espírito evangélico 02/08/22 08:28 AV-

como base o caráter naciona- dos poetas renascentistas que almejava alcan- cristão, imitando as obras de Homero e Virgílio,
lista da Península Ibérica. Um çar o objetivo de expressar a grandeza do seu consagrando Camões como autêntico artista re-
dos principais representantes povo e conseguiu concretizar seu anseio ao es- nascentista.
da literatura portuguesa dessa crever Os Lusíadas,
Lusíadas, poema épico, modelo maior SOUZA, Paulo Rogério de; CORTEZ, Clarice Zamonaro. As
época, se não o maior de todos, do gênero no período clássico, cantando feitos influências do desconcerto do mundo renascentista na
foi Camões [...]. Sua obra, refle- e glórias do passado lusitano. O poema camo- construção da temática camoniana. Acta Scientiarum.
Language and Culture, Maringá, v. 37, n. 1, p. 63-71, jan./
tida em experiências de vida, niano representa o Renascimento, não apenas mar. 2015. p. 64.
guiava – e ainda guia nos dias de pela filiação exemplar na sua forma poética
hoje – o leitor a “[...] um mundo de imitação clássica, mas na abstração da sua
novo de descoberta de desco- cultura revelada na escrita. O texto representa
nhecidos horizontes geográficos e expressa a exaltação da vontade e da inteli-
92

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 92 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Informar que outro perso-
nagem central na obra de
Miguel de Cervantes (1547-1616) foi um extraordinário escritor espanhol, e sua Miguel de Cervantes é o es-
principal obra é Dom Quixote de La Mancha.. Seus principais personagens são Dom cudeiro de Dom Quixote,
Quixote, um nobre sonhador que quer reviver as glórias dos cavaleiros medievais, e seu chamado Sancho Pança,
escudeiro Sancho Pança, que só pensa em dormir e comer bem, além de demonstrar que, diferentemente de seu
enorme senso prático. Assim, Cervantes ironiza tanto os ideais da cavalaria medieval, amo, tem grande atração
cultivados por Dom Quixote, quanto o modo de vida burguês, associado à figura de pelo modo de vida burguês e
Sancho Pança. representa o apego aos valo-
GRANGER/EASYPIX BRASIL
res materiais. Cervantes usa
a ironia e o humor para criti-
# DICA! car tanto a nobreza, na figu-
ra de Dom Quixote, quanto a
Vídeo sobre a vida e
as obras de William
burguesia, representada por
Shakespeare. Sancho Pança.
WILLIAM Shakespeare, • Acentuar que o escritor e
por Leandro Karnal.
2016. Vídeo (12 min).
jurista Thomas Morus (1478-
Publicado pelo canal 1535), autor de Utopia, foi
Shakespeare Brasil um dos humanistas mais ati-
UFPR. Disponível em:
https://youtu.be/
vos de seu tempo e que, por
bL2UmixWsEg. Acesso meio de suas críticas, comba-
em: 6 jun. 2022. tia a injustiça, a cobiça, a in-
tolerância e a irracionalida-
de observadas em sua época.
• Comentar que William
Shakespeare foi um dos
Dom Quixote e Sancho
maiores dramaturgos de to-
Pança em gravura do dos os tempos. Por meio de
século XVII. seus personagens psicologi-
camente bem caracteriza-
dos, o dramaturgo inglês nos
coloca questões de alcance
universal e atemporais, o
que certamente ajuda a ex-
Thomas Morus (1478-1535) foi um escritor e jurista inglês, autor de Utopia,, obra plicar a popularidade da sua
na qual descreve uma ilha imaginária, habitada por uma sociedade justa e fraterna. Com obra.
isso, Morus pretendeu criticar as injustiças e abusos de seu tempo. • Alertar para o fato de que
William Shakespeare (1564-1616) também era inglês e foi um dos maiores Shakespeare tem uma his-
autores de peças teatrais do mundo; criou tragédias, como Romeu e Julieta,, Hamlet tória semelhante à da bur-
e Macbeth;; comédias, como Sonho de uma noite de verão;; e dramas históricos, guesia londrina. Por meio
como Henrique VIII.. Muitas delas foram adaptadas para televisão, cinema e história do trabalho, da disciplina e
em quadrinhos. Em suas obras, Shakespeare aborda temas universais e propõe reflexões da moderação nos gastos,
que continuam a despertar interesse e admiração. conseguiu riqueza e prestí-
gio social, terminando seus
93 dias como um empresário de
sucesso. Isso ajuda a expli-
car por que, em três de suas
grandes obras (Macbeth,
08:28 Dica de leitura
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 93 Imagens em movimento 02/08/22 08:04
Hamlet e Henrique IV), ele
Nesta obra clássica, o filósofo Entrevista em que o professor John Milton, do De- valorizou a ordem estabele-
Thomas More retrata uma socie- partamento de Letras Modernas da Faculdade de Fi- cida e representou o caos e
dade fundada em leis igualitárias, losofia, Letras e Ciências Humanas da USP, fala sobre a desordem como ameaças
livre de violência e intolerância. Hamlet, de Shakespeare. a ela. Além disso, o drama-
• MORE, Thomas. Utopia. São Pau- • LITERATURA Fundamental 04 - Hamlet - John turgo mostrou simpatia por
lo: Penguim Companhia, 2018. Milton. 2013. Vídeo (30min16s). Publicado pelo uma monarquia forte e uma
canal UNIVESP. Disponível em: https://youtu.be/ moral rígida.
DJNDjvAY818. Acesso em: 9 ago. 2022.

93

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 93 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que realidade e fan-
tasia se misturam na obra do
mais original dos mestres fla- Pintores
mengos: o pintor Hieronymus
Hieronymus Bosch (1450-1516) foi um pintor holandês. Suas pinturas, como
Bosch (1450-1516). Suas pin-
O jardim das delícias,, As tentações de Santo Antão e A nave dos loucos,, mesclam
turas, como O jardim das de-
lícias, As tentações de Santo fantasia e realidade.
Flamengo: habitante
Antão e A nave dos loucos, Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), era flamengo e repre- da região hoje
focam paisagens e persona- sentou cenas camponesas e do cotidiano popular, como se pode pertencente à Bélgica e
a parte da Holanda.
gens fantásticos que habita- observar na reprodução de sua obra Dança camponesa,, a seguir.
vam o imaginário medieval.
A obra de Bosch contém uma
crítica severa à transgressão
moral presente na sociedade
de seu tempo.
• Destacar que Pieter Bruegel,
o Velho (1525-1569), foi um
inovador, retratando em Dança
suas pinturas a realidade das camponesa,
de Pieter
pequenas aldeias que ainda Bruegel, 1568.
conservavam a cultura me-
dieval.
• Evidenciar que Albrecht
Dürer (1471- 1528) destacou-
-se pelo uso primoroso de
técnicas de pinturas renas-
centistas ao produzir retra- ÓLEO SOBRE PAINEL, 114 CM × 164 CM, KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENA, ÁUSTRIA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

tos de si mesmo, do pai e de


Albrecht Dürer (1471-1528) foi o
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

personalidades da época.
mais original entre os pintores renas-
centistas alemães. Dono de uma técnica
Imagens em movimento primorosa, transmite em suas obras uma
sensação de realismo, encantamento e
Documentário sobre obras
magia.
do Renascimento. O compar-
tilhamento de trechos desse
documentário sobre o Renas-
cimento pode contribuir para
o desenvolvimento da compe-
tência geral 3.
• PINTURAS do Alto Autorretrato de Albrecht Dürer, 1498.
Renascimento. Vídeo
(57min8s). Publicado
pelo canal Land
Walker. Disponível em:
https://youtu.be/ka152-w5TNk. 94
Acesso em: 10 ago. 2022.

TEXTO DE APOIO
081a102-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 94 nos delírios. Assim, por exemplo, uma figura 26/08/22 17:23 AV-
pode apresentar aspectos vegetais e animais
Bosch: a força da fantasia associados arbitrariamente pelo artista.
Hieronymus Bosch (1450-1516) foi um artista Por que as composições do artista são assim
dos Países Baixos que criou um estilo inconfun- e o que elas refletem? Alguns críticos veem na
dível. Sua pintura é rica em símbolos de astro- pintura de Bosch a representação do conflito
logia, da alquimia e da magia conhecidas no fim que inquietava o espírito humano no fim da
da Idade Média. Nem todos os elementos pre- Idade Média: a tensão entre o sentimento do
sentes em suas telas, porém, podem ser deci- pecado ligado aos prazeres materiais e a busca
frados, uma vez que ele seleciona e combina as- das virtudes de uma vida ascética. [...].
pectos dos mais diversos seres, criando formas PROENÇA, Graça. História da arte.
muitas vezes existentes apenas nos sonhos ou São Paulo: Ática, 2011. p. 110.
94

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 94 31/08/2022 12:21


TEXTO DE APOIO
A lição de anatomia de
Andreas Vesalius e a
Cientistas do Renascimento ciência moderna
Vesalius [...] escreveu sobre o
Durante o Renascimento, as verdades baseadas na tradição e na autoridade foram pouco interesse dos médicos que
contestadas; em seu lugar, foram criadas novas verdades baseadas na observação, na expe- o antecederam pela estrutura dos
riência e na crítica. Essa atitude investigativa contribuiu para um grande avanço científico. ossos, músculos, vasos e nervos:
“Pois enquanto os médicos su-
Andreas Vesalius (1514-1564) é considerado o pai da anatomia moderna.. Na Europa, puseram que apenas os cuidados
até meados do século XVI, o que se sabia de anatomia humana (veias, órgãos, músculos, às enfermidades internas lhes
ossos) era herança do médico grego Galeno, que viveu e trabalhou na Roma antiga. Galeno diziam respeito, considerando o
mero conhecimento das vísceras
fez seus estudos com base na dissecação de animais, especialmente de macacos, o que o mais que o suficiente, eles negli-
levou a cometer erros inevitáveis. Esses erros sobreviveram por cerca de 1500 anos até a genciaram a estrutura dos ossos e
publicação, em 1543, da obra De humani corporis fabrica, fabrica, do médico belga Andreas músculos, assim como dos nervos,
veias, artérias que correm através
Vesalius, que, aos 23 anos, já era professor na Universidade de Bolonha, na península Itálica.
dos ossos e músculos, como de
Lançada originalmente em sete volumes, a obra de Vesalius revolucionou a ciência nenhuma importância. [...]”
médica: até então, ninguém havia feito uma descrição tão precisa e detalhada da anatomia [...] a posição de Vesalius é muito
humana. Sua obra se conserva atual em muitos pontos, apesar de todas as descobertas clara. Após condenar a quase total
feitas posteriormente. dependência textual do ensino da
anatomia, Vesalius [...] relata que
certas pessoas o criticavam por
colocar ilustrações nos textos anatô-
micos – possivelmente ele se referia
à publicação das Seis pranchas de
anatomia – temendo a substituição
da realização de dissecções por
ilustrações:
“Mas aqui vêm à minha mente
os julgamentos de certos homens
que condenam veementemente
a prática de colocar diante dos
olhos dos estudantes, como nós
fazemos com as partes das plan-
tas, desenhos, sendo eles pouco
acurados para as partes do corpo
humano. Estas, eles dizem, devem
ser aprendidas não a partir de
desenhos, mas a partir da cui-
dadosa dissecção e exame das
coisas elas mesmas. [...] minha
SMITHSONIAN LIBRARIES, WASHINGTON, EUA

prática sempre foi encorajar os


estudantes de medicina em todas
as maneiras que eu podia para
fazer dissecções com suas próprias
mãos. [...] Mas quão grandemente
os desenhos ajudam no enten-
dimento dessas coisas, e quanto
mais acuradamente eles põem
Estudo anatômico da musculatura humana feito por Andreas Vesalius e artistas por ele as coisas na frente dos olhos do
contratados, em seu livro De humani corporis fabrica, 1543. que a mais clara linguagem, como
ninguém pode ter falhado de ex-
95 perimentar isso em geometria e
outras disciplinas matemáticas”.
KICKHÖFEL, Eduardo Henrique Peiruque.
A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a
ciência moderna. Scientiae Studia, São Paulo,
17:23 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 95 Outro é automedicar-se com base nas infor-
02/08/22 08:35
v. 1, n. 3, p. 389- 404, 2003. p. 397, 401.
mações obtidas na internet.
A obra de Vesalius é uma prova de que
• Tema Contemporâneo Transversal: Esta
a informação qualificada é importante na
atividade mobiliza o tema saúde, da ma-
área da saúde.
croárea saúde.
Roda de conversa. Quais os problemas en-
frentados por quem busca informação em saúde Imagens em movimento
na internet e toma decisões com base nela? Podcast sobre a vida e o legado de Versalius para a Anatomia moderna.
Resposta: • 15 DE OUTUBRO de 1564 – Morre Vesalius, pai da anatomia moderna – Hoje na
Um dos maiores problemas é a falta de cri- História. 2021. Vídeo (9min30s). Publicado pelo canal Opera Mundi. Disponível
tério para selecionar o conteúdo disponível. em: https://youtu.be/kKJEgtBsI3c. Acesso em: 9 ago. 2022.
95

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 95 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que um dos maiores
cientistas da época foi Nicolau
Outro importante cientista da época foi
A

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Copérnico (1473-1543), ma-
temático e físico polonês que Nicolau Copérnico (1473-1543), matemático
descreveu os movimentos da e físico nascido onde hoje é a Polônia. Ele des-
Terra e formulou a teoria do creveu os movimentos da Terra e formulou a
heliocentrismo (o Sol como teoria do heliocentrismo (o Sol como centro
centro do sistema planetário). do sistema planetário). Lembre-se de que, na
• Informar que, somente em época de Copérnico, os doutores da Igreja
1992, a Igreja suspendeu a defendiam o geocentrismo,, ou seja, a ideia
pena canônica imposta ao de que a Terra ocupa o centro do Universo e o
criador da física moderna Sol gira ao seu redor.
Galileu Galilei.
• Aprofundar o assunto com
a leitura dos textos: OITO
curiosidades sobre Nicolau Retrato de Nicolau Copérnico,
autor desconhecido, 1877.
Copérnico, pai do helio-
centrismo. Revista Galileu,
Mas foi Galileu Galilei (1564-1642) o
ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA

[S. l.], 19 fev. 2018. Dispo-


cientista que comprovou a teoria do heliocen-
nível em: https://
trismo, proposta por Nicolau Copérnico. Por
revistagalileu.globo.com/
Ciencia/noticia/2018/02/8- meio de um pequeno telescópio, construído
curiosidades-sobre- por ele mesmo, Galileu verificou que a Terra era
nicolau-copernico-pai- apenas mais um astro entre milhões de outros.
do-heliocentrismo.html; Concluiu também que a Terra efetuava dois
GALILEU Galilei: quem foi movimentos: um ao redor de si mesma e outro
ele? Instituto de Física de ao redor do Sol. Por defender o heliocentrismo,
São Carlos – Universidade de Galileu foi julgado por um tribunal da Igreja e,
São Paulo. São Carlos, 18 abr. para escapar à morte, negou sua teoria.
2012. Disponível em: https:// Considerado o criador da física moderna,
www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/ Galileu Galilei foi um dos mais brilhantes cien-
galileu-galilei-quem-foi-ele/. tistas que o mundo já conheceu. Descobriu os
Acessos em: 9 ago. 2022. satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e que
a velocidade da luz é superior à do som.
Imagens em movimento
Documentário sobre a vida
e as descobertas científicas de Telescópio usado por Galileu durante
Galileu Galilei. a comprovação do heliocentrismo,
século XVII. Fotografia de 2020.
• GÊNIOS da ciência: Galileu.
Vídeo (1h52min2s). Publi-
cado pelo canal IPTV USP.
Disponível em: https://iptv.
usp.br/portal/video.action?
idItem=8189. Acesso em: 9 96
ago. 2022.

AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 96 02/08/22 08:39 AV2

96

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 96 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
As atividades 1 e 2 querem
contribuir para o desenvolvi-

ATIVIDADES
ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO. mento da habilidade EF07HI01.

I. Retomando
1 Sobre a relação entre modernidade e renascimento europeu, estão corretas as alternativas:
a) o Renascimento europeu foi importante para o surgimento da modernidade;
b) os artistas e cientistas do Renascimento europeu não contribuíram para a modernidade;
c) a ideia de que só o Renascimento europeu impulsionou a modernidade é correta;
d) a ideia de que só o Renascimento italiano impulsionou a modernidade supervaloriza a Europa
e exclui os outros renascimentos, a exemplo do indiano e do chinês.
1. Alternativas A e D.
2 Avalie as afirmações com atenção. 2. Alternativa C.
I. Segundo o historiador Jack Goody, o que existiu foram Renascimentos, e não Renascimento.
II. Em outras partes do mundo, além da Europa, também ocorreu um florescimento cultural a
partir de uma volta ao passado.
a) As afirmações I e II estão corretas, mas não têm relação entre si.
b) A afirmação I está correta; e a II, errada.
c) As afirmações I e II estão corretas; e a II explica a I.
d) Somente a afirmação II está correta.

3 Monte em seu caderno um quadro sobre o Renascimento europeu. Na primeira


até então, observar a olho nu ou-
coluna, copie as perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
tras estrelas inumeráveis, abrin-
a) O que foi? 3. a) Foi um movimento cultural intenso que teve início nas cidades italianas e se propagou do ao olhar esse espetáculo an-
b) Quando começou? 3. b) Teve início no século XIV. por outras regiões da Europa.
teriormente oculto.
3. c) Homens ricos – comerciantes, banqueiros, príncipes,
c) Quem financiava os artistas e cientistas? O uso do telescópio permitiu a
papas –, conhecidos como mecenas.
d) Com que objetivo eles financiavam os cientistas? 3. d) Para conseguir prestígio e projeção social. Galileu fazer outras descobertas,
descritas sempre com grande en-
4 As afirmações a seguir descrevem características do Renascimento. Leia-as com atenção. tusiasmo. Uma das mais interes-
I. O ser humano no centro do universo. santes é aquela que descreveu
II. Inspiração nas obras dos gregos e romanos da Antiguidade. como “coisa magnífica e agradá-
vel à vista contemplar o corpo da
III. O tempo pertence ao ser humano e, por isso, este deve usá-lo para experimentar, conhecer
Lua” com o auxílio do telescópio:
e aperfeiçoar.
“qualquer pessoa pode dar-se
IV. O ser humano é capaz de tudo, desde que tenha capacidade individual e talento. conta, com a certeza dos sen-
As afirmações tratam, respectivamente, do(a): 4. Alternativa C. tidos, de que a Lua é dotada de
a) antropocentrismo – valorização do passado greco-romano – individualismo – nova visão do tempo; uma superfície não lisa e polida,
b) individualismo – valorização do passado greco-romano – nova visão do tempo – antropocentrismo;
mas feita de asperezas e rugosi-
dade, que, tanto como a face da
c) antropocentrismo – valorização do passado greco-romano – nova visão do tempo – individualismo;
própria Terra, é por toda parte
d) individualismo – valorização do passado greco-romano – antropocentrismo – nova visão do tempo. cheia de enormes ondulações,
abismos profundos e sinuosida-
97 des”. Para se ter ideia aproxima-
da do significado da descrição da
Lua feita por Galileu – algo que,
hoje, não surpreenderia um es-
08:39 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 97 te em relação à liberdade de investigação. De
09/08/22 15:40
tudante do ensino básico – é su-
1600 a 1609, entre outros estudos, elaborou seu ficiente lembrar que ela punha
Galileu Galilei tratado sobre o movimento e, no último daque- abaixo o princípio aristotélico da
Depois de rápida passagem por um monasté- les anos, desenvolveu seu famoso perspicilli, incorruptibilidade celeste. Além
rio de Pisa, descontente, ao que se acredita, com ou telescópio, instrumento que lhe permitiu disso, ele sustentava sua certeza
os métodos de ensino, Galileu Galilei (1564-1642) observar mais detalhadamente o céu, seja para pelos sentidos, algo arriscado à
transferiu-se para o curso de Medicina, em 1581, aprimorar mais sua visão sobre os astros visí- época, quando era a fé que deve-
no qual permaneceu durante quatro anos. Em veis a olho nu, seja para ver outros até então ria determinar a verdade inques-
seguida, decidiu estudar Matemática, concen- ocultos à visão humana. Em seu saboroso relato tionável das coisas, o que incluía,
trando seus interesses em balística, hidráulica sobre essas experiências, Galileu escreveu sobre também, a textura do solo lunar...
e mecânica. Em 1592, a seu pedido, transferiu- a importância de se acrescentar ao grande nú- MICELI, Paulo. História moderna.
-se para Pádua, por considerá-la mais toleran- mero de estrelas fixas que os homens puderam, São Paulo: Contexto, 2013. p. 91.
97

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 97 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
6. Justificativa: Artistas renas-
centistas como Leonardo da
Vinci pintavam com base no 5 O humanismo foi um movimento intelectual que propunha o estudo dos autores
estudo da geometria, da auto- greco-romanos para construir um novo conhecimento do ser humano e do mundo.
nomia e de técnicas de pintu- Escreva em seu caderno quais meios os humanistas usavam para chegar à verdade?
ra. Leonardo da Vinci procura a) A inteligência e a malícia.
pintar com precisão os ele- b) A intuição e a experiência.
mentos da paisagem, como as c) A pesquisa e a fé.
flores e as árvores, assim como d) A razão e a experiência. 5. Alternativa D.
as figuras humanas, pois inte-
ressava aos renascentistas re- 6 Observe a obra a seguir, de Leonardo da Vinci. Ela expressa algumas das inovações
presentar a natureza também técnicas introduzidas pelos artistas do Renascimento e que marcaram a História da
de forma realista. Arte. Sobre esse assunto, copie em seu caderno a(s) alternativa(s) correta(s) e justi-
fique suas escolhas.
• Aprofundar o assunto com GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA, ITÁLIA

a leitura do texto: IMBROISI,


Margaret; MARTINS, Simone.
Renascimento. História das
Artes. [S. l.] 2022. Disponível em:
http://www.historiadasartes.com/
nomundo/arte-renascentista/
renascimento/. Acesso em: 9 ago.
2022.

TEXTO DE APOIO
As renascenças foram
apenas europeias? A anunciação, de Leonardo da Vinci, 1472-1475.
O Renascimento italiano foi
o único? Historicamente, para a) Na pintura, pode-se observar o realismo na representação da figura humana, isto é, o esforço
a Europa, é claro que foi. Mas do artista em representá-la com exatidão.
sociologicamente? Há duas im- b) Na pintura, Leonardo da Vinci demonstra o domínio da técnica inovadora da perspectiva,
portantes características num transmitindo ao observador a sensação de profundidade para a paisagem ao fundo.
renascimento ou renascimen-
tos: um olhar para o passado e c) Artistas renascentistas como Leonardo da Vinci pintavam com base apenas na intuição; por
uma florescência. Da perspecti- isso, suas obras apresentam equilíbrio, harmonia e expressividade.
va transcultural, esses fenôme- d) Observa-se na pintura que os elementos que compõem a paisagem, como as flores e as
nos não são necessariamente árvores, não foram desenhados com precisão, pois os renascentistas não representavam a
coincidentes. [...] Do ponto de natureza de forma realista.
vista histórico, o Renascimento 6. Alternativas A e B.
italiano foi o único. Sociologi- 98
camente, no entanto, devemos
vê-lo não apenas como uma ex-
periência europeia, mas como
a experiência de uma classe é AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd
afetada, é claro, pelo modo 98 de comunicação; Usar o termo “Renascimento” ou “renascen- 08/08/22 09:00 AV-

maior de eventos que ocorre o ir em frente nem sempre – mas com frequên- ça” no Ocidente implica conceber a história
em todas as culturas letradas e cia – envolve um olhar retrospectivo. Mesmo na europeia como um processo cultural mais ou
envolve tanto um olhar retros- Europa, o Renascimento italiano não foi o pri- menos contínuo desde os tempos antigos, an-
pectivo quanto um salto para meiro desses períodos. Se o humanista europeu tecedido de um período de eclipse, uma espécie
frente, nem sempre combinados afirma ter “reformado o mundo” olhando para de depressão histórica, durante o qual a cultura
em um único evento. Períodos a literatura clássica que havia sido desprezada, perdeu o seu rumo natural, mas do qual se re-
de florescência não foram ra- o que isso nos diz a respeito do Renascimento cuperou após uma transição (para o “capitalis-
ros nas sociedades letradas (e ou do mundo? O Renascimento não foi único ou mo”), fluindo mais uma vez por onde se espe-
são conhecidos com frequência humanista no sentido de uma revivificação da rava, com mais sabedoria e vigor renovado. As
como “eras douradas”), mas a literatura antiga. Isso aconteceu em outros lu- consequências dessa visão – e não saberíamos
velocidade da mudança cultural gares e em função do letramento. [...] enfatizar o suficiente como essa interpretação
98

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 98 31/08/2022 12:21


ENCAMINHAMENTO
7. b) Professor, a pintura tra-
dicional se restringe ao plano
bidimensional produzindo
7

EDITORA ATUAL
Leia o texto com atenção e observe as imagens
a seguir. um efeito decorativo. Já as
[A] impressão inédita de olhar-se para
pinturas renascentistas, com
efeito tridimensional, aumen-
uma parede pintada e parecer que se vê para
tam os espaços e dão vida à
além dela, como se ali tivesse sido aberta
personagens, objetos e paisa-
uma janela para um outro espaço, o espaço
gens retratados.
pictórico, era o principal efeito buscado pelos
novos artistas. A pintura tradicional, gótica
ou bizantina, praticamente se restringia ao
plano bidimensional das paredes, produzindo +ATIVIDADES
no máximo um efeito decorativo. O novo
estilo multiplicava o espaço dos interiores e, Produza uma sequência fo-
com a preocupação de dar às pessoas, aos tográfica com obras de pin-
objetos e paisagens retratados a aparência tores do Trecento, do Quat-
mais natural possível, parecia multiplicar a
trocento e do Cinquecento,
evidenciando mudanças ocor-
própria vida.
ridas no campo da pintura du-
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual. p. 32.
Fac-símile da capa do livro rante essas três fases.
a) O texto trata de uma inovação técnica introduzida O Renascimento, de Nicolau Sevcenko. Produção pessoal.
pelos artistas renascentistas. Qual técnica é essa?
A atividade pode contribuir
b) Em qual das imagens a seguir foi utilizada a técnica descrita no texto?
para o desenvolvimento das
I. II.
competências gerais 4 e 5.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

I. Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo II. Virgem com o menino, de Sandro


Socorro. Botticelli, c. 1465-1470.
7. a) O texto trata da perspectiva, técnica introduzida pelos pintores do Renascimento.
7. b) Imagem II. 99
Renascimentos de culturas re-
09:00 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 99 tê-la segura durante a Idade Média. Às vezes
02/08/22 08:48 montam a tempos muito mais an-
essa crença é abraçada sem rodeios, ou apenas tigos que a história registrada. [...]
poderosa está entranhada no próprio uso do
permanece implícita na terminologia que usa-
“Renascimento” capitalizado – são várias. Em Não examinamos em detalhes
mos, mas, de todo modo, desconsidera o fato as histórias do Japão ou da Pérsia,
primeiro lugar, ela assegura o monopólio eu- de que, no que se refere à Antiguidade grega, o ambas sociedades letradas [...],
ropeu sobre as realizações da Antiguidade. [...] norte da Europa como o conhecemos hoje mal mas na China, na Índia e no Islã
embora a Europa necessitasse reviver o conhe- existia – seu mundo era sobretudo mediterrâ- ocorreram períodos de florescên-
cimento antigo, [...] este sobreviveu em tradu- neo e estendia-se até o Oriente Médio e a Pérsia. cia similares e o termo Renasci-
ções árabes fora do continente. Mas a Europa Mas, além de herdeira de seus triunfos e candi- mento foi usado algumas vezes.
reivindicava a herança da Antiguidade grega e data a sua revitalização, a historiografia euro-
GOODY, Jack. Renascimentos:
romana, que, por essa maneira de ver, ela ha- peia criou o mundo antigo como seu ancestral um ou muitos? São Paulo: Unesp, 2011.
via emprestado aos outros, digamos, para man- único e dominante. [...] p. 283-288
99

081a102_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 99 03/09/22 11:23


ENCAMINHAMENTO
9. Estimular a percepção da
impressão de profundida-
de transmitida pelo uso da
8 Escreva no caderno as afirmações corretas. 8. Alternativas A, D e E.
perspectiva. Albrecht Dürer
a) Os artistas e cientistas do Renascimento se inspiravam nas obras dos gregos e romanos da
incorporou técnicas aprendi- Antiguidade.
das com os mestres italianos b) Os artistas renascentistas pintavam retratos, paisagens e cenas da mitologia grega e romana,
e produziu uma obra extraor- recusando-se a representar temas extraídos da Bíblia.
dinária, que chama a atenção c) O Renascimento restringiu-se às cidades italianas de Florença, Milão e Bolonha, por serem
até hoje pelo brilho e pela ori- governadas por famílias ricas e poderosas.
ginalidade. d) O estudo da matemática foi fundamental para a representação da perspectiva na pintura e
na arquitetura.
e) Os escritores renascentistas contaram com o aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg
TEXTO DE APOIO para a divulgação e a circulação de suas obras.

Renascimento 9 Observando a obra de Albrecht Dürer, é possível perceber três inovações introduzidas
e humanismo na pintura pelos renascentistas. Quais são elas? 9. Realismo na repre-
sentação da figura
[...] O Renascimento italiano
ÓLEO SOBRE PAINEL, 52 CM × 41 CM, MUSEU DO PRADO, MADRI, ESPANHA. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

humana; domínio da
não se inspira apenas na Anti- técnica da perspectiva;
guidade latina, mas também na iniciativa de os artistas
Antiguidade grega, trazida pelos produzirem imagens
intelectuais bizantinos que se de si mesmos.
refugiam no Ocidente depois da
tomada de Constantinopla pelos
turcos. Como na Grécia antiga,
o homem volta a ser o centro
do conhecimento e da cultura, Autorretrato
e também o modelo de beleza de Albrecht
artística. É o que expressa a im- Dürer, 1498.
portante estátua de Davi, escul-
pida por Michelangelo em Flo-
rença, o mais importante artista
do Renascimento. O espírito tor-
na-se crítico. A filologia – estudo
científico dos textos – corrige os
textos antigos que os escribas
recopiaram com erros. Um cer-
to espírito de tolerância apare-
ce. Esse modelo é dado por um
holandês, Erasmo de Roterdã
(1469-1536), que viveu, ensinou 10 O trecho a seguir é de um importante humanista do Renascimento chamado Pico
e escreveu na França, na Grã- della Mirandola.
-Bretanha, na Itália, nos Países Finalmente, pareceu-me ter compreendido por que razão é o homem o mais
Baixos e, finalmente, na cidade feliz de todos os seres animados e digno [...] de toda a admiração [...]. Coisa ina-
alemã de Babel (atualmente na creditável e maravilhosa. E como não? Já que precisamente por isso o homem é
Suíça). Ele tenta conciliar o es-
dito e considerado justamente um grande milagre e um ser animado, sem dúvida
pírito clássico com o espírito
evangélico. Erasmo personifica a digno de ser admirado.
cultura e o espírito universitário (MIRANDOLA, 2001 apud LIMA, 2017, p. 179).
da Europa: programas comuns
europeus de pesquisas e bolsas 100
para estudantes que vão estudar
em um país europeu diferente
do seu têm o seu nome. [...]
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 100 02/08/22 08:50 AV-
LE GOFF, Jacques.
Uma breve história da Europa.
Petrópolis: Vozes, 2008. p. 87.

100

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 100 31/08/2022 12:21


TEXTO DE APOIO
12. b) Não. Foi Galileu Galilei quem comprovou a teoria do heliocentrismo por meio de um telescópio desenvolvido por ele mesmo.
Arte e Natureza
12. c) Que o universo gira em torno do indivíduo; daí o egoísmo presente em suas atitudes.
10. a) A grandeza do homem, um ser mais feliz que todos os [...] Leonardo da Vinci registra
a) Qual é o assunto do texto?
outros seres animados e é digno de admiração. em um de seus escritos a opi-
b) A qual das características do Renascimento podemos relacionar esse trecho de Pico della nião de que o principal critério
Mirandola? Justifique. 10. b) Ao antropocentrismo, pois o autor coloca o homem no centro do Uni- a partir do qual deve ser ava-
verso e o descreve como um ser feliz, admirável, maravilhoso.
c) Para Pico della Mirandola, o homem é a medida de todas as coisas; e para você, o que é o liada uma Arte ou uma forma
ser humano? 10. c) Resposta pessoal. de expressão artística seria a
“completude” com que esta po-
11 Leia o texto com atenção. deria representar a Natureza.
Esta noção, de “completude”, é
"Há dois mil anos a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram
bastante importante para o pen-
em torno dela. O papa, os cardeais, os príncipes, os sábios, capitães, comerciantes, samento de Leonardo da Vinci
[...] e crianças de escola, todos achando que estão imóveis nessa bola de cristal. sobre a Arte, e é a partir dela que
Mas agora nós vamos sair para fora, Andrea, para uma grande viagem. Porque o o artista italiano coloca a Pintu-
tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo. ra acima de outras artes como a
Poesia ou a Escultura. Para ele, a
[...]
Pintura poderia – através da cap-
As cidades são estreitas e as cabeças também. [...] Mas agora, veja o que se diz: tação e expressão da Imagem –
se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se move, meu amigo". lograr tanto uma representação
BRECHT, Bertold. A Vida de Galileu. mais “direta” e “imediata” como
In: MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. uma maior “completude” na re-
História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 1993. p. 15.
presentação da Natureza e dos
a) O trecho “a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram em torno dela” diz aspectos efetivos da vida huma-
respeito a qual ideia? 11. a) Ao geocentrismo. na. Esta possibilidade do “ime-
diato” e da captação “completa”
b) O que o autor quis dizer com “porque o tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo”?
colocaria a Poesia, por exemplo,
c) Interprete o que o autor quis dizer com “se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se numa situação desvantajosa
move, meu amigo”? 11. b) Ele se refere à formulação da teoria do heliocen- em relação à Pintura (a palavra
11. c) Resposta pessoal. trismo, realizada por Nicolau Copérnico, e comprovada apresentaria neste sentido pos-
12 Observe a tirinha com atenção. por Galileu Galilei,segundo a qual o Sol é o centro do sibilidades mais limitadas do
sistema planetário.
que a imagem). Da mesma for-

ARMANDINHO, DE ALEXANDRE BECK


ma, o fato de a Escultura da épo-
ca não trabalhar com a dimen-
são da Cor faria dela uma forma
de expressão artística menos
completa que a Pintura.
Até aqui – no que se refere à
idéia de que a Arte imita a Na-
tureza, vemos um Leonardo da
Vinci que acompanha o padrão
de pensamento de grande parte
Tirinha do personagem Armandinho.
dos artistas da Itália Renascen-
tista. Ele chega a registrar em
a) Na cena 2, o heliocentrismo é citado. Quem formulou essa teoria? 12. a) Nicolau Copérnico.
um de seus escritos o conselho
b) Esse cientista conseguiu provar a teoria do heliocentrismo? Justifique. de que “o artista deve imitar
c) Na cena 3, Armandinho usa a palavra “umbigocentrismo”. O que ele quis dizer com isso? com exatidão a Natureza, e não
tentar melhorá-la – pois neste
d) Você concorda com a crítica feita pelo autor da tirinha? 12. d) Resposta pessoal. caso ele se tornaria amaneirado
e) Você já teve alguma atitude “umbigocêntrica”? Por quê? 12. e) Resposta pessoal. e antinatural”. [...]
BARROS, José D’Assunção. Arte é coisa
101 mental: reflexões sobre o pensamento de
Leonardo da Vinci sobre a arte. Revista
Poiésis, Niterói, n. 11, p. 71-82,
nov. 2008. p. 75.

08:50 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 101 12. a) Comentar com os alunos que02/08/22
Nicolau
08:55

Copérnico (1473-1543) foi um matemático e


10. c) A questão visa estimular o alunado a
físico nascido onde hoje é a Polônia.
refletir e opinar sobre a condição humana.
d) Aproveitar a atividade para estimular va-
11. a) Comentar com os alunos que o geo- lores como generosidade e empatia, muito
centrismo é a ideia de que a Terra ocupa o importantes para um relacionamento sau-
centro do Universo e o sol gira ao seu redor. dável entre os grupos humanos.
c) A frase pode ser interpretada como a Terra e) Espera-se que os alunos façam uma refle-
efetua dois movimentos; um ao redor de si xão sobre suas atitudes e ponderem se já to-
mesma e outro ao redor do Sol. maram atitudes egoístas.

101

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 101 31/08/2022 12:21


TEXTO DE APOIO
Maquiavel
Mais de quatro séculos nos se-
param da época em que viveu
Maquiavel. Muitos leram e co-
II. Integrando com Língua Portuguesa
mentaram sua obra, mas um nú-
mero consideravelmente maior Leia o texto com atenção.

RAFFAELLO BENCINI/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


de pessoas evoca seu nome ou
pelo menos os termos que aí Da crueldade e da piedade e se é melhor ser amado
têm sua origem. Maquiavélico que temido ou melhor ser temido que amado
e maquiavelismo são adjetivo e
substantivo que estão tanto no [...]
discurso erudito, no debate polí- Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido
tico, quanto na fala do dia a dia. ou o inverso? A resposta é que seria de desejar ser ambas
Seu uso extrapola o mundo da
as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais
política e habita sem nenhuma
cerimônia o universo das rela- seguro ser temido do que amado, quando se tem de
ções privadas. Em qualquer de desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se
suas acepções, porém, o maquia- pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que
velismo está associado à idéia de são ingratos, volúveis, simulados e dissimula-
perfídia, a um procedimento as-
tucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas dos, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar
expressões pejorativas sobrevive- e, enquanto lhes fizeres bem, pertencem
ram de certa forma incólumes no inteiramente a ti, te oferecem o sangue,
tempo e no espaço, apenas alas- o patrimônio, a vida e os filhos, como
trando-se da luta política para as
disse acima, desde que o perigo
desavenças do cotidiano. Assim,
a acusação que recai hoje sobre esteja distante; mas, quando pre-
Maquiavel não difere substan- cisas deles, revoltam-se.
cialmente daquela que lhe im- MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe.
pingiu Shakespeare ao chamá-lo São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 79-80.
de “The Murderous”, ou de sua
identificação com o diabo — “the
old Nick” — na era vitoriana, [...],
o “maquiavelismo”, ou melhor, o
“antimaquiavelismo” tornou-se Nicolau Maquiavel,
mais forte do que Maquiavel. de Santi di Tito, século XVI.
A contraface da versão expres- a) Maquiavel busca responder se é melhor ser
sa no “autor maldito”, respon- a) A qual pergunta Maquiavel busca responder? amado do que temido ou se é melhor ser temido
sabilizado por massacres e por do que amado.
b) Qual é a resposta dada por ele?
toda sorte de sordidez — não há c) Leia o trecho a seguir e responda. c) Respostas pessoais.
tirano que não tenha sido visto
“geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos,
como inspirado por Maquiavel
—, é sua reabilitação. Para a volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar”.
construção deste retrato acorre- I. Pesquise o que é um adjetivo.
ram filósofos da estatura de um II. Quais adjetivos são utilizados para a palavra “homens”?
Rousseau, de um Spinoza, de
III. Eles são positivos ou negativos?
um Hegel, para citarmos apenas
os primeiros. [...] Rousseau, por IV. Como o uso de adjetivos nos ajuda a compreender a visão do autor sobre os homens?
exemplo, opondo-se aos intér- d) Roda de conversa. Você prefere ser temido ou amado? d) Resposta pessoal.
pretes “superficiais ou corrom- b) Segundo ele, seria interessante ter as duas características, ou seja, ser, ao mesmo tempo, temido e
pidos” do autor florentino, que
o qualificaram como mestre da
102 amado. No entanto, como é difícil ter ambas, é preferível ser temido.

tirania e da perversidade, afir-


ma: “Maquiavel, fingindo dar li-
ções aos Príncipes, deu grandes ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C04-LA-G24.indd 102 seres humanos. E, portanto, ele mostra, por 02/08/22 08:57

lições ao povo”. meio do uso dos adjetivos, os defeitos, as fra-


Integrando com Língua Portuguesa. c)
SADEK, Maria Teresa. Nicolau Maquiavel: quezas e as falhas de caráter presentes neles.
o cidadão sem fortuna, o intelectual I. Adjetivo é a palavra utilizada para dar ca-
d) Espera-se que os estudantes explorem os
de virtú. In: WEFFORT, Francisco (org.). racterística a seres, objetos ou coisas.
Os Clássicos da Política. sentidos apresentados no texto, façam co-
São Paulo: Ática. 2006, p. 9. II. Os adjetivos são: ingratos, volúveis, simu-
nexões com o que foi aprendido neste ca-
ladores, tementes e ambiciosos.
pítulo e argumentem para defender o seu
III. Pode-se dizer os adjetivos utilizados são ponto de vista. Outra estratégia é promover
negativos. um debate: O grupo 1 será responsável pelo
IV. Espera-se que os estudantes percebam que argumento “prefiro ser temido”; o grupo
os adjetivos nos ajudam a compreender que o 2 pelo argumento “prefiro ser amado” e o
102 autor tem uma visão bastante negativa dos grupo 3 faz a mediação, avalia e comenta.

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C04-MP-G24.indd 102 31/08/2022 12:21


OBJETIVOS
• Estudar as motivações da Re-
CAPÍTULO forma.

5
• Compreender o processo de
REFORMA E ruptura desencadeado pelas
CONTRARREFORMA 95 teses de Martinho Lutero
e refletir sobre ele.
• Caracterizar a doutrina lute-
rana.
• Evidenciar a relação entre a
imprensa e a Reforma pro-
Observe o mapa. testante.
• Debater sobre a Reforma Ca-
tólica e a intolerância religio-
As primeiras comunidades luteranas no Brasil sa praticada pelos membros
MT da Inquisição.

ALLMAPS
GO
BA • Discutir sobre intolerância
BOLÍVIA MG religiosa no passado e no
MS
Petrópolis – 1845 ES
presente.

SP RJ Santa Izabel – 1847 Esses objetivos possibili-


PARAGUAI (atual Domingos Martins)
tam a compreensão dos pro-
Trópico
PR Nova Friburgo – 1824 de C apricó
r nio cessos socioculturais associa-
Rio de Janeiro – 1827
das à Reforma e oportunizam
Joinville – 1851
SC Blumenau – 1857
OCEANO a reflexão sobre diversidade e
ATLÂNTICO
Santa Izabel – 1861 intolerância religiosa. Assim,
(atualmente parte de Águas Mornas)
ARGENTINA
RS contribuímos para o desen-
Três Forquilhas – 1826 (atual Terra de Areia)
Campo Bom – 1827
volvimento das competências
São Leopoldo – 1824 e habilidade propostas.
URUGUAI

50°LO
50°
0 190
BNCC
Fonte: KLUG, João. Lutero e a reforma religiosa. São Paulo: FTD, 1998. p. 42. • Competências gerais: 1, 2, 3,
4, 5, 7, 8, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
1. Em quais estados se instalaram as primeiras comunidades luteranas no Brasil? 2, 3, 4 e 7.
1. Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. • Habilidade: EF07HI05.
2. Você sabe qual foi o povo que trouxe o luteranismo para o Brasil?
2. Os alemães trouxeram o luteranismo para o Brasil.
3. Na época em que os luteranos chegaram ao Brasil, a religião oficial do Estado brasileiro era a católica.
Como será que eles faziam para praticar sua religião? • Aprofundar o assunto com
3. Praticavam-na de forma restrita e particular.
a leitura do texto: SANTOS,
4. Para o luteranismo, a leitura da Bíblia tem uma especial importância na prática religiosa. Você sabe
por quê?
Lyndon de Araújo. Protes-
4. A leitura da Bíblia é importante para se ter contato direto com o seu conteúdo, sem intermediários. tantismo e modernidade: os
usos e os sentidos da expe-
103 riência histórica no Brasil e
na América Latina. Projeto
História, São Paulo, n. 37,
ENCAMINHAMENTO
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 103 1828, em Campo Bom (RS), por iniciativa
25/07/22 11:20 p. 179-194, dez. 2008.
do pastor Christian Klingelhöffer. Ao lado • Informar que a primeira comu-
• Explicar que os alemães luteranos davam
da escola, ergueu-se também o cemitério, nidade luterana no Brasil foi a
grande valor à escola e aos professores, já
já que o Império brasileiro (católico) não de Nova Friburgo, em 1824.
que a leitura da Bíblia e do Livro de Cantos
e Catecismo de Lutero são fundamentais permitia o sepultamento de luteranos nos • Compartilhar com os estu-
para a religião deles; daí também a neces- cemitérios oficiais. dantes que, no mesmo ano,
sidade de todos os fiéis serem alfabetiza- • Explorar o mapa da página, destacando as outro grupo de alemães lu-
dos. Ao chegar ao Brasil, os alemães logo regiões nas quais se instalaram os imigran- teranos fundou o que viria
construíram uma escola. A primeira igreja/ tes alemães responsáveis pela introdução a ser a cidade de São Leopol-
escola luterana no Brasil foi construída em do luteranismo no Brasil. do, no Rio Grande do Sul.
103

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 103 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que, durante o proces-
so de formação das Monar-
quias nacionais europeias, A Reforma foi uma das mais importantes divisões do cristianismo. A Reforma e o
o poder do papa – líder de Renascimento ocorreram ao mesmo tempo e expressam uma grande renovação de ideias
todos os cristãos na Europa e atitudes.
– tornou-se uma ameaça ao
poder dos reis em suas res-
pectivas nações. Motivos da Reforma
• Comentar que os reis enten-
diam que o fato de o papa Na Idade Média, a Igreja Católica era rica e poderosa. Os bispos possuíam feudos
cobrar vários impostos em enormes. O papa celebrava acordos políticos, interferia na escolha dos reis, era chamado a
toda a Europa e carrear o di- coroá-los etc. Mas havia um grande número de pessoas, grupos sociais e líderes políticos
nheiro para Roma empobre- e religiosos descontentes com a Igreja e com o imenso poder do papa. Os motivos dessa
cia seus respectivos reinos. A insatisfação eram:
burguesia em ascensão tam- a) O poder universal do papa.. No século XV, muitos reis passaram a ver o papa (líder de
bém estava insatisfeita com toda a cristandade europeia) como um obstáculo ao fortalecimento do poder real. E se
a doutrina oficial da Igreja opunham também à saída de dinheiro de seus reinos e principados para Roma, a sede
Católica, que se opunha ao do papado. Esse dinheiro saía em razão das taxas e tributos pagos à Igreja pelos fiéis.
empréstimo de dinheiro a
juros (usura) e ao livre esta- b) Corrupção e despreparo do clero.. Muitos membros da Igreja tinham comprado o
belecimento dos preços de cargo de bispo ou cardeal. Vários papas chegavam à chefia da Igreja por pertencerem
mercadorias. a famílias poderosas. Os padres tinham geralmente pouca instrução e preparo religioso
• Informar que o clero era para orientar os fiéis. Relíquia: parte do
acusado também de lucrar c) A venda de indulgências e falsas relíquias
relíquias.. Bispos e padres corpo de um santo,
com o comércio de artigos praticavam o comércio de artigos religiosos. Vendiam um objeto ou de qualquer objeto
que a ele pertenceu.
religiosos e de não respeitar qualquer dizendo que era um pedaço de osso do jumento
o celibato (muitos padres montado por Jesus e várias outras falsas
GRANGER/EASYPIX BRASIL

tinham filhos). Além disso, relíquias. E mais: bispos e padres vendiam


bispos e padres eram vistos também indulgências,, isto é, o perdão
vendendo relíquias, como dos pecados, em troca de uma doação em
pedaços de madeira dizen- dinheiro à Igreja.
do que pertenciam à cruz de Essas práticas abusivas de membros da
Cristo, por exemplo.
Igreja provocaram uma grande insatisfação
• Trabalhar o significado de
entre cristãos de diferentes condições sociais
relíquias. e contribuíram para o surgimento de ideias
Enquanto o Renascimento e movimentos reformadores.
se disseminava da Itália para
outros países da Europa, um
movimento religioso e políti- Cena de um panfleto de Martinho Lutero.
co aflorou nas terras da atual Xilogravura, c. 1525. A cena representa
Alemanha. A nova atitude a venda de indulgências em uma igreja.
diante do conhecimento e do
mundo, que inspirou artistas e
cientistas, contribuiu também
para abalar as “verdades” de- 104
fendidas pela Igreja e criar ra-
chaduras no seu edifício.
Para melhor compreen- +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 104 Professor, a intenção aqui é estimular os 02/08/22 09:43 AV-

der a Reforma protestante, alunos a produzirem um texto coeso, coe-


é preciso considerar que suas Produza um texto sobre as razões da Re- rente e historicamente correto, desenvol-
motivações religiosas apare- forma, seguindo o roteiro: vendo as competências gerais 1 e 2 e a com-
cem entrelaçadas às de ordem – a riqueza e o poder da Igreja na época; petência específica 3.
política, social, econômica e – o luxo do alto clero e a falta de preparo
cultural. dos padres;
– o comércio de artigos religiosos;
– a venda de indulgências.
Resposta: produção pessoal.

104

103a121_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 104 03/09/22 09:30


TEXTO DE APOIO
Jan Hus
Ao longo de sua vida, conquis-
Os primeiros reformadores tou muitos amigos. Da corte real,
era confessor da rainha Sofia e
amigo do rei Venceslau IV [...].
Entre os maiores críticos da Igreja naquela época estavam os reformadores John Em sua capela, chegavam nobres,
Wycliff e Jan Huss. burgueses, artesãos, mestres, es-
Wycliff (1320-1384) se formou em teolo- tudantes e servos. E lá, já conhe-
gia pela Universidade de Oxford (na Inglaterra) cido como Jan Hus, propunha em
seus sermões uma vida de reti-
e traduziu a Bíblia para o inglês, a língua de
dão, a compreensão das escri-

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
seu povo. Até então, tanto a Bíblia quanto as turas e a coerência do clero. Na
missas eram em latim. Afirmando que havia Universidade, tornou-se líder de
um grande contraste entre o que a Igreja era um movimento nacionalista. [...]
e o que deveria ser, ele criticava, sobretudo, o Mas o aspecto educativo de
acúmulo de riquezas por parte dos bispos e sua vida foi pouco explorado.
Parte importante da sua pessoa,
papas e a falta de instru- Herege: aquele que
portanto, foi negligenciada. [...]
ção dos sacerdotes. Por contraria a doutrina o principal é que Hus pode ser
isso, Wycliff foi levado a oficial da Igreja. visto como um sujeito que re-
um tribunal religioso, que presenta o educador do século
o acusou de ser herege
herege.. XV. Não o grande educador mas
um educador do período, como
Jan Huss (1369-1415) era ensinam Verger e Le Goff. [...]
professor da Universidade de
Em primeiro lugar, ele está
Praga (na atual República numa posição ambígua entre
Tcheca), teólogo e bri- o antigo e o moderno. Em seu
lhante orador; ele se caso, isso se exprime pelo uso
tornou conhecido por de um pensamento escolástico,
que remete aos séculos anterio-
fazer seus sermões res, e que vemos em suas cartas
no idioma tcheco, escritas em latim para o arcebis-
língua de seu povo e po Zbynek. Mas, ao mesmo tem-
para a qual traduziu po, ele valoriza o uso do tcheco
em suas cartas ao povo, apoian-
a Bíblia, que estava
do a proposta de pregação no
em latim. Por seus vernáculo que começa a apa-
ataques à corrupção e recer no século XIV, mas só vai
ao luxo do alto clero, Jan se consolidar nos séculos XVI e
Huss foi acusado de ser XVII. Isso é típico de um século
que foi tradicionalmente marca-
herege e queimado vivo,
do como o de transição entre a
em 1415. Ainda hoje ele Idade Média e a Idade Moderna.
é visto por muitos tchecos Estudar Hus é portanto, estudar
como um mártir. um pouco de ambas.
[...] embora sua prática educa-
tiva esteja nos espaços institu-
Retrato de Jan Huss. cionalizados para o ensino, Uni-
Autor desconhecido, século XIX. versidade e Igreja, Hus utilizou a
escrita de cartas para educar.
105 [...] Hus foi um educador que
reiterou na correspondência e
na vida, dedicação e firmeza
moral. [...] Nisso, ele é um re-
09:43 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 105 02/08/22 09:43
presentante de um educador de
• Trabalhar o conceito de herege. qualquer século.
• Comentar que muitos cristãos, percebendo que parte do clero estava afastada dos ensina- AGUIAR, Thiago Borges de. Jan Hus:
as cartas de um educador e seu legado
mentos de Cristo, tentaram reformar a Igreja sem desligar-se dela e acabaram por originar imortal. Tese (Doutorado em Educação)
novas ordens religiosas, como a dos franciscanos e a das clarissas. Outros movimentos plei- – Faculdade de Educação, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2010. p. 16, 21,
tearam mudanças religiosas e sociais radicais, tendo sido chamados, por isso, de heréticos. 274-275.
• Destacar que foram considerados heréticos os movimentos liderados por John Wycliff (1320-
1384), na Inglaterra, e por John Huss (1369-1415), em Praga (na atual República Tcheca).

105

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 105 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que a Alemanha
de Martinho Lutero era uma
região predominantemente Martinho Lutero
feudal e tinha um clero rico
e poderoso. No início do século XVI, na região onde hoje é a Alemanha, um monge de nome
• Destacar que, politicamen- Martinho Lutero revoltou-se contra a venda de indulgências e ousou discordar da doutrina
te, a Alemanha era formada católica; com isso, deu início ao movimento conhecido como Reforma protestante..
por uma série de condados, Martinho Lutero nasceu em 1483, na cidade alemã
ducados, principados e ci- de Eisleben, e recebeu de seus pais uma educação
dades independentes, que bastante rígida. Com 18 anos, para alegria de seu
reconheciam apenas uma pai, que queria vê-lo advogado, Lutero entrou
lealdade limitada ao impera- na Universidade de Erfurt para estudar Direito.
dor do Sacro Império Roma- No entanto, ele se interessava mais pelo
no-Germânico. estudo da Bíblia e vivia preocupado com a
• Explicar que, na Alemanha, salvação eterna. Por isso, trocou o curso
não existia um poder central de Direito pelo de Teologia e ingressou
com força para conter abu- num convento agostiniano. Estudioso
sos. Isso ajuda a explicar por e persistente, aos 29 anos Lutero
que algumas autoridades da tornou-se doutor em Teologia.
Igreja praticavam o comér- No convento, ele fazia tudo o
cio de artigos religiosos de que julgava necessário à salvação
forma mais ostensiva.
da alma: jejuava, orava e lia a
• Ressaltar que foi nessa Ale- Bíblia por noites inteiras. Apesar
manha dividida e econo- disso, continuava a se sentir
micamente explorada por um pecador. Lutero só superou
representantes do clero que sua crise pessoal e espiritual ao
Lutero começou a pregar romper com a Igreja e propor
suas ideias.
uma nova doutrina.

Imagens em movimento
O documentário analisa a
Reforma protestante e o im- Detalhe do vitral da capela da cidade
de Coburgo (Alemanha), século XIX.
pacto desse movimento para a
Lutero defendia a necessidade de
história do Ocidente. todos aprenderem a ler para poderem
conhecer a Bíblia, fato que contribuiu
• A REFORMA que mudou
DAVE BARTRUFF/CORBIS/GETTY IMAGES

para a alfabetização de milhares de


o mundo. 2017. Vídeo alemães.
(58min32s). Públicado pelo
canal Revista Novo Tempo.
Disponível em: https://you-
tu.be/GoKCZkJOwsU. Aces-
so em: 12 ago. 2022.
106

TEXTO DE APOIO D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 106 cusa, os penitentes voltaram ao monge Tetzel e contaram-lhe 25/07/22 11:20 AV-

como aquele monge agostinho lhes tinha recusado a absolvição


Tetzel e Lutero entram em conflito apesar das cartas de indulgências... Ouvindo tal, ele (Tetzel) en-
trou numa violenta cólera, lançou do seu púlpito invectivas e
Várias pessoas se apresentaram, em Wittenberg, ao doutor maldições e brandiu a ameaça de morte pelos inquisidores que,
Martinho Lutero, munidas de cartas de indulgências. Seguras do nessa época, eram os dominicanos. A fim de inspirar o terror, fez
seu perdão, confessaram-se e pediram a absolvição. Mas como acender, várias vezes na semana, fogueiras na praça do merca-
elas confessavam pecados graves e não manifestavam intenção do, inculcando assim que detinha, do papa, o poder de queimar
de corrigir-se deles... o doutor Lutero não quis absolvê-los... Os os heréticos que quisessem opor-se às santas indulgências con-
penitentes alegaram então a sua carta do papa bem como as cedidas pelo chefe da Igreja.
graças e indulgências que tinham obtido do monge Tetzel. Mas MYCONIUS, Frederico. História da Reforma. In: FREITAS, Gustavo de.
o doutor Lutero não cedeu... E como ele se mantinha na sua re- 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1976. v. 2, p. 164.
106

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 106 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que, visando juntar
recursos para construir a Basí-
A reforma de Lutero lica de São Pedro, em Roma,
o papa Leão X incumbiu os
Em 1517, o papa prometeu que todo aquele que desse dinheiro para construir a nova dominicanos de vender indul-
Basílica de São Pedro, em Roma, receberia, em troca, uma indulgência plena,, isto é, o gências. Esse foi o estopim da
perdão de todos os pecados. Indignado, Martinho Lutero pregou na porta de sua paróquia Reforma protestante.
as 95 teses,, um documento contendo duras críticas à Igreja. Leia a seguir algumas teses • Explicar que, na Alemanha,
de Lutero: o frade dominicano João
Tese 24.. [...] a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa Tetzel prometia que todo
magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena. aquele que confessasse seus
Tese 32.. Serão condenados [...], juntamente com seus mestres, aqueles que se pecados e desse dinheiro à
julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
Igreja romana receberia uma
indulgência plena, isto é, o
Tese 86.. Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos
perdão de todos os pecados.
[romanos ricos], não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de
• Destacar que, reagindo à
São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
venda de indulgências, Mar-
SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise.
São Paulo: Atual, 1993. (História geral em documentos, p. 36-37).
tinho Lutero afixou, na por-
ta da Igreja de Wittenberg,
ALBUM/FOTOARENA
95 teses contendo suas prin-
Dialogando cipais críticas à Igreja.
O que Lutero • Comentar que uma das fon-
critica na tes de inspiração de Marti-
Tese 32? nho Lutero foram as críticas
Critica a venda e os dirigidas à Igreja por huma-
vendedores de indul- nistas como Erasmo de Ro-
gências, além daqueles
que as compram. terdã. Não é exagero dizer,
portanto, que Lutero levou
tais críticas às últimas conse-
quências.
• Informar que as 95 teses
foram traduzidas do latim
Martinho Lutero
para o alemão e, em pouco
prega no interior tempo, tiveram ampla acei-
de uma igreja. tação popular.
Gravura de 1588. • Aprofundar o assunto aces-
sando o podcast RÁDIO USP:
há 500 anos, Martinho Lutero
criava o protestantismo. Locu-
ção de: Pedro Dallari. São
Paulo: Jornal da USP, 8 nov.
2017. Podcast. Disponível
em: https://jornal.usp.br/
atualidades/ha-500-anos-
martinho-lutero-criava-o-
protestantismo/. Acesso em:
107 12 ago. 2022.

11:20 AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 107 02/08/22 09:44

TEXTO DE APOIO transição para a Idade Moderna, entre eles o filósofo holandês. O
pensamento nascente defendia a liberação da criatividade e da
Erasmo de Roterdã – O porta-voz do humanismo vontade do ser humano, em oposição ao pensamento escolástico,
segundo o qual todas as questões terrenas deviam subordinar-se
Embora fosse clérigo e profundamente cristão, o filósofo holan-
à religião. [...]
dês Erasmo de Roterdã (1469-1536) passou para a história por se
opor ao domínio da Igreja sobre a educação, a cultura e a ciên- [...] o filósofo holandês combatia a ideia de predestinação de Lu-
cia. A influência religiosa vigorou praticamente sem contesta- tero por acreditar firmemente no livre-arbítrio dos seres humanos
ção durante toda a Idade Média no Ocidente e ainda no tempo – todos são capazes de distinguir o bem e o mal, segundo ele. [...]
de Erasmo era preciso ousadia para ir contra ela. De qualquer FERRARI, Márcio. Erasmo de Roterdã: o porta-voz do humanismo. Nova Escola.
modo, ousadia individual fazia parte das atitudes que um núme- São Paulo, 6 out. 2008. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1835/
ro crescente de intelectuais começava a enaltecer no período de erasmo-de-roterda-o-porta-voz-do-humanismo. Acesso em: 12 ago. 2022.
107

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 107 01/09/2022 17:14


+ATIVIDADES
Em grupo. Como vocês
veem a adoção de práticas
que visam o acúmulo de bens Por insistir na defesa de suas ideias, Lutero foi expulso da Igreja pelo papa.
materiais por igrejas nos tem- O imperador católico Carlos V, que governava a região da atual Alemanha, também o
pos atuais? considerou herege e mandou queimar seus escritos. Perseguido, Lutero se refugiou no
a) Como estas práticas afetam castelo de um nobre que apoiava suas ideias. Ali, ele traduziu a Bíblia para o alemão,
o indivíduo? E a sociedade, possibilitando que ela pudesse ser lida por um número muito maior de pessoas.
como é afetada por elas? Vários príncipes da região onde hoje é a Alemanha se converteram ao luteranismo e
b) Elaborem um pequeno texto se apropriaram das terras da Igreja Católica em seus principados; com isso, aumentaram
para expor o posicionamento seu poder e sua riqueza.
do grupo.
Resposta: produção pessoal.

FINE ART PHOTOGRAPHIC LIBRARY/CORBIS/GETTY IMAGES


Professor, a proposta é que
os alunos pratiquem a reflexão,
a análise crítica e a argumenta-
ção, considerando a construção
de uma sociedade justa e de-
mocrática, colaborando para o
desenvolvimento das compe-
tências gerais 2, 7 e 9 e da com-
petência específica 4.

TEXTO DE APOIO
Lutero
Lutero traduzindo
Em função de suas ideias sobre a Bíblia para
a salvação, Lutero começou a en- o alemão no
trar em choque com a direção da castelo de
Igreja Católica no tocante às in- Wartburg.
dulgências. [...] Eugene Siberdt,
1898.
No início do século XVI, na Ale-
manha e em outros países da Eu-
ropa, era comum a substituição
da penitência por pagamento em
dinheiro. Lutero indignara-se com
a venda de indulgências como
forma de arrecadar fundos para
a Igreja. Sua indignação voltou-se
contra o frade dominicano João
Tetzel, que defendia veemente-
mente a venda de indulgências
e afirmava que elas também ser-
viam para diminuir o tempo das
penas a serem cumpridas no Pur-
gatório. [...]
Para deixar claras suas divergên-
cias com relação a esse comércio,
Lutero escreveu as 95 teses, afi- 108
xadas em 31 de outubro de 1517
na porta da igreja do castelo de
Wittenberg. O dia seguinte [...] era
[...] feriado católico; a maioria da deAV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd
suas teses e, nesses escritos, 108 ainda reconheceu são da igreja) caso não se retratasse. Como ele 02/08/22 09:44 D2-H

população iria à missa e depararia a autoridade do papa como chefe da Igreja. [...] não o fez, em junho de 1520, foi publicada a bula
com o texto na porta da igreja. Era Ainda assim, Lutero foi denunciado em Roma papal Exsurge Domine,
Domine, que classificava muitas das
uma denúncia aberta para quem sob a acusação de questionamento à autoridade afirmações de Lutero como “heréticas, escanda-
soubesse latim. Logo depois, essas papal e da Igreja. Devemos levar em considera- losas, falsas, ofensivas e contrárias à doutrina
teses foram traduzidas para o ale- ção que, naquela época, questionar a ordem es- católica”. Lutero deveria renunciar a seus ensi-
mão, espalhando-se, em poucas tabelecida gerava uma repressão implacável. Essa namentos num prazo de 60 dias após a publica-
semanas, pela Alemanha e por ordem incluía tantos valores religiosos (Igreja) ção da bula. Em vez disso, ele queimou a bula no
outros países da Europa. quanto temporais (Estado). [...] Natal do mesmo ano e foi excomungado em 3 de
Até esse momento, Lutero não Em função de tudo o que Lutero falou e escre- janeiro de 1521.
pretendia romper com o papa. Em veu, em fevereiro de 1520 foi aberto um processo KLUG, João. Lutero e a reforma religiosa.
1518, ele escreveu as Explicações contra ele, ameaçando-o de excomunhão (expul- São Paulo: FTD, 1998. p. 12-14.
108

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 108 01/09/2022 17:14


TEXTO DE APOIO
O luteranismo e o livro
impresso
A Igreja e a doutrina de Lutero Entre 1517 e 1520, as trinta pu-
Doutrina: conjunto blicações de Lutero venderam
Lutero fundou uma Igreja e criou para ela uma nova doutrina de princípios de uma com toda a probabilidade mais
baseada nos pontos apresentados a seguir. religião ou filosofia.
de 300 mil exemplares [...]. Dife-
rentemente do que ocorrera com
as heresias de Wycliffe [...], o lu-
Doutrina luterana teranismo foi, desde o início, uma
1. A justificação pela fé: é a fé em Deus que salva uma pessoa, e não as boas obras que criação do livro impresso. [...] Pela
primeira vez na história da hu-
ela praticou.
manidade, um grande público
2. Sacerdócio universal: todo cristão é capaz de interpretar a Bíblia por si mesmo. ledor julgava a validade de ideias
3. A Bíblia, por meio da qual Deus se revela, é a única fonte da verdade. revolucionárias por meio de um
veículo de massa que usava tanto
4. O batismo e a eucaristia são os dois únicos sacramentos. a língua vernácula como as artes
5. O culto aos santos e às imagens não tem fundamento. do jornalista e do cartunista.

6. Qualquer membro da Igreja pode se casar. […] o impacto da imprensa,


que é frequentemente minimi-
Diante do avanço do luteranismo, o imperador Carlos V proibiu o culto luterano nos zado nas discussões sobre a Re-
principados católicos. Os príncipes luteranos protestaram contra essa proibição; daí o termo nascença, tem menos chances
protestante para nomear os seguidores das igrejas surgidas a partir da Reforma. As ideias de passar despercebido quando
de Lutero se espalharam com velocidade. O aperfeiçoamento da imprensa contribuiu muito se escuta a Reforma. Neste últi-
mo campo, os historiadores têm
para isso.
diante de si um movimento que,
ALICE-D/SHUTTERSTOCK.COM
desde o início, foi moldado (e
também, em grande parte, pro-
vocado) pelos novos poderes da
imprensa. […] Ele foi também o
primeiro movimento [...] a utili-
zar os novos prelos como meio
de propaganda e agitação aber-
tas contra uma instituição esta-
belecida. Valendo-se da panfle-
tagem para a obtenção de apoio
popular e dirigindo-se a um
público leitor que conhecia mal
o latim, os reformadores trans-
formaram-se, sem saber, em
pioneiros […]. Eles também dei-
xaram “impressões indeléveis”
nas características formais dos
cartazes e das caricaturas.
EISENSTEIN, Elizabeth L. A revolução da
cultura impressa: os primórdios da Europa
Moderna. São Paulo: Ática, 1998.
(Coleção Múltiplas Escritas, p. 167-169).

Castelo de Wartburg, próximo a Eisenach (Alemanha), em fotografia de 2020. Foi nesse local em que Lutero
traduziu a Bíblia para o Alemão.

109

09:44 ENCAMINHAMENTO
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 109 25/07/22 11:20
• Informar que, diante do avanço do luteranismo, o impera-
• Comentar que muitos príncipes alemães aderiram à Refor- dor católico Carlos V reuniu a Dieta de Spira (1529), visando
ma e confiscaram as terras da Igreja em seus principados. conter a expansão da nova doutrina. O imperador proibiu o
Com o apoio desses príncipes, Lutero fundou uma Igreja culto protestante nos principados católicos e exigiu que os
para a qual elaborou uma nova doutrina. principados luteranos permitissem aos católicos a celebra-
• Destacar que alguns aspectos do luteranismo, como a leitu- ção da missa.
ra individual do Novo Testamento, no qual Cristo mostra seu • Ressaltar que os príncipes luteranos protestaram; daí o
comprometimento com os pobres e oprimidos, atraí­ram as nome de protestantes dado aos adeptos das igrejas surgidas
massas camponesas e as motivaram a se revoltar. a partir da Reforma.

109

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 109 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, conforme o
luteranismo foi se espalhan-
do e ganhando adeptos, fo-
ram surgindo novas visões PARA SABER MAIS
dentro dele. Uma dessas vi-
sões é a do reformador fran- A impressão de livros e a Reforma
cês João Calvino (1509-1564).
• Ressaltar que, para Calvino, A impressão de livros é uma invenção chinesa. Na década de 1440, na Europa, o
levar uma vida puritana era alemão Johannes Gutenberg aperfeiçoou a imprensa, o que tornou possível utilizar uma
indício de salvação; o indi- mesma matriz para imprimir muitos exemplares. Em consequência disso, o preço do livro
víduo que assim agisse dava baixou e o número de leitores aumentou muito.
mostras de ser um eleito de O primeiro livro impresso na oficina de Gutenberg foi a Bíblia.
Deus.
Segundo o sociólogo Max
GRANGER/FOTOARENA
A gravura, do século XV, representa
Weber, ao valorizar o enrique- um trabalhador usando a prensa
cimento por meio do traba- para imprimir textos e Gutenberg
lho sistemático, de uma vida examinando uma prova impressa.
regrada e de moderação nos
gastos, o calvinismo legitimava Dialogando Resposta pessoal.
o estilo de vida metódico e ra- Hoje, muitos dizem que o livro em papel
cional da burguesia nascente, será substituído pelo livro digital, tido
favorecendo assim o desenvol- por alguns como mais econômico e mais
vimento do capitalismo. durável. Os defensores do livro em papel,
por sua vez, afirmam que ele é mais
Dialogando. O debate tem confortável, menos cansativo e que, por
mobilizado educadores, auto- isso, jamais será substituído pelo e-book.
res e empresários, e estimula E você, o que pensa sobre o assunto?
os alunos a refletirem sobre o
impacto das tecnologias sobre as
novas maneiras de ler, escrever, João Calvino
aprender e ensinar. GODONG/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

Da região hoje conhecida


• Tema Contemporâneo Trans-
versal: a atividade pode contri- como Alemanha, o protestan-
buir para o desenvolvimento tismo espalhou-se rapidamente
do tema ciência e tecnologia. para outros países com a ajuda de
importantes reformadores, como
João Calvino (1509-1564).

TEXTO DE APOIO
A doutrina da predestinação
Enquanto o credo luterano atraía Nos templos calvinistas, como este que você
adeptos por toda a Europa e pro- vê na imagem, o púlpito e o pastor ocupam
vocava a irreconciliável divisão da posição de destaque. É que, para Calvino,
cristandade em igrejas rivais, no o culto devia resumir-se a “quatro paredes
próprio território do protestantis- e um sermão”. Fotografia de 2010.
mo surgiram correntes divergen-
tes, entre as quais destacou-se a 110
calvinista.
Calvino nasceu em Noyon, Fran-
ça, no ano de 1509. Pertenceu,
Calvino fixou residência em Genebra em 1536.
D2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 110
sua Majestade determinou o que deseja fazer 25/07/22 11:20 AV-
portanto, à geração seguinte à
Nesse mesmo ano, alguns meses antes de se com cada um dos homens”.
de Lutero. […]
instalar na cidade, publicou Instituição da Reli- Na sequência do texto, esclarece que todos os
Sua educação transcorreu […] gião Cristã,
Cristã, onde se acha exposta a sua teologia. homens são criados “em uma mesma condição
em um ambiente austero e or-
A doutrina da predestinação é a marca distintiva e estado”; no entanto, “o eterno decreto de Deus”
todoxo, marcado por uma pro-
do pensamento religioso de Calvino. Também é o estabelece que alguns homens conhecerão a
funda oposição ao luteranismo.
A sua formação superior seguiu ponto em que as suas ideias mais se distanciam bem-aventurança eterna, enquanto que outros
as mesmas diretrizes: estudou tanto da doutrina católica das boas obras como da sofrerão a condenação eterna. Portanto, “de acordo
Latim e Teologia com professores doutrina da justificação pela fé do luteranismo. com a finalidade com que cada um é criado, di-
reconhecidamente adeptos da es- Nas páginas da Instituição da Religião Cristã zemos que é predestinado ou à vida ou à morte”.
colástica. Completou seus estudos define nestes termos a noção de predestinação: LUIZETTO, Flávio. Reformas religiosas. São Paulo: Contexto,
formando-se em Direito. [...] trata-se do “eterno decreto de Deus com o qual 1989. (Repensando a história, p. 44-46).
110

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 110 01/09/2022 17:14


TEXTO DE APOIO
[...] não era intenção de Calvino
se estabelecer em Genebra, e, em
Calvino também defendia a salvação pela fé,, refutava o culto às imagens e admitia razão de sua dedicação aos estu-
apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Mas, diferentemente de Lutero, Calvino dos e de sua produção literária,
também não pretendia assumir
acreditava na predestinação absoluta;; ou seja, que as pessoas nada podiam fazer para a liderança do movimento da Re-
mudar seu destino. Para ele, alguns são predestinados por Deus à vida eterna, e outros, forma Protestante ali. [...]
à morte eterna. Em novembro de 1536, o erudito
Por divulgar suas ideias, Calvino foi acusado de ser herege pelos católicos franceses. francês é efetivado como líder re-
formador em Genebra, na conjun-
Então deixou a França e refugiou-se em Genebra, na Suíça, onde encontrou pessoas tura de transformações na Europa
abertas às suas ideias. Em 1541, tornou-se a principal figura do governo de Genebra, onde que, nas duas décadas que antece-
exigiu que seus habitantes levassem uma vida puritana, isto é, acordassem cedo, dor- deram sua chegada àquela cidade,
missem cedo e se dedicassem à oração e ao trabalho. Além disso, proibiu festas, teatro, absorvia o impacto da mensagem
de Lutero. Centrado na doutrina da
jogos de azar e bebidas alcoólicas. Quem desobedecesse pagava multa, era expulso da justificação pela fé, o ensinamento
igreja ou punido com a morte. luterano [...] vinha se consolidan-
do como “enunciado libertador
a) Sim, a imprensa tem noticiado vários casos de desrespeito entre adeptos de diferentes religiões em nosso país. das práticas pastorais meritórias.
Expansão do calvinismo Ressignificou conceitos teológicos.
Apontou para uma nova forma de
Dialogando
A valorização do estilo de vida puritano contribuiu para a vida cristã tendo a salvação como
rápida difusão do calvinismo pela Europa: na Escócia, os calvinistas a A intolerância seu princípio, não seu objetivo. For-
religiosa continua matou, desta forma, o fundamento
foram chamados de presbiterianos;; na Inglaterra, de puritanos;; de um modo de vida: o modo justi-
a causar conflitos
e na França, de huguenotes.. ficado de viver.” [...]
no Brasil de hoje?
Na França, as guerras entre protestantes e católicos registra- Lutero enfatizava, portanto, o
b O que você pensa tema da “justificação pela fé”, isto
ram um episódio de muita violência; na noite de 24 de agosto de sobre uma pessoa é, a possibilidade de o homem ser
1572, dia de São Bartolomeu, os católicos, apoiados pelo governo, desrespeitar a declarado justo perante Deus mes-
mataram milhares de huguenotes nas ruas de Paris. religião de outra? mo diante da realidade do pecado.
b) Resposta pessoal. Por sua interpretação bíblica, Lute-
ro entendeu que a cruz, com o der-
SCIENCE SOURCE/FOTOARENA

ramamento do sangue e a morte,


é a garantia da libertação daquele
que mediante a fé em Cristo se
livra da servidão do pecado. Cal-
vino, de outro modo, reforçava a
doutrina que trata da união com
Cristo, o relacionamento entre Je-
sus e os cristãos. O próprio Calvi-
no explica como “essa conjunção
da cabeça e dos membros, essa
morada de Cristo em nosso cora-
ção, enfim, essa união mística de
Cristo conosco é por nós estatuída
como da mais alta importância, de
modo que, feito nosso, Cristo nos
Massacre do Dia faça participantes dos dons de que
de São Bartolomeu foi dotado.” [...]
em Paris. Escola Os firmes posicionamentos do
Alemã, século XVI. reformador [...] tornam claras suas
exigências ao povo de Genebra de
111 “um rigor moral […], uma conduta
baseada em valores bíblicos […] [na]
tentativa de oferecer uma proposta
política viável para aqueles dias tão
11:20 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 111 Dica de áudio 02/08/22 09:48 conturbados. Em última instância,
Calvino sabe que um conjunto de
Dialogando. b) O objetivo aqui é dar con- O episódio explica o contexto em que homens maus [separados de Deus
tinuidade à reflexão sobre intolerância re- ocorreu o massacre da noite de São Bartolo- pelo pecado original] precisa de uma
ligiosa e estimular atitudes de indignação meu e as consequências dos atentados. orientação normativa clara, precisa
diante desse comportamento. de um Estado incisivo e coercitivo
• HOJE na História: 24 de agosto de 1572 – que tente minimizar o mal o quanto
Massacre da noite de São Bartolomeu ater- puder.” [...].
roriza a França. Locução de: Camila Araú- ROCHA, Luis Roberto Martins. Quinhentos
jo. São Paulo: Opera Mundi, ago. 2021. anos da Reforma Protestante: a cosmovisão
cristã calvinista e a bioética. Revista
Podcast. Disponível em: https://youtu.be/ Bioética, Brasília, DF, v. 26, n. 3,
YMMXyHgpaXQ. Acesso em: 3 jun. 2022. p. 378-386, 2018. p. 381-382.
111

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 111 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que, através do Ato de
Supremacia de 1534, o rei da
Inglaterra tornava-se o che-
fe supremo da nova Igreja
A Reforma na Inglaterra
ÓLEO SOBRE TELA, 239 × 134,5 CM, NATIONAL MUSEUMS

nacional, batizada então de LIVERPOOL. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Na Inglaterra, o movimento reformista foi conduzido pelo


Igreja Anglicana, acumulan-
rei Henrique VIII. Ele vinha querendo se livrar da interferên-
do, ao mesmo tempo, poder
cia do papa e dos impostos cobrados pela Igreja Católica
político e religioso.
no seu país. Então, pediu ao papa que anulasse seu
• Explorar o mapa da Reforma
casamento com Catarina de Aragão (filha dos reis da
protestante na Europa.
Espanha), alegando que ela não conseguia dar-lhe um
• Explicar que a Igreja Anglica-
filho homem para ser seu herdeiro.
na conservou a doutrina cató-
Ao ter seu pedido negado pelo papa, Henrique VIII
lica, com algumas alterações,
decidiu agir: rompeu com a Igreja de Roma (1531) e se
e a hierarquia eclesiástica: o
clero inglês passou a ser visto casou novamente, dessa vez com Ana Bolena, uma dama
como aliado do rei. Isso moti- da corte. Ao saber disso, o papa anulou o casamento e
vou uma série de conflitos en- o excomungou. O Parlamento inglês reagiu apoiando
tre os anglicanos (partidários Henrique VIII e aprovando o Ato de Supremacia
da religião oficial) e os purita- (1534). Esse ato declarava o rei o novo chefe da Igreja
nos (calvinistas ingleses). na Inglaterra, chamada, então, de Igreja Anglicana..
• Comentar que, nos séculos Como chefe da nova Igreja, Henrique VIII confiscou as
seguintes, os puritanos, du- terras e os mosteiros da Igreja Católica e os vendeu ou doou
ramente perseguidos por aos nobres e burgueses que o apoiaram. Assim, o rei inglês se
Henrique VIII,
rainhas e reis ingleses, emi- fortalecia, acumulando o poder político e religioso.
de Hans Holbien,
graram em massa para a c. 1537.
América do Norte.
• Aprofundar o assunto com a PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

leitura do texto: MEDEIROS,


Inácio de. A fundação da Observando o mapa da Europa após a Reforma, podemos perceber as áreas com
Igreja Anglicana. A12 Redação. predomínio de católicos, luteranos, calvinistas e anglicanos.
Aparecida, SP, 18 ago. 2020.
Disponível em: https://www. Europa: Reforma protestante (século XVI)
a12.com/redacaoa12/historia- 0° 20° L a) Qual é a área abrangida pelo mapa?
ALLMAPS

a) A Europa.
da-igreja/a-fundacao-da- Edimburgo

igreja-anglicana. Acesso em: b) De que forma o mapa transmite as


o

Copenhague
tic

Dublin Mar do rB
ál

12 ago. 2022.
Oxford
Norte
Bremen Koningsberg
Ma
informações? b) As informações são
OCEANO
ATLÂNTICO
Londres Amsterdã
Wittenberg transmitidas por meio de diferentes cores e de uma
Nantes Paris
Praga
legenda interna.
40 Orléans Salzburgo
°N
Genebra Zurique Viena c) Com base no mapa, cite dois
Bordeaux Trento
Lyon

Imagens em movimento
Valladolid
Mar Negro Estados católicos, dois luteranos e
Roma Áreas de domínio
Toledo católico dois calvinistas. c) Católicos: Espanha e
Vídeo com o aúdio da peça Sevilha Áreas de domínio
ich

luterano Portugal. Luteranos: Suécia e Dinamarca. Calvinistas:


Greenw

M a r M e d ÁSIA
i te

Henrique VIII, de William Escócia e Suíça.


r r
ân Áreas de domínio
ano de

e o
ÁFRICA calvinista
0 695
Shakespeare. Áreas de domínio Fonte: MICELI, Paulo. História moderna.
Meridi

anglicano
São Paulo: Contexto, 2013. p. 80.
• HENRIQUE VIII de William
Shakespeare. 2014. Vídeo
(29min). Publicado pelo ca-
112
nal TV Brasil. Disponível em:
https://youtu.be/f4jzIV_
YGyM. Acesso em: 19 jul. 2022. a)AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd
Quem o aprovou? 112 2. a) O Parlamento inglês, em comum 02/08/22 10:12 AV-

b) Qual é o seu conteúdo? acordo com o rei Henrique VIII.


+ATIVIDADES c) O que o rei inglês decidiu fazer com base nes- 2. b) Declarava o rei como novo chefe da
1. A principal motivação da se Ato? Igreja na Inglaterra, chamada de Igreja
Reforma na Inglaterra foi po- Respostas: Anglicana.
lítica, religiosa ou cultural? 1. O motivo da Reforma inglesa foi principal- 2. c) Henrique VIII confiscou as terras e os
Justifique. mente político. Rompendo com o papa, o rei mosteiros da Igreja Católica e os vendeu
2. Sobre o Ato de Supremacia, Henrique VIII acumulava terras, impedia a saída ou presenteou aos nobres e burgueses
aprovado na Inglaterra em de recursos arrecadados pela Igreja na Inglater- que o apoiaram e, com isso, aumentou o
1534, responda: ra e assumia o papel de chefe da Igreja oficial. seu poder político.
112

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 112 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Em relação à Reforma Católi-
ca, consideramos importan-
te focalizar o nascimento e
A Reforma Católica ou a Contrarreforma a atuação da Companhia de
Jesus, inclusive porque essa
Para tentar conter o avanço do protestantismo e fortalecer o Concílio: assembleia de bispos ordem religiosa teve um pa-
catolicismo, a liderança católica iniciou o movimento conhecido para decidir sobre assuntos pel decisivo na colonização
como Reforma Católica ou Contrarreforma. Essa reforma foi relativos à Igreja. da América portuguesa.
Inquisição: fundada em 1231 • Comentar que a Ordem dos
impulsionada pelos jesuítas e pelo Concílio de Trento e fez uso por uma bula do papa Gregório
do Tribunal do Santo Ofício, também chamado de Inquisição
Inquisição,, IX, que estipulava o modo
Jesuítas, denominada tam-
para reprimir e punir seus adversários. como os inquisidores deviam bém Companhia de Jesus,
agir para localizar e interrogar foi fundada pelo ex-capitão
A Ordem dos Jesuítas foi fundada em 1534 pelo militar os hereges e convencê-los a se espanhol Inácio de Loyola,
espanhol Inácio de Loyola, que estabeleceu entre seus inte- retratarem. Em 1252, o papa
em 1534, e reconhecida pelo
grantes uma rigorosa disciplina e obediência. Conhecidos como Inocêncio IV permitiu o uso de
tortura para obter confissões. papa Paulo III seis anos depois.
“soldados de Cristo”, os jesuítas dedicaram-se a divulgar o cato- Se a pessoa confessasse, • Ressaltar que o principal ob-
licismo na Europa e a evangelizar os povos da Ásia, da África recebia uma penitência; jetivo dos jesuítas era a pro-
caso contrário, era quase
e da América. pagação do catolicismo por
sempre condenada a morrer
Os jesuítas atuaram também na educação, criando uma na fogueira. meio da pregação, do ensino
rede de colégios em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. e da catequese dos nativos
de além-mar. Para isso, fun-
daram colégios e missões
ÓLEO SOBRE TELA, 70,5 × 97,2 CM, BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

em várias partes do mundo,


como Portugal, Índia, China,
Brasil, entre outras.
• Destacar que, assim como
Inácio de Loyola, os padres
jesuítas tinham sólida for-
mação cultural, disciplina
rigorosa e intensa ativida-
de militante. Isso explica o
modo de atuação dos “sol-
dados de Cristo” no projeto
de catequese desenvolvido
por eles na América, na Áfri-
ca e na Ásia, onde criaram
uma rede de colégios.

Os padres da Companhia de
Jesus foram os primeiros a sis-
tematizar o ensino no chamado
Novo Mundo. [...].
Como Ordem oficial da emprei-
Representação do Concílio de Trento. Escola Italiana, c. 1630. tada colonial tanto portuguesa
quanto espanhola, os padres je-
113 suítas catequizaram os índios,
conquistando, desta maneira,
novos fiéis para a igreja católica,
então defasada devido à adesão
10:12 AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 113 TEXTO DE APOIO Santa Inquisição, fosse uma importante arma
02/08/22 09:52 de alguns países ao protestan-
da Igreja Católica na Contrarreforma. tismo. Além da catequese dos
A Companhia de Jesus, Ordem fundada por Os padres jesuítas atuaram como confesso- índios, coube aos padres jesuítas
Inácio de Loyola [...] e aprovada pela bula papal res de reis e príncipes, diplomatas, pregadores também instruir os filhos dos
Regimini Militantis Ecclesiae no ano de 1540, foi e principalmente educadores; este último foi colonos, e cuidar para que os co-
importante no contexto da chamada Contrarre- sem dúvida, o papel mais importante que os lonos que estavam em terras tão
forma Católica. Um dos objetivos da Ordem que jesuítas exerceram, e também o que lhes ren- distantes da Europa não se des-
nasceu moderna era deter o avanço protestan- deu mais frutos [...]. viassem dos dogmas católicos.
te, mas também conquistar novos fiéis. Nesse Pouco tempo após a fundação da Ordem, inú- TOLEDO, Cézar de Alencar Arnaut de et al.
sentido, o contexto dos descobrimentos e das O teatro jesuítico na Europa e no Brasil no
meras instituições de ensino foram fundadas
século XVI. Revista HISTEDBR On-line,
Grandes Navegações possibilitou que a Com- pelos jesuítas, tanto na Europa quanto nas co- Campinas, n. 25, p. 33–43, mar. 2007.
panhia de Jesus, juntamente com o tribunal da lônias onde havia missões jesuíticas. p. 34.
113

D4_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 113 02/09/2022 11:07


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, com o avan-
ço da Reforma protestante,
o papa Paulo III reativou uma O Concílio de Trento foi convocado em 1545 pelo papa Paulo III e interrompido
antiga instituição medieval: o várias vezes, em razão de guerras e de uma peste ocorrida naquela região da Itália. Ao
Tribunal do Santo Ofício, tam- final dos debates, em 1563, o Concílio rejeitou a doutrina da justificação pela fé de Lutero
bém chamado de Inquisição. e a doutrina da predestinação de Calvino.
Em 1542, ele criou o primeiro O Concílio também:
tribunal permanente. • considerou crime a venda de indulgências;
• Acentuar que as maiores víti- • reafirmou o poder do papa;
mas da Inquisição foram he-
reges, judeus, protestantes, • conservou os sete sacramentos e o culto à Virgem Maria e aos santos;
mulheres tidas como bruxas, • propôs a criação de seminários para instruir e formar os sacerdotes;
bígamos e acusados de blas- • reeditou o Index
Index,, isto é, a relação de livros que os católicos estavam proibidos de ler.
fêmia. Muitas vezes, esses livros eram queimados em grandes fogueiras.
• Salientar que a Inquisição
prendeu ricos e pobres; mui-
ÓLEO SOBRE PAINEL. 122 CM × 83 CM. MUSEU DO PRADO. MADRI. FOTO: DEA/G DAGLI ORTI/AGB PHOTO LIBRARY

tos foram julgados e con-


denados à perda dos bens
(terra, casa, móveis), à prisão
perpétua e, às vezes, à morte
na fogueira. Quando alguém
era preso pela Inquisição, ele
e seus descendentes até o
quarto grau ficavam impedi-
dos de ter acesso a empregos
públicos, títulos, honrarias e Detalhe da obra
distinções. Enfim, onde quer São Domingos
que tenha atuado, a Inquisi- e os albigenses,
de Pedro
ção agiu de modo violento e
Berruguete,
intolerante. 1495. A obra
• Informar que, com o domí- mostra a
nio espanhol sobre Portugal queima de livros
considerados
e suas colônias (entre 1580 e heréticos.
1640), muitos inquisidores
foram enviados para Bahia,
Pernambuco, Itamaracá e
Paraíba, com a missão de
prender cristãos-novos.
• Ressaltar que as visitas do
Santo Ofício prosseguiram,
sobretudo em Minas Gerais
e no Rio de Janeiro, onde os
inquisidores inventavam cul-
pados e os encaminhavam
ao Tribunal de Lisboa.
• Aprofundar o assunto com a
114
leitura dos textos: LIMA, Lana
Lage da Gama. O tribunal do
Santo Ofício da Inquisição: o AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 114 02/08/22 09:53 AV-

suspeito é o culpado. Revista


de Sociologia e Política, Rio de
Janeiro, v. 13, p. 17-21, nov.
1999; SIQUEIRA, Sônia Apareci-
da. O momento da Inquisição.
Revista de História, São Paulo,
v. 42, n. 85, p. 49-73, 1970.

114

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 114 01/09/2022 17:14


TEXTO DE APOIO
Como a Inquisição atuava
no Brasil
A Inquisição Como o Tribunal da Inquisição,
sediado em Lisboa, conseguiu se
Durante a Contrarreforma, o papa Paulo III reativou o Tribunal do Santo Ofício
fazer presente até mesmo nos
(Inquisição), órgão da Igreja encarregado de vigiar, julgar e punir qualquer pessoa acusada confins do Brasil colonial, co-
de heresia. Às vezes, bastava uma simples suspeita para que a pessoa fosse chamada a letando denúncias, prendendo
depor nesse tribunal. E, conforme suas respostas, podia ser condenada à perda de bens pessoas e levando-as para se-
(terra, casa, móveis), à prisão perpétua e, às vezes, à morte na fogueira. As principais rem julgadas em Portugal? Com
quais instituições a Inquisição
vítimas da Inquisição foram hereges, protestantes, judeus e mulheres consideradas bruxas. se relacionava? Que setores so-
Tribunais do Santo Ofício foram instalados na Espanha (1478), em Portugal (1536) e na ciais cooperaram com ela? [...]
Itália (1542). “A principal conclusão foi que a
Inquisição conseguiu atuar no Bra-
sil porque possuía mecanismos efi-
A Inquisição em Portugal e no Brasil cazes e oferecia cargos que atraíam
Em Portugal, as principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício foram os cristãos-novos, as elites da sociedade colonial. O
tribunal não tinha uma sede aqui,
isto é, judeus que se convertiam ao cristianismo para fugir das perseguições das autorida-
mas sua atuação se ramificava
des católicas. Mesmo assim, muitas vezes eles eram perseguidos pelo Santo Ofício sob a por meio de uma rede de agentes
acusação de continuarem praticando o judaísmo às escondidas. criada na colônia”. [...]
Para escapar à perseguição, [...] a Inquisição era tida como
BIBLIOTHEQUE DES ARTS DECORATIFS, PARIS. FOTO: BRIDGEMAN/EASYPIX

muitos deles se mudaram para as a instituição mais rigorosa na


capitanias da Bahia e de Pernambuco, apuração da “limpeza de san-
gue”. Entrar para seus quadros
onde se estabeleceram como senho-
equivalia a apresentar a toda a
res de engenho e comerciantes. Mas sociedade um atestado de “san-
aqui também tiveram de enfrentar a gue puro”. “Isso tornava o per-
truculência da Inquisição. tencimento à Inquisição muito
Em 1591, ocorreu a primeira visita atraente. Por meio do ‘estatuto
de limpeza de sangue’, a Inqui-
de um representante do Santo Ofício
sição desempenhou um papel
ao Brasil. Ele percorreu as capitanias da importantíssimo no processo de
Bahia, de Pernambuco, de Itamaracá e formação e estruturação da elite
da Paraíba, e mandou prender vários social do Brasil durante o século
cristãos-novos, enviando-os para XVIII” [...].
Lisboa. O início da atuação da Inqui-
sição na Península Ibérica pode
No Brasil, africanos e indígenas ser mais bem compreendido
também foram denunciados como quando se considera que os
praticantes de feitiçaria e bruxaria. Estados que estavam se estru-
Os membros do Santo Ofício não turando nesse período se fun-
damentavam na unidade da fé.
aceitavam suas religiões, seus cos-
Constituídos no contexto da luta
tumes e suas práticas. de cristãos contra muçulmanos,
identificavam-se profundamen-
Homem condenado à fogueira te com a fé católica. A sobre-
pela Inquisição. Escola vivência de outras confissões
Francesa, século XVIII.
religiosas no mesmo território
punha em xeque essa unidade
115 da fé, e, por extensão, a unidade
política.
ARANTES, José Tadeu. Como a Inquisição
atuava no Brasil. Agência Fapesp. São
09:53 AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 115 Imagens em movimento 02/08/22 09:53
Paulo, 20 dez. 2013. Disponível em: https://
O documentário mostra como a Inquisição agencia.fapesp.br/como-a-inquisicao-
atuava-no-brasil/18403/.
se estendeu e atuou na América Latina, per- Acesso em: 12 ago. 2022.
seguindo indígenas, judeus e cristãos novos.
• INQUISIÇÃO na América latina. History
Channel. Documentário (100 min). [S. I.]
2013.

115

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 115 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
1. A intenção é levar o leitor
do sétimo ano a distinguir em

ATIVIDADES
uma frase as diversas dimen- NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
sões da vida social, política,
econômica, cultural, entre
outras, e estabelecer de qual
dimensão se está falando, em-
bora saibamos que esta clas-
sificação é um recurso para I. Retomando
conhecer a realidade na qual
essas dimensões aparecem en-
trelaçadas. 1 Um dos motivos da Reforma foi o imenso poder do papa. A interferência do papa
4. O intuito da atividade é re- na escolha dos reis é considerada de ordem: 1. Alternativa C.
tomar e consolidar a ideia de a) religiosa. c) política. e) cultural.
tempo cronológico. b) social. d) econômica.

2 Leia o texto a seguir.


TEXTO DE APOIO [...] Formado sacerdote em Praga, conhecedor dos escritos de Wycliff, seus ensi-
A mulher na Reforma namentos e ataque contra a prática do papado de oferecer a remissão dos pecados
Protestante por meio da venda de indulgências e de colocar sua autoridade acima da de Cristo,
Nascida em 1492 no castelo renderam-lhe não somente o exílio em Boêmia como, posteriormente, por conti-
de Ehrenfels (Alemanha), Ar- nuar lutando contra os erros da Igreja, condenação como herege pelo Concílio de
gula von Stauffen pertencia à Constança em 1415, sendo queimado vivo em uma fogueira. [...]
nobreza da Bavária [...]. Argula
BARBOSA, Luciane Muniz Ribeiro. Igreja, Estado e educação em Martinho Lutero:
começou a escrever e ler desde
uma análise das origens do direito à educação. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da
cedo e, quando tinha apenas Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 59.
dez anos de idade, seu pai a
presenteou com um raríssimo O reformador a que o texto se refere é: 2. Alternativa B.
exemplar da Bíblia de Koberger,
Koberger, a) John Wycliff. c) Martinho Lutero.
ainda que sua aquisição e leitu-
ra fossem proibidas pela censu- b) Jan Huss. d) João Calvino.
ra católico-romana. A partir de
então, tornou-se uma insaciá- 3 Monte em seu caderno um quadro com as informações solicitadas. Na primeira
vel leitora da bíblia. [...] coluna, copie as perguntas a seguir; na segunda coluna, responda-as.
A partir da década de 1520, Ar- a) O que foi? 3. a) Foi a maior divisão já verificada no interior do cristianismo.
gula começou a analisar a dou- b) Quais foram as razões da Reforma?
trina luterana e, comparando-a c) Qual ato de Lutero deu início à Reforma? 3. c) Lutero afixou na porta de sua paróquia as 95 teses.
com os ensinamentos bíblicos,
começou a envolver-se avida- 4 Enumere em seu caderno os fatos da vida de Lutero na ordem em que ocorreram.
mente na causa reformada. A a) Nasceu em 1486 na Alemanha.
partir de então, começou a man-
b) Indignou-se com a venda de indulgências.
ter contato com os reformado-
res, especialmente com Paul c) Tornou-se doutor em Teologia.
Esperatus, com quem trocava d) Escreveu e fixou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg.
regulares correspondências de e) Traduziu a Bíblia para o alemão.
teor doutrinário. 3. b) • Insatisfação dos reis e príncipes.
f) Foi expulso da Igreja pelo papa. • Corrupção e despreparo do clero.
Aprofundando-se na doutrina 4. A, C, B, D, F, E. • Venda de indulgências e falsas relíquias.
bíblica, Argula tornou-se a pri-
meira mulher a produzir pan-
116
fletos públicos para a Reforma
Protestante, distinguindo-se dos
demais escritores reformados tação e pregação da bíblia.
AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 116 Seus oito panfletos 09/08/22 15:41 AV2
por sua origem pois, além de foram muito divulgados e abriram tanto aos
leiga era mulher, situação que leigos como especialmente às mulheres o cami-
a colocava em uma condição nho para o conhecimento bíblico que a Reforma
peculiar àquela época. Lutando Protestante lhes concedera.
arduamente pela causa lutera- SEMBLANO, Martinho Lutero.
na, pautava suas teses no prin- Reformadoras: o papel das mulheres na Reforma
cípio proclamado por Lutero Protestante. Rio de Janeiro: Scriptura, 2012. p. 12-13.
– “SOLA
“SOLA SCRIPTURA”
SCRIPTURA” – base esta
que trouxe libertação aos leigos Bíblia de Koberger: editada clandestinamente em
quanto ao direito dos mesmos à
Nuremberg em 1483, pelo editor Anton Koberger.
posse, leitura, estudo, interpre-

116

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 116 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
5. A enorme riqueza acumula-
5. Lutero critica a venda de indulgências, ou seja, o perdão dos pecados em troca de dinheiro. Para Lutero, o per-
dão dos pecados depende somente da vontade de Deus. da pela Igreja na Idade Média,
fruto tanto de doações de fiéis
5 Interprete. O que Lutero quis dizer com a Tese 28?
quanto de recolhimento de dí-
Tese 28.. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro zimos etc., permitia-lhe exercer
e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus. um papel político preponde-
SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise. rante na Europa. Por um lado,
São Paulo: Atual, 1993. (História geral em documentos, p. 36).
isso chocava muitos fiéis, que
6 Avalie as afirmações. São pontos da doutrina luterana: viam nessa prática uma traição
I. A fé em Deus é o que salva uma pessoa, e não as boas obras que ela praticou.
aos ideais de pobreza e humil-
dade cristãos; por outro, de-
II. Nenhum cristão é capaz de interpretar a Bíblia por si mesmo.
sagradava aos reis e príncipes,
III. A Bíblia é a única fonte da verdade.
que entendiam o poder político
IV. O batismo e a eucaristia são os únicos sacramentos.
da Igreja como uma ameaça ao
Escreva no caderno a alternativa que contém as afirmações corretas. 6. Alternativa D. deles. Todas essas insatisfações
a) I, II, III. b) I, II, IV. c) II, III e IV. d) I, III e IV.
acabavam se exprimindo no
repúdio a algumas práticas da
7 Compare o interior destas duas igrejas e responda às questões. Igreja, consideradas particular-
mente imorais, como a venda
LUIZ BARRIONUEVO/SHUTTERSTOCK.COM

JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS


1 2 de indulgências (perdão para
pecados mediante pagamen-
to) e o comércio (quase sem-
pre fraudulento) de relíquias
sagradas. Também podem ser
apontados como fonte de in-
satisfação com a Igreja a falta
de instrução dos sacerdotes e
o fato de que um bom núme-
ro deles comprava ou obtinha,
Interior de uma igreja em São Paulo (SP), 2020. Interior de uma igreja em Jaraguá do Sul (SC), 2012.
7. a) A imagem 1 é de uma igreja católica e a imagem 2 é de uma igreja protestante. por meio de favores de pode-
a) Qual delas é a católica? E qual é a protestante? rosos, os seus postos na Igreja,
b) Como você chegou a essa conclusão? 7. b) Resposta pessoal. sem ter formação ou vocação
para a vida religiosa.
8 Na atividade anterior, você identificou as diferenças entre o catolicismo e o lutera- 7. b) Na igreja da esquerda, é
nismo. Nesta, identifique três semelhanças entre eles. possível observar um altar com
8. São cristãs; baseiam-se na crença em um único e mesmo Deus; e têm a Bíblia como livro sagrado.
as imagens do menino Jesus,
9 Compare a doutrina de Calvino à de Lutero, indicando uma semelhança e uma dife- Maria e José e, nas paredes,
rença entre elas. 9. Semelhança: defendiam a salvação pela fé. Diferença: Calvino acreditava na predes-
tinação absoluta, ou seja, que as pessoas nada podiam fazer para mudar seu destino. Para Lutero, somente a fé imagens de São Vicente e Santo
10 Sobre a Contrarreforma, pesquise e responda ao que se pede. podia salvar. Antônio. Já à direita, vê-se o in-
a) Quem são os jesuítas? terior de uma Igreja Luterana;
b) Qual o significado de: concílio; Inquisição; heresia. 10. b) Resposta pessoal. notar nas paredes a ausência de
imagens de santos e da Virgem
11 No século XIX, milhões de europeus vieram para o Brasil em busca de trabalho e terra Maria, cujo culto é banido nas
própria. Entre eles estavam os alemães, que trouxeram consigo o luteranismo. Veja denominações protestantes.
o que um estudioso fala sobre o assunto. Em seguida, responda às questões.
10. a) Conhecidos como “soldados de Cristo”, os jesuítas são religiosos dedicados a divulgar o catolicismo 10. b) Concílio: assembleia de
e evangelizar os povos da América, da África e da Ásia. 117 bispos para decidir sobre assun-
tos relativos à Igreja. Inquisição:
órgão da Igreja encarregado
de vigiar, julgar e punir qual-
Dica de leitura
EDITORA CONTEXTO

15:41 AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 117 05/08/22 09:59


quer pessoa acusada de heresia.
Neste livro, o historiador Paulo Miceli Heresia: doutrina considerada
apresenta um panorama dos principais falsa em relação à estabelecida
acontecimentos que fazem parte da Idade pela Igreja católica.
Moderna. 11. b) Comentar que os brasi-
• MICELI, Paulo. História Moderna. São Pau- leiros passaram a ter liberdade
lo: Contexto, 2013. de culto. Além disso, criaram-
-se os registros civis para nasci-
mento, casamento e óbito.

117

103a121_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 117 03/09/22 09:30


TEXTO DE APOIO
O Concílio de Trento e a 11. a) Não podiam construir igrejas; o casamento e o batismo entre eles
Companhia de Jesus não eram reconhecidos.
Para fazer frente à cisão no O luteranismo no Brasil
mundo católico, provocada pela A religião oficial [...] do império brasileiro era

TALES AZZI/PULSAR IMAGENS


Reforma, a Igreja de Roma deci- o catolicismo; por isso, os imigrantes europeus
diu agir mais diretamente, a co-
protestantes não eram bem-vistos. Em torno
meçar pela convocação do Con-
cilio de Trento, em 1545, com o desse assunto travaram-se calorosos debates
que também parecia atender a entre os que só aceitavam imigrantes católicos Igreja Evangélica de Confissão Luterana
antigas reivindicações de seto- e os que não se importavam com a religião. [...] no Brasil (IECLB), conhecida como Igreja
res do clero que propugnavam do Relógio. Gramado (RS), 2019.
Chegou-se a uma solução intermediária: os
por mudanças, bem antes de Lu-
tero e os reformadores entrarem imigrantes não católicos seriam tolerados, mas não poderiam construir igrejas.
em cena. Os trabalhos do con- Outro aspecto que dificultava a vida dos protestantes era o fato de que os casa-
cílio começaram por destacar, mentos entre eles, assim como os batismos, não eram reconhecidos, pois, como
especialmente, questões dou- não existia o registro civil, os registros [...] católicos eram considerados oficiais. [...]
trinárias e morais, algumas das
Essa situação só começou a mudar depois da Proclamação da República, em
quais diretamente relacionadas
ao movimento protestante. Uma 1889, quando a Igreja e o Estado foram separados [...].
delas foi a reafirmação de que, KLUG, João. Lutero e a reforma religiosa. São Paulo: FTD, 1998. (Para conhecer melhor, p. 41-42).
no sacramento da eucaristia, a) Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelos imigrantes protestantes que vieram
após a consagração do pão e do para o Brasil no século XIX?
vinho, Cristo, “verdadeiro Deus e b) Por que a Proclamação da República, em 1889, foi decisiva na trajetória dos luteranos no Brasil?
verdadeiro homem, contém-se 11. b) Porque, após a Proclamação da República, a Igreja Católica e o Estado foram separados.
verdadeira, real e substancial- 12 O concílio de Trento foi um importante instrumento da Contrarreforma. Anote em
mente sob a espécie dessas coi- seu caderno as afirmações corretas sobre esse concílio. 12. Alternativas A, B e C.
sas sensíveis”. O concílio tam-
a) Reafirmou o poder do papa.
bém condenou à excomunhão
todos quantos afirmassem que o b) Propôs a criação de seminários para formação dos padres.
ímpio se justifica apenas pela fé, c) Organizou o Index, isto é, relação de livros que os católicos podiam ler.
dispensando-se qualquer outra d) Suspendeu a Inquisição, um tribunal com objetivo de vigiar, julgar e punir qualquer pessoa
forma de preparação, penitência acusada de heresia.
ou disposição voluntária para e) Manteve apenas dois sacramentos.
que fosse justificado, destinan-
do-se a mesma punição a quem
negasse um ou mais dos sete sa-
cramentos instituídos por Cristo
II. Leitura e escrita em História
ou afirmasse que a todos os cris-
tãos, e não apenas aos clérigos, Vozes do passado
fora dado o poder de anunciar a
palavra divina e administrar os Analise atentamente algumas teses de Martinho Lutero
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

sacramentos. e responda às questões.


Quanto às indulgências, que Tese 6.. O papa não tem o poder de perdoar culpa
forneceram o combustível ini- a não ser declarando ou confirmando que ela foi per-
cial para o movimento da Refor- doada por Deus [...].
ma, a posição da Igreja foi bas-
Tese 27.. Pregam doutrina mundana os que dizem
tante clara: ao mesmo tempo Martinho Lutero,
que reafirmou sua importância, que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a de Lucas Cranach,
reconheceu, explicitamente, os alma sairá voando [do purgatório para o céu]. [...] século XIX.
abusos que, em seu nome, foram
praticados, inclusive para aufe- 118
rir “lucro, ilícitos” dos fiéis. Para
defender sua manutenção, o
Concilio de Trento partiu da con-
sideração de que, se o poder de las, motivo que leva os hereges
103a121-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 118 a blasfemarem por exemplo, a Companhia de Jesus, cujas ações 26/08/22 17:28 AV-

concedê-las foi atribuído à igreja contra elas, estabelece em geral, pelo presente concentraram-se nas missões estrangeiras e na
pelo próprio Cristo, sendo utili- decreto, que se exterminem de forma absoluta formulação e desenvolvimento de um programa
zadas desde tempos remotos, todos os lucros ilícitos que se cobram dos fiéis pedagógico-educacional, com o qual pretendia
com grande proveito pelos povos para que as consigam; pois disto se originaram fazer frente ao projeto educacional protestan-
cristãos, deveriam ser mantidas, muitos abusos no povo cristão”. te, uma das grandes preocupações de Martinho
O Concílio não foi a única reação ou resposta Lutero, que considerava os jovens fundamen-
embora com moderação, “a fim
à Reforma Protestante dada pela Igreja Católica, tais para a propagação da Reforma. [...]
de que, pela facilidade de con-
cedê-las, não decaia a discipli- que procurava reorganizar-se por meio de um MICELI, PAULO. História Moderna.
na eclesiástica. E ansiando para movimento que é conhecido como Contrarre- São Paulo: Contexto 2013. p. 85-86.
que se emendem e corrijam os forma. Em meio a esse esforço de transforma-
abusos que se introduziram ne- ção e renovação da atuação da Igreja foi criada,
118

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 118 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
Vozes do passado
Vozes do passado. a) Ele afirma que o papa não tem autoridade para conceder o perdão dos pecados.
Tese 43.. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao c) É importante que os alunos
necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. compreendam que Lutero
VIANNA, Alexander Martins. Estudo introdutório às 95 teses de Martinho Lutero. afirma que agem melhor os
Revista Espaço Acadêmico, n. 34, p. 1-11, mar. 2004. p. 4-6. que ajudam os pobres do que
a) O que Lutero afirma na Tese 6? aqueles que compram o per-
b) Qual é o conteúdo da Tese 27? Vozes do passado. b) Nela, Lutero critica a venda de indulgências. dão dos pecados.
c) Como você interpreta a Tese 43? Vozes do passado. c) Resposta pessoal. d) O objetivo é estimular a re-
d) Reflita e opine sobre a Tese 43 de Lutero. Justifique sua opinião. flexão ética sobre as palavras
Vozes do passado. d) Resposta pessoal.
de Lutero.
Vozes do presente Vozes do presente. b) A venda de cartas de indulgências, papéis que
atestavam o perdão dos pecados em troca de uma doação em dinhei-
Leia o texto com atenção. ro à Igreja, e a venda de falsas relíquias.
A necessidade de coexistência
O papa Francisco [...] participará pacífica é outro argumento dos

PETER KROCKA/SHUTTERSTOCK.COM
das comemorações organizadas com defensores da tolerância, já que
as guerras de religião consumi-
motivo dos 500 anos da Reforma de
ram grande parcela de vidas e
Martinho Lutero, que provocou um debilitaram os Estados. As cons-
cisma na Igreja Católica, em um tantes revoltas e conspirações
gesto histórico de reconciliação com não permitiam o mínimo desen-
volvimento econômico e estabili-
os protestantes. dade dos negócios e da adminis-
Um dos pontos centrais da tração pública, e muitas famílias
visita do papa [...] será a sua pre- se consumiam em vinganças
particulares e no ódio aos here-
sença em uma cerimônia conjunta ges. A necessidade de paz impôs
[...] para comemorar o aniversário o princípio do mal menor; ainda
da reforma impulsada por Lutero, que se considerasse de extrema
urgência e necessidade a unida-
o fundador da igreja protestante,
de religiosa e o fim da propaga-
cujas críticas ao comércio de privi- ção do erro, considerou-se um
légios e indulgências lhe custaram mal menor tolerar os heréticos
a excomunhão em 1520. tendo em vista o fim das guerras
e a estabilidade do Estado, bem
A cisão gerada por Lutero, [...] como a retomada dos negócios
quando negou a autoridade papal, e da prosperidade econômica.
deu lugar a massacres e guerras Com este argumento, admitia-
-se que diante de circunstâncias
atrozes e desenvolveu um ódio especiais, poder-se-ia optar pela
tenaz entre as duas comunidades tolerância tendo em vista evitar
Papa Francisco. Dublin (Irlanda), 2018.
cristãs que se estendeu por séculos. um grande mau; mesmo quan-
Vozes do presente. c) Em 1520, a Igreja Católica acusou Lutero de ser herege e o excomungou. do entendendo que a tolerância
PAPA Francisco diz que Martinho Lutero levou Bíblia às pessoas. Exame, [s. l.], 28 out. 2016. Disponível em:
https://exame.com/mundo/papa-francisco-diz-que-martinho-lutero-levou-biblia-as-pessoas/. Acesso em: 3 jun. 2022
deveria ser condenada como um
princípio absoluto e que sua ad-
a) A participação do papa Francisco no evento descrito no texto é considerada um gesto histórico missão seria transitória e não
de reconciliação. Quando e por que se deu a divisão da cristandade a que o texto se refere? permanente. [...]
b) Quais foram as principais críticas de Martinho Lutero à Igreja Católica? Dentro dos próprios movimen-
c) Qual foi a punição dada a Lutero no período da Reforma protestante? tos religiosos surgem os defen-
Vozes do presente. a) No século XVI, Martinho Lutero liderou o movimento conhecido como Reforma protestante, sores da tolerância, que lamen-
que resultou na divisão da cristandade ocidental entre católicos e protestantes.
119 tam pela dignidade da pessoa
humana ofendida pelos mas-
sacres cruéis e pelas diversas
legislações injustas, que segre-
gam e classificam alguns seres
17:28
TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 119
A tolerância religiosa era defendida 02/08/22
por pen-10:03
humanos como inferiores por
sadores que acreditavam que não deveria ha-
causa de sua crença. Argumen-
A tolerância religiosa na história ver conflito entre as religiões porque todas elas tam que só com amor e mansi-
derivavam e mantinham um mesmo núcleo co- dão se podem converter aqueles
No século XVII, o debate acerca da tolerân- mum. Essa posição era muito mais filosófica do que caminham no erro e que
cia modifica o seu significado. O grande deba- que propriamente interessada no debate dessas tendo sido feito tudo para trazer
te levantado no século XVI, as contribuições de questões sob uma ordem política. A tolerância de volta o irmão que se desviou,
filósofos e demais pensadores levarão a uma religiosa, conforme uma postura filosófica, era deve-se deixar a Deus a tarefa
conceituação diferente daquela elaborada no definitiva e abrangia todas as formas de reli- de julgar e punir. [...]
século anterior. Tolerância se refere, a partir do gião, mesmo as não cristãs, ao contrário da li- GOULART, Rodrigo de Souza. A tolerância
seiscentos, a uma postura filosófica, um valor mitada e provisória tolerância civil desenvolvi- religiosa na História: implicações para o
moral, um princípio. [...] da pelo século XVI. campo educacional.PUC-Rio, 2012.
119

D3_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 119 01/09/2022 17:14


ENCAMINHAMENTO
• Explorar os conhecimen-

#JOVENS NA
tos dos estudantes sobre o
cyberbullying.
• Debater essa prática tão no- t a
civa ao convívio social.
• Promover uma roda de con-
HISTÓRIA Entrevis

versa sobre formas de se coi-


bir a prática do bullying.
Professor, ao colocar em PASSO 1 Ler
pauta a reflexão sobre bullying
Leia o texto com atenção.
e meios de combatê-lo, esta
atividade contribui para o de- Uma jovem cientista
senvolvimento da competên- Tradicionalmente, aos fins de ano, a revista americana Time elege a personalidade
cia geral 9. que teve mais destaque no ano [...]. Agora, pela primeira vez na história, uma criança
A autoavaliação é um apren- foi eleita “Criança do Ano” pelo periódico.
dizado fundamental para a Trata-se de Gitanjali Rao, uma jovem cientista de 15 anos que usou a tecnologia
construção da autonomia do para resolver questões sociais [...].
aluno; além disso, democratiza “Sempre fui alguém que queria colocar um sorriso no rosto de outras pessoas.
Esse era o meu objetivo diário, apenas fazer alguém sorrir”, contou à Time.. [...] E então,
o processo, pois envolve dife-
quando eu estava na segunda ou terceira série, comecei a pensar sobre como podemos
rentes pontos de vista. Suges- usar a ciência e a tecnologia para criar mudanças sociais."
tões de perguntas para a auto- Gitanjale [...] foi responsável pela criação do aplicativo Kindly, que é capaz de detec-
avaliação: tar o cyberbullying em seu estágio inicial, com base em inteligência artificial.
• Você considerou interessan- [...]
te a atividade ou os traba- “Comecei a codificar algumas palavras que poderiam ser consideradas bullying
lhos realizados? e, então, meu mecanismo pegou essas palavras e identificou as que são semelhantes.
Você digita uma palavra ou frase e, se for intimidadora, ele oferece a opção de editá-la
• Tinha conhecimentos ante-
ou enviá-la como está”, explicou. “O objetivo não é punir. Como uma adolescente, eu
riores que o auxiliaram na sei que os adolescentes tendem a atacar às vezes. Em vez disso, dá a você a chance de
realização? repensar o que está dizendo para saber o que fazer na próxima vez”, completa.
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí- [...]
LUIZ RAMPELOTTO/EUROPANEWSWIRE/PICTURE-ALLIANCE/DPA/IMAGEPLUS

cil, saberia dizer por quê? Por fim, juntando uma turma de 30 mil
jovens alunos, orientados por Gitanjali, a ado-
• Como você avalia sua parti-
lescente incentiva sua geração a lutar pelo que
cipação no grupo? Realizou deseja. “Acho que mais do que qualquer coisa
tarefas que contribuíram no momento, só precisamos encontrar algo pelo
para o trabalho? Sugeriu qual somos apaixonados e achar uma solução
formas de organizar o tra- para aquilo. Mesmo que seja algo tão pequeno
balho? Colaborou com seus quanto recolher o lixo. Tudo faz a diferença. Não
se sinta pressionado a inventar algo grande.”
colegas na realização de ta-
refas? QUEM É Gitanjali Rao, a primeira “Criança do Ano” da Revista
Time. Revista Claudia, São Paulo, 4 dez. 2020. Disponível em:
• Você considera que a manei- https://claudia.abril.com.br/noticias/quem-e-gitanjali-rao-a-primeira-
crianca-do-ano-da-revista-time/. Acesso em: 28 jun. 2022.
ra como o tema foi abordado
ajudou na sua compreensão
Gitanjali Rao, na sede da Organização das
dos conteúdos e propostas Nações Unidas. Nova York (Estados Unidos), 2018.
de atividades?
O trabalho com a seção 120
quer contribuir para o desen-
volvimento das competências
gerais 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10 e da cia do respeito às diferenças
AV-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 120 e estimula 02/08/22 10:13 AV2

competência específica 4. a igualdade entre os cidadãos, visando a


• Temas Contemporâneos construção de uma sociedade mais inclu-
Transversais: o desenvol- siva e com maior qualidade de vida para
vimento da seção permite todos os cidadãos. Aproveitar o tema para
aprofundar as macroáreas reforçar o papel do protagonismo juvenil
cidadania e civismo e ciên- e destacar o mérito das pesquisas em di-
cia e tecnologia, à medida versas áreas do conhecimento para o pro-
que reconhece a importân- gresso social.

120

103a121_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 120 03/09/22 09:31


ENCAMINHAMENTO
c) Sugestão de sites para
pesquisa:
PASSO 2 Questionar • FONTES, Elisa. Nina da Hora
hackeia o racismo e transforma
Depois de ler o texto, responda:
a computação. Portal Geledés.
a) Qual foi o problema identificado por Gitanjali Rao? São Paulo, 16 mar. 2022.
b) Qual a solução encontrada por ela para solucionar o problema? Disponível em: https://www.
geledes.org.br/nina-da-
PASSO 3 Pesquisar e agir Respostas pessoais. hora-hackeia-o-racismo-e-
transforma-a-computacao/.
c) Em grupo. Pesquisem sobre iniciativas como a de Gitanjali Rao, nas redes sociais, que impactam a
vida das pessoas de forma positiva, a fim de ampliar o conhecimento sobre o tema. • 170 AÇÕES diárias para
d) Ao término da pesquisa, escolham pessoas na comunidade para serem entrevistadas a fim de descobrir transformar o nosso mundo.
iniciativas que contribuem para a construção de um mundo melhor. Vocês podem escolher parentes, Nações Unidas Brasil. Brasília,
professores, vizinhos. A ideia principal é saber o que ela faz ou gostaria de fazer para melhorar a vida DF, 2021. Disponível em: https://
na comunidade ou no município. brasil.un.org/sites/default/
e) A entrevista pode ser virtual ou presencial. A seguir, distribuam de maneira equitativa e democrática files/2021-10/170Actions-
as tarefas, como: WEB%20(Pt-Br)_VF.pdf.
• elaborar a pauta da entrevista;
Acessos em: 12 ago. 2022.
• combinar local e horário com a pessoa entrevistada;
• levar gravador, papel para anotações e máquina fotográfica ou celular para o registro fotográfico;
• gravar a entrevista em áudio ou em vídeo;
• transcrever a entrevista, sendo fiel à fala do entrevistado;
• editar texto e imagem (fotografia, desenho, pintura);
• diagramar a versão final.
• Para a entrevista, estejam acompanhados de um adulto responsável.
f) No roteiro, é importante registrar: nome e idade da pessoa entrevistada; profissão; qual ou quais ações
ela realiza etc.
g) Comentem por escrito ou em um áudio os principais pontos da entrevista; e apresentem a entrevista e
o trabalho a que ela se dedica, além das fotografias produzidas.
h) Com esse material em mãos, compartilhem com os colegas os resultados alcançados. Depois dessas
trocas, cada grupo fará um relatório com suas descobertas e as conclusões a que chegou.

PASSO 4 Apresentar e publicar


i) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com a
#jovensnahistória.
a) Ela identificou o problema do cyberbullying
nas redes sociais.
PASSO 5 Avaliar Respostas pessoais. b) Gitanjali usou a tecnologia para ajudar na so-
lução do cyberbullying, por meio da criação de
j) Realizei as tarefas a que me propus? um aplicativo chamado Kindly (gentilmente em
k) Cumpri os prazos determinados? português), que identifica palavras ou frases in-
timidadoras e oferece a quem está escrevendo
l) Expressei minhas ideias com objetividade? a oportunidade de editá-las ou enviá-las como
m) Escutei meus colegas com atenção e respeito? estão. O objetivo é dar a chance para a pessoa
repensar o que ela está escrevendo.
n) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
o) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

121

10:13 TEXTO DE APOIO


AV2-HIS-F2-2111-V7-U2-C05-LA-G24.indd 121 Como uma nova forma de expressão do bullying
05/08/22 10:03 bullying,, o cyberbullying é caracteriza-
do [...] como uma manifestação de agressão ou assédio moral, que ocorre por
O bullying
bullying,, palavra de origem inglesa, é caracterizado meio de recursos tecnológicos modernos, especificamente, telefones celulares
como um comportamento consciente, intencional, de- ou pela internet. [...]
liberado, hostil e sistemático, de uma ou mais pessoas,
[...] em contraste com outras formas de bullying
bullying,, o cyberbullying
cyberbullying,, apoiado nas
cuja intenção é ferir os outros. Tal fenômeno começou
tecnologias da informação, transcende as fronteiras do tempo (na medida em
a ser investigado a partir dos estudos realizados por
que a ofensa se pode manter infinitamente presente no espaço virtual), mas
Dan Olweus, na Universidade de Bergen – Noruega, ini-
também as fronteiras do espaço pessoal e físico.
ciados no fim da década de 1970. Olweus foi o pioneiro
SOUZA, Sidclay Bezerra et. al. Cyberbullying:
nas investigações sistemáticas sobre a problemática, percepções acerca do fenômeno e das estratégias de enfrentamento.
tendo publicado os seus resultados na obra Aggression Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 27, n. 3,
in the Schools: Bullies and Whipping Boys (1978). p. 582-590, 2014. p. 582-583.

121

D4_HIS-F2-2111-V7-U2-C05-MP-G24.indd 121 02/09/2022 11:08


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
Os processos de formação e UNIDADE

3
consolidação das monarquias
europeias e os motivos da cen-
tralização política têm sido
objeto de pesquisa e debate FORMAÇÃO DO
entre os estudiosos de Ciên-
cias Humanas que divergem
ESTADO MODERNO
no tocante às razões de cen-
tralização política. Nós usa-
mos como referência teórica
o sociólogo alemão Norbert
CELSO PUPO/FOTOARENA
Elias, para quem a tecnologia Observe as imagens e perceba
de guerra atuou em prejuízo a força das torcidas dos times de
da nobreza. O poder militar futebol. Pois bem, nessas ocasiões,
passou das mãos da nobreza os torcedores cantam, pulam, gri-
tam, comemoram gols, incentivando
para a de um único nobre, o seu time, e sofrem quando ele está
príncipe ou rei, que por meio perdendo.
da cobrança de impostos pôde
manter um exército maior e
mais forte.
Independentemente do de-
bate acadêmico, pode-se dizer
que os principais elementos
formadores das monarquias
nacionais foram: um conjun- Torcida do Flamengo no estádio do
to unificado de leis; uma bu- Maracanã. Rio de Janeiro (RJ), 2015.
rocracia capaz de fazer com

MARCO GALVÃO/FOTOARENA
que fossem cumpridas essas
leis e um exército permanen-
te. Tudo isso mantido com os
recursos oriundos de impostos
cobrados pela monarquia.
O estudo desse processo de
centralização política pode
colaborar para uma melhor
compreensão das estruturas
de poder do mundo atual.
Nas páginas de abertura de
unidade, vamos citar exemplos
da articulação entre objetivos,
Torcida do Corinthians na Arena
habilidades e competências, Corinthians. São Paulo (SP), 2018.
por acreditar que, ao longo
da coleção, esse procedimento 122
contribuirá para o importante
propósito de “transformar a
história em ferramenta a servi- mas Estado Moderno,
HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 122 absolutismo e mer- centralização política. Esse objetivo articula- 20/08/22 19:57 HIS
ço de um discernimento maior cantilismo e Grandes Navegações, conquista -se à habilidade EF07HI07, às competências
sobre as experiências huma- e colonização espanhola da América e colo- gerais 1, 2, 4, 7 e 9 e às competências especí-
nas e as sociedades em que se nização da América portuguesa, de modo ficas 1, 2, 3, 4 e 6.
vive”, conforme sugere a BNCC articulado às competências gerais 1, 2, 3, 4, Objetivo: Descrever as formas de organiza-
(BRASIL, 2018, p. 401). 5, 6, 7, 9 e 10 e às competências específicas ção das sociedades americanas no tempo da
Nesta unidade, vamos de­ - de 1 a 7. Conquista a fim de compreender as alianças,
senvolver as habilidades Vejamos, agora, exemplos dessa articulação. os confrontos e as resistências havidas. Esse
EF07HI02, EF07HI06, EF07HI07, Objetivo: Trabalhar o processo de for- objetivo articula-se à habilidade EF07HI08, às
EF07HI08, EF07HI09, EF07HI10 mação e consolidação das monarquias eu- competências gerais 1, 2, 3, 4, 6 e 7 e às com-
e EF07HI17, com base nos te- ropeias visando compreender as razões da petências específicas 1, 2, 3, 4 e 6.
122

122a146_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 122 03/09/22 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Destacar o fato de que as
identidades nacionais são
Imagine agora que, no dia seguinte a esses jogos pelo campeonato brasileiro ou estadual, ocorra um construções históricas.
jogo da seleção brasileira contra a seleção inglesa; qual será a atitude de paulistas e cariocas que estavam • Comentar que a forma-
em lados opostos no dia anterior?
ção do Estado, a língua e os
A resposta você já sabe: vão juntos torcer apaixonadamente pela seleção brasileira. O que terá feito com
que essas pessoas que estavam em lados opostos num determinado dia passassem para o mesmo lado no
costumes comuns são ele-
dia seguinte? mentos fundamentais dessa
construção.

RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS


A partir do surgimento do Es-
tado nacional na Europa Moder-
na, a historiografia começou a
se questionar se o conceito de
Estado deveria ser aplicado ape-
nas a esse contexto histórico
ou também aos períodos ante-
riores. Levantou-se, então, a se-
Torcedores da Seleção Brasileira de Futebol na Arena Castelão. Fortaleza (CE), 2014. guinte questão: o Estado sempre
existiu? Uma primeira corrente
defende que Estado é um con-
Ora, é que gaúchos, mineiros, goianos, paulistas, fluminenses, baianos, piauienses, cearenses, entre
ceito que deve ser aplicado só a
outros, são brasileiros e, como tal, têm crenças, hábitos e interesses comuns. Tem um sentimento de per-
partir do surgimento do Estado-
tencer a uma mesma nação, o Brasil.
-nação, e não antes disso. Para
Essa situação que acabamos de descrever se reproduz também na Inglaterra, entre torcedores do Liver-
os autores que pensam assim,
pool e do Manchester, por exemplo. No dia seguinte a um jogo entre esses times, suas torcidas certamente
o Estado é uma forma histórica
também estariam do mesmo lado, torcendo com paixão pela seleção inglesa de futebol. Os ingleses, assim
como nós, também se sentem pertencentes a uma nação.
recente, oriunda da concentra-
ção do poder de mando sobre
Respostas pessoais. determinado território por meio
1. Quando será que os habitantes das terras inglesas passaram a se sentir ingleses? do monopólio da lei e de servi-
ços essenciais. Nessa aborda-
2. Como se deu esse processo? gem, que segue a tese de Weber,
3. E em outras partes da Europa, como França, Portugal e Espanha, como isso se deu? autores como Denis Rosenfield
afirmam que o Estado Moderno
é tanto a organização da socie-
Após o estudo desta unidade, volte a estas páginas e tente responder a essas perguntas. dade em um governo autônomo
quanto o aparelho que governa
123 essa sociedade. No entanto, ou-
tros autores, como Miguel Reale,
acreditam que a caracterização
do Estado como governo que
19:57 TEXTO DE APOIO
HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 123 como sinônimos, mas enquanto o Estado é uma
20/08/22 19:57
organiza a sociedade equipara-
realidade jurídica, a Nação é uma realidade so- -o à Nação e, apesar de Estado e
Estado ciológica [...]. Nação estarem em conexão, são
Pairando sobre muitos dos conceitos de gran- A palavra estado vem do latim “status
“status”,
”, verbo conceitos distintos. Esses auto-
de relevância para a vida política atual, como stare, manter-se em pé,
stare, pé, sustentar-se
sustentar-se.. Mas na An- res definem o Estado como um
cidadania, democracia, liberalismo, está o Esta- aparato administrativo que exe-
tiguidade Clássica, a expressão para designar o
do, entidade abstrata que comanda e organiza a cuta funções só visíveis a partir
complexo político-administrativo que organiza-
vida em sociedade. O Estado é, poderíamos as- da Idade Moderna.
sim sintetizar, entidade composta por diversas va a sociedade era “status
“status rei pubblicae”,
pubblicae”, ou seja,
situação de coisa pública, em Roma, e polis polis,, na ESTADO. In: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA,
instituições, de caráter político, que comanda Maciel Henrique. Dicionário de conceitos
um tipo complexo de organização social. Muitas Grécia. Foi na Europa Moderna que surgiu a rea- históricos. São Paulo: Contexto, 2009.
vezes associamos Estado e Nação, tratando-os lidade política do Estado nacional. [...] p. 115-116.
123

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 123 02/09/2022 09:49


OBJETIVOS
• Trabalhar o processo de for- 3. Não; o fato de Luís XIV encarnar o deus do Sol foi intencional: Luís XIV usava o Sol
mação das monarquias na-
CAPÍTULO
como seu emblema oficial, pois queria passar a ideia de que a sua importância para

6
cionais com ênfase na mo- os franceses podia ser comparada à do astro-rei do Universo.
narquia portuguesa.
ESTADO MODERNO, ABSOLUTISMO
• Caracterizar o absolutismo
como um fenômeno com E MERCANTILISMO
tempo e lugar definidos.
• Conhecer as práticas mer-
cantilistas.

Esses objetivos permitem A pintura a seguir, intitulada A família de Luís XIV,, é de autoria do pintor francês
compreender as bases políti- Jean Nocret (1615-1672). Observe-a com atenção.
cas e econômicas do processo
de centralização do poder
ÓLEO SOBRE TELA 298 CM × 419 CM. BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

monárquico na Europa, con-


tribuindo, assim, para o desen-
2
volvimento das competências
e habilidades propostas.
5 1

BNCC
4
• Competências gerais: 1, 2, 3, 6
4, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
2, 3 e 6.
3
• Habilidades: EF07HI07 e
EF07HI17.

ENCAMINHAMENTO
• Estimular o alunado a entrar
em contato com o tema da
formação e consolidação das
A família de Luís XIV, de Jean Nocret, 1670. 1 – Rei Luís XIV; 2 – Mãe do rei;
monarquias por meio de uma
3 – Delfim, filho do rei; 4 – Esposa do rei; 5 – Cunhada do rei; 6 – Irmão do rei.
pintura que veicula uma ima-
gem idealizada de Luís XIV, 1. O que essa pintura mostra? 1. A pintura mostra o rei Luís XIV e sua família.
com o objetivo de glorificá-lo.
2. Como o rei Luís XIV e sua mãe estão representados?
• Ajudar os alunos a perceberem
3. O rei Luís XIV foi representado como o deus do Sol; será que isso foi por acaso?
que os processos de formação
e consolidação das monarquias 4. Será que a obra foi feita sob encomenda ou criada espontaneamente? 4. A obra foi encomendada.
na Europa têm algumas carac- 5. O estilo adotado pelo pintor é o barroco. Pesquise sobre esse estilo e identifique na obra duas
terísticas em comum, apesar características desse estilo de arte. 5. Resposta pessoal.
de possuírem um tempo e um 2. Luís XIV aparece sentado em um trono, vestindo um manto dourado e com uma coroa de louros na
ritmo próprios. 124 cabeça. Ele personifica Apolo, o deus do Sol. Sua mãe, Ana da Áustria, aparece à esquerda do rei; ela
personifica Cibele, deusa romana da Terra, a “Grande Mãe”.
2. Notar que ambos são re-
presentados como deuses da
mitologia greco-romana, a mãe aoAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd
barroco, estão: a abundância 124 de detalhes 02/08/22 16:08 D2-H

aponta para o filho como que e de ornamentos; a preferência por temas


convidando-nos a admirá-lo. mitológicos e/ou alegóricos; o gosto pelos
4. Seu autor, Jean Nocret, era contrastes (por exemplo, no uso da técnica do
pintor oficial do rei e do seu claro-escuro, que explora o contraste entre
irmão, que também aparece sombra e luz). Vale lembrar que o barroco
na imagem. Ou seja, o pintor e o absolutismo são fenômenos coetâneos.
estava a serviço do rei. Na França, o barroco serviu, entre outras
5. Entre as características da coisas, como instrumento para promover
obra que podem ser associadas o culto ao monarca.

124

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 124 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Retomar a ideia de que, a
partir do século XI, assistiu-
O fortalecimento do poder dos reis -se no Ocidente europeu ao
revigoramento do comércio
e das cidades; além do sur-
Na Europa, a partir do século XI, ocorreu um crescimento do comércio e das cidades e gimento de um novo grupo
a formação de um novo grupo social, a burguesia, composta basicamente por mercadores social, a burguesia, formada
e artesãos. basicamente por artesãos e
Os burgueses, então, percebendo a importância da monarquia para o sucesso de seus mercadores. Entretanto, a
existência de nobres com di-
negócios, apoiaram o rei por meio de doações e empréstimos. O rei, por sua vez, passou a
reito de cunhar sua própria
favorecê-los, fazendo leis que protegiam o comércio e concedendo aos burgueses cargos moeda e de cobrar taxas de
na administração do reino. quem passasse por seus do-
mínios encarecia as merca-
dorias, atrapalhando os ne-
BRIDGEMAN/FOTOARENA

gócios da burguesia.
• Comentar que os burgueses,
então, aproximaram-se do rei
em busca de proteção e ajuda.
O rei, por sua vez, interessado
nos impostos pagos pela bur-
Nessa iluminura do guesia, passou a favorecê-la.
século XIII, o Rei Afonso II • Explicar que a nobreza tam-
(1152-1196) confirma os bém se aproximou do rei
privilégios concedidos aos visando manter privilégios,
mercadores da cidade de
receber pensões e conseguir
Barcelona, na região onde
hoje é a Espanha. altos postos no exército real.
Os camponeses, por sua vez,
passaram a ver o rei como al-
guém capaz de protegê-los
contra os abusos da nobreza.
Assim sendo, por diferentes
motivos, burgueses, nobres
e camponeses aproxima-
ram-se do rei. Fortalecido,
ele formou um exército pro-
A nobreza também se aproximou do rei, visando manter privilégios, como os de fissional e estabeleceu uma
receber pensões e altos postos no exército real. Os camponeses, por sua vez, passaram a moeda única para todo o
ver o rei como alguém capaz de protegê-los contra os abusos da nobreza. reino. Com isso, foi impondo
Então, aos poucos, por meio de doações, da arrecadação de impostos e da venda seu poder sobre todos os sú-
ditos. Esse processo secular
de cargos públicos, o rei conseguiu recursos para montar um exército assalariado e per-
de fortalecimento do poder
manente e pagar funcionários para administrar o seu reino. Assim, ganhou força para real é chamado de formação
estabelecer uma moeda única e leis comuns para todo o reino e, com isso, foi impondo das monarquias europeias.
sua autoridade a todos os súditos. O fortalecimento gradual do poder dos reis entre os
séculos XI e XV é conhecido como processo de formação do Estado Moderno.. Em cada
país da Europa, esse processo teve tempo e ritmos próprios.
prios, o que também desaconse-
125 lha traçar qualquer modelo de
Estado, embora isto não impeça
que apontemos, sumariamen-
te, seus principais elementos
16:08 TEXTO DE APOIO
D2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 125 Em todo caso, para o que nos interessa
25/07/22dire-
15:36 formadores, quais sejam: um
tamente, importa saber que, no século XVI, os sistema legal unificado, uma
[...] conquanto seja bem fácil identificar Estados funcionavam, principalmente, como burocracia de funcionários es-
uma monarquia pelos seus aspectos mais evi- grandes agentes financeiros, sustentando suas pecializados para elaborar e fa-
dentes, a começar pela cabeça coroada que ações por meio da arrecadação de impostos, zer cumprir as normas e códigos
exerce o governo a partir do trono, o sentido pela venda de cargos, pelo confisco de bens e administrativos, além de um
de “nacional” varia bastante, no tempo e no pela cessão, por lucrativos contratos temporá- exército permanente – tudo isso
espaço, fazendo com que, durante gerações, rios, de privilégios e monopólios, como os rela- mantido à custa dos impostos e
os camponeses pudessem se sentir bem mais tivos à navegação [...]. dos outros mecanismos de arre-
identificados por seu pertencimento à aldeia Até que os Estados se tornassem os principais cadação já referidos.
ou à região do que a uma abstração chamada empreendedores do século XVI, cada caso “na- MICELI, Paulo. História moderna.
nação..
nação cional” teve características, tempo e ritmo pró- São Paulo: Contexto, 2016. p. 96-99.
125

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 125 02/09/2022 09:49


Dica de leitura
Livro no qual o historiador
britânico analisa a emergên-
cia do Estado absolutista. Na
primeira parte do livro, o au-
A monarquia inglesa
tor se dedica à Espanha, Fran- Apresentaremos a seguir alguns exemplos do processo de fortalecimento do poder
ça, Inglaterra, Suécia e Itália. real ou da centralização política na Europa; estudaremos os casos da Inglaterra, da França,
• ANDERSON, Perry. Linhagens de Portugal e da Espanha.
do Estado absolutista. São No século XI, Guilherme, o Conquistador,, duque da Normandia (região do norte da
Paulo: Editora Unesp, 2016. França) conquistou a Inglaterra e se tornou rei com o título de Guilherme I.. Durante seu
Xerife: palavra de reinado, ele exigiu que todos os senhores feudais prestassem juramento
Dicas de áudio origem inglesa (sheriff ). de fidelidade apenas ao rei, dividiu as terras inglesas em condados e
Na Inglaterra medieval,
Podcast sobre a formação nomeou funcionários reais (os xerifes
xerifes)) para administrá-los. Além disso,
era o nome dado ao
da Inglaterra. funcionário encarregado proibiu as guerras particulares entre a nobreza. Com essas medidas,
•SCICAST 244: Inglaterra – a de administrar e o rei Guilherme submeteu a nobreza, dando início ao processo de
exercer a autoridade
Batalha de Hastings e os fortalecimento do poder real inglês. A conquista da Inglaterra liderada
sobre um condado.
normandos. Locução de: por ele foi registrada na famosa Tapeçaria de Bayeux..
William Spengler, Roberto A Tapeçaria de Bayeux é uma obra de 70 metros de comprimento que descreve em 58
Pena, Dany Madrid e Matheus cenas a conquista da Inglaterra pelos normandos liderados por Guilherme, o Conquistador.
Professor Barbado. [S. l.]: Atualmente, ela se encontra no Museu de Bayeux, na cidade de mesmo nome, no norte
SciCast, 16 mar. 2018. Podcast. da França. Note, a seguir, que a narrativa lembra uma história em quadrinhos.
Disponível em: http://www.
deviante.com.br/podcasts/
BRIDGEMAN/FOTOARENA

scicast/scicast-244/. Acesso em:


9 ago. 2022.
Podcast que detalha ele-
mentos estéticos e históricos Detalhe da Tapeçaria de Bayeux. Inglaterra,
da tapeçaria de Bayeux. século XI. Normandos desembarcam cavalos
necessários à guerra de conquista.
• TAPEÇARIA de Bayeux.
Locução de: Lili Gilli. [S. l.]:
Medievalíssimo, 6 ago. 2020.
Podcast. Disponível em:
https://cliohistoriaeliteratura.
com/2020/08/06/tapecaria-de-
BRIDGEMAN/FOTOARENA

bayeux/. Acesso em: 8 ago.


2022.

Detalhe da Tapeçaria de Bayeux. Inglaterra,


século XI. Normandos constroem fortificações
para melhor combater os ingleses.

126

AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 126 02/08/22 16:13 AV-

126

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 126 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que Henrique II deu
continuidade à centralização
Detalhe da Tapeçaria de Bayeux. do poder, ordenando que as
Inglaterra, século XI. Guilherme,
questões de disputas fossem
o Conquistador, encoraja seus homens
na luta pela conquista da Inglaterra.
julgadas pelo tribunal do rei, e
não pelos tribunais da nobreza
BRIDGEMAN/FOTOARENA

(locais).
• Comentar que os juízes per-
corriam as diferentes partes
do reino, julgando e registran-
Henrique II (1154-1189), um dos sucessores de Guilherme I, do suas decisões, que, depois,
eram usadas como orientação
acelerou o processo de fortalecimento do poder real exigindo # DICA!
para casos futuros.
que todas as questões fossem julgadas por tribunais reais, e não
Trecho do filme • Destacar que, dessa forma, um
pelos da nobreza. Ricardo Coração de Leão,, seu filho e sucessor, Robin Hood, no qual direito comum a todo o reino
passou a maior parte do tempo fora do país lutando nas Cruzadas. o rei João Sem Terra
foi, aos poucos, substituindo
discursa aos nobres.
João sem Terra (1199-1216), irmão de Ricardo, envolveu- o direito de cada localidade;
ROBIN Hood. 2010.
-se em guerras demoradas e perdeu boa parte das terras que Vídeo (5min38s). esse direito serviu de força uni-
sua família possuía na França; por isso, o rei João ganhou esse Publicado pelo canal ficadora e proporcionou aos
apelido. Para custear gastos militares, João determinou sucessivos Maria Helena Gomes ingleses um sistema de justiça
Martins. Disponível menos parcial.
aumentos de impostos, provocando uma revolta da nobreza, que em: https://youtu.be/
• Aprofundar o assunto
o obrigou a assinar a Magna Carta (1215). Leia a seguir um trecho fewsJRD9114. Acesso
em: 21 jun. 2022. com a leitura dos textos: A
desse documento. IMPORTÂNCIA da Magna
Carta na história da Inglaterra
e dos EUA. GBN News. [S. l.],
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO. c2012. Disponível em:
http://www.gbnnews.com.
A Carta Magna br/2015/06/a-importancia-
João, pela graça de Deus, rei da Inglaterra, senhor da Irlanda, duque da Normandia
da-magna-carta-na.html#.
Yw9YsXbMLIU; MAGNA
e da Aquitânia, conde de Anjou, [...] [determina que]:
Carta. Dhnet. [S. l.], c1995.
[...] Nenhum imposto [...] será estabelecido no nosso reino, sem o consenso geral [...]. Disponível em: http://www.
Para obter o consenso geral a fim de lançar [...] impostos [...] mandaremos convocar dhnet.org.br/direitos/anthist/
[...] os arcebispos, bispos, abades, condes e grandes barões por meio de cartas, e além magna.htm. Acessos em: 9
disso mandaremos convocar [...] todos os nossos vassalos diretos. [...] ago. 2022.
Todos os mercadores poderão livre e seguramente sair da Inglaterra, nela entrar, Para refletir. d) Comentar com
permanecer e passar, quer por terra quer por água, para comprar e vender, sem os alunos que, a partir da Car-
receio de extorsões ilegais de acordo com o antigo costume. [...] ta Magna, o rei era obrigado a
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. consultar os representantes do
São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 234-237. clero e da nobreza para lançar
a) Que elementos do texto indicam que João sem Terra era um membro da nobreza?
impostos.
a) Os seus vários títulos (rei, duque, conde).
b) Quais grupos o rei se comprometia a consultar em caso de aumento de impostos? Respostas:
b) O clero e a nobreza; os outros grupos sociais, portanto, ficavam de fora. a) O rei proíbe a formação de
c) A Magna Carta também favorecia a burguesia? Justifique. c) Sim, ao garantir a entrada e a
saída dos mercadores, bem como sua proteção contra os assaltos da nobreza (“extorsões ilegais”). bandos armados sem a sua
d) Pode-se dizer que a Magna Carta limitou o poder do rei? Justifique. d) Sim. permissão.
b) Sim, pois o rei queria des-
mantelar os exércitos particu-
127 lares da nobreza e abrir espaço
para a existência de um único
exército: o exército permanen-
te e profissional a seu serviço.
16:13 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 127 quer condição, que organize, conduza, chefie
02/08/22 16:16
Professor, comentar que o mo-
[...] uma companhia de homens em armas,
O texto a seguir é trecho de uma lei sem permissão, licença e consentimento do nopólio das armas foi decisivo
Rei...”. no processo de formação das
aprovada na França em 1439. Leia-o com monarquias nacionais.
atenção. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem.
Rio de Janeiro: Zahar, 1986. p. 82. c) Ao rei e aos mercadores que
“Para eliminar e remediar e pôr fim aos gran-
a) O que diz a lei? circulavam pelas estradas ven-
des excessos e pilhagens feitas e cometidas por dendo suas mercadorias.
bandos armados, que há muito vivem e conti- b) Pode-se dizer que essa lei contribuiu para
Professor, a atividade pode
nuam vivendo do povo...” o fortalecimento do rei? Justifique.
contribuir para o desenvolvi-
“O Rei proíbe, sob pena de acusação de le- c) Use o texto da lei e seus conhecimentos e mento da competência espe-
sa-majestade [...], a qualquer pessoa, de qual- responda: a quem a lei beneficiou? cífica 1.
127

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 127 02/09/2022 09:49


TEXTO DE APOIO
A Magna Carta
Todo Direito Constitucional
Henrique III (1216-1272) desrespeitou a Magna Carta, impondo a cobrança de novos
inglês ou britânico, bem como
seu estudo, está essencialmente impostos, o que provocou outra revolta da nobreza. A burguesia também participou dessa
conectado com as linhas históri- revolta e, com isso, ganhou o direito de fazer parte do Grande Conselho, que, em 1265,
cas político-jurídicas que foram passou a ser chamado de Parlamento.. Os reis medievais convocavam e dissolviam o
traçadas desde o século X. Com Parlamento e também propunham o assunto a ser debatido.
Guilherme, o Conquistador, os
direitos particulares de cada re- Com o tempo, o Parlamento ganhou força e foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos
gião foram agregados na common Lordes,, integrada por representantes do clero e da alta nobreza (barões, condes e duques),
law,, que permanece desde então
law e a Câmara dos Comuns,, formada por representantes da pequena nobreza e da burguesia.
na Ilha [...]. Também, em 1215 e
1628, foram aprovadas cartas

DEA PICTURE LIBRARY/GETTY IMAGES


que impunham restrições ao
exercício do Poder pelo Rei e es-
tabeleciam direitos aos ingleses.
Esses documentos ainda hoje
são relembrados e ditos válidos.
A história tem desempenho
fundamental para a construção
do sistema político inglês. O Par-
lamentarismo, muito longe de ser
obra de um teorista sentado a es-
crever, na verdade é decorrência
de séculos de idas e vindas dos
combates políticos entre a Coroa
e o Parlamento. Da mesma sorte
é a Separação de Poderes, que de-
riva das práticas da Constituição
Mista presentes já no medievo e
que se adaptam e evoluem com
os condicionamentos históricos.
[...]
A história de formação do par-
lamentarismo se confunde com
a história política inglesa. Suas
raízes se encontram em costu-
mes medievais, nos quais os su-
seranos convocavam os vassa-
los para comporem conselhos,
especialmente para decidirem
questões tributárias. Esses Con-
selhos, na Inglaterra chamados
de Parliamentum
Parliamentum,, assistiam o Rei
em suas deliberações, e com o Iluminura do século XIII, em que está representado o rei inglês Eduardo I (1272-1307), filho de
correr do tempo se impuseram Henrique III, dirigindo uma reunião do Parlamento. Como a criação de novos impostos dependia
para que fossem permanentes da aprovação do Parlamento, o rei recorria a ele em busca de apoio; o Parlamento, por sua vez,
e não funcionassem esporadica- usava seu poder para aumentar sua influência. Assim, criou-se na Inglaterra uma tradição
mente ao sabor do monarca [...]. segundo a qual o poder de governar não cabia apenas ao rei, mas ao rei e ao Parlamento juntos.
Já na segunda metade do século
XIV, o Parlamento apresentava a 128
atual estrutura, bipartido entre
Câmara dos Lordes e Câmara
dos Comuns. [...]
D2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 128 25/07/22 15:36 AV2
[...] o parlamentarismo se en-
trelaça com a história inglesa.
Não houve uma doutrina que
desenhasse o Parlamentarismo
antes de colocá-lo na realidade,
e por isso se revela um sistema
tão funcional e interessante. [...]
ANTONACCI, Leonardo. A singular
constituição inglesa: estudos em homenagem
aos 800 anos da Magna Carta. Revista de
Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 1, n.
2, p. 151-186, 2016. p. 152, 160-171.

128

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 128 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Propor aos alunos que ana-
lisem com atenção os mapas
Reino da França (1173) A monarquia francesa desta página.
• Esclarecer aos alunos que a

ALLMAPS

Na França, o primeiro rei a impor sua autoridade
constituição do atual territó-
REINO DA a todos os grupos sociais foi Felipe Augusto (1180-
ESCÓCIA Mar do
Norte rio francês foi sendo consoli-
1223). Felipe conquistou feudos imensos casando-se
PAÍS DE dada ao longo de um proces-
GALES por interesse, comprando terras dos nobres e usando
so que teve início com Felipe
a força de um exército profissional assalariado para
REINO
Augusto.
OCEANO fortalecer o poder real. Para a capital do reino,
ANÇA

ATLÂNTICO
DA • Comentar que esse rei esti-
Felipe Augusto escolheu a cidade de Paris.
mulou o comércio e a arreca-
DA FR

INGLATERRA
IMPÉRIO
REINO DE
REINO
GERMÂNICO dação de impostos, o que lhe
LEÃO
NO

DE Reino da França (1230) permitiu ter um grupo maior


EI

CONDADO NAVARRA
R

PORTUCALENSE REINO
de funcionários a seu serviço.

ALLMAPS

REINO DE DE ARAGÃO
CASTELA

no de
40° N
A leitura dos três mapas

wich
CALIFADO ALMÔADA REINO DA

Meridia
ESCÓCIA

Green
Mar Mediterrâneo

Mar do
Norte
pode contribuir para o desen-
PAÍS DE
0 410 GALES volvimento da competência
REINO
DA
INGLATERRA
específica 2.
OCEANO •Tema Contemporâneo Trans-
ATLÂNTICO
REINO
DA
versal: a leitura e a interpre-
FRANÇA
IMPÉRIO
tação do texto de apoio de-
REINO
DE
GERMÂNICO
senvolvem o tema educação
REINO NAVARRA França (limites atuais)
DE
PORTUGAL REINO fiscal, da macroárea econo-

ALLMAPS
REINO DE DE ARAGÃO Mar do
CASTELA
40° N

REINO
Norte PAÍSES
BAIXOS
mia.
UNIDO
CALIFADO ALMÔADA
Mar Mediterrâneo BÉLGICA
ALEMANHA
A leitura e a interpretação
50° N do texto de apoio desta pá-
wich

LUXEMBURGO
0 410 Paris
gina podem contribuir para o
Green

desenvolvimento da habilida-
iano de

OCEANO
SUÍÇA
de EF07HI07.
Merid

ATLÂNTICO FRANÇA

ITÁLIA

No mapa acima, vê-se o território da França antes do reinado MÔNACO

de Felipe Augusto; no mapa do centro, a França depois dele. ANDORRA


ESPANHA Córsega
Comparando esses dois mapas, percebe-se que, sob o reinado de
Felipe Augusto, o território da França tornou-se três vezes maior.

Mar cargo a um homem de confiança


Mediterrâneo
0 230
e de pulso firme: Étienne Boileau.
A ação atribuída a Boileau com-
Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo, 1990. p. 71-79. porta três objetivos: fazer com
que se respeite a ordem, favo-
recer o desenvolvimento da
Luís IX (1226-1270) também contribuiu para a centralização do poder na França ao prosperidade e fazer com que
permitir que todo aquele que fosse condenado por um tribunal da nobreza recorresse a cheguem ao Tesouro real con-
um tribunal do rei, além de impor uma moeda única para todo o reino da França. tribuições financeiras corres-
pondentes ao enriquecimento
129 da cidade e de seus habitantes
abastados. Tudo isto, para o rei,
está intimamente associado a
uma moralização da adminis-
15:36
TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 129 É nesta lógica que se insere o Livre des métiers
05/08/22 10:06 tração do reino, de sua capital
Paris. Pois Paris, o coração do reino, havia sido
de Paris. em particular, e de seus habitan-
Luís IX, o rei das três ordens tomada pela desordem e pelo pecado; e é em tes como um todo, não havendo
O século XIII dá o tom de uma época na qual um esforço por extirpar esses males da cidade uma distinção clara entre refor-
a proliferação de documentação escrita se pro- real que o rei lhe concede um estatuto especial mas de caráter administrativo,
cessa de maneira inequívoca. [...]. São Luís, es- que, sob diversas formas, perpetuou-se até nos- fiscal ou moral.
pecificamente, é um grande incentivador desta sos dias. Em 1261, São Luís determina que seja BARRETTO, Luiza Zelesco. A construção
lógica tipicamente urbana, ordenando a produ- feita uma reforma administrativa que concede da imagem de Luís IX, o “rei das
ção de numerosos documentos textuais, sobre- praticamente plenos poderes no que se refere à três ordens” (século XIII). Dissertação
tudo de caráter normativo. (Mestrado em História Social) – Programa
manutenção da ordem – noção um tanto quan-
de Pós-Graduação em História,
A burocracia real conhece, com São Luís, uma to abrangente – ao preboste, que se torna o que Universidade Federal Fluminense, Niterói,
nova fase de crescimento. [...]. chamaríamos de “prefeito de polícia”. Entrega o 2013. p. 31-32.
129

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 129 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Facilitar ao estudante a com-
preensão da relação entre a) O responsável por esse texto é o rei, figura com maior prestígio na sociedade francesa da época.
o estabelecimento de uma
moeda única para todo o rei-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

no e o processo de centrali-
O texto a seguir é de 1265. Leia-o com atenção.
zação política.
Para refletir. b) O texto é Que ninguém possa fazer moeda semelhante àquela do rei [...].
uma “ordem do rei”. O do- Que nenhuma moeda seja aceita no reino, a partir da festa de São João [...] fora da
cumento é intitulado Orden- moeda do rei, e que ninguém venda, compre e faça negócios senão com esta moeda. E
nances de rois de France a moeda do rei pode e deve correr no seu reino inteiro, sem oposição de outras moedas
(“Ordens dos reis da França”). particulares que possam existir.
[...] E que ninguém possa danificar a moeda do rei, sob pena física e multa.
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas.
São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 243.
TEXTO DE APOIO
a) Quem é o respon-

BRIDGEMAN/FOTOARENA
A disputa entre o
sável por esse texto
Papa Bonifácio VIII e
e qual é o lugar
o rei Filipe IV no final do
que o autor ocupa
século XIII
na sociedade?
A universalidade do Papa, de
acordo com os dados da Bíblia, b) Como você chegou
da prática do cristianismo pri- a essa conclusão?
mitivo e de Gregório Magno, era b) Resposta pessoal.
essencialmente religiosa. Mas, c) Contextualize. A que
no século XIII, o aspecto político- processo histórico
-secular firma-se fortemente na se pode relacionar
plenitude de poder do Papa. [...] esse documento de
[...] Bonifácio VIII, apoiado na época?
concepção medieval da supre- c) Pode ser relacionado ao pro-
macia papal, de um lado, e Fili- cesso de centralização política,
pe IV, [...] Rei da França, com a também conhecido como pro-
cesso de formação do Estado
concepção moderna da autono- Moderno.
mia nacional, do outro lado. A O rei Luís IX embarca para
disputa entre eles será dura e as Cruzadas. Repare que
fará estremecer a Cristandade, seu manto é bordado com
marcando a passagem para uma a flor-de-lis, símbolo da
nova era. monarquia francesa.
Século XV.
Na época, França e Inglaterra
estavam em guerra pela dispu-
ta de um território. Ambas fica- Felipe IV,, o Belo (1285-1314), deu continuidade à centrali- Clero: conjunto de sacerdotes
ram prejudicadas, assim como de uma religião; no caso,
zação política, exigindo que o clero também pagasse impostos.
também o clero, que se sentiu bispos, arcebispos, padres.
afetado com as cobranças de Como o papa se opôs a essa decisão, Filipe IV convocou os Estados Gerais: assembleia
impostos e por isso apelou ao Estados Gerais,
Gerais, que, em 1302, aprovaram sua decisão. Assim, formada por representantes
Papa contra tais abusos. Boni- pouco a pouco, o rei foi ganhando poder e impondo sua auto- da nobreza, do clero e da
fácio VIII levou o assunto a sé- burguesia.
ridade a todo o reino.
rio, colocando todo o peso do
seu pontificado nessa questão.
Em 1296, com a Bula Clericis
130
laicos proibia a ambos os reis a
taxação dos bens eclesiásticos,
pois esta estava reservada ao excomunhão, proibia aos
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 130 eclesiásticos pagar Filipe rebateu a medida papal, proibindo a saí- 02/08/22 16:21 AV-

Papa. A Inglaterra cedeu sem qualquer tributo aos leigos, e a estes cobrar o da de ouro e prata da França. Com isso dava
dificuldades. A França, porém, que fosse, sem licença papal. Eduardo I, depois um golpe gravíssimo nas finanças do Papa e, ao
inicia uma luta dura contra o de muita indignação, sujeitou-se à Bula; Filipe, mesmo tempo, reunia ao redor de si o consen-
Papado. [...] o Belo, porém, reagiu, [...] proibiu a exportação so da população francesa, descontente com os
Acontecia que, na França e na de ouro, prata, alimentos, cavalos, armas da altos impostos da Igreja. O Rei sentia-se ampa-
França, com os quais Bonifácio contava para rado por toda a nação [...].
Inglaterra, contra as prescrições
canônicas, se exigiam impostos a Cruzada [...] O Papa, diante desses decretos, STREFLING, Sérgio Ricardo. A disputa entre
dos clérigos para fins bélicos; retrocedeu: declarou que as obrigações vassala- o papa Bonifácio VIII e o rei Filipe IV no final do século XIII.
Telecomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 158,
Bonifácio resolveu coibir esse res do clero para com o rei não cessavam com a p. 526-536, dez. 2007. p. 526-529.
abuso pela Bula Clericis laicos,
laicos, Bula; permitia mesmo que se fizessem doações
de 1296, em que, sob pena de espontâneas ao rei [...].
130

122a146_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 130 03/09/22 16:37


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que a Guerra dos Cem
Anos e as guerras de reli-
Guerras que fortaleceram o rei gião do século XVI também
colaboraram para o forta-
Duas importantes guerras também colaboraram para a centralização política na
lecimento do poder real na
Europa: a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que enfraqueceu a nobreza, pois muitos
Europa.
nobres morreram no conflito, e as guerras de religião.
• Caracterizar a Guerra dos
As guerras de religião foram uma série de conflitos armados entre católicos e hugue-
Cem Anos como uma guerra
notes ocorrida na segunda metade do século XVI. Esses conflitos opuseram duas grandes
nacional.
famílias da nobreza – a dos Guise, católica, e a dos Bourbon, protestante – e resultaram
• Destacar que a Guerra dos
em episódios sangrentos. Um deles ocorreu em 24 de agosto de 1572, na França, quando
Cem Anos estimulou a fi-
a rainha Catarina de Médici, interessada em afirmar o poder monárquico, ordenou a delidade ao rei Carlos VII,
matança de protestantes. A violência se estendeu ao interior do país, ocasionando a morte que confiou a liderança dos
de 30 mil protestantes. O episódio ficou conhecido como A Noite de São Bartolomeu. seus exércitos à camponesa
Joana d’Arc. O rei e a cam-
ponesa passaram, então, a

COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA


ser vistos como símbolos de
uma identidade nacional em
construção. O “outro” eram
os ingleses, diferentes nos
costumes, na língua e no ves-
tuário.
• Trabalhar o significado de hu-
guenotes, retomando conte-
údos vistos durante o estudo
da Reforma Protestante.
• Analisar o papel das guerras
de religião na consolidação
da monarquia francesa.
• Explicar que as guerras de
religião foram alimentadas
por poderosas famílias da
nobreza, que armavam e
pagavam homens para lutar
entre si pelo poder.

A Noite de São Bartolomeu, 1572, de Gaspard Bouttats, c. 1670.


+ATIVIDADES
Na França, as guerras entre católicos e protestantes chegaram ao fim no reinado de Faça uma pesquisa sobre a
Henrique IV que, ao assumir o trono em 1589, renunciou ao protestantismo com a célebre vida de Joana d’Arc e analise o
frase: “Paris bem vale uma missa”. Nove anos depois, ele assinou o Édito de Nantes,, que seu papel no contexto da uni-
concedia liberdade religiosa aos protestantes. ficação da França. Sugestão
de material para pesquisa:
131 • JOANA d’Arc (heroína fran-
cesa). Aventuras na História.
[S. l.], c2022. Disponível em:
16:21 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 131 02/08/22 16:22
https://aventurasnahistoria.
uol.com.br/personagens/
historia-biografia-de-joana-
darc.html. Acesso em: 8 ago.
2022.
Produção pessoal.

131

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 131 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que algumas mo-
narquias europeias evoluí-
ram em direção ao absolutis-
mo, uma forma histórica de O absolutismo
organização do poder que
se desenvolveu no Ocidente Durante o processo de centralização política, algumas monarquias Absolutismo:
europeu entre os séculos XV absolutismo,, regime político caracterizado por regime político que
europeias adotaram o absolutismo
se desenvolveu na
e XVIII. O absolutismo pos- uma grande concentração de poder nas mãos do rei. Os monarcas Europa ocidental entre
sui, portanto, tempo e lugar absolutistas podiam convocar o exército, criar e cobrar impostos, fazer os séculos XV e XVIII.
definidos. leis e declarar guerra a outros reinos. Mas, ao contrário do que possa O absolutismo teve,
• Relativizar a ideia de que o portanto, tempo e
parecer, o poder do rei absolutista tinha limites; ele tinha seu poder lugar definidos.
poder dos reis absolutistas
limitado pelos costumes da época, pela tradição e pela existência de
era ilimitado, informando
que, apesar de concentra- ministros fortes. Entre os fatores que contribuíram para o estabelecimento do absolutismo
rem enorme soma de poder, estão: o aperfeiçoamento da imprensa, a Reforma Protestante e a política de caça às bruxas.
os reis absolutistas encontra- A imprensa melhorou o sistema de comunicação em toda a extensão do reino, aumen-
vam freios às suas ações nas tando o poder do rei sobre seus súditos. A Reforma Protestante enfraqueceu o poder
concepções morais, nos cos- universal do papa, propiciando, assim, o fortalecimento do poder do rei. A política de caça
tumes da época e na ânsia de às bruxas foi aplicada contra as populações camponesas: inicialmente os reis espalhavam o
poder de alguns de seus mi-
pânico no campo, acusando os camponeses, sobretudo mulheres, de praticarem feitiçaria.
nistros. Outro limite ao poder
absoluto dos reis era a exis- Depois, com a desculpa de combatê-la, os reis condenavam essas pessoas à morte na
tência de privilégios e imu- fogueira ou na forca. E, dessa forma, estendiam sua autoridade também ao campo.
nidades dados a indivíduos,
grupos sociais e corporações.
GRANGER/FOTOARENA

• Reforçar a ideia de que a ex-


plicação dos fenômenos his-
tóricos é multifatorial. Entre
os fatores que contribuíram
para o estabelecimento do
absolutismo estão: o aper-
feiçoamento da imprensa, a
Reforma Protestante e a po-
lítica de caça às bruxas.
• Citar o exemplo da política
de caça às bruxas, informan-
do que era comum mulheres
acusadas de feitiçaria serem
obrigadas a provar sua ino-
cência enquanto eram sub-
metidas ao afogamento.
O trabalho com a página
pode contribuir para o desen-
volvimento da competência Gravura do século XVI que mostra camponesas alemãs sendo queimadas sob a acusação de bruxaria.
específica 6. A imagem representa um fato real ocorrido em 1555. Os reis passaram a definir o crime de feitiçaria
como de lesa-majestade (traição ao rei) e, com essa justificativa, reprimiram brutalmente homens e,
principalmente, mulheres, camponeses em sua maioria.

Imagens em movimento
O documentário conta a
132
história da Europa a partir da
fala de diferentes cidadãos,
buscando uma aproximação TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 132 dade política – agora numa perspectiva constitu- 02/08/22 16:22 AV-
cionalista liberal – a respeito de como deveriam
da história da Europa com a O termo absolutismo ser organizados os poderes políticos do Estado.
das gerações atuais. O termo absolutismo é tardio, difundindo-se Por este viés, para se contrapor aos “riscos de ab-
no vocabulário político francês ao final do século solutismo”” [...], a concentração do poder soberano
solutismo
• UMA NOVA narrativa para XVIII e, na Inglaterra, em começos do século XIX, de decisão numa autoridade executiva –, dever-
a Europa. 2015. Vídeo quando a noção de soberania já tinha mudado -se-ia formar um sistema cameral permanente
(autoridade legislativa) e conferir independência
(20min57s). Publicado pelo de sentido: o Estado, em vias de burocratização,
institucional e poder fiscalizador para a justiça
canal EuropaConsigo. Dispo- esvaziava cada corpus societatis de imperio
imperio,, crian-
sobre os demais poderes, de modo que o poder
do progressivamente uma situação jurídica de
nível em: https://youtu.be/ igualdade civil (nesse sentido, uma societas civilis
poder. [...].
limitasse o poder.
mkMJ7zQCf6w. Acesso em: 9 imperio). É frente a tal inovação institucional
sine imperio).
VIANNA, Alexander Martins. Absolutismo: os limites de uso de
um conceito liberal. Revista Urutágua, Maringá,
ago. 2022. que surge um novo debate e uma nova sensibili- n. 14, p. 1-14, dez. 2007/mar. 2008. p. 12.
132

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 132 02/09/2022 09:49


TEXTO DE APOIO
Thomas Hobbes
(1578-1679)
Teóricos do absolutismo [...] Para ele, conforme afirmou
em seu famoso livro Leviatã
Leviatã,, a
Conforme os reis impunham sua autoridade, em toda a extensão do reino surgiam
constituição desse poder central
pensadores que refletiam sobre o absolutismo monárquico. Alguns deles, como veremos era a única possibilidade de que
a seguir, justificavam esse regime político. as pessoas fossem protegidas
Thomas Hobbes (1588-1679): filósofo inglês e autor da obra Leviatã,, dizia que, no contra invasores estrangeiros
princípio, os homens viviam em estado natural, obedecendo apenas aos seus interesses e injúrias alheias e pudessem
viver “satisfeitas”: transferin-
particulares. Por isso, a vida era uma guerra permanente de “todos contra todos” e o do “todo o seu poder e fortale-
homem era o “lobo do homem”. Então, para evitar a destruição da humanidade, os seres za a um homem ou a uma as-
humanos teriam renunciado a todo direito e a toda liberdade em favor de um único senhor, sembleia de homens, todos os
o Estado absolutista. Portanto, segundo Hobbes, foram os próprios seres humanos que quais, por pluralidade de votos,
possam reduzir suas vontades
entregaram seu poder a um homem, o monarca absolutista.
a uma vontade”, como se cada
Jacques Bossuet (1627-1704): bispo francês e autor de A política tirada da Sagrada súdito dissesse a todos que au-
Escritura,, uma teoria apoiada na Bíblia. Para Bossuet, o rei era o representante de Deus torizava e transferia a este ho-
na Terra e, como tal, era infalível. Assim, o direito que mem ou assembleia de homens
o rei tinha de governar de modo absoluto era de o direito de “governar-me a mim
mesmo, com a condição de que
origem divina; por isso, a teoria criada por Bossuet é
todos vós transferireis a ele vos-
chamada de Teoria do Direito Divino dos Reis.. so direito e autorizareis todos
Segundo essa teoria, o maior crime que um seus atos da mesma maneira”.
súdito podia cometer seria o de traição Seria essa a origem e natureza
ao rei (lesa-majestade). do Leviatã, ou melhor, com in-

LEONARD DE SELVA/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


finita reverência, daquele “Deus
“Deus
mortal,, ao qual devemos, sob o
mortal
imortal, nossa paz e nossa
Deus imortal,
defesa.”
MICELI, Paulo. História moderna. São
Paulo: Contexto, 2016. p. 101.

Jacques-Benigne
Lignel Bossuet.
Escola Francesa, 1814.

133

16:22 Dica de leitura


AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 133 Imagens em movimento 02/08/22 16:23

O artigo deste professor de Filosofia da A animação é inspirada na principal obra


USP, a respeito da obra de Thomas Hobbes, de Thomas Hobbes: Leviatã.
aborda o medo como sentimento fundante, • LEVIATÃ (animação inspirada na obra de
seja na esfera individual, seja na coletiva. Thomas Hobbes). 2012. Vídeo (14min40s).
• RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e Publicado pelo canal FilosofiaNaEscola.
a esperança. In: WEFFORT, Francisco (org.) Disponível em: https://youtu.be/C7FS5sgS-
Os clássicos da política. São Paulo: Ática, t5c. Acesso em: 9 ago. 2022.
2001. v. 1.

133

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 133 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, durante seu
governo, Luís XIV usou a
força do exército real e, ao O reinado de Luís XIV, o Rei-Sol
mesmo tempo, cuidou mi-
O absolutismo variou no tempo e no espaço. O rei que melhor encarnou o absolutismo na
nuciosamente da construção
Europa ocidental foi o francês Luís XIV (1643-1715), o Rei-Sol, que reinou de fato por 54 anos.
de sua imagem pública para
No poder, ele julgava e punia; dava ordens e fiscalizava sua execução; decidia pessoalmente
fortalecer sua autoridade.
pelo Estado francês. Enfim, agia de acordo com a frase atribuída a ele: “O Estado sou eu”.
Isso explica por que Luís XIV
foi o rei com o maior número Durante seu longo reinado, além de usar o exército para impor sua autoridade,
de representações (pinturas, Luís XIV procurou também atender aos interesses da nobreza e da burguesia. Atraiu a
gravuras, estátuas etc.) na nobreza, distribuindo pensões e cargos bem remunerados. E, na sua corte, no famoso
história do Ocidente. Palácio de Versalhes (residência do rei), abrigava e sustentava milhares de outros nobres,
• Destacar que, para agradar a garantindo-lhes uma vida de luxo e ostentação.
burguesia, Luís XIV nomeou
SEBASTIENDURAND/SHUTTERSTOCK.COM

para ministro das finanças Je-


an-Baptiste Colbert, membro
de uma família burguesa que
adotou uma política mercan-
tilista conhecida como col-
bertismo.
Detalhe do portão do
• Temas Contemporâneos Palácio de Versalhes,
Transversais: a leitura e a decorado com a
interpretação do texto de flor-de-lis, símbolo
apoio desta página mobili- do Rei-Sol. Versalhes
(França), fotografia
zam os temas da macroárea de 2017.
economia.

Dica de áudio
Podcast que aborda o ab-
solutismo francês e o persona-
gem histórico Luís XIV.
• A C O R T E d e L u í s X I V. Para agradar a burguesia, o rei entregou a direção da economia a Jean-Baptiste Colbert,
Entrevistador: Marcelo membro de uma importante família burguesa. Para manter a balança comercial favorável,
Consentino. Entrevistados: Colbert aumentou os impostos sobre os produtos estrangeiros, dificultando sua entrada no
Laura Ferrazza, Robert país, e diminuiu os impostos sobre as exportações francesas. Além disso, concedeu prêmios
Ponge, Rodrigo de Lemos. em dinheiro a várias manufaturas francesas, sobretudo as de artigos de luxo.
[S. l.]: Estado da Arte, c2016. Colbert estimulou a economia, mas não conseguiu equilibrar as finanças, principal-
Podcast. Disponível em: mente por causa dos gastos escandalosos da corte, das sucessivas guerras externas e da
https://oestadodaarte.com. fuga de investimentos, motivada pela intolerância religiosa. É que, em 1685, o Rei-Sol
br/a-corte-de-luis-xiv/. Acesso proibiu a liberdade de culto dos protestantes (muitos deles ricos negociantes), que, por
em: 9 ago. 2022. isso, deixaram o país rumo à Suíça, Inglaterra e Holanda, levando com eles seus capitais.

134
TEXTO DE APOIO
O colbertismo ção pública. Protegeu a 134
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd indústria e o comércio. cava na intervenção do Estado em todos os do- 02/08/22 16:25 AV2

Na França, o Mercantilismo Trouxe para a França importantes artesãos es- mínios e caracterizava-se pelo protecionismo
protecionismo,, ou
manifestou-se pelo Colbertismo, trangeiros, criou fábricas estatais, reorganizou seja, pela adoção de medidas pelo governo para
ideias derivadas de Jean Baptiste as finanças públicas e a justiça, criou empresas proteger as empresas nacionais contra a concor-
Colbert (1619-1683), segundo de navegação e fundou a Academia de Ciências rência estrangeira. Seu pensamento encontra-se
as quais as disponibilidades de e o Observatório Nacional da França. Com a pro- na sua obra Cartas, instruções e memórias,
memórias, 1651
metais preciosos poderiam au- teção à indústria, as exportações seriam mais a 1669.
mentar pelas exportações e pelo regulares e com maior valor. Com esse objetivo, SOUZA, Nali de Jesus de. Uma introdução à história do
desenvolvimento das manufa- os salários e os juros passaram a ser controlados pensamento econômico. Núcleo de Apoio à Educação
Inclusiva, Porto Alegre, p. 131, 2003.
turas. Colbert foi Ministro das pelo Estado, a fim de não elevar os custos de pro-
Relatório de pesquisa da área de História
Finanças de Louis XIV e chegou dução e poder assegurar vantagens competitivas Econômica realizado no NEP –
a controlar toda a administra- no mercado internacional. O Colbertismo impli- PUCRS em 2003. p. 5.
134

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 134 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o tema barroco
com base nas principais ca-
racterísticas apresentadas
PARA SABER MAIS nas imagens da página.

O barroco europeu Imagens em movimento


Vídeo com o professor de
Na Europa de Luís XIV, o estilo de pintura predominante foi o barroco; esse estilo História da Arte Pedro Rennó
surgiu na Itália no final do século XVI e tinha como principais características: sobre a história e as caracterís-
• disposição dos elementos na tela quase sempre em diagonal, dando a ideia de ticas gerais do barroco.
movimento; • O BARROCO no século XVII.
• gosto pelas oposições, com acentuado contraste entre o claro e o escuro e entre luz 2019. Vídeo (17min55s). Pu-
blicado pelo canal Parabó-
e sombra;
lica. Disponível em: https://
• predominância de temas religiosos, ou ligados à vida da nobreza ou ainda ao cotidiano youtu.be/lfd7jzlnHJo. Aces-
das pessoas comuns. so em: 9 ago. 2022.
Na Espanha, viveu um importante representante do barroco: o pintor Diego
Velázquez, um filho de nobres nascido em 1599, em Sevilha, que na época era a cidade +ATIVIDADES
mais rica da Espanha. Ele retratou ÓLEO SOBRE TELA, 100,5 CM × 119 CM. BRIDGEMAN/FOTOARENA
Pesquise em sites confiáveis
indivíduos da nobreza espanhola a obra As meninas, do pintor
do século XVII e também pessoas Diego Velázquez, e identifique
simples do povo. Observe as duas características do estilo
imagens ao lado. barroco presente nela. Suges-
tão de material para pesquisa:
AS MENINAS, de Diego Veláz-
quez. Wikimedia Commons.
A velha cozinheira, de Diego Velázquez, [S. l.], c2022. Disponível em:
1618. Nessa imagem, o autor usa tons https://commons.wikimedia.
escuros para o fundo e ilumina os rostos e org/wiki/File:Las_Meninas,_by_
os objetos que pretende destacar. Diego_Vel%C3%A1zquez,_
from_Prado_in_Google_Earth.
jpg. Acesso em: 9 ago. 2022.
Resposta pessoal.
ÓLEO SOBRE TELA, 163,8 CM × 198,7 CM. BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA Professor, o tema mostra
Outro artista filiado Flamengo: natural um aspecto da vida da nobre-
das terras que hoje za e o contraste entre o claro e
ao barroco é o flamengo correspondem
Anthony van Dyck. Pintor aos territórios o escuro e entre luz e sombra.
oficial da corte de Carlos I da da Bélgica e da
Esta atividade contribui para
Holanda. o desenvolvimento da compe-
Inglaterra, ele representou o tência geral 3.
modo de viver, de se vestir e de se comportar
próprio da nobreza inglesa do século XVII.
pelo movimento chamado neo-
clássico.
Os filhos de Carlos I, Na pintura barroca europeia,
de Anthony van Dyck, 1637. sobressai a obra de Caravaggio
(1571-1610), Pietro da Corto­­
na (1596-1669), Andrea Pozzo
135 (1642-1709), Peter Paul Rubens
(1577-1640), Diego Velázquez
(1599-1660), Rembrandt van Rijn
(1606-1669), Van Dyck (1599-
16:25 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 135 O termo barroco era utilizado por joalheiros
05/08/22 10:07 1641), Bartolomé Esteban Murillo
para designar uma pérola irregular, imperfeita, (1618-1682) e Francisco Zurbarán
O Barroco como estilo artístico desenvolveu- sendo aplicado posteriormente para classificar (1598-1664). Na arquitetura, Gian
-se especialmente entre o final do século XVI e uma arte que foi considerada extravagante e Lorenzo Bernini (1598-1680) e
o século XVII. Surgiu na Itália, difundiu-se por disforme. As antigas visões sobre o Barroco ten- Francesco Borromini (1599-1667),
toda a Europa e a América Latina, sendo que diam a esclarecer muito pouco, assim como ex- sendo que o primeiro é também
nesta última região o estilo vigorou por mais primiam o desprezo por qualquer estilo de arte reconhecido por suas esculturas.
tempo, até o início do século XIX. Em um mes- supostamente distante dos padrões clássicos FARIA, Patrícia Souza de. O barroco.
mo período histórico poderiam coexistir estilos de representação, isto é, que não reproduziam Biblioteca Nacional Digital Brasil. [S. l.],
artísticos diferentes, de modo que o barroco c2022. Disponível em: http://bndigital.
os padrões artísticos da Antiguidade greco-ro-
bn.gov.br/dossies/rede-da-memoria-virtual-
conviveu com outros estilos, como o maneiris- mana, consolidados no Renascimento artístico brasileira/artes/o-barroco/.
mo e o rococó. dos séculos XV-XVI e retomados no século XVIII Acesso em: 9 ago. 2022.
135

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 135 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de mer-
cantilismo.
• Identificar as principais carac- O mercantilismo: riqueza e poder para o Estado
terísticas do mercantilismo.
• Ajudar os alunos a construí­ As monarquias absolutistas europeias adotaram um conjunto Mercantilismo: o
rem os significados de me- de ideias e práticas econômicas que, mais tarde, foram chamadas termo deriva do alemão
talismo, balança comercial de mercantilismo
mercantilismo.. O mercantilismo é um conjunto de ideias e merkantilismus. As
monarquias absolutistas
favorável e protecionismo. práticas adotado pelas monarquias absolutistas europeias, entre os deram grande apoio às
• Explicar o exclusivo colonial, séculos XV e XVIII, para conseguir riqueza e poder. É importante atividades comerciais
chamando a atenção para o (mercantis); daí o
lembrar que absolutismo e mercantilismo caminham juntos; são
nome mercantilismo.
fato de que, na prática, o pac- duas faces da mesma moeda.
to colonial não se efetivou.
Na América portuguesa, por SHARON WILEY/FLORIDA KEYS NEWS BUREAU/AFP

exemplo, foi usual o comér-


cio dos colonos com a praça
de Buenos Aires e, também, Joias encontradas em restos de
um navio espanhol do século XVII.
com a costa africana, com Nuestra Señora de Atocha foi o
destaque para Angola. navio que afundou na Flórida
em 1622, e levava cobre, prata,
ouro, tabaco, pedras preciosas,
joias e anil da Espanha para
TEXTO DE APOIO Cartagena, Porto Belo e Havana.
Flórida (EUA), 2011.
O termo mercantilismo
A Época Moderna, tradicional-
mente demarcada peIo fecha-
mento da rota comercial Euro-
pa-Oriente via Constantinopla Principais características do mercantilismo
(1453), é o período da transição do
feudalismo para o capitalismo. Entre as principais características do mercantilismo, podemos citar:
Essa sociedade em transição • metalismo:: crença segundo a qual quanto mais ouro e prata uma nação possuísse, mais
muda os seus valores e práticas rica ela seria. Com base nessa crença, procurava-se acumular metais preciosos no país;
[...] e incorpora novos elementos,
trazidos pela sociedade capitalista. • balança comercial favorável:: princípio decorrente do metalismo. Na época, o dinheiro
O novo e o velho convivem era feito de ouro e prata; assim, a forma de reter ouro e prata em um país era exportar
lado a lado. O velho é a herança o máximo e importar o mínimo, mantendo-se assim a balança comercial favorável;
medieval, e o novo é o desenvol-
• protecionismo:: incentivo ao comércio e à manufatura nacionais, protegendo-os da
vimento do capitalismo. [...]
concorrência estrangeira. Recomendava-se, por exemplo, o aumento dos impostos sobre
O mercantilismo é a velha se-
mente que traz em si os códigos os produtos estrangeiros a fim de torná-los mais caros, favorecendo os similares nacionais;
fundamentais de uma nova so- • exclusivo colonial:: as colônias deviam comerciar exclusivamente com suas metrópoles.
ciedade. Mas como definir esse
Um exemplo: os colonos da América espanhola deveriam comerciar somente com a
mercantilismo?
Espanha (metrópole) e comprar somente dos espanhóis aquilo de que necessitassem.
Mercantilismo é um conjunto
de ideias, seguido de uma prática Mas, na prática, não era isso que ocorria; muitas vezes, os colonos comerciavam
política e econômica desenvol- diretamente com outros países e continentes.
vida pelos Estados europeus na
Época Moderna, mais especifica-
mente, dos séculos XV ao XVIII.
136
Com o mercantilismo, os Es-
tados intervêm diretamente na
economia, procurando assegu- cem funções burocráticas
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 136 – e da formação de to de uma classe social da maior importância 02/08/22 16:39 AV-

rar o crescimento político e eco- exércitos nacionais permanentes. para a época moderna e para o advento do capi-
nômico e fortalecer as classes O rei, gradativamente, passa a ser detentor do talismo, a burguesia.
ou grupos ligados ao Estado. poder do Estado. Financiando essa sua posição, A burguesia surge das trocas e do comércio den-
Começa um fenômeno de a burguesia acaba tirando proveito da centrali- tro das e entre as cidades, nas caravanas e nas fei-
aproximação entre o rei [...] e a zação política. ras da Idade Média. Aos poucos, vai acumulando
burguesia comercial. [...] A fatia da burguesia é garantida pelo rei, riquezas que lhe permitirão evoluir de uma situa-
Essa burguesia das cidades que unifica o sistema tributário, o monetário, ção secundária durante o absolutismo até se tor-
pode financiar a organização de extingue as barreiras alfandegárias internas e nar detentora do poder econômico e político, com
Estados centralizados, através protege esse mercado da ação estrangeira. o advento das revoluções burguesas.
do surgimento de funcionários [...] Assim, junto ao mercantilismo, pode-se PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América.
reais remunerados – que exer- observar [...] também a trajetória de crescimen- São Paulo: Contexto, 1998. (Repensando a História, p. 13-16).
136

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 136 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Facilitar a percepção de que
o mercantilismo variou no
O mercantilismo tempo e no espaço.
• Citar exemplos de mercanti-
lismos com diferentes carac-

IVAN PONOMAREV/SHUTTERSTOCK.COM
terísticas.
• Trabalhar o conceito de capi-
talismo.
O conteúdo desta página
quer contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade
EF07HI17.

Dica de leitura
• Nesta obra de caráter ensaís-
FER GREGORY/SHUTTERSTOCK.COM

tico, o autor busca clarificar


os debates entre a história

BENTINHO
dos fatos e das teorias eco-
nômicas do mercantilismo.
• DEYON, Pierre. O mercanti-
lismo. São Paulo: Perspecti-
va, 2001 (Coleção Khronos).

EDITORA PERSPECTIVA
a) Acumular ouro e prata b) Manter a balança
em seus países. comercial favorável
(exportando mais do
que importando).

METRÓPOLE
COMÉRCIO

MYSTICALINK/SHUTTERSTOCK.COM
COLÔNIA
c) Proteger da concorrência estrangeira os
produtos nacionais, como tecidos de seda, d) As colônias só deviam
e, no caso da França, dificultando a entrada poder comerciar com
de mercadorias estrangeiras em seus reinos. suas metrópoles.

137
assumir, na Europa, uma verda-
deira supremacia marítima e co-
mercial e, talvez, já a suprema-
16:39 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 137 ria entre a das Províncias Unidas e a 02/08/22
da Fran-
16:37
cia industrial.
ça: as Províncias Unidas onde a impotência do
[...] As grandes companhias comerciais, de Como em todos os outros paí-
poder federal frequentemente deixa livre curso
seu lado, prepararam e favoreceram a adoção ses da Europa, o mercantilis-
dos Atos de Navegação. É, talvez, a característi- aos interesses particulares, até mesmo antina-
mo adquiriu na Inglaterra três
ca mais original da política econômica inglesa, cionais, e a França onde o zelo de um ministro,
formas essenciais: proteção, da
graças à existência do Parlamento, ela é fre- suprindo mal o enfraquecimento dos corpos in-
moeda e dos estoques de metais
quentemente ajustada e ratificada. Não mais termediários, a intervenção do Estado assume
preciosos, proteção da produ-
sob os Stuarts que sob o Protetorado, o Estado um caráter autoritário ou repressivo. O mercan-
ção, encorajamentos e favores à
não está às ordens dos mercadores, mas con- tilismo inglês se beneficia da precocidade das
marinha e ao comércio nacional.
sulta, inspira-se antes de decidir ou de arbitrar. instituições políticas e sociais, da qualidade da
DEYON, Pierre. O mercantilismo.
Em matéria econômica, como em matéria polí- informação e da reflexão teórica no país, evolui, São Paulo: Perspectiva, 2001.
tica, a situação da Inglaterra parece intermediá-
intermediá- se adapta, se aperfeiçoa, e ajuda a Inglaterra a (Coleção Khronos, p. 30).
137

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 137 02/09/2022 09:49


TEXTOS DE APOIO
Considerando que a “primeira
coisa que Drake fazia ao captu-
rar navios era saquear os mapas
cartográficos, astrolábios e com- O mercantilismo variou no tempo e no espaço
passos” [...], o retorno de Fran- Na Espanha do rei Felipe II (1556-1598) predominou o metalismo; a Espanha buscou
cis Drake à Inglaterra envolvia
acumular metais preciosos. Já na França de Colbert predominou o protecionismo; o governo
muito mais do que a difusão das
fragilidades dos portos; implica- intervinha na economia, protegendo as manufaturas francesas.
va, na verdade, o compartilha- A Inglaterra da rainha Elizabeth I (1558-1603) adotou o protecionismo; empenhou-
mento dos “segredos ibéricos” -se em incentivar o comércio exterior e a marinha mercante de seu país. Para incentivar
com outros ingleses, visto que o comércio exterior, Elizabeth I

LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


o corsário aprendeu sobre as
concedia prêmios às manufaturas
rotas marítimas com os pilotos
capturados e roubou diversos inglesas, enquanto aumentava
documentos. Essa publicidade os impostos sobre os produtos
dos “segredos” não instigaria estrangeiros, principalmente dos
apenas a incursão de corsários tecidos franceses. Ela também
pelo mar do Sul, mas a presen-
protegeu a indústria naval e a
ça de estrangeiros pelas mais
diversas partes do Novo Mundo, mineração. Por estar em uma
maximizando, assim, a “ameaça ilha, a Inglaterra precisava de
para segurança do reino”. navios para comerciar com outros
BATISTA, Bianca. Do manuscrito ao países. E, para fazer navios, pre-
impresso: a transformação do piloto Nuno
cisava de madeira e de ferro.
da Silva em autor. Fragmentum,
Santa Maria, n. 57, p. 173-194, A monarquia inglesa também
jan./jun. 2021. p. 177. acumulou capitais custeando e
apoiando a pirataria nas costas
O mercantilismo, como um da América, da África e da Ásia.
conjunto de práticas e projetos
econômicos desenvolvidos na Drake navega pelo
Europa moderna, só foi possível mundo, de Peter
pela associação dos mercado- Jackson, 1964.
Corsário: pirata
res aventureiros com os estados O corsário Francis
que tinha carta
modernos. A associação entre Drake conta à rainha
de corso, licença
mercantilismo, reformas religio- Elizabeth I seu plano
para a prática
sas e estados modernos originou ousado de velejar ao da pirataria.
redor do mundo.
os novos registros do espaço ge-
ográfico. O campo, até então,
a base do processo de riqueza, Essas medidas dos reis absolutistas fortaleceram os Estados nacionais e, ao mesmo
transformou-se, adquirindo um tempo, promoveram o crescimento de um grupo social que lucrava com o comércio, a bur-
novo lugar na expansão da eco- guesia mercantil. O acúmulo de capitais por meio da circulação de mercadorias preparou
nomia moderna. Não valia mais
o caminho para a Revolução Industrial. Assim, o mercantilismo criou as condições para a
a pena ser proprietário de vastas
áreas de terras improdutivas, emergência do capitalismo.. O capitalismo é um sistema socioeconômico caracterizado
era preciso transformá-las em por propriedade privada dos meios de produção (terras, fábricas, equipamentos etc.),
terras de trabalho e produção relações assalariadas de trabalho e produção visando ao lucro.
com capacidade de produzir ri- Por isso, para alguns historiadores, o mercantilismo foi um período de transição para
queza mais sólida [...].
o capitalismo.
As mudanças atingiram tam-
bém as formas de organização
social. Com o crescimento do
138
comércio, as cidades expandi-
ram-se, promovendo alterações
nos modos de realização de tro- nômico dos campos, agora 138 a direção
EDITORA VOZES

AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 05/08/22 10:07 D2-H

cas, incentivando a invenção de se modificava. As transformações


novos instrumentos financeiros consolidaram a hegemonia da cida-
e consolidando a ideia de mer- de sobre o campo. A paisagem rural
cado e circulação associados à se urbanizou pela ação direta dos
produção. homens ricos e urbanos [...].
Novos homens, ricos e urba-
RODRIGUES, Antônio Edmilson M.; KAMITA,
nos, dominaram o cenário das
João Massao. História Moderna:
cidades, afastando delas os ve- os momentos fundadores da cultura ocidental.
lhos hábitos rurais. Se até o sé- Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro:
culo XVI a cidade moveu-se em Editora PUC-Rio, 2018.
decorrência do movimento eco- (Série História Geral, p. 72-73).
138

122a146_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 138 03/09/22 09:37


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de
guerra de Reconquista.
A formação das monarquias ibéricas • Relacionar as guerras de Re-
conquista com a formação
Tanto a monarquia portuguesa quanto a monarquia espanhola se formaram durante dos Estados nacionais de
as lutas dos cristãos para expulsar os árabes muçulmanos da Península Ibérica. Essas lutas Portugal e Espanha.
são chamadas de Reconquista,, pois o objetivo dos cristãos era justamente reconquistar
as terras perdidas para os árabes.
Imagens em movimento
Com a invasão dos árabes muçulmanos, a liderança cristã se retirou para o norte da
Península Ibérica, onde fundou os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão. A partir do Programa da emissora RTP
portuguesa, no qual o profes-
século IX, no entanto, animada pelo espírito das Cruzadas e pelas desavenças entre os
sor José Hermano Saraiva fala
próprios muçulmanos, a liderança cristã iniciou as lutas de Reconquista. Acompanhe esse
sobre a origem de Portugal.
processo nos mapas a seguir.
• A ALMA e a gente: como
nasceu Portugal? 2015.
Reconquista da Península Ibérica Vídeo (28min17s). Publicado
pelo canal História de Por-

ALLMAPS
ALLMAPS

Século XI Século XII tugal JHS. Disponível em:


40°
N
LEÃO NAVARRA 40°
LEÃO
NAVARRA
https://youtu.be/i6hogS
N
CASTELA ARAGÃO
CONDADO DE
BARCELONA
PORTUGAL CASTELA ARAGÃO
8yLu4. Acesso em: 9 ago.
CONDADO DA
CATALUNHA 2022.
CALIFADO DE CÓRDOBA
OCEANO
ATLÂNTICO

Mar
REINO ALMORÁVIDA
Mar
+ATIVIDADES
OCEANO Mediterrâneo Mediterrâneo
ATLÂNTICO
ÁFRICA ÁFRICA
Em grupo. Produzam um
0° 0°
0 250 0 250
podcast relacionando as
guerras de Reconquista à for-
mação das monarquias nacio-
ALLMAPS

ALLMAPS
nais de Portugal e Espanha.
Século XIII Século XV
LEÃO
FRANÇA FRANÇA
Resposta pessoal.
40° NAVARRA 40°
N N NAVARRA
Professor, espera-se que
PORTUGAL ARAGÃO
PORTUGAL ARAGÃO os alunos entendam que, du-
OCEANO CASTELA OCEANO CASTELA
ATLÂNTICO ATLÂNTICO rante as lutas de Reconquista,
ALGARVE
CALIFADO ALMÔADA
deu-se a formação dos reinos
GRANADA
Mar
Mediterrâneo GRANADA
Mar
Mediterrâneo
de Leão, Castela, Navarra e
Aragão. No decorrer das lu-
0° ÁFRICA 0° ÁFRICA
0 250 0 250 tas, verifica-se, no século XI,
que Henrique de Borgonha
Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann.
Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. p. 182.
recebeu dos reis de Leão e Cas-
tela o Condado Portucalense,
Como se vê nessa sequência de mapas, a partir do século XI os reinos cristãos reconquistaram pouco a
e que seu filho Afonso Henri-
pouco os territórios perdidos para os árabes na Península Ibérica, processo em meio ao qual se formaram ques, ao mesmo tempo, com-
os reinos de Portugal e da Espanha. bateu os árabes, na luta pela
independência do condado e,
139 em 1139, rompeu com os reis
de Aragão e Castela. Surgiu,
assim, o reino de Portugal. Já
10:07 TEXTO DE APOIO
D2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 139 gerou uma aliança momentânea entre alguns
25/07/22 15:36 a formação da Espanha se dá
reinos cristãos peninsulares de Castela, Aragão com o casamento dos monar-
O contexto ibérico na passagem do século XII e Navarra. O enfrentamento entre as hostes cris- cas de Aragão e Castela, que
para o XIII é caracterizado por certa instabilida- tãs e muçulmanas deu-se na Batalha das Navas
de política nos reinos cristãos peninsulares, ao haviam se unido na luta con-
de Tolosa em 1212, onde os almôadas sofreram
passo de que os espaços muçulmanos ibéricos uma derrota significativa. Esta derrota provocou tra os muçulmanos
observam uma unificação em torno do Califado um enfraquecimento do Califado Almôada, ao A atividade pode contribuir
Almôada. Um dos conflitos mais evidentes no passo de que surgiram várias taifas
taifas,, reinos inde- para o desenvolvimento da
lado cristão é a disputa entre Castela e Leão. Tal pendentes nos territórios muçulmanos ibéricos. competência geral 4.
conflito é motivado pelas disputas de fronteiras, DIEHL, Rafael de Mesquita. O processo de fortalecimento do poder
de “eixos de expansão” e também por disputas régio no reinado de Fernando III o Santo de Castela (1217-1252) e
de jurisdições eclesiásticas. O avanço almôa- Leão (1230-1252) inserido no contexto da Reconquista cristã ibérica.
da em direção aos territórios cristãos, contudo, Revista Vernáculo, Curitiba, n. 23/24, p.152-158, 2009. p 153.
139

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 139 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que Afonso Henri-
ques manteve a luta contra
os árabes e liderou o com-
bate pela independência do
A formação de Portugal
No século XI, o nobre Henrique de Borgonha ganhou do rei de Leão e Castela, como
A
Condado Portucalense. Após
recompensa por sua participação na luta contra os árabes, uma faixa de terra: o Condado
a proclamação da indepen-
Portucalense.. Seu filho e herdeiro, Afonso Henriques, continuou a combater os árabes e,
dência, sagrou-se rei, o pri-
ao mesmo tempo, liderou a luta para conquistar a independência do condado. Em 1139,
meiro de Portugal, e deu iní-
ele rompeu com o reino de Leão e Castela e proclamou a independência do condado, fun-
cio à dinastia de Borgonha.
dando assim o Reino de Portugal. Afonso Henriques sagrou-se rei, o primeiro de Portugal,
• Caracterizar a formação do
e deu início à dinastia de Borgonha. Os reis dessa dinastia continuaram lutando contra os
Estado espanhol.
árabes e, em 1249, incorporaram as terras do Algarve, na região sul. Completou-se assim
• Comentar que o ponto cru- a formação do Reino de Portugal.
cial para a formação da Es-
panha foi o casamento de
Fernando Aragão e Isabel A formação da Espanha
de Castela, que uniram suas Na região vizinha a Portugal, a
forças e seus territórios, luta dos cristãos contra os árabes
avançando no combate aos muçulmanos era liderada pelos reis
árabes. de Aragão e Castela. No século XIII,
esses dois reinos contavam com
cidades portuárias movimentadas,
Dica de leitura como Barcelona, por exemplo,
Neste livro, os autores con- e uma burguesia próspera que
tam 850 anos da história de colaborava com a monarquia forne-
Portugal, da Idade Média ao cendo dinheiro para a luta contra os
século XX. árabes de religião muçulmana.
• MONTEIRO, Nuno G.; SOU- Em 1469, ocorreu um fato deci-
SA, Bernardo Vasconcelos; sivo para a formação da Espanha: os
RAMOS, Rui (coord.). Histó- reis cristãos Fernando de Aragão e
ria de Portugal. Lisboa: Esfe- Isabel de Castela se casaram e uniram
ra dos Livros, 2009. suas terras e seus esforços no combate
aos árabes. Em 1492, os exércitos de
Fernando e Isabel ampliaram seu terri-
EDITORA DOM QUIXOTE

tório reconquistando Granada, último

PICTURES FROM HISTORY/AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA


reduto árabe na Península Ibérica.
Anos depois, com a conquista de
Navarra, completou-se a formação do
Reino da Espanha.

Os reis católicos Fernando II de Aragão


e Isabel I de Castela com sua filha,
Joana de Castela, em obra de obra
de Pedro Marcuello, 1482.

140

TEXTO DE APOIO AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 140 sular a partir do final do século XI – tendo a instituição de um 05/08/22 10:09 AV2

reino independente dos outros reinos peninsulares vindo a ser


A utilização do nome de “Portugal” para definir uma configu-
protagonizada pelo filho de um aristocrata borgonhês e de uma
ração política mais ou menos autônoma data do século XI. Os
documentos mais antigos escritos na língua a que hoje chama- infanta castelhana, o rei Afonso Henriques, em luta com o seu
mos Português chegaram-nos do século XIII: a chamada “Notícia primo, o rei Afonso VII de Leão e Castela. Esta separação política,
de Torto” e o testamento de D. Afonso II, de 1214. Mas o uso da consolidada nos séculos seguintes, impôs costumes, relações e
palavra “Portugal”, só por si, não antecipava já um futuro reino referências que acabaram por constituir uma comunidade iden-
independente, nem a língua definiu a unidade política, pois ainda titária.
não seria separável do Galaico. A formação de uma comunidade MONTEIRO, Nuno G.; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e;
política portuguesa foi o resultado da ação de príncipes e aristo- RAMOS, Rui (coord.). História de Portugal.
cratas envolvidos na política dos reinos cristãos do Norte penin- Lisboa: Esfera dos Livros, 2009. p. 13.

140

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 140 02/09/2022 09:49


TEXTO DE APOIO
[...] Portugal, Espanha, França e
Inglaterra entravam na Moder-

ATIVIDADES
ATIVIDADES NÃO ESCREVA nidade como Estados nacionais
NO LIVRO.
unificados, mas que em virtude
de trajetórias medievais diferentes
teriam destinos políticos diferentes.
Como na Inglaterra o processo de
feudalização e a Magna Carta atri-
buíram ao rei o papel de suserano,
I. Retomando ele nunca sofreu forte oposição (a
não ser nos poucos momentos em
que tentou ser soberano) e a mo-
narquia pôde manter-se até hoje.
1 Faça no caderno um quadro sobre as relações dos grupos sociais com a monarquia Na França, por sua vez, como na
na Europa ocidental a partir do século XI. Escreva o objetivo de cada um dos grupos Idade Média prevaleceu o papel de
sociais listados abaixo em relação à monarquia. Na primeira coluna, copie as pergun- soberano, o monarca pôde tornar-se
tas a seguir; na segunda coluna, responda-as. absolutista na Idade Moderna [...].
Título do quadro: Relação dos grupos sociais com a monarquia Mas a formação das monarquias
nacionais não se deu sem oposi-
a) Burguesia 1. a) Conseguir o apoio da monarquia para o sucesso de seus negócios.
ção dos poderes universalistas. O
1. b) Manter privilégios.
b) Nobreza Império procurou, por exemplo,
1. c) Obter proteção contra os abusos da nobreza.
c) Camponeses contestar a monarquia francesa
aliando-se à inglesa, mas foi vencido
em Bouvines em 1214 e não pôde
2 Qual foi a consequência política da aproximação dos grupos sociais com o rei? impedir o crescente fortalecimento
2. Essa aproximação contribuiu para o fortalecimento do poder real na Europa ocidental a partir do século XI. dos Capetíngios. Contra as preten-
sões imperiais, os juristas france-
3 Leia as afirmativas com atenção. ses desenvolveram nas décadas
I. Na Inglaterra, Guilherme I exigiu um juramento de fidelidade dos senhores feudais. seguintes o princípio – logo adotado
II. Na França, o primeiro monarca a impor sua autoridade foi Felipe Augusto. por outras monarquias – de “o rei
é imperador no seu reino”. A Igreja,
Escreva no caderno as alternativas corretas. Com base no que você estudou e nessas alegando ex ratione peccati (“por ra-
afirmativas, pode-se dizer que o processo de formação do Estado Moderno, nos zões de pecado”), expressão ampla
diferentes países europeus: 3. Alternativas A e B. que lhe deixava grande margem de
manobra, intervinha com frequência
a) aconteceu em tempos distintos. nos assuntos internos de vários rei-
b) foi gradual. nos, lançando excomunhão sobre o
c) aconteceu apenas no século XII. monarca, interdito sobre todo o país,
d) ocorreu de forma rápida. cobrando o dízimo e outras taxas.
Os poderes particularistas não
podiam, é claro, escapar ao jogo
4 Leia o texto a seguir com atenção. político medieval. De um lado ocor-
riam conflitos, surdos e abertos,
Privilégios de Henrique II aos tecelões de Londres (1154-1162) dentro dos feudos e entre eles.
Henrique pela graça de Deus, rei da Inglaterra, duque da Normandia e Dessa situação é que surgiu o ou-
tro tipo de poder particularista,
Aquitânia, conde de Anjou, aos bispos, juízes, viscondes, barões, oficiais e a todos de espírito diverso, a comuna. De
os seus fiéis [...]. outro lado, [...] as monarquias es-
Sabei que concedi licença aos tecelões de Londres para Guilda: associação que timulavam as rivalidades entre
agrupava indivíduos com feudos e comunas na tentativa
terem a sua guilda em Londres, com todas as liberdades e
interesse comum. de submeter todos os particularis-
costumes que tinham no tempo do rei Henrique (I), meu mos, precondição para completar
a unificação e a centralização na-
141 cionais. Também os universalistas
procuraram dominar os particu-
larismos, impedindo que eles se
fundissem em Estados nacionais.
10:09 AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 141 09/08/22 15:42 O Império tentou controlar as ricas
ENCAMINHAMENTO e importantes comunas italianas,
1. Professor, nesta questão, buscamos sistematizar como e por que os grupos sociais se apro- porém foi derrotado em Legnano
em 1176. A Igreja buscou coman-
ximaram da monarquia. Materializamos e didatizamos a tese do sociólogo Norbert Elias,
dar a nobreza feudal por meio das
de que a monarquia se aproveitou do apoio dos diferentes grupos para se colocar acima Cruzadas, mas perdeu o controle da
deles e fortalecer o seu poder. A atividade contribui para o desenvolvimento da habilidade situação e saiu desgastada. Tentou
EF07HI07. impor seus valores nas comunas
2. Professor, esse processo variou no tempo e no espaço; essa aproximação, porém, contri- e apenas acelerou o surgimento
de heresias.
buiu para a formação e a consolidação das monarquias nacionais. A atividade contribui para
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média:
o desenvolvimento da habilidade EF07HI07. nascimento do ocidente. São Paulo:
Brasiliense, 2001. p. 86-88.
141

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 141 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
4. d) O texto é um documento
que comprova a criação de leis,
por parte da monarquia, visan- avô e assim, que ninguém dentro da cidade se

LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


do proteger os negócios dos intrometa neste ofício salvo por permissão (dos
tecelões; em troca, o rei recebia tecelões) [...]. Por isso quero e ordeno firmemente
doações, no caso, 2 marcos de que eles possam praticar legalmente o seu ofício
ouro anuais. Essa prática con- em toda a parte [...]. Assim paguem-me sempre
tribuiu para o fortalecimento em cada ano 2 marcos de ouro pela festa de
do poder real na Europa. S. Miguel. E proíbo a quem quer que seja fazer-
Dica de leitura -lhes injúria ou insulto a este respeito, sob pena
de 10 libras de multa [...]. Em Winchester.
Livro com a tradução dos
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média:
principais textos e documen- textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 167.
tos medievais, além de uma
bibliografia e um vasto glos-
sário de autores, personagens 4. a) O rei da Inglaterra, Henrique II.
4. b) Licença para terem uma asso-
e obras que facilitam sua utili- Gravura representando ciação, uma guilda.
zação em sala de aula. o Rei Henrique II.
4. c) Exige 2 marcos de ouro a cada
Escola Inglesa, século XIX. ano pela festa de S. Miguel.
• PEDRERO-SÁNCHEZ, Ma- 4. d) Resposta pessoal.
a) Quem escreveu esse texto?
ria Guadalupe. História da 4. e) Sim, ele afirma ser duque e
Idade Média: textos e teste- b) No texto, o que o rei concede aos tecelões de Londres? também conde, dois títulos próprios
munhas. São Paulo: Editora c) O que o rei exige em troca da concessão? da nobreza.
Unesp, 2000. d) Relacione o conteúdo do texto ao processo de fortalecimento do poder dos reis na Europa.
e) Com base no texto, é possível afirmar que o rei é um nobre? Justifique.
5. a) Pode-se concluir que, sob o domínio de Felipe
5
EDITORA UNESP

Observe a sequência de mapas a seguir. Augusto, o território da França tornou-se cerca de três
vezes maior.

Reino da França (1173) O mapa à esquerda Reino da França (1230)


representa o terri-
ALLMAPS

ALLMAPS
0° 0°

tório da França antes

no de
wich
REINO DA
do reinado de Felipe REINO DA

Meridia
ESCÓCIA Mar do ESCÓCIA

Green
Norte
Augusto; o mapa Mar do
Norte
PAÍS DE PAÍS DE
GALES à direita, a França GALES
REINO

REINO
depois dele. DA
INGLATERRA

OCEANO
a) O que se pode con- OCEANO
ANÇA

DA
ATLÂNTICO cluir comparando os ATLÂNTICO
REINO
DA
dois mapas?
DA FR

INGLATERRA FRANÇA
IMPÉRIO IMPÉRIO
REINO DE
REINO
GERMÂNICO b) De que forma o rei REINO GERMÂNICO
LEÃO
NO

DE
DE
Felipe Augusto agiu REINO NAVARRA
EI

CONDADO NAVARRA DE
R

REINO
PORTUCALENSE REINO para conseguir o PORTUGAL
DE ARAGÃO
TEXTO DE APOIO REINO DE DE ARAGÃO
CASTELA
40° N que vemos repre-
REINO DE
CASTELA
40° N

Várias circunstâncias contri- CALIFADO ALMÔADA


Mar Mediterrâneo sentado no mapa CALIFADO ALMÔADA
Mar Mediterrâneo

buíram para o florescimento do da direita?


mercantilismo na França dos 0 410 0 410

Bourbons e na Inglaterra de Eli-


Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo, 1990. p. 71-79.
zabeth a Guilherme III.
5. b) O rei conquistou feudos imensos casando-se por interesse, comprando terras dos nobres e usando
A aspereza das competições
internacionais em que se viram
142 a força de um exército profissional assalariado para fortalecer o poder real.

envolvidos os dois países ex-


citou seu jovem nacionalismo
econômico. O prêmio era, pri- A modernização do aparelho
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 142 de Estado con- se constituem pouco a pouco sob a autoridade 02/08/22 17:01 AV2

meiramente, a exploração das tribuiu igualmente para os progressos da do Controlador-geral, podem seguir melhor as
riquezas do Império espanhol, prática mercantilista. Na Inglaterra, o desen- flutuações das trocas. Também os progressos
que o débil poder do soberano volvimento do serviço das aduanas permitiu da reflexão teórica guiam mais seguramente os
de Madri e a apatia de seus sú- estabelecer uma contabilidade mais exata das administradores e os ministros.
ditos não mais conseguiam ani- trocas internacionais, enquanto que o controle DEYON, Pierre. O mercantilismo.
mar; era ainda o monopólio das parlamentar fornecia aos interesses do negócio São Paulo: Perspectiva, 2001.
os meios de se fazer entender mais claramente. (Coleção Khronos, p. 21-22).
reexportações das drogas e das
especiarias orientais, o merca- Da mesma maneira na França, a reforma tarifá-
do dos manufaturados têxteis, o ria de 1664, nas fronteiras do território das cin-
benefício da navegação do Bálti- co grandes herdades, autoriza uma visão mais
co ao Mediterrâneo. [...] clara da balança comercial, e os escritórios que
142

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 142 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
7. a) Melhorou o sistema de
6. c) Foi um conflito armado entre França e Inglaterra por dois motivos principais: a disputa pela rica região de
Flandres e o interesse do rei da Inglaterra em se tornar também rei da França. comunicação em toda a ex-
tensão do reino, facilitando
6 Observe a imagem e, depois, responda às questões.
o aumento do controle do rei

MUSEU DOBRÉE, NANTES, FRANÇA


sobre seus súditos.
7. b) Enfraqueceu o poder uni-
versal do papa, propiciando,
assim, o fortalecimento do po-
der real.
7. c) Os reis espalhavam o
pânico no campo, acusando
muitos homens e mulheres de
praticarem feitiçaria. Assim,
com o pretexto de eliminar a
feitiçaria, os reis submeteram
as populações camponesas de
seus reinos e aumentaram o
seu poder.

a) O que a monarquia inglesa


pretendia com essa lei?
b) As monarquias absolutis-
tas adotaram um conjunto de
práticas econômicas chama-
Ilustração de das mais tarde de mercantilis-
um manuscrito mo. A qual das características
de 1504. do mercantilismo esse docu-
a) Quem é a personagem? 6. a) É a guerreira Joana d’Arc, a cavalo. mento pode ser associado?
b) Ela lutou contra os ingleses em uma guerra. Qual guerra foi essa? 6. b) Guerra dos Cem Anos. c) Que afirmação do texto da
c) O que foi essa guerra e o que a motivou? lei indica que ela foi aprovada
d) Que construções são essas que vemos ao fundo e o que elas lembram? na época do absolutismo real?
6. d) Vemos castelos e igrejas, que lembram o imenso poder da nobreza e da igreja na Idade Média.
Respostas:
7 O absolutismo é um regime político que se caracteriza por uma grande concentração
de poder nas mãos do rei. Explique como cada um dos fatores a seguir relacionados a) O governo inglês preten-
contribuiu para o estabelecimento do absolutismo. dia garantir para a marinha
a) A imprensa. britânica o monopólio do co-
b) A Reforma Protestante.
mércio com suas colônias na
c) A política de caça às bruxas.
Ásia, África ou América. Dessa
7. Respostas pessoais. forma, a monarquia inglesa
143 incentivava o comércio, a na-
vegação e a indústria naval da
Grã-Bretanha (Inglaterra, Es-
cócia e Gales).
17:01 +ATIVIDADES
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 143 priedade ou posse de Sua Majestade...05/08/22
na Ásia,
10:10

África ou América, em qualquer outro navio ou b) Ao protecionismo. Pro-


O texto a seguir é de uma lei inglesa de navios de qualquer tipo, mas nos navios que re- fessor, comentar que, com
1660. Leia-o com atenção. almente e sem fraude pertencerem apenas ao essa lei, a monarquia inglesa
povo da Inglaterra ou Irlanda ou Domínio de buscava vencer a Holanda na
“Lei inglesa de 1660”
Gales... ou construídos e pertencentes a qual- competição pelo domínio co-
Para o andamento dos navios e estímulo à quer das ditas terras, ilhas, plantações ou ter-
mercial nos mares.
navegação desta nação... fica estipulado que, a ritórios, como verdadeiros proprietários, e dos
partir do primeiro dia de Dezembro de 1660..., quais o mestre e três quartos dos marinheiros, c) A afirmação de que todos os
nenhum artigo ou mercadoria de qualquer es- pelo menos, sejam ingleses. territórios sob domínio inglês
pécie será importado ou exportado das nossas FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. eram propriedade ou posse da
terras, ilhas, plantações ou territórios de pro- Lisboa: Platano Editora, 1978. v. 2, p. 224. rainha.
143

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 143 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
8. Veja o que um historiador
diz sobre a função das ima-
gens de Luís XIV produzidas
8

BRIDGEMAN/FOTOARENA
Observe a imagem com atenção.
durante seu reinado: O personagem central desta pintura,
Quanto à função da imagem,
o rei francês Luís XIV, está represen-
ela não visava, de modo geral,
tado como Apolo, deus grego do Sol
fornecer uma cópia reconhe-
cível dos traços do rei ou uma e da música.
descrição sóbria de suas ações. a) Por que será que a cabeça do rei está
Ao contrário, a finalidade era circundada por raios luminosos?
celebrar Luís, glorificá-lo, em b) E esses louros que estão em sua
outras palavras, persuadir es- cabeça, o que significam?
pectadores, ouvintes e leitores c) Você considerou o título da pintura
de sua grandeza. Para isso, pin- adequado a ela? Justifique.
tores e escritores se inspiravam
d) Com que intenção essa pintura teria sido
numa longa tradição de formas
feita?
triunfais. 8. d) Para glorificar Luís XIV.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a 8. a) Porque o pintor provavelmente queria sugerir que
construção da imagem pública de Luís XIV. se trata do Rei-Sol.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1994. p. 31. 8. b) Os louros representam vitória e sugerem que Luís XIV
A obra Triunfo de Luís XIV, é um rei vitorioso. Triunfo de Luís XIV,
de José Werner, faz parte da 8. c) Resposta pessoal. gravura de José Werner,
século XVII.
série de pinturas mitológicas
expostas em palácios france-
ses como Louvre e Versalhes,
entre outros.
• Aprofundar o assunto aces-
sando a exposição virtual do
Palace Versailles sobre as re- 9 Sobre o regime absolutista, copie em seu caderno a alternativa correta. Em seguida,
presentações de Luís XIV nas corrija as incorretas. 9. Alternativa D.
artes plásticas: LUÍS XIV – A a) O absolutismo é um regime político cujo poder está extremamente concentrado nas mãos da
construção de uma imagem nobreza.
política. Google Arts & Cul- b) O poder dos monarcas absolutistas não tinha nenhum tipo de limite.
ture. [S. l.], c2022. Disponível c) Contribuíram para o estabelecimento do absolutismo o aprimoramento da imprensa, a
em: https://artsandculture. Contrarreforma e a política de caça às bruxas.
google.com/story/hAWh0IF d) Thomas Hobbes acreditava que os homens haviam renunciado aos direitos e à liberdade em
V0mUgLA?hl=pt-BR. Acesso favor do Estado absolutista.
em: 9 ago. 2022.
10. Professor, estimular o alu-
10 Quais das características a seguir diz respeito ao mercantilismo? Justifique.
a) Metalismo. 10. Alternativas A, B e D.
nado a compreender que o
b) Balança comercial favorável.
mercantilismo adota o prote-
c) Liberalismo.
cionismo alfandegário, isen-
d) Exclusivo colonial.
tando produtos nacionais e
taxando os produtos importa- 11 Compare o processo da formação da monarquia portuguesa ao da monarquia espa-
dos. Já o liberalismo incentiva nhola, apontando uma semelhança e uma diferença.
a liberdade de comércio entre 11. Semelhança: ambos os processos ocorreram durante as lutas de Reconquista. Diferença: no caso
as nações; ou seja, é contrário 144 espanhol, foi decisivo o casamento entre o rei Fernando e a rainha Isabel.
ao protecionismo.

AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 144 02/08/22 17:54 AV2

144

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 144 02/09/2022 09:49


II. Leitura e escrita em História
a) Afonso X.
b) Ele era rei de Castela e Leão (1252-1284).
Vozes do passado c) Ele argumenta que isso pode ser demonstrado por via espiritual (pelas palavras
de profetas e santos) e por via natural (os dizeres dos sábios).
Leia o texto a seguir com atenção.

O que é rei e como é colocado no lugar de Deus (XIII)


Vigários de Deus são os reis cada um no seu reino Vigário de Deus: no texto,
situados sobre as gentes para mantê-las em justiça e em tem o sentido de substituto
de Deus na Terra.
verdade [...] assim como o imperador no seu império. E
isto demonstra-se amplamente de duas maneiras: a primeira delas é espiritual
segundo o mostraram os profetas e os santos [...]; a outra é, segundo a natureza,
assim como demonstraram os homens sábios [...]. E os santos disseram que o rei é
senhor colocado na terra no lugar de Deus para cumprir a justiça e dar a cada um
o seu direito, e além disso o chamaram coração e alma do povo [...]. E na ordem
natural disseram os sábios que o rei é cabeça do reino, porque assim como da
cabeça nascem os sentidos que comandam todos os membros do corpo, assim pelo
mandado do rei, que é o senhor e a cabeça de todos os do reino, devem-se dirigir,
e guiar e estar de acordo com ele para o obedecer e auxiliar e proteger e manter o
reino no qual ele é alma e cabeça, eles são os membros.
d) O rei é alma e cabeça do reino, e os súditos são seus membros. Afonso X, o Sábio.
e) Ele se baseia na Teoria do Direito Divino dos Reis, PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média:
presente na obra de Jacques Bossuet. textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000. p. 217.
a) Quem é o autor do texto?
impostos votados pelas Cortes,
b) Que posição ele ocupava na
os quais, de resto, recaiam qua-
sociedade?
se que exclusivamente sobre as
c) Que argumentos ele usa massas abaixo delas. [...]
para defender a ideia de que
Compreensivamente, Fernando
os reis são vigários de Deus?
e Isabel optaram pela alterna-
d) Para o autor do texto, quem tiva obvia de concentrar-se no
é o rei e quem são os súditos estabelecimento de um poder
de um reino? real inquebrantável em Castela,
e) Em que teoria o autor do onde as condições eram mais
texto se baseia para desen- imediatamente propícias. [...] Cas-
volver seus argumentos? telos baronais foram demolidos,
expulsos os senhores das zonas
de fronteira e proibidas as guerras
privadas. A autonomia municipal
das cidades foi quebrada com a
instalação de corregedores ofi-
O rei Afonso X em uma Ilustração ciais para administrá-las; a justiça
do Livro dos jogos, 1282. real foi fortalecida e ampliada. O
ORONOZ/ALBUM/FOTOARENA
Estado tomou para si o contro-
145 le dos benefícios eclesiásticos,
separando o aparelho local da
Igreja da alçada do papado. As
Cortes foram progressivamen-
17:54 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 145 enquanto isso, em meados do século XV, a efe-
05/08/22 10:19
te domesticadas pela omissão
tiva ascendência da nobreza sobre a monarquia
Os reinos compostos de Castela e Aragão, uni- efetiva da nobreza e do clero de
tornou-se, por certo tempo, de grande projeção.
dos por Fernando e Isabel, representavam uma suas reuniões, depois de 1480
[...] As Cortes [...] permaneceram com assem- [....]. A máquina de Estado cas-
base extremamente diversa para a construção bleias ocasionais e pouco definidas [...]. Desse telhana foi, em outras palavras,
da nova monarquia espanhola no final do sé- modo, tanto a convocação como a composição racionalizada e modernizada.
culo XV. Castela era um país de enormes pro- das Cortes estavam sujeitas à decisão arbitrária Mas a nova monarquia nunca a
priedades e poderosas ordens militares [...]. No do monarca [...]. Por um lado, as Cortes não deti- contrapôs à classe aristocrática
aspecto político, a sua constituição era curiosa- nham poder algum de iniciativa legislativa; por no seu conjunto. [...]
mente instável. Castela e Leão tinham sido um outro lado, a nobreza e o clero gozavam de imu-
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado
dos primeiros reinos medievais da Europa a de- nidade fiscal. O resultado era um sistema de Es- absolutista. São Paulo: Brasiliense,
senvolver um sistema de Estados no século XIII; tados onde só as cidades tinham que pagar os 2004. p. 60-64.
145

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 145 02/09/2022 09:49


ENCAMINHAMENTO
a) “Havia normas formais para a participação nesse espetáculo – quem tinha direito a ver o rei, a que horas e em que
Vozes do presente partes da corte, se tal pessoa podia se sentar numa cadeira ou num tamborete [...] ou tinha que permanecer de pé”.
b) Ele agia como se estivesse no palco, como o ator principal de um espetáculo teatral.
Essa seção pode contribuir
Vozes do presente
para o desenvolvimento da
competência específica 1. Veja o que um historiador atual diz sobre a etiqueta na corte de Luís XIV.

[...] os observadores registravam que todos os atos do rei eram planejados “até o
Dica de leitura mínimo gesto”. Os mesmos eventos se produziam todos os dias nas mesmas horas,
Neste livro, o autor analisa a tal ponto que uma pessoa poderia acertar seu relógio pelo rei.
a corte de Luís XIV, o Rei-Sol, e Havia normas formais para a participação nesse espetáculo – quem tinha
sua rigorosa estrutura simbóli- direito a ver o rei, a que horas e em que partes da corte, se tal pessoa podia se
ca e de prestígio, demostrando sentar numa cadeira ou num tamborete [...] ou tinha que permanecer de pé. [...]
que a sociedade da corte é uma Luís esteve no palco durante quase toda a sua vida [...]. Os objetos materiais mais
rica fonte de dados para com- intimamente associados ao rei também se tornavam sagrados [...]. Assim, era uma
preender as sociedades atuais. ofensa dar as costas ao retrato do rei [...], entrar em seu quarto de dormir vazio sem
• ELIAS, Norbert. A sociedade fazer uma genuflexão ou conservar o chapéu na sala em Genuflexão: ato de veneração
de corte: investigação sobre que a mesa está posta para o seu jantar. pelo qual dobramos nosso
joelho direito até tocar o solo
a sociologia da realeza e da BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. e voltamos à posição normal.
aristocracia de corte. São Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. p. 101-102.

Paulo: Zahar, 2001.

DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
EDITORA ZAHAR

O doge de Gênova em
Versalhes, de Claude
Hallé, 1685. A tela
registra o momento
em que o governante
da cidade italiana de
Gênova reverencia o rei
Luís XIV. Na ocasião,
o governante fez um
discurso pedindo
desculpas ao rei e
retirou o chapéu a cada
vez que pronunciou o
nome dele.
TEXTO DE APOIO
A sociedade de corte
[...] Em sua juventude, Luís XIV
havia sentido na própria pele o a) Copie no caderno o trecho que prova que a vida na corte de Luís XIV obedecia a uma etiqueta
quanto pode ser perigoso para a e a uma hierarquia rígidas.
posição do rei quando as elites
b) Segundo o texto, como o rei agia em público?
[...] superam seus antagonismos
mútuos e se juntam para agir c) No segundo parágrafo, o autor afirma que era uma ofensa “entrar no quarto vazio do rei sem
contra o rei. Talvez ele também dobrar o joelho”. O que isso diz sobre a figura do rei?
tenha aprendido a partir da ex- d) A qual dos autores estudados neste capítulo se pode associar este texto?
periência dos reis ingleses, que c) Isso sugere que a figura do rei era sagrada; daí a necessidade de “dobrar o joelho direito até tocar o solo”
deviam as ameaças e o enfra- 146 em sinal de veneração.
d) Pode-se associá-lo a Jacques Bossuet, para quem a figura do rei é sagrada e seu poder emana de Deus.
quecimento de suas posições
à oposição de grupos nobres e
burgueses reunidos. Em todo
ciúmes entre os grupos de 146 elite mais poderosos convicções. Graças a tal enraizamento nas con-
caso, faziam parte das máximas AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C06-LA-G24.indd 05/08/22 10:19

de seu reino constituíam algumas das condi- vicções, nas valorações e nos ideais dos súditos –
mais rigorosas de sua estratégia
de dominação o fortalecimento ções fundamentais da abundância de poder do da competição acirrada em termos de nível, status
e a estabilização das diferenças rei, a qual se expressa em conceitos como “ir- e prestígio –, as tensões e os ciúmes surgidos e
existentes, das contraposições e restrito” ou “absolutista”. exacerbados entre as diferentes ordens e níveis
rivalidades entre as ordens, es- O longo reinado de Luís XIV contribui muito sociais, e especialmente entre as elites rivais des-
pecialmente entre as elites de para que a rigidez e o rigor específicos, suscitados sa sociedade articulada hierarquicamente, repro-
cada ordem e, dentro delas, en- pelo uso constante da diferenciação de ordens e duziam-se como uma máquina em movimento
tre os diversos níveis e patama- de níveis sociais como instrumentos de domina- no vazio, renovando-se sempre. [...].
res de sua hierarquia de prestí- ção do rei, tornem-se perceptíveis também nos ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a
gio e de status
status.. Era algo evidente pensamentos e na sensibilidade dos próprios gru- sociologia da realeza e da aristocracia de corte.
[...] que as contraposições e os pos, como um traço de caráter essencial de suas Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 88-89.
146

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C06-MP-G24.indd 146 02/09/2022 09:49


OBJETIVOS
• Explicitar os fatores que fa-
CAPÍTULO voreceram as Grandes Nave-

7
gações e o seu impacto para
AS GRANDES os povos envolvidos nesse
processo.
NAVEGAÇÕES • Identificar as razões do pio-
neirismo português.
• Descrever a formação do
Império Ultramarino Portu-
guês.

TAMARA KLINK
• Debater os diferentes signi-
ficados do 5 de outubro de
1492.
• Trabalhar as representações
que os portugueses construí-
ram a respeito da América e
dos ameríndios.
• Explicitar as mudanças de-
correntes das Grandes Nave-
gações.
• Explicitar as interações que
ocorrem nos oceanos Atlân-
tico, Índico e Pacífico.
• Comparar as navegações no
Atlântico e no Pacífico entre
os séculos XIV e XVI.

Esses objetivos contri-


buem para que os alunos
compreendam a expan-
Tamara Klink navegando em Thyboron (Dinamarca), 2020. são marítima europeia e as
transformações relaciona-
A personagem fotografada é a velejadora brasileira Tamara Klink. Você já ouviu falar dela? das a esse processo. Assim,
As viagens marítimas nos barcos a vela atuais são muito mais seguras do que foram pretendemos favorecer as
no passado. Os velejadores de hoje contam com instrumentos de precisão, alta tecnologia competências e habilidades
de informação, quantidade suficiente de comida, conhecimento do regime dos ventos, propostas.
mapas e roteiros muito bem-feitos.
Já os navegadores europeus dos séculos XV e XVI não tinham rádio para pedir socorro BNCC
em caso de tempestade, seus mapas eram imprecisos e seus roteiros de viagem, incom-
• Competências gerais: 1, 2, 3,
pletos. Mas, apesar disso, eles se lançaram ao mar em viagens de longa distância. Nessa
4, 5, 7 e 9.
aventura marítima encontraram terras e povos desconhecidos para eles e chegaram a dar
uma volta inteira ao redor da Terra. Como será que conseguiram tal proeza? • Competências específicas: 1,
2, 3, 4, 5 e 7.
147 • Habilidades: EF07HI02 e
EF07HI06.

ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 147
a fotografia, era bem possível que a descrição de um ani-
02/08/22 18:45

Professor, o objetivo aqui é ajudar o alunado a comparar mal marinho levasse as pessoas a pensarem que ele era um
o tempo das Grandes Navegações aos dias atuais quanto aos monstro. Tamara Klink, arquiteta e escritora, tornou-se, em
riscos envolvidos nas viagens marítimas de longa distância; 2021 (aos 24 anos), a mais jovem brasileira a cruzar o oceano
ajudá-los também a imaginar o que podem ter sido aquelas Atlântico, sozinha, a bordo de um veleiro. O pai de Tamara,
viagens para os navegantes europeus do século XV (lembrar Amyr Klink, empreendedor de expedições marítimas e escri-
aqui que, na Carreira das Índias, uma em cada cinco em- tor brasileiro, tornou-se, em 1984, a primeira pessoa a fazer
barcações naufragava); e, por fim, chamar a atenção para o a travessia do Atlântico Sul, sozinha, a bordo de um barco
fato de que, numa época em que não havia sido inventada a remo.

147

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 147 03/09/22 09:39


ENCAMINHAMENTO
• Lembrar que, durante as
Grandes Navegações – há
mais de 500 anos –, muitos
navegantes embarcavam
Desbravando mares
sem saber aonde e quando
Você já imaginou o que é viajar para lugares distantes em embarcações frágeis e
iriam chegar e sem conhecer
pequenas? Viajar em barcos lotados e com pouco espaço para os tonéis de água? Viajar
o caminho de volta.
sem certeza do caminho a ser seguido? Pois bem, esses foram alguns dos desafios enfren-
tados pelos europeus durante as Grandes Navegações: conjunto de viagens de longa
distância realizadas pelos europeus durante os séculos XV e XVI.
TEXTO DE APOIO
Que monstros terríveis habi-
tam os oceanos? Será que ao sul
da linha do Equador as águas
do mar fervem, devido ao for-
te calor? Como os marinheiros
podem livrar-se das belas e pe-
II
rigosas sereias que encantam
.
ÉC
.S
EU

os homens para aprisioná-los


OM
OL

no fundo do mar? Os seres das


PT
EM

terras distantes, com cabeça de


O
AD
SE
BA

cachorro e pés de cabra, devo-


E:
NT
FO

ram mesmo os humanos? Que


rumos os navios devem seguir
para evitar os abismos do fim do
mundo?
Essas eram perguntas comuns
entre os europeus do século XV.
Muitos deles gostariam de explo-
rar terras distantes, mas sabiam
pouco a respeito do mundo, dos
continentes e, principalmente,
Fonte: NOVO Conhecer.
dos oceanos. Seus conhecimen- São Paulo: Abril, 1977. v. 7. p. 1657.
tos geográficos sobre o restante
Mapa elaborado com base nos escritos de Ptolomeu, do século II.
da Terra resumiam-se a infor-
mações imprecisas, misturadas # DICA!
a lendas antigas e histórias reli-
Animação sobre as motivações e as invenções que propiciaram as Grandes Navegações.
giosas. Por isso, imaginavam que
perigos terríveis e monstros hor- GRANDES Navegações. 2011. Vídeo (5min3s). Publicado pelo canal Tchibum!
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lS_UYBPSTds. Acesso em: 6 jun. 2022.
ripilantes habitavam as águas e
as terras desconhecidas.
Grande parte dos habitantes Dialogando a) Observando o mapa, vê-se que, no início do século XV, os europeus
da Europa conhecia apenas o conheciam apenas a Europa, uma parte da Ásia e parte do norte da África.
lugar onde nascera. As viagens O mapa de Ptolomeu (90-168), um sábio da Antiguidade, foi um dos instrumentos
eram demoradas, caras e peri- de que os europeus dispunham no início das Grandes Navegações.
gosas, e os caminhos, ruins. Para a O que os europeus conheciam do mundo na época em que esse mapa foi feito?
realizá-las, podia ser necessário
b No mapa de Ptolomeu, o sul da África é chamado de “terra incógnita”. O que isso significa?
escalar montanhas e atravessar
grandes rios e florestas cheias de b) Isso significa “terra desconhecida”.
animais ferozes e de assaltantes 148
ou, então, regiões desertas, onde
era difícil encontrar alimento e
abrigo. Por isso, apenas alguns
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 148 05/08/22 10:21 AV-
comerciantes, religiosos e aven-
tureiros costumavam fazer via-
gens de longo percurso.
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos.
Medo e vitória nos mares: perigos reais
e imaginários nas navegações. 5. ed.
São Paulo: Atual, 2013. p. 6.

148

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 148 01/09/2022 12:31


+ATIVIDADES
Os primeiros navegantes
europeus enfrentaram diver-
Enfrentando perigos sos perigos. Alguns reais e ou-
tros imaginários.
Para velejar em alto-mar os europeus daqueles tempos enfrentaram perigos reais e
a) Cite esses perigos.
imaginários.
Entre os perigos reais estavam ventos desfavoráveis, ameaças de encalhe, lugares b) Em sua opinião, por que os
estranhos, fome, doenças e sede no interior dos navios. europeus tinham tantos me-
Os perigos imaginários também eram muitos. Por exemplo, a crença de que a Terra dos imaginários?
era achatada e que aquele que se afastasse muito do litoral cairia num abismo; de que Respostas:
na altura da linha do Equador os navios se incendiariam; de que o mar era habitado por a) Imaginários: acreditar que
monstros terríveis etc. as águas dos oceanos ferviam e
queimavam os navios; que ha-

COLEÇÃO PARTICULAR
via monstros marinhos e abis-
mos etc. Reais: ventos desfavo-
ráveis, ameaças de encalhe, lu-
gares estranhos, fome, doenças
e sede no interior dos navios.
b) Resposta pessoal. Professor,
pretende-se aqui estimular
os alunos a formularem hipó-
teses sobre as razões para os
perigos imaginários; uma hi-
pótese plausível é a associação
entre os perigos imaginários e
o desconhecimento dos mares,
Nessa gravura de 1558, vemos a serpente marinha, um dos monstros que os europeus daquela época das pessoas e dos lugares que
acreditavam que existisse no oceano Atlântico. os europeus encontrariam em
suas viagens.
Se era assim tão perigoso, por que, então, os europeus se lançaram às Grandes Professor, a atividade con-
Navegações? É o que veremos a seguir. tribui para o desenvolvimento
da competência geral 2 e da
O comércio de especiarias orientais competência específica 3.

no século XIV Cruzado: nome dado ao


indivíduo integrante das TEXTO DE APOIO
Quando os cruzados voltavam do Oriente, depois de terem Cruzadas pelo fato de
combatido os muçulmanos, traziam com eles especiarias
especiarias,, como
ter na roupa o desenho Choque de cultura
de uma cruz. Independente das característi-
pimenta-do-reino, cravo, canela, gengibre, mostarda, noz-moscada, Especiaria: do latim, cas inerentes a cada povo encon-
entre outras. Por sua capacidade de conservar os alimentos e de species, que significa trado ao longo da aventura ma-
torná-los mais saborosos, esses temperos passaram a ser cada vez espécie. Na Europa
rítima, ao chegarem ao Índico os
medieval, especiaria
mais consumidos na Europa no decorrer do século XIV. Além das era o nome dado a um portugueses precisaram conviver
especiarias, os europeus passaram a consumir também os artigos produto especial, que com o choque cultural e, mais
de luxo orientais, como os tecidos de algodão da Índia, os tapetes servia como tempero, tarde, enfrentando problemas
remédio ou perfume. de ordem interna, decorrentes
da Pérsia, a seda e a porcelana da China e as pérolas do Japão.
da flutuação econômica inter-
nacional, tiveram que enfrentar
149 dificuldades advindas dos desen-
tendimentos culturais acumu-
lados desde a viagem inaugural
de Vasco da Gama. A despeito da
10:21 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 149 02/08/22 18:45
tolerância cultural esperada por
• Aprofundar o assunto com a leitura dos textos: OS MONSTROS marinhos em mapas parte de um povo eclético, devi-
do à própria formação do Estado
medievais. Karonte. [S. l.], 15 set. 2013. Disponível em: https://karonte.com.br/monstros-
português, quando os lusos che-
marinhos/; SOUZA, Wanessa de. O imaginário europeu, as visões sobre o “Novo Mundo” e garam à Índia só conseguiam dis-
suas gentes. Belo Horizonte: UFMG, [20--]. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/pae/ tinguir entre fiéis e cristãos em
apoio/oimaginarioeuropeuasvisoessobreonovomundoesuasgentes.pdf. Acessos em: 6 jun. potencial, recusando-se a admitir
2022. as peculiaridades apresentadas
pelos povos do local. [...]
• Temas Contemporâneos Transversais: o texto de apoio desta página contribui para mobili-
PESTANA, Fábio Ramos.
zar a macroárea multiculturalismo. No tempo das especiarias. São Paulo:
Contexto, 2006. p. 115.
149

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 149 03/09/22 09:39


ENCAMINHAMENTO
• Informar que os produtos
comercializados eram as es-
peciarias (pimenta, cravo, Importantes especiarias da época das Grandes
canela, gengibre, mostarda, Navegações
noz-moscada, entre outras) Canela
e os artigos de luxo (tecidos

VALERY121283/
SHUTTERSTOCK.COM
Originária do Ceilão [atual Sri Lanka], é a mais antiga das
de algodão da Índia, tapetes especiarias. Hoje, além de tempero, é usada como aromatizante,
da Pérsia, seda e porcelana da na fabricação de licores e outras bebidas, na feitura de doces, como
China, pérolas do Japão etc.). estimulante, como remédio antidiarreico, entre outras finalidades.
Açafrão

VASILEVICH ALIAKSANDR/
SHUTTERSTOCK.COM
Dica de leitura É a especiaria mais cara do mundo. Os monges budistas
tingem suas vestes com o amarelo do açafrão, ligado ao simbo-
O livro discorre sobre a ex-
lismo da iluminação e da sensatez.
pansão marítima enfatizando
o comércio das especiarias e Cravo
sua importância para a econo- Também chamado de “cravo-da-índia” ou “cravinho”. Embora
PAIROJ SROYNGERN/
SHUTTERSTOCK.COM

mia daquele período conhecido desde muito antes de Cristo, só chegou à Europa no
século IV. Apenas no século XVI os europeus chegaram às ilhas
• AMADO, Janaína; FIGUEIRE-
Molucas, lugar de origem do cravo. [...]
DO, Luiz Carlos. A magia das
especiarias: a busca de espe- Noz-moscada
ciarias e a expansão maríti- […] nativa das Ilhas Banda, nas Molucas […]. No interior do
ma. 4. ed. São Paulo: Atual, fruto a pesada semente, a noz-moscada, está coberta por uma
NATALY STUDIO/
SHUTTERSTOCK.COM

2019. malha avermelhada, a maça. Ambas são usadas hoje na culi-


nária (doçaria, molhos, picles, carnes), na perfumaria, [e] como
Imagens em movimento bebida. [...]
Vídeo sobre a importância Pimenta
das especiarias na cultura in- Existem muitos tipos de pimenta, em geral confundidos
diana. entre si. Os principais são: pimenta-preta; [...] pimenta-branca;
NATTIKA/SHUTTERSTOCK.COM

• ALÉM do uso nos alimentos, [...] pimenta-longa: também chamada de “pimenta-de-rabo”, era
as especiarias são parte es- muito apreciada pelos antigos, foi a mais usada na Europa até a
sencial da cultura indiana. Idade Média e é a mais ardida. Pimenta-malagueta: [...] conhe-
2013. Vídeo (1min11s). Pu- cida desde a Antiguidade e muito utilizada até nossos dias. [....]
blicado pelo canal EFE Brasil. Atualmente a pimenta é cultivada em vários lugares do mundo,
Disponível em: https://youtu. o que propiciou o aparecimento de vários novos tipos, como as
be/tC-MFXGw0mc. Acesso pimentas-de-cheiro, tão apreciadas no Brasil.
em: 10 ago. 2022. Gengibre
SILVY78/SHUTTERSTOCK.COM

[…] originário da Índia e da Malásia, encontrado por Marco


TEXTO DE APOIO Polo e por viajantes europeus posteriores, adaptou-se bem à
América. [...] Usado na confecção de pães e doces, nas indús-
A especiaria mais cara trias de carnes, de licores e bebidas leves, em pastas de dente e
do mundo chiclete e na perfumaria.
Entre as especiarias que os AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a
portugueses encontraram na expansão marítima. São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 16-17).
Índia havia o açafrão, uma pe-
quena e delicada flor lilás, cha- 150
mada cientificamente Crocus
sativus,, que nasce à noite nos
sativus
campos e abre as pétalas ao
deAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd
50 mil flores para produzir 150 um quilo de aça- L., também conhecida como “açafrão-
long L., 02/08/22 18:45 AV-
nascer do dia. Cada uma des-
frão. Por isso, desde que é conhecido, há mais -da-terra”, e Carthamus tinctorius L.,
L., chamada
sas flores – que só podem ser
de 5 mil anos, o açafrão tem sido a especiaria também de “açafrão mexicano”, por crescer
colhidas à mão, devido à sua
mais cara do mundo. Hoje é cultivado na Índia, bem no México.
extrema delicadeza – contém
três pequenos estigmas, que, no Irã e na Espanha. AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos.
depois de secos, servem tanto O açafrão mais comumente utilizado nas A magia das especiarias: a busca de especiarias
e a expansão marítima. São Paulo:
para colorir tecidos de amarelo cozinhas, um pó amarelo que colore e dá gos- Atual, 2013. p. 21-22.
vivo, quanto para dar... um de- to a certos alimentos, como o frango e o ar-
licioso perfume aos alimentos. roz, é muito mais barato do que o verdadeiro
Cada estigma pesa apenas cen- açafrão, pois tem qualidade bastante inferior.
Estigmas: partes inferiores da flor, destinadas a rece-
tésimos de grama, sendo neces- Esse açafrão popular geralmente é extraído
sário colher a espantosa soma das flores de duas outras espécies: Curcuma ber o pólen.
150

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 150 01/09/2022 12:31


Imagens em movimento
Entrevista com o historiador
e professor da Unicamp Paulo
Como na época ainda não havia geladeiras, os europeus usavam as especiarias para Miceli sobre a importância dos
conservar a carne e tornar seu sabor agradável. Além de servir para temperar alimentos, mapas para a expansão ultra-
eram usadas no preparo de remédios e perfumes. No século XIV, o rico comércio de espe- marina dos europeus.
ciarias e de artigos de luxo orientais era quase todo controlado por mercadores árabes e • HISTÓRIA: A história da
italianos.. Valendo-se de sua larga experiência comercial, os árabes traziam as mercadorias cartografia e a importân-
do Oriente até cidades como Cairo e Alexandria, na África, e Tiro e Antioquia, na Ásia cia dos mapas. 2014. Vídeo
Menor (veja essas cidades no mapa). Ali os mercadores italianos compravam esses produtos (30min31s). Publicado pelo
das mãos dos árabes e os revendiam na Europa com grande lucro. Observe no mapa a canal UNIVESP. Disponível
seguir as rotas das especiarias. em: https://youtu.be/Ls-DTi
f6QKg. Acesso: 7 jun. 2022.
Rota das especiarias (1401-1500)
TEXTO DE APOIO

ALLMAPS
30° L 60° L

EUROPA
Muitos caminhos,
Veneza
Gênova Mar
de Aral
45° N muitos povos
Mar Negro M
Roma Constantinopla
ar
Cá Como as especiarias não se
GRÉCIA
aclimatavam em solo europeu,
sp
ANATÓLIA
Sardes
io
TURQUIA
Atenas Éfeso
Antioquia
era preciso trazê-las até a Eu-
ARÁBIA ÁSIA
Mar Mediterrâneo
Tiro Palmira ropa, desde o distante Oriente.
Damasco Bagdá
Alexandria
Ctesifonte
Os produtos percorriam um lon-
Gaza Susa
Cairo Apologos
30° N go caminho, desde a China até
Leuceccome
Ormuz
ÍNDIA o Mediterrâneo, passando por
Trópico de Câncer Golfo de Omã inúmeros lugares, como as ilhas
Ma

Medina
da Indonésia, a Índia, o Orien-
rV

Mascate
erm

Gidá
PENÍNSULA
Meca
te Médio, o norte da África etc.,
elh

ARÁBICA OMÃ
o

ÁFRICA Goa percorrendo mais de 15 000 km!


Salalah Mar Arábico Costa do

Muza
Malabar
Calicute
15° N [...] Nenhum povo conseguia
Canã
Aden
Cochin controlar sozinho toda a rota
Cabo das
Zélia especiarias das especiarias entre a Europa
e a Ásia. Devido a isso, as lon-
OCEANO
ÍNDICO gas viagens comerciais, marí-
0 510
timas e terrestres, eram feitas
Fonte: AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a por diversos povos – japoneses,
expansão marítima. São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 11). chineses, coreanos, mongóis, in-
dianos, árabes etc. –, cada qual
lucrando um pouco. As especia-
Dialogando
rias eram transportadas pelos
Com base no mapa e nas informações do texto: meios: canoas, embarcações de
a Cite dois portos do oceano Índico onde os árabes carregavam seus navios junco, navios, elefantes, cavalos
etc. A viagem era tão demorada,
de especiarias. a) Goa e Calicute.
pagavam-se tantos impostos
b Indique duas cidades do Mediterrâneo oriental onde os italianos compravam pelo caminho e havia tantos in-
especiarias dos árabes para revendê-las na Europa. b) Antioquia e Tiro. termediários que as especiarias
c Dê o nome de duas cidades da África onde os árabes vendiam as chegavam caríssimas à Europa.
especiarias aos mercadores italianos. c) Alexandria e Cairo. Por isso, elas eram consumidas
apenas pelos nobres e ricos; o
151 povo as apreciava, mas não po-
dia comprá-las. [...]
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos.
A magia das especiarias: a busca de
18:45 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 151 02/08/22 18:45
especiarias e a expansão marítima.
São Paulo: Atual, 2013. p. 10.

• Explorar o mapa da página, chamando a atenção para o caminho percorrido pelas especiarias.
• Evidenciar os vários usos das especiarias no passado e no presente.
• Comentar que o rico comércio de especiarias e de artigos de luxo orientais era quase todo
controlado por mercadores árabes e italianos.
A leitura do mapa e a leitura do texto de apoio desta página podem contribuir para o
desenvolvimento da competência específica 5.

151

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 151 01/09/2022 12:31


Imagens em movimento
Documentário sobre a con-
quista de Ceuta por D. João.
• A CONQUISTA de Ceuta: um
dia de combate. 2002. Vídeo
O que levou os portugueses
(10min58s). Publicado pelo a navegar em mar aberto?
canal RTP Ensina. Disponível
em: https://ensina.rtp.pt/ No século XIV, os portugueses já participavam do comércio de especiarias orientais.
artigo/a-conquista-de-ceuta- É que, ao distribuir essas especiarias pela Europa, os mercadores italianos fundaram entre-
um-dia-de-combate/. Acesso postos comerciais em cidades portuguesas como Porto e Lisboa; lá eles vendiam especiarias
em: 6 jun. 2022. aos portugueses que, por sua vez, revendiam-nas em Londres (Inglaterra) e em outras
cidades do norte da Europa.
TEXTO DE APOIO Para ampliar sua participação no rico comércio mundial de especiarias, os portugueses
precisavam evitar o mar Mediterrâneo (que era quase todo controlado pelos italianos) e
A conquista de Ceuta
buscar as especiarias na fonte, isto é, no Oriente;; controlando as fontes de especiarias
Em 21 de agosto de 1415 as
conseguiriam obtê-las a preços mais baixos e podiam revendê-las na Europa com grande lucro.
forças portuguesas desembar-
caram e Ceuta foi tomada por Além da motivação econômica, houve também a religiosa: o desejo dos portugueses
João I e seus [...] filhos. Pelo seu de expandir a fé cristã e combater o que chamavam de infiéis
infiéis.. Por motivos religiosos e
desempenho destacado em ba- comerciais, o rei português D. João I organizou, em 1415, uma grande Infiel: nome usado
talha, dom Henrique foi armado expedição que tomou dos muçulmanos a cidade de Ceuta, no norte pelos cristãos para
por seu pai, no dia 25, como ca- designar um indivíduo
valeiro da Ordem de Cristo.
da África. Esse fato simboliza o marco inicial da expansão marítima
árabe muçulmano.
portuguesa.
Ceuta é um marco para a ex-
pansão portuguesa, uma vez que
BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL

“com essa primeira conquista de


além-mar estava iniciado o siste-
ma de alargamento do território
nacional por meio da navegação
marítima, isto é, pela aquisição
de possessões ultramarinas”. Ali
foi sediado um exército de cerca
de 2 500 homens para defender a Ceuta, cidade
fortaleza e uma força naval que localizada no
fustigava o comércio marítimo norte da África,
dos mouros. importante
entreposto
Curiosamente, o infante dom comercial de
Henrique passaria para a his- marfim, ouro
tória mais conhecido pela sua e pessoas
contribuição para o desenvol- escravizadas,
vimento de um meticuloso tra- século XVI.
balho de pesquisa e inovação
conduzido pelos participantes
da chamada Escola de Sagres do
que pelos seus feitos heroicos
em Ceuta. [...]
Ao regressar para Portugal, fi-
xou residência no Algarve, onde
edificou um povoado chamado
Vila do Infante, no promontório 152
de Sagres. Nele estabeleceu es-
taleiros e oficinas de construção
naval e erigiu o primeiro obser-
vatório astronômico de Portugal. cessos posteriores fariam
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 152 com que a crescente 02/08/22 18:45 AV-
burguesia lusitana também viesse a aportar fi-
Os problemas inerentes aos
nanceiramente os propósitos de dom Henrique.
recursos financeiros para os
investimentos iniciais de seu ROTH, Luiz Carlos de Carvalho. O renascimento do Atlântico: os
projeto também já haviam sido grandes impérios marítimos. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira;
LEÃO, Karl Schurster de Souza; ALMEIDA, Francisco Eduardo
solucionados. O infante, ao ser Alves de (org.). Atlântico: a história de um oceano. Rio de
reconhecido como grão-mes- Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. p. 72.
tre da Ordem de Cristo, “podia
aplicar os imensos rendimentos
dessa cavalaria religiosa em ex-
pedições em que tanto lucrava a
propagação da fé cristã”. Os su-
152

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 152 02/09/2022 10:14


ENCAMINHAMENTO
• Atentar para o fato de que
o pioneirismo português só
Portugal, o primeiro pode ser explicado por um
conjunto de fatores inter-
nas Grandes Navegações -relacionados.
• Destacar a importância dos
Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações por vários avanços tecnológicos para
motivos; apresentaremos a seguir alguns deles. as Grandes Navegações. Co-
• A centralização do poder:: Portugal foi o primeiro país europeu mentar que a bússola, uma
a possuir uma monarquia centralizada, isto é, um rei com con- agulha magnética perma-
Pioneiro: primeiro, líder. nentemente apontada para
trole sobre todo o território do reino. Portulano: espécie
o norte, foi inventada pelos
• A Revolução de Avis:: em 1383, aproveitando-se da morte do de roteiro que incluía
descrição detalhada chineses e levada para a Eu-
rei de Portugal, o rei de Castela tentou ocupar o trono portu- das costas marítimas, ropa pelos árabes.
guês, mas o povo de Portugal, liderado pela burguesia, resistiu distância entre um lugar
• Aprofundar o assunto com
e venceu os castelhanos na Revolução de Avis (1383-1385). O e outro e desenhos
dos melhores portos a leitura do texto: CANAS,
líder dessa revolução, D. João, mestre de Avis, sagrou-se rei com para se atracar. António Costa. Cartografia
o título de D. João I. Retribuindo a ajuda recebida, os reis da Bússola: agulha náutica medieval. Instituto
dinastia de Avis apoiaram o comércio e a navegação, principais magnética Camões. [S. l.] 2002. Dispo-
permanentemente
negócios da burguesia portuguesa na época. nível em: http://cvc.instituto-
apontada para o norte
• A experiência na navegação em mar aberto:: os portugue- que permitia aos camoes.pt/navegaport/a38.
ses adquiriram essa experiência praticando a pesca em alto-mar navegantes manobrar html. Acesso em: 3 jun. 2022.
o navio na direção
(sardinha, bacalhau, atum e baleia). No Reino de Portugal, a desejada. A bússola foi A leitura e a interpretação
pesca era o principal meio de conseguir alimento, pois a pro- inventada pelos chineses do texto de apoio desta pági-
e levada para a Europa na, com os estudantes, contri-
dução agrícola era insuficiente para alimentar a população. pelos árabes.
buem para eles desenvolve-
• O desenvolvimento de técnicas e conhecimentos neces-
rem a habilidade EF07HI02.
sários à navegação:: os portugueses aperfeiçoaram mapas
e portulanos
portulanos,, adaptaram a bússola às suas embarcações e
inventaram a caravela.

PARA SABER MAIS a maior fornecedora do gênero,


complementando os estoques
dos estaleiros do reino, havendo
A caravela ainda a possibilidade do uso do
Sabe-se hoje que foram os portugueses os primeiros a projetar e construir uma material proveniente do Brasil,
considerado, no início, como re-
caravela, fato ocorrido por volta de 1440. Além de serem ligeiras e fáceis de manobrar, serva.
as caravelas podiam entrar em rios, contornar bancos de areia e zarpar com certa
Não tardou até que os mestres
velocidade no caso de um ataque. Além disso, podiam também efetuar manobras carpinteiros do reino percebes-
rápidas que dispensavam o uso de remos, eram capazes de navegar contra o vento e sem que os diferentes tipos de
em zigue-zagues. madeira encontrados na colônia
apresentavam maior resistência
e durabilidade no contato con-
153 tínuo com a água salgada, mais
que outras encontradas na Euro-
pa, o que aumentava a vida útil
dos navios, além de diminuir
18:45 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 153 cho II, o problema pôde ser momentaneamen-
02/08/22 18:45
a probabilidade de naufrágio.
te contornado, pois este havia ordenado, ainda
Ao se tornar um dos gêneros
Como se construía um navio no século XII, a plantação do grande pinhal de
preferidos dos construtores, a
Apesar de Portugal ser um país rico em ma- Leiria, próximo à Lisboa, cuja maturação ideal
madeira brasileira passou a ser
deiras e metais necessários à armação de em- coincidiu com a falta de madeira no Alentejo.
exportada para Portugal con-
barcações, uma das causas do seu pioneirismo, Ampliado mais tarde pelo rei D. Diniz, o pi- tinuamente e em larga escala,
construir um navio não era tarefa fácil, pois nhal de Leiria tornou-se a principal fonte de alimentando o comércio e a in-
envolvia inúmeras etapas e diversos complica- matéria-prima para a construção de embar- dústria, tanto estatais quanto
dores. Um deles foi a consequente falta de ma- cações no século XVI, que teve lugar, não por particulares.
deira, matéria-prima que, com a crescente de- acaso, na ribeira velha da cidade de Lisboa,
RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das
manda, começou a escassear no final do século então chamada de Taracenas. Com a posterior especiarias. São Paulo: Contexto,
XV. Devido à visão de longo alcance de D. San- descoberta da ilha da Madeira, esta se tornaria 2006. p. 54.
153

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 153 03/09/22 09:40


ENCAMINHAMENTO
A leitura e a interpretação
do texto de apoio desta pági-
na contribuem para o desen- Navegando com os portugueses
volvimento da competência
Com uma monarquia centralizada, mercadores ricos e o apoio de capitães experientes,
específica 4.
de estudiosos e construtores de navios, os portugueses iniciaram o périplo africano,, isto
é, o contorno da África para chegar ao Oriente.

+ATIVIDADES Cronologia da expansão portuguesa – século XV Feitoria: entreposto


comercial fortificado.
Em dupla. Coloquem-se no 1419 – Os portugueses chegam às Ilhas da Madeira. Era usado também para
lugar de um navegador portu- 1443 – Atingem a Ilha de Arguim, junto ao rio do Ouro, e, no controlar a circulação
guês e escrevam um diário de naval e defender o
ano seguinte, o rio Senegal. Quatro anos depois, criam território. As feitorias
viagem de Portugal para as Ín- a primeira feitoria e iniciam o comércio de ouro em pó, portuguesas na África
dias e de lá para Portugal. pessoas escravizadas, armas de fogo e pólvora. tiveram importante papel
Resposta pessoal. no comércio com as chefias
1456 – Chegam às Ilhas do Cabo Verde e constroem engenhos africanas envolvendo
Professor, a atividade visa fa-
de produção de açúcar utilizando mão de obra africana armas, ouro, marfim e
zer com que os alunos utilizem pessoas escravizadas.
a imaginação sem deixar de le- escravizada.
var em conta os conhecimentos 1482 – Erguem o castelo de São Jorge da Mina e,

PICTURES FROM HISTORY/AGB PHOTO LIBRARY


históricos. Na avaliação, suge- nesse mesmo ano, chegam à foz do rio Zaire,
rimos apontar a ocorrência de iniciando a exploração da região do Congo.
anacronismos, bem como de 1488 – Bartolomeu Dias contorna o Cabo das Tormentas,
elementos que não pertencem situado no extremo sul da África. Para valorizar o
ao contexto da época. A pro- feito, o rei de Portugal, D. João II, muda o nome
posta permite desenvolver as do local para Cabo da Boa Esperança.
competências gerais 2 e 4 e a
1498 – Vasco da Gama chega a Calicute, na Índia,
competência específica 3.
uma das mais importantes fontes de espe-
ciarias orientais.
TEXTO DE APOIO
Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, em
Vasco da Gama na Índia 1498, os portugueses realizavam seu maior sonho:
Quando Vasco da Gama che- chegar ao Oriente contornando a África. Ao regressar
gou às águas indianas, em 1498, a Lisboa, Vasco da Gama levou consigo uma fortuna
certos soberanos locais, como os
em pimenta, canela e gengibre. A venda dessas
samorins de Calicute e os sultões
de Gujerate, exerciam sua au- especiarias possibilitou aos investidores um lucro
toridade, mas não controlavam extraordinário (alguns historiadores falam em 600%).
o oceano, que permanecia nas
mãos dos árabes. Chegando a Ca-
licute, Vasco da Gama exigiu para
seu rei a soberania dos mares in-
dianos, o que evidentemente os
samorins recusaram, mas, em Vasco da Gama chega a Calicute,
Cochim, os rivais destes aliaram- na Índia, de Ernesto Casanova, c. 1880.
-se aos recém-chegados, cuja
esquadra era impressionante.
[...] Então, retornando com força
total, os portugueses de Afonso
154
de Albuquerque ocuparam Goa,
depois a ilha de Socotora, Ormuz
e Málaca [atual Melaka], conse- tráfego e, negando aos outros
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 154 o direito de nave- 05/08/22 10:29 AV-

guindo, assim, controlar toda a gar nessa parte do oceano, confiscaram, a partir
parte ocidental do oceano Índico. de então, qualquer carregamento que não dis-
Goa foi o pivô desse dispositivo, pusesse de uma permissão dada por eles. Toda
fortificada em extremo e cons- embarcação que navegasse sem essa autoriza-
tantemente consolidada, e Albu- ção, as cartas, foi tratada como pirata e apresa-
querque foi sua alma. da. Assim, os portugueses inundaram a Europa,
O que os portugueses queriam via Lisboa, daquele pano de algodão (calicot) de
não eram terras, mas o império Calicute, de pimentas e outras especiarias.
do comércio marítimo. Maravi- FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas
lhados com as riquezas da Índia, às independências, séculos XIII a XX. São Paulo:
pretendiam monopolizar-lhes o Companhia das Letras, 1996. p. 45.
154

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 154 03/09/22 09:41


ENCAMINHAMENTO
Aprofundar o assunto com
BRIDGEMAN/FOTOARENA a leitura dos textos: SIQUEIRA,
Aberto o caminho marítimo para Lucília. O nascimento da
o Oriente, os portugueses ergueram América portuguesa no contexto
muitas feitorias nas áreas banhadas imperial lusitano: considerações
pelo oceano Índico. Ao mesmo tempo, teóricas a partir das diferenças
com a chegada de Cabral à região entre a historiografia recente e
mais tarde conhecida como Brasil, o ensino de História. História,
os portugueses ergueram feitorias São Paulo, v. 28, n. 1, p. 99-
também no litoral leste da América 125, 2009; COSTA, Leonor
do Sul. Assim, apoiados em suas Freire; PALMA, Nuno; REIS,
feitorias africanas, asiáticas e ame- Jaime. Império ultramarino: a
ricanas, os portugueses passaram a contribuição para o crescimento
controlar boa parte do comércio pelo de Portugal. Público. [S. l.], 30
oceano Índico e pelo Atlântico Sul. mar. 2015. Disponível em: https://
www.publico.pt/2015/03/30/
Portugal tornou-se, então, a cabeça
economia/noticia/imperio-
de um imenso império: o Império
ultramarino-a-contribuicao-
Ultramarino Português.. Observe o Mercador português é recebido por anfitriões indianos. para-o-crescimento-de-
mapa. Início do século XVI.
portugal-1690742. Acesso em:
3 jun. 2022.
Navegações portuguesas (séculos XV e XVI) A leitura do mapa pode con-
tribuir para o desenvolvimento

ALLMAPS
90° O 0° 90° L

da competência específica 5.
Círculo Polar Ártico

ÁSIA
As descobertas e as ocupações
EUROPA
AMÉRICA progressivas de postos-chave no
DO NORTE PORTUGAL Pequim
Açores Lisboa JAPÃO norte e na costa da África, com
Ceuta Kyushu
Madeira CHINA a intensificação do comércio de
Trópico de Câncer Macau
AMÉRICA Cabo Cabo Bojador ÍNDIA escravos e de ouro, acrescido do
Verde GUINÉ ÁFRICA Calicute OCEANO
CENTRAL FILIPINAS de marfim e pimenta, passaram
São Jorge
Málaca
PACÍFICO
da Mina
Equador
CONGO 0° a representar uma certa por-
OCEANO AMÉRICA Melinde OCEANO
PACÍFICO DO SUL
centagem de todos os negócios.
MOÇAMBIQUE ÍNDICO
Trópico de Capricórnio Porto
Seguro Cabo
Com a chegada dos portugueses
da Boa OCEANIA ao Oceano Índico e o estabele-
Esperança

OCEANO cimento de ligações comerciais


Meridiano de Greenwich

Rotas dos navegadores portugueses ATLÂNTICO mais estáveis com os reinos lo-
Vasco da Gama
Pedro Álvares Cabral cais, ampliou-se muito a impor-
0 2 400
Primeira viagem até o Japão tância do comércio, o que provo-
Círculo Polar Antártico cou grande impacto até mesmo
Fonte: ARRUDA, José Jobson de. Atlas histórico básico. 17. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 19.
na economia europeia. Lugares
que antes se destacavam como
O Império Português tinha dezenas de feitorias e fortes entre a América e o Japão e controlava boa parte do entrepostos comerciais impor-
comércio por meio do oceano Índico e do Atlântico Sul. Esse comércio entre as possessões portuguesas na Ásia, tantes, como as cidades italia-
na África e na América rendeu enormes lucros à monarquia portuguesa no século XVI. nas, principalmente Gênova e
Veneza, viram-se ameaçados
155 pelo comércio português. O açú-
car da Ilha da Madeira, produ-
zido por mão de obra escrava,
tomou lugar do açúcar fabricado
10:29 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 155 O sistema de feitorias não modificava subs-
02/08/22 18:45
no Mediterrâneo. Nas Ilhas dos
tancialmente o modo de vida das populações
Açores, a produção de cereais
A inserção do Brasil na rota comercial nativas. Eram praças mercantis guardadas mi-
passou a abastecer o reino por-
europeia e a formação do império litarmente, que tinham como objetivo recolher tuguês. Em suma, no início do
colonial a produção do interior da região escolhida e século XVI, 65% da renda do
embarcá-la para o reino, ao mesmo tempo em governo português vinha do co-
Durante o processo de expansão ultramarina que traziam mercadorias europeias. Já no caso mércio ultramarino e não mais
europeia, Portugal foi adquirindo experiência da colonização, havia ocupação de fato e, em da agricultura, situação especial
em dois pontos básicos: primeiro, no estabele- consequência, interferência direta, como ocor- dentro do quadro europeu.
cimento, em áreas portuárias, de postos comer- reu nas ilhas atlânticas, em que o rei fazia doa-
FARIA, Sheila de Castro. A colônia
ciais fortificados – as feitorias – e, segundo, na ções a particulares para instaurarem atividade brasileira: economia e diversidade.
criação de áreas de ocupação colonial efetiva. agrária. São Paulo: Moderna, 2004. p. 28-29.
155

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 155 01/09/2022 12:31


ENCAMINHAMENTO
c) A busca por especiarias e pagãos para converter ao cristianismo levou os navegadores portugueses a explora-
• Trabalhar a emergência do rem o Atlântico. O conhecimento obtido nessas explorações da costa africana, litoral brasileiro e ilhas atlânticas
Atlântico como via de circu- permitiu aos portugueses chamarem o Atlântico de Mar Português.
lação de pessoas, mercado- A partir do século XV, o oceano Atlântico tornou-se importante rota de comércio
rias, religiões e culturas. e ganhou a importância que tinha o Mediterrâneo na história antiga e medieval. Essa
projeção do oceano Atlântico pode ser melhor compreendida por meio da incorporação
• Evidenciar a importância da
posição geográfica dos rei- da África ao império colonial português.
nos ibéricos para a conquista No século XVII, em especial após a intensificação da produção de açúcar no nordeste
do Atlântico. brasileiro e nas Antilhas, o Atlântico tornou-se o centro das mais importantes atividades
econômicas da expansão europeia. E também espaço de intensas trocas de mercadorias,
• Contextualizar a denomina-
ção de Mar Português dada ideias e culturas e de circulação de pessoas. a) Sim, porque o Atlântico é um oceano com formato
de “S” limitado ao norte pelo oceano Glacial Ártico, a
ao oceano Atlântico. sudoeste pelo Pacífico, a sudeste pelo Índico e ao sul pelo
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO. Glacial Ártico.

Geograficamente, o Atlântico é um “[...] oceano com um formato de Intrépido:


Dica de leitura S, limitado ao norte pelo oceano Glacial Ártico, a sudoeste pelo Pacífico,
corajoso.
Coletânea de artigos que a sudeste pelo Índico e ao sul pelo Glacial Antártico. Desse modo, devemos a esses
aprofundam aspectos da histó- intrépidos navegadores não só o conhecimento das delimitações desse oceano e a exis-
ria do oceano Atlântico, desde tência do Novo Mundo, mas também a confirmação da esfericidade de nosso planeta.
a Antiguidade ao século XXI. Perceberíamos a influência da geografia na conquista atlântica, uma vez que
• SILVA, Francisco Carlos Tei- foi dos países europeus de maior projeção sobre esse oceano que saíram os navios
xeira da et al. (org.). Atlânti- para explorá-lo.
co: a história de um oceano. Constataríamos o esforço produzido
Rio de Janeiro: Civilização pelo império português no desenho do
Oceano Atlântico Atlântico. A oportunidade de se consoli-
Brasileira, 2015.

SONIA VAZ
OCEANO GLACIAL ÁRTICO dar como uma das primeiras monarquias
Círculo Polar Ártico
absolutistas da Europa e de explorar a
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

ainda viva vontade de lutar contra infiéis


EUROPA
foi convertida em ação de desbravamento
AMÉRICA e conquista [...]. O conhecimento [...] das
DO NORTE
ÁSIA costas africanas, do litoral brasileiro e
Trópico de Câncer

ÁFRICA
das diversas ilhas atlânticas levou a que
esse oceano fosse por eles chamado de
Equador
Mar Português. [...]". 0°

OCEANO ROTH, Luiz Carlos de Carvalho. O renascimento do


AMÉRICA ATLÂNTICO
Atlântico: os grandes impérios marítimos. In: SILVA,
DO SUL
Francisco Carlos Teixeira da et al. (org.). Atlântico:
Trópico de Capricórnio
a história de um oceano. Rio de Janeiro: Civilização
OCEANO Brasileira, 2015. p. 106-107.
Meridiano de Greenwich

PACÍFICO
OCEANO
a) Compare o texto ao mapa. A descrição
TEXTO DE APOIO ÍNDICO
do oceano Atlântico, feita pelo autor,
Portugal foi a única nação eu- está correta? Justifique.
ropeia a ter posses tanto no Círculo Polar Antártico OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
b) Quem são os navegadores a que o
Atlântico norte quanto no sul 0 1 789 texto se refere?
antes de 1492 e a primeira, a par- ANTÁRTIDA

c) O que levou o oceano Atlântico a ser
tir do século XVI, a exercer so- Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro, 2018. p. 32. chamado de Mar Português?
berania sobre vastos territórios
em ambos os lados do Atlântico b) Navegadores europeus (sobretudo portugueses e espanhóis), que exploraram o oceano Atlântico,
subequatorial; a única potência 156 chegaram a América (Novo Mundo) e confirmaram a esfericidade da Terra.
europeia a ter autoridades da
Coroa ocupando a posição de
governador simultaneamente
na África continental e na Amé- naus em viagens de ida e156de volta. Brasil e Ango-
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd capitais de uma colônia ou capitania. Os portos 05/08/22 10:29 AV-

rica antes de 1600 [...]. Portugal la eram insuperáveis em tamanho se compara- eram postos de escuta para informações milita-
era abençoado por arquipélagos dos a qualquer colônia de outra nação europeia res, políticas, comerciais e sociais. Marinheiros,
que, já no século XV, possuíam no Atlântico, seus principais portos situavam-se soldados e passageiros – missionários, mercado-
importância estratégica para o a uma distância de cinco graus de latitude, e a res e autoridades da Coroa – circulavam notícias
comércio, a colonização e a de- passagem entre a África portuguesa e a América por todo o Atlântico português. A notícia era dis-
fesa. Os portos nessas ilhas eram portuguesa não apresentava nenhum grande de- seminada para além de uma esfera portuguesa
pontos de origem e destino e, safio de navegabilidade. de influência e informava colonizadores sobre
com o desenvolvimento da rota O fato de figurarem desproporcionalmente acontecimentos fora do mundo lusófono.
do Cabo para a Índia e a rota do entre vilas com status de cidade ressalta que RUSSELL-WOOD, Anthony John R.; DOMINGUES, Ângela (org.);
Brasil, ganharam importância os portos costumavam ser sinônimos de auto- MOURA, Denise A. Soares de (org.). Histórias do Atlântico
como estações de passagem para ridade civil e eclesiástica, riqueza e influência e português. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2014. p. 114.
156

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 156 01/09/2022 12:31


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: INSTITUTO
As navegações espanholas BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA. Os espanhóis
no Brasil: séculos XV e XVI.
Enquanto os portugueses buscavam o caminho
IBGE: Rio de Janeiro, 2022.
marítimo para o Oriente navegando em direção ao leste, os
Disponível em: https://
espanhóis, seus principais concorrentes, esforçavam-se para
brasil500anos.ibge.gov.
atingir o mesmo objetivo navegando para o oeste. Os reis br/territorio-brasileiro-e-
espanhóis Fernando e Isabel também se empenhavam na busca povoamento/espanhois/os-
de um novo caminho marítimo para o Oriente. Em 1492, esses reis espanhois-no-brasil-seculos-
aprovaram o audacioso plano do navegador genovês Cristóvão xv-e-xvi.html. Acesso em: 10
Colombo. O plano de Colombo consistia em chegar ao Oriente ago. 2022.
navegando em direção ao Ocidente, isto é, dando a volta ao redor A leitura do mapa pode
do mundo, pois acreditava que a Terra era redonda. Além disso, contribuir para o desenvolvi-
julgava que ela fosse menor do que realmente é. O que ele não mento da competência espe-

KAVALENKAU/SHUTTERSTOCK.COM
sabia, porém, é que no meio do caminho havia outro continente. cífica 5.
Colombo saiu do porto de Palos com três caravelas – Santa
María, Pinta e Niña – e, depois de velejar por cerca de dois meses,
embalado por fortes ventos favoráveis, teve uma grata surpresa:
encontrou um continente “novo” para os europeus: a América.
Era 12 de outubro de 1492. Mas, como pensou ter chegado às
Índias, chamou de “índios” os diversos povos que habitavam essas
Monumento de Cristóvão +ATIVIDADES
Colombo. Barcelona
terras havia milhares de anos. (Espanha), 2018. 1. Interdisciplinaridade com o
professor de Geografia. Levar
Expansão ultramarina espanhola (séculos XV e XVI) para a sala diferentes mapas

que representavam o mundo
SELMA CAPARROZ

Rotas dos navegadores


espanhóis antes das navegações portu-
Meridiano de Greenwich

Primeira viagem de
Cristóvão Colombo (1492) guesas. Questionar:
Fernão de Magalhães/
Sebastião Elcano (1519-1522)
a) Que transformações são vi-
síveis entre os mapas?
Círculo Polar Ártico
b) Qual é a importância do co-
ÁSIA nhecimento do Atlântico para
AMÉRICA
EUROPA
o fluxo de pessoas e mercado-
PORTUGAL ESPANHA
DO NORTE
Palos OCEANO rias?
Ilha de
PACÍFICO
Trópico de Câncer

OCEANO
CUBA Guanaani
HAITI
ÍNDIA
FILIPINAS Professor, as respostas po-
AMÉRICA
PACÍFICO
Equador CENTRAL
ÁFRICA

dem depender dos mapas
AMÉRICA
DO SUL
Porto
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
ÍNDICO
apresentados, entretanto, é
Trópico de Capricórnio Seguro
Cabo da
Boa Esperança
OCEANIA importante que os alunos re-
Fonte: ATLAS da história
do mundo. São Paulo:
conheçam as intensas trocas
0 Estreito de
Folha de S.Paulo; comerciais e culturais ocor-
3 105
Times Books, 1995.
Magalhães
p. 154-155.
ridas no oceano Atlântico, à
época, promovendo o desen-
157 volvimento da competência
específica 3.
2. Busquem na internet pala-
vras-chaves sobre as navega-
10:29 Imagens em movimento
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 157 Dica de áudio 02/08/22 18:45
ções portuguesas e tragam
O filme apresenta a história da chegada de O episódio do podcast discute a importân- para a sala de aula termos que
Cristóvão Colombo às ilhas da América Cen- cia das Grandes Navegações, compreenden- estão associados a elas para
tral, em outubro de 1492, e as consequên­cias do o oceano Atlântico como personagem.
serem discutidos com a turma.
desse encontro entre povos e culturas tão • FRONTEIRAS no tempo 18: as Grandes Na- Professor, o exercício intro-
distantes. vegações. Entrevistadores: Cesar Agenor e
duz noções de pesquisas rela-
Marcelo Silva. Entrevistado: Willian Spen-
• 1492: a conquista do paraíso. Direção: Ri- cionadas à análise documen-
gler. [S. l.]: Fronteiras no tempo, 8 abr. 2017.
dley Scott. França/Espanha/EUA, 1992. Blu- Podcast. Disponível em: https://fronteiras tal e análise de mídias sociais
-ray (154min). notempo.com/ep-18-grandes-navegacoes/ e promove a competência es-
Acesso em: 3 jun. 2022. pecífica 7.
157

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 157 03/09/22 09:42


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o empreendi-
mento feito pela Coroa es-
panhola, que teve entre seus PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
principais feitos a chegada ao
mar do sul, batizado por ele Leia o texto a seguir com atenção
de Pacífico, e a comprovação
da esfericidade da Terra. Os europeus e o Pacífico
A leitura e a interpretação
As grandes navegações e

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


do texto de apoio desta pági-
explorações sob a bandeira dos
na possibilitam aos estudantes
comparar as navegações no castelhanos tiveram início sob o
Atlântico e no Pacífico, con- reinado de Fernando de Aragão e
tribuindo, assim, para o de- Isabel de Castela (1479-1516). [...]
senvolvimento da habilidade O então denominado mar
EF07HI06. do sul – o Pacífico – foi avis-
tado pela primeira vez por
um europeu em 1513, por via
Imagens em movimento terrestre, em uma expedição
Vídeo sobre Fernão de Ma- organizada por Vasco Nuñez de
galhães e sua viagem em volta Balboa, residente [...] no atual
do mundo. Panamá. Com base em infor-
• A PRIMEIRA volta ao mundo mações obtidas com os nativos,
| A grande viagem de Fernão [...] Balboa atravessou a serra
de Magalhães. 2022. Vídeo de Darién, avistou o oceano e
(4m54s). Publicado pelo Canal tomou posse [dele] em nome dos
History Brasil. Disponível em: reis da Espanha.
https://youtu.be/FvPWNiPR Por tugal, por sua vez,
NR4. Acesso em: 10 jul. 2022.
enviou, em 1514, uma expedição
com duas caravelas, coman-
TEXTO DE APOIO dada por Estevão Fróis e João
de Lisboa, para explorar as [...]
Viagem e comércio através
do Pacífico terras do sul e procurar uma
passagem para o oceano des-
O comércio do “Galeão de Ma-
coberto pelos castelhanos. A
nila” usava uma rota descoberta,
em 1565, por Andrés de Urdañeta. expedição passou por Cananeia, Navegador português Fernão de Magalhães, século XVI.
Estes navios navegavam entre as São Paulo [...].
cidades de Manila, nas Filipinas, e Os navegadores [portugueses] avançaram por costas Castelhano: espanhol.
de Acapulco, no México, levando
desconhecidas [...] e descobriram a foz de um grande rio, poste- Foz: lugar onde
quatro a sete meses na viagem. deságua um rio.
Cada navio ia carregado com riormente batizado rio da Prata; fizeram incursão rio adentro,
Charrua: grupo
imensas provisões, juntamente até onde hoje se situa a cidade de Buenos Aires, e mantiveram indígena.
com carga, de modo a suportar a o primeiro contato com os Charrua [...].
tripulação de quase mil pessoas.
As principais mercadorias levadas
pelo “Galeão de Manila” eram a 158
prata e a seda, entre outras, vis-
to que os mercados, para estes
produtos, estavam a florescer,
deAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd
Manila queria satistazer 158 a busca de artigos de Devido às condições internas na China, nome- 02/08/22 18:45 AV-
de ambos os lados do Oceano.
seda chinesa na América Latina [...]. As meias de adamente, a transição de uma moeda baseada
Os espanhóis buscavam grandes
seda chinesas eram um artigo muito procurado. em papel para uma moeda baseada em prata (a
quantidades de prata na América
[...] No México, apenas se vendiam produtos de monetarização da economia), a prata estava em
Latina, em locais como o Potosi,
seda chinesa e, do Chile ao Panamá, a roupa dos alta procura e era, então, de alto valor. O controle
no Peru, e Zacatecas, no México.
espanhóis era confeccionada com tecido de seda espanhol das lucrativas minas da América La-
Esta prata era transportada para
chinesa, fina ou crua. tina deu-lhes acesso a grandes quantidades de
Acapulco e levada, através do Oce-
prata, com a qual exploravam a alta demanda na
ano Pacífico, por galeões (navios) O comércio do “Galeão de Manila” fora iniciado China e, assim, obtinham grandes lucros.
até Manila (“Galeão de Manila” ou numa altura em que era vantajoso, para ambos
SEABRA, Leonor Diaz de; MANSO, Maria de Deus. Macau e as
“Galeão de Acapulco”), onde era os lados do Pacífico, com o “contacto direto entre Filipinas no século XVI-XIX: “A Rota Marítima da Seda”.
trocada por seda oriunda dos mer- uma sociedade onde a prata estava em grande Revista dos Puntas, [s. l.], ano 8, n. 13,
cados chineses.Também a seda procura e uma onde era abundante e barata”. p. 176-199, 2016. p. 186-187.
158

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 158 03/09/22 09:43


ENCAMINHAMENTO
c) Os portugueses promoveram uma expedição para explorar as terras do sul e encontrar um caminho pa-
ra o oceano Pacífico. Nessa expedição eles encontraram a foz do rio da Prata e mantiveram contato com os Para refletir. d) Fernão de
Charrua, povo indígena que vivia onde hoje é Buenos Aires. Magalhães chegou à América
do Sul, adentrou o rio da Pra-
Esse rio estava nas terras da Espanha, que prontamente enviou outra expedição,
ta e chegou ao mar do sul, ao
sob o comando de Juan Dias de Solis, para levantar suas riquezas e buscar a procu-
qual ele chamou de Pacífico.
rada passagem para o Oriente. Em janeiro de 1516, [...] Solis foi morto [...]. Em 1521, chegou às Filipinas,
O reconhecimento das costas das terras do sul e a busca de uma passagem onde morreu em confronto
para o outro oceano [...] tiveram sequência com outra expedição armada pelos com os indígenas. Após sua
castelhanos [...]. morte, o comando da expe-
O comando foi entregue ao português Fernão Magalhães [...]. dição foi assumido por Juan
Fernão Magalhães partiu em setembro de 1519 [...]. Em janeiro de 1520, ele chegou Sebastian Elcano, que chegou
ao rio da Prata [...]; deu sequência à busca ao longo de um litoral desconhecido e às ilhas Molucas, passou pelo
que apresentava uma série de dificuldades para a navegação; e adentrou ao mar do Cabo da Boa Esperança e, fi-
sul, por ele batizado de Pacífico, em novembro daquele ano, com apenas três dos nalmente, chegou a Sevilha,
seus navios. Em março de 1521, Magalhães chegou às ilhas de São Lázaro, depois completando a primeira via-
denominadas de Filipinas; no mês seguinte, foi morto em confronto com nativos de gem de circum-navegação da
uma das ilhas do arquipélago. Terra.
Juan Sebastian Elcano assumiu o comando. A continuidade das explorações levou
e) Sugerimos abordar outras
consequências que não foram
às procuradas Molucas, produtoras de cravo e de outros produtos de interesse dos
mencionadas no texto, como
europeus. [...] A expedição contornou o cabo da Boa Esperança e completou a pri-
a colonização das novas ter-
meira circum-navegação da Terra. Em setembro de 1522, a nau Victoria chegou ao
ras encontradas e também o
porto de Sevilha com 18 sobreviventes e uma carga de cravo, canela e noz-moscada, aperfeiçoamento dos mapas
cujo valor tornou a viagem lucrativa do ponto de vista financeiro. da época. Além disso, houve
Essa viagem resultou na descoberta de uma passagem para o Oriente pelo também consequências para
novo mundo e na identificação do oceano Pacífico, apenas avistado anteriormente. os nativos das terras encon-
Resultou também na comprovação [...] da esfericidade da Terra e na indicação de que tradas, como epidemias e es-
a sua circunferência seria superior àquela estimada por Ptolomeu. cravização. Por fim, compare
VELOSO FILHO, Francisco de Assis. A expansão europeia dos séculos XV e XVI: contribuições para uma os mapas sobre as navegações
nova descrição geral da Terra. Revista Equador (UFPI), Piauí, v.1, n. 1, p. 4-25, jun./dez. 2012. p. 10, 13-14.
portuguesas e as castelhanas
a) Em 1513, Vasco Nuñez de Balboa avistou o “mar do sul”, batizado por Fernão de entre os séculos XIV e XVI, das
Magalhães de oceano Pacífico. Explique qual caminho esse europeu percorreu para páginas 155 e 157, chamando a
avistar o oceano. Esse caminho foi por terra ou por mar? a) Ele atravessou a serra de Dárien atenção para a divergência en-
e avistou o oceano por meio de informações obtidas com os nativos. Logo, ele percorreu um caminho terrestre. tre Portugal e Espanha sobre
b) Em dupla. Expliquem a frase: “avistou o oceano e tomou posse [dele] em nome dos qual era a melhor direção para
reis da Espanha”. b) Durante as Grandes Navegações, os navegadores europeus julgavam-se com o direito de tomar se chegar ao Oriente por mar.
posse, em nome dos reis que financiavam as expedições, das terras e dos mares recém-descobertos. Eles nomeavam muitos
c) O que os portugueses fizeram após a descoberta do Pacífico pelos castelhanos?
As atividades desta página,
lugares com nomes extraídos de sua religião, a católica, como Baía de Todos-os-Santos, Cabo de Santo Agostinho, entre outros. em particular o item e), cola-
d) Com base no texto e com o auxílio de um mapa-múndi, desenhe em uma folha de boram para o desenvolvimen-
papel sulfite um mapa traçando a rota percorrida por Fernão de Magalhães e, depois to da habilidade EF07HI06.
dele, por Juan Sebastian Elcano para chegarem ao Oriente. d) Produção pessoal.

e) Aponte uma semelhança entre as navegações atlânticas e as navegações pelo Pacífico


durante os séculos XV e XVI.
e) Tanto as navegações pelo Atlântico quanto as que seguiram pelo Pacífico, resultaram em uma série de descobertas
(rios, mares, oceanos, continente e ilhas), que contribuíram para comprovar a esfericidade da Terra e trouxeram
riquezas para Portugal e Espanha. 159

18:45 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 159 02/08/22 18:45

159

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 159 01/09/2022 12:31


ENCAMINHAMENTO
• O texto de apoio desta pági-
na pretende ajudar no tra-
balho em sala de aula com a
habilidade EF07HI06.
PARA SABER MAIS

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Dica de leitura
O livro das historiadoras
Candice Goucher e Linda Wal-
ton aborda a história mundial Navio de Fernão
dos primórdios à atualidade e, Magalhães de nome
nesse percurso, lança um novo Vitória, cuja viagem
pelo Pacífico está
olhar sobre as navegações eu- representada no atlas
ropeias dos séculos XV e XVI, de Abraham Ortelius
no Atlântico e no Pacífico. E de 1580.
evidencia que o avanço euro-
peu pelo Pacífico acrescentou
novas rotas e conexões mun-
diais e constituiu um desloca-
mento de poder rumo ao oes-
te, distante dos antigos polos O navegador português Fernão de Magalhães saiu da Espanha em
comerciais do oceano Índico e 1519 e chegou às Filipinas, no oceano Pacífico, após atravessar o extremo Manila: hoje,
do Leste Asiático. sul da América do Sul por um canal natural. Em 1571, uma nova expedição capital das
Filipinas.
• GOUCHER, Candice; WAL- espanhola chegou às Filipinas e ocupou ManilaManila,, que se tornou o mais
TON, Linda. História mun- importante posto comercial espanhol na Ásia.
dial: jornadas do passado ao Na segunda metade do século XVI, após a conquista espanhola das Filipinas, um
presente. Porto Alegre: Pen- intenso comércio, legal e ilegal, passou a ocorrer por meio de uma rota que ligava dois
so, 2011. domínios espanhóis: Acapulco, no México, e Manila, nas Filipinas; essa rota se estendia
até a China passando por Macau, que, à época, pertencia a Portugal. O dinheiro usado
nessa importante rota comercial eram moedas espanholas chamadas de “moedas de
EDITORA PENSO

oito”. Em pouco tempo, o comércio pela rota Manila-Acapulco passou a ser de mão
dupla e “animado” por piratas de países adversários da Espanha. Em 1573, partiu de
Manila, na direção leste, o primeiro galeão abastecido de riquezas do Oriente (seda
chinesa, cetim, porcelanas e especiarias); e, navegando pelo Pacífico, chegou a Acapulco.
De lá, retornou a Manila carregado de prata das minas espanholas na América. Leia o
que duas historiadoras especializadas disseram sobre o assunto:
Ao fim do século XVI, a quantidade de metais fluindo de Acapulco para Manila
ultrapassou a soma que estava envolvida nos carregamentos do Atlântico. Entre 1570
e 1780, um número estimado entre 4 e 5 mil toneladas de prata fluíram para o leste
da Ásia ao longo da rota Acapulco-Manila. Conforme os metais hispano-americanos
fluíam [...], tanto asiáticos quanto europeus enriqueceram. [...]
TEXTO DE APOIO GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História Mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 186.

O mundo do Pacífico
Entre 1500 e 1800, após as via- 160
gens de Colombo, as relações
econômicas e as sociedades das
Américas, da Europa e de partes
África e a Europa, substituindo e redirecionan- constituiu uma mudança de poder em direção
da África, Ásia e do Pacífico fo- AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 160 02/08/22 18:45 AV-

ram transformadas pela criação do seus sistemas comerciais mundiais, basea- ao oeste, para longe daqueles centros mais an-
de uma economia mundial do dos em terra e no mar, ínter ou intrarregionais. tigos afro-eurasianos, como o mundo comercial
Atlântico [...]. O estabelecimento As conexões triangulares entre sociedades da do Oceano Índico e o núcleo econômico chinês
das conexões do Atlântico teve África, Europa e Américas giraram em torno de no leste asiático. No século XVIII, novos desen-
um impacto profundo na vida e um comércio atlântico em expansão, com suas volvimentos na Europa iriam providenciar os
na cultura dos povos africanos, bases fundadas na escravidão e no capitalismo meios para a intensificação da dominação eu-
particularmente daqueles da comercial. Logo depois de sua criação, o desen- ropeia da economia global.
África central e do oeste. As no- volvimento comercial do mundo atlântico in-
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda.
vas conexões globais afetaram o terconectado não era mais um conjunto de re- História mundial: jornadas do passado ao presente.
equilíbrio das relações, há mui- lações equilibradas. A expansão europeia para Porto Alegre: Penso, 2011.
to estabelecidas, entre a Ásia, a o Pacífico adicionou novas conexões globais e p. 188.
160

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 160 01/09/2022 12:31


TEXTO DE APOIO
A dura vida dos
navegantes
Cabral toma posse das terras brasileiras Devido ao aperto nos navios,
o abastecimento e a alimenta-
ção constituíram um problema
Animado com o lucro da viagem de Vasco da Gama, o rei de Portugal, D. Manuel, permanente. Os gêneros em-
decidiu enviar outra expedição às Índias, a fim de firmar o comércio português com o Oriente. barcados tinham sempre uma
Essa esquadra, comandada pelo nobre Pedro Álvares Cabral, partiu de Lisboa em péssima qualidade. Estavam fre-
9 de março de 1 500. Era formada por 13 navios (dez naus e três caravelas) e cerca de quentemente deteriorados ain-
da no início da viagem e termi-
1 500 pessoas, incluindo escrivão, cartógrafos, padres, soldados e navegadores experientes,
navam apodrecendo em pouco
como Bartolomeu Dias, o primeiro europeu a contornar a África. tempo. [...]
O rei encarregou Cabral de tomar posse das terras que encontrasse pelo caminho. Por Para garantir a presença de
isso, Cabral ordenou aos pilotos de sua esquadra que se afastassem do litoral africano, alimento fresco, iam a bordo
velejando cada vez mais em direção ao Ocidente. alguns animais vivos, princi-
Depois de 43 dias no mar, os tripulantes avistaram pássaros e algas marinhas, sinal palmente galinhas, e, por vezes,
bois, porcos, carneiros e cabras,
de que havia terra por perto. Finalmente, na tarde do dia seguinte, 22 de abril de 1 500,
brindando os embarcados com
uma quarta-feira, avistaram um monte verde-azulado de formas arredondadas, ao qual muito esterco e urina, que con-
deram o nome de Monte Pascoal, pois era semana da Páscoa. tribuíam para agravar o quadro
Os portugueses desembarcaram junto a uma aldeia do povo tupiniquim, no lugar onde de doenças entre os humanos.
é hoje Porto Seguro, na Bahia. Lá, fincaram uma cruz de madeira para dizer que daquela Mesmo assim, raramente ha-
data em diante aquelas terras eram deles. Depois de tomar posse, estabelecer contato via carne vermelha fresca [...].
Receber esta regalia era rari-
com os indígenas e ordenar a celebração da primeira missa, Cabral enviou um navio de
dade. O embarque de animais
volta a Lisboa levando uma carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão de sua esquadra, de grande porte não era reco-
para o rei de Portugal. mendado, tomava muito espa-
ço, consumia víveres e água,
deixava o ambiente ainda mais
MARCOS AMEND/PULSAR IMAGENS

CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS


insalubre. Com sorte, peixe seco,
cebolas e alho podiam ser forne-
cidos. Muitas vezes, na falta de
À esquerda, marco lenha, peixe e carne eram con-
do local de celebração sumidos crus.
da primeira missa
realizada pelos
Em viagens longas, passado
portugueses em 1500. um mês, o que sobrava para co-
Porto Seguro (BA), mer era uma espécie de biscoito
fotografia de 2016. duro e seco, então já todo roído
por ratos e baratas. [...]
À direita, monumento em A dieta pobre em vitaminas
homenagem à primeira explica diversas doenças que se
missa, em Coroa tornaram corriqueiras nos na-
Vermelha, município de
vios, com sintomas como disen-
Santa Cruz Cabrália (BA),
teria, febre, fraqueza extrema e
fotografia de 2019.
desnutrição. A principal era o
escorbuto, chamado na época
de “mal das gengivas” ou “mal
de Luanda” [...]. Ironicamente,
no caso do consumo de ratos –
161 o animal sintetiza a vitamina C
a partir dos alimentos que con-
some –, os infortúnios vividos
pelos mareantes em desespero,
18:45 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 161 ENCAMINHAMENTO 02/08/22 18:46
sem que soubessem, termina-
vam evitando o aparecimento
• Aprofundar o assunto observando a obra: DESEMBARQUE de Pedro Álvares Cabral em Por- do escorbuto.
to Seguro em 1500. Google Arts & Culture, [20--?]. Disponível em: https://artsandculture. RAMOS, Fábio Pestana. A dura vida
google.com/entity/g11g01ztrjl?hl=pt. Acesso em: 3 jun. 2022. dos navegantes. Revista de História,
Rio de Janeiro, ed. 84, p. 22-25,
A obra de Oscar Pereira da Silva, Desembarque de Cabral em Porto Seguro, mostra a visão 1 set. 2012. p. 24-25.
do pintor sobre o descobrimento do Brasil.
A leitura e a interpretação desta fonte visual podem contribuir para o desenvolvimento
das competências gerais 2 e 3.

161

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 161 03/09/22 09:44


+ATIVIDADES
Em grupo. Debatam a che-
gada dos portugueses no ter-
ritório que formaria o Brasil,
considerando os seguintes PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

pontos:
a) O que significa dizer que os A carta de Caminha é um importante documento histórico. Leia a seguir um trecho
portugueses “descobriram o que fala da nova terra:
Brasil”? Vocês concordam com Nesta terra, até agora, não pudemos saber se existe ouro, nem prata, nem coisa
essa afirmação? Por quê? alguma de metal ou ferro. Porém, a terra em si é de bons ares, assim frios e tem-
b) Na carta de Caminha, fica perados. As águas são muitas e infinitas. A terra é tão grandiosa que, querendo
explícita a intenção de cate- aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
quização dos indígenas. Isso Porém, o melhor fruto que podemos tirar dela, me parece, será salvar esta gente,
pode ser visto como imposição tornando-a cristã.
cultural? Argumente. E, desta maneira, aqui conto a Vossa Alteza o que vi nesta Vossa terra.
Respostas pessoais. TORRES, Adriana; PEREIRA, André. Ilustração: Tibúrcio. A carta de Pero Vaz de Caminha.
Adaptação e atividades. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991. p. 21.
Professor, organizar a sala
em pequenos grupos, de pre- a) O que se pode concluir da leitura da primeira frase?
ferência, incluindo alunos a) Conclui-se que eram grandes a esperança e a preocupação dos portugueses em achar ouro e prata na “nova terra”.
com diferentes habilidades. É b) Em que trecho da carta se percebe a intenção dos portugueses em expandir sua
importante mediar as discus- religião? b) “Porém, o melhor fruto que podemos tirar dela, me parece, será salvar esta gente,
tornando-a cristã.”
sões para que o foco não seja
c) Em que trecho o escrivão diz que considera a nova terra como propriedade do rei
perdido e para interferir em de Portugal? c) “E, desta maneira, aqui conto a Vossa Alteza o que vi nesta Vossa terra.”
casos de intolerância. Apesar
de pessoal, é importante ava-
liar se os alunos reconhecem Império Português (século XVI)
a linguagem na construção 0º

ALLMAPS
dos discursos e compreendem Círculo Polar Ártico

a ideia de “selvageria” asso- OCEANO


ÁSIA
ciada aos indígenas, por par- ATLÂNTICO
EUROPA

te dos colonizadores, que se AMÉRICA


DO NORTE
PORTUGAL
Açores Ceuta
JAPÃO
OCEANO
Madeira Tânger Ormuz PACÍFICO
viam como salvadores e civili- Trópico de Câncer
Cabo
Mazagão
ÁFRICA
Diu
Goa Macau
OCEANO AMÉRICA
zadores. Equador
PACÍFICO CENTRAL
Verde
São Jorge da Mina
GUINÉ
Cochim
Málaca

AMÉRICA
As discussões permitem de- DO SUL
BRASIL
Recife
Salvador
Luanda
MOÇAMBIQUE
ANGOLA (Monomotapa)
Trópico de Capricórnio
Meridiano de Greenwich

senvolver as competências Rio de Janeiro


MADAGASCAR
OCEANIA

gerais 7 e 9 e a competência Cabo da


Boa Esperança OCEANO
ÍNDICO
Fonte: ATLAS da história
do mundo. São Paulo:
específica 4. 0 3 395
Estreito de Folha de S.Paulo;
Magalhães
Times Books, 1995.
• Tema Contemporâneo Trans- Depois de passar pelas terras que os indígenas chamavam de Pindorama, os
versal: a atividade contribui portugueses atingiram Moçambique (1507), na costa oriental da África; Macau
para o trabalho com a macro- (1517), na China; e Kyushu (1542), no Japão. Portugal ergueu, assim, um imenso
império marítimo-comercial com possessões banhadas por três oceanos
área multiculturalismo. (Atlântico, Índico e Pacífico). O Império Português se assentava em uma rede de
feitorias e fortalezas erguidas em três continentes (África, América e Ásia). Como
mostra esse mapa do século XVI, o Império Português ia do litoral da América do
TEXTO DE APOIO Sul até o Japão, passando pelos litorais da África, da Índia e da China.
Portugal foi responsável pela
criação de um vasto império,
possuindo terras e domínios em 162
todos os continentes. Mais do
que isso, a expansão ultramari-
na foi resultado de determina-
poAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd
que aspiravam a recompensas 162 materiais, 02/08/22 18:46 AV-
ções da Coroa, embora grande
como rendas, terras, ofícios etc. Já para os
parte da população tenha se be-
neficiado dela. Para o povo, a ex- mercadores, significava aumento dos lucros,
pansão representava a possibili- a partir da ampliação do comércio. Por fim,
dade de mudança de vida e de para a Coroa, era a sobrevivência por meio
libertação de esquemas opres- dos impostos colhidos em todos os setores. A
sores, ao ter a opção de saí­ da expansão ultramarina pode ser considerada
para terras d’além-mar. Para o um grande projeto, em que todos esperavam
clero e a nobreza, representava ganhar alguma coisa. [...]
cristianização e conquista, for- FARIA, Sheila de Castro.
mas diferenciadas de servir a A colônia brasileira: economia e diversidade.
Deus e ao rei, ao mesmo tem- São Paulo: Moderna, 2004. p. 18.
162

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 162 03/09/22 09:44


TEXTO DE APOIO
[...] Giovanni Caboto, mais
conhecido como John Cabot, a
versão inglesa do nome do na-
Outros europeus vegante. [...]
[...] A ambição de alcançar uma
Ingleses, franceses e holandeses também cobiçavam as especiarias orientais. Para ascensão social pode ser tida como
chegar a elas, navegaram em direção ao Oriente por diversos caminhos. motivação quando se refletem
os “porquês” de João Caboto,
Em 1497, o navegador genovês Giovanni Caboto, navegando a serviço da Inglaterra,
enquanto profissional do mar,
tentou em vão encontrar uma passagem para o Oriente pelo extremo norte. Nessa viagem, que atuava na região do medi-
Caboto explorou alguns pontos da América do Norte. terrâneo, migrar para as águas
Em 1534, foi a vez do navegador francês Jacques Cartier buscar uma passagem para do Oceano Atlântico. No ano de
o Oriente pelo extremo norte. Ele explorou o rio São Lourenço e tomou posse, em nome 1497, zarpando do porto de Bristol,
navegou rumo ao Atlântico Norte,
do rei da França, de parte dos atuais Canadá e Estados Unidos. Tanto os ingleses quanto encontrando as terras da atual
os franceses daquela época dedicavam-se à pirataria. península do Labrador. Também
A Holanda lançou-se às navegações só no final do século XVI. Mas em poucas décadas navegou em uma região que leva
conquistou terras em diversos continentes: região do Cabo (África); Java, Ceilão e ilhas seu nome, o Estreito de Caboto.
As viagens foram realizadas com
Molucas (Ásia); Nova Amsterdã (atual Nova York), Antilhas e nordeste do Brasil (América).
o patrocínio de Henrique VII. In-
As Grandes Navegações provocaram mudanças importantes no cenário mundial, entre clusive realizou um “ensaio de
as quais cabe citar: colonização”. Ao desembarcar
• o extraordinário crescimento do volume e do valor do comércio mundial;; em uma ilhado Atlântico Norte,
batizou-a com o nome de Ilha de
• o oceano Atlântico passou a ser mais importante do que o mar Mediterrâneo como rota São João, requerendo as terras ao
de comércio. Com isso, assistiu-se ao declínio das cidades italianas e à ascensão dos monarca bretão. Em 1498, organi-
países banhados pelo Atlântico, como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda; zou uma nova expedição na qual
acabou falecendo.
• a construção de vastos impérios coloniais pelos europeus e a apropriação da riqueza
SILVA, Thiago Rodrigo da; SOUZA, Evandro
dos povos africanos, asiáticos e ameríndios; André de; FOCHI, Graciela Marcia. Sebastião
• a consciência, por parte de muitos europeus, da enorme diversidade de povos e Caboto: aspectos da trajetória do navegador
veneziano responsável pelo topônimo Santa
culturas e da necessidade de conviver com essas diferenças. Catarina. In: SOUZA, Evandro André de
(org.). A ilha de Santa Catarina no século
das Grandes Navegações. Florianópolis:
MUSEU DE GRÃO VASCO VISEU, PORTUGAL. FOTO: THE PICTURE ART COLLECTION/ALAMY/FOTOARENA/
ÓLEO SOBRE MADEIRA, 130,2 CM × 79 CM
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

Insular, 2013. v. 1. p. 230-232.

À esquerda, vemos como


um europeu representou os
indígenas da América antes de
conhecê-los, de Walter Raleigh.
Escola Alemã, século XVI.
mas ela se interessa, sobretudo,
À direita, Adoração dos Reis pelas ilhas produtoras de açúcar
Magos, de Vasco Fernandes, do Caribe, que são ocupadas a
1501-1506. Pintura feita após partir de São Cristóvão, nas Pe-
a estada dos portugueses no quenas Antilhas, em 1625. Na
Brasil. Observe que um dos Reis época de Richelieu, a cidade de
Magos, no centro da tela, está
Quebec mal chega a 100 habi-
caracterizado como indígena.
tantes; a Martinica e Guadalupe
possuem, cada uma, no momen-
to da Revolução Francesa, em
torno de 10 mil colonos [...].
163 FERRO, Marc. A colonização explicada a
todos. São Paulo: Editora Unesp,
2017. p. 35-36.

18:46 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 163 TEXTO DE APOIO de Tordesilhas (1494): “O sol brilha para
02/08/22mim
18:46
EDITORA UNESP

como para os outros. Gostaria muito de ver a


Diferentemente dos espanhóis e dos portu- cláusula do testamento de Adão que me exclui
gueses, no século XVI a França não tem polí- da divisão do mundo”. Portanto, é a concorrên-
tica colonial. Francisco I (1515‑1547) intervém cia entre potências que leva a França a se in-
pontualmente – em 1535, ele encoraja Jacques teressar pelas expedições a terras longínquas.
Cartier, que partiu em busca das nascentes do Para Francisco I, trata‑se de evitar o monopólio
rio São Lourenço – ou defende a pesca de gran- espanhol sobre a totalidade das novas terras;
de porte no Atlântico. depois, para seus sucessores, trata-se de frear
No entanto, o monarca se rebelou no mo- o avanço da Inglaterra.
mento em que o papado serviu de árbitro en- Portanto, nos séculos XVII e XVIII a França cria
tre a Espanha e Portugal por meio do Tratado postos avançados no Canadá, “a Nova França”;
163

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 163 03/09/22 09:45


ENCAMINHAMENTO
1. Correções: a) A utilização 3. c) Na Roma antiga, a pimenta por vir de longe era negociada a um
valor muito alto. Já a banana, por ser cultivada no Brasil há muito tem-
das especiarias na alimenta- po, tem um preço relativamente baixo. A relação entre os dois ditados

ATIVIDADES
ção tinha a finalidade de me- é de diferença, uma vez que o ditado dos antigos NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
lhorar o sabor dos alimentos e romanos era usado para expressar o alto valor de
um produto, já o ditado usado pelos brasileiros é usado para expres-
conservá-los. c) Os mercadores sar o baixo valor de um produto.
árabes e italianos controla-
vam o comércio de especiarias 2. Econômicos: os portugueses queriam ampliar sua participação no rico comércio mun-
dial de especiarias, comprando esses produtos direto da fonte. Para isso, precisavam
e artigos de luxo orientais no
século XIV.
I. Retomando encontrar outras rotas marítimas que não estivessem dominadas pelos árabes e pelos
italianos. Religiosos: os portugueses queriam expandir a fé cristã e combater aque-
3. d) Os estudantes poderão les a quem consideravam infiéis, ou seja, os árabes muçulmanos.
citar pimenta de cheiro, pi- 1 A respeito do comércio de especiarias e de artigos orientais de luxo no século XIV,
menta malagueta, pimenta escreva em seu caderno as alternativas corretas. Em seguida, corrija as incorretas.
dedo-de-moça, pimenta-do- a) A utilização das especiarias na alimentação tinha a finalidade de melhorar o sabor dos alimen-
-reino, entre outras. tos, embora não contribuísse muito para a conservação deles.
b) As especiarias eram utilizadas na alimentação e na fabricação de remédios e perfumes.
c) Os mercadores espanhóis e portugueses controlavam o comércio de especiarias e artigos de
luxo orientais no século XIV.
TEXTO DE APOIO d) As mercadorias do Oriente eram levadas até o Mediterrâneo pelos árabes, onde eram com-
As especiarias compreendiam pradas pelos italianos para serem revendidas na Europa. 1. Alternativas B e D.
um conjunto de produtos, na
maioria vegetais, mas também
2 Descreva os motivos econômicos e religiosos que levaram os portugueses a navega-
rem em alto mar no século XV.
um pequeno número de origem
animal, ou mistos, que serviam 3 Leia o texto a seguir com atenção e depois responda às questões em seu caderno.
como condimento, mezinhas,
3. b) Porque eram muito desejadas, uma vez que conservavam os ali-
excitantes, relaxantes, perfu- O valor das especiarias mentos e os tornavam mais saborosos.
mes e unguentos coloridos, [...] Cada especiaria é nativa apenas de uma ou de algumas poucas regiões
utilizados para três funções bá-
tropicais do globo, e durante muito tempo não puderam ser transplantadas com
sicas: tintura, tempero e medi-
camento. Dentre todas, a mais facilidade para outras áreas. Por isso, as especiarias sempre estiveram relacionadas
importante das especiarias era ao comércio. [...] E por serem muito desejadas, alcançaram preços altos, desde os
a pimenta, devido ao sabor pro- tempos mais antigos.
nunciado e ao odor caracterís-
No Egito, algumas especiarias eram tão caras, que somente a corte do faraó e os
tico, importante para disfarçar
o gosto dos alimentos, particu- nobres podiam adquiri-las. [...] Já os romanos achavam que pimenta era sinônimo de
larmente da carne. [...] Assim, riqueza, dizendo um ditado: “Caro como a pimenta”.
aqueles que não moravam na Hoje em dia, quase todas as especiarias tornaram-se produtos mais comuns
costa e, por isso, não dispunham e por isso são mais baratas. Mas os seus cheiros, suas cores e seus sabores, bem
de peixe fresco durante todo o
como a sua história, continuam a fascinar as pessoas de todo o mundo.
ano eram obrigados a temperar
a carne com condimentos for- AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias: a busca de especiarias e a expansão marítima.
São Paulo: Atual, 1999. (Nas ondas da história, p. 5-6).
tes, picantes e odoríferos, dis-
farçando o mau cheiro e o sabor a) Por que os europeus dos séculos XIV e XV tinham de obter especiarias por meio do comércio?
desagradável. Afinal, a carência b) Por que as especiarias alcançavam altos preços? Justifique.
de víveres não permitia recusar c) Os antigos romanos usavam o ditado “caro como a pimenta”. No Brasil, já se usou o ditado
nenhum alimento disponível. “a preço de banana”. Compare os dois ditados explicando se a relação entre os dois é de
Outras especiarias eram tam- semelhança ou diferença.
bém utilizadas, mas com finali- d) No Brasil de hoje, a pimenta é muito usada. Faça uma pesquisa rápida: quais tipos de pimenta
dades diferentes. O cravo, tam- são mais populares no Brasil? 3. d) Resposta pessoal.
bém muito apreciado, tinha uso 3. a) Porque as especiarias eram originárias apenas de algumas regiões tropicais do globo e os europeus
exclusivo na feitura de doces. 164 não conseguiam replantar essas especiarias em suas terras. Por isso, montavam expedições para
consegui-las no Oriente e, depois, vendê-las na Europa.
[...] Contudo, desde a Antigui-
dade a especiaria mais indicada
para tornar comestível a carne
salgada, e, com frequência, pútri-
das respectivas posições164
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd estratégicas, obtendo as Imagens em movimento 02/08/22 18:46 AV2

especiarias através da rota que partia do Oriente,


da, era mesmo a pimenta forte. Documentário português sobre as motiva-
Durante os tempos áureos do im- revendendo os produtos em pequenas quanti-
dades e a preços altíssimos, o que restringia seu ções e a evolução tecnológica que levaram
pério romano, as especiarias cir-
culavam livremente pela Europa. consumo a senhores feudais e à alta burguesia. Portugal às grandes aventuras marítimas.
Servindo de mero entreposto comercial, logo os
Não obstante, com o continente • CARAVELAS e naus: um choque tecnológico
posteriormente segmentado em portugueses tiveram a ideia de obter lucros exor-
no século XVI. 2013. Vídeo (47min40s). Publi-
feudos, elas tornaram-se artigo bitantes com esse comércio, indo buscar a merca-
doria direto na fonte. Assim surgiu a Carreira da cado pelo canal Panavideo Produções. Dis-
de luxo, acessíveis apenas a al-
Índia e o que chamamos de império da pimenta. ponível em: https://youtu.be/7xUEZt0_osc.
gumas localidades. Com as cru-
zadas, as cidades de Gênova, Flo- Acesso em: 6 jun. 2022.
RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das especiarias.
rença e Veneza beneficiaram-se São Paulo: Contexto, 2006. p. 7.
164

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 164 01/09/2022 12:31


TEXTO DE APOIO
O imenso Império
português
4 Com base no mapa da página 155, responda às questões. 4. a) Atlântico, Índico e Pacífico. Como primeiro país europeu a
a) Para chegar até o Japão, por quais oceanos uma embarcação saída de Portugal navegava? alcançar a Índia pelo mar, Por-
b) Cite os nomes dos portos acessados pela expedição de Pedro Álvares Cabral quando navegava tugal inaugurou uma nova rota
pelo oceano Atlântico e oceano Índico. 4. b) Lisboa, Porto Seguro, Moçambique, Melinde e Calicute. econômica mundial, quebrando
o monopólio da distribuição na
c) No mapa, o que as setas a seguir representam. 4. c) Alternativa I.
Europa dos valorizados produ-
I tos orientais, exercido, desde
II
a Idade Média, principalmente
por Veneza e Gênova, via Me-
diterrâneo. A Índia constituía
à época um dos mais impor-
I. Ponto aproximado de retorno das embarcações de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral
tantes centros comerciais do
a seu país de origem.
planeta, seus numerosos por-
II. O ponto de partida das expedições de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, tos – sempre abarrotados de
respectivamente. navios, produtos e pessoas de
III. O ponto de chegada das embarcações de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. toda parte – funcionando como
IV. A seta roxa indica o ponto de partida da expedição de Vasco da Gama; e a verde, o ponto portas abertas para o Índico, o
de retorno da expedição de Cabral. mais movimentado dos oce-
d) Você tem vontade de conhecer um outro continente? Qual? 4. d) Respostas pessoais. anos. Nos dois litorais da pe-
nínsula indiana comerciavam-
e) Caso a viagem fosse de navio, por quais oceanos você teria de navegar? 4. e) Resposta pessoal.
-se mercadorias do Extremo
Oriente, como cássia, sedas e
5 Escreva em seu caderno quais afirmações a seguir estão corretas. 5. Alternativas A e B.
porcelana da China, sândalo de
a) O pioneirismo português se explica por um conjunto de fatores complementares.
Timor, cravo das Molucas, noz-
b) Portugal foi o primeiro país europeu a possuir uma monarquia centralizada. -moscada da Banda, além de
c) O rei D. João I incentivou o comércio e a navegação em retribuição ao apoio recebido da gengibre, ouro e vários produ-
nobreza portuguesa na Revolução de Avis. tos vindos da Malásia, outro
d) O conhecimento técnico em navegação não foi um fator decisivo nas navegações portuguesas grande centro internacional do
de longa distância. comércio [...].
O comércio e as conquistas,
6 Avalie as afirmações a seguir e escreva em seu caderno a alternativa correta. principalmente as da Ásia, fo-
I. O lucro da viagem de Vasco da Gama às Índias foi altíssimo. ram garantidos pela superiori-
II. Vasco da Gama retornou das Índias com grandes quantidades de pimenta, canela e gengibre, dade náutica e bélica dos navios
produtos muito cobiçados na Europa. lusos. [...]
a) Somente a afirmação I está correta. Da península indiana os por-
b) Somente a afirmação II está correta. tugueses seguiram as rotas do
c) Ambas estão corretas e a II explica a I. 6. Alternativa C. comércio oriental, apoderando-
d) Ambas estão corretas, mas a II não tem relação com a I. -se de pontos cruciais do Índico
e alcançando, em poucos anos,
7 Com a chegada dos portugueses ao Oriente, e a montagem de feitorias na África, importantes centros produtores
na América e na Ásia, os portugueses passaram a controlar boa parte do comércio e consumidores, tanto os situ-
por dois importantes oceanos; são eles: 7. Alternativa C. ados a oeste da Índia – como
Ormuz (à entrada do Golfo Pér-
a) oceano Pacífico e oceano Antártico.
sico), Aden (na península ará-
b) oceano Atlântico e oceano Pacífico.
bica, com controle sobre o mar
c) oceano Atlântico e oceano Índico. Vermelho) e Cota (no Ceilão,
d) oceano Atlântico e oceano Antártico. atual Sri Lanka), sem esquecer
Moçambique, na costa oriental
165 africana – quanto os localizados
a leste da Índia, de Málaca ao
Japão (atingido em 1543), pas-
sando, entre outros, por Suma-
18:46 ENCAMINHAMENTO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 165 08/08/22 09:26
tra, Flores, Timor, Banda, Molu-
cas e Macau. O imenso “Estado
4. c) A intenção é levar o alunado a ler informações contidas no mapa da página 155 e, as- da Índia”, que incluía todas as
sim, dar prosseguimento a alfabetização cartográfica iniciada nos Anos Iniciais do Ensino possessões na Ásia e na África
Fundamental. oriental [...], representou a prin-
cipal fonte a alimentar a fase de
e) A intenção aqui é estimular o protagonismo dos estudantes e fazer com que apliquem o maior esplendor do império por-
que aprenderam sobre mapas. tuguês, ocorrido de 1498-[14]99 a
1580. [...]
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos.
O Brasil no Império português.
Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 20-22.
165

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 165 02/09/2022 10:15


ENCAMINHAMENTO
9. Professor, a ideia é estimu- 8. b) Colombo saiu do porto de Palos, na Espanha, com três caravelas – Santa María, Pinta e Niña – e, depois de vele-
jar por cerca de dois meses, embalado por fortes ventos favoráveis, encontrou um continente novo para os europeus,
lar a reflexão sobre os termos a América.
supracitados. Tanto o termo
8 Com base no mapa da página 157 “Expansão ultramarina espanhola (séculos XV e
“invasão” (do ponto de vista XVI)”, responda às questões.
indígena) quanto o termo “en- a) Explique o plano de Cristóvão Colombo aprovado pelo rei espanhol Fernando e pela rainha
contro entre dois mundos” são espanhola Isabel. 8. a) O plano de Cristóvão Colombo consistia em chegar ao Oriente navegando em
defensáveis. A maioria dos his- b) Como foi a viagem de Cristóvão Colombo realizada em 1492? direção ao Ocidente, pois ele
toriadores, no entanto, prefe- acreditava que a Terra era redonda.
rem o termo achamento. 9 Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: qual dos termos a seguir é o melhor para
11. b) Notar que eles são dife- falar sobre a chegada dos portugueses aonde hoje é o Brasil? Justifiquem.
rentes do monstro descrito na a) Achamento. 9. Resposta pessoal. c) Invasão.
fonte 1 e possuem uma boca e b) Descoberta. d) Encontro entre dois mundos.
uma língua enormes. c) Profes- 10. a) Houve um extraordinário crescimento do volume e do valor do comércio mundial.
sor, veja o que se disse sobre o 10 Muitas foram as consequências das Grandes Navegações, ocorridas entre os séculos
XV e XVI. Descreva as consequências quanto:
assunto: “Os europeus acredi-
a) ao comércio mundial. c) aos países europeus.
tavam que nos oceanos des-
b) aos mares e oceanos. d) à percepção da diversidade existente no mundo.
conhecidos moravam terríveis
10. c) Construíram vastos impérios coloniais a partir da apro-
monstros, prontos a atacar os 11 Leia as fontes 1 e 2 com atenção. priação da riqueza dos povos africanos, asiáticos e ameríndios.
marinheiros, como se observa 10. d) Tomou-se a consciência da enorme diversidade dos po-
na figura [...] e no documento FONTE 1 vos e das culturas, bem como da necessidade de se conviver
com essas diferenças.
[...]”. (AMADO, Janaína; GAR-
O texto a seguir é um relato do português Francisco Correia a respeito do naufrágio
CIA, Ledonias Franco. Navegar
da nau Nossa Senhora da Candelária, na ilha Incógnita, século XVII.
é preciso: grandes descobri-
[...] Tinha somente a aparência de homem na cara, na cabeça não tinha cabelos mas
mentos marítimos europeus.
uma armação, como de carneiro, revirada com duas voltas; as orelhas eram maiores
São Paulo: Atual, 1989. (Histó-
ria em documentos, p. 26). que as de um burro, a cor era parda, o nariz com quatro ventas, um só olho no meio
da testa, a boca rasgada de orelha a orelha e duas ordens de dentes, as mãos como
de bugio, os pés como de boi e o corpo coberto de escamas, mais duras que conchas.
AMADO, Janaína; GARCIA, Ledonias Franco. Navegar é preciso: grandes descobrimentos marítimos europeus.
TEXTO DE APOIO São Paulo: Atual, 1989. (História em documentos, p. 26).
11. c) A fonte 1 descreve um monstro e a fonte 2 representa outros tipos de monstros cercando uma embarcação.
“Tu não tens nada de mim, eu

GRANGER/EASYPIX BRASIL
FONTE 2
não tenho nada teu. Tu, pini-
quim. Eu, ropeu.” O engenhoso a) O texto da fonte 1 é
verso de Luis Fernando Verís- descritivo ou explicativo?
simo sugere um dos aspectos Justifique.
sobre os quais os historiadores b) O que mostra a fonte 2?
da colonização das Américas se
c) Que relação se pode
debruçam frequentemente: a
estabelecer entre a fonte 1
alteridade. A conquista, a partir
e a fonte 2?
do final do século XV, confron-
11. a) O texto é descritivo; nele o autor nar-
tou europeus e índios em um
ra, segundo sua imaginação, como seria um
cenário até então desconhecido monstro marinho.
por aqueles, e suscitou a pro- Monstros marinhos habitantes
dução de inúmeras crônicas e do Atlântico Norte. Detalhe de
descrições sobre o Novo Mundo uma escultura em madeira de
e seus habitantes. Os europeus, Sebastian Münster, 1550.
como já observou o historiador 10. b) O oceano Atlântico tornou-se mais importante do que o mar Mediterrâneo como rota de comércio,
Leandro Karnal, criaram a abs- 166 resultando no declínio das cidades italianas e na ascensão dos países banhados pelo Atlântico.
11. b) Mostra uma embarcação típica do século XV sendo cercada por monstros marinhos.
tração indígena através do re-
gistro de um equívoco geográfi-
co disseminado pelo navegador
Cristóvão Colombo, que acredi- [...] Se os relatos europeus
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 166 forem interrogados genas. [...]. Perceber e valorizar este aspecto é 08/08/22 09:26 AV-

tava ter chegado às Índias. Hoje com rigor, e comparados a outras fontes – como acreditar na possibilidade do outro, e diminuir
sabemos que, além do equívoco as crônicas produzidas pelos próprios nativos, um pouco a onipotência europeia.
geográfico, a expressão “índios” por exemplo –, pode-se descobrir neles algo so- O segundo movimento proposto por Leandro
encerra uma diversidade de po- bre os índios e suas interações com o universo Karnal é a desconfiança para com as fontes, que
vos, marcados por semelhan- colonial. [...] Karnal [...] nos ajuda a pensar nos não devem jamais ser tomadas como verdades
ças e diferenças. Os europeus desafios de analisar aspectos das culturas na- absolutas [...].
da época de Colombo – assim tivas do Novo Mundo através de narrativas eu-
ropeias. [...] a proposta de Karnal compreende VIANA, Larissa Moreira. Os relatos europeus sobre os índios
como os de hoje – também
da América: um estudo de caso. Associação Nacional de
eram muito diferentes em suas dois movimentos: o primeiro é a convicção de Pesquisadores e Professores de História das Américas.
crenças, atitudes e lealdades que a cultura europeia não foi tão forte a pon- [S. l.], [20--] Disponível em: http://antigo.anphlac.org/relatos-
políticas. [...] to de apagar todos os traços das culturas indí- europeus-apresentacao. Acesso em: 10 ago. 2022.
166

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 166 03/09/22 09:47


ENCAMINHAMENTO
• Apresentar o poeta Fernan-
do Pessoa, questionando aos
II. Integrando com Língua Portuguesa estudantes se já leram algu-
ma obra do autor.
Leia o texto com atenção. Integrando com Língua
Portuguesa. e) Segundo o
Mar Português historiador Fábio Pestana, de
Ó mar salgado, quanto do teu sal cada cinco embarcações que
São lágrimas de Portugal! participaram das carreiras das
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Índias, uma nau naufragou.
Quantos filhos em vão rezaram! f) Espera-se que os estudantes
a) O poema é composto por duas estrofes de seis versos cada.
Quantas noivas ficaram por casar b) A partida dos portugueses em direção ao mar, aventurando-se percebam que o autor con-
Para que fosses nosso, ó mar! em direção as Índias Orientais e outras localidades durante o pe- trapôs o medo, o perigo, as
ríodo do expansionismo português. perdas das mães e noivas, à
c) Refere-se ao povo português, ele está relacionado à palavra conquista de novos territórios
Valeu a pena? Tudo vale a pena mar, pois está se referindo à conquista do mar por meio das
Grandes Navegações. e a ousadia (Se a alma não é
Se a alma não é pequena.
pequena) dos navegadores
Quem quer passar além do Bojador Bojador: Cabo situado na costa do Marrocos. À época
das Grandes Navegações, era conhecido como Cabo do portugueses. Sugerimos tam-
Tem que passar além da dor,
Medo, onde se acreditava que o mundo acabava. bém mencionar que outros
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
autores abordaram o expan-
Mas nele é que espelhou o céu. sionismo marítimo português
PESSOA, Fernando. Mar português. In: PESSOA, em seus escritos. Em sua obra-

NITO/SHUTTERSTOCK.COM
Fernando. Mensagem. São Paulo: FTD, 1992.
(Coleção Grandes Leitura, p. 71). -prima, Os Lusíadas, Luís Vaz
a) Quantas estrofes e quantos versos de Camões dedica o “Canto IV
tem o poema? Episódio do Velho do Reste-
b) Qual é o assunto abordado? lo” a mostrar os males, espe-
c) A quem se refere o pronome pos- cialmente para as famílias, da
sessivo “nosso” e por que ele está sede de “fama” de Portugal
relacionado à palavra mar? com as grandes navegações.
d) Quais verbos utilizados no texto
explicam a tristeza das mães e a
apreensão dos filhos?
e) O que poderia explicar a tristeza
das mães?
f) Como você interpreta o trecho:
expectativas das pessoas, ele-
“Valeu a pena? / Tudo vale a pena
mentos que lançam luzes so-
/ Se a alma não é pequena.”
bre o passado e nos ajudam a
d) Choraram e rezaram, respectivamente. construir não a verdade absolu-
e) Os perigos indicados no poema da travessia do ta, mas uma representação que
mar, as lágrimas derramadas pelas mães e as noi- opere no duplo sentido: reponha
vas que ficaram sem casar indicam que se trata de o que foi perdido e encene, no
uma viagem com baixa probabilidade de retorno.
presente, o teatro do passado,
f) Resposta pessoal.
para que compreendamos um
Estátua do poeta e escritor Fernando pouco mais sobre ele e sobre nós
Pessoa. Lisboa (Portugal), 2014. mesmos. [...]
Desse modo, o que possibilita
167 a aproximação entre a produção
ficcional e a narrativa histórica
em um processo de investigação
historiográfica é a verossimi-
09:26 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 167 à narrativa ou à sua plena identificação
02/08/22 com
18:46
lhança das representações lite-
a história; tem como objetivo localizar parte
Alguns historiadores contemporâneos anali- rárias com os acontecimentos
dos indícios que o passado nos lega. A histó-
sam as formas de utilização de fontes didáticas históricos. [...]
ria é uma espécie de ambiente no qual foram
na sala de aula no processo de ensino e apren-
realizadas narrativas de várias ordens. Ao lei- SILVA, Pedro Felipe Ribeiro; ALBUQUERQUE,
dizagem de História. [...] os historiadores Júlio tor do presente, interessado no diálogo com o Mariana Zerbone Alves de. Textos literários
Pimentel Pinto e Maria Inez Turazzi [...] apresen- passado, cabe aproximar-se dessas narrativas e
no ensino de história: as contribuições
de homens e caranguejos em uma leitura
tam alguns aspectos que possibilitam o diálogo colher esses pequenos sinais, enxergar a histó- contra-hegemônica sobre o Recife. In:
da História com os textos literários. [...] ria em sua ação. Mesmo que isso não nos traga MAIA, Paulo Roberto de Azevedo; RAMOS,
O recurso à literatura não se presta, nesses Márcia Elisa Teté (org.). Linguagens e
informações específicas, nos permitirá enxer-
narrativas históricas na sala de aula.
termos, à coleta de informações sobre o pas- gar conjuntos de relações, formas de pensar João Pessoa: Editora do CCTA, 2022. v. 3.
sado, nem à localização de elementos externos o mundo, dados do cotidiano, um conjunto de p. 119-120.
167

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 167 01/09/2022 12:31


ENCAMINHAMENTO
• Apresentar o poeta portu-
guês Luís Vaz de Camões,
questionando aos estudan-
tes se já leram alguma obra
III. Integrando com Ciências
do autor.
Conhecedor da vida no mar, o poeta português Luís Vaz de Camões falou-nos, na sua
Integrando com Ciências. A
seção pode contribuir para o obra Os Lusíadas,
Lusíadas, do escorbuto, uma doença que acometia muitos navegadores.
desenvolvimento da compe- E foi que, de doença crua e feia,
tência específica 3. A mais que eu nunca vi, desampararam
b) De acordo com Camões, as Muitos a vida, e em terra estranha e alheia Crua: cruel.
gengivas do doente inchavam e, Os ossos para sempre sepultaram. Desampararam: perderam.
ao mesmo tempo, apodreciam. Disformemente: grandemente.
Quem haverá que, sem o ver, o creia,
c) O escorbuto causa inchaço Que tão disformemente ali lhe incharam
Juntamente: ao mesmo tempo.
e sangramento nas gengivas, As gengivas na boca, que crescia
dor nas articulações (devido a
A carne e juntamente apodrecia?
hemorragias); os dentes caem, os
pés incham, ocorre uma anemia CAMÕES, Luís Vaz de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 132.

aguda e, em casos extremos, a) Como Luís de Camões descreve o escorbuto?


icterícia, febre, convulsões e b) Explique com suas palavras os sintomas do escorbuto, segundo
hipotensão. Texto para pesquisa: Luís de Camões.
BRUNA, Maria Helena Varella. c) Pesquise. Que outros sin-
JOHN COPLAND/SHUTTERSTOCK.COM
Excesso de vitaminas. Drauzio. tomas, além dos indicados
[S. l.], 2020. Disponível em: por Camões, podem apa-
https://drauziovarella.uol.com.br/ recer em uma pessoa com
escorbuto? c) Resposta pessoal.
pediatria/excesso-de-vitaminas-
entrevista/. Acesso em: 11 ago. d) Atualmente, sabe-se que
essa doença é provocada
2022.
pela falta de vitamina C,
d) Alimentos ricos em ácido carência prolongada de
ascórbico (ou Vitamina C), frutas e verduras. As gen-
principalmente frutas e ver- givas inchavam tanto que
duras como laranja, limão, cobriam os dentes, impe-
morango, tomate, brócolis, dindo a pessoa de comer
couve-flor, goiaba, manga, al- e causando sangramen-
face, alho, rúcula, kiwi, entre tos. Pesquisem os tipos de
alimentos que contém vita-
outros. Site para pesquisa:
mina C e que, portanto,
• FIRMINO, Carol. Para que serve devem ser consumidos
a vitamina C? Saiba benefícios por nós.
reais e principais alimentos.
VivaBem. [S. l.], 27 abr. a) Como uma doença cruel e feia.
2022. Disponível em: https:// b) Resposta pessoal.
www.uol.com.br/vivabem/ d) Resposta pessoal.
faq/vitamina-c-beneficios-
alimentos-ricos-e-mais.htm. Estátua de Camões
Acesso em: 11 ago. 2022. em Lisboa, Portugal.

Imagens em movimento 168


Vídeo da UNIVESP sobre Os
Lusíadas, obra de Luís Vaz de
Camões. AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C07-LA-G24.indd 168 02/08/22 18:46

• LITERATURA Fundamental
33 – Os Lusíadas - Alcir Péco-
ra. 2014. Vídeo (29min35s).
Publicado pelo canal UNI-
VESP. Disponível: https://
youtu.be/GQCf8Dze5KI.
Acesso em: 10 ago. 2022.

168

147a168_HIS-F2-2111-V7-U3-C07-MP-G24.indd 168 03/09/22 09:47


OBJETIVOS
• Descrever a conquista das
CAPÍTULO terras astecas e incas.

8
• Compreender a administra-
CONQUISTA E COLONIZAÇÃO ção, a sociedade e a econo-
mia na América colonial es-
ESPANHOLA DA AMÉRICA panhola.
• Construir os conceitos de
mita, encomienda e plan-
tation.
Observe a imagem com atenção. • Compreender o funciona-
mento da administração es-

BIBLIOTECA NACIONAL, PARIS. FOTO: ANN RONAN PICTURES/GETTY IMAGES


panhola na América

Esses objetivos contri-


buem para a reflexão sobre
o processo de conquista da
América espanhola, abor-
dando as alianças entre es-
panhóis e indígenas e a resis-
tência dos povos originários
à invasão espanhola, e para
o conhecimento das socie-
dades coloniais da América
espanhola. Assim, pretende-
mos favorecer o desenvolvi-
mento das competências e
habilidades propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2, 3,
6, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
Guerreiros astecas defendendo o templo de Tenochtitlán contra conquistadores, 1519-1521.
2, 3 e 4.
• Habilidades: EF07HI08,
Os personagens representados nessa imagem são guerreiros astecas. EF07HI09, EF07HI10.

1. Onde eles parecem estar?

2. O que eles parecem estar fazendo?

3. Por que será que, no canto direito, há um asteca caído na escada, de cabeça para baixo?

4. Na imagem, eles parecem estar festejando ou resistindo a um ataque?


Respostas pessoais.
169

ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 169 da conclusão, ou seja, a ideia de que a con-
02/08/22 19:25

A imagem foi feita por artistas indígenas e quista de Tenochtitlán significou a conquista
retrata a resistência dos mexicas ao ataque es- do Império como um todo. Cortez lançou mão
panhol contra o Templo de Tenochtitlán. Notar também do mito da sujeição voluntária dos
que há um guerreiro nativo ostentando um es- nativos; escreveu uma carta ao rei da Espanha
tandarte, no qual se pode ver a águia, animal contando que os indígenas se renderam es-
importante no mito de fundação de Tenoch- pontaneamente, pois preferiam um monarca
titlán. A imagem sugere o que de fato acon- poderoso e benevolente a um líder indígena
teceu: os mexicas resistiram aos espanhóis. A tirano e cruel. É interessante notar, ainda, que
imagem também ajuda a desconstruir o mito os espanhóis não aparecem na cena.

169

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 169 03/09/22 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, movidos pela
crença de que tinham direito
às terras americanas e con-
tando com a ajuda de milha-
A conquista das terras astecas
res de aliados indígenas, Cor- Os espanhóis iniciaram a conquista das terras americanas pelas ilhas do Caribe, às
tez e suas forças venceram os
quais deram os nomes de São Salvador e Hispaniola. Observando os enfeites usados pelos
homens de Montezuma (go-
indígenas que ali viviam, os espanhóis concluíram que havia ouro no local e obrigaram os
vernante asteca) e conquista-
indígenas a extraí-lo. Esgotado o ouro das ilhas, eles partiram para a conquista do continente.
ram Tenochtitlán (1521). Não
se sabe ao certo o número Em 1519, o oficial espanhol Hernán Cortez desembarcou com 508 soldados, além
de indígenas que auxiliaram de cavalos e canhões, nas terras onde hoje está o México. Os indígenas provavelmente
Cortez a tomar a capital aste- estranharam aqueles homens brancos, com roupas e armas de ferro, montados em seres
ca. Historiadores especialistas estranhos (os astecas desconheciam o cavalo). Os espanhóis, por sua vez, também devem
no tema acreditam que, na ter estranhado os modos de viver, de se vestir e a língua dos astecas.
primeira investida espanhola, Império Asteca: Passado o primeiro momento, os espanhóis descobriram que
esse número tenha sido de 6 nunca foi uma vários povos do Império Asteca estavam revoltados com a domi-
unidade política;
mil homens e que, na investi- era, na verdade,
nação asteca. Entre esses povos estavam os habitantes da cidade de
da final contra a capital aste- um conjunto de povos Tlaxcala. Os espanhóis aliaram-se então a esses povos e marcharam
ca, tenha chegado a 200 mil com diferentes graus sobre Tenochtitlán, a capital do Império Asteca. Ajudados pelos
aliados indígenas, que nada de subordinação
aos astecas. Alguns tlaxcaltecas e por milhares de outros aliados indígenas, Cortez e seus
receberam em troca. povos pagavam soldados conquistaram Tenochtitlán em 1521, matando milhares de
tributos a eles, mas astecas, entre os quais seu imperador Montezuma.
tinham uma relativa
autonomia. Outros Após a conquista de Tenochtitlán, Cortez instalou-se no palácio
TEXTO DE APOIO eram governados pelos de Montezuma, e seus auxiliares ocuparam outros palácios mexicas.
astecas, e outros,
Os indígenas e a conquista ainda, só pagavam

GRAVURA COLORIDA, 1892/ARCHIVES CHARMET/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


tributos à força,
[...] descobrimos aos poucos quando eram vítimas
[...] que os astecas (ou mexicas) de expedições punitivas
não eram os únicos indígenas promovidas pelos
do México. [...] À medida que os astecas.
estudos a respeito da história
pre-hispânica avançavam, pu-
Batalha de Tepexic.
demos perceber que havia deze-
Esta imagem é uma
nas de outros grupos indígenas cópia de um dos
que não eram “astecas”, mas 80 desenhos que
que, ao contrário, eram seus ini- constam do Lienzo de
migos e lhes faziam guerra para Tlaxcala, obra feita
se livrar de seu domínio. por artistas indígenas
[...] Desse modo, não se tra- da cidade de Tlaxcala
tava, necessariamente, de uma no século XVI. O
homem representado
disputa entre centenas de es-
a cavalo, quase no
panhóis contra “os” indígenas. centro da imagem,
Não. Como sabemos, milhares é Hernán Cortez. Ao
de índios se juntaram aos “es- lado dele estão os
trangeiros” para derrotar outros tlaxcaltecas.
milhares de nativos que os do-
minavam até então. [...] 170
Feitas essas observações sobre
a pluralidade dos povos indíge-
nas, e sobre como ela nos ajuda
a compreender o sucesso dos talAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd
cenário e de tirar proveito 170 dele. Desde que conheciam os cavalos e as armas de fogo; ha- 02/08/22 19:25 AV-

espanhóis diante da “multidão chegou à costa para fazer os primeiros reconhe- via muitas tensões entre os mexicas e os grupos
de nativos” do Vale do México, cimentos, em 1519, Cortés soube aproveitar as subjugados, com quem Cortés poderia se aliar.
é preciso salientar o outro lado circunstâncias que lhe apareceram: recrutou Ante esse “dossiê”, Hernán Cortés foi capaz de
da moeda. Se havia muitos po- tradutores para entender quais eram as men- perceber que, se ele explorasse as “divisões” exis-
vos na Mesoamérica que viviam sagens enviadas por Moctezuma e por que o tentes no “mundo indígena”, poderia derrotar os
sob o domínio dos mexicas no tlatoani lhe mandava presentes e agrados. nativos, sobretudo os astecas, e dominá-los.
início do século XVI – e que, por Conforme obtinha informações, Cortés am-
REIS, Anderson Roberti dos. A rápida conquista dos domínios
isso, estavam quase sempre em pliava o conhecimento do cenário que enfrenta- astecas e a longa conquista da área maia. Associação Nacional
situações de tensão –, cumpre va: havia uma capital, onde habitava Moctezu- de Pesquisadores e Professores de História das Américas.
lembrar a capacidade de Hernán ma, abundante em riquezas [...] os astecas eram São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.anphlac.org/
Cortés para captar rapidamente poderosos, dominavam outros povos, mas não conteudo/view?ID_CONTEUDO=581. Acesso em: 10 ago. 2022.
170

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 170 01/09/2022 08:57


Imagens em movimento
Documentário sobre a con-
a) A autora quis dizer que o colonizador buscou transformar o espaço americano em um espaço semelhante ao
europeu e, por isso, construiu casas, prédios públicos e igrejas iguais aos que existiam na Espanha. quista do México, liderada por
Hernán Cortez.
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
• HERNÁN Cortés − crônica de
Leia o que uma historiadora diz sobre a conquista espanhola. uma conquista. 2022. Vídeo
(46min33s). Publicado pelo
O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que canal Pra Sempre Documen-
havia imaginado. Destruía pirâmides para construir igrejas, derrubava habitações tários. Disponível em: https://
para obter o desenho da praça ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras youtu.be/cDimH_magXw.
nos canais para que os cavalos pudessem circular melhor na cidade. Reconstituía-se Acesso em: 10 ago. 2022.
tudo o que era possível para que o núcleo urbano lembrasse a Europa.
THEODORO, Janice. Descobrimentos e Renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. (Repensando a história, p. 63).
TEXTO DE APOIO
a) Interprete o que a autora quis dizer com: “O colonizador, como se fosse um escultor,
[...] a ênfase dos renascentis-
talhou a América na forma em que havia imaginado”. tas na observação direta da na-
b) Com base nesse texto e na imagem, é possível dizer que os espanhóis tentaram tureza, como característica me-
impor sua cultura e religião aos povos da América? Justifique. todológica fundadora do novo
conhecimento, fomentou um
movimento de crítica à autorida-

BELIKOVA OKSANA/SHUTTERSTOCK.COM
de dos clássicos, tidos, até então,
como única fonte para a busca da
compreensão do mundo natu-
ral. Neste quadro, a importância
da descoberta da América, dos
escritos sobre sua flora, fauna e
humanidade e a descrição dos
viajantes, foram atividades que
impulsionaram uma mudança
radical na visão sobre a nature-
za e metodologia do que seria o
conhecimento deste período. [...]
Os textos e documentos ela-
borados na Nova Espanha do sé-
culo XVI pautavam-se por esse
cenário epistemológico da Euro-
pa pré-Revolução Científica. Em
muitos momentos as práticas
culturais e de conhecimentos
sobre o mundo natural dos indí-
genas recém-conquistado foram
descritas em analogia com o co-
nhecimento europeu. Esta ana-
logia se, muitas vezes concedeu
aos conhecimentos indígenas a
Em primeiro plano, vemos as ruínas do Templo Mayor, principal edifício religioso asteca. As pedras condição de inferior e os atrelou
de demolição desse templo foram usadas para erguer a Catedral Metropolitana da Cidade do México ao Demônio, em outra percep-
(vista ao fundo). A catedral, assim como toda a cidade, foi construída sobre as ruínas da cidade asteca
ção, propiciou aos espanhóis sua
de Tenochtitlán. Cidade do México (México). Fotografia de 2018.
adequação enquanto elemento
b) Sim. Um exemplo disso foi que os espanhóis construíram a Catedral Metropolitana da Cidade do México cultural marcado pela alteridade.
com as pedras que sobraram da destruição do Templo Mayor. Além disso, destruíram pirâmides para
construírem igrejas e reconstituíram o núcleo urbano de modo a lembrar os da Europa. 171 A categorização da cultura e dos
saberes indígenas favoreceu seu
entendimento e posterior narra-
ção por parte dos espanhóis, que
Dica de leitura
EDITORA CONTEXTO

19:25 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 171 02/08/22 19:25 se valeram de sua própria cultura


e pensamento durante sua busca
Neste livro, a estudiosa Janice Theodoro
por informações sobre as comu-
argumenta que o modo como os europeus nidades nahuas, e em sua organi-
“esculpiram” a América é uma obra renas- zação nos relatos e documentos
centista. produzidos neste momento.
• THEODORO, Janice. Descobrimentos e Re- ALVIM, Márcia Helena. A compreensão
do Novo mundo, sua inserção na cultura
nascimento. São Paulo: Contexto, 1991. renascentista e o discurso colonizador sobre
a natureza americana – Nova Espanha,
século XVI. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 27., 2013, Natal. Anais [...].
Natal: UFRN, 2013. p. 5,7.
171

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 171 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que os wankas, um
povo guerreiro do sul do
atual Peru, e vários outros
povos indígenas ajudaram na
A conquista das terras incas
conquista espanhola de Cuz-
A busca por riqueza e poder animou outro aventureiro espa-
co, a capital inca, em 1533.
nhol, Francisco Pizarro, a organizar uma expedição com o objetivo
• Informar que os auxiliares de de conquista. Seu alvo era o Império Inca, situado na Cordilheira
Pizarro projetaram Lima se-
dos Andes.
guindo o modelo das cidades
Acompanhado de apenas 180 homens, parte dos quais
espanholas. Na praça central,
a cavalo, Pizarro partiu do Panamá e chegou à cidade inca de
ergueram a igreja, os prédios
públicos e, a partir dela, cons- Tumbez. Depois, em 1532, conquistou a cidade de Cajamarca.
truíram ruas retas e casas que
Inca: título equivalente Então, instalou-se nessa cidade e convidou o inca Atahualpa para
ao de imperador.
lembravam as da Espanha. um encontro reservado.
Quanto mais próximo da pra-
ça residia uma família, maior
era o seu prestígio. Ou seja, a
localização da residência em
relação à praça simbolizava o MOZART COUTO
status social de cada família.
Próxima à costa do Oceano
Pacífico e distante de Cuzco,
Lima contava inclusive com
uma instituição de ensino su-
perior, a Universidade de São
Marcos, fundada em 1551 e
que existe até hoje.

Dica de áudio
Podcast sobre o povo inca e
a conquista espanhola coman-
dada por Pizarro. Nessa ilustração atual, baseada em relatos de cronistas espanhóis, Atahualpa vai ao encontro de Pizarro
numa liteira carregada por seus guerreiros.
• ESTADO DA ARTE. Os incas.
Entrevistadores: Eduardo
Wolf e Marcelo Consentino. Assim que Atahualpa chegou, Pizarro mandou prendê-lo e ordenou a seus soldados
Entrevistados: Daniela La que atirassem nos incas de surpresa. Em seguida, os espanhóis partiram para a conquista
Chioma, Eduardo Natalino de Cuzco, a mais importante cidade do Império Inca. Para isso, contaram com a ajuda
e Márcia Arcuri. São Paulo: de vários povos indígenas, inimigos dos incas, a exemplo dos wankas. E, além disso, os
Estadão, 22 maio 2019. Pod- espanhóis se aproveitaram, também, da divisão entre os próprios incas, motivada pelas
cast. Disponível em: https:// disputas pelo trono entre os irmãos Atahualpa e Huáscar. Depois de tomar Cuzco, em
estadodaarte.estadao.com. 1533, Pizarro fundou a Ciudad de los Reyes,
Reyes, atual Lima, e fez dela a capital do domínio
br/podcast-os-incas/. Acesso espanhol na América andina.
em: 10 ago. 2022.
172
TEXTO DE APOIO
LaAV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd
Hoz, bem como por seu 172 primo e pajem, Pedro cavalo de combate, os invasores dispunham de 02/08/22 19:25 AV-
O domínio do Império Inca Pizarro. “Se esta terra não estivesse destroçada incontestável vantagem nesse domínio. Mas
Se o Império Inca não estivesse pelas guerras Ataw Wallpa e de Waskarr, não te- qualquer que fosse o poder de fogo da artilharia
atravessando naquele momento ríamos podido pôr o pé aqui para conquistá-la”, ou a capacidade de choque da cavalaria, essa
mais uma das crises cíclicas que escreveu o último na Relação da descoberta e da vantagem de ordem técnica não seria suficien-
se desencadeavam com a morte conquista dos reinos do Peru que nos deixou. te para compensar uma inferioridade numérica
de cada soberano, os espanhóis Isso não impede que a extraordinária facili- tão considerável. Ela não poderia, de maneira
não teriam certamente se asse- dade com que eles chegaram a dominar exten- alguma, decidir a vitória de menos de 200 ho-
nhorado dele com tanta facili- sões tão vastas e populações tão numerosas mens sobre exércitos constituídos de dezenas
dade. Essa constatação foi feita fosse na época considerada miraculosa. A fim de milhares de soldados aguerridos.
pelo próprio secretário de Fran- de explicá-la, alega-se hoje em dia a dispari- FAVRE, Henri. A civilização inca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
cisco Pizarro, Pedro Sancho da dade de armamentos. Graças ao arcabuz e ao Ed., 2004. (As civilizações pré-colombinanas, p. 90-91).
172

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 172 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o seguinte
trecho do livro História da
A resistência inca América Latina.
Antes de mais nada, gosta-
Os incas não se deram por vencidos e, liderados pelo imperador Manco Inca, abriram
ríamos de ressaltar que as re-
uma luta de vida ou morte contra os espanhóis, no sul do Peru. Veja o que um histo- ações dos nativos da América
riador diz sobre o assunto. frente à invasão espanhola
[...] Manco revoltou-se e, seguido por milhares de súditos, refugiou-se [...] próximo foram consideravelmente va-
riadas, e não apenas de resis-
da cidade sagrada de Machu Picchu, local inacessível e desconhecido dos espanhóis. [...]
tência: “desde o oferecimento
Manco fundou na região um novo império com todos os valores e tradições do de alianças até a colaboração
antigo. Restabeleceu a antiga religião, o culto ao Sol e ao Inca, numa atitude consciente mais ou menos forçada, desde
de rechaço ao cristianismo. a resistência passiva até uma
[...] hostilidade constante” [...].
MARK GREEN/ALAMY/FOTOARENA
A resistência indígena também se SCHMIDT, Benito Bisso. A Espanha
e a América no final do século XV:
manifestou no cotidiano através de o descobrimento e a conquista. In:
formas [...] de continuidade cultural. WASSERMAN, Claudia (coord.). História
da América Latina: cinco séculos.
A mais conhecida delas af lorou no 2. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/
âmbito religioso, em que vários nativos UFRGS, 2000. p. 35.

fingiam adorar o Deus cristão, mas • Aprofundar o assunto com


permaneciam cultuando suas próprias a leitura do texto: FRANÇA,
divindades. Martha San Juan. O refúgio
[...] dos incas. Revista Galileu. São
Estas diversas formas de resistên- Paulo, c2015. Disponível em:
cia – armadas ou culturais, individuais http://revistagalileu.globo.
ou coletivas – reafirmam a ideia de que com/EditoraGlobo/com
os indígenas não apenas sofreram a ponentes/article/edg_article
conquista, mas também foram agentes _print/0,3916,481525-1719-
desse processo.
2,00.html. Acesso em: 10 ago.
2022.
SCHMIDT, Benito Bisso. A Espanha e a América no
final do século XV: o descobrimento e a conquista. In:
WASSERMAN, Claudia (coord.). História da América
Latina: cinco séculos (temas e problemas). Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2000. p. 36-37.

Túpac Amaru, o último líder da e escravizações dos mesmos.


resistência inca, foi preso e Segundo o autor, a resistência
decapitado pelos espanhóis em sempre existiu, não só na ques-
1572. No Peru, alguns estados tão física, mas também cultural-
independentes só foram dominados mente.
depois de sua morte. Pintura de 2013. É importante, sem dúvida,
desmistificar a ideia derrotista
da conquista em que os
indígenas figuravam como re-
signados, aceitando sem con-
testar a violência a que eram
173 submetidos. Hector Bruit reafir-
ma esta proposição defendendo
a assertiva de que não houve
incapacidade racional ou infe-
19:25 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 173 quilidade, pois os incas resistiram ao 02/08/22
domínio 19:25
rioridade cultural. O que houve,
espanhol por mais de 39 anos até que o último
Um fato ocorrido entre 1531 e 1533 ilustra a imperador Inca Túpac Amaru morre em 1572, segundo ele, foi simplesmente
temática da resistência indígena [...]. Francis- sendo esta resistência militar e cultural. a renúncia voluntária de viver a
co Pizarro comandando tropas espanholas vai história do outro, mas simulan-
O historiador Matthew Restall argumenta,
do vivê-la o que se transformou
atacar o imperador Atahualpa – que estava pas- nesse sentido, que é necessário a desconstru-
em arquétipo de resistência à
sando por um período de disputa interna pelo ção do mito de uma conquista rápida e relativa-
dominação total. [...]
poder com seu irmão Huascar − em Cajamarca mente pacífica da ocupação espanhola e que os
sendo condenado à morte em 1533. Apesar de textos espanhóis que apresentam uma atitude DEVITTE, Natalia; MACHADO, Neli Galarce;
ROSA, Lauren Waiss da. Mecanismos e o
ter conseguido controlar o comando central do de não resistência e de sujeição voluntária dos processo de conquista e colonização da
Império Inca prendendo e executando o impe- nativos precisam ser confrontados com os atos América indígena. Revista Ameríndia,
rador, os espanhóis estavam longe de ter tran- de rebeldia indígena, punidos com execuções Fortaleza, v. 12, p. 6-15, dez. 2012. p. 12-13.
173

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 173 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: SOERENSEN,
Bruno. A erradicação da varío-
la no mundo. Memória Insti-
Um novo olhar sobre as razões
tuto Butantan, São Paulo, n. da conquista espanhola
42/43, p. 11-20, 1978-1979.
• Temas Contemporâneos Cortez chegou ao México com apenas 508 homens e Pizarro entrou no Peru com 180
Transversais: o trabalho com homens. Então, como que centenas de espanhóis conseguiram vencer milhões de nativos?
os educandos a respeito do Essa é uma pergunta que sempre provocou a curiosidade dos historiadores.
texto de apoio desta página Segundo o historiador Matthew Restall, a conquista espanhola da América deveu-se
pode contribuir para o tema a quatro fatores principais.
saúde, da macroárea saúde; O primeiro e mais determinante foram as doenças trazidas pelos europeus e contra
além do tema educação em as quais os corpos indígenas não tinham resistência; essas doenças, como sarampo, varíola
direitos humanos, da macro- e gripe, mataram mais do que as armas de fogo. O sucessor de Montezuma foi uma dessas
área cidadania e civismo. vítimas: reinou por apenas 80 dias e morreu de varíola.
O segundo fator foi que os espa-

GRANGER/FOTOARENA
nhóis souberam aproveitar a desunião e
Dica de leitura a rivalidade entre os ameríndios. Tanto
Neste artigo, o autor discute os astecas quanto os incas tinham
a evolução histórica das causas muitos inimigos, que formaram verda-
e das consequências do uso de
deiros exércitos indígenas para ajudar os
agentes biológicos como arma
espanhóis a tomar as terras astecas e
em cenários civis e militares.
incas. Para conquistar Tenochtitlán, por
• TUTUNJI, Valdi Lopes. Guer-
ra biológica: uma revisão. exemplo, Cortez contou com a ajuda do
Revista Universitas Ciências povo tlaxcalteca.
da Saúde, Brasília, DF, v. 1, n.
1, p. 105-139, 2017.

TEXTO DE APOIO # DICA!


Vídeo do Instituto Butantan sobre a
Mortandade e cristandade
epidemia de varíola através dos séculos.
Povos e povos indígenas de- A VARÍOLA – As grandes epidemias.
sapareceram da face da Terra 2016. Vídeo (5min8s). Publicado pelo
como consequência do que hoje canal Butantan. Disponível em:
se chama, num eufemismo en- https://www.youtube.com/
watch?v=vSi823WmbzY.
vergonhado, “o encontro” de Acesso em: 9 jun. 2022.
sociedades do Antigo e do Novo
Mundo. Esse morticínio nunca
visto foi fruto de um processo
complexo cujos agentes foram Astecas com varíola, doença transmitida,
homens e microorganismos [...] na época, pelos espanhóis aos povos da
As epidemias são normalmen- América. História Geral das coisas da
te tidas como o principal agen- Nova Espanha, de Frei Bernardino
te da população indígena [...]. A de Sahagún, século XVI.
barreira epidemiológica era, com
efeito, favorável aos europeus na 174
América, e era-lhes desfavorável
na África. Na África, os europeus
morriam como moscas; aqui
nários e pelos órgãos oficiais,
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 174 pois a alta densi- conquista e de apresamento em que os índios 02/08/22 19:25 AV-
eram os índios que morriam:
dade dos aldeamentos favoreceu as epidemias, de aldeia eram alistados contra os índios ditos
agentes patogênicos da varíola,
do sarampo, da coqueluche, da sem no entanto garantir o aprovisionamento. O hostis, as grandes fomes que tradicionalmente
catapora, do tifo, da difteria, da sarampo e a varíola que, entre 1562 e 1564, as- acompanhavam as guerras, a desestruturação
gripe, da peste bubônica, possi- solaram as aldeias da Bahia, fizeram os índios social, a fuga para novas regiões das quais se
velmente a malária, provocaram morrerem tanto das doenças quanto de fome, desconheciam os recursos ou se tinha de en-
no Novo Mundo o que Dobyns a tal ponto que os sobreviventes preferiam ven- frentar os habitantes [...], a exploração do traba-
chamou de “um dos maiores der-se como escravos a morrer à míngua [...]. lho indígena, tudo isso pesou decisivamente na
cataclismos biológicos do mun- Mas não foram só os microorganismos os dizimação dos índios. [...]
do”. [...] Particularmente nefasta responsáveis pela catástrofe demográfica da CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil:
foi a política de concentração da América. O exacerbamento da guerra indígena história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma,
população praticada por missio- provocado pela sede de escravos, as guerras de 2012. (Coleção Agenda Brasileira, p. 14-15).
174

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 174 03/09/22 09:49


+ATIVIDADES
1. Os aventureiros espanhóis
Cortez e Pizarro adotaram
O terceiro fator foram as armas dos conquistadores, que tinham poder destrutivo uma estratégia semelhante
superior às armas dos indígenas. Podemos destacar: a armadura de ferro e a espada de aço para vencer os astecas e incas.
(resistência), o cavalo (mobilidade) e as armas de fogo, e que, no caso do canhão, impres- Qual estratégia foi essa?
sionavam também pelo barulho que faziam. 2. Com relação à conquista,
O quarto fator foi que os espanhóis sabiam muito mais sobre os astecas e os incas do que responda às questões a seguir.
esses povos sobre os europeus. Os espanhóis procuraram se informar a respeito das discórdias a) Explique como tão poucos
e disputas entre os indígenas e estimularam a guerra entre eles, aliando-se a um dos grupos. espanhóis venceram tantos
Vencida a guerra, apossavam-se de tudo e submetiam, inclusive, seus aliados. ameríndios.
Soma-se a isso o fato de os espanhóis usarem intérpretes e guias nativos ou náufragos b) Qual das razões apresenta-
para conhecer os pontos fracos de seus adversários. das na questão anterior você
Calcula-se que, na data da chegada de Colombo (1492), viviam na América cerca considera mais importante?
de 57 milhões de ameríndios. Em 1560, restavam apenas cerca de 10 milhões! Essa
Por quê?
diminuição brusca da população ameríndia é considerada, pelo pesquisador Tzvetan Respostas:
Todorov, uma das maiores tragédias da 1. Os espanhóis se aliaram
STR/AFP

história humana. aos numerosos inimigos dos


No entanto, segundo o historiador astecas e dos incas. Além dis-
Matthew Restall, a conquista espanhola so, Cortez conseguiu o auxílio
da América não foi rápida nem total.. de intérpretes e guias indíge-
nas, e Pizarro aproveitou-se
A tomada de Tenochtitlán, em 1521, e de
da rivalidade entre os próprios
Cuzco, em 1533, significou a conquista das
incas. Professor, entendemos
capitais dos impérios asteca e inca, e não do aqui por estratégia a ideia do
território desses impérios como um todo. A historiador Michel de Certeau:
expansão dos conquistadores espanhóis no
[...] cálculo (ou a manipulação)
território americano foi gradual e encontrou Arqueóloga limpa o crânio do esqueleto de uma das relações de forças que se tor-
sérias resistências por parte dos indígenas. mulher, encontrado no túmulo de uma sacerdotisa na possível a partir do momen-
Os maias,, por exemplo, organizaram várias ameríndia. Lima (Peru), fotografia de 2013. to em que o sujeito de querer e
Por meio da pesquisa de fósseis, arqueólogos e poder (uma empresa, um exérci-
revoltas contra os espanhóis nas décadas paleontólogos contribuem para o conhecimento
to, uma cidade, uma instituição
que se seguiram à conquista da América. da história dos povos da América.
científica) pode ser isolado. [...]
CERTEAU, Michel de.
ESCUTAR E FALAR A invenção do cotidiano. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 1998. p. 99.

Algumas doenças antigas, Autoavaliação. Responda em seu caderno. Ou seja, estratégia supõe
como o sarampo, ressurgiram e um lugar de poder.
a Expressei minhas ideias com objetividade? 2. a) A superioridade bélica, as
estão fazendo muitas vítimas ao
b Usei tom de voz e gestos adequados? doenças, a revolta dos povos do-
redor do mundo. Como gover-
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? minados pelos astecas e incas, o
nos e pessoas podem contribuir conhecimento que os espanhóis
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
para erradicar uma epidemia tinham dos seus adversários.
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
como a do sarampo? Pesquisem
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? 2. b) Resposta pessoal. Profes-
e preparem-se para falar. sor, comentar com o alunado
Respostas pessoais.
que as doenças mataram mui-
to mais do que as armas de
175 fogo. A antropóloga Manue-
la Carneiro da Cunha ensina
que, pelo fato de as doenças
19:25 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 175 trazidas
02/08/22 19:25 pelos europeus se manifestarem

Escutar e falar. Aos governos cabe a destina- como epidemias, muitos morriam de fome
ção de verbas para a saúde e a capacitação e sede, pois, como a comunidade inteira
de profissionais dessa área, a fim de evitar contraía a doença, não havia quem traba-
o colapso dos sistemas de saúde. Às pesso- lhasse para conseguir alimentação e água
as cabe o trabalho de conscientizar sobre a para o grupo.
importância da vacinação e evitar a propa- Professor, a atividade contribui para a
gação de notícias falsas sobre a eficácia das compreensão dos mecanismos de alianças,
vacinas. confrontos e resistências durante o proces-
so de conquista espanhola da América, mo-
bilizando, com isso, a habilidade EF07HI09.
175

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 175 03/09/22 16:36


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que a coloniza-
ção da América espanhola
foi impulsionada por nobres
sem fortuna, comerciantes,
Economia colonial
aventureiros e pelos reis da
Durante o processo de conquista, os espanhóis iniciaram também a colonização da
Espanha, ou seja, por interes-
América, isto é, a ocupação, a exploração econômica e a administração do território
ses públicos e privados, e se
insere no contexto do mer- americano.
cantilismo. A crença no me-
talismo, por exemplo, ajuda a
explicar por que os espanhóis
A mineração
daquele tempo manifesta- Com a descoberta das ricas minas de prata de Potosí (na Mita: antigo hábito
vam tanta sede de ouro. atual Bolívia), em 1545, e em Zacatecas (no México atual), no ano inca pelo qual os
habitantes das aldeias
• Comentar que a mineração, seguinte, a mineração se transformou na atividade mais importante
eram obrigados a realizar
sobretudo a da prata e a do na América espanhola. Considerando as minas como suas proprieda- serviços gratuitos para
ouro, foi a principal ativida- des, o rei da Espanha mandou distribuir lotes auríferos àqueles que o Império Inca durante
de econômica em boa parte tivessem dinheiro para iniciar sua exploração. Já o penoso trabalho de alguns dias por ano. Esse
hábito foi adaptado pelos
da América espanhola. Con- arrancar a prata do fundo das minas deveria ser feito pelos indígenas. espanhóis.
correu para isso a forte capa- As duas principais formas de trabalho forçado na América
cidade da mineração de pro- espanhola foram a mita e a encomienda.
vocar efeitos multiplicado-
A mita era a obrigação que os membros das aldeias tinham de trabalhar para os
res sobre os outros setores da
espanhóis durante quatro meses por ano. Esses trabalhadores (os mitayosmitayos)) recebiam por
economia, como a agricultu-
seu trabalho cerca de um terço do salário de um trabalhador livre daquela época.
ra, a pecuária, a manufatura
e o comércio. A encomienda era o direito dado ao colono espanhol (encomendero
(encomendero)) de explorar o
trabalho indígena nas minas, plantações e fazendas por certo período. Em troca do direito
• Estimular a reflexão e o de-
sobre o trabalho indígena, o colono devia pagar tributos à metrópole espanhola e dar aos indí-
bate sobre o mundo do tra-
balho na América de coloni- genas assistência material e

JOHN JUDKYN MEMORIAL, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


zação espanhola. religiosa, ou seja, alimentá-
• Ressaltar que parte do sa- -los e ensinar-lhes a religião
lário dos mitayos era paga católica. Mas os colonos
em moeda (ou metal), e par- quase nunca cumpriam sua
te em alimentos, em tecidos parte: milhares de indígenas
e bebidas. Muitos deles se morreram por maus-tratos
viciavam no consumo de ál- ou de fome e sem nada
cool e acabavam morrendo. saber sobre o cristianismo.
• Aprofundar o conceito de
encomienda através do tex-
to do historiador Ciro Flama-
rion Cardoso. A crueldade de Petrus de Calyce,
Esta [...] consistia em que, como de Théodore de Bry, século XVI.
prêmio do esforço de conquis- Indígenas escravizados
ta, a alguns dos conquistadores trabalham como carregadores
para os espanhóis.
fossem confiadas (entregues
“em encomenda”) comunidades
indígenas que ficariam sob sua 176
responsabilidade em matéria de
catequese e defesa; em troca, o
encomendero poderia exigir-lhes • Destacar que, originária
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 176 da Espanha, a en- Dica de leitura 02/08/22 19:25 HIS
tributos em gêneros e prestações
comienda foi nervo e vida na América de
de trabalho. Os encomenderos for- Fruto da sua tese de doutorado em Histó-
mavam um reduzido grupo de colonização espanhola.
ria Social, este livro de Prodanov reconstrói
privilegiados: das 23 000 famílias elementos da sociedade e cultura potosina
espanholas que viviam nos do-
entre os séculos XVI e XVII.
mínios hispânicos do Novo Mun-
do em 1570, 4 000 apenas dispu- • PRODANOV, Cléber Cristiano. Cultura e
nham de encomiendas
encomiendas.. [...] sociedade mineradora: Potosi 1569-1670.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Novo Hamburgo: Annablume: Feevale,
O trabalho na América Latina colonial. 2002.
3. ed. São Paulo: Ática, 1995.
(Série Princípios, p. 40).
176

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 176 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
A leitura e a interpretação
do texto de apoio desta pá-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
gina com os estudantes con-
tribuem para que compreen-
dam melhor os impactos da
Potosí: prata, suor e sangue conquista sobre os ameríndios
Um dos exemplos mais cruéis de trabalho forçado em todos os tempos foi o uso dos e desenvolvam, assim, a habi-
indígenas nas minas de prata de Potosí, na Bolívia atual. Além de prejudicial à saúde, o lidade EF07HI09.
trabalho nas minas de Potosí era muito difícil. A galeria que descia para o interior da mina
era estreita. Suas escadas eram feitas de madeira e couro. Os trabalhadores desciam
de três em três. O primeiro levava uma pequena candeia, que pouco iluminava. Cada
trabalhador devia extrair por dia duas arrobas de prata, isto é, cerca de 30 kg, e subir
com o mineral numa bolsa amarrada ao pescoço.
AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

O mercado consumidor de Po-


Indígenas extraem prata tosí possuía um altíssimo poder
na mina de Potosí de compra. As rendas anuais
(na atual Bolívia), dos donos de minas e engenhos
gravura de Théodore e mesmo dos principais funcio-
de Bry, 1596. nários reais superavam, sem di-
ficuldades, as rendas da maioria
dos comerciantes ultramarinos.
A grande massa da população
de Potosí era composta por indí-
genas e suas famílias, que traba-
Devido ao baixo salário e às más condições de trabalho, muitos trabalhadores lhavam diretamente na explo-
ração das minas. Os espanhóis
morriam de fome ou doenças, como a pneumonia; outros, de acidentes, como soter- eram em número reduzido. Ini-
ramentos e quedas de grandes alturas; muitos, ainda, tornavam-se dependentes do cialmente foram aproveitados
consumo de bebidas alcoólicas. Frei Domingo de Santo Tomás, um padre que viveu na os habitantes das regiões pró-
época, escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é suor e sangue dos indígenas”. ximas ao cerro de Potosí como
mão de obra; posteriormente fo-
Dados oficiais sobre a produção de prata em Potosí, em pesos ram trazidos trabalhadores dos
vales mais distantes. Calcula-se
De 1545 até 1556 127 500 000 que as minas de Potosí consu-
De 1556 até 1789 819 258 500 miram, em seu período mais
produtivo (1545-1803), cerca de
De 1789 até 1803 46 000
oito milhões de vidas, chegando
Fonte: PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América. a provocar o despovoamento de
São Paulo: Contexto, 2001. p. 38.
algumas regiões do vice-reino
a) Qual foi o período áureo de exploração da prata em Potosí? a) De 1556 até 1789. do Peru. Os indígenas passavam
cerca de oito horas por dia no in-
b) Em que período a quantidade de prata obtida foi menor? b) De 1789 até 1803. terior da mina, onde as galerias
c) O que se pode concluir pelos dados da tabela? eram estreitas, mal iluminadas
e cujo acesso se dava por esca-
c) Pode-se concluir que a produção de prata foi extraordinária e formar uma ideia dos períodos de cres- das de madeira e couro com até
cimento e de declínio dessa produção. Esses dados desconsideram a prata sonegada, que não pagou o
imposto devido à metrópole espanhola. 177 150 metros de altura. A subida
era feita com um saco de couro
com o metal às costas, pesando
cerca de 23 kg. [...]
19:25 TEXTO DE APOIO
HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 177 próspera. A riqueza em Potosí era tanta
20/08/22 que
20:02
Se compararmos os dados da
seus mercados eram mais bem abastecidos do
produção de prata com os da po-
As minas de prata de Potosí que os espanhóis, seus tecidos mais refinados,
seus cavalos da melhor raça, e sua nobreza das pulação, observamos claramen-
É extremamente importante pesquisar a te que o crescimento populacio-
melhores casas espanholas. [...]
questão da riqueza e da ostentação em São Luís nal acompanhou o crescimento
de Potosí, talvez o lugar mais rico da América Quanto mais riqueza se retirava de Potosí, da produção, e a queda determi-
espanhola. Essa riqueza e essa ostentação che- mais se alimentava a fantasia de sua inesgo- nou o êxodo de Potosí para ou-
gavam a tal extremo que acabavam ridiculari- tabilidade. Quanto mais riqueza saía da terra, tras áreas.
zando os valores e as ordenações europeias. A mais pomposa e ornamental se tornava a elite
PRODANOV, Cleber Cristiano. O
abundância gerou a seguinte situação: a colônia da sociedade, capaz de trocar o calçamento da
mercantilismo e a América. 6. ed. São
se tornava rica enquanto explorada, e a metró- cidade durante as festas por placas de prata, Paulo: Contexto, 2001. (Repensando a
pole exploradora tornava-se aparentemente como também a ferradura dos cavalos. História Geral, p. 38, 40-42).
177

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 177 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
a) A economia na América espanhola no século XVII.
• Salientar que a produção b) O mapa informa por meio da legenda interna. O retângulo coberto com a cor rosa indica a área da América
da fazenda se destinava ao sob o domínio espanhol.
mercado local, intercolonial A agropecuária
ou à exportação para a Espa-
Na América colonial espanhola, praticavam-se a agricultura e a pecuária em grandes
nha. Os trabalhadores des-
sas fazendas eram obriga- propriedades, nas fazendas. Entre os principais produtos da agricultura estavam o cacau,
dos a comprar no armazém a batata, o milho e o tabaco (nativos da América) e a cana-de-açúcar (introduzida
da propriedade (tienda de na América pelos europeus). Além disso, criavam-se gados de corte e de transporte
raya) aquilo de que neces- (mulas e cavalos).
sitavam (roupas, calçados, No final do século XVIII, com o declínio da mineração, a agricultura e a pecuá-
alimentos) e, assim, se torna- ria se desenvolveram ainda mais; aumentou o número de fazendas que produziam
vam prisioneiros por dívida. gêneros como cacau, na Venezuela; açúcar e tabaco, em Santo Domingo e Cuba. Os
A fazenda exigia pouco capi- trabalhadores dessas fazendas eram, geralmente, africanos escravizados, trazidos para
tal para seu funcionamento
a América em grande número desde o século anterior. A grande fazenda escravista
e se inseria em circuitos mer-
produtora de um gênero tropical, como o cacau, destinado ao mercado externo é
cantis que abrangiam exten-
sas áreas do território colo- chamada de plantation.
nial. Era a fazenda hispano-
-americana, por exemplo, América espanhola: economia (século XVII)
que abastecia as minas situ- Toda a produção de prata, ouro,
ALLMAPS

açúcar, tabaco, charque (carne


adas no México e em Potosí. salgada), couro e sebo era vendida
• Informar que existiu um Zacatecas à Espanha e às cidades coloniais
grande número de planta- Trópico de Câncer Havana
(mercado interno). Além disso, a
produção e a venda de alimentos nas
tions em áreas como Santo Vera Cruz
CUBA
HISPANIOLA
Santo Domingo vilas e cidades coloniais foram um
Domingo e Cuba (açúcar, ta- VICE-REINADO
DA NOVA ESPANHA
OCEANO importante setor da economia na
Cartagena
baco) e Venezuela (cacau). A Porto Belo Panamá
ATLÂNTICO América colonial espanhola.
mão de obra das plantations
era formada basicamente Equador

por africanos escravizados. OCEANO


VICE-
-REINADO
Linha de Tordesilhas

DO PERU
Sua produção era quase PACÍFICO

toda destinada ao comércio


Lima AMÉRICA
PORTUGUESA Dialogando
Potosí
Ouro
atlântico. Estudos recentes a Qual é o assunto do mapa?
Prata Trópico de Capricórnio
indicam que a produção de Tabaco
alimentos pelos escraviza- b De que forma o mapa informa
Anil
dos e o comércio desses ali- o leitor sobre as áreas
Cana-de-açúcar Buenos
Aires efetivamente ocupadas
mentos foram importantes Algodão
pela Espanha no início do
no conjunto da economia Cacau
século XVII?
colonial da América hispâ- Alpaca

nica. Lhama c Qual é a área de criação


Gado de alpacas e lhamas?
• Explorar o mapa da página, Áreas efetivamente c) Vice-reinado do Peru.
chamando a atenção para as dominadas pela d Para onde era vendida a
Espanha no início

áreas demarcadas e o comér- do século XVII


0 1080
produção de prata, ouro,
açúcar, tabaco, charque
cio predominante na região. Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de.
Atlas história geral. São Paulo: Scipione, 1997. p. 39. (carne salgada), couro e sebo?
• Tema Contemporâneo Trans- d) Essa produção era vendida à Espanha e também às cidades coloniais da América (mercado interno).
versal: a leitura do texto de 178
apoio com os estudantes
mobiliza o tema trabalho, da
macroárea economia.
TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 178
os indígenas afastados de suas comunidades
02/08/22 19:25 AV-

O texto de apoio desta pá-


As atividades agropecuárias dependiam ou desprovidos de terras, os quais ficaram co-
gina favorece o conhecimento igualmente do trabalho indígena e dos mes- nhecidos como peão residente ou acasillado.
das relações de trabalho em tiços. Diante da hispanização dos campos, Em caráter complementar às tarefas realiza-
outros espaços e tempos e con- gerada pelas necessidades agrárias da coloni- das nas propriedades rurais funcionavam os
tribui para o desenvolvimento zação, preponderou a hacienda
hacienda.. Uma proprie- obrajes,, estabelecimentos destinados à fabri-
obrajes
da habilidade EF07HI09. dade rural de caráter autossuficiente mas vol- cação de tecidos. Os obrajes demandavam mão
tada a abastecer os centros mineradores e as de obra permanente, mas os proprietários não
cidades, cuja obtenção de mão de obra pode- tinham condições de remunerar os trabalha-
ria proceder de diferentes sistemas de recru- dores adequadamente, fato que resultava na
tamento. A hacienda atraía, principalmente, tentativa de reter a mão de obra pelo maior

178

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 178 03/09/22 10:44


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que o comércio e a
navegação entre a Espanha
O controle da colônia pela metrópole e suas colônias americanas
eram controlados pela Casa
de Contratação, com sede
Para cuidar de seus negócios com a América espanhola e exercer um controle rígido
em Sevilha, na Espanha,
sobre a região, a Espanha criou dois importantes órgãos:
desde 1503. Esse órgão ad-
• a Casa de Contratação: órgão encarregado de controlar o comércio e a navegação ministrava o comércio com a
entre a Espanha e suas colônias americanas, que funcionava desde 1503, na cidade América pelo sistema de por-
portuária de Sevilha, na Espanha. Os navios que faziam o comércio entre a Espanha e a tos únicos.
América só podiam sair ou entrar por um único porto: Sevilha. E, na América, os únicos • Informar que o controle do
portos autorizados a comerciar com a Espanha eram: Havana (Cuba), Vera Cruz (México), comércio colonial era fei-
Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Por meio dessa política mercantilista, to também pelo sistema de
que restringia o comércio a alguns portos e visava aumentar o poder e a riqueza da frotas e galeões. Os navios
monarquia espanhola, a Espanha obtinha lucros extraordinários. que iam da América para a
• o Conselho das Índias: órgão criado pela monarquia espanhola em 1524, para admi- Espanha, ou que vinham de
nistrar suas colônias na América. O órgão era formado por um Conselho nomeado e lá para ca, tinham de viajar
dirigido pelo rei da Espanha. Seu poder era imenso: podia fazer leis, ministrar a justiça juntos (frotas), protegidos
por outros navios fortemen-
e nomear funcionários para as colônias e destituí-los.
te armados (galeões). As

M
.CO
frotas e os galeões vinham

CK
Vista interna do Palácio Real Alcázar. Sevilha (Espanha). Fotografia

TO
RS
e voltavam carregados de

TTE
de 2019. Nesse palácio, funcionava a Casa de Contratação. Nesta

HU
imagem, é possível perceber a existência de dois traços da arquitetura

P/S
mercadorias duas vezes por

ED
FR
árabe medieval: os arcos em forma de ferradura e as colunas finas.
ano. Assim, a Espanha mer-
cantilista conseguia contro-
lar tanto o que entrava nas
suas colônias quanto o que
saía delas, auferindo lucros
extraordinários. Esse mono-
pólio do comércio colonial
acabou provocando uma
rea­ção esperada: o contra-
bando, muito praticado em
toda a América espanhola.
• Destacar que o principal ór-
gão da administração espa-
nhola na América foi o Con-
selho Real e Supremo das
Índias, criado por Carlos V, em
1524. Com sede na Espanha,
esse órgão era encarregado
de todas as questões coloniais
de ordem legislativa, eclesiás-
tica, militar ou jurídica.
179

19:25 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)


AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 179 res, os empregadores recorriam
02/08/22 19:25 ao sistema de tiendas de raya,
raya,
espécie de armazéns mantidos nas haciendas ou próximo das
tempo possível. Além do salário baixo, era pago em mercadorias minas, nos quais se praticava um peculiar sistema de crédito
e as condições de trabalho péssimas. Muitos obrajes tinham o as-
e endividamento. As compras realizadas nas tiendas ocorriam
pecto de prisões, pois as oficinas eram fechadas e vigiadas.
mediante adiantamentos, concedidos na forma de créditos,
Por vezes, ao concluírem as tarefas obrigatórias, alguns indí- mecanismo que tornava os índios devedores, obrigando-os a
genas não retornavam às suas comunidades e acabavam por se trabalharem por mais tempo.
empregar nas haciendas
haciendas,, como peões, ou nas minas em troca de
uma recompensa por conta do mineral extraído (partido). NEUMANN, Eduardo. Trabalho na América espanhola: salário,
servidão e escravidão. Associação Nacional de Pesquisadores
Somente uma parte da remuneração era paga em dinheiro, e Professores de História das Américas. São Paulo, 2010.
realidade esta que limitava a existência de uma típica mão de Disponível em: https://www.anphlac.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=611.
obra assalariada. Para efetuar o pagamento dos trabalhado- Acesso em: 10 ago. 2022.
179

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 179 03/09/22 11:39


ENCAMINHAMENTO
• Informar que, por meio do
poder dado aos adelanta-
dos, a Coroa transferiu para A administração espanhola
particulares o ônus da colo-
Inicialmente, o governo da Espanha transferiu a particulares, homens como Cortez
nização e estimulou a con-
e Pizarro, o direito de explorar e administrar as terras americanas. Esses homens, os
quista de terras e povos.
adelantados (adiantados), recebiam dos reis da Espanha o poder político e militar na
A compreensão da estru-
América, mas eram obrigados a enviar para a metrópole um quinto de toda a riqueza
tura de poder montada pela
extraída e produzida nas áreas conquistadas por eles.
Espanha na América pode
Mais tarde, ao perceber que as riquezas americanas aumentavam, mas eram desviadas,
contribuir para o desenvolvi-
mento da competência espe- a monarquia espanhola anulou o poder dos adelantados e aumentou o controle sobre
cífica 2. suas colônias da América. Para isso, instituiu dois vice-reinados: o Vice-Reinado de Nova
Espanha (1535), no atual México, e o Vice-Reinado do Peru (1542). Posteriormente, já
no século XVIII, foram criados os de Nova Granada e do Rio da Prata.. Para defender as
Dica de leitura colônias de ataques de piratas, fato comum na época, o governo espanhol criou também
Neste livro, o historiador quatro Capitanias Gerais:: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile, todas situadas em áreas
Leandro Karnal aborda a his- estratégicas.
tória dos mexicas e o processo No território colonial,
de conquista do México pelos América Espanhola (séculos XVI a XVIII)
foram criadas as Câmaras

ALLMAPS
espanhóis, bem como as con- Municipais. Chamadas
sequências para os povos que na América de cabildos,
já habitavam a região. eram encarregadas de VICE-REINO DA
NOVA ESPANHA
• KARNAL, Leandro. A con- administrar as cidades e (1535) CAPITANIA
GERAL DA FLÓRIDA
quista do México. São Paulo: fazer cumprir as leis do Trópico de Câncer
CAPITANIA
GERAL DE CUBA
FTD, 1996. governo espanhol. Eram
também responsáveis CAPITANIA
CAPITANIA
GERAL DA
GERAL DA
TEXTO DE APOIO pela segurança. Os vere- GUATEMALA
VICE-REINO DE
VENEZUELA

Equador NOVA GRANADA


A organização dos territórios adores dessas câmaras (1717) 0°

conquistados foi distribuída em eram quase sempre filhos


vice-reinados e capitanias ge- de espanhóis nascidos na VICE-REINO
DO PERU
rais. Foi a forma encontrada para (1542)
América, que mais tarde
controlar a administração com Trópico de Capricórnio
os vice-reis e os capitães encar- ficaram conhecidos como VICE-REINO
DO RIO
regados de manter a estrutura de criollos..
criollos DA PRATA
CAPITANIA (1776)
poder representando a Espanha OCEANO GERAL
DO CHILE
e seus interesses na América. A PACÍFICO
distribuição dos vice-reinados
OCEANO
ficou assim estabelecida: vice-
ATLÂNTICO
-reinado da Nova Espanha; vice-
-reinado da Nova Granada; vice-
-reinado do Peru; vice-reinado
do Rio da Prata, além de algumas
capitanias gerais. Fonte: THE TIMES Atlas of the 0 1 165
World History. Londres: 90° O
O vice-reinado da Nova Espa- Times Books, 1990. p. 161.
nha se expandia pelo oeste dos
Estados Unidos, o atual México
e uma parte da América Central,
180
e, como podemos observar nos
diferentes mapas [...], era um
território muito extenso. Con- isso dividindo as terras180
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd e utilizando-se da mão trabalhavam nas grandes fazendas e nas minas. 02/08/22 19:25 AV-

vém salientar que o México e o de obra indígena. A divisão das terras formou A localização do vice-reinado da Nova Grana-
Peru foram importantes centros as grandes propriedades, as denominadas fa- da compreende os atuais territórios da Colôm-
produtores para o sistema colo- zendas, que eram unidades produtivas rurais bia, Panamá e Equador, sendo estes territórios
nial, com grande parte da pro- praticamente isoladas do poder da Espanha. os primeiros a serem ocupados pelos espanhóis,
dução consistindo na extração Os proprietários das terras, que exploravam os nele sendo criados os primeiros povoamentos.
de metais preciosos, pois era o tributos e o trabalho dos indígenas, eram os es- Foi a partir daí que os espanhóis se deslocaram
que a Espanha procurava na- panhóis e seus descendentes. As grandes pro- para a conquista dos novos territórios na busca
quele período. priedades também eram exploradas pela Igreja constante de metais preciosos.
Com a decadência da extra- mexicana, um dos maiores latifundiários do
CANABARRO, Ivo dos Santos. História da América
ção de metais, iniciou-se o sis- vice-reinado. Os índios eram os mais explora- Meridional. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção educação a
tema produtivo agrícola, com dos, posto que não possuíam direitos, apenas distância. Série livro-texto, p. 18-19).
180

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 180 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
• Informar que a sociedade
desse período possuía hierar-
Sociedade e poder na América espanhola quia rígida e pouca mobili-
dade social (a dificuldade de
As sociedades hispano-americanas eram formadas basicamente por cinco grupos: ascensão social era grande).
chapetones, criollos
chapetones, criollos,, mestiços, indígenas e negros escravizados. • Comentar que os brancos,
nascidos na Espanha ou na
• Chapetones: colonos nascidos na Espanha, também chamados de peninsulares; ocu-
América, eram minoria e
pavam os principais cargos políticos, militares e religiosos, e tinham enormes privilégios.
concentravam em suas mãos
• Criollos: filhos de espanhóis nascidos ÓLEO SOBRE TELA, 80,7 X 105,4 CM, BREAMORE HOUSE, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA
poder, riqueza e privilégio.
na América. Eram ricos fazendeiros, Tinham os melhores cargos
donos de minas e grandes comercian- na administração pública, na
tes. Não podiam ocupar altos cargos, igreja, nas forças militares e
exceto o de vereador nas Câmaras na justiça. Eram também os
(cabildos).
Municipais (cabildos ). donos das fazendas, das mi-
• Mestiços:: filhos de espanhóis ou de nas e das manufaturas.
criollos com indígenas ou africanas. • Ressaltar que os indígenas,
Ocupavam funções de pouco prestígio, negros e mestiços eram
maioria e sobreviviam do
como pedreiros, carpinteiros, ferreiros
trabalho servil, mal remune-
e capatazes de fazenda.
rado ou escravizado. Na hie-
• Indígenas:: constituíam a maioria da rarquia social, um indivíduo
população e eram duramente explo- era visto conforme o grau
Espanhol, indígena e seus filhos
rados nas fazendas, nas tecelagens e de semelhança física com o
mestiços, de Juan Rodríguez Juarez,
nas minas. c. 1715. espanhol, e a discriminação
• Africanos escravizados:: trabalhavam contra indígenas e negros
principalmente nas grandes planta- ÓLEO SOBRE TELA, 81,3 X 106,1 CM, MUSEU DE ARTE DE LOS ANGELES. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA
era acentuada.
ções de cacau na Colômbia, Equador,
Venezuela e Cuba. No início da colo-
nização, o número de escravizados na
América espanhola era pequeno. b) Quando a diferença entre
As sociedades coloniais hispano- os povos é transformada em
-americanas eram formadas por uma desigualdade, temos o racis-
minoria de brancos, com grande riqueza mo. Pesquise o significado
e poder; e uma maioria de índigenas, dessa palavra e escreva-o no
mestiços e africanos, que realizavam tra-
caderno.
balho mal remunerado ou escravo. Além Respostas:
disso, índigenas, negros e mestiços eram a) Os espanhóis consideravam
discriminados pelas elites coloniais. Os os indígenas seres inferiores.
mestiços, por exemplo, eram proibidos b) Resposta pessoal. Profes-
de circular com armas, joias de ouro ou sor, aproveitar a questão para
Mulher nobre com sua escrava negra,
roupas de seda. de Vicente Albán, c. 1783.
debater com a sala sobre a
questão do outro. O diferen-
181 te é, muitas vezes, visto como
inferior ou “feio”. Sugestão
de materiais para pesquisa:
BEATO FILHO, Claudio C. De-
19:25 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 181 02/08/22 19:25
terminantes da criminalidade
Leia o texto a seguir com atenção. em Minas Gerais. Revista Bra-
sileira de Ciências Sociais, São
O desejo de enriquecer e a pulsão de domínio [...] sem dúvida nenhuma motivaram o com- Paulo, v. 13, n. 37, p. 74-87, jun.
portamento dos espanhóis; mas este também foi condicionado pela ideia que fazem dos índios,
1998; PROGRAMA NACIONAL
segundo a qual estes lhes são inferiores, em outras palavras, estão a meio caminho entre os
homens e os animais. Sem [...] [isso], a destruição não poderia ter ocorrido. DE DIREITOS HUMANOS. Gê-
nero e Raça – todos pela igual-
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 143.
dade de oportunidades: teoria
a) Segundo o texto, a destruição praticada pelos espanhóis na América não pode ser explicada e prática. Brasília, DF: MTb-a/
somente pelo desejo que eles tinham de enriquecer. Qual é o outro motivo que os levou a isso? Assessoria Internacional, 1998.
181

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 181 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
1.b) Comentar com os alunos
que Colombo estava a serviço
dos reis católicos Fernando e
Isabel. Esses reis investiram na ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

proposta de Colombo de che-


gar à América navegando em 1. a) Comandante da frota espanhola que chegou à América, em 1492.
direção ao Ocidente. 1. b) Ao rei e à rainha da Espanha.
1. c) Sobre os povos indígenas da América.
d) Retomar com os alunos
a noção de adjetivo e solicitar I. Retomando 1. d) Afáveis, pacíficos, decentes e elogiáveis.
1. e) Não. Ele diz que, apesar de andarem nus, eram decentes e elogiáveis.
que procurem no dicionário
aquele(s) cujo significado des-
conhecem.
1 O trecho a seguir é de um texto retirado de um livro de documentos históricos. Leia-o
com atenção.
e) Espera-se que os alunos
Tudo começou com Cristóvão Colombo que deu ao povo o nome de índios. [...]
sejam capazes de realizar uma
“Tão afáveis, tão pacíficos são eles”, escreveu Colombo ao rei e à rainha da Espanha
pequena inferência e perce-
[...]. “Amam a seus próximos como a si mesmo [...]; embora seja verdade que andam
ber que Colombo não elogiou
a nudez dos indígenas, consi- nus, suas maneiras são decentes e elogiáveis”.
(BROWN, 1973 apud PINSKY et al., 2011, p. 24-25).
derando o trecho em que ele
escreve que apesar de anda- a) Quem é Cristóvão Colombo?
rem nus, os indígenas eram b) Para quem ele fala?
decentes e elogiáveis. c) Sobre quem Colombo fala?
d) Quais adjetivos Colombo usa para descrever os ameríndios?
e) O texto permite inferir que Colombo elogiou a nudez dos indígenas? Justifique.

2 O texto a seguir é do historiador Matthew Restall. Leia-o com atenção.


Na manhã de 8 de novembro de 1519, na estrada que cruzava o lago Texcoco, no Vale
do México, ocorreu um encontro único na história mundial, Montezuma e Cortez viram-se
frente a frente.

SCIENCE SOURCE/ALAMY/FOTOARENA
Há séculos este evento é considerado simbólico do
grande encontro de continentes que atravessava, então,
sua terceira década – e com bons motivos. Pela primeira
vez, um imperador americano nativo saudava um repre-
sentante dos europeus que vieram conquistar e colonizar
suas terras. A ocasião foi amistosa, com ambos os lados
TEXTO DE APOIO ansiosos por exibir um [...] compromisso com a diploma-
São dignas de nota duas [...] cia. Sem embargo,, o choque de culturas ficou também
versões do século XVI − os tex- imediatamente evidente. Em questão de meses os dois
tos em náuatle e espanhol do lados estariam encalacrados numa guerra sangrenta,
Códice Florentino de Sahagún. que provocaria a morte de Montezuma e sua sucessão
Não há neles tentativas de
por Cortez no posto de homem mais poderoso do México
abraços nem de apertos de mão,
e a oferta de colares por Monte- central. Ilustração de Cortez
zuma a Cortés não é correspon- Embargo: dúvida. RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. ajoelhado diante de
dida pelo espanhol. Tampouco Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 150. Montezuma, século XVI.
a mesura é recíproca; no texto
náuatle, o imperador asteca “in- 182
clinou-se profundamente dian-
te de” Cortés, “ao que este per-
maneceu ereto, com seus rostos
posição de subordinação,
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 182 transformando sua no comum entre duas culturas muito diversas 02/08/22 19:25 AV-
defrontados (...) retesou-se o
mesura gentil numa vênia submissa: “Ele en- com relação ao tratamento senhoril. E, como se
mais que pôde, rigidamente”.
Sendo proibido encarar o rosto tão se prostrou diante do capitão, manifestan- não bastasse a confusão do gestual, os pendo-
do imperador, o redator suge- do-lhe imensa deferência, e pôs-se de pé face res e intenções dos autores de pelo menos cin-
re que foi Montezuma quem a face e muito próximo deste”. co diferentes relatos do evento vêm se somar
tomou a iniciativa de romper [...] Por um lado, temos a comunicação: os dois à algazarra, cada qual chegando ao seu próprio
o tabu, permitindo que Cortés líderes logram transmitir ao outro ao mesmo equilíbrio entre a valorização na realeza das di-
o fitasse, na tentativa de che- tempo sua posição de autoridade e seu dese- plomáticas boas-vindas de Montezuma e a su-
gar a um meio-termo cultural. jo de que o encontro fosse pacífico e imbuído gestão de que a acolhida já continha os germes
Sua contraparte espanhola dá de respeito mútuo. Por outro lado, as falhas da rendição.
a mesma impressão, mas de na comunicação se manifestam à medida que RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola.
modo a pôr Montezuma numa ambos se empenham por encontrar um terre- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 151.
182

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 182 03/09/22 10:53


+ATIVIDADES
2. a) Montezuma era o imperador asteca e Cortez, o líder da expedição espanhola à América.
2. b) Significa o encontro entre povos da Europa e da América. Leia o texto a seguir com
2. c) Alternativa III. atenção.
a) Quem eram Montezuma e Cortez?
b) Interprete. Qual é o significado do termo “encontro de continentes” no texto? [...] Tendo fundado uma nova
capital colonial em 1542, bati-
c) Anote no caderno a afirmativa correta. Sobre o texto, é possível afirmar que:
zada de Mérida, os espanhóis
I. ele descreve o confronto entre Cortez e Montezuma. de Yucatán declararam a Con-
II. nenhum dos dois líderes se esforçou para ser (ou parecer) respeitoso. quista concluída e puseram-se
III. o encontro entre Cortez e Montezuma, que inicialmente foi amistoso, desembocou em a “pacificar” a península. Uma
uma guerra entre eles. vez que controlavam apenas
IV. o conflito entre as forças lideradas por Cortez e as comandadas por Montezuma terminou uma pequena fração do terri-
com a vitória destas sobre aquelas. tório, contudo, viram-se envol-
vidos em acirradas hostilidades
3 Avalie as afirmações e copie no caderno as corretas. militares com um grupo maia
após o outro, deparando-se
a) Chegando à América, Cortez logo descobriu que os astecas tinham uma relação amigável
com uma resistência particu-
com os povos sob o seu domínio.
larmente intensa em fins dos
b) Os espanhóis conquistaram Tenochtitlán com a ajuda dos povos rebelados contra o domínio asteca. anos de 1540. Tratava-se clara-
c) Os principais aliados dos espanhóis na conquista de Tenochtitlán foram os tlaxcaltecas, inimi- mente de mais um episódio de
gos ferrenhos dos astecas. uma guerra de Conquista que já
d) Os espanhóis conviveram em harmonia com os astecas, dividindo com eles o governo do se encontrava em sua terceira
Império Asteca. 3. Alternativas B e C. década; todavia, assim como já
haviam declarado a Conquista
4 O texto a seguir é sobre as populações maias, habitantes da América Central e sul completa, os espanhóis classi-
do México. Leia-o com atenção. ficaram a resistência como re-
[...] Estabelecidas havia mais de dois belião [...]

STEFAN EMBER/ALAMY/FOTOARENA
mil anos naquela região, organizadas RESTALL, Matthew. Sete mitos da
conquista espanhola. Rio de Janeiro:
em cidades com sofisticada arquitetura Civilização Brasileira, 2006. p. 134-135.
e senhoras de um repertório cultural
que envolvia um sistema de escrita e a) Qual é o assunto do texto?
elaborados conhecimentos astronômicos, b) Qual é o significado da pa-
essas populações realizaram grandes lavra “pacificar” no texto?
revoltas indígenas nas primeiras décadas
c) O que se pode inferir sobre
que se seguiram à Conquista e, em uma o olhar espanhol a respeito da
nova onda [...], nas últimas décadas do resistência maia?
século XVIII.
Respostas:
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela.
História da América Latina.
a) A conquista espanhola da
São Paulo: Contexto, 2016. p. 21. península de Yucatán e a resis-
tência dos grupos maias que
ali viviam.
Máscara maia de Palenque. b) No texto, a palavra “paci-
Chiapas (México), ficar” tem o sentido de repri-
fotografia de 2015. mir, sufocar a resistência dos
povos ameríndios.
c) Pode-se inferir que os espa-
nhóis a viram como desobedi-
183 ência a um poder estabeleci-
do.
Professor, esta atividade
19:25 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 183 02/08/22 19:25
contribui para o desenvolvi-
mento da habilidade EF07HI09.

183

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 183 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
4. b) Professor, um historia-
4. a) A relação entre os espanhóis e os maias foi conflituosa. Estes resistiram promovendo uma série de revoltas
dor atual afirma que a ideia contra a dominação espanhola.
de que a conquista da Amé- a) O que a leitura desse texto permite concluir sobre a relação entre os espanhóis e os maias?
rica espanhola foi rápida e b) Esse texto reforça ou contraria a ideia de que a conquista espanhola foi rápida e fácil?
abrangente não passa de um Por quê? 4. b) O texto contraria a ideia porque relata a resistência maia à dominação espanhola durante
“mito” (o mito da conclusão). o processo de conquista da região.
Vejamos o que ele diz neste 5 O texto a seguir é uma carta de Hernán Cortez ao rei da Espanha, datada de 1519.
trecho: Leia-a com atenção.
[...] Cortez recorre à invenção
Deixei toda aquela província de Cempoala [...], que contém cerca de cinquenta
de um dos submitos do mito da
conclusão: o da sujeição voluntá- mil guerreiros e cinquenta cidades e fortalezas, na mais profunda paz e segurança; e
ria dos nativos. Aqui, para defen- todos esses nativos [...] eram súditos de Montezuma [...]. Ao tomarem conhecimento,
der a tese da submissão espontâ- por meu intermédio, da existência de Vossa Alteza e de Vosso imenso poder Real,
nea, Cortez se vale da boa e velha
manifestaram seu desejo de se tornarem vassalos de Vossa Majestade e meus aliados,
contraposição de um monarca
poderoso e benevolente, com seu e rogaram-me que os protegesse do grande senhor que os dominava pela tirania [...].
honorável representante, a um Em face disso, têm se mostrado muito leais e verdadeiros no serviço de Vossa Alteza,
tirano indígena cruel. [...] e creio que sempre o serão, livres agora que estão da tirania de outrora e tendo em
RESTALL, Matthew. Sete mitos da vista que sempre foram por mim honrados e bem tratados.
conquista espanhola. Rio de Janeiro:
5. a) Cortez era um oficial espanhol e comandou a conquista do Império
Civilização Brasileira, 2006. p. 133. (CORTEZ, 1519 apud RESTALL, 2006, p. 132).
Asteca pelos espanhóis.
a) Quem foi Cortez e que posição ele ocupava?
5. b) Reforçar que 1519 foi o 5. b) Ele relata uma de suas primeiras conquistas e a aliança com povos
b) O que ele relata no texto?
ano da chegada de Hernán inimigos dos astecas.
Cortez à América. c) Copie no caderno o trecho do texto em que Cortez afirma que os nativos se sujeitaram aos
espanhóis de livre e espontânea vontade.
7. b) Comentar que as doenças
5. c) “Ao tomarem conhecimento, por meu intermédio, da existência de
mataram mais que as armas d) Como Cortez se refere:
Vossa Alteza e de Vosso imenso poder Real, manifestaram seu desejo de
de fogo. • ao rei da Espanha? se tornarem vassalos de Vossa Majestade e meus aliados.”
• a Montezuma? 5. d) Ao rei da Espanha: Um rei poderoso e benevolente. A Montezuma:
Um tirano cruel que governava pela força. A si próprio: Como um cola-
• a si próprio? borador do rei e uma pessoa que trata bem os indígenas vassalos do rei.
e) Com base no que você estudou neste capítulo, é possível perceber exagero ou fantasia na
TEXTO DE APOIO carta de Cortez ao rei? 5. e) Resposta pessoal.

Em 1521, esse “ano triste e pa- 6 Sobre a reação dos incas aos espanhóis, é correto afirmar que: 6. Alternativa B.
voroso ...”: a Cidade do México
cai nas mãos de conquistadores a) os incas colaboraram com os espanhóis, facilitando, assim, a conquista de suas terras.
espanhóis e seus aliados indí- b) os incas resistiram aos espanhóis, refugiando-se próximo à cidade de Machu Picchu e fun-
genas. Devemos a melhor des- dando um novo império.
crição do período a um monge
franciscano que os índios ha- c) os incas deixaram rapidamente o culto ao Sol e ao Inca para seguir o cristianismo.
viam apelidado de Motolinía, “O d) os incas conseguiram resistir aos espanhóis e conservar a integridade de seu império.
Pobre”. Um capítulo de sua crô-
nica descreve as repercussões
da queda da Cidade do México,
7 Segundo o historiador Matthew Restall, a conquista espanhola da América deveu-se
a quatro fatores principais. 7. a) As doenças, a rivalidade entre os indígenas da América, a superiori-
no início dos anos 1520:
dade de armas (armadura de ferro, espada de aço, o cavalo e as armas de
“Deus castigou esta terra com a) Quais são eles? fogo), o maior conhecimento dos espanhóis sobre os astecas, maias e incas.
dez pragas muito cruéis por b) Qual desses fatores foi o mais determinante?
causa da dureza e obstinação 7. b) A série de doenças trazidas pelos espanhóis (varíola, tifo e gripe), para as quais as populações indí-
de seus moradores,
moradores, [...]. A pri- 184 genas não possuíam anticorpos.
meira dessas pragas foi [...] [a]
varíola, uma doença que nunca
se tinha visto nesta terra.”
terra.”
para acabar com o fedor,184já que eles não podiam
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 02/08/22 19:25 AV-
Uma epidemia de tamanha
enterrá-las, mandaram derrubar as casas em
virulência espalhou-se entre os
cima dos mortos, dando-lhes seus lares como
índios, e regiões inteiras perde-
ram a metade de seus morado- sepultura”. Essa doença foi chamada “a grande
res. Então, muitos morreram de lepra”, “pois dos pés à cabeça eles se cobriam
fome: “Como todos adoeciam ao de feridas de varíola que os faziam parecer le-
mesmo tempo, não podiam cui- prosos”. A exemplo do que ocorrera no Egito,
dar uns dos outros e não havia onde as águas, as nascentes e os rios tinham se
ninguém para preparar a comi- transformado em torrentes de sangue [...].
da”. Em vários lugares, famílias GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço.
inteiras foram dizimadas, “e São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 64-65.

184

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 184 01/09/2022 08:57


TEXTO DE APOIO
O trabalho com o texto a
seguir contribui para o desen-
8 O trecho a seguir foi escrito por um poeta mexica, e é uma homenagem aos mexicas volvimento da competência
que tombaram na guerra contra os espanhóis. específica 4.
A morte O trabalho humano na
que os nossos pais, irmãos e filhos receberam América Latina

EDITORA UNESP
não lhes chegou porque eles deviam alguma coisa, A mineração, sobretudo da
nem porque roubaram ou mentiram, prata, na América espanhola se
nem por qualquer vilania, baseava no uso do trabalho in-
mas pelo valor e honra dígena [...].
do nosso país e nação, [...] a mita de Potosí recrutava
compulsoriamente para o tra-
pelo valor do nosso império mexicano
balho, todos os anos, para a re-
e pela honra e pela glória gião de Potosí, cerca de 14 por
do nosso deus e senhor Uitzilopochtli [...]. cento (um sétimo) da população
BAUDOT, Georges; TODOROV, Tzvetan. Relatos astecas da conquista. que pagava tributo: os homens
São Paulo: Unesp, 2019. p. 23. entre 18 e 50 anos. O trabalho
se iniciava pela manhã de ter-
ça-feira e continuava de modo
ininterrupto até sábado à noite
Fac-símile da capa do livro Relatos astecas da Conquista, com jornadas de trabalho de sol
de Georges Baudot e Tzvetan Todorov. a sol. Os indígenas eram sub-
I. O poema feito por um poeta mexica é: 8. I) Alternativa C. metidos ao excesso de trabalho
em condições degradantes nas
a) um relato de guerra contra os espanhóis.
minas, favorecendo uma gama
b) uma explicação para a morte dos espanhóis. variada de doenças, principal-
c) uma homenagem aos que morreram na luta contra os espanhóis. mente respiratórias. Os mitayos
d) uma poesia religiosa dirigida ao deus Uitzilopochtli. – termo utilizado para aqueles
que trabalhavam nas minas –
eram obrigados a longos deslo-
II. O trecho da poesia permite inferir que o poeta: 8. II) Alternativa C.
camentos, muitos não resistiam
a) tem vergonha de ser mexica. ao longo trajeto e morriam antes
b) culpa os mexicas por terem perdido a guerra. de chegar às minas.
c) afirma e valoriza sua identidade mexica. GAMBA, Juliane Caravieri Martins; PIRES,
d) preferia ser espanhol a mexica. Júlio Manuel. O trabalho humano na
América Latina: evolução histórica e
9 Sobre as formas de trabalho na América espanhola, escreva no caderno as afirmações
condições atuais. Cadernos Prolam/USP,
São Paulo, v. 15, n. 27,
corretas. p. 11-26, 2016. p. 13-14.
a) A mita era um antigo hábito inca pelo qual os membros das aldeias eram obrigados a realizar
serviços gratuitos para o Império Inca.
b) Os espanhóis transformaram a mita em uma obrigação pela qual os membros das aldeias
tinham de trabalhar para eles quatro meses ao ano.
c) A encomienda era o direito que os colonos espanhóis tinham de explorar o trabalho dos
indígenas nas minas, plantações e fazendas por certo período.
d) A mita desapareceu após a conquista espanhola da América.
e) Apesar das condições de trabalho nas minas de prata de Potosí serem desfavoráveis, não
chegavam a prejudicar a saúde dos indígenas.
9. Alternativas A, B e C.
185
EDITORA UFRGS

19:25 Dica de leitura


AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 185 02/08/22 19:25

Este livro aborda a temática do “descobri-


mento” e conquista da América Latina, am-
pliando a visão sobre o domínio europeu na
região e a resistência dos nativos.
• WASSERMAN, Claudia (coord.). História da
América Latina: cinco séculos. Porto Ale-
gre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

185

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 185 03/09/22 10:54


ENCAMINHAMENTO
10. a) Sobrenome de conquis- 11. Instituiu quatro vice-reinados para aumentar o controle sobre suas colônias na América. Já as capitanias
gerais foram criadas em áreas estratégicas para defender as suas colônias de ataques piratas.
tador espanhol das terras as-
tecas. 10 Leia o diagrama a seguir. Seu desafio é elaborar, em seu caderno, as dicas que resul-
b) Imperador asteca do início taram nas palavras de cada linha. 10. Respostas pessoais. Sugestões no Manual do Professor.
do período da conquista.
a) C O R T E Z
c) Capital do Império Asteca.
d) Nome dado ao processo de b) M O N T E Z U M A
ocupação das terras america-
c) T E N O C H T I T L Á N
nas pelos espanhóis.
e) Governante inca que foi ao d) C O N Q U I S T A
encontro dos espanhóis.
e) A T A H U A L P A
f) Nome de conquistador es-
panhol das terras incas. f) P I Z A R R O

SCIENCE SOURCE/ALAMY/FOTOARENA
g) Nome das minas de prata g) P O T O S Í
Atahualpa, último
exploradas pelos indígenas a
imperador inca.
serviço dos espanhóis. h) M I T A
h) Trabalho obrigatório que i) T Ú P A C * A M A R U
os membros das aldeias ti-
nham de prestar para os espa-
nhóis durante quatro meses 11 Por que o governo espanhol instituiu quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais
por ano. na América espanhola?
i) Último líder inca da resistên-
cia aos espanhóis.
12 As sociedades hispano-america-
nas eram formadas basicamente
AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

por cinco grupos: chapetones ,


criollos , mestiços, indígenas e
TEXTO DE APOIO negros escravizados. Quem eram
e o que faziam?
A leitura e a interpretação a) Chapetones.
do texto a seguir contribuem b) Criollos.
para que os estudantes desen- c) Mestiços.
volvam a habilidade EF07HI08. d) Indígenas.
Sociedade Americana no e) Negros escravizados.
tempo da conquista 12. a) Colonos nascidos na Espanha. Ocupavam os prin-
A estrutura social determinava cipais cargos políticos, militares e religiosos e tinham
que no seu topo ficariam alocados enormes privilégios.
os espanhóis provenientes da pe- Menina albina filha de
nínsula ibérica, os denominados espanhol e mestiça,
chapetones,, descendentes da no-
chapetones de Miguel Cabrera, 1763.
breza empobrecida da Espanha. 12. b) Filhos de espanhóis nascidos na América. Eram
Esses chapetones ocupavam todos ricos fazendeiros, donos de minas e grandes comercian-
tes. Eram impedidos de ocupar altos cargos, exceto o de
os cargos administrativos das co- vereador nas câmaras municipais (cabildos).
lônias, pois eram os letrados, tam-
bém tornando-se donos das gran- 12. c) Filhos de espanhóis ou de criollos com indígenas ou africanas. Ocupavam funções de pouco prestígio.
des propriedades e das minas,
portanto tinham poder político e
186 12. d) Constituíam a maioria da população e eram explorados nas fazendas, nas tecelagens e nas minas.
12. e) Trabalhavam principalmente nas grandes plantações de cacau na Colômbia, Equador, Venezuela e Cuba.
econômico ao mesmo tempo.
Abaixo dos chapetones fica-
O modelo de estrutura
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 186 de classes foi com- Na base da sociedade estavam os índios, que 08/08/22 14:58 HIS
vam os criollos
criollos.. Esses eram os
plexo, pois sempre privilegiou os brancos e a na época da chegada dos espanhóis eram apro-
filhos de espanhóis nascidos na
superioridade da raça e do sangue, e isso, de ximadamente 30 milhões e ficaram reduzidos a
América, mas não podiam ter
imediato, já excluía índios, negros, mestiços cerca de 10 milhões. [...]
mestiçagem, ou seja, não po-
diam ter cruzamento interétni- e outros cruzamentos raciais. Os mestiços, CANABARRO, Ivo dos Santos. História da América
co. Os criollos geralmente eram resultado do cruzamento de brancos com Meridional. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção educação a
índios, de brancos e negros e de negros com distância. Série livro-texto, p. 24).
grandes proprietários de terras,
mas também comerciantes. Não índios, constituíam a maior parcela da popu-
podiam ocupar altos cargos ad- lação, mas nunca ocupavam os cargos admi-
ministrativos, mas participavam nistrativos, no máximo poderiam ser capata-
dos cabildos, um órgão que re- zes das fazendas e minas, bem como mão de
presentava o poder local. obra servil e livre.
186

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 186 03/09/22 10:57


ENCAMINHAMENTO
Vozes do passado. a) Ao centro e em primeiro plano, vemos um colono (com jaquetão dourado) pagando impos- Leitura de imagem
tos a um funcionário da metrópole.

II. Leitura e escrita em História a) Notar que o primeiro ho-


mem entrega moedas de ouro
Vozes do passado. b) Na cena 2, veem-se soldados espanhóis protegendo ou prata ao segundo, enquan-
Leitura de imagem o pagamento de impostos que está sendo realizado. to o homem que está entre os
dois registra o pagamento no
A imagem é de uma pintura mural que está no Palácio Nacional na Cidade do México, livro de contabilidade.
onde funciona a sede do governo mexicano, e mede 4,29 x 5,27 metros. Foi pintada pelo
b) Notar que os soldados estão
mexicano Diego Rivera, um dos pintores mais respeitados do século XX. Observe-a com
vestindo armaduras e portan-
atenção e depois responda às questões. do lanças.
c) Na cena 3, ao centro, vemos

SÉBASTIEN LECOCQ/ALAMY/FOTOARENA
um grupo de indígenas puxan-
do um arado; na cena 4, canto
superior direito, outro grupo
5 4 corta e transporta madeira; e
na cena 5, ao fundo e no alto,
outro grupo ainda trabalha
2 3
na extração de minerais. Cada
um desses grupos é fiscalizado
por um feitor armado de chi-
cote, indício de que se tratava
de trabalho forçado.
e) Nesta obra, Diego Rivera
1 pode ter procurado ressaltar
que a América foi construída
com base no trabalho duro de
indígenas e africanos; notar
que, no mural, aparecem três
cenas de trabalho forçado dos
indígenas na América. O ar-
tista se alinhou, portanto, ao
lado dos vencidos. O objetivo
da atividade é uma vez mais
incentivar a competência es-
Detalhe do mural de Diego Rivera, século XX. Vozes do passado. d) Boa parte da riqueza produzida ou extraída
na América era levada para a Espanha (a metrópole) por meio dos tributos pagos, do controle do comércio em critora de avaliar coerência e
determinados portos e dos privilégios concedidos aos chapetones e criollos. coesão. A pintura foi produzi-
a) O que você vê ao centro e em primeiro plano (cena 1)? da na década de 1930, quan-
b) O que se vê na cena 2 (à esquerda)? do a versão predominante
Vozes do passado. c) Resposta pessoal. da conquista espanhola da
c) As cenas 3, 4 e 5 mostram o trabalho forçado dos indígenas; descreva-as.
América apresentava os in-
d) Quem ficava com a maior parte da riqueza extraída ou produzida na América? dígenas como primitivos e os
e) Tente responder: com que intenção a pintura foi produzida? espanhóis como civilizados; o
Vozes do passado. e) Resposta pessoal. binômio primitivo/civilizado,
187 herdado do século XIX, pauta-
va a versão oficial da História
no México de 1930.
14:58 HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 187 24/08/22 20:40

187

169a190_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 187 03/09/22 10:58


TEXTO DE APOIO
[...]
Os astecas, ou mexicas, her-
dam alguns elementos da cul- Vozes do passado
tura maia, como os templos edi-
ficados em plataformas sobre O texto a seguir é a reunião de estrofes de dois poemas astecas do século XVI,
pirâmides. Também entram em chamados por eles de Cantos tristes.. Os versos descrevem a cidade de Tenochtitlán às
contato com os toltecas antes de
vésperas de sua rendição, em agosto de 1521. Leia-os com atenção.
se instalar na margem ocidental
do lago Texcoco e fundar Teno-
chtitlán. A cidade é construída
Os astecas narram a Conquista
tanto em terra firme quanto em Pelos caminhos jazem [flechas] Preço de jovem, de sacerdote,
pequenas ilhas artificiais dentro partidas; de criança e de donzela.
do lago, historicamente conheci- os cabelos estão espalhados. [...]
da como a “Veneza americana”. As casas estão destelhadas, Ouro, jade, ricas mantas,
O centro político, religioso e eco-
seus muros avermelhados. plumas de quetzal;
nômico é a construção chamada
“Templo Maior”. Povo guerreiro, Germes se espalham por ruas e tudo isso que é precioso
o militarismo predomina em praças, nada foi levado em conta.
todos os aspectos da vida entre [...] [...]
eles. Os principais deuses patro- As águas estão rubras, tintas Chorai, amigos meus,
cinam as conquistas guerreiras [de sangue], Compreendei que com estes
[...], as expressões plásticas in- e quando a bebemos, fatos
sistem na iconografia relacio-
é como se bebêssemos água perdemos a Nação Mexicatl.
nada com a guerra. [...] As es-
culturas são sólidas, feitas em salgada. A água azedou, se azedou a
blocos maciços desbastados e de [...] Nos puseram preço. comida. [...]
formas estilizadas. Os artistas e SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Coletânea de documentos de
história da América para o 2o grau – 1a série. 2. ed. São Paulo: SE/CENP, 1985. p. 7.
artesãos astecas têm grande ha-
bilidade manual: trabalham os Vozes do passado. a) O texto é um
ALBUM/EASYPIX BRASIL

metais e as pedras preciosas; poema, portanto, pertence ao gênero


dedicam-se à arte plumária e à literário.
fabricação de tecidos com moti- Vozes do passado. b) “Germes se
espalham por ruas e praças, [...] As
vos geométricos num rico colo-
águas estão rubras, tintas [de sangue]
rido; executam pinturas murais e, quando a bebemos, é como se bebês-
e miniaturas em faixas de pele semos água salgada”.
de veado ou feltro fino. Vozes do passado. c) “Nos puseram
ARTE pré-colombiana. In: ENCICLOPÉDIA preço. Preço de jovem, de sacerdote, de
ITAÚ CULTURAL. Enciclopédia Cultural criança e de donzela”.
de Arte e Cultura Brasileira, São Paulo: Ilustração atual de como seria
Itaú Cultural, c2022. Disponível em: https:// a capital asteca Tenochtitlán.
enciclopedia.itaucultural.org.br/termo907/
Vozes do passado. d) Porque, provavelmente, eles presenciaram e foram vítimas da conquista espanhola de
arte-pre-colombiana. Acesso em:
31 ago. 2022. a) O texto pode ser classificado como historiográfico ou literário? Tenochtitlán.
b) Identifique e copie em seu caderno o trecho em que se diz que a conquista da capital asteca
pelos espanhóis trouxe também problemas de saúde pública.
c) Transcreva um trecho do poema em que se percebe que seus autores eram astecas.
d) O texto é inspirado em um fato real. Tente responder: por que seus autores são tão convin-
centes na descrição dos fatos?
e) Elabore, com suas palavras, um pequeno texto sobre o que a conquista da capital asteca
significou para seus habitantes. Vozes do passado. e) Produção pessoal.

188

AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 188 02/08/22 19:26 AV-

188

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 188 01/09/2022 08:57


Vozes do presente
Professor, valorizar o prota-
gonismo dos indígenas e seus
Vozes do presente líderes pode contribuir para
desfazer o mito de que a con-
Houve um povo indígena, os mapuche, que nunca foi conquistado pelos espanhóis. quista espanhola da América
Esse povo habitava, e ainda habita, onde hoje é o sul do Chile. Leia o texto a seguir. foi rápida e fácil.

Luan-Taru – O grande herói mapuche TEXTO DE APOIO


Assim que desembarcaram na parte leste do que hoje é América do Sul, os espa-
O povo Mapuche segue
nhóis iniciaram suas guerras de conquista [...]. A região mapuche [...] logo passou a em luta
ser também espaço da cobiça. Muitas foram as batalhas entre eles e os invasores.
Pouca gente sabe, mas existe
Numa dessas escaramuças,, em 1546, um menino mapuche [...] foi capturado pelas um povo que nunca foi conquis-
tropas inimigas. Seu nome era Luan-Taru [...], que na língua mapundungun queria tado pelos espanhóis aqui na
dizer “veloz”. Ele tinha pouco mais de 11 anos e foi levado para América Latina. Com a chegada
servir ao comandante Pedro Valdívia. Durante muito tempo Escaramuça: pequeno dos brancos europeus, civiliza-
duelo dentro de uma ções complexas foram dizima-
participou das batalhas, cuidou dos cavalos, [...] e aprendeu
batalha maior. das, estados foram destruídos,
táticas militares. [...] nacionalidades extintas. Mas, o
COLEÇÃO PARTICULAR povo que habitava as margens
dos rios Biobío e Toltén, no que
é hoje o sul do Chile, nunca se
deixou vencer, nem mesmo pe-
los incas que, antes da domina-
ção espanhola, também chega-
ram a conformar o império do
Tawantinsuyo.
Ao longo de 300 anos de in-
vasão europeia, este povo guer-
reiro enfrentou com valentia e
audácia a fúria dos espanhóis
até ser reconhecido como um
estado autônomo dentro do
imenso território conquistado.
São os Mapuche, palavra que
designa “gente da terra”, na
língua mapudungun.
mapudungun. Nesses
séculos todos em que reinaram
Espanha e Portugal aqui por
estas terras, os mapuche resis-
tiram altivamente a qualquer
investida, chegando a usar, com
sucesso, táticas de espionagem
bastante eficazes. Além disso,
incorporaram as novidades das
forças produtivas inimigas para
fortalecer a sua defesa.
O jovem Luan-Taru, representado em parte de um painel de Pedro Subercaseaux, início do século XX. [...] Nunca vencidos, os mapu-
che enfrentam com a mesma
189 dignidade ancestral os novos
desafios que se apresentam. [...]
TAVARES, Elaine. O povo Mapuche
segue em luta. Instituto de Estudos
19:26 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 189 02/08/22 19:26 LatinoAmericanos. Florianópolis, 15 jan.
2015. Disponível em: https://iela.ufsc.br/
noticia/o-povo-mapuche-segue-em-luta.
Acesso em: 10 ago. 2022.

189

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 189 01/09/2022 08:57


ENCAMINHAMENTO
Professor, no capítulo 9, va-
mos trabalhar o processo de
colonização na América por- No ano de 1552 Luan-Taru montou num cavalo e deu de rédea Originário: nativo.
tuguesa. Na página a seguir: pelo campo afora. [...] Ele imediatamente se apresentou diante dos Encantou: faleceu.
• Explorar mapa da página chefes mapuche e ofereceu-se para ensiná-los a lutar. Mostrou o
identificando as relações co- cavalo – até então desconhecido pelos originários – ensinou-os a montar e a tal ponto
merciais entre os povos nati- que os mapuche tornaram este animal quase como uma parte do seu ser.
vos e os europeus.
[...] Luan-Taru ainda os ensinava a lutar em campo aberto, introduzia novas armas,
• Comentar que os mercado-
mostrava as técnicas de guerra aprendidas com os espanhóis [...]. Tamanha foi a lide-
res portugueses obtinham o
rança deste jovem mapuche que em pouco tempo era escolhido como o Toqui (chefe
pau-brasil mediante o escam-
bo (comércio feito sem o uso máximo na guerra).
de dinheiro) com os tupini- [...] Sob a liderança do jovem Toqui, os mapuche enfrentaram por anos, sem fra-
quins. Estes forneciam a ma- quejar, as tropas espanholas. A palavra de ordem que movia as gentes [mapuches] era
deira que eles próprios ha- o seu grito de guerra: “adiante, mapuches, vamos tomar Madrid”. Ele não chegou a
viam cortado e transportado Madrid, mas tampouco foi vencido em batalha. Sua morte se deu num acampamento
por vários quilômetros até o perto do Rio Maule. Luan-Taru descansava nos braços da sua mulher, Guacolda, numa
litoral, e, em troca, recebiam
tenda de campanha. Emboscado por uma pequena tropa liderada por Francisco de
dos portugueses machados,
Villagra, ele foi surpreendido e transpassado por uma lança, no ano de 1557. O jovem
facas, canivetes, espelhos e
outros produtos úteis a eles. Toqui encantou,, mas a luta mapuche não acabou. Como um verdadeiro mestre ele
havia ensinado seu povo, e a resistência seguiu pelos 300 anos afora.
O objetivo da página de
abertura do capítulo é esti- TAVARES, Elaine. O povo Mapuche segue em luta. Instituto de Estudos Latino-americanos.
Florianópolis, 15 jan. 2015. Disponível em: http://www.iela.ufsc.br/noticia/o-povo-mapuche-segue-em-luta.
mular o interesse do alunado Acesso: 9 jun. 2022.
pelos primeiros contatos en-
Vozes do presente. a) O texto trata da resistência mapuche aos
tre portugueses e indígenas a a) Qual é o assunto do texto? conquistadores espanhóis e da liderança do Luan-Taru nesse processo.
partir de um registro da época
b) O que mais chamou sua atenção na história de Luan-Taru? Vozes do presente. b) Resposta pessoal.
(1556).
O mapa representa um mo- c) Copie em seu caderno a alternativa correta. Luan-Taru contribuiu com seu povo:
mento da relação entre indíge- I. ensinando os espanhóis sobre a utilização do cavalo como arma de combate e aprendendo
nas e portugueses; nem o úni- com eles táticas de guerra indígenas.
co, nem o derradeiro, como se II. apresentando o cavalo aos chefes mapuche e aprendendo com eles táticas de guerra
indígenas.
verá neste capítulo.
5. Comentar com os alunos III. ensinando aos mapuche a utilização do cavalo como arma de combate e as técnicas de
guerra aprendidas com os espanhóis. Vozes do presente. c) Alternativa III.
que, inicialmente, na época do
IV. aprendendo com os mapuche táticas de guerra indígena e ensinando-os sobre a utilização
escambo, os portugueses esta-
do cavalo como arma de combate.
beleceram relações amigáveis
V. convencendo seu povo a resistir aos espanhóis enquanto não recebiam ajuda dos povos
com alguns grupos de indíge-
mexicas.
nas e entraram em atrito com Vozes do presente. d) Resposta pessoal.
outros. Com o início da ocu- d) Por que será que a resistência indígena é um assunto pouco conhecido na escola?
pação econômica das terras e) Luan-Taru, líder guerreiro do povo mapuche, morreu em uma emboscada, mas sua imagem
americanas e a montagem de e sua luta continuam vivas na lembrança do povo chileno. Pesquise e escreva no caderno
engenhos, os portugueses pas- sobre a história de Luan-Taru, com destaque para sua atuação à frente do povo mapuche na
resistência aos espanhóis. Vozes do presente. e) Produção pessoal.
saram a capturar e a escravizar
indígenas, de modo que as rela-
ções entre eles se tornaram pre-
190
dominantemente conflituosas.
• Aprofundar o assunto aces-
sando o texto: COLONIZA- AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C08-LA-G24.indd 190 02/08/22 19:26

DORES, colonos e coloniza-


dos. MultiRio, Rio de Janeiro,
c1995-2022. Disponível em:
http://www.multirio.rj.gov.
br/historia/modulo01/colo-
nizados.html. Acesso em: 10
ago. 2022.

190

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C08-MP-G24.indd 190 01/09/2022 08:57


a guerra pela posse da ter-
ra entre os tupinambás e
CAPÍTULO os portugueses (Guerra de
Itapuã) e da resistência dos

9
tupinambás de Olivença aos
AMÉRICA PORTUGUESA: portugueses que invadiram
suas terras.
COLONIZAÇÃO • Compreender os desafios da
monarquia portuguesa ao se
decidir pela colonização das
terras brasileiras.
• Conhecer o engenho e o
O mapa a seguir é de 1556. Observe-o com atenção. modo de produção do açú-
car na Colônia.

COLEÇÃO PARTICULAR
• Refletir sobre a relação entre
a chegada dos africanos e a
economia açucareira.
• Evidenciar a importância do
mercado interno e da produ-
ção de alimentos na econo-
mia colonial.
• Evidenciar a complexidade
da sociedade colonial açuca-
reira.
• Debater a tese de que a es-
cravidão no Brasil colonial
foi mais “amena” do que em
outras partes da América.

Os objetivos visam con-


tribuir para a compreensão
das relações entre os portu-
gueses e os povos indígenas
e os impactos da conquista
para as populações amerín-
dias que resistiram à ocupa-
1. Um europeu fazendo escambo com um indígena, que recebe
1. O que se vê na cena circulada em vermelho? um objeto, provavelmente um cálice, em troca do pau-brasil. ção de suas terras pelos por-
tugueses. Assim, pretende-
2. E na cena circulada em verde, o que se vê? 2. Indígenas cortando pau-brasil.
mos favorecer o desenvol-
3. O que se observa na cena circulada em azul? 3. Indígenas transportando pau-brasil. vimento das competências e
4. E no mar, o que se vê? 4. Navios portugueses chegando para realizar o escambo. das habilidades propostas.

5. Será que a relação entre portugueses e indígenas foi amigável como na cena mostrada no mapa?
6. Será que os indígenas aceitaram pacificamente dividir com os portugueses as terras onde viviam?
BNCC
5. Não, ela variou no tempo e no espaço. • Competências gerais: 1, 2, 3,
6. A reação dos indígenas à presença europeia em suas terras não foi uniforme nem homogênea. Em
alguns lugares foi de convivência; em muitos outros, porém, foi de resistência e de rejeição ao colonizador.
191 4, 5, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
2, 3, 4, 5 e 6.
OBJETIVOS
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 191 os portugueses e os povos indígenas
03/08/22 nas
10:02 • Habilidades: EF07HI08,
terras onde hoje é o Brasil. EF07HI09 e EF07HI10.
• Conhecer alguns povos indígenas que aqui • Identificar os motivos da colonização da
viviam nos tempos de Cabral. América portuguesa.
• Trabalhar as representações que os portu- • Compreender o funcionamento das ca-
gueses construíram a respeito da América pitanias hereditárias, governos-gerais e
e dos ameríndios por meio da leitura e da câmaras municipais, destacando o poder
análise da carta de Caminha. dos “homens bons”.
• Compreender os mecanismos de alianças, • Trabalhar o bloco conceitual dominação
confrontos e resistência nas relações entre e resistência usando como matéria-prima
191

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 191 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
Dialogando. c) Comentar
que as diferenças entre portu-
gueses e indígenas no tocante
à língua, às vestimentas e aos
O encontro
adornos refletem seu perten-
Os povos tupis expandiam-se pelo litoral quando a esquadra de Tupiniquim: grupo
cimento a diferentes culturas.
Cabral chegou à atual cidade de Porto Seguro, na Bahia, em 22 de abril Tupi que habitava
•Aprofundar o assunto com a onde hoje é Porto
de 1500. O que será que os tupiniquins pensaram quando viram os Seguro, na Bahia.
leitura do texto: SILVA, Ma- portugueses chegando às terras habitadas por eles?
ria Beatriz Nizza da. A carta- Os tupiniquins estranharam quase tudo: as enormes embarcações, as roupas, as botas,
-relatório de Pero Vaz de Ca-
os chapéus, as armas e a língua daqueles homens de pele branca e face rosada. Os
minha. Ide, São Paulo, v. 33,
portugueses, por sua vez, também estranharam os tupiniquins. Esse estranhamento ficou
n. 50, p. 26-35, jul. 2010.
registrado na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
A leitura e a interpretação
desse trecho da carta de Cami-

COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


nha podem contribuir para o

BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


Gravura retratando
desenvolvimento da habilida-
Francisco de Almeida
de EF07HI10. (1450-1510), nobre,
• Tema Contemporâneo Trans- soldado e explorador
português.
versal: o trabalho com a carta
de Caminha favorece o tema Gravura retratando
chefe indígena,
educação para a valorização
de Garnier Frères, 1876.
do multiculturalismo nas
matrizes histórias e cultu-
rais brasileiras, da macroárea
multiculturalismo. A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura [...]; e nisso têm tanta ino-
cência como têm em mostrar o rosto [...].
TEXTO DE APOIO [...] Os cabelos [...] são corredios [...] de boa grandura e rapados até por cima das orelhas.
Essa terra, Senhor, [...] é toda praia [...] e muito formosa [...]. Até agora não pudemos
A carta de Pero Vaz de
Caminha: como interpretar saber se haja ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal. [...] Contudo a terra em si é
nosso primeiro documento de muitos bons ares. [...] As águas são muitas, infinitas [...].
Trechos da carta de Pero Vaz CASTRO, Therezinha de. A Carta de Caminha. In: CASTRO, Therezinha de.
História documental do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995. p. 29, 34-35.
de Caminha para informar o rei
b) O fato de andarem nus e não se envergonharem disso.
Manuel I sobre a existência do
Brasil são a base para um estudo Inicialmente, essa parte da América Dialogando a) Como pessoas bonitas, com
mais rico da nossa História, que não despertou o entusiasmo dos portugue- “bons rostos e bons narizes”.
prevê a análise de fontes de di- ses. Em primeiro lugar, porque nelas não a Como os indígenas foram descritos por Caminha?
versas origens. encontraram ouro nem prata; em segundo b O que Caminha estranhou nos tupiniquins?
Cena 1: portugueses e indíge- lugar, porque vinham tendo lucros enormes c E os tupiniquins, o que estranharam nos
nas se encontram pela primeira
com o comércio de especiarias (pimenta, portugueses?
vez, no litoral sul da Bahia. Cena
2: depois de momentos de he- cravo, canela, noz-moscada, gengibre etc.) d E a terra onde hoje é o Brasil, como foi descrita
sitação, os dois grupos trocam provenientes da África e das Índias. por Caminha?
objetos, prática que se tornaria c) O modo de falar e de se vestir dos portugueses (cobertos da cabeça aos pés), que
uma das mais emblemáticas ao 192 era muito diferente do dos indígenas.
d) Como formosa, de “muitos bons ares” e com águas “infinitas”.
longo da colonização portugue-
sa. Os episódios são narrados
por Pero Vaz de Caminha (1450-
1500), escrivão da esquadra de A carta, hoje guardada
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 192 no Arquivo Nacional contato das crianças com a formação do Brasil. 03/08/22 10:02 AV-

Pedro Álvares Cabral (1467/68- da Torre do Tombo, em Lisboa, pode ser tra- Contribui, ainda, para iniciar um processo de
1520) no primeiro registro es- balhada em classe desde os anos iniciais do aprendizagem com base em inferências sobre
crito do país. Ele inclui muitos Ensino Fundamental. “Nessa etapa da escola- documentos e outras fontes. [...] Essa proposta
outros detalhes da chegada dos ridade, o mais indicado é apresentar trechos de trabalho, que aproxima os alunos dos pro-
portugueses ao Brasil e revela selecionados previamente, de acordo com os cedimentos de trabalho de um historiador, é a
episódios do cotidiano de perso- objetivos do professor, e propor uma discus- perspectiva atual no ensino da disciplina des-
nagens que ficaram para a His- são”, explica a historiadora Isabel Barca, do- de os anos iniciais. [...]
tória, como Cabral e o próprio cente da Universidade do Minho, em Portu-
SCAPATICIO, Márcia; NICOLIELO, Bruna.
autor da carta, e de pessoas co- gal, e autora de livros didáticos e orientações A carta de Pero Vaz de Caminha: como interpretar
muns – tripulantes dos barcos, curriculares que propõem a leitura e a análise nosso primeiro documento. Nova Escola,
por exemplo – à época [...]. da carta. O documento permite um primeiro São Paulo, n. 155, p. 1-6, 1 set. 2012. p. 1-2.
192

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 192 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Informar que, no primeiro
contato com as terras ame-
Expedições, feitorias e pau-brasil ricanas, os portugueses não
encontraram os metais pre-
ciosos que tanto cobiçavam,
Nos primeiros contatos com a nova terra, os portugueses não Pau-brasil: as árvores de conforme informou Pero Vaz
acharam ouro nem prata, mas encontraram uma árvore típica da pau-brasil chegavam a ter de Caminha em carta ao rei
um metro de diâmetro na de Portugal, tampouco espe-
Mata Atlântica: o pau-brasil
pau-brasil,, que tinha valor comercial, pois era base e de 20 a 30 metros de
usado na Europa para tingir tecidos e construir móveis e casas. Seu altura (o equivalente a um ciarias com grande aceitação
edifício de 8 andares). na Europa, como as africanas
tronco tem cor de brasa; daí o nome pau-brasil.
e as orientais.
Ao saber da existência do pau-brasil, o rei de Portugal auto- Feitoria: armazém
fortificado no qual era • Esclarecer que, para melhor
rizou a construção de feitorias para armazenar e comercializar a guardada a madeira até conhecer a nova terra, a Co-
valiosa madeira. Eram os indígenas que cortavam e transportavam que as naus chegassem roa portuguesa enviou para
para buscá-la.
os troncos até as feitorias erguidas no litoral. Lá, realizava-se a cá expedições exploradoras
troca: os indígenas davam aos portugueses as toras da madeira e recebiam em troca e de reconhecimento, que
colares, facas, machados, espelhos (objetos úteis a eles, em geral). Esse tipo de troca de confirmaram a existência de
pau-brasil, árvore típica da
um produto por outro é chamado de escambo..
Mata Atlântica.
• Conhecer o que diz J. Capistra-
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

no de Abreu sobre o assunto:


O pau-brasil reconheceu-se logo
no litoral de Paraíba e Pernam-
buco, nas cercanias do rio Real,
do Cabo Frio ao Rio de Janeiro;
naturalmente, seriam logo estes os
trechos mais frequentados destes
primeiros portugueses [...].
Para facilitar os carregamen-
tos, estabeleceram-se feitorias,
de preferência em ilhas; deviam
Mapa ilustrado português de ser caiçaras ou cercas, próprias
1565 representando a América apenas para guardarem os gêneros
portuguesa. Nele, vê-se um indígena de resgates; algumas sementes de
erguendo o machado como quem além-mar podiam ser plantadas
vai cortar o pau-brasil e uma à roda, e soltos alguns animais
indígena com uma criança no colo. domésticos de fácil reprodução. [...]
ABREU, Capistrano de. Capítulos da história
colonial. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisas Sociais, 2009. p. 25-26.

melhor seria preparar a madeira


antes de embarcá-la. Toda a pro-
dução dependeria de uma relação
amistosa com os indígenas, não
apenas para assegurar a troca,
mas sobretudo para o abate das
árvores (na escala desejada) e o
seu aparelhamento, o que exigia
193 a incorporação pelos nativos de
instrumentos de metal e novas
técnicas de trabalho. As autori-
dades coloniais (feitores, gover-
10:02 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 193 TEXTO DE APOIO Império sobre o comércio marítimo”. A conquista
03/08/22 10:02
nadores, capitães) deveriam ter
de territórios, que foi um segundo momento na
A leitura e a interpretação deste texto Índia e também no Brasil, era apenas um meio um bom relacionamento com os
contribuem para os estudantes desenvolve- de assegurar a supremacia marítima, assim como indígenas, e os “lançados” (degre-
metais preciosos poderiam vir a ser um facilitador. dados, desertores ou náufragos)
rem a habilidade EF07HI08.
desempenhariam importante
Logo na primeira expedição de reconhecimen-
América portuguesa: primeiros tempos papel.
to, comandada por Gonçalo Coelho em 1501, a
A experiência portuguesa na América foi muito riqueza da nova terra foi identificada como o OLIVEIRA, João Pacheco de. Os indígenas
diversa da espanhola. Alusões a metais precio- na fundação da colônia: uma abordagem
pau-brasil, árvore que possuía um similar asiático
crítica. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro;
sos não se confirmaram ao longo de quase dois e da qual se extraía a tintura para a indústria de GOUVÊA, Maria de Fátima (org.). O Brasil
séculos. O objetivo que movia a colonização por- tecidos. Era encontrado com abundância em todo colonial: 1443-1580. Rio de Janeiro:
tuguesa no século XVI “não eram as terras, mas o o litoral, mas ao invés de transportá-lo in natura Civilização Brasileira, 2014. v. 1. p. 178.
193

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 193 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Facilitar a compreensão com
base na obra Fundação de
São Vicente, de Benedito
Calixto, de que, quase sem-
A disputa pela Nova Terra
pre, uma pintura histórica Logo, os franceses também passaram a frequentar o litoral brasileiro e, por meio de
representa mais a época em
alianças com os tupinambás, inimigos dos tupiniquins, levavam daqui grandes carregamen-
que foi produzida do que a
tos de pau-brasil. Diante da ameaça francesa, a monarquia portuguesa reagiu enviando
época a que se refere.
ao litoral brasileiro duas expedições comandadas por Cristóvão Jacques. Mas logo concluiu
que era impossível policiar um litoral tão extenso como o de sua colônia na América.
Imagens em movimento Assim, por medo de perder a terra para os franceses e pelo interesse em fazê-la produzir
riquezas, o rei D. João III (1502-1557) decidiu colonizar o território conquistado. Para isso,
Esta minissérie possibilita
enviou para cá, em 1530, uma expedição colonizadora..
saber mais sobre a presença
francesa no Brasil. A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa combateu os franceses; explo-
rou o litoral brasileiro; e, em uma área habitada por indígenas guaianases e carijós, fundou
• VERMELHO Brasil. Direção: São Vicente (1532), a primeira vila do Brasil. Ali mandou erguer uma capela e o primeiro
Sylvain Archambault. Brasil,
engenho, destinado à produção de açúcar.
França, Canadá e Portugal,
MUSEU PAULISTA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SP /ÓLEO SOBRE TELA
2014. (99min).

TEXTO DE APOIO
Portugueses e franceses
[...] no início, o contato português
com o Brasil limitou-se a uma
série de feitorias, semelhantes
às da costa africana; no entanto,
durante o século XVI várias pres-
sões internas e ameaças externas
obrigaram os portugueses a iniciar
a colonização e o povoamento.
Era necessário dar atenção ime-
diata à ameaça externa, sempre
mais preocupante na costa leste
do que em qualquer outra região
ibero-americana. Ainda mais séria
era a presença de franceses. Pe-
quenos navios particulares que
partiam de portos na Normandia e
na Bretanha começaram a aparecer Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto, 1900. A tela de Calixto pode ser vista como
na costa já em 1504. Financiados uma homenagem à chegada dos portugueses. O pintor opõe as roupas volumosas, capacetes
por mercadores e sem apoio real, e espadas dos europeus às peles, plumas e flechas dos indígenas. Gestos, poses, bandeira,
estes navios estavam envolvidos cruzeiro... Tudo sugere a ideia de que os portugueses viriam a ser os novos senhores da terra.
principalmente com o comércio do O pintor omitiu as tensões e lutas entre os indígenas e os colonizadores. Sua obra serve
pau-brasil. A corte francesa nunca para representar não o século XVI, quando se deu a fundação de São Vicente, mas o final do
aceitara realmente os alegados século XIX, quando a história oficial procurava mostrar um Brasil independente de Portugal e
direitos da Espanha e Portugal ao reconciliado com ele.
domínio do mundo fora da Europa,
e mercadores e marinheiros france- 194
ses dispunham-se ainda menos a
reconhecer as pretensões ibéricas.
Dizia-se com ressentimento que o
mundo não era suficientemente para si, os franceses eram
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 194 invasores, pouco Naquele ano, outra expedição naval foi despachada 03/08/22 10:02 AV-

grande para os portugueses, com melhores que piratas. As queixas diplomáti- com instruções para expulsar os franceses da costa e
cas à corte francesa tiveram pouco resultado continuar a exploração. Além disso, esta grande frota
queixas de que “quando navegam
por causa da natureza privada da presença da também levava homens e materiais necessários para
ao longo de uma costa, declaram
França, e os portugueses recorreram à ativi- criar uma povoação permanente. O comandante,
ter posse dela e consideram-na
dade militar organizada. Algumas expedições Martim Afonso de Sousa, recebeu amplos poderes
uma conquista”.
jurídicos e administrativos para executar as metas
A competição foi feroz. Ambos os navais limparam a costa de navios franceses,
colonizadoras da expedição. Depois de viajar pela
lados fizeram alianças e acordos mas depois de cada onda os franceses voltavam.
costa e capturar várias naus francesas, Martim Afonso
comerciais com grupos indígenas Em 1530, ficou claro que Portugal tinha que fundou [...] São Vicente, em 1532. [...]
enquanto atacavam os fortes e decidir: ou tomava posse do Brasil de modo
SCHWARTZ, Stuart B.; LOCKHART, James.
navios dos rivais. Do ponto de vista mais permanente ou perdia sua terra para os A América Latina na época colonial.
de Portugal, que exigia o Brasil ativos rivais europeus. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 220-221.
194

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 194 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que, durante sua
longa história, o Império
As capitanias hereditárias Português – que abrangia
Capitania hereditária: terras como Macau, na Chi-
Para dar continuidade à colonização da América portuguesa, o unidade administrativa
cujas terras continuavam
na; Goa, na Índia; Angola, na
rei de Portugal dividiu o território colonial em 15 imensas faixas de
pertencendo a Portugal. África; e Brasil, na América –
terra, as capitanias hereditárias,
hereditárias, e entregou sua administração a adotou diferentes formas de
Sesmaria: lote de terras
12 homens, os capitães donatários. Por meio da carta de doação,, pertencente a Portugal administração das suas colô-
o rei de Portugal concedia o cargo de donatário, e por meio do e destinada ao cultivo
nias. A primeira delas foi o
agrícola.
foral estabelecia seus direitos e deveres. sistema de capitanias heredi-
tárias, utilizado inicialmen-
Os deveres dos donatários eram: te nas ilhas portuguesas do
• desenvolver o cultivo de cana-de-açúcar na capitania; oceano Atlântico e, depois,
• expandir a fé cristã; no Brasil e em Angola.
• organizar a defesa militar; • Refletir sobre o texto a se-
• estimular a ocupação portuguesa da terra.
guir.
Apesar dos vários atrativos das
Os direitos dos donatários eram: capitanias hereditárias brasilei-
ras, os grandes nobres e mag-
• retirar para si a vintena (5% do negócio do pau-brasil); natas de Portugal não ficaram
• cobrar impostos em rios e portos; muito interessados. Portanto, os
Capitanias hereditárias (1534-1536) que receberam as concessões
• julgar os crimes dos habitantes da capitania,
eram fidalgos menores, gente

ALLMAPS
40ºOO
40º
com poderes para condenar à morte indíge- Equador da pequena nobreza da corte de

nas, negros e homens livres pobres; Lisboa, alguns burocratas reais e
• conceder sesmarias
sesmarias,, terras do tamanho de um bom número de pessoas que
DISTRIBUÍDAS

MARANHÃO 1
MARANHÃO 2

haviam lutado nas conquistas


TERRAS NÃO

uma fazenda, a quem tivesse recursos para


CEARÁ

RIO GRANDE DO NORTE 1


PIAUÍ portuguesas na Índia. Martim
RIO GRANDE
produzir riquezas; DO NORTE 2 Afonso de Souza e seu irmão re-
• ter uma grande sesmaria. ITAMARACÁ ceberam, cada um, duas conces-
sões, mas eram praticamente os
O sistema de capitanias hereditárias foi PERNAMBUCO
únicos donatários com experiên-
utilizado inicialmente na Ilha da Madeira e, cia anterior no Brasil. A maioria
BAHIA
depois, no Brasil e em Angola. não dispunha de conhecimentos,
Tordesilhas

OCEANO
ILHÉUS ATLÂNTICO contatos ou recursos financeiros
para fazer de suas capitanias um
PORTO SEGURO
sucesso. [...]
O mapa ao lado, redesenhado pelo engenheiro ESPÍRITO SANTO
SCHWARTZ, Stuart B.; LOCKHART, James.
Jorge Cintra, representa as capitanias do A América Latina na época colonial. Rio
norte da colônia divididas de forma vertical e SÃO VICENTE 1 SÃO TOMÉ de Janeiro: Civilização Brasileira,
2002. p. 224.
não horizontal, como se pensava. SANTO AMARO
Trópic
o de Ca
SÃO VICENTE 2 pricór
n io
SANTANA
0 320

Elaborado com base em: MELO, Alice. Uma questão de


limites. Revista de História da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro, ano 10, n. 108, p. 12, set. 2014.

195

10:02 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 195
b) Deveres: cuidar da defesa das terras; expandir a fé cristã;
03/08/22 10:02
desenvolver a agricultura da cana-de-açúcar na capitania. Di-
Sobre as capitanias hereditárias, responda:
reitos: 5% do negócio do pau-brasil; escravizar e vender in-
a) O que eram e a quem foram entregues?
dígenas; cobrar impostos em rios e portos; fundar vilas; doar
b) Quais eram os direitos e os deveres dos donatários? sesmarias.
c) O que eram as sesmarias e para quem foram doadas? c) As sesmarias eram grandes fazendas, latifúndios. Foram
Respostas: doadas a homens com capital suficiente para cultivar a cana
a) Eram 15 imensas faixas de terra que foram entregues e fabricar o açúcar. Professor, comentar com os alunos que a
aos capitães donatários, homens de confiança do governo intenção do governo português era a de que os sesmeiros o
português ou enriquecidos pelo comércio com a África e o ajudassem a realizar seu projeto de buscar na América novas
Oriente. fontes de riqueza.
195

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 195 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, em pouco
tempo, o sistema de capita-
nias deu sinais de crise, ex- Poucas capitanias tiveram o sucesso esperado. A maioria delas fracassou pelas seguin-
cetuando-se Pernambuco tes razões:
(Nova Lusitânia), Bahia e São • falta de recursos de alguns donatários;
Vicente, que progrediram • grande extensão de terras a serem administradas;
embaladas pela produção
• falta de comunicação entre elas;
do açúcar.
• resistência dos indígenas à ocupação de suas terras;
• Trabalhar com os alunos as
razões do fracasso das ca- • ataques de corsários.
pitanias, tais como: falta de Além disso, alguns donatários nem chegaram a vir para a América. Outros foram
recursos para o progresso e a mortos em combate com os indígenas.
defesa da capitania; grande Inicialmente, apenas Pernambuco e São Vicente prosperaram. Posteriormente, a Bahia
extensão das terras; falta de também se desenvolveu, em virtude da cana-de-açúcar. Entre os fatores que contribuíram
comunicação entre as capi- para o sucesso da produção açucareira onde hoje é o Nordeste estão: a fertilidade do solo,
tanias; resistência indígena o clima adequado ao cultivo de cana e a relativa proximidade com a Europa.
à escravização e à ocupação
de seu território; e ataques
MOZART COUTO

de corsários.
O estudo das capitanias he-
reditárias – com ênfase na re-
sistência indígena – contribui
para o desenvolvimento da
habilidade EF07HI09.

Esse desenho
é um esforço
para nos
TEXTO DE APOIO ajudar a
imaginar o
O texto a seguir é da douto- que pode
ra em História pela UFF, Elisa ter sido a
Frühauf Garcia. resistência
dos povos
Solução caseira tupis.
Tão logo fizeram os primeiros
contatos na costa brasileira, os
portugueses começaram a car-
regar suas embarcações com
mercadorias extraídas da nova
terra para serem levadas à Eu-
ropa. Entre elas, o pau-brasil,
animais exóticos e... índios. Em
pouco tempo, tornou-se comum
encontrar escravos indígenas
nas ruas de Lisboa e arredores,
principalmente nos serviços 196
domésticos. Eles também eram
vendidos na Espanha e em seus
domínios.
Transformá-los em escravos
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 196 era uma tarefa Se a princípio chegou a existir um frágil equi- 03/08/22 10:02 191
Quando os portugueses deram
difícil e arriscada. A presença portuguesa no líbrio entre índios e portugueses, ele logo se
início às atividades produtivas
Brasil e a ocupação das novas terras dependiam rompeu. [...]
no Brasil, a partir da criação das
capitanias hereditárias, deci- do apoio da população nativa. Para defender tão GARCIA, Elisa Frühauf. Solução caseira. Revista de História da
diram utilizar os índios para o vasto território, a Coroa precisava dos índios Biblioteca Nacional, [s. l.], ano 8, n. 91, abr. 2013.
trabalho escravo. Sem recurso como aliados militares contra os concorren-
para importar africanos e sem tes europeus (no século XVI, especialmente os
as condições necessárias para o franceses). Eles também eram úteis para com-
emprego de mão de obra assa- bater grupos indígenas rivais que atacavam os
lariada, os indígenas acabaram incipientes núcleos coloniais, além de fornece-
sendo a base da formação da rem informações e alimentos indispensáveis à
economia colonial. sobrevivência em uma terra mal conhecida.
196

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 196 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Informar que, diante desse
malogro (sistema descen-
O Governo-Geral tralizado), a Coroa decidiu
implantar, em 1548, um sis-
tema centralizado: o Gover-
Diante do fracasso da maioria das capitanias, o rei de Portugal decidiu centralizar a
no-Geral.
administração, criando, em 1548, o Governo-Geral. Parte do poder dos donatários passava
• Esclarecer que as capitanias
para o governador-geral. Os governadores eram, geralmente, homens que tinham prestado
continuaram existindo, mas
serviços ao Império Português na África ou no Oriente, ou eram parentes de pessoas
que passaram a ser subor-
influentes. Assim, formaram-se, pouco a pouco, no interior do Império Português, redes dinadas ao Governo-Geral,
de poder baseadas no favor, no parentesco e em interesses particulares. principal representante do
Em março de 1549, chegou à Bahia o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa,, rei de Portugal no Brasil.
acompanhado de três auxiliares: o capitão-mor, que cuidava da defesa; o ouvidor-mor, encar- • Destacar que, por sua posição
regado da justiça; e o provedor-mor, responsável pelas finanças. Com eles vieram também geográfica estratégica, o rei
funcionários, carpinteiros, soldados e jesuítas, religiosos chefiados pelo padre Manoel da Dom João III escolheu a Bahia
Nóbrega. Tão logo chegaram, os portugueses guerrearam contra os indígenas que resistiam para sede do Governo-Geral.
à ocupação portuguesa. Após vencê-los, apossaram-se de suas terras e nelas construíram e • Aprofundar o assunto com a
fundaram, naquele mesmo ano, a cidade de São Salvador, primeira capital do Brasil. leitura do texto: CAMARGO,
As primeiras casas da cidade eram todas muito simples. Essas casas e os armazéns Angélica Ricci. Governador-
ficavam na parte baixa da cidade, onde hoje é o bairro do Comércio. A casa do governador geral do Estado do Brasil.
e a casa da Câmara Municipal ficavam na parte alta, onde estão hoje a Praça Municipal, Arquivo Nacional Mapa. [S. l.],
a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e o Terreiro de Jesus. 10 nov. 2016. Disponível em:
http://mapa.an.gov.br/index.
php/dicionario-periodo-
Salvador: planta da cidade (1549) colonial/196-governador-

ALLMAPS
G geral-do-estado-do-brasil.
J
M Acesso em: 10 ago. 2018.
E I
B
B H I
J
B
F D

A
I
A - Palácio do governador
B - Guaritas
J torres e casas-fortes. Todos os
C - Igreja da Ajuda moradores que possuíssem casa,
B
C’ - Palácio do bispo Baía de E
C C’
B terras ou embarcações deveriam
Todos-os-
D - Casa da Câmara -Santos K I dispor de armamento próprio.
E - Igreja da Conceição Ermida
Era rigorosamente interditada a
F - Armazéns
venda aos “gentios” de qualquer
G - Hospital I B
I
H - Portas da cidade I
B tipo de arma defensiva ou ofen-
I - Fosso em torno dos muros siva (arcabuzes, espingardas,
J - Caminho em degraus pólvora e munição, bestas, lan-
K - Caminho em rampa ças, espadas ou punhais). Para a
L - Caminho para a Vila Velha 0 38
L penetração aos sertões através
M - Caminho para o Colégio
dos rios, foi autorizada a cons-
Fonte: SOUSA, Avanete Pereira. Salvador, capital da colônia. trução à custa da Fazenda Real
São Paulo: Atual, 1995. (A vida no tempo do açúcar, p. 6).
de embarcações a remo dotadas
de peças de artilharia.
197 O Regimento recomendava
que se favorecessem os índios
aliados, proibindo sob pena de
10:02 TEXTO DE APOIO
191a219-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 197 cas. O que El Rey tinha em mira era estabelecer
25/08/22 17:13a açoite (ou multa no caso dos
plena e total submissão da população autóctone, que tivessem um estatuto di-
Centralização do poder fazendo a guerra aos que não aceitavam o domí- ferenciado) que os moradores
nio português e retirando aos franceses qualquer fossem nas aldeias para recrutar
[...] Foi delineada [...] para a colônia uma es- respaldo para as suas iniciativas no Brasil. [...] trabalhadores ou para comerciar
trutura governativa mais centralizada, capaz de sem autorização expressa do go-
É possível visualizar com nitidez essa mudan-
intervir nos conflitos locais e diretamente su- vernador. [...]
ça no Regimento de 17/12/1548, formulado para
bordinada à Coroa.
o primeiro governador-geral, Tomé de Souza. Tra- OLIVEIRA, João Pacheco de. Os indígenas
[...] o objetivo básico no Brasil passou a ser o tava-se de fortalecer o poder defensivo dos nú- na fundação da colônia: uma abordagem
controle territorial, criando uma unidade entre crítica. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA,
cleos já existentes, com a fortificação das vilas e
Maria de Fátima (org.). O Brasil colonial:
os núcleos dispersos e vulneráveis e implantando povoações. Os próprios engenhos e fazendas de- 1443-1580. Rio de Janeiro: Civilização
solidamente as suas próprias instituições políti- viam ser dotados de estruturas defensivas, como Brasileira, 2014. v. 1. p. 182-183.
197

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 197 01/09/2022 19:03


Dica de leitura
Este é o volume 1 da coleção
O Brasil colonial, organiza-
da por João Fragoso e Maria Duarte da Costa,, o segundo governador (1553-1558) também veio acompanhado de
de Fátima Gouvêa. Ele reúne vários colonos e de jesuítas. Entre eles estava o padre José de Anchieta, que fundou no planalto
artigos de especialistas sobre de Piratininga, em 1554, o Colégio de São Paulo, origem da vila que, depois, transformou-se
o período compreendido en- na cidade de São Paulo.
tre 1443 e 1580. Além de se- Enquanto isso, D. Álvaro da Costa, filho do governador, liderava uma guerra contra os
rem bem escritos, os artigos tupinambás no litoral baiano. Conhecida como Guerra de Itapuã,, essa luta foi vencida
lançam novos olhares sobre pelos portugueses, que tomaram terras dos nativos e as usaram para erguer engenhos.
temas clássicos, estimulan-
O governador Duarte da Costa deu pouca atenção às capitanias ao sul, e os franceses
do debates historiográficos e
se aproveitaram disso para invadir a Baía de Guanabara, onde fundaram uma colônia
subsidiando a escrita de livros
comercial chamada França Antártica (1555). Lá, com a ajuda dos tupinambás, inimigos
didáticos para o Ensino Fun-
dos portugueses, conseguiram permanecer por 12 anos.
damental.
• FRAGOSO, João; GOUVÊA,
MUSEU DO PÁTEO DO COLÉGIO, SP

Maria de Fátima (org.). O


Brasil colonial: 1443-1580.
Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2014. v. 1.
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

Ao lado, maquete representando a


Vila de São Paulo na época de sua
fundação. Abaixo, vista do Pátio
do Colégio, em São Paulo (SP), em
fotografia de 2016. Nesse local foi
erguida a primeira construção da
atual cidade. O Pátio do Colégio
abriga hoje um museu, uma
igreja, uma biblioteca temática e
importantes projetos sociais.
DANIEL CYMBALISTA/PULSAR IMAGENS

Imagens em movimento
Refletir sobre este docu-
mentário com a mediação do
professor pode ajudar no de-
senvolvimento das habilida-
des EF07HI09 e EF07HI10.
Documentário sobre o povo
Tupinambá.
• DOCUMENTÁRIO Brasil Tupi-
nambá – Dir.: Celene Fonseca.
2022. Vídeo (52min). Publica-
do pelo canal Cambui Produ- 198
ções. Disponível em: https://
youtu.be/IbQctosjaC4. Aces-
so em: 10 ago. 2022. maio desse ano [1554], 198
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd notícias de que os tupi- Numa terceira fase, no ano seguinte, o gover- 03/08/22 10:02 AV-

nambás estariam atacando engenhos e fazendas nador ordenou que fossem destruídas todas as
na margem direita do rio Paraguaçu, pretenden- aldeias em que houvesse cercas (entendidas
TEXTO DE APOIO do reaver terras que lhes haviam sido usurpa- como preparativos bélicos voltados contra os
das. [...] Pouco tempo depois, surgiram notícias portugueses), ao fim de que os tupinambás sub-
A resistência dos de que seis aldeias tupinambás teriam se reuni- meteram-se, jurando lealdade a El Rey e com-
tupinambás do e feito um cerco a um engenho de um dos prometendo-se a pagar tributos. [...]
O avanço da colonização não se mais destacados colonos. A expedição punitiva OLIVEIRA, João Pacheco de. Os indígenas na
faz, porém, sem conflitos e resis- partiu com cerca de 200 homens, também sob o fundação da colônia: uma abordagem crítica.
In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima.
tência por parte dos indígenas. comando de Álvaro da Costa, travando uma ba- O Brasil colonial: 1443-1580.
[...] Chegaram aos ouvidos do talha com cerca de mil tupinambás, que foram Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
governador, Duarte da Costa, em vencidos e tiveram suas aldeias queimadas. 2014. v. 1. p. 194-195.
198

191a219_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 198 03/09/22 11:00


TEXTO DE APOIO
O Estado do Maranhão
De modo a acelerar a incorpo-
Mem de Sá,, o terceiro
BIBLIOTECA DA AJUDA, PORTUGAL

ração do litoral setentrional à


governador (1558-1572), também atividade colonizadora, promo-
guerreou contra grupos indígenas veu-se, em 1621, a divisão da ad-
que resistiam aos portugueses. E, ministração da Colônia em dois
por meio dessas guerras, conse- estados: o Estado do Brasil, que
abrangia as capitanias desde o
guiu terra e escravizados para os Rio Grande até São Vicente, com
engenhos. Além disso, Mem de Sá sede em Salvador; e o Estado do
combateu os franceses, que haviam Maranhão, que reunia os terri-
fundado uma colônia comercial na tórios desde o Rio Grande até o
Grão-Pará, com sede em São Luís.
Baía de Guanabara. Durante esse
combate, Estácio de Sá, sobrinho Recorria-se, mais uma vez, à
fórmula “dividir para povoar; di-
de Mem de Sá, mandou erguer um vidir para dominar” na luta pela
forte no local, que deu origem à manutenção do território.
cidade de São Sebastião do Rio de Na decisão a respeito da cria-
Janeiro (1565). Dois anos depois, os ção do novo Estado, subordinado
franceses foram expulsos dali. diretamente ao Reino, pesou con-
sideravelmente a dificuldade de
comunicação marítima, durante
Primeira carta portuguesa da Baía a maior parte do ano, entre Sal-
do Rio de Janeiro, de Luís Teixeira,
vador e São Luís, devido às cor-
cartógrafo Real, 1573-1578.
rentes marítimas e ao regime de
À esquerda, a recém-criada cidade
ventos do litoral nordestino.
de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Na ocupação do Extremo Nor-
te, a Coroa procedeu, principal-
Em 1621, com o objetivo mente, de três maneiras: pela
Brasil: divisão do território (1621) criação de capitanias reais; pela
de melhorar a defesa e o con-

ALLMAPS
60º O 40º O
criação de novas capitanias he-
trole do território, a monarquia reditárias; e pela catequese, re-
portuguesa dividiu o terri- alizada por diferentes ordens
Equador
tório colonial em duas áreas 0º
Belém religiosas, como as dos jesuítas,
São Luís
administrativas: Estado do carmelitas, franciscanos e mer-
ESTADO DO
cedários.
Maranhão,, com capital em São TERRAS
MARANHÃO
Olinda
Luís (que, em 1751, passaria a
DA
Recife As capitanias, devido a inú-
ESPANHA
10º S
10ºS meras dificuldades, não ex-
se chamar Estado do Grão-Pará Salvador perimentaram progresso sig-
ESTADO
(capital até 1763)
TORDESILHAS

e Maranhão, com capital em DO BRASIL nificativo nem impediram a


Porto Seguro
Belém), e Estado do Brasil,, OCEANO
presença estrangeira naquela
com capital em Salvador. Trópico de São
Vitória ATLÂNTICO imensa área. Os choques e ata-
Capricórnio Paulo
Rio de Janeiro ques contra posições holande-
São Vicente
sas e inglesas, no Xingu e na
costa do Macapá, foram cons-
tantes entre 1625 e 1639.
OCEANO
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício
de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed.
PACÍFICO 0 585 Apenas em 1648, as tropas co-
Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 22. mandadas por Sebastião Lucena
de Azevedo destruíram a última
199 posição holandesa na Amazô-
nia, na região do Macapá.
RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de
Educação. O Estado do Maranhão. Rio de
10:02 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 199 ENCAMINHAMENTO 03/08/22 10:02 Janeiro: MultiRio,c1995-2022. Disponível
em: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/
modulo01/estado_maranhao.html.
• Comentar que o incentivo às rivalidades e disputas entre os povos indígenas foi uma estratégia Acesso em: 10 ago. 2022.
muito usada pelos europeus com o objetivo de dominação e ocupação do território americano.
• Informar que o terceiro governador, Mem de Sá, também se utilizou dessa estratégia e,
aliando-se a grupos como os dos Guainá e dos Temiminó, venceu a Confederação dos Ta-
moios, organização dos nativos revoltados com a dominação portuguesa.
• Esclarecer que, dois anos depois da fundação do Rio de Janeiro, a França Antártica foi ven-
cida e os franceses foram expulsos. Mem de Sá conseguiu, assim, equacionar os problemas
herdados do governo anterior e, quando morreu, em 1572, na Bahia, era um homem rico.

199

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 199 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
Para refletir. e) Espera-se
que os alunos percebam que a
autora quis dizer que, apesar
de muitos terem sido mortos, PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

a luta dos Tupinambá, em de-


fesa de suas terras, continua. A história do povo Tupinambá de Olivença que não está nos livros
• Tema Contemporâneo Trans- Há quinhentos
quinhentos anos [...] os portugueses invadiram nossas terras, deram o nome
versal: a leitura e a interpre- de Brasil a nosso território […] e apelidaram os nativos como índios, achando que
tação desse texto contribuem tinham chegado à Índia. […]
para que os estudantes de-
Hoje estamos exigindo nossos direitos, que sabemos que temos desde muito
senvolvam as habilidades
EF07HI09 e EF07HI10, bem tempo, bem antes da invasão. […]
como o tema educação para Agora os fazendeiros […] falam que vivem nessa terra há Tupinambá: significa
“o mais antigo” ou o
a valorização do multicultu- 80 anos, mas eles esquecem que bem antes de Pedro Álvares
“primeiro” e se refere
ralismo nas matrizes históri- Cabral invadir o Brasil, nós nativos […] tupinambá,, já habitá- a uma grande nação
cas e culturais brasileiras, da vamos essas terras. indígena.
macroárea multiculturalismo. Governo, fazendeiros e coronéis não falam dessa dívida que
Coronel: indivíduo
com poder e influência
têm com o povo Tupinambá de Olivença. Lembremos que, em para controlar as
áreas política, social
1560, Mem de Sá ordenou que matassem todos os Tupinambá e econômica de uma
de Olivença, o que ficou conhecido na história como a Batalha região, geralmente no
interior do país.
dos Nadadores no rio Cururupe, que significa rio dos sapos.
Batalha dos
Mas também ficou conhecido como rio de sangue, porque a Nadadores: travada
água do rio ficou vermelha como sangue. Centenas de corpos também dentro
d’água, na região do
dos guerreiros tupinambás foram colocados enfileirados no Cururupe, em Ilhéus
meio da praia. […] (BA), entre homens
de Mem de Sá e
Mesmo com todo mal que […] fazem contra nós, índios os tupinambás que
Tupinambá de Olivença, eles têm que saber que, das árvores reagiam à destruição
de suas aldeias.
que eles derrubaram, ficaram muitas sementes, e essas semen-
tes brotaram e vêm brotando a cada dia que passa.
TUPINAMBÁ, Kaluanã. A história do povo Tupinambá de Olivença que
não está nos livros. Índios On-line. [S. l.], 22 ago. 2012.
Disponível em: http://www.indiosonline.net/ha-historia-do-povo-tupinamba-de-olivenca-que-nao-esta-nos-livros/.
Acesso em: 9 jun. 2022.

a) Quem é o autor do texto? a) Kaluanã, líder indígena tupinambá.


b) Ele vê como uma invasão das terras indígenas, que
b) Como ele vê a chegada de Cabral?
ele chama de “nossas terras”.
c) Que interesses o autor do texto defende? c) Ele defende os interesses dos indígenas tupinambás
em relação às terras que tradicionalmente ocupam.
d) Que argumentos ele usa em defesa do seu ponto de vista?

e) O que o autor quis dizer no último parágrafo? e) Resposta pessoal.


d) Ele usa dois argumentos: 1: os indígenas já estavam aqui quando Cabral chegou; 2: a dívida que o

TEXTO DE APOIO
200 governo, os fazendeiros e os coronéis têm com o povo Tupinambá de Olivença.

O povo Tupinambá de
Olivença Carta Régia em 1758, com
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 200 sede administrativa a existência dos Tupinambá de Olivença – grupo 03/08/22 10:02 AV-

instalada na Igreja de Nossa Senhora da Escada. indígena anteriormente identificado como “ca-
No final do século XVII, foi
A vila foi caracterizada pelas autoridades pro- boclo”, visto que o conflito de terras na região
fundado, ao sul da capitania
vinciais e locais como indígena, justificada pela gerava o risco de morte ao se autoafirmar in-
de São Jorge dos Ilhéus, o al-
antiga condição de aldeamento e pelo fato de dígena –, e deu início à demarcação de terras
deamento de Nossa Senhora
a maioria dos moradores serem descendentes (questão não resolvida e que ainda hoje engen-
da Escada [...], um espaço de
dos indígenas [...]” dra conflitos entre índios e fazendeiros). [...]
constante luta, resistência e
negociações entre os agentes Contudo, o longo e intermitente processo de PROFICE, Christiana Cabicieri; SANTOS, Gabriel Moreira;
sociais comuns aos aldeamen- expropriação cultural e territorial, caracteri- ALMEIDA, Nathane Matos. As brincadeiras entre crianças
tupinambá de Olivença: tradições passadas por gerações.
tos. Posteriormente, na segunda zado por revoltas e supressão de identidades Zero-a-seis, Florianópolis, v. 16, n. 30,
metade do século XVIII, “A vila étnicas, perdurou até o ano de 2002, quando a p. 259-274, jul./dez. 2014. p. 264.
Nova de Olivença foi criada por Funai (Fundação Nacional do Índio) reconheceu
200

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 200 01/09/2022 19:03


reunindo competências das es-
feras administrativa, judiciária,
fazendária e policial. A primeira
câmara instalada foi a da vila de
São Vicente.
As Câmaras Municipais As câmaras eram instituídas nos
locais com estatuto de vila e po-
Com o avanço da colonização na América portuguesa, o rei de Portugal criou as diam ser criadas por um decreto
real ou por meio de uma petição
Câmaras Municipais, órgãos encarregados de administrar as vilas e cidades brasileiras. dos moradores locais ao rei [...].
Os vereadores das câmaras eram eleitos entre os “homens
“ bons”,
”, isto é, pessoas com Em Portugal, a municipalização do
riqueza e prestígio social, a exemplo dos grandes proprietários de terra e dos grandes espaço político data dos séculos
XII e XIII, com a penetração do
comerciantes. Pesquisas recentes demonstram que era isso que acontecia nas Câmaras
modelo islâmico de organização
Municipais de Salvador, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Além da riqueza e do prestígio, dos quadros administrativos muni-
era preciso ter também “pureza de sangue”: não eram aceitos, por exemplo, descendentes cipais. Nos séculos seguintes, após
de negros nem de judeus. a reconquista cristã do território,
a Coroa passou a supervisionar
Reunidos nas Câmaras, os “homens bons” decidiam, entre outras coisas, sobre: a justiça exercida pelos poderes
• a realização de obras públicas (calçadas, estradas e pontes); locais, em uma tentativa de impor
leis gerais sobre os costumes e
• alguns impostos, a exemplo dos que eram pagos pelos vendedores ambulantes; padronizar o modelo de unidade
• a conservação, limpeza e arborização das ruas; administrativa e judicial de pri-
meira instância. Assim, uma série
• os salários pagos a trabalhadores livres; de oficiais periféricos da adminis-
• o abastecimento de gêneros da terra, como farinha de mandioca. tração real, ligada ao centro por
relações hierárquicas, foi criada
Se por um lado os vereadores dessas câmaras representavam os interesses do rei de
para exercer o controle sobre a
Portugal e tinham de cumprir suas ordens, por outro, por serem habitantes da Colônia, tinham administração local [...].
interesses próprios que divergiam dos interesses do rei. Eram comuns, por exemplo, as divergên- Segundo as Ordenações Filipi-
cias em torno do preço do açúcar: os senhores do engenho pediam um preço maior do que nas, de 1603, as câmaras seriam
aquele que os comerciantes portugueses queriam pagar. Quando isso acontecia, os vereadores formadas através de eleições
realizadas a cada três anos, das
das câmaras escreviam para o governador pedindo que ele os ajudasse junto ao rei. quais somente os considerados
“homens bons” poderiam ser elei-
tores e elegíveis. Sua composição

ROBERT NAPIORKOWSKI/SHUTTERSTOCK.COM
era formada por juízes ordinários,
vereadores, procurador e almota-
cé, que se constituíam em ofícios
honorários, geralmente eleitos e,
em princípio, não remunerados.
Além destes, havia o escrivão da
Câmara, o escrivão da almotaça-
ria, o tesoureiro, os tabeliães das
notas, os tabeliães judiciais, os
inquiridores, os distribuidores, o
alcaide-pequeno, o porteiro, os
contadores de feitos e custas, os
solicitadores, o escrivão das si-
sas, os quadrilheiros, o carcereiro,
o meirinho, o juiz dos órfãos e o
escrivão dos órfãos.
Prédio onde funcionava a Câmara Municipal de Diamantina (MG). Hoje é sede do fórum da cidade. O cargo de juiz ordinário acu-
Fotografia de 2019. mulava a função de presidente da
Câmara. Cabiam-lhe a aplicação da
lei em primeira instância e a fis-
201 calização dos outros funcionários.
Também deveria exercer a função
de juiz dos órfãos onde não hou-
vesse esse ofício. De acordo com
10:02 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 201 TEXTO DE APOIO 03/08/22 10:02
as Ordenações, os juízes ordinários
teriam que realizar audiências em
• Aprofundar o assunto com a leitura do tex- O texto a seguir é da doutora em História dois dias na semana nos concelhos,
to: BICALHO, Maria Fernanda. As Câmaras Social pela UFRJ Angélica Ricci Camargo. vilas e lugares com sessenta vizi-
Municipais no Império Português: o exem- nhos, e em um dia nos lugares com
plo do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Câmaras municipais menor número de moradores. [...]
História, [s. l.], v. 18, n. 36, 1998. As câmaras municipais começaram a ser cria- CAMARGO, Angélica Ricci. Câmaras
das na colônia a partir de 1532, no contexto da municipais. Arquivo Nacional Mapa.
primeira expedição colonizadora portuguesa na [S. l.], 9 nov. 2016. Disponível em:
http://mapa.an.gov.br/index.php/
América, comandada por Martim Afonso de Souza, dicionario-periodo-colonial/
constituindo-se, ao longo do período colonial, 141-camaras-municipais.
como base local da administração portuguesa e Acesso em: 10 ago. 2022.
201

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 201 02/09/2022 15:35


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que, ao se decidir
pela colonização do Brasil,
iniciada por volta de 1530, a
Coroa portuguesa tinha pela A economia colonial
frente três desafios: escolher
o produto que seria usado Para dar início à exploração econômica da América portuguesa, o rei de Portugal
para impulsionar o aprovei- escolheu o açúcar de cana. Havia boas razões para essa escolha, como: a) o solo, o clima
tamento econômico da terra; do litoral nordestino e a existência de floresta para obtenção de madeira (lenha) favoreciam
buscar capital para financiar a o cultivo e o beneficiamento da cana; b) os portugueses já tinham produzido açúcar nas
produção; e conseguir mão de
ilhas da Madeira e de Cabo Verde; c) o açúcar alcançava bons preços na Europa, gerando
obra adequada ao trabalho.
recursos para a monarquia portuguesa.
• Esclarecer que o produto
escolhido para dar início à Inicialmente, os capitais investidos nos primeiros engenhos foram emprestados por
colonização foi o açúcar de holandeses, italianos e portugueses. Mas, algum tempo depois, os senhores de engenho
cana, especiaria de elevado já produziam açúcar com capitais próprios.
valor na Europa. Os portu- Quanto à mão de obra,, a monarquia portuguesa auto- Guerra justa: guerra contra
gueses tinham experiência justas” contra indígenas hostis aos portugueses e
“guerras justas”
rizou o Governo-Geral a promover “guerras
anterior com o açúcar nas suas considerados “bárbaros” por eles.
os indígenas a fim de escravizá-los. Isso explica por que os
possessões atlânticas: Ilha da
Madeira, de Cabo Verde e ilhas três primeiros governadores-gerais fizeram guerras aos nativos, destruíram aldeias e obtive-
de São Tomé e Príncipe. Os ram terras e escravizados para os engenhos. Basta ver que, em 1572, no engenho Sergipe
engenhos dessas regiões já do Conde, um dos maiores da Bahia, mais de 90% dos trabalhadores eram indígenas.
empregavam a mão de obra
africana escravizada. Da Ilha
COLEÇÃO PARTICULAR

da Madeira vieram as mudas


e os profissionais capacitados
para trabalhar no Engenho
do Governador, de Martim
Afonso de Sousa, em São Vi-
cente (SP). A partir daí, cons-
truíram-se vários engenhos,
especialmente no Nordeste,
onde a cana encontrou solo e
clima favoráveis ao seu cultivo.
• Tema Contemporâneo Trans-
versal: A leitura do texto de
apoio pode contribuir para
o desenvolvimento do tema
trabalho, da macroárea te-
mática economia.

Dialogando. Professor, co- Conquista dos campos de Guarapuava, atribuída a


mentar que esse nome serviu Joaquim José de Miranda, século XVIII. O desenho é uma Dialogando Resposta pessoal.
para justificar/legitimar a ação das raras imagens de resistência indígena ao avanço dos
colonizadores. A cena representa os kaingang resistindo Por que será que as guerras contra os indígenas
de fazer guerra aos indígenas, à ocupação de suas terras onde é hoje o Paraná. foram chamadas de "guerras justas"?
ocupar suas terras e escravizá-
-los. Os indígenas hostis aos 202
portugueses eram chamados
de bárbaros.

TEXTO DE APOIO Nessas verdadeiras indústrias, os brancos


AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 202 riqueza estava sendo criada. No fim do 03/08/22 10:02 AV2
eram os donos das terras e das moendas. Os século XVII, o lucro que a colônia dava a
[...] O açúcar foi a madrasta da coloni- indígenas e depois os africanos eram a for- Portugal já era 50% maior que o seu cus-
zação, que por quase dois séculos regeu ça de trabalho. E cabiam aos brancos pobres, to de manutenção. Esse período de rápida
a história econômica, social e política do mulatos, mestiços e libertos os chamados expansão no século XVI, quando algumas
Brasil. E, em algumas regiões, continua a “ofícios mecânicos”. [...] fortunas foram criadas, foi em função dos
dominar. Até o surgimento de Minas Gerais como altos preços do açúcar no mercado euro-
Ao longo da costa brasileira – primeiro em força econômica, era comum dizer que o peu. Já na década de 1620, guerras e retra-
São Vicente, Pernambuco e Bahia, depois no Brasil era uma “sociedade e civilização do ções econômicas diminuíram as margens
Rio de Janeiro e em outras áreas – foi no es- açúcar”. de lucros. [...]
paço dos engenhos que a sociedade colonial É fácil entender por quê. A produção SCHWARTZ, Stuart B. Doce Lucro. Revista de História
tomou forma. [...] do açúcar cresceu de forma rápida. [...] A da Biblioteca Nacional, [s. l.], ano 8, n. 94, 1 jul. 2013.
202

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 202 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Reforçar a ideia de que os
africanos foram forçados a
Chegam os africanos abandonar suas terras e vir
para o Brasil.
Na passagem do século XVI para o XVII, no Nordeste, os senhores de engenho
• Aprofundar o assunto com a
começaram a comprar africanos para substituir os indígenas no trabalho. E o fizeram
leitura do texto: MARQUESE,
pelas seguintes razões: a) a falta de indígenas nas áreas açucareiras por fuga ou morte
Rafael de Bivar. A dinâmica da
por doenças e maus-tratos; b) os interesses econômicos envolvendo o tráfico de africanos
escravidão no Brasil: resistên-
pelo Atlântico; c) a experiência dos portugueses com a mão de obra africana escravizada
cia, tráfico negreiro e alfor-
na produção de açúcar nas ilhas de Cabo Verde e Madeira. rias, séculos XVII a XIX. Novos
Muitos africanos trazidos para o Brasil nos séculos XVI e XVII eram bantos, povos Estudos, [s. l.], n. 74, p. 107-
agricultores e pastores com grande domínio da metalurgia do ferro. 123, mar. 2006.
ERIC LAFFORGUE/EASYPIX BRASIL

ERIC LAFFORGUE/ART IN ALL OF US/CORBIS/GETTY IMAGES


+ATIVIDADES
No século XVI, em muitos en-
genhos coloniais, a maioria dos
trabalhadores era formada por
indígenas, não por africanos.
Durante o século seguinte, essa
situação se inverteu.
Como você explica isso?
Resposta:
O fator principal da cres-
cente substituição da mão de
obra indígena pela africana
nos engenhos foi a alta lucra-
tividade do tráfico negreiro.
Imagens em movimento
Acima, mulher angolana e, à direita, moça
Reportagem sobre o legado
moçambicana em fotografias recentes. africano para a cultura brasi-
Ambas pertencem a povos bantos. leira.
• SÉRIE mostra influências da
O engenho cultura africana no Brasil -
Nos tempos coloniais, o açúcar era produzido em engenhos. Inicialmente, engenho Repórter Brasil (noite). 2013.
era o nome que se dava ao equipamento usado na fabricação do açúcar. Com o tempo,
Vídeo (4min39s). Publicado
pelo canal TV Brasil. Dispo-
passou a significar um conjunto que incluía as matas, o canavial, a casa de engenho (onde
nível em: https://youtu.be/
se produzia o açúcar), a roça (onde se plantavam os alimentos), a casa-grande (habitação
FLzyt6fsYKc. Acesso em: 10
do senhor do engenho), a senzala (moradia dos escravizados), a capela (onde se realizavam
ago. 2022.
batizados, missas etc.) e a moradia dos trabalhadores livres.
Documentário sobre o pe-
ríodo colonial, destacando a
203 produção açucareira no Brasil.
• CULTURA do açúcar: episódio
1. 2021. Vídeo (29min39s). Pu-
10:02 AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 203 TEXTO DE APOIO suma, em quase tudo. Já vimos como as06/08/22
religiões
10:24
de origem africana se expandiram no Brasil. E blicado pelo canal Fundação
O legado dos africanos no Brasil como a África impregnou a nossa infância. [...] Joaquim Nabuco. Disponível
A participação da África na construção do Bra- No nosso dia a dia e, mais importante ainda, em: https://youtu.be/7EueiQ_
sil e de seu povo começou muito cedo, desde em nossa gente. É raro um brasileiro adulto vtCI. Acesso em: 10 ago. 2022.
a segunda metade do século XVI. A África está cujos bisavós já viviam no Brasil que não tenha
presente nos ditos, histórias e canções que repe- pelo menos um antepassado africano. A África
timos ao longo da vida, nos brinquedos infantis está, portanto, no sangue da grande maioria do
tradicionais, nos bichos-papões que povoavam nosso povo. E, ainda que disto muitos não te-
os medos de nossa meninice, nas festas e danças nham consciência, na alma de quase todos.
populares, na maneira como nos cumprimen- SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus
tamos, no jeito de estar em casa e na rua – em filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 156-157.
203

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 203 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que o engenho era
uma grande propriedade
com dois setores principais: Engenho colonial
o canavial e o engenho pro-
priamente dito, local onde

MANZI
a cana era transformada em
Canavial
açúcar.
• Aprofundar o assunto com a Feitor-mor
Senzala Aquele que
leitura do texto: AZEVEDO, Onde viviam coordenava e
Esterzilda Berenstein de. En- os escravizados. controlava o processo
genhos do Recôncavo Baia- produtivo na
no. Brasília: Iphan/Programa fazenda; encarregado
dos trabalhadores
Monumenta, 2009. (Roteiros escravizados.
Transporte
do Patrimônio, v. 7). de cana.

Imagens em movimento
Documentário sobre o pe-
ríodo colonial e a produção
açucareira no Brasil.
Casa-grande
• GUERRA pelo açúcar: histórias Onde viviam o senhor
do Brasil (3/10). 2011. Vídeo de engenho, sua família
(26min19s). Publicado pelo e agregados.
canal TV Brasil. Disponível
em: https://www.youtube. Moinho
com/watch?v=3xG-Xm5ErRE. Movido por tração Transporte
Acesso em: 10 ago. 2022. hidráulica, sua força de lenha para
era transmitida para a fornalha.
a moenda. Casa das caldeiras
TEXTO DE APOIO Espaço que recebia o caldo
recolhido das moendas e
Os engenhos açucareiros limpava-o das impurezas.
no Brasil
A história do Brasil dos primei-
ros séculos confunde-se com a
história do açúcar.
Foi no engenho que se formou
Moenda
a sociedade patriarcal açucareira, Quando não havia tração hidráulica, era
da qual uma das sínteses pode ser movida por força animal ou humana.
representada pelo binário casa-
-grande e capela. Entre os séculos
XVI e XIX, conjuntos de engenhos
foram instalados ao longo de qua-
se todo o litoral brasileiro, com
maior concentração nas áreas que Fonte: REVISTA de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 9, n. 94, p. 31, jul. 2013.
correspondem hoje aos estados de
Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro 204
e São Paulo.
Os engenhos eram grandes
complexos arquitetônicos com
Desde o século XVI, há
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 204 notícias de engenhos umas casas para o senhor do engenho com seu 03/08/22 10:02 AV-
edificações que cumpriam funções
que se destacavam por reunir casas de moendas, quarto separado para os hóspedes que, no Brasil,
diferenciadas e imbricadas entre
cozimento e purga, além de casa-grande e capela, na falta total de estalagens, são contínuas, e o
si. O número de edificações e os
todas construídas em pedra e cal. Havia ainda edifício do engenho, forte e espaçoso, com mais
partidos (ou padrões) arquitetô-
construções mais simples, como as casas de oficinas e casa de purgar, caixaria, lambique e
nicos variavam de acordo com
trabalhadores livres e senzalas, construídas em outras cousas”.
a capacidade de produção e a
importância de cada um. Alguns taipa ou adobe e recobertas com palha. AZEVEDO, Esterzilda Berenstein de. Engenhos do Recôncavo
complexos assumiam o caráter No século XVII, aparecem nesses conjuntos, Baiano. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2009.
(Roteiros do Patrimônio, v. 7, p. 9-10, 13-14).
de povoações semiautônomas, “[...] além das senzalas dos escravos e além das
enquanto outros se restringiam moradas do capelão, feitores, mestre, purgador,
ao indispensável para a produção banqueiro e caixeiro, uma capela decente em
do açúcar. seus ornamentos e todo o aparelho do altar, e
204

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 204 01/09/2022 19:03


seguintes, o mesmo campo for-
neceria nova colheita mais ou
menos a cada nove meses sem
replantio. A colheita, ou safra
O trabalho no engenho [...], começava no final de julho
e continuava por oito ou nove
meses. Durante esse período o
1. Depois de plantar e cortar a cana, engenho fervilhava de ativida-
os escravizados transportavam-na nos
de. Os escravos cortavam a cana
ombros ou em carros de bois até a moenda.
e enchiam com ela os carros de
GETULIO DELPHIN

2. Na moenda, a cana era moída. boi, que eram então levados para
O caldo escorria por calhas até um o engenho propriamente dito.
recipiente grande. Dali era retirado Ali outra equipe de escravos pro-
em vasilhas e levado até as caldeiras. duzia o açúcar de cana sob a di-
reção de técnicos e com a ajuda
de artesãos que podiam ser es-
cravos ou livres. O processo era
difícil e complicado. Primeiro a
cana era passada por uma pren-
sa de roletes verticais, que, nos
grandes engenhos, era movida a
água, e nos pequenos, por juntas
de bois. O caldo extraído da cana
passava então por uma série de
tachos, onde era fervido e clari-
ficado até ficar suficientemente
limpo para fazer açúcar. O líqui-
do era despejado em moldes cô-
nicos, colocados em longas filas
de pranchas num local especial
para secagem. Depois de mais
drenagem, que levava de três
semanas a um mês, os moldes
eram abertos para a retirada do
açúcar cristalizado na forma ca-
racterística de “pão de açúcar”.
3. Na casa das caldeiras,
o caldo era cozido A melhor qualidade tinha me-
em grandes tachos nos impurezas e era, assim, de
e se retiravam dele cor branca. O açúcar marrom
as impurezas. Daí o (mascavo) era vendido por pre-
melado grosso era 4. Na casa de ço mais baixo, e o de qualidade
colocado em formas de purgar, o melado inferior era usado muitas vezes
barro, com um orifício permanecia
no fundo, e levado para fabricar aguardente. Depois
nessas formas
para a casa de purgar. até se cristalizar. o açúcar era secado, armazena-
Durante a do em grandes caixotes e levado
formação dos de barco ou de carro de boi para
cristais de açúcar, Salvador, Recife ou algum porto
o furo das formas menor para ser embarcado para
permanecia
a Europa.
5. Depois, o açúcar era retirado das formas com o formato de um bloco fechado. Depois
duro (os pães de açúcar). Eles eram encaixotados e transportados nos era aberto, Como se pode ver, o açúcar
ombros dos escravos ou em carros de bois até os pontos de venda. permitindo a era um produto especial porque
Repare os trabalhadores retirando os potes de açúcar das formas. passagem do mel. envolvia não apenas agricultura,
mas também um processamen-
205 to altamente técnico. A neces-
sidade de processar a cana no
local de origem fazia com que
cada engenho fosse uma combi-
10:02 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 205 03/08/22 10:02
nação de empreendimento agrí-
• Tema Contemporâneo Transversal: os ma- TEXTO DE APOIO cola e industrial. [...] Além disso,
as exigências de mão de obra do
teriais desta página do Livro do Aluno e A produção de açúcar cultivo da cana e da produção do
do Manual do Professor podem contribuir açúcar eram grandes e terríveis.
[...] a cana-de-açúcar [...] e seu produto, o
para o desenvolvimento do tema trabalho, Durante a colheita, o engenho
açúcar, determinavam boa parte da estrutura
da macroárea economia. do engenho. Embora houvesse variações regio-
funcionava de dezoito a vinte
horas por dia. [...]
nais, o processo aqui descrito era basicamente
o mesmo em toda a América. A primeira colhei- SCHWARTZ, Stuart B.; LOCKHART, James.
ta costumava levar de 15 a 18 meses para ama- A América Latina na época colonial.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
durecer, mas depois, nos três ou quatro anos p. 246-247.

205

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 205 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que a lavoura cana-
vieira foi, como se sabe, o
principal setor da economia América portuguesa: um grande canavial?
colonial. Mas no Brasil se pro-
duziam também outros gêne- Durante muito tempo, a América portuguesa foi descrita nos livros de História como
ros, como fumo, aguardente, um grande canavial escravista voltado exclusivamente para a venda de açúcar à Europa.
carne, couro, farinha, algo- Segundo essa visão, a economia colonial não tinha uma dinâmica própria, pois dependia
dão, além de cacau, castanha- das vendas para o exterior. Estudos recentes, no entanto, provaram que a economia
-do-pará e salsa, que serviam colonial era diversificada e tinha dinâmica própria, como veremos a seguir.
tanto à exportação quanto
ao mercado interno colonial.
Agricultura diversificada
No Brasil colonial, além do açúcar, eram produzidos muitos outros gêneros, como
Dica de leitura fumo, algodão, cacau, castanha-do-pará, guaraná, couro e alimentos como mandioca,
O historiador Boris Fausto feijão, milho, frutas e legumes.
trata da história do Brasil com O fumo ou tabaco, planta conhecida dos indígenas, começou a ser cultivado a partir
sensibilidade e pertinência, do século XVII, no interior da Bahia, incluindo Sergipe, então comarca baiana, e no litoral
apresentando dados estatís- de Pernambuco. Há notícias de sua produção também no Pará, no Maranhão e no Rio de
ticos que permitem ampliar a Janeiro. Por ser mais simples e mais barata do que o cultivo de cana-de-açúcar, a lavoura
visão sobre os processos his- fumageira cresceu rapidamente. Ao lado da cachaça, era um produto muito consumido,
tóricos do país.
tanto no território colonial quanto no exterior. O tabaco não se destinava somente à
• FAUSTO, Boris. História con- Europa, mas circulava por todo o império português. Nas Índias, era trocado por tecidos
cisa do Brasil. São Paulo: e na África, por escravizados.
Edusp, 2001. O algodão,, um produto nativo da América, também era conhecido dos indígenas,
que o utilizavam, entre outras coisas, para tecer suas redes. Na colônia portuguesa, o
EDITORA EDUSP

cultivo de algodão ganhou importância no século XVIII, quando a região dos atuais estados
do Maranhão, de Pernambuco, do Ceará e do Pará se destacou como grande exportadora
de fibras para as fábricas da Inglaterra.
RHJPHTOTOS/SHUTTERSTOCK

NEIRFY/SHUTTERSTOCK.COM
Algodão.

Castanha-do-pará.
PHOTOONGRAPHY/
SHUTTERSTOCK.COM

Cacau.

TEXTO DE APOIO
Economia global
[...] A tendência à especializa-
206
ção no cultivo da cana trouxe
como consequência uma contí-
nua escassez de alimentos, in- Europa, até os mais grosseiros,
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 206 que foram impor- em uma faixa de oitenta quilômetros da costa 03/08/22 10:02 AV-

centivando a produção de gêne- tantes como moeda de troca na costa da África. para o interior. A pecuária foi responsável pelo
ros alimentícios, especialmente A viabilidade da produção em reduzida escala desbravamento de “grande sertão”. Os criado-
da mandioca. permitiu a existência de um setor de pequenos res penetraram no Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio
O fumo foi a maior atividade proprietários, formado por antigos produtores Grande do Norte, Ceará e, a partir da área do
destinada à exportação, embora de mandioca ou imigrantes portugueses com rio São Francisco, chegaram aos rios Tocantins
estivesse muito longe de com- poucos recursos. [...] e Araguaia. No fim do século XVII existiam pro-
petir com o açúcar. A grande re- A criação de gado começou nas proximidades priedades no sertão baiano maiores do que Por-
gião produtora localizou-se no dos engenhos, mas a tendência à ocupação das tugal e um grande fazendeiro chegava a possuir
Recôncavo baiano. Produziram- terras mais férteis para o cultivo da cana foi em- mais de 1 milhão de hectares em terra. [...]
-se vários tipos de fumo, desde purrando os criadores para o interior. Em 1701 FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil.
os mais finos, exportados para a a administração portuguesa proibiu a criação São Paulo: Edusp, 2001. p. 43-44.
206

191a219_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 206 03/09/22 19:38


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o texto de
COLEÇÃO PARTICULAR Gabriel Soares de Souza, no
A pecuária teve, desde cedo, Tratado Descritivo do Brasil
importante papel nos engenhos (1587), referindo-se a uma
coloniais: os animais faziam girar a das várias espécies da man-
moenda, transportavam a cana e dioca, o aipim:
serviam como alimento. Os carros Dá na nossa terra outra casta
de boi eram usados para transportar de mandioca, que o gentio cha-
pessoas e artigos que circulavam pela ma aipins, cujas raízes são da
feição da mesma mandioca [...]
colônia. A pecuária era, portanto, um e para se recolherem estas raízes
setor decisivo para o funcionamento as conhecem os índios pela cor
da economia colonial como um todo. dos ramos, no que atinam poucos
No século XVII, já havia uma pecuá- portugueses. E estas raízes dos
aipins são alvíssimas; [...] Destes
ria diversificada que incluía bovinos,
aipins se aproveitam nas povoa-
ovinos, equinos e muares, além de ções novas, porque como são de
aves. Os currais atendiam tanto à cinco meses, se começam a co-
população do engenho quanto à das Família de proprietários rurais, de Johann Moritz mer assadas, e como passam de
vilas e cidades. Rugendas, c. 1835. seis meses fazem-se duros, e não
se assam bem, mas servem então
para beijus e para farinha fresca,
Produção de alimentos que é mais doce que a da man-
Havia uma grande quantidade de chácaras dioca, as quais raízes duram pou-

TINGLEE1631/SHUTTERSTOCK.COM
nas proximidades dos engenhos e ao redor de co debaixo da terra, e como pas-
sam de oito meses, apodrecem
vilas e cidades. Essas chácaras cultivavam:
muito. [...] Os índios se valem dos
• mandioca, da qual se fazia farinha (a man- aipins para nas suas festas faze-
dioca era bastante cultivada na Bahia, em rem deles cozidos seus vinhos,
Pernambuco e no Rio de Janeiro); para o que os plantam mais que
para os comerem assados, como
• feijão, milho e legumes; fazem os portugueses. [...]
• frutas, com destaque para o limão, a laranja SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado
e a banana. descritivo do Brasil em 1587.
Rio de Janeiro: Tipografia
Essa produção de alimentos abastecia os pro- Mandioca. de João Inácio da Silva, 1879 [1587].
dutores e suas famílias, a população dos engenhos,
• Aprofundar o assunto aces-
ALCHEMIST FROM INDIA/SHUTTERSTOCK.COM

as vilas e as cidades coloniais. Todas essas lavouras, sando o texto: VIEIRA, An-
portanto, produziam para o mercado interno.. tonio Roberto Alves. Família
Durante muito tempo, acreditou-se que escrava e pecuária: revisão
as relações entre colônia (Brasil) e metrópole historiográfica e perspecti-
(Portugal) eram reguladas pelo Pacto Colonial.. vas de pesquisas. Disserta-
Ou seja, pela obrigação de o Brasil colonial ção (Mestrado em História
só comerciar com Portugal, sua metrópole. Econômica) – Faculdade de
Pesquisas recentes, no entanto, mostraram que Filosofia, Letras e Ciências
não era bem assim. Leia o que a professora Humanas, Universidade de
Sheila de Castro Faria diz sobre o assunto. Milho. São Paulo, São Paulo, 2011.

207

10:02 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 207 03/08/22 10:02

As chácaras do período colonial brasileiro produziram mandioca, farinha de mandioca,


feijão, milho, limão, laranja e banana.
a) Quais desses alimentos fazem parte do seu cotidiano?
• Tema Contemporâneo Trans-
versal: A atividade contribui
b) De onde imagina que esses alimentos se originaram? para o desenvolvimento do
c) Converse com os colegas e, em seguida, façam uma pesquisa para confirmar as hipóteses tema educação para a valori-
de vocês. zação do multiculturalismo
Respostas pessoais. Professor, pode ser interessante comentar com os alunos que os colo- nas matrizes históricas e cul-
nizadores portugueses estavam acostumados com uma alimentação centrada no trigo e se turais brasileiras, da macro-
adaptaram a uma alimentação baseada na mandioca. área multiculturalismo.
207

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 207 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
Para refletir. b) Estudos re-
centes indicam que os mer-
cadores das praças do Rio de
Janeiro e de Salvador acumu- PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
a) Não, pois, na prática, os colonos do Brasil comerciavam com
lavam fortunas com o tráfico regiões do rio da Prata, no sul da América; com Costa da Mina, Angola e
Colônia sem pacto colonial Moçambique, na África; e com Índia, Goa e Macau, na Ásia.
atlântico. Um divisor de águas
quanto ao tráfico atlântico no [...] No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, vem à tona um
final do século XVIII é a obra grande dinamismo nas relações comerciais dos principais portos do Brasil com o rio
de Manolo Florentino: Em da Prata, no sul da América, com Costa da Mina, Angola e Moçambique, na África
costas negras: uma história e Índia, com Goa e Macau na Ásia. [...] Colonos do Brasil, portanto, comercializavam
do tráfico de escravos entre a diretamente com outras regiões, furando a ideia de “pacto colonial”.
África e o Rio de Janeiro (sé- Por outro lado, os comerciantes que forneciam escravos para o Brasil no século
culos XVIII e XIX). São Paulo: XVIII negociavam diretamente com traficantes e chefes locais da África. Eram esses
Companhia das Letras, 1997. comerciantes, residentes no Brasil, que [...] detinham o monopólio do Monopólio:
Escutar e falar. A atividade exclusividade.
lucrativo tráfico negreiro – e não a metrópole.
visa ajudar os alunos a refle- FARIA, Sheila de Castro. A colônia é mais embaixo. Revista de História da Biblioteca Nacional,
tirem sobre a importância da Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p. 71, jul. 2008.
pesquisa para o conhecimen- ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

a) O pacto colonial era o compromisso de a


to do passado e do presente e colônia (Brasil) só comerciar com a metró-
dos vínculos entre um e outro. pole (Portugal); segundo o texto, era isso
Professor, comentar que o pas- mesmo que acontecia? Justifique.
sado está morto, não se pode
b) Ainda segundo o texto, quem detinha o
“ressuscitá-lo”, mas a pesqui-
controle sobre o tráfico de escravizados
sa sobre o passado está em
para o Brasil no século XVIII?
permanente mutação. Novas
descobertas são feitas à luz de Venda no Recife, de Johann Moritz Rugendas,
novas pesquisas. Novas pers- c. 1835. Novos estudos informam que na colônia
pectivas, novos olhares sobre o havia um intenso comércio interno, como sugere
a imagem desse armazém de secos e molhados.
passado e o uso do método his-
tórico lançam novas luzes para b) Os mercadores de escravizados residentes no Brasil.
o presente. ESCUTAR E FALAR
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: SILVA, Caio Em dupla.
dupla. Pesquisas recentes sobre o comércio do Brasil colonial com outras partes
Cobianchi da; SILVA, Karla do mundo alteram muito o que se sabia sobre o assunto. Reflitam e respondam: qual é a
Maria. O BRASIL colonial: importância da pesquisa em História?
possibilidades interpretati- Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais.
vas. Revista Mosaico, [s. l.],
v. 8, n. 1, p. 59-64, jan./jun. a Expressei minhas ideias com objetividade?
2015. b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
TEXTO DE APOIO f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
Colônia sem pacto colonial
[...] esses comerciantes eram 208
infinitamente mais ricos do que
os senhores de terras e escravos.
Era aquele grupo mercantil resi-
dente no Brasil que se colocava da191a219-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd
aquisição de contratos 208 da Coroa portuguesa estrangeiros e diversos postos, além da cobran- 26/08/22 17:29 AV-

como a elite econômica. Havia para a cobrança de impostos. [...] ça de impostos por parte de arremates particu-
riquezas sendo geradas na pro- Pode-se dizer [...] que Portugal “terceirizou” a lares, põe em xeque as teorias do “pacto colo-
dução agrária, na pecuária e na cobrança de impostos. [...] nial” e do “exclusivo metropolitano”. O sistema
extração de metais preciosos, que vigorou no Brasil se revelou bastante ma-
Havia um importante mercado interno que
mas quem abocanhava a fatia leável. As novas perspectivas sobre a dinâmica
relacionava os mais diversos setores de produ-
mais grossa eram justamente dos impérios coloniais mostram que o pacto
ção e de serviços aos negociantes que faziam
os comerciantes. E suas práticas parece ter sido mais um projeto, um ideal a ser
a vez de patrocinadores da empresa colonial
mercantis não se restringiam perseguido, do que uma realidade de fato. [...]
ao tráfico negreiro, participando agroexportadora. [...]
FARIA, Sheila de Castro. A colônia é mais embaixo.
do comércio interno de alimen- O duradouro e amplo comércio de negocian- Revista de História da Biblioteca Nacional,
tos, de práticas de agiotagem e tes residentes no Brasil, com variados agentes [s. l.], ano 3, n. 34, 7 jul. 2008.
208

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 208 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, no Brasil
colonial, as regiões se dife-
A sociedade colonial renciavam: a paulista do sé-
culo XVII (com seus bandei-
rantes e indígenas) era, por
Novos estudos lançam um novo olhar sobre a sociedade colonial.
exemplo, muito diferente
Primeiramente, é preciso dizer que na América portuguesa havia várias regiões eco-
da açucareira nordestina.
nômicas e diversas “sociedades”.
Embora diferentes entre si,
A seguir, estudaremos alguns aspectos importantes da sociedade colonial açucareira. elas tinham ao menos duas
Além dos senhores de engenho, havia nela comerciantes, lavradores de cana, roceiros, características comuns: a es-
vaqueiros, trabalhadores assalariados e escravizados. Os senhores de engenho eram livres e cravidão, presente em quase
brancos; os que trabalhavam nos canaviais geralmente eram negros, em boa parte africanos. todo o território colonial, e
Mas havia também técnicos e artesãos livres, escravizados, brancos, mestiços ou negros. uma hierarquia excludente,
que garantia direitos, poder
e prestígio a poucos.
A nobreza da terra • Destacar que, mesmo sendo
O grupo social de maior prestígio na sociedade açucareira era o dos senhores de essencialmente escravista, a
engenho.. Eram eles os donos das terras, do maquinário e dos escravizados. sociedade colonial açucarei-
Muitos senhores de engenho descendiam dos primeiros colonizadores portugueses e ra possuía certa complexida-
se consideravam a nobreza da terra. Os laços de sangue, reforçados por casamentos entre de: os senhores de engenho
pessoas dessa nobreza, ajudavam a preservar o prestígio e o poder desse grupo social. eram livres e brancos e os tra-
A nobreza da terra expandia seu poder para além do mundo rural, ocupando cargos balhadores das plantações
importantes nas Câmaras Municipais das vilas e cidades coloniais.
eram, geralmente, negros
escravizados, quase sem-
Nas proximidades dos grandes engenhos
pre africanos. Mas, entre os
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

viviam também homens livres, conhecidos como


administradores, técnicos e
“lavradores de cana”, ”, assim chamados porque
artesãos, havia indivíduos
possuíam terras onde cultivavam cana-de-açúcar, escravizados, libertos, livres,
mas dependiam do senhor para moê-la. Em troca, brancos, mestiços e negros.
pagavam com uma parte do açúcar obtido. • Esclarecer que, no início do
A moradia do senhor de engenho era a casa- século XVII, a nobreza da
-grande, assim descrita pelo escritor Gilberto Freyre: terra já constituía um gru-
[...] [possuía] grossas paredes de taipa ou de po social razoavelmente es-
pedra e cal, coberta de palha ou de telha-vã, truturado e unido por casa-
alpendre na frente e dos lados, telhados caídos mentos entre seus membros.
em um máximo de proteção contra o sol forte e Esses proprietários exerciam
as chuvas tropicais, [...] cheia de salas, quartos, o poder localmente, tanto
corredores, duas cozinhas [...], despensa, capela na esfera pública (ocupando
[...]. alguns cargos nas Câmaras
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Municipais) quanto na esfe-
São Paulo: Global, 2006. p. 30-31.
ra privada, na qual buscavam
impor sua vontade a todos os
Fac-símile da capa do livro O Brasil colonial, v. 1 (1443-1580),
habitantes do engenho. Daí
organizado por João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa.
se dizer que a família senho-
209 rial no Brasil daqueles tem-
pos era patriarcal.

17:29 AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 209 +ATIVIDADES no Brasil o ser senhor de engenho [...]. Respostas:
03/08/22 10:02

Porque engenhos há na Bahia que dão ao a) Ter cabedal, isto é, riqueza que, no
O trecho a seguir foi escrito pelo pa- senhor quatro mil pães de açúcar [...].
caso da sociedade colonial açucareira,
dre André João Antonil, que viveu no ANTONIL, André João.
estava associada ao maquinário e ao
Brasil colonial. Com base nele, responda Cultura e opulência do Brasil por
suas drogas e minas. São Paulo: número de trabalhadores que um se-
ao que se pede. Edusp, 2007. p. 79. nhor possuía.
O ser senhor de engenho é título a que b) “Ser servido, obedecido e respei-
a) O que era necessário para ser se-
muitos aspiram, porque traz consigo o
ser servido, obedecido e respeitado de nhor de engenho? tado de muitos”, ou seja, o título de
muitos. E se for, qual deve ser, homem de b) Que vantagens isso dava a quem senhor de engenho conferia poder e
cabedal e governo, bem se pode estimar possuía esse título? prestígio.
209

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 209 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que a proprieda-
de da terra dava poder e pres-
Os comerciantes

EDITORA ATUAL
tígio ao seu possuidor, já o co-
mércio possibilitava riqueza.
As maiores fortunas no Brasil colonial
Grandes comerciantes enri-
queciam ao vender produtos estavam nas mãos dos comerciantes de
locais, como açúcar, tabaco e escravizados, de produtos europeus e india-
algodão para a Europa, e re- nos (tecidos, ferramentas, entre outros) e de
vender produtos chegados de produtos locais (animais e alimentos). Muitos
Portugal, como vinho, queijos comerciantes usavam o dinheiro conseguido
e doces. Outros comercializa- pelo comércio para se tornarem senhores de
vam a produção colonial des- engenho. Houve também comerciantes que
tinada ao mercado interno, se casavam com as filhas dos senhores de
como bois, mulas, cachaças, engenho e, com isso, conseguiam chegar ao
farinha, milho, marmelada, nível social deles.
entre outros.
• Ressaltar que muitas for-
tunas foram feitas com o Os trabalhadores assalariados
comércio de africanos. Enri- Muitos engenhos empregavam assala-
quecidos por meio do tráfico
riados.. No quadro a seguir, você vai conhecer
riados
atlântico, comerciantes esta-
algumas das ocupações desses trabalhadores
belecidos em cidades como Fac-símile da capa do livro A economia colonial
em um engenho baiano da segunda metade
Rio de Janeiro, Salvador e Re- brasileira (séculos XVI-XIX), de João Fragoso,
cife usavam navios próprios e Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria. do século XVII.
forneciam empréstimos aos
senhores de engenho para a Ofício O que fazia o trabalhador
compra de escravizados e/ou
equipamentos. Dessa forma, Feitor-mor Administrava o engenho.
alguns conseguiam comprar Mestre de açúcar Controlava o trabalho de beneficiamento do açúcar.
terras e montar engenhos;
outros se casavam com filhas Purgador Trabalhava na purificação do açúcar.

de senhores de engenho e, Caldeireiro Trabalhava nas caldeiras.


com isso, passavam a perten-
Oficial de açúcar Auxiliava o mestre de açúcar.
cer à nobreza da terra.
• Frisar que, desde o início, os Feitor de campo Vigiava e castigava os escravizados.

senhores de engenho con- Fonte: SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade
colonial (1550-1835). São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 265-276.
trataram assalariados para
dividir com os escravizados a
Entre os trabalhadores assalariados dos grandes engenhos, havia também artesãos
tarefa no engenho, para tra-
balhar em funções especiali- (carpinteiros, pedreiros, ferreiros etc.), que recebiam por dia ou por tarefa. Entre eles, o
zadas, como a de mestre de feitor-mor e os especialistas na produção do açúcar (mestres de açúcar, purgadores e
açúcar (responsável pela qua- caldeireiros) recebiam os salários mais altos. O salário desses profissionais era anual. O
lidade do açúcar), ou a de car- mestre de açúcar – responsável pela qualidade do produto – era geralmente o mais bem
pinteiro, pedreiro, ferreiro, pago do engenho.
entre outras. Ou, ainda, para
realizar tarefas que os donos 210
de engenho não confiavam a
escravizados, como a de fei-
tor (encarregado de vigiar e TEXTO
HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 210 DE APOIO 20/08/22 20:03 AV-

punir os escravizados). Por isso se diz que


A herança era outra forma de acesso à terra, especialmente para aqueles que aspi-
o conhecimento e o serviço dos trabalha- ravam adquirir o status de famílias senhoriais. Conseguia-se isso por meio de casa-
dores assalariados eram decisivos para o mentos com filhas daquelas famílias. [...]
funcionamento dos engenhos. A barganha se dava entre o comerciante [...] e a família da futura esposa. [...]
Esta página estuda as funções dos tra- À família senhorial [...] interessava a riqueza monetária do genro ou o crédito no
balhadores de engenho e a sociedade co- mercado trazido por seu nome. O crédito, numa sociedade escravista mercantil e
lonial açucareira, colaborando assim, para pouco capitalizada, estava diretamente ligado às relações pessoais. Alianças sociais
a compreensão dessa sociedade e o desen- tornavam-se, assim, fundamentais para a recriação da economia. [...]
volvimento da habilidade EF07HI10. FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; FARIA, Sheila de Castro.
A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). São Paulo: Atual, 1998. p. 80-81.
210

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 210 02/09/2022 15:36


TEXTO DE APOIO
No Brasil, durante um bom
tempo, os estudos históricos
Os escravizados negligenciaram quaisquer estu-
dos sobre a condição da mulher
Grande parte da população colonial era formada por africanos escravizados e seus escrava. Em seu livro Mulher e
descendentes. Do trabalho deles dependia o funcionamento da economia colonial: a Escrava – uma introdução histó-
rica ao estudo da mulher negra
lavoura, a pecuária, a coleta, a pesca, o transporte de mercadorias etc.
no Brasil, Sonia Giacomini (1988)
Os que trabalhavam carpindo, plantando, colhendo e pescando eram chamados realiza uma cuidadosa pesqui-
“escravos de campo” e constituíam 80% dos escravizados dos maiores engenhos. Os sa historiográfica em que afirma
que trabalhavam na fabricação de açúcar formavam 10% do total. Os Oleiro: aquele que que grande parte dos historiado-
(oleiro,, faz peças de barro
domésticos (cozinheira, faxineira, arrumadeira etc.) e os artesãos (oleiro res escamotearam a relação de
ou cerâmica. classe e apresentaram o escravo,
carpinteiro, ferreiro etc.), juntos, compunham os outros 10%.
mas sobretudo a escrava, como
um membro a mais da imensa
família patriarcal, construindo
# DICA! uma mitologia que sobrevive até
o momento atual sobre a nature-
Reportagem sobre o
za “doce” e patriarcal do escrava-
legado africano para
a cultura brasileira. gismo brasileiro.
SÉRIE mostra A lógica da sociedade patriarcal
influências da cultura e escravagista parecia se delinear
africana no Brasil – da forma mais brutal no caso da
Repórter Brasil (noite). mulher escrava. A exploração se-

ÓLEO SOBRE TELA, 71,5 CM × 91,5 CM, MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, ROTTERDAM, HOLANDA
2013. Vídeo (4min39s).
xual do seu corpo – o qual, na lógi-
Publicado pelo canal
TV Brasil. Disponível ca escravocrata, não lhe pertencia
em: https://youtu.be/ – era uma especificidade da mu-
FLzyt6fsYKc. Acesso lher escrava à qual o homem es-
em: 9 jun. 2022. cravo não era submetido. [...] Era a
dominação colonial que se confi-
gurava em estupro, tendo em vista
que na relação senhor-senhora, o
poder patriarcal legitimado pelos
Detalhe de Paisagem com laços de parentesco no interior da
plantação (engenho), família branca – não se manifesta-
de Frans Post, 1668. ria com o mesmo peso. Era mais
o entrelaçamento da condição de
“propriedade privada” com a con-
dição de ser mulher e negra na
sociedade patriarcal, do que as re-
lações familiares, que explicariam
O local de moradia dos escravizados chamava-se senzala,, uma palavra de origem a lógica determinante da opressão
específica vivenciada pela escrava.
banta que significa “povoado” ou “comunidade”. Portanto, provavelmente, foram os pró-
LUNA, Sophia Alencar Araripe. A porta
prios africanos que deram esse nome às suas moradias. As senzalas eram habitações feitas da senzala abriu, nega: racismo, divisão
geralmente de pau a pique e cobertas de sapé. sexual do trabalho e direitos trabalhistas
a partir da experiência sindical das
Estudos recentes sobre registros de batismo, casamento e morte de escravizados trabalhadoras domésticas. Dissertação
vêm mostrando que as famílias escravas tinham práticas, visões e valores próprios. E mais: (Mestrado em Ciências Jurídicas) – Centro
de Ciências Jurídicas, Universidade Federal
reagiam à imposição de seus senhores, tomavam iniciativas e buscavam viver do seu jeito. da Paraíba (UFPB), João Pessoa,
2017. p. 96-97.
211

20:03 Imagens em movimento


AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 211 03/08/22 10:02 Dica de leitura
Documentário da TV Brasil sobre a escravidão no Brasil. Obra sobre a história e cul-
• CAMINHOS da Reportagem | Ecos da Escravidão. 2015. Vídeo (54min30s). Publicado pelo tura afro-brasileiras.
canal TV Brasil. Disponível em: https://youtu.be/xR549adx5Go. Acesso em: 10 ago. 2022. • MATTOS, Regiane Augusto
Série para televisão a partir da obra de Gilberto Freyre. de. História e cultura afro-
brasileira. São Paulo: Con-
• CASA GRANDE & senzala. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Brasil, 2000. DVD (56min).
texto, 2007.

211

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 211 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: A CARTA de
Pero Vaz de Caminha. Biblio-
teca Nacional Digital. [S. l.], ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

c2022. Disponível em: http://


objdigital.bn.br/Acervo_Digital/
Livros_eletronicos/carta.pdf.
Acesso em: 10 ago. 2022.
• Tema Contemporâneo Trans- I. Retomando
versal: a leitura da carta de
Caminha com os alunos con-
tribui para o tema educação
1 Leia o texto a seguir com atenção.

para a valorização do multicul-


turalismo nas matrizes histó- A primeira missa
ricas e culturais brasileiras, da Continuamos navegando pela costa até que,

EDITORA VOZES
macroárea multiculturalismo. no Domingo de Páscoa, o capitão determinou que
A leitura e a interpretação todos fossem para a terra assistir à missa. Mandou
da carta de Pero Vaz de Cami- também armar um altar, que foi muito bem pre-
nha podem contribuir para o parado. Ali, na presença de todos, Frei Henrique
desenvolvimento da habilidade celebrou a missa, acompanhado de outros padres
EF07HI10. e sacerdotes. A missa, na minha opinião, foi ouvida
por todos com muito prazer e devoção.
Imagens em movimento Acabada a missa, Frei Henrique tirou a batina
e subiu em uma cadeira alta, com todos nós
Reportagem sobre uma ex-
posição, em Portugal, de docu- espalhados pelo areal fez um importante sermão
mentos históricos, entre eles, a sobre a história do Evangelho. Em seguida, tratou
Carta de Pero Vaz de Caminha. de nossa vinda e do achamento desta terra, que
ocorreu pela graça de Deus. Suas palavras foram
• REPORTAGEM especial: car-
ta histórica de Pero Vaz de muito a propósito e causaram muita emoção.
Caminha está na Torre do TORRES, Adriana. A carta de Pero Vaz de Caminha. Fac-símile da capa do livro
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991. p. 14. A carta de Pero Vaz de Caminha.
Tombo, em Lisboa. 2021.
Vídeo (6min42s). Publicado Releia o trecho a seguir: “Frei Henrique celebrou a missa, acompanhado de outros
pelo canal Band Jornalismo. padres e sacerdotes". Com base nesse trecho, é possível inferir que:
Disponível em: https://you- I. havia padres e sacerdotes nas terras onde hoje é o Brasil antes da chegada dos portugueses.
tu.be/1ZjH7ByO524. Acesso II. entre os tripulantes da expedição de Pedro Álvares Cabral havia padres e sacerdotes.
em: 10 ago. 2022. III. a presença de padres na tripulação comprova que um dos objetivos dos portugueses era
evangelizar.
TEXTO DE APOIO IV. a presença de padres na tripulação comprova que o único objetivo dos portugueses era
evangelizar.
Fontes históricas
“Fonte Histórica” é tudo aquilo Está correto o afirmado em: 1. Alternativa A.
que, por ter sido produzido pe- a) II e III. b) I e IV. c) I, II e IV. d) I, II, III e IV.
los seres humanos ou por trazer
vestígios de suas ações e inter- 212
ferência, pode nos proporcionar
um acesso significativo à com-
preensão do passado humano e
de seus desdobramentos no pre- estes momentos, e em muitos
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 212 outros, os homens nicas, memórias, registros cartoriais, processos 03/08/22 10:02 AV2

sente. As fontes históricas são as e mulheres deixam vestígios, resíduos ou regis- criminais, cartas legislativas, jornais, obras de
tros de suas ações no mundo social e natural. literatura, correspondências públicas e privadas
marcas da história. Quando um
Este imenso conjunto de vestígios – dos mais e tantos mais) como também quaisquer outros
indivíduo escreve um texto, ou
simples aos mais complexos – constitui o uni- registros ou materiais que possam nos fornecer
retorce um galho de árvore de
verso de possibilidades de onde os historiadores um testemunho ou um discurso proveniente do
modo a que este sirva de sinali-
passado humano, da realidade que um dia foi vi-
zação aos caminhantes em certa irão constituir as suas fontes históricas. [...] Por
vida e que se apresenta como relevante para o
trilha; quando um povo constrói ora, todavia, vamos nos ater mais especificamen-
presente do historiador. [...]
seus instrumentos e utensílios, te às fontes históricas produzidas diretamente
BARROS, José D’Assunção. Fontes históricas – uma introdução
mas também nos momentos em pela ação e existência humanas. No sentido que
aos seus usos historiográficos. In: ENCONTRO INTERNACIONAL
que modifica a paisagem e o meio acabamos de indicar, são fontes históricas tan- HISTÓRIA & PARCERIAS, 2., 2019, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de
ambiente à sua volta – em todos to os já tradicionais documentos textuais (crô- Janeiro: Associação Nacional de História (ANPUH), 2019. p. 1-2.
212

D4_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 212 02/09/2022 15:36


ENCAMINHAMENTO
2. Semelhança: a carta e a pintura representam o mesmo episódio histórico, a primeira missa realizada nas terras 2. Reforçar que a carta de Ca-
onde hoje é o Brasil. Diferença: a carta foi escrita na época em que ocorreu o fato histórico, já a pintura foi
feita séculos depois. minha é uma fonte histórica
escrita e a pintura é uma fonte
2 Relacione a imagem a seguir ao texto da atividade anterior. Identifique uma seme-
lhança e uma diferença. histórica visual.
3. b) Como ensina o historia-
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO

dor John Manoel Monteiro,


o princípio básico da política
indigenista, o qual dividia os
indígenas em mansos e selva-
gens, manteve-se com poucas
interrupções até as reformas
pombalinas, no século XVIII.
Primeira missa no
Brasil, de Victor • Aprofundar o assunto com
Meirelles, 1860. a leitura do texto: MARTIM
Afonso de Sousa: a expedição
colonizadora de 1530.
MultiRio. Rio de Janeiro,
c1995-2022. Disponível em:
http://multirio.rio.rj.gov.
br/index.php/historia-do-
brasil/rio-de-janeiro/50-a-
cidade-do-rio-de-janeiro-
3 O documento que instituiu o Governo-Geral em 1548 definiu qual seria a política indi-
sob-a-%C3%B3rbita-de-
genista adotada por Portugal no Brasil: os indígenas foram classificados em mansos
portugal/2414-a-expedicao-
e selvagens.
colonizadora-de-martim-
Leia o que uma historiadora diz sobre o assunto. afonso-de-souza-1530. Acesso
Os primeiros [índios mansos] se tornariam súditos cristãos dos reis de Portugal em: 10 ago. 2022.
e viveriam nas aldeias coloniais sob a administração portuguesa; enquanto os
últimos [índios selvagens] seriam combatidos através das guerras justas e, uma
vez vencidos, seriam legalmente escravizados.
ALMEIDA. Maria Regina Celestino de. Catequese, aldeamentos e missionação. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA,
Dica de leitura
Maria de Fátima (org.). O Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. (O Brasil Colonial, v. 1, p. 436).
Neste livro, o autor trata da
a) O significado de política indigenista no texto é: 3. a) Alternativa II. formação da sociedade paulis-
I. a política de alguns grupos indígenas na relação com outros. ta, tendo como foco o contato
II. a política do governo português na relação com os indígenas do Brasil. das populações indígenas com
III. a política dos indígenas na relação com os colonizadores. colonos e jesuítas.
IV. a política de aliança entre indígenas e portugueses. • MONTEIRO, John Manuel.
b) Avalie as afirmações a seguir e copie em seu caderno as corretas. 3. b) Alternativas I e III. Negros da terra: índios e
I. Os indígenas foram classificados pelo governo português no Brasil em mansos e selvagens. bandeirantes nas origens de
II. Os mansos eram aqueles que resistiram aos portugueses. São Paulo. São Paulo: Com-
III. Os mansos eram aqueles que se aliaram aos portugueses. panhia das Letras, 2022.
IV. Os selvagens eram os que por resistirem deviam ser combatidos, mas nunca escravizados.
c) Qual é o significado de “guerras justas” no texto?
3. c) "Guerras justas" era o nome dado às guerras feitas com a intenção de prender e escravizar indígenas.
ria aos princípios da guerra jus-
213 ta, estabelecidos pelos papas e
reis católicos. Assim, as “nações
bárbaras”, infiéis e levantadas
em armas contra os cristãos, te-
10:02 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 213 curralados e sentindo-se incapazes de05/08/22
reduzir
10:59
riam de ser submetidas à força.
estes povos à fé cristã em função de “sua gran-
de braveza e brutalidade”, viam-se na necessi- Igualmente, porém, mesmo os
Para os colonos, era precisamente no rom-
dade de os dominar pela força das armas, além índios “mansos”, os que “por
pimento desta situação de amizade e sossego
de “cativarem alguns destes gentios que trou- sua livre vontade procurarem
por parte de índios hostis que se localizava a
o grêmio da Igreja”, teriam de
necessidade prática e a justificativa moral para xeram a povoado e deles se serviram nas suas
trabalhar para os colonos, não
a escravidão. Segundo estes, os índios “bravos” lavouras, instruindo-os como católicos para se
como escravos legítimos mas
haviam passado a atacar os portugueses, tanto batizarem como sempre o fizeram”.
“por seus interesses”.
pelo ódio que tinham dos índios “mansos” alia- Nesse sentido, a escravização era justificada
MONTEIRO, John Manuel. Negros da
dos aos primeiros, quanto simplesmente “pelo pela prática tradicional de dominação dos infi-
terra: índios e bandeirantes nas origens
exercício de sua braveza por serem acostuma- éis que conscientemente haviam rejeitado a fé de São Paulo. São Paulo: Companhia das
dos a contínuas guerras [...]”. Já os brancos, en- católica, fato relevante na medida em que ade- Letras, 1994. p.134-135.
213

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 213 01/09/2022 19:03


TEXTO DE APOIO
A legislação portuguesa foi, ao
longo dos séculos XVI a XVIII,
regulamentando o negócio do 4 Copie em seu caderno o mapa mental sobre a colonização da América portuguesa.
pau-brasil. Logo por volta de
Substitua cada letra do mapa mental por uma das palavras do quadro.
1502 a 1506 sua extração foi ar-
rendada. Como não é surpresa,
“essa forma de exploração pa- escambo • donatários • perder • riqueza • colonizadora
rece ter fornecido uma margem feitorias • franceses • São Vicente • carta de doação
de lucro considerável a Portugal,
engenho • foral • capitanias hereditárias
pois além de a Coroa não arcar
com as despesas da exploração,
auferia vantagens com o paga-
mento dos contratos de arren-
damento”. Para controlar as de-
PAU BRASIL
sordens no corte desenfreado e
no contrabando da madeira, em
1605, é promulgado o Regimen- Contrução de a) b) troca de um produto por outro
to do pau-brasil. Nesse docu-
mento, além da Coroa retificar
o estanco, obrigava despachos
da Fazenda Real em cada capi-
tania para a realização do corte.
Presença de c) no litoral D. João III, por medo de d) a terra e interessado em produzir e), envia expedição f)
O Regimento pressupunha que
quem quisesse cortar deveria
estar munido de uma licença ex- a) feitorias.
pedida pelo provedor-mor e as- b) Escambo.
sinada num livro para esse fim c) franceses.
na Provedoria. “E toda a pessoa d) perder.
que tomar mais quantidade de e) riqueza.
pau de que lhe for dada a licen- f) colonizadora.
ça, além de o perder para minha g) São Vicente. MARTIM AFONSO DE SOUZA
Fazenda, se o mais que cortar h) engenho.
passar de dez quintais incorre- i) Capitanias hereditárias.
rá em pena de cem cruzados”. j) carta de doação.
Todavia, se caso excedesse 50 k) foral.
quintais “sendo peão será açoi- l) donatários.
tado, e Degredado por dez anos
para Angola, e passando de cem
quintais morrera por ela e per-
Combateu
dera toda a sua Fazenda”. A re- Fundação de g) (1532) 1o h) de açúcar
franceses
levância da madeira tintória e
os lucros que ela gerava para a
Coroa também podem ser cons- DIVISÃO
tatados através das questões DO
jurídicas em torno do corte do TERRITÓRIO
pau-brasil, a exemplo das penas
apregoadas acima.
DIAS, Thiago Alves. O negócio do i) 15 imensas faixas
j) e k) Capitães l)
pau-brasil, a sociedade mercantil Purry, de terra
Mellish and Devisme e o mercado global
de corantes: escalas mercantis, instituições
e agentes ultramarinos no século XVIII.
Revista de História, [s. l.], n. 177, p. 1-39, 214
2018. p. 7-8.

Dica de leitura HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 214 Imagens em movimento 24/08/22 20:42 AV2


EDITORA CONTEXTO

Contando com ampla gama O vídeo aborda as relações entre portu-


de fontes históricas, Laima gueses e indígenas em 1530.
Mesgravis apresenta uma ex- • ANTES do Brasil, Cabo Frio, 1530: histórias
posição sucinta e abrangente do Brasil. 2011. Vídeo (24min13s). Publi-
sobre o período colonial. cado pelo canal TV Brasil. Disponível em:
• MESGRAVIS, Laima. História https://youtu.be/lIVU79GTsw4. Acesso em:
do Brasil colônia. São Paulo: 10 ago. 2022.
Contexto, 2017.

214

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 214 01/09/2022 19:03


TEXTO DE APOIO
7. a) Porque o sistema de capitanias era descentralizado; cada donatário tinha grande poder de decisão na sua
capitania. Com a instalação do Governo-Geral, em 1548, Portugal centraliza a administração e estabelece sua ca- A implantação da cidade do
pital em Salvador, fundada no início do ano seguinte. Salvador como capital da Colô-
5 Copie em seu caderno as frases a seguir e classifique-as como deveres ou direitos dos nia em 1549 aconteceu após ten-
tativa frustrada de ocupação do
donatários.
território através das Capitanias
a) Julgar os habitantes da capitania, podendo inclusive condenar à morte indígenas, negros e Hereditárias. Se inicialmente o
homens livres pobres. 5. a) direito. atual território brasileiro não
b) Desenvolver a agricultura da cana-de-açúcar na capitania. 5. b) dever. parecia tão atraente aos colo-
c) Cobrar impostos em rios e portos. 5. c) direito. nizadores portugueses, [...] a
d) Organizar a defesa militar. 5. d) dever. exploração do pau-brasil e, pos-
teriormente a cana-de-açúcar e
e) Conceder sesmarias, isto é, grandes propriedades rurais. 5. e) direito.
o fumo geraram um comércio
f) Expandir a fé cristã. 5. f) dever. com a África e Europa bastante
g) Tirar para si 5% no negócio do pau-brasil. 5. g) direito. rentável à Coroa Portuguesa.
h) Estimular a ocupação portuguesa da terra. 5. h) dever. Nesse sentido, Salvador sur-
giu, inicialmente com duas fun-
6 Escreva em seu caderno as alternativas corretas. Poucas capitanias prosperaram. ções básicas: ocupar e proteger
Com exceção de Pernambuco, São Vicente e Bahia, as demais capitanias fracassaram a colônia portuguesa na Améri-
por causa da: 6. Alternativas A e B. ca e servir como porto de abas-
a) falta de recursos de alguns donatários. tecimento a meio caminho do
b) grande extensão das terras a serem administradas. Atlântico Sul.
c) selvageria e traição dos povos indígenas. Não por um acaso, a planta da
d) ataques dos portugueses vindos com D. João III. cidade, trazida de Portugal por
Tomé de Souza, foi implantada
7Leia com atenção o texto da professora Avanete Pereira Sousa. sobre uma falha tectônica [...] em
Na América portuguesa, a instituição de um governo-geral (1548) e a fundação da frente à baía de Todos os Santos
[...]. Ali teriam o olhar estratégico
cidade de Salvador, para ser a sua sede (1549), assinalaram as mudanças de atitude do
sobre a baía e águas calmas para
poder metropolitano, [...] [eram] uma nova estratégia aportar qualquer grande fragata.

ALAMEDA EDITORIAL
de ocupação, de domínio e de exploração das terras Os muros viabilizavam a defesa
brasileiras [...]. Os motivos que levaram à fundação interior contra os índios. Desta
de Salvador estiveram também presentes na criação forma, no entorno da Casa de
Câmara e Cadeia e da Casa do
de diversas outras cidades do Império [Português]: a Governador [...] surgia a primeira
ocupação do território, a defesa, a administração e a cidade do Brasil. [...]
exploração comercial das terras conquistadas. Nos séculos seguintes à im-
SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no século XVIII: poder político local e atividades
econômicas. São Paulo: Alameda Editorial, 2012.
plantação da cidade (XVII e
XVIII) foi produzido um sistema
a) Por que a historiadora diz que a criação do Governo- aberto que gerou extrema rique-
Geral e a fundação de Salvador significaram uma za e suntuosidade nas formas
mudança de atitude do governo português? urbanas derivadas (casario, igre-
b) Segundo a autora, os motivos que levaram à fundação jas, sobrados, prédios públicos,
de Salvador estão presentes na criação de outras cidades etc). Este sistema era composto
do Império Português. Quais são esses motivos? por uma rede de produção inte-
c) Em grupo. Elaborem uma campanha publicitária incenti- rior – produtos de subsistência,
vando as pessoas a visitarem Salvador. Cada grupo pode cana-de-açúcar e fumo do Re-
abordar um aspecto: geografia; economia; gastronomia; Fac-símile da capa do livro côncavo Baiano – que escoava
lugares de memória (museus, bibliotecas); povos que A Bahia no século XVIII, por vias fluvio-marítimas para o
constituíram a cidade; arte (música, dança, teatro). de Avanete Pereira Sousa. principal porto do Atlântico Sul;
7. b) A ocupação e a defesa do território; a administração e a exploração comercial das terras conquistadas. na cabeça do sistema, a cidade
7. c) Produção pessoal. 215 fortaleza da baía de Todos os
Santos, encontrava proteção e
articulação com rotas mundiais
de comerciantes portugueses e
20:42 ENCAMINHAMENTO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 215 05/08/22 11:34 outros. Este contexto, associado
a uma relativa paz na segun-
• Aprofundar o assunto acessando o material: A FUNDAÇÃO de Salvador. Brasiliana Fotográ- da metade do século XVII criou
fica. [S. l.], 29 mar. 2016. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=4742. condições ideais para a reprodu-
Acesso em: 10 ago. 2022 ção do capital da tríade (tráfico
de escravos/ lavoura canavieira
6. c) Professor, a alternativa reforça a visão estereotipada e equivocada dos indígenas, des- e fumageira).
crevendo-os como selvagens e traiçoeiros. Sugerimos aproveitar a questão para descons-
ANDRADE, Adriano Bittencourt;
truir esses estereótipos. BRANDÃO, Paulo Roberto Baqueiro.
Geografia de Salvador. 2. ed.
Salvador: EDUFBA, 2009. p. 16-18.

215

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 215 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
8. b) Exemplos de formas de
arrecadar impostos: as taxas 8. b) Decidiam, entre outras coisas, sobre: a administração da cidade; alguns impostos e a forma de arrecadá-los.
a serem pagas pelos vendedo-
8 As câmaras municipais eram órgãos encarregados de administrar vilas e cidades
res ambulantes; a realização brasileiras. Os vereadores dessas câmaras eram grandes proprietários de terras,
de obras públicas (calçadas, comerciantes ricos e sacerdotes. Sobre as Câmaras Municipais, responda às questões.
estradas e pontes); a conserva- a) O que era necessário para ser vereador das Câmaras Municipais? 8. a) Possuir riqueza e também
ção, a limpeza e arborização b) Sobre quais assuntos os vereadores decidiam? ter “pureza de sangue”. Não eram aceitos, por exem-
das ruas; os salários pagos a plo, descendentes de negros nem de judeus.
trabalhadores livres; o abaste- 9 As afirmações a seguir dizem respeito à sociedade colonial açucareira. Escreva em
cimento de gêneros da terra, seu caderno a que cada uma delas se refere.
como a farinha de mandioca. a) Constituíam grande parte da população da América portuguesa e eram responsáveis por
atividades diversas, sobretudo trabalhos rurais; representavam cerca de 80% da força de
trabalho nos maiores engenhos. 9. a) Africanos escravizados. 9. b) Assalariados.
Dica de áudio b) Realizavam atividades diversas, como nos ofícios especializados e artesanais dos engenhos.
c) Formava o grupo social de maior prestígio no Brasil colônia, concentrando em suas mãos o
O episódio do podcast trata
poder econômico e político. 9. c) Nobreza da terra. 9. d) Comerciantes.
da estrutura da produção de
d) Conseguiram acumular as maiores riquezas da época e, muitas vezes, estabeleciam laços
açúcar no Brasil colônia.
familiares com os senhores de engenho, conseguindo chegar ao topo da hierarquia social.
• FRONTEIRAS no Tempo 42: e) Possuíam suas próprias terras, mas dependiam dos senhores de engenho para beneficiar sua
História social do açúcar. produção agrícola. 9. e) Lavradores.
Locução de: Marcelo Beraba SAMUEL ERICKSEN/SHUTTERSTOCK.COM

e C.A. [S. l]: Fronteiras no


Tempo, 8 jun. 2021. Podcast.
Disponível em: https://youtu.
be/FxguHynUbVY. Acesso
em: 10 ago. 2022.

Vista aérea da cidade de Salvador (BA). Fotografia de 2021. Na imagem pode-se ver o Elevador Lacerda,
o Mercado Modelo e parte da Baía de Todos os Santos.

216

AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 216 05/08/22 11:34 AV2

216

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 216 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
Vozes do presente
a) Espera-se que os alunos
II. Leitura e escrita em História
AUGUSTO_SANTOS/SHUTTERSTOCK.COM

criem um título que trate do


legado dos povos africanos no
Vozes do presente Brasil e/ou sua contribuição
Acarajé e para a formação da cultura
Leia o texto a seguir com atenção. pimenta. brasileira. Exemplo: “A pre-
O que é certo é que os nossos antepas-
sença africana no Brasil”.
sados africanos trouxeram para o Brasil os c) Os alunos poderão citar
conhecimentos e as técnicas que desenvol- a presença africana no portu-
veram ao longo dos séculos. [...] guês falado no Brasil, na arte
Os africanos sabiam como trabalhar os solos dos trópicos e introduziram no Brasil (música, dança, literatura), na
um bom número de vegetais, como, por exemplo, o dendê, a malagueta, o quiabo, o religiosidade, na arquitetura,
maxixe, o jiló, os inhames, várias espécies de bananas, diversos tipos de abóboras e no nosso modo de falar, pen-
de feijões, o tamarindo e a melancia. Difundiram, ademais, nas terras brasileiras, o sar e agir.
cultivo do arroz e o seu uso como prato diário. A eles se deve também o uso do leite de • Tema Contemporâneo Trans­-
coco nas comidas. A sua contribuição para a culinária brasileira foi importantíssima, versal: O trabalho com a pá-
a tal ponto que muitos dos pratos que temos como caracteristicamente nossos são de gina mobiliza a macroárea
origem africana: o vatapá, o caruru, temática multiculturalismo.
O M o mungunzá, o abará, o acarajé [...] e
CK.C
RSTO
UTTE
THAN
H VA N/SH muito mais.
HI
HO T
SILVA, Alberto da Costa.
A África explicada aos meus filhos.
São Paulo: Agir, 2012. p. 155.

Quiabo.

LHMFOTO/SHUTTERSTOCK.COM
AFRICA STUDIO/SHUTTERSTOCK.COM

lebrações que marcam a cultu-


ra da cidade. A indumentária
das baianas, característica dos
Dendê. ritos do candomblé, constitui
também um forte elemento de
identificação desse ofício, sendo
composta por turbantes, panos
e colares de conta que simbo-
Melancia. lizam a intenção religiosa das
baianas.
Os aspectos referentes ao Ofí-
a) Dê um título para o texto que você acabou de ler. a) Resposta pessoal. cio das Baianas de Acarajé e sua
b) A culinária.
b) O texto trata das contribuições africanas para um aspecto da vida cultural. Qual é ele? ritualização compreendem: o
modo de fazer as comidas de
c) Que outros aspectos da vida cultural brasileira têm raízes africanas? Cite pelo menos dois.
baianas, com distinções refe-
c) Respostas pessoais.
rentes à oferta religiosa ou à
217 venda informal em logradouros
soteropolitanos; os elementos
associados à venda como a in-
dumentária própria da baiana,
11:34 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 217 parado de maneira artesanal, na qual o05/08/22
feijão11:34é
a preparação do tabuleiro e dos
moído em um pilão de pedra (pedra de acara-
jé), temperado e posteriormente frito no azeite locais onde se instalam; os sig-
Ofício das Baianas de Acarajé nificados atribuídos pelas baia-
de dendê fervente. Sua receita tem origens no
Este bem cultural de natureza imaterial, ins- Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido nas ao seu ofício e os sentidos
crito no Livro dos Saberes em 2005, é uma práti- atribuídos pela sociedade local
trazida para o Brasil com a vinda de escravos
ca tradicional de produção e venda, em tabulei- e nacional a esse elemento sim-
dessa região. [...]
ro, das chamadas comidas de baiana, feitas com bólico constituinte da identida-
A atividade de produção e comércio é pre- de baiana.
azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, dominantemente feminina, e encontra-se nos
amplamente disseminadas na cidade de Salva- OFÍCIO das baianas de Acarajé. Iphan.
espaços públicos de Salvador, principalmente
Brasília, DF, c2014. Disponível em: http://
dor, Bahia. Dentre as comidas de baiana desta- praças, ruas, feiras da cidade e orla marítima, portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58.
ca-se o acarajé, bolinho de feijão fradinho pre- como também nas festas de largo e outras ce- Acesso em: 23 ago. 2022.
217

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 217 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
• Tema Contemporâneo Trans-

#JOVENS NA
versal: o desenvolvimento da
seção permite aprofundar a
macroárea temática cidada- o
Construçã
nia e civismo, à medida que
reconhece a importância do HISTÓRIA e uso de
os
respeito às diferenças, esti- questionári
mulando a igualdade entre os
cidadãos para a construção de
uma sociedade mais inclusiva, PASSO 1 Ler
com maior qualidade de vida
para todos. Aproveitar o tema O texto a seguir foi escrito especialmente para esta coleção pelo professor Murilo Batista
para reforçar o papel do pro- Barros. Leia-o com atenção.
tagonismo juvenil, e destacar Projeto Identidade Étnica: pessoas cacheadas, crespas e trançadas
o mérito das pesquisas em
diversas áreas do conheci- Aila Horrane tinha 13 anos e era aluna do 8 o ano da EMEIEF Construindo o
mento para o progresso da Saber, no município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará,
sociedade. quando se deu conta da existência do racismo na escola. “Meu cabelo era sempre
O trabalho com a seção quer TO
motivo de piadas”, lembra a estudante. Ela ouviu mais de uma vez frases do
contribuir para o desenvolvi- tipo “Molha esse cabelo para ver se você consegue domá-lo”. Na hora do
RR
IP
HO

mento das competências gerais


TO

intervalo, ela observou que outras garotas passavam por situações de


/SH

1, 2, 4, 5, 7, 9, 10 e da compe-
UT
T ER

discriminação e racismo dentro da escola. Os intervalos passaram a


STO

tência específica 4.
CK.C

ser um momento importante para esses estudantes compartilharem


Professor, a autoavaliação
OM

suas experiências pessoais, tanto as do ambiente escolar quanto as


é um aprendizado fundamen-
de fora dele.
tal para a construção da auto-
Foi durante as aulas de História da professora Eleonalva Costa
nomia do aluno; além disso,
democratiza o processo, pois que Aila e outros estudantes viram abertura para compartilharem
envolve diferentes pontos de essas experiências, já que a professora tinha uma proposta peda-
vista. Sugestões de perguntas gógica antirracista. “Ali nasceu o projeto Identidade Étnica:
Étnica: pessoas
para a autoavaliação: cacheadas, crespas e trançadas para combater o racismo dentro e fora
• Você considerou interessan- das paredes da nossa escola”, diz Aila.
te a atividade ou o trabalho O objetivo do grupo era entender os danos causados pelo racismo
realizados? à vida escolar. Nas rodas de conversa, promovidas pelo projeto,
• Tinha conhecimentos ante- os participantes relatavam suas experiências pessoais. “Eram
riores que o auxiliaram na momentos emocionantes de histórias de superação e empodera-
realização? mento”, destaca a estudante.
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí- Depois, o projeto cresceu. Crianças, adolescentes, pais, ex-alu-
cil, saberia dizer o por quê? nos e pessoas de vários bairros de Maracanaú chegaram à escola
• Como você avalia sua parti- municipal Construindo o Saber para participarem das discussões
cipação no grupo? (Realizou e oficinas oferecidas nas atividades do projeto. “São estudantes de
tarefas que contribuíram para nossa escola, de outras escolas, universitários, familiares dos estudan-
o trabalho? Sugeriu formas tes, convidados que trabalham com um currículo afro-referenciado,
de organizar esse trabalho?
Colaborou com seus colegas 218
na realização de tarefas?)
• Você considera que a maneira
como o tema foi abordado captou através da lente218
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd da fotógrafa e membro cacionais do Ensino Médio levando o discurso 03/08/22 10:02 AV-
ajudou na sua compreensão do grupo Emilly Mascarenhas a beleza de qua- empoderador, trazendo mais jovens para nos-
dos conteúdos e das propostas renta membros do projeto. Muitas destas pesso- sas reuniões e colaborando com as atividades
de atividades? as fizeram parte do ensaio e produção do banner do grupo.
em 2015. Emocionante perceber através da ex-
A reunião, que acontece mensalmente, se di-
pressão delas nas fotos o quanto elas estavam
TEXTO DE APOIO vide em vários momentos. Sempre há uma pa-
transformadas. São crianças e adolescentes
Projeto Identidade Étnica Ca- amadurecidos e cientes do seu papel social na lestra a partir do tema Identidade Étnica. Muitas
cheadas, Crespas e Trançadas desconstrução do racismo. O projeto vem for- vezes os palestrantes são pessoas convidadas a
de Maracanaú mando multiplicadores, pois muitos estudantes dialogar com o grupo (militantes do Movimento
[...] Em 2017 uma exposição fo- que começaram como alunos e alunas de nos- Negro, educadores, profissionais liberais, mode-
tográfica com o tema Florescer sa escola hoje estão em outros ambientes edu- los, psicopedagogos etc.).
218

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 218 01/09/2022 19:03


ENCAMINHAMENTO
c) Orientar os estudantes no
momento de realizar a pes-
funcionários da escola e técnicos da Secretaria de Educação de Maracanaú”, conta Aila,
quisa inicial para coletar infor-
que hoje cursa pedagogia na Universidade Federal do Ceará. mações sobre o tema.
As atividades abrangem palestras, exposições fotográficas, rodas de conversas,
d) Incentivar os estudantes a
relatos de histórias de vida e aprendizagem, apresentações de poesias construídas
elaborarem as perguntas fe-
pelos estudantes do grupo ou poesias de algum autor com tema de africanidades e
chadas, com respostas “sim” ou
resistência, exibições de curtas metragens, apresentações de dança, canções, debates, “não”, tendo como subsídio a
dentre outras. É um percurso de (re)conexão com a ancestralidade africana, uma pesquisa preliminar. As pergun-
importante contribuição para o fortalecimento desse legado na escola e na vida desses tas do tipo abertas comportam
estudantes e seus familiares. respostas muito variadas e difí-
BARROS, Murilo Batista. Projeto Identidade Étnica: Pessoas Cacheadas, Crespas e Trançadas. ceis de sistematizar.
(Texto elaborado para esta obra).
e) Cada resposta deverá ser re-
gistrada em uma folha própria
PASSO 2 Questionar para facilitar a tabulação dos
Depois de ler o texto, responda: dados. Se possível, providen-
a) Qual o problema identificado por Aila? a) As situações de discriminação e racismo dentro da escola. ciar cópias para os grupos de
b) Qual a solução encontrada por ela? b) A criação do projeto Identidade Étnica: Pessoas Cacheadas, Crespas acordo com o número de pes-
e Trançadas. soas que serão entrevistadas.
PASSO 3 Pesquisar e agir Respostas pessoais. f) Auxiliar os grupos a tabu-
larem os resultados em uma
c) Em grupo. Pesquisem sobre “racismo e discriminação nas escolas” em jornais, revistas, redes sociais etc.
planilha, considerando as res-
d) Em seguida, conversem sobre as informações que conseguiram com a pesquisa e elaborem perguntas
postas.
sobre o tema. Essas perguntas serão parte de um questionário a ser respondido pelos colegas de escola.
Lembrem-se de não fazer um questionário muito extenso, a fim de que todas as perguntas sejam g) Essa etapa poderá ser rea-
respondidas. Vocês podem perguntar, por exemplo, se a pessoa já passou por situações de racismo ou lizada com toda a turma, com
discriminação dentro da escola; se já viu algum colega passar; se essas situações são frequentes; se já um relatório único. Incentivar
houve na escola alguma campanha a respeito desse tema etc. um debate sobre o tema na se-
e) Definidas as questões, escolham como o questionário será aplicado. Façam uma folha de perguntas para quência da apresentação final.
cada entrevistado.
f) Com os questionários respondidos em mãos, verifiquem cada folha de respostas e anotem em uma planilha
os resultados obtidos. Depois, analisem e interpretem as respostas obtidas, a fim de concluir a pesquisa.
g) Discutam esses resultados e elaborem um texto com propostas de ações para um ambiente escolar livre
de racismo e com respeito a todas as pessoas.

PASSO 4 Apresentar e publicar


h) Apresentem o resultado para a turma. Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da
escola e marquem a postagem com #jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar Respostas pessoais.

i) Realizei as tarefas a que me propus? l) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
j) Cumpri os prazos determinados? m) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
trabalho realizado. Nossa von-
k) Expressei minhas ideias com objetividade? n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? tade é compartilhar com outras
escolas a nossa experiência e
219 que novos grupos como o Proje-
to Identidade Étnica Cacheadas,
Crespas e Trançadas de Maraca-
naú surjam em outros lugares
10:02 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)
AV-HIS-F2-2111-V7-U3-C09-LA-G24.indd 219 aliza eventos como rifas e brechós. É um03/08/22
projeto,
10:02
formando uma rede contra o ra-
como repete Silvana Barbosa, Gestora Geral, que
Depois há uma roda de conversa onde os(as) cismo. Estamos abertos ao diá-
nasceu no chão da sala, foi para o pátio da escola
participantes do grupo relatam suas experiên- logo para formar uma rede cola-
e atualmente abrange toda uma comunidade.
cias pessoais. São momentos emocionantes de borativa de combate ao racismo
histórias de superação e empoderamento. Há As crianças e adolescentes são protagonis- nas escolas.
um momento de descontração quando é servido tas e com passos firmes vão transformando a
COSTA, Elonalva Silva. Projeto Identidade
lanche e quando ocorrem sorteios. Vale salien- sociedade em que vivem. Ver o grupo formado Étnica Cacheadas, Crespas e Trançadas de
tar que para a realização das reuniões a escola por crianças e adolescentes crescer, vê-los em- Maracanaú. Portal Geledés. [S. l.], 4 abr.
poderados e caminhando seguros, tomando as 2018. Disponível em: https://www.geledes.
disponibiliza o espaço, mas toda produção de org.br/projeto-identidade-etnica-cacheadas-
banners,, livros, lanches, objetos para sorteio é de
banners rédeas de ações tão enfáticas contra o racismo crespas-e-trancadas-de-maracanau/.
responsabilidade da comunidade escolar que re- traz para nós, educadores, uma sensação de Acesso em: 24 ago. 2022.

219

D3_HIS-F2-2111-V7-U3-C09-MP-G24.indd 219 01/09/2022 19:03


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
UNIDADE

4
Como bem disse o historia-
dor Paulo Miceli,

“[...] para dar forma mais com- GENTES E TERRAS DA


preensível à História, os pro-
fissionais da área costumam AMÉRICA PORTUGUESA
agrupar e analisar fatos e acon-
tecimentos em função de temas
ou problemas, dispondo-os em

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
arranjos temporais e geográficos
específicos”.
MICELI, Paulo. História Moderna.
Observe o mapa a seguir com atenção.
Contexto, 2013. p. 10.
FONTE 1
Adotando essa perspectiva,
agrupamos os temas desta uni-
América portuguesa: principais povoações (século XVI) Indígenas.
dade sob o título de Gentes e
ALLMAPS

50° O
Terras da América portuguesa.
No capítulo sobre os afri-
canos, incorporamos estudos
recentes sobre quem eram, de

BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL
que lugar foram trazidas as
pessoas africanas que o tráfico
atlântico arrastou para o Bra-
sil durante mais de 350 anos e
Equador
quem os trouxe. No corpo do 0°

texto principal e nas atividades,


Nobre português.
abordamos tanto a dominação
TR ATADO DE TORDES ILHAS

Natal
(a viagem, o trabalho, a ali- Filipeia (atual
João Pessoa)
mentação) quanto a resistência Igaraçu
Olinda

GIBSON GREEN/ALAMY/FOTOARENA
física (a exemplo da quilomba- São Cristóvão
Salvador
gem) e a cultural (a exemplo Ilhéus OCEANO
ATLÂNTICO
da capoeira e das irmandades). Santa Cruz
Porto Seguro
Por fim, dedicamos uma dupla OCEANO Vitória
de páginas para discutir as dis- PACÍFICO Espírito Santo
Rio de Janeiro
Trópico d
tinções entre a escravidão mo- São Paulo
Santos
e Capric
órnio
São Vicente
derna, o escravismo antigo e a Itanhaém Jesuíta.
servidão medieval.
Em outro tema de força des-
Áreas sob influência
ta Unidade – A disputa pelo de cidades e vilas
Fonte: MELLO E SOUZA, Laura de.
domínio do mundo atlântico Áreas conhecidas e
relativamente povoadas (org.). História da vida privada
entre os europeus – recorre- 0 480 Limite atual
da fronteira brasileira
no Brasil: cotidiano e vida privada
da América portuguesa. São Paulo:
mos ao historiador pernam- Companhia das Letras, 1997. p. 18-19.
bucano Evaldo Cabral de
Mello, autor do ensaio O Bra- 220
sil holandês. E, por fim, utili-
zamos vários mapas históricos
para estimular a análise da Na abertura de cada
HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 220 capítulo, explicita- te propósito de “transformar a história em 20/08/22 20:05 HIS

formação histórico-geográ- mos os objetivos, as justificativas e as prin- ferramenta a serviço de um discernimento


fica do território da América cipais competências e habilidades a serem maior sobre as experiências humanas e as so-
portuguesa. Mas cuidamos trabalhadas. No corpo do capítulo e nas ati- ciedades em que se vive.”, conforme sugere
também para que não passas- vidades, evidenciamos as nossas estratégias a BNCC (BRASIL, 2018, p. 401).
se despercebida a resistência para o desenvolvimento dessas habilidades Nesta unidade, vamos desenvolver as ha-
indígena, e o fizemos com o e competências. bilidades EF07HI10, EF07HI11, EF07HI12,
auxílio dos escritos da profes- A seguir, citamos exemplos da articulação EF07HI13, EF07HI14, EF07HI15 e EF07HI16,
sora Maria Leônia Chaves de entre objetivos, habilidades e competências, com base nos temas “Africanos no Brasil”;
Resende e do professor John por acreditar que, ao longo da coleção, esse “Europeus disputam o mundo atlântico” e
Manuel Monteiro. procedimento contribuirá para o importan- “Formação do território da América Portu-
220

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 220 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
Ao propor que o alunado
compare os mapas, preten-
Em 1627, o historiador Frei Vicente do Salvador escreveu que os portugueses pareciam carangue- de-se estimulá-lo a perceber
jos, pois ficavam apenas “arranhando as costas brasileiras”. De fato, como se pode ver no mapa da a diferença entre a América
página anterior, até o final do século XVI a população luso-brasileira concentrava-se somente no portuguesa no século XVI e a
litoral.
América portuguesa em me-
Isso aconteceu porque, na época, avançar pelo interior era difícil demais, por causa de animais
peçonhentos, de doenças variadas e da resistência indígena à ocupação de suas terras.
ados do século XVIII; e, assim,
A partir do final do século XVI, essa situação começou a mudar: a colonização avançou tanto para levá-lo a perguntar sobre o
o interior quanto pelo litoral. que teria provocado esse au-
A fonte 1 é do século XVI; a fonte 2, de meados do século XVIII. Observe-as. mento extraordinário do ter-
ritório português na América.
FONTE 2
Espera-se que, com isso, o

COLEÇÃO PARTICULAR
interesse dos alunos pelo es-
Tratado de Madri (1750) tudo da formação histórico-
ALLMAPS

50º O
-geográfica da América portu-
Marabitanas
guesa, um processo complexo,
São
Equador
Joaquim Macapá
0º Vaqueiro. envolvendo múltiplos sujeitos
São
Gabriel Gurupá Belém
COLEÇÃO PARTICULAR
e motivações variadas, seja
Barra do Fortaleza
Rio Negro despertado. Por fim, estimu-
Tabatinga Natal lá-los a comparar o mapa do
João
Pessoa Tratado de Madri com o mapa
Príncipe
Recife do Brasil atual.
da Beira • Professor, explicar aos alu-
Salvador nos o que foi o Tratado de
Vila Bela da
Santíssima
Trindade Cuiabá
Madri:
OCEANO O Tratado de Madrid signifi-
ATLÂNTICO
OCEANO Coimbra Tropeiro. cou um acordo entre as coroas
PACÍFICO
ibéricas e consistiu, em linhas
Iguatemi Rio de Janeiro

COLEÇÃO PARTICULAR
córnio São Paulo
gerais, em reconhecer oficial-
de Capri
Trópico
mente os territórios já ocupados
por ambas as partes. O tratado
tinha por finalidade oficializar
as margens fluviais, marítimas
Tratado de Madri (1750)
Limite atual da fronteira brasileira
Colônia do Rio Grande
e terrestres, definindo os limites
0 315
Fortes Sacramento de São Pedro dos poderes das Coroas. [...]
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. CORREA, Jessica; GODOY, Paulo. O
8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 30. Afrodescendentes.
Tratado de Madri e as políticas territoriais
no Brasil meridional (17501777). In:
COLÓQUIO BAIANO TEMPOS, ESPAÇOS
E REPRESENTAÇÕES: ABORDAGENS
1. O que você percebe comparando os mapas? Respostas pessoais. GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS, 1. 2013,
Vitória da Conquista. Anais [...], Vitória da
2. Quem terá contribuído para isso? Conquista: UESB, 2013. p. 3, 56.
3. Os limites do Tratado de Madri são muito diferentes dos do Brasil atual?

Ao final da unidade, retome estas páginas e tente responder a essas perguntas.

221

20:05 guesa”, de modo articulado ao das compe-


HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 221 Objetivo: Analisar o comércio de africanos
20/08/22 20:05

tências gerais de 1 a 10 e ao das competên- escravizados identificando os responsáveis


cias específicas 1, 2, 3, 4, 5 e 6. pelo tráfico e as áreas de origem dos que
Vejamos, agora, exemplos dessa articulação. para cá foram trazidos. Esse objetivo articu-
Objetivo: Estudar a distribuição territorial la-se à habilidade EF07HI16, às competên-
da população brasileira levando em conta cias gerais 1, 2, 3, 4, 6, 7, 9 e 10 e às compe-
sua diversidade étnica e cultural. Esse objeti- tências específicas 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
vo articula-se à habilidade EF07HI13, às com-
petências gerais 1 a 10 e às competências
específicas 1, 2, 3, 4 e 5.

221

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 221 01/09/2022 09:33


OBJETIVOS
• Refletir sobre a relação entre
guerra e tráfico atlântico de
CAPÍTULO

10
africanos.
• Conhecer os agentes respon-
sáveis pelo tráfico atlântico e AFRICANOS NO BRASIL
as áreas na qual os africanos
foram embarcados.
• Reconhecer as diferenças en-
tre os africanos ocidentais e os
da região congo-angolana.

LUCIANA WHITAKER/FOLHAPRESS

CLAUDIA GUIMARÃES/FOLHAPRESS
• Evidenciar a relação entre o 1 2
aumento da entrada de afri-
canos no Brasil com os perío­-
dos de alta do açúcar, do
ouro e do café.
• Estudar as dinâmicas comer-
ciais das sociedades america-
nas e africanas.
• Refletir sobre o trabalho, a
alimentação e a violência
contra os escravizados.
• Descrever as diferentes for-
mas de resistência protago-
nizada pelos africanos e seus
FERNANDA PICCOLO/FOTOARENA

BOB DAEMMRICH/ALAMY/FOTOARENA
descendentes no território co- 3 4
lonial, a exemplo da capoeira,
do jongo e das irmandades.
• Mapear a formação de qui-
lombos por todo território
colonial, grandes e pequenos,
de curta e de longa duração.
• Trabalhar o conceito de Rema-
nescentes de quilombos e in-
dagar se os alunos conhecem
essas formações no estado ou
na região na qual vivem.
Observe as fotografias dessas personalidades.
ENCAMINHAMENTO
1. O que elas têm em comum? Respostas pessoais.
• Propor aos alunos que anali- 2. Quais delas você conhece?
sem as imagens desta página 3. Você tem acompanhado a contribuição delas à vida social brasileira?
e falem livremente sobre o
que sabem de cada persona- 4. Teste seus conhecimentos: escreva no caderno o nome delas e o trabalho que desenvolvem.
lidade retratada.
222
• As imagens retratam: 1. Ma-
nolo Florentino (1958-2021),
historiador da Universida- grafia dos Jogos Paralímpicos
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 222 de Londres, para conquistarem seu espaço na socieda- 03/08/22 11:16 AV-
de Federal do Rio de Janei- em 2012, após ganhar medalha de ouro na de brasileira.
ro (UFRJ), em fotografia de prova dos 100 m rasos. O objetivo desta abertura é partir do pre-
2004. 2. O geógrafo Milton
• Chamar a atenção dos alunos para a im- sente, observando as personalidades negras
Santos (1926-2001), em fo-
tografa de 1995. 3. O com- portância de conhecermos a contribuição dos dias atuais e de diversos campos da vida
positor e cantor Gilberto dos afro-brasileiros nas diferentes áreas de social para instigar o interesse do alunado
Gil (1942), em fotografia de nossa história e cultura. pelo assunto: a entrada dos africanos no
2022. 4. A velocista Terezinha • Incentivar os alunos a refletirem sobre os Brasil. Daí as perguntas: o que elas têm em
Guilhermina (1978), em foto- desafios enfrentados pelos afro-brasileiros comum? Quais delas você conhece?

222

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 222 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que a escravidão
é uma instituição antiga, um
Havia escravidão na África antes dos europeus? fenômeno que deve ser ins-
crito na longa duração.
A escravidão é uma instituição muito antiga e existiu em várias partes da Terra. Na • Lembrar os alunos de que na
África, antes da chegada dos europeus (século XV), também havia escravizados. Segundo África subsaariana se prati-
a professora Leila Leite Hernandez, nas sociedades tradicionais africanas as pessoas podiam cava a escravidão antes da
chegada dos europeus ao
ser escravizadas por quatro motivos principais:
litoral africano, no século
• guerra entre diferentes povos por terra e poder; XV. No entanto, é consenso
• fome:: quando um indivíduo não tinha meios para se alimentar, ele oferecia a si mesmo também entre os pesquisa-
e a sua família para trabalharem na condição de escravos; dores que a escravidão afri-
• punição judicial:: quando uma pessoa cometia um crime e, por isso, era condenada cana possuía características
à escravidão; próprias.
• penhora humana:: quando o indivíduo oferecia a si mesmo como garantia de um • Reforçar que, segundo a his-
toriadora Leila Leite Hernan-
empréstimo e, se não pudesse pagar, era escravizado.
dez, na África, o indivíduo
Mas, segundo o professor José Rivair de Macedo, na África a escravidão tinha carac-
podia ser escravizado por
terísticas próprias. Nas sociedades africanas:
quatro motivos principais:
• os escravizados eram minoria; guerra, fome, punição judi-

SELO NEGRO EDIÇÕES


• eles faziam trabalhos exaus- cial ou penhora humana.
tivos, mas, depois de algum • Caracterizar a escravidão
tempo, eram integrados ao existente na África antes
grupo vencedor da guerra dos europeus, com base nos
como pessoas livres; estudos do professor José Ri-
• o filho de um homem livre vair Macedo.
com uma mulher escravizada • Diferenciar esse modelo de es-
nascia livre e era incorporado cravidão do que foi construí-
à linhagem do pai. do após a chegada dos euro-
Além disso, em algumas
peus ao continente africano.
sociedades africanas os escra-
vizados podiam se casar com
pessoas livres e ocupar postos
importantes no governo, como
ocorria nos reinos de Oió e
Daomé, ou no exército, como
ocorria em Songai.

Fac-símile de capa do livro A África na


sala de aula, de Leila Leite Hernandez.

223

11:16
Os objetivos deste capítulo oportunizam
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 223
BNCC 03/08/22 11:16

um melhor conhecimento dos africanos para • Competências gerais: 1, 2, 3,


cá trazidos, suas terras de origem, bem como a 4, 6, 7, 9 e 10.
discussão e a compreensão da escravidão mo-
• Competências específicas: 1,
derna, considerando o emprego de variadas
2, 3, 4, 5 e 6.
formas de violência e das diferentes modalida-
des de resistência protagonizadas pelos povos • Habilidades: EF07HI10,
negros no passado e no presente. Assim, pre- EF07HI11, EF07HI12,
tendemos contribuir para o desenvolvimento EF07HI13, EF07HI14, EF07HI15 e
das competências e habilidades propostas. EF07HI16.

223

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 223 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Reforçar que, na África, a
dinâmica e a intensidade da
escravidão mudaram radi-
calmente depois da chegada
Guerra e tráfico atlântico
dos europeus ao litoral afri-
No século XV, com a chegada

MUSEU BRITÂNICO. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


cano.
dos portugueses à África, a escra-
• Estimular o alunado a rela-
vidão se avolumou e as guerras
cionar a chegada dos euro-
se multiplicaram. Parte dos líderes
peus ao litoral africano com
africanos (chefes de linhagem,
o aumento das guerras para
príncipes, reis) desejava armas de
se conseguir escravizados e
vendê-los aos europeus. fogo para manter ou ampliar seu
poder. Os europeus, por sua vez,
O trabalho com a página
desejavam escravizados. Então, na
quer contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade África, começaram a acontecer
EF07H11. guerras com o objetivo de conse-
guir prisioneiros para trocá-los por
armas de fogo e outros produtos.
Imagens em movimento Segundo o historiador
O historiador Alberto Silva Manolo Florentino, cerca de 75%
discute os modelos de escravi- dos africanos vendidos à América
dão na América e os modelos foram produto de guerras feitas
de escravidão que existiam para obter novos escravizados.
antes. Mas se uma parte das lideran-
• ALBERTO Silva: a escravidão ças africanas se envolveu com a
na História e na África. 2016. obtenção e venda de escravizados,
Vídeo (16min56s). Publicado outra parte resistiu e denunciou
pelo canal Nós Transatlân- os prejuízos que isso causava às Mapa português do noroeste da África feito por Bastian Lopez
tico. Disponível em: https:// suas comunidades. em 1558.
youtu.be/Dn_2RIo4QJc.
Acesso em: 11 ago. 2022.
Os responsáveis pelo tráfico
TEXTO DE APOIO No século XVI, com o aumento da procura por trabalhadores Tráfico atlântico:
nos engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro, teve início o comér- nome dado ao comércio
[...] o Brasil recebeu [...] mi-
de homens e mulheres
lhões de africanos escravizados. cio de africanos para a América portuguesa. Esse negócio envolvia escravizados pelo oceano
Entre os séculos 16 e 19, este pessoas e produtos de vários continentes (Europa, África, América e Atlântico entre os séculos
brutal comércio fez prisioneiros Ásia) e é chamado pelos historiadores atuais de tráfico atlântico.
atlântico. XVI e XIX.
de diferentes partes da África.. O tráfico atlântico durou mais de 300 anos e envolveu euro-
[...]
peus de várias nações (portugueses, ingleses, franceses, dinamarqueses, entre outros),
O Brasil foi o maior recep-
africanos (chefes, reis e negociantes) e, mais tarde, mercadores do Rio de Janeiro, da
tor desse fluxo forçado, o que
deu ao país o título de segunda Bahia e de Pernambuco.. Muitos desses mercadores, sobretudo do Rio de Janeiro e de
maior população negra do mun- Salvador, acumularam fortunas com o tráfico.
do, atrás apenas da Nigéria, na
África. 224
“Cada um tinha saudade da
sua África particular, da sua
aldeia, da sua cidade, do seu disse em entrevista exclusiva ao UNIC Rio, Al- gola, República do Congo, Gabão e República De-
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 224 03/08/22 11:16 AV-
bairro, da sua gente. Chegaram mocrática do Congo; depois da chamada Costa
berto da Costa e Silva, que é escritor e o maior
aqui e encontraram pessoas in- dos Escravos, que compreendia o território onde
africanólogo de língua portuguesa.
teiramente distintas, que forma- estão Nigéria, Camarões, Togo, Benin e Gana.
vam novos grupos, novos agru- Nos primeiros 50 anos do comércio transatlân-
pamentos, traziam uma nova tico de escravos, Alberto lembra que os povos ESPECIAL: Entre o Brasil e a África houve uma troca forte e
que aqui desembarcaram eram majoritariamen- poderosa, diz Alberto da Costa e Silva. UNIC Rio. [S. l.], 24
consciência social. No Brasil, os maio 2018. Disponível em: https://unicrio.org.br/especial-entre-
africanos criaram uma espécie te provenientes da região da Alta Guiné, onde o-brasil-e-a-africa-houve-uma-troca-forte-e-poderosa-alberto-
de matrimônio múltiplo, com hoje estão Senegal, Mali, Guiné-Conacri e Guiné- da-costa-e-silva/. Acesso em: 12 ago. 2022.
todas essas pessoas que, na -Bissau, por exemplo. Em seguida, passou a ter
África, jamais tinham se visto”, preponderância da região onde hoje estão An-

224

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 224 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que, enquanto a
África ocidental forneceu
Quantos eram e de onde foram trazidos os africanos? 25% dos africanos, a região
congangolana e Moçambi-
Segundo David Eltis e David Richardson, dois especialistas no tema, o número de
que fornececeram 75%.
africanos trazidos para a América pelo tráfico atlântico foi de 10 565 217. Desses, 4 860 000
• Aprofundar o assunto aces-
foram destinados ao Brasil. Vieram pessoas da África Ocidental,, da África Central e de
sando o site: TÉCNICA permite
Moçambique,, na costa leste africana. Localize essas regiões no mapa.
identificar origem de escra-
vizados enviados à América.
África: regiões de origem dos africanos trazidos ao Brasil G1, São Paulo, 10 mar. 2015.
EUROPA 0° Disponível em: https://g1.

ALLMAPS
M a r
M
d
globo.com/ciencia-e-saude/

e
i t
Tunísia e r r â n e o noticia/2015/03/tecnica-per-
Marrocos
mite-identificar-origem-de-es-
Argélia cravos-enviados-america.html.
Saara Líbia
Ocidental Egito Acesso em: 11 ago. 2022.
Trópico de Câncer

Ma
Professor, esta página apre-

rV
erm
ÁSIA senta dados de uma longa pes-

elh
Cabo Mauritânia

o
Verde
Mali Níger Sudão
quisa, feita por especialistas de
Eritreia
Senegal
Burkina
Chade diferentes partes da América,
Guiné
Faso Djibuti sobre o número de escraviza-
Benin

Nigéria
Togo

Gâmbia
Gana

Guiné-
Costa
do Sudão Etiópia dos embarcados na África e
Rep. Centro-
Marfim do Sul
-Bissau Camarões -Africana Somália desembarcados na América.
Serra
ÁF Leoa COSTA Além disso, vale lembrar o que
RI Libéria Uganda
Equador C AO DA MINA Congo Ruanda Quênia
CI Gabão 0° disse a professora Circe Bitten-
DE Guiné República OCEANO
NT Equatorial Democrática court sobre a história ser tem-
AL
do Congo
Burundi ÍNDICO
Tanzânia po e, também, espaço. Daí o
Seicheles
nosso esforço para localizar as
OCEANO Angola
Comores
regiões e zonas de procedência
ATLÂNTICO ÁFRICA Zâmbia
Malauí

CENTRAL
dos escravizados, contribuin-
car

Moçambique
Maurício
do, assim, para o desenvolvi-
agas

Zimbábue
Namíbia mento da habilidade EF07HI16
Mad
Meridiano de Greenwich

Trópico de Capricórnio Botsuana e da competência específica 5.

Suazilândia
África
do Sul
Lesoto Dica de leitura
0 397
Fronteiras atuais Neste livro, os autores re-
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA.
visam a História do Brasil, da
Atlas geográfico escolar. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 43. colonização até os dias atuais,
com o objetivo de resgatar o
A África Ocidental é uma extensa área que vai do Senegal ao Gabão; nela foram embarcados 25% protagonismo de mais de 550
dos africanos escravizados destinados ao Brasil, a maioria deles era da Costa da Mina. Já a África Central personagens negros.
(região congo-angolana) vai do norte do Gabão à fronteira entre Angola e Namíbia. Essa região,
juntamente a Moçambique, na costa leste, forneceu 75% dos africanos escravizados destinados ao Brasil. • GOMES, Flávio dos San-
tos; LAURIANO, Jaime;
225 SCHWARCZ, Lilia M. Enci-
clopédia Negra. São Paulo:
Companhia das Letras, 2021.
Imagens em movimento
COMPANHIA DAS LETRAS

11:16 AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 225 03/08/22 11:16

Entrevista com o professor Luiz Felipe de Alencastro


sobre o tráfico negreiro, no qual ele esclarece o envio ar-
bitrário de negros africanos, na condição de escraviza-
dos, para as Américas e outras colônias de países euro-
peus durante o período caracterizado como colonialista.
• HISTÓRIA: A História do Brasil no Atlântico Sul − Luiz
Felipe de Alencastro. 2014. Vídeo (30min25). Publica-
do pelo canal Univesp. Disponível em: https://youtu.
be/_PVnxAZPpKw. Acesso em: 11 ago. 2022.
225

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 225 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Localizar a África ocidental e
os principais portos brasileiros
Africanos ocidentais

ARQUIVO BUYENLARGE, INGLATERRA. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA


pelos quais entraram os afri-
canos trazidos dessa região. A maioria dos africanos oci-
• Explicar que, no século XIX, dentais desembarcados no Brasil
parte dos africanos ocidentais era da Costa da Mina, área de
e de seus descendentes foi cerca de 600 km2 entre Gana e
vendida do Nordeste para os Nigéria atuais. Ao longo da costa
cafezais do Sudeste brasileiro. africana, se encontravam os prin-
• Estimular os alunos a perce- cipais portos e feitorias usados no
berem as semelhanças entre tráfico de pessoas para o Brasil. A
uma africana da Costa da
maioria dos africanos ocidentais
Mina e uma baiana, no tocan-
entrou pelos portos da Bahia e
te às características apresen-
se concentrou no Nordeste: Bahia
tadas.
(75,6%), Pernambuco (11,4%) e
Maranhão (8,2%).
No século XVIII, com a des-
+ATIVIDADES coberta do ouro nas Minas Gerais Castelo São Jorge da Mina, erguido em 1482 pelos portugueses
na região da Costa da Mina, no litoral da África Ocidental.
Leia o texto a seguir com e a crise do açúcar no Nordeste, Litogravura do século XVI.
atenção. parte dos africanos ocidentais foi
[...] Os africanos não escravi-
vendida para as áreas de mineração. E, no século XIX, com a crise da mineração e o
zavam africanos, nem se reco-
nheciam então como africanos. desenvolvimento da cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo, muitos deles foram
Eles se viam como membros de trabalhar nos cafezais.
uma aldeia, de um conjunto de
CHRISTIANO JR./COLEÇÃO PARTICULAR

aldeias, de um reino e de um
grupo que falava a mesma lín-
gua, tinha os mesmos costumes
e adorava os mesmos deuses.
[...] Quando um chefe efique de
Velho Calabar vendia a um na-
vio europeu um grupo de cati-
vos ibos, não estava vendendo
africanos nem negros, mas ibos,
uma gente que, por ser conside-
rada por ele inimiga e bárbara,
podia ser escravizada. E, quando

SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS


negociava um efique condena-
do por crime, vendia quem, por
força de sentença, deixara de
pertencer ao grupo. O comércio
transatlântico de escravos era
controlado pelos grandes da
terra, pelos poderosos da Eu- À esquerda, negra brasileira filha de africanos da Costa da Mina, fotografada por Christiano Jr. em c. 1860.
ropa, da África e das Américas. Boa parte das pessoas que foram trabalhar nos cafezais era dessa origem (MOURA, Carlos Eugênio Marcondes
Fazia parte de um processo de de. A travessia da calunga grande: três séculos de imagens sobre o negro no Brasil. São Paulo: Edusp, 2000).
integração econômica do Atlân- À direita, moça baiana descendente de africanos ocidentais em fotografia de 2019. Salvador (BA).
tico, que envolvia a produção e
a comercialização, em grande
escala, de açúcar, algodão, taba-
226
co, café e outros bens tropicais,
um processo no qual a Europa
entrava com o capital, as Améri- b)AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd
Em que contexto o226autor insere o tráfico b) Ele o insere dentro do processo de integra- 03/08/22 11:16 HIS
cas com a terra e a África com atlântico?
o trabalho, isto é, com a mão de
ção econômica do Atlântico, que envolvia a
obra cativa. c) Em dupla. Reflitam e debatam sobre a produção e a venda de produtos tropicais,
seguinte afirmação do autor: “O comércio como o açúcar e o café, além de homens,
SILVA, Alberto da Costa e. A África
explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: transatlântico de escravos era controlado mulheres e crianças para serem usados como
Agir, 2012. p. 88-89. pelos grandes da terra [...]”.
mão de obra.
a) Segundo o autor do texto, é Respostas:
correto afirmar que os africa- a) Não; pois eles não se reconheciam como c) Professor, os estudantes devem compre-
nos escravizavam as pessoas de africanos, mas sim como membros de povos, ender que o autor está se referindo aos de-
seu país para vendê-los como comunidades, linhagens, histórias e grupos tentores do poder e da riqueza da época,
escravizados? Justifique. linguísticos diferentes. isto é, comerciantes e líderes políticos.
226

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 226 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Retomar com os alunos o tra-
balho feito sobre os povos
Africanos da região congo-angolana e de Moçambique bantos no capítulo 2 deste
Os povos da região con- Proporção de africanos escravizados volume.
go-angolana tinham origem da região congo-angolana • Reforçar que a maioria dos
comum, falavam línguas bantas Anos Para o Brasil africanos da região congo-
e contavam com certa unidade 1501 a 1650 95% -angolana entrou no Brasil pe-
cultural. Essa região forneceu a los portos do Rio de Janeiro.
1651 a 1725 68%
maioria dos africanos entrados • Retomar e aprofundar a
1726 a 1825 70%
no Brasil. Observe a tabela. ideia de que os africanos
1826 a 1866 88%
não vieram “espontanea-
Fonte: SLENES, Robert W. Africanos centrais. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz;
GOMES, Flávio dos Santos (org.). Dicionário da escravidão e liberdade: mente”; eles foram trazidos
50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 64.
à força para a América para
trabalhar nas plantações,
A maioria dos africanos da região congo-angolana entrou no Brasil pelos portos do Rio
minas e habitações de seus
de Janeiro. Enquanto durou o tráfico atlântico, o Rio de Janeiro foi o maior porto receptor
senhores.
de escravizados da América. Os falantes das línguas quicongo, quimbundo e umbundo,
• Evidenciar, com base no grá-
que continuam sendo faladas hoje em Angola, foram os mais duramente atingidos pelo
fico, a relação estreita entre
tráfico. Isso ajuda a explicar por que essas línguas influenciaram fortemente o português o aumento da entrada de
falado no Brasil. africanos e os períodos de
Os africanos, independentemente da região de origem, foram trazidos para trabalhar alta do açúcar, do ouro e do
nas plantações, minas e habitações deste lado do Atlântico. café na economia colonial.
Observando o gráfico, é possível concluir que os períodos de alta do açúcar, do ouro O trabalho com a página
e do café coincidem com o aumento da entrada de africanos no Brasil. quer contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade
Brasil: africanos escravizados desembarcados (mil) EF07HI14 e das competências
específicas 2 e 5.

EDITORIA DE ARTE
650
600
550
500
450
400
350
Alta agrícola
300
250
200
Queda do ouro
150
Alta do açúcar Alta do ouro
100
Crise europeia
50 Invasão concorrência do açúcar antilhano Fim do tráfico no Brasil zia aos autóctones ao entrar em
0 holandesa
novo território era “Quem são os
1551-1560

1561-1570

1571-1580

1581-1590

1591-1600

1601-1610

1611-1620

1621-1630

1631-1640

1641-1650

1651-1660

1661-1670

1671-1680

1681-1690

1691-1700

1701-1710

1711-1720

1721-1730

1731-1740

1741-1750

1751-1760

1761-1770

1771-1780

1781-1790

1791-1800

1801-1810

1811-1820

1821-1830

1831-1840

1841-1850

1851-1860

donos da terra?”. Isto é, os espí-


ritos tutelares, particularmente
as sombras dos “primeiros [seres
Elaborado com base em: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. África, números do tráfico atlântico. In: SCHWARCZ,
Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (org.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. humanos] a chegar”. A segunda
São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 63. pergunta era: “Quais são os ritu-
ais próprios para contatar esses
227 espíritos?”.
A relevância para a última e
mais dolorosa expansão bantu é
evidente. [...] Há quem avalie os
11:16 TEXTO DE APOIO
HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 227 ganizados em hierarquia, preocupados20/08/22
com20:34
os
caboclos como elementos estra-
diversos grupos de parentesco de uma determi-
nada área. Em geral, os ancestrais mais antigos nhos numa religião “africana”, o
Congo-angolanos resultado de sincretismo impu-
eram incorporados ao topo desse grupo de es-
Quais teriam sido os princípios culturais co- ro. Ora, não poderia haver nada
píritos tutelares. Tal configuração, que permitia
muns aos cativos da zona atlântica e seus con- mais (centro-) africano do que
aos ancestrais ainda lembrados acompanhar os
gêneres mais interioranos? Em primeiro lugar, se aproximar dos donos da ter-
migrantes, ao passo que os entes tutelares zela-
em praticamente toda a África bantu existiam ra, tomando emprestados a seus
vam pelas gentes em certos espaços, foi de suma descendentes os rituais.
dois tipos básicos de espíritos: os dos ancestrais importância para as estratégias na milenar ex-
“nomeados” – cuja memória ainda se guardava GOMES, Flávio dos Santos; SCHWARCZ,
pansão bantu. Uma série de pesquisas sobre as
Lilia M. Dicionário da escravidão e
e que eram ciosos do bem-estar dos vivos de fases iniciais dessa expansão deduz que a pri- liberdade. São Paulo: Companhia das
seu clã – e os espíritos tutelares da Terra, or- meira pergunta que um grupo de migrantes fa- Letras, 2018. p. 66-67.
227

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 227 01/09/2022 09:33


ENCAMINHAMENTO
• Analisar a origem da maior
parte dos escravizados que
entraram no Brasil. No Brasil, os africanos não eram chamados pelo nome de sua etnia, mas sim pelo do
• Refletir sobre a importância
porto ou da região onde tinham sido embarcados. Um africano de etnia bacongo, por
do nome para uma pessoa. exemplo, era chamado aqui de cabinda, se esse fosse o nome do porto africano por onde
ele havia embarcado. Outro exemplo: os diferentes povos embarcados na Costa da Mina
• Explicar que, ao trocar o
nome do escravizado, bus- (África Ocidental) eram chamados aqui simplesmente de minas.
cava-se apagar-lhe da me-

MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

COLEÇÃO PARTICULAR
mória seu passado, seus cos-
tumes, sua língua, seu lugar
de origem, sua família etc.
À esquerda, uma africana mina,
Escutar e falar. Esta ativida- ou seja, embarcada na Costa
de quer levar o aluno a colo- da Mina, em fotografia de 1864,
car-se no lugar do outro, sen- de Christiano Jr.
tir e imaginar o que pode ter
À direita, vemos um congo, em
sido para os africanos a perda representação de Johann Moritz
de seu nome e toda a carga Rugendas do século XIX; esse era
afetiva nele presente. Em al- originalmente o nome do porto
guns lugares da África, como a de embarque, e não da etnia.
Nigéria, por exemplo, o nome
conta um pouco da história da
pessoa, assim, trocá-lo, nes-
se contexto, é o apagamento
dessa história e das lembran-
ESCUTAR E FALAR
ças da infância e da juventude.
• Tema Contemporâneo Trans- A perda do nome
versal: esta seção mobiliza o
Na hora do embarque para o Brasil, o africano era “batizado”, ou seja, perdia seu
tema educação em direitos
nome original e passava a ter um nome português. Esse nome, dado no batismo, devia
humanos.
ajudar a apagar da memória do africano todo o seu passado: sua família, seus amigos,
sua língua e seu lugar de origem.
• O que você sentiria se trocassem o seu nome, e o(a) levassem para um lugar distante
e diferente do seu? Como você reagiria? Crie um pequeno roteiro e prepare-se para
falar sobre o assunto para os colegas. Produção pessoal.

Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
TEXTO DE APOIO d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
Evangelização e batismo e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
A justificação da escravidão f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
negra no Império Português na
Idade Moderna baseou-se, par-
ticularmente, na evangeliza- 228
ção cristã de povos designados
como gentios e pagãos. A bula
papal Romanus pontifex (1455) libertação do pecado original,
220a247-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 228 enquanto na ata Guiné, dentro de seis meses. No caso de terem 26/08/22 17:32 AV-

tornou-se chave na defesa de batismal anotava-se sua condição de cativo e o dez anos ou menos idade, dever-se-ia cumprir
tese de que retirar os negros de nome do seu proprietário. O batismo poderia li- dentro de um mês após a chegada do cativo. Às
suas práticas originais e levá-los bertar a alma, porém mantinha o corpo do afri- crianças nascidas de pais da Guiné, deveria ser
para o seio da cristandade sal- cano escravizado. observado o mesmo tempo determinado para o
varia suas almas [...]. A entrada Ao longo dos séculos, milhões de africanos fi- batizado dos filhos dos cristãos, oito dias, con-
dos escravizados nos antigos zeram sua diáspora forçada para os domínios tados da data de nascimento, sem questionar a
e novos domínios portugueses portugueses da América. [...] anuência dos pais. [...]
fazia-se, então, pela evangeliza- [...] o batismo era critério central no processo MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Uma nova interpretação da
ção e recepção do batismo. Re- de feitura do novo escravo. [...] Desde as Orde- chegada de escravos africanos à América Portuguesa (Minas
cebia-se um novo nome, a água nações Manuelinas (1521), consta ser dever dos Gerais, século 17). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 17.,
do batismo e o sal como sinal da senhores batizar todos os escravos e escravas da 2011, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: ANPUH, 2011. p. 1-2.
228

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 228 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar o con-
ceito de tráfico atlântico.
A travessia • Propor a análise da imagem
desta página e estimular os
Nas fortalezas do litoral africano, homens, mulheres e crianças eram forçados a embar- alunos a refletirem sobre as
car em navios conhecidos como navios negreiros.. A viagem das praias da África Ocidental condições a que eram sub-
para o Brasil durava de 30 a 45 dias, conforme o lugar de partida e o de chegada. As metidos os escravizados.
condições da viagem eram péssimas, a comida era pouca e de má qualidade. Os navios iam • Chamar a atenção dos alu-
superlotados: onde cabiam 100 pessoas iam 300, e muitas morriam durante a travessia. nos para as condições de-
Mesmo assim, o lucro dos traficantes era grande: o preço de venda de um lote era, em sumanas da travessia pelo
média, três vezes maior que o de compra. Atlântico.
• Discutir sobre as perdas de
vidas durante a travessia do
Atlântico.
• Comentar com os alunos que
escravizados foram trazidos
à força para trabalhar no
Brasil, não apenas na lavou-

HÉCTOR GOMEZ
ra, mas também nas mais di-
ferentes áreas da vida social.
• Esclarecer que os africanos
também trouxeram para
o Brasil suas culturas, seus
saberes, suas técnicas e lín-
guas, elementos decisivos na
formação da sociedade bra-
sileira .

Imagens em movimento
Documentários produzidos
pela Unesco que apresentam
Além de pessoas escravizadas,
a carga incluía roupas e as várias histórias e heran-
mantimentos. O número de pipas ças decorrentes da diáspora
de água era pequeno, para não africana, além de fornecer
Tonéis de água ocupar muito espaço no navio.
e mantimentos.
um panorama da deportação
Com isso, alguns escravizados
bebiam água do mar e adoeciam.
massiva de populações africa-
nas para diferentes partes do
Os africanos chegavam ao litoral brasileiro confusos, cansados e sem saber onde mundo, incluindo as Améri-
estavam. Nos mercados do Rio de Janeiro, de Salvador, de Recife e de São Luís, eles eram cas, a Europa, o oceano Índico,
examinados, avaliados e vendidos. O preço por um homem adulto valia o dobro do de o Oriente Médio e a Ásia.
uma mulher e, geralmente, três vezes mais do que de uma criança ou um idoso. • A ROTA do escravo: a alma
da resistência. 2013. Vídeo
229 (34min54s). Publicado pelo
canal ONU Brasil. Disponível
em: https://youtu.be/HbreA-
17:32 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 229 dos tributos necessários para a legalização da
03/08/22 11:16 bZhN4Q. Acesso em: 11 ago.
atividade, os chamados direitos de exportação. 2022.
O procedimento de superlotar os navios era De acordo com esse raciocínio, muitos nego-
um dos exemplos da intenção dos comerciantes ciantes preferiram correr o risco de transportar • A ROTA do escravo: uma
de escravos de obter o máximo de lucro trans- mais escravos do que o número permitido, mes- visão global. 2015. Vídeo
portando o maior número possível de escravos mo sabendo que eram atos ilegais de acordo (11min12s). Publicado pelo
em um número reduzido de viagens. A travessia com a legislação portuguesa.
atlântica exigia custos e uma série de investi-
canal ONU Brasil. Disponível
mentos, como o valor destinado à aquisição ou
CARVALHO, Flávia Maria de. Diáspora africana: em: https://www.youtube.
travessia atlântica e identidades recriadas nos espaços coloniais.
arrendamento das embarcações, ao abasteci- Mneme – Revista de Humanidades, Caicó, com/watch?v=rIfTqFmpsdI.
mento da tripulação e também ao pagamento v. 11, n. 27, p. 14-24, 2010. p. 17. Acesso em: 11 ago. 2022.

229

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 229 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto aces-
sando o site: O TRABALHO
Escravo no Brasil (1500 –
1888). Tribunal Superior do
O trabalho
Trabalho. Brasília, DF, 2022.
Disponível em: https://www. Os africanos não vieram para a América por vontade própria; foram trazidos para
tst.jus.br/memoriaviva/-/ trabalhar. No Brasil, eles trabalhavam de 12 a 15 horas por dia: o trabalho começava entre
asset_publisher/LGQDwoJ- 4 e 5 horas da manhã e ia até o anoitecer. Por vezes, as manhãs dos feriados e domingos
D0LV2/content/ev-jt-80-02. eram usadas no conserto de cercas, estradas e em outros serviços. O homem trabalhava
Acesso em: 11 ago. 2022. como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, pedreiro, carregador e em várias outras
O texto do Tribunal Superior funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava,
do Trabalho é uma síntese passava, realizava partos, vendia doces e salgados etc.
das diferentes formas assu-
midas pelo trabalho escra- ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO
vizado na história brasileira
entre os séculos XVI e XIX.

Dica de leitura
Neste livro, a autora de-
monstra como as vozes dos
milhões de africanos escravi-
zados trazidos para o Brasil
resultaram em uma africani-
zação do português brasileiro.
• CASTRO, Yeda Pessoa de.
Camões com dendê: o portu-
guês do Brasil. Rio de janei-
ro: Topbooks, 2022.
EDITORA TOPBOOKS

Negros de carro, de Jean-Baptiste Debret, século XIX. Note que é uma representação feita por um pintor
sobre o que ele viu à sua volta.

Entre os trabalhadores afrodescendentes havia também liber-


Carta de alforria: tos, nome que se dava àqueles que tinham conseguido a carta de
documento que era alforria após longos anos de trabalho.
dado ou vendido
Os africanos aqui desembarcados trouxeram consigo não
ao escravizado por
seu proprietário e apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas. E, o que é
TEXTO DE APOIO comprovava sua importante dizer, essas culturas africanas marcaram profundamente
condição de liberdade.
Camões com dendê nosso modo de viver, pensar e sentir.
Se as vozes dos quatro mi-
lhões de africanos trazidos para 230
o Brasil ao longo de mais de três
séculos não fossem abafadas na
nossa História, hoje saberíamos São palavras portadoras
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 230 de elementos cultu- O desempenho da mulher negra, ama de lei- 03/08/22 11:16 AV-
que eles, apesar de escraviza- te e criadeira, foi tão marcante no seio da casa
rais compartilhados por toda a sociedade brasi-
dos, não ficaram mudos. Par- senhorial que até hoje chamamos o filho mais
leira, no âmbito da recreação (samba, capoeira),
ticiparam da configuração do jovem pelo termo angolano caçula em lugar de
português brasileiro e são res- dos instrumentos musicais (berimbau, cuíca,
agogô), da culinária (mocotó, moqueca), [...] das “benjamim”, como se diz em Portugal. Foi ainda
ponsáveis pelas diferenças que nesse momento que outros termos angolanos
afastaram o português do Brasil doenças (caxumba), da flora (dendê, maxixe,
deixaram fora de uso no Brasil os seus equiva-
do de Portugal. jiló), da fauna (camundongo, minhoca), [...] dos
lentes em português (moringa em lugar de bilha,
Aquelas vozes são perceptíveis ornamentos (miçanga, balangandã), [...] da fa- corcunda por giba, capenga por coxo [...], cochilar
[...] e se revelam [...] nas cente- mília (caçula, babá), [...] das relações pessoais por dormitar [...], xingar por insultar [...], marim-
nas de palavras que enriquecem de carinho (xodó, dengo, cafuné), [...] do mando bondo por vespa, dengo por mimo [...]).
o patrimônio linguístico do por- (bamba, capanga), do comércio (quitanda [...], CASTRO, Yeda Pessoa de. Camões com dendê. Revista de
tuguês do Brasil. maracutaia). [...] História da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 78, 1 mar. 2012.
230

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 230 01/09/2022 09:34


TEXTO DE APOIO
Comida de escravo e
culinária africana
Alimentação e violência Ao desembarcar exaustos [...],
os escravos iam recuperar a saú-
de e, graças a ela, o preço. No
Nas grandes fazendas, a maioria dos escravizados recebia uma cuia de feijão e uma Nordeste, os cajuais, ricos em
porção de farinha de mandioca ou de milho. Vez por outra, recebia também rapadura e vitamina C, eram remédio cer-
charque (que, conforme a região, tinha o nome de carne-seca, carne-do-sul, carne-do- to. No Rio de Janeiro, de onde
-ceará etc.). De modo geral, a alimentação dos escravizados era insuficiente e pobre em eram distribuídos para as outras
capitanias, faltavam os cajuais,
proteínas, o que acarretava sérios problemas de saúde e envelhecimento precoce.
mas a preocupação dos comer-
Os escravizados recebiam castigos por qualquer pequena falta. Entre os instrumentos ciantes do mercado do Valongo
de castigo estavam a palmatória, a gargalheira e a máscara de flandres. A máscara de era a mesma: recuperar os via-
flandres,, feita de zinco ou folha de flandres, era um instrumento que permitia à vítima jantes. Eram, então, alimentados
enxergar e respirar, mas a impedia de se alimentar. com farinha de mandioca, feijão
e carne-seca, e, como observou
o viajante Rugendas, “não lhes
XANDO PEREIRA/FOLHAPRESS

FERNANDO VIVAS/AG. A TARDE/FUTURA PRESS


faltam frutas refrescantes”.
À esquerda, integrantes
Uma vez adquiridos, a comida
da banda feminina Didá
durante uma apresentação
de escravo variava com sua fun-
no Pelourinho, Salvador ção ou atividade. [...] A base era
(BA), 1998. Note que as idêntica, [...] e apenas a incidên-
percussionistas utilizam cia de alguma carne ou pescado
réplicas da máscara de para dar gosto distinguia o re-
flandres. gime. Para o Norte, a farinha de
mandioca dava o tom do prato.
À direita, a mesma banda Pelo interior da Bahia na direção
em apresentação no Sudeste, predominava o milho,
Carnaval, também batizado pelo angolês de fubá,
em Salvador. nome da farinha em quimbun-
Fotografia de 2011.
do, além do mingau mais con-
sistente de angu. [...]
Nas cidades [...] os recursos
se acresciam pela venda de
PARA SABER MAIS comida preparada e oferecida
pelas negras nas praças e cais:
angu, mingau de carimã ou mi-
A negra Anastácia: mito e religiosidade lho, peixe assado, milho cozi-
Contam que, no século XVIII, teria vivido no interior mineiro uma escravizada de nome do em grãos servidos no caldo,
Anastácia, uma negra de olhos azuis. Por sua rara beleza, Anastácia teria despertado mungunzá e iguarias vindas
ciúmes na mulher de seu senhor, que, por isso, a obrigou a usar a máscara de flandres. da Bahia, possivelmente acaçá,
caruru, moquecas com o peixe
Muito tempo depois, em 1968, durante a comemoração dos 90 anos da Abolição
enrolado em folhas, farinhas de
da escravatura, na igreja do Rosário, no Rio de Janeiro, Anastácia foi homenageada e castanha-de-caju e milho tor-
descrita como santa pelos milagres que teria realizado. rado açucaradas, o tão elogiado
Na verdade, Anastácia é um mito da nossa história; não há provas materiais da sua por todos os viajantes aluá de
existência. Mas as histórias contadas sobre ela fazem parte da memória da escravidão e arroz. E as carnes: seca, afogue-
continuam inspirando atitudes de devoção e respeito entre as gentes de Minas Gerais. ada nas brasas ou assada nos
braseiros, escaldada em rápida
fervura. Para adoçar a boca e a
231 vida, caldo de cana, rapadura,
manuês, bolo-preto, pé de mo-
leque, arroz-doce com canela,
doce de coco ralado, “tantos en-
11:16 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 231 +ATIVIDADES 03/08/22 11:16
gana-fomes inventados pela pe-
Faça uma releitura da representação de núria aproveitadora do material
• Comentar com os alunos que a alimentação mais próximo” [...].
oferecida aos escravizados era pobre em Anastácia, utilizando a técnica que consi-
proteína e tinha alto teor calórico. derar mais interessante (desenho, colagem, DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente
brasileira: colônia. Rio de Janeiro: LeYa,
pintura etc.). 2016. v. 1. p. 253-254.
• Chamar a atenção dos alunos para os proble-
A atividade visa contribuir para o desen-
mas de saúde dos escravizados em decorrên-
volvimento da competência geral 4.
cia das condições inadequadas de alimenta-
ção e trabalho a que eram submetidos. • Interdisciplinaridade: a atividade com va-
riadas técnicas artísticas pode ser desenvol-
vida com o professor de Arte.
231

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 231 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Analisar os tipos de resistên-
cia cultural praticados pelos


escravizados no Brasil.
Trabalhar os conceitos de
Capoeira: dança e luta
ao mesmo tempo, a Resistência
capoeira foi uma forma
congada, capoeira e reisado de diversão e defesa
desenvolvida no Brasil Onde houve escravidão no mundo, houve resistência. No
e analisar o papel dessas ma-
pelos africanos e seus Brasil, não foi diferente. O excesso de trabalho, a disciplina rigo-
nifestações culturais no for- descendentes.
talecimento das identidades rosa, os castigos, o fato de o senhor não cumprir com a promessa
Congado: tipo de
afro-brasileiras. de libertar o escravizado quando este conseguia juntar dinheiro
dança dramática que
• Comentar que os escraviza- representa a coroação para comprar sua carta de alforria, tudo isso provocou diferentes
de um rei (e, às vezes, formas de resistência. Os escravizados resistiam praticando religiões
dos encontravam, nas dan-
de uma rainha) do
ças e na capoeira, formas de Congo, constituída de
de origem africana; jogando capoeira
capoeira;; promovendo festejos, como
resistirem às condições às um cortejo com passos o congado
congado,, o reisado
reisado,, o jongo; e fundando irmandades.
quais eram submetidos. e cantos, em que a As irmandades eram associações organizadas por leigos e
música acompanha a
• Refletir sobre a importância expressão dramática que tinham sede em igrejas católicas. Para que uma irmandade
das irmandades entre os afri- dos textos, e que funcionasse, era necessário que tivesse seus estatutos aprovados
canos e seus descendentes e se caracteriza pela por uma autoridade da Igreja Católica. As irmandades promoviam: o
comentar o papel dessas as- embaixada e por lutas
simbólicas de espada. culto aos seus santos padroeiros; a cooperação entre seus membros
sociações religiosas no coti-
Reisado: festa popular para construir, reformar ou ornamentar uma igreja; a assistência
diano de seus membros. que se realiza na mútua entre seus integrantes. A assistência era de ordem material
• Aprofundar o assunto com véspera e no Dia de
(protegendo suas famílias da pobreza) e espiritual,, garantindo
a leitura dos textos: CEZAR, Reis. Tipo de auto
Lilian Sagio. Congada une natalino surgido no aos integrantes apoio na hora da morte (missa de corpo presente,
final do século XIX, sepultamento digno e orações em sua intenção).
santos católicos e saberes difundindo-se no
de antigos escravos. Jornal Norte e Nordeste; é
CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

da USP, São Paulo, 21 ago. constituído de um


2018. Disponível em: https:// figurante acompanhado
por um coro cantando
jornal.usp.br/ciencias/ciencias- peças em sequência.
humanas/congada-une-
santos-catolicos-e-saberes-de-
antigos-escravos/; REISADO.
Portal Geledés. [S. l.], 27 set.
2009. Disponível em: https://
www.geledes.org.br/reisado/.
Acessos em: 9 jun. 2022. Crianças quilombolas
jogam capoeira durante
Festa de Cultura Afro
em homenagem ao Dia
+ATIVIDADES da Consciência Negra.
Pesquise sobre a Irmandade Araruama (RJ), 2015.
dos Homens Pretos de Salva-
dor e grave um podcast sobre
essa importante associação.
Sugestão de texto para pes-
quisa: SANTOS, Vagner José Ro-
cha. A irmandade do Rosário dos
Homens Pretos do Pelourinho: 232
história de fé (re)existência e
comida. In: CONGRESSO BRA-
SILEIRO DE PESQUISADORES
NEGROS, 10. 2018, Uberlândia. sim para evidenciar a importância
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 232 dos povos no Brasil. 2011. Vídeo (58min6s). Publi- 03/08/22 11:16 AV-

Anais [...]. Uberlândia: UFU, 2018. africanos na formação do Brasil. cado pelo canal TV BrasilGov. Duração:
Professor, a atividade quer • SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil 19min42s. Disponível em: https://youtu.be/
contribuir para o desenvolvi- africano. 2. ed. São Paulo: Ática, 2008. MxSAocRFzzw. Acesso em: 11 ago. 2022.
mento da competência espe- Documentário sobre a capoeira, instru-
cífica 1. Imagens em movimento mento de resistência dos negros africanos
Documentário História da resistência ne- escravizados.
Dica de leitura gra no Brasil, de José Carlos Asbeg, apresen- • CAPOEIRA: a cultura da ginga. 2016. Ví-
O livro traz um panorama tado no programa “Cenas do Brasil”. deo (23min48s). Disponível em: https://
histórico de diversas socieda- • CONSCIÊNCIA negra é destaque no do- youtu.be/4Kav-bvk49Y. Acesso em: 11
des da África, contribuindo as- cumentário História da resistência negra ago. 2022.
232

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 232 02/09/2022 09:07


TEXTO DE APOIO
Irmandades negras
Na América Portuguesa, as ir-
Havia irmandades de brancos, outras de mestiços. Havia também irmandades de ricos
mandades foram fundamentais
e outras de pobres. Vivendo em uma época em que não podiam frequentar as irmandades para a expansão e manutenção
nem as “igrejas dos brancos”, os negros fundaram suas próprias irmandades, sendo as do culto católico [...]. Desde o
mais requeridas as de Nossa Senhora do Rosário e as de São Benedito. Uma delas foi a início da colonização, entre as
Irmandade dos Homens Pretos de Salvador, um espaço associativo de ajuda mútua e de muitas fraternidades funda-
das, destacam-se aquelas que
manutenção de uma identidade negra. deveriam agremiar os escravos
A Irmandade dos e seus descendentes libertos

FRED S. PINHEIRO/SHUTTERSTOCK.COM
Homens Pretos de Salvador e livres. Os mais antigos com-
foi fundada em 1685 por promissos conhecidos são das
Irmandades do Rosário do Rio
mulheres e homens originá-
de Janeiro, de Belém e da Bahia,
rios da região onde hoje é erguidas, respectivamente, nos
Angola. Além da assistên- anos 1639, 1682 e 1685. [...]
cia dada a seus associados A garantia de uma boa mor-
na doença, na velhice e te, com funeral, tumba, missas,
na morte, a irmandade se é um tema tratado com grande
cuidado nos compromissos das
empenhava também em
irmandades negras. Os altíssi-
conseguir dinheiro para a mos custos que envolviam to-
compra de cartas de alforria. dos esses ritos, além da impor-
A igreja-sede da irmandade tância da ancestralidade para
começou a ser construída os africanos, certamente foi um
atrativo ímpar para o ingresso
por escravizados e libertos
numa fraternidade. [...] A festa
em 1704 e foi reformada do padroeiro constituía um mo-
recentemente; situada no mento singular de mobilização e
Largo do Pelourinho, a visibilidade pública da agremia-
irmandade e sua igreja foram ção, quando as irmandades ne-
gras poderiam galgar um lugar
e continuam sendo um dos de distinção na sociedade colo-
centros de apoio à popula- nial. Suas festas, além dos atos
ção negra de Salvador. litúrgicos, permitiam manifes-
tações menos solenes: ocorridas
do lado de fora da igreja, com
música, dança e comilanças [...].
Representavam circunstâncias
especiais de demonstrações
culturais, como os reinados do
Igreja de Nossa Senhora do
Rosário e as coroações de reis
Rosário dos Pretos construída no
século XVIII. Salvador (BA), 2019. e rainhas do Congo, e por isso,
também, chances privilegiadas
para o reconhecimento de dife-
renças no interior das comuni-
dades de africanos e crioulos.
REGINALDO, Lucilene. Irmandades.
In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES,
Flávio dos Santos (org.). Dicionário da

233 escravidão e liberdade: 50 textos críticos.


São Paulo: Companhia das Letras,
2018. p. 272-273.

Imagens em movimento Dica de leitura


PACO EDITORIAL

11:16 AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 233 03/08/22 11:16

Vídeo sobre as irmandades fundadas e Neste livro, a autora analisa um ambiente


mantidas por africanos e afrodescendentes. de resistência e mobilidade social dos escra-
• LIGIA Margarida – associações, irmanda- vizados negros em uma conexão com a re-
des e desvalidos. 2017. Vídeo (16min27s). ligiosidade, a música e o entendimento da
Publicado pelo canal Nós Atlântico. Dispo- natureza.
nível em: https://youtu.be/osXECcMewJs. • GOMES, Lidiane Mariana da Silva. Irmanda-
Acesso em: 11 ago. 2022. des negras: educação, música e resistência
nas Minas Gerais do século XVIII. Jundiaí:
Paco Editorial, 2019.
233

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 233 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Retomar a ideia de que, onde
houve escravidão, houve re-
sistência. Os quilombos
• Chamar a atenção dos alunos
para as diferentes formas de Os africanos e seus descendentes resistiram também deso-
resistência dos escravizados, bedecendo, recusando-se a trabalhar, quebrando ferramentas,
como as fugas, o suicídio e a incendiando plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senho-
formação dos quilombos. Quilombo: agrupamento res, negociando melhores condições de vida e trabalho, fugindo
• Trabalhar o conceito de qui- de pessoas que fugiam sozinhos ou com companheiros e formando quilombos
quilombos.. Observe
lombo. da escravidão.
o mapa a seguir.
• Evidenciar, com base no mapa,
que existiram quilombos por
todo o território, do Amazo- Quilombos mais conhecidos (séculos XVII a XIX)
nas ao Rio Grande do Sul.

ALLMAPS
• Comentar a longa vida do Qui-
lombo dos Palmares, apesar
da superioridade militar das Equador

autoridades coloniais. do Trombetas (1866-88)
Maracanã e Macajubá
(século XIX)

Dica de leitura Turiaçu (século XVIII)


Cumbe
do Preto Cosme
(1831)
Com textos inéditos dos (1838)
Palmares
principais intelectuais brasi- (1630-95)

leiros, este livro organiza a Oitizeiro (1807)


Buraco do Tatu (1744-65)
discussão sobre o processo Pindaituba, Moluca e
Nossa Senhora dos
Males e Cabula (1807)
Joaquim Teles (1795)
histórico que levou a socieda- da Carlota ou do Piolho
Urubu (1826)
(1770-95)
de ocidental a compreender a do Kalunga
de Jacuípe e Jaguaribe (1705-06)
cidadania plena, com direitos (1790-1888)
Magarojipe e Muritiba (1713)
Campos da Cachoeira (1714)
civis, políticos e sociais. Orobó, Tupim e Andaraí (1796-97)
Campo Grande, Isidoro, do Camisão (1726)
do rio das Mortes e do
• PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla rio das Velhas, Ambrósio
Taperoá, Canavieiras (1733)
Nazaré e Santo Amaro (1734)
e imediações de Sabará
Bassanezi (org.). História da OCEANO e Ouro Preto (século XVIII)
Jacobina e Rio das Contas (1735-36)
Jacobina e Xique-Xique (1801)
cidadania. São Paulo: Con- PACÍFICO
Jabaquara Manuel Congo (1838)
texto, 2003. Trópico d
e Capricórn
io (1883-88) Luanda (1880)
Iguaçu ou Bomba, Estrela, Gabriel
(século XIX)
EDITORA CONTEXTO

OCEANO
Alagoa e Enseada
do Brito ATLÂNTICO
(sem data)

Negro Lucas, do arroio


Quilombo do Rio Pardo
(sem data) 0 288

60º O
Muitos dos quilombos que aparecem no mapa ainda não foram Fonte: SCHWARCZ, Lilia Moritz;
REIS, Letícia Vidon de Souza
estudados. Existiram quilombos por todo o território brasileiro, (org.). Negras imagens:
desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas. Uns pequenos ensaios sobre a cultura e
(20 ou 30 habitantes), outros grandes (com milhares de escravidão no Brasil. São Paulo:
Edusp, 1996. p. 26.
habitantes). O mais famoso deles foi o Quilombo dos Palmares.

234
+ATIVIDADES
Leia com atenção o texto a
seguir. cantis diversas. Frequentemente,
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 234 os quilombos b) Analisando o texto, é possível afirmar 03/08/22 11:16 AV-

Um dos aspectos fundamen-


desenvolveram práticas econômicas integradas que os quilombos eram comunidades total-
à economia local e relações sociais complexas mente isoladas? Justifique sua resposta.
tais do protesto por meio das
que podiam contar com a participação de vários Respostas:
comunidades de fugitivos em
setores sociais envolventes – taberneiros, por a) Os cativos visavam à formação de comuni-
várias partes da América foi a
exemplo – de uma determinada região. [...] dades camponesas independentes.
tentativa, por parte dos cativos,
de forjar uma comunidade cam- GOMES, Flávio dos Santos. Sonhando com a terra, construindo b) Não; pois os quilombos realizavam trocas
ponesa independente. De modo a cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.).
História da cidadania. 6. ed. comerciais com as comunidades próximas.
geral, os quilombolas no Brasil
procuravam estabelecer-se não
São Paulo: Contexto, 2012. p. 455-456. Professor, essa atividade pode contri-
muito distante de locais onde a) De acordo com o texto, o que os cativos buir para o desenvolvimento da habilidade
pudessem realizar trocas mer- pretendiam com a formação de quilombos? EF07HI10 e a competência geral 1.
234

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 234 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Analisar a importância dos
quilombos.
O Quilombo dos Palmares • Comentar a destruição do
O maior e mais duradouro de todos os quilombos brasileiros foi o dos Palmares. Teve início Quilombo dos Palmares,
numa noite de 1597, quando cerca de 40 escravizados fugiram de um engenho do litoral nor- destacando a resistência dos
destino e se refugiaram na Serra da Barriga, uma região montanhosa situada no atual estado quilombolas mesmo frente à
de Alagoas. Como no lugar havia grande quantidade de palmeiras, chamou-se Palmares. superioridade militar do go-
Palmares cresceu rapidamente e, segundo o historiador João José Reis, chegou a verno brasileiro.
ter cerca de 15 mil habitantes. Os africanos e seus descendentes eram maioria, mas em
Palmares havia também brancos pobres e indígenas expulsos de suas terras pelos colonos.
Os palmarinos viviam em liberdade e a seu modo num conjunto Quimbundo: língua TEXTO DE APOIO
de povoações chamadas mocambos (de mukambo mukambo,, “esconderijo” em do grupo banto
falada em Angola. A Resistência Negra e a
quimbundo).
quimbundo ).
formação dos Quilombos
Para sobreviver, plantavam milho, feijão, mandioca, batata-doce; criavam porcos e
As sociedades escravistas nas
galinhas; caçavam cotias, raposas, tatus; confeccionavam objetos de cerâmica, palha tran- Américas foram marcadas pela
çada e madeira; e faziam vasos, enxadas, pás e pilões. Geralmente, a produção de cada rebeldia escrava. Durante todo o
mocambo era distribuída entre seus membros. As sobras período de existência do traba-
eram guardadas para as épocas de guerra, colheita ou lho escravo, senhores de escra-
vos e governantes foram cons-
festa, ou para serem trocadas nas vilas mais próximas,
tantemente surpreendidos com
como Porto Calvo, Serinhaém e Alagoas. a resistência escrava. No Brasil,
conforme Albuquerque e Fraga
Filho [...] tal resistência assumiu
Representação de cena do cotidiano no Quilombo dos
diversas formas. A desobediên-
Palmares baseada em pesquisa histórica.
cia sistemática, a lentidão na
execução das tarefas, a sabota-
gem da produção e as fugas in-
dividuais ou coletivas foram al-

MOZART COUTO
gumas delas. Fugir sempre fazia
parte dos planos dos escravos.
Os cativos fugiam por vários
motivos:
Castigo, trabalho excessivo,
pouco tempo para o lazer, de-
sagregação familiar, impossi-
bilidade de ter a própria roça
e, é óbvio, o simples desejo de
liberdade eram as razões mais
frequentes que os levavam a
escapar dos senhores. Por vezes
os cativos se ausentavam ape-
nas por tempo suficiente para
pressionar o senhor a negociar
melhores condições de traba-
lho, moradia e alimentação,
para convencê-lo a dispensar
um malvado feitor, a manter na
235 mesma fazenda uma família es-
crava, a cumprir acordos já fir-
mados ou até para conseguir ser
vendido a outro senhor. [...]
11:16 AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 235 03/08/22 11:16
SANTOS, Oseas. Historiografia Africana
no Brasil: na perspectiva da Lei 10.639/03,
a construção de novos paradigmas no
ensino da História Africana no Brasil. São
Paulo: Dialética, 2021. p. 43.

235

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 235 01/09/2022 09:34


TEXTO DE APOIO
O escritor, poeta e professor
Oliveira Silveira afirmou que “a
evocação do Dia Vinte de No- A guerra Zumbi: provavelmente
vembro como data negra foi
Palmares era uma ameaça à ordem escravista, por isso sempre está associado a Nzumbi,
lançada nacionalmente em 1971 título que os povos
pelo Grupo Palmares, de Porto tirou o sono dos senhores de engenho e das autoridades portu- bantos davam a um chefe
Alegre” [...]. Um dos objetivos guesas. Desde cedo, os poderosos enviaram expedições contra o militar e religioso.
centrais desta evocação era des- grande quilombo. Várias delas foram derrotadas pelos quilombo- Mercenário: que trabalha
locar as comemorações do 13 de sem outro interesse que
las. Durante a guerra, um jovem guerreiro nascido em Palmares
maio, data em que se lembrava não o dinheiro.
o fim formal da escravidão no começou a se destacar por sua firmeza. Seu nome, Zumbi
Zumbi..
Brasil, para uma data que deve- As autoridades decidiram, então, contratar o bandeirante Domingos Jorge Velho para
ras celebrasse o legado e o pas- destruir o Quilombo dos Palmares. Em troca, ele exigiu um quinto do valor dos quilombolas
sado negros – a abolição só havia aprisionados, 500 mil réis em panos e roupas, e 100 mil em dinheiro vivo.
ocorrido no papel, sem medidas
práticas que amenizassem a si-
A superioridade militar e um maior conhecimento da Serra da Barriga desequilibraram
tuação do negro no “pós-liber- a luta em favor dos mercenários
mercenários.. Depois de vários ataques, Jorge Velho e seus 6 500
tação”. Logo, o 13 de maio não homens, armados inclusive com canhões, invadiram e incendiaram a capital palmarina
tinha de ser comemorado. em 6 de fevereiro de 1694. Ferido em combate, Zumbi conseguiu escapar e resistiu por
Oliveira Silveira foi um dos vários meses. Mas depois, traído por um homem de sua confiança, foi morto em 20 de
membros fundadores do Grupo novembro de 1695.
Palmares, que nasceu a partir
dos encontros de um grupo de Em 1978, a comunidade negra brasileira transformou o dia 20 de novembro – aniver-
jovens negros na popular Rua sário da morte de Zumbi – em Dia Nacional da Consciência Negra. Ou seja, um dia para
da Praia (Rua dos Andradas) em refletir com profundidade sobre o racismo no Brasil e buscar formas para superá-lo.
Porto Alegre – este configurando
um dos espaços que ele nomeou
CELSO PUPO/FOTOARENA

como “pontos negros” [...]. Além


de Oliveira Silveira, participaram
da fundação do Grupo, Antônio
Carlos Côrtes, estudante de di-
reito, Ilmo da Silva, estudante de
economia, e Vilmar Nunes, estu-
dante de administração. Foi nas
conversas entre os membros do
Grupo que ficou latente que o 13
de maio não agradava e que era
necessário construir um novo
espaço para a memória e histó-
ria negras no ideário nacional.
Com esse objetivo, a experiên-
cia do Quilombo de Palmares
deveria ser a passagem mais
marcante da história do negro
no Brasil [...]. Em 1971, o Grupo
organizou as primeiras ativi-
dades de celebração do 20, que
tiveram expressão significativa
em meios de comunicação lo- Homenagem a Zumbi, feita pelo bloco afro Filhos de Gandhi, durante o Dia Nacional da Consciência Negra
na cidade do Rio de Janeiro (RJ), 2012.
cais. A homenagem a Palmares
realizada no dia 20 de novembro
daquele ano foi o primeiro ato 236
do que viria a ser reconhecido
como Dia da Consciência Negra.
Posteriormente, um Manifes- veu que essa movimentação estabelecia uma
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 236 03/08/22 11:16 AV-
to lançado em 1974 pelo Grupo “virada histórica e [havia] construído, ao longo
foi um importante instrumento de sete anos [1971-78], um novo referencial para
de questionamento às ideolo-
o povo negro e sua luta. Para o indivíduo negro,
gias da “democracia racial” e do
homem ou mulher, sua autoestima, sua identi-
“branqueamento” reforçadas no
dade” [...].
país. Em 1978 a data foi reco-
ZORZI, José Augusto. Um feriado a Zumbi: a tentativa de
nhecida pelo Movimento Negro reconhecimento do 20 de Novembro em Porto Alegre
como Dia Nacional da Consciên- (2001-2003). Em tempo de histórias, Brasília, DF, n. 36,
cia Negra. Oliveira Silveira escre- p. 469-487, jan./jun. 2020. p. 471-472.

236

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 236 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar com os alunos o
conceito de remanescente
Comunidades remanescentes de quilombos de quilombo.
No Brasil de hoje existem povoações habitadas pelos descendentes dos antigos qui-
• Debater com os alunos o arti-
go 68 da Constituição brasi-
lombolas. Espalhadas por todo o território nacional, são chamadas de comunidades
leira de 1988.
remanescentes de quilombos.. São mais de 80 mil pessoas vivendo de um jeito parecido
com o de seus antepassados.
• Refletir sobre as dificuldades
que os habitantes de rema-
A Constituição brasileira de 1988 reconheceu a propriedade definitiva das terras ocu-
nescentes de quilombos têm
padas por comunidades quilombolas. O artigo 68 diz:
tido para documentar a pos-
Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando se da terra.
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os títulos respectivos.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 11 jun. 2022.

Mas conseguir obter essa propriedade definitiva das terras não tem
Dialogando
sido tarefa fácil. Além da demora do processo, há o fato de que muitas • Tema Contemporâneo
dessas terras são cobiçadas por fazendeiros e, por vezes, estão localizadas Há comunidades
remanescentes Transversal: a atividade mo-
em áreas de mananciais e de reservas de extração vegetal e mineral. biliza a macroárea multicul-
de quilombos
Muitos habitantes das atuais comunidades quilombolas vêm tra- no seu estado? turalismo.
vando uma luta árdua para reunir provas de que são descendentes Quais?
de escravizados e de que as terras em que vivem lhes pertencem. Respostas pessoais. Dica de leitura
Livro que trata o quilombo
como parte do processo de
SERGIO AMARAL/OLHAR IMAGEM

formação do povo brasileiro


• FILHO SILVA, João Bernardo;
LISBOA, Andrezza. Quilom-
bolas: resistência, história
e cultura. São Paulo: IBEP,
2013.

EDITORA IBEP
Pai e filhos de uma comunidade remanescente de quilombo. Quilombo Vão de Almas, Cavalcante (GO), 2015.

237 Imagens em movimento


Entrevista com o professor
Rafael Sanzio, da Universida-
11:16 AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 237 +ATIVIDADES Parágrafo único. Na estruturação e no03/08/22
funcio-
11:16
de de Brasília, sobre a forma-
namento das escolas quilombolas, bem como
Leia com atenção o texto a seguir, que tra- nas demais, deve ser reconhecida e valorizada
ção dos quilombos.
ta da educação quilombola. a diversidade cultural. • BRASIL possui mais de cinco
Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é de- BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares mil territórios quilombolas.
senvolvida em unidades educacionais inscritas Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília, DF: 2014. Vídeo (25min14s). Pu-
MEC; SEB; Dicei, 2013. p. 74
em suas terras e cultura, requerendo pedagogia blicado pelo canal TV Brasil-
própria em respeito à especificidade étnico-cul- Em grupo. Debatam, reflitam e elaborem Gov. Disponível em: https://
tural de cada comunidade e formação específica um texto coletivo sobre o artigo 41 das Dire- youtu.be/1dgpZF9-S8U.
de seu quadro docente, observados os princípios
constitucionais, a base nacional comum e os prin-
trizes Curriculares do MEC. Acesso em: 11 ago. 2022.
cípios que orientam a Educação Básica brasileira. Produção pessoal.
237

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 237 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
Para refletir. c) Comentar
também que os africanos in-
fluenciaram vários outros as-
pectos da nossa cultura, como PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

culinária, música, técnicas, en-


tre outros. O texto a seguir é do africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com atenção.
De que a presença afri-

ANA CAROLINA FERNANDES/FOLHAPRESS


cana em nossa cultura é
Imagens em movimento
profunda, talvez o melhor
O vídeo aborda a influência testemunho esteja no por-
africana na língua portuguesa.
tuguês que falamos [...]. As
• ESSA nossa língua: influência línguas africanas, espe-
africana no português. Episó- cialmente o quimbundo
dio 10. 2012. Vídeo (5min10s). (ou idioma dos ambun-
Publicado pelo canal Foka Ví- dos), o quicongo (ou língua
deos. Disponível em: https:// dos congos), o umbundo
youtu.be/1vMuoYfOc9A.
(ou idioma dos ovimbun-
Acesso em: 11 ago. 2022.
dos) e o iorubá, marcaram
profundamente não só o
TEXTO DE APOIO vocabulário do português
A presença africana nas do Brasil, mas também [...]
palavras que falamos em a construção das frases, e
português [...] a maneira como pro-
O africanista Alberto da Costa e Silva na sede da Academia
No cotidiano de todo brasileiro nunciamos as palavras. Brasileira de Letras, a qual já presidiu. Rio de Janeiro (RJ), 2006.
podemos visualizar as marcas Poucos se dão conta de
que constituíram, a partir do que os verbos cochichar, cochilar [...] e zangar, os substantivos Africanista:
século XVI, a presença dos po- estudioso dos
bagunça [...], caçula, cafuné [...], fuxico [...], lenga-lenga [...], quitanda
vos africanos [...] no Brasil. Essa assuntos africanos.
presença está nas palavras que [...], os adjetivos [...] dengoso, encabulado e zonzo e numerosíssimos
Enfadonho:
falamos, na gestualidade que outros termos que usamos no dia a dia são de origem africana. cansativo.
produzimos e no nosso modo de E o que fazem os portugueses, quando têm de zangar com o
pronunciar a língua portuguesa caçula dengoso que estava cochilando durante uma lenga-lenga como esta?
falada no Brasil.
Eles [...] se aborrecem com o benjamim manhoso que dormitava durante esta
Podemos compreender que a
conversa enfadonha..
entrada de grande número de
africanos no Brasil, com suas SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 156-157.
diferentes culturas e línguas,
passou por um processo de a) Segundo o texto, que línguas africanas influenciaram profundamente o português
adaptação, certo ajuste cultural falado no Brasil? a) O quimbundo, o quicongo, o umbundo e o iorubá.
e linguístico com a assimilação
de novas palavras e, consequen- b) Quais são os termos que os portugueses usam para dizer caçula, dengoso e
temente, a forma como elas cochilar? b) Eles usam, respectivamente, benjamim, manhoso e dormitar.
orientavam o entendimento da
nova realidade vivida em por- c) Qual é a importância dos conhecimentos transmitidos nesse texto para nós,
tuguês. Entretanto, também po- brasileiros?
demos visualizar a presença das c) É ajudar-nos a ter consciência de que muitos termos usados por nós, brasileiros, no dia a dia, se ori-
palavras africanas nos diferen-
tes espaços da cultura brasilei-
238 ginaram de línguas africanas.
ra. Nesta história, as arestas de
como a realidade brasileira era
significada são alargadas diante liza a mudança de costumes
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 238 com a apropriação dessas peças e consequentemente das palavras 03/08/22 11:16 AV-
das palavras das babás, amas de que as nomeiam. [...]
leite e mucamas [...], que, com As línguas mudam ao acompanharem a história dos seus falantes, essa é a história da língua
seus fazeres e saberes, marca- portuguesa em solo brasileiro, ela também pode adaptar-se às novas relações linguísticas e cultu-
ram a dinâmica da vida privada rais. No Brasil, a manutenção da estrutura latina da língua portuguesa não a impediu de acolher
dos lares brasileiros. [...] uma nova sonoridade em relação à sua matriz e incorporar um grande vocabulário de palavras que
De uso frequente, as palavras veio de outras línguas.
sunga e tanga, por exemplo,
SANTOS, Wilmihara Benevides da Silva Alves dos. A presença africana nas palavras que falamos em português.
deixaram de ser associadas aos Museu da Língua Portuguesa. São Paulo, 15 mar. 2018. Disponível em: http://museudalinguaportuguesa.org.br/presenca-
trajes africanos [...] para compor africana-nas-palavras-que-falamos-em-portugues-um-artigo-de-wilmihara-benevides-s-alves-dos-santos/. Acesso em: 3 ago. 2022.
peças do vestuário masculino e
feminino brasileiro, o que sina-
238

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 238 01/09/2022 09:34


TEXTO DE APOIO
[...] Os angolanos viviam a
instituição escravidão de forma
muito diferenciada do que foi
NÃO ESCREVA
vivido na América portuguesa.

ATIVIDADES
NO LIVRO.

Lá não se impunha a execução


de tarefas árduas e prolongadas,
não se desenraizava cultural-
mente, com o traslado para ou-
tro continente, completamente
estranho. Mary Kingsley definiu
a escravidão na África como um
I. Retomando estado de servidão amparada
por certos direitos. John Thorn-
ton, que ela era diferente, per-
1 Sabe-se que na África a escravidão tinha características próprias. Quais das alterna- feitamente adequada à noção
tivas contêm essas características? 1. Alternativas C e D. de que propriedade privada era
o escravo, e não a terra. Assim,
a) Os escravos constituíam a maioria da população. não foi difícil que ela, a escravi-
b) Jamais eram integrados ao grupo vencedor como pessoas livres. dão, tomasse o formato de em-
c) O filho de um homem livre com uma mulher escravizada nascia livre. presa necessária aos europeus.
Por seu turno, a já existente prá-
d) Em algumas sociedades africanas, os escravizados podiam ocupar postos importantes no
tica em Angola e outros territó-
governo ou no exército.
rios da África justificava a ação
dos cristãos ibéricos, que usa-
2 Leia o texto com atenção. ram o argumento da salvação
A documentação sobre as formas de produção dos escravos é escassa para o das almas dos cativos, por meio
período anterior ao século XVII, sobretudo para as zonas interioranas. Não obs- do batismo e da cristianização.
Elaboraram-se linhas gerais de
tante,, existem indicações precisas de que [...] ao longo de toda a era do tráfico pelo
tante
ação, que foram econômicas,
Atlântico, cerca de três quartos dos africanos vendidos para as Américas resultassem mas também de salvação, imbri-
de guerras. cadas e indissociadas.
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos Em 1594 era transportada para
entre a África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX. São Paulo: o Brasil uma quantidade signi-
Companhia das Letras, 1997. p. 85.
ficativa de escravos, adquiridos
a) São sinônimos dos termos grifados no texto, respectivamente: 2. a) Alternativa I. não só pela guerra, mas muito
I. pouca; apesar disso. mais comprados nas feiras, tran-
sações feitas com os autóctones.
II. abundante; porém.
As feiras em território africano
III. insuficiente; assim. eram acontecimentos cercados
IV. exuberante; apesar disso. de tensão, pois ao longo delas as
relações poderiam descambar
b) Uma interpretação possível do texto é: 2. b) Alternativa IV.
para a violência e a pilhagem, sem
I. Desde o início, as fontes históricas do século XVII confirmam que a guerra foi o único meio contar com os ataques furtivos
de obtenção de escravizados. por grupos rivais para supressão
II. Os povos vencidos eram transformados em prisioneiros de guerra até o século XVII, o que das mercadorias preciosas. Es-
não aconteceu mais a partir de então. sas práticas acabaram corroendo
as possibilidades que tinham os
III. Para as Américas, foram trazidos apenas os prisioneiros de guerra vindos do interior.
portugueses comerciantes que se
IV. A maioria dos escravizados trazidos para as Américas pelo tráfico atlântico foi obtida por arriscavam em Angola. O fetiche
meio da guerra. que essa mercadoria humana
acabou exercendo levou aos mais
239 variados expedientes de violência
para sua aquisição. Preciosa inter-
namente, pois se tornou elemento
de troca para aquisição de artigos
11:16 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 239 Imagens em movimento 03/08/22 11:16
de luxo, armas e munição. O que
Professor, as atividades 1 e 2 contribuem Documentário sobre as origens étnicas e acabou fazendo a diferenciação de
geográficas dos africanos trazidos ao Brasil. poder entre grupos locais rivais,
para o desenvolvimento das habilidades
mas também externamente, pois
EF07HI14 e EF07HI16. • MOJUBÁ II | Ep. 01: História e Geografia. era a força que movia a economia
2015. Vídeo (24min25s). Publicado pelo Ca- da possessão ibérica, do outro lado
nal futura. Disponível em: https://youtu.be/ do Atlântico, que passo a passo to-
0FY7Ld9c_mM. Acesso em: 11 ago. 2022. mou o lugar do Oriente: o Brasil!
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da et al.
(org.). Atlântico: a história de um oceano.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2015. p. 201-211.
239

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 239 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO 3. a) São os dados da viagem da embarcação Pastora de Lima, que saiu do Rio de Janeiro em direção a
3. b) Segundo o historiador Moçambique para adquirir escravizados.
Manolo Florentino, muitos tra- 3. b) Sim; o fato de a embarcação ter saído do porto do Rio de Janeiro para negociar escravizados na África é
um indício da participação dos brasileiros no tráfico atlântico.
ficantes de escravizados do Rio 3 Leia o quadro a seguir com atenção.
de Janeiro fizeram fortuna por
meio do tráfico de pessoas. Embarcação Pastora de Lima
Professor, a atividade 3 con- Nome da embarcação Pastora de Lima
tribui para o desenvolvimento
Porto onde a viagem começou Rio de Janeiro
das habilidades EF07HI14 e
EF07HI16 e da competência Principal lugar de aquisição de escravizados Moçambique

específica 5. Principal local de desembarque de escravizados Bahia (porto não especificado)


Leia o que se diz: Data em que a viagem começou 04/08/1816
No dia 4 de agosto de 1816 o
Data em que o navio chegou com escravizados 16/1/1817
navio Pastora de Lima deixou o
porto do Rio de Janeiro. O desti- Nome do capitão Manoel José Dias
no do capitão Manoel José Dias e Total de escravizados embarcados 404
sua tripulação era Moçambique,
na África. O motivo da viagem: Total de escravizados desembarcados 290
comprar escravos. Em terras afri- Mortes de escravizados durante a travessia do Atlântico 114
canas embarcaram 404 escravos, Fonte dos dados: COMÉRCIO transatlântico de escravos: base de dados. Slave Voyages. [S. l.], c2021.
mas chegaram ao Brasil, 290. Disponível em: https://www.slavevoyages.org/voyage/database#. Acesso em: 11 jun. 2022.
Morreram durante a travessia do 3. c) Pode-se concluir que as condições eram péssimas; mais de um
Atlântico 114 homens, mulheres a) Qual é o assunto do quadro? quarto dos escravizados embarcados morreu na travessia.
e crianças. Desde a saída do Rio a) O fato de a embarcação ter saído do porto do Rio de Janeiro é um indício de que brasileiros
de Janeiro, até o retorno do Pas- também participaram do tráfico atlântico? Explique.
tora, em 16 de janeiro de 1817, c) O que se pode saber das condições de viagem dos escravizados pelo Atlântico com base no
na Bahia, foram 165 dias de via- quadro?
gem. Os dados acima se referem
a uma dentre as mais de 35 mil 4 Observe o mapa com atenção.
viagens que ocorreram de 1501 a a) Em que século o

COLEÇÃO PARTICULAR
1867, para o tráfico de escravos. mapa foi feito?
MARIUZZO, Patrícia. Atlas do comércio b) O que o mapa
transatlântico de escravos. representa?
Ciência e Cultura, São Paulo, v. 63,
n.1, p.59-61, jan. 2011. p. 59. c) Qual é a
importância da
região mostrada
4. A atividade contribui para o no mapa para
desenvolvimento da habilida- se compreender
de EF07H14. a formação do
povo brasileiro?
4. a) O mapa foi feito no
TEXTO DE APOIO século XVII.
4. b) Representa a região
Em meio a esse cenário con- congo-angolana em 1650.
turbado, marcado por disputas
entre interesses estrangeiros
pelo controle do tráfico no reino
Mapa produzido por
do Congo e Ndongo e pelo gra- J. Janssonius, c. 1650.
dual colapso das instituições e 4. c) Essa foi a região de onde partiu a maioria dos africanos escravizados entrados no Brasil entre os
da sociedade conguesa, ganhou
relevo a figura de Nzinga Mbandi
240 séculos XVI e XIX.

(1582-1663), conhecida como Ana


Jinga ou como Rainha Jinga. Ela é
lembrada até os dias atuais como dos chefes das linhagens,
HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 240 que não aceitavam a 20/08/22 20:35 AV-

uma das mais importantes lide- ideia de serem governados por uma mulher [...].
ranças da África tradicional. Em todos os sentidos, a ascensão de Nzinga ao
A influência de Nzinga Mbandi poder era um caso excepcional e se devia a sua
teve início no reino do Ndongo, extraordinária capacidade pessoal de liderança.
onde negociou a paz com repre- Além disso, ameaçada pelas tropas portugue-
sentantes do governo português sas, Nzinga foi forçada a deixar o Ndongo, es-
em 1622 e disputou com o irmão tabelecendo-se no reino de Matamba, às vezes
a sucessão ao trono, acabando designado como Quiilombo, onde passou a go-
por assassiná-lo em 1629. No po- vernar os temíveis guerreiros ibangalas. [...]
der, teve que enfrentar diversas MACEDO, Rivair. História da África.
rebeliões devido à resistência São Paulo: Contexto, 2015. p. 88-89.
240

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 240 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
5. d) A imagem reforça e ilustra o trecho em que Baquaqua diz: “O porão era tão baixo que não podíamos ficar 5. b) Professor, comentar que
de pé, éramos obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sen-
do negado devido ao confinamento de nossos corpos”. esse relato é um documento
raro e importante para a com-
5 Observe com atenção as fontes 1 e 2 e responda ao que se pede.
preensão das condições das
FONTE 1 viagens dos africanos para a
O texto a seguir foi escrito por Mahommah Gardo Baquaqua, africano nascido onde América; é uma fonte parti-
hoje é o Benin e trazido para Pernambuco como escravizado em 1845. Depois de cularmente interessante, pois
obter a liberdade, ele escreveu um livro do qual se retirou o trecho a seguir. Baquaqua escreveu a única
biografia de um africano es-
"Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado, e
cravizado em terras brasilei-
as mulheres de outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar de pé, éramos
ras. O trabalho de pesquisa
obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, sobre o assunto é do professor
o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos." [...] [Havia pernambucano Bruno Véras.
dias em que os escravizados ficavam sem água e sem comida.] "Houve um pobre A atividade contribui para o
companheiro que ficou tão desesperado pela sede que tentou apanhar a faca do desenvolvimento da habilida-
homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais soube o que de EF07HI16 e da competência
lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar", [...]. específica 5.
VIEIRA, Leonardo. Historiadores traduzem única autobiografia escrita por ex-escravo que viveu no Brasil. O Globo, 5.d) Aprofundar o assunto
Rio de Janeiro, 27 nov. 2014. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/historia/historiadores-traduzem-unica-
autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795. Acesso em: 11 jun. 2022.
com a leitura do texto: BEZER-
RA, Niélson Rosa; SOARES, Ma-
FONTE 2
ria de Carvalho (org.). Escravi-
dão africana no Recôncavo
COLEÇÃO PARTICULAR

da Guanabara (séculos XVIII


-XIX). Niterói: Editora da UFF,
2011. (Coleção História).

Desenho de 1830 de um navio especializado no tráfico de escravos.

5. a) É o tratamento dado aos escravizados no navio negreiro,


a) Qual é o assunto do texto? durante a viagem pelo Atlântico.
exportadora de escravos. Duran-
b) Segundo o autor, como era o tratamento dispensado aos escravizados no navio negreiro?
te a maior parte do seiscentos, a
c) O fato de o autor do texto ter passado pela experiência de viajar em um navio negreiro como principal mercadoria exportada
escravizado torna seu relato mais confiável? Justifique. 5. c) Resposta pessoal. pela Costa do Ouro, como seu
d) Agora observe a imagem (fonte 2): ela reforça ou nega a descrição feita por Baquaqua na nome indica, era o metal amare-
fonte 1? Justifique. lo. A alta concentração de forti-
5. b) Os escravizados eram amontoados no porão do navio negreiro. Em virtude da altura do porão, não ficações europeias, que eventu-
era possível permanecer em pé. A comida e a água eram insuficientes, e alguns escravizados, considera-
dos indisciplinados, eram lançados ao mar. 241 almente seriam redirecionadas
para o tráfico de escravos, visava
principalmente proteger o ouro
até seu eventual envio para a Eu-
20:35 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 241 pagamento de uma taxa de 10% do valor dos
03/08/22 11:16
ropa. No decorrer da maior parte
carregamentos, além da condição de que estes
do seiscentos, portanto, a região
A Costa do Ouro, marcada pela presença de fossem compostos exclusivamente por produ-
foi mais receptora do que forne-
23 fortificações europeias (doze inglesas e nove tos americanos como tabaco, cachaça e açúcar.
cedora de escravos. Comercian-
holandesas, dentre as quais estava o Cape Coast Das 197 expedições organizadas por portu- tes europeus comercializavam
Castle e Elmina) em princípios do XVIII, não gueses para o Golfo do Benin, 159 ocorreram cativos de outras partes da Áfri-
possuía um único forte português. [...]. O instru- após 1689. O tabaco baiano vinha se tornando ca em troca do ouro trazido do
mento para a inserção inicial de comerciantes uma mercadoria fundamental para as trocas na interior. Ao longo do seiscentos,
portugueses na região foi o tabaco baiano, que região. O número de expedições para a Costa do a África, em especial a Costa do
levou os holandeses a permitirem a presença Ouro durante o mesmo período foi significati- Ouro, exportou quase um quar-
de portugueses na África Ocidental (à exceção vamente menor, em grande medida porque a to de todo o ouro que entrou em
da Costa do Ouro) a partir de 1689, mediante o região ainda estava por se tornar uma efetiva circulação no mundo.
241

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 241 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
6. A atividade contribui para o
desenvolvimento da habilida-
de EF07HI16 e da competência
6 Leia o texto a seguir com atenção.
específica 5. Professor, avaliar
se os alunos delimitaram uma Estudos históricos recentes estimam que chegaram ao Brasil em torno de 1,2
área parecida com a área deli- milhão de africanos ocidentais, entre homens, mulheres e crianças. Contudo, o
mitada no mapa. número real foi bem maior, pois, além das viagens de navios negreiros não docu-
mentadas, houve muitos escravizados, sobretudo no período do tráfico ilegal, no
século XIX, que, para escapar ao controle das autoridades, foram declarados pelos
Imagens em movimento
traficantes como procedentes da África Centro-Ocidental, embora sua real origem
O vídeo discute a contribui-
fosse acima do Equador.
ção africana na formação do
SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos.
povo capixaba. Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 77.
• RAÍZES: a história do Espírito
Santo. Episódio 5: a forma- a) Pesquise e desenhe em seu caderno o contorno do mapa da África, trace a linha do equador
ção da identidade capixaba. e delimite a região de onde vinham os africanos ocidentais. 6. a) Produção pessoal.
2014. Vídeo (10min25s). Pu- b) Uma interpretação possível do texto é: 6. b) Alternativa III.
blicado pelo canal Capixaba. I. o número de africanos ocidentais trazidos para o Brasil é muito inferior ao documentado
Disponível em: https://youtu. pelos traficantes;
be/J_N4UEvULCU. Acesso em: II. o número de africanos ocidentais entrados no Brasil é igual ao da região congo-angolana;
11 ago 2022. III. a quantidade de africanos ocidentais trazidos para o Brasil é bem maior que o registrado;
IV. a proibição do tráfico acima da linha do Equador impediu traficantes de fazerem negócio
TEXTO DE APOIO na região.

(CONTINUAÇÃO)
7 Monte no caderno um quadro sobre o trabalho escravo no Brasil colonial. Liste ao
[...] Não por acaso, a primeira menos três trabalhos realizados por homens e três feitos por mulheres que viviam
referência que temos envolven- sob a escravidão. 7. Mulheres: Cuidar de doentes,
do portugueses e ouro na região, cultivar a terra, colher e moer cana,
de 1697, mostra um capitão por- lavar, passar, fazer e vender doces
tuguês que vendeu escravos à 8 Leia um trecho da canção “Hoje tem capoeira”. e salgados.
Royal African Company e pre- Olha, pega a beriba [berimbau] e começa a tocar Homens: Agricultor, carpinteiro, fer-
tendia receber o pagamento em reiro, pescador, pedreiro, carregador,
ouro. Tal situação, no entanto, Pandeiro, atabaque não pode faltar entre outros.
logo se inverteria. No jogo ligeiro que lá na Bahia
Se o tabaco abriu as portas Aprendi a jogar
para o comércio português na Meia-lua, rasteira, martelo e pisão
Costa da Mina, o ouro do Brasil Solta a mandinga conforme a razão
elevou essas trocas a um novo
Na reza cantada pede proteção
patamar. No Golfo do Benin, o
número de escravos embarca- E hoje tem capoeira (coro)
dos por portugueses subiu de No toque da viola chega pra roda (coro)
aproximadamente 56,4 mil no E vamos jogar (coro) [...]
último quarto do XVII para 170,7
HOJE tem capoeira. Intérprete: Mestre Camisa.
mil no quarto seguinte. Na Cos- Compositor: Olho de Gato. In: MESTRE Camisa: capoeira.
ta do Ouro, esse número passou Intérprete: Mestre Camisa. Rio de Janeiro:
de nove mil para mais de 35 mil. Sony Music, 1993. 1 disco vinil, lado B, faixa 2.
Parte dos cativos da região era
enviada para a Costa dos Escra- 242
vos, onde eram embarcados em
navios portugueses como estra-
tégia para escapar das autori-
dades holandesas em Elmina.
vios portugueses na África
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 242 Ocidental, como um Dica de leitura 09/08/22 08:37 AV2
todo (237,6 mil), ultrapassava o de embarcados
Portugueses davam, portanto, a • Este livro é uma descoberta do continente
nos portos da África Central (235,3 mil). Foi a
sua contribuição para transfor-
entrada do ouro em pó da América portugue- africano e das várias Áfricas por meio de
mar a Costa do Ouro de recep-
tora a fornecedora de cativos.
sa nos jogos das trocas africanas que permitiu relatos de povos, viajantes e estudiosos do
essa mudança de escala. tema.
Nas palavras do diretor-geral da
WIC (West-Indische Compagnie) RÉ, Henrique Antonio; SAES, Laurent Azevedo Marques de; SIVA, Alberto da Costa. A África e os afri-
em Elmina, em 1705, “a Costa do VELLOSO, Gustavo (org.). História e Historiografia do
Trabalho Escravo no Brasil: Novas Perspectivas. São Paulo: canos na história e nos mitos. Rio de Janeiro:
Ouro se tornou uma Costa dos Publicações BBM, 2020. p. 99-100. Nova Fronteira, 2021.
Escravos por completo”. Pela pri-
meira vez desde o XVI, o número
de escravos embarcados por na-
242

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 242 01/09/2022 09:34


Músicas como essas são entoa-
das nas rodas de capoeira, não em
tom de lamento, mas como gritos
de luta e força, em que se alter-
nam o cantor – papel conferido
usualmente aos mestres de capo-
eira – e o coro, acompanhados da
orquestra de berimbaus, pandei-
ros e atabaques, constituindo um
verdadeiro ritual, animado por
cantos e responsórios, palmas e
expressão corporal. Ao som do
berimbau, diz-se: – Iê dá volta ao
mundo!, momento em que os ca-

SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS


poeiristas em uma grande roda
são convocados a dar início a um
jogo de vaivém de luta e dança de
corpos ágeis dispostos em duplas
– em que se combinam a ginga,
o rabo de arraia e o chapéu de
Roda de capoeira. Salvador (BA), 2019. couro, entre outros movimentos
– dando ensejo a uma performan-
a) Que instrumentos musicais utilizados na roda de capoeira são citados na música? ce coletiva e comunitária, em que
músicos, cantores e jogadores da
b) A capoeira caracteriza-se por movimentos ágeis (golpes) utilizando os pés, as mãos, misto de
capoeira mais e menos experien-
dança e luta. Transcreva os nomes de alguns golpes da capoeira citados na música.
tes se desafiam uns aos outros e
c) O que é capoeira? se confraternizam. Herdeira da
d) O que representava a capoeira para os negros escravizados? diáspora africana no Brasil, a ca-
e) Em 2014, a capoeira foi considerada Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco. Qual a impor- poeira foi uma resposta marcan-
tância deste título? te e duradoura dada pelo negro
ao sistema escravagista, cruel e
f) Você já participou de uma roda de capoeira? Se sim, conte como foi. 8. f) Resposta pessoal. desumano, imposto pelo colo-
8. e) É uma forma de valorização da cultura nizador europeu. Portanto, uma
9 Leia o que diz uma historiadora. 9. Alternativa D. afro-brasileira e da história da resistência negra prática ancestral que se origi-
no Brasil, durante e após a escravidão.
A garantia de uma boa morte, com funeral, tumba e missa, nou nas senzalas, fruto da luta
do fraco contra o mais forte, em
é um tema tratado com grande cuidado nos compromissos das Ancestralidade: que a astúcia era uma das únicas
irmandades negras. Os altíssimos custos que envolviam esses ritos, legado recebido armas para enfrentar a força do
dos ancestrais.
além da importância da ancestralidade para os africanos, certa- opressor, tornando-se uma das
mais importantes manifestações
mente foi um atrativo ímpar para o ingresso numa fraternidade.
da cultura de resistência do negro
REGINALDO, Lucilene. Irmandades. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos. escravizado no Brasil Colonial.
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 273.
Das senzalas foi levada aos qui-
Com base na leitura desse texto, avalie as afirmações a seguir. lombos, dos quilombos aos cen-
tros urbanos, e os grandes focos
I. Um dos motivos que levava os africanos e seus descendentes a ingressarem em uma irman- de capoeiristas concentraram-se
dade era o direito a uma “boa morte” (funeral, sepultamento e missa). inicialmente em Pernambuco,
II. Os africanos escravizados e seus descendentes davam grande importância à ancestralidade e Bahia e Rio de Janeiro, expan-
sabiam que os ritos envolvendo a morte eram muito caros. dindo-se, posteriormente, para
São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
a) Somente a afirmação I está correta. 8. a) Berimbau, pandeiro e atabaque.
Embora hoje reconhecida como
b) Somente a afirmação II está correta. 8. b) Meia-lua, rasteira, martelo e pisão. patrimônio cultural, enfrentou a
c) Ambas estão corretas, e a II não justifica a I. 8. c). Capoeira é dança e luta ao mesmo tempo; a capoei- discriminação e o preconceito por
d) Ambas estão corretas, e a II justifica a I. ra foi uma forma de diversão e de defesa desenvolvida no vários séculos. Não se pode es-
Brasil pelos africanos escravizados e seus descendentes. quecer que sua prática foi consi-
8. d) Uma forma de resistência à escravidão e de se
derada crime e incluída como tal
divertir cantando, dançando e tocando em uma roda. 243 no Código Penal Brasileiro, cujo
decreto foi revogado apenas em
1937. De acordo com Chalhoub,
a formação da cidade negra, refe-
08:37 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 243 Mas olha um dia 08/08/22 09:57
rindo-se à cidade do Rio de Janei-
Pro quilombo eu fugi
ro, de 1830 a 1870, representou, na
Sou guerreiro do quilombo, quilombola Com muita luta e muita garra verdade, uma forma de instituir a
Fomos trazidos pro Brasil Me tornei um guerreiro de Zumbi cidade como espaço de luta polí-
Minha família separou [...]. tica pela liberdade.
Minha mana foi vendida A liberdade AMARAL, Mônica Guimarães Teixeira do;
Não tava escrita em papel [...] SANTOS, Valdenor Silva dos. Capoeira,
Pra fazenda de um senhor
herdeira da diáspora negra do Atlântico:
[...] Foi feita com sangue e muita dor de arte criminalizada a instrumento
Na mente trago tristeza Guerras, lutas e batalhas de educação e cidadania. Revista do
Instituto de Estudos Brasileiros, São
E no corpo muita dor Foi o que nos libertou Paulo, n. 62, p. 54-73, dez. 2015, p. 55-56.
Autoria: Mestre Barrão
243

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 243 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
• Tema Contemporâneo
Transversal: a leitura do
10 Como vimos, o artigo 68 da Constituição

LINEU KOHATSU/OLHAR IMAGEM


texto mobiliza a macroárea
multiculturalismo. brasileira de 1988 estabelece:
10.b) Evidenciar a importân- Aos remanescentes das comu-
cia dessa conquista histórica. nidades dos quilombos que estejam
Ressaltar que os palmarinos ocupando suas terras é reconhecida
resistiram a várias investidas e a propriedade definitiva, devendo o
que, no caso desse grande qui- Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
lombo, a superioridade bélica
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
das forças lideradas por Do- Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
mingos Jorge Velho foi decisi- Presidência da República, [2016]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
va para o resultado da guerra. constituicao.htm. Acesso em: 11 jun. 2022.

Sobre a resistência negra ontem e hoje, Festa Marujada no Quilombo Mangal e Barro
responda às questões em seu caderno. Vermelho. Sítio do Mato (BA), 2015.
TEXTO DE APOIO a) O que são comunidades remanescentes de quilombos?
O jongo ou caxambu, ampla- b) Escreva uma frase sobre o artigo 68 e sua importância para a História do Brasil.
mente conhecido, divulgado, c) Um dos maiores quilombos do Brasil se chama Kalunga e está situado no norte do estado de
e até mesmo disputado por Goiás. Pesquise e escreva sobre ele com base no seguinte roteiro:
alguns grupos na atualidade, I. significado do nome Kalunga; 10. a) São povoações habitadas por
especialmente após o registro descendentes dos antigos quilombolas.
II. tamanho do quilombo;
como patrimônio cultural do 10. b) Resposta pessoal.
Brasil, no ano de 2005, dispensa III. número de comunidades existentes no quilombo;
10. c) I: lugar sagrado e de proteção. II:
apresentação. [...] IV. manifestações culturais. 253 mil hectares. III: 56 comunidades.
Por seus fundamentos e valo- IV: rezas, folias e festas transmitidas
res ancestrais, pela riqueza dos 11 Leia o texto a seguir. de geração em geração.
elementos que o constituem, Mulheres quilombolas: liderança e resistência para combater a invisibilidade
pela história de seus detentores,
o jongo/caxambu é mais do que A CONAQ (Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas) estima que
canto e dança, e foi registrado no Brasil os quilombolas são aproximadamente dois milhões de pessoas, ou 130
como uma forma de expressão mil famílias, presentes em todos os estados brasileiros. Grande parte dessa popu-
de comunidades negras do Su- lação ainda vive em áreas rurais e distantes dos centros urbanos [...]. Atualmente,
deste. Remonta a movimentos
essas comunidades são espaços de manutenção e resistência da cultura negra,
de resistência e de articulação
de seus antepassados. Comuni- da ancestralidade africana e têm sua sobrevivência vinculada à liderança de
dades negras atualizaram me- mulheres negras.
mórias de um passado de re- MULHERES quilombolas: liderança e resistência para combater a invisibilidade. ONU Mulheres Brasil. [S. l.], 12 set. 2017.
sistência, mantiveram o jongo/ Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/mulheres-quilombolas-lideranca-e-resistencia-para-combater-a-invisibilidade/.
caxambu, e em torno dele se arti- Acesso em: 11 jun. 2022.

cularam em seus processos orga-


nizativos por garantia de direitos Copie em seu caderno as alternativas corretas. 11. Alternativas B e D.
que tragam melhores condições a) As comunidades quilombolas se concentram sobretudo no Sudeste.
de vida para detentores e deten- b) A maior parte da população quilombola vive no campo.
toras deste bem, pela afirmação c) Não existem quilombos urbanos, apenas quilombos rurais.
de sua identidade, e como forma
d) Os quilombos preservam a cultura negra e as tradições africanas.
de enfrentamento do racismo a
que são historicamente submeti-
das em nossa sociedade. [...] 244
Nos terreiros das fazendas de
café do Vale do Paraíba, os jon-
gos foram cantados e dançados cravidão. Mas resistiu. E244alcançou visibilidade e
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd Dica de leitura 05/08/22 15:21 HIS

ao ritmo da percussão do tam- valorização na sociedade porque comunidades


bor grande e do candongueiro e jongueiras souberam mantê-lo vivo como um Livro que apresenta mais de 50 textos de
cumpriram várias funções: di- patrimônio. Lutas e conquistas dessas comuni- especialistas no tema sobre como a escravi-
versão, desafio, reverência aos dades se deram, e ainda se dão, pelo papel que dão se manteve de forma perversa no cotidia-
ancestrais, religiosidade, comu- o jongo/caxambu assume em suas formas de no da sociedade brasileira.
nicação, crônica do cotidiano, organização, articulação e resistência. • GOMES, Flavio dos Santos; SCHWARCZ, Li-
entre outras. [...]
MONTEIRO, Elaine. Branco quer aprender dança de preto: lia M. (org.). Dicionário da escravidão e li-
No entanto, o jongo/caxambu valorização e reconhecimento no registro do patrimônio berdade: 50 textos críticos. São Paulo: Com-
também foi reprimido, invisi- imaterial afro-brasileiro. In: ABREU, Martha et al. (org.).
bilizado e fadado ao desapare- panhia das Letras, 2018.
Cultura negra: festas, carnavais e patrimônios negros.
cimento após a abolição da es- Niterói: Eduff, 2018. v. 1, p. 295-297.
244

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 244 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
a) 1a coluna: períodos; 2a coluna: quantidade de africanos escravizados embarcados na África; 3a coluna: quantida-
de de africanos escravizados desembarcados no Brasil. • Integrando com Matemáti-
b) 1 319 africanos. ca. A seção contribui para o
II. Integrando com Matemática c) Esse número indica a quantidade de
africanos escravizados desembarcados
desenvolvimento da habili-
dade EF07HI16 e da compe-
no Brasil no período de 1701 a 1725.
tência específica 5.
Tráfico atlântico (1501-1875)
África Brasil
Períodos
(embarcados) (desembarcados)
1501-1525 0 0

1526-1550 0 0

1551-1575 388 332

1576-1600 931 536

1601-1625 1 670 1 412

1626-1650 39 981 32 144

1651-1675 8 431 6 680

1676-1700 81 492 72 423

1701-1725 241 128 210 355

1726-1750 424 141 370 889

1751-1775 353 404 321 142

1776-1800 453 519 417 812


embora 6 900 africanos escra-
1801-1825 1 043 489 937 165 vizados ainda tenham sido de-
1826-1850 881 532 791 045
sembarcados no país entre 1851
e 1856.
1851-1875 9 798 7 900 O segundo ponto importante,
e bem mais complexo, se refe-
Total 3 539 904 3 169 835
re ao número de africanos le-
Fonte dos dados: COMÉRCIO transatlântico de escravos: base de dados. Slave Voyages. gal e ilegalmente introduzidos
[S. l.], c2021. Disponível em: https://www.slavevoyages.org/voyage/database.
Acesso em: 4 ago. 2022.
no Brasil. Tema que é objeto de
d) 3 539 904 africanos escravizados foram embarcados para o Brasil. 3 169 835 africanos escravizados controvérsias iniciadas no sécu-
a) Nessa tabela, o que cada coluna indica? desembarcaram no Brasil. lo XIX. Tal debate também ocor-
re em outros países americanos,
b) Quantos africanos escravizados foram embarcados para o Brasil no século XVI?
europeus e africanos envolvidos
c) Procure na tabela o número 210 355 e explique o que ele indica. no comércio de escravos. Philip
d) No período coberto pela tabela, quantos africanos escravizados foram embarcados para o D. Curtin, em sua obra pioneira,
Brasil? E quantos desembarcaram no Brasil? The Atlantic Slave Trade: A Cen-
sus (1969), na qual sistematiza as
e) Calcule a diferença entre a quantidade de africanos escravizados embarcados e desembarcados estatísticas de obras impressas
no Brasil no período coberto pela tabela. e) 370 069 africanos escravizados. sobre a deportação de africanos,
f) O que essa diferença representa? Por que isso acontecia? redigiu um capítulo intitulado
f) Essa diferença representa o número de mortos durante a travessia do oceano Atlântico. Isso acontecia pelo ‘The Slave Trade and the Num-
fato de os africanos escravizados receberem pouca comida, pouca água e por viajarem em um ambiente
que favorecia a ocorrência de doenças.
245 bers Game”. Nele, Curtin aponta
a grande variação das cifras atri-
buídas por diversos autores ao
tráfico atlântico, e desautoriza a
importação de escravos africanos após20/08/22
1822 20:35
ex- maior parte das estimativas. Po-
15:21
TEXTO DE APOIO
HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 245

plica a longevidade do escravismo até sua abo- rém, relativamente ao Brasil, ele
O tráfico transatlântico de escravos africanos lição, em 1888. conclui que o livro de Maurício
tomou [...] uma dimensão inédita no Novo Mun- O primeiro ponto a ser delimitado é o perío- Goulart, A escravidão africana
do. Do século XVI até 1850, no período colonial do em que perdurou o comércio de africanos no Brasil (1949), oferecia a des-
e no imperial, o país foi o maior importador de para o Brasil, ou seja, os anos 1550-1850. Os crição e os números mais exatos
escravos africanos das Américas. Foi ainda a dados disponíveis assinalam que os primeiros sobre o tráfico no país. [...]
única nação independente que praticou ma- desembarques de cativos africanos ocorreram ALENCASTRO, Luiz Felipe de. África,
ciçamente o tráfico negreiro, transformando o nos anos 1560 em Pernambuco. Contudo, a data números do tráfico atlântico. In:
SCHWARCZ, Lilia M.; GOMES, Flavio dos
território nacional no maior agregado político geralmente considerada como início do tráfico Santos. Dicionário da escravidão e
escravista americano. Consubstancial à organi- é o ano de 1550. Da mesma forma, o fim do trá- liberdade. São Paulo: Companhia das
zação do Império do Brasil, a intensificação da fico clandestino para o Brasil é fixado em 1850, Letras, 2018. p. 57-58.
245

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 245 01/09/2022 09:34


TEXTO DE APOIO
O escravo na Roma Antiga
[...] Legalmente, o escravo era
uma coisa (res(res).
). Como qualquer
outro bem, podia ser vendido,
III. Leitura e escrita em História
alugado, disposto em testa-
mento e até mesmo morto pelo Vozes do presente
senhor Em uma conhecida pas-
sagem, Varrão classificava os
instrumentos em três tipos: “vo-
A escravidão antiga, a servidão e a escravidão moderna
cais” (os escravos), “semivocais” Na Roma antiga, os escravizados eram pessoas de
(os bois) e “mudos” (os carros) diversas origens: europeus, asiáticos e africanos, que tra-
[...]. Todavia, o escravismo roma- balhavam em minas, pedreiras, atividades agropastoris,
no não teria perdurado se as re-
serviços domésticos e ainda como cozinheiros, médicos,
lações entre senhores e escravos
tivessem se pautado exclusiva- músicos, dançarinos e professores dos filhos dos ricos.

A/A. DAGLI ORTI/DEAGOSTINI/GETTY IMAGES


mente por esses pressupostos Os escravizados dos romanos podiam ser vendidos,
jurídicos. O controle dos escra- surrados, queimados com ferro em brasa e até mesmo
vos era fundado muito mais em
crucificados. A escravidão romana, no entanto, não se
estratégias de cooptação que
visavam diminuir os atritos do baseava apenas na violência. Um escravo podia obter a
que no uso da coerção, embora liberdade por desejo do seu dono ou por serviços pres-
esta sempre tenha permaneci- tados. E, enquanto liberto, podia tornar-se cidadão
do como último recurso. Mesmo com direito de votar e ser votado.
que, por direito, o escravo não
fosse um cidadão, a cidadania A servidão medieval
era um parâmetro a partir do
qual sua situação na casa (do- (do- Na Europa ocidental, durante a Idade Média
mus)) era concebida. Daí que, de
mus (séculos V ao XV), também existiram escravizados,
certo modo, se estabeleciam na mas eles eram minoria. Uma grande parte dos tra-
Roma antiga comparações en- balhadores era formada por servos da gleba, assim
tre o escravo e o cidadão. A ló- Estátua romana, do século I a.C.,
chamados por encontrarem-se presos à terra, ou de uma menina escravizada
gica do sistema escravista fazia
do escravo na casa o homólogo seja, por não poderem deixar o feudo em que viviam dormindo.
de seu senhor na cidade. Se, por e trabalhavam. Eles recebiam do senhor um lote de
Corveia: obrigação de trabalhar de graça
um lado, era negada ao escravo terra que deviam cultivar. Em troca do direito de usar para o senhor dois ou três dias por semana.
a civitas (cidadania), por outro essa terra para seu sustento, os servos tinham uma Talha: obrigação de entregar para o senhor
existia como que um direito do- cerca de 30% ou 40% do que produzia no
méstico que atribuía ao escravo
série de obrigações para com o seu senhor, como a
lote que tinha recebido para seu próprio uso.
o que a cidade não lhe reconhe- corveia e a talha
talha..
cia, direito este que guardava
analogia com as relações entre Escravidão moderna
cidadão e magistrados. Na Idade Moderna, que na divisão tradicional da História tem início no século XV,
Excluído do connubium (casa- ocorre um grande movimento de expansão marítimo-comercial, liderado por Portugal e
mento legal), o escravo encon- Espanha. Durante essa expansão, Portugal constituiu um grande império com feitorias
trava na casa o contubernium
contubernium;;
e colônias na África, na Ásia e na América. Nesse contexto, a África foi incorporada ao
privado do direito de proprieda-
de, tinha o peculium
peculium,, que lhe era circuito comercial europeu. Navegando e comerciando pela costa africana, durante o século
concedido pelo senhor, podendo XV, os portugueses buscavam obter ouro e escravizados. Ouro para acumular; escravizados
ainda possuir seus próprios es- para vender.
cravos, os vicarii
vicarii.. [...].
A definição da escravidão 246
como um processo, e não como
um estado fixo, permite ilu-
minar outra figura comum na
Roma antiga: o liberto. O escravo o AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd
pretor; e por testamento, 246 quando o testador guns casos, o patrono, ou seus herdeiros, tinha 06/08/22 10:37 HIS

de um cidadão romano, quando explicitava o desejo de ver livres os seus escra- direito à parte dos bens do liberto deixados em
libertado, podia tornar-se um ci- vos após sua morte. O liberto podia casar e ter testamentos. Que o vínculo escravista não se
dadão. Havia três formas de ma- filhos legítimos, fazer contratos, ter e transmitir rompesse definitivamente demonstra-o tam-
numissão: pelo censo, isto é, ins- propriedades por testamento. Mas a manumis- bém o fato de que muitos libertos continuavam
crevendo-se o escravo entre os são não o desobriga de manter certos laços com trabalhando com seus patronos, como agentes
cidadãos no momento do recen- seu ex-senhor, agora o patrono: o obsequium comerciais ou gerindo propriedades. [...]
seamento; por vindicta
vindicta,, quando compreendida um conjunto de obrigações le- JOLY, Fábio Duarte. A escravidão na Roma antiga:
a manumissão era intermediada gais e costumeiras, tais como a de não instaurar política, economia e cultura. São Paulo: Alameda, 2005.
por um magistrado, geralmente um processo jurídico contra o patrono. Em al- (Coleção Passado Presente, p. 23-34).

246

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 246 01/09/2022 09:34


ENCAMINHAMENTO
Vozes do presente
No século seguinte, o Império português ampliou suas conquistas na África, na O trabalho com esta pági-
Ásia e na América. E, com a expansão das plantações de cana-de-açúcar na América na visa contribuir para o de-
portuguesa, envolveu-se em um negócio lucrativo e duradouro: obter e vender africanos senvolvimento da habilidade
escravizados para a parte da América onde hoje é o Brasil. Teve início, assim, a escravidão EF07HI15 e da competência
moderna. específica 1.
Vamos conhecer as semelhanças e as diferenças entre a escravidão antiga, a servidão
a) Professor, estimular os
alunos a estabelecerem dife-
medieval e a escravidão moderna. Observe os quadros a seguir.
renças e semelhanças entre a
escravidão antiga e a escravi-
Semelhanças dão moderna, atentando-se
Escravidão antiga (Roma) Escravidão moderna (Brasil) às diferenças e semelhanças,
bloco conceitual decisivo em
Condição Podiam ser vendidos, alugados, surrados e deixados em testamento.
História.
Direito O escravizado não tinha direitos como pessoa nem de propriedade.
Dica de leitura
Trabalho Não podia escolher seu trabalho.
Neste livro, o autor discu-
Família e honra Não tinha sua família nem sua honra reconhecidas. te o conceito de “sociedade
escravista” na Antiguidade
romana e suas consequências
Diferenças para a organização social e
Escravidão antiga (Roma) Escravidão moderna (Brasil) política da cidade.
Origem
Pessoas de diversas origens e etnias: gregos, Inicialmente indígenas. A partir do século XVII, • JOLY, Fabio Duarte. A escra-
egípcios, macedônios, sírios, entre outros. africanos.
vidão na Roma Antiga. São
Podiam ter ocupações de maior prestígio como
Não podiam ter ocupações de maior prestígio, Paulo: Alameda, 2005.
Ocupações músico, dançarino e professores dos filhos
a exemplo dos escravizados dos romanos.
dos ricos.

ALAMEDA EDITORIAL
Aquele que conseguia a liberdade podia O liberto não obtinha cidadania plena; não
A situação
tornar-se cidadão com direito de votar, de ser podia votar nem ser votado, podendo se tornar
do liberto votado e, portanto, de ocupar cargos públicos. escravizado novamente a qualquer momento.

b) Servidão era a relação de trabalho na qual o trabalhador era dependente, preso à terra; ele não tinha liberdade
para deixá-la. Em troca do direito de usar a terra para seu sustento, os servos tinham uma série de obrigações para
com o seu senhor, o dono da terra. Diferenças
Servidão Escravidão moderna
O servo estava preso à terra; quando o senhor O escravizado podia ser comprado, vendido e alugado;
concedia a outra pessoa a terra (o feudo), junto iam era visto, portanto, como uma mercadoria que
os trabalhadores. pertencia a quem o comprou.

O servo trabalhava gratuitamente nas terras do seu


Os escravizados não recebiam uma terra para dela
senhor e recebia o direito de usar um lote para retirar
retirar seu próprio sustento.
seu sustento.

a) Escreva duas frases comparando a escravidão antiga à escravidão moderna. a) Resposta pessoal.
b) Caracterize a servidão medieval.
c) Diferencie a servidão medieval da escravidão moderna.
c) Na servidão medieval, o trabalhador estava preso à terra e recebia um lote para cultivar e dele
retirar seu sustento. Já na escravidão moderna, o trabalhador era uma mercadoria: podia ser comprado,
vendido, alugado etc.
247

10:37 +ATIVIDADES
HIS-F2-2111-V7-U4-C10-LA-G24.indd 247 2010, a sua pesquisa com
20/08/22 20:37 catalisadores, que aceleram rea-

ções, por meio da mistura de paládio e platina, foi premiada


Pesquise sobre as seguintes personalidades negras:
em uma conferência internacional na Finlândia.
• Enedina Alves Marques: primeira mulher negra a se formar
em Engenharia no Brasil. Nascida em 1913, de família po- • Joaquim Barbosa: primeiro jurista negro a assumir a presi-
bre, ela se graduou aos 30 anos de idade no Instituto de En- dência do Supremo Tribunal Federal, no período de 2012 a
genharia do Paraná (IEP). 2014.
• Viviane dos Santos Barbosa: jovem nascida na Bahia, cur- • Jacqueline Goes de Jesus: cientista brasileira que ajudou a
sou bacharelado em Engenharia Química e Bioquímica pela sequenciar o genoma do coronavírus.
Delft University of Technology, na Holanda, e obteve o títu- Resposta pessoal.
lo de mestre em Nanotecnologia na mesma instituição. Em
247

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C10-MP-G24.indd 247 01/09/2022 09:34


OBJETIVOS
• Evidenciar a complexidade
da sociedade colonial açuca-
CAPÍTULO

11
reira.
• Compreender a invasão ho- EUROPEUS DISPUTAM
landesa no Nordeste como
um capítulo da disputa do O MUNDO ATLÂNTICO
mundo atlântico pelos eu-
ropeus.
• Apresentar as invasões como
uma tentativa dos holande-
ses de aumentar sua partici- O samba a seguir é de autoria do conhecido artista brasileiro Martinho da Vila; leia
pação no lucrativo negócio sua letra com atenção.
do açúcar e dos escravizados.
Aprendeu-se a liberdade Vamos preparar

RAPHAEL DIAS/GETTY IMAGES


• Questionar o mito de “bom
homem” construído em tor- Combatendo em Guararapes Lindos mamulengos
no da figura de Maurício de Entre flechas e tacapes Pra comemorar a libertação
Nassau. Facas, fuzis e canhões E lá vem maracatu
• Evidenciar que os conflitos Brasileiros irmanados Bumba meu boi, vaquejada
entre Espanha e Holanda e Sem senhores, sem senzala Cantorias e fandangos
as invasões holandesas no E a Senhora dos Prazeres Maculelê, marujada
Nordeste brasileiro são pro- Transformando pedra em bala Cirandeiro, cirandeiro
cessos simultâneos e interde- Bom Nassau já foi embora Tua hora é chegada
pendentes. Fez-se a revolução Vem cantar esta ciranda
• Refletir e debater a constru- E a festa da Pitomba é a Pois a roda está formada
ção e o significado do mito reconstituição Ô cirandeiro
da “união das três raças” du- Jangadas ao mar refrão:
rante a Insurreição Pernam- Pra buscar lagosta Cirandeiro, cirandeiro ó
bucana. Pra levar pra festa A pedra do teu anel
• Refletir sobre a prática da Em Jaboatão Brilha mais do que o sol
queimada no passado e no ONDE o Brasil aprendeu a liberdade. Intérprete: Martinho da Vila. Compositor: Martinho da Vila. In:
BATUQUE NA COZINHA. Intérprete: Martinho da Vila. Rio de Janeiro: RCA Victor, 1972. LP, B, faixa 3.
presente. Disponível em: http://martinhodavila.com.br/js_albums/batuque-na-cozinha/. Acesso em: 13 jun. 2022.

Os objetivos contribuem
para a análise crítica do alu-
no em torno de importantes O cantor brasileiro Martinho da Vila desfila com a escola de samba
Vila Isabel no Sambódromo do Rio de Janeiro (RJ), em 2016.
eventos da história, incluin-
do a relação entre processos
de formação do Brasil e di- 1. O que será que o sambista quis dizer com: “Aprendeu-se a liberdade combatendo em Guararapes”?
nâmicas políticas e comer- 2. Há algum indício na letra da religiosidade brasileira?
ciais que conectam Europa, 3. Você já viu um desfile de maracatu? E de bumba meu boi e vaquejada, você já viu?
África e América. Assim,
pretendemos favorecer o 4. Por que será que o governante holandês no Brasil é chamado de “bom Nassau”? O que você sabe a
respeito dele?
desenvolvimento das com- Respostas pessoais.
petências e das habilidades
propostas.
248

BNCC “nasceu” nas batalhas de Guararapes, quan-


ENCAMINHAMENTO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 248 05/08/22 15:14 AV2

• Competências gerais: 1, 2, 3, do as três “raças” – brancos, negros e indí-


7 e 9. Ao longo deste capítulo, esforçamo-nos genas – teriam se irmanado para expulsar os
• Competências específicas: 1, para que os estudantes desenvolvam a ha- holandeses (mito da união das três raças). No
2, 3, 4, 5 e 6. bilidade EF07HI13, facilitando a eles a com- imaginário popular, Nassau é visto como um
preensão da complexa trama envolvendo bom homem: as obras realizadas a seu man-
• Habilidade: EF07HI13.
Portugal, Espanha e Holanda na disputa do, em Recife, e sua política como governa-
pelo mundo atlântico. A letra do samba de dor dos domínios holandeses no Nordeste
Martinho da Vila reedita uma antiga inter- ajudaram a construir essa imagem idealiza-
pretação da história, segundo a qual o Brasil da, que hoje povoa o imaginário popular.

248

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 248 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que, no início do
século XVI, a região onde hoje
A disputa do mundo atlântico é a Holanda pertencia ao Im-
pelos europeus — séculos XVI e XVII pério Espanhol e fazia parte
dos chamados Países Baixos
Espanhóis. A região era prós-
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro duas vezes. Essas inva-
pera e se destacava por suas
sões estão relacionadas às disputas por poder e riqueza entre Espanha, Portugal e Holanda.
manufaturas, sua indústria
Vejamos como isso se deu.
naval e sua marinha mercante.
• Compreender as disputas
A União Ibérica por poder e riqueza entre Es-
No século XVI, o Império espanhol era imenso e possuía Países Baixos Espanhóis:
panha, Portugal e Holanda.
territórios em vários continentes, entre eles os Países Baixos território que corresponde ao que • Explicar o que foi a União
hoje é a Holanda e a Bélgica. Ibérica e seus desdobra-
Espanhóis,, região rica e de maioria protestante.
Espanhóis
Em 1580, o Império espanhol aumentou ainda mais. Naquele ano, o rei de Portugal,
mentos.
D. Henrique, morreu sem deixar herdeiros; então, o rei da Espanha, Felipe II, parente do • Evidenciar que, com a União
rei morto, tornou-se também rei de Portugal. O domínio da Espanha sobre Portugal e suas Ibérica, os inimigos da Espa-
colônias, entre elas o Brasil, ficou conhecido como União Ibérica e durou 60 anos. Durante
nha tornaram-se também
inimigos de Portugal.
esse tempo, os adversários da Espanha tornaram-se também inimigos de Portugal. Foi este
o caso dos Países Baixos Espanhóis.
• Descrever e analisar o pro-
cesso de independência dos
Países Baixos.
A independência dos Países Baixos
No final do século XVI, o rei Felipe II da Espanha tentou impor o catolicismo nos Países Baixos
e passou a cobrar altos impostos de seus habitantes. Estes, então, revoltaram-se e guerrearam
contra a Espanha e, em 1581, declararam sua independência, formando um novo país: a Holanda.
BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA /ÓLEO SOBRE TELA

Família Para tentar conquistar colô-


holandesa, nias portuguesas e espanholas
de Jacob
nas Américas e na África Oci-
Gerritsz
dental, os holandeses inspira-
Cuyp. França,
século XVII. ram-se no modelo bem-suce-
dido da Companhia das Índias
Orientais, fundada em 1602.
Dotada do monopólio da na-
vegação e do comércio com a
Ásia, esta Companhia pode ser
considerada a primeira multi-
nacional do mundo e a primei-
249 ra sociedade a emitir ações. Da
mesma maneira que os Países
Baixos queriam excluir, com a
Companhia das Índias Orien-
15:14 AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 249 TEXTO DE APOIO Durante o século XVI, portugueses e espanhóis
05/08/22 15:14 tais, os outros países europeus
foram os senhores do Atlântico. [...] A hegemo- do comércio com a Ásia, eles
Companhia das Índias Ocidentais nia ibérica começou a ser ameaçada seriamente pretendiam, com a Companhia
apenas a partir do século XVII. Aventureiros, co- das Índias Ocidentais, afastar
A Companhia das Índias Ocidentais, que teve
merciantes, navegadores e piratas franceses, ho- os outros países europeus do
como maior realização em toda sua história a
landeses e ingleses passaram a visitar, saquear comércio com as Américas e a
conquista temporária de parte do Brasil de 1630
e invadir as colônias portuguesas e espanholas. África Ocidental. [...]
a 1654, o Brasil holandês, que passou a ser co-
nhecido como a Nova Holanda, não foi criada [...] O Brasil não escapou deste cenário de con- ALBUQUERQUE, Roberto Chacon de.
com um objetivo exclusivamente comercial. Ela flito entre as potências europeias. Ele se tornou A Companhia das Índias Ocidentais:
uma sociedade anônima? Revista da
foi um instrumento da política exterior holande- um dos principais objetos de cobiça para a políti-
Faculdade de Direito da Universidade
sa para conquistar colônias portuguesas e espa- ca exterior holandesa, cada vez mais interessada de São Paulo, São Paulo, v. 105, p. 25-38,
nholas nas Américas e na África Ocidental. [...] em suas riquezas. jan./dez. 2010. p. 25-26.
249

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 249 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
• Identificar os objetivos da
Companhia das Índias Oci-
dentais em relação ao Brasil A guerra por açúcar e escravizados
e à África.
Inconformado com a perda da Holanda, o rei espanhol Felipe II proibiu Portugal e suas
• Compreender a atuação dos colônias de comerciarem com os holandeses, que tinham grande participação na refinação
holandeses no Atlântico Sul.
e comercialização do açúcar brasileiro na Europa. Diante disso, em 1621, os holandeses
• Localizar as conquistas ho- criaram uma grande empresa, a Companhia das Índias Ocidentais,, para invadir as
landesas no Brasil e na África. colônias portuguesas na América e na África.
• Trabalhar o significado das Na América, o alvo dos holandeses era o Nordeste brasileiro, que, à época, era o maior
guerras de emboscadas. produtor de açúcar do mundo. Já na África, os holandeses queriam conseguir africanos
escravizados para vendê-los ao Brasil. Assim, os holandeses lucrariam com a venda de
açúcar e o comércio de escravizados.
TEXTO DE APOIO

ATOSAN/SHUTTERSTOCK.COM
Holandeses no Brasil
Em 1621, [...] renovou-se o es-
tado de guerra entre Holanda e
Espanha. Contribuíram para isso
os interesses de comerciantes
holandeses envolvidos no refino
e comércio do açúcar na Euro-
pa. Sentindo-se ameaçados de
perder o acesso a sua fonte de
abastecimento, resolveram arre-
batá-la aos espanhóis, conquis-
tando parte da região produtora
do Brasil. Os recursos para isso
foram reunidos através de uma
companhia de comércio chama-
da Companhia das Índias Oci-
dentais, que se formou em 1621 Castelo de São Jorge da Mina. Elmina (Gana), fotografia de 2019. Em 1637, os holandeses conquistaram
São Jorge da Mina e, em 1641, tomaram São Paulo de Luanda, ambas no litoral da África.
e recebeu o monopólio do tráfi-
co, do comércio, da navegação e
da conquista em todas as terras A invasão da Bahia
da costa atlântica situadas, na
A primeira invasão holandesa ocorreu na Bahia, capitania com grande número de
América, entre a Terra Nova e o
estreito de Magalhães, e, na Áfri- engenhos de açúcar.
ca, do Trópico de Câncer ao cabo Os holandeses chegaram a Salvador em 1624, com 26 navios, 3 300 homens e
da Boa Esperança. Com isso, os 450 canhões, prenderam o governador português e conquistaram a cidade sem muita
holandeses desafiaram a bula dificuldade. A população da cidade retirou-se para o interior e de lá organizou a resis-
papal de 1493, que dividia as ter-
ras do Novo Mundo entre Portu-
tência. Uma das táticas dos luso-brasileiros foi a guerra de emboscadas:: os habitantes
gal e Espanha. da Bahia saíam da mata em pequenos grupos e atacavam os holandeses de surpresa.
A Companhia das Índias Oci- Os espanhóis, por sua vez, enviaram a Salvador uma esquadra com 52 navios e mais
dentais encarregou-se de exe- de 12 mil homens para combater os holandeses. Pressionados por mar e por terra, os
cutar o projeto de conquista do holandeses se renderam.
Brasil através da organização
de uma esquadra naval com 26
navios, 3 300 homens e 450 ca-
250
nhões, que chegou à Bahia em
maio de 1624. O governador da
Bahia, Diogo de Mendonça Fur- e, AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd
tendo encontrado a esquadra 250 holandesa des- 05/08/22 15:14 AV2

tado, sem tropas suficientes para falcada, derrotou-a facilmente, expulsando os


se defender, rendeu-se, enquan- holandeses da Bahia.
to a população fugia espavorida. Em represália à derrota e para compensar os
Ao saber do acontecido, o rei prejuízos sofridos, os holandeses passaram a
da Espanha providenciou a or- rea­lizar atos de pirataria em águas brasileiras.
ganização de uma esquadra [...]
naval, composta de 52 navios, AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce inferno:
12 566 homens e 1 185 canhões, açúcar, guerra e escravidão no Brasil holandês (1580-1654).
que, comandada por D. Fradique São Paulo: Atual, 1991. (História em documentos, p. 10).
de Toledo, chegou à Baía de To-
dos-os-Santos em abril de 1625
250

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 250 01/09/2022 13:24


de lucro à companhia holandesa.
O plano para a nova expedição de
ataque ao Brasil foi avaliado com
prudência, de modo que, somente
A invasão de Pernambuco em fins de 1628, a WIC iniciou os
preparativos para a invasão. O
Dois anos depois de invadirem a Bahia, os holandeses voltaram melhor da oficialidade holandesa
a Salvador, saquearam suas riquezas e, na volta para a Holanda, ou flamenga foi convocado para a
prenderam navios espanhóis carregados de prata que seguiam para expedição. Confiou-se o comando
da esquadra ao almirante Hendrik
a Espanha. Essa riqueza ajudou-os a financiar a segunda invasão.
Cornelioszoon Loncq, cabendo ao
Em 1630, navios e canhões holandeses entraram de novo em coronel Jonckheer Diederick van
águas brasileiras; dessa vez para invadir Pernambuco, o maior pro- Waerdenburgh o comando das
dutor mundial de açúcar na época. tropas terrestres. Esse último seria,
Os holandeses conquistaram Olinda e Recife com relativa facili- na prática, o primeiro governador
do Brasil holandês. [...]
dade. O então governador Matias de Albuquerque retirou-se para o
[...] Em 15 de fevereiro de 1630,
interior com homens e armas e lá fundou o Arraial do Bom Jesus,,
Loncq conduziu sua esquadra
principal forte da resistência luso-brasileira. para o Recife, enquanto as tro-
No entanto, com o apoio de alguns moradores, entre eles o pas de Waerdenburgh desem-
senhor de engenho Domingos Fernandes Calabar, que os guiou, barcavam na baía de Pau-Ama-
relo. Matias de Albuquerque não
os holandeses progrediram: conquistaram o Rio Grande do Norte,
viu opção senão abandonar o
a Paraíba e o Arraial do Bom Jesus, no interior de Pernambuco. O Dialogando Recife, em 16 de fevereiro, reor-
governador Matias de Albuquerque, então, mandou incendiar os Por que será que o ganizando sua linha de defesa
canaviais e se retirou com seus seguidores para Alagoas. Antes, governador mandou na Várzea do Capibaribe. Re-
porém, conseguiu prender Calabar e mandou executá-lo. executar Calabar? cife ainda resistiu até o fim do
Resposta pessoal. mês. Olinda, no entanto, caiu no
próprio dia 16 de fevereiro, sen-
do saqueada e arrasada.

ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO


A conquista de Recife e Olin-
da não bastou, porém, para ga-
rantir aos holandeses o controle
da região, sobretudo do interior.
Suas tropas ficaram, na prática,
encasteladas no litoral, em tor-
no daquelas duas praças. [...] A
conquista do Nordeste pelos ho-
landeses se prolongaria por anos
e só foi consolidada por volta de
1635. A Espanha, por sua vez, re-
agiu com atraso e ineficiência,
atolada em sua própria crise fi-
nanceira. Madri soube da der-
rota em abril, e Olivares decidiu
mandar reforços, comandados
pelo general italiano Conde de
Bagnuolo, nomeado como adjun-
to de Matias de Albuquerque no
comando da resistência. De nada
Detalhe de gravura mostrando um engenho na Paraíba, de Frans Post, 1643. A imagem mostra habitantes
adiantou. A tardança da rea­ção
da colônia sob a bandeira holandesa, o que indica que Calabar não foi o único a adotar tal posição.
espanhola acabaria sendo deci-
siva para a conquista holandesa
251 de Pernambuco, mais tarde es-
tendida ao Rio Grande do Norte,
a Itamaracá e à Paraíba.
15:14 Imagens em movimento
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 251 TEXTO DE APOIO 05/08/22 15:14 VAINFAS, Ronaldo. Tempo dos flamengos:
a experiência colonial holandesa. In:
Documentário sobre o domínio holandês A conquista holandesa de Pernambuco FRAGOSO, João Luis Ribeiro; GOUVÊA,
no Nordeste. Maria de Fátima (org.). O Brasil colonial.
[...] Além de mal fortificado, Pernambuco era Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
• BRASIL dos holandeses: expedições. 2012. grande produtor de açúcar e ainda poderia servir v. 2. p. 231-232.

Vídeo (25min32s). Publicado pelo canal TV de base para outras conquistas no Nordeste, in-
Brasil. Disponível em: https://youtu.be/ cluindo nova investida contra a Bahia. A decisão
[de atacar Pernambuco] da WIC [West [West Indische
KBjAKZlMBOk. Acesso em: 11 ago. 2022.
Compagnie,, ou Companhia das Índias Ocidentais]
Compagnie
foi ainda favorecida por um fato circunstancial: o
ataque do almirante Peter Heyn à frota espanhola
carregada de prata, em 1627, ação que rendeu gran-
251

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 251 02/09/2022 11:33


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar a política de Nassau
à frente do Brasil holandês.
• Refletir sobre a intensifica-
ção do tráfico atlântico du-
Nassau no Brasil holandês
rante o período nassoviano.
A guerra deixou atrás de si um rastro de destruição. Para reerguer e administrar as
• Conhecer a modernização
do Recife sob a gestão de áreas conquistadas pelos holandeses, a Companhia das Índias Ocidentais enviou ao Brasil
João Maurício de Nassau e a o conde João Maurício de Nassau. Como governador do Brasil holandês, Nassau adotou
sua representação como um uma política baseada em três pontos:
“homem bom” legada à pos- • empréstimos aos senhores de engenho luso-brasileiros para que recuperassem suas
teridade.
lavouras e comprassem escravizados;
• melhoramentos em Recife:: calçamento de ruas, abertura de canais, construção de
Dica de leitura pontes, jardins e hospitais;
Este livro, do ensaísta per- • tolerância religiosa,, a fim de evitar possíveis conflitos entre os senhores de engenho
nambucano Evaldo Cabral de (católicos) e os holandeses (protestantes).
Mello, apresenta fontes escri- HANS VON MANTEUFFEL/PULSAR IMAGENS
tas variadas que enriquecem

WILFREDOR
sua interpretação sobre a
presença holandesa no Nor-
deste e o legado do governo
de Nassau.
• MELLO, Evaldo Cabral de
(org.). O Brasil holandês
(1630-1654). São Paulo: Pen-
guin Classics, 2010.
EDITORA PENGUIN

À esquerda, vista interna da Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife


(PE), 2020. Acima, fachada do Centro Cultural Judaico de
Pernambuco, Recife (PE), 2020. No governo de Nassau, os
judeus também puderam praticar sua religião; no Recife da
época havia duas sinagogas (templos onde realizavam seus
cultos). Uma delas era a Kahal Zur Israel, primeira sinagoga
das Américas, fundada em 1636. O prédio foi restaurado e
atualmente abriga o Centro Cultural Judaico de Pernambuco.

Durante seu governo, Nassau promoveu a conquista de portos de fornecimento de escra-


TEXTO DE APOIO
vizados na África e estendeu a dominação holandesa de Sergipe ao Maranhão. No Recife,
O texto a seguir é do histo-
riador Evaldo Cabral de Mello, Nassau também ordenou a construção de uma ponte ligando o antigo porto à ilha de Antônio
que também transcreve uma Vaz e esta ao continente. Nessa ilha criou um jardim botânico, um zoológico e construiu o
carta de Maurício de Nassau. Palácio de Friburgo, residência do governador e sede do governo. O lugar onde essas obras
Nassau no Brasil foram feitas recebeu o nome de Cidade Maurícia (atualmente bairro de Santo Antônio).
Os sete anos de governo de João
Maurício de Nassau-Siegen no Bra- 252
sil (1637-1644) constituíram um
interregno de relativa paz entre
dois períodos de guerra, tornando- também seu irmão mais moço, João Ernesto, e seu a 6 de dezembro passado, prossegui na minha dita
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 252 05/08/22 15:14 248
-se destarte uma espécie de Idade primo, Carlos de Nassau, que morrerão aliás no viagem até aqui, com a possível presteza e sempre
de Ouro do Brasil holandês. [...] Brasil. Seguiam também os membros do Supremo com belo tempo e ventos favoráveis [...].
Nassau fez-se acompanhar ao Conselho que administraria o país, sob a presidência O tempo não me permite agora escrever-vos
Brasil de uma comitiva de pintores de Nassau. [...] Há poucos dias de desembarcar no mais particularmente, porém não deixarei de fa-
e cientistas, pagos do seu bolso, Recife, em janeiro de 1637, Nassau escreveu aos zê-lo quando regressar, se Deus quiser. A situação
com o objetivo de documentar a Estados Gerais a seguinte carta [...]: deste país é extremamente vantajosa e forte, e,
vida na colônia, suas raças, sua
“Para desobrigar-me dum dever quis, pela presente, se Deus nos fizer a graça de podê-lo conquistar
flora e sua fauna: o médico Willem
Piso, o paisagista Frans Post e o dar-vos conta do que ocorreu na minha viagem. inteiramente, não duvidarei que todo o Estado
retratista Albert Eckhout. A eles, Como sem dúvida soubestes, fui forçado a demorar- dele tirará uma grande vantagem e serviço. [...]”
se juntaria depois Georg Markgraf. -me cinco semanas na Inglaterra por causa do mau MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O Brasil holandês
No séquito de Nassau, viajavam tempo e do vento contrário. Tendo me embarcado (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010. p. 161-163.
252

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 252 02/09/2022 11:33


ENCAMINHAMENTO
O trabalho com a página
pode contribuir para o desen-
Artistas e cientistas no Brasil holandês volvimento da competência
Nassau trouxe para o Nordeste cientistas, como Georg Marcgraf e Willem Piso, e pinto-
específica 1.
res, como Albert Eckhout e Frans Post, o mais conhecido dos pintores vindos com Nassau.
Dicas de leitura
COLEÇÃO PARTICULAR

O artigo discute as obras de


Frans Post, incluindo o perío-
do em que o artista passou no
Detalhe do
Brasil.
mapa de Georg • ZAPPI, Lucrecia. Frans Post.
Marcgraf e
Revista Pesquisa FAPESP,
Joan Blaeu
mostrando o São Paulo, n. 100, p. 150-155,
território jun. 2004.
brasileiro Artigo que explica a trajetó-
sob domínio
holandês, c. 1647. ria de George Marcgrave e sua
O trabalho de estadia no Brasil holandês.
arte é do pintor
e gravurista
• MARCOLIN, Neldson. A lune-
Frans Post. ta no telhado. Revista Pesqui-
sa FAPESP, São Paulo, n. 177,
p. 8-9, nov. 2010.

Leia agora o trecho de um texto sobre Frans Post e suas obras


retratando o Brasil.

Quando Frans Post chegou ao Brasil, em 1624, tinha 24 anos


e já trazia um aprendizado sobre a arte de pintar paisagens. [...]
Seus quadros retratando paisagens brasileiras revelam
vários aspectos da vida no Nordeste do século XVII: vegetação,
# DICA!

arquitetura, construções, [...] vestimentas, costumes etc. Além O vídeo mostra a relação
entre Maurício de Nassau
disso, eles demonstram o impacto que a natureza tropical teve e os judeus que saíram
sobre o artista, acostumado com uma luminosidade e uma da Europa fugindo da
Inquisição.
paisagem muito diferentes.
MAURÍCIO de Nassau
Várias de suas obras hoje pertencem a importantes museus e os judeus no Brasil.
brasileiros ou mesmo estrangeiros. Numa época em que a pro- 2019. Vídeo (5min29s).
Publicado pelo canal
dução artística colonial quase só abordava temas religiosos, Lucas Rocha Xavier.
a obra de Post permite uma visão mais ampla da realidade Disponível em: https://
youtu.be/w0wBafBdV68
brasileira daquela época.
Acesso em: 16 jun. 2022.
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 37.

253

15:14 248a263-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 253 26/08/22 17:33

253

248a263_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 253 03/09/22 19:38


ENCAMINHAMENTO
O trabalho com a página
pode contribuir para o desen-
volvimento da competência O pintor Albert Eckhout expressou seu encantamento ao representar paisagens e
geral 3. habitantes do Brasil. Observe as imagens e leia um trecho do texto sobre o artista.

ÓLEO SOBRE TELA, 287 X 182 CM, MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA, COPENHAGUE

ACERVO MUSEU NACIONAL DE COPENHAGUE, DINAMARCA/ÓLEO SOBRE TELA


Imagens em movimento
No programa da TV Brasil, Arara,
“De lá para cá”, são entrevista- de Albert
dos diversos intelectuais, dentre Eckhout,
c. 1665.
os quais Evaldo Cabral de Mello
Esse quadro
e Ronaldo Vainfas, que conver- retrata
sam sobre o Brasil holandês. a arara
vermelha,
•MAURÍCIO de Nassau (1/2) – um entre
de lá pra cá. 2011. Vídeo os muitos
(15min3s). Publicado pelo ca- pássaros
nal TV Brasil. Disponível em: registrados
nas pinturas
https://youtu.be/Yi4tNL8X- do artista
pik. Acesso em: 11 ago. 2022. quando
Vídeo da TV Senado que esteve no
Brasil.
mostra o olhar estrangeiro Homem africano, de Albert
dos séculos XVII e XVIII sobre a Eckhout, c. 1641. A imagem
foi pintada no Nordeste.
América portuguesa.
• Brasil no Olhar dos Viajan- Albert Eckhout, outro artista

MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA, COPENHAGUE. FOTO: AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA


tes – Episódio 2 – Documen- holandês trazido por Nassau, aqui
tário Completo. 2019. Vídeo viveu entre 1637 e 1644. Sua obra
(59m17s). Publicado pelo se destaca pelos retratos dos tipos
canal TV Senado. Disponí-
humanos brasileiros – índios,
vel em: https://youtu.be/
negros e mestiços – [...], compondo
qjKGpUu3Zi8. Acesso em: 11
um interessante painel [...]. Muitos
ago. 2022.
dos seus desenhos, especialmente
naturezas-mortas, serviram de
base para a execução de grandes
peças de tapeçarias, executadas
na França, usadas para enfeitar
as paredes dos palácios e residên-
cias na Europa. Tanto nas obras
originais como nessas tapeçarias
chamam atenção os elementos exó-
Abacaxi, melancia e outras frutas, de Albert Eckhout, ticos, demonstrando a visão que os
c. 1641. europeus tinham do Novo Mundo.
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 37.

TEXTO DE APOIO 254


Os artistas do Brasil
holandês
Dois artistas merecem desta- Seus quadros retratando
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 254 paisagens brasileiras compondo um interessante painel [...]. Muitos 05/08/22 15:14 AV2

que [...] durante o domínio holan- revelam vários aspectos da vida no Nordeste dos seus desenhos, especialmente naturezas-
dês: Frans Post e Albert Eckhout. do século XVII: vegetação, arquitetura, cons- -mortas, serviram de base para a execução de
Quando Frans Post chegou ao truções, engenhos, vestimentas, costumes, etc. grandes peças de tapeçarias, executadas na
Além disso, eles demonstram o impacto que a França, usadas para enfeitar as paredes dos
Brasil, em 1624, tinha 24 anos e
natureza tropical teve sobre o artista, acostu- palácios e residências na Europa. Tanto nas
já trazia um aprendizado sobre a
mado com uma luminosidade e uma paisagem obras originais como nessas tapeçarias chamam
arte de pintar paisagens. Ele não
muito diferentes. [...] atenção os elementos exóticos, demonstrando a
veio como funcionário da Com-
visão que os europeus tinham do Novo Mundo.
panhia das Índias Ocidentais, Albert Eckhout, outro artista holandês trazido
mas a serviço do próprio Nassau, por Nassau, aqui viveu entre 1637 e 1644. Sua SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos Holandeses.
tendo, ao que parece, morado no obra se destaca pelos retratos dos tipos huma- São Paulo: Atual, 1997. (A vida no tempo, p. 37).
seu palácio. nos brasileiros – índios, negros e mestiços –, [...]
254

248a263_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 254 03/09/22 19:40


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto
acessando o texto: TAVARES,
A Restauração Vitor. Especialistas analisam
legado deixado pelos
holandeses em Pernambuco.
Enquanto os holandeses multiplicavam seus lucros no Brasil, os portugueses responsabili-
G1. Recife, 30 maio 2015.
zavam a união com a Espanha pela situação crítica em que se encontravam economicamente.
Disponível em: https://
Então, pegaram em armas contra a Espanha e, em 1640, conseguiram libertar-se do domínio
g1.globo.com/pernambuco/
espanhol. O episódio ficou conhecido como Restauração.. D. João IV assumiu o trono noticia/2015/05/especialistas-
português e, no ano seguinte, firmou com a Holanda um acordo de paz por dez anos. analisam-legado-deixado-
pelos-holandeses-em-
A reação luso-brasileira pernambuco.html. Acesso
em: 11 ago. 2022.
Enquanto isso, no Brasil, a Companhia das Índias Ocidentais exigia que Nassau cobrasse
o dinheiro emprestado aos senhores de engenho e restringisse o crédito dado a eles. Além
disso, proibiu a livre prática da religião católica. Vendo-se pressionado pela Companhia, Dica de leitura
Nassau deixou o Brasil em 1644. Este livro lança um novo
Os holandeses, então, começaram a confiscar terras dos senhores Confiscar: tomar um olhar sobre a história do terri-
de engenho que não conseguiam saldar suas dívidas. Os senhores bem de uma pessoa tório da América portuguesa,
por força da lei.
de engenho reagiram rompendo a aliança com os holandeses e jun- na qual a formação do Brasil
tando-se à resistência luso-brasileira. Teve início, assim, a Insurreição Pernambucana se deu no Atlântico Sul, com a
(1645), nome dado à luta pela expulsão dos holandeses. As principais batalhas das tropas América portuguesa unida a
luso-brasileiras contra os holandeses foram as Batalhas dos Guararapes,, ocorridas em Angola pelo oceano, integran-
1648 e 1649, ambas vencidas pelos luso-brasileiros. do um só sistema de explora-
Animado pela vitória em Guararapes, o governo português enviou a Pernambuco uma ção colonial, cujas marcas na
frota de guerra. Atacados por terra e por mar, os holandeses foram vencidos na Batalha vida social brasileira estão pre-
da Campina do Taborda e, em 1654, deixaram o país. sentes até hoje.
• ALENCASTRO, Luiz Felipe
de. O trato dos viventes: for-
ÓLEO SOBRE TELA, 122 X 217 CM, MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO
mação do Brasil no Atlântico
Sul. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000.

“com a mão do gato”, denuncia-


va frei Manuel Calado. O endivi-
damento dos proprietários tinha
Detalhe do painel da Batalha de Guararapes pintada em 1758. Essa imagem faz parte de uma série que busca duas origens. As prestações de-
elevar à condição de heróis os pernambucanos católicos que venceram e expulsaram o invasor protestante. vidas por aqueles que haviam
Repare, à esquerda da imagem, um religioso com uma cruz em uma das mãos.
comprado bens confiscados, e
as dívidas contraídas para com
255 atravessadores que revendiam
escravos comprados à WIC. [...]
Com o aumento dos gastos em
Angola, a WIC cai em cima de
15:14 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 255 investidos em Pernambuco. Sem conseguir05/08/22neu-
15:14
seus devedores no Brasil. De
tralizar as manobras especulativas dos capita-
listas da Holanda, a diretoria da WIC também golpe, os proprietários luso-bra-
Senhores de engenho versus sílicos sentem vibrar a veia pa-
holandeses não dava conta da gestão dos dois polos escra-
vistas no Atlântico Sul. triótica e passam a resistir aos
Arcando com grandes gastos nas conquistas, ocupantes. Credores extorsivos,
De saída, o Conselho dos XIX julgou demasia-
a WIC se tornava vulnerável às flutuações do os holandeses começam a ser
do longos os prazos de pagamento concedidos
mercado açucareiro. [...] Bamba das pernas, a vistos também como heréticos e
por Nassau aos compradores dos engenhos e
pérfidos inimigos da Coroa. [...]
empresa tornava os investidores arredios. [...] escravos confiscados. [...]
Baque mais sério abala a Compagnie a partir de ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos
Entrementes, aumentavam as tensões em
viventes: formação do Brasil no Atlântico
1640, quando a queda dos preços do açúcar em Pernambuco, onde senhores de engenho es- Sul. São Paulo: Companhia das Letras,
Amsterdam provoca um refluxo dos capitais tavam sendo achacados por credores agindo 2000. p. 216-217.
255

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 255 02/09/2022 11:34


+ATIVIDADES
1. Em grupo. Pesquisem so-
bre um importante persona-
gem negro (mulher ou homem)
da história do Brasil, desde o PARA SABER MAIS
período colonial. Após a apre-
sentação pública dos trabalhos, O texto a seguir é sobre Henrique Dias, importante protagonista de nossa história.
promovam um debate tendo
como ponto de partida algu- Henrique Dias
mas perguntas disparadoras:
a) Quais desses personagens Henrique Dias foi um importante personagem
vocês conheciam? do século XVII. Consta que nasceu em Pernambuco,
b) Vocês encontraram muitas talvez no alvorecer seiscentista. Era filho de africanos,
fontes de informação a respei- provavelmente escravizados, e foi alforriado ainda
to do personagem? criança [...].

ÓLEO SOBRE TELA, 96 X 70 CM, ACERVO MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO, RECIFE


c) Existem monumentos que os
Na década de 1630, Dias se alistou para comba-
homenageiam? Por quê?
ter os holandeses, atuando em tropas comandadas
2. Elaborem uma minibiografia por Matias de Albuquerque (c. 1590-1647). É
acompanhada da imagem do
possível que Henrique Dias tenha recrutado
personagem pesquisado.
Respostas pessoais. muitos escravizados que fugiram dos enge-
• Temas Contemporâneos nhos e preferiram se proteger alistando-se
Transversais: a proposta pro- em tropas de libertos. A partir de 1633, o
picia discussões, em sala de nome de Henrique Dias começou a apare-
aula, acerca da implemen- cer nas crônicas sobre as batalhas contra
tação da lei 10.639/03, con- os holandeses. Logo ganhou distinção por
tribuindo para o desenvol-
seus atos de heroísmo e de bravura, pela
vimento de uma sociedade
justa, democrática e inclusiva, Retrato de Henrique Dias, de autor participação nos embates de Igaraçu e nas
e de todos os temas da ma- desconhecido, século XVII. batalhas de retomada de Goiana. [...]
croárea multiculturalismo. Henrique comandou uma tropa de libertos [...] ficando conhecido como “governa-
O conteúdo desta página e as dor das companhias de crioulos, pretos e mulatos”. Em 1647, suas tropas já contavam
atividades possibilitam trabalhar com mais de trezentos combatentes, muitos dos quais “homens pretos” (nomencla-
as competências gerais 7 e 9 e as tura de africanos na época). Falava-se que suas tropas eram compostas de “quatro
competências específicas 3, 4 e 6.
nações”: uma com “crioulos” (nascidos no Brasil) e as outras três de africanos, nomea-
Imagens em movimento dos “ardas”, “minas” e “angolas” – portanto, centro-africanos e africanos ocidentais [...]
O vídeo aborda as invasões Apesar de um efetivo modesto, as tropas sob comando de Henrique Dias parti-
holandesas no Brasil e o papel de
ciparam das Batalhas dos Guararapes, em 1649.
Henrique Dias nesse processo.
Quando a guerra com os holandeses acabou, Henrique Dias continuou morando
• CONSTRUTORES do Brasil: em seu arraial, onde tinha mandado construir, em 1646, uma igreja de taipa e coberta
Henrique Dias. [20--]. Vídeo
de telhas, dedicada a Nossa Senhora. [...]
(6min42s). Publicado por:
TV Câmara. Disponível em: Exigiu também, a garantia de que seus soldados ganhariam cartas de alforria,
https://www.camara.leg.br/ sugerindo que parte de sua tropa era formada por cativos que haviam abandonado
tv/170887-henrique-dias/. os engenhos e engrossado o contingente [...].
Acesso em: 11 ago. 2022. GOMES, Flávio dos Santos; LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia negra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 245-246.

TEXTO DE APOIO
Segundo Vocabulário português
256
de 1712, um terço, enquanto “ter-
mo militar, responde ao que os
Romanos chamavam Legião e os cada “guerra preta” formava
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 256 uma pequena tropa Governador dos Crioulos, Negros e Mulatos lhe 05/08/22 15:15 AV2
Alemães e Franceses chamam de infantaria sob liderança de autoridades locais, foi confirmado por Carta Patente do Conde da
Regimento”. O “terço da Gente constituindo importante instituição militar no Torre, de quatro de setembro de 1639. O Terço
Preta” ou simplesmente “terço contexto das guerras angolanas dos seiscentos. dos Negros, Crioulos e Mulatos aparece com des-
de Henrique Dias” surgiu em Per- taque nas narrativas de época das duas Batalhas
Em abril e maio de 1638, as tropas de Henri-
nambuco, ainda nos primeiros dos Guararapes e do cerco do Recife. Após a Res-
anos da guerra de resistência à que Dias participaram ativamente da defesa da tauração e a vitória portuguesa no Recife, Hen-
ocupação holandesa. Sua es- cidade de Salvador do ataque do Conde de Nas- rique Dias foi agraciado por D. João IV com a co-
trutura era em muitos sentidos sau. Foi em recompensa por estes serviços que menda do Moinho de Soure, da Ordem de Cristo.
similar às “guerras pretas” que ele recebeu de Felipe III de Portugal e IV da Es-
MATTOS, Hebe. Da guerra preta às hierarquias de cor no
caracterizavam a presença mili- panha, a promessa do foro de fidalgo e a mer-
Atlântico português. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA,
tar portuguesa na África Central cê de Cavalheiro de uma das Ordens Militares, 24., 2007, São Leopoldo. Anais [...]. São Paulo: Associação
Atlântica no mesmo período. Ali, por carta régia de 21 de julho de 1638. O título de Nacional de História (ANPUH), 2007. p. 1-2.
256

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 256 01/09/2022 13:24


TEXTO DE APOIO
[...] desde a saída do conde
Maurício de Nassau do governo
A concorrência holandesa e a queda nos preços do açúcar dominado pelos holandeses na
América, em 1644, foi-se am-
Forçados a deixar o Nordeste brasileiro, os holandeses levaram para as Antilhas as pliando um clima de descon-
técnicas de produção de açúcar. E como os holandeses possuíam uma grande frota naval tentamento entre os colonos,
e experiência comercial, em pouco tempo o açúcar antilhano passou a disputar com o provocado por incompatibili-
dades com o novo rumo dado à
açúcar brasileiro a liderança no mercado europeu.
administração da capitania pela
Além disso, entre 1650 e 1700, a Europa viveu uma crise econômica profunda; com Companhia das Índias, con-
isso, a procura pelo açúcar diminuiu e seus preços caíram pela metade. siderado prejudicial aos seus
A expulsão dos holandeses negócios. Entre outras coisas, a
deu início à crise da economia Antilhas holandesas Companhia passou a cobrar os

ALLMAPS
açucareira no Brasil. Portugal 70° O empréstimos concedidos por
Nassau, e, quando estes não
não tinha condições financei- HAITI REP.
DOMINICANA eram pagos, os juros aplicados
ras de reerguer os engenhos Porto Rico eram extorsivos. E isso numa
(EUA)
do Nordeste, nem de competir época de má colheita, provo-
com o produto holandês no cada por secas e inundações
mercado europeu. M a r d o C a r i b e
alternadas, e a queda do pre-
ço internacional do açúcar em
Mesmo assim, os pro-
15° N torno de 25%. Além do mais, os
prietários rurais continuaram holandeses passaram a exercer
investindo na montagem de AN
TILH
AS HOLANDESA
S um controle rigoroso na questão
I. Aruba (HOL)
engenhos e ampliando as terras I. Curaçao (HOL) religiosa, perseguindo os católi-
I. Bonaire (HOL)
destinadas à lavoura da cana. 0 140 cos. Proibiam a vinda de novos
padres para substituir os que
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA morriam ou adoeciam.
COLÔMBIA VENEZUELA
E GEOGRAFIA. Atlas geográfico escolar. Em 1645, teve início um mo-
7. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. p. 39.
vimento de revolta contra o
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

domínio holandês, que ficou


conhecido como Insurreição
Pernambucana. [...]. Após vio-
lentas lutas, [...] os holandeses
Escravizados foram finalmente derrotados.
trabalhando Embora expulsos do Brasil, os
em um holandeses somente reconhece-
moinho para ram a perda do litoral nordesti-
a moagem no em 1661, quando assinaram a
de cana-de-
Paz de Haia com Portugal, e, em
-açúcar nas
Antilhas,
1669, acertaram o recebimento
de Angelo de uma grande indenização por
Agostini, conta das terras perdidas.
século XIX. A expulsão dos holandeses do
Brasil gerou [...] problemas para
a economia da colônia portu-
guesa na América. Eles passa-
ram a produzir açúcar nas Anti-
lhas, região da América Central,
comercializando-o a um preço
257 mais baixo na Europa. [...] A con-
corrência do açúcar antilhano
provocou a queda do preço do
15:15 AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 257 ENCAMINHAMENTO 05/08/22 15:15 açúcar em cerca de 50% e deter-
minou o fim do monopólio por-
• Aprofundar o assunto com a leitura do texto: ANDRADE, Marcelo. Império colonial holan- tuguês sobre o produto. [...]
dês: parte 3 de impérios coloniais. Montfort – Associação cultural. São Paulo, 11 ago. 2022. RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de
Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/imperio-colonial-holandes- Educação. A Restauração: o fim da União
Ibérica e as consequências para a colônia.
parte-3-de-imperios-coloniais-por-marcelo-andrade/. Acesso em: 11 ago. 2022. MultiRio. Rio de Janeiro, c1995-2022.
Disponível em: http://multirio.rio.rj.gov.br/
historia/modulo01/top03.html. Acesso em:
11 ago. 2022.

257

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 257 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
4. a) Professor, comentar que,
sob o domínio holandês, a
produção de açúcar no Brasil ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

aumentou e, consequente-
mente, a escravidão tornou-se 1. Com a independência da Holanda, Felipe II proibiu Portugal e suas colônias de
mais intensa. comerciarem com os holandeses, que tinham grande participação no refino e comér-
cio do açúcar brasileiro na Europa. Diante dessa situação, eles criaram a Companhia
I. Retomando das Índias Ocidentais para invadir as colônias portuguesas na América e na África.
2. Os holandeses queriam dominar o lucrativo comércio de açúcar, produzido
TEXTO DE APOIO na Bahia e em Pernambuco, e o de escravizados, capturados na África.
1 Vimos que os habitantes dos Países Baixos Espanhóis se revoltaram contra a Espanha
O texto a seguir é do histo- e, em 1581, declararam sua independência, formando um novo país, a Holanda. Que
riador Evaldo Cabral de Mello. relação há entre a independência da Holanda e as invasões holandesas no Brasil?
O interesse dos Países Baixos
pelo Brasil antedatou de muito 2 Por que os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro?
a criação da Companhia das Ín-
dias Ocidentais (1621) e os ata- 3 Sobre a invasão holandesa a Pernambuco, identifique as alternativas corretas.
ques à Bahia e a Pernambuco. a) Na época em que foi invadido pelos holandeses, Pernambuco era o maior produtor mundial
Há mesmo quem pretenda que a de açúcar. 3. Alternativas A e C.
emergência de um mercado in- b) Durante a invasão a Pernambuco, os holandeses tiveram dificuldade de conquistar Olinda e Recife.
ternacional do açúcar no século
c) Durante a invasão holandesa a Pernambuco, a resistência luso-brasileira fundou o Arraial do
XVI tenha sido uma criação da
Bom Jesus.
técnica comercial e financeira
dos holandeses, que teriam sido d) Depois de conquistarem Pernambuco, os holandeses conquistaram também Bahia, Sergipe e
também os principais fornece- Alagoas.
4. a) Não; ao se estabelecerem no Nordeste, os holandeses
dores do capital indispensável seguiram o conselho de Nassau e promoveram intensamente
ao estabelecimento e à expan- 4 Leia o texto e responda às questões. o tráfico atlântico.
são, a partir de meados de qui- Seu primeiro relatório [de Nassau], expedido em 1638 [...], enuncia as regras do jogo
nhentos, do sistema brasileiro colonial no Atlântico Sul.
de produção de açúcar. O que [...] “Necessariamente deve COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA
existe de concreto é que navios
holandeses, apenas disfarçados haver escravos no Brasil, e por
em embarcações pertencentes nenhum modo podem ser dis-
a comerciantes portugueses, as- pensados: se alguém sentir-se
sumiram uma proporção subs- nisto agravado, será um escrú-
tancial do tráfego entre o Brasil e
pulo inútil [...] é muito preciso que
a Europa e que essa participação
continuou a crescer, a despeito todos os meios apropriados se
da união das Coroas portugue- empreguem no respectivo tráfico
sa e espanhola (1580) e dos vá- na Costa da África”.
rios embargos decretados pelos
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos
soberanos peninsulares contra viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. O engenho, de Johann Moritz Rugendas, c. 1835.
navios neerlandeses em portos São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 210.
ibéricos. Após a trégua, hispa- a) Com base no texto, pode-se dizer que o posicionamento de Nassau diante da escravidão era
no-neerlandesa (1609-1621), co- diferente do adotado pelos colonizadores portugueses?
merciantes holandeses chega-
b) Quais eram os objetivos dos holandeses com a conquista de territórios no Brasil e na África
ram a controlar entre a metade
quase ao mesmo tempo?
e dois terços da navegação entre
4. b) Pretendiam obter lucros com o comércio de escravizados da África para o Brasil e com a produ-
Portugal e o Brasil. Concluída a
trégua em 1621, as autoridades 258 ção, o refino e a venda do açúcar brasileiro na Europa.

holandesas embarcaram numa


política agressiva contra o Impé-
rio colonial português, visando empresarial de um grupo258de calvinistas emigra-
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 05/08/22 15:15 AV2
a substituir o comércio pacífico dos dos Países Baixos Espanhóis para Amsterdã,
pela conquista territorial. É na- a quem se juntaram representantes do patricia-
quele mesmo ano que se funda do urbano das cidades holandesas.
na Holanda a Companhia das
MELLO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês
Índias Ocidentais, a quem o Es- 1630-1654. ARS, São Paulo, v. 7, n. 13, p. 160-171,
tado reconhecia direitos mono- jan./jun. 2009. p. 165-166.
polistas no tocante à conquista,
comércio e navegação da Améri-
ca e da costa ocidental da África,
graças à propaganda colonial de
Willem Usselincx e ao ativismo

258

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 258 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
5. b) Professor, espera-se que
os alunos mencionem os me-
5 Acerca do governo de Maurício de Nassau no Brasil holandês, leia o texto a seguir e lhoramentos urbanos, como
responda ao que se pede. o calçamento de ruas, a aber-
tura de canais, a construção
ACERVO MUSEU ANTIGA PINACOTECA, MUNIQUE, ALEMANHA

de pontes, jardins e hospitais.


Eles também podem men-
cionar os cientistas e artistas
europeus trazidos para o Nor-
deste por Nassau, para estu-
Paisagem com dar e retratar as pessoas, a
Tamanduá-í fauna e a flora nativas.
e Palanquim,
de Frans
Post, 1649.
TEXTO DE APOIO
É com a chegada do Conde
Maurício de Nassau, em 1637,
que o Recife começa a dese-
nhar uma nova urbanização. Em
sua missão de governar o Brasil
Holandês, Nassau traz uma co-
Maurício de Nassau foi responsável pelo primeiro contato do Brasil com a mitiva repleta de artistas para
Europa moderna, [...] desenvolvendo no Nordeste do país um governo baseado na registrar os acontecimentos e
técnicos para edificar uma nova
liberdade, no comércio e no estímulo às ciências e às artes.
cidade. Em primeiro plano, o ob-
MELLO, Evaldo Cabral de. Entre dois mundos: Maurício de Nassau. In: FIGUEIREDO, Luciano (org.). jetivo de trazer essa equipe era
História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. p. 376.
5. a) O governo de Nassau e as suas características, que, segundo o autor, mostrar aos investidores holan-
a) Qual é o assunto do texto? deses que a empreitada, apesar
foi o primeiro contato do Brasil com a Europa moderna.
b) Com base nos seus conhecimentos, cite medidas tomadas por Nassau que confirmam a ideia de arriscada, era um bom negó-
de modernidade citada no texto. 5. b) Resposta pessoal. cio. Em segundo plano, os artis-
c) Cite um motivo para o governo de Nassau ser considerado um governo baseado na liberdade. tas e cientistas levariam civili-
d) Embora o governo de Nassau tenha trazido de fato a modernidade e a tolerância religiosa dade àquelas terras tão hostis.
para a região que governou, havia um elemento bastante antigo e muito distante da ideia de Esses trabalhos resultaram num
liberdade na economia local. Que elemento era esse? Justifique sua resposta. largo acervo de mapas, livros,
5. d) A escravidão, que contrastava com a modernidade e a liberdade associadas ao governo de Nassau. quadros, gravuras e conheci-
6 Leia o texto, observe a imagem e depois responda às questões da página seguinte. mento científico sobre a geo-
grafia, botânica, antropologia e
Ao entrarem na Vila de Olinda, os holandeses já encontraram, sob o ponto de
zoologia das Américas [...].
vista urbano, uma aglomeração definida, com as características que se encontram
[...] a urbanização holandesa
em outras vilas e cidades do Brasil, com memórias de núcleos urbanos de Portugal
foi fundamental para a reloca-
[...]. Olinda, a Lisboa pequena, em feliz comparação da época, impressionou, quer ção do centro político e econô-
pelo luxo das igrejas ou pelo casario de pedra ou taipa [...]. Mas a vila situada por mico de Pernambuco no período
sobre as colinas não se permitia fortificar [...] a preferência dos técnicos recai sobre colonial, bem como sua consti-
tuição como cidade, em infraes-
o povoado do Recife, embora o ônus de construir tudo de novo [...].
truturas e dinâmica. Justificando
MENEZES, José Luís. Arquitetura e urbanismo no Recife do conde João Maurício de Nassau. In: HERKENHOFF, Paulo (org.). a importância desse período por
O Brasil e os holandeses (1630-1654). Rio de Janeiro: GMT Editores: Sextante, 1999. p. 86-103.
5. c) O governo de Nassau pode ser considerado um governo baseado na liberdade, pois ele adotou uma política si só. Além disso, a forma de ur-
banização holandesa provocou
de tolerância religiosa, a fim de evitar conflitos entre católicos e protestantes.
259 um novo paradigma na forma de
se ocupar os territórios, mesmo
após a retomada portuguesa.
15:15 AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 259 05/08/22 15:15 FULGÊNCIO, Vinícius Albuquerque.
Vlaamse Stad: caracterização da
urbanização holandesa no Recife a partir
dos registros gráficos do séc XVII. In:
SEMINÁRIO DO PROGRAMA DE PÓS-
-GRADUAÇÃO EM DESENHO, CULTURA
E INTERATIVIDADE, 11., 2015, Feira de
Santana. Anais [...]. Feira de Santana:
UEFS, 2015. p. 516, 521.

259

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 259 01/09/2022 13:24


+ATIVIDADES
No caderno. Use V para as
sentenças verdadeiras e F para
as falsas. Escreva no caderno a alternativa correta. Por qual razão a vila do Recife foi escolhida
a) Os holandeses se retiraram como sede do Brasil holandês? 6. Alternativa B.
do Brasil em 1654, após serem a) Olinda já tinha muitos habitantes.
vencidos na Campina da Ta- b) O fato de que ela podia ser fortificada e Olinda, não.
borda. c) O desejo dos holandeses de construir uma cidade nova.
b) A saída dos holandeses do d) O interesse em aproveitar as águas do rio Capibaribe.
Brasil não tem relação com a e) O fato de ser banhada pelo mar.
queda do preço do açúcar bra-
sileiro no mercado externo. 7 Leia o texto a seguir com atenção.

c) Os holandeses levaram para [...] [Em] 1 o de dezembro de 1640, em Lisboa, revoltosos populares e da
as Antilhas as técnicas de pro- nobreza tomaram o poder e restauraram a independência portuguesa. D. João,
dução de açúcar. duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, [...] no palácio hoje designado
d) A concorrência da produ- Palácio da Independência. Todavia, foi necessário reforçar o exército, fabri-
ção holandesa nas Antilhas es- car armas e fortalezas nas zonas fronteiriças para garantir a independência,
timulou o aumento da venda através das guerras da restauração, que duraram de 1640 a 1668, pois só então,
do açúcar brasileiro. com o tratado de paz em Lisboa, os espanhóis reconheceram a independência
e) O açúcar antilhano, produ- portuguesa.
zido pelos holandeses, passou FERRÃO, Nuno Sotto Mayor. A restauração da independência portuguesa de 1o de dezembro de 1640 e a restauração
do feriado nacional. Crónicas do Professor Nuni Sotto Mayor Ferrão. [S. l.], 1o dez. 2016. Blogue.
a disputar o mercado interna- Disponível em: https://cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/a-restauracao-da-independencia-65806.
cional com o açúcar brasileiro. Acesso em: 13 jun. 2022.

Respostas: Escreva no caderno a alternativa correta. Com base na análise do texto, podemos
V, F, V, F, V. afirmar que: 7. Alternativa C.
a) os espanhóis reconheceram a independência portuguesa em 1o de dezembro de 1640.
TEXTO DE APOIO b) as guerras de Restauração duraram de 1640 a 1680, quando foi assinado o tratado de paz
A leitura do texto a seguir em Madri.
contribui para que os estu- c) a independência de Portugal só foi reconhecida pela Espanha após uma guerra concluída com
a assinatura de um tratado de paz em Lisboa, em 1688.
dantes desenvolvam a habili-
dade EF07HI13 e a competên- d) o movimento pela Restauração portuguesa contou somente com a participação de populares.
cia geral 1. e) a luta pela Restauração da independência de Portugal contou somente com a participação
da nobreza.
[...] a ocupação da América
Portuguesa pela Companhia das 8 Avalie as afirmações e escreva no caderno as alternativas corretas.
Índias Ocidentais deve ser com- a) Os holandeses se retiraram do Brasil em 1654, após serem vencidos na Batalha da Campina
preendida no contexto da dis- do Taborda.
puta entre as várias nações eu-
b) A saída dos holandeses do Brasil não tem relação com a queda do preço do açúcar brasileiro
ropeias da época. Tal disputa
no mercado externo.
dava-se em torno do controle do
comércio do açúcar e do tráfico c) Os holandeses levaram para as Antilhas as técnicas de produção de açúcar.
de escravos. Esses eram indis- d) A concorrência da produção holandesa nas Antilhas estimulou o aumento da venda do açúcar
pensáveis à produção açucareira, brasileiro.
ao mesmo tempo que o tráfico e) O açúcar antilhano produzido pelos holandeses passou a disputar o mercado internacional
se constituía em importante ele- com o açúcar brasileiro.
mento de acumulação de capital 8. Alternativas A, C e E.
no comércio do Atlântico, que
era controlado pelos europeus.
260
Além disso, é necessário tam-
bém considerar as disputas di-
násticas travadas na Europa e, onde os lusos venceram,260mas também na Ásia,
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd quanto na Europa, foi marcada não apenas por 05/08/22 15:15 AV2

principalmente, no caso estuda- onde a vitória foi dos neerlandeses, com a to- batalhas militares, mas também pelas diplomá-
do, a União Ibérica (1580-1640). mada definitiva de importantes colônias portu- ticas. Em 1661, com a assinatura de um tratado
A restauração do trono portu- guesas produtoras de especiarias, e na África, de cooperação com a Grã-Bretanha, que incluiu
guês, em 1640, fortaleceu a luta onde ocorreu um empate técnico. o casamento da Infanta de Portugal, D. Catarina,
dos luso-brasileiros na América O fato é que, após a restauração, Portugal teve com o rei da Inglaterra, os portugueses consegui-
Portuguesa e se constituiu em de lutar para reconquistar seu lugar, na política ram garantir, a um só tempo, a sua independên-
fator determinante dos rumos europeia, como estado soberano. Além disso, cia e a manutenção da unidade territorial de sua
da guerra. É importante lembrar precisou contar com o apoio de outros estados colônia na América Portuguesa. [...]
que a disputa entre portugue- europeus em sua luta contra a Espanha pela in- MENEZES, Mozart Vergetti de; GONÇALVES, Regina Célia.
ses e neerlandeses ocorreu não dependência, que só foi reconhecida em 1668. O domínio holandês no Brasil: 1630-1654.
apenas no território americano, Assim, a luta pela restauração, tanto na América São Paulo: FTD, 2002. (Para conhecer melhor, p. 51).
260

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 260 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
Vozes do presente

II. Leitura e escrita em História d) Os alunos podem citar: pas-


tel, macarronada, pizza, po-
lenta etc.
Vozes do presente
+ATIVIDADES
Alimentação europeia
Pesquise um prato típico da
Ao contrário dos portugueses, que rapidamente se adaptaram aos alimentos
cultura holandesa. Escreva um
produzidos no Brasil (farinha de mandioca, caça, peixes etc.), os holandeses de tudo
texto sobre a história desse pra-
traziam da Europa para se alimentar. Carnes de boi e de carneiro salgadas, toucinho, to, mencionando sua origem,
presunto, língua de boi, salmão, bacalhau salgado e seco, arenque, farinha de trigo, curiosidades, ingredientes usa-
cerveja, vinhos da Espanha, da França e do Reno, queijo, manteiga, azeite, azeitonas, dos em seu preparo e se esse ali-
alcaparras, figos, passas e amêndoas, entre outros produtos, eram constantemente mento é encontrado no Brasil.
trazidos da Holanda para o Nordeste. [...] Se possível, inclua imagens.
SILVA, Luiz Geraldo. O Brasil dos holandeses. São Paulo: Atual, 1997. p. 29. Sugestão de material para
pesquisa: ARAÚJO, Raquel.

BIRMINGHAM MUSEUMS AND ART GALLERY, REINO UNIDO


Comidas típicas da Holanda:
tudo sobre a culinária holan-
desa. Quero Viajar Mais. [S. l.],
c2020. Disponível em: https://
www.queroviajarmais.com/
comidas-tipicas-da-holanda/.
Acesso em: 11 ago. 2022.
Resposta pessoal.
• Temas Contemporâneos
Transversais: a atividade
mobiliza os temas diversi-
dade cultural, da macroárea
multiculturalismo, e educação
alimentar e nutricional, da
Preparação de um banquete de Pieter Aertsen, c. 1600.
macroárea saúde.
Responda com base no texto.
a) Anote em seu caderno a alternativa correta. a) Alternativa II.
I. Os holandeses conseguiram adaptar-se rapidamente ao consumo de farinha de mandioca.
II. Os holandeses preferiam consumir a farinha de trigo importada da Europa.
III. Assim como os portugueses, os holandeses só consumiam produtos vindos de seu próprio país.
IV. Os holandeses preferiam importar apenas bebidas, a exemplo do vinho e da cerveja.
b) O que é possível concluir sobre as importações holandesas para o Nordeste?
c) Você já experimentou comidas de outros países? Se sim, quais? Você gostou?
d) A culinária faz parte da cultura de um povo. Pesquise e cite comidas de origem europeia muito [...] No Breve discurso, Nassau
consumidas no Brasil. d) Resposta pessoal. enumerava:
b) Os holandeses traziam da Europa uma variedade enorme de produtos: carnes, peixes, farinha de trigo, bebidas,
“Têm belíssimas frutas, como
queijo, manteiga, entre outros.
c) Respostas pessoais.
261 laranjas, limões, melões, me-
lancias, abóboras, pacovas, ba-
nanas, ananazes, batatas, ma-
racujá-açu, maracujá-mirim,
15:15 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 261 de farinha de mandioca complementado por
05/08/22 15:15
araticum-apê e o belo e o mais
preparos de carnes bovinas secas, salgadas ou
• Tema Contemporâneo Transversal: o texto frescas e de carnes de caça ou de criações do- delicioso dos frutos, a mangaba,
a seguir pode servir ao desenvolvimento mésticas, acompanhadas de vegetais. Ressal- e ainda vários legumes, milho,
arroz e outros mais, de que fa-
do tema educação para a valorização do tavam-se nos textos a estima pelos mingaus de
carimã com caldos apimentados de carne ou zem diversidade de confeitados.
multiculturalismo nas matrizes históricas Estes são muito sãos, e deles co-
e culturais brasileiras, da macroárea multi- de peixe, pelas carnes bovinas e suínas e pelos
mem em quantidade [...].”
peixes. Entre os temperos, citavam-se, além de
culturalismo. Repare a grande quantidade
pimentas nativas com sal (iuquitaia
(iuquitaia),
), vegetais PAPAVERO, Claude Guy. Alegrias e
de termos indígenas. notáveis, como o nhambi e o urucum
urucum.. O comissá- desventuras do paladar: a alimentação
no Brasil holandês. Revista de Nutrição,
[...] As refeições holandesas, pois, funda- rio Nieuhof assinalava a relevância extrema da Campinas, v. 23, n. 1, p. 137-147, jan./fev.
mentaram-se, como as lusas, em um consumo pecuária e da pesca. 2010. p. 144-145.
261

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 261 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
Integrando com Matemá-
tica. A seção contribui para o
desenvolvimento da compe-
tência específica 2. III. Integrando com Matemática c) Em 1650, quando foram exportadas
cerca de 1 700 toneladas.

Com base no gráfico a seguir, elaborado pelo economista Roberto Simonsen, e em


seus conhecimentos sobre a presença holandesa no Nordeste, responda às questões.
TEXTO DE APOIO d) Sim, o pico da exportação de açúcar
coincidiu com o período do domínio
A indústria açucareira no Brasil: evolução da economia açucareira (1570-1670) holandês no Brasil (1630-1650).

EDITORIA DE ARTE
final do século XVII
Na segunda metade do século 1800

XVII os preços do açúcar caí- 1600


ram, enquanto os custos dos
1400
insumos necessários à produ-
ção aumentaram. O problema massa (em toneladas) 1200
se agravava pois, em muitos
1000
casos, os senhores de engenho
dispunham apenas do açúcar 800
para pagar suas dívidas, e com
600
a redução nos preços esses fi-
cavam cada vez mais endivida- 400
dos. Dado a escassez de moeda
200
as compras de insumos eram
0
realizadas a prazo, devendo ser
pagas com o açúcar no período 1570 1580 1590 1600 1610 1620 1630 1640 1650 1660 1670
da safra, sendo previamente
Fonte: AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce inferno: açúcar: guerra e escravidão no Brasil holandês (1580-1654).
definido entre as partes o preço São Paulo: Atual, 1991 (História em documentos, p. 33).
pelo qual o produto seria arre-
a) Registra a evolução na exportação de açúcar e, consequentemente,
matado. Os senhores reclama- a) O que o gráfico registra? da economia açucareira, entre 1570 e 1670.
vam constantemente de perdas b) Identifique, em relação à quantidade de açúcar exportada, os períodos em que é possível perceber:
geradas por essa prática, pois, • crescimento. b) Crescimento: entre 1570 e 1650. • decrescimento.
segundo seus relatos, os comer- Decrescimento: entre 1650 e 1670.
c) Em que ano ocorreu a maior exportação de açúcar? Quantas toneladas, aproximadamente,
ciantes vendiam os insumos
foram exportadas nesse ano?
a preços abusivos e ofereciam
importes muito baixos pelo d) A leitura do gráfico permite saber o comportamento da economia açucareira durante a pre-
açúcar. Motivados pelas perdas sença holandesa no Nordeste? Justifique.
geradas nessas transações mui- e) Com o fim do domínio holandês, o que ocorreu com a economia açucareira? Por que isso ocorreu?
tos produtores começaram a e) A economia açucareira apresentou declínio; isso ocorreu por duas razões principais: a concorrência do
fraudar as caixas de açúcar que açúcar produzido nas Antilhas e a crise vivida pela Europa entre 1650 e 1700.
eram remetidas para o Reino,
misturando o produto de baixa IV. Você cidadão!
qualidade com o de qualidade
superior. Essa prática vinha ar-
Leia o texto e observe a imagem com atenção.
ruinando a reputação do açúcar
brasileiro e causando o “prejuí- Diferentemente do que ocorria no Nordeste colonial, onde a produção de açúcar
zo dos compradores, do comér- contava apenas com a força humana, animal ou da água, boa parte da produção de
cio e do Reino”. A queda no pre- açúcar atual é feita em usinas, nas quais o trabalho de limpar, moer, aquecer, purificar,
ço do açúcar foi motivada pelo filtrar, cozinhar e empacotar é mecanizado.
aumento da oferta do produto,
resultado da entrada de novos
concorrentes no mercado in- 262
ternacional; num momento em
que a demanda por açúcar cres-
cia na Europa, outras nações preço dos produtos; por262outro, combater a fal-
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 05/08/22 15:15 AV2
começaram a produzir visando sificação do açúcar. Objetivando com isso a re-
suprir as necessidades de seus cuperação dos ganhos da indústria açucareira.
mercados internos.
CARMO, Marcelo Lunardi.
[...] A indústria açucareira no final do século XVII.
A instabilidade e as políticas régias de reestruturação.
Nesse contexto, as ações im- Revista Angelus Novus, São Paulo, ano 8,
plementadas pela Coroa duran- n. 13, p. 13-30, 2017. p. 14-15
te as últimas décadas do século
XVII pretendiam: por um lado,
conter os abusos regulamen-
tando o processo de fixação do

262

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 262 01/09/2022 13:24


ENCAMINHAMENTO
Escutar e falar. c) Sugestão
de material para pesquisa:
Mas, assim como no passado colonial, ainda se pratica a queimada para se retirar PROGRAMA QUEIMADAS
a palha da cana. Essa prática prejudica os moradores que vivem próximos às áreas de – INSTITUTO NACIONAL DE
queimada; eles reclamam de sujeira nas casas; aumento do consumo de água para limpar PESQUISAS ESPACIAIS (INPE).
a sujeira; acidentes em rodovias em razão da falta de visibilidade; problemas respiratórios; Brasília, DF, [20--]. Site. Dis-
eliminação de animais silvestres, como pássaros e outros; emissão de gases prejudiciais ao ponível em: http://www.inpe.
meio ambiente.
br/queimadas/. Acesso em: 11
ago. 2022.
Temas Contemporâneos

THOMAZ VITA NETO/PULSAR IMAGENS



Transversais: o trabalho com
a seção Você Cidadão! mobi-
liza os temas da macroárea
meio ambiente.

Imagens em movimento
Animação do Ministério Pú-
blico Federal sobre as conse-
quências da queima da palha.
• QUEIMA da palha de cana-
-de-açúcar: Apresentação de
Queimada em plantação de cana-de-açúcar. Irapuí (SP), 2020. Estudos Ambientais – IP 702.
2018. Vídeo (43s). Publicado
a) Compare o modo como se produzia o açúcar nos tempos coloniais com a maneira que ele é pelo Canal MPF. Disponível
produzido hoje. em: https://youtu.be/
b) Escolha duas importantes consequências da queimada para a população que mora nas pro- PEMTxhKrem4. Acesso em:
ximidades, e faça um comentário a respeito delas. Você cidadão! b) Resposta pessoal.
11 ago. 2022.

ESCUTAR E FALAR
Imagine que você more nas proximidades de uma área onde ocorrem queimadas.
Pesquise e se prepare para falar em público sobre os males decorrentes dessa prática e
sugira providências cabíveis para solucionar o problema.

Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais. outros hidrocarbonetos policícli-


cos aromáticos (PAHs). [...]
a Expressei minhas ideias com objetividade?
Os efeitos da exposição hu-
b Usei tom de voz e gestos adequados? mana a estes poluentes são de
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? caráter agudo ou crônico, e vão
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? desde tosse seca e cansaço, irri-
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? tação no nariz e garganta, che-
gando até a causar aumento de
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
liberação de células inflama-
Você cidadão! a) Nos tempos coloniais, ele era produzido em engenhos por moendas que contavam com força tórias e alterações no clearance
mucociliar nasal. Um estudo
humana, animal ou da água; hoje, ele é produzido em usinas por máquinas potentes. 263 realizou uma projeção de mor-
talidade e internações hospita-
lares na rede pública de saúde
no Estado de São Paulo, onde es-
15:15 TEXTO DE APOIO
AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C11-LA-G24.indd 263 minados pela legislação, são capazes de provo-
05/08/22 15:15
timaram que entre 2011 e 2030,
car efeitos à saúde da população.
O impacto da poluição atmosférica sobre a o total de mortes chegaria a
saúde humana vem sendo tema de vários estu- A nível mundial, 25% das terras correspon-
dentes a plantações de cana-de-açúcar estão mais de 246 mil óbitos e 918 mil
dos, evidenciando um grave problema de saúde internações apenas por causas
pública. Em regiões canavieiras, por exemplo, localizadas no Brasil, o Estado de São Paulo é o
maior produtor desta safra, crescendo em 121% cardiovasculares, respiratórias e
a queima noturna da palha da cana-de-açúcar neoplasias em grupos mais sus-
pode ser considerada como o maior fator con- a cada década. [...]
ceptíveis. [...]
tribuinte de agravos em cidades interioranas. A queima da palha da cana-de-açúcar pode
Além de afetarem as comunidades próximas, gerar uma grande quantidade de aerossóis, ma- RAMOS, Dionei et al. Impacto da queima
da cana-de-açúcar sobre internações
os poluentes atmosféricos podem viajar qui- terial particulado (MP), gases como monóxido de hospitalares por doenças respiratórias.
lômetros e atingir locais distantes da fonte de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), aldeí- Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,
emissão e, mesmo que abaixo dos níveis deter- dos, metano (CH4), óxidos de nitrogênio (NOx) e v. 24, n. 11, p. 4133-4140, 2019. p. 4134.
263

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C11-MP-G24.indd 263 02/09/2022 11:35


OBJETIVOS
• Evidenciar para os estudan-
tes os principais agentes da
CAPÍTULO

12
expansão territorial da Amé-
rica portuguesa: soldados,
bandeirantes, jesuítas e cria-
A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO
dores de gado. DA AMÉRICA PORTUGUESA
• Identificar importantes cida-
des da região, onde hoje é o
Nordeste, que se formaram
em torno de fortes e povoa-
O avanço da colonização da América portuguesa se deveu à ação dos soldados, dos
dos que foram fundados por
bandeirantes, dos jesuítas e dos criadores de gado. As duas imagens a seguir representam
soldados.
os bandeirantes. A fonte 1 é uma aquarela; a fonte 2, uma ilustração. Ambas foram feitas
• Discutir sobre a fundação da
por Ivan Washt Rodrigues, um artista contemporâneo. Observe-as com atenção.
cidade de Fortaleza.
• Conceituar “bandeiras” e FONTE 1 FONTE 2
identificar seu papel na for-
mação histórico-geográfica
do território da América por-
tuguesa.
• Trabalhar a resistência gua-
rani, a ação dos bandeirantes
e as vitórias obtidas por eles
nos combates, a exemplo de
Caasapaguaçu e Mbororé.
• Avaliar o papel das bandeiras
que pesquisaram o ouro nas
terras onde hoje são Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás.
• Refletir sobre o papel das
missões jesuíticas, sobretudo
IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR

IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR


no norte e no sul da América
portuguesa.
• Compreender a expansão da
pecuária no sertão e no sul
do território colonial.
• Retomar e consolidar o co-
nhecimento da formação his-
tórico-geográfica da América
Portuguesa por meio de ma-
Respostas pessoais.
pas históricos. 1. Descreva o bandeirante representado na fonte 1.
• Identificar a distribuição da 2. Descreva o bandeirante representado na fonte 2.
população brasileira no ter- 3. Compare as duas versões e opine: qual delas se parece mais com o bandeirante de carne e osso?
ritório em diferentes tempos
e espaços considerando a di- 264
versidade.

Esses objetivos possibi- BNCC


AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 264 08/08/22 10:02 AV-

litam a reflexão a respeito


da expansão territorial da • Competências gerais: 1, 2, 3,
América portuguesa e as re- 5, 6, 7, 9 e 10.
sistências por parte dos po- • Competências específicas: 1,
vos indígenas. Assim, contri- 2, 3, 4, 5 e 6.
buímos para o desenvolvi- • Habilidades: EF07HI10,
mento das competências e EF07HI11, EF07HI12 e
habilidades propostas. EF07HI13.

264

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 264 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Reconhecer a importância
dos soldados no processo de
Os agentes da expansão territorial formação histórico-geográ-
fica da América portuguesa.
Entre os quatro tipos de agentes da expansão territorial, citados na página anterior, • Discutir o papel dos fortes no
estavam os soldados, que foram enviados para defender e proteger as costas das terras processo de defesa do terri-
onde hoje é o Brasil. tório.
• Ressaltar a formação de ci-
dades em torno dos fortes.
Os soldados • Aprofundar o assunto com
a leitura dos textos: OS
Desde o início da colonização, piratas franceses, ingleses e holandeses atacavam o FORTES do Brasil. Brasiliana
litoral brasileiro para levar o pau-brasil e outras riquezas da terra; muitas vezes, eles se fotográfica. [S. l.], 22 fev.
aliavam a grupos indígenas inimigos dos portugueses. Na região onde é hoje a Paraíba, 2016. Disponível em: https://
por exemplo, os franceses mantinham estreita ligação com os potiguaras. brasilianafotografica.
Durante a União Ibérica,, a pirataria no litoral brasileiro se intensificou, pois os ini- bn.gov.br/?p=4382. Acesso
migos da Espanha também passaram a atacar as colônias portuguesas, a exemplo do em: 13 ago. 2022; CUSTÓDIO,
Brasil. Para combater a pirataria, foram enviados ao litoral do Brasil soldados portugueses José de Arimathéia Cordeiro.
e espanhóis. Esses soldados ergueram fortes e povoados, que estão na origem de várias A arquitetura de defesa no
capitais brasileiras,, como:
Brasil Colonial. Discursos
fotográficos, Londrina, v. 7,
• Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves.. Fundado pelos portugueses em n. 10, p. 173-194, jan./jun.
1585, em torno do qual se formou a cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. 2011.
• Forte dos Reis Magos.. Construído em forma de estrela, foi fundado em 1598 por
soldados luso-brasileiros e deu origem a Natal, capital do Rio Grande do Norte.
Imagens em movimento

TALES AZZI/PULSAR IMAGENS


Seriado sobre a história dos
fortes no Brasil.
FORTES do Brasil. [Seria-
do]. Direção: Leonardo Dias
e Poliana Guimarães. Brasí-
lia: TV Brasil, 2022. 7 vídeos
(356min8s).

A esquadra invasora era co-


mandada por um dos mais céle-
bres corsários dos tempos de
Luís XIV: René Duguay-Trouin
(1673-1736). Ao longo de sua car-
reira, ele capturou mais de tre-
Vista aérea do Forte dos Reis Magos, com a cidade de Natal ao fundo. Natal (RN). Fotografia de 2017.
zentas embarcações de comér-
cio e cerca de vinte navios de
265 guerra de potências europeias.
Por três anos seguidos, entre
1706 e 1708, tentou interceptar,
na altura de Lisboa, a rica frota
10:02 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 265 tratégias de defesa de uma população acuada
04/08/22 13:56e
do ouro proveniente do Brasil,
mostram o que está sendo feito para recuperar
a memória de um tempo em que o perigo vinha sem obter sucesso. Sua glória,
Ameaça pirata na América portuguesa no entanto, seria retumbante
do mar.
[...] ao longo de três séculos, viram-se aban- no projeto realizado em 1711: a
A 12 de setembro de 1711, uma esquadra fran- invasão e o saque de uma das
donadas à própria sorte, como nos casos do
cesa composta de 18 embarcações fez a entrada mais ricas e prósperas cidades
Rio de Janeiro e de Santos, cidades tomadas e
mais espetacular de que se tem notícia nas á- pertencentes ao rei de Portugal
aterrorizadas por “cães do mar” em busca de guas de Guanabara. [...] Encobertos por intenso na América. [...]
riqueza. [...] especialistas tratam das principais nevoeiro matinal, que favoreceu sua empreita-
incursões estrangeiras às possessões portugue- BICALHO, Maria Fernanda. Uma cidade em
da, em poucas horas os franceses se encontra- pânico. Revista Nossa História,
sas na América, traçam um perfil dos homens vam defronte da cidade de São Sebastião do Rio Rio de Janeiro, ano 3, n. 27, p. 16-21,
que amedrontaram os colonos, analisam as es- de Janeiro. [...] jan. 2006. p. 15-16.
265

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 265 01/09/2022 18:00


Imagens em movimento
O documentário em co-
memoração aos 400 anos da
cidade de Belém analisa a in- • Forte de São Luís.. Fundado em 1612, está na origem da cidade de São Luís,
fluência francesa na capital capital do Maranhão. O forte foi fundado pelos franceses, que ali estabeleceram
paraense. uma colônia comer-

ANDRE DIB/PULSAR IMAGENS


• BELÉM 400 anos: a influência cial, com o objetivo de
francesa na capital paraen- explorar as riquezas
se. Direção: Fábio Ávila. Bra- da região. No entanto,
sil: Aliança Francesa, 2016. três anos depois, eles
1 DVD (52min). foram expulsos pelos
soldados espanhóis e
TEXTO DE APOIO portugueses.

As armas da pirataria
O formato pouco eficiente do
casco da nau, navio utilizado A imagem mostra os muros do
desde o século XV, foi decisivo forte em torno do qual se
para que o galeão fosse a embar- formou a cidade de São Luís;
cação dominante no final do sé- atrás, o Palácio dos Leões,
culo XVI. Entre outras inovações, sede do Governo do Estado do
o casco do galeão aumentava o Maranhão. Fotografia de 2019.
fluxo de água ao longo da embar-
cação, reduzindo a resistência hi- • Forte do Presépio de Santa Maria de Belém.. Fundado por soldados portugueses
drodinâmica e aumentando sua
maneabilidade. Outra vantagem em 1616. O forte foi erguido para proteger o pequeno povoado português chamado
era seu poder de fogo. Enquanto Feliz Lusitânia, que deu origem à cidade de Belém, capital do Pará.
a nau possuía armamento leve, o
MAURO AKIIN NASSOR/FOTOARENA

galeão, embora para fins comer-


ciais, era projetado como um na-
vio de guerra. Armado com dois
andares de canhões, aliava força
e agilidade, sendo utilizado até o
século XVIII.
Canhão:: peça de artilharia que
Canhão
disparava projéteis de ferro com
o objetivo principal de danificar
e afundar embarcações inimi-
gas. Demorava para ser recarre-
gado e possuía pouca pontaria.
Mosquete:: semelhante a uma
Mosquete
espingarda, mas com o peso
maior, com o cano de 1,5 me-
tro. A pólvora e o projétil eram
carregados pela boca e o disparo
possuía alcance de até 100 me-
tros. Vista de Belém, capital do Pará, a partir do Forte do Presépio de Santa Maria de Belém, fundado por soldados
Arcabuz: semelhante ao mos-
Arcabuz: portugueses em 1616. Fotografia de 2020.
quete, porém de tecnologia mais
antiga, era disparado acenden- 266
do-se um pavio.
Pistola:: pequena arma de mão,
Pistola
era eficiente para assalto em
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 266 04/08/22 13:56 AV-
embarcações. Mas, por ser difícil
de recarregar, geralmente p or-
tava-se mais do que uma.
Sabre:: pequena arma de pu-
Sabre
nho, ligeiramente curva e com
um só fio.
BICALHO, Maria Fernanda. Uma cidade
em pânico. Revista Nossa História,
[s. l.], ano 3, n. 27, p. 19, jan. 2006.

266

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 266 01/09/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
O imaginário social da
fundação de Fortaleza
[...] para o arqueólogo da Uni-
PARA SABER MAIS versidade Federal de Pernam-
buco, Marcos Albuquerque, en-
O texto a seguir foi escrito para esta coleção pelo historiador Clodomir Freire. Leia-o contrar com exatidão o lugar da
com atenção. “primeira edificação” de Forta-
RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS
leza possui um aspecto signifi-
cativo para a construção da sua
identidade urbana:
“Eu acho que Fortaleza precisa
buscar sua historicidade, buscar
sua história e, consequentemen-
te, se entender de forma pro-
cessual para, digamos, melhor
administrar seu presente e seu
futuro, alicerçada no passado
[...]. Se uma pesquisa histórica
apenas conduz as informações
numa direção, a pesquisa arque-
Sede da 10a Região Militar do Exército Brasileiro, antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. ológica é extremamente prag-
Fortaleza (CE), fotografia de 2013. mática: ela materializa a história
[...]. Se teve ou não fortificação na
A polêmica em torno da fundação de Fortaleza Barra do Ceará, só a pesquisa ar-
queológica poderá dizer.”
Se você fizer um passeio por Fortaleza acompanhado por um guia turístico, ele
Na opinião da coordenadora
provavelmente o(a) levará até a 10a Região Militar do Exército Brasileiro e a apresen- de patrimônio histórico da Se-
tará como o marco inicial da capital cearense. Esse é o local de fundação do Forte de cretaria de Cultura de Fortaleza,
Schoonenborch, erguido pelos holandeses, em 1649, na margem esquerda da foz do Ivone Cordeiro, diante da possi-
Riacho do Pajeú. Depois da expulsão dos holandeses, os luso-brasileiros mudaram bilidade de a arqueologia certi-
ficar-se acerca da existência da
o nome do forte para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em torno da qual
fortificação do século XVII, ca-
teria se formado a cidade de Fortaleza. berá à Barra do Ceará um novo
GENTIL BARREIRA
Já o Movimento Marco Zero de lugar no contexto histórico da
Fortaleza, que tem à frente o his- cidade de Fortaleza:
toriador Adauto Leitão, discorda da “O que está em jogo aqui é a
data e do local de fundação da capital discussão da memória da cidade
de Fortaleza. E a primeira coisa
cearense; ele afirma que a origem de
para a qual eu queria chamar a
Fortaleza está na Barra do Ceará, onde atenção é o uso dessa palavra
Pero Coelho ergueu o Fortim de São no singular. O que está em jogo
Tiago, em 1604. O movimento luta para são memórias diferenciadas,
que isso seja reconhecido oficialmente. são possibilidades diferentes
que nos colocam diante de uma
FREIRE, Clodomir. A polêmica em torno da discussão sobre o que é relevan-
fundação de Fortaleza. Texto escrito
especialmente para esta coleção. te efetivamente para a memória
coletiva do fortalezense. E o que
Marco Zero. Fortaleza (CE). Fotografia de 2017. vai dar essa relevância? É aquilo
que vai possibilitar uma maior
identificação com essa expe-
267 riência histórica [...]. A carta ré-
gia de implantação da cidade
de Fortaleza é de 13 de abril de
1726. Quando se fala de muni-
13:56 Imagens em movimento
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 267 +ATIVIDADES 04/08/22 13:56
cipalidade, essa é a data. [...] A
Entrevista com os historiadores Adauto Em grupo. Escolham uma das cidades estu- Barra do Ceará vai ter seu lugar
Leitão e Evaldo Lima e com o pesquisador dadas neste tópico e criem um vídeo contando nesse processo. Ela vai ter seu
Christiano Câmara sobre a data de fundação a história de sua fundação. lugar na história de Fortaleza
muito melhor qualificada. Se
de Fortaleza. Sugestão de material para pesquisa: IBGE
não for marco zero o que impor-
CIDADES. Brasília, DF, c2017. Site. Disponível
• POLÊMICA: qual é a idade de Fortaleza? em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em:
ta é a experiência humana que
2010. Vídeo (9min26s). Publicado pelo ca- construiu essa cidade.”
13 ago. 2022.
nal Viajante Independente. Disponível em: Professor, esta atividade pode contribuir para MACIEL, Wellington Ricardo Nogueira. O
imaginário social da fundação de Fortaleza:
https://youtu.be/n0JolpADU0Y. Acesso em: o desenvolvimento da habilidade EF07HI13 e fatos, marcos e personagens. O público e o
13 ago. 2022. das competências gerais 1 e 5. privado, n. 21, p. 167-183, 2013. p. 180.
267

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 267 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Frisar que, na passagem do
século XVI para o XVII, São
Paulo era uma vila relativa-
mente pobre, que produzia
Os bandeirantes
para a subsistência e que não
Em meados do século XVI, enquanto a capitania de Pernambuco progredia, embalada
tinha como importar aquilo
pela produção de açúcar, a capitania de São Vicente vinha perdendo força. Por falta de
de que necessitava.
trabalho, parte da população vicentina passou a subir a Serra do Mar e, aos poucos,
• Identificar os fatores que fa-
formou um povoado: São Paulo do Campo de Piratininga.
voreceram a formação das
bandeiras.
• Conhecer o objetivo das ban- São Paulo, a capital bandeirante
deiras.
O povoado, que mais tarde veio a ser a vila e depois a cidade de São Paulo, teve
• Comentar que a população
um crescimento lento. Em 1660, São Paulo era um povoado pobre; com poucas casas e
era, em sua maioria, formada
pessoas que plantavam milho e mandioca e criavam porcos e galinhas para sobreviver.
de mestiços de europeu com
indígena e assimilara muito Os paulistas acreditavam que a única solução para a pobreza Sertão: no período colonial,
das culturas de matriz tupi. estava no sertão
sertão.. Por isso, decidiram organizar bandeiras,, ou a palavra designava todo o
seja, expedições particulares que partiam geralmente de São interior inexplorado do território.
• Destacar que os paulistas se Atualmente, refere-se a uma
deslocavam a pé ou de ca- Paulo, com o objetivo de capturar indígenas para serem vendi- área específica do Nordeste.
noa (até por volta de 1630, dos como escravizados e achar ouro e pedras preciosas.
o cavalo ainda não tinha Uma grande bandeira era formada por um ou dois bandeirantes experientes, alguns
sido introduzido no planal- jovens de origem portuguesa, vários mestiços e centenas de indígenas escravizados, usados
to paulista), andavam des- como guias, carregadores, guerreiros e cozinheiros.
calços, dormiam em redes e
MOZART COUTO

falavam o tupi, língua pre-


dominante na região até
o século XVIII. Além disso,
cultivavam seus alimentos,
costuravam suas roupas e
fabricavam seus artefatos
de caça e de pesca.
P24-2-HIS81-7-04-LA-RIL-006
Professor, comentar com os
alunos que o dia a dia dos com-
ponentes de uma bandeira era
exaustivo. Caminhando em fila
indiana, eles partiam por volta
de 4 ou 5 horas da manhã e,
geralmente, só paravam para
descansar ao entardecer. A pa-
rada acontecia numa prainha,
num rancho abandonado ou
numa pequena ilha. Chegan-
do a um desses lugares, faziam Ilustração atual de uma bandeira feita com base em pesquisa histórica.
pequenas fogueiras para es-
pantar os insetos e conversar 268
e, depois, armavam suas redes
para dormir.
Andando pelo sertão por próprios, muitos deles
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 268 aprendidos com os Professor, em relação aos caminhos, os ser- 04/08/22 13:56 AV-

mais de dois séculos, os pau- índios. Com os nativos, aprenderam, por tanistas usavam muitas vezes as trilhas aber-
listas aprenderam muito so- exemplo, a seguir rastros deixados por ani- tas pelos indígenas. Na falta delas, seguiam
bre a vida na mata. Na épo- mais e outros homens. Quanto ao modo de pela beira dos córregos e riachos ou, então,
ca, se dizia que, na selva, eles andar, caminhavam sem calçados, apoian- pelos rios em canoas construídas às pressas.
eram tão habilidosos quanto do toda a planta dos pés no chão e virando Porém, quando não tinha outro jeito, abriam
os próprios animais. Distan- os dedos para dentro. Isso, segundo Laura picadas na mata com seus facões.
tes do litoral e, portanto, do de Mello e Souza (ver dica de leitura na pá- • Temas Contemporâneos Transversais: esta
contato com os europeus, gina seguinte), diminuía o cansaço e facili- página contribui para mobilizar os temas da
eles desenvolveram hábitos tava a marcha. macroárea multiculturalismo.

268

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 268 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que os paulistas
A caça aos indígenas Missões
jesuíticas: grandes
organizaram grandes ban-
aldeamentos
deiras com o objetivo de
Desde o início, os paulistas prenderam e escravizaram indígenas.
organizados pelos aprisionar índigenas no Sul,
A partir de 1620, porém, com o crescimento das plantações de trigo padres jesuítas onde estavam localizadas as
em São Paulo, aumentou muito a procura por trabalhadores. Então, com o objetivo missões – amplos aldeamen-
os paulistas organizaram grandes bandeiras de caça aos indígenas. de catequizar os
indígenas. tos indígenas, relativamente
Para conseguir aprisionar muitas pessoas de uma só vez, atacavam as isolados dos núcleos urba-
missões jesuíticas.
jesuíticas. nos, administrados pelos
As principais bandeiras de caça aos indígenas, chefiadas por jesuítas. Nesses aldeamen-
Antônio Raposo Tavares, destruíram, em apenas dez anos (1628- tos, era grande o número de
1638), as missões de Guairá (Paraná), Itatim (Mato Grosso do Sul) indígenas da nação guarani
e Tape (Rio Grande do Sul). – exímios agricultores e, por
isso, muito cobiçados desde
o início da colonização.
A resistência guarani • Trabalhar o conceito de
Acreditava-se que a maioria dos indígenas escravizados pelos missões.
bandeirantes era vendida no Rio de Janeiro e na Bahia para tra- • Relacionar as bandeiras de
balhar nas plantações de açúcar. Mas o historiador John Manuel caças aos indígenas com a des-

IN
Monteiro comprovou que a maioria desses indígenas era desti-

ET
truição de missões jesuíticas.

QU
SE
DO
nada às fazendas de trigo de São Paulo, que vinham crescendo e • Chamar a atenção dos estu-
L
VA
OS
exigindo muitos trabalhadores. Além de trabalhar no cultivo de dantes para as áreas onde a
trigo, eles também produziam e transportavam a farinha de mão de obra indígena era
trigo de São Paulo ao porto de Santos, no litoral paulista. utilizada em São Paulo.
Os indígenas, bem como os africanos, nunca acei- • Comentar com os alunos
taram a escravidão pacificamente, reagindo a ela de que os indígenas resistiram
várias formas: suicídio, fugas para o interior e rebe- ao processo de captura, che-
liões. Depois da destruição das missões de Guairá, gando a vencer os bandei-
Itatim e Tape, por exemplo, os indígenas enfrenta- rantes em batalhas, como a
ram os bandeirantes, inclusive usando armas de de Mbororé.
fogo. Nessa luta, os indígenas venceram duas Dialogando. Os indígenas
importantes batalhas: a de Caasapaguaçu,, que ajudaram os portugueses
em 1638, e a de Mbororé,, em 1641. Após a conquistar o território, como
essas derrotas, o bandeirismo de caça aos Tibiriçá, receberam homena-
indígenas entrou em declínio. gens em estátuas e nomes de
ruas. Aqueles que resistiram à
dominação portuguesa, como
o chefe indígena tupinambá
Dialogando Cunhambebe, tiveram seus
Algumas rodovias e praças do Brasil têm nomes indígenas. A rodovia Índio Ilustração feita com nomes esquecidos. Aprofun-
Tibiriçá, em São Paulo, por exemplo, é uma delas. Por que será que alguns base em pesquisa dar o assunto com a leitura do
indígenas foram homenageados e outros esquecidos? histórica. texto: LEME, Pedro Taques de
Resposta pessoal. Almeida Pais. História da capi-
269 tania de São Vicente. Com um
escorço biográfico do autor
por: Afonso de E. Taunay. Bra-
13:56 Dica de leitura
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 269 04/08/22 13:56 sília, DF: Conselho Editorial do
Senado Federal, 2004.
Artigo em que a historiadora Laura de Mello e Souza discorre sobre o cotidiano dos ban-
deirantes.
• SOUZA, Laura de Mello e. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos,
nas fronteiras e nas fortificações. In: SOUZA, Laura de Mello (org.). História da vida privada
no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Le-
tras,1997. (História da vida privada no Brasil, v. 1. p. 41-82).

269

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 269 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que a notícia de
que os espanhóis haviam
achado prata e ouro em Po- A busca de ouro e diamantes
tosí (atual Bolívia) e Zacate-
Desde cedo, os bandeirantes encontraram pequenas quantidades de ouro no leito
cas (atual México) animou os
dos rios. No século XVII, uma crise econômica levou o rei de Portugal a escrever aos
habitantes da América por-
tuguesa, que reviraram ter- bandeirantes para que procurassem ouro e pedras preciosas no sertão. Em 1674, Fernão
ras e rios em busca de metais Dias Pais partiu de São Paulo em direção ao sertão e pensou ter encontrado esmeraldas;
preciosos. mas eram turmalinas, pedras verdes sem nenhum valor comercial.
• Destacar que o governo por- A trilha aberta por Fernão Dias, no entanto, serviu para outras bandeiras, que, seguindo
tuguês, por sua vez, tam- o mesmo caminho, descobriram ouro. Entre elas, cabe destacar as bandeiras de:
bém incentivou essa busca • Antônio Rodrigues Arzão, Sabará (Minas Gerais), por volta de 1693;
financiando entradas – ex- • Pascoal Moreira Cabral, Cuiabá (Mato Grosso), em 1719;
pedições que partiam do li-
• Bartolomeu Bueno da Silva, Vila Boa (Goiás), por volta de 1725.
toral brasileiro em busca de
riquezas no sertão. Mas foi
somente no fim do século Principais bandeiras (séculos XVII e XVIII)

ALLMAPS
50º O
XVII, depois de várias incur-
sões sertão adentro, que os
Equador
paulistas encontraram ouro Gurupá

em grandes quantidades. s
re
va
Ta
• Identificar as regiões onde Ra
po
so

o
ni
inicialmente foi descoberto An

Tratado de Tordesilhas
o ouro.
• Ressaltar que a população
das regiões auríferas passou Vila Bela Salvador
Antôn
a demandar produtos para Cuiabá
OCEANO

aG e
io

Vila Boa

ato
B ar to

orb Pais
Rap

ATLÂNTICO
sua sobrevivência. Para su-
Pa

s c oa
oso Ta v

l Moreir

el B ias
lo m

a Ca e
OCEANO
bra u

nu o D
ar l B
prir essa demanda, os paulis- PACÍFICO
es ITATIM Sabará
Maernã
ue

Santiago Vila Rica


no

F
ônio Rapo
de Xerez Ant so
d

tas organizaram as monções


aS

Ta
GUAIRÁ var
ilva

es Taubaté
C ap ricórnio Manuel Preto e
Trópico de
e
A. R. Tavares ares Fonte:
– expedições comerciais que v
s
São Paulo
ALBUQUERQUE,
Ta

TAPE
o D oso

i
Pa

seguiam de canoa pelos lei- Manoel Maurício


ias
p

SETE POVOS
Ra

Bandeiras de busca DAS MISSÕES


ôn de et al. Atlas
io

de ouro e diamantes
tos dos rios para vender ali- A nt Fer

Bandeiras de caça
histórico escolar.
Porto Alegre
mentos, roupas e instrumen- aos indígenas
Missões
0 400
8. ed. Rio de
Janeiro: FAE,
tos de trabalho nas regiões 1991. p. 24.
Com a descoberta do ouro, os paulistas organizaram as monções, isto é, expedições
mineradoras.
comerciais que seguiam de canoa pelos rios, para vender alimentos, roupas e ferramentas
• Trabalhar o conceito de ser- nas regiões mineradoras.
tanismo de contrato.
• Analisar o mapa das bandei- O sertanismo de contrato
ras e discutir o papel delas na
ampliação das fronteiras da Nos séculos XVII e XVIII, os bandeirantes foram contratados por fazendeiros e auto-
América portuguesa. ridades para combater indígenas ou negros rebelados. Esse tipo de “negócio” entre
bandeirantes e poderosos era chamado de sertanismo de contrato.

270

TEXTO DE APOIO AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 270 gráfica brasileira futura. Capistrano de Abreu, que era cearense 04/08/22 13:56 AV-

e não teve trajetória ligada ao IHGB [Instituto Histórico Geográfi-


Em expedições que ocorriam em nome da Coroa portuguesa, co Brasileiro] paulista e produção historiográfica comprometida
que incluíam a possibilidade legal de escravizar indígenas, os es- com a exaltação do bandeirantismo, fez parte de historiadores da
forços desses sertanistas viabilizaram o povoamento de regiões primeira metade do século XX que, mesmo reconhecendo o lado
remotas. Seu maior serviço, inclusive, teria sido ligar os rios Tietê nocivo de entradas militares paulistas no período colonial, exal-
e Paraíba do Sul ao rio São Francisco, fator considerado [...] essen- tavam o fator determinante das ações dos paulistas de outrora
cial para a formação do que viria a ser o território brasileiro. O para a construção do Brasil.
descobrimento do ouro, também protagonizado pelos homens de
DARIO FILHO, Luiz Pedro. De sertanistas das matas a eruditos da História:
Piratininga, traria a força propulsora, no século XVIII, que atrairia História paulista como reação à perda de hegemonia das famílias antigas
súditos de todas as capitanias e do reino para o interior da Amé- na São Paulo do século XVIII. Tese (Doutorado em História Social) –
rica. Esse movimento sedimentaria as bases da conformação geo- Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, 2021, p. 12.
270

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 270 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer que os jesuítas vie-
ram dispostos a difundir o
Os jesuítas cristianismo nas terras ame-
ricanas e converter indíge-
nas à cultura e à religião cris-
A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa fundada pelo militar espanhol Inácio
tã; para isso, atravessaram o
de Loyola, em 1534.
oceano Atlântico.
Os padres jesuítas possuíam uma rigorosa disciplina e um elevado nível de instrução,
• Destacar que, nas missões, os
propondo-se a divulgar o catolicismo na Ásia, na África e na América.
jesuítas e os indígenas comu-
Os jesuítas vieram para o Brasil em 1549, acompanhando o primeiro governador-geral, nicavam-se pela língua ge-
Tomé de Sousa, e dedicaram-se ao ensino da religião cristã e à formação de crianças. Para ral, baseada no tupi.
isso, fundaram colégios nas principais vilas e cidades do litoral brasileiro. • Relacionar as missões com
No litoral, por sua vez, as doenças e as guerras contra os colonizadores mataram o processo de expansão do
milhares de indígenas; e aqueles que não morreram, refugiaram-se no interior. Os jesuítas, território da América portu-
então, também foram para o interior e lá criaram missões. A maior parte dessas missões guesa.
localizava-se na Amazônia e na região Sul. • Informar que, por serem con-
trários à escravização do in-
As missões jesuíticas no território colonial (séculos XVI a XVIII) dígena, os soldados de Cristo
entraram em atrito com os

ALLMAPS
50º O colonos em vários pontos do
território colonial.

Equador

s Belém Turiaçu
azona
Rio Am
Gurupi São Luís
Rio Xingu

ra
ós

ei Alcobaça
aj

ad
p

M
Ta

o
o

Tratado de Tordesilhas
Ri
Ri

Paraíba
Olinda
Recife
CH
AP
AD
amoré

Rio
Gu A
a po D
r
Salvador
M

O
é
Rio

CO OCEANO
PA

R
RE

ATLÂNTICO
CIS
D

Santa Cruz
IL

de La Sierra
HE

OCEANO
á
ran

Potosí Rio
IRA

PACÍFICO Itatim
Pa

Ti
R tê
io

e
DOS ANDES

Paraguai

Capricórn io
Trópico de São Paulo Rio de Janeiro
Guairá
Rio

Sete Povos Tape


Paraná

das Missões

Área de apresamento de indígenas


Rio

Missões portuguesas
Missões espanholas
0 390 Grande bandeira de
Antônio Raposo Tavares

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar.


8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.

https://youtu.be/5uasT2pi5x0.
271 Acesso em: 13 ago. 2022.
Documentário com análises
de especialistas sobre a presen-
13:56 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 271 Imagens em movimento 04/08/22 13:56
ça dos jesuítas na América do
O trabalho com este vídeo pode contribuir Sul, principalmente na região
Em grupo. Após a leitura atenta do texto de
para os estudantes desenvolverem a habilidade dos Sete Povos das Missões.
apoio do historiador Luiz Pedro Dario Filho,
EF07HI11, a competência geral 1 e a competên-
organizem uma roda de conversa para deba- • MISSÕES Jesuíticas − Guer-
cia específica 2.
ter a relação entre o bandeirismo e a confor- reiros da Fé. 2019. Vídeo
mação geográfica e histórica da América Por- Vídeo que apresenta a expansão do terri-
(88min35s). Publicado pelo
tuguesa. A seguir produzam um relatório com tório a partir das bandeiras. canal TV Senado. Disponí-
a conclusão a que vocês chegaram. • A FORMAÇÃO do território brasileiro. vel em: https://youtu.be/
Professor, esta atividade con­­­tribui para o de- 2017. Vídeo (4min29s). Publicado pelo OVkbWz0rSnA. Acesso em:
senvolvimento da habilidade EF07HI11. canal Olhar Geográfico. Disponível em: 13 ago. 2022.
271

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 271 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Chamar a atenção dos estu-
dantes para a estrutura das
missões. Nas missões jesuíticas, os indígenas cultivavam cereais, frutas e

GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS


• Analisar as missões dentro do erva-mate; extraíam cacau, baunilha, guaraná e plantas medicinais
contexto da União Ibérica. da floresta; produziam tecidos, mobílias e esculturas de madeira etc.
• Conhecer as atividades de- Vários desses produtos eram exportados para a Europa, com grande
senvolvidas pelos indígenas lucro. E tinham também um tempo reservado ao lazer e ao estudo.
nas missões. Povoando vários pontos do
Destacar que a vida nas mis-

sões era organizada com
interior brasileiro, as missões DICA! #
jesuíticas contribuíram para a
base em rotinas que envol- Vídeo sobre a trajetória dos jesuítas
ampliação e a conquista do ter- como missionários e educadores.
viam trabalho, oração, estu-
do e lazer. ritório da América portuguesa. OS PRIMEIROS tempos: a educação
pelos Jesuítas. 2010. Vídeo (9min53s).
• Ressaltar o fato de os jesuítas Publicado pelo canal
terem sido os primeiros a in- Escultura em madeira policromada feita por
Univesp. Disponível em:
https://youtu.be/ic28PaXiM14.
troduzir a educação escolar indígenas dos Sete Povos das Missões. São Acesso em: 13 jun. 2022.
no Brasil. Miguel das Missões (RS). Fotografia de 2019.

Imagens em movimento

GETÚLIO DELPHIM
Documentário que analisa a 11 12

influência jesuítica na Améri- 10


ca do Sul. 9
5 1
• MISSÕES jesuíticas − Guer- 3
2
reiros da Fé. 2019. Vídeo
(88min29s). Publicado pelo 4
canal TV Senado. Disponí-
vel em: https://youtu.be/
6 7
OVkbWz0rSnA. Acesso em:
13 ago. 2022.
Este vídeo conta a história
dos guaranis dos Sete Povos, 6
8
localizados no atual Rio Gran-
de do Sul, abordando a Guerra 1. Igreja. 4. Cotiguaçu: 5. Oficinas. 8. Cabildo: local 10. Horta.
Guaranítica, a desagregação 2. Cemitério. abrigo para 6. Moradias. de reunião 11. Curral.
3. Colégio. idosos, viúvas 7. Praça: centro de das lideranças. 12. Estrebaria.
dos povoados e as atuais con- e órfãos. convivência. 9. Pomar.
dições de vida dos guaranis.
• MISSÕES: uma história gua- Ilustração de uma missão jesuítica feita com base em pesquisa histórica.
rani-jesuítica. 1998. Publi-
cado por: Lapis UFSC - La-
boratório de Pesquisa em Dialogando
Imagem e Som, do Departa- a) 1. igreja; 3. colégio; 7. praça: centro de convivência.
a Dentre os locais numerados, quais eram usados pelos jesuítas para reunir e/ou catequizar os indígenas?
mento de História da Univer-
sidade Federal de Santa Ca- b Em quais locais os habitantes das missões produziam aquilo de que precisavam para viver?
tarina. Vídeo (9min21s). Dis- b) 5. oficinas; 9. pomar; 10. horta; 11. curral.
ponível em: https://vimeo. 272
com/16471194. Acesso em:
13 ago. 2022.
o projeto da Companhia272de Jesus de catequizar
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd projeto no qual se envolviam os jesuítas era uma 04/08/22 13:56 AV-

TEXTO DE APOIO grupos indígenas no sul da América? Por que nova missão dos membros da ordem. Portanto,
meios pôde tornar-se realidade um projeto em as missões jesuíticas nasceram muito antes da
As missões que poucas centenas de padres jesuítas seriam fundação do primeiro dos Trinta Povos das Missões.
responsáveis por convencer centenas de milha- O que caracterizou as missões jesuíticas entre
[...] Vindos à América do Sul com res de indivíduos a abandonarem suas crenças os povos indígenas, majoritariamente Guarani,
um projeto claro de reduzir os gru- e visões de mundo? no sul da América, foi a grandiosidade de sua
pos indígenas que encontrassem,
O início das atividades jesuíticas na América proposta e uma mais complexa articulação de
catequizando e politizando-os, os portuguesa se dá no ano de 1549. São famosas esforços políticos, institucionais e logísticos,
jesuítas foram progressivamente as cartas dos padres jesuítas Manoel da Nóbre- imprescindíveis à sua realização.
obrigados a negociar com eles. ga e José de Anchieta, desde meados do século BOTELHO, André Amud; VIVIAN, Diego; BRUXEL, Laerson.
Mas de que maneira ganhou XVI, relatando suas tentativas de conversão dos Museu das Missões. Brasília: Ibram, 2015.
sustentação política e material indígenas na colônia portuguesa. Cada novo (Coleção Museus do Ibram, p. 17-19).
272

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 272 01/09/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Desde o início do processo de
colonização do território bra-
A criação de gado sileiro a atividade pecuária de-
sempenhou papel importante
na estrutura produtiva. Inicial-
A criação de gado foi a atividade mais impor- mente foi primordial no abas-
tante para o povoamento dos sertões do Nordeste tecimento dos núcleos urbanos
e das campinas do Sul, contribuindo muito para a e, posteriormente, expandiu-se

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS


em direção ao sertão nordestino,
expansão territorial da América portuguesa.
onde o gado passou a ser criado
solto em pastagens naturais [...].
[...] No sul do Brasil, a criação
O gado no Nordeste de bovinos foi desenvolvida ini-
Introduzido no Nordeste pelo governador-geral cialmente pelos padres jesuítas,
Vaqueiros vestidos com gibão nas missões próximas ao rio
Tomé de Sousa, o gado era usado, sobretudo, para de couro em meio a Caatinga, Uruguai. Com o tempo, a criação
mover a moenda dos engenhos e transportar cana. na comunidade do Muquén.
se multiplicou, espalhando-se
Por isso, inicialmente, era criado no próprio engenho. Petrolina (PE), 2021.
por toda a região Sul, o que ori-
No entanto, com o crescimento dos rebanhos, os animais passaram a ser vistos como um ginou várias estâncias. [...]. Em
estorvo, pois pisoteavam as plantações e ocupavam terras úteis ao plantio de cana. Então, virtude do crescimento do re-
senhores de engenho passaram a criar seus rebanhos em áreas vizinhas às suas propriedades. banho [...], em 1701 foi publica-
da uma carta régia proibindo a
Em 1701, o rei de Portugal proibiu a criação de gado no litoral, pois também tinha interesse
criação de gado no litoral. A cria-
em lucrar com o açúcar. Tudo isso contribuiu para o avanço do gado pelo sertão. ção somente poderia ser realiza-
Observe, no mapa a seguir, os caminhos do gado na época. da além de dez léguas da linha
da costa, para evitar que o gado
estragasse as plantações de ca-
Caminhos do gado (séculos XVI a XVIII) na-de-açúcar. Assim, a criação
OCEANO
ALLMAPS

ATLÂNTICO
deslocou-se para o interior do
Equador

território brasileiro [...]. Outro
zonas
Rio Ama Forte São Luís fator responsável pelo deslo-
Forte N. S. da Assunção

Forte dos Reis Magos


camento da criação de gado
a
a íb

rn
Pa Forte Filipeia
Olinda
bovino para o interior do país
R io

Recife foi, sem dúvida, a expansão da


i sc o

São Cristóvão
nc

atividade mineradora em áreas


Fra

Salvador
ão

Cuiabá
pertencentes aos atuais estados
oS
Ri

OCEANO
A expansão das fazendas de gado de Mato Grosso, Goiás e Minas
Vila Rica
PACÍFICO São acompanhou o curso dos rios Gerais. Com o deslocamento de
o Paulo
apricórni Rio de Janeiro
Trópico
de C Sorocaba
São Vicente
nordestinos, com destaque para populações se formava um mer-
Curitiba dois deles: o Rio São Francisco,
0 620
cado consumidor de carne, leite
Porto Alegre chamado “rio dos currais”, ou
e couro.
Áreas de criação de gado “Velho Chico”, e o Rio Parnaíba,
Sentido de expansão da pecuária que facilitou a ocupação do Piauí, TEIXEIRA, Jodenir Calixto; HESPANHOL,
Limites atuais do Brasil estado colonizado do interior Antonio Nivaldo. A trajetória da pecuária
50º O
para o litoral. bovina brasileira. Caderno Prudentino de
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Geografia, Presidente Prudente, v. 1,
Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.
n. 36, p. 26-38, jan./jul. 2014, p. 27-29.

O gado tinha a vantagem de locomover-se sozinho pelos caminhos, sobreviver em Dica de leitura
regiões áridas, exigir pouca mão de obra e fornecer alimentação nutritiva e couro. Na época em que foi pu-
blicada, esta obra significou
273 um marco nos estudos sobre
a história e a economia colo-
nial. Seus autores inovaram
13:56 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 273 04/08/22 13:56 ao comprovar a relevância do
mercado interno na colônia e
• Identificar os fatores que contribuíram para a expansão da criação de gado. os vínculos estreitos que man-
• Chamar a atenção para a proibição de criação de gado no litoral. teve não apenas com a Euro-
• Analisar o papel da criação de gado no cenário da economia colonial. pa, mas também com a África.
• Destacar que a expansão do gado pelo sertão foi um processo conflituoso, marcado por • FRAGOSO, João; FLORENTI-
lutas sangrentas entre os criadores luso-brasileiros e os indígenas. Com o auxílio dos ban- NO, Manolo; FARIA, Sheila de
deirantes paulistas, os criadores venceram a resistência indígena e o sertão foi ocupado Castro. A economia colonial
pelas fazendas de gado. brasileira (séculos XVI-XIX).
4. ed. São Paulo: Atual, 2014.
273

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 273 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a resistência a) Pode-se concluir que a conquista do sertão nordestino foi um processo violento, em que os povos indígenas
indígena ao avanço dos cria- que ali viviam foram vencidos, apesar de terem resistido à ocupação de suas terras.
dores de gado sobre as suas
terras.
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

• Estimular a reflexão sobre os


“Guerra dos Bárbaros” ou “Bárbara Guerra”?
termos “Guerras dos Bárba-
ros” e “Bárbaras Guerras”. Os povos indígenas do sertão nordestino,
• Chamar a atenção dos alunos como os cariri, janduí, canindé e icó, reagiram
para o uso do temo “bárba- ao avanço dos criadores de gado sobre as suas
ro” pelos portugueses para terras. Os conflitos entre esses povos e os criado-
se referirem aos indígenas. res foram sangrentos e demorados (de 1650
• Refletir sobre a violência e o a 1720) e são conhecidos como Guerra dos
preconceito contra indíge- Bárbaros.. Veja o que se diz sobre o assunto:
Bárbaros
nas na história do Brasil.
A [...] historiografia [...] divide a Guerra
O trabalho com esta pági-
dos Bárbaros em dois conflitos: a Guerra do
na pode contribuir para os
Recôncavo e a Guerra do Açu. No interior da
estudantes desenvolverem
as habilidades EF07HI10 e Bahia [...] as disputas ocorreram entre 1651
EF07HI12. e 1679, gerando os confrontos da serra do
Orobó, Aporá e do Rio São Francisco. A Guerra

IVAN WASTH RODRIGUES/COLEÇÃO PARTICULAR


do Açu [...] ocorreu no território compreendido
Imagens em movimento por Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e
Curta-metragem de anima- Paraíba, entre 1680 e 1720. A união de vários
ção que mostra a guerra con- grupos muito diferentes demonstra a resis-
tra os indígenas no processo tência dos povos indígenas, e sua capacidade
de ocupação do sertão para a de reunir esforços se comprova pela longa
criação de gado.
duração da Guerra [...]. A Guerra dos Bárbaros
• GUERRA dos bárbaros. Dire- resultou no controle luso-brasileiro sobre os
ção: Júlia Manta. Brasil: Insti- Um indígena tapuia na representação
sertões nordestinos. Como butim butim,, os colonos de um artista contemporâneo.
tuto Dragão do Mar de arte e receberam terras e escravos [...]. Trata-se de
indústria audiovisual, 2001. episódio fundamental da história colonial, Bárbaros: nome pejorativo que os colonos
35 mm (9min58s). davam aos povos indígenas.
compondo o quadro sangrento da ocupação
Butim: recompensa.
dos sertões nordestinos.
VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 269-270.

Historiadores especializados concluíram que a vitória dos colonos sobre os indígenas


rebelados só foi possível por causa da aliança dos primeiros com indígenas aldeados e da
ajuda dos bandeirantes paulistas contratados pelas autoridades para exterminar indígenas.

a) O que se pode concluir sobre a expansão da pecuária no sertão nordestino?

b) De que forma os historiadores especializados explicam a vitória dos colonos sobre


os indígenas rebelados?
b) A vitória dos colonos só foi possível por causa da divisão entre os indígenas. Os colonos se aliaram
aos indígenas aldeados e, com isso, venceram os indígenas rebelados. Os colonos contaram também
274 com a ajuda de bandeirantes paulistas pagos pelas autoridades para fazer guerra aos indígenas.

TEXTO DE APOIO AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 274 paulistas executar guerra justa e reduzir os tapuias à escravidão, 05/08/22 16:21 AV-

tornando o empreendimento lucrativo. [...] Aos poucos, a Coroa


A “Guerra dos Bárbaros” percebeu o descontrole da guerra e iniciou uma política de con-
[...] Em 1675, em meio às disputas da serra do Orobó, Francisco tenção bélica. Incentivou a plantação de um sistema produtivo
Barreto escreveu ao capitão-mor de São Vicente para acertar um e o povoamento da região. Iniciava-se, assim, uma nova fase da
contrato com os sertanistas, convencido de que somente a ex- guerra, denominada por Serafim Leite “guerra branca”. A Guerra
periência dos bandeirantes poderia “pacificar” a região. Em 1687, dos Bárbaros resultou no controle luso-brasileiro sobre os sertões
durante a Guerra do Açu, a mesma decisão foi tomada pelo gover- nordestinos. Como butim, os colonos receberam terras e escravos
nador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, que recorreu que logo se tornaram o pomo da discórdia. [...]
a um terço paulista na esperança de promover a “extinção total VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1808).
dos bárbaros”. A legalidade do cativeiro indígena assegurava aos Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 269-270.
274

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 274 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, com o adven-
to da mineração no Centro-
O gado no Sul -Sul, os habitantes das minas
passaram a comprar animais
Com a destruição das missões jesuíticas de Guairá pelos bandeirantes, o gado das
de carga do Sul como cavalos,
missões espalhou-se pelas campinas do Sul. E como nessa área o pasto é de excelente
mulas e jumentos. As pasta-
qualidade, em pouco tempo o número de mulas, cavalos, bois e vacas cresceu muito. gens da região foram, então,
Atraídos por esses imensos rebanhos sem dono, moradores de São Paulo, de Desterro alvo de violentas disputas.
(atual Florianópolis) e de Laguna (SC) passaram a disputá-los. Eles caçavam o gado sel- • Ressaltar que, inicialmente,
vagem, consumiam a carne e exportavam o couro, iniciando, assim, a ocupação do Sul. os rebanhos eram reunidos
O rei de Portugal também se interessou pelo Sul e mandou erguer um povoado na em invernadas, pastagens
margem esquerda do Rio da Prata – a Colônia do Sacramento (1680). A imensa área rodeadas de obstáculos natu-
entre essa colônia, no extremo sul, e Laguna, no litoral catarinense, era considerada “terra rais onde o gado engordava,
de ninguém”, onde o gado se reproduzia livremente. aguardando pelo momento
Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, a população das minas passou a neces- de seguir viagem. Com o tem-
sitar de animais de carga, pois os carros de boi não conseguiam circular pelas ladeiras po, as terras foram cercadas e
acidentadas da região. Então, o Sul passou a fornecer para a região mineira mulas, jumen- formaram-se as estâncias.
tos, bois, vacas e o valioso charque (carne-seca). • Destacar que, posteriormen-
Interessada nas riquezas da região Sul, em 1737, a monarquia portuguesa mandou te, os estancieiros aprende-
fundar o Forte do Rio Grande de São Pedro. Três anos depois, para reforçar sua presença ram a produzir o charque:
no Sul, enviou para a região quatro mil açorianos e concedeu a Açoriano: habitante abatiam o animal e corta-
cada família um pequeno lote de terra, armas, instrumentos agríco- da ilha dos Açores, vam, salgavam e secavam a
pertencente a Portugal
las, sementes e animais. Os açorianos ergueram diversas vilas, dentre e localizada no oceano carne, para que se conservas-
elas Porto dos Casais,, atual Porto Alegre, que se tornou a capital Atlântico. se por mais tempo. Isso per-
mitiu a venda de carne para
do atual Rio Grande do Sul.
várias partes da Colônia,
bem como para o exterior.

THIAGOSANTOS/SHUTTERSTOCK.COM
A maior parte da produção,
contudo, era voltada para o
mercado interno.

b) Por que a pecuária foi consi-


derada mais importante do que
a produção de outros gêneros
alimentícios?
c) É possível afirmar que a pe-
cuária ficou restrita apenas ao
Nordeste? Justifique.
Respostas:
a) Era a carne de charque, a fa-
rinha de mandioca, a farinha
Monumento aos açorianos. Porto Alegre (RS), fotografia de 2021. de milho, o trigo, o feijão e os
demais produtos regionais.
275 b) Porque foi a produção que
gerou maiores investimentos
e se espalhou por diferentes
16:21 +ATIVIDADES
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 275 de Curitiba, no litoral norte do Rio de Janeiro, na
04/08/22 13:56 regiões do país.
Comarca do Rio das Mortes (em Minas Gerais) e,
Leia o texto a seguir com atenção. Em se- c) Não, ela esteve presente tam-
principalmente, nas amplas pastagens dos pam-
guida, responda ao que se pede. bém em Curitiba, Minas Gerais,
pas gaúchos. Não era só para alimentação que a
A alimentação básica da colônia, tanto para ho- Rio de Janeiro, nos pampas
pecuária se desenvolvia. Na colônia, muito se fazia
mens livres como para escravos, eram o charque gaúchos, entre outros locais.
com a força animal, desde impulsionar moendas
e a farinha de mandioca, seguidos da farinha de
milho, do trigo, do feijão e dos demais produtos re-
até o transporte de mercadorias. [...] • Tema Contemporâneo Trans-
gionais. [...] Mas foi a pecuária, sem dúvida, a pro- FARIA, Sheila de Castro. A colônia brasileira: versal: a atividade mobiliza
dução que gerou investimentos de vulto e se espa- economia e sociedade. São Paulo: o tema educação alimentar
lhou por diversos pontos coloniais. Assim, vemos Moderna, 2004. p. 72. e nutricional, da macroárea
essa atividade no sertão da Bahia, nos campos a) Qual era a alimentação básica na colônia? saúde.
275

264a288_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 275 03/09/22 11:03


ENCAMINHAMENTO
• Identificar as características
do Tratado de Madri.
• Comentar com os estudantes
que os guaranis e os jesuítas
As novas fronteiras
se recusaram a abandonar as da América portuguesa
missões.
• Relacionar a assinatura do Tra- Os luso-brasileiros avançaram sobre as terras que, pelo Tratado
tado de Madri com a Guerra de Tordesilhas, pertenciam à Espanha. O governo português, então,
Guaranítica.
buscou legalizar os territórios conquistados por meio de uma série
• Refletir sobre as consequências de acordos internacionais. Os mais importantes foram:
da Guerra Guaranítica para os
Sete Povos das • Tratado de Madri (1750), assinado entre Portugal e Espanha.
indígenas. Missões: território
• Aprofundar o assunto com a que abrangia as atuais Estabelecia que a Colônia do Sacramento pertencia à Espanha.
leitura dos textos: GOLIN, Tau. cidades de São Borja, Em troca, Portugal recebia a área de Sete Povos das Missões,
Missões,
Cartografia da Guerra Guara- São Miguel, São Nicolau, sete grandes aldeamentos organizados pelos jesuítas espanhóis,
Santo Ângelo, São Luís
nítica. In: SIMPÓSIO BRASILEI- onde viviam cerca de 30 mil indígenas da nação guarani. Pelo
Gonzaga, São Lourenço
RO DE CARTOGRAFIA HISTÓRI- e São João, situadas no Tratado de Madri, os jesuítas deveriam abandonar as missões
CA, 1., 2011, Paraty. Anais [...]. Rio Grande do Sul.
com seus móveis e bagagens, levando apenas os indígenas. O
Belo Horizonte: UFMG, 2011;
TRATADO de Badajoz. Lisboa: território das missões e as casas ficariam com os portugueses.
Na Regia Officina Typografica, Os guaranis não aceitaram a ideia de ter de se mudar das terras
1801. Disponível em: https:// em que viviam. A maioria dos jesuítas também não; eles argumen-
bd.camara.leg.br/bd/handle/ tavam que, além de serem livres, os guaranis eram donos do
bdcamara/22439. Acesso em: território e que nem Portugal nem Espanha tinham direito
13 ago. 2022.
a ele. Incentivados por jesuítas, os indígenas pegaram em
armas contra soldados portugueses e espanhóis, impe-
dindo que se cumprisse o acordo. Tinha início, assim, a
TEXTO DE APOIO Guerra Guaranítica (1754-1756).
Em pouco tempo, a guerra se transformou em um
LSAR IMAGENS

As missões jesuíticas
no Sul massacre, pois portugueses e espanhóis montaram
[...] Do ponto de vista português, um exército numeroso, com armas de pequeno porte
FERNANDO BUENO/PU

os Trinta Povos das Missões foram e canhões. Os espanhóis, vindos de Buenos Aires e
historicamente encarados como
Montevidéu, atacaram pelo sul; os luso-brasileiros, envia-
iniciativas que haviam se ade-
quado às estratégias de ocupação dos do Rio de Janeiro, avançaram pelo Rio Jacuí. Os dois
territorial espanhola, em contra- exércitos se juntaram na fronteira com o Uruguai e venceram
posição às intenções portuguesas. a resistência indígena, ocupando Sete Povos, em maio de 1756.
Eram vistos, por isso, como um
Com o final da Guerra Guaranítica, as tensões entre Portugal
entrave à consolidação portuguesa
na região. e Espanha voltaram a se intensificar.
Na Europa, os interesses jesuí-
tas eram cada vez mais postos
em questão. Muitos, e aí pode- Estátua de Sepé Tiaraju. São Miguel das Missões (RS), fotografia de 2017. Uma
das principais lideranças indígenas na Guerra Guaranítica foi Sepé Tiaraju, que
mos incluir Sebastião José de
lutou tenazmente em defesa do direito dos guaranis ao território de Sete Povos
Carvalho e Melo, o Marquês de
das Missões. Para o movimento indígena do Brasil, Sepé foi uma das principais
Pombal, primeiro-ministro por-
lideranças da História do Brasil.
tuguês, acusavam os jesuítas de
acumularem riquezas na América
do Sul. Segundo seus detratores 276
portugueses e espanhóis, os je-
suítas insuflavam os Guarani a
resistirem ao conjunto de deveres
até o fim do que tinham276
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd sido os Trinta Povos das e o modelo de organização social das missões, 04/08/22 13:56 AV-
impostos pelas metrópoles.
Missões. Em 1761, o modelo de administração opondo-se ao processo de demarcação das no-
O próprio fato de a língua gua- das reduções em território espanhol foi revisto: vas fronteiras estabelecidas pelo acordo. A esse
rani ser aquela adotada pelos os jesuítas foram substituídos por representan- movimento de resistência, Espanha e Portugal
indígenas e padres jesuítas nas tes da Coroa espanhola. Até o fim da década de respondem com violência e configura-se o que
reduções tornou-se um ponto de 1760, além de terem visto o fim das missões na ficou conhecido como as Guerras Guaraníticas.
discórdia no quadro de tensão América do Sul, os jesuítas foram expulsos de As batalhas duraram do ano de 1754 ao de 1756
que passou a envolver os jesuítas, Portugal no ano de 1759, da Espanha em 1767 e e são descritas por estudiosos como uma grande
Espanha e Portugal. do continente americano em 1768. sucessão de massacres de indígenas pelas tropas
A partir da assinatura do Tratado Houve tentativas de resistência indígena ao ibéricas.
de Madri, em 1750, que inviabili- processo de esvaziamento das reduções. Depois BOTELHO, André Amud; VIVIAN, Diego; BRUXEL, Laerson.
zara a experiência das missões de assinado o Tratado de Madri, parte da popula- Museu das Missões. Brasília, DF: Ibram, 2015. (Coleção
no Brasil, outros atos se somaram ção dos povoados recusou-se a deixar suas casas Museus do Ibram, p. 30-31).
276

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 276 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o Tratado de
Santo Ildefonso e o Tratado
• Tratado de Santo Ildefonso (1777), assinado entre Portugal e Espanha. Os espa- de Badajós.
nhóis obtinham o território de Sete Povos das Missões e da Colônia do Sacramento e • Comentar com os alunos que
devolviam a Portugal algumas terras que haviam ocupado no atual Rio Grande do Sul. as fronteiras definidas pelo
Considerando-se prejudicados, os portugueses exigiram da Espanha um novo acordo. Tratado de Badajós guardam
• Tratado de Badajós (1801), assinado entre Portugal e Espanha. Os portugueses ficavam com semelhanças com as do Brasil
o território de Sete Povos das Missões e a Espanha garantia para si a Colônia do Sacramento. atual.
• Propor a análise do mapa
THIAGOSANTOS/SHUTTERSTOCK.COM

desta página, estimulando


os alunos a refletirem sobre
as mudanças nas fronteiras
Ruínas do Sítio de 1494 (Tordesilhas) a 1801
Arqueológico São (Badajós).
Miguel das Missões
(RS). Fotografia de O trabalho com o mapa des-
2018. No ano de 1983, ta página contribui para os
a Unesco declarou estudantes desenvolverem a
esse conjunto habilidade EF07HI11 e a com-
arquitetônico como
Patrimônio Mundial, petência geral 1.
Cultural e Natural.

Como se pode ver no mapa a seguir, as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Imagens em movimento
Badajós eram bem parecidas com as fixadas pelo Tratado de Madri. Consolidava-se, assim, Animação que mostra a
a formação histórico-geográfica da América portuguesa. evolução do território brasi-
leiro ao longo do tempo.
Principais tratados de limites • EVOLUÇÃO territorial do
Brasil. 2017. Vídeo (1min18s).
ALLMAPS

40º O

Publicado pelo canal Institu-


São Joaquim to Iess. Disponível em: https://
Marabitanas Macapá
Equador
São Gabriel
Barra do
Rio Am
azonas
0º youtu.be/yV7pDZeu4k4.
Belém
Rio Negro Gurupá

Fortaleza
Acesso em: 13 ago. 2022.
s

Tabatinga
ajó

ra
ei
p

ad
Ta

Rio Xingu

TRATADO DE TORDESILHAS

M Natal
Rio
o
Ri

João Pessoa
OCEANO
tins
Rio Tocan

Recife
PACÍFICO Príncipe
da Beira
aia

Rio OCEANO
ragu

Gua
co

54º O po Vila Bela Salvador



ATLÂNTICO
ncis
oA

da Santíssima
Ri

Fra

Trindade
o

São Nicolau

Tratado de Madri
o

Santo Ângelo Cuiabá


Ri

São Luiz (1750)


São João Batista
São Borja São Lourenço
Coimbra Tratado de Santo
São Miguel Ildefonso (1777)
30º S Porto
Jesus Maria José dos
Casais Trópico de Capricórnio Iguatemi Rio de Janeiro Área incorporada ao
Brasil pelo Tratado
uai

São Paulo de Badajós (1801)


Parag

Santa
Tecla Rio Grande
0 240 R Sete Povos das
io

de São Pedro Fonte: ALBUQUERQUE,


Missões
Colônia do OCEANO Fortes Manoel Maurício de
ai
Paraná

gu

Sacramento ATLÂNTICO
u

et al. Atlas histórico


Rio Ur

R io
da P Limites atuais do
Rio

rata São Miguel


0 535
Brasil escolar. 8. ed.
Missões jesuíticas Rio de Janeiro:
FAE, 1991. p. 30.

277

13:56 AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 277 +ATIVIDADES Nome do Quem


04/08/22 13:56

Ano O que definia


tratado assinou
Elabore, no caderno, um quadro confor-
me o exemplo ao lado. Em seguida, comple- Tratado
1750
Portugal e Definia que a Colônia do Sacramento pertencia à Espanha
te-o com as informações pedidas em cada de Madri Espanha e que Sete Povos das Missões pertencia a Portugal.
coluna. Tratado A Espanha ficava com Sete Povos das Missões e com a
Portugal e
Professor, a execução desta atividade, co- de Santo 1777
Espanha
Colônia do Sacramento e devolvia a Portugal algumas
nectada à observação dos mapas presentes Ildefonso terras do atual Rio Grande do Sul.
no capítulo, pode contribuir para que os estu-
Tratado Portugal e Os portugueses ficavam com Sete Povos das Missões,
dantes desenvolvam a habilidade EF07HI11 e de Badajós
1801
Espanha e a Espanha recebia a Colônia do Sacramento.
as competências específicas 2 e 5.
277

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 277 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Tema Contemporâneo Trans-
versal: esta seção mobiliza o
tema educação para valori- PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
zação do multiculturalismo
nas matrizes históricas e cul-
turais brasileiras, da macroá- Brasil: terra de muitos povos
rea multiculturalismo. O Brasil absorveu diversos

FABIO COLOMBINI
povos e culturas ao longo de sua
formação histórica; por isso, é
TEXTO DE APOIO conhecido por ser um país mul-
tiétnico e pluricultural. Dentre
Brasil: 500 anos de os povos formadores do Brasil,
povoamento estão, em ordem cronológica,
[...] Marcado pela unidade da os indígenas, os portugueses e
língua e pela manutenção da os africanos.
integridade territorial da antiga
América Portuguesa, o Brasil foi
capaz de absorver inúmeras na-
cionalidades e culturas ao longo
de sua formação histórica.
[...] antes de tudo, os três gran-
des formadores, pela ordem: Menina indígena guarani mbya, 2017.
índios, portugueses, africanos.
Mas dizer três é dizer pouco ou
quase nada. Porque o mundo
dos índios era de extrema di-
versidade, e a clássica diferen-
ciação entre tupis e tapuias não
resolve o assunto. Vários troncos Em 1500, quando os

AJR_PHOTO/SHUTTERSTOCK.COM
linguísticos, inúmeros idiomas e portugueses aqui chegaram,
culturas, assim foi o mundo in-
os indígenas eram muitos e
dígena na Colônia, no Império e
mesmo hoje, quando processos possuíam culturas e línguas
de etnogênese permitem recriar próprias, que foram e conti-
culturas que se supunha mor- nuam sendo importantes na
tas. Algo de semelhante se pode nossa formação histórica. Os
dizer das africanidades, nagôs,
portugueses, por sua vez,
bantos e as inúmeras “nações”
que povoaram o Brasil, cativas. traziam na sua bagagem
Nem por isso deixaram de im- uma língua rica, uma forma
primir poderosa marca cultural, de governo (a monarquia) e
para dizer o mínimo, a ponto de a religião católica, que foram
Gilberto Freyre tê-los considera-
igualmente importantes.
do, aos negros, como os “colo-
nizadores africanos do Brasil”.
Entre índios e negros, cultural-
mente diversos, os portugueses Mulher portuguesa, 2016.
despontam como o agente colo-
nizador por excelência. Pois foi
de Portugal que vieram as insti-
278
tuições oficiais [...].
O tempo só fez complexificar
o imbróglio de nossas nações. E, Entre portugueses e castelhano-galegos,
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 278 des- o cristão-novo nunca envelhecia: continuava 04/08/22 13:56 AV-

à guisa de exemplo, incluímos pontaram os judeus, cuja presença no Brasil foi “novo”, mesmo que católico há várias gerações.
os espanhóis, que já na Colônia extraordinária. Primeiramente sob o rótulo de [...] o Brasil receberia novas levas de judeus ao
imprimiram sua marca, ora nas cristãos-novos, posto que, desde 1497, haviam longo do século XIX e sobretudo no XX, migra-
fronteiras do sul, ora em toda sido convertidos ao catolicismo por decreto de ções inscritas no contexto europeu, de que a as-
parte, no tempo da dominação D. Manuel, o Venturoso. Se os cristãos-novos do censão do nazismo seria capítulo crucial.
filipina (1580-1640). [...] Mas os Brasil judaizavam ou não em segredo, eis um Em nossa seleção das “nações” que povoaram o
castelhanos colonizadores de mistério difícil de resolver. Mas não deixa de ser Brasil, incluímos algumas que, imigrando entre os
outrora virariam os galegos imi- curioso o fato de que chamavam de cristãos-no- séculos XIX e XX, deixaram marca profunda em
grantes dos séculos XIX e XX, vos, em Portugal e no Brasil, descendentes de ju- vários aspectos. Duas provenientes da Europa, os
inspirando a República dos So- deus convertidos havia três séculos! Com razão a italianos e alemães; as outras duas do Oriente, do
nhos de Nélida Piñon. historiadora Anita Novinsky disse certa vez que médio e do extremo: árabes e japoneses.
278

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 278 01/09/2022 18:00


Depois, foi a vez de os afri-

FILIPE FRAZAO/SHUTTERSTOCK.COM
canos entrarem no Brasil. Eles
foram trazidos de diferentes
pontos da África como escravi-
zados, a partir do século XVI, e
também marcaram profunda-
mente nossos modos de agir,
falar, pensar e sentir.

Mulher afro-brasileira, 2016.

No século XIX, entraram no Brasil milhares de europeus, com destaque para os


italianos e os alemães, que também fizeram história entre nós. Aqui, esses imigrantes
enfrentaram duras condições de trabalho, tanto nos cafezais paulistas quanto no Sul
do Brasil. Muitos italianos reagiram aos maus-tratos no campo indo para as cidades em
busca de trabalho na indústria, que então se desenvolvia. Já os alemães eram protes-
tantes e vieram para o Brasil para viver em colônias agrícolas, como São Leopoldo (RS) e
Blumenau (SC). Os alemães tinham pouco contato com a sociedade brasileira e conserva-
ram por mais tempo a cultura e
CULTURA EXCLUSIVE/GETTY IMAGES

as visões de mundo trazidas de


seu país de origem.

Senhor italiano, 2015.

279

13:56 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)


AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 279 católica. Imigração não estimulada
04/08/22 13:56 por políticas colonizatórias,
como no caso germânico ou italiano, e que se dirigiu sobretudo
A história dos italianos é a da imigração de colonos para a ca- para as cidades, notadamente São Paulo. Dela saíram “mascates”,
feicultura paulista, desdobrada depois no trabalho urbano do depois empresários de porte, finalmente políticos de peso. [...]
nascente operariado. Mas é também a história dos Matarazzo, os De todo modo, é caso de insistir: são todos brasileiros, neutra-
“self-made men”
men” que acumularam bens, entre práticas e lendas, lizando a autêntica “Babel cultural” que caracterizou a formação
tornando-se empresários de enorme influência em São Paulo e histórica do Brasil, em termos de línguas, costumes e crenças. [...]
no sul do País. A história dos alemães é parecida, embora mais
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
apegada às colônias agrícolas relativamente autônomas do sul e Centro de Documentação e Disseminação de Informações.
menos “abrasileiradas” do que a dos imigrantes italianos. [...] Brasil: 500 anos de povoamento.
Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 13-15.
Entre os imigrantes árabes, predominaram, não os muçulma-
nos, como alguns supõem, mas cristãos, parte ortodoxa, parte
279

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 279 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, a atividade quer
contribuir para estimular a
empatia e o respeito entre Os japoneses foram considerados distantes
A

NID GOLOTI/E+/GETTY IMAGES


pessoas e povos diante da em tipo físico, religião e língua. Apesar disso, por
enorme variedade de povos e se acreditar na importância do trabalho deles
culturas e da mestiçagem cul- para o progresso do Brasil, foram aceitos no país.
tural presentes no nosso país. Começaram a chegar em 1908 e, inicialmente,
Assim, contribui para o de-
foram para o interior de São Paulo, onde introduzi-
senvolvimento da habilidade
ram novas técnicas agrícolas e novos plantios.
EF07HI12.
a) Multiétnico: que abriga uma diversidade de etnias;
pluricultural: que abriga uma diversidade de culturas.
b) Respostas pessoais.
Mulher japonesa, 2019.
c) Resposta pessoal.
+ATIVIDADES
Em grupo. Cada grupo de-
verá pesquisar sobre um povo:
Posteriormente, para fugir do nazismo
nazismo,, entraram no Brasil os Nazismo: doutrina
indígena, africano, europeu política criada
ou asiático que participou da judeus e, mais tarde um pouco, em consequência da Segunda Guerra na Alemanha, na
formação do povo brasileiro Mundial, vieram os árabes cristãos. Tanto os judeus quanto os árabes década de 1920.
e montar uma apresentação Pressupunha o
preferiam viver em cidades e destacaram-se como mascates, empre-
racismo contra os
com textos, fotos, áudio e/ou sários, profissionais liberais e políticos. judeus e diversos
vídeo sobre a sua presença As trocas culturais entre todos esses povos ajudam a explicar a outros grupos
no Brasil e seu legado cultu- intensa mestiçagem cultural presente hoje no território brasileiro.
étnicos.
ral. Após a apresentação do
a) O texto afirma que o Brasil é um país multiétnico e pluricultural. Descreva esses dois
trabalho, postem o que pro-
termos, usando suas palavras.
duziram nas redes oficiais da
escola. b) Observe os alunos de sua escola e responda: todos eles são descendentes de um
mesmo grupo étnico? Se a resposta for não, de quais grupos eles descendem?
b) E você, de que grupo descende: indígena, europeu, africano ou asiático?

ESCUTAR E FALAR
Pesquise, reflita e prepare-se para falar sobre a importância da empatia e do respeito
para conviver em harmonia em um país multiétnico e pluricultural, como é o Brasil.
Autoavaliação. Responda em seu caderno. Respostas pessoais.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

280

AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 280 04/08/22 13:56 AV-

280

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 280 01/09/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Passado: povoamento e
exploração dos recursos

ATIVIDADES
ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
naturais
A ocupação humana do litoral
brasileiro era, até a chegada dos
europeus, indígena. Todo o lito-
ral brasileiro era ocupado por

I. Retomando grupos indígenas, sendo que “os


índios que sofreram os primei-
ros impactos com a chegada dos
europeus foram os componentes
1 Leia as fontes a seguir com atenção. dos troncos MacroJê e MacroTu-
pi” [...]. Os índios pertencentes
FONTE 1 a esse segundo tronco eram os
principais habitantes do litoral.
Frotas e caminhos [...] Esses índios eram “povos
A enorme extensão do território, os acidentes geográficos naturais, a presença agricultores de grande mobilida-
de indígenas [...], as doenças tropicais desconhecidas e a densa floresta atlântica que de espacial”. Tal mobilidade era
explicada, em parte, pela “natu-
cobria grande parte do litoral brasileiro dificultavam [...] a penetração até o interior.
reza [...] e a necessidade de se
FURTADO, Júnia Ferreira. Cultura e sociedade no Brasil colônia. São Paulo: Atual, 2000. p. 43. locomoverem em busca de novas
terras para o cultivo”, porém fo-
FONTE 2 ram motivadas também por ou-
América portuguesa: povoamento (século XVI)
tras causas. A fuga à escravidão

SONIA VAZ
imposta pelos colonizadores eu-
Equador
ropeus representou uma causa
R. 0°
Ne
g
zona s
importante e também a busca
R. Solimõ ma
ro

R. A
s pela “terra sem males”, pois os
e

s
jó R . To
Xingu

índios tupi acreditam na existên-


a

ira
ap

.T
cantins

Natal
R.

cia de um paraíso terrestre [...].


ade

Filipeia
.M

aia

R Igaraçu
Olinda
As populações indígenas re-
gu

o
R. Ara

sc

presentaram “um vetor central


Franci

São Cristóvão

São Salvador
da colonização”. A mobilidade
São

Ilhéus
espacial das “populações au-
R.

Santa Cruz
Porto Seguro
tóctones” definiu caminhos que
R . Grande
OCEANO R. T
i Vitória
seriam utilizados pelos portu-
PACÍFICO Espírito Santo
gueses como rotas de explora-
á

et
an

r
Pa
ê
ai

o São Paulo
P aragu

Capricórni
Trópico de
São Sebastião do Rio de Janeiro
ção. “As zonas litorâneas foram
R.

Santos
Itanhaém São Vicente Mapa elaborado com
Áreas sob influência base em: INSTITUTO as primeiras a conhecer núcleos
R.

das cidades e vilas


OCEANO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
Áreas conhecidas e ai
E ESTATÍSTICA. Brasil: de povoamento”, pois os coloni-
AT L Â N T I CO
gu

relativamente povoadas
zadores europeus chegaram por
ru

500 anos de povoamento.


R. U

Limite atual da 0 460


fronteira brasileira Rio de Janeiro: IBGE, via marítima e assim os fluxos
50° O
2007. p. 22.
de colonização “partiram de cen-
tros assentados na costa” [...].
a) Segundo a autora do texto da fonte 1, quais fatores dificultaram a penetração do interior
pelos portugueses? Copie em seu caderno as alternativas corretas. 1. a) Alternativas II e III. A busca pelos recursos natu-
I. Pequena extensão do território colonial. III. Floresta que cobria o litoral.
rais, de interesse para o mercado
externo, definiu um “padrão de
II. Resistência indígena. IV. Clima temperado.
exploração extensivo espacial-
b) A fonte 2 reforça ou nega a fonte 1? Justifique. mente e intensivo no uso dos
1. b) A fonte 2 reforça as informações da fonte 1. O mapa, assim como o texto, mostra o povoamento recursos” [...]. A mobilidade de-
do território brasileiro no século XVI concentrado no litoral. 281 rivada desse povoamento entre
si, aos pontos de coleta, de pesca,
de produção agrícola e portos.
PANIZZA, Andrea de Castro; ROCHA, Yuri
13:56 ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 281 04/08/22 13:56
Tavares; DANTAS, Aldo. O litoral brasileiro:
1. A atividade visa contribuir para o desen- exploração, ocupação e preservação –
Um estudo comparativo entre regiões
volvimento da competência específica 5. litorâneas dos Estados de São Paulo
e Rio Grande do Norte. RA’E GA –
o espaço geográfico em análise,
Curitiba, n. 17, p. 7-16, 2009. p. 9.

281

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 281 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, a atividade 5 con-
tribui para o desenvolvimento
da competência específica 6.
2 Leia as afirmativas a seguir.
I. Durante a União Ibérica, a pirataria no litoral brasileiro cresceu.
II. Os inimigos da Espanha passaram a atacar as colônias de Portugal.
TEXTO DE APOIO
Qual dos termos a seguir liga corretamente as afirmativas acima?
Os bandeirantes ficaram tão
conhecidos na historiografia a) Porém.
nacional que sua imagem, de- b) Por isso.
vidamente alterada, seria usada
c) Porque. 2. Alternativa C.
pelos paulistas, no começo do
século XX, como um símbolo do d) Então.
“espírito aventureiro e intrépi- 3. a) Enviou expedições e construiu fortes em pontos estratégicos do território colonial.
do da região”. Seriam exaltadas, 3 Sobre a ação de piratas e corsários no litoral brasileiro:
então, só suas benesses, e eles, a) Como o governo luso-espanhol reagiu?
descritos como destemidos ex- b) Copie o quadro a seguir em seu caderno e indique, em uma terceira coluna, os nomes das
ploradores do “perigoso sertão” cidades que se formaram em torno dos fortes.
e de suas riquezas minerais. Já
a violência inerente à atividade,
bem como a empresa de aprisio- Nome do forte Data
namento de indígenas, perma-
neceria esquecida. O fato é que Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves 1585
o círculo vicioso montado nos
idos dos séculos XVI e XVII era
Forte dos Reis Magos 1598
dos mais perversos: a escassez
de mão de obra nativa levava
à intensificação e interioriza- Forte de São Luís 1612
ção de expedições, que faziam
novos escravos e expunham as Forte de Schoonenborch 1649
populações indígenas a grande
mortandade, por conta tanto
Forte do Presépio de Santa Maria de Belém 1616
das armas como das epidemias.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa
M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Forte de São José do Rio Negro 1669
Companhia das Letras, 2015. p. 47-48.
3. b) João Pessoa (PB); Natal (RN); São Luís (MA); Fortaleza (CE); Belém (PA); Manaus (AM).
c) Explique a importância desses fortes para a formação histórico-geográfica do território da
América portuguesa. 3. c) Os fortes coloniais foram importantes no combate à pirataria e para a
conquista portuguesa do território colonial.
4 Faça um quadro em seu caderno e preencha-o com os significados de:
4. a) Bandeiras: expedições particulares, que saíam geralmente de São Paulo, com o
a) bandeiras;
objetivo de capturar indígenas e achar ouro e pedras preciosas.
b) sertanismo de contrato; 4. b) Sertanismo de contrato: tipo de bandeirismo que era posto em prática
c) missões. quando bandeirantes eram contratados para combater revoltas indígenas e de quilombos.
4. c) Missões: grandes aldeamentos indígenas organizados pelos padres jesuítas.
5 Durante muito tempo, os indígenas foram mostrados como seres passivos, que se
renderam aos ataques dos bandeirantes sem reagir.
O que você estudou neste capítulo confirma ou nega essa visão sobre os indígenas?
Justifique em seu caderno.
5. Resposta pessoal.
282

HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 282 20/08/22 20:40 AV-

282

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 282 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
6. c) Muitos deles foram mortos em razão das armas de fogo e das doenças contraídas no contato com os
6. Professor, comentar com os
integrantes dessas expedições; além disso, os grupos indígenas perderam a maior parte de seu território. alunos que os Pataxó citados
no texto vivem atualmente
6 O texto a seguir foi escrito pela historiadora Maria Leônia Chaves de Resende. Leia-o
com atenção e, depois, responda às questões. em diversas aldeias ao longo
do norte de Minas Gerais e
Sertão mineiro loteado à força na região sul da Bahia. Para
As entradas para os sertões de Minas foram movidas por um tripé de interesses: o mais informações sobre os
ouro e as pedras preciosas e, por extensão, a terra (para o plantio de roças e controle Pataxó, acesse: PATAXÓ. Povos
sobre passagens e rotas comerciais), e os indígenas (que se prestavam como mão de indígenas no Brasil. [S. l.], [21-
obra para a lavra mineral, agrícola ou como trabalhadores domésticos). Com esse -?]. Disponível em: https://
objetivo, inúmeras expedições militares foram organizadas para avançarem pelo pib.socioambiental.org/pt/
interior [...].
Povo:Patax%C3%B3. Acesso
em: 13 ago. 2022.
Não demorou para que, distorcendo

CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS


7. Indicações de sites para a
a realidade, os indígenas fossem tachados
pesquisa:
como “invasores”, o que justificou mais vio-
lência contra as populações indígenas. De • FUNDAÇÃO NACIONAL DO
fato, agiam em defesa própria, respondendo ÍNDIO – FUNAI. [S. l., 21--?].
Site. Disponível em: https://
à ocupação de suas terras. É verdade que os
www.gov.br/funai/pt-br.
povos nativos – coroados, puris, botocudos,
Acesso em: 13 jun. 2022;
kamakãs, pataxós, panhames, maxakalis,
• INSTITUTO SOCIOAMBIEN-
entre outros – encontraram-se, ao final, em
TAL. [S. l.], c2020. Site. Dispo-
minoria de armas e homens, atacados por
nível em: http://www.socio
doenças e reduzidos a uma pequena área
ambiental.org/. Acesso em:
geográfica. 13 jun. 2022.
RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Invasões bárbaras.
Indígena da etnia pataxó. Porto Seguro Revista de História da Biblioteca Nacional,
(BA), 2019. Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, jul. 2008. p. 37.
6. a) Ouro e pedras preciosas; terra e indígenas.
a) Segundo a autora, o que movia as expedições militares aos sertões de Minas?
b) Como os grupos indígenas foram vistos ao longo da história do Brasil? das florestas. Alguns procuraram
c) De que formas essas expedições aos sertões de Minas afetaram os indígenas que lá viviam? novas fontes de riqueza mineral,
6. b) Como “invasores”, quando, na verdade, eles reagiam à ocupação de suas terras. enquanto outros tentaram alter-
7 Em grupo. Pesquisem sobre situação atual de um povo indígena do Brasil e, em nativas para a mineração em ati-
seguida, apresentem o resultado da pesquisa à classe. Procurem saber: vidades na agricultura, no pasto-
7. Respostas pessoais. reio e no comércio. [...]
• quantos são;
• onde estão; A apropriação brusca da terra
dos nativos do sertão do leste re-
• seus meios de sobrevivência;
lativiza a alegação dos posseiros
• seus principais problemas e o que os indígenas têm feito para enfrentá-los. e dos oficiais da colônia de que
os portugueses entraram na flo-
8 Observe o mapa da página 271 e responda. resta virgem como mensageiros
a) Pelo título, ficamos sabendo que o tema do mapa são as missões jesuíticas. O que eram essas da civilização, forçados a usar a
missões? 8. a) Eram grandes aldeamentos organizados pelos padres jesuítas, a fim de catequizar os indígenas. violência em autodefesa quando
b) Em quais regiões do território colonial encontrava-se o maior número de missões jesuíticas? atacados pelos incorrigíveis “sel-
c) Qual era o objetivo dos jesuítas na América portuguesa? 8. b) Na Amazônia e na região Sul. vagens”. Como o governador Luiz
8. c) O ensino da religião cristã (catequese) para adultos e crianças. Os jesuítas destacaram-se Diogo Lobo da Silva (1763-1768)
colocou a questão, os soldados
também na educação, fundando colégios importantes, vilas e cidades do Brasil colonial.
283 portugueses simplesmente pro-
curavam “reduzir” os índios do
sertão do leste “à paz e corres-
20:40 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 283 século XVIII, a explosão da mineração provocou
04/08/22 13:56
pondência civil”, de acordo com
uma linha consolidada de construção de vilas os decretos reais. Somente quan-
Minas Gerais indígena: a resistência e lugarejos coloniais a oeste desses grupos, de- do os métodos benevolentes
dos índios nos sertões finidos, grosso modo, pelo caminho que ia da do estado falhavam em moldar
vila de Matias Barbosa, ao sul, até Rio Pardo, ao esses índios é que os soldados
O ápice da violência, que colocou soldados
norte. O resultado foi a criação de uma zona de tinham permissão para “os sub-
e posseiros contra os índios no sertão minei-
refúgio nas florestas a leste da capitania. A con- meter à referida obediência pelo
ro, aconteceu não no início da corrida do ouro,
meio da força” [...].
como poderia se imaginar, mas durante a segun- quista sistemática dessa região, conhecida como
da metade do século XVIII na região oriental da o sertão do leste (oriental), só foi iniciada após RESENDE, Maria Leônia Chaves de;
LANGFUR, Hal. Minas Gerais indígena: a
capitania. Durante os séculos XVI e XVII, diver- a diminuição da corrida pelas minas. Assim que
resistência dos índios nos sertões e nas
sos grupos indígenas haviam se retirado para as descobertas do ouro começaram a rarear, os vilas de El-Rei. Tempo, Niterói, v. 12, n. 23,
o interior, fugindo da colonização da costa. No colonizadores passaram a avançar para dentro 2007. p. 8-10.
283

D4_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 283 02/09/2022 12:09


TEXTO DE APOIO
A pecuária
A importação e a criação de
animais na América portuguesa 9 O trecho a seguir diz respeito à sociedade que se formou em torno da pecuária no
confundem-se com a própria co- Nordeste e foi escrito por um historiador cearense. Leia-o com atenção e, depois,
lonização, sem que seja possível responda em seu caderno ao que se pede.
estabelecer um início preciso.
De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde
Tanto Gabriel Soares de Sousa,
em 1587, quanto Ambrósio Bran- a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o
dão, no início do século XVII, mocó [bolsa de tiracolo] ou alforje [saco] para levar comida, a maca para guardar
apontam a existência de uma roupa, a mochila para dar milho

RITA BARRETO/FOTOARENA
pecuária já bastante diversifica- ao cavalo, a peia [correia] para
da, com a presença de bovinos,
prendê-lo em viagem, as bainhas
ovinos, equinos e muares, além
de aves domesticadas. de faca, [...] a roupa de entrar no
Nessa grande variedade de mato, os banguês [equipamentos
animais, o gado mais importan- de transporte] para o curtume ou
te era o bovino, por sua utiliza- para apurar o sal; para os açudes,
ção como força motriz e meio o material de aterro era levado
de transporte. Sua importância
em couro puxado por juntas de
era tão grande que, quando nos
referimos às grandes regiões bois que calcavam a terra com
pecuaristas da América seiscen- seu peso [...].
tista, referimo-nos basicamen- ABREU, João Capistrano de. Capítulos de
te à criação desses animais. No História Colonial: (1500-1800). Brasília:
início da colonização, os currais Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.
(Biblioteca Básica Brasileira, p. 135). Vaqueiro na caatinga. Euclides da Cunha (BA), 2019.
instalaram-se em torno das ci-
dades mais importantes, como a) Liste, com base no texto, as utilidades que o couro tinha para a sociedade que se formou em
Salvador e Olinda, visando aten- torno da pecuária no Nordeste. 9. a) O couro servia para fazer portas, leitos ou
der tanto aos engenhos situa- b) O que se pode concluir pela leitura do texto? camas, cordas, bolsas, sacos, mochilas, correias,
bainhas e as roupas.
dos na mesma região quanto à
9. b) Conclui-se que, no sertão do Nordeste, o couro era um
população urbana. A conquis- 10 Leia o texto a seguir com atenção. elemento de grande importância na vida de seus habitantes.
ta de Sergipe, em 1590, levou
A criação de gado, uma das principais atividades econômicas, ligava-se necessaria-
o gado até o rio São Francisco,
onde essa frente de expansão mente ao mercado interno, não sendo os animais destinados somente à alimentação,
encontrou-se com a pernambu- mas também ao trabalho. Engenhos eram movidos, na maioria dos casos, à força
cana. O rio tornou-se, assim, nos animal; o transporte, quase sempre terrestre, mesmo para o escoamento de artigos
Seiscentos, um eixo ao longo do de agroexportação, tinha bois e mulas como força motriz; o trabalho nas unidades
qual se desenvolveu a atividade
agrárias tornava imprescindível a utilização de animais de tração.
pecuária, havendo nessa região
em torno de dois mil currais por Em suma, a pecuária era um setor básico para o funcionamento da economia
volta de 1640. Essa expansão es- como um todo. Dessa forma, veem-se amplas áreas especializadas nessa atividade,
tendeu-se por toda a centúria e como o sertão do Rio São Francisco até os rios Tocantins e Araguaia, amplas áreas
só se completou com a conquis- do Piauí, do Maranhão, o sertão da Bahia, os campos de Curitiba, o litoral do norte
ta do Piauí, já na primeira déca-
fluminense, a capitania da Paraíba do Sul e a Comarca do Rio das Mortes (atual sul
da do século XVIII.
de Minas Gerais).
Na porção meridional da Amé-
rica portuguesa verifica-se tam- FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; FARIA, Sheila de Castro.
A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX).
bém uma importante expansão São Paulo: Atual, 1988. (Discutindo a história do Brasil, p. 58-59).
da pecuária. No Rio de Janeiro,
temos a ocupação do atual Norte
Fluminense, então parte da aban-
284
donada capitania de São Tomé,
pelos chamados “sete capitães”,
expansão essa que se faz sol o AV-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 284 04/08/22 13:56 AV2

signo da pecuária. Também aqui e Laguna, voltadas para a criação de gado. A expansão pe-
a apropriação prévia da terra pe- cuária desenvolveu-se segundo um claro padrão. Buscou
los seus desbravadores gera um áreas cuja geografia fosse adequada à criação extensiva,
ou seja, razoavelmente planas e com uma vegetação pou-
quadro de monopólio fundiário,
co densa, constituindo-se em pastos naturais para nume-
obrigando os povoadores que vie-
rosos rebanhos. Inserem-se nesse padrão tanto a caatinga
ram em seguida a se submeter ao
do Nordeste quanto os campos das capitanias de baixo
pagamento de arrendamento.
(“Campos Gerais” e “Campos dos Goitacazes”).
No que era então o extremo
SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Fluxos e refluxos mercantis: centros,
sul da América portuguesa fun-
periferias e diversidade regional. In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro;
dam-se na segunda metade do GOUVÊA, Maria de Fátima (org.). O Brasil Colonial 1580-1720.
século as vilas de São Francisco Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. v. 2. p. 399-400.
284

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 284 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
11. a) I. 1750. Portugal e Espanha. Definia que a Colônia do Sacramento pertencia à Espanha e que Sete Povos Vozes do passado
das Missões pertencia a Portugal.
Com base na leitura do texto, copie em seu caderno as alternativas corretas. c) Sugestão de resposta: Já
a) A criação de gado era uma das principais atividades econômicas do Brasil colonial. não me incomodava de acor-
b) O gado era usado para mover as moendas dos engenhos, mas não para transporte de mercadorias. dar quando ainda estava escu-
c) A criação de gado é considerada um setor decisivo para o funcionamento da economia colonial. ro para embarcar, ou de dor-
d) A pecuária era praticada em várias partes do Brasil colonial, exceto no Piauí, no Maranhão e mir dentro do mato. Só quan-
no sertão da Bahia. 10. Alternativas A e C. do chovia, trovejava, e havia
grandes tempestades à noite
11 Responda o que se pede. é que eu me preocupava. Ti-
a) Monte um quadro, em seu caderno, sobre os tratados a seguir e preencha-o com: ano de nha muito medo de onça e de
assinatura; quem assinou; o que esse tratado definia. 11. a) II. 1777. Portugal e Espanha. A Espanha qualquer cobra que subisse à
I. Tratado de Madri. ficava com Sete Povos das Missões e com a Colônia do Sacramento e
devolvia a Portugal algumas terras do atual Rio Grande do Sul. minha rede. Procurava conser-
II. Tratado de Santo Ildefonso. 11. a) III. 1801. Portugal e Espanha. Os portugueses ficavam com Sete var o chão o melhor varrido
III. Tratado de Badajós. Povos das Missões e a Espanha recebia a Colônia do Sacramento. possível, e dormia com uma
b) Qual foi o primeiro tratado a reconhecer as novas fronteiras da América Portuguesa? espingarda por perto. Tive
11. b) O Tratado de Madri de 1750. várias vezes algumas ameaças
II. Leitura e escrita em História de doença; e era disso que eu
tinha mais medo.
d) No processo de interiori-
Vozes do passado
zação promovido pelos ban-
O medo sempre esteve presente na vida dos bandeirantes, apesar da habilidade que deirantes, muitas bandeiras
tinham no mato, a qual, em boa parte, era devida ao que aprenderam com os indígenas. partiam do interior paulista
Veja o que disse, numa carta de 1785, um integrante de uma expedição fluvial, que junto àquelas cidades às mar-
seguiu de São Paulo para o Mato Grosso. gens do rio Tietê. Esse rio foi
o principal eixo de interiori-
O acordar bem escuro para embarcar já não me dava abalo, nem o dormir dentro
zação que levava as bandeiras
do mato: só quando chovia, trovejava, e havia grandes tempestades à noite é que até as fronteiras dos estados
me afligia bastante, suposto que estava a enxuto. Tinha muito medo de onças e de de Mato Grosso e Goiás. Nes-
qualquer cobra que subisse à minha cama, e por isso sempre se armava entremeio das ses estados, outras expedições
outras, o chão bem varrido no modo possível, e com uma espingarda e uma pistola à fluviais partiam em busca de
cabeceira. Tive várias vezes algumas ameaças de moléstia, que não porfiava adiante; ouro e aprisionamento de
e era do que tinha mais medo. indígenas. O rio Cuiabá, por
SOUZA, Laura de Mello e. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas
fortificações. In: NOVAES, Fernando A.; SOUZA, Laura de Mello (org.). História da vida privada no Brasil:
exemplo, foi intensamente
cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. utilizado para esse fim. Rio
Vozes do passado. a) É um integrante de uma bandeira que seguia (História da vida privada no Brasil, v. 1, p. 56). Grande é outro rio impor-
a) Quem é o autor do texto? pelo curso dos rios (monção).
tante para a construção ter-
b) O que o autor do texto mais temia? Vozes do passado. b) Alternativa V. ritorial do interior brasileiro,
I. Acordar cedo. IV. Ser mordido por uma cobra. especialmente, no abasteci-
II. Dormir no mato. mento à região de Minas Ge-
III. Ser atacado por uma onça. V. Contrair uma doença. rais e no estímulo à cultura de
c) Reescreva o texto com suas próprias palavras. Vozes do passado. c) Resposta pessoal. rebanhos.
d) Pesquise: para ir de São Paulo ao Mato Grosso, quais os principais rios usados pelos bandei-
rantes? Vozes do passado. d) Resposta pessoal.

285

13:56 TEXTO DE APOIO


AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 285
mites brasileiros [...]. Isso porque ele colocou por terra as tradicio-
05/08/22 16:22
nais linhas de divisão fixadas pelo Tratado de Tordesilhas e que
Tratados e acordos no período colonial ainda foram utilizadas no Tratado de Utrecht, em 1713 [...]. Esse
Após o Tratado de Tordesilhas, passou-se um logo período sem acordo não resolveria as questões das fronteiras do sul, devido
que a questão dos limites das colônias espanholas e portuguesas aos conflitos em torno da Colônia de Sacramento e da ocupação
fosse discutida. Porém, durante o século XVIII, iniciou-se o debate portuguesa do Território das Sete Missões. Mas, segundo Virilio
sobre o estabelecimento dos limites da América portuguesa, sen- [...] ele traz a mudança de paradigma em torno da noção de sobe-
do que nessa etapa foram enviadas diversas expedições demarca- rania territorial, pois é a primeira vez em que a Coroa lusa busca
tórias, além da realização de tentativas de acordos diplomáticos fazer com que coincidam os conceitos de limite e de fronteira.
com a Espanha [...]. OLIVEIRA, Samara Mineiro. Formação das Fronteiras Brasileiras:
[...] O Tratado de Madri [...], assinado em 1750, é considerado um uma abordagem geo-histórica. Monografia (Bacharelado em Geografia) –
marco decisivo em torno das discussões diplomáticas sobre os li- Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2015. p. 67.
285

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 285 01/09/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, a autoavaliação

#JOVENS NA
é um aprendizado fundamen-
tal para a construção da auto-
nomia do aluno; além disso,
cumental
democratiza o processo, pois
envolve diferentes pontos de HISTÓRIA (s en
Análise do
sibilização para
análise
vista. Sugestões de perguntas o)
do discurs
para a autoavaliação:
• Você considerou interessan-
te a atividade ou os traba- PASSO 1 Ler
lhos realizados?
• Tinha conhecimentos ante- Leia o texto com atenção.
riores que o auxiliaram na
Uma voz nas comunidades
realização?
Rene Silva, morador do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, tinha 11 anos em
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí-
2005, quando lançou o “Voz “Voz da Comunidade”.
Comunidade”. O jornal era feito numa folha de papel ofício
cil, saberia dizer por quê?
dobrada. Cem exemplares xerocados foram distribuídos à época no próprio Adeus, tendo
• Como você avalia sua parti-
como reportagem principal o esgoto a céu aberto numa rua da favela. Mas o periódico
cipação no grupo? (Realizou
“Voz das Comunidades”.
mensal foi crescendo. [...]. E ganhou nome plural: “Voz Comunidades”. [...] [O jornal,
tarefas que contribuíram
neste ano,] completará 16 anos, terá formato standard, 12 páginas e 15 mil exemplares
para o trabalho? Sugeriu
[...], que serão entregues no Alemão, no Complexo da Penha e no Morro do Vidigal. [...]
formas de organizar esse tra-
— O mais gratificante é que conseguimos tornar o “Voz” uma referência dentro
balho? Colaborou com seus
das comunidades. As pessoas têm um canal, um espaço para falar e pedir, a fim de
colegas na realização de ta-
que possamos cobrar do poder público. Já reivindicamos várias questões em relação,
refas?)
por exemplo, à falta de iluminação pública, a esgoto a céu aberto, e a problemas de
• Você considera que a manei-
escassez e qualidade da água. Se acontece alguma coisa, positiva ou negativa, imedia-
ra como o tema foi abordado
tamente os moradores sabem a quem recorrer — diz Rene.
ajudou na sua compreensão
O jornalista [...] conta que a decisão de criar um jornal comunitário nasceu da
dos conteúdos e das propos-
leitura de publicações, quando ainda era aluno [na escola]:
tas de atividades?
— Abria os jornais e nunca via a favela sendo

REGINALDO PIMENTA/FUTURA PRESS


O trabalho com a seção
representada de maneira positiva. Sempre via
quer contribuir para o desen-
notícias ruins sobre mortes, tiroteios, tráfico. As
volvimento das competências
comunidades têm muito mais coisas.
gerais 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10 e da
[...]
competência específica 4.
• Temas Contemporâneos
Pelo seu trabalho, o jovem editor recebeu
Transversais: o desenvol- prêmios nacionais e internacionais. [...]
SCHMIDT, Selma. Jornal ‘Voz da comunidade’ completa 16 anos
vimento da seção permite com tiragem 150 vezes maior: ‘Conseguimos virar referência’,
aprofundar o trabalho com a diz Rene Silva. O Globo, Rio de Janeiro, 13 ago. 2021.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/jornal-voz-da-
macroárea cidadania e civis- comunidade-completa-16-anos-com-tiragem-150-vezes-maior-
mo. Aproveitar o tema para conseguimos-virar-referencia-diz-rene-silva-1-25153380.
Acesso em: 27 maio 2022.
reforçar o papel do prota-
gonismo social, e destacar
Rene Silva no Complexo do Alemão,
o mérito das pesquisas em no Rio de Janeiro (RJ), 2013.
diversas áreas do conheci-
mento para o progresso da 286
sociedade.

AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 286 05/08/22 16:25 264

286

264a288_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 286 03/09/22 11:03


ENCAMINHAMENTO
a) A falta de uma representação positiva da favela junto à mídia tradicional (jornais, TV), que mostravam apenas c) Orientar a turma quanto à
as notícias sobre mortes, tiroteios e tráfico, deixando de mostrar que na comunidade também acontecem muitas escolha das reportagens que
outras coisas.
PASSO 2 Questionar serão trabalhadas na atividade.
Depois de ler o texto, responda: b) Rene decidiu criar um jornal comunitário para es- e) Se possível, abrir espaço
cutar a voz das pessoas que vivem nas favelas e suas para a realização de um de-
a) Qual foi o problema identificado por Rene Silva? reivindicações junto ao poder público.
b) Qual foi a solução encontrada por ele para solucionar o problema? bate após as apresentações
dos relatórios para que os es-
PASSO 3 Pesquisar e agir Respostas pessoais.
tudantes possam ampliar seus
conhecimentos sobre a análi-
c) Em grupo. Analisem artigos e reportagens produzidos pelos jovens jornalistas do Jornal A Voz das se do discurso.
Comunidades. Cada grupo deverá escolher uma reportagem diferente.
d) Façam um levantamento sobre as informações a seguir.
• Quem escreveu a reportagem: analisem o perfil do repórter (idade, gênero, etnia, escolaridade, entre
outras).
• Qual é o tema da reportagem.
• A que público a reportagem se destina.
• Quais palavras, expressões e imagens sintetizam a ideia central da reportagem. de condutas atuais e de proje-
• Se, na opinião de vocês, o repórter conseguiu passar uma mensagem clara para o leitor ou se há tos para o futuro. Da identidade
barreiras no discurso que impedem a compreensão. pessoal, passamos para a iden-
• Quais são as impressões do grupo em relação ao discurso e qual é a mensagem recebida. tidade cultural, que seria a par-
e) Em seguida, organizem as respostas e elaborem um relatório. tilha de uma mesma essência
entre diferentes indivíduos.
Todos temos identidade, a pa-
PASSO 4 Apresentar e publicar

VOZ DAS COMUNIDADES


lavra inclusive está em nosso
f) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes dia a dia: no Brasil, somos re-
sociais da escola e marquem a postagem com gistrados em um documento, a
#jovensnahistória. identidade. Tal docu-
carteira de identidade.
mento é a representação oficial
do indivíduo como cidadão. Ele é
PASSO 5 Avaliar Respostas pessoais. uma representação, entre várias,
de nossa identidade social. Para
g) Realizei as tarefas a que me propus? a Psicologia Social, a identidade
h) Cumpri os prazos determinados? social é o que caracteriza cada
i) Expressei minhas ideias com objetividade? indivíduo como pessoa e define
j) Escutei meus colegas com atenção e respeito? o comportamento humano in-
fluenciado socialmente.
k) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
[...]
l) Aceitei críticas aos meus argumentos e
comportamento? Mas por que o conceito de
identidade é algo tão frisado pe-
las ciências humanas do século
XXI? Antropólogos e culturalis-
tas acreditam que a globalização
Fac-símile da capa do jornal aproximou culturas e costumes
Voz das Comunidades, e, logo, identidades diferentes.
de agosto de 2021. Assim, a convivência com o dife-
rente faz com que as identidades
aflorem. Por outro lado, a crise
do Estado nacional e dos valo-
res instituídos pelo Iluminismo
e pela Revolução Industrial tem
287 trazido a necessidade de cons-
trução de novos valores, busca-
dos sobretudo nas identidades
de grupos, de gênero, étnicas, re-
16:25 TEXTO DE APOIO
264a288-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 287 brasileira: o conhecimento dessa diversidade
26/08/22 17:36 gionais. Vemos, assim, a comple-
passa pela definição das identidades étnicas, xidade da noção de identidade
Identidade regionais, entre outras. A noção de identidade e sua enorme importância para
tornou-se, assim, um dos conceitos mais im- a construção da cidadania. Ao
Com o surgimento dos debates em torno da levantarmos em sala de aula a
portantes de nossa época.
pós-modernidade e do multiculturalismo, no fi- bandeira do respeito à diversida-
nal do século XX, o tema das identidades veio à [...]
de cultural, às minorias, estamos
tona na História. [...] Tanto para a Antropologia quanto para a Psi- nos inserindo na discussão sobre
Esse conceito tem atingido relevância tal para cologia, a identidade é um sistema de repre- a identidade. [...]
a compreensão do mundo de hoje que alcançou sentações que permite a construção do “eu”,
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel
já as salas de aula, o que é visível, por exemplo, ou seja, que permite que o indivíduo se torne Henrique. Dicionário de conceitos
na inquietação dos educadores em promover semelhante a si mesmo e diferente dos outros. históricos. São Paulo: Contexto. 2009.
a conscientização sobre a diversidade cultural Tal sistema possui representações do passado, p. 202-205.
287

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 287 01/09/2022 18:00


Esse livro apresenta, de forma didática, a influência dos africanos
Bibliografia e seus descendentes na construção da sociedade brasileira.
ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial:
(1500-1800). Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O Brasil holandês. São Paulo:
(Biblioteca Básica Brasileira). Penguin Classics, 2010.
Um dos primeiros livros da historiografia brasileira que investiga a Livro que reúne trechos dos mais importantes documentos sobre
formação do Brasil e seu processo de ocupação. a história do governo holandês no Nordeste brasileiro.

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma his- LIMA, Cinthia Almeida. Breves considerações sobre o humanismo
tória do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-O- de Giovanni Pico della Mirandola e Blaise Pascal. Revista Eletrô-
rientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. nica Espaço Teológico, São Paulo, v. 11, n. 20, p. 176-183, jul./
dez. 2017.
Livro com linguagem acessível sobre a História e Cultura Afro-bra-
sileiras, contadas pela perspectiva de historiadores negros. O artigo aborda o humanismo nas obras de dois filósofos renas-
centistas.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pú-
blica de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. MICELI, Paulo. História moderna. São Paulo: Contexto, 2013.
Um dos mais conceituados especialistas em Idade Moderna expli- O historiador narra, com base em mapas e documentos históricos,
ca o papel da propaganda na construção da imagem de um rei na os acontecimentos mais relevantes que caracterizam o período
França do século XVIII. Moderno.

CAMPOS, Raymundo Carlos Bandeira. Grandezas do Brasil no PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Mé-
tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996. dia: textos e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.
A partir dos discursos do jesuíta André Antônio Antonil, o autor Antologia dos principais textos e documentos medievais, abrange
apresenta o papel da sociedade açucareira no Brasil dos séculos os aspectos socioculturais, econômicos e políticos do medievo.
XVII e XVIII.
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da Améri-
DAVIDOFF, Carlos. Bandeirantismo: verso e reverso. São Paulo: ca Latina. São Paulo: Contexto, 2014.
Brasiliense, 1982. Livro que apresenta os principais personagens e debates relacio-
O autor analisa como a historiografia oficial construiu a imagem nados à complexidade dos processos históricos da América Latina.
dos bandeirantes como heróis e ocultou as práticas ligadas à es-
cravização indígena. RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das especiarias: o império
da pimenta e do açúcar. São Paulo: Contexto, 2006.
FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portugue- O historiador mostra, por meio de manuscritos raros, como Por-
sa. São Paulo: Atual, 2004. tugal construiu seu império colonial com o lucrativo comércio de
O livro aborda os vários modelos de constituição familiar na Amé- especiarias.
rica portuguesa.
REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um
FRAGOSO, João Luís Ribeiro; GOUVÊA, Maria de Fátima. O Brasil fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das
colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. v. 1. Letras, 1996.
Artigos de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimen- Obra que apresenta um panorama complexo da escravidão e da
to, que apresentam o estado da arte do Brasil colonial. resistência negra em busca de liberdade.

FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; RAMINELLI, Ronald. Andanças RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio
pelo Brasil colonial: catálogo comentado (1503-1808). São Pau- de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
lo: Ed. Unesp, 2009. Obra que analisa mitos consolidados sobre o processo de conquis-
O catálogo reúne narrativas de viagens que mencionam o Brasil. ta da América pela Espanha.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global, SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos.
2003. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
Uma das mais importantes obras historiográficas que discute a Nesse livro, o autor explica de forma simples como a cultura afri-
formação da sociedade brasileira pela mistura de culturas e raças. cana está ligada à trajetória dos brasileiros.

GRUZINSKI, Serge. A passagem do século (1480-1520): as ori- SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no século XVIII: poder político
gens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. e atividades econômicas. São Paulo: Alameda, 2012.
Estudo que faz um panorama sobre a expansão marítima euro- A autora aprofunda os diferentes aspectos da urbanização da
peia e o intercâmbio entre povos distantes na virada do século XV Bahia no contexto da estrutura colonial portuguesa.
para o XVI.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo:
NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia R. Os povos da Ática, 2006.
América: dos primeiros habitantes às primeiras civilizações urba- Importante obra que apresenta um panorama do continente afri-
nas. São Paulo: Atual, 1996. (História geral em documentos). cano, desde sua formação até a contemporaneidade.
Obra sobre os povos que habitavam a América antes da chegada
dos europeus. VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-
1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
MATTOS, Regiane A. História e cultura afro-brasileira. São Livro de referência com verbetes essenciais para o estudo dos três
Paulo: Contexto, 2007. primeiros séculos da história do Brasil.

288

AV2-HIS-F2-2111-V7-U4-C12-LA-G24.indd 288 05/08/22 16:30

288

D3_HIS-F2-2111-V7-U4-C12-MP-G24.indd 288 01/09/2022 18:00


7

História
ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA

ISBN 978-85-96-03552-1

9 788596 035521

D1_PNLD24_2111_CAPA_Hist_Boulos_V7_MP.indd 1 15/08/22 14:24

Você também pode gostar