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2683-Texto Do Artigo-9262-2-10-20210225
2683-Texto Do Artigo-9262-2-10-20210225
Pamela Rosa-Gonçalves
Colégio Pedro II
pamelarosa@cp2.g12.br
http://orcid.org/0000-0002-2425-5310
Resumo
Abstract
Introdução
Como estes autores apontam, há uma evidente relação entre a temática e o cotidiano
da sociedade. De fato, Grupos Sanguíneos é um dos temas onde os alunos trazem,
naturalmente, uma grande bagagem de conhecimentos prévios potencialmente adquiridos
no seu meio social (FONSECA; TARTAROTTI, 2017; PINHEIRO; COSTA; SILVA, 2013) e,
por esse motivo, carregam mais sentidos relacionados ao senso comum do que à Ciência.
Em concordância, tal percepção é compartilhada pela docente autora deste trabalho,
através da experiência agregada em sua práxis, o que justificou a escolha da temática para
o desenvolvimento desta proposta didática. Como estratégia, optamos pela inserção de
discussões mais amplas acerca do tema, para além de vínculos de paternidade e
probabilidades de heranças de tipos sanguíneos, fomentando discussões relativas à ética
e ao impacto da Ciência na sociedade. Além disso, procuramos sanar alguns erros
conceituais frequentes em livros didáticos, como já apontado por diferentes autores, por
exemplo, a possibilidade da ocorrência de reação transfusional entre doador/receptor
compatíveis para os sistemas ABO/Rh, reconhecer o Falso O como um fenótipo diferente
do grupo sanguíneo O (BATISTETI et al., 2007a, 2007b; PSCHISKY, 2003; VIEIRA, 2013).
Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo elaborar, aplicar e avaliar a
adequação de uma proposta didática de aprendizagem ativa, do tipo ABP, para o ensino
de Grupos Sanguíneos aos alunos do Ensino Médio.
Metodologia
A presente atividade foi aplicada para três turmas de 3ª Série – totalizando noventa
e três alunos – do Ensino Médio Regular de um Colégio Federal de Ensino Básico,
localizado na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
Foram elaborados quatro Estudos de Caso a partir dos temas geradores: 1- Reação
Febril Não Hemolítica; 2- Doação de Medula Óssea; 3- Doença Hemolítica do Recém-
Nascido e 4- O Falso O. Os nomes dos casos, porém, foram omitidos nos roteiros
fornecidos aos alunos. Elegemos a estratégia de elaborar roteiros pois, deste modo,
acreditamos permitir maior autonomia na execução dos procedimentos e na auto-gestão no
desenvolvimento da atividade. Um exemplo de roteiro dos Estudos de Caso encontra-se no
Apêndice A.
Os estudos de caso foram contextualizados com o conteúdo curricular “Polialelia”,
onde a temática de Grupos Sanguíneos (sistema ABO) configura-se como o principal
exemplo deste tipo de herança genética em seres humanos (PSCHISKY; FERRARI, 2002).
Os roteiros de cada caso foram estruturados de modo a apresentar três etapas comuns,
sendo elas: a) apresentação do caso, b) tipagem sanguínea e c) contato com a situação-
problema. As etapas subsequentes que completam toda a atividade da ABP não são
roteirizadas, e podem ser identificadas como, d) investigação e e) Congresso Interno do
1 O método ABP preconiza a realização de tutorias. Aqui, adaptamos com a inclusão da modalidade de ensino
à distância.
2 O Moodle (do inglês Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é uma plataforma online, de
Fonte: as autoras. (As imagens utilizadas concedem licença para uso e foram obtidas no domínio
https://www.publicdomainpictures.net/ , exceto pela imagem usada em ‘a’, obtida em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hemifilia.png).
3 Curiosamente, no momento de redação desse artigo, noticiou-se o segundo caso de cura de pessoas
soropositivas após transfusão de MO em decorrência de uma leucemia (“Paciente fica ‘livre’ de HIV após
transplante de células-tronco”, 2019). Acredito que o caso 2, de algum modo, tenha aberto a possibilidade de
compreensão do ocorrido por parte dos estudantes que participaram dessa atividade. Esse é um exemplo
prático de como casos simulados podem favorecer o entendimento de aplicações biotecnológicas com
impacto na saúde e na sociedade.
4 No caso, propõem-se que uma das gêmeas nasceu saudável (sem DHRN) e tem tipo sanguíneo A.
5 A notícia veiculada conta sobre o primeiro caso de doação de sangue internacional de um brasileiro,
residente no Ceará, com o fenótipo falso O. A receptora foi uma bebê colombiana. A reportagem diz, ainda,
que há apenas 11 famílias brasileiras com tal fenótipo registradas (“Sangue raro presente em apenas 11
famílias brasileiras salva bebê na Colômbia”, 2017).
Conteúdos
Conteúdos necessários para a a, b, c I, II, III, IV
Conceituais
elucidação e/ou conclusão do Todos os grupos
Mínimos
caso. e atingiram (100%).
(CCM)
I – todos os grupos
apresentaram, pelo
menos, um tipo de CA
Conteúdos contextualizados que
(100%);
contribuem na formação de
Conteúdos II – dois grupos
valores e atitudes, avaliados a
Atitudinais atingiram (66,7%);
partir de discussões e
(CA) III – todos os grupos
espontaneamente trazidas pelos
atingiram (100%);
alunos.
IV – nenhum grupo
atingiu (0%).
Considerações finais
Agradecimentos
Referências
BATISTETI, Caroline Belotto; CALUZI, João José; ARAÚJO, Elaine Sandra Nabuco de;
LIMA, Sérgio Guardiano. O sistema de grupo sanguíneo Rh. Filosofia e História da
Biologia, v. 2, n. 2, p. 85–101, 2007a.
BATISTETI, Caroline Belotto; CALUZI, João José; ARAÚJO, Elaine Sandra Nabuco de;
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nos Livros Didáticos de Ciências e Biologia. In: VI ENCONTRO NACIONAL DE
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O CASO 1
anti-A anti-B
anti-D
Etapa 3 — Situação-problema
O paciente Z foi encaminhado para receber a transfusão de sangue. Logo após o
início da transfusão, transcorridos 30 minutos, vocês percebem que Z está apresentando
algumas reações: tremores, calafrios e vômito. Além disso, vocês também percebem que
a temperatura do paciente aumentou em torno de 1oC. “O paciente está tendo uma reação
à transfusão!!” - Diz Dr. Van. Vocês ficam com receio de não ter feito a tipagem sanguínea
correta ou terem utilizado uma bolsa de sangue errada. Sabendo que fizeram todos os
procedimentos corretos, o que pode estar acontecendo?
Com sua experiência, Dr. Van explica que os sintomas são característicos de uma
reação febril não-hemolítica, um dos tipos de reações transfusionais mais comuns. Faz
sentido? Não... vocês mataram algumas aulas quando estavam na faculdade... que feio!!!
Agora precisam correr atrás do prejuízo. Vamos lá!
A elaboração dos materiais para tipagem sanguínea teve como premissa envolver
os alunos em uma atividade experimental de modo seguro, sem riscos de exposição ao
sangue humano e a objetos perfuro-cortantes contaminados. Para isso, foram preparadas
amostras e reagentes artificiais e isentos de material biológico, de forma a mimetizar o
sangue humano e o kit de reagentes (anticorpos) de tipagem sanguínea para os sistemas
ABO e fator Rh.
O kit de insumos (Figura 2) — específico para cada estudo de caso — é composto
de: tubo de ensaio de vidro com tampa de rosquear, identificado (Figura 2A, correspondente
ao sangue do paciente); kit de reagentes contendo três frascos conta-gotas rotulados
(Figura 2B, correspondente aos anticorpos reagentes “anti-A”, “anti-B” e “anti-D”); papel de
filtro com marcação; dois palitos de madeira; duas lâminas de vidro 25,4 x 76,2 x 1,0 mm
(Figura 2C) e suporte para tubos de ensaio (Figura 2A).
Os kits de anticorpos reagentes apresentam em sua composição água, corante
alimentício azul ou amarelo e presença ou ausência de vinagre branco. A amostra que
(A) sangue artificial; (B) anticorpos anti-D, anti-A e anti-B, respectivamente; (C) palitos, lâminas de vidro e
papel de filtro posicionado embaixo das lâminas para orientar o local onde gotejar o sangue e os anticorpos.
Fonte: as autoras.
Referências
ARNOLD, Savittree Rochanasmita et al. The classroom-friendly ABO blood types kit: Blood
agglutination simulation. Journal of Biological Education, v. 46, n. 1, p. 45–51, 2012.