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Sexualide Adolescente
Sexualide Adolescente
A sexualidade, uma das características mais importantes do ser humano, está presente
desde os primórdios da vida. O ser humano é movido por suas pulsões libidinais direcionadas à
busca do prazer e estas se manifestam muito precocemente. Manifestações sexuais podem ser
visualizadas em imagens ultrassonográficas de fetos do sexo masculino, como por exemplo a
ereção peniana. Já as meninas desde os primeiros dias de vida apresentam lubrificação
vaginal. Estes comportamentos são uma demonstração da potencialidade biológica para o
desenvolvimento da sexualidade. Sensações sexuais estão presentes durante todo o
desenvolvimento da criança, desde a amamentação até o início pubertário, quando então há
uma intensificação destas sensações. É com a chegada da puberdade, com o desenvolvimento
físico, que o ser humano se torna apto a concretizar a sexualidade plena através do ato sexual
propriamente dito, que permite tanto obter prazer erótico como procriar.
O aumento do interesse sexual coincide com o surgimento dos caracteres sexuais
secundários. Este interesse é influenciado pelas profundas alterações hormonais deste período
da vida e pelo contexto psicossocial. O prazer resultante do ato sexual diferencia o ser humano
do restante dos animais. Ele é o único ser que, objetivamente, pode ter relação sexual só pelo
prazer e não com finalidade reprodutiva (Levin, 1969; Dolto, 1977) e na adolescência isso se
torna evidente (Silber, 1985).
Apesar da sexualidade ser definida como um conjunto de fenômenos que permeia
todos os aspectos de nossa existência ela é vista inicialmente como um fenômeno biológico.
Porém, sabe-se que é também social e psicológico e só pode ser compreendido quando
situado no âmbito e nas regras da cultura em que se vive. Em cada sociedade são diferentes
as proibições e permissividades em relação à atividade sexual. No processo de adaptação
cultural do ser humano, o controle da sexualidade é um dos aspectos centrais. Praticamente
todas as culturas impõem alguma forma de restrição ao comportamento sexual.
A complexidade e ambigüidade da sexualidade residem principalmente no fato da
reprodução não ser seu objetivo primordial. Historicamente podemos observar que a sociedade
humana se iniciou com uma proibição ao livre exercício da sexualidade, o tabu do incesto
(Lévy-Strauss apud Dor, 1989). A religião também exerceu e ainda exerce grande influência no
comportamento sexual dos indivíduos. Segundo a interpretação da igreja católica sobre a
criação do mundo, Adão e Eva foram expulsos do paraíso porque se tornaram sexuados. No
paradigma monástico do início da era cristã, todas as pessoas sexuadas eram consideradas
pecadoras. Só os monges, que viviam isolados no deserto eram puros. Porém, mais tarde, no
século IV, outra interpretação foi dada por Santo Agostinho, que acreditava que o castigo divino
a Adão e Eva deveu-se ao prazer resultante do ato sexual e não ao ato em si. A partir daí, a
concupiscência da carne, passou a ser considerada um pecado (Ariès & Duby, 1995). Em
outras culturas e em outras épocas da humanidade restrições ao livre exercício da sexualidade
foram impostas por motivos econômicos, como por exemplo no desenvolvimento da sociedade
capitalista o sexo foi reprimido porque ser incompatível com o trabalho (Foucault, 1988).
Em nossa sociedade sexo ainda é um tabu e os problemas relativos à sexualidade são
muito freqüentes. Acompanhar desde cedo o processo de desenvolvimento pode ajudar o
adolescente a prevenir problemas futuros como abuso sexual, gravidez não desejada,
promiscuidade ou dificuldades sexuais propriamente ditas como frigidez, impotência sexual,
ejaculação precoce, etc.
Desenvolvimento Psicossexual
Freud, o “pai” da psicanálise, elaborou uma teoria sobre a sexualidade, até hoje
referida pela maioria dos autores. Ele classificou o desenvolvimento sexual em cinco fases:
oral, anal, fálica, latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização corporal da
principal fonte de sentimentos prazerosos.
Primeiro ano de vida
Nesta etapa da vida, o bebê a princípio não se diferencia de sua mãe, sentindo-se
ligado a ela, como se ambos fossem uma só pessoa. Sua comunicação com o mundo se dá
principalmente através da boca, pela sucção e pelo choro. O bebê sente-se bem quando suas
necessidades orgânicas internas são saciadas através da amamentação. Ele sente-se seguro e
calmo também quando é acariciado e aconchegado ao colo. Esta etapa foi denominada por
Freud de “fase oral”, pois a boca é a parte do corpo onde há primazia dos sentimentos
prazerosos. Porém, não é só a boca a detentora destes sentimentos prazerosos nesta fase. O
bebê também gosta e necessita ser acariciado em todo o seu corpo. Durante o primeiro ano de
vida o bebê descobre fortuitamente seus genitais e sente prazer em tocá-los. É comum em
serviços de saúde vermos os bebês manipularem seus genitais assim que suas mães retiram-
lhes a fralda para serem examinados pelo médico. O hábito de chupar o dedo ou a chupeta, a
necessidade de colocar tudo na boca, quando já tem coordenação motora para isso, o desejo
de morder, tudo isso é representativo do prazer que o bebê sente na região oral.
Período pubertário
O início da puberdade, com o estímulo dos hormônios sexuais, propicia uma
intensificação das emoções sexuais. Com o desenvolvimento do corpo e dos órgãos genitais,
há um aumento do desejo sexual, que agora tem um órgão sexual pronto para consumá-lo. A
masturbação volta a ser freqüente, não mais como uma atividade auto-erótica e sim com um
fim sexual (Knobel, 1984). Ou seja, na fase fálica as crianças se masturbam por sentir prazer
neste ato. Na fase pubertária, em que os órgãos genitais estão em desenvolvimento, os
adolescentes se masturbam pensando em alguém, imaginando um ato sexual. É nesta fase
que ocorre o início da atividade sexual genital propriamente, a que Freud denominou “Fase
genital”.
Abordagem da sexualidade
Como é durante a adolescência que o desenvolvimento sexual adquire a sua plenitude,
permitindo a procriação, é fundamental que este tema seja privilegiado pela equipe de saúde
que atende o adolescente. Quando um/uma adolescente procura um serviço de saúde, por
qualquer motivo, é uma grande oportunidade para que se possa orientá-lo(la) sobre questões
sexuais e identificar se há algum problema nesta área. É importante também chamar a atenção
que lidar com questões relativas à sexualidade dos pacientes é também mobilizar sentimentos
e experiências do próprio profissional envolvido.
Um adolescente pode procurar um serviço de saúde para esclarecer dúvidas em
relação a seu corpo ou ao funcionamento de seus órgãos genitais. Porém ele também pode
procurar este serviço com queixas somáticas ou dificuldades de relacionamento em algum
ambiente social que tem como pano de fundo um problema de natureza sexual. Portanto, em
qualquer atendimento de um adolescente em um serviço de saúde a questão da sexualidade
deve ser abordada.
Em primeiro lugar precisamos identificar em que fase do desenvolvimento puberal o/a
adolescente se encontra, pois, como já foi descrito acima, existem preocupações
características das diversas fases da adolescência. Em seguida é importante perguntar sobre
as experiências sexuais que o/a adolescente já teve. Para não invadir ou ferir a timidez de
alguns adolescentes e se obter respostas sinceras, deve-se primeiro falar de assuntos neutros.
Perguntar genericamente sobre a escola, atividades nas horas de lazer, sobre amigos. Depois
perguntar sua opinião sobre namoro, orientação sexual recebida em casa, etc. A partir daí já se
tem um quadro desenhado sobre o adolescente e pode-se ir direto ao assunto, perguntando-
lhe como se sente em relação ao sexo, quais as experiências que já teve, prazerosas ou não,
traumáticas ou não e que conseqüências ele acha que isso teve para sua vida.
A orientação a ser dada pelo profissional de saúde não pode ser preconceituosa e nem
carregada de códigos morais ou religiosos. Devem ser utilizadas de preferência terminologias
próprias e não gírias. É necessário orientar o adolescente e sua família sobre as
transformações que ocorrem em seu corpo, sobre as sensações sexuais, o caráter normal da
masturbação, da curiosidade sexual, do tamanho dos órgãos genitais e sobre o ato sexual
propriamente dito e suas conseqüências. Enfatizar que o ato sexual envolve duas pessoas, é
de caráter íntimo e privado e que ambas têm que estar de acordo com o que está sendo feito e,
portanto, prontas para assumir as responsabilidades advindas deste. No caso de adolescentes
que já tenham atividade sexual genital, ou estejam prestes a iniciá-la, estes devem ser
orientados quanto à anticoncepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
O profissional de saúde deve estar aberto e disponível a responder perguntas que o
adolescente ou sua família possam ter. É importante também ser continente às angústias por
que passam nessa etapa da vida.
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