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São Paulo
2022
PRISCILLA PIMENTEL DE FREITAS
São Paulo
2022
Priscilla Pimentel de Freitas
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:
______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:
______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:
AGRADECIMENTOS
Aos meus maiores amores dessa vida, meu irmão, Leonardo, e meu marido, André, sem
vocês eu não teria chegado aqui. Obrigada pelo apoio moral e emocional, vocês são minha vida.
Obrigada aos meus pais por serem pacientes e sempre me apoiarem em minhas escolhas. À
minha família que eu amo tanto, todos fazem parte do meu crescimento como pessoa e
profissional.
Agradeço a todos os profissionais maravilhosos que tive a oportunidade de conhecer e
com eles aprender. Aos professores da graduação e da especialização, vocês são meus ídolos.
Obrigada a todos os seres não humanos que já passaram pela minha vida, vocês são os
melhores professores. Com vocês aprendi o verdadeiro significado de amor, respeito e
responsabilidade. Espero continuar aprendendo.
RESUMO
Reptiles have increased in popularity as pets in recent years, and without proper
guidance on the biology and physiology of these animals many tutors end up making husbandry
mistakes that reflect on the animal’s health. In wild life clinics we routinely treat animals with
problems caused by incorrect husbandry management and handling. Dystocia, or egg retention,
is one of the most common problems, especially in Testudines (Turtles, Tortoises and
Terrapins). It is very important that there is a thorough investigation with the help of diagnostic
tests, such as imaging tests (X-rays, ultrasounds, endoscopies or CT scans), to correctly
diagnose the problem and choose the best course of treatment. This is a report of the case of a
35-year-old female Yellow-footed Tortoise (Chelonoidis denticulatus), raised in captivity with
inadequate husbandry, which suffered from egg retention. After confirming the diagnosis with
an x-ray, a less invasive treatment using hormonal drugs (Oxytocin) and calcium
supplementation (Calcium Gluconate) was attempted, but as the treatment didn´t result in egg
laying, surgical treatment was necessary. The plastron was opened (plastron osteotomy) to
access the coelomic cavity (coeliotomy) and then the retained eggs were removed. As a way to
avoid relapses or new problems, an ovariosalpingectomy was performed, removing ovaries and
oviducts. Plastron osteotomy healing was slow (taking 10 to 11 months), and different types of
dressings were required over the healing phase, but she succesfully recovered.
Keywords: Dystocia. Tortoise. Reptile. Wrong husbandry. Wild life medicine and
surgery. Plastron osteotomy. Ovariosalpingectomy. Captivity.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
3 RELATO DE CASO............................................................................................................ 29
4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 33
1 INTRODUÇÃO
ductos deferentes nos machos) e o Proctodeo (serve como reservatório para a eliminação fecal
e urinária) (BENNETT, 2006; O’MALLEY, 2005).
Possuem respiração pulmonar e o pulmão encontra-se aderido dorsalmente à carapaça.
Não há diafragma separando tórax e abdômen, mas sim uma cavidade única chamada celoma.
Nos Cryptodiras a traqueia é bem curta e se bifurca logo no terço inicial, possibilitando a
retração da cabeça. Não possuem gradil costal expansivo por conta do casco rígido e falta de
diafragma, portanto, para respirar, eles desenvolveram fortes músculos do tronco, que
expandem e contraem os pulmões com ajuda da pressão dos outros órgãos da cavidade
celomática, auxiliando na expiração. Na inspiração o ar é bombeado para o pulmão por
movimentos bucofaríngeos. Além dos pulmões, eles possuem sacos aéreos que são reservas de
ar, não ocorrendo trocas gasosas. Algumas tartarugas aquáticas complementam sua respiração
por outros meios, como a respiração cloacal, bucofaríngea ou cutânea, o que lhes permite ficar
mais tempo submersas (GOULART, 2004; O’MALLEY, 2005; TRACCHIA, 2018).
Possuem dois rins localizados na cavidade retrocelômica, geralmente caudo-dorsal à
carapaça e cranial à cintura pélvica. Os rins são metanéfricos, mas não possuem alça de Henle
nem pelve renal (DUTRA, 2014). Podem excretar amônia, ureia ou ácido úrico, dependendo da
espécie e sua biologia. O sistema porta-renal desvia parte da circulação pélvica-caudal
diretamente para os rins, especialmente durante períodos de desidratação, para fornecer sangue
às células tubulares, evitando uma necrose isquêmica (HOLZ, 1999; DIVERS; STAHL, 2019).
O dimorfismo sexual ocorre na maioria dos indivíduos em fase adulta e varia de espécie
para espécie. São características como: formato do plastrão (pode ser côncavo em machos e
reto em fêmeas), tamanho da cauda (machos podem ter caudas mais longas e espessas), cloaca
(a abertura da cloaca é maior e mais proximal nas fêmeas e em machos mais distal), tamanho
das unhas (nos membros pélvicos, podem ser mais longas nas fêmeas), cor (macho e fêmea
podem possuir diferentes colorações), entre outros (O’MALLEY, 2005; CUBAS; FOWLER,
2001).
A maturidade sexual dos Testudines está mais associada com crescimento e
desenvolvimento do que com a idade e varia de espécie para espécie, e em animais de cativeiro
pode acontecer mais cedo do que em vida livre (O’MALLEY, 2005). Todas as espécies são
ovíparas e a fertilização é interna. Nos machos, os dois testículos são localizados cranialmente
aos rins; são ovais, compridos e amarelados. Já o pênis, quando não engorgitado, se encontra
na parede ventral do proctodeo e não é usado para urinar (a uretra não passa por ele); geralmente
é grande, escuro, macio e expansível. Nas fêmeas, os dois ovários também se encontram
cranialmente aos rins. São amarelados, saculares, irregulares, com vários tamanhos e estágios
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No Brasil, assim como em outros países da América do Sul, são encontradas as espécies
C. carbonarius (SPIX, 1824) e C. denticulatus (LINNAEUS, 1766), conhecidas comumente
como Jabuti-piranga e Jabuti-tinga respectivamente. São animais com características
morfológicas, hábitos e biologia similares, mas se diferem em alguns aspectos (ERNEST;
BARBOUR, 1989). Em questão de tamanho, a C. denticulatus se sobressai, o comprimento de
carapaça de uma animal adulto varia de 50 a 70cm em machos e de 40 a 60cm em fêmeas, já a
C. carbonarius varia de 30 a 40cm (CAVALHEIRO; BESSA, 2016; PRITCHARD, 1979;
PRITCHARD; TREBBAU, 1984). A C. denticulatus é encontrada principalmente em áreas
úmidas de florestas densas, tropicais e subtropicais, já sua irmã habita ambientes mais variados
como regiões mais secas de cerrado e vegetação florestal, mas as duas podem ocorrer em
simpatria, principalmente em regiões de transição entre cerrado e floresta (PRITCHARD;
TREBBAU, 1984; MARTINEZ-TORRES; GÓMEZ-ALDANA; DE LA OSSA, 2010;
FARIAS et al., 2007).
O Jabuti-piranga também é conhecido como Jabuti-de-patas-vermelhas, enquanto o
Jabuti-tinga pode ser chamado de Jabuti-de-patas-amarelas. Isso se deve às suas características
de cor, dos membros e da cabeça, mas não é uma característica morfológica muito confiável
para diferenciar as espécies (PRITCHARD, 1979; PRITCHARD; TREBBAU, 1984). Segundo
Hagan (1989) as principais características que diferem as duas espécies são: forma do escudo
inguinal, a relação entre o tamanho das suturas femoral e umeral, ou seja, se o escudo gular se
sobrepõe ou não alcança a carapaça, e a forma de crescimento da carapaça e das escamas pré-
frontais.
Essas espécies possuem hábitos alimentares semelhantes, são ambas onívoras por
oportunidade, se alimentam de itens que encontram mais facilmente em seu caminho como:
frutas, flores, folhas, invertebrados e carcaças de vertebrados, fungos e terra (MOSKOVITS,
15
1985; JEROLIMSKI, 2009). Segundo um estudo feito por Jerozolimski et al. (2009) as frutas
são o segundo item mais consumido por essas espécies, especialmente a C. denticulatus, e com
isso elas foram consideradas importantes dispersoras de sementes.
Além dos hábitos alimentares, elas se assemelham quanto às características
reprodutivas. O dimorfismo sexual se dá através do formato do plastrão, abertura do escudo
anal, formato da cauda e comportamento reprodutivo (cópula e nidificação), mas só confiável
em animais com comprimento de carapaça maior que 280 mm (animais com maturidade sexual)
(MOSKOVITS, 1988; PRITCHARD; TREBBAU, 1984). O período reprodutivo é influenciado
pelas estações do ano e ocorre, geralmente, a partir do mês de outubro, podendo variar em cada
região de acordo com seus fatores climáticos. O período de desova acontece preferencialmente
após o período de chuvas, pois facilita a nidificação. As fêmeas podem ter múltiplas desovas
durante esse período e costumam enterrar seus ovos em locais com baixa umidade e boa
incidência de raios solares. O tempo de incubação desses ovos pode variar de acordo com a
temperatura, mas dura cerca de 4 meses (HIGHFIELD, 1996; VANZOLINI, 1999).
Jabutis estão entre as espécies de répteis mais encontradas em cativeiro e como pets no
Brasil. São animais protegidos pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis) e precisam de autorização especial para serem criados.
Manter esses animais em cativeiro pode ser um desafio, são vários os parâmetros
ambientais, dieta e cuidados preventivos que devem ser controlados para que o animal tenha
uma vida saudável e longa. Dentre eles estão: Controle de temperatura e umidade, substrato
adequado, vegetação, acesso a luminosidade e radiação solar (UVB), componentes da dieta,
oferta de água, controle de parasitas e doenças infectocontagiosas, etc (CUBAS; FOWLER,
2001; DIVERS; STAHL, 2019).
A temperatura ideal do ambiente deve ser entre 20 a 30°C e devem ser criadas diferentes
zonas térmicas para que o animal regule sua própria temperatura, acessando o sol ou se
escondendo na vegetação ou em casas, também pode ser oferecido um local para que o animal
entre na água, mas não fique submerso (CUBAS; FOWLER, 2001). Além disso, a dieta deve
ser balanceada com alimentos de qualidade e o animal deve sempre fazer acompanhamento
veterinário.
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Erros de manejo podem acarretar sérias consequências na saúde dos animais a curto e
longo prazo. Doenças causadas por esses erros estão, em sua maioria, ligadas à desidratação,
alimentação incorreta e/ou falta de radiação UV. Algumas delas são: Hepatopatias diversas,
doença osteometabólica (hiperparatireoidismo secundário nutricional), gota úrica, distúrbios
renais, cálculos císticos, obesidade, hipovitaminoses, bócio, distocias etc (DUTRA, 2014).
1.4 Objetivos
2 REVISÃO DE LITERATURA
disso, traumas, infecções bacterianas e obesidade também podem ser causas para distocia
(DENARDO; STAHL, 2019; FRYE, 1991; MATIAS, 2006).
Denardo e Stahl (2019) aconselham, mesmo sendo difícil na maioria dos casos, sempre
tentar identificar a causa da distocia para que o tratamento seja mais completo e para que sejam
tomadas providências para não haver recidivas.
2.2 Diagnóstico
Quando o procedimento não pode ser realizado via pré-femoral, resta recorrer à
celiotomia via plastrotomia. Suas indicações são: cirurgia exploratória, biopsia, celomite,
problemas no trato gastrointestinal, remoção de urólitos, remoção de ovos retidos e outras
resoluções para o sistema reprodutivo, entre outros (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).
A abertura do plastrão requer ferramentas que vão um pouco além do instrumental
básico por estarmos lidando com tecidos queratinizados e ósseos, além dos tecidos moles. As
opções de ferramentas que são mais descritas são: Micro retífica com ponteira para corte
(Dremel®, Makita®); serras oscilantes ou oscilatórias, cirúrgicas ou não; brocas odontológicas;
e furadeiras ortopédicas pneumáticas. É importante que o material, pelo menos a ponteira, seja
autoclavável ou permita a esterilização de alguma outra maneira (DIVERS; WÜST, 2019;
MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
É importante fazer o planejamento de abertura do plastrão levando em conta o local
pretendido para o caso, anatomia topográfica, o tamanho da janela necessária para o
procedimento pretendido, a espessura da carapaça, tudo isso sem causar maiores danos às
estruturas locais e adjacentes. Além disso, também são necessários um planejamento
anestésico, protocolo farmacológico adequado, intubação, posicionamento do animal e
antissepsia muito bem feita (pode-se utilizar escovas com antissépticos para fazer a limpeza dos
sulcos entre os escudos, principalmente) (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).
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grandes. Não é aconselhável a transecção das duas veias abdominais. Após a incisão se obtém
acesso a cavidade celomática e o procedimento pretendido pode ser realizado (DIVERS;
WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Terminado o procedimento, é aconselhável fazer a lavagem da cavidade com solução
estéril aquecida e subsequente drenagem para retirada de possíveis debris ou contaminantes.
Depois faz-se a síntese dos tecidos incisados. A membrana celomática pode ser suturada em
padrão simples contínuo com fio absorvível de polidioxanona (preferido para a linha alba),
poliglecaprone 25 ou poligliconato (incisões paramediais). Divers e Wüst (2019) indicam a
realização de três ou quatro suturas de ancoragem do fragmento ósseo ao plastrão, em lados
diferentes, através de estreitas perfurações nas duas estruturas paralelamente. Podem ser feitas
com fio absorvível de polidioxanona ou fio de cerclagem para animais maiores.
Antes de fazer a síntese do plastrão, deve ser realizada a limpeza externa, retirando todos
os debris resultantes da abertura, sangue, tecidos ou contaminantes. Após secar o local é
indicado preencher as brechas feitas pela incisão, pode-se usar cera para osso estéril e
absorvível, esponjas de colágeno absorvíveis, hidrogel estéril (Intrasite Gel®), entre outros
itens. Após a selagem, retirar o excesso e proteger as linhas de incisão com fita micropore ou
esparadrapo impermeável, aplicando-se também em áreas aonde não se deseja que o material
utilizado posteriormente entre em contato. Por fim completa-se a síntese usando materiais como
resina epóxi (poliepoxido) ou resina acrílica (polimetilmetacrilato). McArthur et al. (2004)
indica o uso da mistura de fibra de vidro com resina epóxi e ainda cita os usos de resina para
cascos (Technovit®), cimento odontológico e Ester de Cianocrilato (cola cirúrgica, super cola,
Super Bonder®). Materiais que são exotérmicos podem produzir muito calor a ponto de causar
necrose térmica no osso subjacente, por isso é aconselhável o uso de gazes embebidas em
solução fisiológica gelada ou irrigação direta da solução no local que foi aplicada a resina
(DIVERS; WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
A cicatrização do plastrão geralmente leva 12 semanas, mas pode ser mais longa, por
isso a cobertura é retirada somente em 6 a 12 meses após a cirurgia. Deve ser feito o
acompanhamento dessa ferida cirúrgica através de radiografias para verificar a presença de
osteomielite através da osteólise. No pós-cirúrgico é importante que animais não tenham
contato com a água durante algumas semanas inicialmente; é necessária a prescrição de
antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios; controle dos parâmetros ambientais (temperatura,
umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta balanceada) (DIVERS; WÜST,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
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2.4.3.1 Ovariossalpingectomia
2.4.3.2 Salpingotomia
(do ovo ao oviduto) usa-se solução fisiológica aquecida, instilada dentro do lúmen do oviduto
e gazes umedecidas com esta solução por fora do local; e com manipulação leve, tenta-se
desfazer a aderência. Se não houver sucesso, uma nova incisão deve ser feita no local (STAHL,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Após a retirada dos ovos, checa-se a entrada da pelve para evitar que nenhum ovo seja
deixado. Avalia-se as características do oviduto, como presença de inflamação ou necrose, e se
for necessário deve ser feita a retirada deste oviduto (Salpingectomia, uni ou bilateral) da forma
já descrita anteriormente. Se não houver alterações, as incisões no oviduto podem ser fechadas
com sutura padrão simples contínuo ou padrão invaginante usando fio monofilamentar
absorvível. É muito importante, também, fazer a inspeção dos ovários para checar atividade,
degeneração ou estase folicular. Se for necessário, uma ovariectomia poderá ser realizada como
descrito anteriormente (STAHL, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Ao finalizar o procedimento, seja ele qual for, se deve sempre checar a presença de
contaminantes na cavidade, ovos ectópicos (no celoma e na bexiga), gemas soltas, aderências
nas serosas dos órgãos por inflamações (celomite) ou tecidos necróticos. Em seguida, fazer a
lavagem da cavidade antes de realizar a síntese, com solução fisiológica aquecida (STAHL,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004). Prosseguir o fechamento da cavidade
como já descrito neste trabalho.
Para o pós-cirúrgico recomenda-se o uso de antibióticos, analgésicos e anti-
inflamatórios da forma como se achar necessário. Além disso, controle dos parâmetros
ambientais (temperatura, umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta
balanceada) são de grande importância para evitar recidivas e complicações. Não é necessário
retirada de pontos internos, então seguem-se os cuidados já citados anteriormente para
celiotomia.
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3 RELATO DE CASO
Figura 1 – Paciente Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus), fêmea, 35 anos com 6,8kg. Fonte:
Arquivo pessoal.
Figura 2 – Imagem radiográfica da paciente evidenciando a presença de ovos (4) com casca
calcificada em região anatômica de oviduto, suspeita de distocia e possível obstrução. Fonte:
Arquivo pessoal.
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Na imagem radiográfica anterior observou-se um dos ovos mais próximos a cloaca com
maior calcificação na casca. Suspeitou-se, então, de aderência e obstrução e com isso a
incapacidade de postura. Após considerações, foi concluído que o animal precisaria passar por
um procedimento cirúrgico para retirada dos ovos retidos. Com a autorização da tutora, foi
planejada uma ovariossalpingectomia. Levando em conta a anatomia do indivíduo, o tamanho
dos ovos, a possível obstrução e aderência, e o procedimento pretendido, optou-se pela
plastrotomia, e não o acesso pré-femoral, pela necessidade de uma janela cirúrgica maior.
O protocolo anestésico utilizado foi: Medicação pré-anestésica (MPA) com Cetamina
5 mg/kg via intravenosa; Indução com Propofol 0,5 mg/kg em bolus intravenoso; e manutenção
com Isofluorano 2% via inalatória. O animal foi intubado e colocado em decúbito dorsal para
acesso ao plastrão. Após a antissepsia do local foi feita incisão retangular na área dos escudos
abdominais, com auxílio de uma serra oscilatória, com cortes inclinados em 45 graus. Realizou-
se a irrigação do local com solução fisiológica enquanto a serra era utilizada para evitar necrose
térmica. Foi feita a elevação do fragmento e a divulsão do tecido muscular e o fragmento foi
retirado por completo e coberto com solução fisiológica para manter sua viabilidade. Foi feita
uma incisão na linha média, entre as veias abdominais, obtendo-se acesso à cavidade
celomática. Foram localizados os ovidutos com a presença dos ovos calcificados e ovários com
presença de folículos em diferentes fases de foliculogênese (figura 3).
Figura 3 – Após a abertura da cavidade celomática foi feita a exposição de ovários evidenciando
folículos em diferentes fases de foliculogênese. Fonte: Arquivo pessoal.
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Os ovidutos foram incisados e cinco (5) ovos foram retirados (um à mais do que a
radiografia evidenciou) (Figura 4). Após a retirada dos ovos foi feita a ligadura de cada oviduto
com fio de sutura monofilamentar não absorvível 3-0 (nylon) e os ovidutos foram
transeccionados em seguida. O mesmo foi feito para a retirada dos ovários. Após checagem da
cavidade e lavagem com solução fisiológica aquecida, foi feita a sutura da membrana
celomática com fio multifilamentar absorvível 2-0 de ácido poliglicólico. O fragmento ósseo
foi reposicionado e após a aplicação de fita microporosa nos locais de incisão, foi colocada
Resina Acrílica Autopolimerizável JET® (figura 5).
Para o pós-cirúrgico foi prescrito Cetoprofeno na dose de 2 mg/kg SID (uma vez ao dia)
via subcutânea, Tramadol 4 mg/kg BID (duas vezes ao dia) por 5 dias e Enrofloxacina 5 mg/kg
SID por 21 dias. Como a tutora escolheu não internar o animal, ela o levava diariamente à
clínica para que fossem feitas as aplicações necessárias. Ademais, foram reforçadas as
recomendações para adequação de manejo e alimentação.
Após 4 a 5 meses o animal retornou à clínica para retirada da resina, mas ao retirá-la
percebera-se que ainda não havia cicatrização total, havendo pontos onde ainda era possível se
observar a musculatura (Figuras 6 e 7). Acredita-se que isso ocorreu devido à tutora não optar
pela internação e o animal ficar em casa aonde o ambiente não era tão controlado. Nesse caso,
foi feito um novo curativo com uma camada de Pomada de Deconto (figura 8), e cobertura da
ferida com fita microporosa em 5 a 6 camadas (alternando-se o sentido das fitas em cada
camada) e por cima foi usada cola cirúrgica para proporcionar firmeza à fita (Figura 9). A
Pomada de Deconto consiste na manipulação farmacológica de: Subgalato de Bismuto (5g),
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Óxido de zinco (5g), PVPI (1,5 ml), Talco (5g), Sulfadiazina (5g), Óleo de Fígado de Bacalhau
QSQ (30g).
Este curativo foi trocado a cada 15 a 20 dias até a total cicatrização que levou 6 meses,
totalizando 10 a 11 meses de cicatrização.
Figura 6 e 7 – Ferida cirúrgica ainda não cicatrizada totalmente após a retirada da resina,
possibilitando a visualização da musculatura. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 8 – Foi feita aplicação de uma camada grossa de pomada (camada amarelada na foto,
abaixo das fitas) e por cima, camadas de fita microporosa foram colocadas alternando o sentido
das fitas a cada camada (5 a 6 camadas).
Figura 9 – Por cima das fitas foi aplicada cola cirúrgica para proporcionar mais firmeza às fitas.
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4 DISCUSSÃO
pré-femoral não é possível, seja pelo seu tamanho ou pela necessidade de uma janela cirúrgica
maior.
O protocolo anestésico utilizado foi a Cetamina como MPA, com indução por Propofol
e manutenção por Isofluorano, com doses condizentes com a literatura encontrada. A Cetamina
é um anestésico dissociativo comumente utilizado na anestesia de répteis, podendo ser
associada a outros fármacos. O Propofol é um aquifenol sedativo e anestésico geral de curta
duração. O isofluorano é amplamente utilizado tanto para indução quanto para manutenção da
anestesia, é um anestésico geral para uso via inalatória através da vaporização (CARPENTER;
MARION, 2018; DIVERS; STAHL, 2019).
O procedimento de abertura do plastrão foi realizado com uma serra oscilatória, assim
como é descrito em diversas fontes: incisão retangular com angulação de 45 graus, com
irrigação simultânea para evitar necrose térmica, no local dos escudos abdominais, com abertura
suficiente para o procedimento pretendido (MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Após a incisão o fragmento foi retirado por completo, e não somente rebatido, por necessidade
de mais espaço para se performar o procedimento. Muitos autores recomendam manter a
conexão do fragmento com os tecidos moles subjacentes para que a cicatrização seja mais
rápida posteriormente, mas em alguns casos é necessária a retirada total (DIVERS; WÜST,
2019; DUTRA, 2014).
O procedimento escolhido foi a ovariossalpingectomia (com autorização prévia da
tutora) que consiste na retirada dos ovários e ovidutos, uni ou bilateralmente. O procedimento
foi feito conforme descrito na literatura (DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON;
MEYER, 2004; STAHL, 2019). Foi necessário retirar primeiramente os ovos encontrados no
oviduto e depois fazer a retirada dos ovários e ovidutos (STAHL, 2019). É aconselhável o uso
de fios monofilamentares e absorvíveis para ligar os ovidutos e ovários antes da transecção de
cada um e para síntese da membrana celomática (DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON;
MEYER, 2004; STAHL, 2019), entretanto foi utilizado fio de Nylon não absorvível para as
ligaduras e fio multifilamentar absorvível de ácido poliglicólico para a membrana celomática,
empiricamente.
Para a síntese do fragmento ósseo retirado, foi feita resina odontológica (Resina Acrílica
Autopolimerizável JET®) que promoveu a segurança do fragmento em seu local anatômico.
Essa é uma das maneiras recomendadas na literatura de realizar a síntese do plastrão, mas
também podem ser usados materiais como resina Epóxi (Poliepoxido) sozinha ou misturada à
fibra de vidro, resina para cascos (Technovit®), cimento odontológico e Ester de Cianocrilato
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(cola cirúrgica, super cola, Super Bonder®) (DIVERS; WÜST, 2019; DUTRA, 2014;
MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
No pós operatório é muito importante que haja o controle da temperatura, dor, umidade,
alimentação e hidratação, e higiene do ambiente para que o paciente tenha uma recuperação
mais eficiente, sendo indicado a internação do mesmo principalmente nas semanas iniciais de
pós-operatório (DUTRA, 2014). No caso relatado a tutora não optou pela internação e sim pelo
tratamento domiciliar o que pode ter retardado a cicatrização da ferida cirúrgica. Foram
prescritos Cetoprofeno, Tramadol e Enrofloxacina nas doses encontradas em referências
(CARPENTER; MARION, 2018; DIVERS; STAHL, 2019). Passados 4 a 5 meses, o animal
retornou para retirada da resina aplicada e avaliação da cicatrização, mas percebeu-se que não
havia cicatrização completa, sendo assim foi feito curativo com Pomada de Deconto (descrita
anteriormente) de forma empírica e foram feitas camadas de fita microporosa e Ester de
Cianocrilato (cola cirúrgica, super cola, Super Bonder®) por cima, como descrito por McArthur
(2004).
A cicatrização do plastrão geralmente leva 12 semanas, mas pode ser mais longa, por
isso a cobertura é retirada somente em 6 a 12 meses após a cirurgia. No pós-cirúrgico é
importante que animais não tenham contato com a água durante algumas semanas inicialmente;
é necessária a prescrição de antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios; controle dos
parâmetros ambientais (temperatura, umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta
balanceada) (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004). A
cicatrização completa do paciente descrito ocorreu com 10 a 11 meses sendo o tempo previsto
em literatura.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
2. A maioria dos problemas encontrados nesses animais, não só de distocia, são causados
por erro no manejo, seja o ambiente (substrato, temperatura, umidade, luminosidade,
radiação UVA e UVB) ou a alimentação inadequada (deficiente). Por isso é necessário
que o tutor sempre procure orientações de profissionais veterinários especializados em
animais silvestres, antes mesmo de adquirir esse tipo de animal.
4. Muitas técnicas não tão invasivas vêm surgindo quando se fala em cirurgia de
Testudines, como as cirurgias por celioscopia, mas alguns casos ainda exigem a abertura
do plastrão. Com isso, também surgiram métodos de síntese inovadores e que ajudam a
acelerar a cicatrização.
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LISTA DE REFERÊNCIAS
ANTUNES, B.N.; DA COSTA, D.; DE ATAIDE, M.W.; MOREIRA, A.V.; PEDROTTI, L.F.;
JÚNIOR, F.S.; NHOATO, C.S.; STADLER, R.A.; SILVA, M.A.M.; BRUN, M.V.
Coelioscopic-assisted prefemoral ovariosalpingectomy in a d`Orbigny slider (Trachemys
dorbigni) using a digital otoscope. Journal of Veterinary Medical Science, v. 82, n. 12, p.
1802–1807, 2020.
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