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Anclivepa-SP

Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais


do Estado de São Paulo

PRISCILLA PIMENTEL DE FREITAS

Relato de caso: Plastrotomia em Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus) para tratamento


de distocia

São Paulo
2022
PRISCILLA PIMENTEL DE FREITAS

Relato de caso: Plastrotomia em Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus) para tratamento


de distocia

Monografia apresentada para conclusão do


Curso de Especialização em Clínica Médica,
Manejo e Preservação de Animais Selvagens
(pós-graduação lato sensu) da Anclivepa-SP

Área de concentração: Clínica e cirurgia de


Animais Selvagens

Orientador: Prof. M.V. Thiago Rodrigo


Salvador

São Paulo
2022
Priscilla Pimentel de Freitas

Relato de caso: Plastrotomia em Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus) para tratamento de


distocia

Monografia apresentada para conclusão do


Curso de Especialização em Clínica Médica,
Manejo e Preservação de Animais Selvagens
(pós-graduação lato sensu) da Anclivepa-SP

Área de concentração: Clínica e cirugia de


Animais Selvagens

Orientador: Prof. M.V. Thiago Rodrigo


Salvador

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:

______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:

______________________________________
Prof. Dr.
Instituição:
AGRADECIMENTOS

Aos meus maiores amores dessa vida, meu irmão, Leonardo, e meu marido, André, sem
vocês eu não teria chegado aqui. Obrigada pelo apoio moral e emocional, vocês são minha vida.
Obrigada aos meus pais por serem pacientes e sempre me apoiarem em minhas escolhas. À
minha família que eu amo tanto, todos fazem parte do meu crescimento como pessoa e
profissional.
Agradeço a todos os profissionais maravilhosos que tive a oportunidade de conhecer e
com eles aprender. Aos professores da graduação e da especialização, vocês são meus ídolos.
Obrigada a todos os seres não humanos que já passaram pela minha vida, vocês são os
melhores professores. Com vocês aprendi o verdadeiro significado de amor, respeito e
responsabilidade. Espero continuar aprendendo.
RESUMO

FREITAS, P. P. Relato de caso: Plastrotomia em Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus)


para tratamento de distocia [Case report: Plastron osteotomy on Yellow-footed tortoise
(Chelonoidis denticulatus) for distocya treatment]. (Curso de especialização em Clínica
Médica, Manejo e Preservação de Animais Selvagens), Anclivepa, São Paulo, SP, 2022.

A criação de répteis como animais de estimação vem crescendo consideravelmente nos


últimos anos e com isso muitos tutores, sem orientação adequada sobre a biologia e fisiologia
desses animais, acabam cometendo erros no manejo em cativeiro que refletem na saúde do
animal e se tornam problemas. Na rotina da clínica de animais selvagens são muito comuns os
problemas causados pelo erro no manejo. A distocia, ou retenção de ovos, é um dos problemas
mais encontrados, principalmente em Testudines (Cágados, Jabutis e Tartarugas). É muito
importante que haja uma investigação minuciosa com a ajuda de exames complementares,
como os de imagem (radiografias, ultrassonografias, endoscopias ou tomografias), para
diagnosticar corretamente este problema e escolher o melhor tratamento. No presente trabalho
foi relatado o caso de uma fêmea de Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus) de 35 anos, criada
em cativeiro com manejo inadequado, que apresentou retenção de ovos. Após a confirmação
do diagnóstico por radiografia foi tentado o tratamento menos invasivo com fármacos
hormonais e de suplementação (Ocitocina e Gluconato de Cálcio), mas como não houve postura
foi necessário o tratamento cirúrgico. Foi feita a abertura do plastrão (plastrotomia) para o
acesso à cavidade celomática (celiotomia) e em seguida a retirada dos ovos retidos. Como forma
de evitar recidivas ou novos problemas foi realizada uma ovariossalpingectomia, retirando-se
ovários e ovidutos. A cicatrização da plastrotomia foi demorada (10 a 11 meses), e foram
necessários diferentes tipos de curativos, mas se obteve sucesso no caso.

Palavras-chave: Distocia. Jabuti. Répteis. Erro de manejo. Plastrotomia. Clínica e


cirurgia de animais selvagens. Ovariossalpingectomia. Cativeiro.
ABSTRACT

FREITAS, P. P. Case report: Plastron osteotomy on Yellow-footed tortoise (Chelonoidis


denticulatus) for distocya treatment [Relato de caso: Plastrotomia em Jabuti-tinga
(Chelonoidis denticulatus) para tratamento de distocia]. (Curso de especialização em Clínica
Médica, Manejo e Preservação de Animais Selvagens), Anclivepa, São Paulo, SP, 2022.

Reptiles have increased in popularity as pets in recent years, and without proper
guidance on the biology and physiology of these animals many tutors end up making husbandry
mistakes that reflect on the animal’s health. In wild life clinics we routinely treat animals with
problems caused by incorrect husbandry management and handling. Dystocia, or egg retention,
is one of the most common problems, especially in Testudines (Turtles, Tortoises and
Terrapins). It is very important that there is a thorough investigation with the help of diagnostic
tests, such as imaging tests (X-rays, ultrasounds, endoscopies or CT scans), to correctly
diagnose the problem and choose the best course of treatment. This is a report of the case of a
35-year-old female Yellow-footed Tortoise (Chelonoidis denticulatus), raised in captivity with
inadequate husbandry, which suffered from egg retention. After confirming the diagnosis with
an x-ray, a less invasive treatment using hormonal drugs (Oxytocin) and calcium
supplementation (Calcium Gluconate) was attempted, but as the treatment didn´t result in egg
laying, surgical treatment was necessary. The plastron was opened (plastron osteotomy) to
access the coelomic cavity (coeliotomy) and then the retained eggs were removed. As a way to
avoid relapses or new problems, an ovariosalpingectomy was performed, removing ovaries and
oviducts. Plastron osteotomy healing was slow (taking 10 to 11 months), and different types of
dressings were required over the healing phase, but she succesfully recovered.

Keywords: Dystocia. Tortoise. Reptile. Wrong husbandry. Wild life medicine and
surgery. Plastron osteotomy. Ovariosalpingectomy. Captivity.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Paciente Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus), fêmea, 35 anos com


6,8kg.................................................................................................................29
Figura 2 - Imagem radiográfica da paciente evidenciando a presença de ovos (4) com
casca calcificada em região anatômica de oviduto, suspeita de distocia e
possível
obstrução..........................................................................................................29
Figura 3 - Após a abertura da cavidade celomática e a retirada dos ovos, foi feita a
exposição de ovários (foto) evidenciando folículos em diferentes fases de
foliculogênese..................................................................................................30
Figura 4 - Ovário retirado com folículos em diferentes fases de foliculogênese e ao lado
os cinco ovos retirados dos ovidutos, já
calcificados.......................................................................................................31
Figura 5 - Resina Acrílica Autopolimerizável JET® usada para manter o fragmento ósseo
posicionado até a cicatrização
completa...........................................................................................................31
Figura 6 - Ferida cirúrgica ainda não cicatrizada totalmente após a retirada da resina,
possibilitando a visualização da
musculatura......................................................................................................32
Figura 7 - Ferida cirúrgica ainda não cicatrizada totalmente após a retirada da resina,
possibilitando a visualização da
musculatura......................................................................................................32
Figura 8 - Foi feita aplicação de uma camada grossa de pomada (camada amarelada na
foto, abaixo das fitas) e por cima, camadas de fita microporosa foram colocadas
alternando o sentido das fitas a cada camada (5 a 6
camadas)...........................................................................................................32
Figura 9 - Por cima das fitas foi aplicada cola cirúrgica para proporcionar mais firmeza às
fitas...................................................................................................................32
LISTA DE ABREVIATURAS

AINE Anti-inflamatório Não Esteroidal


BID Bis in Die (Duas vezes ao dia)
°C Graus celsius
cm Centímetro
g Gramas
kg Quilograma
mg Miligrama
ml Mililitro
mm Milímetro
MPA Medicação pré-anestésica
NaCl Cloreto de Sódio
p.ex. Por exemplo
PVPI Polivinil Pirrolidona Iodo (Iodopolvidona)
SID Sem ‘el in di’ e (Uma vez ao dia)
UI Unidades Internacionais
UVA Radiação Ultravioleta tipo A
UVB Radiação Ultravioleta tipo B
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

1.1 Biologia e fisiologia dos Testudines ....................................................................... 10

1.2 Família Testudinidae .............................................................................................. 13

1.2.1 C. carbonarius e C. denticulatus ......................................................................... 14

1.3 Erros de manejo em cativeiro ................................................................................. 15

1.3.1 Distocia em Jabutis .............................................................................................. 16

1.4 Objetivos ................................................................................................................. 16

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 17

2.1 Distocia: Causas...................................................................................................... 17

2.2 Diagnóstico ............................................................................................................. 18

2.3 Tratamento farmacológico ...................................................................................... 19

2.4 Tratamento cirúrgico .............................................................................................. 21

2.4.1 Acesso pré-femoral .............................................................................................. 22

2.4.2 Acesso por plastrotomia ...................................................................................... 23

2.4.3 Procedimentos obstétricos ................................................................................... 26

2.4.3.1 Ovariossalpingectomia ..................................................................................... 26

2.4.3.2 Salpingotomia ................................................................................................... 27

3 RELATO DE CASO............................................................................................................ 29

4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 36

LISTA DE REFERÊNCIAS .................................................................................................. 37


10

1 INTRODUÇÃO

1.1 Biologia e fisiologia dos Testudines

A medicina de répteis é um campo desafiador. Tanto a parte diagnóstica quanto a


terapêutica requerem conhecimento específico e uma diversidade de fatores para se alcançar
resultados positivos. Em cativeiro os cuidados com manejo são essenciais para manutenção da
saúde e longevidade do animal. Dentre eles estão a alimentação de qualidade e balanceada,
controle de umidade e temperatura do recinto, luminosidade e radiação ultravioleta, substrato
adequado, elementos de composição do recinto, oferta e qualidade da água, ventilação, e
controle de parasitoses e outras doenças. Para criar condições ideais em cativeiro, primeiro
precisamos entender sua biologia e quais são as condições em vida livre que os fazem prosperar.
Os Répteis pertencem à classe Reptilia. Seus indivíduos ainda existentes se dividem em
quatro diferentes ordens: Crocodylia (Jacarés, crocodilos, aligátores e gaviais); Testudines ou
Chelonia (tartarugas, jabutis e cágados), Squamata (lagartos, serpentes e anfisbenas); e
Rhynchocephalia (tuataras) (DIVERS; STAHL, 2019).
Anteriormente, Testudines (BATSCH, 1788) eram classificados como Anapsídeos
(crânio primitivo, sem aberturas temporais), contudo pesquisas morfológicas e moleculares
recentes demonstram que esses animais são originalmente Diapsídeos (possuem duas aberturas
temporais no crânio), com perda secundária das aberturas, o que os deixa mais próximos
filogeneticamente dos crocodilos e aves (Ordem Aves) do que de lagartos e serpentes
(CAHAIS; CHIARI; GALTIER, 2012; CRAWFORD et al., 2012). Por sua vez, essa ordem se
divide em duas subordens: Cryptodira e Pleurodira. Espécies da subordem Cryptodira retraem
o pescoço em um plano vertical (crânio-caudalmente), já animais da subordem Pleurodira
retraem o pescoço em um plano horizontal (lateralmente) (DUTRA, 2014). Apesar das
tartarugas-marinhas pertencerem à subordem Cryptodira, elas são anatomicamente incapazes
de retrair a cabeça para dentro do casco (DIVERS; STAHL, 2019).
Atualmente existem 14 famílias de Testudines com representantes ainda vivos
(DIVERS; STAHL, 2019) espalhados por todos os continentes, exceto a Antártica, e por todos
os oceanos, exceto o Ártico. (MILLER; FOWLER, 2015). Aquelas que se encontram em
ambiente marinho (e eventualmente terrestre), geralmente são chamadas de tartarugas ou
11

tartarugas-marinhas, na nomenclatura brasileira. As espécies semi-aquáticas e aquáticas de


água doce são conhecidas como cágados. Já as espécies estritamente terrestres são chamadas
de jabutis (DIVERS; STAHL, 2019; GOULART, 2004).
Os hábitos alimentares deste grupo se diversificam de acordo com suas espécies,
habitats, períodos de vida, entre outros. Podem ser herbívoros, onívoros ou carnívoros. Espécies
terrestres herbívoras se alimentam de gramíneas, capim, frutas e plantas em geral. Onívoros
oportunistas se alimentam de material vegetal e material animal que encontrarem com mais
facilidade. Cágados são geralmente onívoros, comem peixes, crustáceos, moluscos, plantas
aquáticas, frutas caídas etc. Tartarugas marinhas podem ser onívoras, carnívoras ou herbívoras
dependendo da espécie (CUBAS; FOWLER, 2001; MILLER; FOWLER, 2015).
Os Testudines, assim como répteis em geral, são ectotérmicos, ou seja, dependem de
fatores ambientais (externos) para regulação da temperatura corporal. Em cativeiro é importante
manter um gradiente dentro da faixa de temperatura preferida pela espécie e oferecer opções
para que o animal faça sua própria escolha de regulação. Na maioria das espécies terrestres essa
faixa é de 22°C a 30°C. Temperatura ideal, umidade e acesso à radiação ultravioleta (UVA e
UVB) são essenciais para que suas funções fisiológicas não sejam comprometidas. Algumas
espécies de climas mais frios passam pelo processo de hibernação periodicamente (DIVERS;
STAHL, 2019; MILLER; FOWLER, 2015).
São animais reconhecidos principalmente por seu casco, composto pela união da
carapaça (parte superior, arredondada) com o plastrão (parte inferior, mais achatada),
conectados lateralmente pela ponte. Em algumas espécies o macho apresenta o plastrão mais
côncavo que a fêmea, sendo essa uma característica de dimorfismo sexual. (DIVERS; STAHL,
2019; GOULART, 2004; O’MALLEY, 2005).
O casco é formado pela junção de 50 a 60 ossos modificados, derivados de costelas,
vértebras e elementos fibrilares (derme). Essa estrutura óssea é, na maioria das espécies, coberta
por escudos córneos (queratinizados) de origem epidérmica. Os escudos estão dispostos de
maneira não correspondente aos ossos subjacentes, o que torna essa estrutura extremamente
resistente (DIVERS; STAHL, 2019; O’MALLEY, 2005).
Testudines não possuem dentes, mas sim um “bico” córneo que consiste em extensões
da maxila e mandíbula queratinizadas (Ranfoteca), e sua língua é curta e não distensível. A
cavidade oral se comunica com a cavidade nasal através da fenda palatina. A cloaca é o canal
único que recebe produtos do trato gastrointestinal, trato urinário e trato reprodutivo. Ela é oval,
alongada e em forma de fenda. É formada por três compartimentos: Coprodeo (recebe excretas
do reto), Urodeo (aberturas dos ureteres, da bexiga urinária, dos ovidutos nas fêmeas e dos
12

ductos deferentes nos machos) e o Proctodeo (serve como reservatório para a eliminação fecal
e urinária) (BENNETT, 2006; O’MALLEY, 2005).
Possuem respiração pulmonar e o pulmão encontra-se aderido dorsalmente à carapaça.
Não há diafragma separando tórax e abdômen, mas sim uma cavidade única chamada celoma.
Nos Cryptodiras a traqueia é bem curta e se bifurca logo no terço inicial, possibilitando a
retração da cabeça. Não possuem gradil costal expansivo por conta do casco rígido e falta de
diafragma, portanto, para respirar, eles desenvolveram fortes músculos do tronco, que
expandem e contraem os pulmões com ajuda da pressão dos outros órgãos da cavidade
celomática, auxiliando na expiração. Na inspiração o ar é bombeado para o pulmão por
movimentos bucofaríngeos. Além dos pulmões, eles possuem sacos aéreos que são reservas de
ar, não ocorrendo trocas gasosas. Algumas tartarugas aquáticas complementam sua respiração
por outros meios, como a respiração cloacal, bucofaríngea ou cutânea, o que lhes permite ficar
mais tempo submersas (GOULART, 2004; O’MALLEY, 2005; TRACCHIA, 2018).
Possuem dois rins localizados na cavidade retrocelômica, geralmente caudo-dorsal à
carapaça e cranial à cintura pélvica. Os rins são metanéfricos, mas não possuem alça de Henle
nem pelve renal (DUTRA, 2014). Podem excretar amônia, ureia ou ácido úrico, dependendo da
espécie e sua biologia. O sistema porta-renal desvia parte da circulação pélvica-caudal
diretamente para os rins, especialmente durante períodos de desidratação, para fornecer sangue
às células tubulares, evitando uma necrose isquêmica (HOLZ, 1999; DIVERS; STAHL, 2019).
O dimorfismo sexual ocorre na maioria dos indivíduos em fase adulta e varia de espécie
para espécie. São características como: formato do plastrão (pode ser côncavo em machos e
reto em fêmeas), tamanho da cauda (machos podem ter caudas mais longas e espessas), cloaca
(a abertura da cloaca é maior e mais proximal nas fêmeas e em machos mais distal), tamanho
das unhas (nos membros pélvicos, podem ser mais longas nas fêmeas), cor (macho e fêmea
podem possuir diferentes colorações), entre outros (O’MALLEY, 2005; CUBAS; FOWLER,
2001).
A maturidade sexual dos Testudines está mais associada com crescimento e
desenvolvimento do que com a idade e varia de espécie para espécie, e em animais de cativeiro
pode acontecer mais cedo do que em vida livre (O’MALLEY, 2005). Todas as espécies são
ovíparas e a fertilização é interna. Nos machos, os dois testículos são localizados cranialmente
aos rins; são ovais, compridos e amarelados. Já o pênis, quando não engorgitado, se encontra
na parede ventral do proctodeo e não é usado para urinar (a uretra não passa por ele); geralmente
é grande, escuro, macio e expansível. Nas fêmeas, os dois ovários também se encontram
cranialmente aos rins. São amarelados, saculares, irregulares, com vários tamanhos e estágios
13

foliculares que ficam proeminentes ao amadurecer. O clitóris é pequeno e se encontra na mesma


área onde, no macho, está o pênis. Na cópula o pênis é introduzido na cloaca da fêmea, fica
engorgitado e o líquido ejaculado passa pelo sulco central do pênis e é depositado (DIVERS;
STAHL, 2019; O’MALLEY, 2005).
Após o acasalamento ocorre a ovulação, causada por picos de hormônio luteinizante e
progesterona que também podem ocorrer durante o processo de nidificação (preparação do
ninho para postura). As desovas podem ser únicas ou múltiplas durante a época reprodutiva,
variando também o número de ovos por desova. Os ovos podem ter a casca mais fina e mole
ou ela pode ser rígida e mais espessa dependendo da espécie (DIVERS; STAHL, 2019).
Segundo Cubas e Fowler (2001) o tempo de incubação varia de acordo com a espécie e
condições ambientais. Esse tempo pode ser curto, de 45 a 60 dias; ou longo, durando até 330
dias em certas espécies. Na maioria delas, a determinação do sexo é temperatura-dependente,
aonde temperaturas mais quentes produzem fêmeas e temperaturas mais baixas, machos.
Modificações anatômicas e fisiológicas desse grupo evoluíram de acordo com o habitat
em que a espécie está inserida e sua natureza (terrestre, marinha ou de água doce) (O’MALLEY,
2005). Dependendo da espécie, sua pele pode ser mais macia e menos queratinizada ou pode
ser rígida e mais queratinizada. A cobertura e o formato do casco também variam. Os membros
pélvicos e torácicos se diferem em animais aquáticos, semi-aquáticos e terrestres (DIVERS;
STAHL, 2019).

1.2 Família Testudinidae

A família Testudinidae (BATSCH, 1788) pertence à superfamília Testudinoidea


(FITZINGER, 1826) e é representada exclusivamente por espécies terrestres, com
aproximadamente 40 espécies viventes (POUGH et al., 2001). São Cryptodiras e geralmente
possuem o casco rígido e abobadado e sua pele é firme e queratinizada. Possuem uma grande
variedade em tamanhos entre as espécies, como a tartaruga-gigante-de-galápagos (Chelonoidis
niger) que pode chegar a mais de um metro de comprimento, enquanto a tartaruga-salpicada
(Chersobius signatus) só chega à dez centímetros de comprimento. São geralmente herbívoras,
mas algumas espécies apresentam comportamento onívoro (DIVERS; STAHL, 2019;
PARKER, et al., 2017; PRITCHARD, 1979).
14

O gênero Chelonoidis (FITZINGER, 1835) é representado por quatro espécies da


América do Sul: C. carbonarius, C. denticulatus, C. chilensis e C. niger (pertencente às Ilhas
de Galápagos). O gênero foi inicialmente classificado como um subgênero de Geochelone
(FITZINGER, 1856), porém após estudos filogenéticos dos Testudines, elevou-se a categoria à
gênero (LE et al., 2006).

1.2.1 C. carbonarius e C. denticulatus

No Brasil, assim como em outros países da América do Sul, são encontradas as espécies
C. carbonarius (SPIX, 1824) e C. denticulatus (LINNAEUS, 1766), conhecidas comumente
como Jabuti-piranga e Jabuti-tinga respectivamente. São animais com características
morfológicas, hábitos e biologia similares, mas se diferem em alguns aspectos (ERNEST;
BARBOUR, 1989). Em questão de tamanho, a C. denticulatus se sobressai, o comprimento de
carapaça de uma animal adulto varia de 50 a 70cm em machos e de 40 a 60cm em fêmeas, já a
C. carbonarius varia de 30 a 40cm (CAVALHEIRO; BESSA, 2016; PRITCHARD, 1979;
PRITCHARD; TREBBAU, 1984). A C. denticulatus é encontrada principalmente em áreas
úmidas de florestas densas, tropicais e subtropicais, já sua irmã habita ambientes mais variados
como regiões mais secas de cerrado e vegetação florestal, mas as duas podem ocorrer em
simpatria, principalmente em regiões de transição entre cerrado e floresta (PRITCHARD;
TREBBAU, 1984; MARTINEZ-TORRES; GÓMEZ-ALDANA; DE LA OSSA, 2010;
FARIAS et al., 2007).
O Jabuti-piranga também é conhecido como Jabuti-de-patas-vermelhas, enquanto o
Jabuti-tinga pode ser chamado de Jabuti-de-patas-amarelas. Isso se deve às suas características
de cor, dos membros e da cabeça, mas não é uma característica morfológica muito confiável
para diferenciar as espécies (PRITCHARD, 1979; PRITCHARD; TREBBAU, 1984). Segundo
Hagan (1989) as principais características que diferem as duas espécies são: forma do escudo
inguinal, a relação entre o tamanho das suturas femoral e umeral, ou seja, se o escudo gular se
sobrepõe ou não alcança a carapaça, e a forma de crescimento da carapaça e das escamas pré-
frontais.
Essas espécies possuem hábitos alimentares semelhantes, são ambas onívoras por
oportunidade, se alimentam de itens que encontram mais facilmente em seu caminho como:
frutas, flores, folhas, invertebrados e carcaças de vertebrados, fungos e terra (MOSKOVITS,
15

1985; JEROLIMSKI, 2009). Segundo um estudo feito por Jerozolimski et al. (2009) as frutas
são o segundo item mais consumido por essas espécies, especialmente a C. denticulatus, e com
isso elas foram consideradas importantes dispersoras de sementes.
Além dos hábitos alimentares, elas se assemelham quanto às características
reprodutivas. O dimorfismo sexual se dá através do formato do plastrão, abertura do escudo
anal, formato da cauda e comportamento reprodutivo (cópula e nidificação), mas só confiável
em animais com comprimento de carapaça maior que 280 mm (animais com maturidade sexual)
(MOSKOVITS, 1988; PRITCHARD; TREBBAU, 1984). O período reprodutivo é influenciado
pelas estações do ano e ocorre, geralmente, a partir do mês de outubro, podendo variar em cada
região de acordo com seus fatores climáticos. O período de desova acontece preferencialmente
após o período de chuvas, pois facilita a nidificação. As fêmeas podem ter múltiplas desovas
durante esse período e costumam enterrar seus ovos em locais com baixa umidade e boa
incidência de raios solares. O tempo de incubação desses ovos pode variar de acordo com a
temperatura, mas dura cerca de 4 meses (HIGHFIELD, 1996; VANZOLINI, 1999).

1.3 Erros de manejo em cativeiro

Jabutis estão entre as espécies de répteis mais encontradas em cativeiro e como pets no
Brasil. São animais protegidos pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis) e precisam de autorização especial para serem criados.
Manter esses animais em cativeiro pode ser um desafio, são vários os parâmetros
ambientais, dieta e cuidados preventivos que devem ser controlados para que o animal tenha
uma vida saudável e longa. Dentre eles estão: Controle de temperatura e umidade, substrato
adequado, vegetação, acesso a luminosidade e radiação solar (UVB), componentes da dieta,
oferta de água, controle de parasitas e doenças infectocontagiosas, etc (CUBAS; FOWLER,
2001; DIVERS; STAHL, 2019).
A temperatura ideal do ambiente deve ser entre 20 a 30°C e devem ser criadas diferentes
zonas térmicas para que o animal regule sua própria temperatura, acessando o sol ou se
escondendo na vegetação ou em casas, também pode ser oferecido um local para que o animal
entre na água, mas não fique submerso (CUBAS; FOWLER, 2001). Além disso, a dieta deve
ser balanceada com alimentos de qualidade e o animal deve sempre fazer acompanhamento
veterinário.
16

Erros de manejo podem acarretar sérias consequências na saúde dos animais a curto e
longo prazo. Doenças causadas por esses erros estão, em sua maioria, ligadas à desidratação,
alimentação incorreta e/ou falta de radiação UV. Algumas delas são: Hepatopatias diversas,
doença osteometabólica (hiperparatireoidismo secundário nutricional), gota úrica, distúrbios
renais, cálculos císticos, obesidade, hipovitaminoses, bócio, distocias etc (DUTRA, 2014).

1.3.1 Distocia em Jabutis

Uma afecção comumente encontrada em cativeiro é a distocia em fêmeas. Trata-se da


dificuldade em botar ovos, causando assim, a retenção dos mesmos. Pode ser causada por uma
série de motivos e está geralmente associada ao manejo inadequado do animal (temperatura,
dieta, ambientação) (DENARDO; STAHL, 2019). Este trabalho pretende relatar e discutir um
caso de distocia/retenção de ovos em uma fêmea de Jabuti-tinga (C. denticulatus).

1.4 Objetivos

1. Discutir o tratamento utilizado no caso de distocia em Jabuti-tinga, assim como as


técnicas cirúrgicas utilizadas;

2. Comparar as técnicas e abordagens clínicas aplicadas no caso relatado com a literatura


consultada;

3. Discutir a importância de um manejo adequado em cativeiro e como podemos evitar


que esse tipo de problema ocorra;
17

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Distocia: Causas

Dentre as enfermidades associadas ao sistema reprodutor de jabutis, a retenção de ovos


é um dos principais problemas que acometem esses animais quando em cativeiro. A chamada
distocia é a incapacidade de expelir os ovos, no caso de animais ovíparos como os Testudines,
levando assim à retenção. Nesses animais a atividade folicular e ovulação podem ocorrer sem
a presença do macho, assim como nas aves, resultando na produção de ovos inférteis que muitas
vezes estão envolvidos nos casos de distocia. Acredita-se que não é um problema comum em
animais de vida livre, relacionando-se assim à manutenção em cativeiro inadequada (CUBAS;
FOWLER, 2001; DENARDO; STAHL, 2019; MATIAS, 2006).
As causas são multifatoriais, mas ainda não são muito bem compreendidas. As distocias
podem ser divididas em dois grupos: obstrutivas e não obstrutivas. A distocia obstrutiva resulta
de uma barreira anatômica que impede a passagem do ovo pelo oviduto e cloaca. Pode ser de
origem materna ou embrionária (do ovo). Ovos anormais (grandes ou deformados) e/ou
aderidos entre si são causas de origem embrionária. Dentre as causas maternas estão:
malformação da pélvis, estenose de oviduto, ou problemas na cavidade celomática (cálculos
vesicais ou cloacais, constipação, organomegalia, abscessos e neoplasia). Além disso, também
pode acontecer por mal posicionamento dos ovos ou ovos com a casca quebrada (CUBAS;
FOWLER, 2001; DENARDO; STAHL, 2019; MATIAS, 2006).
A distocia não obstrutiva ocorre apesar de não haver anormalidades de ovos ou
anatômicas na fêmea, entretanto outras podem ser as causas: problemas em seu ambiente como
a falta de local adequado para fazer ninho, fotoperíodo anormal, temperatura inadequada, baixa
umidade e desidratação, ou dieta inadequada e desnutrição. Um dos motivos mais comuns é a
deficiência de Cálcio na dieta, muitas vezes associada à falta de exposição aos raios ultravioleta
(UVA e UVB) (absorção de vitamina D3) podendo acarretar em doença osteometabólica como
o hiperparatireoidismo secundário nutricional; devido à grande reabsorção de cálcio dos ossos
causada por essa doença, os ossos podem ficar mais frágeis, pode haver dor, nos membros
principalmente; anorexia e distocia devido à mineralização inadequada dos ovos ou atonia
(fraqueza/dificuldade de contração muscular) do canal reprodutivo, causando retenção. Além
18

disso, traumas, infecções bacterianas e obesidade também podem ser causas para distocia
(DENARDO; STAHL, 2019; FRYE, 1991; MATIAS, 2006).
Denardo e Stahl (2019) aconselham, mesmo sendo difícil na maioria dos casos, sempre
tentar identificar a causa da distocia para que o tratamento seja mais completo e para que sejam
tomadas providências para não haver recidivas.

2.2 Diagnóstico

É importante e desafiador diferenciar a distocia de um ciclo/gravidez normal. Testudines


são fisiologicamente capazes de reter seus ovos por um extenso período de tempo (até 6 meses)
até que encontrem condições melhores para oviposição. Além disso, podem não botar todos os
ovos de uma vez retendo uma parte deles. Por isso é preciso ter, além do conhecimento da
fisiologia reprodutiva do animal, informações sobre o histórico, exame físico detalhado e
exames diagnósticos. Geralmente, animais com distocia ficam inquietos, procurando por
possíveis locais para nidificação, podem tentar cavar no substrato, ou podem ficar apáticos,
pode haver diminuição na ingestão de alimentos e água e até anorexia, condição corporal ruim,
fezes ressecadas, tenesmo, frequência respiratória aumentada, regurgitação, paresia ou paralisia
de membros pélvicos, secreções cloacais, edemas difusos, eliminação de albumina com restos
de casca por via cloacal, prolapso de oviduto ou de vesícula urinária, dor e contrações
improdutivas etc. (DENARDO; STAHL, 2019; FRYE, 1991; MILLER; FOWLER, 2015;
TRACCHIA, 2015).
Para chegar a um diagnóstico é necessário, além do histórico e avaliação sintomática,
exames complementares que são essenciais para um diagnóstico preciso. A radiografia é um
dos mais utilizados e mais úteis para o caso. Ela é importante para excluir possíveis obstruções
(antes de usar ocitocina), confirmar o número de ovos, presença de ovos hipercalcificados,
anomalias de casca, ovos ectópicos, e comparar tamanho de ovos e abertura de pelve. Pode
também descartar diagnósticos diferenciais como fecaloma, cálculo vesical, abscessos e
neoplasias. Além disso, pode-se pesquisar problemas que sejam concomitantes à distocia como
a doença osteometabólica ou hiperparatireoidismo secundário nutricional ou renal, causando,
muitas vezes, o remodelamento dos ossos (DENARDO; STAHL, 2019; FRYE, 1991;
MATIAS, 2006; MILLER; FOWLER, 2015).
19

Além disso, testes como a tomografia computadorizada são excelentes métodos


diagnósticos e possuem maior precisão na avaliação dos ovos retidos individualmente e das
estruturas envolvidas adjacentes, sendo também importante ferramenta para diferenciar uma
retenção fisiológica de uma patológica e a necessidade de intervenção. Infelizmente não é tão
acessível como a radiografia, apesar de estar caminhando para isso. Outros métodos
diagnósticos como análises clínicas podem ser utilizados, mas nem sempre são fidedignos.
Fazendo a análise de cálcio total plasmático podemos encontrar um aumento, mas também pode
se apresentar dentro dos parâmetros normais. Na contagem de células sanguíneas em um
hemograma pode-se encontrar leucocitose ou, em casos de infecção, leucocitose com desvio a
esquerda. Em casos mais crônicos pode-se encontrar leucopenia (DENARDO; STAHL, 2019).

2.3 Tratamento farmacológico

Após o diagnóstico ou suspeita, o próximo passo é planejar um tratamento adequado


para o caso. Geralmente se opta por começar pelo protocolo menos invasivo e evoluir para
métodos mais invasivos se necessário, varia de caso a caso. Se o animal aparenta estar saudável,
sem sintomas, mas existe suspeita de distocia, então oferecer um local para postura e
administração de cálcio pode resolver (se o animal não apresentar exames alterados e sua
alimentação for adequada). Assim, o animal fica em observação até que faça a postura, que
deve acontecer dentro de dias a 1 a 2 semanas, se durante esse período não houver postura e/ou
houver o aparecimento de sintomas, é indicado evoluir o protocolo de tratamento (DENARDO;
STAHL, 2019; FRYE, 1991).
Se o animal estiver debilitado, antes de qualquer coisa, aconselha-se uma tentativa de
estabilização do mesmo. Em seguida, nos casos de distocia não obstrutiva confirmada, usa-se
um protocolo com Ocitocina podendo ser associada ao cálcio. É muito importante que a distocia
não obstrutiva seja confirmada, pois o uso indevido da ocitocina pode causar complicações
como quebra de ovos, ruptura de oviduto e hemorragias. Também é importante que o animal
seja mantido em temperatura ideal para que a medicação cause o efeito desejado e que lhe seja
oferecido local adequado para nidificação e postura (DENARDO; STAHL, 2019; MATIAS,
2006; TRACCHIA, 2018).
Denardo e Stahl (2019) aconselham começar com uma dose baixa de Ocitocina (1 a 4
UI/kg, por via intravenosa ou subcutânea diluída) que pode ser aumentada posteriormente e
20

repetida a cada 6 a 12 horas e preferivelmente não ultrapassar 3 doses, se após as 3 aplicações


o animal não fizer postura, provavelmente ela não ocorrerá. Outras medicações indicadas por
eles que podem ser associadas à ocitocina são a prostaglandina F2 alfa (injetável) que se
acredita atuar na lise de corpo lúteo e é importante na postura. A Prostaglandina E pode ser
usada como gel, aplicando-se na cloaca. Em casos de hipocalcemia, Cálcio pode ser
administrado antes da Ocitocina. Nos casos de inflamações, infecções, dores ou suspeita de
salpingite podem ser usados anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) e antibióticos.
Carpenter e Marion (2018) indicam a dose de Ocitocina 1 a 10 UI/kg para Testudines
via intramuscular, 1 horas depois da administração de Cálcio, geralmente. Podem ser feitas 3
repetições dessa aplicação com o intervalo de 90 minutos.
Bloqueadores beta podem ser usados para potencializar os efeitos da ocitocina, como o
Atenolol. McArthur et. al (2004) indica o uso do Atenolol a 7 mg/kg via oral, aproximadamente
12 horas antes de administrar a Ocitocina a 1 a 3 UI/kg via subcutânea, repetindo as medicações
no mesmo protocolo até que ocorra a postura de todos os ovos. Além disso, ele também indica
fluidoterapia e banhos aquecidos, para garantir a hidratação, suplementação de Cálcio via oral,
lubrificação da cloaca, local apropriado para nidificação e aquecimento e umidificação do
ambiente adequados. Esse protocolo pode ser repetido a cada 24 horas, durante dois dias
inicialmente. Se a fêmea se encontra bem, e sem sinais clínicos, mas a tentativa de indução não
funcionou, indica-se esperar dez dias e fazer uma nova tentativa, mantendo o animal hidratado
e com o manejo correto durante esse tempo.
Flanagan (2015) indica o uso de Ocitocina a 10 UI/kg, via intramuscular ou
intracelomática, ou a combinação de Ocitocina a 7,5 UI/kg com Prostaglandina F2 alfa a 1,5
mg/kg. As doses podem ser repetidas e se necessário, pode-se administrar Gluconato de cálcio
a 100mg/kg. Tracchia (2015) recomenda, nos casos de hipocalcemia, o uso de Gluconato de
cálcio a 5mg/kg a cada 24 a 48 horas associado à dextrose a 5% com NaCl (Cloreto de sódio)
a 0,45% em doses de 7 a 10 ml/kg. Também recomenda o uso da Ocitocina, podendo se repetir
a aplicação após 12 a 24 horas usando a mesma ou metade da dose inicial. Associada à
Ocitocina, a Prostaglandina F2 alfa pode ser usada na dose única de 500mcg/kg.
Além da terapia farmacológica, é de extrema importância que haja um reajuste no
manejo desses animais o quanto antes. Correção de alimentação, ambiente, substrato,
temperatura, umidade, exposição aos raios UVA e UVB, entre outros ajustes que se mostrem
necessários (DENARDO; STAHL, 2019; MATIAS, 2006; MILLER; FOWLER, 2015).
21

2.4 Tratamento cirúrgico

Se os meios farmacológicos se exaurirem e o animal não conseguir fazer a postura,


recomenda-se tratamento por remoção cirúrgica dos ovos. McArthur et. al (2004) recomenda
primeiro a tentativa de ovocentese via cloacal, em casos onde esse acesso é possível. Depois de
anestesiar o animal, faz-se a drenagem do ovo mais próximo à saída da cloaca através da punção
do mesmo com uma seringa e retira-se os restos de casca e debris, em seguida lava-se a cloaca
com solução antisséptica (Iodopovidona) e tenta-se o protocolo farmacológico novamente se
necessário. Este procedimento também é recomendado em casos em que há obstrução da cloaca
aonde as fezes não conseguem ser expelidas e podem ser empurradas para os ovidutos causando
salpingite, ou ainda em casos onde há obstrução no fluxo urinário.
Outra maneira de retirada de ovos pela cloaca é através de cloacoscopia, feita com
endoscópio rígido. O animal deve ser anestesiado, primeiramente, então introduz-se o
endoscópio pela cloaca em direção ao oviduto e com ajuda da infusão de solução de Cloreto de
sódio aquecida, faz-se a tentativa de remoção do ovo ou parte dele através de manipulação.
Porém em alguns casos a entrada ao oviduto não é possível ou consegue-se entrar, mas
encontram-se adesões na mucosa que não podem ser desfeitas seguramente com o endoscópio
(DENARDO; STAHL, 2019).
Quando se esgotam os meios menos invasivos ou quando o caso não possibilita a
tentativa desses meios (distocia obstrutiva, p.ex.), opta-se pela celiotomia para retirada dos
ovos. O acesso pré-femoral é feito através da pele da fossa pré-femoral. Outra técnica de
celiotomia é a plastrotomia que consiste na abertura de uma janela no plastrão e na porção óssea
intimamente ligada a ele (osteotomia) para acessar a cavidade celomática, que é aberta
posteriormente. A plastrotomia é recomendada para animais nos quais não se consegue fazer o
acesso pré-femoral, em animais terrestres que são menores (menos de 5kg) ou cirurgias que
necessitem de uma janela cirúrgica maior (DIVERS; STAHL, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).
Antes de se tomar decisões, considerações importantes devem ser feitas: Se o animal
está apto a passar por um procedimento cirúrgico, se foi feita uma estabilização inicial; melhor
protocolo para anestesia, analgesia e ventilação; se há necessidade de antibioticoterapia pré-
operatória e pós; necessidade de fluidoterapia antes, durante e depois da cirurgia; controle de
temperatura antes, durante e depois (MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
22

2.4.1 Acesso pré-femoral

Neste acesso o animal, anestesiado e entubado adequadamente, é colocado em decúbito


lateral, contralateral ao local de acesso, e seus membros pélvicos devem ser estendidos
caudalmente. O acesso pré-femoral consiste em uma incisão cutânea crânio-caudal na fossa
pré-femoral, cranial ao membro pélvico. Com instrumento rombo se divulsiona entre a
musculatura ou incisa-se a mesma até chegar na aponeurose celomática formada pelo músculo
oblíquo externo do abdome onde se faz uma perfuração e logo em seguida incisa-se a membrana
celomática se obtendo, assim, acesso à cavidade. É preciso bastante cuidado para não se
perfurar a vesícula urinária na entrada à cavidade celomática, principalmente se ela estiver
repleta de urina. Aconselha-se esvaziar a vesícula antes do procedimento principal ou esperar
que o animal urine antes da cirurgia. Procedimentos por celioscopia podem ser feitos por esse
acesso, com o uso de um endoscópio. Quando terminado o procedimento principal faz-se a
lavagem da cavidade celomática com solução fisiológica estéril aquecida e depois é feita a
drenagem desse fluido, e só então faz-se a síntese dos tecidos incisados. A membrana
celomática, musculatura e subcutâneo, separadamente, podem ser suturados com fio absorvível,
em sutura simples contínua, interrompida ou em colchoeiro horizontal ou Wolff, todas as
opções tem respaldo na literatura. A pele pode ser suturada com fio de nylon ou polidioxanona
em padrão colchoeiro horizontal ou Wolff (sutura de eversão). Este fio deve ser retirado, se
ainda presente, após a cicatrização completa da pele (3 a 8 semanas) (ANTUNES et al., 2020;
DUTRA, 2014; DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004;
TAKAMI, 2017).
A técnica geralmente permite somente o acesso a um lado da cavidade
(ipsilateralmente), portanto é limitado quando falamos de resoluções bilaterais, mas é possível
dependendo do procedimento e se a anatomia do animal permitir. Divers e Wüst (2019)
afirmam ser possível em certas espécies, e Takami (2017) descreve o procedimento de
ovariossalpingectomia bilateral em Geochelone elegans (Tartaruga-estrelada-indiana) por um
único acesso pré-femoral, lado direito, para tratar estase folicular e também obteve sucesso.
Quanto a retirada de ovos retidos (distocia), o sucesso depende da proporção de tamanho desses
ovos para o tamanho da janela cirúrgica e o procedimento pretendido, se não for seguro ou
possível, se opta pela plastrotomia (DIVERS; WÜST, 2019: MCARTHUR; WILKINSON;
MEYER, 2004; MILLER; FOWLER, 2015).
23

O acesso pré-femoral é preferido para procedimentos no sistema reprodutivo, mas


também é utilizado para biopsias, retiradas de corpos estranhos do trato gastrointestinal ou do
celoma, retirada de cálculo vesical, laparoscopias exploratórias, entre outros procedimentos.
Requer, geralmente, somente o instrumental básico, além de ser menos invasivo e por isso o
pós-cirúrgico é geralmente mais curto (6 a 8 semanas). Em animais aquáticos e semi-aquáticos
esse acesso é o mais indicado, se for possível, pois o constante contato com a água pode afetar
a cicatrização de uma plastrotomia e tem grandes chances de contaminação fazendo com que o
prognóstico seja reservado (DUTRA, 2014; DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).

2.4.2 Acesso por plastrotomia

Quando o procedimento não pode ser realizado via pré-femoral, resta recorrer à
celiotomia via plastrotomia. Suas indicações são: cirurgia exploratória, biopsia, celomite,
problemas no trato gastrointestinal, remoção de urólitos, remoção de ovos retidos e outras
resoluções para o sistema reprodutivo, entre outros (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).
A abertura do plastrão requer ferramentas que vão um pouco além do instrumental
básico por estarmos lidando com tecidos queratinizados e ósseos, além dos tecidos moles. As
opções de ferramentas que são mais descritas são: Micro retífica com ponteira para corte
(Dremel®, Makita®); serras oscilantes ou oscilatórias, cirúrgicas ou não; brocas odontológicas;
e furadeiras ortopédicas pneumáticas. É importante que o material, pelo menos a ponteira, seja
autoclavável ou permita a esterilização de alguma outra maneira (DIVERS; WÜST, 2019;
MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
É importante fazer o planejamento de abertura do plastrão levando em conta o local
pretendido para o caso, anatomia topográfica, o tamanho da janela necessária para o
procedimento pretendido, a espessura da carapaça, tudo isso sem causar maiores danos às
estruturas locais e adjacentes. Além disso, também são necessários um planejamento
anestésico, protocolo farmacológico adequado, intubação, posicionamento do animal e
antissepsia muito bem feita (pode-se utilizar escovas com antissépticos para fazer a limpeza dos
sulcos entre os escudos, principalmente) (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR;
WILKINSON; MEYER, 2004).
24

Para procedimentos no sistema reprodutivo, geralmente, posicionando o animal em


decúbito dorsal se performam incisões formando um quadrilátero dentre a área que compreende
os escudos femorais e abdominais do plastrão evitando prejuízo para os ossos pélvicos, mas
isso varia com a espécie e o tamanho do animal. Dutra (2014) aconselha a irrigação do local
com fluidos enquanto se faz a incisão para dissipar o calor (evitar necrose por calor) e remover
o pó produzido pelo corte do osso, porém alguns autores não citam essa estratégia (DIVERS;
WÜST, 2019) ou preferem não a utilizar (MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004),
depende também do tipo de maquinário utilizado, levando em conta que uns geram mais calor
que outros (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Esses cortes são feitos com um instrumento de corte ortopédico como os exemplos
citados anteriormente, e devem ser feitos em uma inclinação de 45 a 60 graus, especialmente
nas incisões laterais, para que o fragmento de osso retirado não caia para dentro da cavidade
quando recolocado. Nos cortes caudal e cranial não é necessária a inclinação, mas pode ser
feita. Com uma agulha hipodérmica pode-se checar a profundidade dos cortes e a necessidade
de aprofundar ou não. Um dos cortes, caudal ou cranial (dependendo da preferência e da
estrutura que se pretende acessar) não deve ser aprofundado de maneira a atravessar
completamente o osso, é preferível que alguns milímetros de osso ainda estejam conectados e
usando um elevador de periósteo ou um cabo de bisturi levanta-se o fragmento ósseo fazendo
uma pequena quebra nessa ponte remanescente. Isto ajuda a estabilizar o fragmento na hora de
fazer fechar e ainda pode manter o aporte sanguíneo ajudando na cicatrização posterior
(DIVERS; WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Com o fragmento ósseo já cortado, com a ajuda de um instrumento rombo, faz-se a
divulsão dos tecidos ligados ao fragmento ósseo ao mesmo tempo que se eleva o mesmo para
rebatê-lo até se obter boa visualização dos tecidos moles. É interessante manter a ligação do
fragmento com tecidos moles o máximo possível, isso acelera a osteogênese necessária para a
cicatrização. Assim que o osso for rebatido, é importante mantê-lo úmido e protegido de
contaminação, assim podem ser usadas gazes cirúrgicas embebidas em solução fisiológica
estéril para cobrir este fragmento enquanto se performa o restante do procedimento (DIVERS;
WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Após a abertura do plastrão, faz-se a incisão dos tecidos moles (musculatura e membrana
celomática) para acessar a cavidade. A incisão pode ser feita na linha média, entre as duas veias
abdominais que são calibrosas e ficam nas laterais da linha média, tendo cuidado para não as
danificar. Podem também serem feitas incisões laterais às veias abdominais ou pode-se ligar
uma das veias e fazer uma transecção e uma incisão em formato de L para remoção de estruturas
25

grandes. Não é aconselhável a transecção das duas veias abdominais. Após a incisão se obtém
acesso a cavidade celomática e o procedimento pretendido pode ser realizado (DIVERS;
WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Terminado o procedimento, é aconselhável fazer a lavagem da cavidade com solução
estéril aquecida e subsequente drenagem para retirada de possíveis debris ou contaminantes.
Depois faz-se a síntese dos tecidos incisados. A membrana celomática pode ser suturada em
padrão simples contínuo com fio absorvível de polidioxanona (preferido para a linha alba),
poliglecaprone 25 ou poligliconato (incisões paramediais). Divers e Wüst (2019) indicam a
realização de três ou quatro suturas de ancoragem do fragmento ósseo ao plastrão, em lados
diferentes, através de estreitas perfurações nas duas estruturas paralelamente. Podem ser feitas
com fio absorvível de polidioxanona ou fio de cerclagem para animais maiores.
Antes de fazer a síntese do plastrão, deve ser realizada a limpeza externa, retirando todos
os debris resultantes da abertura, sangue, tecidos ou contaminantes. Após secar o local é
indicado preencher as brechas feitas pela incisão, pode-se usar cera para osso estéril e
absorvível, esponjas de colágeno absorvíveis, hidrogel estéril (Intrasite Gel®), entre outros
itens. Após a selagem, retirar o excesso e proteger as linhas de incisão com fita micropore ou
esparadrapo impermeável, aplicando-se também em áreas aonde não se deseja que o material
utilizado posteriormente entre em contato. Por fim completa-se a síntese usando materiais como
resina epóxi (poliepoxido) ou resina acrílica (polimetilmetacrilato). McArthur et al. (2004)
indica o uso da mistura de fibra de vidro com resina epóxi e ainda cita os usos de resina para
cascos (Technovit®), cimento odontológico e Ester de Cianocrilato (cola cirúrgica, super cola,
Super Bonder®). Materiais que são exotérmicos podem produzir muito calor a ponto de causar
necrose térmica no osso subjacente, por isso é aconselhável o uso de gazes embebidas em
solução fisiológica gelada ou irrigação direta da solução no local que foi aplicada a resina
(DIVERS; WÜST, 2019; DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
A cicatrização do plastrão geralmente leva 12 semanas, mas pode ser mais longa, por
isso a cobertura é retirada somente em 6 a 12 meses após a cirurgia. Deve ser feito o
acompanhamento dessa ferida cirúrgica através de radiografias para verificar a presença de
osteomielite através da osteólise. No pós-cirúrgico é importante que animais não tenham
contato com a água durante algumas semanas inicialmente; é necessária a prescrição de
antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios; controle dos parâmetros ambientais (temperatura,
umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta balanceada) (DIVERS; WÜST,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
26

2.4.3 Procedimentos obstétricos

Após a escolha de acesso ao celoma, o segundo passo é escolher o procedimento mais


adequado para resolução do caso. Em animais que são pets ou animais de exposição que não
necessitam ter suas habilidades reprodutivas mantidas, é aconselhável que se realize uma
ovariossalpingectomia bilateral, de preferência; que consiste na retirada dos ovários e ovidutos,
prevenindo, assim, recidivas e outros problemas relacionados ao sistema reprodutivo. Já em
casos em que a manutenção da habilidade reprodutiva do animal é desejada, pode se tentar uma
ovariossalpingectomia unilateral, se o problema for em apenas em um dos ovidutos, ou uma
salpingotomia para retirada dos ovos. Esta consiste na abertura (incisão) do oviduto para
retirada dos ovos e posteriormente sua síntese, mantendo o órgão no animal. Em alguns casos
esses procedimentos podem ser feitos pela via pré-femoral com ou sem auxilio de endoscópio,
ou inteiramente por celioscopia (DUTRA, 2014; STAHL, 2019). McArthur et al. (2004)
recomenda a realização de exame de imagem (radiografia ou tomografia) logo antes do
procedimento cirúrgico para auxiliar na qualidade e eficiência do mesmo As técnicas revisadas
a seguir descrevem o procedimento a partir de uma plastrotomia, que é o foco deste trabalho,
mas não se diferem tanto para outros acessos.

2.4.3.1 Ovariossalpingectomia

Na ovariossalpingectomia, após o acesso ao celoma, se visualizam e externalizam os


ovidutos e ovários, geralmente um lado por vez. Os ovários são geralmente localizados
dorsalmente no celoma, craniais aos rins. No processo de ovariectomia é preciso bastante
cuidado ao externaliza-los para que não haja rompimento de folículos e derramamentos na
cavidade celomática causando celomite. Após externalizado, identifica-se o mesovário e os
vasos ovarianos, pode-se fazer a ligação destes com fio absorvível monofilamentar ou clips
hemostáticos, e por fim faz-se a transecção das estruturas ligadas, conferindo sempre se não
ficou tecido ovariano no local. Quando há muitos ovos retidos nos ovidutos, a visualização e
manipulação dos ovários fica dificultada, por isso aconselha-se retirar primeiro os ovos e, se
for o caso, os ovidutos (salpingectomia), e depois realizar a ovariectomia (DUTRA, 2014;
MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004; STAHL, 2019).
27

Os ovidutos são encontrados adjacentes aos ovários e para a salpingectomia, o oviduto


é externalizado com cuidado, desde as fimbrias até a junção com o urodeo, para avaliação do
aporte sanguíneo. Se necessário para melhor acesso, os ovos encontrados no oviduto podem ser
removidos, drenados ou fraturados antes da retirada do órgão, mas com cuidado para não
contaminar a cavidade. A porção das fimbrias é identificada, pinçada com pinças hemostáticas
e ligada com fio de sutura monofilamentar absorvível ou clips hemostáticos e transeccionada.
Continuando caudalmente, identifica-se os vasos da mesossalpinge e pode se liga-los
individualmente ou em grupos com clips ou fio absorvível antes da transecção. Antes de ligar
o oviduto distalmente, faz-se a checagem da entrada da pelve para garantir que não ficou
nenhum ovo. Em seguida, depois de pinçar a porção distal do oviduto; com fio absorvível, se
faz a ligadura dupla com transfixação próximo à junção deste com o urodeo. Quando seguro,
faz-se a transecção do oviduto (DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004;
STAHL, 2019).
Quando necessário, repete-se o processo nas estruturas contralaterais da mesma forma.
Em casos em que houve prolapso de oviduto, primeiro deve se reduzir o prolapso e retornar o
oviduto para posição anatômica e depois realizar o procedimento como descrito anteriormente
(STAHL, 2019).

2.4.3.2 Salpingotomia

Segundo Stahl (2019), salpingotomias não são frequentemente realizadas em


Testudines, pois distocias não obstrutivas são geralmente solucionadas por tratamento
farmacológico. E, quando necessário tratamento cirúrgico, se indica sempre a
ovariossalpingectomia, se a habilidade reprodutiva do animal não for necessária.
Para o procedimento, faz-se a exteriorização do oviduto como descrito anteriormente,
podem ser feitas suturas de ancoragem temporárias para manter o oviduto preso ao local da
celiotomia e também se colocam gazes ou compressas cirúrgicas no local impedindo qualquer
conteúdo de adentrar a cavidade celomática até que os ovos sejam retirados e o oviduto suturado
(MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004). A incisão é feita longitudinalmente na borda
contraria à mesossalpinge, em local estratégico para que o maior número de ovos seja retirado
pela mesma incisão. Muitas vezes, principalmente quando se encontram aderências, passar os
ovos pela luz do oviduto até o local de abertura é desafiador, para tentar desfazer uma aderência
28

(do ovo ao oviduto) usa-se solução fisiológica aquecida, instilada dentro do lúmen do oviduto
e gazes umedecidas com esta solução por fora do local; e com manipulação leve, tenta-se
desfazer a aderência. Se não houver sucesso, uma nova incisão deve ser feita no local (STAHL,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Após a retirada dos ovos, checa-se a entrada da pelve para evitar que nenhum ovo seja
deixado. Avalia-se as características do oviduto, como presença de inflamação ou necrose, e se
for necessário deve ser feita a retirada deste oviduto (Salpingectomia, uni ou bilateral) da forma
já descrita anteriormente. Se não houver alterações, as incisões no oviduto podem ser fechadas
com sutura padrão simples contínuo ou padrão invaginante usando fio monofilamentar
absorvível. É muito importante, também, fazer a inspeção dos ovários para checar atividade,
degeneração ou estase folicular. Se for necessário, uma ovariectomia poderá ser realizada como
descrito anteriormente (STAHL, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Ao finalizar o procedimento, seja ele qual for, se deve sempre checar a presença de
contaminantes na cavidade, ovos ectópicos (no celoma e na bexiga), gemas soltas, aderências
nas serosas dos órgãos por inflamações (celomite) ou tecidos necróticos. Em seguida, fazer a
lavagem da cavidade antes de realizar a síntese, com solução fisiológica aquecida (STAHL,
2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004). Prosseguir o fechamento da cavidade
como já descrito neste trabalho.
Para o pós-cirúrgico recomenda-se o uso de antibióticos, analgésicos e anti-
inflamatórios da forma como se achar necessário. Além disso, controle dos parâmetros
ambientais (temperatura, umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta
balanceada) são de grande importância para evitar recidivas e complicações. Não é necessário
retirada de pontos internos, então seguem-se os cuidados já citados anteriormente para
celiotomia.
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3 RELATO DE CASO

Em janeiro de 2020 foi feito o atendimento de um Jabuti-tinga (Chelonoidis


denticulatus), fêmea de 35 anos (pesando 6,8 kg) (figura 1), na clínica Estação Zoo em São
Paulo. A tutora relatou que o animal apresentara vocalização ao defecar, sugerindo dor.
Também relatou que, anteriormente, havia levado o animal a outra clínica e que o veterinário
que o atendeu suspeitava de pneumonia e, sem o uso de exames complementares, fez o
tratamento para pneumonia, mas não houve melhora por isso a tutora procurou uma segunda
opinião.
Após a anamnese e exame físico, foi requisitado o exame radiográfico do paciente para
investigação. Ao exame radiográfico verificou-se a presença de ovos (4) calcificados no espaço
anatômico do trato reprodutivo (figura 2). Com a suspeita de distocia foi iniciada a terapia
farmacológica com Ocitocina a 10 UI/kg e Gluconato de Cálcio 10% (dose empírica de 0,3ml
por animal) via intravenosa, foram feitas 3 aplicações com um intervalo de 48 horas entre elas.
Foi oferecido ao animal um local para nidificação e postura (caixa com vermiculita) em casa e
para o restante do manejo também foi indicada correção (temperatura, luminosidade, umidade,
alimentação). Terminadas as aplicações e após o período de espera, a tutora relatou que o animal
procurou a caixa com vermiculita algumas vezes, mas não conseguiu fazer a postura.

Figura 1 – Paciente Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus), fêmea, 35 anos com 6,8kg. Fonte:
Arquivo pessoal.
Figura 2 – Imagem radiográfica da paciente evidenciando a presença de ovos (4) com casca
calcificada em região anatômica de oviduto, suspeita de distocia e possível obstrução. Fonte:
Arquivo pessoal.
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Na imagem radiográfica anterior observou-se um dos ovos mais próximos a cloaca com
maior calcificação na casca. Suspeitou-se, então, de aderência e obstrução e com isso a
incapacidade de postura. Após considerações, foi concluído que o animal precisaria passar por
um procedimento cirúrgico para retirada dos ovos retidos. Com a autorização da tutora, foi
planejada uma ovariossalpingectomia. Levando em conta a anatomia do indivíduo, o tamanho
dos ovos, a possível obstrução e aderência, e o procedimento pretendido, optou-se pela
plastrotomia, e não o acesso pré-femoral, pela necessidade de uma janela cirúrgica maior.
O protocolo anestésico utilizado foi: Medicação pré-anestésica (MPA) com Cetamina
5 mg/kg via intravenosa; Indução com Propofol 0,5 mg/kg em bolus intravenoso; e manutenção
com Isofluorano 2% via inalatória. O animal foi intubado e colocado em decúbito dorsal para
acesso ao plastrão. Após a antissepsia do local foi feita incisão retangular na área dos escudos
abdominais, com auxílio de uma serra oscilatória, com cortes inclinados em 45 graus. Realizou-
se a irrigação do local com solução fisiológica enquanto a serra era utilizada para evitar necrose
térmica. Foi feita a elevação do fragmento e a divulsão do tecido muscular e o fragmento foi
retirado por completo e coberto com solução fisiológica para manter sua viabilidade. Foi feita
uma incisão na linha média, entre as veias abdominais, obtendo-se acesso à cavidade
celomática. Foram localizados os ovidutos com a presença dos ovos calcificados e ovários com
presença de folículos em diferentes fases de foliculogênese (figura 3).

Figura 3 – Após a abertura da cavidade celomática foi feita a exposição de ovários evidenciando
folículos em diferentes fases de foliculogênese. Fonte: Arquivo pessoal.
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Os ovidutos foram incisados e cinco (5) ovos foram retirados (um à mais do que a
radiografia evidenciou) (Figura 4). Após a retirada dos ovos foi feita a ligadura de cada oviduto
com fio de sutura monofilamentar não absorvível 3-0 (nylon) e os ovidutos foram
transeccionados em seguida. O mesmo foi feito para a retirada dos ovários. Após checagem da
cavidade e lavagem com solução fisiológica aquecida, foi feita a sutura da membrana
celomática com fio multifilamentar absorvível 2-0 de ácido poliglicólico. O fragmento ósseo
foi reposicionado e após a aplicação de fita microporosa nos locais de incisão, foi colocada
Resina Acrílica Autopolimerizável JET® (figura 5).

Figura 4 – Ovário retirado com folículos em diferentes fases de foliculogênese e ao lado os


cinco ovos retirados dos ovidutos, já calcificados. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 5 – Resina Acrílica Autopolimerizável JET® usada para manter o fragmento ósseo
posicionado até a cicatrização completa. Fonte: Arquivo pessoal.

Para o pós-cirúrgico foi prescrito Cetoprofeno na dose de 2 mg/kg SID (uma vez ao dia)
via subcutânea, Tramadol 4 mg/kg BID (duas vezes ao dia) por 5 dias e Enrofloxacina 5 mg/kg
SID por 21 dias. Como a tutora escolheu não internar o animal, ela o levava diariamente à
clínica para que fossem feitas as aplicações necessárias. Ademais, foram reforçadas as
recomendações para adequação de manejo e alimentação.
Após 4 a 5 meses o animal retornou à clínica para retirada da resina, mas ao retirá-la
percebera-se que ainda não havia cicatrização total, havendo pontos onde ainda era possível se
observar a musculatura (Figuras 6 e 7). Acredita-se que isso ocorreu devido à tutora não optar
pela internação e o animal ficar em casa aonde o ambiente não era tão controlado. Nesse caso,
foi feito um novo curativo com uma camada de Pomada de Deconto (figura 8), e cobertura da
ferida com fita microporosa em 5 a 6 camadas (alternando-se o sentido das fitas em cada
camada) e por cima foi usada cola cirúrgica para proporcionar firmeza à fita (Figura 9). A
Pomada de Deconto consiste na manipulação farmacológica de: Subgalato de Bismuto (5g),
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Óxido de zinco (5g), PVPI (1,5 ml), Talco (5g), Sulfadiazina (5g), Óleo de Fígado de Bacalhau
QSQ (30g).
Este curativo foi trocado a cada 15 a 20 dias até a total cicatrização que levou 6 meses,
totalizando 10 a 11 meses de cicatrização.

Figura 6 e 7 – Ferida cirúrgica ainda não cicatrizada totalmente após a retirada da resina,
possibilitando a visualização da musculatura. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 8 – Foi feita aplicação de uma camada grossa de pomada (camada amarelada na foto,
abaixo das fitas) e por cima, camadas de fita microporosa foram colocadas alternando o sentido
das fitas a cada camada (5 a 6 camadas).
Figura 9 – Por cima das fitas foi aplicada cola cirúrgica para proporcionar mais firmeza às fitas.
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4 DISCUSSÃO

Segundo Miller e Fowler (2015) é desafiador diferenciar um quadro de distocia de uma


simples retenção fisiológica. Por isso é importante se atentar ao histórico do animal, exame
físico e exames complementares. Exames de imagem, como a radiografia, são imprescindíveis
nesses casos. No presente caso, o histórico de vocalização e dificuldade ao defecar, sugeria dor
e tenesmo, indicativos de uma possível obstrução. São alguns dos sintomas descritos por
Trachia (2018).
Ao exame radiográfico foi possível identificar a presença de ovos na cavidade
celomática, um deles mais caudal e aparentemente mais calcificado. Esse método diagnóstico
possibilita avaliar o tamanho dos ovos e abertura da pelve, seu posicionamento e forma, além
de possível hipercalcificação da casca (DENARDO; STAHL, 2019; MATIAS, 2006). Além
disso poderia ter auxiliado, se fora requisitado, no descarte de uma possível pneumonia, suspeita
principal do veterinário que atendeu o animal anteriormente ao atendimento descrito.
Obtida a confirmação da presença de ovos na cavidade e levando em conta os sintomas
apresentados, optou-se pela tentativa de tratamento hormonal com Ocitocina e suplementado
com Gluconato de cálcio. Segundo Denardo e Stahl (2019) o melhor caminho é começar pelo
protocolo menos invasivo e, se for necessário, evoluir para um mais invasivo para evitar grandes
traumas, como cirurgias, sem necessidade real. O protocolo utilizado foi o de 10 UI/kg de
Ocitocina e Gluconato de Cálcio 10%, 0,3 ml por animal (dose empírica), em 3 aplicações, uma
a cada 48 horas. (CARPENTER; MARION, 2018; FLANAGAN, 2015). Alguns autores
recomendam 3 aplicações com o intervalo de 90 minutos entre elas (CARPENTER; MARION,
2018) e até com intervalos de 6 a 12 horas (DENARDO; STAHL, 2019), porém o intervalo de
48 horas foi preferido pensando no lento metabolismo dos Testudines e também pelo risco de
ruptura do oviduto ou fratura dos ovos.
Denardo e Stahl (2019) relatam que se o animal não fizer a postura após as três doses
de ocitocina, dificilmente ela irá acontecer, sendo o próximo passo o procedimento cirúrgico
para retirada desses ovos. No caso presente, a cirurgia foi considerada a melhor opção após o
tratamento farmacológico se mostrar ineficaz. A partir de considerações feitas levando em conta
os sinais, exames, anatomia do animal e procedimento pretendido, escolheu-se o acesso por
plastrotomia. Divers e Stahl (2019) recomendam a plastrotomia em animais em que o acesso
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pré-femoral não é possível, seja pelo seu tamanho ou pela necessidade de uma janela cirúrgica
maior.
O protocolo anestésico utilizado foi a Cetamina como MPA, com indução por Propofol
e manutenção por Isofluorano, com doses condizentes com a literatura encontrada. A Cetamina
é um anestésico dissociativo comumente utilizado na anestesia de répteis, podendo ser
associada a outros fármacos. O Propofol é um aquifenol sedativo e anestésico geral de curta
duração. O isofluorano é amplamente utilizado tanto para indução quanto para manutenção da
anestesia, é um anestésico geral para uso via inalatória através da vaporização (CARPENTER;
MARION, 2018; DIVERS; STAHL, 2019).
O procedimento de abertura do plastrão foi realizado com uma serra oscilatória, assim
como é descrito em diversas fontes: incisão retangular com angulação de 45 graus, com
irrigação simultânea para evitar necrose térmica, no local dos escudos abdominais, com abertura
suficiente para o procedimento pretendido (MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
Após a incisão o fragmento foi retirado por completo, e não somente rebatido, por necessidade
de mais espaço para se performar o procedimento. Muitos autores recomendam manter a
conexão do fragmento com os tecidos moles subjacentes para que a cicatrização seja mais
rápida posteriormente, mas em alguns casos é necessária a retirada total (DIVERS; WÜST,
2019; DUTRA, 2014).
O procedimento escolhido foi a ovariossalpingectomia (com autorização prévia da
tutora) que consiste na retirada dos ovários e ovidutos, uni ou bilateralmente. O procedimento
foi feito conforme descrito na literatura (DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON;
MEYER, 2004; STAHL, 2019). Foi necessário retirar primeiramente os ovos encontrados no
oviduto e depois fazer a retirada dos ovários e ovidutos (STAHL, 2019). É aconselhável o uso
de fios monofilamentares e absorvíveis para ligar os ovidutos e ovários antes da transecção de
cada um e para síntese da membrana celomática (DUTRA, 2014; MCARTHUR; WILKINSON;
MEYER, 2004; STAHL, 2019), entretanto foi utilizado fio de Nylon não absorvível para as
ligaduras e fio multifilamentar absorvível de ácido poliglicólico para a membrana celomática,
empiricamente.
Para a síntese do fragmento ósseo retirado, foi feita resina odontológica (Resina Acrílica
Autopolimerizável JET®) que promoveu a segurança do fragmento em seu local anatômico.
Essa é uma das maneiras recomendadas na literatura de realizar a síntese do plastrão, mas
também podem ser usados materiais como resina Epóxi (Poliepoxido) sozinha ou misturada à
fibra de vidro, resina para cascos (Technovit®), cimento odontológico e Ester de Cianocrilato
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(cola cirúrgica, super cola, Super Bonder®) (DIVERS; WÜST, 2019; DUTRA, 2014;
MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004).
No pós operatório é muito importante que haja o controle da temperatura, dor, umidade,
alimentação e hidratação, e higiene do ambiente para que o paciente tenha uma recuperação
mais eficiente, sendo indicado a internação do mesmo principalmente nas semanas iniciais de
pós-operatório (DUTRA, 2014). No caso relatado a tutora não optou pela internação e sim pelo
tratamento domiciliar o que pode ter retardado a cicatrização da ferida cirúrgica. Foram
prescritos Cetoprofeno, Tramadol e Enrofloxacina nas doses encontradas em referências
(CARPENTER; MARION, 2018; DIVERS; STAHL, 2019). Passados 4 a 5 meses, o animal
retornou para retirada da resina aplicada e avaliação da cicatrização, mas percebeu-se que não
havia cicatrização completa, sendo assim foi feito curativo com Pomada de Deconto (descrita
anteriormente) de forma empírica e foram feitas camadas de fita microporosa e Ester de
Cianocrilato (cola cirúrgica, super cola, Super Bonder®) por cima, como descrito por McArthur
(2004).
A cicatrização do plastrão geralmente leva 12 semanas, mas pode ser mais longa, por
isso a cobertura é retirada somente em 6 a 12 meses após a cirurgia. No pós-cirúrgico é
importante que animais não tenham contato com a água durante algumas semanas inicialmente;
é necessária a prescrição de antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios; controle dos
parâmetros ambientais (temperatura, umidade, exposição luminosa) e adequação da dieta (dieta
balanceada) (DIVERS; WÜST, 2019; MCARTHUR; WILKINSON; MEYER, 2004). A
cicatrização completa do paciente descrito ocorreu com 10 a 11 meses sendo o tempo previsto
em literatura.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1. Ainda existe uma escassez de trabalhos e pesquisas científicas quando se fala de


medicina de répteis, sendo assim muitos tratamentos ainda são usados empiricamente.

2. A maioria dos problemas encontrados nesses animais, não só de distocia, são causados
por erro no manejo, seja o ambiente (substrato, temperatura, umidade, luminosidade,
radiação UVA e UVB) ou a alimentação inadequada (deficiente). Por isso é necessário
que o tutor sempre procure orientações de profissionais veterinários especializados em
animais silvestres, antes mesmo de adquirir esse tipo de animal.

3. A distocia dificilmente é um problema agudo e emergencial, contudo é muito importante


uma anamnese bem feita, exame físico e exames complementares para diagnosticar a
distocia e então iniciar o tratamento adequado para as diferentes situações que possam
ser apresentadas.

4. Muitas técnicas não tão invasivas vêm surgindo quando se fala em cirurgia de
Testudines, como as cirurgias por celioscopia, mas alguns casos ainda exigem a abertura
do plastrão. Com isso, também surgiram métodos de síntese inovadores e que ajudam a
acelerar a cicatrização.
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