Há duas maneiras principais de explorar as Crônicas de Nárnia.
Uma delas — a mais fácil e,
de longe, a mais natural — implica pensar em cada conto como cômodos de uma casa. Passeamos pela casa vendo seus cômodos e o que existe neles, descobrindo com prazer como eles se conectam por corredores e portas. Somos como turistas caminhando por uma nova cidade ou país, observando os diversos panoramas e nos divertindo. [...] Mas há uma segunda maneira de ler os contos de Nárnia, que implica a imaginação como o principal órgão investigativo. Essa segunda maneira não invalida a primeira, mas se baseia nela e a aprofunda. Mais uma vez, pensamos nos contos de Nárnia como cômodos de uma casa. Mais uma vez, passeamos por ela, observando tudo. Entretanto, percebemos que os cômodos dessa casa têm janelas. E quando olhamos através delas, vemos o cenário de modo diferente. Conseguimos enxergar mais longe do que antes, à medida que a paisagem se descortina diante de nós. E o que passamos a enxergar não é um acúmulo de fatos individuais, mas o quadro maior que está por trás deles. Vista dessa maneira, nossa experiência imaginativa de Nárnia amplia nossa percepção da realidade. Depois disso, a vida no nosso mundo parece diferente. Assim, explorar Nárnia não é apenas descobrir essa terra estranha e maravilhosa; é também permitir que ela molde a maneira de vermos a nossa própria terra e vida. Usando o modo de falar de Lewis, podemos ver Nárnia como um espetáculo, algo a ser estudado por si só; ou então podemos vê-la, adicional ou alternativamente, como um par de óculos, algo que possibilita ver todas as outras coisas de uma maneira nova, quando são enfocadas nitidamente. A história nos cativa, levando-nos a ver as coisas à sua maneira, deixando de lado o que é ordinário e vendo, em vez disso, o extraordinário. Alister McGrath, in: A vida de CS Lewis: Do ateísmo às terras de Nárnia