Você está na página 1de 2

"A sociedade se compõe de duas grandes classes: os que têm mais

jantares que apetite e os que têm mais apetite que jantares."

N. de Chamfort.

“Quando banqueiros jantam juntos, eles falam de arte. Quando os artistas jantam juntos,
eles falam de dinheiro.”

Oscar Wilde.

O livro que você, caro leitor, tem em mãos é um marco inicial. Acho melhor usar
outro verbo para lhes dizer isso. O livro que você possui, caro leitor, será um marco inicial
na sua vida. Veja, os verbos são importantes e não troquei o “tem” por “possui” à toa. A
nossa protagonista, a Joana, inicia o livro possuindo poucas coisas e Raquel como toda
escritora que se preze, possui cuidado com as palavras, assim, já no início de seu romance,
ela faz questão de nos mostrar que sua protagonista possui poucas coisas.
O livro que você possui conta a história de Joana, uma menina do interior que foi
sobreviver na cidade grande. Uma das primeiras coisas que notamos é a presença de
nomes cristãos: Joana, Madalena, Pedro, Matias, Gabriel, ao mesmo tempo que temos
nomes mais seculares: Roberto, Allana, etc. Ou seja, a história nos mostra o tempo todo
esses dois lados da realidade: o sagrado e o profano. Mas, o livro nos conta isso não de
uma maneira moralista, dicotômica, ele nos mostra como as teias do sagrado estão em
quase todo o tecido da realidade e mesmo daquilo que a gente trata como profano.
O evangelista Mateus conta que um leproso decidiu que iria conversar com Jesus. A
gente sabe que no primeiro século, viver como uma doença como esta não era algo muito
fácil. Alguns historiadores dizem que eles tinham que viver fora da cidade, e carregar uma
espécie de sino, pois quando fossem andar perto das outras pessoas, os leprosos tinham
que tocar o sino e gritar “Leproso!”, “Leproso!” bem alto. Assim, quem estivesse passando
por perto podia se afastar e correr o risco de não se aproximar de uma impuro.
Voltando, acontece que um leproso decidiu que iria conhecer Jesus. E, mesmo
sabendo de tudo que acontecia quando ele se aproximava das multidões, decidiu que
tentaria chegar perto de Jesus. Mateus relata que ao invés de se afastar, Jesus tocou em
suas feridas. Eu imagino que lhe deu um abraço apertado e disse que tudo iria ficar bem.
Veja, há quanto tempo aquele leproso não sabia o que era um abraço? A vida
inteira? Nunca saberemos. Mas ele encontrou alguém que lhe tocou.
Nessa narrativa, percebemos que o toque cura. É uma das coisas que aprendemos
nesse romance escrito pela Raquel, que o toque cura.
Em "O Marco Inicial", somos transportados para o universo complexo e
multifacetado de Joana, uma figura que transcende as páginas e se instala profundamente
em nossos corações. Sob a pena habilidosa de Raquel Less, somos conduzidos por uma
narrativa envolvente que explora os recantos mais profundos da condição humana.
A história de Joana, entrelaçada com as vidas de Suzana e Madalena, revela-se
como uma tapeçaria intrincada, cheia de nuances e desafios. À medida que nos
aproximamos do desfecho, somos confrontados com dilemas emocionais e
questionamentos éticos que ecoam em nossas próprias reflexões sobre a vida, o amor e a
busca pela plenitude em meio à adversidade.
A revelação impactante de Zé, serve como um ponto crucial na trama, lançando luz
sobre mistérios anteriormente obscuros. Raquel Less habilmente guia o leitor por um
caminho repleto de reviravoltas, mantendo a tensão e o interesse até o último parágrafo.
Através das palavras habilmente tecidas por Joana, somos convidados a contemplar
temas universais de preconceito, violência social e a eterna busca por esperança em meio
ao desespero.
"O Marco Inicial" não é apenas um romance; é uma jornada profunda e significativa
que desafia nossas próprias percepções sobre a vida e nos instiga a refletir sobre o que
verdadeiramente importa. Ao adentrar estas páginas, prepare-se para uma experiência
literária que transcende o ordinário e deixa uma marca indelével em sua alma.
Raquel Less nos presenteia com uma obra que é, ao mesmo tempo, um espelho e
uma janela — uma reflexão de nós mesmos e uma visão para além das fronteiras do
conhecimento.

Este livro, caro leitor, agora é seu e o você o possui.

Gabriel Santana, Crítico Literário.


Quarta-Feira da Semana I do Tempo Comum

Você também pode gostar