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DISNEY PÓS-MODERNA
A presença do discurso pós-moderno nas histórias em
quadrinhos da personagem Margarida
DISNEY PÓS-MODERNA
A presença do discurso pós-moderno nas histórias em
quadrinhos da personagem Margarida
Aprovação
Resumo
O que está por trás do discurso supostamente inocente das histórias em quadrinhos?
Muito além do entretenimento, ele dissemina ideologias e padrões de comportamento.
Em Disney Pós-Moderna, a autora analisa o papel da mulher no período pós-moderno e
sua relação com o discurso das histórias em quadrinhos da personagem Margarida,
produzidas no Brasil nas décadas de 80 e 90.
Abstract
Resumen
¿Qué hay detrás del discurso supuestamente inocente de las historietas? Además de
entretenimiento, éste disemina ideologías y patrones de comportamiento. En Disney
Postmoderna, la autora analiza el papel de la mujer en el periodo posmoderno y su
relación con el discurso de las historietas de la personaje Daisy1, producidas en Brasil en
las décadas de 80 y 90.
1
Margarita en Argentina.
Sumário
Apresentação............................................................................................................................8
Primeira Parte: Comunicação, Ideologia, Contexto Social e Histórias em Quadrinhos.....10
1.1 Introdução..................................................................................................................11
1.2 Histórias em Quadrinhos, Ideologia e Comportamento.........................................13
1.2.1 A evidência do discurso social nos quadrinhos...................................................................15
1.2.2 A influência no público leitor..............................................................................................18
1.3 Pós-Modernidade.......................................................................................................21
1.3.1 Modernidade ou Modernismo?............................................................................................22
1.3.2 Teoria das Ondas..................................................................................................................22
1.3.3 Uma nova ambiência...........................................................................................................24
1.3.3.1 A Nova Era......................................................................................................................24
1.3.3.2 A Sociedade.....................................................................................................................28
1.3.3.3 O Sujeito.........................................................................................................................31
1.3.3.4 A Mulher..........................................................................................................................33
1.4 A Personagem Margarida.........................................................................................36
1.4.1 A Super Pata.........................................................................................................................39
1.4.2 O Gibi..................................................................................................................................40
Segunda Parte: Evidências de uma Margarida Pós-Moderna...........................................41
2.1 Crise e Pluralismo do Sujeito....................................................................................42
2.2 O Feminismo como Deslocamento do Sujeito..........................................................45
2.3 O Relacionamento Amoroso, o Casamento e a Maternidade.................................50
2.4 Tarefas Domésticas....................................................................................................55
2.5 O Fim do Sexo Frágil..................................................................................................58
2.6 Feminista, sem deixar de ser feminina.....................................................................60
2.7 Simulacro....................................................................................................................64
2.8 Profissional do Conhecimento...................................................................................67
2.9 A Conquista do Mercado de Trabalho......................................................................68
2.10 Cidadã - consciente.....................................................................................................74
2.11 Identidades Contraditórias........................................................................................76
Terceira Parte: Considerações Finais..............................................................................79
3.1 Conclusão...................................................................................................................80
3.1.1 A mulher nos meios de comunicação nos anos 80...............................................................80
3.1.2 Um novo estereótipo............................................................................................................82
3.1.3 Mudança Global...................................................................................................................84
Bibliografia.....................................................................................................................86
Livros.......................................................................................................................................87
Teses e Dissertações.................................................................................................................89
Monografias.............................................................................................................................90
Artigos.....................................................................................................................................90
Sites..........................................................................................................................................92
Gibis.........................................................................................................................................93
Anexos............................................................................................................................94
Histórias em quadrinhos citadas..........................................................................................................95
Apresentação
Quais foram as influências de pensamento que sofri ao longo de minha vida? E como
que numa retrospectiva, recordei as viagens que tive a oportunidade de fazer, os anos
escolares, os professores que me foram exemplo, a convivência com diferentes grupos
de amigos, a família, as músicas que ouvi, os filmes que assisti e... como não poderiam
faltar, as leituras que fiz. E já no final dessa retrospectiva me deparei com um gibi que
aos dez anos eu adorava: o gibi da Margarida!
Qual a relação desse gibi com a pós-modernidade e com a terceira onda de Toffler? Na
década de 80, a personagem Margarida (isso mesmo... a namorada do Pato Donald... ou
melhor, simplesmente Margarida, aliás, ela tornou-se independente) além de um gibi
próprio, ganhou uma nova personalidade. Ela deixou de ser a coadjuvante namorada do
Pato Donald e transformou-se no retrato da mulher da terceira onda. O velho coletinho
preto e rosa foi substituído por roupas modernas, ela passou a trabalhar fora e a lutar por
seus direitos e ideais. Este estudo analisa o discurso pós-moderno nas histórias em
quadrinhos da personagem e verifica a influência que causou na formação de garotas,
que como eu, eram leitoras assíduas do gibi.
1.1 Introdução
Alvin Toffler lançou o seu livro A Terceira Onda em 1980. O gibi número um da
Margarida foi lançado no Brasil em 18 de julho de 1986. A personalidade atribuída à
personagem, nas histórias em quadrinhos elaboradas no Brasil, está sustentada em
valores que coincidem com aqueles apresentados por Toffler e por outros autores que se
dedicaram ao estudo da pós-modernidade.
Será que o discurso utilizado nas histórias em quadrinhos apenas reflete as mudanças
mundiais discutidas pelos diferentes autores ou também são responsáveis pela sua
disseminação? Até que ponto a linguagem utilizada para levar entretenimento para
crianças não conduz o comportamento das mesmas? Pretendo com este estudo
evidenciar a repercussão dos ideais pós-modernos no discurso aparentemente inocente
das histórias em quadrinhos. A leitura de um gibi está repleta de significados e
dissemina de maneira efetiva temas complexos estudados pelas teorias da comunicação.
ocorridas a partir do final do século XX, em especial pelo feminismo, tido por Hall
como o quinto fato responsável pelo deslocamento do sujeito na atualidade.
Cabe aqui lembrar que os contos populares dos Irmãos Grimm que inspiraram a maioria
dos contos-de-fada produzidos pela Disney também eram direcionados para as crianças:
Diante disso, por que as histórias em quadrinhos estariam neutras em seu discurso? Com
o advento da indústria cultural de massa4, as histórias em quadrinhos das personagens
de Walt Disney - que começaram a ser publicadas em forma de revistas em quadrinhos
(os comic books norte-americanos), conhecidas popularmente no Brasil como gibis5 -
ganharam repercussão mundial e passaram a ser consumidas não somente pelo público
americano, mas também pelos países europeus e latino-americanos. Nesse contexto,
estudos foram realizados na eminência de provar que as histórias em quadrinhos,
enquanto produto cultural, carregam a influência da sociedade em que são
desenvolvidas. Como trata Mosatta:
6
“As histórias em quadrinhos, nos EUA, não são tão inofensivas: não só se encontram quase absoluta e
verticalmente integradas com a sociedade que as originou, mas estreitamente mescladas com as
instituições interessadas na integração e no status quo social” (1982:21).
7
A edição utilizada para desenvolvimento deste trabalho é de 1978.
Desconsiderando o caráter extremista da obra - que por ter sido desenvolvida por
socialistas radicais, apresenta uma análise também influenciada pela ideologia partidária
de seus autores – percebe-se a importância do estudo enquanto evidência da presença
ideológica nas histórias infantis. No entanto, não é possível afirmar – como fizeram os
autores – que esse discurso seja intencional e utilizado como arma de dominação
mundial. Deve-se levar em consideração que a obra cultural é elaborada em um meio e
dele adquire influência e reflete os fenômenos vigentes, como a Guerra Fria que
vigorava no contexto mundial da época. Como argumenta Renard:
“as bandas desenhadas8 são produzidas por grupos de imprensa e autores que,
por um lado, têm as suas próprias opções filosóficas, políticas e sociais, e por
outro, partilham os hábitos e costumes da sociedade onde se encontram. É por
isso que as suas obras reflectem ideologias, ou seja, crenças e comportamentos
convencionais que são de resto formulados, numa linguagem mais clara, pelos
discursos da política e da educação” 9 (1978:177).
Mas não é só a ideologia dominante e conservadora que está refletida nos quadrinhos.
Em análise de Peanuts, de Charles Schulz, percebe-se o papel dos quadrinhos como
sátira da sociedade moderna e modelo de sociedade humana. Seus personagens retratam
o conflito psicológico gerado no homem moderno pela sociedade capitalista. Já a
questionadora Mafalda, de Quino, representa os ideais da democracia liberal Argentina
da década de 60. Assim, pode-se dizer que os quadrinhos enquanto meios de
comunicação de massa estão abertos à disseminação de posicionamentos políticos e
ideológicos tanto de esquerda quanto de direita. O que nos faz acreditar que os
quadrinhos estão a serviço do grupo dominante é o controle dos meios de comunicação,
que na maioria das vezes está sob o poder dessa elite e que em momentos como de
ditaduras militares, pode censurar ou coibir a produção de histórias que apresentem
ideologia contrária à dos detentores de poder.
No entanto, o autor defende o caráter mitológico das histórias em quadrinhos que teriam
um aspecto compensatório para o leitor. As histórias de aventuras, por exemplo, seriam
fontes de fuga da monotonia cotidiana. Segundo estudo de Chambart de Lauwe11 sobre a
imagem da criança na imprensa infantil: “a criança encontra de facto nestas imagens
de crianças uma compensação para a sua situação na sociedade” (1970:126 apud
Renard, 1978:196). Assim, “enquanto o jovem leitor está dependente da família, o
jovem herói é independente, 44,2% dos personagens infantis não apresentam de facto
qualquer família; 18,1% só têm um tio ou um padrinho” (Renard 1978:196). O
personagem lido pela criança reflete a realização do que ela gostaria de ser. As
limitações impostas pela figura dos pais, por exemplo, desaparecem - nas histórias em
quadrinhos - simplesmente devido ao fato dos pais não existirem 12. Ou ainda, o grande
número de histórias que se passam fora dos centros urbanos, segundo pesquisa de
11
Chambart de Lauwe, Marie-José. L’enfant et sés besoins culturels dans la cité contemporaine, em Paul-
Henry Chambart de Lauwe, Images de la culture, Paris, Payout, col. Petite Bibliothèque Payout, nº 163,
1970 (capítulo 6, p. 111- 134).
12
É interessante lembrar que segundo a análise de Dorfman e Mattelart em Para Ler o Pato Donald, a
ausência de pais nos quadrinhos Disney é uma maneira de incutir a ideologia de supremacia americana no
inconsciente coletivo dos países subdesenvolvidos, com o objetivo de evitar os questionamentos diante de
relações de poder não justificadas. Como declaram os autores “a relação de poder entre pai e filho é
justificada pela biologia, já a relação de poder entre tio e sobrinho perde esta justificação. É uma
relação contratual que toma a aparência de uma relação natural, uma tirania que não assume sequer a
responsabilidade de um nascimento. Sepultou-se, inclusive, a natureza como causa de rebeldia. (Não se
pode dizer a um tio: ‘Você foi um mau pai.’)” (1978: 29).
Dessa maneira, podemos dizer que apesar não ter uma influência direta e determinante
na composição do pensamento e comportamento coletivo - que têm como determinantes
outros aspectos sociais e culturais como os valores transmitidos pela família, a época e o
contexto no qual se desenvolveu a formação do indivíduo – as histórias em quadrinhos,
assim como os demais meios de comunicação, também não estão totalmente
desassociados da composição ideológica vigente. Como salienta Cirne: “não existe
quadrinhos inocentes, assim com não existem leituras inocentes” (1982: 11). Não
devemos levar a análise de maneira extrema como Whertam15 na década de 50, mas
também não podemos defender a idéia de que apesar do discurso ideológico e político
estar presente nas produções de quadrinhos, não influencia em nada aqueles que os
consomem como fonte de entretenimento.
No livro Quadrinho para Quadrados, Silva (1976) faz uma análise sobre as histórias
em quadrinhos do personagem Flash Gordon. No capítulo intitulado ‘O que Flash
Gordon nos ensinou’, o autor demonstra como o enredo das histórias antecipou
fenômenos que só ocorreram três décadas depois. Nas palavras do autor:
13
Chambart de Lauwe, Marie-José. L’enfant et sés besoins culturels dans la cité contemporaine, em Paul-
Henry Chambart de Lauwe, Images de la culture, Paris, Payout, col. Petite Bibliothèque Payout, nº 163,
1970 (capítulo 6, p. 111- 134). As informações mencionadas foram citadas pela autora na página 128.
14
A errância a qual todo ser humano está submetido é tratada por Maffesoli (2001) em Sobre o
Nomadismo: vagabundagens pós-modernas.
15
Autor da polêmica publicação The seduction of the innocent, já mencionada anteriormente.
criou Flash Gordon (...) Suas concepções de máquinas, roupas, armas e tantos
outros objetos, antecipavam-se aos cientistas e técnicos, e iriam tornar-se
realidade com tanta exatidão no decorrer dos anos, influenciando todo o
complexo industrial do mundo ocidental” (1976: 71).
A afirmação do autor não tem confirmação científica, mas nos leva a rever o papel das
histórias em quadrinhos e a importância do seu discurso dentro do contexto social.
Como visto anteriormente, a presença dos discursos ideológicos é marcante na
composição dos quadrinhos. A questão que deve ser avaliada agora se refere ao poder de
disseminação das idéias e padrões de comportamento vigentes na sociedade na qual a
história foi desenvolvida e a sua capacidade de antecipar tendências não só dessa
sociedade, mas tendências mundiais. A partir do momento que os quadrinhos funcionam
como espaço para disseminação de idéias e valores, estão muito próximos de incuti-las
no imaginário de seus leitores, daí a sua importância enquanto ferramenta ideológica.
1.3 Pós-Modernidade
A discussão sobre a época pós-moderna tem suas raízes nos trabalhos realizados pelo
sociólogo Daniel Bell16 a respeito da sociedade pós-industrial. A sua interpretação sobre
o futuro da sociedade moderna, marcada pelo industrialismo, deu margem a diversos
outros estudos sobre a nova época que dava seus primeiros sinais de vida nos últimos
anos da década de 60.
No decorrer dos anos 70, as idéias do sociólogo Bell foram popularizadas por Toffler e
Peter Drucker17, entre outros autores. A cada releitura, a teoria ganhou uma nova
nomenclatura. Para Krishan Kumar, isso ocorreu porque os autores privilegiaram
aspectos de mudança diferentes em suas análises: “o que diferencia essas versões, não é
tanto o tipo particular de desenvolvimento que escolhem, mas os parâmetros que usam
para analisá-lo” (1997: 49). Assim, para citarmos alguns exemplos, na teoria pós-
fordista as relações de produção compõem o parâmetro de análise, enquanto que a teoria
da sociedade da informação, foca o advento do conhecimento.
16
Ver Cevoli (1999) e Kumar (1997).
17
Ver Kumar (1997).
A primeira grande onda foi a passagem da sociedade nômade – que vivia da coleta, caça
e pesca – para a sociedade agrícola. O domínio do solo transformou a civilização, que
além de extrair o seu sustento, passou a fixar-se nele. As famílias tornaram-se
multigeracionais e trabalhavam juntas, consumindo o que produziam.
Já a terceira onda, pela qual estamos passando, iniciou-se na segunda metade do século
XX e tem como propulsores: a crise de energia, o advento do conhecimento (tratado por
alguns autores como Revolução da Informação) e a globalização, entre outros inúmeros
fatores que se relacionam nesta cadeia de mudanças.
A alegoria da onda é utilizada por Toffler (1980) porque esses três grandes movimentos
se processam como as ondas do mar: assolam o planeta e não necessariamente uma
onda deve acabar para que a outra se inicie. Na verdade, elas se colidem. Assim, apesar
de quase extinta, a sociedade pré-industrial ou o movimento da primeira onda ainda
existe em algumas regiões da América Latina, Ásia e África. A segunda onda ou a
sociedade industrial compõe a maioria das nações e a pós-industrial tem deixado o seu
lastro nos países desenvolvidos e afetado aos demais devido à globalização.
“não são independentes umas das outras. Nem são fortuitas. Por exemplo, o
colapso da família nuclear, a crise global de energia, o advento do tempo
flexível e o novo pacote de vantagens adicionais, o aparecimento dos
movimentos separatistas (...), tudo isso parecem eventos isolados. A verdade,
entretanto, é o inverso. Estes e muitos outros eventos ou tendências
aparentemente desconexos estão inter-relacionados” (Toffler, 1980:16).
Para apresentar as principais mudanças ocorridas na nova ambiência e que resultam nos
valores pós-modernos, a análise é divida em quatro módulos. Em A Nova Era, serão
retratadas as mudanças globais; em A Sociedade, as mudanças que afetam diretamente o
convívio das pessoas em sociedade; em O Sujeito, serão abordadas as mudanças
ocorridas na identidade cultural do indivíduo e em A Mulher, a influência pós-moderna
no padrão de comportamento feminino.
No contexto vivido pelo mundo contemporâneo, no qual “o espaço foi ampliado para
cobrir todo o globo e está ligado quase que em ‘tempo real’” (Bell, 1980:62 apud
Kumar, 1997:23), a informação – assim como o solo na sociedade rural e a indústria na
modernidade – se transformou no motor propulsor de toda a sociedade. Por esse motivo,
as três grandes ondas podem também ser analisadas como três revoluções: a Agrícola, a
Industrial e a da Informação.
O mesmo ocorre com o espaço. Devido à virtualidade atribuída a ele, podemos conhecer
e nos comunicar com pessoas de qualquer país sem sair de casa. Negócios são fechados
sem que os executivos apertem suas mãos. Não há mais distância e isso fez surgir a
globalização, um dos fenômenos centrais do mundo pós-moderno responsável pela
transformação do “sentido do lugar no mundo” (Martín-Barbero, 2003:58).
Assim, podemos dizer que: “o processo de globalização que agora vivemos é ao mesmo
tempo um movimento de potencialização da diferença e de exposição constante de cada
cultura às outras” (Martín-Barbero, 2003:60), o que atribuiu à pós-modernidade a
importância tanto do global quanto do local, que assim como inúmeras outras vertentes
que parecem contraditórias, se justapõem na pós-modernidade.
massas. Na nova onda que se espalha pelo globo terrestre tudo se desmassifica. Cada
vez mais o desenvolvimento das novas tecnologias possibilita o atendimento às
particularidades do sujeito, a personalização é possível.
1.3.3.2 A Sociedade
Assim, aprendemos a acreditar no simulacro. O que era apenas uma prótese do real,
passa a compô-lo e a espetacularização substitui a racionalidade: “você passa a ser o
que mostra” (Sousa, 2003). Morrem as grandes utopias pelas quais a sociedade
moderna lutava e em seu lugar entra a performance, que está relacionada ao viver hoje e
não adiar a felicidade para um futuro incerto. Não importa mais a construção de uma
sociedade ideal para vivermos no futuro ou para que nossos filhos usufruam. Não existe
mais a luta contra o governo ditador, nem a luta pela liberdade, igualdade e fraternidade,
que nunca foram alcançadas. A sociedade pós-moderna deseja viver o presente, fazer do
hoje o mundo ideal.
Essa preocupação com o presente e não mais com o futuro, como ocorria na
modernidade, está associada principalmente com os problemas ambientais enfrentados
por todo o globo terrestre. Problemas com a camada de ozônio e com o esgotamento de
recursos naturais fazem surgir uma nova consciência coletiva que evidencia o AGORA,
que por vezes parece perto de acabar.
Os problemas com a biosfera e a crise da energia fizeram surgir um indivíduo que deve
ser responsável. O petróleo, o gás e o carvão - que garantiram o crescimento econômico
do industrialismo - são energias não-renováveis e a sua incorreta utilização, durante os
trezentos anos de sobrevivência da segunda onda, tornou evidente seu esgotamento e os
prejuízos causados à biosfera. Isso tem exigido uma nova postura dos cidadãos em
relação ao mundo em que vivem.
O indivíduo deixa de ser apenas uma peça na engrenagem da máquina social e passa a
ter opinião, a exigir seus direitos e respeito. Ele adquire consciência de cidadão e o
consumerismo:
Além dos avanços tecnológicos que proporcionam uma nova dimensão para o uso e
para a importância do conhecimento no mercado de trabalho, até então dominado pela
linha de produção mecanicista, as relações de trabalho pós-modernas também foram
afetadas pela nova estrutura das relações familiares.
Tipo Composição
Solos Famílias de uma pessoa só, os que vivem sozinhos.
Viver juntos Pessoas que moram juntas sem nenhum compromisso civil.
Sem filhos Casais que optam por não ter filhos.
Agregada Dois divorciados com filhos se casam e compõem uma nova família.
Um dos pais Filhos que moram apenas com um dos pais seja por motivo de divórcio, por serem filhos de
mães solteira, filhos tidos fora do casamento ou fruto de adoções por pessoas solteiras.
Esses são poucos exemplos das inúmeras possibilidades que já surgiram em nossa
sociedade. “Essa diversidade da estrutura familiar revela a diversidade que
encontramos na economia e na cultura, enquanto a sociedade de massa da Segunda
Onda se desmassifica” (Toffler, 1997:112) e tem relação direta com as mudanças
ocorridas na relação homem X mulher e com a redefinição do papel de ambos na
sociedade, da qual trataremos posteriormente.
1.3.3.3 O Sujeito
A onda de mudanças pela qual o mundo está passando afeta não só estruturas políticas,
formas de produção e o convívio em sociedade, mas também e, conseqüentemente, o
indivíduo:
O sujeito da nova ambiência é “composto não de uma única, mas de várias identidades,
algumas vezes contraditórias ou não resolvidas” (Hall, 2005:12). O dualismo
predominante na Idade Moderna foi substituído pelo pluralismo. Hoje, o sujeito possui
várias identidades, relacionadas às questões de raça, sexo, gênero, posicionamento
político, classe social, entre outras. De acordo com a situação, o sujeito considera mais
ou menos uma de suas identidades para posicionar-se em relação a determinado assunto.
Essas múltiplas identidades, por vezes, podem ser até contraditórias:
Segundo Hall, o sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou
permanente. “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados
nos sistemas culturais que nos rodeiam” (Hall, 2005:13). Isso faz do sujeito pós-
moderno um ser plural e que por ter a nova ambiência como algo definitivamente novo,
entra em crise por não ter mais o seu papel único no mundo. Ele busca entender qual o
seu novo lugar na nova sociedade.
1.3.3.4 A Mulher
A mulher, com certeza, foi quem mais mudou com o início da terceira onda. Com a pós-
modernidade, ela deixou de ser submissa ao marido e foi para fora de casa buscar seu
espaço e seu tempo. O movimento feminista da década de 60, sem dúvida, é um marco
para essas mudanças e conseqüência da nova ordem social que começava a se propagar.
18
Segundo Hall (2005), essas cinco rupturas representam avanços na teoria social e nas ciências humanas.
A primeira é a reinterpretação feita na década de 60 do pensamento Marxista, que nega a existência de
uma essência universal de homem tirando-o do centro do sistema teórico. A segunda ruptura vem da
descoberta do inconsciente por Freud: “a teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e
a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do
inconsciente, que funciona de acordo com um ‘lógica’ muito diferente daquela da Razão, arrasa o
conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada” (Hall, 2005:36).
O terceiro deslocamento está associado com o trabalho de Saussure, no qual ele conclui que apenas
utilizamos a língua segundo padrões estabelecidos para nos posicionarmos de acordo com propostas pré-
existente. A quarta ruptura ocorre no trabalho de Foucault que conclui que “quanto mais coletiva e
organizada a natureza das instituições da modernidade tardia, maior o isolamento, a vigilância e a
individualização do sujeito individual” (Hall, 2005:43). A quinta ruptura, ou deslocamento, é o
feminismo.
Com o advento da segunda onda, o trabalho que na sociedade agrícola era realizado por
toda a família foi dividido. Coube ao homem prover o sustento da família através do
desempenho do trabalho que na era industrial passou a ter como foco o mercado
consumidor:
A primeira aparição de Margarida foi no desenho animado Mr. Duck Steps Out, exibido
em sete de junho de 1940 e em quatro de novembro do mesmo ano, ela chegou aos
quadrinhos pelas mãos de Taliaferro. Nas primeiras tiras em que apareceu, acabara de se
mudar para a casa ao lado da de Donald, que se apaixonou por ela.
Antes de Margarida, uma outra namorada foi atribuída ao Donald. O nome dela era
Donna e apareceu pela primeira vez em nove de janeiro de 1937 no desenho Don
Donald. Depois disso, não figurou mais em nenhum desenho animado, mas tornou-se
personagem regular na tiras de jornal da Disney. Por serem muito parecidas, alguns
acreditam que Donna e Margarida são a mesma personagem. No entanto, em tira
publicada em sete de agosto de 1951, as duas apareceram como rivais pelo amor de
Donald, o que contradiz essa teoria.
Desde sua criação, a Margarida sempre foi diferente das outras personagens femininas
do Walt Disney por possuir uma personalidade forte, como salienta Roberto Elísio dos
Santos em sua tese de doutorado:
19
Editora Brasil América Ltda. “A Ebal foi a maior e mais importante editora de quadrinhos do Brasil,
tendo sido criada em 1945 por Adolfo Aizen”. Foi responsável pela publicação de inúmeros autores
estrangeiros no Brasil, entre eles Walt Disney, através da revista Seleções Coloridas. Fonte:
www.gibindex.com/enciclopedia/br/e/46. Acessado em 17/03/2006.
No início, Margarida era apenas coadjuvante das histórias e tiras do seu atrapalhado
namorado Donald. Foi com a criação de Diário da Margarida, na década de 50, por Carl
Barks, que a personagem começou a ter suas próprias histórias. Narradas em primeira
pessoa, eram histórias curtas e cômicas originadas de anotações que Margarida fazia em
seu diário Apesar de sua personalidade forte e de seu humor temperamental, os temas
dessas histórias abrangiam o romance, o ciúme e as atrapalhadas de uma personagem
consumista e fútil. Sua principal ocupação era ser presidente do Clube Feminino de
Patópolis, no qual ela organizava cursos de culinária, eventos beneficentes, sessões de
costura e bordado.
As últimas histórias elaboradas por Carl Barks, na década de 60, marcaram o início da
versão feminista da pata. Ela passou a trabalhar e se destacar pela sua competência e
inteligência. Era secretária do Tio Patinhas e a demonstrava interesse em firmar-se
profissionalmente. Tony Strobl, responsável pela maioria das narrativas na década de
70, seguiu a linha deixada por Carl Barks e apresentou histórias nas quais Margarida
figurava ora como repórter, ora como policial feminino. A inteligência e a competência
da pata continuaram a ser delineadas nas histórias, reforçadas pela preguiça e
incompetência dos primos Donald e Peninha, com os quais Margarida dividia a redação
do jornal.
Isso ocorreu na década de 80, foco desta pesquisa. Foi nessa época que os desenhistas
brasileiros ao lado dos roteiristas Gerson Teixeira e Arthur Faria Junior - apesar de
seguirem a linha já desenvolvida na década de 70, de mulher, ou melhor, pata inteligente
e profissional - adaptaram sua personalidade e seu visual aos novos tempos. Margarida
ganhou um gibi próprio no Brasil e se consolidou como exemplo da mulher
independente.
As histórias escritas pela editora Abril, a partir de 1986 (ano que o gibi da Margarida foi
lançado no Brasil) atualizaram a personagem e lhe acrescentaram uma postura pós-
moderna. A versão brasileira das histórias em quadrinhos da Margarida atribui à
personagem valores diferenciados em relação à personagem retratada em outros países,
principalmente no seu país de origem: os EUA.
“Ela deixa de ser a fútil representante do sexo feminino, que só tem interesse em
freqüentar a alta sociedade ou de participar de chás beneficentes com suas
amigas e de consumir compulsivamente, e passa a assumir riscos e a enfrentar
perigos, mostra-se mais inteligente e eficiente do que seus colegas de trabalho
(especialmente Donald) e aceita empregos como taxista, repórter televisiva,
professora, gerente de loja de roupas femininas, maquinista de trem, arqueóloga
a até jóquei” (Santos, 1998:303).
“Os brasileiros não criaram uma situação falsa ou ideal, mas basearam-se na
constatação de que a mulher, naquele momento, já havia superado diversas
barreiras sociais e morais e estava efetivamente se dedicando a profissões antes
restritas aos homens, ocupando postos mais altos no mercado de trabalho e
qualificando-se mais (por exemplo, em cursos universitários que eram
freqüentados majoritariamente por estudantes do sexo masculino, como
Administração de Empresas e Economia)” (Santos, 1998:303).
A Super Pata foi criada na década de 70 pelos quadrinhistas italianos. Versão feminina
do Super Pato, identidade secreta de Donald. O Super Pato foi originalmente criado para
mostrar o Donald em situações nas quais ele sai vencedor, já que normalmente ele é
retratado como um perdedor. No entanto, ao lançarem a Super Pata, chamada na Itália
de Paperinika (o nome da Margarida lá é Paperina), ela tornou-se a vencedora das
histórias enquanto Donald voltou a ter o seu papel de fracassado. Por causa disso, as
crianças italianas reclamaram e os editores não mais utilizaram a personagem nas
histórias elaboradas na Itália. Os quadrinhistas brasileiros continuaram a usar
personagem que ganhou histórias próprias nos gibis da Margarida.
1.4.2 O Gibi
Margarida foi a primeira personagem feminina da Disney a ganhar sua própria revista
no Brasil. Isso aconteceu em 1986 e a Margarida segurou-se nas bancas por 11 anos. De
1986 a 1997, totalizou 257 números, além de almanaques e edições especiais. Saiu das
bancas em setembro de 1997, ocasião em que o arrefecimento do mercado de
quadrinhos ocasionou baixa vendagem dos gibis e por esse motivo a Abril resolveu
parar com a produção nacional21.
Das 257 edições publicadas foram destacadas nesta análise 29 histórias para
exemplificação do conteúdo conceitual que compõem o discurso da personagem. As
histórias foram escolhidas por evidenciarem os tópicos analisados e representarem
enfaticamente o tema proposto o que as qualificam como amostragem.
21
Fonte: www.universohq.com/quadrinhos/2004/disney_brasil01.cfm . Acessado em 20/12/2005.
22
Código de identificação da história em quadrinhos. A primeira letra identifica o país em que foi
produzida (B = Brasil); os dois primeiros números representam o ano de aprovação da história (86 =
1986); os números que seguem o ano identificam a numeração seqüencial de todas as histórias aprovadas
no ano (008 = oitava), MG é o código do gibi (MG = Margarida) e a fração apresentada no final de cada
código identifica a posição da história dentro do gibi (1/1 = revista número 1, primeira história).
Conforme afirma Hall: “o sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade
unificada e estável (como se supunha na modernidade), está se tornando fragmentado;
composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias
ou não resolvidas” (2005:12). Isso faz da pluralidade uma característica predominante
na formação do sujeito pós-moderno e essa pluralidade de identidades marca as histórias
em quadrinhos da personagem desenvolvidas no Brasil. Margarida que era apenas a
namorada do Pato Donald, torna-se – além de namorada – mulher emancipada,
profissional, cidadã-consciente, esportista radical e feminista convicta.
apaixonada por Donald. Como repórter - ora da revista A Patinha, ora do jornal A Patada
- é capaz de escrever matérias sobre assuntos considerados fúteis como moda e beleza e
matérias polêmicas que denunciam a má administração do prefeito de Patópolis.
Sintonizada com tudo que diz respeito ao seu tempo, está sempre disposta a encarar uma
aventura, a desvendar um mistério e a exigir seus direitos quando se sente injustiçada.
23
nomeado por Hall (2005): o feminismo, que junto com outros movimentos sociais
surgidos no final da década de 60, enfraqueceu as estruturas estáveis da modernidade ao
contestar o papel da mulher na sociedade, em relação à família, à sexualidade, ao
mercado de trabalho, à divisão das tarefas domésticas, à execução de atividades
consideradas tipicamente masculinas, etc.
Figura 5. Fonte: B 870089 MG 44/1. A luta contra a desigualdade de direitos entre homens e
mulheres.
23
A relevância do feminismo em relação aos outros movimentos sociais, como os antibelicistas por
exemplo, está no fato de que ele tomou proporções abrangentes, como descreve Hall: “aquilo que
começou como um movimento dirigido à contestação da posição social das mulheres expandiu-se para
incluir a formação das identidades sexuais e de gênero” (2005:45-46).
publicada no gibi mostra a identidade feminista da pata e o que ela pensa sobre a antiga
e a nova Margarida (Figura 4).
Em
Em praticamente todas as histórias, nos deparamos com situações nas quais Margarida
enfrenta alguma forma de discriminação em relação à mulher, geralmente explícita no
discurso dos personagens masculinos. O preconceito funciona, na constituição das
histórias em quadrinhos, como motivo para que se aborde o feminismo e se fale do
posicionamento da mulher pós-moderna.
país, que já influenciadas pelo feminismo de Margarida, passam a ter atitude e a lutar
pelo que consideram correto. Margarida não perde a oportunidade de mostrar-lhe que as
mulheres não são em hipótese alguma inferiores aos homens (Figura 9).
Com exceção do seu relacionamento com Donald, que muitas vezes coloca a Margarida
em contradição e do qual falaremos posteriormente, a personagem tem um
posicionamento muito claro sobre como uma mulher deve se comportar em relação ao
parceiro. Deslocada do padrão moderno de família nuclear, no qual o homem comanda a
relação e provém seu sustento, a nova Margarida deixa claro que a mulher deve tomar a
atitude no relacionamento e não deve se deixar ser subjugada pelo sexo oposto.
Figura 10. Fonte: B 860186 MG 32/1. A mulher pós-moderna toma a iniciativa no relacionamento
amoroso.
coração de Margarida já tem dono e vai embora desconsolado. Margarida percebe que
tem uma patinha das cavernas que é apaixonada por ele e a ensina a ter iniciativa no
relacionamento (Figura 10).
Outra história que tem como tema central o relacionamento amoroso é Meu Gênio (B
Figura 11. Fonte: B 870012 MG 31/3. Mais racional que a mulher moderna, a pós-moderna tem o
amor-próprio como prioridade.
Figura 12. Fonte: B 870012 MG 31/3. Iniciativa e amor-próprio: a mulher pós-moderna luta pelo
relacionamento sem se humilhar.
No número 15, a pata além do seu trabalho de jornalista, atua como manequim e
aparece de biquíni em uma revista. As fotos causam a revolta do namorado que se sente
ridicularizado com a situação. A reação dele – como a de qualquer homem moderno –
não poderia ser diferente, resultou na proibição. Proibir a esposa ou namorada, de fazer
algo é a primeira reação do homem que um dia teve o controle da situação em suas
mãos. Como uma boa mulher da terceira onda, que deixou de ser dependente
financeiramente e conseqüentemente isso contribuiu para a sua independência afetiva
também, prefere perder o companheiro (Figura 13) do que ser subjugada como nas eras
anteriores. O discurso da independência dos sentimentos resultou em uma geração
caracterizada por casamentos tardios, na qual as mulheres priorizam a carreira ao invés
da constituição de uma família.
Assim, em suas histórias, Margarida deixa claro que a mulher da nova ambiência tem
Figura 15. Fonte: B 860194 MG 22/1. O vampiro Figura 16. Fonte: B 860206 MG 25/1. A
como alegoria do homem moderno. maternidade assusta a mulher pós-moderna.
Figura 19. Fonte: B 860137 MG 12/1. Divisão de funções estipulada pelo modernismo: homem no
mercado de trabalho e mulheres restritas aos afazeres domésticos.
Hoje podemos falar da ´terceirização dos afazeres domésticos´, definido pela jornalista
Luciana Mello, como: “maravilhoso fenômeno da contemporaneidade feminina” 24 que
possibilitou às mulheres da nova ambiência, descobrirem que há vida fora de casa. A
exaltação da vida pública em lugar da vida privada – do trabalho profissional ao invés
dos afazeres domésticos – é constantemente encontrada nas publicações da pata
Margarida.
A questão da responsabilidade pela execução das atividades doméstica até hoje perdura
Figura 20. Fonte: B 860137 MG 12/1. Mesmo quando ‘terceirizado’, o trabalho doméstico é
realizado por mulheres.
Segundo dados do IBGE, o serviço doméstico que em 1992 ocupava o quinto lugar
entre as principais profissões das mulheres, em 2001 tornou-se o segundo tipo de
trabalho. Em 1992, havia 3,6 milhões de mulheres empregadas em serviço doméstico.
Em 2001, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) identificou 5,3
milhões na mesma situação. Ou seja, houve um aumento de 47%. 25 Assim, mesmo que a
mulher tenha terceirizado esse serviço, ele continua sendo atribuição feminina, como
retratam Donald (vestido de princesa) e o cavaleiro mau (Figuras 20 e 21) na história
Nos tempos das cavaleiras andantes (B 860137 MG 12/1).
24
Luciana Mello escreveu sobre este assunto para o site www.releituras.com em artigo chamado Julieta
pós-moderna. Acessado em 15/11/2005.
25
Fonte: www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u67680.shtml . Acessado em 13/12/2005.
O tema é recorrente em O
Cilindro Mágico (B 870065 MG
34/1), história na qual
Figura 21. Fonte: B 870065 MG 34/1. Cozinha é lugar de
Margarida recebe a mulher para o homem da modernidade. visita da
amiga Clarabela e do
namorado. A polêmica surge porque a pata pede para Donald preparar os sanduíches e
ele reage indignado com o fato de ter que ir para a cozinha (Figura 22), afinal para o
homem da modernidade, isso é tarefa de mulher. Após muito relutar, Donald concorda
em atender o pedido da namorada. Mas quando Clarabela e o namorado chegam, a
polêmica é retomada. Carlão ridiculariza o pato por estar na cozinha. O fato de Donald
vestir um avental vira piada para o tradicional Carlão, que vê o trabalho doméstico e
tudo o que se refere a ele, como objeto de uso feminino (Figura 23).
Figura 22. Fonte: B 860137 MG 12/1. Ainda Figura 23. Fonte: B 870065 MG 34/1. Avental:
hoje, associa-se a atividade doméstica ao sexo objeto feminino, por quê?
feminino.
Figura 24. Fonte: B 860187 MG 20/1. A mulher pós-moderna é criticada pela mulher da
modernidade.
A discussão entra em debate quando sua amiga Clara de Ovos a critica pela atitude,
alegando que não é feminino saber lutar para se defender (Figura 24). Seu conselho é
um só: gritar! (Figura 25). Está em pauta a mulher moderna versus a mulher pós-
moderna e a história deixa claro que é a mulher da nova ambiência que está correta.
Após armar um ‘berreiro’ com direito a megafone, Margarida causa um tumulto tão
grande Patópolis, que faz o prefeito incentivar as mulheres da cidade a freqüentarem
cursos de defesa pessoal.
Reflexo da mulher pós-moderna, que vive em uma época marcada pela influência e
importância da imagem, Margarida, além de fazer questão de ter seus direitos
garantidos, está sempre bela. Assim, a estética mesmo não sendo mais a única
preocupação da pata - que agora tem assuntos mais importantes para pensar - continua a
influenciar sua vida. Em muitos momentos, a estética transforma-se em oportunidade
para a personagem, que se tornou editora da revista A Patinha, devido ao seu interesse
por ‘assuntos femininos’ relacionados à beleza e moda.
Figura 27. Fonte: B 870011 MG 30/10. O outro nos percebe pelo que mostramos ser.
Figura 28. Fonte: B 870011 MG 30/10. A beleza funciona como cartão de visita no universo
profissional.
Figura 29. Fonte: B 870011 MG 30/10. Sátira da associação (moderna) feita entre mulher e
delicadeza.
Outra referência à preservação do feminino é feita através do uso dos termos: toque’ e
‘jeitinho’ feminino (Figura 29). Nas histórias eles representam uma maneira especial,
que só as mulheres conhecem, de fazer as coisas. Em algumas situações podem até ter
um significado peculiar que remete à iniciativa e a luta pelos seus direitos que a mulher
pós-moderna tem como foco (Figura 30). É a justaposição do feminismo com o
feminino, que ocorre no pluralismo de identidades do sujeito. Essas identidades por
vezes se confundem.
Essa relação entre ‘jeitinho’ feminino e o próprio feminismo também é uma evidência
de que até o conceito do que é feminino mudou. Hoje, tudo pode ser feminino porque
não há, ou não deveria haver, mais a diferença entre homem e mulher. É o que
demonstra a história A Guerra das Amazonas, o jeitinho feminino das amazonas é usar a
força física, mostrando que elas não são o sexo frágil como pressupõem os homens
(Figura 31). O feminino hoje não está mais apenas relacionado ao delicado, subjetivo e
sensível – como proposto pelo estereótipo moderno de mulher. Se a mulher mudou, o
Figura 30. Fonte: B 870011 MG 30/10. O jeitinho Figura 31. Fonte: B 870011 MG 30/10. O
feminino ganha novo significado na pós- jeitinho feminino pós-moderno não é
modernidade. necessariamente dócil.
2.7 Simulacro
A partir de então,
como uma Figura 33. Fonte: B 860061 MG 6/1. Você é o que mostra. boa
Outra evidência do uso da moda para demonstração do que se é, ou do que se deseja ser,
ocorre na história Ah, Os Velhos Tempos... (B 870157 AMG 1/1). Ao vestir o velho traje
para agradar Donald, a personagem tem medo que as amigas a vejam e pensem que ela
voltou a ser a antiga Margarida (Figura 34). Essa passagem da história demonstra bem a
importância da aparência como simulação na nova ambiência.
solucionada com adequação do aparelho para duas pessoas, assim o estar-junto fica
garantido e com a ambientalização do espaço com gravação de conversas de salão,
temos o simulacro do salão de beleza (Figura 35). Por compartilhar o momento com
alguém e no ´clima´ do real, não necessariamente a personagem precisa viver o real,
basta viver algo que o imite.
Figura
Figura
36.37.
Fonte:
Fonte:
BB870116
870116
MGMG 40/1.
40/1. Salários
Discriminação
mais baixos que
no mercado
dos homens:
de trabalho.
o problema
E já que estamos falando de profissão, a procura de permanece.
Figura 38. Fonte: B 860057 MG 4/1. Guerra dos sexos no ambiente de trabalho.
Margarida ficou indignada com a resposta (Figura 38) e nesse dia começou a provar
para a sociedade machista de Patópolis que ela pode realizar qualquer trabalho muito
melhor do que qualquer homem (Figura 39).
Figura 39. B 860057 MG 4/1. Mulher tem que provar sua competência a
todo instante.
A partir de então, não recusou nem temeu nenhum tipo de tarefa. Por isso devemos
destacar aqui as outras atuações profissionais de Margarida, que como mencionado
anteriormente, são esporádicas, vigorando em uma história apenas, e sempre
demonstrando que a mulher é capaz de exercer qualquer atividade que um homem
realize.
Depois do seu emprego, em Pra Mau Pagador, Ótima Cobradora (B 860057 MG 4/1) –
no qual ela foi responsável em fazer todas as pessoas, que deviam para o Tio Patinhas,
pagarem suas dívidas – Margarida já apareceu nas mais diferentes situações como, por
exemplo, na revista de número 14, na qual ela se tornou uma espiã; ou na de número 21,
na qual ela se transformou em atriz de cinema. Em Trabalho Para Machão... Onde? (B
870014 MG 29/1), assumiu o posto de guarda-florestal e na edição especial de
aniversário 28-A, trocou de lugar com o prefeito por uma semana, colocando ordem em
Patópolis. Além disso, já exerceu a função de xerife, arqueóloga, taxista, caminhoneira,
entre outras.
Figura 42. Fonte: B 870014 MG 29/1. ...toda profissão é permitida para a mulher pós-moderna.
Figura 43. Fonte: B 870014 MG 29/1. Causa Figura 44. Fonte: B 870014 MG 29/1. A
feminista. importância do grupo.
assim, tem que cuidar da aparência, é o assunto em pauta na história. O discurso, como
sempre, em nenhum momento critica essa identidade plural do sujeito e pelo contrário
apresenta uma condição de superioridade feminina, devido ao fato da mulher conseguir
dar conta de todas as suas atribuições.
Figura 45. Fonte: B 870116 MG 40/1. Figura 46. Fonte: B 870116 MG 40/1. Ousadia e
Competência profissional. espetacularização
Chamada para uma reunião urgente, Margarida acaba saindo do salão de beleza sem
terminar de se arrumar - com bobes na cabeça - e por esse motivo causa transtornos na
cidade. Todos se assustam com a sua aparência. O discurso da história mostra a rotina
da mulher pós-moderna que tem dupla e às vezes, tripla jornada de trabalho (Figura 48).
Em sua identidade de cidadã, Margarida como sempre é proativa. Não deixa passar um
abuso de preço ou um ataque contra a natureza. Ela dissemina o padrão consumerista
marcante na pós-modernidade. Pensa no seu bem-estar e no da comunidade e quer seus
direitos respeitados. O lado consumerista de Margarida é mostrado na revista de número
cinco em Os Preços e a Fama (B 860049 MG 5/1). Na história, ela é o pivô de uma
grande confusão em um supermercado, devido ao abuso de preços (Figura 49).
Figura 50. Fonte: B 860049 MG 5/1. Reivindica Figura 51. Fonte: B 870028 MG
seus interesses. 28A/1. Ética política.
Mostrando que as mulheres fúteis do passado não estão mais em voga, na revista de
número 28-A - edição especial de aniversário - Margarida em Prefeita Perfeita (B
870028 MG 28A/1) trata de assuntos de interesse da população e denuncia a má
administração do prefeito de Patópolis (Figura 51). Isso mostra que a mulher pós-
moderna, além de falar de beleza, também está interessada em assuntos de outras
naturezas, como político, econômico e cultural.
Figura 53. Fonte: B 870157 AMG 1/1. Opinião sobre a antiga Margarida.
Margarida (Figura 53), acaba sucumbindo à chantagem do namorado que arde em febre
e veste a antiga roupa.
Figura 54. Fonte: B 860205 MG 26/1. O Figura 55. B 860205 MG 26/1. O ciúme versus
feitiço contra o feiticeiro. a mulher pós-moderna.
Em
Novo Pato no Pedaço (B 860205 MG 26/1), a contradição vivida pela personagem é
ainda mais evidente. Donald para participar de um jogo de futebol tem que desmarcar
seu encontro com Margarida e para isso usa o próprio discurso pós-moderno da pata
para tratar o relacionamento (Figura 54). Margarida, apesar de ter mantido a pose de
mulher contemporânea teve uma crise ao estilo moderno, de mulher ciumenta (Figura
55), sem falar na atitude de provocar ciúmes no Donald que não condiz com seu novo
comportamento.
57) até fazer as pazes com o namorado. O ciúme também é abordado, de maneira
divertida em Queda pra Pára-Quedismo (B 860150 MG 13/1), história na qual Donald
sente ciúmes do instrutor de pára-quedismo de Margarida porque o pato é ‘bonitão’,
depois de criticar o namorado pelo comportamento inseguro, Margarida passa pela
mesma situação ao ver que a instrutora de Donald é uma mulher muito bonita.
Figura 57. Fonte: B 870049 32/1. ... a teoria não condiz com a prática.
3.1 Conclusão
Produção essa que pode ser um seriado - como no caso de Malu Mulher - uma
telenovela, um filme, um romance, um texto jornalístico, uma peça teatral, uma
composição musical, um programa de variedades ou uma história em quadrinhos, como
a da Margarida. Coincidência ou não, no mesmo ano em que a emancipação da mulher
começava a ganhar espaço no Brasil, Alvin Toffler lançava seu livro A Terceira Onda,
no qual apresenta as mudanças relacionadas ao declínio da hegemonia da sociedade
industrial e ascensão dos ideais pós-modernos, inclusive relacionados aos novos padrões
de composição familiar e comportamento feminino.
A exemplo dos demais meios de comunicação, nessa mesma década, no ano de 1986, o
gibi da Margarida foi lançado no Brasil com histórias produzidas por quadrinhistas
brasileiros que, influenciados pela época de transição e questionamentos pela qual
passava o país e o mundo, atribuíram à personagem uma roupagem típica da nova
mulher que galgava seu lugar na sociedade, não apenas como esposa e mãe, mas como
profissional economicamente ativa, independente financeiramente, não mais submissa
ao domínio masculino e disposta a lutar por seus direitos e ideais. É interessante
atentarmos ao fato de que são roteiristas e desenhistas homens retratando a mudança
pela qual passa o gênero feminino. Não temos aqui a ideologia feminina disseminada de
maneira intencional por um grupo feminista extremista como suporia os mais radicais
(como Dorfman e Mattlart em suas análises sobre os quadrinhos Disney), mas o reflexo
de uma sociedade em transição. São homens percebendo os anseios, os novos ideais e o
novo modo de pensar e agir femininos, o que mostra a importância do alcance dessas
mudanças percebidas em toda a sociedade por ser um processo global.
partir de 1986, notaremos que as realizações e o estilo vida perseguidos pelas mulheres
são alcançados pela pata, que se torna o estereótipo da nova mulher. Margarida é a
referência de tudo que a mulher contemporânea quer e pode alcançar e dessa maneira,
supõe-se que o gibi da personagem além de refletir e disseminar as mudanças vigentes
na sociedade, pode de alguma forma influenciar o comportamento das leitoras que ao
ingressarem na vida adulta almejam o mesmo estilo de vida da personagem.
Quando analisamos os discursos das histórias em quadrinhos, percebemos que eles são
repletos de estereótipos sociais e o gênero feminino é um deles. No final da década de
70, as mulheres nos quadrinhos ainda estavam submetidas aos estereótipos
determinados pela sociedade industrial. Conforme declara Renard:
26
Em parágrafo anterior, o autor trata do aumento do número de personagens femininas nas histórias em
quadrinhos devido ao movimento de emancipação feminina que se refletiu nos quadrinhos.
27
S/d. Fonte: www2.lael.pucsp.br/intercambio/06dornelles.ps.pdf . Acessado em 15/01/2006.
Nas análises de quadrinhos feitas por autores como Dorfman e Mattlart, já mencionadas
na primeira parte deste trabalho, a ideologia dominante é evidenciada como arma para a
manutenção da hegemonia de poder estabelecida no mundo após a Segunda Guerra. Na
análise de Margarida, o contexto estudado é diferente. O discurso das histórias em
quadrinhos da personagem refere-se, não ao pensamento de uma nação (como ocorre
em Para Ler o Pato Donald, que abrange a ideologia imperialista norte-americana), mas
aos fenômenos de mudança universais, que independente de quem ocupa o poder e
controla a economia, afetam a composição das identidades dos indivíduos de qualquer
lugar do planeta. As mudanças sociais refletidas no discurso das histórias da
personagem estão se desenvolvendo em todas as sociedades contemporâneas, seja em
maior ou menor grau de penetração.
Assim como Toffler (1980) argumenta que o conjunto de mudanças - nomeado por ele
de onda - afeta o globo como um todo, independente de organização econômica ou
política (em seu livro ele demonstra que a Segunda Onda afetou tanto os países
comunistas como os capitalistas), a terceira onda e conseqüentemente o novo papel da
mulher dominará todas as sociedades contemporâneas, seja a curto ou longo prazo.
Para esse estudo interessa que se comprove que as histórias em quadrinhos, mesmo
sendo um meio de comunicação destinado ao entretenimento, refletem as mudanças de
comportamento e de ideologia que se processam no mundo. A influência que exercem
sobre os leitores ao disseminarem essas ideologias é um tema polêmico e ainda não
comprovado. No entanto, podemos concluir que mesmo não responsáveis pelas
mudanças de comportamento do indivíduo na sociedade, as histórias em quadrinhos
fazem parte desse processo. Elas possuem uma participação ativa na formatação dos
novos valores a partir do momento que interagem com o meio social e o retratam.
Assim, a história em quadrinhos – como os demais meios de comunicação de massa –
contribuem para que os novos padrões e estereótipos de comportamento sejam
disseminados e debatidos, levantando questões relacionadas às mudanças que já se
1. Livros
CIRNE, Moacy. Uma introdução política aos quadrinhos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Achiamé/Angra, 1982.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. O campo da Comunicação: reflexões sobre seu
estatuto disciplinar. Revista USP: 48, 2001.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em Comunicação. 7ª ed. São Paulo:
Loyola, 2003.
SILVA, Diamantino da. Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre: Bels, 1976.
SOUSA, Mauro Wilton de. Novas Linguagens. 2º ed. São Paulo: Salesianas, 2003.
TOFFLER, Alvin e Heidi. Criando uma Nova Civilização: a política da terceira onda.
5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.
2. Teses e Dissertações
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para Reler os Quadrinhos Disney: linguagem, técnica,
evolução e análise de HQs. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo – São Paulo, 1998.
3. Monografias
PAIVA, Cláudio Cardoso de. Quem ama não mata... ou mata? Identidade da mulher na
mídia: família, trabalho e sexualidade. Universidade Federal da Paraíba.
http://www.bocc.ubi.pt/pag/cardoso-claudio-identidades-mulher.pdf. Acessado em
03/02/2006.
4. Artigos
KURZ, Robert. O eterno sexo frágil. São Paulo: Folha de São Paulo, 09/01/2000.
http://obeco.planetaclix.pt/rkurz42.htm . Acessado em 20/01/2006.
NARANJO, Marcelo. Quadrinhos Disney por um real, nas bancas. Data: 23/08/2004.
http://www.universohq.com.br/quadrinhos/2004/n23082004_06.cfm. Acessado em
16/11/2005.
OLIVEIRA, Cristiane Mandanêlo de. Irmãos Grimm: Jacob e Wilhelm: entre 1785 e
1863. www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm . Acessado em 05/02/2006.
RAMONE, Marcus. Sem elas, o mundo (também nas HQs) não teria a menor graça.
Data: 29/01/2004. www.universohq.com/quadrinhos/2004/hq_mulheres.cfm. Acessado
em 20/12/2005.
5. Sites
http://disney.go.com/vault/archives/characterstandard/daisy/daisy.html
http://duckman.pettho.com/characters/daisy.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Daisy_Duck
http://petcaretips.net/daisy-duck.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo
http://scrooge.free.fr/personnages/personnages.htm
http://www.duckburg.dk
http://www.estadao.com.br/ext/disney/qua01.htm
http://www.gibindex.com/enciclopedia/br/e/46
http://www.teledramaturgia.com.br/malu.htm
http://www.ucdb.br/gibiteca/Margarida/
www.abriljovem.com.br
www.disney.com
www.universohq.com.br
6. Gibis
A Bucaneira (B870044MG41/1)
A Caverna das Sereias (B870085MG36/1)
A Guerra das Amazonas (870011MG30/01)
A Moda é Mudar (B860061MG6/1)
A Mulher-Âncora (B870116MG40/1)
A Xerifa (B860083MG7/1)
Ah, Os Velhos Tempos... (B870157AMG1/1)
Babau 1990 (B860206MG25/1)
Beleza Tecnológica (B910159MG143/1)
Com Quantas Arrobas se Faz um Boi (B870009MG28/1)
Defenda-se! (B860187MG20/1)
Em Terra de Ci...u...mento... (B870049MG32/1)
Feminismo em Uba Dhula (B870089MG44/1)
Machão, não! (B860151MG15/1)
Margarida Mulher (B850149MG5/4)
Meu Gênio (B870012MG31/3)
No Castelo de Drácula (B860194MG22/1)
No Tempo das Cavaleiras Andantes (B860137MG12/1)
Novo Pato no Pedaço (B860205MG26/1)
O Chou da Margarida (B870015MG27/1)
O Cilindro Mágico (B870065MG34/1)
Os Preços e a Fama (B860049MG5/1)
Paixão das Cavernas (B860186MG23/1)
Pra Mau Pagador, Ótima Cobradora (B860057MG4/1)
Prefeita Perfeita (B870028MG28A/1)
Problemas de Beleza (B870035MG33/1)
Queda pra Pára-Quedismo (B860150MG13/1)
Trabalho pra Machão... Onde? (B870014MG29/1)
Uma Nova Margarida (B860008MG1/1)