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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO


CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Vinicius Simor Ortiz

ATIVISMO POLÍTICO NO FACEBOOK: UMA ANÁLISE


DAS POSTAGENS DOS FORMADORES DE OPINIÃO
SOB UMA ÓTICA GRAMSCISTA

Passo Fundo
2016
1

Vinicius Simor Ortiz

ATIVISMO POLÍTICO NO FACEBOOK: UMA ANÁLISE


DAS POSTAGENS DOS FORMADORES DE OPINIÃO
SOB UMA ÓTICA GRAMSCISTA

Monografia apresentada ao curso de Publicidade e


Propaganda, da Faculdade de Artes e Comunicação,
da Universidade de Passo Fundo, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em
Publicidade e Propaganda, sob a orientação da
Professora ValmíriaBalbinot.

Passo Fundo
2016
2

Eu dedico este trabalho e todo o esforço nele


presente para os meus professores e mestres, mas
principalmente para minha irmã, minha mãe e meu
pai que são meus maiores exemplos nesse mundo.
3

Gostaria de agradecer todos os professores que tive


nessa longa jornada na UPF, mas principalmente a
professora Claudia Regina de Oliveira que sempre
acreditou em mim e sempre foi compreensiva
comigo nos meus momentos de dificuldade, ao
professor André Pereira que me ensinou a gostar de
Política, a professora ValmíriaBalbinot minha
orientadora, que me motivou e me deu segurança
com o Trabalho de Conclusão de Curso. Gostaria
também de agradecer aos meus pais, que sempre
foram compreensivos e me deram apoio e forças
para continuar, que acreditaram em mim mesmo
quando eu não mais acreditava.Gostaria de
agradecer a minha irmã, por ser minha referência e
modelo ao qual eu busco alcançar.Gostaria de
agradecer meus colegas que me ajudaram durante
este período e que eu tive o prazer de conviver por
todos esses anos, em especial ao Anthony Johann,
Taiza Fogali, Gustavo Tramontini, Juliano Coraza.
4

"Instrui-vos porque teremos necessidade de toda


vossa inteligência. Agitai-vos porque teremos
necessidade de todo vosso entusiasmo. Organizai-
vos porque teremos necessidade de toda vossa
força." (Antônio Gramsci)
5

RESUMO

A pesquisa tem como objetivo analisar as postagens feitas no Facebook dos


formadores de opinião Brasileiros, mais especificamente o grupo Movimento Brasil Livre e o
escritor Rodrigo Constantinos e utilizando da teoria Gramscista de Hegemonia Cultural.
Os resultados encontrados foram que o uso dos meios de criação cultural pelos
Intelectuais, no caso a rede social online Facebook, pode ser relacionado com a teoria de
Gramsci, pois os mesmos a usam para educar o cidadão comum, incutindo valores de sua
ideologia.

Palavras-Chave: Redes Sociais, Teoria Hegemônica, Formadores de Opinião, Facebook,


Movimento Brasil Livre, Rodrigo Constantino.
6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 01 – Antônio Gramsci ............................................................................................... 14


Imagem 02 – Tipos de Estruturas ........................................................................................... 17
Imagem 03 – Logotipia do Facebook ..................................................................................... 17
Imagem 04 – Ferramenta do Facebook ................................................................................... 18
Imagem 05 – Página do Facebook do PSL - Partido Social Liberal ....................................... 19
Imagem 06 – Página do Facebook do Senador Ronaldo Caiado ............................................ 19
Imagem 07 – Página de usuário do Facebook ......................................................................... 20
Imagem 08 –Logotipia do Movimento Brasil Livre ............................................................... 21
Imagem 09 – Rodrigo Constantino ......................................................................................... 22
Imagem 10 –Vídeo MBL......................................................................................................... 26
Imagem 11 –Postagem do MBL.............................................................................................. 27
Imagem 12 – Estudantes pela Liberdade ................................................................................ 29
Imagem 13 – Postagem Fábio Ostermann .............................................................................. 30
Imagem 14 – Postagem de artigo por Rodrigo ....................................................................... 31
7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
2GRAMSCI ............................................................................................................................. 10
2.1 Filosofia Gramscista e Hegemonia Cultural............................................................... 10
2.2 Quem foi Antônio Gramsci .......................................................................................... 13
2.3 Críticas ........................................................................................................................... 15
3REDES SOCIAIS ONLINE................................................................................................. 16
3.1Facebook ......................................................................................................................... 17
3.1.1 Recursos do Facebook ................................................................................................. 18
3.1.2 Ativismo Político no Facebook .................................................................................... 20
4METODOLOGIA E ANÁLISE .......................................................................................... 23
5ANÁLISE DAS POSTAGENS SOB UMA ÓTICA GRAMSCISTA .............................. 25
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................... Erro! Indicador não definido.32
REFERÊNCIAS ...................................................................... Erro! Indicador não definido.
8

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema central o Ativismo Político no Facebook, mais
especificamente uma análise da atuação dos intelectuais e formadores de opinião na rede
social Facebooksob uma ótica Gramscista.
Utilizando como base as postagens feitas no Facebook de formadores de opinião e a
teoria Gramscista de hegemonia cultural e sua definição de intelectuais orgânicos, esta
pesquisa tem como objetivo relacionar as postagens dos formadores de opinião à teoria
Gramscista da guerra de posições, porém online, ou seja, oativismo Político nas Redes Sociais
Online, como uma forma de transformação do mundo.
Esta pesquisa é relevante, pois quem possui interesse na área de política, reconhece a
mesma como um importante meio de transformação social, ou seja, uma ferramenta para
transformar o mundo, portanto é imperativo o seu estudo quando houver uma inquietação em
relação ao estado das coisas, suas vicissitudes e a vontade da busca pelo crescimento pessoal e
melhora de sua realidade.
Esta pesquisa também é relevante para quem possui interesse em trabalhar na área de
marketing político e eleitoral, assessorando assim políticos e militância, que por muitas vezes
pecam na maneira de se expressar e na criação de sua imagem pessoal.
A ferramenta escolhida para análise é a Rede Social Online Facebook, pois a mesma é
a plataforma mais utilizada pelos Brasileiros na época da pesquisa. De acordo com o IBGE,
92 (noventa e dois) milhões de Brasileiros utilizam a ferramenta diariamente, algo em torno
de 45% (quarenta e cinco) da população Brasileira. O Facebook, como rede social online,
possui características descentralizada e horizontal, seus usuários se conectam por interesse
mútuo e trocam ideias e experiências. Formadores de opinião, políticos e partidos políticos,
utilizam da ferramenta como uma forma de expor suas ideias e abrir um canal de
comunicação direta com eleitores e pessoas que tem algum interesse em comum.
No primeiro capítulo éapresentada e explicada a teoria de Hegemonia Cultural, o
filósofo Marxista Antônio Gramsci que foi o criador da mesma, e seexplica o que Gramsci
entendia por intelectual e qual era sua função dentro da teoria da Hegemonia Cultural e nos
meios de criação cultural.
Para explicar melhor essa relação entre o intelectual e os meios de criação cultural o
segundo capítulo apresenta as redes sociais online, explicando o que são, os tipos de redes, e a
9

ferramenta Facebook, sendo a mesma utilizada como referência de meio de criação cultural.
São apresentado também o grupo Movimento Brasil Livre e o economista Rodrigo
Constantino, como exemplo de intelectuais orgânicos que utilizam o Facebook como meio de
criação cultural para fazer ativismo e doutrinação de sua ideologia.
A metodologia aplicada é a pesquisa explicativa, buscando explicar a causa e os
efeitos da teoria analisada, assim como, suas razões, e é a pesquisa documental, já que os
dados a serem analisados são de fontes primárias, ainda não tratados de forma analítica,
pertencentes a arquivos públicos e que se encontram dispersos no espaço. Essa pesquisa se da
através de uma abordagem qualitativa, focando na análise dos significados e das percepções
da teoria a ser analisada. Ainda, será utilizada da observação para a coleta de dados, já que se
busca comprovar a aplicação de uma teoria com um impacto no inconsciente das pessoas.
10

2GRAMSCI

O Primeiro Capítulo trata sobre a filosofia da Hegemonia Cultural, seu criador o


filósofo político Antônio Gramsci, e relação do filósofo e da teoria com o Marxismo.

2.1Filosofia Gramscista e a Hegemonia Cultural

O trabalho de Gramsci foi marcado por sua visão mais Humana e prática do Marxismo
e da Sociedade, sendo ele um dos maiores opositores do mesmo, negando-se a seguir a
corrente Positivista e Fatalista do Marxismo, comopor exemplo o próprio Marx(1980, p. 153)
que dizia que “o capitalismo está fadado a ruir, dando lugar a uma sociedade Socialista”,
diminuindo assim a ação humana e política de conscientização das massas, deixando tudo
pelo acaso.
Diferente de Lenin,à quem Gramsci creditava a criação da teoria de “Hegemonia”
como a maior contribuição ao Marxismo, Lenin (2007, p. 19) em seu livro "O Estado e a
Revolução" propunha que a tomada de poder deveria se dar por uma vanguarda armada, ou
seja, à força, para depois convencer as pessoas de sua causa. Gramsci (1999, p.103), no
entanto, acreditava em um caminho oposto, menos beligerante e mais democrático. Ele
acreditava que as pessoas deveriam ser convencidas, educadas sobre a Revolução, e, para isso,
creditava aos Intelectuais um valor maior sobre a tomada de poder do que Revolucionários
armados.
Através do que chamava de Hegemonia Cultural, pregava que os meios de criação
cultural, como Rádio, Jornais, Escolas, livros e hoje televisão e Internet, deveriam ser as
“armas” para combater uma “Guerra Cultural”, educando o povo, para o mesmo aceitar as
ideias revolucionárias. Os intelectuais deveriam subverter os valores e a cultura do povo,
preparando o terreno para a Revolução, ou seja, convencer, pois uma tomada a força gera
ressentimento e nenhum Governo se mantém sem apoio popular.
De acordo com Gramsci (1982, p.11),
11

O partido revolucionário precisa agir sobre a consciência coletiva das massas, sobre
a própria maneira de pensar dos indivíduos, precisa deslegitimar as crenças,
subverter os costumes e as opiniões tradicionalmente predominantes na mentalidade
popular, alterando o chamado senso comum desde as suas raízes mais profundas.

Para Gramsci (1982, p.20), a cultura tradicional deveria ser combatida, pois por culpa
da mesma, o modo de pensar, de reagir e de se comportar dos operários estaria totalmente
"contaminado por uma herança ideológica maldita", a qual fora incutida neles por forças
políticas contrárias ao seu interesse cujo único objetivo era domina-los.
De acordo com Gramsci (apud SILVA,2010, p. 15), "o proletariado pensa segundo
uma lógica que o leva a ser obediente e submisso à burguesia", pois os aparelhos culturais, no
caso a escola, a igreja e a televisão, reproduzem e legitimam sua ideologia hegemônica, assim
como, a influência dos chamados “intelectuais tradicionais” e dos “intelectuais orgânicos” a
serviço da burguesia.
De acordo com sua filosofia, apenas com a tomada dos aparelhos de hegemonia por
um partido que os representasse, os operários poderiam passar a agir e pensar segundos seus
próprios interesses, ou seja, livre do controle da burguesia. Se utilizando dos aparelhos de
hegemonia, o partido poderia então criar uma consciência de classe, que fosse mais coerente
com as aspirações do proletariado, criando dessa forma um novo senso comum.
Mudando assim a percepção básica da realidade, de forma a tornar viável a
implantação de uma nova ordem econômica e social. A tarefa dos “intelectuais orgânicos do
proletariado” deveria se agrupar em torno do “intelectual coletivo”, ou seja, o partido.
Para Gramsci (1982, p.4),os intelectuais “orgânicos”eram aqueles que, "gerados
organicamente por uma classe em expansão, manifestam uma corrente de ideias viva e
ascendente historicamente", ou seja, seriam os intelectuais gerados pelo proletariado de forma
a dar legitimidade ao seu discurso e defender os seus interesses, e também aqueles gerados
pela burguesia. Já os intelectuais ditos ”tradicionais” não possuíam uma ideologia de classe
definida, pois seriam filósofos ligados às velhas escolas filosóficas tradicionais, motivados
por critérios e valores originários de outras épocas.
Para Gramsci (1982, p.5), os intelectuais tradicionais, por sua própria natureza, não
"afetariam as mudanças que delineiam o futuro das sociedades", sendo eles meros guardiões
de uma ordem social constituída e já naturalizada.
A medida do quão orgânico era um intelectual se dava porquão ligado aos interesses
de sua determinada classe de origem ele seria, ou seja, quanto mais ligado mais orgânico.
12

Porém, ao mesmo tempo em que acreditava que toda classe cria seus próprios intelectuais
orgânicos, acreditava que ela também deseja assimilar os intelectuais tradicionais, pois entre
eles estão os advogados, tabeliães, médicos, literatos, juízes, professores e todo tipo de
profissionais oriundos de instituições pré-capitalistas.
De acordo com Macciochi (apud SILVA,2010, p. 17), “Gramsci foi o pensador
marxista que considerou de forma mais clarividente a importância da articulação dos
intelectuais na estratégia revolucionária, uma vez que, sem a participação deles, seria
impossível a formação de um bloco histórico operário.”.
Ou seja, um bloco histórico forte dirigido pelo partido do proletariado seria, enquanto
apropriação do aparato cultural, intelectual e moral, e do establishment1 político e econômico,
a culminância da guerra cultural. A conquista da superestrutura2 e da infra-estrutura3 são os
pontosalmejados pelo partido no que chamava de “guerra de posição” e na luta pela
hegemonia.
Os intelectuais são para os aparelhos de hegemonia os mediadores entre os
trabalhadores, o povo e o estado, sendo assim o elo entre o partido e a classe trabalhadora,
porém, para Gramsci, de nada adianta um filósofo, por exemplo, que apenas tenta
compreender o mundo, mas não tenta mudá-lo, assim, para ele (GRAMSCI, 1982, p.165) o
Intelectual era um militante a favor de uma determinada ideologia.
Sobre a “Guerra de posição”, Macciocchidiz:

Na prisão, o pensamento de Gramsci progride: é então que, com base nas diferenças
existentes entre a Rússia e o Ocidente, ele elabora sua estratégia de passagem da
guerra de movimento à guerra de posição. O primeiro termo designa para Gramsci
substancialmente o enfrentamento direto pela tomada do poder; e o segundo, o
conflito de classe que amadurece sob a direção do partido revolucionário, quando a
luta aberta não é possível, ou então para preservar suas condições. Mesmo nesse
segundo caso, a ação desenvolvida visa à subversão da estrutura e do bloco histórico
dominante. Não existe aí nenhum imobilismo, nenhuma pausa, nenhuma paz social,
mas um novo tipo de guerra, com um caráter totalmente distinto do enfrentamento
direto. (MACCIOCCHI, 1976, p. 86).

1
A ordem ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um Estado.
2
Para Gramsci, a superestrutura é a união da sociedade civil com a sociedade Política, seus ideais, sua ideologia
e todo sistema de crença nele incutido.
3
A base real produtiva. O produtor e o maquinário.
13

Portanto, para Macciocchi(1976, p. 88), a guerra de posição é a tomada das trincheiras


culturais e estruturais dos inimigos, no caso a burguesia por militantes do
partido.Éumaocupação dos postos estratégicos nas estruturas físicas de poder, ou seja, o
aparelhamento do estado e dos meios de criação culturalpelo partido, na superestrutura.
Segundo Gramsci (apud MORAES, 2016, p. 15), o conceito de hegemonia caracteriza
a liderança ideológica e cultural de uma classe sobre a outra. Moraes segue com o seu
pensamento explicando que, para Gramsci (apud MORAES, 2016, p. 16), a hegemonia é
obtida e consolidada em disputas que comportam não apenas questões vinculadas à estrutura
econômica e política, mas também ético-cultural, conhecimento, modos de representação e
modelos de autoridade que buscam se legitimar e universalizar.
Para Dênis de Moraes (2016, p.16),a hegemonia pode e deve ser preparada por uma
classe que lidera a constituição de um bloco histórico, o qual une e torna coeso diferentes
grupos sociais em torno da criação do que Gramsci chamava de consciência ético-política
universalizadora e de uma vontade coletiva, pois o bloco hegemônico precisaria agregar e
conservar apoios consistentes às suas orientações.
Dênis Moraes (2016, p. 17), continua com seu pensamento afirmando que, a
constituição de uma hegemonia é um processo historicamente longo e que ocupa diversos
espaços da superestrutura ideológico-cultural. Porém, as formas históricas de hegemonias
nem sempre são as mesmas e variam de acordo com a natureza das forças sociais que a
exercem. Para Moraes, Guido Liguori resume o pensamento Gramsciano muito bem ao
afirmar que “a plena explicitação da função hegemônica só ocorre quando a classe que chegar
ao poder se torna Estado: o Estado serve-lhe tanto para ser dirigente quanto para ser
dominante” (LIGUORI apud MORAES,2016, p. 26).
Moraes afirma, portanto que a partir do momento em que as classes subalternas
tornam-se realmente hegemônicas, criando assim um novo tipo de estado, surge então a
necessidade de construir uma nova ordem intelectual e moral, ou seja, “um novo tipo de
sociedade e, consequentemente, a exigência de elaborar os conceitos mais universais, as mais
refinadas e decisivas armas ideológicas” (GRAMSCI apud MORAES,2016, p. 24). Seu
pensamento prossegue afirmando que “a formação do consenso, numa perspectiva de
transformação da ordem vigente, depende da capacidade das classes subalternas de se
converterem em uma força política efetiva, capaz de seguir o mesmo objetivo e coordenar
ações e articulações de cunho ideológico” (MORAES, 2016, p. 17).
14

Conclui, portanto que a “a hegemonia insere-se no quadro da atividade cultural, moral


e intelectual, que se desdobram de forma a dar sentido, argumentos e a persuadir as classes
em tensão na sua batalha ideológica” (MORAES, 2016, p.17), afirmando também que para
Gramsci a sociedade civil é um espaço que engloba o conjunto todo de ideologias que
desejam fixar sua potência, ou seja, um lugar dedicado a fomentar a articulação e unificação
dos interesses, politizar as consciências e sobrepujar tendências corporativistas e ambições
competitivas.

2.2 Quem Foi Antonio Gramsci

Segundo a fundação que leva o seu nome e que tem como objetivo propagar os seus
ensinamentos (Fondazione Gramsci, 2016), Gramsci (Imagem 01: Antônio Gramsci) nasceu
em 22 de janeiro de 1891 na cidade de Ales, província de Sardenha. Filósofo, Jornalista e
Político, foi eleito em 1924 como deputado para a província de Veneto.
Segundo Coutinho (1999, p. 64), Gramsci viveu no auge do Fascismo Italiano, sendo
preso por Mussolini após o mesmo sofrer um atentado, o que levou o partido Fascista a adotar
“medidas excepcionais”.

Imagem 01: Antônio Gramsci

Fonte: fondazionegramsci.org

Preso sob a lei de Segurança Pública, foi sentenciado a 5 anos na cadeia, mais tarde
estendido a 20 anos. Ainda segundo Coutinho (1999, p. 105), foi durante esse período que
Gramsci desenvolveu o seu mais importante trabalho, a teoria da “Hegemonia Cultural”, onde
15

descreve como as instituições privadas ou estatais, se utilizam dos meios de produção cultural
para se manter no poder.
Como político, Gramsci, segundo a fundação Fondazione Gramsci(2016), foi um dos
criadores do PCI ou Partido Comunista Italiano junto com Amadeo Bordiga, após uma cisão
do PSI ou Partido Socialista Italiano. Gramsci era contra a tomada violenta pelo poder, e, por
isso, mais tarde, expulsa Amadeo Bordiga do partido, pois o mesmo possuía ideias muito
radicais.
Segundo Gramsci (1999, p. 60), sua corrente de pensamento era oposta a corrente
Stalinista que tem como característica o “domínio absoluto de uma dada liderança” em que a
interpretação do Marxismo se dava apenas a Liderança ou o Líder, a qual a acusava de ser
Sectarista4.
Gramsci defendia o Pluralismo Político, pois acreditava da mesma forma que os
liberais, tal qual Mises (2010, p. 28), que o conhecimento estava disperso na Sociedade e não
apenas na liderança.

2.3 Críticas a Gramsci

Segundo Nildo Viana (2016, p.32), graduado em ciências sociais pela Universidade
Federal de Goiás e mestre em Filosofia pela mesma, o trabalho de Gramsci não apresenta
desenvolvimento da análise da acumulação do capital e sua relação com a produção de ideias
e cultura, não há também análise dos interesses próprios dos intelectuais relacionadoà sua
condição de classe, o processo de mercantilização, entre outros.
Viana continua com sua crítica ao afirmar também que Gramsci inverteu a tese
fundamental de Marx, sua preocupação excessiva com a cultura e o problema da hegemonia
cujo objetivo era combater o economicismo presente em outros intelectuais Marxistas, mais
especificamente Amadeo Bordiga.Pois para Viana, Marx defendia que a sociedade se
fundamentava no modo de produção e nas lutas de classes, já Gramsci enfatizava a hegemonia
a qual ele definia como "direção moral e intelectual".

4
Apego exagerado a um ponto de vista, visão estreita, intolerante.
16

3 REDES SOCIAIS ONLINE

A criação da internet, sistema esse que permite que redes de computadores se


comuniquem com outras redes de computadores do mundo todo, permitiu que pessoas
sociabilizassem com outras pessoas instantaneamente por meio de computadores5, não
importando a distância, possibilitando além da troca de ideias, receber notícias, conhecer
pessoas, compartilhar imagens e vídeos. É, nesteâmbito, que a rede como metáfora estrutural
para a compreensãodos grupos expressos na Internet é utilizada através da perspectivade rede
social (RECUERO, 2009, p. 21).
Assim, rede social é uma estrutura composta por pessoas ou organizações (atores),
conectadas por um ou vários tipos de relações (conexões), que partilham valores e objetivos
comuns, no entanto, uma Rede Social Online se distingue por não fazer parte do ambiente
real, mas sim do virtual (RECUERO, 2009, p.23).
A principal característica das redes online é a sua abertura e falta de hierarquia,
possibilitando assim um relacionamento horizontal entre os participantes, enfim, todos são
iguais para opinar sobre todos os assuntos.
Raquel Recuero (2009, p.24) afirma ainda que:

O estudo das redes sociais na Internet, assim, foca o problema de como as estruturas
sociais surgem, de que tipo são, como são compostas através da comunicação
mediada pelo computador e como essas interações mediadas são capazes de gerar
fluxos de informações e trocas sociais que impactam essas estruturas.

Em seu livro Redes Sociais na Internet, Recuero (2009, p.24) também cita que redes
são metáforas estruturais e, portanto, elas constituem-se em forma de analisar agrupamentos
sociais a partir de sua estrutura, estruturas essas construídas através dos laços sociais dos seus
atores. Concluiu então que, as redes sociais possuem três estruturas básicas possíveis:
distribuída, centralizada e descentralizada, conforme se verifica na Imagem 02: Tipos de
Estruturas abaixo:

5
CMC = Comunicação mediada por computadores.
17

Imagem 02: Tipos de Estruturas

Fonte: Redes Sociais na Internet (2009, pag56)

Vale relembrar que essas estruturas são estudadas como difusores de informação, ou
seja, como a informação é espalhada na rede, e que são possíveis de serem encontradas em
redes sociais, podendo uma rede social apresentar característica de mais de um tipo de
estrutura.

3.1 Facebook

Segundo o próprio site do Facebook (FACEBOOK, 2016), Imagem 03: Logotipia do


Facebook, o site foi lançado ao público no dia 4 de fevereiro de 2004, criado por Mark
Zuckerberg, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. Segundo o próprio site, o
Facebook tem como missão "dar às pessoas o poder de compartilhar informações e fazer do
mundo um lugar mais aberto e conectado". O site possui mais de 1 bilhão de usuários ativos
segundo suas estatísticas oficiais. No Brasil, possui dois escritórios, um em Brasília e outro
em São Paulo.

Imagem 03: Logotipia do Facebook

fonte: facebook.com
18

De acordo com um levantamento realizado no último trimestre de 2014 pelo IBGE,


mostra que a presença de brasileiros no Facebook cresce diariamente. Hoje, 92 milhões de
pessoas acessam a plataforma todos os meses, o que corresponde a 45% de toda a população
brasileira.

3.1.1 Recursos doFacebook


Segundo o próprio Facebook(FACEBOOK, 2016), os usuários podem compartilhar
fotos e vídeos, trocar mensagens com amigos, publicar o que estão fazendo, usar emoticon6,
símbolos, trocar likes7 e comentar as postagens de outros usuários, jogar, criar eventos, grupos
acadêmicos ou empresariais e muito mais, como se verifica na Imagem 04: Ferramenta do
Facebook abaixo:

Imagem 04: Ferramenta do Facebook

Fonte: facebook.com

Atualmente, todos os partidos políticos Brasileiros possuem perfil no Facebook, onde


os mesmos publicam notícias relevantes ao partido e a sua ideologia política, de forma a
educar os seus eleitores. Apresentam os candidatos a cargos políticos e permite aos usuários
da rede social interagir com os candidatos, enviar perguntas, sugestões e até mesmo críticas,
justificando assim a Horizontalidade da rede.
Tendo em vista que o Facebook(RECUERO, 2009, p.171) é uma rede social não
centralizada e os usuários se conectam por interesses, a ferramenta aproxima também,
simpatizantes de determinado político ou partido, trazendo para o âmbito do real ações feitas
no âmbito virtual. Um exemplo muito forte disso foi a campanha feita pelo Movimento Brasil
Livre, que organizou protestos no Brasil inteiro, mobilizando aproximadamente 7 milhões de
pessoas, de acordo com o site de notícias G1 (G1, 2016), pedindo a renúncia da Presidente

6
Figuras que tem como objetivo imitar uma emoção.
7
Curtidas.
19

Dilma Rousseff. Segue um exemplo de partido político atuante na rede, na Imagem 05:
Página do Facebook do PSL – Partido Social Liberal:

Imagem 05: Página do Facebook do PSL - Partido Social Liberal

Fonte: https://www.facebook.com/PSLnacional17/

Os Candidatos se utilizam da plataforma para se aproximar de seus eleitores,


apresentar o trabalho prestado, apresentar ideias, enfim, criam um canal de comunicação
direta com o eleitor, como, por exemplo, o candidato na Imagem 06: Página do Facebook do
Senador Ronaldo Caiado a seguir:

Imagem 06: Página do Facebook do Senador Ronaldo Caiado

fonte: https://www.facebook.com/ronaldocaiado25/

Dessa forma, o Facebook, sendo uma Rede Social Online, é uma ferramenta poderosa
de Marketing Político e Eleitoral, pois sua estrutura descentralizada e horizontal permite uma
maior acessibilidade dos atores (os políticos em questão), pois os mesmos são tão importantes
20

quanto os seus eleitores. Exemplo de eleitor presente na ferramenta Facebook na Imagem 07:
Página de usuário do Facebook abaixo:

Imagem 07: Página de usuário do Facebook

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100008882679043

3.1.2 Ativismo político no Facebook


O Facebook (RECUERO, 2009, p.171), por ser uma ferramenta que permite a conexão
de usuários de mesmo interesse, aproxima pessoas com uma visão de mundo parecida e
permite a troca de ideias, mensagens e todo tipo de informação, e, por esse motivo, é uma
ferramenta muito utilizada por ativistas para promover sua causa.
Para melhor entender o que é ativismo, importante destacar a definição feita pelo
dicionário Houaiss da língua Portuguesa (2004, p. 335), em quedefine Ativismo como
"qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da
realidade em detrimento da atividade exclusivamente especulativa". É, também, militância,
trabalho desenvolvido em meios políticos e revolucionários,propaganda a serviço de uma
doutrina ideológica. Ativistas são aqueles que fazem ativismo, os militantes.
Um exemplo de um grupo que faz ativismo político e social no Facebook é o grupo
Movimento Brasil Livre(2016), Imagem 08: Logotipia do Movimento Brasil Livre abaixo,
cujos organizadores são Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Fabio Ostermann e Renan Santos,
responsáveis pelas maiores manifestações Pró-Impeachment contra a presidente Dilma
Roussef, que levou, segundo o site de notícias da Globo G1 (2016), mais de 3 milhões de
pessoas às ruas.
21

Imagem 08: Logotipia do Movimento Brasil Livre

Fonte: facebook.com/mblivre/ (2016)

Através do Facebook, o movimento busca transmitir seus ideais que são "imprensa
livre e independente, liberdade econômica, separação de poderes, eleições livres e idôneas e
fim de subsídios diretos e indiretos a ditaduras". Também divulgam sua filosofia liberal, e o
fazem através de postagens, "memes", compartilham artigos, vídeos, entrevistas, restando
claro, dessa forma, o compartilhamento de material que tem como objetivo doutrinar quanto a
sua posição política e o que acreditam ser um ideal de mundo.
Voltando aoGramsci(1982, p.20), ele acreditava que a cultura tradicional deveria ser
combatida, pois por culpa da mesma o modo de pensar, de reagir e de se comportar dos
operários, estaria totalmente "contaminado por uma herança ideológica maldita", a qual fora
incutida neles por forças políticas contrárias ao seu interesse, cujo único objetivo era dominá-
los. O Movimento Brasil Livre, busca fazer a mesma coisa, busca educar seus seguidores de
forma a mudar a cultura tradicional e inverter os valores já enraizados fazendo assim com que
as pessoas aceitem o liberalismo.
O intelectual, para Gramsci(1982, p.4), era aquele que buscava combater "a cultura
tradicional", ou seja, era um militante. Portanto, apesar de o grupo Movimento Brasil Livre
possuir ideais políticos diferentes dos defendidos por Gramsci, seus membros seriam
considerados intelectuais por defenderem uma causa e se utilizar dos meios de hegemonia (o
Facebook no caso) para educar o proletariado.Outro fato que deve ser levado em conta é
que,em seu livro Cadernos do Cárcere, Gramsci(1999, p.241) diz odiar as pessoas
indiferentes, pois quem vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Assim, para Gramsci
ser indiferente era ser covarde.
Outro Intelectual e ativista que se utiliza do Facebook para doutrinar é o Economista
liberal Rodrigo Constantino, Imagem 09: Rodrigo Constantino.Formado em Economia pela
22

PUC-RJ, antigo colunista da revista Veja,é presidente do Instituto Liberal uma organização
não governamental sem fins lucrativos que tem como objetivo difundir o liberalismo.Escritor
de livros político econômico, tem como sua maior característica o desdém pelo politicamente
correto.

Imagem 09: Rodrigo Constantino

Fonte: facebook.com/rodrigo.constantino.90?fref=ts

Levando-se em conta que, para Gramsci(1982, p.4), pode ser considerado um


intelectual aquele que tem uma opinião firme sobre o assunto política e busca mudar o mundo
em que vive, educando as pessoas, Rodrigo Constantino pode ser considerado um intelectual.
23

4 METODOLOGIA E ANÁLISE

Esta pesquisa, é uma pesquisa explicativadocumental que se utiliza da observação para


a coleta de dados, a presente pesquisa busca analisar as postagens dos intelectuais escolhidos
se utilizando da teoria de Gramsci de Hegemonia Cultural.
Segundo Gil (1999 apud OLIVEIRA, 2011, p. 21) a "pesquisa explicativa tem como
objetivo básico a identificação dos fatores que determinam ou que contribuem para a
ocorrência de um fenômeno". A pesquisa explicativa busca explicar a causa e os efeitos da
teoria analisada, assim como, suas razões, então,buscou-se identificar o ativismo e
doutrinação de forma a contribuir com a hegemonia.
Para a coleta de dados, essa pesquisa se utilizou da observação para a coleta de dados,
já que buscou comprovar a aplicação de uma teoria com um impacto no inconsciente das
pessoas. Segundo Marconi e Lakatos (1996 apud OLIVEIRA, 2011, p. 37) "ela ajuda o
pesquisador a identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos
não têm consciência, mas que orientam seu comportamento” e a mesma "devida as suas
limitações deve ser usada em conjunto com outras técnicas de pesquisas." (MARCONI e
LAKATOS,1996, apud OLIVEIRA,2011, p.38).
Sobre a pesquisa documental Gil (1999, apud OLIVEIRA,2011, p.39) afirma que

"[...] é muito semelhante à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas


está na natureza das fontes: enquanto a bibliográfica se utiliza fundamentalmente das
contribuições de diversos autores, a documental vale-se de materiais que não
receberam, ainda, um tratamento analítico, podendo ser reelaboradas de acordo com
os objetos da pesquisa."

É considerada pesquisa documental, já que os dados a serem analisados são de fontes


primárias, ainda não tratados de forma analítica, pertencentes a arquivos públicos e que se
encontram dispersos no espaço.
Ainda, essa pesquisa se dará através de uma abordagem qualitativa, focando na análise
dos significados e das percepções da teoria a ser analisada.
Seguindo a teoria Gramscista de Hegemonia Cultural, onde intelectuais se utilizariam
dos meios de criação cultural, no caso o Facebook, de forma a dar sentido e argumentos à sua
24

hegemonia, a pesquisa buscou fazer uma relação entre as postagensdos intelectuais escolhidos
e Gramsci.
Para tal pesquisa, o primeiro passo foi escolher um grupo de intelectuais para se fazer
a análise,para isso foi escolhido o grupo Movimento Brasil Livre, mais especificamente os
membros Kim Kataguiri, Renan Santos e Fábio Ostermann, e também o economista e escritor
Rodrigo Constantino. A escolha se deupelo seu ativismo e sua posição ideológica firme, e
também por uma questão de afinidade.
O segundo passo da pesquisa foi escolher um meio de criação cultural, um exemplo de
meio de criação cultural é jornal, televisão, rádio, blogs, redes sociais online. Para tal pesquisa
foi escolhida a rede social online Facebook, pois, segundo o IBGE é a rede social online mais
usada pelos Brasileiros e é também onde os intelectuais escolhidos tem uma maior atividade.
O terceiro passo da pesquisa foi delimitar uma data e contexto histórico, para melhor
entender a análise. O contexto é o afastamento da até então Presidente Dilma Rousseff, até o
dia de hoje 13 de junho de 2016, tendo sido a presidente afastada no dia 12 de maio de 2016,
portanto as postagens escolhidas estão entre o dia 12 de maio 2016 até o dia 13 de junho
2016.
Finalmente, a análise, onde a pesquisa buscará relacionar as postagens dos intelectuais
escolhidos com a teoria de Gramsci.
A escolha de um grupo, que segundo o diagrama de Nolan (2016), se encontra no
âmbito Liberal e não à esquerda não é um problema, pois de acordo com Viana(2016, p.32) a
teoria de Gramsci não se limita a uma visão política apenas, mas sim ela abrange como criar
um senso comum através dos aparelhos de criação cultural.
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5 ANÁLISE DAS POSTAGENS SOB UMA ÓTICA GRAMSCISTA

Voltando a Gramsci, diferente de Lênin (2007, p.19) que buscava a tomada do poder
por uma vanguarda armada para depois doutrinar, ou seja, convencer sobre sua ideologia,
Gramsci (1999, p.103) acreditava em um caminho inverso, menos beligerante, acreditava que
a Guerra deveria ser travada não em um campo de batalha, com rifles e canhões, mas no
campo das ideias, uma guerra travada nos costumes e na cultura. Seu ideal buscava a
emancipação do cidadão comum através do conhecimento, acreditava que para a tomada do
poder pelo seu partido, o país precisaria não apenas de intelectuais e políticos, líderes
Marxistas, precisaria de professores Marxistas, mecânicos Marxistas, trabalhadores, médicos,
enfim, toda a sociedade deveria acreditar no seu ideal.
Divergia da mentalidade Stalinista onde a interpretação do Marxismo, ou a
interpretação do que acreditava serem os ideais da revolução, dava-se a apenas ao líder do
partido, acreditava que todos deveriam participar e creditava aos intelectuais maior valor na
tomada de poder do que aos soldados.
Apesar de ser um filósofo Marxista, os escritos e estudos de Gramsci não se
aprofundaram no Marxismo (VIANA, p. 32), mas sim na tomada do poder e relações com a
cultura, sendo seus escritos enquanto encarcerado comparado com “O Príncipe” de
Maquiavel, podendo, portanto, ter seus ensinamentos aplicados por seguidores de outras
ideologias, não precisando se limitar a seguidores de ideologias que de acordo com o
diagrama de Nolan se encontram no espectro político da esquerda.
Gramsci (MACCIOCCHI apud SILVA,2010, p. 17) acreditava que a tomada de poder
pelo partido deveria se dar de forma gradual e deveria ser travada na área das ideias, no que
ele chamava de Guerra de posições. Sua tese propunha que os intelectuais através do uso dos
meios de Criação Cultural deveriam se infiltrar nas mentes, costumes e sociedade.
O Movimento Brasil Livre (2016) um grupo político apartidário, que tem como
objetivo difundir o ideal liberal na sociedade Brasileira, utiliza-se das redes sociais online
para comentar sobre atualidades na política, educar quanto a causa liberal, criticar políticos
que não são da mesma linha ideológica, enfim, militar a favor da causa liberal. O grupo possui
conta no Twitter, Facebook e Youtube, porém para essa pesquisa foi analisado apenas
algumas postagens de sua página do Facebook, durante o período do afastamento da até então
presidente do Brasil Dilma Rousseff, ou seja, 12 de maio até o dia 16 de junho.
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Em vídeo postado em sua página principal, cujo título é "Renan Santos comenta o
cenário atual da política Brasileira, erros e acertos de Temer, como a esquerda está
explorando o novo governo e o que devemos fazer" conforme Imagem 10: Vídeo MBL
abaixo, e que possui 6 minutos e 7 segundos de duração, o membro do grupo MBL Renan
Santos, começa o vídeo com a frase "nós conseguimos o afastamento da Presidente Dilma
Rousseff, mas a batalha claramente continua",estimulando a militância a não parar de atuar.
Continuando o vídeo ele explica que o novo governo fez concessões para o "senado corrupto",
utilizando como argumento contra o senado o argumentum ad hominem, que segundo o site
EncyclopediaBritannica(2016) é uma falácia que busca negar uma proposição com uma
crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo, ou seja, buscando descreditar qualquer ação ou
argumento do Senado tachando os mesmos de corruptos.

Imagem 10: Vídeo MBL

Fonte: facebook.com/mblivre/

Mais tarde busca convencer os seus seguidores a apoiar a "Lava Jato", que segundo o
site do Ministério Público Federal é a "maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro
que o Brasil já teve", argumentando que "o Brasil" quer ver os corruptos na cadeia, quer ver
quem é que está usando dinheiro público para comprar o senado, já que a
corrupçãobasicamente quebrou o país, e, continua afirmando que a política brasileira está em
um lamaçal moral.
Ou seja, no vídeo que até o dia 4 de junho estava em destaque na página principal do
Facebook, o membro Renan Santos, após explicar a situação política atual estimulava a
27

militância a não parar as cobranças ao novo governo, não contar o afastamento como uma
vitória final e aproveitava para desacreditar seus opositores políticos.
Outra postagem na página principal feita no dia 3 de julho de 2016, o MBL ataca o
jornal Folha de São Paulo, alcunhando-o de mentiroso e petista, como verifica-se na Imagem
11: Postagem do MBL abaixo. Na postagem se lê, "Hoje, até o MBL caiu no conto do vigário
da Folha, que buscava atingir o governo e fortalecer o PT. Tivemos a humildade de
reconhecer nosso erro. Esperamos que a Folha tenha hombridade para fazer o mesmo",
através de ataques diretos a quem o MBL vê como aliados de seus opositores políticos, mais
especificamente o PT, seus integrantes buscam novamente através do argumentum ad
hominem desacreditar frente a seus seguidores, quem não concorda com sua ideologia.

Imagem 11: Postagem do MBL

fonte: facebook.com/mblivre/

Como pode se notar, o MBL busca desacreditar seus adversários políticos e seus
apoiadores, buscando se infiltrar nas instituições para assim promover a sua agenda, que é a
ideologia Liberal. Kim Kataguiri um dos membros fundadores do MBL aproveitou de sua
fama para se associar com EmpiricusResearsch (2016), uma consultoria independente de
investimentos Brasileira, cuja atividade é a venda de análises do mercado de ações, de acordo
com sua página possui mais de 2 milhões de assinantes. Sua parceria tem como objetivo,
escrever artigos sobre o liberalismo para seus assinantes, educando os mesmos sobre a
ideologia.
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Gramsci (1982, p. 5) acreditava que a função de um intelectual era preparar o


proletariado, ou o povo, para a revolução. Vê-se isso na postagem que contém o link dos
artigos de Kim Kataguiri, que começa dizendo "Pessoal, nós do MBL somos defensores do
liberalismo em todas suas instâncias. Por quê? Pois acreditamos que um Brasil melhor e mais
justo pode (e deve) ser formado sob estas bases" (2016). Busca-se educar os seguidores que,
para um Brasil melhor e mais justo, deve-se seguir a ideologia liberal, utilizando-se de um
argumento emocional, buscando assim facilitar a aceitação de sua ideologia e seus
representantes.
Vale ressaltar que, Kim Kataguiri se utilizou de sua fama com o Movimento Brasil
Livre, fama essa ganha com as mobilizações e protestos organizados principalmente pelo
Facebook, para arranjar um cargo de colunista em dois dos jornais mais respeitados do Brasil.
De acordo com sua página do Facebook (2016), Kim hoje escreve para os jornais Folha de
São de Paulo e Huffington Post Brasil. Utilizando-se destes meios de criação cultural, esse
intelectual da ideologia liberal, se utiliza dos mesmos como um meio de hegemonia,
escrevendo artigos sobre Economia e Cultura.
Para construir uma hegemonia, o país não precisa de apenas um líder liberal, ou
conservador, ou socialista, etc. Diferente da corrente Marxista Stalinista, que acreditava que
apenas a liderança do partido era responsável pela interpretação do Marxismo, ou seja, apenas
o líder era o ser pensante enquanto todo o resto eram meros servos sem opinião própria,
Gramsci acreditava que todos deveriam ser pensantes. Por isso, ele dizia que todo homem era
um filósofo e por isso todo homem deveria ser marxista.
As postagens escolhidas para análise são de um grupo que segue a ideologia liberal,
para tanto, na busca da hegemonia, não se deve ter, por exemplo, apenas um presidente
liberal, mas sim professores liberais, colunistas liberais, operários liberais.
Por isso talvez que é tão importante para a busca da hegemonia buscada pelo
Movimento Brasil Livre, a busca de seus membros de "infiltrar" os meios de produção
cultural e partidos políticos. O membro do grupo Fábio Ostermann, que segundo o seu
website próprio fabioostermann.org é formado em direito e economia pela UFRGS, foi o
primeiro presidente do grupo Estudantes Pela Liberdade e seu co-criador. O grupo Estudantes
pela Liberdade (Imagem 12: Estudantes pela Liberdade), de acordo com a sua página oficial,
é um grupo não governamental que tem como objetivo dar assistência a grupos de estudantes
que defendem o liberalismo, oferecendo livros, treinamento para lideranças e ciclos de
29

palestras. Tal qual a teoria de Gramsci, o grupo criado por Fabio tem como objetivo criar
militantes e lideranças, que defendam a sua ideologia, o liberalismo.

Imagem 12: Estudantes pela Liberdade

Fonte: epl.org.br/

Sua página oficial do Facebook, cujo link é facebook.com/paginadofabio/ busca


comentar atualidades da economia e cultura Brasileira, dando a sua opinião sobre fatos e
indicando cursos online para seus seguidores, cujo objetivo de acordo com o mesmo é educar
seus leitores de forma que os tornem multiplicadores de conteúdo. Seus argumentos, por ser
um intelectual mais estudado que os outros membros, são mais técnicos e melhor elaborados,
buscando engrandecer o debate e a conversa.
Fabio Ostermann também é o criador do Partido Social Liberal, e recentemente (6 de
junho de 2016) anunciou extraoficialmente a candidatura à prefeitura da cidade de Porto
Alegre, sendo reiterado em uma postagem feita no dia 2 de junho de 2016, conforme Imagem
13: Postagem de Fábio Ostermann:
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Imagem 13: Post Fábio Ostermann

Fonte: facebook.com/paginadofabio/

Fábio Ostermann é um apaixonado pelos ensinamentos da Escola Austríaca (escola do


Liberalismo) e um defensor ferrenho da liberdade, portanto podemos fazer uma relação clara
com os ensinamentos de Gramsci que em seu livro Cadernos do Cárcere dizia:

“O erro do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem compreender e,


principalmente, sem sentir e estar apaixonado (não só pelo saber em si, mas também
pelo objeto do saber), isto é, em acreditar que o intelectual possa ser um intelectual
(e não um mero pedante) mesmo quando distinto e destacado do povo nação, ou
seja, sem sentir as paixões elementares do povo, compreendendo-as e, portanto,
explicando-as e justificando-as em determinada situação histórica.” (GRAMSCI,
página 221).

Porém, ele peca ao ser, o que Gramsci definia como sectarismo, tendo ojeriza pela
filosofia “de esquerda”, o socialismo, taxando seus seguidores e apoiadores de “ditadores em
potenciais”. Gramsci acreditava que a paixão cega era um erro cometido pelos intelectuais.
Rodrigo Constantino, em sua página própria, escreve opiniões sobre economia e
cultura tal qual divulgações de livros, palestras e cursos. Sua ideologia é bem definida, e é
também como os outros intelectuais analisados, um defensor do liberalismo e da liberdade de
opinião, econômica e social. Em suas postagens ele compartilha artigos de outros sites, todos
relevantes a sua ideologia própria, sua linguagem é mais moderada que os outros intelectuais
31

analisados e sua argumentação é mais técnica, embasada sempre por bibliografias, podendo
ser percebido um grande domínio do assunto.

Imagem 14: Postagem de artigo por Rodrigo

Fonte: facebook.com/rconstantinoliberal/?fref=ts

Ao compartilhar artigos, Rodrigo Constantino busca com isso ensinar os seus


seguidores sobre os mais variados assuntos, buscando com isso criar multiplicadores de sua
ideologia, fazendo com isso uma militância mais instruída.
Portanto conclui-se, que existe uma clara relação dos intelectuais analisados com a
teoria de Gramsci, pois o mesmo defendia que o intelectual era um catalisador dos
movimentos sociais, cujo objetivo era doutrinar e emancipar o proletariado, ou seja, o povo,
através do conhecimento compartilhado através dos meios de criação cultural por exemplo.
32

6CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante toda a história da humanidade houveram aqueles que, enquanto no poder ou


para alcança-lo, utilizaram-se da força para se manter ou para tomar o poder para si. Gramsci
fugiu desse paradigma ao desenvolver uma teoria e propor um método em que a luta se dava
no ensino, o convencimento das massas através dos meios de criação cultural (rádio,
televisão, jornal), diferente de Hitler, Mussolini, Stalin, Lenin, que buscavam o poder a base
da força e coerção e para tanto valorizava o trabalho dos intelectuais na doutrinação das
massas.
Levando-se em conta o período histórico em que Gramsci viveu, tendo vivenciado a
Primeira e Segunda Guerra Mundial, resta claro que ele estava cansado de toda a violência
dos grupos políticos e seus métodos desumanos de tomada de poder,já que neste período
milhares de vidas foram ceifadas, por tudo que era motivo torpe.
Os Intelectuais escolhidos para a presente análise apesar de não seguir a mesma
ideologia política de Gramsci, pois Gramsci era Marxista e os intelectuais escolhidos Liberais,
eles utilizam os mesmos métodos, buscam através dos meios de criação cultural criar uma
hegemonia, buscam ensinar o povo, para que o povo exija dos políticos o alinhamento com a
ideologia ensinada.
Portanto, após analisar as manifestações e postagens feitas pelos intelectuais aqui
analisados, mostrou-se óbvia a relação de suas manifestações com a teoria da Hegemonia
Cultural de Gramsci, no momento que suas ações buscam a hegemonia de seus ideais. E,
finalizando, verifica-se um efetivo e mais duradouro convencimento das massas utilizando
este método do que o método de utilização da força ainda utilizado por alguns governantes.
33

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