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A obra “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, retrata, entre

outras coisas, a exclusão social de determinados grupos de indivíduos aos quais


foram negados direitos e oportunidades no processo de formação do país. Da
mesma forma, na realidade brasileira minorias enfrentam os impactos sociais,
urbanos e psicológicos da arquitetura hostil e, assim, são excluídas do acesso dos
processos políticos do país. Ademais, é precisa salientar, ainda que tal problemática
tem raízes na inoperância governamental e na ausência de ações mobilizadoras na
solução do problema por parte da população e, assim, caminhos para revertê-la são
extremamente necessários.
Nessa perspectiva, acerca da lógica referente a arquitetura
desumanizada, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à negligência
administrativa. Segundo o teórico político e filósofo inglês, “é dever do Estado
garantir o bem-estar da população.” Contudo, ao observar a realidade brasileira, é
evidente que tal responsabilidade muitas vezes não é cumprida, já que as próprias
autoridades tendem a marginalizar aqueles que se encontram em situação de rua.
Isso resulta na criação de espaços protegidos por cercas elétricas, arames farpados
e obstáculos inóspitos no solo, tudo a fim de afastar pessoas e dificultar a
convivência social desse segmento populacional. Desse modo, fica claro a
grandiosidade deste problema e a urgente necessidade de intervenção do Estado
nesse processo.
Ademais, é preciso refletir sobre a falta de consciência da sociedade na
promoção de ações efetivas para resolver o problema em questão. Nesse contexto,
é pertinente recordar a célebre frase dita pelo filósofo Confúcio, "não corrigir nossas
falhas, é o mesmo que cometer novos erros." E, em virtude disso, torna-se evidente
que muitas vezes a população permanece apática, contribuindo para a perpetuação
de um ciclo de conformismo. Como resultado, aqueles que vivem nas margens dos
centros urbanos, banidos das áreas degradadas e hostis, sofrem uma notável
deterioração em sua qualidade de vida. Dessa forma, este cenário problemático é
inaceitável e precisa ser revisto.
Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão dos
impactos sociais, urbanos e psicológicos da arquitetura hostil, tendo em vista seus
motivadores: a displicência da máquina pública e a escassez de ações
mobilizadoras na solução do problema por parte da sociedade. Cabe ao Estado -
órgão responsável pela administração pública e pelo bem-estar da população -
garantir o estabelecimento de normas de construção que priorizem a harmonia com
o entorno, de modo a promover espaços urbanos mais acolhedores e inclusivos, a
fim de gerar mudanças significativas na percepção e nas ações dos cidadãos.
Ademais, é preciso que a mídia informe a sociedade sobre a importância de
repensar a arquitetura hostil e suas consequências negativas. Assim, os ideais
inalcançáveis não mais serão instrumentos segregadores e, finalmente, a cotação
de Carolina Maria de Jesus não mais representará a dos brasileiros.

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