Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

CÂMPUS CAMPOS BELOS GOIÁS


LICENCIATURA EM LETRAS: PORTUGUÊS/INGLÊS

A INTROSPECÇÃO EM CLARICE LISPECTOR: RECURSO LITERÁRIO


POUCO UTILIZADO DEVIDO AO ALTO GRAU DE COMPLEXIDADE EM
SUA CRIAÇÃO E COMPREENSÃO

ANA PAULA EVANGELISTA DA COSTA

CAMPOS BELOS - GOIÁS


2016
A INTROSPECÇÃO EM CLARICE LISPECTOR: RECURSO LITERÁRIO
POUCO UTILIZADO DEVIDO AO ALTO GRAU DE COMPLEXIDADE EM
SUA CRIAÇÃO E COMPREENSÃO

Ana Paula Evangelista da Costa*

OBJETIVO

O objetivo central deste trabalho é revelar o mundo introspectivo de Clarice


Lispector e o processo de produção de destaque e alta complexidade que esta escritora
peculiar da Literatura Brasileira apresenta. E nas entrelinhas do nosso trabalho, explorar
os circuitos que ligam os agentes da tríade de Autor, obra e leitor, com o intuído de
compreendermos como Clarice lança mão da subjetividade poética associada à
introspecção psicológica. E de complexo, ainda consegue complementar seu processo
de escrita emergindo obras com demasiada beleza e grandiosidade.

JUSTIFICATIVA

A escolha do campo de estudo emergiu do incentivo magno que o Curso de


Letras semeia: a leitura consciente e analítica, mas ainda assim, deleitosa. Quanto, a
escritora, nós ouçamos afirmar que ela nos escolheu, ao nos intrigar com o seu processo
de escrita desarticulado do padrão linear dos demais escritores brasileiros. Conseguindo,
articular, tudo que já possuímos de conhecimento sobre o processo de criação dos
autores e sobre literatura, e acrescentar a subjetividade e a introspecção de modo
criativo e sem danos a estrutura literária de suas obras. Alfinetando a consciência social
e individual, sem se quer ser tachada de literatura de auto-ajuda. Estimular a reflexão e
o encontro com o eu ou conhecidos sem sair de casa e preservar a ficção e o teor
literário e ser acima de tudo, uma escritora fascinante.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Clarice Lispector destaca-se por apresentar a subjetividade poética e a


introspecção psicológica nas tuas obras. Que implica em introduzir em meios aos
objetos, sentimentos, emoções, situações e personagens ficcionais o eu (social). A
primeira relação do autor é com a obra. Na qual exprime uma parte ou versão do seu
mundo. No entanto, sempre se precavendo de representar na sua obra uma situação
vivida ou presenciada que represente a massa, destacando que sua obra somente se
concretiza ou mesmo se realiza enquanto obra literária no leitor. Porque todo livro é
escrito para ser lido. O autor atua como um porta-voz de outros. No trecho a seguir da
obra “A hora da estrela” (1977), nas palavras do pseudoautor compreendemos com
clareza com se constitui este momento da criação literária: “Vai ser difícil escrever esta
história. Apesar de eu não ter nada a ver com a moça, terei que me escrever todo através
dela por entre espasmos meus.”A nossa escritora em estudo se posiciona como uma
porta-voz dos indivíduos da sociedade que não possuem voz. Um exemplo é a obra “A
hora da estrela”(1977), em que a protagonista Macabéa é uma retirante nordestina que
fora para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. Trechos do livro
nos comprovam: “Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços,
vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. […] Poucas se
queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que
existe?”.
Mergulhando no mundo da autora Clarice Lispector, nascida em 10/12/1920,
natural da Tchetchelnik – Ucrânia, posteriormente naturalizada brasileira e falecida em
09/12/1977, nós podemos compreendemos que o mundo da autora é serve de modelo
para o mundo das suas obras. Com dificuldades a família de Clarice emigra para o
Brasil, e aqui ainda enfrenta dificuldades financeiras, a morte da mãe aos nove anos de
idade. Com alguns anos no Brasil, as condições da família se estabilizam e eles mudam
de Maceió para o Rio de Janeiro. Nesta época, a escritora já germinava na jovem
Clarice. Embora, uma moça comum como qualquer outra no Rio de Janeiro, Clarice
despertava uma inquietação e uma sede insaciável por conhecimento e voz. Por
aprender algo que viesse a superar sua condição de mulher numa sociedade virilmente
machista.
Neste aspecto, podemos encontrar na personagem Loreley conhecida na obra
como Lóri, o espelho pelo qual a Clarice Lispector se via e ouçamos dizer, avistava
outras mulheres de força e muita vontade na qual pudesse lhe inspirar. Como nos
apresenta na introdução da obra “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” (1969):
Como um quadro cujas linhas mestras o recortassem do grande
mistério que tudo contém, este livro que se pediu uma liberdade
maior, é a narrativa de uma iniciação e um extraordinário hino ao
amor. Lóri, a mulher, faz uma longa viagem ao mais profundo de si
mesma e chega à consciência total de ser.
Podemos analisar a referência que Clarice faz “hino ao amor”, pela buscar
interminável do homem pela felicidade e o amor. Muito embora, o conceito de amor
venha talhado de um aspecto inovador e surpreendente. Desmitifica o conhecimento
leigo dos seus leitores sobre o amor e o gênero literário romance. O hino de amor
entoado e vivido pelos personagens Lóri e Ulisses se assemelha a uma falsa bem
dançada.
Aprofundando no mundo da obra, reconhecemos o cenário, os personagens e as
situações como comuns ao nosso cotidiano e a pessoas a nossa volta. Neste ponto do
nosso estudo também já estamos com um pé no mundo do leitor. Muito embora, os
leitores são heterogêneos, como gosto diferente e podem apresentar várias idéias e
avaliações diferentes sobre a mesma obra, o autor, se centra em escrever para um
determinado público levando em consideração as situações e circunstâncias semelhantes
a maioria. E na realização da obra no leitor ocorre a identificação do que já vivemos ou
gostaríamos de viver, o que já que alguém próximo ou conhecimento já viveu ou algo
que simplesmente nos surpreende.

REFENRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANCO, Lúcia Castelo. O que é escrita feminina. São Paulo, 1991.

COSTA , Luiz Lima. O estranho começo de Clarice Lispector. In Ficções . Rio de


Janeiro: Sette Letras, Abril 1998, Ano I, número 1. p. 114 - 117

CANDIDO, Antônio. Uma tentativa de renovação. In: Brigada ligeira e outros


escritos. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1922. (Biblioteca
Básica). p. 93 - 102.

LINS, Álvaro. “A experiência incompleta Clarice Lispector” . In: Jornal de Crítica.


Fev. 1944p

LISPECTOR, Clarice (1944) . Perto do coração selvagem : Romance – Rio de Janeiro:


Rocco, 1998.

________(1973). Água Viva. Rio de Janeiro: Artenova.

________(2004). Aprendendo a viver. Rio de Janeiro: Editora Rocco.

________(1984). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

________(1964). A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.


LISPECTOR, Clarice. Entrevistas – Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Rocco, 2007,
p. 46.

KANAAN, Dany Al-Bahy, Da ‘estética da dor’ à ‘estética da existência’: à escuta de


Clarice Lispector. Ângulo 111, out./dez., 2007, p. 34-47

IANNACE, Ricardo.(2001) - A leitora Clarice Lispector – Ed. Da Universidade de


São Paulo. (Ensaios de cultura : 18). In: http://books.google.com.br acesso em 15 de
novembro de 2013 às 16h02min.

PEREIRA, Thiago Constâncio Ribeiro. O conceito de mente em Whilhelm Wundt.


Psicologia em pesquisa, UFJF. V. 2 n.1 Juiz de Fora, Janeiro – Junho de 2008.

WALDMAN, Berta. Clarice Lispector. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Você também pode gostar