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https://linguadinamica.wordpress.

com/2018/05/10/sequencia-didatica-genero-conto/

https://www.youtube.com/watch?v=wz1d9iVSjIU&t=511s
Vídeo dramatização

Vídeo Aracy

https://www.youtube.com/watch?v=FA4XSRg4Yzo

Sobre conto.

https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/2937/2473

http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/felicidade-clandestina.html

Análise

https://blog.sarafarinha.com/2012/01/25/sobre-escrever-um-conto-8-perguntas-
indispensaveis/

1.      Quem é a personagem principal e o que é que essa personagem


quer?
2.   Quais as acções mais significantes, tomadas pela personagem, para
atingir o seu objectivo?
3.    Qual a escolha consciente feita pela personagem principal, que
impulsionará o resto da história?
4.    Quais as consequências inesperadas, provocadas pelos esforços em
atingir o seu objectivo?
5.      Essas consequências despoletam o aumento da energia emocional
da história?
6.    Quais os detalhes, recolhidos do ambiente e do diálogo, que
ajudam a contar a história?
7.    Qual é a escolha moralmente significante, feita pelo protagonista,
no clímax da história?
8.    E o leitor sentir-se-á envolvido e surpreendido na importância dessa
escolha?

os depois, a família muda-se para o Rio de Janeiro. Ingressa em 1939 na Faculdade de Direito
e, no ano seguinte, publica seu primeiro conto, Triunfo, em uma revista. Forma-se em 1943 e
se casa no mesmo ano com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos.
Durante seus anos de casada, mora em diversos países pela Europa e nos Estados Unidos. Em
1944, publica seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, vindo a ganhar o Prêmio
Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, no ano seguinte. Separa-se de seu marido em
1959 e volta para o Rio de Janeiro com seus dois filhos. No ano seguinte, publica seu primeiro
livro de contos, Laços de família. Em 1967, um cigarro provoca um grande incêndio em sua
casa e Clarice fica gravemente ferida, correndo risco inclusive de ter sua mão direita
amputada. Porém, após se recuperar, continua com sua carreira literária publicando diversos
livros. Publica em 1977 seu último livro A hora da estrela, vindo a ser internada pouco tempo
depois com câncer. A escritora vem a falecer no dia 9 de dezembro do mesmo ano, véspera de
seu aniversário de 57 anos. Suas principais obras são: "Perto do coração selvagem" (1944),
"Laços de família" (1960), "A maçã no escuro" (1961), "A legião estrangeira" (1964), "A paixão
segundo G.H." (1964), "Felicidade clandestina" (1971), "Água viva" (1973) e "A hora da estrela"
(1977). Felicidade clandestina: Considerações sobre o conto e a escrita clariceana O conceito
de crueldade, quando aplicado a uma criança, sempre choca e provoca mal estar. É como se
julgássemos impossível que alguém muito jovem estivesse corrompido e apresentasse
comportamento iníquo.Crianças trazem sempre aos nossos olhos a imagem da inocência, da
credulidade, e imaginá-las sendo maldosas fere profundamente nossa crença no ser humano,
no mundo e na racionalidade. Com parte dos contos rememorando sua meninice em Recife, a
leitura de Felicidade Clandestina, no livro homônimo de Clarice Lispector, nos fere um pouco,
ao mesmo tempo em que nos obriga a rever conceitos eexpectativas sobre a infância. Clarice
mostra-se hábil artesã, tece um enredo que delicia ao mesmo tempo em que machuca: a
história da menina pobre, que não pode comprar livros, e sua completa submissão à
impiedade da outra criança, que se compraz com seu desejo expresso de ler um determinado
livro, comove e revolta. A paixão revelada, e por isso mesmo escravizadora e humilhante, já foi
vivida por todos em algum momento da vida. O sentimento de estar disponível para outrem,
sujeitado ao seu poder, e, principalmente, o fato de ser exatamente uma criança exercendo tal
poder sobre outra, com certeza nos remete à infância, a alguns momentos da vida em que
cada um de nós sentiu e sofreu a situação de um lado, ou, o que até mesmo pode ser pior, de
outro. Oestudo e análise do ser humano: conhecer-se para ser Através de um mergulho no
universo interior das personagens, Clarice traz à tona temas existencialistas e as contradições,
dúvidas, inquietudes do ser humano. É importante ressaltar que a autora conduz o sujeito (as
personagens) para um inevitável isolamento. Assim, em toda a obra de Clarice Lispector
teremos personagens desconfiadas, inadaptadas ao meio em que vivem, com temores e
inquietações.Como a preocupação de Clarice é com a personagem em si e sua viagem ao
interior do ser humano, o cenário físico ao redor é muitas vezes deixado de lado. A não ser que
o cenário interfira diretamente ou ativamente na história. Por isso, dificilmente encontramos
passagem descritiva nos contos de Clarice. Além disso, a escritora utiliza uma linguagem
subjetiva, abusando de adjetivos, metáforas e comparações. Do ponto de vista formal, a
narrativa utiliza o estilo circular, que consiste na repetição sistemática de palavras, expressões
ou frases, para conseguir um efeito enfático.  Clarice Lispector emprega o processo narrativo
do fluxo da consciência, que é o rompimento dos limites de espaço e de tempo. O pensamento
fica solto. Pequenos fatos exteriores provocam uma longa viagem abstrata das ideias, sem se
basear numa estrutura sequencial da narração. Ela faz os personagens viverem o processo
chamado de “epifania”, ou seja, revelação. Em outras palavras, de repente, diante de
ocorrências mínimas, o personagem se descobre e vê revelada uma realidade mais profunda.
Muitas vezes, ele mesmo não consegue perceber com clareza que realidade é essa, porém sua
vida ou sua visão mudam.A menina que se torna “amante” do livro é um exemplo dessa
situação epifânica.A condição de mulher faz Clarice muito sensível aos problemas das pessoas
carentes. A marca registrada de seus personagens é serem tipos desprezados aos olhos da
sociedade (meninas, velhas, adolescentes), mas ricos em sua interioridade. Ainda integra a
característica de mulher-autora a visão do nascimento da mulher na menina. São numerosas
as personagens-meninas que, de uma forma ou de outra, se tornam adultas a partir de
experiências aparentemente corriqueiras. Toda essa exaustiva pesquisa do interior do ser
humano – a subjetividade procurando se orientar envolvida pela objetividade – pode passar
despercebida ao leitor desatento. Isso porque os textos são muito pobres de fatos, aliás,
propositalmente pobres. Cenas comuns, desenhadas sem rebuscamentos, mas com bastante
precisão de detalhes, podem esconder a profundidade do conteúdo analítico. As palavras não
são raras, os aspectos descritos e narrados parecem irrelevantes, a sintaxe não se complica. O
campo da linguagem fica livre para o leitor acompanhar os pensamentos que movem as
intenções dos personagens à procura de se ajustarem com eles mesmos. Análise do conto O
conto Felicidade Clandestina da autora Clarice Lispector narra a história de uma menina que
tem como objeto de sua felicidade a posse de um livro. Como não possui recursos financeiros
para tal aquisição, a menina vive a intensa espera do livro, prometido por outra, que aproveita
da situação para subjugar a menina. Até o dia em que a espera chega ao fim, graças à
descoberta da mãe da possuidora do livro que entrega sem prazo de volta o objeto tão
ansiado. A menina, que esperançosamenteaguardava, descobre então a felicidade ao possuir o
livro em mãos, saboreando lentamente o prazer de tê-lo. As personagens do livro não são
nomeadas, o que permite o processo da catarse e a identificação do leitor que se envolve com
o enredo do conto. Para facilitar a identificação das personagens, neste estudo será usado
como referência personagem 1 para a filha do dono da livraria, possuidora do livro; e
personagem 2, para a narradora- personagem, que está à espera do livro. A temática principal
do conto está expressa no título: Felicidade Clandestina. A felicidade para a personagem 2 está
contida no simples prazer de possuir o livro. Apesar de ser uma felicidade passageira ou ilegal,
a busca por essa felicidade caracteriza o motivo da narração. Segundo as palavras dessa
personagem: “A felicidade sempre iria ser clandestina para mim” (Lispector, 1971). Ela
descreve a felicidade como clandestina devido à emoção que sente ao receber um objeto que,
de fato, nunca seria seu, mas que lhe “embriagava” a alma. O conto, segundo alguns
estudiosos, é um texto autobiográfico de Clarice Lispector. A autora transpõe para a
personagem 2 a paixão pela leitura e, por outro lado, mostra a desvalorização, praticada pela
personagem 1 que, mesmo tendo fácil acesso à literatura, não desfruta desse sentimento.
Percebe-se claramente essa situação no seguinte trecho: “Mas possuía o que qualquer criança
devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava” (Lispector,
1971). Observa-se também uma alusão a Monteiro Lobato, que escreveu e estimulou a
literatura infantil. O livro citado no conto e tão cobiçado pela personagem 2 é um livro de sua
autoria: As Reinações de Narizinho. A estrutura do conto Felicidade Clandestina caracteriza-se
por tratar de uma narrativa ficcional curta, com espaço, tempo e personagens reduzidos.
Clarice é uma autora que muito ousou em relação à narração. Sua narrativa normalmente não
possui início, meio e fim sendo centrada na imaginação da personagem aliada ao fluxo de
consciência e/ou epifania. Observamos o fluxo de consciência na personagem 2 com a
utilização do discurso indireto livre logo no início do conto, exemplificado no seguinte trecho:
“Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era puravingança, chupando balas com
barulho. Como essa menina devia nos odiar”  (Lispector, 1971). Notamos que o pensamento da
menina é descrito sem que haja uma referência clara no texto, podendo passar despercebida
na ausência de uma leitura mais atenta. A complicação da narrativa se dá no momento em que
a personagem 1 decide emprestar o livro à personagem 2. Exercendo a partir daí uma “tortura
chinesa” (Lispector, 1971) sobre a menina. O clímax da narrativa, momento de maior tensão
no conto, ocorre quando a mãe da personagem 1 aparece na história, causando a mudança de
rumo da narrativa, ela interfere na história proporcionando a felicidade da personagem 2 e
interrompendo a vingança da personagem 1. O desenlace narrativo é representado pelo
alcance da felicidade da personagem 2, quando ela consegue, finalmente, receber o livro e por
tempo indeterminado que é, para ela, “tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter
a ousadia de querer” (Lispector, 1971). A passagem expressa o amor e a importância da
atividade literária na vida de uma menina. Era esta a porta de entrada para um mundo de
fantasias e maravilhas que não eram conhecidas no seu dia a dia. O conto termina com uma
frase que representa uma alegoria da felicidade clandestina para a menina: “Não era mais uma
menina com um livro: era uma mulher com o seu amante” (Lispector, 1971). Essa frase
sintetiza o paradoxo do desejo pela busca do prazer e o medo do oculto que envolve uma
paixão. 1- O tempo e o espaço na narrativa O tempo e o espaço na narrativa são influenciados
pelo fluxo de consciência da personagem, característica comum à autora. O tempo obedece às
lembranças sucessivas da narradora, em alguns momentos ela antecipa fatos que revelam o
que se desenvolverá ao longo da narrativa. Observa-se a presença de termos que indicam as
marcas temporais, por exemplo: no dia seguinte, diariamente, até que um dia. No entanto, a
narradora não consegue mensurar durante quanto tempo a personagem 1 consegue exercer
sua vingança. A impressão deixada é que se transcorre um longo período, pois para a
narradora cada segundo longe do objeto desejado seria uma eternidade. Em dado momento
ela cita: “dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira” (Lispector, 1971) relatando
hiperbolicamente sua espera. Porém, o fato dessas marcas temporais se referirem a dias,
revela-nos que essa espera foi relativamente curta, de no máximo, algumas semanas. A
sensaçãoimensurável de tempo aparece também quando a menina recebe o livro, ela não
percebe o tempo passar entre a casa da menina e a sua, pois agora pode ficar o tempo que
desejar com o livro. No final do conto a menina se transfigura em uma mulher, remetendo a
passagem de tempo com o amadurecimento da personagem. Esta passagem de tempo
configura-se por perduração, que é a passagem de tempo psicológica, não pode ser
demarcada no texto, pois é algo subjetivo. O espaço físico é a cidade de Recife, o que é
detectado logo no início da narrativa, lugar onde a autora Clarice Lispector foi criada na
infância: “Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas
pontes mais do que vistas” (Lispector, 1971). O ambiente, que alude ao espaço carregado de
significados ou espaço social, é percebido no discurso da narradora ao mencionar que a
personagem 1 morava numa casa e não em um sobrado, que era um tipo de residência
popular bastante comum no início da urbanização, ela também não autoriza a entrada da
personagem 2 em sua casa, por esta ser pobre. A narradora cita que vai literalmente correndo
à casa da outra personagem, o que mostra-nos a proximidade entre as residências das
personagens: “No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar” (Lispector, 1971). 2- As
personagens na ficção As personagens do século XX avançam bastante em relação aos
modelos propostos por Aristóteles e Horácio. As personagens seguiam paradigmas pré-
estabelecidos limitando-se a reprodução do ser humano, traziam consigo situações
características arrematadas no final por um preceito de cunho moral. Com o decorrer do
tempo as personagens ganham foco nas narrativas. Apresenta-se ao leitor o universo
psicológico, social, político, de diferentes tipos de personagens dentro do verossímil, mas
exibindo toda a complexidade do ser humano. As narrativas de Clarice Lispector seguem a
linha de autores como Virgínia Woolf, Franz Kafka e James Joyce, que muito inovaram em suas
obras, adentrando no universo psicológico das personagens. As características físicas são um
elo para alcançar as características psicológicas das personagens. O conto Felicidade
Clandestina é iniciado com a descrição física da personagem 1 e apresentação de sua
personalidade. Percebe-se o contraste físico e social entre as personagens, sendo a primeira
marcada por ser “gorda, baixa e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados”
(Lispector, 1971) e de condições financeiras mais elevadas. A personagem 2 é inserida
inicialmente dentro de um grupo de garotas, pois refere-se a “nós” na apresentação da
narrativa. O que indica que havia um vínculo de amizade entre essas personagens que,
provavelmente, se conheciam da escola ou moravam no mesmo bairro. Essas são descritas
como: “imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres” (Lispector, 1971),
motivo do ódio e das maldades da personagem 1. No conto são apresentadas três
personagens. As personagens principais participam ativamente do enredo da narrativa,
presentes no desenvolvimento da trama. Há ainda uma personagem secundária, sem tanta
participação, mas que exerce um papel decisivo. A personagem protagonista é a menina que
narra o conto e está à espera do livro. É uma espécie de heroína do enredo, está em primeiro
plano e é através dela que conhecemos os elementos da narrativa. A menina que concebe a
vingança e a “tortura” psicológica na protagonista é a antagonista. Ela representa uma vilã do
conto, criando obstáculos para a realização da felicidade da protagonista. Estas representam
as personagens principais do conto. A personagem secundária aparece uma só vez, mas
desempenha um papel significativo; é a personagem auxiliar ou árbitro. Ela é a mãe da
antagonista e aparece no conto para resolução da narrativa. Quanto às ações que praticam na
narrativa, as personagens principais podem ser divididas em planas e esféricas, ou redondas,
segundo a definição de Forster. A antagonista é definida sob o critério de personagem plana,
desde o início da narrativa é descrito seu caráter de vilã, que não evolui ao longo do conto.
Enquanto a protagonista é uma personagem esférica. Ela aparece timidamente no início do
conto como uma personagem passiva que sofrerá gradativamente os efeitos da vingança,
aceitando a humilhação pela qual é submetida na esperança de receber o livro. A personagem
reacenderá na narrativa ao ter a posse do livro. O sentimento de felicidade expande a
personagem evoluindo na narrativa e adquirindo outra conotação, ela agora é mais que uma
menina com um livro, ela é uma mulher com seu amante. 3- O foco narrativo O narrador
cumpre importante função na narrativa. Pode aparecer em 1° pessoa e participar como
observador ou personagem. É uma criação do autor e depende do foco que o autor decide
empregar a sua narrativa. Por isso pode aparecer tipos diversos de narrador. No conto é
apresentada a narrativa em primeira pessoa pelo ponto de vista da protagonista. A menina
que aguarda o livro nos conta a história oferecendo primeiro a descrição da personagem 1,
para permitir ao leitor formar uma opinião da personagem. Essa descrição física e psicológica
da antagonista pode influenciar o leitor na sua interpretação, pois o ponto de vista oferecido é
de apenas uma personagem e esta enfatiza as características físicas e morais que atribuem
uma carga negativa à antagonista. A protagonista dialoga com o leitor através da utilização de
interrogações e respostas para situar o leitor no enredo do conto, por exemplo:“Entendem?
Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa,
grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu?”(Lispector,
1971). De certa forma, a protagonista incita o leitor a participar do conto e seguir o rumo da
narrativa.O foco da narrativa encontra-se na felicidade da protagonista. Toda a trama se
desenvolve em torno da busca dessa felicidade, apesar dos obstáculos que a personagem
encontra no caminho. O encontro com a felicidade para a menina se torna algo clandestino
porque o sentimento de felicidade não lhe é próprio, a instabilidade da posse do objeto lhe
enche de felicidade, mas pode desaparecer a qualquer momento. A protagonista desfruta
delicadamente de cada momento com o livro, pois como ela descreve: “era um livro para se
ficar vivendo com ele, comendo- o, dormindo-o” (Lispector, 1971). 4- A felicidade clandestina
O conto de Clarice Lispector nos traz a perspectiva da felicidade vivida por uma menina: a
clandestinidade. Essa característica de ilegalidade representa uma oposição ao que é o
sentimento de felicidade, mas no conto alia-se a todas as dualidades pela qual vive a
protagonista. Em Felicidade Clandestina observa-se a reificação do livro para uma menina: o
livro era mais que um simples objeto, era a realização de sua felicidade. Antes mesmo de
receber em mãos o livro, a possibilidade de tê-lo proporcionava verdadeiros momentos de
êxtase à protagonista. Sua esperança era tão intensa que mesmo diante da recusa da
personagem 1, ela permanecia impávida. Mas a dificuldade em recebê-lo começa aos poucos a
desanimar e entristecer a personagem 2. Seu cansaço é percebido nas olheiras que se formam,
provavelmente devido às noites sem dormir na ânsia de receber o livro. Quando finalmente a
protagonista consegue ter em mãos aquele que seria o motivo de sua felicidade, e por tempo
indeterminado, conseguimos perceber como se expressa essa felicidade clandestina. A
felicidade não era um sentimento presente facilmente na vida da protagonista, que era uma
menina pobre e convivia com as dificuldades de uma vida simples. O fato de não poder
comprar o livro demonstra essa situação, por isso a protagonista aceita a humilhação em busca
do objeto desejado. Ser feliz para a protagonista era algo ilegal e oculto. O sentimento de
felicidade se misturava ao perigo, à ambição, ao desejo pelo proibido e até à humilhação pela
qual se submetia. Após receber o livro, ela cria diversas dificuldades para “surpreender-se”
com o sentimento de felicidade. Em certo momento narra: “Eu vivia no ar... Havia orgulho e
pudor em mim.” (Lispector, 1971). Esse orgulho era a realização do sentimento, motivado pelo
objeto possuído e o pudor estava presente porque a menina sentia “vergonha” de estar feliz
com algo que não era seu, essa felicidade podia acabar a qualquer instante. O conto termina
com uma frase que conota o valor clandestino da felicidade para a protagonista: “era uma
mulher com seu amante”, demonstra também a permanência da clandestinidade em sua vida,
que como ela já havia presumido, a felicidade sempre estaria presente de modo ilegal em sua
vida, em pequenas “doses” de perigo. É a metáfora do perigo causado pela imensidão de
desejo. O sentimento é vivido ocultamente, às escondidas, mas causa um êxtase de prazer.
Torna-se um ciclo vicioso para a personagem, por mais que ela tente escapar, está cada vez
mais envolvida nessa trama. É assim que Clarice nos apresenta a felicidade. A trama do conto
nos deixa fascinados, inclusive por expressar a paixão pela atividade literária na vida de uma
criança. Essa felicidade clandestina aparece para nósleitores de Clarice. A autora consegue nos
fazer experimentar a felicidade de ler e se envolver com o enredo de suas histórias, o que nos
deixa “em êxtase puríssimo” (Lispector, 1971) e a clandestinidade por saber que aquilo não é
real, é apenas fruto de uma autora espetacular que consegue penetrar profundamente nas
estranhezas do ser humano. Clarice tem a capacidade de nos deixar assim: como uma mulher
com seu amante ou uma criança descobrindo o mundo. Na verdade, somos todos personagens

seus em busca de nossa felicidade clandestina.

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