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Todo lugar tem sua magia. Algumas são mais chamativas e curiosas:
quem não gostaria de fazer surgir um coelho de uma cartola, lançar uma chuva
sobre uma plantação seca ou mover objetos com a força da mente. Mas
também existem as pequenas magias, ações e manifestações que, mesmo não
sendo superpoderosas, conseguem encantar e mover.
Mas o que define magia então? É uma atividade especial, uma prática
obscura? É a sensação que algumas coisas específicas trazem? É a energia
de um lugar e dos seres que vivem nele? Isso não pode ser respondido por
ninguém e pode ser respondido por todo mundo.
“Ué, isso não é controverso? “ Alguém pode dizer. “Paradoxal” pode ser
a definição de quem conhece o artifício do dicionário. Mas é só lermos com
cuidado e mudarmos a posição de algumas palavras que a afirmação se
mostra óbvia: se ninguém não pode responder, todo mundo pode. Um breve
exemplo de trava-línguas ou, nesse caso, trava-lidas.
Falando de forma mais direta, magia é algo que depende da definição de
quem vê e quem conta sobre. Nem todas as coisas mágicas são percebidas da
mesma forma e, por conta disso, uma mesma coisa pode ser definida por
alguém ou outrem de maneiras bem diferentes. Voar talvez não seja mágico
para um pássaro, cuspir fogo é parte da vida de um vulcão.
Tudo isso para dizer, portanto, que o título do presente livro traz
expectativas únicas para a cabeça de quem o lê, que podem ou não ser as
mesmas ideias de quem o escreveu e colocou suas palavras em uma ordem
específica. A história aqui não vai necessariamente falar de lutas entre
poderosas energias ou da busca por um amuleto místico, mas trará contos de
um lugar e seus habitantes que, conjuntamente, percebem e praticam certas
atividades que lhes parecem mágicas.
E para cantar tais contos, pode ser bom acompanhar uma jornada
específica. Traz uma familiaridade e até certa identificação com a história.
Afinal, toda vida é uma aventura e sempre há o que aprender com as
caminhadas de cada pessoa e, a bem da verdade, de cada ser vivo. Há
sabedoria até nos inorgânicos, mesmo que só seja encontrada por estudos
filigrânicos.
Lini era um desses seres. Vivos, no caso. Sua juventude indicava um
desconhecimento de muitas coisas, mas também destacava uma energia e
determinação singulares. Não tivera tanto tempo para praticar magias, mas
tinha muita habilidade em absorve-las: tinha quem dissesse que jovens
percebiam melhor os encantamentos daquele mundo, mas sabia-se que todo
mundo tinha potencial de criar e receber mágica.
Em sua vila, a educação básica passava pelos princípios de escrita,
leitura, culinária, atividades físicas e comunicação. Este último era o tópico
favorito de Lini, que não só gostava muito de falar e ouvir, mas também de
conhecer pessoas novas e compartilhar passados e presentes. Também
achava curioso que essas interações e, de forma imensa, a vida em sociedade,
aumentassem em complexidade exponencialmente conforme sua idade
avançava. Sentia-se como um rio que desemboca em um oceano, para sempre
e constantemente se misturando no balanço do mar, junto de todos os seres
viventes e seus riachos internos.
Portanto, não era surpresa que Lini tivesse interesse em viajar para
outras vilas e conhecer terras mais distantes. Se todo lugar fosse diverso e
instigante como aquele pedacinho do mundo, quantas possibilidades não
estariam à sua frente? Quantas histórias não poderia levar e trazer, quantas
práticas a se compartilhar? A empolgação era palpável, perceptível e...
precauta. Não poderia simplesmente sair por aí após anos vivendo em um só
lugar. Planejara toda uma rota com a ajuda de mestres, professores e
educadores da vila em geral, que frequentemente se juntavam para arquitetar
jornadas tais quais. Um rito de passagem, ou ritos de passagem, já que
mudavam de pessoa à pessoa.

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