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SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
EPÍLOGO
CAPÍTULO BÔNUS
PEDIDO DA AUTORA
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Copyright © Mary Oliveira
Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
DEDICATÓRIA
A todos que já conheceram a dor de amar e perder alguém porque
ainda não eram maduros ou fortes o bastante para acreditar e
proteger esse amor.
PRÓLOGO
Fazia menos de um ano que eu estava ali e ainda era meio irreal.
Meu coração deu uns saltos tolos quando seu olhar encontrou o
meu. O sorriso que despontou nos seus lábios foi instantâneo e fez um
também se formar nos meus.
Como esse homem podia ser tão lindo e gostoso? Tão largo, grande
e forte e ainda com esses olhos azuis e cabelos escuros... e também esse
maxilar tão másculo e essa postura imponente e inalcançável?
Como infernos ele podia estar apaixonado por mim?
E olhe, não me leve a mal. Não sou nenhuma garota tola e sem
autoestima. Tenho espelho e sei que sou uma grande gostosa, sim, mas ele
ainda é o rei e dono de tudo em que toca, entende? O que pode enxergar em
mim que não encontraria numa filha da alta sociedade novaiorquina com
quem ele convive desde sempre?
Bruce soltou Liam, que cambaleou e quase desabou no chão. Não
me movi enquanto meu homem vinha até mim e ri em seus braços quando
me ergueu com apenas um braço sustentando minha bunda. Envolvi sua
cintura com minhas pernas e seu pescoço com meus braços. Sua boca
estava na minha antes que eu pudesse emitir qualquer saudação.
E merda, como havia sentido falta daquela boca, do seu toque, das
mãos grandes me apertando, da sua intensidade, calor, daquele seu jeito de
me dominar apenas com os movimentos hábeis e determinados de sua
língua.
— Acho que alguém sentiu minha falta também — provoquei ao
perceber sua urgência, sem afastar nossas bocas ou me importar se tínhamos
plateia.
— O quê?
Eu trouxe seu rosto para perto do meu, de modo que pudesse olhar
em seus olhos.
— Sabe que sou ansiosa demais pra lidar com surpresas assim.
Soquei seu peito, mas estava sorrindo quando ele voltou a me beijar.
Sabia que era uma droga, mas adorava ouvir aquele minha mulher.
Minha colega tinha ido passar o final de semana com sua família,
por isso nos esgueiramos até meu quarto. Quando a porta bateu às nossas
costas, Bruce me pressionou a ela, suas mãos já percorrendo meu corpo sob
o moletom. Acariciando as curvas, erguendo o tecido da minha blusa,
afastando o sutiã…
Era uma provocação. Era uma dúvida genuína. Era uma tentativa
tola de me convencer de que eu podia aceitar aquele amor que sentia
sempre que seus olhos encontravam os meus.
Eu o merecia, não é? Eu merecia esse homem e seu amor?
Independente dos mundos em que vivíamos? Apesar do que sua família
acharia?
Sim, eu fui sua em todas aquelas vezes. Acho que desde que o vi
pela primeira vez.
UM
Cinco anos depois
— Dizem que você é o próximo Jeff Bezos — Chuck Gustafson
debochou, ainda lendo a matéria da Forbes que insistira em me mostrar
desde que chegara à minha casa há meia hora. O alemão podia até usar
aquele tom sarcástico, mas o sorriso em seus lábios denunciava o orgulho
que sentia ao ver meu nome naquela lista. Ele mesmo a tinha encabeçado há
dois meses, como o herdeiro mais bem-sucedido antes dos trinta. — Eles
citam até a aparição inédita das empresas da sua família no relatório da
Brand Finance 2022, como uma das marcas mais valiosas do mundo. O que
só aconteceu depois que você assumiu os negócios em Londres.
Parecia que uma vida tinha se passado desde que estudamos juntos
naquela universidade, desde que eu concluí meu curso e saí dos Estados
Unidos sem olhar para trás.
Ele sorriu.
Bufei.
— Eu deveria ter escolhido melhor meus amigos — foi tudo o que
ainda me dei o trabalho de dizer.
— E agora seu filho está indo pelo mesmo caminho, não é? — Ela
meneou a cabeça, revoltada. — Dois idiotas guiados pelos próprios pênis!
— Mamãe… — grunhi, num alerta, mesmo quando sentia os
pulmões já presos sob uma pressão insuportável, mas ela me ignorou.
— Você vai tirar essas indigentes da minha casa! Vai sumir com
elas e arrumar toda essa bagunça! Se aquela mulherzinha abrir mesmo um
processo contra nós, Sebastian… se ela fizer isso ou continuar ameaçando
nossas vidas, eu vou matá-la! Está me ouvindo?! Vou matá-la e fazer o
mesmo com aquelas coisinhas insignificantes que ela colocou no mundo! —
ela avisou, rouca pelos seus próprios gritos.
Ouvi seus passos escada acima, mas não a encarei. No momento, eu
precisava de algo do homem à minha frente.
O olhar de papai finalmente encontrou o meu, e o sustentei, firme,
até o impedi de sair quando tentou se afastar, empurrando-o contra a
parede mais próxima e prendendo-o com meu corpo. Um braço
pressionando sua garganta, num aviso claro de que não sairia dali até me
dizer algo. Podia ser meu pai e mais velho, mas eu era maior, mais forte,
não o respeitava como homem e estava sentindo minha cabeça latejar com
um tipo de raiva que não lembrava de já ter sentido.
Uma traição dele não era uma novidade, mamãe lidava com essas
merdas há muito tempo, continuava nessa porra de casamento porque
queria e eu havia parado de me importar depois de perceber que eles
estavam confortáveis nessa relação deturpada mas nada do que eles faziam
por si mesmos tinha afetado minha vida dessa maneira.
Meu punho cerrado atingiu sua boca num soco que nenhum de nós
previu. As palavras morreram em seus lábios antes que ele pudesse
continuar igualando Emma à vadia chantagista da sua mãe.
Papai não revidou, manteve sua calma fria conforme voltava seu
rosto novamente para mim, se limitando a limpar o sangue de sua boca e
me observar em silêncio por alguns instantes.
— Não me diga que foi tolo o bastante para se apaixonar — ele
disse, naquele tom passivo-agressivo que eu odiava. — Pra acreditar que
uma garota como aquela podia ser mais do que um brinquedo em suas
mãos.
— Não seja ingênua. Sebastian vai ter que nos ajudar. Ele não é
idiota.
— Vai lidar com Bruce? Ah, querida, você precisa confiar mais em
seu próprio poder. Aquele garoto está em suas mãos. Vai fazer e acreditar
no que você disser.
Meu coração parou ali, sob o aperto de morte que aquelas palavras
exerceram sobre ele.
— Mamãe… — Emma tentou novamente, mas foi interrompida.
— Mamãe!
Eu não sabia e acho que ainda não tinha certeza do que faria quando
me esforcei para ultrapassar o choque e entrar naquela sala. Acho que eu
também não quis demonstrar a perturbação mental que sentia, mas foi inútil
qualquer tentativa de permanecer calmo e inabalado depois do que tinha
sido dito. E tudo só piorou quando Serena tentou me expulsar. Eu atravessei
o pequeno cômodo, passando por ela como o obstáculo indesejável que era,
e mandei Emma me explicar de que porra elas estavam falando.
Meus saltos já pendiam entre meus dedos quando deixei o elevador
no meu andar. A mochila pesando muito mais do que naquela manhã,
quando saí para trabalhar.
— Sim.
Ainda não respondi, sabia que era melhor voltar a comer. Nunca
falava sobre Bruce. Falar sobre ele costumava me levar com mais facilidade
às lembranças do dia em que ele pisoteou meu coração e meu orgulho.
E lembrar disso me deixava mal. Eu descobria níveis diferentes do
fundo do poço sempre que deixava essas lembranças voltarem a me
consumir.
— Emma…
Eu não o julgava por não ter feito isso, mas não defenderia sua
atitude ou mentiria dizendo que acreditava que ele tinha motivos válidos.
Era só a crença que toda a sua família parecia compartilhar de que éramos
insignificantes perante o poder e dinheiro deles.
Quem continuava a perder era Bruce, porque Emy era uma irmã
incrível, um sopro de felicidade que brilhava até nos dias mais tristes e
cansativos da minha vida, e seria capaz de penetrar até a escuridão daquele
coração enferrujado que ele tinha.
— Por que ele te odiaria? — indaguei. — O que você fez para que
ele te odiasse?
Ela se encolheu.
— Nada.
— Talvez você tenha razão. Se ele foi idiota o bastante para perder
você, deve ter algum problema sério.
Sorri e voltei a beijar sua cabeça. Após alguns segundos, perguntei
sobre suas aulas e dia, precisava tirar Bruce de nossa conversa.
Ele riu.
— Muito trabalho.
Ele bufou.
— Então diga.
De planejar traí-lo.
— Bruce…
— Fomos amigos na infância ou você só me aturava porque sua
mãe te obrigava? — As suas palavras começaram a sair enroladas aqui. —
Quando me pediu pra te mostrar como era beijar… você quis mesmo me
dar seu primeiro beijo ou só quis me deixar provar um pouco de você?
Fazia parte do plano da sua mãe também…? Foi mesmo seu primeiro
beijo?
— Teria sido mais fácil se eu tivesse só usado você — ele disse, não
ouvindo minhas palavras ou decidindo ignorá-las. — Se eu tivesse só
concordado quando aceitou abrir as pernas pra mim. Se eu tivesse só
aproveitado todas as vezes que me deixou comer você.
— Bruce… — pedi, me encolhendo mesmo sem querer. Pareceu sujo
ouvi-lo falar assim. De uma maneira completamente diferente de quando
ele usava palavras como aquelas para me excitar.
— E você era tão gostosa, porra. Tão gostosa que eu não conseguia
nem pensar em mais ninguém. Em mais nada. — Ele voltou a rir daquele
jeito seco, carregado de amargura. Com algum esforço, se afastou, rolando
para o meu lado na grama. — Mas aprendi a lição, Emma.
— Não tinha nenhum plano, Bruce! — disparei, minha voz
quebrando ao dizer seu nome. O que era uma declaração se transformou
numa súplica vergonhosa.
Ele se sentou e também o fiz, os seus olhos nunca encontrando os
meus e só ao segui-los, eu me dei conta de que seus amigos e colegas de
turma já estavam mais perto. Perto demais.
— Bruce…
— Mas não precisa se preocupar — sua voz soou mais rouca agora.
— Se entrou na Columbia pra não perder seu investimento de anos em mim.
Meneei a cabeça em negativa, usando o dorso da mão para limpar
as lágrimas que ainda borravam minha visão.
— Você tem uma gama quase infinita de novos idiotas que podem te
dar o que você queria. — Ele se ergueu com dificuldade, sendo amparado
por seus amigos antes que pudesse cair de novo, mas acabou empurrando-
os, irritado. Então se voltou para seus colegas de fraternidade. — Emma
está em busca do próximo idiota disposto a comer em sua mão e dar o que
ela quiser, pessoal — ele anunciou, alto o suficiente para ser ouvido por
todos eles. Para pisar em mais do que o meu coração. — A vantagem é
poder comê-la no processo.
Enquanto Bruce saía, lembro que tudo o que me restou foi o bolo
em minha garganta. As lágrimas transbordando dos meus olhos. As vozes e
risadas masculinas que ficaram e inundavam os meus ouvidos. Eu lembrava
também da vergonha e da humilhação que foram os meses seguintes àquela
tarde, porque os homens que estavam com Bruce transformaram os meus
dias em torturas psicológicas que eu nem sabia como conseguira atravessar.
Vadia.
Parece que a mãe dela deu um golpe no pai dele.
Atraí mais olhares do que gostaria quando atravessei a porta
giratória do prédio imponente do meu mais novo empreendimento. A
recepcionista corou antes mesmo de deixar sua posição atrás do balcão para
se apresentar e pressionar o botão do elevador que eu deveria pegar.
Agradeci a gentileza, mas não dediquei a ela mais do que isso. Nem mesmo
um olhar mais apurado.
Quando as portas de metal se fecharam à minha frente, abri o
sobretudo azul-marinho que usava.
Aquele que eu havia sentido por anos, apenas por fechar os olhos.
Não consegui me mover por um instante, por ainda não saber que
merda fazer. Nem se tivesse tido tempo, teria sido capaz de me preparar
para algo assim.
A vontade de tirá-la dali e atirar perguntas começava a duelar com
aquela parte fraca e estúpida que ainda vivia em mim. Aquela que me dizia
agora para puxá-la contra o meu peito e apenas a sentir por um momento.
Seu calor, seu corpo, seu cheiro, a textura de sua pele… tudo de que eu
havia sentido tanta falta enquanto tentava me desintoxicar.
O que eu achava que aconteceria, afinal? Que ela deixaria seu chefe
saber que tivera um relacionamento comigo e quase me dera um golpe?
Que pediria desculpas por brincar com a porra do meu coração? Que
contaria que sua mãe havia processado meus pais e arrancado alguns
milhões de dólares deles?
Por que eu não reconhecia de uma vez a vergonha do fato de que era
o único abalado por esse reencontro? Que era o único que não havia
superado o maldito relacionamento que tivéramos?
Que nunca a havia esquecido?
Por que não assumia de uma vez que a distância não havia curado
droga nenhuma e que agora eu não era capaz nem de tirar meus olhos dela?
Raiva.
Raiva era a única coisa que me ajudaria a lidar com o fato de que
trabalharia com Emma.
Minhas mãos tremiam quando encerrei a apresentação dos gráficos.
Bruce ainda tinha aquele olhar gelado cravado em mim e eu já sentia que
minha reserva de energia estava no fim para continuar lidando com a força
da sua presença novamente.
Ele acenou lentamente, uma vez, então voltou seu olhar ao meu
chefe.
Sair dali.
— Sabia que sua mãe tinha uma filha do meu pai! Sabia o que ela
faria! Sabia que planejava fazer o mesmo comigo, me enganar para me
arrancar alguns milhões quando chegasse a hora.
— Desconfiava que Emy era sua irmã, mas não sabia que mamãe
planejava fazer todo aquele escândalo, e nunca teria concordado se
soubesse, nem teria feito nada parecido, não importava o que mamãe
quisesse de mim.
— Está mentindo.
Não aguardei que ele tivesse tempo para absorver minhas palavras e
sua próxima pergunta me alcançou quando dei o primeiro passo para longe
dele.
— Acho que fiquei devendo algo para você naquela tarde no lago,
depois que me disse todas aquelas coisas.
Meus passos foram rápidos para fora daquele beco e havia tantas
lágrimas transbordando dos meus olhos que foi fácil deixar o choro ganhar
vazão e não perceber o homem que vinha em minha direção. Em poucos
segundos, voltei a me chocar contra um peito largo e forte.
Diferente de Bruce, esse me amparou, me abraçou e confortou
mesmo sem saber o que havia acontecido.
Encarei o líquido ambarino no copo. Eu o girava lentamente sobre a
mesa, tão atento à mistura de álcool e cevada que ouvia apenas sons
abafados do bar do clube. A mente longe desse lugar. Quase num ponto
inalcançável.
— Vi Emma hoje.
— Cinco anos se passaram, Bruce. Ela não é mais a garota que você
abandonou há cinco anos.
Bufei.
— Mas que…
— Não vou abrir mão do que tenho com ela só porque você voltou,
Bruce. — Ele se ergueu, arrumando o terno caro e lendo meu semblante
fechado. Todas as emoções que borbulhavam aqui dentro e que eu tinha
certeza de que eram muito nítidas agora, especialmente a raiva, a
agressividade e a indignação. — Independente de você acreditar ou não que
ela não traiu você.
— Você odiaria isso, não é? — Ele sorriu. — Mas não tem mais
nada a ver com a vida da Emma. Há uns cinco anos.
A raiva me fez querer afastá-lo, mas não o afastei. Não o fiz porque
entendi o que ele estava fazendo, o que tentava tirar de mim com aquelas
provocações.
Sem julgamento, sem pressão, sem forçar nada.
De novo.
SEIS
Não vi ou falei com Bruce por quase uma semana desde que precisei
fazer a apresentação na reunião. Comecei a achar que tive tempo suficiente
para lidar com o fato de que ele estava de volta e até com sua presença, mas
essa certeza se desfez no momento em que o vi novamente na empresa.
Caminhando ao lado do meu chefe, no andar em que eu trabalhava.
Perdi o fôlego.
Eu ainda não tinha pensado que Bruce poderia usar isso contra mim,
mas esse medo cresceu contra minha vontade agora. Eu não me arrependia
daquele tapa, muito menos do que havia dito, mas não me arrepender não
me livraria das consequências que poderiam surgir.
Minha respiração ficou presa por todos os segundos que senti Bruce
me encarar, meu coração tolo tropeçava nas batidas e um arrepio eriçava
minha pele, em reações involuntárias que eu não seria capaz de esconder.
Mas, ainda assim, lutei contra todas elas.
Quando a porta da sala do meu chefe foi fechada, com ele e Bruce
dentro, soltei o ar num suspiro profundo.
Pigarreei.
Soquei seu peito, mas não o afastei. Era bom sentir que nossa
cumplicidade era real, que sua amizade era real e ele não se importava de
me dizer as bobagens que eu tinha certeza de que diria aos seus amigos,
para provocá-los.
— Caralho, que frio da porra! — foi a primeira coisa que ele emitiu
quando atravessamos as portas giratórias e saímos do prédio quentinho.
Sorri.
— Emy vai com a gente? — perguntei, mesmo sem encarar
Bradshaw.
Voltei a socar seu peito, desta vez com força, mas não o bastante
para impedir seu riso tolo.
— Você está sendo um idiota.
Mesmo à distância, meu olhar encontrou o seu e a força com que ele
me atingiu reverberou em meu corpo, num impacto quase físico. Eu poderia
jurar que, além de sentir, eu ouvia o pulsar desenfreado do meu coração
socando meu peito.
Seu sorriso provocador foi um alerta que apitou mais alto em minha
mente quando ele inclinou o rosto até o meu e disse perto do meu ouvido:
SETE
Eu mataria Bradshaw.
Lentamente.
Provavelmente prendendo-o numa cela subterrânea à base de água e
alguma comida que ele odiava. Sem mulheres por perto ou sexo, de modo
que suas bolas ficassem roxas e explodissem com o tempo.
O fato era que eu não queria me ver numa posição em que precisaria
reconhecer que já era tarde. Para mim, para consertar tudo com Emma...
para nós.
Suspirei.
Eu sabia que não tinha o direito de sentir ciúmes. De estar atrás dela
agora. Seria mais fácil continuar com minha vida, acreditando que ela havia
mesmo me traído, que planejava mesmo agir como sua mãe… mas eu não
conseguiria… não depois de Bradshaw me dar motivos para duvidar do que
eu havia ouvido naquela noite. Para duvidar das minhas próprias
conclusões. De mim, em vez de duvidar dela.
Cinco anos.
Ele riu.
— Isso não muda o fato de que não tem motivos para me fazer essa
pergunta. E eu não pretendo responder se não me der um bom motivo.
Bufei.
— Vá se foder.
— Eu vou.
Acho que eu nunca consegui vê-la como minha irmã. E não porque
não queria que ela fosse ou porque não gostava dela, eu simplesmente não
conseguia deixar de vê-la como a irmã caçula de Emma. Nem conseguia me
imaginar numa posição de irmão mais velho, de alguém que seria capaz de
reconhecer quando ela precisasse e cuidar dela. Ou mesmo amá-la como ela
merecia sendo tão pequena e vulnerável.
Tamborilei a caneta sobre o relatório, observando-o como se tivesse
alguma intenção de lê-lo agora. Não conseguiria me concentrar o suficiente
para isso. Não quando sabia que Bruce adentraria essa sala de reuniões a
qualquer momento.
Você já sabe que fez merda. Admita que ainda a quer. Admita que
vai rastejar pra tê-la de volta se for necessário.
E pode ter sido coisa da minha cabeça estúpida, mas eu poderia jurar
que havia ouvido a voz abafada de Bruce dizer “eu vou”.
Por que isso havia me abalado tanto? Por que tinha me deixado a
noite toda acordada? Ansiosa? Inquieta? Apreensiva? Em expectativa? Eu
deveria apenas ignorar tudo isso e continuar com a minha resolução de que
não queria Bruce por perto, não é? Ele havia me machucado e a forma com
que tudo entre nós terminou só me mostrava que ele não era o homem que
eu havia idealizado na adolescência e início da vida adulta. Que ele nunca
havia me amado de verdade… que eu não queria fazer parte daquele
mundo de aparências, arrogância e preconceitos em que ele vivia. E, acima
de tudo, que eu não deveria dar a ele a oportunidade de me ferir de novo.
O que eu faria?
Era melhor contar ao meu chefe sobre o relacionamento que havia
tido com Bruce? Era melhor continuar agindo como se não o conhecesse?
Era melhor me preparar logo para o pior?
Perto demais.
Acho que eu não soube como lidar com isso, por isso fiquei ali,
imóvel em seus braços, sentindo-os me envolverem, sentindo seu calor me
aquecer, seus olhos prenderem os meus de modo que nada em nosso
entorno pareceu fazer qualquer sentido. Ou mesmo importar.
Como se não aguentasse ter que lidar com minhas mãos em seu
corpo, mesmo por sobre todas as camadas de roupa cobrindo sua pele.
Parei, observando-a dar passos pequenos até meu carro. Ainda sem
me encarar. Lembrei de sua pergunta há poucos minutos, sobre eu estar
tentando me vingar destruindo sua carreira. Ela realmente acreditava que eu
estava fazendo isso?
— Emma... — tentei.
E ainda assim me fez sangrar como apenas uma adaga teria feito.
Mas ela ainda não havia acabado. E, para o meu desespero, pareceu
mais segura do que dizia a cada palavra que deixou seus lábios.
— Não acho que possamos ser amigos, mas podemos ser bons
colegas de trabalho, Bruce.
— Eu preciso ir.
Eu a observei em silêncio, sem conseguir processar suas palavras,
ou me mover, enquanto ela se afastava. Eu só a vi passar por mim, com uma
sensação atordoante de que ela estava saindo da minha vida, e me forcei a
lutar contra o torpor para impedi-la. Para alcançá-la. Segurá-la. Abraçá-la e
apertá-la de modo que aquele buraco crescendo em meu peito parasse de
me puxar para o fundo dele.
Inspirei seu cheiro com desespero, meus lábios pressionando sua
têmpora enquanto meu braço a envolvia e mantinha presa a mim.
— Bruce...
— Você me odeia? — perguntei, ainda que a resposta pudesse me
ferir ainda mais. — Você me despreza agora? Você...
Seu corpo voltou a tremer em soluços nos meus braços, mas ela não
me respondeu.
Acho que ele não soube como voltar a trabalhar nem quando percebi
que essa era sua resposta muda.
Mas eu tive certeza de que foi por Emma que ele bateu quando meus
olhos voltaram a encontrar os seus.
DEZ
No entanto, conforme meu chefe se movia pela sua sala agora, após
me ouvir contar sobre o relacionamento que tive com Bruce há cinco anos,
eu começava a sentir que havia feito uma besteira ao concordar que Bruce
tentasse consertar as coisas...
Uma lágrima fina deslizou por meu rosto, mas só tive a vaga
consciência dela caindo, sequer havia me dado conta de que estava tão perto
assim de chorar.
Pisquei, uma nova lágrima caiu e outras mais nublaram minha visão,
mas me forcei a segurá-las. A me erguer e dizer algo. Não podia aceitar
aquelas palavras calada.
— Não vou dizer que entendo ou concordo com sua decisão, senhor,
especialmente quando ninguém nesta empresa é mais qualificada que eu
para apresentar os dados do setor que gerencio há meses — iniciei, com
dignidade, sem precisar erguer a voz ou alterar meu tom. — O Sr. Waldorf
não apresentou qualquer posição contrária à minha permanência nesse
processo.
— Boa sorte com a reunião mais tarde. Vou pedir que um dos meus
colaboradores leve os relatórios que foram solicitados ao meu setor. Nos
vemos na segunda-feira.
Sapeca.
ONZE
Para piorar, já não tinha dúvidas de que estava perdendo tempo ali,
com alguém que sequer tinha domínio do que falava e, eu sabia, não seria
capaz de responder uma das perguntas que eu já estava pronto para fazer.
— Onde está a chefe do departamento financeiro? — eu o
interrompi, no meio de um adendo sobre a demonstrações de mutações do
patrimônio líquido da empresa. — Essas informações deveriam estar sendo
apresentadas por ela, não?
— Por que ela fazer o trabalho para o qual é paga seria misturar as
coisas? — eu o cortei, sem deixar que concluísse, e insisti antes que
pudesse proferir uma réplica: — E por que achou que afastar uma
funcionária por uma questão pessoal era o melhor a se fazer numa situação
como essa?
Ele voltou a entreabrir os lábios para responder, mas não foi rápido
o suficiente. Eu me ergui, já abotoando meu terno.
— Ela...
— Me dê quinze minutos.
— Você não precisa fingir que ainda vai durar tanto — provoquei,
só porque podia.
— Vai se ferrar, seu filho da puta!
Eu entendia por que Emy adorava esse festival de inverno, ele era
sempre um espetáculo à parte para quem morava na cidade ou não.
Ela riu e concordou, mas já estava indo mais rápido que eu. Fazendo
manobras como uma profissional, não uma garota que ia a pistas como essa
apenas umas três vezes a cada temporada de inverno.
Na terceira volta completa que demos, a pista já não estava tão vazia
e parei por um momento para me apoiar à mureta e pegar, da mochila que
carregava, dois pares de luvas de crochê que Emy havia feito para nós no
decorrer do ano. Ainda era final do outono, mas o clima e o cair da noite já
começavam a me fazer sentir um pouco de frio. E eu não queria que Emy
pegasse um resfriado.
Enquanto vestia as luvas, procurei Emy pela pista e tentei ir até ela.
Alguns sulcos no gelo me desequilibraram durante o percurso, mas, apesar
de precisar parar e ir mais devagar em alguns momentos, não caí.
Voltei minha atenção para ela, sem acreditar no que havia dito. E sua
resposta foi dar de ombros.
— Ela é — Bruce concordou. — Quando se trata do seu próprio
bem-estar, ela sempre é.
TREZE
Emma suspirou.
Desviei meu olhar das duas para me atentar novamente à avenida à
minha frente. Após alguns minutos no trânsito lento, uma mensagem no
meu celular me confirmou que o médico da minha família já estava a
caminho do meu endereço e isso me fez respirar aliviado. O tornozelo de
Emma só havia piorado depois que conseguimos tirar os patins. Eu já estava
fazendo um esforço para não a levar direto para o hospital.
Estacionei a uma quadra de distância do Bryant Park, à frente do
hotel imponente que fazia parte da rede mundialmente reconhecida da
família de Bradshaw. Eu estava hospedado nele desde que voltara a Nova
Iorque.
Bufei.
Emma não hesitou em envolver meu pescoço com seus braços. E foi
algo singelo, eu sei, nem era a primeira vez que ela fazia isso nesse dia, mas
meu coração tropeçou nas batidas. Expirei devagar, pressionando meus
lábios à sua têmpora, inalando seu cheiro adocicado devagar, de modo que
ela não percebesse o que eu fazia, mas sua pele se arrepiou sob meu
contato. Seu coração saltou no peito e a respiração se tornou irregular a
partir dali. Ela sabia sim o que eu fazia. E não me soltou. Apenas suas
unhas deslizaram sutilmente pela minha nuca.
— Não tem ideia do quanto eu senti falta disso — confessei
baixinho, em seu ouvido. — De ter você perto assim... de sentir seu cheiro.
Emy riu.
Emma estendeu uma mão para a irmã quando adentramos o
ambiente luxuoso e fincou suas unhas mais profundamente em minha nuca
quando atravessamos o hall de entrada direto para os elevadores. Contive
um grunhido baixo, com os dentes cerrados, amaldiçoando a lembrança
intrometida que cruzou minha mente ao mero arranhar das suas unhas em
minha pele. Emma também fazia isso inconscientemente quando eu estava
dentro dela, quando apenas gemer de prazer não era mais suficiente.
Pedi que Emy pressionasse o botão do meu andar e ela o fez com
um sorriso pequeno, mas animado. Em meus braços, Emma ergueu seu
rosto para me encarar por alguns instantes, estava tão perto que pude sentir
sua respiração se confundir com a minha. Ao fitá-la, eu soube que ela tinha
perguntas a fazer, mas preferiu não as fazer na frente da irmã.
— Emy!
Eu ri baixinho da interação das duas, algo em meu peito se aqueceu
ao ver o sorriso sapeca da menina. Vê-las juntas agora era muito diferente
de cinco anos atrás. Emy não era mais a bebê que vivia agarrada às pernas
de sua irmã. Naquele momento, uma parte de mim se perguntou se eu teria
desenvolvido aquele tipo de cumplicidade com ela se tivesse ficado com
Emma. Eu conseguiria ver Emy como minha irmã? Ela também estaria me
provocando assim?
O inchaço parecia muito pior agora. Eu temia que sua pele estivesse
roxa também, embora não houvesse sangue à vista.
— Aqui dói? — perguntei, pressionando o indicador alguns
centímetros acima do tornozelo. Emma não emitiu uma resposta audível,
mas pela visão periférica pude vê-la menear a cabeça em negativa.
— Tem uma coisa que eu deveria ter perguntado ontem — ela disse,
baixo o bastante para não ser ouvida por ninguém além de mim. Ergui meus
olhos até os seus, já preocupado com seu tom. — Por que mudou de ideia?
Sobre mim? Na semana passada parecia tão certo de que eu... — ela parou,
não conseguiu concluir.
— Bradshaw me contou sobre o que aconteceu depois que fui
embora — iniciei. — Além de me dizer que acreditava em você, ele me fez
ver que eu deveria tentar enxergar o passado por outra perspectiva, talvez...
— Acreditei porque não era tão estúpido ouvir meu melhor amigo,
como sempre pareceu estúpido ouvir a mim mesmo. — Engoli o nó idiota
que surgiu em minha garganta e inspirei fundo. — Quando era só minha
mente me mandando acreditar em você, eu me senti fraco por querer tão
desesperadamente que ela estivesse certa.
— Tudo bem.
A menina riu.
— E você tá cega. — Um suspiro infantil antecedeu suas próximas
palavras. — Vocês podiam ficar juntos de novo, né? Aí seríamos uma
família, o que acha?
— Bruce daria um bom irmão mais velho. Aposto que daria... — ela
insistiu, com uma confiança que tocou em algo duro no meu peito. Uma
convicção enraizada em mim, sobre não ser capaz disso, como Emy
acreditava. — Eu posso ajudar vocês, sabia?... Ah, meu Deus, eu vou ajudar
vocês.
Acenei em negativa.
Seu olhar voltou para mim. Não precisei de mais do que dois
segundos para confirmar que meu pedido foi inesperado.
Quando Emy voltou com o que Bruce havia pedido, ele me estendeu
os analgésicos e uma garrafa de água. Eu tomei tudo em silêncio,
observando-o atentamente conforme fechava a compressa e a pousava
cuidadosamente sobre meu tornozelo.
Ao primeiro contato gélido, um espasmo involuntário me fez
grunhir baixinho de dor, mas voltei a cerrar os dentes e, com o passar dos
segundos, o gelo pareceu começar a adormecer o latejar na área lesionada.
Ela estava com uma sacola da Calvin Klein e a voz de Bruce podia
ser ouvida de algum lugar do apartamento.
Não sei exatamente em que momento dormi, mas a última coisa que
lembro de ter visto foi Emy deixar o banheiro com um pijama rosa e um
sorriso radiante nos lábios.
Sr. Jones:
Acenei em negativa.
Sim, essa era uma das certezas que eu tinha sobre ela depois das
poucas horas de conversas que havíamos compartilhado desde a noite
anterior, quando Emma desabou por causa dos remédios.
Em alguns momentos, era muito fácil acreditar que ela ainda estava
prestes a fazer nove anos, em outros, eu só conseguia franzir a testa e a
encarar estupefato, incapaz de acreditar que ela não era uma adolescente.
— Você é tão sério — ela comentou em algum momento da noite
anterior. — Acho que eu pensei que você ia ser caladão e tinha medo que
fosse chato, que me ignorasse ou me mandasse calar a boca... mas você é só
sério. Eu gosto.
— Que questionário?
— Um que eu inventei e que você só vai saber pra quê serve depois.
— Sim.
Icei as sobrancelhas, então olhei bem para o seu rosto e percebi que
ela falava sério. Inspirei fundo, tragando o ar estéril, típico de hospital.
— Tudo bem.
Emy se remexeu na cadeira, voltando seu corpo e atenção para mim,
de modo que pudesse me encarar, os olhos semicerrados como se ela
acreditasse que pareceria mais séria desse jeito. Inspirou fundo e soltou:
— Você me odeia?
— O quê?!
Ela suspirou.
— Foi o que a Emma disse, por que ele te odiaria? — Desviou seu
olhar do meu por um momento, parecendo envergonhada pelo que diria. —
Mas você não veio me ver nem uma vez. E somos irmãos, né?
— Você não tem nada a ver com o fato de eu ser um filho da pu... —
parei, mordi os lábios. Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia
feito isso para me impedir de dizer um palavrão na frente de Emy.
Ela riu.
— Mas sua mãe me odeia. Ela disse. E o nosso pai nem defendeu a
Emma e eu.
Olhei-a por um momento, me perguntei quando isso havia
acontecido para ela ainda se lembrar.
Okay, ela estava cheia de perguntas certeiras hoje, mas desta vez
não hesitei em responder.
— Sim.
— Então por que foi embora? E por que demorou tanto pra voltar?
— Você deve ter uma memória muito boa — falei, tentando mudar
de assunto. — Já que lembra de tudo isso.
— Você não tentava me tratar como uma bebê, nem fazer gracinhas
pra eu ficar rindo, mas fazia a Emma sorrir. E deixava ela me colocar no seu
ombro. Eu adorava, porque você era tão grande. Ver o mundo dos seus
ombros era muito incrível, sabe?
— Sr. Ri?
Eu sabia que não seria fácil, mas não imaginei que me veria perdido
em tão pouco tempo.
Eu precisava dar a Emma algo para ela pensar, não é? Algo que a
ajudasse a baixar um pouco a guarda. Algo que a ajudasse a ver que eu
continuava louco por ela e preferiria arrancar a porra de um braço a
machucá-la ou perdê-la de novo.
Ela entreabriu os lábios para negar, mas, por algum motivo, acabou
desistindo. Preferi não explicar mais nada e apenas a ajudei a se acomodar
no banco ao lado de sua irmã.
DEZESSEIS
Sua voz veio grave e rouca quando ele sussurrou bem próximo do
meu ouvido:
— Ontem você me perguntou por que eu não estava usando o
apartamento que tenho na cidade. Eu planejava te trazer aqui na noite em
que nossos pais brigaram. — Ele fez uma pausa. — Não consegui voltar
depois disso.
Franzi a testa, sem entender, mas a voz de Emy nos chamando do
lado de fora me impediu de fazer qualquer pergunta.
— Vamos entrar de uma vez — ele concluiu, por fim.
Não consegui abrir a boca para dizer nada. Minha garganta trancada.
— Abra — pedi.
— Uma vez você disse que Love Story era a nossa música — Bruce
lembrou, sua voz quase um sussurro. — Éramos jovens quando nos
conhecemos e minha mãe te mandou ficar longe de mim. Mas nos
apaixonamos como Romeo e Julieta e viveríamos nossa história de amor.
Um nó doloroso apertou minha garganta, as lágrimas borravam
minha visão das pétalas de rosa secas e agora marrons sobre a cama.
Para me dar uma casa e uma vida como a que planejamos juntos.
Para me tornar sua esposa apesar da sua família.
Quase tão cruel quanto a mãe de Bruce sempre fora com ele,
fazendo-o acreditar que não era o suficiente para ser amado.
Meus olhos continuaram presos aos seus, atentos aos seus orbes
incríveis até quando a ardência denunciava as lágrimas, estávamos tão perto
que dividíamos o mesmo ar, o mesmo calor. Deslizei meus dedos pelas
lapelas do seu terno até alcançar seu pescoço e envolvê-lo. Só então pude
tomar o impulso que me ajudaria a alcançar seus lábios com os meus.
E como se quisesse provar suas palavras, ele uniu nossas bocas com
urgência, num beijo duro e sôfrego que me tomou tudo. Como se a vida que
havia perdido estivesse neles. Como se tudo de que precisasse para viver
fosse eles.
Gemi com seus lábios chupando os meus, provocando antes de sua
língua voltar a percorrer minha boca, tocando a minha com a destreza que
eu reconhecia, seu gosto familiar se misturando ao meu, me levando a
agarrá-lo mais forte, prendê-lo a mim porque precisava senti-lo mais perto.
Quem eu amava.
E eu já não tinha dúvidas de que eu também era isso para ele.
— Vai se foder.
Ele riu.
— Vocês já ao menos se beijaram?
— E você já está irritado, viu só? Tsc, tsc, tsc... — Ele fez uma
pausa, inspirando e expirando profundamente, de um jeito que também
pareceu uma maldita provocação. — Como você está? Agora que ela
aceitou dar uma nova chance a vocês?
Ele riu.
— É bom ouvir isso, irmão — ele disse. — Foi uma merda ver
vocês separados por todo esse tempo.
Pressionei os lábios, suas palavras, agora livres de qualquer tom
sarcástico ou zombeteiro, me atingiram profundamente. Bradshaw podia ser
um desgraçado irritante, mas era o melhor amigo que alguém poderia ter.
— Eu sei.
— Você tá obcecado pela minha vida sexual. Para com essa merda.
— Forçou?
Eu não fazia ideia de quem era Pucca, mas, na foto, seus cabelos
negros estavam presos como dois pompons aos lados de sua cabeça.
— Lisa! Olha, esse é meu irmão mais velho! Ele é grande e bonitão,
né? — Olhei para Emy ao ouvir aquelas palavras, o orgulho estampado em
seu rosto derreteu a porra de um iceberg em meu peito. Seus olhos
brilhavam como se, para ela, não houvesse nada mais incrível do que poder
dizer que eu era seu irmão nesse momento. — E ele tem sotaque britânico...
Fala com ela, Bruce!
A garota me encarou boquiaberta e imóvel, não parecia acreditar no
que via. Emy riu.
Eu acenei.
Emy ainda tentou discutir, mas Lisa insistiu para que ela me desse
um pouco de espaço para respirar. O franzir irritado dos lábios e da testa da
garotinha me fez sorrir. Até fazendo birra conseguia ser fofa.
Cortei a distância entre nós com um passo largo. Sem os saltos, ela
estava ainda menor que eu e precisei baixar a cabeça para continuar a
encarando. Minhas mãos envolveram seu rosto com cuidado, os polegares
acariciando suas bochechas devagar, antes de eu me inclinar o bastante para
depositar um beijo em sua testa e roçar nossos lábios apenas num selinho,
porque Emy ainda estava ali.
Ela sorriu.
Eu acenei.
— Sim.
Eu ri baixinho.
— Depois de cinco anos, não achei que ela ainda lembraria de mim
— confessou. — Mas ficou feliz quando eu pedi que reservasse uma mesa
para nós. Mesmo depois que se formaram, Bradshaw e Blake continuaram
sendo clientes assíduos da nonna.
Ele ainda não pareceu estar muito certo de que deveria concordar,
mas respeitou minha vontade.
Livrei-me do cinto de segurança enquanto Bruce deixava o carro e o
contornava para abrir minha porta. Peguei meu casaco e a bolsa.
Ela parecia a rainha Elizabeth com uma queda por terninhos cor-de-
rosa.
— Querida, você está tão linda. — Ela acariciou meu rosto, os olhos
azuis brilhantes enquanto me observava. — Está até mais cheinha, eu
costumava ficar preocupada com seu peso e tamanho, Bruce vai lhe dar
bebês grandes.
Bruce tossiu, os olhos meio arregalados para a senhorinha entre nós.
Sorri.
Eu adorava ouvi-lo me chamando por aquele apelido bobo, que
havia surgido por um motivo mais bobo ainda quando eu tinha doze anos.
Sua voz e sotaque se uniam para fazer um rebuliço juvenil na minha
barriga, com uma única palavra.
Inclinei-me sobre a mesa para beijar sua boca suavemente, mas fui
impedida de me afastar e gemi baixinho quando Bruce mordiscou meu lábio
inferior e o puxou para si, para um beijo de verdade, com direito à sua
língua dominando cada movimento da minha e sua mão grande apertando e
envolvendo minha cintura.
— Você precisa saber que vou fazer isso em toda oportunidade que
tiver — sussurrou, baixo e rouco, ofegante como eu, nossos lábios ainda se
roçando a cada palavra.
Era delicioso.
Bruce voltou a pousar sua taça sobre a mesa.
Voltei meus olhos para ele, pronta para lembrá-lo do meu tornozelo,
mas ele disse:
— Podemos ir devagar. Terei cuidado.
“Sua respiração é doce nos meus pensamentos
— Isso não faz o menor sentido — ele comentou, agora num tom
cético, me fazendo rir baixinho. Ergui meu queixo o bastante para conseguir
ver seu rosto, já ele, precisou baixar o seu.
— Histórias trágicas têm um apelo sentimental enorme — esclareci,
mas ele se limitou a menear a cabeça em negativa, ainda se recusando a
acreditar nisso. Eu estava sorrindo quando Bruce se inclinou como pôde
para me beijar.
Minhas mãos agarraram seus cabelos com força quando senti sua
ereção pressionar meu ventre. Suspirei baixinho, tentada a tocá-lo, senti-lo
de novo, cega para tudo porque Bruce agora beijava e chupava meu
pescoço. Aquele era meu ponto fraco.
Sorri.
— E ela está — confirmei. — Emy vê você como uma espécie de
herói grande e forte. Ela já te ama e não há nada que você possa fazer sobre
isso.
Eu sabia que seu pai havia se afastado das empresas há dois anos,
então não me preocupava com a possibilidade de encontrá-lo.
— Tudo bem. Nos veremos em dois dias então.
E mais uma vez sua boca estava na minha, agora com uma fome que
me fez agarrá-lo mais forte e fincar as unhas em seu couro cabeludo, do
jeito que o fazia gemer. Sempre.
O volume duro sob sua calça pulsou contra minha nádega e eu quis
tocá-lo, de novo, mas nossa posição não me permitiria fazê-lo. Movi-me
devagar, me esfregando nele, e Bruce grunhiu, como um animal faminto
sendo torturado com um banquete que não pode devorar.
O aperto de suas mãos em minha cintura se tornou mais forte, quase
doloroso, logo era ele me ajudando a rebolar em seu colo, enquanto
sufocávamos gemidos com um beijo. Sentir seu pau daquele jeito fez o
latejar entre minhas pernas aumentar. Eu estava molhada, seria tão fácil
gozar se pudéssemos tirar...
— Bruce...
— S-sim.
Em meu ouvido, num rosnado grave e sexy, ele declarou:
— Eu também prefiro gozar na sua boceta... e na sua boca... sempre
dentro de você. Daqui pra frente, vou me certificar de que nós dois
fiquemos sempre satisfeitos.
Até eu explodir.
Mais cedo, ela tinha ido à sede das empresas da minha família e
tivemos uma reunião curta com alguns integrantes da equipe que estava
trabalhando na fusão da Aubrey’s ao nosso marketplace. Duvido que
qualquer um daqueles homens não havia percebido meu olhar para Emma,
além de não conseguir tirá-lo dela, orgulhoso assistindo-a tão segura e
eloquente tirar dúvidas sobre os dados do gerenciamento financeiro da
Aubrey’s, eu havia fuzilado com os olhos um dos desgraçados quando ele
decidira que encerrar uma reunião profissional com um elogio à beleza de
Emma era algo que deveria fazer.
— É, eu fiz uma lista de coisas que a gente tem que fazer hoje —
contou. Ela soltou minha mão e estendeu o que restava do seu cachorro-
quente para que eu segurasse, então pegou a bolsinha rosa de crochê que
carregava e a abriu. — Espero que dê tempo.
Devolvi seu cachorro-quente e fiquei com sua lista. Nem precisei ler
todos os itens para ter certeza de que não daria tempo de fazer tudo aquilo.
Meus olhos saltaram rapidamente pelo que ela havia escrito.
— Eu não sou muito boa nele. Emma diz que vou ser uma péssima
motorista.
Sorri.
— É pra indicar que temos que ir nós três nesse brinquedo — ela se
inclinou na minha direção, para olhar a lista de perto. — Você vai comigo
pra gente ganhar da Emma.
Emma riu da cara que fiz ao pegar a bolsa no ar. Sorri também,
abraçando-a para acompanhar Emy com os olhos. Ela já subia os degraus de
plástico do castelo. Ao chegar ao topo, nos procurou, como se quisesse ter
certeza de que estávamos prestando atenção, e acenou animada antes de
descer, escorregando castelo abaixo, para então subir as escadas e fazer tudo
de novo.
— Quanto tempo ela consegue ficar fazendo isso? — perguntei em
seu ouvido, sem tirar meus olhos de Emy.
Com um sorriso travesso, Emma me olhou por cima do ombro e
disse:
— Como aqui não está cheio, vamos ter que chamar pra ela sair.
Marque quinze minutos no relógio.
Suspirei.
— Por que já acho que foi uma péssima ideia aceitar trazê-la aqui
hoje?
— Porque foi.
— Logo você vai aprender que ser bom para Emy nem sempre vai
significar dizer sim a tudo o que ela quiser — avisou, sua mão se
entrelaçando à minha. — Em alguns momentos, você vai precisar ser um
pouco mais firme, mesmo que ela fique chateada.
— Por quê? — a pergunta saiu num fio de voz frágil que quase não
me alcançou.
— Porque vocês são minhas. Mesmo que ainda estejamos indo
devagar por causa de todos os últimos anos e para a Emy se acostumar com
a gente, vocês são minhas. E eu vou proteger e cuidar das duas.
Mamãe.
Era a terceira vez que ela me ligava em dois dias e a terceira vez que
eu a ignorava, pelo simples fato de saber o que ela queria.
Depois de Emy fazer com que nos uníssemos para tirar uma última
selfie, Emma se afastou para sair da fila e seguimos para entrar na roda-
gigante. Ajudei Emy a se acomodar e verificar se as travas de segurança
estavam todas no lugar e funcionando. Quando começamos a subir, precisei
conter Emy para que ela não se inclinasse demais para observar a vista da
cidade. O Brooklyn estava de um lado, do outro, estava o Rio East e, mais
ao longe, os prédios de uma Manhattan cintilante.
Ela aceitou, sua mão pequenina sendo engolida pela minha mesmo
enquanto ela tentava segurá-la com força.
— Deve ser muito incrível, mas acho que a Emma não deixaria. É
melhor eu crescer mais, primeiro.
Eu acenei, concordando.
Um calor inesperado inundou meu peito diante dessa cena. Ele ainda
não sabia, mas ela havia dado seu nome àquele urso enorme.
Deixamos o quarto sem fazer barulho e retornamos à sala.
— Você está bem? — foi a primeira coisa que ele perguntou tão
logo se acomodou ao meu lado no sofá, a tensão e preocupação que
emanava eram muito mais fortes agora.
Após me livrar da bota imobilizadora, e numa tentativa de acalmá-
lo, tirei meu casaco e me recostei a Bruce, agradecendo silenciosamente
quando ele compreendeu o que eu precisava e apenas me envolveu com
seus braços.
— Sim — respondi.
Suspirei.
— Liam ainda me odeia pelo que pensa que fiz. Seus amigos não
vão mudar de ideia sobre isso tão facilmente. Ou me aceitar de novo.
Fixei meu olhar no vaso com flores azuis sobre o balcão que dividia
a sala da cozinha, só porque ainda não queria encarar Bruce. Na verdade,
não queria ter que discutir sobre seus amigos e o que eles achariam da
minha volta à sua vida. Não queria me importar com isso.
— Cherry...
— Por isso doeu tanto ouvir você no lago. E por isso, por muito
tempo, doeu tanto ouvir seus colegas da Alpha Dragons. Era como se
estivessem sempre me lembrando de que eu não merecia você. De que era
pouco por ser quem eu era, por isso pessoas como eu seduziam, mas depois
eram descartadas.
— Ver Liam hoje não doeu por ele insinuar que eu continuava
enganando e traindo homens por aí — assegurei. — Mas me lembrou por
que eu não quero fazer parte do seu mundo.
— O que...
— Eu mereço mais do que uma vida sendo julgada pelas pessoas
arrogantes e mesquinhas do seu mundo, Bruce. Mais do que engolir
comentários ácidos ou rebatê-los como se precisasse defender quem eu sou
— expliquei. — Eu não preciso. E não vou deixar a Emy passar pelo que eu
passei, não vou permitir que ela duvide por um momento do seu próprio
valor perto de pessoas como o seu pai e a sua mãe.
— Você quer Emy e eu na sua vida, então precisa saber que o que
aconteceu hoje com Liam não deve se repetir, especialmente quando ela
estiver por perto... Eu sei que você não pode garantir que as pessoas não
ajam como Liam, e eu não quero que minta pra mim dizendo que vai fazer
isso. O que quero é que não me peça pra fazer parte da sua vida forçando
nossa presença para seus amigos e família até nos aceitarem. Não quero
Emy no meio disso.
Engoli em seco.
— Vou cuidar de tudo para que nós três possamos viver em paz —
foi o que ele escolheu prometer.
Seus lábios tocaram os meus com suavidade, uma das suas mãos
descendo até a minha cintura, para manter nosso abraço. Talvez para me
transmitir segurança também. Acabei me aninhando ao seu corpo, satisfeita
com sua promessa e um pouco aliviada por ter conseguido conversar sobre
esse assunto com Bruce. Havíamos concordado em ir devagar, mas tudo o
que poderia abalar ou afetar nossa relação precisava ser discutido entre nós.
Ele precisava conhecer meus limites e estar disposto a respeitá-los. Eu
tentaria sempre fazer o mesmo por ele.
Fechei os olhos com meu rosto bem acomodado ao seu peito e logo
seus dedos começaram a acariciar meus cabelos. O contato contínuo
confortou meu coração e mente, se estendeu nos minutos que
compartilhamos ali e me deixou um pouco sonolenta, com as pálpebras
pesadas e a mente se distanciando lentamente dos acontecimentos das
últimas horas.
— Cherry?
— Hum?
— Hum?
— Eu amo você.
Eu amo você.
Suas últimas palavras antes de dormir fizeram um sorriso tolo
curvar meus lábios. De novo. Esqueci a dor nas costas por um momento e
beijei o topo da cabeça feminina sobre mim. Não achei que voltaria a ouvir
essas palavras tão cedo, mas ouvi-las era algo que eu ansiava como um
louco. Nunca pareceu mentira quando Emma as disse para mim, e não foi
diferente agora.
Após nossa conversa, pensei sobre como lidaria com meus amigos e
família. Tinha um encontro marcado com os caras e usaria esse momento
para avisar que estava com Emma novamente. Talvez eles demorassem a
acreditar que ela não havia me enganado, mas eu não me importava com
isso. Os quatro teriam muito tempo para aprender a lidar com essa
informação antes de eu decidir que poderia expor Emma a eles de novo.
Eu ainda não havia engolido a raiva e indignação de Liam ao jogar
na minha cara que ela havia me traído. Mesmo consciente de que eu era o
culpado por meus amigos pensarem assim, que era por acreditarem que
precisavam me defender e estar do meu lado que eles agiam tão mal com
ela, eu odiei essa primeira experiência de ver alguém ir contra Emma. De
acusá-la e julgá-la tão abertamente e com tanto afinco.
— Você sabe o que fazer, amor — lembrei e meu pau pulsou sob a
calça antes mesmo de Emma começar a se mover, esfregando-se nele,
dando início à porra da fricção que nos deixava loucos.
Voltei a tomar sua boca em meio aos sussurros incoerentes que ela
emitia, agarrei seus cabelos e aprofundei o beijo, exigindo sua rendição sem
proferir uma única palavra. Emma retribuiu, cedeu, mas também exigiu; me
permitiu dominá-la, mas também me dominou. Não era uma disputa, era
um dar e tomar recíproco.
Não permiti que buscasse fôlego longe dos meus lábios, mas a
ajudei a tirar meu casaco e abrir minha camisa. Enquanto suas mãos
trêmulas tocavam meu peito nu e encontravam apoio nos meus ombros,
para ela continuar se movendo, eu levantei sua blusa e cobri seus seios com
minhas mãos.
— Ainda consegue gozar assim? — indaguei baixinho, tão ofegante
quanto ela, com sua testa colada à minha, apertando os seios gostosos. —
Só sentindo meu pau duro e pronto pra você? Se esfregando nele com todas
essas roupas entre nós?
— S-sim, só... va-vamos pro meu quarto... — pediu, mas não
interrompeu seus movimentos, sua calcinha molhada a ponto de eu senti-la
mesmo através da calça e da boxer que vestia. Grunhi só de imaginar como
toda aquela fricção estava deixando sua boceta. Eu já me sentia a ponto de
explodir, as bolas doloridas, mas a porra da minha imaginação conseguiu
elevar o nível da tortura que eu atravessava por me recusar a gozar.
— Acho que seu corpo quer algo antes, Cherry. — Mordi seu lábio
inferior. — Você só precisa pedir, amor... meu pau, dedos ou boca... pede
que eu dou.
Meus.
Não sei de onde tirei forças para retirar sua calcinha em vez de
rasgá-la, ou para chupar o excesso de umidade pingando da sua boceta, mas
o fiz, e o fiz com o prazer doentio de um viciado se esbaldando na sua
droga preferida. Suas pernas se fecharam à minha volta, me prendendo com
a língua em sua entrada, mas não parei, chupei, lambi as dobras que
protegiam sua fenda, prendi o clitóris durinho entre meus lábios e suguei,
suguei tão forte que Emma precisou abafar seus gritos no travesseiro.
Entreabri os lábios para insistir que ele não precisava fazer isso, mas
sua boca encontrou a minha antes que eu pudesse dizer algo.
A meu pedido, Bruce estacionou seu Tesla no lado oposto à entrada
da empresa, um pouco distante dela. Nos despedimos com um beijo rápido
e a promessa de nos falarmos por telefone assim que concluíssemos nossos
trabalhos.
Sarah deu um passo para fora, mas segurei seu braço, trazendo-a de
volta. Graças ao seu corpo magro, meu movimento pareceu muito mais
intimidante do que eu gostaria que fosse, então fiz o possível para medir
meu tom e palavras. Nunca havia precisado erguer a voz, intimidar ou me
exaltar para me fazer entender, não começaria nesse momento.
— Não fale comigo como se tivéssemos alguma intimidade — pedi.
— Nós não temos e, se não mostrei interesse em mudar isso nos últimos
três anos, não mudarei agora.
— O que tenho ou não com o Sr. Waldorf não é da sua conta, nem
de ninguém da empresa. Isso também é algo que não pretendo mudar.
Eu havia lidado bem com a situação. Sabia que sim. Por que então
sentia a veia em minha testa latejando à mera lembrança daquela conversa?
Por que não conseguia ultrapassar essa porra de assunto e empurrar mamãe
e suas manipulações para o terreno infértil da indiferença que ela merecia?
Bufei.
Meu melhor amigo era o responsável por nos unir há tantos anos. O
cara popular e extrovertido que havia adotado e protegido quatro
grandalhões que, sem ele, seriam reclusos, introvertidos, vítimas de bullying
ou simplesmente renegados por toda a escola por erros que nem eram seus.
Ao meu lado, Blake se inclinou sobre a mesa para encher seu copo
de bebida. Todos estavam tomando drinques sem álcool até eu chegar, mas
insisti que não precisavam fazer isso só porque eu estava ali.
Bradshaw riu, então eu lembrei. Elizabeth era anos mais nova que
nós, e em sua adolescência costumava ter fases de quedinha por algum de
nós. A que ela sentiu por Bradshaw foi a mais duradoura, até onde eu sabia.
E Liam era um filho da puta superprotetor que costumava socar todo
infeliz que arriscava se aproximar de sua irmã.
— Deve estar confundindo meu pau com algum outro, cara — meu
melhor amigo avisou. — O meu é grande, grosso e pesado, torto não faz
parte das características dele.
Ele sabia de algo. Ou, pelo menos, havia sacado algo que ainda me
escapava.
— Mas, afinal, que porra você foi fazer num parque de diversões?
— Chuck perguntou, chamando a atenção de todos para mim novamente.
Inspirei fundo, trocando um olhar rápido com Liam. Sabia que ele
também estava aguardando pelo momento que eu contaria sobre isso a
todos.
Choque.
De me importar.
— Já vou!
Sorri, consciente da ereção mal contida pela boxer preta que ele
usava.
Caminhei em sua direção, mas, antes que pudesse dizer ou fazer
algo, Bruce agarrou minha cintura e me puxou para o seu colo, sua boca
encontrou a minha um instante depois, faminta. Urgente. Embrenhei minhas
mãos em seus cabelos e retribuí o beijo, acariciando sua língua com a
minha.
Sorri e me inclinei sobre ele até voltar a alcançar sua boca, para
beijá-lo enquanto o guiava para meu interior. Movi os quadris lentamente
até o sentir todo em mim, a sensação foi tão gostosa que me deixou zonza
por um momento, perdida nele. Contraí meus músculos internos e nós dois
gememos. Nosso encaixe já era apertado, mas conseguia ficar ainda melhor
quando eu me contraía.
Apoiei as mãos em seu abdome e rebolei... então cavalguei... e
intercalei os movimentos enquanto o apertava em mim de propósito,
adorando cada palavrão em forma de rosnado que deixava sua boca toda
vez que eu quicava. Suas mãos vieram para minhas nádegas e afundaram
em minha carne, me agarrando forte e parando apenas para se infiltrar sob a
camisa até minha lombar. Logo meu peito voltava a encontrar o seu e meus
movimentos se intensificavam, acompanhados pelos de Bruce, conforme
ele erguia os quadris e se enterrava em mim com força.
Precisei morder minha própria mão para abafar meus sons de prazer.
— Hoje você pode gritar, amor — sussurrou. — Pode gritar o
quanto quiser — concluiu, me dando a permissão de que eu parecia
precisar.
Bruce acenou.
Ao meu corpo.
Mesmo que eu estivesse distante, ele se colocou entre mim e seu pai
como um escudo, como se soubesse que precisava me proteger, mesmo que
não tivesse ideia do que acabara de acontecer.
VINTE E CINCO
— O que você está fazendo aqui?! — atirei, tão logo meus olhos
encontraram os frios e impassíveis de papai.
— Sua mãe me contou um pouco do que você andou fazendo por
Nova Iorque desde que voltou — iniciou, a expressão ilegível conforme
abria os botões do terno para se sentar em uma das poltronas da sala,
confortável demais para alguém que fora recebido por mim praticamente
com um rosnado. — Segundo ela, eu preciso intervir na vida de um homem
de vinte e oito anos antes que ele decida voltar a ameaçar o nome e
prestígio dessa família.
Ele voltou a sorrir, sua atenção agora fixada nela. Os olhos claros
cintilando de um jeito que eu não lembrava de já ter visto. E que odiei ver.
— Eu acho que não, mas vocês podem conversar sobre isso depois.
Agora preciso ter uma conversa com meu filho. Então saia.
Devagar, ele se aproximou, sua estrutura não era maior que a minha,
tampouco sua força, mas, de alguma forma, suas palavras haviam me
reduzido a algo que eu não reconhecia há muito tempo. Voltei a me sentir o
garoto que fora podado e moldado segundo as expectativas dele.
— Vou lhe dar um mês para aproveitar o que quiser com essa garota,
mas depois você vai...
— Não?
— Não vou terminar o que tenho com Emma — repeti. — Não vou
me afastar dela.
Papai pressionou os lábios por um momento, lendo-me, quase
recalculando sua abordagem, porque reconhecia que a atual começava a
falhar.
— E o que pretende então? — ele indagou. — Trazê-la pra sua
vida? Casar? Iniciar uma família? Levá-la pra jantar com nossos amigos,
talvez? Contar que a mãe dela foi minha amante e que a filha era gostosa
demais pra você resistir?
Meu punho cerrado encontrou seu rosto num golpe duro que o levou
ao chão. E apesar da minha vontade de apenas explodir, alguma parte de
mim reconheceu que ele só estava me desestabilizando.
— Da próxima vez que abrir a boca para falar da Emma desse jeito,
vou me certificar de quebrar a porra desses seus dentes caros — concluí.
Ele sorriu.
— Fui eu também que te deixei bêbado em todos aqueles dias?
Assuma que foi um fraco e continua sendo! Nunca vai ser capaz de cuidar
de si mesmo sozinho, por isso sua mãe e eu precisamos continuar te
vigiando!
— Você não vai trazer essa garota pra nossa família, Bruce! — Ele
tentou me empurrar, mas sequer me movi. — É meu único herdeiro, vai
colocar ao seu lado alguém à sua altura, com poder, influência e uma
herança tão gorda quanto a sua.
Um riso irônico me escapou.
— Continue por perto e você não terá nem um herdeiro pra cuidar
das suas malditas empresas! — garanti. — Fique longe ou eu juro que vou
fazer cada investidor e cliente descobrir por que os acionistas daqui fizeram
pressão para você sair da presidência. Vou jogar a porra do seu nome na
lama e arrastar mamãe e os amantes dela junto!
Ele se calou.
Ela estava certa quando disse que merecia mais do que o que meu
mundo tinha a oferecer. E se eu a machucasse de novo? E se machucasse
Emy? Eu queria protegê-las, estava determinado a isso, mas e se falhasse
com elas? De novo?
Meu corpo enrijeceu diante do contato de outro menor. O perfume
doce e suave misturado ao meu me fez agarrá-la, segurá-la contra mim com
força, urgência... talvez desespero. Minha garganta se trancou quando senti
as lágrimas de Emma em meu peito, o modo como me prendeu a si como se
não quisesse conviver com qualquer tipo de distância entre nós agora.
— Bruce?
— Hum?
E eu não deixaria.
VINTE E SEIS
Dias haviam se passado desde que seu pai fora ao hotel em que nós
estávamos, mas eu ainda não havia digerido a perversidade existente em
cada palavra dita por aquele homem. O modo como ele parecia se divertir
enquanto brincava com a mente de Bruce, atormentando-o.
Bruce não merecia nada disso e eu me sentia tão triste apenas por
imaginar o que ele havia passado numa reabilitação, o julgamento que havia
sofrido até das pessoas que gostavam dele, o quanto havia duvidado de si
mesmo, as cicatrizes que haviam ficado em seu coração.
Ela acenou uma vez e fez o que pedi mesmo quando minha irmã
tentou se agarrar a mim, para não me deixar sozinha. Assisti em silêncio as
duas seguirem para o corredor, só então larguei minha bolsa sobre o sofá e
me voltei para a loira que estava a um metro de distância, seu rosto
contraído pela cólera, os olhos brilhando com algo muito próximo de fúria,
como se eu realmente tivesse feito algo digno daquela emoção.
— Por que decidiu invadir minha casa? — inquiri.
— Onde está sua mãe? Achei que ela se agarraria àquela bastardinha
como se... — ela nunca concluiu.
— Não fale assim da minha irmã — avisei, sem recuar. Seu rosto
continuou pendendo para a esquerda, como se ela ainda processasse o que
eu tinha sido capaz de fazer. — E saia da minha casa, você não é bem-vinda
aqui.
Seus olhos se voltaram para mim frenéticos, vidrados com algo que
a fez avançar em minha direção, apenas para ser facilmente contida pelo
meu agarre em seus braços. Um impulso ágil e seu corpo cambaleava para a
esquerda, os saltos quase sendo responsáveis por ela desabar no chão.
— Sua...
— Nenhuma das suas palavras significa nada para mim agora —
avisei, ainda sem erguer minha voz, e finalmente colocando distância entre
nós. — Esse é um veneno que você vai engolir sozinha a partir desse
momento.
Do jeito que tremia de raiva, com todo aquele ódio nítido até em
seus olhos, ela tentaria me agredir se continuássemos perto demais, percebi,
então recuei mais dois passos. Eu podia não ser adepta à violência, mas não
a deixaria encostar em mim sem revidar.
Não mais.
— Eu não vou me afastar do Bruce só porque você quer —
informei. — Então não volte na minha casa, nem ouse se aproximar da
minha irmã ou fazê-la chorar de novo. Não me responsabilizo pelos meus
atos se o que aconteceu hoje se repetir.
Mas ela foi ignorada, mesmo quando direcionou sua raiva a mim.
Bruce a ergueu do chão e começou a tirá-la dali.
— Ela não vai tocar em você tá, Emy? — sussurrei, uma promessa
que estava disposto a cumprir independente do que precisasse fazer para
isso. — Eu não vou deixar.
— Por que ela é tão má? Eu acho que não fiz nada pra que ela não
gostasse de mim, né?
— Emma?
— Sim?
Ela parou de respirar, seu corpo tensionando contra o meu, mas não
a deixei dizer nada ainda, queria expor meus argumentos antes que ela
rejeitasse a possibilidade.
— Acha que eles podem tentar tirar a Emy de mim? — sua voz saiu
rouca aqui, um fio de voz carregado pelo medo de perder a irmã.
Engoli em seco.
— Cherry?
— Sim?
— Você não vai precisar viver aqui com sua mãe se não quiser.
Tenho investimentos longe dos negócios da minha família e colocar sua
mãe numa casa ou apartamento longe daqui não seria nada pra mim —
iniciei, mas diante da tensão que tomou seu corpo, eu prossegui: — Não
estou dizendo que vou bancar os luxos da sua mãe... E nem preciso comprar
ou alugar uma casa pra ela. Você pode sair e deixá-la aqui.
Eu era só uma peça. Uma peça que pessoas como Sebastian Waldorf
conseguiam mover e empurrar para fora do tabuleiro sempre que queriam.
VINTE E NOVE
Ouro.
Colunas.
Vitrais.
Arabescos.
— Imagine os convidados usando máscaras e... — eu o interrompi:
Ele sorriu.
Grunhi.
Filho da puta.
— Agora que está desempregado — Liam disse, num tom de
provocação que eu reconhecia como uma tentativa de amenizar o peso do
que viria a seguir —, pode assumir a administração do clube.
Revirei os olhos, rejeitando a ideia antes mesmo de pensar a
respeito.
— Só pense sobre isso, caralho. Tem um mês para nos dar uma
resposta.
Eu estava prestes a clicar mais uma vez no botão que iniciaria outra
chamada quando achei ter visto Emma perto da empresa, caminhando com
uma caixa pela calçada. Voltei a procurá-la um instante depois, mas alguns
entregadores ocuparam minha linha de visão e, ao saírem, já não encontrei
nada. Inclinei-me sobre a janela e apertei os olhos, que a buscaram de novo.
Ainda sem sucesso. Um aperto estranho em meu peito me deixou mais
tenso e inquieto, com as extremidades formigando e um nó se formando em
meu estômago.
Encarei o telefone mais uma vez, então o sinal vermelho, as poucas
pessoas atravessando na faixa à frente do meu carro. Uma buzina soou ao
longe, um carro freou bruscamente numa rua à minha esquerda, o
burburinho de conversas fora do carro... tudo aquilo começando a me fazer
sentir sufocado ali dentro.
Minha visão foi tomada por vermelho. Focou apenas naquele alvo.
Meus ouvidos sendo tomados por uma pressão insuportável que abafou
qualquer som, me colocando quase numa maldita realidade paralela, onde
estávamos apenas meu progenitor e eu, todo o passado de merda causado
por ele e toda a dor e trauma que acabara de provocar na minha mulher.
Eu nunca o respeitei.
Nunca o vi como nada além de um filho da puta egoísta e incapaz de
respeitar sua mulher e filho.
Não havia sorriso em seus lábios quando meu punho acertou seu
rosto pela primeira vez, mas já havia sangue banhando seus dentes quando
os acertei em seguida, e algum deles voou sob o peso dos meus golpes em
algum momento, em meio à sequência que não lhe deu tempo de reagir ou
mesmo de se proteger.
Perdida em si mesma.
E eu finalmente entendi que nada que eu fizesse mudaria o que
havia acontecido.
TRINTA
Agarrei o meu casaco com mais força, desta vez não como uma
tentativa de me proteger ou esconder que minha blusa tinha sido rasgada,
era só uma tentativa tola de me consolar pelo que havia acontecido. De
preencher o espaço que deveria estar sendo ocupado por Bruce.
— Você foi muito corajosa — ela sussurrou, sem desviar seus olhos
do movimento de pessoas em nosso entorno. Também não a encarei. — Por
fazer a denúncia, digo. A coragem de mulheres como você pode tornar o
mundo um lugar mais seguro para a minha filha, então... — ela fez uma
pausa, para afagar seu ventre de novo —, obrigada.
— Vai ficar tudo bem, querida — a mulher garantiu, sua voz ainda
suave, tranquila. Como se soubesse o que aconteceria dali para frente.
Como se soubesse de coisas que eu não tinha ideia.
Bradshaw a interrompeu:
— Bruce me pediu ajuda para reunir essas provas nos últimos dias.
Ele estava procurando vítimas de assédio do Sr. Waldorf, para ajudá-las a
abrir um processo contra o filho da puta.
Posso lhe dar muito mais prazer que o meu filho, Emma... posso ser
muito melhor que ele, se você deixar...
A ânsia de vômito veio muito mais forte desta vez e só tive tempo
de alcançar a lata de lixo mais próxima antes de despejar todo o suco
gástrico que ainda havia em meu estômago.
Bradshaw estava ao meu lado alguns instantes depois, segurando
meus cabelos.
Limpei minha boca com o dorso da mão e fixei meu olhar na parede
cinza à minha frente. A voz firme da advogada inundou a sala.
Não tenho certeza de minha resposta ter soado audível, mas acho
que Bradshaw a compreendeu, porque avisou à advogada que ela poderia
dar continuidade ao processo. Em algum momento, ele me ajudou a
levantar e manteve um braço envolvendo minha cintura para me sustentar
de pé, enquanto ouvíamos o que a mãe de Blake ainda tinha a dizer.
Quando ela foi embora, fui convencida a ir para casa. Não queria
sair até poder encontrar Bruce de novo, mas bastou que Bradshaw me
lembrasse que Emy ficaria preocupada se eu não dormisse em casa, para eu
concordar em sair dali.
Estou aqui.
Muito havia acontecido desde que meu pai saíra de uma sala de
cirurgia para reconstrução facial. Ele ainda não tinha se recuperado, mas já
existia um processo sendo movido contra ele e, até onde eu sabia, mamãe
havia aproveitado o escândalo das denúncias de assédio sexual para fazer
seu papel de vítima e tentar convencer seus amigos de que as notícias sobre
seus inúmeros casos com seus funcionários eram apenas boatos de alguém
que tentava destruí-la.
Ela ficou na ponta dos pés para beijar meus lábios suavemente e
envolvi sua cintura com o braço livre.
— Mas... — tentei.
— Mas agora vamos ter que deixar pra outro dia — Emma avisou.
— Está na hora de alguém ir pra cama, não é?
Emy cruzou os braços e desviou o olhar, seu bico era maior agora.
Eu sorri, porque a última coisa que ela parecia quando fazia isso era
brava.
— Um dia você vai ter que aprender a dizer não a ela — avisou.
Também havia um sorriso em seus lábios quando me inclinei para beijá-los.
— Siiiim.
Sorri e a levei para a cama. Livrei-a das pantufas e empurrei o
edredom antes de deitar Emy e cobri-la com ele.
Acenei.
— Todos os dias, se você quiser.
Ela sorriu.
— Bruce?
— Sim?
— Você me ama?
Acho que o tempo congelou ali, quando ela emitiu aquelas palavras.
Ainda era difícil me livrar da merda que fora incutida em mim desde
cedo, mas eu acreditei em Emy. Eu queria seu amor e estava disposto a
lutar comigo mesmo para aceitá-lo inteiramente. Para aceitar que eu estava
fazendo por onde merecê-lo, mas que ela o dava para mim sem exigir nada
em troca. Como Emma.
Emy riu.
— É.
Procurei o olhar de Emma e encontrei um sorriso pequeno em seus
lábios. Seu rosto e tampouco o de Emy me davam qualquer dica sobre o que
diabos era cringe.
Estreitei os olhos.
— O que está escondendo aí?
Seu nervosismo era nítido e acho que isso também só elevou o meu.
— Eu nunca quis pressionar você e não quero que pense que estou
fazendo isso agora, tá bom? — Franzi a testa, sem entender do que ele
falava. Bruce voltou a inspirar fundo, mas respirar já não era algo que eu
conseguia fazer a essa altura. Ele retirou do bolso do casaco um objeto
pequeno e o ergueu para que eu pudesse ver. Um chaveiro. — Mandei que
limpassem nosso apartamento e reformassem o quarto que podemos dar à
Emy.
Soltei o ar devagar, absorvendo aquelas palavras aos poucos. Logo
Bruce vinha até mim e se ajoelhava à minha frente. O chaveiro foi colocado
em minhas mãos, mas minha atenção não deixou os seus olhos azuis
atormentados.
— Eu sei que nada que eu fizer será capaz de apagar toda a merda
do passado, Cherry. Tudo que eu disse a você e a maneira que minhas
palavras impactaram sua vida...
Acenei uma vez, para mostrar que entendia do que ele estava
falando, e acariciei seu rosto devagar, conforme examinava tudo o que
havia mudado em mim naquelas últimas semanas. Não queria ser leviana e
apenas dizer o que ele queria ouvir, queria ter certeza do que sentia antes de
ousar compartilhar com Bruce. Deslizei meus dedos pelo seu maxilar e os
desci sem pressa até a sua nuca, numa tentativa de trazê-lo para mais perto.
Bruce pousou suas mãos em minha cintura, aceitando a proximidade
e contato que eu pedia sem palavras. A ansiedade era nítida em seus olhos,
até no modo sutil como apertava os lábios.
— Toda vez que parava pra pensar no que você me disse naquela
tarde no lago — iniciei —, eu sentia como se voltasse a abrir uma ferida
que nunca tinha se curado. Eu questionava tudo... o que você dizia sentir
por mim, o que eu sentia por você... o que havíamos vivido. Parecia ter sido
uma ilusão, algo que só existiu pra mim...
— Cherry...
— Cherry...
Voltei a franzir a testa, cada vez mais curiosa sobre aquela caixa de
presente. Cogitei erguê-la e até sacudi-la para descobrir o que havia dentro,
mas não o fiz. Isso chamaria a atenção de Emy e seria pior.
Eu estava perdido na escuridão, mas então eu a encontrei
Eu encontrei você
Eu pedi para
Eu te encontrei
Bruce acenou.
Novas gotas frias acertaram meu rosto e braços e olhei para cima.
Ele sorriu.
Sorri e acenei.
— Bruce vai ficar todo bobo quando vir você — falei, acariciando o
véu bonito e longo do vestido de noiva. Eu também usava um vestido
branco, de dama de honra, mas o da Emma era tão, tão, tão perfeito. Cheio
de umas pedrinhas delicadas e renda, e tinha também uma cauda enorme.
— Emy!
Mas enfim, imagina olhar pro Bruce todo dia e não contar isso pra
ele logo? Como ela conseguia?!
Eu ri e o abracei. O tio Liam era muito legal, mas não tinha muita
paciência com o Bruce, que nem o tio Maverick e o tio Blake. E eu não via
muito o tio Chuck, porque ele vivia mais na Europa, mas ele gostava
mesmo era de deixar o Bruce mais irritado.
Acho que eu queria muito conhecer meu pai e saber se ele podia ser
bom como o Bruce, mas começava a ver que tudo sobre ele era muito
estranho. Ele tinha sido preso há um ano, vi isso nos jornais, mas não
consegui entender bem por que, só sabia que Emma havia chorado ao tentar
me explicar o que era “assédio sexual”. Então parei de perguntar a ela sobre
ele.
Papai foi solto há uns meses, mas não o vi nem ouvi ninguém falar
sobre ele em casa. Num perfil de fofocas das redes sociais, apenas descobri
que ele tinha ido direto para Londres, onde a mãe de Bruce já estava.
Aviso:
Conferi meu celular pela terceira ou quarta vez nas últimas duas
horas e ainda não havia nenhuma mensagem de Bradshaw.
Bufei.
Por que não nos deixava ajudar quando ele precisava? Seu pai
estava com um diagnóstico ferrado e eu só havia descoberto isso porque
vira meu amigo receber uma ligação do hospital, informando que o Sr.
Bradshaw havia piorado?!
Ele riu, mas a risada saiu artificial, acho que não enganou nem a ele.
— Me conte onde está, vou para aí com você — pedi, após trocar
um olhar com Emma.
Deixei o quarto e fui até o de Emy, para confirmar que ela já estava
dormindo. Havíamos conseguido uma babá para passar a noite no
apartamento com ela, porque provavelmente não chegaríamos até o
amanhecer.
— É perfeito — garanti, indo até ela para agarrar sua cintura e trazê-
la para mim. Beijei sua boca e mordisquei seu lábio inferior. — Você é um
pecado deliciosamente envolvido em tule e seda.
Emma sorriu e pousou suas mãos sobre meu peito.
Ela acenou.
— Há regras e limites para ela não ser transformada numa orgia
tosca e sem sentido, mas pudor não é uma palavra que existirá hoje, Cherry.
Sua cabeça voltou a se mover para cima e para baixo. Havia algum
receio em Emma, mas a curiosidade era nitidamente maior. A ansiedade
também.
Não mais do que meia hora depois, Emma estacou à entrada do
salão. A máscara elegante e dourada que ela usava, idêntica à minha, não
cobria sua boca e pude vê-la entreaberta. Talvez eu devesse tê-la preparado
para o fato de que o lugar pareceria uma catedral pronta para ser profanada.
Sorri ao ver seu lábio inferior preso entre os dentes. Daria tudo para
ler sua mente agora.
— Só curiosa?
— E excitada.
Sorri.
Porra... por que era tão sexy ouvir Emma falando assim?
— Como? — Sua respiração ainda estava superficial, percebi que
seu olhar vagava por entre as tendas e cabines, então comecei a listar o que
eu via naqueles lugares. — De quatro? Amarrada? Com um vibrador? De
joelhos com meu pau enterrado na sua garganta?
Ela gemeu, a boceta latejando mais a cada palavra que eu dizia.
Não lhe dei qualquer resposta além dos meus passos firmes através
do corredor cercado pelas cabines de vidro e tendas ocupadas. Em poucos
segundos, eu fechava uma porta às nossas costas, e enfiava uma mão entre
seus cabelos para puxá-los e afastar seu rosto o bastante para beijar seu
pescoço.
Enquanto ela o fazia, tive tempo suficiente para decidir o que usaria
e tudo o que faria. Sabia que Emma estava curiosa e excitada com a ideia de
estar ali, era tudo novo para ela, mas eu não cometeria o erro de ultrapassar
limites demais. Não queria assustá-la ou correr o risco de ela se fechar para
aquelas novas possibilidades. Começaria com algo simples, mas novo, e
agiria conforme suas reações.
Envolvi seu pescoço com a mão e trouxe sua boca para mim em um
beijo urgente, daqueles que toma tudo e te rouba o chão, mas termina antes
que você seja capaz de saciar a vontade. Daqueles que é bom mesmo em
atiçar o desejo.
Ela ofegou.
Seu esforço para me obedecer foi nítido, mas não durou. Ela
choramingou meu nome e só entendi o motivo quando senti sua boceta
inchar em volta dos meus dedos e latejar.
— De novo.
Aquela foi a minha ruína, porra. Eu devia estar no controle, mas o
perdi completamente no momento que cedi ao seu pedido e voltei a bater.
Uma, duas... seis... nove vezes, até ela se contorcer em um orgasmo
violento, bem diante dos meus olhos.
Minha mão ainda estava molhada dos seus fluidos quando a usei
para me masturbar, dar um pouco de alívio ao meu pau enquanto Emma
voltava a si.
Eu adorava vê-la por aquele ângulo, agarrar seus cabelos com uma
mão, afundar a outra na carne macia das suas nádegas e me enterrar em seu
corpo, mas preferia as posições que me permitiam ver seu rosto e beijar sua
boca sem precisar parar ou diminuir o ritmo. Beijá-la durante o sexo era a
porra de um vício e eu sabia que Emma também preferia foder assim.
No entanto, daquela vez, quando preenchi sua boceta, o prazer que
me golpeou me fez esquecer de qualquer maldita preferência.
Ela gritou.
Eu gemi.
Meu olhar intercalou entre ele e Elizabeth, mas antes que eu pudesse
fazer qualquer pergunta, ela fugiu.
PEDIDO DA AUTORA
Olá, leitor, se chegou até aqui, espero que este livro tenha te
proporcionado muitas emoções, que estes personagens tenham conquistado
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[1]
Expressão coreana usada com irmãs ou irmãos mais novos.
[2]
Expressão coreana que, nesse contexto, é uma forma carinhosa de se referir ao irmão mais velho.