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Economia Brasileira

Período Democrático 1946-1964

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Período Democrático 1946-1964
• JK lega ao seu sucesso um país mais rico, mas
também mais macroeconomicamente
desequilibrado.

• Por que era inflacionário o déficit público? O sistema


tributário era arcaico, com reduzida capacidade de
arrecadação. Ao mesmo tempo, a Lei de Usura havia
reduzido significativamente a colocação de títulos
públicos. Restou a emissão de moeda e o imposto
inflacionário.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Período Democrático 1946-1964
• Assim, o programa de gastos implementado por JK, face à
precariedade fiscal da época, foi em grande parte
financiado por senhoriagem e imposto inflacionário.

• De fato, para tentar lidar com o cenário inflacionário, em


1958 o governo JK propõe o Plano de Estabilização
Monetária – PEM –, que também era requisito para
obtenção de empréstimo junto ao Eximbank dos EUA.

• Entretanto, há resistências ao PEM e ele é abandonado, o


que também leva ao "rompimento com o FMI".
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Período Democrático 1946-1964
Deflator Implícito do PIB - 1933 - 1964 e Limite de 12%
100

80

60
% ao ano

40

20

0
1942

1958
1933
1934
1935
1936
1937
1938
1939
1940
1941

1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957

1959
1960
1961
1962
1963
1964
-20

Fonte: IBGE e IPEA, Estatísticas do Século XX


C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Período Democrático 1946-1964
• É assim, portanto, que Jânio Quadros assume o poder,
em 1961, em cenário de desorganização
macroeconômica.

• Inicia seu governo com medidas de ajuste econômico,


como realismo e unificação cambial e política monetária
contracionista.

• Essas medidas são bem recebidas inicialmente.


Entretanto, a renúncia surpresa de Jânio acaba por não
permitir o avanço do programa de ajuste.
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Período Democrático 1946-1964
• Crise política devido à desconfiança com vice, João
Goulart. Instalação do parlamentarismo, que iria
durar até 1963.

• Para lidar com o cenário de crise, equipe chefia por


Celso Furtado elabora plano de estabilização,
denominado Plano Trienal. As metas do plano eram
conservar o crescimento do PIB e da renda e
promovendo desenvolvimento social, e, ao mesmo
tempo, controlar a inflação.

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Período Democrático 1946-1964
• O plano era, talvez surpreendentemente,
razoavelmente ortodoxo na gestão macroeconômica.
Baseava-se na atualização de preços públicos,
realismo cambial, restrição monetária e corte de
despesas.

• Já a visão de desenvolvimento era de caráter


cepalino (Cepal - Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe), defendendo a
continuidade da ISI e reforma agrária.

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Período Democrático 1946-1964
• Desempenho macroeconômico piora
significativamente, com problemas de balanço de
pagamentos, queda do crescimento do PIB e
aumento da inflação.

• O ministro da Fazenda, San Tiago Dantas, vai a


Washington tentar obter empréstimos e reescalonar
a dívida externa, sem sucesso.

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Período Democrático 1946-1964
• A edição de uma lei de remessa de lucros, limitando
o envio de recursos para fora do país, gera atritos
diplomáticos, desgasta o governo e afasta
investimentos, piorando a solvência externa.

• Com as críticas ao Plano Trienal, e não tendo obtido


sucesso na renegociação da dívida, Goulart parte
para o populismo econômico, abandonando o Plano
Trienal.

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Período Democrático 1946-1964
• Crise política: invasões de terras, expropriação de
empresas, interferência na hierarquia militar, etc.

• A crise econômica de 1963-1964, conjugada com a


crise política, leva ao golpe de 1964, que encerra o
período democrático iniciado em 1945.

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Período Democrático 1946-1964
Crescimento do PIB - 1901-1964
16

14

12

10

8
Crescimento do PIB

0
1901 1903 1905 1907 1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939 1941 1943 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963

-2

-4

-6
Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Período Democrático 1946-1964
Crescimento do PIB per Capita - 1902-1964
12

10

4
Crescimento do PIB

0
1901 1903 1905 1907 1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939 1941 1943 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963

-2

-4

-6

Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX


-8 C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Período Democrático 1946-1964
Crescimento do PIB total e per Capita médio por ano

Década Cresc. Total (%) Cresc. per Capita


1900 4,38 0,49
1910 4,34 1,68
1920 4,62 3,10
1930 4,48 2,96
1940 5,97 3,50
1950 7,41 4,29
1961-1964 4,80 1,76

Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX


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Período Democrático 1946-1964
Relação PIB per Capita Brasil / EUA - 1800; 1820; 1851-1964
0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023) Fonte: Maddison Project


Inflação
• Um elemento central do debate econômico do Brasil
no século XX é a inflação.

• De fato, a inflação, junto com o resto do desacerto


macroeconômico, é uma das razões que leva ao
golpe (revolução?) de 1964.

• A inflação também é um dos primeiros problemas


que a primeira equipe econômica do período militar
vai encarar.
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Inflação
• Mas quais os custos econômicos do aumento
generalizado de preços, isto é, da inflação?

• O primeiro ponto é que a inflação impõe custos à


economia, e, por si só, nenhum benefício.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Inflação
• O que existe, no entanto, é a chamada Curva de
Phillips: parece haver trade-off entre emprego (ou
crescimento econômico) e inflação.

• No entanto, essa é uma relação de curto prazo. Não


há, no longo prazo, relação inversa entre
crescimento/emprego e inflação. De fato, a inflação,
reduz o bem estar econômico, aumentando o
desemprego e diminuindo o crescimento
econômico.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Inflação
• Robert Lucas: A teoria Keynesiana está em apuros, os piores
apuros que um corpo teórico aplicado pode se encontrar: ela
parece estar dando respostas profundamente erradas para as
questões mais básicas de política macroeconômica.
Proponentes de uma classe de modelos que prometeram
desemprego de 3,5 a 4,5% para uma sociedade disposta a
tolerar taxa de inflação de 4 a 5% devem explicações depois
de uma década como a que passou (no Reino Unido a
inflação chegou a 30% e o desemprego a 6%). (Tradução livre)

Robert Lucas, Tobin and Monetarism: A Review Article, Journal of


Economic Literature, vol. XIX, pp. 558-567.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Inflação
• Os custos da inflação são vários:

– Custos de menu
– Custos de sola de sapato
– Distorções no sistema de pagamento de impostos (efeito Tanzi)
– Dificuldade de planejamento no longo prazo
– Distorção de preços relativos
– Perda de confiança no sistema de preços (a metáfora do metro)
– Redistribuição arbitrária de renda (por exemplo, dos credores
para devedores)
– Se há câmbio fixo - valorização da taxa de câmbio
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Inflação
• A inflação, quanto mais alta, mais imprevisível.

• A inflação é ônus sem bônus. Num mundo perfeito,


desejaríamos sistema de preços estável. A questão é
qual o custo de combater a inflação, que, em
algumas situações, pode ser muito alto.

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Inflação
• O Brasil desenvolveu um amplo sistema de
convivência com a inflação - a chamada indexação.
Durante certo tempo esse sistema funcionou
relativamente bem, atraindo a atenção do mundo.
Entretanto, por razões que veremos, a indexação
acaba gerando seus próprios problemas, que
ajudaram o país a ser recordista mundial de inflação.

• Assunto a ser discutido em breve!

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Mudança Estrutural da Economia
• O Brasil passou por mudanças econômicas
estruturais setoriais de forma semelhante a outros
países.

• Esse processo foi acelerado na décadas de 1930 a


1950.

• Em geral: tem-se uma queda da participação da


agricultura, com crescimento da indústria;
posteriormente, crescimento do setor de serviços.
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Mudança Estrutural da Economia
• Segunda Bonelli (2003), em Estatísticas do Século XX,
o setor primário passou de cerca de 45% do PIB em
1900, para cerca de 10% em 1970.

• Já a indústria sai de 12% em 1900, tem pico de 34%


na década de 1970, e cai desde então.

• Já o setor de serviços sai de 44% do PIB em 1900 e


cresce desde então.
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Mudança Estrutural da Economia

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Mudança Estrutural da Economia

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Mudança Estrutural da Economia
Participação Setorial no PIB - 2000-2018
100%

90%

80%

70%
Participação Setorial no PIB

60%

Serviços
50%
Indústria
40% Agropecuária

30%

20%

10%

0%

Nota: Esses dados não são imediatamente comparáveis com os de Bonelli (2003) devido a revisões
na série histórica. Os valores divergem a partir de 1994, mas o sentido da mudança é o mesmo. Fonte: Elaboração própria a partir de dados
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023) do IBGE e IPEAData
Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Após a deposição de João Goulart tem início o


período de governo militar, que iria durar até 1985.

• O governo militar esteve longe de ter


homogeneidade política ou econômica. Sob a face da
“Revolução” havia correntes com concepções muito
diferentes da gestão da economia, da repressão, etc.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• O primeiro problema econômico com que os militares se


depararam ao assumir foi a desorganização econômica
herdada de João Goulart (JK? Vargas?).

• Durante o governo do Marechal Castello Branco, Roberto


Campos e Otávio Gouveia de Bulhões concebem um
plano de ajustamento de caráter ortodoxo – o Programa
de Ação Econômica do Governo — PAEG.

• PAEG

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Objetivos do PAEG:

– Ajuste fiscal;
– Ajuste monetário
– Controle do crédito ao setor privado;
– Introdução de mecanismo de correção salarial.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Com base nessas medidas, o PAEG buscava reduzir a


inflação no período de 1964-66.

• Apesar da prioridade ao combate à inflação, a


estratégia era gradualista com o objetivo de não
ameaçar o ritmo da atividade produtiva.

• Gradualmente, o governo militar passou a aceitar


conviver com a inflação.
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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• As reformas estruturais tiveram por foco a estrutura


tributária e financeira. Além destas, houve também
importante mudança no mercado de trabalho em
1964, através da criação do FGTS.

• O FGTS substitui o regime de trabalho vigente nos


anos 1960, que garantia estabilidade do trabalhador
no emprego.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• A Reforma Tributária:

– criação do ISS (Imposto Sobre Serviços);


– substituição do imposto estadual sobre vendas pelo ICM (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias), incidente apenas sobre o valor
adicionado a cada etapa de comercialização do produto;
– ampliação da base de incidência do imposto sobre a renda de pessoas
físicas;
– criação do Fundo de Participação dos Estados e Municípios.

• Esse conjunto de medidas resultou em significativa elevação


da carga tributária em 5% do PIB entre 1963 e 1967.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• As reformas financeiras de 1964-67 tiveram por objetivo


complementar o Sistema Financeiro Brasileiro (SFB),
constituindo um segmento privado de longo prazo para o
Brasil.

• Era necessário reorganizar o funcionamento do mercado


monetário o que foi feito através da criação de duas
novas instituições:
– Banco Central do Brasil (Bacen), como executor da política
monetária,
– Conselho Monetário Nacional (CMN), com funções normativas e
reguladora do SFB.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Uma novidade extremamente importante foi a


introdução de mecanismo de correção monetária,
através da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional –
ORTN.

• Era a criação de um mecanismo de indexação, que havia


sido proibido por Vargas na década de 1930 com a
proibição da cláusula-ouro.

• Indexação
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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• O PAEG não cumpriu as metas de inflação estabelecidas:


medida pelo IGP, alcançou 92% em 1964, 34% em 1965 e
39% em 1966, quando as metas do Plano eram,
respectivamente, 70%, 25% e 10%.

• Quanto ao ajuste fiscal, embora as metas não tenham


sido cumpridas à risca, os déficits ficaram próximos do
previsto para o biênio 1964-65.

• O nível adequado da taxa de câmbio real, aliado ao fraco


crescimento econômico (1964-5) permitiu o aumento
dos saldos comerciais.

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Apesar de seu sucesso apenas parcial, o PAEG foi


importante por permitir certa normalidade
macroeconômica, que viria a facilitar a ocorrência do
“milagre” econômico anos depois.

• Foi responsável também pelo engenhoso mecanismo


da indexação, que permitiu conviver com a inflação.
Apenas gradualmente se percebeu que ela também
tornava mais difícil combatê-la.

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Inflação no PAEG

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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Em 1968, a economia brasileira inaugurou uma fase


de crescimento que se estendeu até 1973.

• Esse período marca o fim do ímpeto reformista


trazido pelo PAEG.

• O contexto internacional era de grande liquidez


(repressão financeira), com crescimento do comércio
internacional e termos de troca favoráveis.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Nesse período, o PIB cresceu a uma taxa média da


ordem de 11% ao ano, liderado pelo setor de bens
de consumo durável e, em menor escala, pelo de
bens de capital.

• Tal ritmo de crescimento foi apanhado de queda da


inflação (embora moderada) e de sensível melhora
do BP, que registrou superávits crescentes ao longo
do período – o que justificaria, para alguns, o termo
“milagre brasileiro”.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Mesmo com o afastamento de Costa e Silva, a orientação


econômica foi mantida e até aprofundada no governo
Médici (1969-73).

• No campo político, porém, o período marca uma fase de


nítida radicalização do regime autoritário.

• Em dezembro de 1968, o governo Costa e Silva decretou


o Ato Institucional n° 5 (AI-5), que suspendeu as
garantias constitucionais, fechou o Congresso por tempo
indeterminado e cassou mandatos de políticos
opositores ao regime.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• O período contempla duas fases distintas da


economia brasileira: os primeiros quatro anos (1964-
67) exibiram um comportamento errático,
alternando curtos períodos de recuperação e
desaceleração econômica;

• O período de 1968-73 caracterizou-se por clara


tendência expansiva.

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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Na raiz dessa diferença encontra-se, de um lado, o cenário


econômico herdado pelo primeiro governo militar - quadro de
estagflação e restrição externa. De outro, a atuação do
governo: política macroeconômica ortodoxa e implementação
de reformas estruturais.

• O governo Castello Branco (1964-66) tomou para si a tarefa de


“arrumar a casa” para de viabilizar a rápida retomada do
crescimento econômico. Obteve mais sucesso na “arrumação”
que no segundo objetivo.

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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Já o período 1968-73 caracteriza-se por crédito farto,


alteração da política cambial (regime de
minidesvalorizações), política monetária expansiva (Costa
e Silva: “o guardião da moeda sou eu”), conjugada a um
cenário internacional bastante favorável.

• Ao mesmo tempo, em 1973 a economia começa a dar


sinais de estar no limite: uso da capacidade instalada em
níveis insustentáveis, escassez de mão de obra e
insumos, bolha na bolsa da valores, entre outros sinais
de economia superaquecida.

• A capacidade ociosa herdada do período do ajuste já


havia sido plenamente ocupada.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

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Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre
Crescimento do PIB - Brasil - 1901 a 1973
16

14

12

10

8
% de crescimento

0
1901

1947

1951
1903
1905
1907
1909
1911
1913
1915
1917
1919
1921
1923
1925
1927
1929
1931
1933
1935
1937
1939
1941
1943
1945

1949

1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
-2

-4

-6
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX
Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

Crescimento do PIB per Capita - 1902-1973


12

10

6
Crescimento do PIB

-2

-4

-6

-8

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023) Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX
Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• O governo Geisel (15/3/1974 – 15/3/1979) começa


com a meta bastante ousada de crescimento médio
de 10% ao ano.

• O instrumento para tanto é o II Plano Nacional de


Desenvolvimento.

• Representou um aumento considerável de


investimentos em comparação com o I PND (1972-
1974)
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Em cenário de aumento do preço do petróleo (1º


Choque), o II PND enfatizava, entre outras metas, o
desenvolvimento do setor energético no país.

• Havia temores de que um ajuste recessivo pudesse


inviabilizar os planos de uma redemocratização
controlada.

• A comparação com os anos do Milagre seria


inevitável.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• O primeiro choque do petróleo marca o fim do que


Hobsbawm denominou como a “era de ouro” do
Século XX.

• Para o Brasil, também as consequências serão


importantes.

• O governo opta por não repassar de forma integral o


aumento dos preços dos combustíveis para a
economia doméstica.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Uma interpretação é que o II PND se propõe ser um


ajuste estrutural, que visa remover ou atenuar a
restrição externa ao crescimento, de forma
duradoura, através da substituição de importações e
do aumento da capacidade de exportar.

• Uma outra interpretação que se trata de uma forma


de tentar ignorar ou adiar um ajuste a uma situação
internacional que se revelaria desafiadora durante
muitos anos.
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Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

• Alguns projetos no âmbito do II PND:

– Complexo Nuclear de Angra


– Ferrovia do Aço
– Polos petroquímicos
– Usina de Tucuruí
– Pró Alcool
– Projetos siderúrgicos

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• O II PND e o Balanço de Pagamentos:

– Aumento do déficit em transações correntes


(expansão das importações de bens de capital e
insumos)

– Superávit na conta de capital (reciclagem de


petrodólares)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Governo Militar - Dos Anos do Milagre à Crise

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

Fonte: A. C. Pastore, http://iepecdg.com.br/wp-


content/uploads/2017/02/Paper-Affonso-Celso-
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Pastore-2.pdf. Acesso em: 3/4/2019
Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

Fonte: A. C. Pastore, http://iepecdg.com.br/wp-


content/uploads/2017/02/Paper-Affonso-Celso-
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Pastore-2.pdf. Acesso em: 3/4/2019
Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• Tentativas de ajustamento durante o governo Geisel


têm vida curta.

• Melhoria temporária na liquidez internacional, após


o aperto do começo na década de 1970, permite a
continuidade do financiamento da dívida brasileira
(petrodólares).

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Governo Militar - Reforma e os Anos do Milagre

• O PIB cresce de forma razoável durante o período


Geisel, embora muito abaixo do período do milagre e
dos 10% buscados pelo II PND (6,7% entre 1974 e
1978).

• Geisel deixa o poder em 1979, legando a Figueiredo


uma situação delicada (e que viria a piorar bastante).

• O ano é marcado pelo segundo choque do petróleo.


C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
O Milagre Econômico (1968-73)
• Período de alto crescimento com inflação baixa

• Taxa média de crescimento do PIB de 10% a.a. E


inflação entre 15 a 20% a.a.

• Conjuntura: alta capacidade ociosa e crescimento da


economia mundial.

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Governo Militar - II PND e Crise

• O governo começa em uma orientação restritiva,


sob comando de Mario Henrique Simonsen.

• Entre essas medidas restritivas:

– controle sobre os meios de pagamento e o crédito bancário


(inclusive BNDE);
– conter os investimentos das estatais e as despesas com
subsídios;
– nova política cambial (desvalorizações reais da taxa de câmbio)
Governo Militar - II PND e Crise

• Isolado e impopular, Simonsen pede para sair


ainda em 1979 (agosto).

• Assume Delfim Netto, esperança de muitos


que a política recessiva de Simonsen teria fim.

• Delfim tem inicialmente postura bastante


diferente da de Simonsen.
Governo Militar - II PND e Crise

• Liberação de crédito, principalmente agrícola. A


ideia é que uma supersafra serviria para controlar
a inflação.

• Desvalorização da moeda em 30%.

• Indexação semestral dos salários (em vez de


anual).

• Pré-fixação da correção monetária e cambial


(como forma de coordenar expectativas).
Governo Militar - II PND e Crise

• O PIB cresce de forma elevada em 1980, mas os demais


resultados são terríveis para a organização
macroeconômica.

• A inflação, com a maior indexação dos salários, dispara.

• A inflação supera, em muito, a correção monetária,


configurando um cenário de juros reais fortemente
negativos, piorando a situação orçamentária.

• A situação externa não melhora (a desvalorização é


consumida pela maior inflação).
Governo Militar - II PND e Crise

• Choque de juros no mundo – desinflação de


Volcker.
Governo Militar - II PND e Crise

• Com o fracasso dessa tentativa de ajuste, o


governo muda para uma estratégia
“ortodoxa”.

• Aumento de juros para desaquecer a


economia e aumentar as exportações.

• Em 1981 o Brasil tem sua primeira recessão


desde 1942.
Governo Militar - II PND e Crise

• Em 1982, com o país já fragilizado, o México


declara moratória de sua dívida externa.

• O “efeito Tequila” atinge em cheio o Brasil,


tornando ainda mais difícil o financiamento de
sua situação externa.

• O país recorre ao FMI e realiza um nova


maxidesvalorização do câmbio, que agora gera
desvalorização efetiva.
Governo Militar - II PND e Crise

• O aprofundamento da recessão no Brasil, e a


melhora da economia mundial, induzem uma
melhora da situação da solvência externa.

• O efeito sobre o PIB é terrível, porém. Após


pequeno crescimento em 1982, o PIB volta a cair
em 1983.

• A situação da dívida externa só viria a ser


completamente equacionada em 1994 (Plano
Brady).
Governo Militar - II PND e Crise

• Impopular e incapaz de manter o crescimento


exibido durante os anos do milagre, ou
mesmo da era Geisel, a ditadura tomba.

• Em 1985 toma posse o primeiro presidente


civil desde 1964 (descontando Mazzilli e Pedro
Aleixo)
Governo Militar - II PND e Crise
Crescimento do PIB - Brasil - 1930-1985
15

10
Crescimento do PIB %

0
1930193219341936193819401942194419461948195019521954195619581960196219641966196819701972197419761978198019821984

-5

-10

Fonte: IBGE, Estatísticas do Século XX


Governo Militar - II PND e Crise
Razão Renda Per Capita BRA/EUA - 1930-1985
0,2

0,18

0,16

0,14

0,12

0,1

0,08

0,06

0,04

0,02

Fonte: Maddison Project


Governo Militar - II PND e Crise
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: André Minella. “A Indexação dos Contratos Financeiros em Contexto de Alta Inflação: O Caso Brasileiro (1964-1990)”
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Denslow Jr. e Tyler (1983), Perspectivas sobre Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Denslow Jr. e Tyler (1983), Perspectivas sobre Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Denslow Jr. e Tyler (1983), Perspectivas sobre Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Denslow Jr. e Tyler (1983), Perspectivas sobre Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Denslow Jr. e Tyler (1983), Perspectivas sobre Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil
Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Webb e Pfeffermann, Poverty and Income Distribution in Brazil


Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Webb e Pfeffermann, Poverty and Income Distribution in Brazil


Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Webb e Pfeffermann, Poverty and Income Distribution in Brazil


Governo Militar - II PND e Crise

Fonte: Webb e Pfeffermann, Poverty and Income Distribution in Brazil


Algumas observações extras sobre o
período
• A seguir.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Taxas de crescimento %

PIB ind PIB ag PIB ser


1968 14.2 1.4 9.9
1969 11.2 6.0 9.5
1970 11.9 5.6 10.5
1971 11.9 10.2 11.5
1972 14.0 4.0 12.1
1973 16.6 0.0 13.4
Fonte: Livro, p.398
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
O que determinou o crescimento no
período?
• Villela, Veloso e Giambiagi (p.2)

– “Embora esse período tenha sido amplamente estudado na literatura, não


existe um consenso em relação aos determinantes últimos do “milagre”. As
interpretações encontradas na literatura podem ser agrupadas em três
grandes grupos. A primeira interpretação enfatiza a importância da política
econômica do período 1968/73, com destaque para as políticas monetária e
creditícia expansionistas e os incentivos às exportações. Uma segunda linha de
interpretação atribui grande parte do “milagre” ao ambiente externo
favorável, devido à grande expansão da economia internacional, melhoria dos
termos de troca e crédito externo farto e barato. Já uma terceira explicação
credita grande parte do “milagre” às reformas institucionais do PAEG
(1964/66), em particular às reformas fiscais/tributárias e financeira, que
teriam criado as condições para a aceleração subsequente do crescimento”.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Dados dos autores...

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Cenário favorável na época do Milagre

• i. farta disponibilidade de crédito no mercado


internacional;
• ii. baixas taxas de juros;
• iii. expansão do volume de comércio
internacional;
• iv. termos de troca favoráveis.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


PAEG

• Reforma tributária
• Reforma financeira
• Abertura ao exterior

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


O que aconteceu?
• Teste empírico

• Vale a pena ler o texto original

• Resultados?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Os autores resumem as hipóteses:
• i) A política econômica do período 1968/73, com destaque
para as políticas monetária e creditícia expansionistas e os
incentivos às exportações.

• ii) O ambiente externo favorável, devido à grande expansão


da economia internacional, melhoria dos termos de troca e
crédito externo farto e barato.

• iii) As reformas institucionais do PAEG (1964/66), em


particular as reformas fiscais/tributárias e financeira, que
teriam criado as condições para a aceleração subsequente do
crescimento.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Citando os autores...
• “A abordagem empírica que utilizaremos para
analisar os determinantes do ’milagre’ baseia-se em
uma versão ampliada do modelo neoclássico de
crescimento. O modelo prevê convergência
condicional da renda per capita, ou seja, uma vez
que se controle para as variáveis que determinam o
nível da renda per capita no estado estacionário,
países mais pobres tendem a crescer mais
rapidamente que países mais ricos”.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Vou citar mais um pouco

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Os dados e sua fonte

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Os autores, claro, justificam a escolha dos
dados
• Usados na literatura (NOTE A IMPORTÂNCIA
DA REVISÃO DA LITERATURA ANTES DE SE
FAZER UM TESTE DE HIPÓTESE QUALQUER)

• São representativos do que a literatura em


economia brasileira aponta como importantes
no período analisado.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Vou repetir
• Em qualquer trabalho que você faça, deve-se
ler mais do que um ou dois artigos que você
achou na hora do café.

• Toma tempo, mas pavimenta o caminho, evita


desvios desnecessários e organiza o
pensamento.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


As variáveis de controle...

E a variável dependente?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Os autores, nesta primeira especificação...

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Se existem efeitos de longo prazo...
• ...então é interessante usar um painel maior
(dez anos, no caso).

• Nova regressão...

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)
Campos estava certo?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Considerações Finais
– Não-ajuste recessivo e escolha pelo II PND...tem
seu preço
– Inflação se acelera
– BP – problema

• Vejamos mais alguns detalhes.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Sobre o II PND: um pouco da
economia política
• Fins de 1973: OPEP quadruplica o preço do
petróleo.

• Importações aumentam em valor.

• Brasil se desfaz de reservas.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


No front interno...
• Troca de presidente: sai Médici, entra Geisel.

• Geisel busca legitimidade no crescimento econômico.

• Robert McNamara, presidente do WB, aponta o Brasil como


um dos países em desenvolvimento que pouco se empenhava
em tornar os frutos do crescimento mais amplamente
disponíveis à população em geral (1974). [vale dizer: pressões
externas se somam às pressões internas...]

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Opções
• Se desejo manter as mesmas taxas de crescimento,
tenho de me financiar externamente (de fato, há
abundância de recursos externos) ou internamente,
redirecionando recursos para o investimento
(consumo diminui).

• Se desejo me ajustar, devo conter a demanda


interna, abrir mão das taxas de crescimento elevadas
de antes.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Problema eleitoral
• Governo perde eleições em 1974.

• Simonsen pretendia o ajuste, ao invés do


crescimento.

• Governo opta pelo crescimento (A Economia


Brasileira em Marcha Forçada).

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Idéia do II PND
• Alteração de longo prazo na estrutura da
oferta da economia.

• Objetivo: diminuir necessidade de importação


e aumentar as exportações.

• Provisoriamente, endivida-se para, depois,


mais do que pagar a dívida.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Meta de crescimento
• “manter o crescimento econômico em torno
de 10% a.a., com crescimento industrial de
12% a.a.”

• Em relação ao Milagre: economia deveria


crescer baseada no setor de bens de capital e
insumos básicos.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Construção do suporte político
• Pacote de abril de 1977: alteração da
representatividade no Congresso, em favor dos
estados menores do Nordeste (onde dominava a
ARENA).

• Descentralização espacial dos projetos de


investimento.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Financiamento
• Estatais
– Irrealidade tarifária
– Endividamento externo
– Restrição do acesso ao crédito interno

• Privadas
– Créditos subsidiados (BNDES)

• Logo, estatização da dívida externa em marcha.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Note a visão governamental
• JPRVelloso: “Se você quiser operar somente através
do sistema de mercado, dadas as condições atuais do
Brasil, não verá o setor privado atuando no aço,
fertilizantes, produtos petroquímicos e metais não-
ferrosos, etc”. [Baer, p.106]

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Governo corrigia falhas de mercado?
• A tabela abaixo reproduz uma pesquisa citada no livro de
Barros de Castro.

• Observe que o planejador benevolente não possui


preferências muito próximas às dos governados (pelo menos
no que diz respeito aos empresários).

• Embora seja difícil dizer como teria sido o país se se


respeitasse as preferências dos empresários, pode-se notar
que certamente não havia uma relação harmoniosa entre
ambos.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Prioridades de governo
Segundo empresários Segundo governo
Itaipu Prospecção de petróleo
Ferrovia do Aço Expansão da Siderurgia
Expansão da Siderurgia Transportes Urbanos
Prospecção de petróleo Saneamento Básico
Programa Nuclear Ferrovia do Aço
Saneamento Básico Telecomunicações
Transportes Urbanos III Pólo Petroquímico
III Pólo Petroquímico Programa Rodoviário

Programa Rodoviário Programa Nuclear

Telecomunicações Itaipu

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Hipóteses e conjecturas
• Rent-seeking?

• Política industrial? (de quem, para quem?)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Cenário no final dos 70
• Segundo choque do petróleo, 1979 - por que
não invadimos estes países na época...(ei, é
piada, cara!).

• Dívida externa sustentável? Em 1979, quase


30% do valor das exportações correspondiam
aos juros da dívida.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Cenário no final dos 70

• Estatais em déficit, redução da carga tributária


bruta, juros da dívida interna se mostram um
futuro problema, autoridades fiscal e
monetária ainda não-independentes.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Cenário no final dos 70

• Inflação? 77% a.a. em 1979. Perspectivas de


aceleração...

• Momento político ímpar: sai Geisel, entra


Figueiredo, que deveria conduzir o processo
de abertura política.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Troca de ministros
• Simonsen: diagnóstico ortodoxo.

• Sai Simonsen, entra Delfim.


– Idéia inicial: reeditar o milagre econômico.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Algumas medidas
• SEST

• Maxidesvalorização do cruzeiro em 30% (dez/79)

• Prefixação da correção monetária e cambial para combater


inércia inflacionária

• Introdução de reajustes salariais semestrais

• Etc. (ver bibliografia)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Resultados...

• Inflação de 100% a.a.

• Deterioração das contas externas

• Especulação acentuada
– Maxi quebra expectativas anteriores
– Prefixação altera custo de oportunidade entre ativos
financeiros e outros itens (“especulação com estoques”)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Delfim retoma linha mais ortodoxa
• Em 1980, diante dos problemas citados,
Delfim retoma uma política de corte mais
ortodoxo.

• Política de ajustamento voluntário (tentativa


de não recorrer ao FMI).

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


No resto do mundo...
• A partir de 1979, FED adota política monetária
restritiva. Juros sobem. Capitais externos fluem para
os EUA.

• Economia norte-americana se ajusta.

• Reagan adota o supply-side economics, numa curiosa


combinação de maiores gastos e menos impostos.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Com juros altos nos EUA...
• O capital vai para aquele país (lembre-se da
invasão japonesa nos anos 80).

• Juros da dívida aumentam. Polônia,


Argentina...quebradas.

• Setembro Negro – 1982 : moratória mexicana.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


O estrangulamento externo
• Circunstâncias mudam no front externo e, claro, não
é mais tão interessante tomar recursos emprestados
fora.

• Com juros altos, o endividamento transforma-se num


problema considerável.

• Solução: gere superávits externos!

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


A taxa de variação do PIB real (a
preços de 2002)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


1982: FMI
• Apesar do ajuste voluntário...Brasil recorre ao
FMI.

• Relacionamento difícil.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Balanço da política do período
• Saldos da balança comercial
– Recessão diminui a pressão sobre as importações
– II PND

• Governo com problemas na dívida (lembre-se


que 80% da dívida externa era estatal).

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Pressões políticas

• Oposição fatura com a crise econômica.

• Diretas Já
– Final do período militar.
– Nova República: qual era a proposta?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Alguns pontos em aberto
• Werner Baer, explicitamente, afirma: “A maioria desses
argumentos precisa ser testada empiricamente.
Naturalmente, o crescimento muito mais rápido nas indústrias
de bens de consumo duráveis do que nas tradicionais oferece
certo apoio à análise de Furtado. Seria interessante testar o
grau de rigidez do perfil da capacidade de produção quando
ocorrem mudanças no perfil da demanda. Quanto mais rígido
ele é, mais fraca se torna a justificativa de um aumento
temporário na concentração de renda, enquanto que, quanto
maior sua flexibilidade, mais forte é essa justificativa”. [Baer,
p.99]

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Alguns pontos em aberto
• A tese de Baer se refere à concentração ocorrida no
período do milagre.

• Mas está construído de forma mais geral, embora o


modelo não seja explícito.

• Como medir mudanças no perfil da demanda?

• Como mudou a estrutura produtiva?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Novas democracias (Drazen/Brender)

Visão mais geral do problema.

Brasil é apenas um país na amostra.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


O que é?
• Political Business Cycle?

• Por que ele é importante?

• Qual é o “puzzle” dos estudos empíricos que


os autores desejam entender?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Afinal, eleitores punem ou são
manipulados pelos candidatos?
• Like other recent studies, we find a political deficit cycle in a large cross-
section of countries, but show that this result is driven by the experience
of ‘‘new democracies’’. The political budget cycle in new democracies
accounts for the finding of a budget cycle in larger samples that include
these countries and disappears when they are removed from the larger
sample. The political deficit cycle in new democracies accounts for
findings in both developed and less developed economies, for the stronger
cycle in weaker democracies, and for differences in the political cycle
across governmental and electoral systems. Our findings may reconcile
two contradictory views of pre-electoral manipulation, one that it is a
useful instrument to gain voter support and a widespread empirical
phenomenon, the other that voters punish rather than reward fiscal
manipulation.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Existe diferença entre países da amostra?

• Se existe, onde ela se manifesta?

• Um exemplo de uma pesquisa na área: inteligente e


abrangente, ao mesmo tempo contribuindo (ou, na
gíria moderninha, adicionando valor).

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Em uma prática cada vez mais científica, os
autores disponibilizam os dados online.

• Por que é científica?

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


A construção da base de dados: a política
• Our initial sample includes many countries that are not
democracies. In our view, if the political budget cycle reflects
the manipulation of fiscal policy to improve an incumbent’s
re-election chances, then it only makes sense in countries in
which elections are competitive. If elections are not
competitive, then the basic argument underlying the
existence of a political budget cycle loses much of its validity.
In fact, one might argue that finding a political budget cycle in
non-democratic countries weakens the support for the theory,
rather than strengthening it. Hence, from either an empirical
or conceptual perspective, one needs to separate democratic
from nondemocratic countries.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Rapidamente...

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Inicialmente os autores tentam reproduzir os
resultados dos artigos mais importantes e recentes.

• São encontradas evidências de ciclos.

• Como você leu o artigo (ou lerá antes da próxima


aula) não é preciso reproduzir as tabelas aqui.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Considerando novas e velhas
democracias...
• Há a discussão da amostra (antigas colônias soviéticas são ou não
incluídas na amostra)?

• Mas aparentemente há uma diferença nos ciclos entre estas categorias.

• To summarize, the political deficit cycle is a phenomenon of new


democracies. The finding of a statistically political deficit cycle in a cross-
section of all democracies is due to the first few elections in countries that
are new democracies. Once these are removed from the sample and only
elections in established democracies are considered, the political deficit
cycle as a statistically significant phenomenon in aggregate data
disappears.

• O que não significa que não existam ciclos nas velhas democracias.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Escrutinio na literatura
• Os autores seguem em seu diálogo com a literatura.

• Outros argumentos: Nível de desenvolvimento, pré-


determinação (ou não) das datas das eleições, grau de
“transparência (ou, inversamente, “rent-seeking”).

• Em geral, os resultados são que a divisão da amostra em


novas e velhas democracias apresenta robustez para a
hipótese de que ciclos geralmente ocorrem nas novas...

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Então, o que encontramos?
• Efeito da nova democracia.

• Como explicar isto?


– A punição ou não dos incumbentes nas eleições
depende da existência e disseminação de
informação (a tal mídia).
– O sucesso na manipulação da informação ajuda a
explicar o sucesso ou não do incumbente dado o
grau de experiência do eleitor.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


Então...
– Quanto mais eleições, maior a experiência do
eleitor.
– É mais fácil manipular quando há menos
informação ou menos eleições. Algo típico de
novas democracias.
– A literatura aponta nesta direção.
– Mas note as diferenças.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• One should also note an essential difference between some of
these arguments and ours. Whereas Shi-Svensson and Gonza`
lez, for example, view transparency primarily as a
characteristic of political systems (that may evolve over time,
with institutional change or development), our new
democracy results suggest a somewhat different view.
‘‘Transparency’’ reflects experience with the elections
themselves, with the crucial variable being the number of
competitive elections a country has held (or, the length of
time a country has been a democracy), rather than the level
of democracy.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• A key implication of our view is that the signal content of fiscal
actions necessarily changed over time as voters became more
experienced with electoral fiscal manipulation and were
provided with more economic and fiscal information in order
to draw inferences. This is certainly consistent with the
findings of Akhmedovand Zhuravskaya (2004) discussed at the
beginning of this section. Hence, any positive effect of deficit
spending on an incumbent’s electoral prospects would not
only diminish over time, but would probably change sign as a
country has more experience with a competitive electoral
process.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Eleitores controlam ou são manipulados?
– Sintonia fina na política econômica não é
tecnologicamente perfeita. Não é fácil manipular a
economia.
– Mesmo que isto fosse fácil, a racionalidade dos
eleitores dirime o efeito. (conservative voters)

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


• Outro resultado.

• An implication of the argument that voters in established democracies may punish


deficit spending is that opportunistic politicians will use fiscal policy to influence
voters in ways that don’t increase the overall budget deficit. This may be by
changing the composition of expenditures in an election year in a way designed to
get more votes, or, more specifically, by targeting particular groups of voters.
Drazen and Eslava (2004) models rational voters in the first case and presents
evidence on the importance of composition of spending effects for the political
budget cycle in regional and municipal elections in Colombia. In Drazen and Eslava
(2005), it is shown that when rational but imperfectly informed voters must infer
whether or not they are targeted for electoral purposes, effective fiscal
manipulation can take place without increasing the government budget.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)


O que isto pode nos ensinar sobre o Brasil?

• 1964-2023

• Aprendizado?

• Visão intertemporal, no caso, intergeracional,


importa?

• Composição do déficit: a racionalidade existirá, a


despeito de regras de controle do nível do gasto.

C.D. Shikida & P.M. Maciel (2023)

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