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2018-056 - Pesquisa de Mercado PT-BR
2018-056 - Pesquisa de Mercado PT-BR
Ecossistemas e pessoas
Para citar este artigo: Sandra Quijas, Alice Boit, Kirsten Thonicke, Guillermo Murray-Tortarolo,
Tuyeni Mwampamba, Margaret Skutsch, Margareth Simoes, Nataly Ascarrunz, Marielos Peña
Claros, Laurence Jones, Eric Arets, Víctor J. Jaramillo, Elena Lazos, Marisol Toledo, Lucieta
G. Martorano, Rodrigo Ferraz & Patricia Balvanera (2019) Modelling carbon stock and carbon
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© 2018 O(s) autor(es). Publicado por Publicado on-line em: 15 de novembro de 2018.
Informa UK Limited, negociando como
Taylor & Francis
Grupo.
PESQUISA
Rodrigo F e r r a z f e Patricia B a l v a n e r a d
a
Centro Universitario de la Costa, Universidad de Guadalajara, Puerto Vallarta, México; bInstitute of Biochemistry and Biology, University of
Potsdam, Potsdam, Alemanha; cResearch Domain I Earth System Analysis, Potsdam Institute for Climate Impact, Research, Potsdam,
Alemanha; dInstituto de Investigaciones en Ecosistemas y Sustentabilidad, Universidad Nacional Autónoma de México, Morelia, México; e
Centro de Investigaciones en Geografía Ambiental, Universidad Nacional Autónoma de, México, Morelia, México; fPesquisa e
Desenvolvimento, EMBRAPA Solos, Rio de Janeiro, Brasil; gDepartamento de Engenharia da Computação, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ/FEN/ DESC/PPGMA), Rio de Janeiro, Brasil; hDireção Executiva, Instituto Boliviano de Investigación Forestal, Santa Cruz de la
Sierra, Bolívia; i Forest Ecology and Forest Management Group, Wageningen University, Wageningen, Holanda; jCentre for Ecology &
Hydrology, Natural Environment Research Council, Bangor, Reino Unido; kWageningen Environmental Research, Wageningen UR,
Wageningen, Países Baixos; lInstituto de Investigaciones Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México, Ciudad de México, México;
mCordenação de Pesquisa, Instituto Boliviano de Investigación Forestal, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia; nAgrometeorologia, EMBRAPA Amazônia
Oriental, Belém, Brasil
Material e métodos
Áreas de estudo
O México, a Bolívia e a região amazônica do Brasil
ECOSSISTEMAS E PESSOAS 45
Figura 1. Representação esquemática de abordagens padrão e abrangentes para modelar o estoque e o sequestro de C.
A abordagem padrão inclui apenas o estoque de carbono acima do solo (Equação 1) e não inclui a respiração heterotrófica nas estimativas de
sequestro de carbono (Equação 6). A abordagem abrangente inclui estoques de C no solo e na serapilheira (Equação 2) e avalia o sequestro de C
em nível de ecossistema, incluindo a respiração heterotrófica (Equação 7). Veja detalhes de cada equação, reservatórios e processos nos Dados S1.
AGB = biomassa acima do solo; NPP = produtividade primária líquida; Rh = respiração heterotrófica; Fogo = emissões de C pelo fogo; Ch =
emissões de C da colheita; VCLULC = valores do estoque de carbono considerando o preço (US$) por quilograma de C por hectare pago por uso e
cobertura da terra (como equivalente ao estoque de C acima do solo) em esquemas de conservação de pagamentos por ESs (PES); CF = fator de
conversão para considerar o preço médio global do sequestro de C (Cseqval) e para transformar unidades de C em unidades equivalentes de CO2 .
Veja detalhes nas Tabelas 1 e 2, bem como nos Materiais Suplementares 1 e 3.
abrangem quase toda a faixa latitudinal da floresta e tomadores de decisão nacionais, bem como
neotropical e diferentes categorias de uso e cobertura corporações e mercados globais, definidos para o
da terra (LULC) . No México (1.960.189 km2 e fornecimento de SE (Tallis et al. 2012), neste caso, em
119.938.473 habitantes em 2015; (INEGI 2015), 27% de US$ por quilograma de carbono por hectare para
seu território é coberto por arbustos com pastagens, estoques de C e US$ por quilograma de carbono por
26% por florestas e 22% por terras cultiváveis (van hectare por ano para sequestro de C. Nossa definição
Eupen et al. 2014). Para a Bolívia (1.102.500 km2 e de valor não se refere ao valor econômico no sentido
10.059.856 habitantes em 2012; (INE 2013), as mais geral ou aos custos sociais resultantes das
categorias de LULC incluem florestas (55%) e mudanças climáticas (van Den Bergh e Botzen 2015) e
pastagens (9%) (van Eupen et al. 2014). A Amazônia está explicitamente vinculada aos instrumentos de
brasileira (5.013.186,89 km2 e 26.190.759 habitantes política existentes na região associados à mitigação
em 2010; (IBGE 2013) tem 46% de cobertura florestal das mudanças climáticas.
e 19% de não floresta. Nas áreas desmatadas, a
agricultura mecanizada de larga escala ocupa 1%, a
pastagem 10% e a vegetação secundária 1%. Essas Usando os dados do modelo LPJmL
áreas estão localizadas principalmente no Bioma Aplicamos o modelo LPJmL para mapear os estoques
Cerrado (http://www.inpe.br/cra/projetos_ de C e o equilíbrio de sequestro de C do ecossistema
pesquisas/arquivos/TerraClass_2014_v3). nas áreas de estudo. O LPJmL simula a dinâmica global
de C e as interações entre a atmosfera, o solo e a
vegetação (Sitch et al. 2003; Bondeau et al. 2007). Ele
Componentes ES
considera o crescimento, a produção e a fenologia de
O estoque de C e o balanço de sequestro de C do diferentes tipos funcionais de plantas (PFTs) que
ecossistema foram quantificados e mapeados para competem por luz e água para representar a dinâmica
seus componentes de fornecimento e valor (Tallis et al. das comunidades de plantas em nível de bioma. O
2012; Villamagna et al. 2013). A oferta é a capacidade modelo foi executado em uma resolução de grade de
de um ecossistema de prestar serviços (Burkhard et al. 0,5° × 0,5° (aproximadamente 50 × 50 km no equador)
2012). O valor, neste estudo, refere-se ao preço que a usando combinações de dados climáticos, dados do
sociedade, incluindo os atores sociais solo e cenários de mudanças no uso da terra. Os dados
46 S. QUIJAS
históricos ET AL. temporais de clima derivados do
de séries
modelo de circulação global HadGEM2-ES foram
ECOSSISTEMAS E PESSOAS 47
Tabela 2. Preços atribuídos no pagamento por serviços ecossistêmicos para o estoque de C. LULC = Uso e cobertura da terra. Veja
detalhes sobre os valores de cada LULC nas áreas de estudo nos materiais suplementares 3.
Definição Componentes Descrição dos componentes Unidade Anos Fonte
Preços do estoque de C LULC para o México 16 LULC variando de agricultura, arbustos Polígono (ha) 2013 INEGI 2013
derivados de pagamentos a florestas nebulosas
nacionais por serviços de Pagamento para ES no Preços entre 0 e 85 US$/ha US$/ha 2013 CONAFOR 2013
ecossistema México
LULC na Bolívia 9 LULC variando de culturas, gerenciadas Polígono (ha) 2007 Baldiviezo 2010
de pastagem a floresta nublada
Pagamento por ES na BolíviaPreços entre 0 e 2,25 US$/ha US$/ha2008 Asquith et al. 2008
LULC na Amazônia 6 LULC variando de agricultura anual, Polígono (ha) 2008 EMBRAPA 2014
brasileira reflorestamento a florestas
Pagamento por ES no BrasilPreços entre 0 e 234 US$/ha US$/ha2011 Guedes e
Seehusen 2011
por ano, bem como um total em toda a área de estudo et al. 2007), bem como dados de sensoriamento remoto
(Chapin et al. 2006). O CO2 é absorvido pela
vegetação da atmosfera por meio da fotossíntese, de
modo que a produtividade primária líquida (CNPP ) é
igual à produtividade primária bruta (GPP) menos a
respiração dos produtores primários (ou seja,
respiração autotrófica). A NPP na LPJmL inclui tanto
o crescimento da vegetação natural quanto o
crescimento anual das culturas. O C liberado é
liberado na atmosfera como resultado de: (a)
respiração heterotrófica (CRh ), definida como a
quantidade de C liberada pela decomposição de
material orgânico morto, (b) desmatamento
(derrubada completa e permanente da floresta), (c)
incêndios (CFire ) e (d) colheita de culturas (CCh ) (veja
detalhes de reservatórios e fluxos em Bondeau et al.
2007; Thonicke et al. 2008). O CRh engloba processos
simulados de decomposição microbiana na camada de
solo em LPJmL, que resultam em emissões de CO2
com atraso de vários anos, embora uma fração dessa
entrada seja mineralizada no solo em reservatórios de
decomposição lenta. Os processos de decomposição
simulados incluem a biomassa morta produzida pela
mortalidade natural das plantas, bem como o
desmatamento e outras atividades de uso da terra, que
resultam em liberação de CO2 de curto ou longo prazo
por meio da perda de forragem. A quantidade de C
perdida do ecossistema pela extração de madeira não
foi diferenciada em componentes diferentes (por
exemplo, uma separação entre perdas por
desmatamento e extração seletiva de madeira) porque
essas informações não estão disponíveis no cenário de
uso da terra em escala nacional. CCh representa a
quantidade de C temporariamente armazenada na
biomassa da cultura (não lenhosa) e perdida do
ecossistema pela colheita.
Para avaliar como as estimativas de sequestro de C
do ecossistema são distorcidas pela não incorporação
explícita da respiração heterotrófica, comparamos a
abordagem padrão (Equação 6 na Figura 1), que inclui
apenas a produtividade primária líquida (CNPP ), as
emissões de fogo (CFire ) e da colheita (CCh ), com a
abordagem abrangente (Equação 7 na Figura 1), que
também inclui as emissões da respiração heterotrófica
(C ).Rh
kgC/ha para estoque de C acima do solo e estoque total por meio do manejo florestal melhorado, sem
de C. Por exemplo, para o México, temos os seguintes necessariamente aumentar o estoque de C. O preço
dados: médio global do C (mostrado como Cseqval na Figura 1)
Equação 1: Estoque de C acima do solo = CAGB = de todos os projetos de mercado na América Latina em
5,71 kgC/m2 . 2015 foi de US$ 4,8
Equação 2: Estoque total de C = 14,31 kgC/m2 .
Estoque C acima do solo = CAGB
kgC
= 5.71 m2
10, 000 m2
*
1 ha
5.71 * 10, 000
=
1 kgC
= 57, 100 (1)
ha
kgC kgC
Estoque total de C = 14,31 = 143, 100
(2)
m2 ha
Em segundo lugar, obtivemos o valor do estoque de C
acima do solo e o valor do estoque total de C
considerando o preço específico por unidade de área
(VCLULC; Equação 3 na Figura 1):
VC LULC = 29,38 US$ ha (3)
(grade com floresta tropical úmida e florestas tropicais
secas para o México, consulte o valor de cada LULC
na Tabela 2, Materiais Suplementares 3).
CAGB
29,38 US$/ha
= = 0,0005 US$/kgC ha (4)
57, 100 kgC/ha
29,38
Valor Estoque total de C = 29,38
US$/ha
143, 100 kgC/ha
= 0,0002 US$/kgC ha (5)
Por fim, calculamos a diferença (como proporção)
entre o estoque de C acima do solo (Equação 4) e os
valores totais do estoque de C (Equação 5).
Resultados
Como as estimativas de estoques de C são
ECOSSISTEMAS E PESSOAS 53
Figura 2. Magnitude dos estoques de C para o México, a Bolívia e a Amazônia brasileira usando dados do modelo dinâmico de
vegetação (LPJmL) e uma série de outras fontes de dados.
Estoques totais de C de (a) modelo LPJmL usando abordagem compressiva e média de 1981 a 2000; (b) IPCC (IPCC 2006); (c) compilações de dados
de medição de colheita de biomassa com base em pontos (Gibbs et al. 2007), (d) dados de inventário florestal nacional (Gibbs et al. 2007) e (e)
dados espacialmente explícitos derivados de sensoriamento remoto (Liu et al. 2015).
(0,01-
não reconhecida, contribuição do C do solo e do C da
cama nessas áreas (Fig. S11 em Materiais
Suplementares 7).
Figura 3. Validação do estoque de C acima do solo para o México, a Bolívia e a Amazônia brasileira.
Comparamos nossos valores de estoque de C acima do solo modelados aqui com o LPJmL (eixo "Estoque de C acima do solo calculado"),
considerando a abordagem padrão, com o estoque de C acima do solo a partir de dados de sensoriamento remoto (eixo "Estoque de C acima do
solo estimulado"), comparando: (a) a relação entre os conjuntos de dados que se ajustam a uma regressão linear (linha tracejada vermelha) e os
erros de raiz quadrada média (linha tracejada cinza) para cada pixel (50 × 50 km) e (b) os padrões espaciais correspondentes de cada conjunto de
dados.
Discussão
Importância do uso de modelos dinâmicos de
vegetação para ES
O uso de DGVMs nos permitiu incorporar
58 S. QUIJAS ET AL.
O modelo LPJmL forneceu valores para o estoque de
C acima do solo que eram compatíveis em área e
resolução com as fontes de dados mais confiáveis e
recentes disponíveis (Liu et al., 2015). O modelo
LPJmL forneceu valores para o estoque de C acima do
solo que eram compatíveis, em termos de área e
resolução, com as fontes de dados mais confiáveis e
recentes disponíveis (Liu et al. 2015) e informou
sobre áreas com estoque de C acima do solo
particularmente alto (como no caso da floresta na
Bolívia).
É importante observar que ainda há uma incerteza
considerável na estimativa do carbono total da
biomassa com base no sensoriamento remoto de até
45% (Saatchi et al. 2011), o que exige a comparação
dos resultados da simulação com vários produtos de
observação disponíveis. O estoque total de C para
cada um dos países e o C acima do solo pixel a pixel
obtido com o LPJmL foram altamente
correlacionados (R2 entre 0,35 e 0,57) com valores
obtidos de dados de sensoriamento remoto (Liu et al.
2015) para valores baixos de C acima do solo. Áreas
com conteúdo muito alto de C acima do solo (>14,2
kgC/m2 ) puderam ser detectadas com LPJmL, mas
não com sensoriamento remoto, devido à saturação
em áreas altamente densas; os valores de saturação
relatados aqui (15 kgC/m2 ) correspondem aos
relatados por um estudo para o Brasil e a Bolívia
ECOSSISTEMAS E PESSOAS 59
Figura 4. Magnitude do balanço de sequestro de C do ecossistema para o México, a Bolívia e a Amazônia brasileira com base na
abordagem abrangente e usando dados do modelo de vegetação dinâmica (LPJmL).
Balanço de C do ecossistema (barras verdes) calculado como a diferença entre a absorção de C do NPP (barras marrons) e a liberação da respiração
heterotrófica (decomposição de material orgânico, incluindo o desmatamento pelo cenário de uso da terra - barras vermelhas), fogo (laranja) e
colheita (amarelo) para o México, a Bolívia e a Amazônia brasileira.
(Steininger 2000). Por sua vez, os valores mais altos de dados do local para a Bolívia (diferenças de 4%) e para
estoque de C previstos pelo LPJmL (144 PgC) são a Amazônia brasileira (7%), e apenas menor para o
menores do que os valores mais altos de biomassa México (81%) por serem dados derivados
total de C acima do solo relatados no campo em locais principalmente de floresta tropical seca.
como as florestas de Maracá (floresta amazônica), que O LPJmL também contribuiu para uma avaliação do
são de cerca de 350 PgC (Nascimento et al. 2007). De C na serapilheira. A importância do C na serapilheira
fato, as extrapolações de dados em nível de parcela em na dinâmica da vegetação e do solo é bem conhecida na
grandes áreas (Poorter et al. 2015) confirmaram que literatura sobre a dinâmica do carbono (Ciais et al.
os estoques de C acima do solo por unidade de área, 2013), mas sua contribuição para a ES associada à
conforme estimado pelo LPJmL, eram ligeiramente mitigação das mudanças climáticas precisa ser
mais altos do que os de parcelas florestais e reavaliada.
60 S. QUIJAS ET AL.
e mostram a utilidade dos DGVMs, como o LPJmL. O que pode ser usado para o carbono, como mostrado
uso de um conjunto de vários modelos, por exemplo, aqui, mas potencialmente também para ESs
tem sido frequentemente usado para superar as relacionados à água.
limitações do projeto de modelos individuais (Bagstad Os DGVMs precisam ser levados em conta quando
et al. 2013; Grêt- Regamey et al. 2017). o objetivo é comunicar os resultados da simulação aos
O LPJmL forneceu informações sobre respiração formuladores de políticas. No entanto, o LPJmL
heterotrófica, fogo e colheita de biomassa, que especificamente, e os DGVMs em geral, ainda têm
normalmente não são incluídas na avaliação de ES, incertezas para descrever os processos do ecossistema
embora as estimativas desses fluxos de carbono sejam que podem afetar as estimativas de estoque e fluxo de
obrigatórias em qualquer análise de balanço de carbono e, portanto, a propagação de erros para os
carbono bio-geoquímico. modelos de avaliação de ES. As estimativas atuais de
A modelagem do estoque total de C e do equilíbrio respiração heterotrófica implicam a decomposição de
de sequestro de C do ecossistema de ES com LPJmL produtos de florestas temporárias como material
também oferece uma oportunidade única de orgânico morto remanescente no ecossistema e
modelagem e mapeamento dos diferentes incluem simulações de alguns níveis de
componentes desses ESs para o futuro, usando desmatamento. Embora o modelo LPJmL também
modelos baseados em processos em escalas nacionais simule o acúmulo de um pool de carbono lento no
a globais. A incorporação de DGVMs, como o LPJmL, solo, isso pode ser considerado como uma
nas avaliações de ES fornece dados simulados de decomposição lenta de produtos de madeira.
forma consistente Conhecer o conceito do modelo e as suposições
64 S. QUIJAS
subjacentes ET AL.
também
ECOSSISTEMAS E PESSOAS 65
Figura 8. Abordagens padrão e abrangentes para modelar o balanço de sequestro de C do ecossistema para o México, a Bolívia e a
Amazônia brasileira.
(a) Valor da absorção de C para o México usando a abordagem padrão. (b) Valor do balanço de sequestro de C para o México usando a abordagem
abrangente. (c) Valor de absorção de C para a Bolívia usando a abordagem padrão. (d) Balanço do valor de sequestro de C para a Bolívia usando a
abordagem abrangente. (a) Valor de absorção de C para a Amazônia brasileira usando a abordagem padrão. (b) Balanço do valor do sequestro de
C para a Amazônia brasileira usando uma abordagem abrangente.
dos estoques totais de C do mundo (Saatchi et al. árvores forem consideradas um efeito potencial da
2011; Ciais et al. 2013). mudança climática e puderem reduzir a capacidade das
Mostramos que, ao não incluir os estoques de C florestas tropicais de atuar como sumidouros de C
nos solos, os governos e as avaliações globais estão (Brienen et al. 2015).
subestimando o estoque e os saldos totais de C,
especialmente nos trópicos. Grandes quantidades de
carbono são armazenadas no permafrost, na floresta
boreal, nas zonas úmidas tropicais e nas turfeiras, que
são ecossistemas particularmente vulneráveis ao
aquecimento e às mudanças no uso da terra (Ciais et
al. 2013), mas os três países estudados aqui
contribuem com 7,9% a 12,6% do C global do solo
(Ciais et al. 2013); os níveis de C do solo foram
particularmente altos no México (58%).
As discrepâncias nos estoques de C acima do solo
entre as diferentes fontes de dados para os diferentes
países podem ser explicadas pelas abordagens
utilizadas. A LPJmL agrupa espécies em PFTs
principais e aglomera mosaicos de paisagens em
grandes células de grade de 50 × 50 km (Sitch et al.
2003; Bondeau et al. 2007). Também depende da
abordagem do modelo usado para simular a
mortalidade do tronco (Johnson et al. 2016). As
discrepâncias foram um pouco maiores em relação às
estimativas de campo, que são as mais precisas, mas se
aplicam apenas a uma pequena fração da terra e
dificilmente consideram a variação entre as paisagens
e dentro delas (Poorter et al. 2015).
As diferenças metodológicas aumentam quando os
estoques totais de C de um país são agregados. Superar
as discrepâncias entre os estoques de C medidos
localmente, saber como eles se expandem para
unidades geográficas maiores, como um país ou
bioma, e saber quais processos do ecossistema
desempenham um papel em escala maior ajudaria a
reduzir as incertezas associadas à estimativa do
estoque de C.
Conclusões
Neste trabalho, mostramos que a modelagem do
estoque de carbono e do sequestro de carbono
usando DGVMs, como o LPJmL, oferece uma
oportunidade única de incluir e avaliar os
componentes do ecossistema relevantes para
informar o projeto e a implementação de políticas.
A aplicação da LPJmL nos permitiu determinar
que o México, a Bolívia e a Amazônia brasileira têm
grandes estoques totais de C, inclusive no solo e na
serapilheira, que em grande parte não são
contabilizados nas avaliações de C para políticas e
esquemas de pagamento. Como consequência, os
preços por tonelada de carbono atualmente pagos em
esquemas de pagamento por serviços ecossistêmicos
são até 500 vezes menores do que os obtidos com o
uso de uma abordagem de ES mais abrangente.
Descobrimos também que as emissões da
respiração heterotrófica de material orgânico
compensam uma grande proporção do carbono
obtido por meio do crescimento da matéria viva e
que as abordagens padrão para modelar o sequestro
de carbono que omitem esse processo superestimam
em grande parte o equilíbrio do sequestro de C. Isso
significa que os fundos, os mercados e os tomadores
de decisão estão superestimando inadvertidamente
até 100 vezes o carbono que eles acham que estão
economizando e que uma grande fração das áreas
estudadas (até 33%) consideradas hoje como
sumidouros são, na verdade, emissores líquidos.
70 S. QUIJAS ET AL.
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