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GOVERNANÇA

CORPORATIVA

Jeanine Barreto
G721 Governança Corporativa [recurso eletrônico] / Giancarlo
Giacomelli... [et al.] ; [revisão técnica: Gisele Lozada]. –
Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado também como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-169-3

1. Governança. 2. Administração pública. I. Giacomelli,


Giancarlo.

CDU 336.773

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147


Ética e moral nas
organizações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Diferenciar os conceitos de ética e moral.


„„ Estabelecer as relações entre trabalho e ética.
„„ Reconhecer os efeitos das transformações contemporâneas nos có-
digos normativos.

Introdução
Você sabia que a ética profissional é um conjunto de atitudes e valores
positivos aplicados no ambiente de trabalho? A ética no ambiente de
trabalho é de fundamental importância para o bom funcionamento das
atividades da empresa e das relações de trabalho entre os colaboradores.
Ética e moral andam juntas e se diferenciam em suas problemáticas.
Neste texto, você vai estudar a ética e a moral nas organizações,
reconhecendo seus efeitos e suas transformações ao longo do tempo.

Os conceitos de ética e moral


As palavras ética e moral têm origem nas palavras ethos, do grego, e mores,
do latim, respectivamente. Referem-se à reflexão sobre os princípios que
direcionam a ação do ser humano, e tornam possível diferenciar o bem do
mal, ou o correto do incorreto (RICOEUR, 2011).
A ética deve ser entendida como a busca pela vida bem vivida, e a moral
como a norma e a noção do dever. A ética e a moral devem sempre andar
juntas, pois enquanto uma é a reflexão, a outra é a prática (Figura 1).
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Figura 1. Ética e moral.


Fonte: adaptada de Educação e Tecnologia (2016).

A ética é o conjunto de princípios e valores utilizados pelos indivíduos


para responder a três perguntas enquanto refletem sobre o que fazer diante
de uma situação: quero? Posso? Devo? A moral é a prática das respostas a
essas perguntas.

Uma vez que a ética tem relação direta com a teoria e a reflexão, e a moral tem relação
direta com a prática e a ação, temos que:
„„ problema teórico-ético é o que acontece quando um líder avalia se um subordinado
pode escolher entre várias alternativas de ação.
„„ problema prático-moral é o que acontece quando um líder está diante de uma
decisão de agir numa situação concreta.

A ética é uma reflexão sobre aquilo que está acima das regras da cultura
de um povo; é uma teoria da moral, uma reflexão sobre as regras e sobre as
relações do indivíduo consigo mesmo e com os outros. Ela pode ser definida
como uma prática reflexiva, pois está muito ligada à constituição de um ser
humano capaz de refletir com liberdade sobre os destinos que quer para a
sua vida. Ela deve ser pensada como uma reflexão sobre a maneira de viver
(BITENCOURT, 2010).
Ética e moral nas organizações 433

A ética faz parte da área da Filosofia, que estuda os princípios e valores


morais da conduta humana e que indica as normas que devem ajustar-se às
relações entre os membros da sociedade. Ela tem validade universal, pois não
muda com a crença, os valores, os costumes, a cultura e a religião.
A moral pode ser definida como um código de regras de obediência a um
princípio superior e universal, ou seja, um imperativo categórico e absoluto,
como se fosse um “dever”. Ela é um conjunto de regras estabelecidas pela
família, pela religião, pela escola, pelo trabalho, pela cultura, e consideradas
como válidas para um tempo, lugar e grupo de pessoas.
A moral envolve uma ação pautada nas nossas faculdades morais, que
são a vergonha, o brio, a honra, a dignidade e os valores. Ela envolve um
conjunto de regras assumidas pelo indivíduo como uma forma de garantir o
seu bem viver, expressando seus valores, costumes, hábitos e o que deseja e
julga bom para a sua convivência em sociedade. A moral envolve a distinção
entre certo e errado, justo e injusto, bom ou ruim, para avaliar a ação entre
ética e não ética. A moral, ao contrário da ética, depende do lugar, do tempo
e do grupo em que o indivíduo está inserido.

„„ Antiético é algo que é contrário à ética.


„„ Imoral é algo que é contrário à moral.
„„ Amoral é um indivíduo que não tem discernimento, não sabe o que é moral.

A ética pode ser caracterizada como (BITENCOURT, 2010):

„„ um princípio;
„„ de caráter permanente;
„„ universal;
„„ uma regra;
„„ teoria;
„„ reflexão.
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A moral pode ser caracterizada como (BITENCOURT, 2010):

„„ uma conduta específica;


„„ de caráter temporal;
„„ dependente da cultura;
„„ uma conduta da regra;
„„ prática;
„„ ação.

Os valores morais são conceitos, juízos e pensamentos


considerados “certos” ou “errados” por determinada
sociedade.
Eles são parte da herança da nossa cultura e estão pre-
sentes na nossa religião, no que dizemos, no que fazemos
e no que pensamos.
Os valores morais são a primeira compreensão que
temos do mundo, devido à comunidade a que pertence-
mos. Eles são princípios que fundamentam a consciência
humana e orientam as pessoas no momento de suas
escolhas.
Para conhecer melhor os valores morais, acesse o link a
seguir ou o código ao lado (SIGNIFICADO, 2017).

https://goo.gl/XJVPkm

As relações entre trabalho e ética


Para que um trabalhador alcance a sua excelência profissional, é importante
que siga padrões e valores da sociedade e, principalmente, da organização em
que trabalha. A credibilidade vem da postura ética adotada pelo trabalhador,
uma vez que a sua atuação deve ser consequência de uma reflexão sobre a
melhor maneira de agir. A ética proporciona o ganho de confiança e respeito
dos gestores e colegas.
Ética e moral nas organizações 435

A ética no trabalho vai além do ponto de vista do dever, da obrigação, ou


das normas de conduta que funcionam como um código moral dos funcionários.
Ela pode ser entendida como um conjunto de (BORGES; RODRIGUES, 2011):

„„ saberes, que forma a moral do trabalho, entendida como algo que


define a forma como os trabalhadores devem conduzir as suas vidas
enquanto estiverem trabalhando;
„„ normas éticas que devem formar a consciência do profissional e ser
imperativas para a sua conduta;
„„ princípios morais que devem ser observados no exercício de uma
profissão;
„„ valores e normas de comportamento e relacionamento que são adotados
no ambiente de trabalho, no exercício de uma atividade.

As organizações adotam padrões éticos profissionais, aplicando-os às


suas regras de comportamento internas, visando o bom andamento de todos
os processos organizacionais, o atingimento das metas e o alcance dos obje-
tivos estratégicos. A ética no trabalho é a ferramenta de exercício cotidiano
de honestidade, lealdade e comprometimento, que conduzem as ações do
indivíduo no exercício de suas atividades na empresa.
A ética no ambiente de trabalho é de fundamental importância para o bom
funcionamento das atividades da empresa e das relações de trabalho entre os
colaboradores. Quanto maior a organização, mais se faz necessário um código
de ética, para que ele sirva para padronizar os procedimentos de trabalho e
estabeleça regras e valores de conduta para todas as áreas.
O código de ética prevê princípios a seguir e penas disciplinares aos
trabalhadores que não obedecerem aos procedimentos e normas da área.
Normalmente as organizações disponibilizam canais de comunicação próprios
para denúncias, em que os funcionários podem relatar fatos de descumprimento
das normas estabelecidas no código de ética e que tenham sido observados
no ambiente de trabalho ou na relação com clientes.
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A ética no trabalho serve para construir relações de qualidade com os


colegas de trabalho, chefes e subordinados, e para contribuir para o bom funcio-
namento das rotinas de trabalho, uma vez que relações amigáveis e respeitosas
contribuem para o aumento do nível de confiança e comprometimento dos
funcionários, refletindo no aumento da produção e do desenvolvimento da
empresa. Os comportamentos antiéticos, por outro lado, prejudicam o clima
organizacional, afetando o rendimento das equipes.
A relação entre a ética no trabalho e os processos de subjetivação,
ou seja, a maneira como podemos pensar a ética e o trabalho de forma mais
abstrata e subjetiva, pode ser compreendida como (BITENCOURT, 2010):

„„ um código normativo, que age como um mecanismo disciplinador e de


submissão dos funcionários;
„„ um processo de identificação, relacionado ao reconhecimento social
do funcionário como um cidadão;
„„ o conjunto de possibilidades trazidas pelo código normativo associado
ao trabalho, que influencia a ética como prática reflexiva da liberdade,
ou seja, uma reflexão sobre as decisões dos trabalhadores quanto ao
próprio destino.

O grau de liberdade para a reflexão ética vai depender dos valores morais
que envolvem as formas de gestão e a cultura das empresas, bem como as
restrições que são impostas pelo mercado de trabalho.
Ética e moral nas organizações 437

São exemplos de atitudes éticas no ambiente de trabalho (BORGES; RODRIGUES,


2011):
„„ ter educação e respeito no trato entre os funcionários;
„„ agir com cooperação e atitudes que buscam auxiliar os colegas de trabalho;
„„ divulgar os conhecimentos que possam melhorar o desempenho das atividades
realizadas na empresa;
„„ respeitar a hierarquia da organização;
„„ buscar o crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de trabalho;
„„ ter ações e comportamentos que objetivam criar um clima agradável e positivo
dentro da empresa, como manter o bom humor, ser cordial, etc.;
„„ realizar, em ambiente de trabalho, apenas tarefas relacionadas ao trabalho;
„„ respeitar as regras e normas da empresa;
„„ ter responsabilidade na preservação do sigilo que lhe for confiado, pois algumas
informações não devem ser compartilhadas;
„„ agir com integridade e transparência nas atividades exercidas;
„„ ser honesto com os gestores e colegas, influenciando-os de maneira positiva com
o seu trabalho;
„„ promover e beneficiar funcionários pelo mérito, e não por afinidade;
„„ ser humilde, entender e respeitar os limites da sua função;
„„ ser comprometido com o seu desenvolvimento contínuo;
„„ ter uma linha de ação compatível com a sua linha de pensamento;
„„ construir relações de qualidade e confiança com os colegas;
„„ ter uma postura adequada e apresentar resultados concretos;
„„ zelar pelos instrumentos de trabalho e pelo patrimônio da empresa;
„„ ser honesto, falar a verdade e assumir responsabilidade por falhas;
„„ cumprir sua função com comprometimento, competência e consciência, visando
o melhor resultado para a organização, e não apenas pensando em si;
„„ cuidar da apresentação pessoal;
„„ ouvir os demais;
„„ melhorar o vocabulário;
„„ nunca insultar, evitar gritos;
„„ diferenciar as relações pessoais das profissionais, considerando sempre como
prioridade a realização do seu trabalho.

Algumas profissões têm conselhos de representação que têm a responsa-


bilidade de criar os códigos de ética específicos de cada área de atuação e,
também, de fiscalizar o seu cumprimento. Esse código, chamado de código de
ética profissional, é o conjunto de normas éticas que devem ser seguidas pelos
profissionais enquanto exercem seu trabalho, independentemente da empresa
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em que estiverem. Ele existe para padronizar procedimentos operacionais


e condutas de comportamento, garantindo a segurança dos profissionais e
dos usuários de serviços específicos. Ele também prevê princípios a seguir e
penas disciplinares aos trabalhadores que não obedecerem aos procedimentos
e normas da área (BORGES; RODRIGUES, 2011).

Os conselhos das classes profissionais são os órgãos responsáveis por disciplinar e


fiscalizar as profissões regulamentadas. Por isso, uma de suas atribuições é a elaboração
do código de ética das profissões às quais estão ligados. Esses conselhos são formados
por profissionais de cada profissão, que vão representar seus colegas em prol da
garantia dos interesses de todos.
A fiscalização de cada profissão, no Brasil, é estabelecida pela mesma lei que serviu
para regulamentar essa profissão. Como esses conselhos não recebem recursos do
governo para arcar com suas despesas, a lei determina a cobrança de contribuições
anuais, pagas pelos profissionais que pertencem a eles.
Alguns exemplos de conselhos profissionais brasileiros são: CRA (Conselho Regional
de Administração), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), CFC (Conselho Federal de
Contabilidade), CRECI (Conselho Federal de Corretores de Imóveis), CREA (Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia), CRO (Conselho Regional de Odontologia),
entre outros.

Os efeitos das transformações contemporâneas


nos códigos normativos
A discussão em torno das transformações da ética no trabalho gera duas
definições sobre o tema (BITENCOURT, 2010):

„„ é um código antigo, com origem na doutrina protestante e que se associou


ao espírito capitalista da modernidade;
„„ é a discussão sobre a remodelação desse código devido às transforma-
ções sociais, que possibilitam a reflexão sobre o lugar que o trabalho
exerce na vida das pessoas.
Ética e moral nas organizações 439

O termo ética no trabalho, ou ética protestante do trabalho, surgiu no Brasil


em 1967, depois da tradução brasileira da obra A ética protestante e o “espí-
rito” do capitalismo, de Max Weber. Ele faz referência às condições morais
para o surgimento do capitalismo, condições essas que estavam presentes na
ética protestante. O protestantismo foi um movimento religioso que eclodiu
na Europa Central, no início do século XVI, como reação contra as doutrinas
e práticas do catolicismo romano medieval. A motivação psicológica para o
trabalho era uma forma de a doutrina protestante se assegurar. O trabalho
passou a ser visto como obrigação moral para as pessoas e o capitalismo
passou, então, a não precisar mais da religião como um suporte.
No princípio, os fundamentos da ética no trabalho eram (BITENCOURT,
2010):

„„ a busca individual do sucesso;


„„ a capacidade de o indivíduo postergar o seu prazer e divertimento em
prol do acúmulo de dinheiro;
„„ a aceitação da existência de uma obrigação moral de trabalhar de forma
disciplinada, mesmo que o trabalho fosse árduo e difícil;
„„ a obediência às ordens do patrão, sempre com o devido sentimento de
obrigação em relação a elas;
„„ a importância do trabalho em todos os aspectos da vida, significando
valorização pessoal.

Na sociedade industrial, a ética no trabalho passou a ser considerada como


um elemento essencial para a modernização da sociedade, e muitos estudos
tentaram estabelecer a relação existente entre a ética no trabalho e as trans-
formações possivelmente trazidas pelo capitalismo.
No Brasil, o trabalho passou a ser valorizado com a criação da carteira de
trabalho, documento que demonstra o exercício da cidadania do indivíduo e
o esforço do país em atribuir ao trabalho um caráter essencial na vida dos
indivíduos. O trabalho passou a ser visto então como uma fonte de dignidade
e de moralidade e uma ferramenta de ascensão na sociedade, além de uma
forma de servir ao sustento do país por meio da submissão e da obediência.
Atualmente, a relação entre trabalho e cidadania e a associação dos valores
ligados ao trabalho e à família passam por modificações radicais na nova
estruturação do capitalismo. Nos países capitalistas, os códigos normativos
começaram a passar por transformações contemporâneas devido ao aumento
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do individualismo, à diminuição dos laços sociais, à cultura do narcisismo, à


perspectiva de incerteza generalizada na sociedade, à competição extremada,
à destruição das garantias das estabilidades e à consideração do código moral
como algo de importância relativa (BITENCOURT, 2010).
A sensação de insegurança e a impossibilidade de planejar o futuro a longo
prazo, decorrentes do modelo produtivo da atualidade, começaram a afetar o
caráter dos trabalhadores, que passaram a se sentir hesitantes com relação ao
padrão moral de comportamento que será oferecido para as próximas gera-
ções. As pessoas se sentem incapazes de transmitir parâmetros sobre o que é
certo ou errado. A nova configuração de mundo e sociedade gera incertezas,
tornando indefinidos os critérios para o julgamento moral.
O comportamento passou a se deslocar da ética profissional para a ética
do consumo, que é caracterizada pela necessidade de satisfação imediata.
A transformação do trabalhador da modernidade, que era produtor, para o
consumidor contemporâneo, indica uma acentuação do individualismo: o
consumo é essencialmente individual, enquanto o trabalho é coletivo. Além
disso, os novos modelos de gestão procuram individualizar os trabalhadores
que exercem suas atividades em equipe, visando avaliá-los.
Passou a existir uma nova forma de reflexão da ética, que surgiu da socie-
dade moderna e teria como fundamento os cuidados dos indivíduos consigo
mesmos. Antes, no modelo cultural da era industrial, os cuidados próprios
estavam sempre relacionados com as obrigações frente aos outros, sendo que
esses outros podiam ser a religião, os filhos, os amigos próximos, a família e
a sociedade como um todo. A autorrealização do indivíduo era proporcionada
pelo esforço do trabalho, projetado no futuro (BITENCOURT, 2010).
Nesse novo modelo de reflexão ética, a satisfação imediata é o que importa,
e existe a sensação de um presente permanente, o que traduz a importância do
individualismo. As altas taxas de desemprego, as modificações tecnológicas e
as alterações organizacionais das empresas são, na realidade, os dispositivos
responsáveis pelas transformações na reflexão ética. A ética, como está hoje,
é sustentada pelo individualismo, por um dever do indivíduo para com ele
próprio, em uma busca incessante pela sua autossatisfação.
O individualismo da atualidade também está ligado à solidariedade, só
que uma solidariedade direcionada para com os grupos aos quais as pessoas
são mais próximas, ou seja, para com a sua microssociedade. Assim, são
formadas comunidades pela livre escolha dos indivíduos, ao contrário do que
acontece com as relações no trabalho, que são impostas.
A crise de identidade pela qual as pessoas passam na atualidade está rela-
cionada com a crise no modelo cultural, pois todo o conjunto de significados e
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valores que existia está, hoje, desestabilizado. Essa crise cultural provoca nos
indivíduos mais jovens uma reflexão sobre as melhores formas de existir. Ela
passa a ser uma crise da própria identidade do indivíduo, que se vê em uma
situação de indefinição, uma vez que a liberdade existente para as escolhas
quanto ao modo de viver – como relacionamentos amorosos, lazer, amizades,
divertimentos, produtos de consumo, entre outros – não existe no trabalho e
no mundo profissional. Até mesmo a escolha do próprio trabalho é limitada
pelas imposições estabelecidas pelo mercado (BITENCOURT, 2010).
A saída para os indivíduos mais jovens poderia ser, então, a transferência
da sua realização pessoal para a vida fora do trabalho, pois esta não seria
moderada por regras e princípios morais. A consequência disso, a longo prazo,
pode ser o surgimento de um indivíduo contemporâneo completamente desco-
nectado do que é social, alguém que não vê sentido na sociedade, que ignora
o fato de fazer parte de uma sociedade e que, por isso, não possui senso de
responsabilidade para com as regras sociais. O individualismo exagerado
pode conduzir o indivíduo a achar que não é nada, e que não está ou não
pertence a qualquer lugar.
O código moral referente ao trabalho na sociedade atual vai se trans-
formando à medida que o capitalismo muda suas estratégias para dominar,
cada vez mais, o mundo. A ética, então, volta a se tornar essencial na nossa
sociedade, pois o aumento do individualismo, que se revela sob a forma de
narcisismo, resulta da impossibilidade de se pensar em um futuro, o que
traz uma vontade incontrolável de aproveitar os momentos do presente da
forma mais intensa possível. A perspectiva desse tempo presente, que pede
essa pressa dos indivíduos, traduz a ausência de princípios que possibilitem
enxergar um sentido para a vida em comunidade, o que denota uma fragilidade
nos laços sociais e um fortalecimento do individualismo, consequência da
destruição dos valores e da dissolução dos laços centrados no trabalho, sem
que eles tenham sido substituídos por quaisquer outros que não sejam apenas
aqueles que valorizam a própria existência. Somente o respeito pelo outro e
o reconhecimento de que temos limites e somos finitos é que podem acabar
com o individualismo e possibilitar um retorno à solidariedade.
A ética profissional é um conjunto de padrões de conduta que normalmente
está estabelecido nos códigos normativos das empresas, mas é também um
elemento de reconhecimento e identificação da sociedade. A transformação
dos códigos morais e a consequente mudança na ética do trabalho dependem
do grau de liberdade existente para uma prática reflexiva, indispensável para
se pensar a ética (BITENCOURT, 2010).
442 Ética e moral nas organizações

A atual conjuntura implica uma transformação do código moral que sustenta


as relações em sociedade. A ética no trabalho muitas vezes surge somente como
uma teoria, e não como algo presente na rotina de ações das pessoas. Embora
seja algo ainda muito solicitado no perfil de executivos, a ética se encontra
subordinada a valores maiores, que são o individualismo e a competitividade.

1. A relação entre a ética do trabalho no trabalho relacionado ao


e os processos de subjetivação reconhecimento social do
pode ser compreendida por meio trabalhador como cidadão;
de três aspectos. Quais são eles? possibilidades colocadas pelo
a) Ética do trabalho como código normativo associado ao
código normativo; ética do trabalho, que baliza a ética como
trabalho relacionado ao prática reflexiva da liberdade.
reconhecimento social do e) Ética do trabalho como código
trabalhador como cidadão; normativo; ética do trabalho
possibilidades colocadas pelo relacionado ao reconhecimento
código normativo associado ao social do trabalhador como
trabalho, que baliza a ética como cidadão; ética individual.
prática reflexiva da liberdade. 2. Como a ética pode ser definida?
b) Ética normativa; ética do a) Prática social.
trabalho relacionado ao b) Prática pessoal.
reconhecimento social do c) Prática de agir.
trabalhador como cidadão; d) Prática de regras.
possibilidades colocadas pelo e) Prática reflexiva.
código normativo associado ao 3. Como a moral pode ser definida?
trabalho, que baliza a ética como a) Código normativo.
prática reflexiva da liberdade. b) Prática de regras.
c) Ética normativa; moral no c) Código de regras.
trabalho relacionado ao d) Práticas normativas.
reconhecimento social do e) Práticas organizacionais.
trabalhador como cidadão; 4. A relação entre trabalho e cidadania
possibilidades colocadas pelo e a associação dos valores ligados
código normativo associado ao ao trabalho e à família passam
trabalho, que baliza a ética como por modificações radicais na
prática reflexiva da liberdade. nova estruturação _____, com
d) Ética do trabalho como consequências nítidas para a
código normativo; antiética regulamentação das relações
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de trabalho e para o código da ética do trabalho e passa


moral que funda a sociedade a ser marcado pela _____,
brasileira contemporânea. caracterizada pela necessidade
a) Do capitalismo. de satisfação imediata.
b) Do socialismo. a) Estética.
c) Do ensino. b) Relação de trabalho.
d) Da ética. c) Ética do consumo.
e) Da moral. d) Compra imediata.
5. O comportamento desloca-se e) Coletividade.

BITENCOURT, C. Gestão Contemporânea de Pessoas: novas práticas, conceitos tradicio-


nais. 2. ed. Porto Alegre: Bookman. 2010.
BORGES, I. R.; RODRIGUES, M. C. Ética e Responsabilidade Profissional. Canoas: Ulbra, 2011.
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA. Ética e Moral. Em Cantos e versos, 2014. Disponível em:
<http://maurajanes.blogspot.com.br/2016/06/etica-e-moral.html>. Acesso em: 16
out. 2017.
RICOEUR, P. Ética e Moral.. Covilhã: LusoSofia, 2011.
SIGNIFICADO de valores morais. Siginificados, 2017. Disponível em: <https://www.
significados.com.br/valores-morais/>. Acesso em: 16 out. 2017.

Gabarito
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