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Sentenca Civel
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Sentença Cível
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
SENTENÇA CÍVEL
Sentença Cível
Jayder Araujo
Sumário
Apresentação..................................................................................................................4
Sentença Cível. ................................................................................................................6
1. Aspectos Jurídicos e Redacionais da Sentença.............................................................6
1.1. Definição de Sentença................................................................................................6
1.2. Elementos Essenciais da Sentença.. .......................................................................... 7
1.3. Vícios da Sentença....................................................................................................8
1.4. A Sentença conforme o Estado do Processo. . ...........................................................9
1.5. Aspectos Redacionais da Sentença.......................................................................... 11
2. Do Relatório.............................................................................................................. 13
2.1. Função e Características Principais......................................................................... 13
2.2. Conteúdo................................................................................................................ 14
2.3. Aspectos Redacionais do Relatório.. .......................................................................22
2.4. Exemplo de Relatório.............................................................................................23
3. Da Fundamentação. ...................................................................................................26
3.1. Aspectos Jurídicos..................................................................................................26
3.2. Identificação das Questões Jurídicas e Ordem de Apreciação. . .............................. 28
3.3. Argumentação Jurídica e o Silogismo Jurídico........................................................ 31
3.4. Doutrina, Precedentes e Jurisprudência.................................................................38
3.5. Da Estruturação da Fundamentação..................................................................... 40
3.6. Exemplo de Fundamentação..................................................................................46
4. Do Dispositivo.......................................................................................................... 58
4.1. Introdução............................................................................................................. 58
4.2. Parte Principal do Dispositivo: Resolução das Questões Jurídicas..........................59
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Apresentação
Caro(a) aluno(a),
Eu me chamo Jayder, sou Juiz de Direito do TJDFT desde maio de 2003.
A minha caminhada no serviço público começou em 1991, quando fui aprovado, aos 18
anos, no concurso da Caesb – Companhia de Águas e Esgotos de Brasília. Mesmo traba-
lhando oito horas diárias, continuei os meus estudos e, em 1993, fui aprovado para o cargo
de técnico judiciário do TJDFT e do TRF-1. Fui chamado primeiro para o TJDFT, onde tomei
posse em 1994.
Em 1998 me formei em Direito e, no mesmo ano, fui aprovado em 1º lugar para o cargo de
Analista Judiciário do TJDFT, onde tive a oportunidade de trabalhar com juízes que me inspi-
raram e me fizeram acreditar que a magistratura era um sonho possível.
Prossegui os meus estudos, conciliando com o trabalho e a família. O ano de 2003 foi
mágico para mim. Fui aprovado nos concursos de Procurador da República, de Promotor de
Justiça Adjunto do MPDFT e de Juiz de Direito Substituto do TJDFT.
Tomei posse no cargo de Procurador da República, onde permaneci por quatro meses en-
quanto aguardava a minha posse como Juiz de Direito do TJDFT. A posse no cargo de juiz foi
a realização de um sonho planejado.
Em 2009 iniciei um novo desafio na minha vida. Aceitei um convite para ministrar um curso
de Processo Civil e, a partir daí, a sala de aula se tornou a minha segunda realização profissio-
nal.
Esse curso prático de sentença cível é a consolidação de mais de dez anos de aulas presen-
ciais, compartilhando com os alunos a minha experiência na técnica de elaboração de sentença.
O PDF foi produzido com o fim de auxiliá-lo a estruturar e a redigir a sentença cível confor-
me a técnica adequada. Ele consolida e complementa o conteúdo produzido nas videoaulas,
bem como servirá como um material prático, objetivo e de fácil leitura, em que você poderá
assimilar o passo a passo para estruturação e redação dos três elementos da sentença cível.
Alguns alunos costumam me indagar quando devem começar a se preparar para a prova
prática de sentença. O meu conselho é que faça isso o quanto antes possível, pois a senten-
ça envolve o desenvolvimento de uma habilidade diferente, consistente em fazer algo. Numa
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analogia, seria como aprender a andar de bicicleta; quanto mais praticamos, mais seguros e
melhores manobras realizaremos.
Além disso, à medida em que construímos novas peças, vamos consolidando os
conteúdos, pois os institutos, antes estudados de forma teórica, começam a ser melhor
compreendidos quando são aplicados em casos concretos.
Para o aprendizado completo, é essencial que você faça exercícios e tenha um fee-
dback honesto para o aprimoramento da sua técnica. Pensando nisso, estamos ofere-
cendo no Gran Cursos, além das videoaulas e desse PDF, um curso específico de corre-
ção de peças práticas referentes a concursos anteriores, com feedback individualizado
para o refinamento do treinamento.
Com isso, temos a expectativa que o aluno esteja seguro na fase da prova prática
de sentença e não corra maiores riscos de ser eliminado do certame, pois estará muito
preparado para redigir, com técnica diferenciada, essa peça prática.
Para dar um gostinho de quero mais, ao final do PDF foi lançado um desafio, em que
você terá a oportunidade de produzir uma sentença e compará-la com um espelho co-
mentado.
Saiba que estamos juntos nessa caminhada. A sua vitória é a nossa realização. Con-
te sempre conosco.
Agora é hora de estudar. Vamos lá!
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SENTENÇA CÍVEL
1. Aspectos Jurídicos e Redacionais da Sentença
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Passando agora ao estudo dos elementos da sentença, observamos que o art. 489 do
CPC é bastante sucinto, exigindo apenas que o julgador atenda a três elementos essenciais:
relatório, fundamentos e dispositivo.
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A proposta do nosso curso é que consigamos, ao final, redigir uma sentença, de forma
técnica, atendendo a esses três elementos.
Não há uma única forma de se fazer isso, pois o estilo de cada um interferirá diretamente
no resultado final. Entretanto, todas as sentenças deverão atender aos três elementos para
que elas sejam um ato judicial existente e válido.
Com o curso, pretendemos abandonar o trabalho puramente empírico, em que utilizamos
modelos de sentenças prontas e simplesmente tentamos adaptá-los ao caso sob julgamento,
para passarmos a elaborá-las à luz da técnica, com mais clareza sobre o passo a passo des-
sa construção, ainda que utilizemos a experiência decorrente de modelos já estudados como
a base para a elaboração de novas sentenças.
A proposta do curso é justamente essa: que ao final você saiba o que deve fazer e como
deve fazer para que a sua sentença esteja de acordo com a melhor técnica.
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Sentença ultra petita: é a sentença que concede às partes mais do que elas pediram; além
dos fatos e fundamentos jurídicos apresentados, analisa outros fatos ou fundamentos não
postos em discussão; ou inclui como destinatário da ordem, além das partes e dos interve-
nientes, outras pessoas que não faziam parte da relação processual.
Sentença extra petita: a sentença extra petita concede às partes o que não foi pedido;
analisa fatos e fundamentos jurídicos não apresentados quer na petição inicial quer na res-
posta do réu; ou inclui com destinatário da decisão judicial exclusivamente pessoas que não
fazem parte da relação jurídica processual.
As previsões normativas que visam combater os vícios da sentença estão previstas nos
seguintes artigos do CPC:
Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de
questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.
Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Se, na prova de concurso, cometermos qualquer desses vícios, com certeza seremos des-
pontuados ou, até mesmo, eliminados do certame.
Portanto, na prática, o candidato deverá saber extrair de um processo as questões sub-
metidas à sua análise e decidi-las nos limites do que foi postulado, a fim de evitar que a sen-
tença padeça de qualquer vício.
Não fique preocupado se você ainda não sabe fazer isso, pois a correta delimitação das
questões jurídicas de uma sentença será bem trabalhada na primeira parte da aula de funda-
mentação.
Para a elaboração de uma sentença bem estruturada, é essencial que o candidato reco-
nheça que a relação processual se desenvolveu de forma válida e regular e que o processo
está maduro para julgamento.
O ato judicial a ser praticado no concurso, conforme previsto no art. 49 da Resolução
75/2009 do CNJ, será uma sentença.
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Art. 49. A segunda prova escrita será prática de sentença, envolvendo temas jurídicos constantes
do programa, e consistirá:
I – na Justiça Federal e na Justiça estadual, na elaboração, em dias sucessivos, de 2 (duas) sen-
tenças, de natureza civil e criminal;
II – na Justiça do Trabalho, na elaboração de 1 (uma) sentença trabalhista;
III – na Justiça Militar da União e na Justiça Militar estadual, de lavratura de sentença criminal.
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Diante desse grau de dificuldade, a proposta do curso é que você consiga redigir, de forma
técnica, racional e organizada, a sentença do tipo mais complexa. Se você souber fazer o que
é o mais difícil, não terá maiores problemas se a sentença tiver um grau de dificuldade menor.
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que a sua redação esteja de acordo com as regras gramaticais. É essencial, nesse pon-
to, o cuidado com a ortografia e com a gramática. Não é hora de inventar e aventurar-se
por uma escrita artificial para buscar impressionar o examinador. Nesse momento, use
o português que é do seu domínio e tente cometer o mínimo possível de deslizes;
• Simplicidade: apesar da solução jurídica ser uma solução técnica, é fundamental que a
comunicação seja realizada da forma simples, uma vez que nossa atenção deverá estar
voltada a facilitar a compreensão do nosso argumento. Imagine que o examinador terá
que ler uma quantidade expressiva de sentenças. Você precisa ser inteligente e facilitar
a vida dele, com um texto técnico, mas de fácil leitura e compreensão;
• Clareza: é necessário ser claro na mensagem para evitar dubiedade. Os argumentos
necessitam ser sólidos e inequívocos, com um desenvolvimento bem organizado para
que o examinador consiga acompanhar, sem nenhuma dificuldade, o seu raciocínio ju-
rídico. Provavelmente o examinador não terá paciência de reler aquilo que você escre-
veu para tentar compreender o seu argumento jurídico;
• Concisão: significa falar apenas o necessário. No entanto, dentro do que é necessário,
nada pode faltar. É importante exaurir a fundamentação e fazê-la com a profundidade
adequada, mas sem ser prolixo. Em alguns concursos, as bancas estão limitando o
número de linhas que o candidato poderá utilizar. Isso é um desafio tremendo, pois o
argumento jurídico não poderá ser esvaziado em face dessa limitação. Isso está em
sintonia com a objetividade da comunicação da nossa sociedade na atualidade;
• Imparcialidade: apesar de a solução jurídica atender, em geral, ao interesse de uma
parte e contrariar ao da outra, o juiz deve ter o cuidado de não parecer tendencioso.
O julgador jamais pode tomar partido de uma das partes, uma vez que o partido do
julgador é o próprio ordenamento jurídico. A redação “apaixonada” não é típica, nem
adequada em uma sentença. Um texto sólido de sentença prioriza os substantivos e
verbos, enquanto as demais classes gramaticais são usadas com cautela, em especial
adjetivos, pois eles rotulam, qualificam. Se você tem prática jurídica como advogado
ou como outro ator na relação processual, deverá ter cuidado redobrado para evitar a
exteriorização das paixões pela causa. O perfil de seleção para a prova de sentença é
de pessoas sensatas e equilibradas. Não se esqueça disso;
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Não se pretende, com essas dicas, esgotar as questões que envolvem o aspecto redacio-
nal da sentença, mas tão somente sensibilizá-lo de que esses cuidados são primordiais para
que não haja prejuízo na nota pela falta de domínio do uso do vernáculo.
A sua prova de sentença não poderá ser um laboratório para experiências, pois o risco de
um resultado desastroso será muito alto.
A preparação deve ser contínua, pois somente com a resolução reiterada de exercícios e
de provas você será capaz de aperfeiçoar a técnica para a elaboração da peça mais próxima
do ideal esperado pelo examinador.
Isso não é um bicho de sete cabeças, mas é essencial que você tenha o feedback de al-
guém com experiência e capacidade para corrigir o seu exercício.
2. Do Relatório
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O relatório somente não será essencial nas sentenças proferidas no sistema dos Jui-
zados Especiais Cíveis, em que ele é dispensado por força do disposto no art. 38 da Lei n.
9.099/1995. Entretanto, não é comum, nos concursos, a escolha de uma sentença de juizado
especial pelo examinador.
Para a boa elaboração do relatório, precisamos estar atentos à sua função primor-
dial: apresentar uma síntese das manifestações das partes e dos atos processuais mais
relevantes.
O texto deve ser essencialmente narrativo, construído na terceira pessoa do singular,
pois o objetivo, nesse momento, é fazer um relato histórico dos fatos e fundamentos jurí-
dicos na perspectiva apresentada pelas partes, bem como das principais ocorrências no
curso do processo.
Devemos ter o cuidado de não introduzir qualquer posicionamento do julgador sobre os
fatos e fundamentos invocados pelas partes, pois essa atividade deverá ser reservada para o
momento da fundamentação.
Em síntese, podemos dizer que o relatório representa a narrativa histórica do processo.
2.2. Conteúdo
É muito comum ficarmos em dúvida sobre o que é necessário inserir no relatório e o que
podemos omitir. Para responder a essa indagação, é importante observarmos a redação do
inciso I do art. 489 do CPC.
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contenha os nomes das partes, imagine que você se deparou com um litisconsórcio no
polo ativo ou no polo passivo da ação. Nessa situação, não está tecnicamente correto
utilizarmos no relatório a expressão “e outros” para fazermos referência aos demais
litisconsortes. Em um caso como esse, independentemente da quantidade de pessoas
que ocupam o polo, é necessário e indispensável nominar uma a uma. O termo “e ou-
tros” somente é admitido no preâmbulo (dados do cabeçalho da sentença), cuja função
é identificar o número do processo, a natureza da ação e as partes envolvidas. O pre-
âmbulo antecede a redação da sentença e não é um elemento obrigatório. Por vezes,
também nos deparamos com a seguinte redação: “Fulano e Sicrano, partes devida-
mente qualificadas nos autos, ajuizaram ação de indenização em face de Beltrano”.
A expressão “partes qualificadas nos autos” não é necessária no relatório, mas se você
inserir, não haverá nenhum erro. Evite, contudo, o emprego da expressão “devidamente
qualificadas”, tendo em vista que o “devidamente” enseja um juízo de valor, o que não é
adequado para o relatório. O nome dado à ação, embora não seja um requisito essen-
cial do relatório, geralmente é indicado no mesmo parágrafo em que identificamos os
nomes das partes. Essa é uma prática recomendável, pois facilitará a compreensão do
objeto da ação. Contudo, não há nenhum erro no texto que a suprime;
• Resumo do caso (causa de pedir): depois de identificarmos as partes, é hora de fazer-
mos um resumo da causa de pedir. A dica é iniciarmos pela leitura dos pedidos, pois,
se compreendermos o alcance da pretensão da parte autora, teremos mais facilidade
para relatar os fundamentos de fato e de direito que guardam relação com os pedidos,
evitando a narrativa de elementos que não trarão nenhuma repercussão para o julga-
mento. Muitos juízes preferem, por questão de estilo, relatar os pedidos antes de apre-
sentar a causa de pedir, justamente porque iniciam a leitura pelos requerimentos. Não
há nenhum equívoco nessa técnica, embora seja mais usual e recomendável para uma
prova de concurso que primeiro façamos a narrativa da causa de pedir e só, ao final,
relatemos os pedidos. A causa de pedir, conforme a teoria da substanciação adotada
pelo CPC, compreende os fundamentos de fato e de direito. Logo, o resumo da causa
de pedir precisa, a rigor, trazer tanto a narrativa dos fatos revelada pela parte autora,
quanto os argumentos jurídicos que ela invoca para a proteção do seu suposto direito
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violado. Na prática, entretanto, muitos juízes somente se atêm ao relato dos fundamen-
tos de fato, ancorados nos brocardos iura novit curia (o juiz conhece o direito) e da mihi
factum dabi tibi jus (dei-me os fatos e te dou o direito). Nas provas de concurso para
a magistratura, o mais usual é que o relatório seja fornecido pelo examinador. Nesses
casos, geralmente são apresentados tão somente os fundamentos de fato, pois a in-
tenção da banca é aferir se o candidato consegue fazer a subsunção desses fatos à
norma adequada;
• Os pedidos: o juiz não deve julgar aquém, além ou fora do que foi pedido. Portanto, são
os pedidos que delimitam até onde o julgador deve ir. Em suma, o juiz presta a jurisdi-
ção no limite da postulação.
Considerando que a sentença deve guardar perfeita correlação com a pretensão apresen-
tada pela parte autora, o art. 322 do CPC exige que o pedido seja certo, ou seja, expresso, a fim
de que não pairem dúvidas sobre qual é o bem jurídico que a parte busca proteção, evitando-
-se o julgamento extra petita.
Os casos de pedidos implícitos estão, expressamente, previstos em lei, tais como juros
legais, correção monetária, verbas de sucumbência e prestações sucessivas, no caso de obri-
gações continuadas.
No concurso, o candidato deve ter um cuidado especial com a identificação dos pedidos, pois
qualquer omissão acarretará a perda de pontos que poderão ser determinantes para uma aprova-
ção.
O pedido também deverá ser, em regra, determinado, conforme o disposto no art. 324 do
CPC. Exige-se, assim, que a parte identifique o bem jurídico em relação à sua qualidade e
quantidade, para que o juiz possa proferir uma sentença líquida, nos limites do que foi postu-
lado, evitando julgamentos citra ou ultra petita.
Contudo, nem sempre será possível quantificar o bem jurídico no momento do ajuizamen-
to da ação. Nessas situações, admite-se o pedido que denominamos genérico. Esses casos
estão previstos no § 1º do art. 324 do CPC.
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Um exemplo corriqueiro de pedido genérico ocorre nas ações de indenização por ato ilícito,
quando, na data da propositura da demanda, ainda não estão consolidados todos os danos cau-
sados à vítima, pois ainda estarão pendentes, muitas vezes, tratamentos e cirurgias reparadoras.
Para esses casos, admite-se a sentença ilíquida, ficando para uma fase posterior a liquidação do
julgado.
Embora seja mais comum a formulação dos pedidos no final da petição inicial, não há
nenhuma exigência legal nesse sentido. Portanto, no momento do relatório, devemos ficar
bastante atentos a eventuais pedidos formulados no meio da petição inicial, pois eles deverão
ser, necessariamente, apreciados, sob pena de julgamento citra petita.
A fim de evitar o excessivo rigor formal e prestigiar o princípio da boa-fé, o CPC orienta o
julgador a interpretar o pedido pelo conjunto da postulação e pelo princípio da boa-fé.
Com isso, não estamos sustentando que há uma carga de subjetividade para o juiz, pois
ele não pode criar e nem inovar, mas tão somente reforça-se a ideia de que o juiz deve ultra-
passar imprecisões técnicas que não comprometem a compreensão do que, efetivamente, é a
pretensão da parte.
Se, na causa de pedir, é feito o resumo ou a síntese da narrativa da parte, no relato do pe-
dido deve-se permanecer, o mais fiel possível, ao que foi postulado, em geral transcrevendo o
pedido na forma em que ele consta na petição inicial.
A correta identificação dos pedidos é primordial para a fundamentação da sentença, pois
os capítulos de mérito da fundamentação coincidem, exatamente, com os pedidos formula-
dos na petição inicial.
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2º – Prejudiciais de mérito:
• prescrição;
• decadência;
3º – Defesa de mérito:
• defesas de mérito diretas;
• defesas de mérito indiretas.
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Realização de prova pericial ou outras provas: se houve o ingresso na fase instrutória para
a produção de prova técnica pericial, é importante destacar no relatório a existência de laudo
do perito e eventuais pareceres dos assistentes técnicos, em face da repercussão dessa pro-
va na resolução da matéria fática.
Da mesma forma, a prova testemunhal, a inspeção judicial ou qualquer outra prova deverá
ser mencionada no relatório.
Não é necessário fazer nenhuma menção ao conteúdo da prova que foi produzida no proces-
so e, muito menos, deve-se proceder a qualquer valoração sobre ela, pois isso é reservado à
fundamentação.
Alegações finais: nesse momento, as partes fazem as suas últimas considerações sobre
a prova produzida na fase instrutória para reforçar que se desincumbiram de seu ônus pro-
batório.
Caso as partes tenham levantado alguma questão relevante sobre a produção probatória,
é importante que seja mencionada no relatório. Entretanto, se as alegações se limitarem a fa-
zer remissivas às peças da fase postulatória, não há necessidade de repetir esses argumen-
tos no relatório, sendo suficiente a menção à existência dessas peças processuais.
Além dessas peças e atos processuais, é importante que o relatório traga qualquer outra
ocorrência no processo que gere alguma repercussão no julgamento, como é o caso das in-
tervenções de terceiros.
DICA!
Nem tudo que foi juntado ao processo precisa ser relatado.
Evite fazer menção genérica à juntada de documentos, subs-
tabelecimentos, cargas, pedidos de vista e outros aconteci-
mentos no curso do processo que em nada influenciarão na
sentença e tornarão o seu relatório extenso e cansativo.
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Tempo verbal: como o relatório é uma narrativa histórica do processo, o tempo verbal
mais adequado é o pretérito perfeito.
Por questão de estilo, também se admite a utilização do tempo presente para iniciar o re-
lato da petição inicial, da contestação e da réplica.
Verbos adequados para o relato das petições das partes: utilize verbos que não trazem juí-
zo de valor, pois o relatório é uma mera reprodução dos fundamentos da parte. O juiz somente
irá manifestar o seu entendimento na fundamentação.
Alguns verbos usuais: relatar, dizer, asseverar, narrar, sustentar, aduzir.
Para evitar um texto cansativo, podemos fazer o relato da petição inicial ou da contesta-
ção num único parágrafo. No exemplo apresentado ao final do conteúdo dessa aula, você verá
como isso pode ser feito.
Ordem lógica ou ordem cronológica dos atos processuais: os atos processuais nem sem-
pre são praticados na ordem estabelecida no CPC para o desenvolvimento do rito processual.
Ainda que isso ocorra com alguma frequência, prefira relatar na ordem lógica em detrimento
da ordem cronológica para facilitar a compreensão de quem irá ler a sentença.
Por exemplo, se a réplica é apresentada, prematuramente, antes de alguma das contesta-
ções, é melhor relatar primeiro todas as contestações e, somente depois, a réplica.
Entretanto, se você preferir fazer o relatório seguindo fielmente a ordem cronológica dos
atos, não há nenhum problema. É uma decisão que fica ao critério do candidato.
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Jayder Araujo
Processo: 2019.01.1.999999
Ação: INDENIZAÇÃO
Autora : MARIA DONA DA RAZÃO
Réus: CELULAR LENTIDÃO S/A e outro
Obs.:
Isso é o que chamamos de preâmbulo. Não é necessário que ele conste em sua sentença.
SENTENÇA
MARIA DONA DA RAZÃO ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais em
face de CELULAR LENTIDÃO S/A e BANCO DE DADOS DE INADIMPLENTES S/A.
Obs.: nesse primeiro parágrafo, é essencial o relato dos nomes das partes. Observe que não
se deve usar a expressão “e outro”. Ela somente é permitida no preâmbulo visto. Se
houvesse dez pessoas integrando um dos polos da ação, o correto seria nominá-las
uma a uma.
Em sua petição inicial, narrou a autora que: (i) terceira pessoa, de forma fraudulenta, utilizou
seu número de CPF para habilitar uma linha de telefone celular perante a primeira requerida; (ii)
em razão do não pagamento das faturas, o seu nome foi negativado perante o banco de dados
administrado pela segunda ré; (iii) registrou ocorrência policial e tentou por diversas vezes
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resolver a questão perante a primeira requerida, mas não obteve sucesso; (iv) sofreu constran-
gimento ao tentar adquirir um veículo, cujo financiamento foi recusado devido à inscrição de seu
nome no cadastro de inadimplentes; (v) somente após cinco meses houve a baixa da negativa-
ção; (vi) a anotação do seu nome de forma indevida em cadastro público de devedores abalou a
sua honra, razão pela qual deverá ser indenizada em razão dos danos morais suportados; (vii)
suportou, ainda, danos materiais que devem ser também reparados, uma vez que o veículo que
tentou adquirir custava R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e, em razão da conduta das rés, não conse-
guiu concretizar a compra.
Obs.: observe que a síntese da causa de pedir foi feita em um só parágrafo. Isso é questão
de estilo. Fica essa dica, pois ela agiliza a elaboração da sentença.
Obs.: todos os pedidos devem ser relatados da forma mais fiel possível ao que consta na
petição inicial. Isso será primordial para que a sentença não padeça de nenhum vício
(citra, ultra ou extra petita).
Citadas, as rés compareceram à audiência de conciliação. Não houve acordo entre as par-
tes.
Obs.: esse parágrafo apresentou atos relevantes da marcha processual. Não há necessi-
dade de nenhum detalhamento sobre como se desenrolou a audiência, exceto se foi
consignado na ata algo que terá repercussão na sentença.
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Sentença Cível
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ajuizou a ação em Brasília-DF. Entende, assim, que pela norma de proteção ao consumidor,
deve ser declinada da competência para uma das varas cíveis de Taguatinga, ainda que as rés
tenham sede em Brasília-DF.
No mérito, alegou que tanto a requerente como a ré foram vítimas de ato ilícito praticado
por terceiro de má-fé. Logo, como se trata de culpa exclusiva de terceiros, deve ser afastada a
sua responsabilização civil. Disse, ainda, que a negativação do nome do titular da dívida não
configura ilícito passível de indenização.
Pugnou pelo acolhimento das preliminares ou, acaso ultrapassadas, pela improcedência
dos pedidos. Em caso de entendimento diverso, pleiteou a redução da indenização por danos
morais para um valor não superior a R$ 2.000,00, a fim de evitar o enriquecimento sem causa
da autora.
Obs.: para fazer a síntese da contestação, utilizei outro estilo igualmente correto, com o
desdobramento em dois parágrafos. Observe que é essencial que esses relatos sejam
iniciados por verbos como “suscitou”, “arguiu” (para preliminares), “alegou”, “disse”
(para a defesa de mérito), tudo para deixar claro que é o relato na ótica da versão da
parte.
A segunda ré aduziu, em sua defesa, que: (i) antes de incluir o nome da autora no cadastro
de devedores, promoveu a comunicação prévia; (ii) não tem o dever de verificar a veracidade
do débito, pois essa obrigação é exclusiva da pessoa jurídica que requereu a inclusão; (iii)
agiu em perfeita conformidade com a lei e não pode ser responsabilizada civilmente pelos
prejuízos alegados pela autora, os quais decorreram, exclusivamente, da conduta da outra ré;
(iv) diante desse contexto, não é parte legítima para ocupar o polo passivo. Pediu a sua ex-
clusão do processo em face da ilegitimidade ou, caso negado, a improcedência dos pedidos.
Em réplica, a autora rebateu os argumentos lançados nas peças de defesa e requereu o
acolhimento dos seus pedidos, nos termos da petição inicial.
Intimadas a especificarem provas que ainda pretendessem produzir, as partes permane-
ceram em silêncio.
É o relatório.
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Obs.:
embora haja críticas à expressão “é o relatório”, ela foi consagrada nos textos das sen-
tenças. Entretanto, não há nenhuma exigência de que ela conste em seu texto. O mais
importante será delimitar, com clareza, onde se encerra o relatório e se inicia a funda-
mentação.
3. Da Fundamentação
Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos,
às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.
Portanto, não fundamentamos as nossas sentenças por mera liberalidade ou para o nos-
so deleite, mas para atender a um requisito de validade do ato judicial.
O Código de Processo Civil descreve em que consiste a fundamentação válida da sentença
e de outras decisões judiciais. Segundo o inciso II do art. 489, na fundamentação o juiz deverá
analisar as questões de fato e de direito. Isso define qual é o conteúdo da fundamentação.
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Art. 489, § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidên-
cia no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Todos os incisos do referido artigo convergem para um propósito: exigir que o julgador
apresente uma solução jurídica à luz do caso concreto, enfrentando diretamente os funda-
mentos de fato e de direito apresentados pelas partes, a fim de que sejam compreendidas
quais foram as razões que o levaram à conclusão final, evitando a aplicação de fórmulas genéricas
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Para isso, precisamos compreender que as questões de fato e de direito possuem uma
na contestação.
Portanto, não organizamos a fundamentação pelas questões de fato e de direito, mas
pelas postulações apresentadas pelas partes. Na solução de cada pedido nos debruçaremos
sobre os fundamentos de fato e de direito a ela relacionadas.
Na prática, estruturamos o esqueleto da fundamentação da seguinte forma:
• identificamos quais são os pedidos formulados pelo requerente. Cada pedido é um “ca-
pítulo” da fundamentação de mérito;
• em seguida, identificamos quais são as questões processuais invocadas pelo réu na
sua contestação. Cada questão processual representa uma preliminar;
• por fim, identificamos as questões passíveis de serem conhecidas de ofício pelo jul-
gador (sobre essas o juiz previamente deverá ter permitido o contraditório das partes
como direito de conhecimento, reação e de influência na solução jurídica). Logo, na
prova de concurso, não podemos incorporar na fundamentação nenhuma questão, ain-
da que possa ser conhecida de ofício, sem que haja a informação de que o juiz a iden-
tificou e permitiu às partes que sobre ela se manifestassem.
Feito isso, teremos todas as questões submetidas à análise na fundamentação. Para fa-
cilitar essa compreensão, observe o quadro a seguir:
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De acordo com esse exemplo, podemos extrair que nessa sentença teremos sete ques-
tões a serem analisadas na fundamentação. A ordem de apreciação deve seguir, exatamente,
a organização do quadro.
Se observarmos fielmente as questões levantadas, não correremos o risco de proferirmos
uma sentença com vício (citra, ultra ou extra petita).
Portanto, devemos solucionar, primeiro, as questões relacionadas a pressupostos proces-
suais, na sequência as condições da ação, as prejudiciais de mérito e, por fim, as de mérito.
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DICA!
a) os pressupostos processuais e as condições da ação estão
elencados no art. 337 do CPC. Considerando que somente te-
mos duas condições da ação – legitimidade e interesse – to-
dos os demais constituem pressupostos processuais.
b) os pressupostos processuais são apreciados antes das
condições da ação;
c) a análise da arguição de incompetência deve anteceder a
qualquer outra, pois o juiz incompetente não está autorizado
a decidir sobre nenhuma outra questão.
DICA!
No CPC não há nenhuma menção à utilização de tópicos na
fundamentação. Logo, tecnicamente, não há nenhuma reco-
mendação nesse sentido. É uma questão de estilo. Observe,
entretanto, que o seu uso favorece a organização e facilita a
leitura.
Mas, mesmo que você não goste de dividir a fundamentação em tópicos, a redação da
sentença deve seguir, com rigor, a ordem das questões levantadas, evitando qualquer atropelo
ou a análise de uma questão subsequente sem que a anterior esteja esgotada. Haverá, ainda,
a possibilidade de criação de subtópicos para uma questão, a depender da sua complexidade.
Após a definição das questões da fundamentação, é necessário que identifiquemos quais
são os fundamentos de fato e de direito invocados pelas partes em relação a cada uma delas,
pois o juiz deverá analisá-los explicitamente e de forma exauriente, sob pena de omissão do
julgado.
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Extraímos desse exemplo que há uma razão que orienta a conclusão de que Sócrates é
mortal. Essa solução somente poderia ser rebatida caso se provasse que uma das premissas
não representa uma verdade.
No silogismo jurídico, nos espelhamos nessa lógica argumentativa dedutiva. Contudo,
na ciência do Direito, não trabalhamos com verdades postas, pois o sentido e o alcance das
normas sempre serão palco de debates e controvérsias, podendo haver conclusões interpre-
tativas diametralmente opostas para um mesmo fato jurídico.
Não obstante esse desafio, utilizamos a base teórica de Aristóteles como suporte para de-
senvolvermos o raciocínio jurídico, mesmo conscientes de que a solução apresentada sempre
poderá ser contrariada quando houver eleição de premissas equivocadas.
No campo jurídico, a premissa maior será construída com base no nosso ordenamento
jurídico, ou seja, a solução jurídica válida deverá estar baseada, ordinariamente, no conjunto
de normas e princípios que integram o nosso universo jurídico submetidas a um trabalho
hermenêutico do julgador.
A fim de que não pairem dúvidas sobre a base da argumentação jurídica, o art. 4º do De-
creto-Lei n. 4.657/1942 – Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro – prescreve que a
lei é a fonte primária para a construção da decisão judicial e somente quando ela for omissa
o juiz poderá utilizar os meios de integração – a analogia, os costumes e os princípios gerais
do direito.
Por sua vez, o art. 140 do CPC reforça a ideia de que a lei é a fonte primária a ser utilizada
pelo juiz para a construção das soluções às questões que lhe são apresentadas pelos litigan-
tes, mas que ele não poderá se eximir de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico, pois nessas situações deverá valer-se das formas de integração.
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento
jurídico.
A equidade, por sua vez, somente poderá ser utilizada quando houver permissão legal
para que a decisão seja calcada tão somente no senso do justo, conforme está disposto no
parágrafo único do art. 140 do CPC.
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Art. 140, Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
A Lei n. 9.099/1995 é um exemplo de diploma legal que permite ao juiz utilizar-se da equi-
dade como fundamento da sua decisão.
Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos
fins sociais da lei e às exigências do bem comum.
Não se proíbe que na premissa maior nos valhamos de outros argumentos racionais e
nem de lições de outros ramos do conhecimento, desde que também fundadas na razão.
A vedação é somente quanto à utilização única e exclusiva de argumentos não jurídicos,
pois nesse caso a decisão padeceria de nulidade por falta de fundamentação válida.
Em provas de concurso a sugestão é que você não utilize argumentos não jurídicos para
a elaboração da sua solução.
Além das disposições legais já citadas, também devemos dar atenção especial ao art. 8º
do CPC, o qual exige do juiz que, ao aplicar o ordenamento jurídico, atenda aos fins sociais e
às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana
e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporciona-
lidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
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pouco do interesse do examinador em relação aos argumentos do candidato, uma vez que
de antemão ele já se deparará com a solução. Logo, a minha dica é nunca iniciar a análise da
questão pela conclusão.
Há situações em que a questão controvertida é predominantemente relacionada aos fa-
tos. Nesses casos, é comum iniciamos a fundamentação nos debruçando sobre a prova para
definirmos como, na verdade processual, os fatos se desenrolaram.
Em outras palavras, há casos em que iniciamos a fundamentação pela premissa menor
para, em seguida, invocamos a norma jurídica que será considerada para a análise da ques-
tão.
Na sentença, cada questão identificada, seja ela de natureza processual ou de direito ma-
terial, nos exigirá, na fundamentação, a construção de um silogismo jurídico para solucioná-
-la. Portanto, em uma sentença haverá, em regra, mais de um silogismo.
Nesse sentido, devemos ter o cuidado de não iniciarmos a solução de uma questão sem
que a fundamentação da anterior tenha sido esgotada, sob pena de nosso texto ficar confuso
e pouco persuasivo.
Para fixarmos melhor a construção do raciocínio jurídico silogístico, vejamos como ficaria
o esqueleto da fundamentação de um caso de indenização por ato ilícito fundado em respon-
sabilidade subjetiva extracontratual:
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RELATÓRIO
Cuida-se de ação de cobrança proposta por CONDOMÍNIO VIDA BOA em face de JOÃO
DOCALOTE.
Alega o autor que: (i) o réu é proprietário do apartamento 203 do Edifício Vida Boa e en-
contra-se em atraso com o pagamento das taxas condominiais vencidas nos meses de julho
a dezembro de 2019; (ii) a cláusula X da convenção do condomínio estabelece a obrigação de
cada condômino pagar a taxa condominial na proporção de sua fração ideal; (iii) a taxa ordi-
nária foi fixada em assembleia no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada unidade,
a vigorar durante o ano de 2019. Pede, ao final, a condenação do réu ao pagamento das taxas
condominiais inadimplidas.
Instruiu seu pedido com certidão da matrícula do imóvel do réu, a convenção do condo-
mínio, a ata da assembleia que fixou a taxa condominial bem como apresentou a planilha
discriminada do débito.
Na contestação, o réu alegou que efetuou o pagamento das parcelas referentes aos me-
ses de julho e agosto, mas que não teria o comprovante.
Em réplica, o requerente refutou a quitação das referidas parcelas.
Nenhuma das partes manifestou interesse em produzir outras provas.
É o breve relatório. Decido.
Veja como seria a solução da questão:
NORMA INTERPRETADA (PREMISSA MAIOR)
Conforme o disposto no art. 1.336, inciso I, do Código Civil, o condômino tem o dever de
contribuir para as despesas do condomínio, na proporção da sua fração ideal, salvo disposi-
ção em contrário na convenção.
Obs.: podemos observar que não há nenhuma discussão mais relevante em relação à pre-
missa maior, tendo em vista que a interpretação literal da norma eleita é suficiente
para a solução jurídica da questão.
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Conforme ata da assembleia geral ordinária, restou definido o valor da taxa ordinária de
condomínio em R$ 500,00 para cada unidade habitacional, a vigorar a partir de janeiro de 2019.
O Condomínio, por meio da certidão da matrícula do imóvel, também comprovou que o
requerido é proprietário da unidade 203 e, também, apresentou a planilha discriminada das
parcelas em atraso, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros e multa convencional,
na forma prevista na Convenção Condominial.
Obs.: é importante identificar o conteúdo de defesa. Nesse caso, a defesa está fundada em
um fato extintivo do direito. Logo, deve ser abordado dentro da premissa menor (fatos
provados).
CONCLUSÃO
Logo, como o réu não comprovou o alegado fato extintivo da obrigação que lhe é exigida,
deverá cumprir com seu dever legal enquanto condômino e arcar com o pagamento de todas
as prestações em atraso, a contar de julho de 2019.
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Obs.: a conclusão do raciocínio pode ser sintetizada como a consequência das premissas
adotadas.
É óbvio que na sentença não iremos escrever “premissa maior”, “premissa menor” e “con-
clusão”. Isso foi colocado no texto tão somente para efeitos didáticos, a fim de que você
compreenda, com clareza, o passo a passo que foi seguido para a construção de uma funda-
mentação adequada.
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A jurisprudência, por sua vez, pode ser definida como a reiteração de decisões judiciais
proferidas por órgãos colegiados sempre em um mesmo sentido.
É utilizada na fundamentação da sentença como elemento de confirmação da interpreta-
ção do julgador, ratificando que a sua solução jurídica está em conformidade com o entendi-
mento dominante já sedimentado em casos análogos.
Devemos nos atentar que na prova não será possível a consulta à jurisprudência e nem a
inserção da ementa de um acórdão. O essencial é que o candidato afirme que a solução está
de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Para isso, é fundamental o domínio
das súmulas, das teses dos repetitivos e dos informativos do STJ e do STF.
Se for o caso de aplicação de enunciado de súmula ou de tese de repetitivo, isso deve ser
mencionado, expressamente, na prova, pois demonstra que o candidato tem esse domínio.
Por óbvio, não se exige que seja indicado o número ou que seja transcrita a redação exata da
súmula ou da tese, mas somente o seu sentido.
DICA!
a) Enquanto no relatório utilizamos a linguagem predominan-
temente narrativa, a fundamentação melhor se harmoniza
com o texto dissertativo.
b) Uma questão preliminar jamais poderá se confundir com o
mérito. É como água e óleo, não se misturam. O que ocorre,
com frequência, é a invocação, pela parte, de fundamento de
mérito para justificar uma preliminar. Nessa situação, ao in-
vés de dizermos que a preliminar se confunde com o mérito,
devemos afirmar que o argumento invocado para fundamen-
tar a questão preliminar refere-se ao mérito e no momento
adequado será enfrentado.
c) Se uma determinada Lei irá orientar a solução de mais de
uma questão, podemos fazer essa referência antes de iniciar-
mos a solução de cada questão, para evitarmos o texto repeti-
tivo. Exemplo: se a relação é de consumo, antes de iniciarmos
a primeira questão identificada, podemos fixar que a relação
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Art. 373, § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior
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facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportuni-
dade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
Art. 6º, VIII – São direitos básicos do consumidor: a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for veros-
símil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Se esse pedido de inversão do ônus da prova ainda está pendente de análise no momento
da sentença, é necessário que ele seja analisado e rejeitado, uma vez que, se a inversão for
acolhida, teremos que converter o julgamento em diligência para franquear à parte que se
desincumba desse ônus que, pela distribuição estática, não lhe cabia.
Veja, a seguir, uma proposta de solução para uma questão dessa natureza, caso caia na
sua prova de concurso:
Exemplo: conforme o disposto no art. 6º, inciso VIII, do CDC, o juiz poderá inverter o ônus da
prova, nas relações de consumo, a fim de facilitar a defesa do consumidor em juízo, sempre
que a sua alegação for verossímil ou quando ele estiver numa posição de hipossuficiência na
relação jurídica.
No caso em análise, embora o autor esteja em posição de hipossuficiência perante a parte ré,
reputo que a prova dos fatos constitutivos do seu direito está ao seu alcance, tanto que, com
a sua petição inicial, foram juntados documentos suficientes para a comprovação dos fatos
narrados. Ademais, não houve impugnação específica na contestação, tornando esses fatos
incontroversos.
Com efeito, não reconheço a necessidade de inversão do ônus da prova para a facilitação da
defesa do consumidor em juízo, razão pela qual indefiro o pedido.
Passo, de imediato, à análise das preliminares pendentes e ao julgamento antecipado do
mérito, nos termos do artigo 355, inciso I, do CPC.
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Para isso, não podemos nos esquecer de que o juiz é o destinatário das provas e compete
a ele fazer o controle sobre a necessidade de incursão na fase instrutória, a fim de evitar atos
processuais inúteis ou de cunho protelatório.
A fim de facilitar, observe como isso poderá ser feito na sua prova:
Exemplo: conforme o disposto nos artigos 139, II e 370, parágrafo único, do CPC, o juiz deve
velar pela rápida solução dos litígios, indeferindo as diligências inúteis ou meramente prote-
latórias, que em nada poderão contribuir para a elucidação das questões fáticas.
No caso em análise, a prova pericial postulada pela ré não teria nenhuma utilidade para o
esclarecimento dos fatos, tendo em vista que o veículo do autor já foi reparado e, assim, não
seria possível, com a realização da perícia, a identificação das possíveis avarias causadas
pelo acidente.
Ademais, reputo que os fatos relevantes estão suficientemente elucidados pelas provas docu-
mentais juntadas pelas partes, não havendo a necessidade de incursão na fase instrutória
para a produção de novas provas.
Nesse sentido, indefiro o pedido de produção de prova pericial e passo, de imediato, à análise
das preliminares pendentes e ao julgamento antecipado do mérito, nos termos do artigo 355,
inciso I, do CPC.
Veja que, logo após o indeferimento do pedido de produção de provas, iremos destacar
que o processo está maduro para julgamento e, assim, justificar o caso de julgamento ante-
cipado do mérito, em conformidade com o art. 355, inciso I, do CPC.
Justificativa de que o processo está maduro para julgamento: a situação mais comum
nas provas de concurso é que não haja pedido de inversão do ônus da prova e nem pedidos
de produção de provas ainda pendentes de apreciação.
Nesses casos, partimos, desde logo, para o 3º passo e justificamos que se trata de caso
de julgamento antecipado do mérito. Veja como isso poderá ser feito:
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as partes não demonstraram interesse na produção de outras provas. Assim, passo, de ime-
diato, à análise das questões preliminares e ao julgamento antecipado do mérito, em confor-
midade com o disposto no artigo 355, inciso I, do CPC.
Julgamento de processo em que houve a fase instrutória: há casos em que houve a incur-
são na fase instrutória, seja para a produção de prova pericial ou para a realização de prova
em audiência de instrução e julgamento.
Nessa hipótese, não está correto justificar que se trata de julgamento antecipado, tendo
em vista que a relação processual se desenvolveu em todas as fases.
Em algumas provas de concurso, temos nos deparado com essa situação. Tecnicamen-
te, para que houvesse o ingresso na fase instrutória, seria necessário que fosse proferida
uma decisão de saneamento e organização do processo, com a resolução das questões
preliminares.
No entanto, o examinador negligencia, de forma proposital, o prévio saneamento do pro-
cesso, a fim de que o candidato tenha que enfrentar as questões processuais na sentença.
Portanto, nunca podemos descuidar disso. Se não há informação no relatório de que hou-
ve decisão saneadora, não faça nenhuma dedução a esse respeito, pois o examinador espera
que você analise todas as questões pendentes na fundamentação da sentença.
Se esse for o caso da sua prova, segue uma proposta de introdução adequada da funda-
mentação:
Análise das questões jurídicas (4º ao 7º passos): quando ultrapassamos essa introdução
da fundamentação, representada pelos passos 1, 2 e 3, passamos a analisar as questões ju-
rídicas, que poderão ser de quatro naturezas, conforme já estudamos: pressupostos proces-
suais, condições da ação, prejudiciais de mérito e questões de mérito.
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A ordem de apreciação é exatamente essa. Nesse momento, precisamos ser bastante téc-
nicos, evitando o atropelo de uma questão sem que a anterior tenha sido analisada de forma
exauriente e, também, que não haja nenhuma inversão na ordem de análise. Isso irá eviden-
ciar para o examinador que você domina, com perfeição, a estrutura da sentença.
Não se esqueça de construir um silogismo jurídico completo para a análise de cada ques-
tão, com premissa maior, premissa menor e conclusão.
Análise de pedidos de tutela antecipada: na sentença deverão ser resolvidas todas as
questões pendentes que forem apresentadas no relatório, inclusive pedidos de tutelas provi-
sórias cautelares ou antecipatórias.
Em ambos os casos, a recomendação é de que essas questões sejam apreciadas após
a análise das questões meritórias, tendo em vista que não será mais necessário apreciar o
primeiro requisito para o deferimento dessas tutelas, qual seja, a plausibilidade do direito,
uma vez na sentença já se terá, àquela altura, uma solução exauriente sobre a existência do
direito.
Logo, somente restará, nos casos de tutela de urgência, a apreciação do segundo requisi-
to do art. 300 do CPC, consistente no perigo de dano ou no risco ao resultado útil do processo,
tendo em vista que a probabilidade do direito já estará superada em face do juízo exauriente
decorrente da solução da questão meritória.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabi-
lidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
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Não podemos nos esquecer de que a tutela provisória exige requerimento expresso da
parte, conforme o disposto no art. 299 do CPC.
Art. 299. A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo com-
petente para conhecer do pedido principal.
Portanto, se no relatório não há pedido expresso dessa natureza, não podemos analisá-
-lo de ofício, ainda que o caso recomende a concessão da tutela em face, principalmente, da
urgência.
Análise das questões relacionadas à conduta processual das partes (litigância de má-fé
e atos atentatórios à dignidade da justiça): por fim, devemos analisar como foi a conduta das
partes. O art. 80 do CPC define as condutas da parte que poderão caracterizar litigância de
má-fé. Vejamos.
Essas condutas podem ser sancionadas de ofício pelo juiz ou a requerimento da outra
parte e, acaso acolhido, ensejará a condenação do litigante de má-fé ao pagamento de multa
arbitrada pelo juiz em quantia superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corri-
gido da causa, exceto se o valor da causa for irrisório ou inestimável, caso em que será fixado
em até dez salários mínimos.
Além da multa, o litigante de má-fé também deverá indenizar a parte contrária por even-
tuais prejuízos que tenha lhe causado.
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Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá
ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte
contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as
despesas que efetuou.
§ 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção
de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte
contrária.
§ 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez)
vezes o valor do salário-mínimo.
§ 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado
por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
Além da litigância de má-fé, a parte também poderá ser sancionada em face de atos aten-
tatórios à dignidade da justiça. Os atos dessa natureza, relacionados à fase de conhecimento
do processo, estão previstos no art. 77, incisos IV e VI c/c § 2º, art. 334, § 8º, do CPC.
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de
todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
IV – cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar
embaraços à sua efetivação;
VI – não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça,
devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao res-
ponsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta.
Art. 334, § 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação
é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por
cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do
Estado.
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Para tanto, segue a fundamentação do nosso caso apresentado durante o estudo do re-
latório.
Antes de iniciarmos a redação, é importante que relembremos quais são as questões
jurídicas que deverão ser analisadas na fundamentação. Para isso, observemos o quadro
a seguir:
Decido.
As questões controvertidas estão suficientemente elucidadas pelos documentos junta-
dos pelas partes, estando o processo em condição de receber julgamento. Ademais, as partes
não demonstraram interesse na produção de outras provas. Assim, passo, de imediato, à aná-
lise das questões preliminares e ao julgamento antecipado do mérito, em conformidade com
o disposto no artigo 355, inciso I, do CPC.
Obs.: este parágrafo introdutório revela que o processo está maduro para julgamento e que
se trata de caso de julgamento antecipado do mérito. Em sua prova, você poderá
chegar com esse texto pronto, a fim de não perder tempo buscando a melhor forma
de fazer essa introdução.
Lembrar que no nosso caso não houve o pedido de inversão do ônus da prova e nem
pedidos de produção de prova. Caso tivesse alguma dessas duas questões, devería-
mos enfrentá-las em primeiro lugar.
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A relação jurídica estabelecida entre as partes caracteriza-se como uma relação de con-
sumo, uma vez que a parte requerida atuou na condição de fornecedora de produtos e servi-
ços, enquanto a parte autora figurou como consumidora por equiparação ou bystander, pois
foi vítima do evento danoso por ela narrado, em perfeita consonância com a interpretação
conjunta dos artigos 2º e 17 do Código de Defesa do Consumidor.
Portanto, as questões serão solucionadas à luz do sistema de proteção ao consumidor.
Obs.: sempre que um diploma legal for nortear a solução de várias questões, podemos usar
essa técnica e definir qual é a natureza jurídica da relação de direito material estabe-
lecida entre as partes, a fim de que, ao iniciar a solução de cada uma das questões,
não haja a necessidade de justificar a aplicação da lei específica para o caso em aná-
lise.
Obs.:
no primeiro parágrafo foi desenvolvida a premissa maior que servirá de base para a
solução da questão. Veja que há menção expressa aos dispositivos legais que estão
sendo invocados e interpretados para a solução da questão preliminar suscitada pela
parte ré.
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Nesse sentido, não há razão para se declinar da competência para a comarca do local em
que a requerente é domiciliada, uma vez que, no momento do ajuizamento, ela optou pelo foro
do domicílio da empresa ré, que nenhum prejuízo pode alegar em relação a essa escolha.
Obs.: nesse parágrafo, foi feita a subsunção dos fatos incontroversos – requerente domi-
ciliada em um local e propôs a ação em outro – à norma anteriormente interpretada
para se extrair a conclusão de que não fundamento para o declínio da competência.
Obs.: quando é o caso de rejeição de uma preliminar, há duas possibilidades. A primeira foi
a minha opção, consistente em somente concluir no sentido de que a preliminar deve
ser rejeitada. Fiz isso porque a resolução da questão, tecnicamente, integra o dispo-
sitivo.
Contudo, convém destacar que não há nenhum erro técnico na rejeição da preliminar
no próprio corpo da fundamentação, pois essa prática tornou-se bastante comum
nas sentenças. Se a opção fosse essa, a solução deveria ser construída em primeira
pessoa, dessa forma: “Logo, rejeito a preliminar”.
Observe que “a preliminar deve ser rejeitada” (conclusão da análise) não equivale a
“rejeito a preliminar” (decisão da questão).
Deve-se ter o cuidado de não decidir a mesma questão duas vezes ou de não apre-
sentar decisão em relação a ela.
A falta de resolução da questão ocorreria se, na primeira hipótese, não houvesse a
rejeição da preliminar no dispositivo.
A duplicidade de solução, por seu turno, ocorreria se no dispositivo houvesse a repeti-
ção da expressão “rejeito a preliminar” da mesma forma como foi posta na fundamen-
tação.
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Obs.: no primeiro parágrafo foi trabalhada a premissa maior, ou seja, a norma jurídica
interpretada.
No segundo, foi delimitada a situação fática relacionada à questão.
Por fim, no terceiro parágrafo foi feita a subsunção dos fatos à norma, com a con-
clusão de que não há nenhuma irregularidade na representação processual da parte
autora.
Isso é um silogismo completo. É o que o examinador espera que você faça em rela-
ção a cada questão.
A maior pontuação da solução está na escolha adequada da norma e sua interpre-
tação conforme a doutrina e a jurisprudência prevalente nos tribunais superiores.
Obs.: observe que esse primeiro parágrafo apresenta a interpretação do instituto jurídico
à luz da doutrina. É o tipo de texto que precisa ser trabalhado e memorizado para o
dia da prova, pois ele servirá como premissa maior sempre que essa preliminar for
suscitada pela parte ré.
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No caso em análise, resta claro que a pretensão deduzida pela autora é útil e necessá-
ria para a reparação dos danos que ela alega ter suportado. A via indenizatória, por sua vez,
XXXV, da Constituição Federal, não havia necessidade de que a requerente formalizasse, pre-
Logo, o interesse de agir da requerente é induvidoso, de modo que também deverá ser
Obs.: é importante observar que o argumento invocado pela parte ré para justificar a even-
tual falta de interesse de agir (falta de pedido administrativo prévio) foi devidamente
enfrentado.
Na prova, por mais espinhoso que seja o fundamento de fato ou de direito apresen-
ação é necessário que a parte detenha legitimidade para a causa. Essa condição da ação con-
em juízo, ou seja, ela representa a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, a legitimi-
dade pode ser definida como a titularidade ativa e passiva frente ao direito invocado.
na petição inicial, exigindo-se tão somente que haja uma correlação entre as pessoas indica-
das na relação de direito material e aquelas que figuram nos polos da ação. Acresça-se que
a efetiva confirmação dos fatos e a existência do direito postulado são questões afetas ao
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Obs.: perceba que o fundamento invocado pela parte para sustentar a ilegitimidade não
foi ignorado. Houve a ressalva, contudo, que se trata de fundamento relacionado ao
mérito e no momento oportuno será enfrentado.
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Obs.: essa primeira questão meritória exigiu muita atenção para a delimitação do instituto
jurídico em debate. Isso será fundamental na prova.
No caso, a premissa maior está relacionada ao plano da existência dos negócios jurí-
dicos. A solução pautada em outros fundamentos ensejaria um raciocínio falacioso,
ou seja, seria invocada uma premissa impertinente ao tema jurídico como fundamen-
to para a procedência do pedido.
Observe que o desafio não está no acolhimento do pedido de declaração de inexistên-
cia da relação jurídica. A complexidade reside na eleição da norma jurídica adequada
para essa análise.
No caso em apreço, a autora afirmou que jamais firmou qualquer contrato com a primeira
requerida. A ré, em sua contestação, tornou incontroverso esse fato, pois reconheceu que a
linha telefônica foi ativada por uma terceira pessoa, mediante fraude, a qual teria se utilizado
dos documentos da requerente para firmar o contrato.
Portanto, resta induvidosa a inexistência de manifestação de vontade firmada pela autora
para a formação da relação contratual que ensejou a habilitação da linha de celular em nome da
autora, de forma que o pedido declaratório de inexistência do negócio jurídico deverá ser acolhi-
do.
Do pedido de indenização por danos morais: conforme o disposto no artigo 14 do CDC,
a responsabilidade dos fornecedores de serviços pela reparação de danos oriundos de defei-
tos relativos à sua atividade é objetiva, de forma que basta a comprovação da existência de
um dano ao consumidor, decorrente de uma prestação defeituosa do serviço oferecido pelo
fornecedor para que haja o dever de indenizar, sendo desprezível, nesses casos, a valoração
do elemento culpa.
Obs.: a premissa maior está apresentada nesse primeiro parágrafo, qual seja, o art. 14 do
CDC, que trata da responsabilidade do fornecedor de serviços pelo fato do serviço ou
acidente de consumo. No trabalho hermenêutico, foram delineados os três elementos
indispensáveis para que haja o dever de indenizar: serviço defeituoso prestado pelo
fornecedor, nexo causal e dano.
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Você observará que nos próximos parágrafos serão enfrentados, de forma organiza-
da, esses três elementos, à luz do caso concreto (fatos provados) como pressupostos
indispensáveis para que se reconheça o dever de indenizar.
Nos termos do art. 43, § 1º, do CDC, é legítimo que os fornecedores de serviços insiram os
dados de consumidores em bancos de dados públicos de inadimplentes, mas as anotações
devem ser objetivas, claras e verdadeiras.
Conforme restou comprovado pelo extrato de fl. xx, a primeira requerida promoveu a ne-
gativação do nome da requerente no cadastro de inadimplentes do segundo réu com base em
um débito referente a uma linha telefônica que teria sido habilitada pela autora.
Entretanto, a negativação do nome da autora não espelhou uma informação verídica
sobre seu suposto estado de inadimplência, tendo em vista que restou incontroverso que a
habilitação foi efetivada por um terceiro fraudador. Com efeito, resta claro que o serviço foi
defeituoso.
A fim de evitar a sua responsabilização civil, a primeira ré sustentou que essa negativa-
ção decorreu de culpa exclusiva de terceiros, conforme excludente prevista no artigo 14, § 3º,
inciso II, do CDC.
Entretanto, embora o terceiro fraudador tenha induzido a primeira ré em erro, não há
como se admitir que o fato ocorreu por culpa exclusiva dele, tendo em vista que esse tipo
de fraude é bastante comum nos dias de hoje, exigindo-se maior cautela das empresas
de telefonia no momento da contratação, com a exigência de exibição de documentos
e utilização de outros filtros eficazes para evitá-las, tendo em vista que atuam no mer-
cado de consumo de massa. Se assim não agem, devem suportar os riscos inerentes à
sua atividade e, consequentemente, indenizar os lesados, que em nada contribuem para
essas fraudes.
Logo, ainda que o terceiro tenha concorrido, restou evidente a falha da parte ré na pres-
tação do serviço, pois procedeu à habilitação de uma linha celular em nome da autora sem
adotar os cuidados necessários para evitar a fraude.
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Obs.: observe que houve o cuidado de fundamentar, com base no caso concreto, que o ser-
viço foi defeituoso e que não incide a excludente de responsabilidade invocada pela
ré, consistente na culpa exclusiva de terceiros.
Obs.: a expressão “em consequência” indica a existência de nexo causal entre o serviço
defeituoso e o dano moral suportado pela autora.
Não bastasse isso, a requerente comprovou que a negativação gerou situação vexatória
no momento da celebração de negócio jurídico referente à aquisição de um veículo, conforme
indica o documento de fl. xx, o que será considerado como repercussão para fins de arbitra-
mento do valor da indenização.
Assim, demonstrada a presença de todos os pressupostos legais para a responsabili-
zação civil, quais sejam, defeito no serviço, nexo causal e dano, a primeira requerida deverá
indenizar a autora pelos danos morais que lhe causou.
Obs.: esse último parágrafo encerra a primeira parte desse silogismo, com a conclusão
sobre a existência do dever de indenizar (an debeatur) em relação à primeira ré.
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obrigação legal e não pode ser responsabilizado pela veracidade da informação, pois essa
atribuição é exclusiva daquele que solicita a negativação.
Portanto, diante da inexistência de defeito na prestação de serviço do segundo réu, ele
não poderá ser responsabilizado civilmente, de forma solidária, à reparação dos danos morais
causados à parte autora.
Obs.: quando houve a análise da preliminar de ilegitimidade invocada pelo segundo réu, foi
ressaltado que os fundamentos por ele invocados seriam enfrentados no mérito.
Observe que isso foi feito nesses três parágrafos, ratificando que o argumento jurídi-
co, de fato, não dizia respeito à questão processual, mas ao próprio mérito da deman-
da.
Resta, por fim, fixar o valor da indenização devida pela primeira requerida.
Obs.:
a fim de dar liquidez à obrigação, a segunda parte do silogismo irá trabalhar o quanto
devido a título de compensação pelos danos imateriais suportados (quantum debea-
tur).
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Obs.: é muito comum cair em provas de sentença cível pedidos de indenização por danos
morais. Observe que os parágrafos anteriores definem a premissa maior, com os cri-
térios para o arbitramento e poderão ser utilizados, independentemente do caso con-
creto, sempre que houver a necessidade de liquidar danos dessa espécie.
Então fica a dica: você deverá chegar na prova com esses parágrafos memorizados,
pois eles poderão gerar pontos preciosos para a sua aprovação.
requerida pugnado pelo seu arbitramento em, no máximo, R$ 2.000,00, tenho que, diante
negócio de compra e venda do carro e o tempo em que seu nome permaneceu negativado,
a sua correção monetária deverá ser considerada a partir da data da sentença. Os juros de
mora, por seu turno, devem ser computados a contar do evento danoso, na medida em que
se trata de ilícito extracontratual (Súmula 54 do STJ), pois restou demonstrado que a reque-
Obs.: como no dispositivo não haverá espaço para a fundamentação dos critérios de cor-
reção monetária e de juros, sugiro que logo após a definição do quantum devido seja
definido o termo inicial da correção monetário e dos juros de mora.
Na aula de dispositivo você terá um quadro com esses critérios para facilitar a
memorização.
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Obs.: para a análise da indenização por danos materiais, foi utilizada, como premissa maior,
a lição doutrinária do que se compreende no ordenamento jurídico como perdas e
danos. Em seguida, houve a confrontação com o caso concreto (premissa menor)
para se concluir que a parte autora não experimentou dano, nem a título de danos
emergentes e nem, tampouco, a título de lucros cessantes.
4. Do Dispositivo
4.1. Introdução
O dispositivo é o enunciado que se converterá em lei entre as partes. Ele normatiza uma
situação concreta e irradia seus efeitos sobre as pessoas que integram a relação jurídica
processual.
Considerando o seu caráter normativo, devemos primar pela clareza e objetividade de
sua redação, evitando fórmulas genéricas ou vagas quanto ao conteúdo e alcance do que
foi decidido.
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Integrará essa parte principal a decisão sobre as questões preliminares, os pedidos for-
mulados pela parte autora na petição inicial, a confirmação ou revogação de tutelas provi-
pelas partes.
das despesas processuais em conformidade com a sucumbência suportada por cada parte
ou, em situações específicas, por aquele que deu causa à ação. As despesas processuais
caso de reexame necessário, a extração de cópias para apuração de eventual crime, a baixa e
Tecnicamente, devemos esgotar cada uma das partes antes de adentrar a seguinte. Va-
mos trabalhar, agora, algumas particularidades de cada uma das partes da sentença.
Geralmente iniciamos a redação da parte principal com uma expressão conclusiva, tal
Todas essas expressões revelam que as questões debatidas no processo foram analisa-
das de forma exauriente na fundamentação, restando tão somente enunciar o resultado, ou
seja, explicitar qual foi a decisão final sobre cada uma delas.
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Para que a sentença não padeça de nenhum vício, é necessário que os enunciados da par-
te principal guardem perfeita correspondência com os limites das postulações, com resposta
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Exemplo: ante o exposto, julgo procedente o pedido para declarar a nulidade do contrato de
compra e venda firmado entre as partes.
Sentença Executiva Lato Sensu. O preceito determina o que deve ser cumprido, com san-
ções que tornam dispensável a incursão na fase propriamente executiva.
São exemplos de ações de natureza executiva: despejo, reintegração de posse, imissão
de posse.
Os verbos mais usuais são DETERMINAR, DECRETAR ou o próprio verbo que sintetiza a
ação proposta (REINTEGRAR, IMITIR).
Exemplo: ante o exposto, julgo procedente o pedido para determinar a imissão do autor na
posse do imóvel situado na QUADRA 1, CASA 1, BRASÍLIA-DF.
Sentença Mandamental: esse dispositivo contém uma ordem dirigida, em geral, a uma
autoridade pública e não enseja fase executiva própria. Alguns doutrinadores sustentam que
cabe, ainda, quando dirigida ao particular, nas obrigações de fazer e de não fazer.
São ações típicas mandamentais: mandado de segurança, mandado de injunção e habe-
as data.
O verbo a ser empregado é ORDENAR ou aquele que melhor traduza a ordem dirigida à
autoridade ou particular.
Exemplo: ante o exposto, concedo a segurança para ordenar à autoridade coatora que inclua
o impetrante na lista de candidatos aprovados no certame.
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Sentença Condenatória: nas sentenças dessa natureza, é imposto ao vencido uma pres-
tação passível de execução. São elas a obrigação de pagar quantia certa, de entregar coisa e
de fazer ou não fazer.
O verbo a ser empregado é CONDENAR.
Exemplo: ante o exposto, julgo procedente o pedido para condenar o requerido a pagar ao
autor o valor de R$ 100,00 (cem reais), corrigido monetariamente pelo INPC a partir do ajuiza-
mento da ação e acrescido de juros legais de 1% ao mês, a contar da citação.
Nas condenações ao pagamento de quantia certa, há duas exigências legais que bus-
cam assegurar a liquidez da condenação: a fixação da correção monetária e dos juros
de mora.
Passaremos, então, a discorrer sobre alguns aspectos relevantes para a correta fixação
deles.
Da correção monetária
A correção monetária é o antídoto para neutralizar a perda do valor real da moeda em
face da inflação. Portanto, não representa nenhum ganho ou vantagem ao credor, mas
tão somente atua como um mecanismo para a recomposição do poder da moeda em face
da sua depreciação.
Ela incidirá sobre qualquer débito judicial, mesmo que não haja pedido expresso. É nesse
sentido que dispõe o caput do art. 1º da Lei 6.899/1981.
Art. 1º. A correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive
sobre custas e honorários advocatícios.”
O Código Civil também tratou, expressamente, da correção monetária nos arts. 389, 395 e
404, revelando a preocupação do legislador com a adoção de um sistema que assegurasse a
manutenção do valor real da moeda em relação às dívidas em quantia certa.
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atuali-
zação monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização
dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de ad-
vogado.
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Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atuali-
zação monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Termo inicial da correção monetária: vencimento. Nos casos de dívida líquida, certa e
com termo, a quantia fixada no título estará atualizada até a data do vencimento. Se não há o
adimplemento no dia estabelecido no título, o valor real da obrigação começa a sofrer depre-
Art. 1º, § 1º Nas execuções de títulos de dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar
do respectivo vencimento.
Ajuizamento da ação: se a obrigação não possui vencimento, ou seja, data certa para o
seu adimplemento, exige-se que o credor apresente o seu pedido com o valor atualizado da
obrigação.
Portanto, ainda que a obrigação seja líquida e certa, se não houver previsão de data para o
adimplemento, a correção monetária incidirá somente a partir do ajuizamento da ação. Esse
critério está previsto no § 2º do art. 1º da Lei n. 6.899/1981.
Art. 1º, § 2º Nos demais casos, o cálculo far-se-á a partir do ajuizamento da ação.
Efetivo prejuízo: nas obrigações sem vencimento, em que o credor se antecipou ao de-
vedor e realizou o pagamento, ou seja, desembolsou a quantia que deveria ter sido paga pelo
devedor da obrigação, a correção monetária será calculada a partir da data em que ele supor-
tou esse prejuízo.
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Não podemos confundir efetivo prejuízo, o qual é sinônimo de desembolso, com data do even-
to danoso, qual seja, o dia do ato ilícito.
Súmula 43
Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 362
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do
arbitramento.
Do índice de correção monetária: o índice adotado pelos tribunais, em geral, para a cor-
reção monetária é o INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor, medido pelo IBGE. Ele
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mensura o aumento do custo da vida da população, ou seja, calcula a perda do poder real da
moeda em face do efeito inflacionário.
Entretanto, como os tribunais disponibilizam tabela prática para o cálculo da correção
monetária, admite-se que, no dispositivo, façamos a referência à correção monetária para que
seja calculada em conformidade com a tabela prática do Tribunal.
Dos juros de mora: a mora ou o retardo no cumprimento das obrigações impõe ao devedor
o pagamento ao credor de rendimento do capital que ele deixou de adimplir. É o que denomi-
namos juros moratórios.
Os juros moratórios constituem uma pena imposta ao devedor pelo atraso no adimple-
mento e atuam como uma indenização, remunerando o credor em razão de ter sido privado
do seu capital.
Assim como a correção monetária, os juros de mora decorrem de lei e incidem nas obri-
gações de pagar quantia certa, mesmo que não haja pedido expresso.
Os juros serão computados a partir do momento em que o devedor for constituído em
mora. Em algumas situações, a mora decorre de lei, como resultado do descumprimento da
obrigação, independentemente de qualquer provocação do credor. É o que denominamos
mora ex re. Em outras situações, em que não há termo certo para o cumprimento da obriga-
ção, é imprescindível que o credor adote uma providência para constituir esse devedor em
mora. É a hipótese da mora ex persona.
Termo inicial dos juros de mora: vencimento. O caput art. 397 do Código Civil trata da
mora ex re decorrente do inadimplemento de obrigação com vencimento em data certa. Com
efeito, em todas as situações em que a obrigação tiver termo certo para o seu cumprimento,
o implemento desse termo, por si só, é suficiente para constituir o devedor em mora e, a partir
do vencimento, incidirá os juros de mora.
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor.
Essa será a única hipótese em que a mesma data será considerada tanto para a correção
monetária quanto para os juros moratórios.
Interpelação: o parágrafo único do art. 397 cuida das obrigações sem termo certo (venci-
mento). Nesses casos, o credor poderá constituir o devedor em mora, mediante procedimento
de interpelação judicial ou, mesmo, extrajudicial.
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Art. 397. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial
ou extrajudicial.
Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que
o praticou.
Súmula 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual
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Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada,
ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor
para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
Art. 161.
§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento
ao mês.
Contudo, é importante destacar que o STJ, em reiterados julgados, vem afirmando que
os juros de mora a que se refere o art. 406 do Código Civil seria a taxa referencial do Sistema
Especial de Liquidação e Custódia – SELIC, por ser ela a que incide como juros moratórios dos
tributos federais. Confira-se:
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Diante dessa divergência e para não correr o risco de ser despontuado na prova, o can-
didato poderá usar a expressão “acrescido de juros de mora à taxa legal”, sem especificar se
seria 1% ou a SELIC.
Para facilitar a memorização dos termos iniciais da correção monetária e dos juros de
mora, segue o quadro:
Da cumulação de pedidos: é muito comum que, em uma mesma ação, tenhamos mais de
um pedido formulado pela parte autora. Conforme já abordamos, para cada um dos pedidos
acolhidos, haverá a necessidade de um enunciado expresso sobre o bem da vida que está
sendo reconhecido em favor da parte.
Em relação aos pedidos não acolhidos, podemos utilizar a fórmula genérica de improce-
dência dos pedidos.
Se houver pedidos acolhidos e outros não, a técnica mais utilizada é a parcial procedência
dos pedidos, ficando subentendido como não acolhidos os pedidos que não estiverem enun-
ciados de forma expressa.
Contudo, está igualmente correto que tanto o acolhimento como a rejeição estejam ex-
pressos no dispositivo.
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Exemplo: ante o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos para condenar o reque-
rido a pagar ao autor, a título de danos morais, a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), cor-
rigida monetariamente pelo INPC a partir desta data e acrescida de juros de mora de 1% ao
mês a contar da citação.
Em consequência, declaro resolvido o mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.
Obs.: observe que o enunciado trata dos dois pedidos, razão pela qual a expressão “parcial-
mente procedentes os pedidos” necessita estar no plural.
Exemplo: ante o exposto, julgo procedente o pedido de indenização por danos morais para
condenar o requerido a pagar ao autor a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), corrigida
monetariamente pelo INPC a partir desta data e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a
contar da citação. Julgo improcedente o pedido de indenização por danos materiais.
Em consequência, declaro resolvido o mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.
Obs.: nessa segunda forma, veja que a expressão procedente e improcedente está no sin-
gular, pois houve enunciado expresso para cada um dos pedidos.
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Podemos perceber que o CPC utiliza o critério da sucumbência para atribuir a responsa-
bilidade pelo pagamento das despesas do processo.
Com efeito, após deliberarmos sobre a solução das questões da fase de conhecimento,
devemos atribuir, de modo proporcional à derrota suportada por cada parte, o ônus de arcar
com a fração equivalente de todas as despesas geradas pelo processo.
Conforme o disposto no art. 84 do CPC, as despesas abrangem as custas dos atos do
processo, a indenização de viagem, a remuneração do assistente técnico e a diária de teste-
munha, além dos honorários advocatícios, que são tratados no art. 85 do CPC.
Art. 84. As despesas abrangem as custas dos atos do processo, a indenização de viagem, a remu-
neração do assistente técnico e a diária de testemunha.
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
Art. 85, § 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento so-
bre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre
o valor atualizado da causa, atendidos:
I – o grau de zelo do profissional;
II – o lugar de prestação do serviço;
III – a natureza e a importância da causa;
IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
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Após a escolha da base de cálculo, o juiz deverá aplicar um percentual sobre essa ela,
entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento.
A variação entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento atenderá o grau de
zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa
e o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Esses critérios carregam uma carga de subjetividade, devendo o juiz indicar, expres-
samente, qual deles valorou de maneira diferenciada para o arbitramento acima do míni-
mo legal. No caso de fixação no percentual mínimo, não há necessidade de justificativa.
DICA!
Na sua prova de concurso, utilize sempre 10%, notadamen-
te porque você não terá muitas informações sobre a atu-
ação do advogado e não precisará justificar a escolha do
percentual mínimo.
Art. 85, § 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários obser-
vará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais:
I – mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II – mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mí-
nimos;
III – mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mí-
nimos;
IV – mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salá-
rios-mínimos;
V – mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
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É importante destacar que, em conformidade com o § 6º do art. 85, mesmo nas sentenças
de improcedência ou sem resolução de mérito, serão observados os limites e critérios dos
§§ 2º e 3º do art. 85.
§ 6º Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o
conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mé-
rito.
De acordo com o § 8º do art. 85, a fixação dos honorários conforme o prudente arbítrio do
juiz (equidade) somente será admitida nas causas em que for inestimável ou irrisório o pro-
veito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo.
§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor
da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando
o disposto nos incisos do § 2º.
Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas
entre eles as despesas.
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Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por
inteiro, pelas despesas e pelos honorários.
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Obs.: observe que há duas operações. Uma define o valor dos honorários e a outra distri-
bui os honorários e demais despesas de modo proporcional à sucumbência de cada
parte.
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Obs.: se houver gratuidade de justiça, inserir ao final o seguinte texto: Em razão da gra-
tuidade de justiça deferida à parte autora/ré, suspendo a exigibilidade das verbas
sucumbenciais em relação a ela, nos termos do art. 98, §§ 2º e 3º do CPC.
Obs.: muito cuidado para não identificar a sua prova. Geralmente o examinador irá informar
o que deverá constar nesse campo final. Se ele nada disser, coloque apenas “Juiz de
Direito Substituto”.
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DESAFIO
Agora é hora de praticar, pois só iremos aprimorar a técnica de elaboração da sentença
cível à medida em que formos resolvendo exercícios.
Com base no relatório fornecido a seguir, elabore a fundamentação e o dispositivo. Em
seguida, confronte com a solução apresentada.
RELATÓRIO
Trata-se de Ação de Indenização por danos materiais e morais, ajuizada em 5/3/2019, por
JOSEFINA DA SILVA em desfavor de JOÃO SANTOS.
Alega a requerente, em síntese, que: a) no dia 5/2/2018 trafegava com seu veículo GOL,
quando seu automóvel foi atingido na lateral esquerda pelo veículo CELTA, conduzido pelo
réu; b) o réu foi culpado pelo acidente, tendo em vista que fez o retorno e ingressou na via
preferencial sem atentar-se para as condições de tráfego, vindo a colidir com o veículo da
requerente, que circulava regularmente por sua faixa de rolamento; c) em razão do acidente,
o veículo da autora sofreu avarias, cujo conserto ficou em R$ 4.000,00 (quatro mil reais); d) o
acidente lhe causou danos morais, em razão da grande dor e sofrimento sentidos ao ver seu
carro zero quilômetro avariado.
Requer, ao final, a condenação do requerido ao pagamento de R$ 4.000,00 (quatro mil re-
ais), a título de danos materiais, e R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em razão dos danos morais.
Instruiu a inicial com a procuração; guia de custas; laudo do Instituto de Criminalística,
o qual concluiu que o condutor do veículo CELTA foi o culpado pelo acidente, pois ingressou
na via principal sem observar as condições de trânsito, o que foi determinante para a ocor-
rência do acidente e a nota fiscal do conserto do veículo, no valor total de R$ 4.000,00 (quatro
mil reais), emitida em 10/3/2018.
Citado em 20/3/2019, o réu compareceu à audiência de conciliação. Não houve acordo
entre as partes.
Apresentou contestação em 10/04/2019, nos seguintes termos: a) não teve culpa no aci-
dente, tendo em vista que o evento decorreu de motivo de força maior, vez que no momento
chovia muito e não foi possível avistar o veículo da autora; b) o laudo do IC não pode ser
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tomado como prova incontestável da sua culpa, pois os peritos não presenciaram o aciden-
te; c) o seu veículo CELTA também sofreu danos, cujo conserto custou R$ 3.000,00 (três mil
reais), os quais devem ser compensados com os prejuízos alegados pela autora; d) o juízo é
incompetente, pois o valor da causa é inferior a 40 salários mínimos, de forma que deverá ser
declinada da competência para um dos Juizados Especiais Cíveis de Brasília; e) o acidente
não gerou danos morais à autora.
Requereu, ao final, a improcedência dos pedidos da autora.
Além da contestação, o réu apresentou denunciação da lide em face da SEGURADO-
RA ALFA.
Argumentou que mantém contrato de seguro do seu automóvel com a denunciada e que
o acidente ocorreu dentro do prazo de vigência do contrato, o qual assegura a cobertura em
razão de danos causados a terceiros. Pede que, na eventualidade de condenação na lide prin-
cipal, a seguradora seja condenada a ressarcir-lhe os prejuízos suportados.
Juntou com a contestação a procuração e a cópia da apólice de seguro, com cobertura de
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para danos contra terceiros.
Citada em 10/5/2019, a SEGURADORA apresentou contestação. Sustenta, em sua defesa,
a incidência da prescrição, tendo em vista que a denunciação da lide somente ocorreu mais
de um ano após o acidente. Alega, ainda, que o contrato se encontrava rescindido antes da
ocorrência do sinistro, uma vez que naquela data o segurado estava em atraso com o paga-
mento da última parcela do prêmio do seguro, o que afasta a sua obrigação de pagar o valor
segurado. Argumenta, também, a sua ilegitimidade quanto aos danos morais, pois a apólice
não garante cobertura dessa natureza.
Juntou cópia da apólice e do extrato de pagamento dos prêmios de seguro, com a in-
formação de que a última parcela do prêmio estava em atraso de 10 dias quando ocorreu o
sinistro.
Em réplica, a autora rebateu os fundamentos do réu e da litisdenunciada e reafirmou os
argumentos da peça inaugural. O litisdenunciante, por seu turno, manteve-se em silêncio.
Instadas a especificarem provas, a seguradora requereu a perícia do veículo da autora.
As demais partes nada requereram.
É o relatório.
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Jayder Araujo
DESAFIO COMENTADO
Com base no relatório, podemos organizar e sistematizar as questões jurídicas conforme
o quadro a seguir:
Cada questão identificada está fundada em alegações de fato e de direito apresentadas pe-
las partes, ou seja, há uma causa de pedir para cada questão. Precisamos identificá-las com
clareza no relatório.
Se for necessário, devemos ler e reler, até que consigamos compreender, inteiramente, os fun-
damentos invocados pelas partes para cada uma das questões, pois não poderemos deixar
de enfrentar nenhum deles, sob pena de omissão na nossa sentença.
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Obs.: alguns sustentam que é redundante a utilização da palavra decido após o fim do rela-
tório. Entretanto, essa é uma prática consagrada que reforça o início do segundo ele-
mento essencial da sentença.
Conforme o disposto nos artigos 139, II e 370, parágrafo único, do CPC, o juiz deve velar
pela rápida solução dos litígios, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias,
que em nada poderão contribuir para a elucidação das questões fáticas.
No caso em análise, a prova pericial requerida pela litisdenunciada não teria nenhuma uti-
lidade para o esclarecimento dos fatos, tendo em vista que o veículo já foi reparado e, assim,
não seria possível, com a realização da perícia, a identificação das possíveis avarias causa-
das pelo acidente narrado na exordial.
Ademais, reputo que os fatos relevantes estão suficientemente elucidados pelas provas
documentais juntadas pelas partes, não havendo a necessidade de incursão na fase instrutó-
ria para a produção de novas provas.
Nesse sentido, indefiro o pedido de produção de prova pericial e passo, de imediato, à aná-
lise das preliminares pendentes e ao julgamento antecipado do mérito da ação principal e da
denunciação da lide, nos termos do artigo 355, inciso I, do CPC.
Obs.: conforme vimos na nossa primeira aula, haverá diversas situações em que o proces-
so de conhecimento, mesmo que não tenha ingressado em todas as fases do proce-
dimento, já se encontrará maduro para receber o julgamento. É o sentenciante que
realiza este juízo e valor. Logo, o primeiro parágrafo sempre revelará a aptidão do
processo para receber a solução definitiva das questões.
No caso em análise, houve um pedido de provas. Com efeito, o indeferimento dessa
prova requerida pela parte é uma condição essencial para que ocorra o julgamento
antecipado.
Obs.: o argumento central do indeferimento, tanto nesse caso como em qualquer outro
em que haja pedido de produção probatória sempre será a inutilidade da prova, seja
porque já há prova suficiente dos fatos, seja porque o meio de prova indicado pela
parte interessada não é idôneo para a comprovação da matéria fática em discussão.
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Obs.: se houver várias questões que serão solucionadas à luz de uma legislação específi-
ca, é comum identificarmos esse diploma legal antes de iniciarmos a análise de cada
uma delas, para evitar a repetição do fundamento.
No caso em análise, como tanto a questão da indenização por danos materiais como
a indenização por danos morais serão solucionadas à luz do Código Civil, a definição
da submissão da relação jurídica a esse diploma legal antecedeu à solução das ques-
tões.
Da indenização por danos materiais: conforme o disposto no artigo 927 do Código Civil,
aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Por seu turno, comete ato ilícito, segundo o art. 186, quem, por ação ou omissão voluntá-
ria, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem.
Extrai-se da interpretação desses dois dispositivos legais que a responsabilidade civil
subjetiva extracontratual exige a presença dos seguintes elementos: conduta ilícita dolosa ou
culposa, nexo de causalidade e dano.
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Obs.: o silogismo começou pela premissa maior. É uma questão de estilo. Poderia ter ini-
ciado pela premissa menor (fatos provados), desde que a argumentação se desenvol-
vesse de forma lógica e coerente.
Importante observar a conclusão da premissa maior, destacando os pressupostos da
responsabilidade civil extracontratual: conduta ilícita, nexo e dano, pois os próximos
parágrafos confrontarão os fatos à luz desses elementos.
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Para a definição jurídica da força maior, o art. 393, parágrafo único, do CC dispõe que ela
se verifica no fato necessário, cujo efeito não era possível evitar ou impedir.
A chuva é um fenômeno meteorológico, mas há previsibilidade que ela possa ocorrer du-
rante a circulação com veículos em via pública. Nesse sentido, o próprio CTB determina cui-
dado redobrado do motorista em condição de chuva, a fim de evitar a ocorrência de acidentes.
Logo, os efeitos da chuva são possíveis de serem evitados, bastando que o condutor, em
condição desfavorável de visibilidade, interrompa a circulação até que seja possível trafegar
sem colocar em risco a sua segurança e dos demais motoristas.
Diante desse contexto, a chuva não pode ser considerada um motivo de força maior e,
consequentemente, não exclui o nexo causal entre a conduta do réu e o acidente ocorrido e,
tampouco, afasta a sua responsabilidade civil pelos atos praticados na condução do auto-
móvel.
Em consequência de sua manobra imprudente, o veículo conduzido pelo requerido acabou
vindo a atingir o automóvel da autora, causando-lhe avarias.
Assim, está demonstrada a presença de todos os elementos para a responsabilização ci-
vil subjetiva do réu, de forma que o requerido deverá indenizar a autora pelos danos materiais
que lhe causou.
O dano material suportado pela requerente em razão do infortúnio está comprovado pela
nota fiscal, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), o qual deverá será considerado para a
fixação do valor da indenização.
Embora o veículo conduzido pelo primeiro réu também tenha sofrido avarias, não há pos-
sibilidade de se abater do valor da indenização a quantia gasta por ele com o conserto do seu
automóvel, pois a compensação somente é admitida quando há culpa concorrente (art. 945
do CC), hipótese que não se adequa ao caso em análise, em que a culpa foi exclusiva do réu.
Obs.: no mesmo contexto em que foi definido o valor da indenização, também foi enfrenta-
da a tese de defesa, que buscava a compensação em face da culpa concorrente.
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Obs.: o segundo pedido de mérito possui a mesma premissa maior da primeira questão.
Observe que, na situação fática, o dano, um dos pressupostos da responsabilidade
civil subjetiva, é inexistente e isso é suficiente para a improcedência do pedido, não
havendo a necessidade de análise dos demais pressupostos da indenização.
Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denun-
ciação da lide.
Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido exa-
minado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência
em favor do denunciado.
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Obs.: observe, nesse tópico, como é importante a resolução de exercícios para a boa pre-
paração para a prova. Esses dois parágrafos são idênticos ao texto que já utiliza-
mos, durante as aulas, para a análise da ilegitimidade da empresa que administrava o
banco de dados de inadimplentes.
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No caso sub judice, o requerido foi citado em 20/03/2017 e protocolou sua contestação
em 10/04/2017, oportunidade em que apresentou a denunciação da lide para exigir da se-
guradora o ressarcimento de eventuais danos que venha a suportar em decorrência da lide
principal e que estejam assegurados na cobertura securitária.
Vê-se, portanto, que a pretensão foi exercida dentro do prazo prescricional de um ano, de
modo que o argumento da litisdenunciada quanto à incidência da prejudicial de mérito não
pode ser acolhido.
Com efeito, não se operou a prescrição.
Do mérito: a relação jurídica estabelecida entre as partes caracteriza-se como uma rela-
ção de consumo, uma vez que a seguradora atuou como fornecedora de produtos e serviços
e, no outro polo, o litisdenunciante, na condição de consumidor, pois adquiriu o produto como
destinatário final, em perfeita consonância com as definições estampadas nos artigos 2º e 3º
do Código de Defesa do Consumidor.
Obs.: na ação principal, a relação jurídica é de direito civil comum, na denunciação da lide a
relação é de consumo
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O denunciante comprovou, por meio da apólice acostada à fl. xx, que firmou contrato de
seguro do seu veículo, com previsão expressa de cobertura de danos materiais causados a
terceiros até o limite de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
Assim, considerando-se que o sinistro ocorreu no prazo de vigência apontado no contra-
to, a seguradora tem o dever de cumprir a sua obrigação contratual, mediante o pagamento,
em favor da autora da demanda principal, do valor da indenização por danos materiais.
A fim de afastar a sua condenação, a ré argumenta que o contrato estaria rescindido na
época do infortúnio, na medida em que há cláusula contratual que estabelece essa rescisão
automática no caso de mora contratual.
Contudo, sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, essa cláusula é nula de pleno
direito, nos termos do art. 51, inciso IV e IX, pois coloca o consumidor em desvantagem exa-
gerada, bem como permite que o fornecedor cancele unilateralmente o contrato, sem assegu-
rar igual direito ao consumidor.
Não se sustenta, com isso, a impossibilidade de rescisão do contrato na hipótese de ina-
dimplemento ou mora. Entretanto, para que essa resolução se concretize, é necessário que
o consumidor previamente tenha ciência inequívoca da intenção da seguradora, mediante
notificação que lhe constitua em mora.
Se assim a seguradora não procedeu é porque não havia, na ocasião do sinistro, a vontade
manifesta do rompimento do vínculo contratual, de sorte que não poderá agora invocar essa
tese para afastar a sua responsabilidade contratual.
Obs.: a premissa maior envolveu o diálogo de duas fontes: Código Civil que regula o con-
trato de seguro e o Código de Defesa do Consumidor, pois a relação jurídica é de con-
sumo.
Nas provas de concurso, é muito comum que o examinador apresente questões que
envolverão diálogo de fontes, seja ele vertical (CF com normas infraconstitucionais)
ou horizontal (normas de mesma hierarquia).
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Obs.: no concurso, não se exige do candidato que domine o número e nem o texto das
súmulas, mas é relevante que, em arremate ao raciocínio jurídico desenvolvido para a
análise da questão, seja mencionado que essa mesma interpretação está sedimenta-
da em enunciado de súmula do STJ ou do STF.
Acresça-se, ainda, que houve o adimplemento substancial do prêmio do seguro, pois fal-
tava o pagamento tão-somente da última parcela, o que fragiliza ainda mais a possibilidade
de rescisão unilateral do contrato por inadimplemento contratual, razão pela qual, sob essa
ótica, a seguradora não está isenta do pagamento da indenização.
Em suma, não há nenhuma causa idônea para eximir a seguradora do cumprimento de
sua obrigação contratual, de forma que ela deverá suportar, regressivamente, a condenação
imposta ao litisdenunciante na ação principal.
Por fim, cumpre asseverar que não houve condenação em danos morais, de forma que
resta prejudicada qualquer análise sobre a eventual obrigação contratual da seguradora de
suportar o pagamento de indenização dessa espécie.
Ante o exposto, rejeito a preliminar e, no mérito, julgo parcialmente procedentes os pedi-
dos deduzidos na lide principal para condenar o requerido a pagar à autora a quantia de R$
4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos materiais, corrigida monetariamente pelo INPC
a partir do desembolso e acrescida de juros legais de 1% ao mês a contar do evento danoso.
Em relação à denunciação da lide, rejeito a preliminar e a prejudicial de prescrição. No mé-
rito, julgo procedente o pedido para condenar a seguradora ALFA, solidariamente (Súmula 537
do STJ), a suportar integralmente a condenação imposta ao litisdenunciante na lide principal.
Declaro resolvido o mérito das lides, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.
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após fazer isso, trabalhamos a segunda parte, dedicada ao arbitramento dos honorá-
rios e à distribuição das despesas do processo em conformidade com a sucumbência
de cada parte.
Na ação principal, arbitro honorários advocatícios em 10% (dez por cento) do valor da
condenação, a serem repartidos na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada advo-
gado, em razão da sucumbência recíproca e equivalente. Cada parte suportará o pagamento
de metade das custas processuais.
Quanto à lide secundária, condeno a SEGURADORA ao pagamento das custas proces-
suais e honorários advocatícios, que arbitro em 10% sobre o valor da condenação (art. 85,
§ 2º, CPC).
Sentença registrada eletronicamente. Publique-se. Intimem-se.
Local e data.
Nome
Juiz de Direito Substituto
Caro(a) aluno(a),
Espero que esse PDF tenha sido útil para você como um manual prático para a elaboração
da sentença cível em conformidade com a técnica.
Considerando que a sentença é uma peça eminentemente prática, ela exige aprimora-
mento contínuo. Para isso, o Gran Cursos oferece a complementação do seu treinamento,
mediante a correção de peças práticas de acordo com o padrão das principais bancas exa-
minadoras do país.
Por fim, coloco-me à disposição para contribuir, naquilo que estiver ao meu alcance, para
que você realize o seu sonho e conquiste essa vitória.
Se quiser me seguir em redes sociais, mantenho o perfil @professorjayder no Instagram.
Forte abraço e bons estudos.
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