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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

CARLOS EDUARDO XAVIER TEIXEIRA

DISCIPLINA DE MECÂNICA DOS SOLOS II

ATIVIDADE COMPLEMENTAR

São Luís – MA

2021
CARLOS EDUARDO XAVIER TEIXEIRA

DISCIPLINA: MECÂNICA DOS SOLOS II

Atividade apresentada ao Curso de Engenharia Civil da


UEMA, para a obtenção da nota de Mecânica dos Solos
II.

Professor: Danilo Castro Rosendo

São Luís – MA

2021
Resumo

Nos capítulos anteriores, se estudou principalmente assuntos voltados à tensão normal,


entretanto, nesse capítulo, o foco será a resistência do solo a esforços cisalhantes. Esse
tema é de suma importância para a engenharia, pois permite a análise de problemas de
estabilidade de solo, como a capacidade de carga, estabilidade de taludes, além da pressão
lateral em estruturas de contenção de terra.

- Critério de Ruptura Mohr-Coulomb

Otto Mohr, um engenheiro alemão, acreditava que a ruptura de um material se dava em


decorrência da combinação das tensões normal e cisalhante, e não apenas uma das duas
isoladas. Essa relação pode ser expressa pela seguinte equação:

𝜏𝑓 = 𝑓(𝜎) (1)

Onde: 𝜏𝑓 = resistência ao cisalhamento

𝑓(𝜎) = função da tensão normal

Essa função representada denota uma linha curva, entretanto, para a maioria dos
problemas de mecânica dos solos, é possível aproximá-la a uma linha reta, resultando na
equação conhecida como “Critério de ruptura Mohr-Coulomb”, demonstrada abaixo.

𝜏𝑓 = 𝑐 + 𝜎 ⋅ 𝑡𝑔𝜙 (2)
Onde: c = coesão

𝜑 = ângulo de atrito interno

A equação 2 representa a tensão cisalhante em função da tensão total, todavia é possível


coloca-la em função da tensão efetiva:

𝜏𝑓 = 𝑐′ + 𝜎′ ⋅ 𝑡𝑔𝜙′ (3)

Onde: c’ = coesão com base na tensão efetiva

𝜑′ = ângulo de atrito interno com base na tensão efetiva

Para a aplicação dessa expressão, é importante mencionar que o valor de c’ para areia e silte
inorgânico é zero, assim como para argilas normalmente adensadas. Por outro lado, argilas
sobreadensadas têm valores de c’ maior que zero. Já no que diz respeito ao ângulo de atrito, a
tabela a seguir apresenta os valores típicos para areia e silte.
A equação 3 pode ser explicada a partir de duas imagens, onde uma mostra uma massa
elementar de solo submetida às tensões (normal e de cisalhamento), enquanto a outra imagem
representa a envoltória de ruptura (reta) da referida equação, como pode ser observado abaixo.

Se as tensões 𝜎 ′ 𝑒 𝜏′ no plano ab forem tais que resultem no ponto A, ou seja, abaixo da


envoltória (reta), então a ruptura é possível e se dará em outro plano que não o plano ab.
Contudo, se o estado de tensão resultar no ponto B, ou seja, sobre a reta, então a ruptura se
dará justamente no plano ab. E, por fim, se o estado de tensões resultasse no ponto C, então
implicaria numa ruptura impossível, já que está acima da envoltória que representa a
ruptura do material, logo, no ponto C, a ruptura já haveria ocorrido.

- Inclinação do Plano de Ruptura causada por Cisalhamento

A ruptura ocorrerá quando a tensão de cisalhamento atingir o valor proposto pela eq. 3. Esse
colapso irá ocorrer sobre um plano de inclinação 𝜃 em relação ao plano principal maior,
podendo ter seu ângulo encontrado a partir do círculo de Mohr e relações trigonométricas,
como demonstrado abaixo.

𝛽 = 180 − 2𝜃

𝛽 𝑡𝑎𝑚𝑏é𝑚 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑟 𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑟: 𝛽 = 90 − 𝜙

∴ 𝛽 = 180 − 2𝜃 = 90 − 𝜙

𝜙
𝜃 = 45 +
2

Fazendo as devidas relações trigonométricas, tendo as figuras do círculo de Mohr como


referência, obtém-se a tensão principal maior (efetiva):

𝜙′ 𝜙′
𝜎1′ = 𝜎3′ ⋅ 𝑡𝑔2 (45 + ) + 2𝑐 ′ ⋅ 𝑡𝑔 (45 + )
2 2

Essa expressão pode se apresentar também em função da tensão principal maior total:

𝜙 𝜙
𝜎1 = 𝜎3 ⋅ 𝑡𝑔2 (45 + ) + 2𝑐 ⋅ 𝑡𝑔 (45 + )
2 2

- Ensaios de laboratório para a determinação dos parâmetros da resistência ao cisalhamento

Para a determinação da coesão (c), ângulo de atrito (𝜙), além do c’ e 𝜙′, é necessário a
realização de ensaios laboratoriais, dentre os quais se destacam:

- ensaio de cisalhamento direto;

- ensaio triaxial;
- ensaio de cisalhamento simples;

- ensaio triaxial de deformação plana; e

- ensaio de cisalhamento anular.

Dentre esses, os mais utilizados na prática são o ensaio de cisalhamento direto e o ensaio triaxial,
detalhados mais adiante.

- Ensaio de Cisalhamento Direto

Consiste em uma caixa de metal dividida horizontalmente em duas metades, onde é colocado o
corpo de prova, que pode ser quadrado ou circular em planta. Dá-se prosseguimento ao ensaio
aplicando uma força normal no topo da caixa, de até 1050 𝑘𝑁/𝑚2 , juntamente com uma força
horizontal, movendo-se uma metade da caixa em relação a outra, para, com isso, efetuar o
cisalhamento.

A depender do equipamento, o referido ensaio pode ser de tensão controlada ou de deformação


controlada. Aquele diz respeito a aplicações incrementais de mesma intensidade até que o
corpo de prova se rompa, o que ocorre ao longo do plano de divisão da caixa. É válido mencionar,
ainda, que os deslocamentos (verticais e horizontais) oriundos da aplicação de carga são
monitorados por meio de um extensômetro. Por outro lado, no ensaio de deformação
controlada, é o deslocamento que é constante, sendo realizado a partir de um motor que atua
por meio de engrenagens. A força, grandeza não conhecida nesse ensaio, pode ser monitorada
por meio de um anel dinamométrico, que está representado abaixo.

A vantagem do ensaio de deformação controlada em areia compacta é que a tensão de ruptura


pode ser obtida com bastante precisão e, assim, possibilitando a construção de um gráfico
representativo tensão-deformação. Por outro lado, o ensaio de tensão controlada apenas
proporciona um intervalo de tensão, compreendido entre a tensão pré-ruptura e o acréscimo
de tensão efetuado.

Esses ensaios são importantes, pois permite o desenvolvimento de gráficos que relacionam a
tensão de cisalhamento e altura do corpo de prova com o deslocamento proporcionado, como
se observa a seguir.

Aqui, a tensão de cisalhamento é calculada normalmente:

𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑠𝑎𝑙ℎ𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝜏=
Á𝑟𝑒𝑎

A partir desses gráficos, podem ser feitas as seguintes generalizações:

- Na areia fofa, a tensão cisalhante aumenta com o respectivo deslocamento até que a tensão
de ruptura seja atingida. Após esse ponto, a tensão de cisalhamento permanece constante para
qualquer aumento no deslocamento.

- A areia compacta tem um mesmo comportamento inicial à areia fofa, ou seja, a tensão
cisalhante aumenta juntamente com seu respectivo deslocamento até que se atinja a tensão de
ruptura. Porém, depois disso, diferentemente do que ocorre com a areia fofa, aqui, a tensão de
cisalhamento passa a diminuir com o aumento do deslocamento.

Os ensaios de cisalhamento direto são repetidos com vários valores de tensão normal e,
consequentemente, tensão de cisalhamento, que como foi visto inicialmente, um pode ser
descrito em função do outro. Essa variação de valores é feita para que seja possível o
desenvolvimento de um gráfico que possibilite a obtenção dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento.

Para a areia seca, onde c=0 e 𝜎 = 𝜎′, foi feito tal procedimento e obtido o gráfico abaixo.
A equação para a obtenção dessa reta, que representa a linha média entre os pontos, é dada
por:

𝜏𝑓 = 𝜎 ′ ⋅ 𝑡𝑔𝜙′

- Ensaio de cisalhamento direto drenado em areia e argila saturada

O corpo de prova é colocado em um recipiente preenchido por água, saturando-o. Em seguida,


o corpo de prova é carregado para que a poropressão seja eliminado, sendo característica da
areia que esse processo se dê de forma rápida. Portanto, o ângulo de atrito obtido a partir do
ensaio de cisalhamento direto drenado será o mesmo pra areia seca, em decorrência de seu
coeficiente de permeabilidade.

Diametralmente oposto à areia, a argila possui uma condutividade hidráulica extremamente


baixa, necessitando, portanto, de dois a cinco dias para que ocorra o adensamento pleno.

O gráfico abaixo demonstra a variação da tensão cisalhante em função da tensão normal


(efetiva) aplicada em argila normalmente adensada e argila sobreadensada.
É valido lembrar que argila normalmente adensada é aquela que a tensão efetiva de
sobrecarga atual é a tensão máxima que o solo foi submetido. Já argila sobreadensada é
aquela que tensão de sobrecarga atual é menor que a tensão que o solo sofreu no passado.

- Índice de Vazios Críticos

Como demonstrado anteriormente, a areia compactada tende a aumentar de volume à


medida que o ensaio avança, enquanto a areia fofa tende a diminuir de volume à medida
que o ensaio avança, o que denota a influência do deslocamento de cisalhamento no índice
de vazios do corpo de prova.

- Ensaio de Compressão Triaxial

Nesse ensaio, o corpo de prova, envolvido por uma membrana de borracha, é colocado
numa câmara preenchida por água ou glicerina. Prossegue-se com a compressão triaxial
por meio da compressão de confinamento proporcionada pelo fluido. Para que ocorra a
ruptura, o corpo de prova deve ser submetido, no seu topo, a uma carga (axial) adicional,
chamada de tensão desviadora.

Esse tipo de ensaio pode se dar de três formas, a saber:

- Ensaio Adensado Drenado (CD)

- Ensaio Adensado Não-Drenado (CU)

- Ensaio Não-Adensado Não-Drenado (UU)


- Ensaio Triaxial Adensado Drenado

Nesse ensaio, como o próprio nome já diz, ocorre o adensamento e a drenagem do corpo
de prova saturado. Então, como a poropressão é totalmente dissipada, a tensão efetiva é
igual à tensão total.

São feitos vários ensaios com diferentes pressões de confinamento e, consequentemente,


distintas tensões principais, o que acarreta em vários círculos de Mohr, possibilitando,
assim, a obtenção da envoltória de ruptura.

É importante mencionar que as coordenadas do ponto de intersecção entre a envoltória e


o círculo de Mohr, ou seja, o ponto tangente, proporcionam as tensões de ruptura do corpo
de prova.

A equação que representa a referida envoltória (reta) é dada por:

𝜏𝑓 = 𝜎 ′ ⋅ 𝑡𝑔𝜙′

- Ensaio triaxial adensado Não-Drenado

Nesse ensaio, há o adensamento do corpo de prova, porém como não há a drenagem, a


poropressão não é totalmente dissipada, o que, com a aplicação das tensões, a exemplo
da tensão desviadora, resulta no aumento da poropressão.

Na argila normalmente adensada, bem como na areia fofa, a poropressão aumenta com a
deformação, emquanto na areia compacta e argila sobreadensada, a poropressão aumenta
com a deformação somente até um certo limite, a partir do qual ela diminui, podendo se
tornar até negativa.

Um ponto importante de diferenç_f a com o ensaio adensado drenado é que aqui, no


ensaio adensado não-drenado, a tensão efetiva não é igual à tensão total, justamente pela
poropressão ser diferente de zero.

O mesmo processo feito para se obter a envoltória no ensaio adensado drenado é feito
aqui, com a diferença diferentes Círculos de Mohr para a tensão total e efetiva:

A equação da envoltória para areias e argilas normalmente adensadas é dada por:

𝜏𝑓 = 𝜎 ⋅ 𝑡𝑔𝜙

Já para argilas sobreadensadas, a expressão é:

𝜏𝑓 = 𝑐 + 𝜎 ⋅ 𝑡𝑔𝜙

- Ensaio triaxial Não-Adensado Não-Drenado

Aqui, a drenagem não é permitida em nenhuma etapa, e por isso o ensaio é realizado
rapidamente.

Nesse ensaio, a envoltória de ruptura é horizontal, em decorrência do ângulo de atrito ser


igual a zero.

𝜏𝑓 = 𝑐

- Sensibilidade e Tixotropia da Argila


Solos argilosos sofrem de um fenômeno chamado sensibilidade, que constitui a relação
entre a resistência de compressão não-confinada em um estado indeformado e um estado
amolgado:

𝑞𝑢 𝑖𝑛𝑑𝑒𝑟𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜
𝑆𝑡 =
𝑞𝑢 𝑎𝑚𝑜𝑙𝑔𝑎𝑑𝑜

Lembrando que amolgamento é a perda de resistência de um solo por efeito da destruição


de sua estrutura. É o fenômeno responsável pela formação de lama nos solos argilosos. O
amolgamento tende a destruir a estrutura original do solo, eliminando as ligações existentes
desde a sua formação, o que provoca uma redução da resistência.

Se um solo, mesmo após o amolgamento, mantiver-se inderfomado, ou seja, sem


alteração no teor de umidade, então ele recuperará sua resistência após o referido
amolgamento, Esse fenômeno, tão importante para os solos, é chamado de tixotropia.

- Anisotropia da resistência na argila

Esse outro fenômeno diz respeito à diferença de resistência ao cisalhamento do solo em


função da direção de aplicação da carga. Isso se dá pela forma de deposição das partículas
dos solos coesivos, conjuntamente com seu adensamento, o que propicia às partículas das
argilas se estabelecerem perpendicularmente à direção da tensão principal maior.

- Resistência ao cisalhamento de solos coesivos não saturados

Nos tópicos precedentes foi dado maior atenção aos solos saturados, porém faz-se
necessário o conhecimento da equação para a obtenção da tensão de cisalhamento para
solos coesivos não saturados, a saber:

𝜏𝑓 = 𝑐 ′ + [𝜎 − 𝑢𝑎 + 𝑥( 𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 )]𝑡𝑔𝜙′

Onde: 𝑢𝑎 = pressão do ar nos poros

𝑢𝑤 = pressão da água nos poros

X = valor dependente do grau de saturação do solo


- Conclusão

Portanto, o respectivo capítulo teve como objetivo detalhar sobre a tensão cisalhante no
solo, bem como os ensaios necessários para a obtenção dos parâmetros da resistência ao
cisalhamento (coesão, ângulo de atrito, coesão em função da tensão efetiva, ângulo de
atrito em função da tensão efetiva).

Foi dado destaque ao ensaio de cisalhamento direto e o ensaio triaxial, que são os mais
utilizados na prática. Além disso, foi comentado sobre importantes fenômenos dos solos,
principalmente dos argilosos, como a tixotropia e anisotropia. Todos conceitos essenciais para,
como dito inicialmente, analisar problemas de estabilidade do solo.

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