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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT

CURSO: ENGENHARIA CIVIL

CARLOS EDUARDO XAVIER TEIXEIRA - 20190111713

DISCIPLINA: DIREITO E LEGISLAÇÃO

RELATÓRIO: IMPRUDÊNCIA NO ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE


BRUMADINHO

SÃO LUÍS – MA

2023
A última década foi caracterizada por grandes desastres, em especial pelos
rompimentos de barragens, como a que ocorreu em Brumadinho, Minas Gerais. Esse caso
aconteceu em 2019, quando a estrutura de contenção de responsabilidade da empresa Vale
S.A entrou em colapso, causando duzentos e setenta mortes e três desaparecidos.

Tragédias dessa magnitude enfatizam a importância da responsabilidade dos


chefes e responsáveis técnicos desses empreendimentos. Nesse contexto, ressalta-se que
o engenheiro não é o único responsável, pois, apesar do projeto ser de sua autoria, são os
contratantes que, muitas vezes, fazem exigências que priorizam o aspecto financeiro em
detrimento da segurança. Assim, torna-se oportuno ressaltar que as barragens de rejeitos
podem ser construídas de formas diferentes, umas mais seguras e onerosas, como a
barragem a jusante, e outras menos seguras e mais econômicas, como a barragem a
montante. Nesse sentido, destaca-se que até 2019 a barragem a montante era permitida,
apesar de sua fragilidade estrutural, motivo pelo qual grandes empresas optavam por sua
escolha, a exemplo da Vale S.A, que operava a barragem de brumadinho. Abaixo ilustra-
se o alteamento a montante e a jusante, para fins de entendimento.

Figura 1 – Barragem de rejeitos no estado inicial

Fonte: G1 (2019)

Figura 2 – Barragem de rejeitos com alteamento a jusante

Fonte: G1 (2019)
Figura 3 – Barragem de rejeitos com alteamento a montante

Fonte: G1 (2019)

A barragem a montante é frágil, se comparada com o alteamento a jusante, pois


utiliza-se dos próprios rejeitos como “fundação”, ou seja, os rejeitos armazenados são
utilizados como a base de sustentação dos alteamentos. Sob essa ótica, destaca-se que um
grande risco desse método construtivo é a liquefação da estrutura, que ocorre por meio
do aumento da tensão proporcionada pelo líquido (poropressão) e consequente
diminuição da tensão do peso dos grãos de solo da barragem (tensão efetiva), em outras
palavras, o excesso de líquido nos rejeitos reduz as forças de contato entre os grãos da
barragem, o que faz com que as partículas fiquem dispersas, semelhante a uma areia
movediça. Segundo o site Conjur, essa foi a causa do colapso definido pela perícia,
relatando que a maioria dos rejeitos, que serviam de base de sustentação, eram mal
drenados e, portanto, causaram a liquefação da estrutura.

Nesse diapasão, é notório que, embora a lei permitisse na época, a construção ou


continuação de utilização das barragens a montante representa a imprudência das
empresas responsáveis, tendo em vista que essa técnica já era sabidamente frágil e não
prezava pelos cuidados necessários para uma obra desse porte, vide o rompimento da
Barragem em Mariana, Minas Gerais. Em consequência dos rompimentos dessas
barragens, houve a proibição desse método construtivo por meio da Resolução ANM n°
4/2019, que posteriormente fora substituída pela Resolução ANM n° 13/2019. Todavia,
em decorrência das inseguranças inerentes a esse método e do desastre em Mariana em
2015, o correto seria a desativação das barragens a montante já naquele ano, como ocorreu
a partir de 2019. Assim, a substituição dessas estruturas por construções mais seguras, em
especial utilizando o alteamento a jusante, seria a alternativa mais razoável na época,
apesar de não ser exigido legalmente antes de 2019. Nesse sentido, possivelmente não
foram tomadas essas medidas por questões financeiras, já que a desativação de uma
barragem e construção de outra requer grande aporte financeiro, porém tal decisão se
mostrou economicamente falha, pois a ocorrência dos desastres provocou não só o gasto
anteriormente previsto, que era a substituição da barragem, como também custos
imprevistos de grande vulto, como as indenizações ao Poder Público e aos particulares
atingidos.

Apesar das grandes perdas materiais e, sobretudo, humanas, ninguém foi punido
ainda, segundo matéria do site G1. Entretanto, isso demonstra-se totalmente contrário ao
Direito brasileiro, que prevê a responsabilidade objetiva e imprescritível para danos
ambientais, em decorrência da adoção da teoria do risco integral, nos termos do art. 14, §
1º, da Lei nº 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º, e 3º, da CF/88:

Art. 14 (...)

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o


poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.

Nesse contexto, fica evidente que a responsabilização independe de qualquer


contrato, já que está amparado na lei. Além disso, mesmo que não houvesse grandes danos
ambientais, mas existissem grandes perdas humanas, por exemplo, haveria a necessidade
de aplicação da teoria do risco integral, conforme explicado no trabalho do 5º Congresso
Internacional de Direito e Contemporaneidade, publicado pela Universidade Federal de
Santa Maria:

A responsabilidade civil objetiva é aplicada amplamente no caso de


desastres antropogênicos de grande vulto, em especial por incidência do
art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, como já mencionado anteriormente.
Quando os danos de um desastre antropogênico são ocasionados por
entidades privadas, ativa ou omissivamente, a teoria do risco integral é
aplicada pela larga maioria da jurisprudência e da doutrina.

Por fim, é importante explicar que, além da responsabilidade civil, é plenamente


cabível a responsabilidade criminal pelos duzentos e setenta homicídios. Nesse diapasão,
a matéria do Instituto Guaicuy explicita que o Ministério Público de Minas Gerais está
pleiteando isso na Justiça Estadual, buscando responsabilizar o ex-presidente da Vale e
outras 15 pessoas, entre ex-diretores da Vale e executivos da empresa alemã Tüv Süd, que
foi a responsável por atestar a segurança da barragem.
Mediante o exposto, é notório que, apesar da técnica utilizada nas construções ser
permitida em lei, houve a imprudência dos envolvidos, pois priorizaram o financeiro, e
não a segurança. Portanto, percebe-se a importância de regras jurídicas mais rígidas para
construções de grande porte, pois essas estruturas possem grande capacidade de gerar
danos ao meio ambiente, aos bens materiais e, acima de tudo, à vida. Assim, a imputação
da responsabilização objetiva para esses casos é coerente e deve ser cumprida. Por fim,
ressalta-se que os próprios responsáveis técnicos, detentores do conhecimento a ser
utilizado nos projetos, devem prezar pela cautela e prudência, visando a proteção do
exercício de sua profissão, o sucesso da empresa da qual fazem parte e a vida daqueles
que possam ser atingidos.
REFERÊNCIAS

CONSULTOR JURÍDICO (Brasil). Relatório aponta causa do rompimento de


barragem Brumadinho. Brasil, 4 out. 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-out-04/relatorio-aponta-causa-rompimento-barragem-
brumadinho. Acesso em: 24 jun. 2023.

MANSUR, Rafaela. Quatro anos da tragédia em Brumadinho: 270 mortes, três


desaparecidos e nenhuma punição: A barragem da Mina de Córrego do Feijão, da Vale,
rompeu no dia 25 de janeiro de 2019. Entenda a situação atual em relação às buscas pelas
vítimas, à reparação de danos e à responsabilização dos envolvidos. Brasil, 25 jan. 2023.
Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/01/25/quatro-anos-
da-tragedia-em-brumadinho-270-mortes-tres-desaparecidos-e-nenhuma-punicao.ghtml.
Acesso em: 24 jun. 2023.

GOVERNO FEDERAL (Brasil). Agência Nacional de Mineração. Nota técnica,


2022. REPORT TRIMESTRAL DESCARACTERIZAÇÃO DE BARRAGENS A
MONTANTE, Brasil, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anm/pt-
br/assuntos/barragens/boletim-de-barragens-de-
mineracao/arquivos/nota_tecnica_2022_descaracterizacao_publicacao_3.pdf. Acesso
em: 24 jun. 2023.

DIZER O DIREITO (Brasil). O erro na concessão de licença ambiental não configura


fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio
ambiente. Brasil, 2020. Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2020/08/o-
erro-na-concessao-de-licenca.html. Acesso em: 24 jun. 2023.

G1 (Brasil). Entenda como funciona a barragem da Vale que se rompeu em


Brumadinho: Método de alteamento a montante, no qual se constroem degraus com o
próprio material de rejeito, é o mais simples e também o menos seguro.. Brasil, 28 jan.
2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/28/entenda-como-
funciona-a-barragem-da-vale-que-se-rompeu-em-brumadinho.ghtml. Acesso em: 24 jun.
2023.

LUZ, Douglas Ferreira; BACCHI, Kethelen Severo; TYBUSCH, Francielle Benini Agne.
A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL NO CASO DE DESASTRES
ANTROPOGÊNICOS: O CASO BRUMADINHO – MG. Congresso Internacional de
Direito e Contemporaneidade, Rio Grande do Sul, ed. 2019, 3 set. 2019. Disponível
em: https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/563/2019/09/3.10.pdf. Acesso em: 24 jun.
2023.

INSTITUTO GUAICUY (Brasil). Ação Penal para punir responsáveis pelo desastre-
crime da Vale em Brumadinho volta para a Justiça de MG. Brasil, 7 jun. 2022.
Disponível em: https://guaicuy.org.br/acao-penal-vale-brumadinho-justica-
estadual/#:~:text=O%20MPMG%20busca%20a%20responsabiliza%C3%A7%C3%A3o
,a%20flora%20e%20de%20polui%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 24 jun. 2023.

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