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Tragédia de Brumadinho

Um dos piores pesadelos ecológicos do Brasil nas últimas décadas, o desastre


ambiental de Mariana (MG), ganhou uma sequência ainda mais trágica em 2019: no
dia 25 de janeiro, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, também em
Minas Gerais, deixou um rastro de mortes e lama.

A barragem da mineradora Vale na região do Córrego do Feijão teve o rompimento


informado à Secretaria do Estado de Meio-Ambiente às 13h37 de 25 de janeiro,
segundo o G1. Na manhã de 4 de fevereiro, o número de mortos chegava a 121, com
205 pessoas ainda desaparecidas.

Em 2015, no rompimento de Mariana, os dejetos oriundos da mineração de ferro


arrasaram mais de 500 quilômetros da bacia do rio Doce. A reprise do desastre, que
dessa vez atinge o Rio Paraopeba – parte da bacia do Rio São Francisco –, tem grandes
chances de aparecer na prova. Além das questões assertivas, o tema pode aparecer na
redação.

Reprise do desastre
Na tragédia de Mariana, duas barragens romperam, liberando 43,7 milhões de metros
cúbicos de rejeitos. Em Brumadinho, o número divulgado pela Vale é de 12 milhões de
metros cúbicos.

Há três anos, a enxurrada de lama matou 19 pessoas; agora, a contagem já bate na casa
das 121. Uma boa parte das vítimas eram funcionárias da própria vale: dos 427
colaboradores, 279 foram resgatados com vida. As vítimas também incluem moradores
da região.

A forma como os rejeitos da mineração de ferro eram contidos em Brumadinho,


segundo especialistas, é a mais barata que há. A mineração a seco, recomendada em
termos de segurança, aumenta os custos de extração – essa matéria do G1 explica em
detalhes as diferanças.

Resgate e cheia do Paraopeba

Além do Corpo de Bombeiros, primeiro a atuar na área de resgate, a região recebeu,


militares de Israel, equipes da Cruz Vermelha e especialistas de diferentes órgãos e
organizações. Somadas, as pessoas trabalhando em Brumadinho ultrapassavam 350
pessoas empenhadas na tentativa de resgate, durante os primeiros dias da tragédia.

No domingo após o desastre, dia 27 de janeiro, as buscas foram suspensas durante a


tarde por risco de rompimento de uma segunda barreira. Quando o risco diminuiu, as
buscas foram retomadas. Agora, mais de uma semana depois, a procura é pelos corpos,
já que há mínimas chances de encontrar pessoas com vida sob o mar de lama, que já
começa a secar.
Uma estrutura de contenção de rejeitos foi instalada no Rio Paraopeba no dia 2 de
fevereiro. Havia risco de o rio subir bruscamente. Além do nível da água, a qualidade
dela também preocupa, uma vez que o rio abastece um terço da região de metropolitana
Belo Horizonte, segundo o G1.

Além da apreensão com a bacio do rio São Francisco, os olhares se voltam para a
Mata Atlântica da região da Serra Dois Irmãos, por onde a lama está descendo. Existe
uma grande preocupação com a fauna e a flora do local.

Responsabilização

As polícias Federal e Civil informaram investigam o rompimento da barragem da


Brumadinho. No dia 29 de janeiro, três funcionários da Vale e dois da empresa TÜV
SÜD (que inspecionou a segurança da Mina do Feijão) foram presos por suspeita de
fraude em documentos da barragem.

No caso da barragem de Mariana, um processo aberto em 2016 contra a Vale, a


britânica BHP Billings e a Samarco (mineradora controlada pelas duas), além de 22
pessoas foram processadas, mas até o final de 2018, segundo G1, os réus não haviam
ainda sido julgados.

A Agência Nacional de Mineração, em conjunto com a Fundação Estadual do Meio


Ambiente e a Defesa Civil iniciaram, no dia 2 de fevereiro, a vistoria de outra barragem,
em Itabirito, na porção central de Minas Gerais. A barragem Vargem Grande é uma de
40 instalações classificadas como de “alto risco”, como era a de Brumadinho. A Vale
anunciou que vai parar as nessa e em outras quatro barragens no estado, visando
descomissioná-las (encerrar o funcionamento) – a decisão existe de 2016.

Quatro dias após a tragédia em Brumadinho, a Vale havia recebido três bloqueios de
recursos, um total de R$ 11 bilhões. O valor seria destinado ao atendimento às vítimas
(R$ 6 bilhões) e à reparação dos danos ambientais (R$ 5 bilhões). Adicionalmente, duas
multas, somando R$ 349 milhões, foram aplicadas pelo Ibama e pelo governo de Minas
Gerais. E esse número pode aumentar.

A Vale diz que vai pagar R$ 100 mil às famílias por cada vítima do desastre. Famílias
na zona de impacto receberão R$ 50 mil, enquanto profissionais cuja atividade
comercial foi afetada em função da tragédia receberão R$ 15 mil.

Tragédia como tema de redação


Além das questões objetivas, que podem abordar o assunto em conexão com Mariana,
o tema de redação pode trazer os desastres como mote. A abordagem vai depender dos
textos de apoio e da proposta, mas selecionamos alguns argumentos que você pode usar.

1) Política x técnica

Em ambos os desastres ambientais, especialistas alertam para questões como


licenciamento ambiental e fiscalização. Ambos são responsabilidade do governo.
Há quem diga, no entanto, que os favores políticos predominam sobre os aspectos
técnicos. Isso significaria que alianças e lobby políticos seriam critérios mais usados do
que laudos e perícias de profissionais especializadas(os).

2) Economia e Meio ambiente

A união do antigo Ministério do Meio Ambiente com o Ministério da Agricultura deu o


que falar na transição para o novo governo. Uma tragédia ambiental como a da
Brumadinho – ainda mais tão pouco tempo após o desastre de Mariana – levanta
novamente a questão sobre a estrutura necessária para evitar uma (terceira) tragédia.

De um lado, ativistas ambientais argumentam contra a extração, ou por um processo


mais controlado. De outro, especialistas em economia falam sobre geração de emprego
e renda nas regiões em que empresas como a Vale atuam. A questão da privatização não
está fora do quadro.

3) Recursos renováveis

Um aspecto talvez menos óbvio de ambas as tragédias diz respeito à extração de


minério de ferro em si. Extração, como o nome já indica, depreende retirar da natureza.

Como na discussão sobre o petróleo, recursos não-renováveis geram embates acerca de


alternativas à extração. Além de métodos menos impactantes para o meio ambiente e as
populações, as discussões giram em torno de matérias primas e processos que possam
ser usados alternativamente.

Temas de redação transversais


Quando se fala em “tema de redação”, é comum os(as) estudantes pensarem que
“ninguém nunca vai acertar o tema”. De fato, é a intenção dos formuladores da prova
que ninguém mate “na mosca” o que vai ser proposto.

Por isso, é importante que você se mantenha a par das questões de atualidades e busque
sempre ter argumentos transversais na manga. No caso das tragédias de Mariana e
Brumadinho, pensar no papel do estado, no papel da sociedade civil e no papel da
mídia, por exemplo, são caminhos possíveis. E, veja, são argumentos que podem
facilmente ser usados para outros temas, como direitos coletivos, mobilidade urbana e
porte de armas, para citar apenas alguns.

Tragédias ambientais impactam nas vidas das populações de diferentes maneiras. No


caso dos rompimentos de barragens, por exemplo, além das vidas ceifadas pela lama há
consequências para a pesca e o abastecimento de água, para o transporte e para a flora e
fauna locais. A diversidade biológica, bem como a qualidade do solo podem impactar a
economia local de modo diferente. Há, ainda, uma questão de economia global, já que a
Vale responde por 70% a 80% das exportações de minério de ferro do Brasil.

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