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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA

LUCAS SOARES DA SILVA

ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO: DESASTRE SOCIO-AMBIENTAL


COM CAUSA TÉCNICA OU ÉTICA?

MARÍLIA
2019
LUCAS SOARES DA SILVA

ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO: ÉTICA EMPRESARIAL,


RESPONSABILIDADE TÉCNICA E CRIMINAL

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de


Engenharia de Engenharia Elétrica como requisito parcial
para a conclusão da disciplina de Ética, sob orientação
do Profº Catelan.

MARÍLIA
2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................01
2. ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO..............................02
3. ÉTICA EMPRESARIAL X FINANÇAS......................................................03
4. CONCLUSÃO...........................................................................................04
1. INTRODUÇÃO

Ética e responsabilidade ambiental são temas custosos, mas desafiadores o


bastante para ampliar conhecimentos ou estimular o meio acadêmico a engajá-los
como objetos de pesquisa. Muito sinteticamente, pode-se afirmar que ética é a
doutrina dos valores de uma sociedade, sem prejuízo das normas e regras voltadas
à materialização da paz social, econômica e ambiental, aplicáveis às pessoas,
empresas e ao Estado (COELHO, 2018).

Ser ético é agir racionalmente! Então como definir se determinado ato é ou não
ético? Se a ação é correta, boa, justa e aceitável socialmente ela é ética. Logo, ato
que agride o bem-estar e a felicidade de outrem é potencialmente antiético. Com
precisão, “falar em ética é, pois, tentar dizer de um equilíbrio ou convivialidade e um
conjunto de ações, mas, também, de fundamentos que perpassam ou que possam
vir a perpassar o que se infere deste modelo civilizacional e sua correspondente
produção de subjetividade em tempos de mutação” (PELIZZOLI, 1999, p. 22).

As organizações empresariais visam a gerar riqueza, fim relevante para


incrementar o bem-estar da população. Sob os prismas da ética e da
responsabilidade ambiental, deve ser apurado como a produção é empreendida, de
que maneira esse valor econômico é agregado, como o negócio afeta as pessoas, o
meio ambiente e a sociedade, já que o impacto ecológico negativo não fica restrito
ao local do desastre, espraiando-se quase indefinidamente.

Ora, se a atividade empresarial tem desdobramentos socioambientais, a


produção e o manejo dos recursos naturais, traduzidos em atividade econômica,
devem, antes de tudo, focar a comodidade do homem e demais animais, de modo a
assegurar fauna e flora ambientalmente preservadas (COELHO, 2018).

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2. ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO

O rompimento da barragem da Vale (mineradora multinacional brasileira) em


Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no início da
tarde do dia 25 de janeiro de 2019, causou uma grande avalanche de rejeitos de
minério de ferro. A Barragem número um da Mina Córrego do Feijão desabou, e a
lama atingiu a área administrativa da Vale, bem como a comunidade da Vila Ferteco,
deixando um grande rastro de destruição e dezenas de mortes. No momento do
acidente, as sirenes de alerta não foram tocadas, o que contribuiu para o grande
número de mortes nessa tragédia, uma vez que as pessoas não foram avisadas
para adotar os procedimentos de segurança. O alarme provavelmente não tocou em
razão da rapidez em que tudo aconteceu (ALMEIDA, 2019).

Segundo análise do Ibama, os rejeitos de minério devastaram 133,27 hectares de


vegetação nativa da Mata Atlântica e 70,65 hectares de Áreas de Preservação
Permanente (APP). O Rio Paraopeba, afluente do São Francisco, foi gravemente
contaminado. O impacto ambiental foi devastador e ainda não pode ser totalmente
mensurado, além de que cerca de 300 funcionários estavam trabalhando no local na
hora do rompimento. Devido ao curso dos rejeitos e ao rompimento inesperado, o
episódio fez mais de 241 vítimas fatais, de acordo com os dados divulgados em
maio de 2019. Até a data, mais de 25 pessoas continuavam desaparecidas.

Ao que tudo aponta, o local com maior número de pessoas atingidas foi o
refeitório da mineração. E aí surgem algumas perguntas importantes! Como pode o
refeitório da mineração, ficar localizado a jusante (a frente) da barragem,
exatamente no caminho que seria (e foi) percorrido pela lama logo após o
rompimento, sendo que, dentre os documentos apresentados pelos engenheiros,
assinados pelos responsáveis da mineração e recebidos e pelo órgão de
fiscalização, estava um mapa de inundação? (ALMEIDA, 2019).

De acordo com o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, uma única barragem


rompeu-se e causou o transbordamento de outra. A barragem que se rompeu foi
construída em 1976, estava inativada e apresentava um volume de 11,7 milhões de
metros cúbicos de rejeitos. A Vale não confirma se o local estava em obras, mas a

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empresa possuía licença que autorizava a “reciclagem” de minérios situados nessa
barragem.

A Vale emitiu uma nota com esclarecimentos em relação à barragem que se


rompeu. A mineradora afirma nessa nota que “a barragem possuía Fator de
Segurança de acordo com as boas práticas mundiais e acima da referência da
Norma Brasileira”. Além disso, apresentava declarações de estabilidade que
atestavam a segurança tanto física quanto hidráulica da barragem. A Polícia Federal
e a Polícia Civil de Minas abriram investigação sobre o caso para averiguar se de
alguma forma os documentos técnicos foram fraudados.

3. ÉTICA EMPRESARIAL X FINANÇAS

Momentos antes a Vale já havia identificado problemas nos sensores


responsáveis por monitorar a barragem que se rompeu em Brumadinho. Foram
identificados também pela polícia federal uma troca de e-mails entre profissionais da
mineradora e duas empresas ligadas à segurança da estrutura que apontaram a
situação da barragem dois dias antes da tragédia (SADI, 2019).

Em seus depoimentos, os engenheiros da empresa TÜV SÜD, André Jum


Yassuda e Makoto Namba, responsáveis pelos laudos de estabilidade da barragem,
também demonstraram ter consciência dos perigos. Durante questionamento a
Namba, o delegado Luiz Augusto Nogueira, da Polícia Federal, cita os e-mails
trocados entre os funcionários da Vale, da TÜV SÜD e da Tec Wise, outra empresa
contratada pela mineradora. As mensagens começaram a ser trocadas em 23 de
janeiro, às 14h38, e se prolongaram até às 15h05 do dia seguinte, um dia antes da
barragem se romper.

Segundo Renato Janine Ribeiro (2019), a sociedade já tem conhecimentos para


impedir a ocorrência de um caso como este, e era preciso que a barragem estivesse
firme e sendo monitorada de modo permanente, com os sistemas de alerta
funcionando. Isso agrava a questão, porque, apesar de todo conhecimento científico
e tecnológico, existe a falha. E que não é apenas uma falha, porque não se trata de
fatalidade. Fatalidade é aquilo que não se pode prever, o que não se enquadra neste

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caso, a falta de ética na relação com o público foi um dos motivos causadores deste
desastre indecoroso.

Para quem pensa em termos de ética empresarial, que é algo absolutamente


essencial em um mundo em que quase toda a produção se faz por empresas, o
terrível é perceber o descaso de alguns empresários por princípios básicos que
deveriam ter sido tomados.

Embora a tragédia seja uma questão claramente grave do ponto de vista ético, a
reincidência mostra que existe negligencia séria por parte da empresa Vale em
relação dos dois episódios de tragédia socio-ambientais como Brumadinho e
Mariana, há ceticismo quanto a uma potencial consequência financeira, pelas
características da empresa. De alguma maneira a impunidade, a corrupção, a falta
de cuidado com o outro, a ganância predadora, a incapacidade de aprender com os
erros, a ignorância, a deseducação, a cegueira ambiental, o culto alienado dos
números em detrimento aos interesses próprios e etc, tiveram influência sobre tal
acontecimento.

Janine (2019), ressalta que é preciso entender que a ética envolve


responsabilidade e que não é apenas para ser ostentada de vez em quando. “Ética
está na prática e a prática da ética é, por exemplo, você, sabendo que está lidando
com algo que envolve riscos, evitar que esses riscos ocorram e tomar as medidas
necessárias para isso.

4. CONCLUSÃO

Por conclusão, se existem formas mais seguras de viabilizar a exploração


ambiental para fins econômicos – tal como a construção de barragem em etapa
única, apoiada em fundação, com capacidade limitada, teria sido ético optar pelo
modelo de “alteamento a montante”, considerado o mais perigoso, com o acúmulo
de rejeito sobre o próprio rejeito, adotados pela Samarco, em Mariana, e pela Vale,
em Brumadinho?

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Ora, se o modelo “etapa única” é mais seguro, precisamente por ser construído
de uma só vez, preenchendo requisitos de segurança para estabilidade, foi, por
questões econômicas, dispensado em favor da barragem “alteamento a montante”,
parece-me seguro dizer que a responsabilidade socioambiental foi, nesses casos,
preterida pela oportunidade de redução de custos e consequente maximização de
lucros, exemplo claro de conduta socio-ambientalmente antiética, com
consequências letais e catastróficas. Falar em retrospectiva, contudo, é
relativamente fácil. A lição que resta agora – depois de destruídos incontáveis
sonhos, vidas humanas e também de outras espécies – não é sobre técnicas
construtivas.

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