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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
AULA 05 – QUALIDADE E
TRATAMENTO DA ÁGUA

Prof. Rogério Frade da Silva Souza


AULA 05 – QUALIDADE E
TRATAMENTO DA ÁGUA
Figura – Unidades componentes de um sistema de abastecimento de água

Fonte: BRASIL, MS/FUNASA, 2004.


1 QUALIDADE DA ÁGUA
 Água bruta é aquela captada do manancial.

 Água potável é aquela própria para consumo humano.

 Sistemas de abastecimento de água captam água bruta do manancial; fazem o


tratamento da água bruta; e fornecem água potável às unidades consumidoras.

 Estação de Tratamento de Água (ETA).

 Adequação das características físicas, químicas e biológicas.

 Padrões de potabilidade.
2 ÁGUAS – POLUIÇÃO E CONTAMINAÇÃO
 Formas de poluição das águas dos mananciais:

- Precipitação atmosférica;

- Escoamento superficial;

- Infiltração;

- Despejos de esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e resíduos sólidos (lixo);

- Represamento.
2 ÁGUAS – POLUIÇÃO E CONTAMINAÇÃO
 A alteração das características da água pode ocorrer pela:

a) Poluição é o lançamento de radiações, vibrações, ruídos, substâncias em um


ambiente (ar, água, solo ou alimento), deixando-o visualmente afetado e
prejudicando os ecossistemas biológicos e atividades humanas.

b) Contaminação é a presença, num ambiente, de seres patogênicos, que provocam


doenças, ou substâncias, em concentração nociva ao ser humano (NASS, 2002).

 Diferença entre contaminação e poluição: na poluição ocorre a alteração do


aspecto original do ambiente, deixando-o visualmente alterado; enquanto a
contaminação existe necessariamente a presença de fatores patógenos ou
químicos que podem causar doenças.
Figura 1 – Sólidos em suspensão na água no Lago Igapó, Londrina, PR

 Exemplo: a água do rio pode estar


poluída por sólidos em suspensão
(suja, barrenta) e pode não estar
contaminada. Estará contaminada
se tiver algum microrganismo
patogênico (bactérias, etc.). Ou
ainda, algum contaminante
químico como o mercúrio.

Fonte: LORENZO, 2011.


2 ÁGUAS – POLUIÇÃO E CONTAMINAÇÃO
 Contaminação da água
No sentido restrito ao uso da água, diretamente, como alimento e não como
ambiente, contaminação é o lançamento à água de elementos que sejam nocivos à
saúde do homem ou de animais, bem como a vegetais que consomem esta água.

Exemplo: lançamento à água de substâncias tóxicas ou venenosas ou radioativas,


ou de organismos patogênicos.

3 CONTROLE DA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS NATURAIS


 Controle da poluição das águas naturais – em toda a bacia hidrográfica;
 Papel dos planos diretores de bacia hidrográfica;
 Importância dos comitês de bacia hidrográfica;
 Controle do uso e ocupação do solo é essencial.
4 IMPUREZAS NA ÁGUA – APRESENTAÇÃO E EFEITOS
a) Em suspensão - microrganismos diversos: bactérias, sendo algumas patogênicas;
outras prejudiciais às instalações; algas e protozoários que podem causar cheiro,
sabor, turbidez; vírus e vermes.
- larvas e mosquitos;
- areia e argilas: turbidez;
- resíduos industriais e domésticos: turbidez.

b) Em estado coloidal (matéria dispersa em partículas entre 1 a 100 milimícrons):


substâncias vegetais (corantes): cor, acidez, sabor.
- sílica: turbidez
Nota: 1 milimícron = 1 milímetro / 1.000.000
Figura 2 – Turbidez: águas do Rio Solimões (à esquerda), mais turva, em
comparação com as do Rio Negro (à direita)

 Turbidez é a propriedade da água


relacionada à capacidade óptica
de absorção e reflexão
(propagação) da luz;
 Originada por partículas sólidas
em suspensão (argila, matéria
orgânica – “colóides”);
 Relacionada à qualidade e
potabilidade da água.

Fonte: GUENTERMANAUS / SHUTTERSTOCK.COM


4 IMPUREZAS NA ÁGUA – APRESENTAÇÃO E EFEITOS
c) Em dissolução
 Gases:
- Oxigênio: corrosão;
 Ferro: sabor, cor
- Dióxido de carbono: corrosividade, acidez;
 Manganês: cor escura
- Gás sulfídrico: cheiro, acidez, corrosividade.

 Sais de cálcio e magnésio:


 Sais de sódio e potássio:
- bicarbonatos: alcalinidade, dureza,
- bicarbonatos: alcalinidade;
incrustações;
- carbonatos: alcalinidade;
- carbonatos: alcalinidade, dureza,
- sulfatos: ação laxativa; incrustações;
- fluoretos: ação sobre os dentes; - Sulfatos: dureza;
- cloretos: sabor. - Cloretos: dureza, corrosividade para
caldeiras.
5 CARACTERÍSICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DAS ÁGUAS
5.1 Características físicas das águas

 Cor: é uma característica devida à existência de substâncias dissolvidas. Grande


maioria de natureza orgânica.

 Turbidez: é uma característica decorrente da presença de substâncias em


suspensão, ou seja, de sólidos suspensos, finamente divididos em estado coloidal, e
de organismos microscópicos.

 Sabor e odor

 Temperatura: para uso doméstico, a água deve ter temperatura refrescante.


5 CARACTERÍSICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DAS ÁGUAS
5.2 Características químicas das águas
São devidas à presença de substâncias dissolvidas, geralmente avaliáveis
somente por meios analíticos.

 Salinidade: o conjunto de sais normalmente dissolvidos na água, formado pelos


bicarbonatos, cloretos, sulfatos e, em menor quantidade, pelos demais sais.

 O teor de cloretos pode ser indicativo de poluição por esgotos domésticos; a


salinidade excessiva é mais própria das águas profundas.

 Dureza: é uma característica conferida à água pela presença de sais alcalino-


terrosos (Cálcio, Magnésio, etc.). É observada pela dificuldade na formação de
espuma pelo sabão e provocam incrustações em tubulações.
INCRUSTAÇÕES Figuras 2.1 Incrustações em materiais diversos

 Incrustações são os depósitos que se


formam no interior das tubulações, devido à
fixação de substâncias em suspensão e da
precipitação de sólidos dissolvidos que se
transformam em sólidos insolúveis devido
ao aumento da temperatura.

 Caracterizada por uma crosta de sólidos.

 Prejudicial às tubulações.

Figuras 2.2 Tubulação com incrustação


5 CARACTERÍSICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DAS ÁGUAS
5.2 Características químicas das águas
 Alcalinidade: ocorre devido à presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos,
quase sempre de alcalino e alcalino-terrosos (sódio, potássio, cálcio, magnésio,
etc.).

 A alcalinidade tem importância e influência nos diversos tratamentos a que são


submetidas as águas.

 Agressividade (corrosão): é a tendência da água a corroer os metais que pode ser


conferida pela presença de ácidos minerais (casos raros), ou pela existência, em
solução, de oxigênio, gás carbônico e gás sulfídrico.

 O Oxigênio é fator de corrosão de metais ferrosos, o gás sulfídrico dos não ferrosos e
o gás carbônico dos materiais à base de cimento.
5 CARACTERÍSICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DAS ÁGUAS
5.2 Características químicas das águas
 Ferro e Manganês: o ferro, com frequência, associado ao manganês, confere sabor
às águas e coloração avermelhada, decorrente da precipitação do mesmo.
 Podem manchar roupas durante a lavagem; o manganês é semelhante ao ferro,
porém menos comum. Possui coloração marrom e quando oxidado é preto.

 Impurezas orgânicas e Nitratos: são um número de constituintes de origem animal


ou vegetal, que podem indicar uma poluição recente ou remota. Incluem-se neste
item: a matéria orgânica, em geral, e o nitrogênio sob as diversas formas (orgânico,
amoniacal, nitroso e nítrico).
Figura 3 – Características físico-químicas da água
5 CARACTERÍSICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DAS ÁGUAS
5.3 Características biológicas das águas
 Entre o material em suspensão na água incluem-se a parte viva, ou seja, os
organismos presentes e que, conforme sua natureza, em grande significado para os
sistemas de abastecimento público.

 Exemplo: organismos como bactérias, vírus, protozoários, algas.

 As características biológicas das águas são avaliadas através:


1. Contagem do número total de bactérias heterotróficas;
2. Pesquisa de coliformes: totais, fecais e E. coli;
3. Características hidrobiológicas das águas: algas, protozoários, rotíferos,
crustáceos, vermes, larvas de insetos.
6 BACTÉRIAS DO GRUPO COLIFORME
 Requisitos de um indicador de Contaminação Fecal:
a) Ser um microorganismo ou um grupo de microrganismos prevalentes em esgotos e
excretado pelo homem ou outros animais homeotérmico;
b) Sua densidade deve ter uma relação direta com o grau de contaminação;
c) Ser incapaz de se multiplicar no ambiente aquático ou multiplicar-se menos do
que as bactérias entéricas;
d) Apresentar maior resistência aos desinfetantes que os microorganismos
patogênicos;
e) Ser quantificável por métodos laboratoriais rápidos e simples.

 Bactérias do Grupo Coliforme constituem o indicador de contaminação fecal mais


utilizado em todo o mundo.

 95% dos coliformes existentes nas fezes humanas e de outros animais é de E. Coli.
Figura 4 – Bactérias do grupo Coliforme: indicador de contaminação da água

Fonte: SOARES, 2015.


6 BACTÉRIAS DO GRUPO COLIFORME
 Tipos de análises da água usando como indicador as bactérias do Grupo Coliforme:

- Coliformes totais: incluem bactérias que não são de origem exclusivamente fecal
(Citrocacter, Enterobacter e Kebsiella);

- Coliformes fecais (termotolerantes): resistem a temperaturas elevadas;

- Escherichia coli: tendência para detecção específica  único componente do


grupo coliforme de origem exclusivamente fecal.
6 BACTÉRIAS DO GRUPO COLIFORME
 Vantagens:

- encontram-se normalmente no intestino do homem e de animais de sangue quente;

- são eliminados em grande número nas fezes (cerca de 300 milhões, por grama);

- Devido à prevalência do grupo coliforme no esgoto, eles podem ser prontamente


quantificados na água contaminada recentemente por matéria fecal, através de
métodos laboratoriais simples;

- a ausência de coliformes é prova de uma água bacteriologicamente potável.


6 BACTÉRIAS DO GRUPO COLIFORME
 Desvantagens/Limitações:
- alguns dos componentes do grupo coliforme não são de origem exclusivamente
fecal, podendo ser encontrados no solo e na vegetação (Citrocacter, Enterobacter
e Kebsiella);

- algumas espécies desse grupo podem se multiplicar em águas poluídas, com


elevado teor nutritivo;

- Interferências nos testes de detecção devido presença de outros tipos de bactérias


na água.
Ex.: resultados falso-negativos (espécies de Pseudomonias) e resultados falso-
positivos (ação sinérgica de outras bactérias).
7 PADRÕES DE POTABILIDADE DA ÁGUA
 Água potável é a água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos,
físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não
ofereça riscos à saúde.
 Padrão de potabilidade é o conjunto de valores máximos permissíveis, das
características de qualidade da água destinada ao consumo humano.
 A água para consumo de doméstico deve ser potável, ou seja, atender aos padrões
de potabilidade da Portaria GM/MS Nº 888, de 4 de Maio de 2021, do Ministério da
Saúde.
 Valores Máximos Permissíveis (VMP) de elementos nocivos ou características
desagradáveis na água (vide Tabelas 2 e 3).
Tabela 2 – Tabela de padrão microbiológico da água para consumo humano – GM/MS Nº 888/2021
Tipo de água Parâmetro VMP
Água para consumo humano Escherichia coli Ausência em 100 ml
Água tratada Na saída do Coliformes totais Ausência em 100 ml
tratamento
No sistema de Escherichia coli Ausência em 100 ml
distribuição
(reservatórios e Coliformes totais Sistemas ou soluções Apenas uma amostra, entre
rede) alternativas coletivas que as amostras examinadas no
abastecem menos de 20.000 mês, poderá apresentar
habitantes resultado positivo
Sistemas ou soluções Ausência em 100 ml em
alternativas coletivas que 95% das amostras
abastecem a partir de 20.000 examinadas no mês
habitantes
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde , 2021.
Tabela 3 – Exemplos de padrões de potabilidade para substâncias químicas – GM/MS Nº 888/2021
Parâmetro Unidade VMP
Arsênio mg/litro 0,01
Chumbo mg/litro 0,01
Cromo [...] mg/litro 0,05
Fonte: Adaptado de BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021.
Tabela 4 – Exemplos de padrão de potabilidade Tabela 5 – Exemplos de padrão de potabilidade
para subprodutos da desinfecção que representam para substâncias orgânicas que representam
risco à saúde – GM/MS Nº 888 – Anexo 9 risco à saúde – GM/MS Nº 888/2021– Anexo 9

Parâmetro Unidade VMP Parâmetro Unidade VMP


Bromato µg/litro 0,01 Acrilamida µg/litro 0,5
Clorato µg/litro 0,7 Benzeno µg/litro 5,0
Clorito µg/litro 0,7 Cloreto de vinila µg/litro 0,3
Cloro residual livre [...] µg/litro 5,0 Diclorometano[...] µg/litro 0,1

Fonte: Adaptado de BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021. Fonte: Adaptado de BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021.

Tabela 6 – Exemplos de padrões de potabilidade para agrotóxicos e metabólitos que


representam risco à saúde – GM/MS Nº 888/2021– Anexo 9
Parâmetro Unidade VMP
Alacloro µg/litro 20,0
Ametrina µg/litro 60,0
Carbendazim µg/litro 120,0
Carbofurano [...] µg/litro 7,0
Fonte: Adaptado de BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021.
Tabela 7 – Tabela de padrão de cianotoxinas da água para consumo humano – GM/MS Nº
888/2021– Anexo 10

Parâmetro Unidade VMP


Cilindrospermopsinas µg/litro 1,0
Microcistina µg/litro 1,0
Saxitoxinas µg/litro 3,0
Fonte: BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021.

Tabela 8 – Exemplos de padrão organoléptico de potabilidade – GM/MS Nº 888 – Anexo 11

Parâmetro Unidade VMP


Alumínio mg/litro 0,2
Cloreto mg/litro 250,0
Ferro mg/litro 0,3
Manganês[...] mg/litro 0,1
Fonte: Adaptado de BRASIL / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021.
7 PADRÕES DE POTABILIDADE DA ÁGUA
 Avaliar em cada caso, conforme cada uso e o respectivo padrão de potabilidade
requerido:
- Industrial;
- Agrícola;
- Pecuária;
- Lazer/recreação;
- Reuso.
8 TRATAMENTO DA ÁGUA
 Tratamento da água é um processo para retirada de todos os elementos que
possam fazer mal à saúde, tornado a água potável;

 Processo realizado na Estação de Tratamento de Água (ETA);

 Trata-se de um processo dinâmico, pois a qualidade da água do manancial pode


variar;

 Monitoramento contínuo da água bruta e da água tratada;

 ETA situada entre a adutora de água bruta e a adutora de água tratada (Figura 7).
Figura 5 – Posicionamento da ETA no sistema de abastecimento

Fonte: Adaptado de SOARES, 2002.


Figura 6 – Fases do tratamento da água

Fonte: VASCONCELOS, 2014.


8 TRATAMENTO DA ÁGUA
Principais fases do tratamento de água:

 Adição de Cloro para facilitar a retirada de matéria orgânica e metais;

 Adição de Cal ou soda para ajuste de pH para as fases seguintes do tratamento;

 Floculação: adição de sulfato de alumínio que faz com que as impurezas se


aglutinem formando flocos para serem facilmente removidos;

 Decantação: os flocos de impurezas se depositam no fundo do decantador;


8 TRATAMENTO DA ÁGUA
Principais fases do tratamento de água (cont.)

 Filtração: a água passa por várias camadas filtrantes – retenção de flocos menores
e do cloro;

 Cloração: nova adição de cloro na água, usado para a destruição de


microrganismos presentes na água;

 Fluoretação: adição de flúor na água – colabora para a redução da incidência da


cárie dentária;

 Após o tratamento, a adutora de água tratada transporta a água da ETA para o(s)
RESERVATÓRIO(S) do sistema de abastecimento.

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