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O Brasil e a Antártida: entre o territorialismo e a promoção da ciência.

Ignacio Javier Cardone1*

Resumo
O Brasil tem se incorporado tardiamente como ator antártico. Originalmente ligado a potenciais interesses territoriais e
estratégicos, o Brasil foi adaptando a sua posição à um maior alinhamento com o acordo do Tratado Antártico, deixando
de lado a gênese “territorialista”. Porém, importantes resquícios dessa gênese subsistem até hoje condicionando o
desenvolvimento de uma política orientada unicamente à pesquisa científica. Partindo de fontes acadêmicas e debates
parlamentários sobre a questão antártica, o presente artigo analisa como, mesmo que a posição oficial brasileira seja de
completo alinhamento com o Tratado Antártico, ainda subsistem traços de “territorialismo”, presentes tanto na
produção acadêmica, quanto em setores específicos do debate político e das forças militares. Esses traços não podem ser
confundidos com uma orientação territorial brasileira, mas marcam um caráter específico e uma dinâmica particular ao
interior da política antártica brasileira que não pode deixar de ser considerada.

Palavras Chave: Política Antártica Brasileira; Sistema do Tratado Antártico; Antártida.

Apresentação

O presente trabalho expõe os resultados parciais de uma pesquisa que visa determinar
elementos condicionantes da Política Antártica Brasileira (PAB) a partir de dimensões ideológicas e
culturais. Este work in progress2 integra uma agenda de pesquisa mais ampla sobre a PAB que
pretende cobrir várias lacunas importantes detectadas na produção acadêmica sobre a questão, e
aportar uma visão mais objetiva e menos influenciada pelo discurso oficial.
Especificamente, o presente artigo analisa os traços do que é chamado aqui de
territorialismo antártico brasileiro ao interior da PAB, particularmente no que se refere às posições
das autoridades públicas no debate político e a produção acadêmica sobre a questão. O intuito é
poder rastear essas improntas, compreendendo a forma na qual tais princípios e posições se
articulam ao interior da definição de uma política brasileira para Antártida.
A escolha de essa perspectiva de análise nos remete necessariamente à utilização de um
marco teórico construtivista, já que a ênfase está dada pela forma na qual fatores ideológicos e

1
Estudante de Doutorado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP/Brasil).
Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Paraná (UFPR/Brasil). Bacharel em Ciência Política pela
Universidade de Buenos Aires (UBA/Arg.). Pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da
Universidade Federal de Paraná (NEPRI/UFPR) e do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade
de São Paulo (NUPRI/USP). E-mail: icardone@usp.br. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP).
*
O presente trabalho foi possível graças ao aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP) a través do processo 2015/05909-2 em convênio com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES).
2
Pelo caráter inacabado do trabalho aqui apresentado, os resultados aqui descritos se limitam ao estabelecimento de
algumas linhas gerais detectadas a partir do trabalho empírico e teórico. Ficam pendentes o esgotamento das fontes e a
sistematização da informação para o estabelecimento de conclusões mais contundentes.

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culturais de índole doméstica3 influenciam a estruturação de uma política externa determinada, a
PAB. Desde já, essa escolha não significa -pelo menos não em nosso caso- que consideremos esses
condicionantes como os mais relevantes, ou que desconsideremos o impacto de outros fatores.
Muito pelo contrário, somos cientes de que o impacto do caso particular estudado resulta
relativamente colateral na determinação dos lineamentos centrais da PAB. Todavia, consideramos
que esses efeitos não são inócuos e imprimem uma dinâmica particular que não pode ser deixada de
lado para a análise.
Essa aproximação construtivista será abordada a partir de uma metodologia qualitativa que
identificará, nas obras dos pensadores territorialistas de maior impacto, os valores e princípios que
conformaram a estrutura do que chamamos aqui de territorialismo antártico brasileiro. A partir
desse quadro de valores e princípios, contrastaremos a evolução nas posições da PAB e do debate
político e acadêmico, a fim de observar mudanças e continuidades que nos habilitem a refletir sobre
os efeitos desse pensamento sobre a dinâmica atual da PAB.
Seguindo essas considerações, o artigo se estrutura em 4 apartados. O primeiro apartado
apresenta as origens do que será chamado de territorialismo antártico brasileiro, particularmente a
partir do desenvolvimento da posição conhecida como “Teoría da Defrontação”, formulada
originalmente pelos professores Delgado de Carvalho e Terezinha de Castro, e a rejeição do
governo ao envolvimento oficial na questão. Com ênfase nos elementos que revelem a influência do
pensamento territorialista brasileiro, o segundo apartado analisa o envolvimento do Brasil na
Antártida a partir da assinatura do Tratado Antártico (TA) em 1975, o desenvolvimento da estrutura
institucional original do Programa Antártico Brasileiro e a incorporação como membro pleno do
Sistema do Tratado Antártico (STA). No terceiro apartado, o artigo analisa as mudanças
experimentadas na PAB, com particular interesse na dinâmica de quebre e continuidade com a
impronta territorialista, e as manifestações de tal continuidade na atualidade. Por último, o quarto
apartado apresenta as conclusões preliminares que falam da superação do pensamento territorialista,
mas com reminiscências que determinam uma série de incongruências ao interior da PAB.

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Não estamos afirmando que o construtivismo se limite ao estudo do nível doméstico, mas simplesmente especificando
que nosso recorte analítico se limita a esse nível.

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1. As Origens do Territorialismo Antártico Brasileiro

A Teoría da Defrontação
O Brasil tem se incorporado tardiamente na questão antártica. A exceção de colaborações
materiais em expedições antárticas como a expedição belga comandada por Adrien de Gerlache e a
expedição francesa de Jean Baptiste Charcot, as primeiras manifestações brasileiras de interesse
sobre o continente branco apareceram a meados dos anos de 1950 com a elaboração do que foi
conhecido como “teoria da defrontação” por parte de professores vinculados ao Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), especialmente: Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro.
A chamada “teoria” parece ter se desenvolvido como reação à organização do Ano
Geofísico Internacional (AGI), o qual era visto pelos referidos pensadores como uma cúpula
destinada à partilha da Antártida. Essa ideia se evidencia no paralelismo que os citados autores
estabeleceram entre o AGI de 1957-1958 e a Conferência de Berlim de 1884-1885 –que determinou
as condições para a partilha da África entre as potências coloniais da época (CARVALHO e
CASTRO, 1956, p. 503).
Em função dessa situação, percebida como uma janela de oportunidades para o
envolvimento antártico, os autores chamavam ao país a assumir um papel ativo que o colocara em
igualdade de condições com os países envolvidos, considerando que o Brasil contava com
fundamentos jurídicos de igual peso4 que os países reivindicantes de territorio antártico: “No
momento atual, o Brasil está em condições de reivindicar direitos, cujos fundamentos jurídicos são
tão sólidos como as bases que pode invocar qualquer outra potência. ” (CARVALHO e CASTRO,
1956, p. 503).
Como justificativa política, tanto interna quanto externa, estes autores afirmavam a
importância, largamente negligenciada, da Antártida para o Brasil. Tal importância se manifestava,
principalmente, em motivações de índole geoestratégica. A região era destacada como ponto
neurálgico da navegação marítima interoceânica, realçando a importância da sua posição para a
defesa do atlântico sul e perante de uma possível “guerra climática” que, eventualmente, poderia vir
ocorrer quando os avanços tecnológicos assim o permitissem.
As duas orientações contendentes na Política Exterior Brasileira, os americanistas e os
nacionais independentistas (LIGIERO, 2011) aparecem combinadas nessa posição. Por um lado,
preocupados com a ameaça comunista soviética e estabelecendo a problemática como uma questão

4
O principal fundamento jurídico sustentado por tais autores foi o Tratado de Tordesilhas de 1494.

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geopolítica de segurança (típica da posição americanista), por outro, postulavam o estabelecimento
de uma aliança com os países latino-americanos que garantisse uma posição de maior força perante
das grandes potências (mais próxima à posição independentista). E ignorando a evidente oposição
que tal proposta gerava na Argentina e no Chile5, reservavam para o Brasil o papel de líder
regional6 dessa estratégia de geração de uma Antártica Americana: “Reivindiquemos o nosso
quinhão na Antártica! Se apelaram para a história, apelemos também. Unamo-nos aos países sul-
americanos, Argentina, Chile, Equador, Peru e Uruguai em tôrno [sic] do direito de defrontação...”
(CASTRO, 1959, p. 245).
Contudo, mesmo tendo gerado uma importante influência em círculos governamentais e na
cúpula militar, a posição territorialista instalada a partir da teoria da Defrontação nunca conseguiu
se traduzir em uma posição oficial consonante por parte do Itamaraty. Quando o Brasil foi deixado
de lado nas negociações de Washington que culminaram no Tratado Antártico, o Brasil se limitou a
expressar seu desconforto e manifestar a sua reserva de direitos sobre o continente, sem que essas
declarações se traduziram em outro tipo de ações. Provavelmente a razão detrás dessa recusa do
governo a assumir um papel mais ativo na Antártida tenha a ver, por um lado, com as frágeis bases
sobre as quais descansava a posição territorialista da Teoria da Defrontação, tal como analisado por
Ferreira (2009, p. 121) e, por outro, pelo pouco interesse do governo na questão, o alto custo das
operações antárticas, e a subsidiariedade do seus interesses a outros interesses da política externa
brasileira, tais como as relações com a Argentina e o Chile (FERREIRA, 2009, p. 124)
(CARDONE, 2015, p. 57-64).
Todavia, a Teoria da Defrontação teve um claro impacto na Política Exterior Brasileira a
partir da sua influência no debate político. Em primeiro lugar contribuiu a instalar a questão
antártica na agenda política, mobilizando o debate em torno da questão7. Adicionalmente,

5
A formulação da “Teoria da Defrontação” gerou posteriormente grande impacto na imprensa e produção acadêmica
Argentina e Chilena com reações claramente negativas. Para algumas dessas reações VER: MASTRORILLI, C. Brasil y
la Antártida: A Propósito de la tesis de Therezinha de Castro. Estrategia. Instituto Argentino de Estudios Estratégicos y
de las Relaciones Internacionales. Buenos Aires: n.43-44, Nov-Dez 1976/Jan-Fev 1977, p. 112-118, e GREÑO
VELASCO, J. E. La adhesión de Brasil al Tratado Antártico. Revista de Política Internacional. Instituto de Estudios
Políticos. Madrid: n.146, Jul-Ago 1976.
6
Essa posição é consonante com a orientação da Política Exterior Brasileira a partir do Lançamento da Operação Pan-
Americana por parte do Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960). Sobre a OPA VER: LIGIERO, Op. Cit., 2011,
pp.67-75; e PINHEIRO, L. Política externa brasileira, 1889-2002. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004, pp.31-32.
7
Um claro exemplo disto é a influência que o pensamento da Teoria da Defrontação teve nas posições do Deputado
Federal Eurípide de Menezes, um dos maiores promotores do territorialismo antártico brasileiro no Congresso e férreo
opositor à adesão do Brasil ao Tratado Antártico (FERREIRA, 2009, p. 123-124).

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proporcionou o substrato ideológico do que chamamos aqui de territorialismo antártico brasileiro e
que descrevemos a continuação.

As bases do Territorialismo Antártico Brasileiro


Como visto com anterioridade, a Teoria da Defrontação exerceu um papel relevante na
conformação de um pensamento político brasileiro voltado a Antártida. Esse pensamento foi
cristalizando em uma serie de princípios que, se bem não gerou uma política de Estado consonante
com a posição territorialista, foram adaptados e adoptados como próprios no que posteriormente
seria a posição oficial do governo a partir da adesão ao Tratado Antártico.
Em termos gerais, o que neste trabalho definimos por territorialismo antártico brasileiro se
baseia na afirmação (quase dogmática) da existência de interesses substanciais por parte do Brasil
na Antártida. Esses interesses se derivam, por sua vez, da posição geográfica do Brasil,
determinada pela sua cercania relativa ao continente antártico 8 e sua posição como país voltado ao
Atlântico Sul, presentando a maior linha costeira deste Oceano. Essa característica determina que a
Antártida exerça um importante rol na segurança do Brasil, em primeiro lugar como espaço de
defensa do Atlântico Sul (na sua versão original perante da ameaça soviética), e em segundo lugar
como importante regulador climático (na sua versão original perante da possibilidade de uma
“guerra climática”). A esse interesse de segurança se suma o interesse econômico a partir da
potencial exploração dos recursos naturais da região.
Assim definidos, para essa posição, esses interesses legitimam o envolvimento do Brasil na
questão Antártica o qual se manifesta no direito do pais de decidir os destinos futuros sobre o
Continente (na sua versão original a ênfase estava na partilha dos territórios antárticos), o que se
suma à vontade e o destino brasileiro de se conformar como potência mundial e líder regional.
Por último, o que define claramente a argamassa de todo os princípios anteriores na posição
do territorialismo antártico brasileiro -e que o define como tal- é a ideia da necessidade do Brasil
de tomar possessão de um setor antártico, definido a partir do princípio dos setores que envolve a
projeção das líneas costeiras dos países até o ponto geográfico do polo sul.

8
Os teóricos da Defrontação negavam a tesis de continuidade geográfica postulada por Argentina e Chile e afirmavam a
tese de cercania relativa, já que, segundo estes autores, a distancias de todos os países era o suficientemente vasta como
para derrubar qualquer tese de continuidade. A ideia de fundo é a de que o Brasil está relativamente tão perto (ou ainda
mais) do que qualquer outro país reivindicante.

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No QUADRO 1 a continuação, se apresenta um condensado dessa estrutura ideológica do
territorialismo antártico brasileiro.

QUADRO 1- ESTRUTURA IDEOLOGICA DO TERRITORIALISMO ANTARTICO BRASILEIRO


INTERESSES SUBSTANCIAIS
- Defesa do espaço estratégico do Atlântico Sul, especialmente perante
Segurança da ameaça Soviética
- Possibilidade futura de guerra climática utilizando a Antártida
Econômicos Exploração de vastos recursos naturais
Científicos Não apresenta
FUNDAMENTOS
Colaboração em expedições antárticas Belga e Francesa e viagens de
Históricos
exploradores lusitanos em mares austrais
Cercania Geográfica Cercania relativa (determina vulnerabilidade)
Maior linha costeira no Atlântico Sul (vinculada à projeção dos
Projeção Costeira
“Setores”)
DIREITOS
-Tratado de Tordesilhas
Fundamentos Jurídicos - Princípio dos Setores
- Tratado Interamericano de Assistência Reciproca (TIAR)
- Brasil potência mundial (projeção internacional e territorial)
Posição Internacional
- Brasil líder regional
Território Projeção da linha costeira segundo o princípio dos setores
POSICIONAMENTO EXTERNO
Inválidas (o verdadeiro princípio é o princípio de defrontação tal e como
Reivindicações Territoriais
formulado pela Teoria da Defrontação)
Cenário previsto para a Partilha a partir da “Convenção” do Ano Geofísico Internacional no
Antártida molde da Conferência de Berlim de 1884-85
FONTE: o Autor, 2015.

2. O Envolvimento do Brasil na Antártida

A Adesão do Brasil ao Tratado Antártico


Segundo descreve Ferreira (2009) Itamaraty só considerou a questão Antártica a partir da
tentativa da Índia de introdução da questão de internacionalização do continente na Assembleia
Geral das Nações Unidas (AGNU) em 1956, optando nessa oportunidade por uma posição
“neutral”. Mas foi só na década de 1970 que a questão foi analisada com mais detalhe pelo governo,

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a partir de um pedido de informe realizado a quem for nesse momento o maior especialista na
questão: o Conselheiro João Frank da Costa. O informe afirmava que o Tratado Antártico constituía
um fato inapelável, e que a conveniência para o Brasil se encontrava na sua incorporação a este,
mais do que qualquer ação contrariando ao regime já estabelecido (FERREIRA, 2009, p. 125).
Essa mesma linha geral de ação serviu de base para as exposições de motivos que o
Itamaraty elevara à Presidência da República em 1974 e 1975 solicitando a adesão do Brasil ao
Tratado Antártico. A adesão era justificada a partir de motivações estratégicas de segurança
derivadas da posição geográfica do Brasil; do potencial de aproveitamento econômico da região; e
da possibilidade de participar nas discussões sobre o futuro do Continente quando o Tratado
Antártico deixasse de vigorar9. Seguindo essas recomendações, em 1975, o Brasil aderiu finalmente
ao Tratado Antártico por meio do Decreto Legislativo N° 56.
Na posição de adesão, a influência do territorialismo antártico brasileiro se evidenciava a
través de vários elementos, particularmente na fundamentação da posição geográfica do Brasil
como definidora dos interesses do país na Antártida; na importância do Continente para o Brasil em
questões de segurança e estratégia; na consideração de potenciais interesses econômicos; e na
especulação sobre a possível participação de uma partilha antártica quando o Tratado for revisto em
1991.
Deve-se observar, que esta última questão guarda importantes semelhanças com a avaliação
que os teóricos da defrontação fizeram oportunamente sobre o AGI, al que consideravam uma
Conferência que determinaria a partilha do continente, segundo o analisado no primeiro apartado.
Essa atitude determinou uma “dualidade” da política brasileira para Antártida, já que, por
um lado, estava interessada na possível participação de uma partilha antártica; quando, por outro, a
própria adesão ao Tratado significava a renúncia a que qualquer atividade realizada durante a
vigência deste pudesse ser considerada como fundamento de uma reivindicação territorial10.
Porém, a adesão não desembocou em um programa brasileiro para Antártida e os projetos
que diversas agrupações privadas, particularmente o Instituto Brasileiro de Estudos Antárticos

9
Basicamente, se interpretava que em 1991 o Tratado Antártico deixaria de ter vigência e se realizaria uma Cúpula que
decidiria sobre o critério de divisão da Antártida. Porém, como Ferreira afirma, essa interpretação era substantivamente
errónea (FERREIRA, 2009).
10
Vale aclarar que essa “dualidade” não é exclusiva nem original da Política Antártica Brasileira. Interpretações de que
as atividades antárticas, mesmo durante a vigência do Tratado Antártico, constituem fundamento das reivindicações
territoriais, se encontram presentes nas justificativas das atividades antárticas Argentina e Chilenas. A tal ponto essa
dualidade está presente nestes dois últimos, que ambos os países têm instalado populações civis, sem finalidade
científica, logística, ou econômica; a modo de quase-colônias antárticas.

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(IBEA), não conseguiram se materializar. A subsidiariedade dos interesses antárticos a outros
interesses da política exterior, especialmente às relações com Argentina -nesse momento em crise
pelo aproveitamento hidroelétrico da Bacia do Prata- levou a adiar um envolvimento mais ativo.

A incorporação ao Sistema do Tratado Antártico


Com o desenvolver das negociações sobre o aproveitamento da Bacia do Prata e o
estabelecimento de um acordo entre o Brasil e a Argentina; a melhora na relação entre os dois
países, somado ao avanço das negociações para o estabelecimento de um regime de mineração
antártico, levaram ao Brasil a reativar o projeto de se incorporar ao regime do STA como membro
pleno de direitos. Em um breve período, Brasil pós em funcionamento um Programa Antártico,
realizando suas primeiras atividades no verão 1982-1983 o que, em conjunção com circunstâncias
políticas especiais11, permitiram a incorporação do Brasil como parte consultiva do Tratado
Antártico já em 1983. Em palavras de um analista brasileiro da época:

Se verificamos a amplitude do programa Antártico Brasileiro, o pequeno intervalo entre a nossa


primeira expedição e a aceitação do Brasil como Parte Consultiva do Tratado, a instalação da
Estação na Antártida e de uma Estação de Apoio em Rio Grande, no curto período compreendido
entre janeiro de 1982 e janeiro de 1984, logo compreendemos a importância que os interesses de
carácter científico, político, econômicos e estratégicos, pressionando mais do que nunca o sistema
antártico, têm para o Brasil. (PACHECO, 1986, p. 119)

Cabe salientar que a posição da ciência na primeira operação antártica, assim como na
escolha do local para a instalação da base de operações antárticas Comandante Ferraz (EAFC),
tiveram um papel meramente instrumental aos objetivos políticos da POLANTAR. Nessa
oportunidade a pesquisa científica cumpria um papel meramente secundário (GANDRA, 2013, p.
101-104).
Nos anos seguintes, o Brasil completou o processo de inclusão ao STA a partir da sua
incorporação no Comitê Cientifico de Pesquisa Antártica (SCAR-Scientific Committee for Antarctic
Research) e a adesão aos diferentes acordos complementares ao Tratado, a CCAMLR (Convention
on the Conservation of Antarctic Marine Living Resources) e a CCAS (Convention for the

11
Segundo Ferreira, o desenvolvimento por parte da Índia de atividades científicas na Antártida sem autorização do
SCAR e uma nova apresentação da questão antártica na AGNU, desta vez por parte da Malásia, precipitaram a
incorporação da Índia e do Brasil como Membros Consultivos como forma de neutralizar as críticas ao STA
(FERREIRA, 2009, p. 137-138).

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Conservation of the Antarctic Seals), de natureza conservacionistas, mas que não colidiam com
interesses econômicos brasileiros12.
O caráter de urgência que a política antártica adquiriu nesses primeiros anos de atividades
brasileiras se explica a partir do desenvolvimento das negociações do regime para mineração
antártica, do qual o Brasil tinha forte intenções de participar. O considerável interesse econômico da
primeira etapa do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) determinou uma estrutura
institucional fortemente inspirada no projeto do territorialismo antártico brasileiro, com um forte
componente militar no desenho, gestão e administração das operações. O envolvimento original da
Petrobrás e a administração dos projetos científicos por parte da marinha revelam o forte carácter
estratégico que a possibilidade de mineração de hidrocarbonetos na Antártida teve na formatação
original das operações.
A renovação da Política Nacional para Assuntos Antárticos (POLANTAR) de 1987 a partir
de um Decreto do Poder Executivo, fez explícitos estes interesses, mantendo a dualidade entre a
afirmação do regime e seus valores (CARDONE, 2015, p. 111), e a insistência na reserva de
direitos. Assim, a posição de reivindicação territorial é explicitamente descartada na citada lei, mas
essa condição se limita à vigência do Tratado Antártico, sendo que: “...o Brasil reserva-se o direito
de proteger seus interesses diretos e substanciais na Antártida, ora protegidos pelo Tratado da
Antártida, caso venha a ser revisto o funcionamento do Tratado e conforme os resultados da
eventual revisão...” (BRASIL, Dec. 94.401/87).
Ao mesmo tempo, mesmo afirmando a importância para o Brasil do princípio da
preservação ambiental do Continente Antártico, a POLANTAR refere a específicos interesses
brasileiros na participação da exploração dos recursos naturais antárticos vivos e não vivos e coloca
a ciência como subsidiária na identificação das fontes de tais recursos.

12
De fato a nosso entender, e ao contrário do afirmado por FERREIRA (2009), a pronta incorporação à CCAMLR e a
demora na adesão a CCAS não se justifica pela consideração de que a CCAS constituísse uma letra morta, mas muito
pelo contrário, porque o Brasil estava considerando a possibilidade de exploração de recursos naturais vivos
(particularmente a partir da pesca e recolecção do krill) para o qual precisava de um enquadramento institucional a
modo de não contradizer a sua participação no TA, enquanto não tinha perspectivas econômicas vinculadas com a caça
de focas regulamentada pelo CCAS.

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3. As Mudanças na Política Antártica Brasileira e as Remanências do Territorialismo
Antártico Brasileiro

O Protocolo de Madri e as mudanças na PAB


Os desenvolvimentos experimentados no Sistema do Tratado Antártico, particularmente a
partir da queda no acordo para mineração antártica (CRAMRA-Convention on the Regulation of
Antarctic Mineral Resources Activities) logo após sua assinatura em 1988, e a assinatura do
Protocolo ao Tratado Antártico para a Proteção do Meio Ambiente (PEPAT- Protocol on
Environmental Protection to the Antarctic Treaty, também conhecido como Protocolo de Madri),
em 1991, significaram importantes mudanças ao interior do regime antártico, repercutindo
consideravelmente ao interior da política antártica das diferentes nações.
O Brasil não ficou alheio a esse impacto, introduzindo mudanças que impactaram tanto a
estrutura institucional, quanto as atividades científicas do país na Antártida. No mesmo ano de
1991, a transferência da administração dos projetos científicos da SECIRM ao Comitê Nacional de
Pesquisa (CNPq) (CGEE - MCT, Dez. 2006, p. 5) (GANDRA, 2013, p. 106) significou uma virada
importante no controle que o setor militar exercia sobre a atividade científica antártica
determinando suas prioridades. Também nesse mesmo ano, a Comissão Nacional para Assuntos
Antárticos (CONANTAR) -órgão interinstitucional que detém a maior quantidade de prerrogativas
na definição da política antártica- incorporou à então Secretaria do Meio Ambiente da Presidência
da República (hoje Ministério do Meio Ambiente). Poucos anos mais tarde, em 1996,
acompanhando a evolução a um caráter mais marcadamente científico do PROANTAR, foi criado o
Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas (CONAPA) com o intuito de gerar uma interfase mais
puramente científica na definição política do Programa.
Porém, estas mudanças conviveram com a permanência de características institucionais
determinadas pelo projeto do territorialismo antártico brasileiro, determinando dinâmicas que
permanecem ainda hoje na PAB.

Remanências do territorialismo na PAB


A pesar de que uma administração civil do Programa Antártico Brasileiro tenha sido
defendida por muito durante os últimos anos; até hoje não tem havido nenhuma tentativa concreta
de estabelecer um órgão civil de administração antártica no molde dos Institutos Antárticos

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existentes em muitos dos outros países antárticos, inclusive da maioria dos que mantém
reivindicações territoriais no continente branco.
A predominância da fação militar no PROANTAR continua a ser patente, particularmente
na fase operativa e de coordenação. O envolvimento do setor científico em algumas definições da
política antártica não tem se traduzido em uma real influência sobre os fatores mais estruturais do
programa, o que gera importantes incertezas na projeção de longo prazo das pesquisas antárticas. As
dificuldades orçamentárias são patentes ano a ano, determinando dificuldades na previsão dos
recursos e na projeção das pesquisas (GANDRA, 2013) as quais devem ser remediadas a partir do
processo de negociação das ementas parlamentares e acabou precisando da geração de uma “Frente
Parlamentar de Defesa do PROANTAR”13 (CARDONE, Mai 2014).
A relativa independência que a pesquisa antártica tem adquirido nas últimas décadas,
confronta as considerações de índole prática que as operações antárticas têm para o setor militar.
Isto impede a definição estratégica de uma política antártica mais volcada à ciência.
Somado a isso, a sobrevivência de percepções ligadas ao territorialismo pode ser encontrada
em alguns discursos de autoridades políticas e até em algumas posições da produção acadêmica. Em
muitos destes, a justificação da PAB continua a ser a existência de “substanciais” interesses
brasileiros, sempre indefinidos, mas que remetem a questões de índole estratégicas e geopolíticas,
também indefinidas. A cercania do continente e o extenso frente marítimo com o Atlântico Sul,
continua a ser a base de contato com a região; agora reforçado a partir do reconhecimento a um
historial de atividades antárticas e de aportes “substanciais” por parte da ciência brasileira
desenvolvido pelo PROANTAR.
A consideração dos possíveis efeitos climáticos da Antártida sobre o Brasil foi se
transformando e combinando com considerações de interesses econômicos, agora defendendo a
importância do estudo do clima antártico e os seus efeitos sobre o clima brasileiro, e a utilidade
econômica de tal conhecimento para a economia agrícola e outras atividades através da melhora na
previsão climática. Essa justificação está frequentemente presente, por exemplo, nos pedidos de
emendas parlamentares no Congresso: “A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia autóctone
nessas áreas de conhecimento têm ampla aplicação, porém a mais importante é o aproveitamento,
ainda que limitado, da Antártica sob o ponto de vista econômico.” (PAES, 2003)

13
A nossa interpretação aqui também é contrária à de Ferreira (2009), que considera a criação da Frente como um sinal
da importância política do Programa. Todavia, para nós, a geração da Frente sinaliza a falta de importância política do
Programa e a necessidade de recorrer a tais manobras para garantir a sua sobrevivência.

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O interesse em participar nas decisões sobre Antártida sobrevive, esta vez tomando como
perspectiva uma suposta revisão do Tratado Antártico e do Protocolo de Madri em 2048, reciclando
a percepção do territorialismo a respeito do AGI e do ano 1991.
O mais destacável da herança do pensamento territorialista e a “dualidade” que a influência
deste instalou no pensamento brasileiro voltado à Antártida está dado pela afirmação de que as
atividades científicas desenvolvidas no marco do Tratado Antártico comportam a base a partir da
qual poderão se sustentar futuras reclamações territoriais no continente branco. Este tipo de
considerações tem aparecido com frequência tanto em posições de autoridades políticas, quanto de
analistas acadêmicos. Como exemplo disto, Gandra afirmava: “... a instalação de tais bases
[científicas] é condição primordial para que, no futuro, os Estados-signatários possam ter direitos
territoriais sobre a Antártida, embora essa condição fique implícita no próprio Tratado. ”14
(GANDRA, 2009, p. 68) e também: “Considerando-se o peso político que as atividades científicas
terão, em um futuro relativamente próximo, no que diz respeito à soberania do continente...”
(GANDRA, 2009, p. 73)

4. Conclusões

Neste trabalho temos mostrado como importantes características da PAB foram formatadas a
partir do pensamento que denominamos de territorialismo antártico brasileiro. Também pudemos
observar como esses traços foram se adaptando às mudanças experimentadas na PAB,
determinando, em alguns casos, seu desaparecimento; em outras, seu confinamento a espaços
secundários; e, em outras, sua sobrevivência baixo novas formas.
Particularmente, a justificação da atividade antártica, pontualmente a atividade científica,
como meio de fortalecimento dos direitos brasileiros na antártica, resulta um claro ressabio do
territorialismo, descompassado da realidade atual, tanto da PAB, quanto do STA. A necessidade de
validação das atividades científicas brasileiras na Antártida a partir de interesses econômicos
também se presenta como uma adaptação da posição territorialista, e desvirtua a possibilidade de se
pensar uma agenda brasileira antártica mais ampla e estratégica, no sentido científico da palavra.
Segundo Gandra:

14
A interpretação do autor resulta errônea, toda vez que o Tratado exclui especificamente essa possibilidade. Nas
posições posteriores deste autor, essas considerações parecem ter desaparecido, mas a sua presencia nos escritos mais
precoces são indicativos da influência dessa visão, inclusive na academia brasileira.

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“Da primeira expedição antártica brasileira (1982/83) até o início do presente século, muito pouco
se investiu em ciência antártica no país. Embora se tenha constatado um relativo aporte de recursos
financeiros à pesquisa antártica, neste início de século XXI, que contemplou principalmente a
participação do pais no 4 Ano Polar Internacional (2007-2009) e a aquisição de um Navio Polar
(Almirante Maximiano) o PROANTAR, instituído em 1982, ainda carece de uma política científica
para a Antártida, que tenha por pressuposto a definição de um projeto estratégico-científico de
longo prazo...” (GANDRA, 2013, p. 19)

A crescente autonomia do campo científico analisada por Gandra (2013) não se traduz, a
nosso entender, em uma real influência política. A falta de legitimidade autorreferenciada -isto é,
sem necessidade de se refletir em objetivos econômicos ou políticos- faz com que o Programa
Antártico tenha diminuído a sua importância ao interior da definição da Política Externa do Brasil.
A desarticulação do funcionamento da CONANTAR a partir de 2007, a escassa estrutura dedicada à
questão no Ministério das Relações Exteriores, a necessidade de debate contínuo sobre a viabilidade
orçamentária do programa (CARDONE, Mai 2014) entre outros, levantam sérios interrogantes
sobre o futuro da participação brasileira na Antártida.
A presença de uma dinâmica ligada ao pensamento do territorialismo antártico brasileiro
parece impedir a geração de uma estratégia de legitimação do envolvimento brasileiro na Antártida
mais consonante com os interesses científicos e com a etapa de desenvolvimento científico atual do
Brasil, que acompanhe de modo mais coerente a evolução que o próprio STA tem experimentado
nas últimas décadas. Paradoxalmente, uma visão menos territorialista e mais sensível às
necessidades de desenvolvimento científico, permitiria a geração de uma política antártica mais
expansiva, fortalecendo a presença do Brasil e reforçando seu capital científico, social e simbólico.

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5. Referências

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2015. Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Eugenio Pereira.
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Anais do V Seminário Nacional Sociologia Política - UFPR. Curitiba: [s.n.]. Mai 2014.
CARVALHO, D. D.; CASTRO, T. D. A Questão da Antártica. Boletim Geográfico, v. 14, n. 135,
p. 502-506, Novembro-Dezembro 1956.
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