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Gel

Conceito: forma farmacêutica semi-sólida com um ou mais princípios ativos, no qual


contém um agente gelificante que fornece firmeza a uma solução ou dispersão coloidal
Um gel pode conter partículas suspensas.

Brasil. Vocabulário Controlado de Formas Farmacêuticas, Vias de Administração e Embalagens de


Medicamentos , 1ª Edição / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011.

Classificação dos géis

Existem diferentes propostas na literatura quanto aos critérios de classificação dos géis,
dentre eles, a natureza da fase liquida e fase coloidal, o número de fases, a afinidade
entre as fases e a natureza das ligações químicas (ALMEIDA, BAHIA, 2001).

Quadro 01: Classificação dos géis

Critérios de
Características / Composição Tipo de gel
classificação
Hidrofílica: Água Hidrogel
Natureza da fase
Hidrofóbica: parafina, óleos
líquida Óleo-gel
vegetais
Natureza da fase Geralmente polímeros Orgânico
coloidal Outra natureza Inorgânico
Elevado grau de transparência,
facilidade de aplicação e de Monofásico
Numero de fases
remoção
Opacidade Bifásico ou magma
Afinidade entre as duas Grande afinidade entre as fases Liófilo
fases Pouca afinidade entre as fases Liófobo

Componentes usuais

Os principais coadjuvantes técnicos na formulação de géis são: gelificantes, umectantes,


conservantes, antioxidantes e agentes quelantes

a) Veículo: Água (80 a 98%) = propicia a contaminação microbiana


b) Conservantes: uso de conservantes é indispensável à formulação,
principalmente de géis obtidos com geleificantes naturais, já que apresentam
grande susceptibilidade ao desenvolvimento microbiano.
 Grande quantidade de água (80 a 98%) => contaminação microbiana
Exemplos: Parabenos, imidazolidiniluréia (germal 115®) e 5-bromo-5-
nitro-1,3-dioxano (Bronidox L®) são alguns dos mais utilizados.
c) Umectantes: são utilizados para evitar a perda de água da formulação,
conferindo ao gel maior elasticidade (melhor espalhamento). Entre os mais
utilizados temos a glicerina, o propilenoglicol e o sorbitol. A concentração usual
para formulações tópicas é aproximadamente 15% (HANDBOOK, 2009).

d) Agentes quelantes: são particularmente importantes para os géis, pois inativam


por complexação metais pesados e alcalinos terrosos, bem como potencializam a
ação de alguns antimicrobianos. Entre os problemas causados por estes metais
nas formulações destacam-se:
 Reação com ânions, levando à precipitação;
 Oxidação de corantes e essências;
 Inativação de antimicrobianos.

e) Agentes antioxidantes: BHT e BHA atuam retardando ou evitando o processo


de oxidação. Atua na conservação do produto > estabilidade

Antioxidantes % p/V
BHA 0,02 a 0,005%
BHT 0,0075 a 0,1%
Fonte: Villanova e Sá, 2009 – Excipientes guia prático para padronização
f) Agente neutralizante: atuam ajustando o pH para formar gel.
- pH significa "potencial Hidrogeniônico", uma escala logarítmica que mede
o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma determinada solução.

O Carbopol quando disperso na água tem pH ácido (pH=4) e para ganhar


viscosidade e formar o gel, precisa que seja adicionado um agente que aumente o
pH para uma faixa entre 6 e 7.
Exemplo: hidróxido de sódio (soda) ou trolamina.

g) Agentes gelificantes

As substancias formadoras de gel são chamadas gelificantes, que são selecionados


baseados em requisitos necessários para estabilidade de física e química da formulação,
bem como a liberação e a eficácia dos princípios ativos que eventualmente são
incorporados na preparação (ZAGUE, 2006).

 Polímeros (Macromoléculas)
 Alto peso molecular
 Natural, sintético ou semissintético

De acordo com a natureza:

 Não-iônicos - possuem estabilidade em uma ampla faixa de pH, tornando


possível a veiculação de substâncias de caráter acido.
 Aniônicos - são geralmente pH dependentes, ou seja, apresentam-se estáveis em
pH neutro ou próximo de neutro e podem ser incompatíveis com princípios
ativos ácidos (MAIA; CAMPOS; BONTEMPO; LEONARDI, 1999)

Quadro 2 – Descrição de agentes gelificantes

Nome Comercial Composição química Características


ACQUAGEL Polímero maleico de metil vinil éter com Gel aquoso que oferece efeito lubrificante e
decadieno hidratato e propilenoglicol hidratante. Durante seu espalhamento sobre a pele
percebe-se a sua capacidade flimógenea
AMIGEL Polissacarídeo natural, biodegradável, Formador de gel com caráter não-iônico,
obtido por biotecnologia a partir de estabilidade excepcional e modificador sensorial.
culturas Sclerotium rofsii
ARISTOFLEX AVC Co-políemero do ácido sulfônico Formador de gel de caráter aniônico, porém
acriloidimetiltaurato e vinilpirrolidona estável em pH ácido, transparente.
neutralizado
CARBOPOL Polímero ácido acrílico Formador de caráter aniônico. Possui hidratação
ULTREX rápida, sendo instável em sistemas não-iônicos
CELLOSIZE 250 Hidroxipropilcelulose (hipromelose) Formado de gel de caráter não-inônico
HHR
CELLOSIZE QO 100 Hidroxietilcelulose (hietolose) Formado de gel de caráter não-inônico
PLURIGEL Polímero de Acrilato Seus grupos de carboxila ativos intumescem
rapidamente após a neutralização com base
adequada.
CMC Na Carboximetilcelulose sódica (carmelose Formador de gel com caráter aniônico. Produz
sódica) géis de baixa viscosidade.
PEMULEN Polímeros de ácido poliacrílico Compátivel com materiais de caráter não-iônicos
ou fracamente iônicos.

Fonte: ZAGUE, 2006.

PRINCIPAIS GELIFICANTES UTILIZADOS NO TEUTO

Carbômeros - Carbopol®

Carbômeros: polímeros sintéticos do ácido poliacrílico de alto peso molecular.

Categoria funcional: agente emulsificante; gelificante; modificador de reologia /


viscosidade; agente estabilizante e agente suspensor.

Uso dos Carbomeros


Uso Concentração %
Agente emulsificante 0,1-0,5
Agente gelificante 0,5-2,0
Controlador de reologia 5,0-30,0
Agente suspensor 0,5-1,0
C: A principal aplicação é como gelificante, na preparação de géis.

Características

 Solubilidade: insolúvel, incham em água e solventes polares.

C: Quando o Carbopol é adicionado em água, ele umedece com muita rapidez. E


para garantir que o carbopol hidratato ganhe aspecto de gel, se faz necessário o
ajuste do pH utilizando-se um agente neutralizante.
 Os carbômeros possuem em sua estrutura grupamentos ácidos, quando
neutralizados com substâncias orgânicas (trietanolamina) ou inorgânicas
(hidróxido de sódio), têm a capacidade de espessar e adquirir transparência
(GUPTA; GARG, 2002). A neutralização converte os grupos ácidos da cadeia
polimérica em sua forma de sal, formando a estrutura estendida e atingindo a
viscosidade desejada (ALMEIDA; BAHIA, 2003).

Mecanismo de inchamento do Carbopol


Viscosidade: o Carbopol é um modificador reológico altamente eficiente em baixas
concentrações.

 Conforme aumenta a porcentagem do polímero na formulação aumenta


viscosidade.
- Viscosidade aumenta em pH acima de 4
- Viscosidade diminui a partir do pH=9
 A viscosidade máxima se alcança em pH= 6,0 – 7,0 (pKa= 6,0±5)

 Por outro lado pode ocorrer a redução de viscosidade e a perda da transparência


quando ativos ácidos são adicionados a esses géis
 Estabilidade – são materiais estáveis e que devem ser aquecidos em
temperaturas abaixo de 104°C por até 2 horas para que não afete a eficiência
como espessante.
 Adição de certos agentes antimicrobianos, tais como cloreto de benzalcónio
ou benzoato de sódio, em concentrações elevadas (0,1% w / v) pode causar
nebulosidade e uma redução na viscosidade de dispersões dos carbômeros.

Hidroxietilcelulose (HEC) - Natrosol ®

Categoria funcional: agente de suspensão; agente espessante; agente viscosificante

Características:

 Polímero derivado da celulose , não-iônico;


 Hidroxietilcelulose é um pó estável, higroscópico, compatível com eletrólitos
(não são afetados por cátions)
 Possui menor sensibilidade ao pH do meio.
- Efeito do pH - Soluções de Natrosol sofrem pouca alteração da viscosidade ao
longo da faixa de pH de 2 a 12.
- As soluções de Natrosol possuem a maior estabilidade de viscosidade na faixa
de pH de 6,5 a 8,0.
- Abaixo de pH 3, as soluções podem apresentar alguma queda na viscosidade
resultante hidrólise ácida. Isto é comum a todos os polissacarídeos solúveis em
água, sendo acelerada pela alta temperatura e elevada acidez.
- Em condições altamente alcalinas pode ocorrer degradação por oxidação,
acelerada pelo calor e luz, que consequentemente irá reduzir a viscosidade.
 Altamente solúvel em água quente ou fria, formando soluções viscosas, claras e
uniformes (Figura 3).
 Praticamente insolúvel em acetona, etanol, éter e outros solventes orgânicos. Em
alguns solventes polares, como os glicóis, pode ser parcialmente solúvel ou
sofrem intumescimento.
 Facilidade de dispersão - a qual pode ser obtida sob agitação em água fria.
Porém a formação da estrutura coerente do gel (rede) ocorre mais rapidamente
com aquecimento.

Efeito da Temperatura: a viscosidade das soluções de Natrosol altera com a


temperatura.

- Aumenta a temperatura diminui a viscosidade

- Diminui a Temperatura aumenta viscosidade

A Figura 10 apresenta um nomograma conveniente a partir do qual,


sabendo que a viscosidade de uma solução de Natrosol a uma tempe-
ratura, pode-se estimar a sua viscosidade convenientemente numa
temperatura diferente.

 Como desvantagem apresenta maior risco de contaminação microbiana.

 Concentração usual 1,0-3,0%. Concentração na preparação vai depender do


solvente empregado, do PM e do grau de viscosidade.

CMC

A Carboximetilcelulose (CMC) é um hidrocolóide que contribui para formação de


gel, na retenção de água (KÄISTNER, 1996).
Como agente gelificante é utilizado em concentrações geralmente de 3-6%, que
podem ser usados como base para aplicações e pastas; Com intuito de impedir que
sequem, adiciona-se glicóis em tais géis.

Características

 Polímero aniônico derivado da celulose, muito solúvel em água, tanto a frio


quanto a quente, no qual, formam soluções claras e coloidais.
 Polímero formador de gel aniônico
 Estável na faixa de pH 4,0 – 10,0 ( melhor desempenho pH 6,0 a 9,0)
 O aumento da temperatura acelera a velocidade de hidratação do polímero.
 Solubilidade: praticamente insolúvel em acetona, etanol éter e tolueno.
Facilmente dispersível em água quente, formando soluções claras e
coloidais.
 Incompatível com ácidos fortes;
 Sofre hidrólise enzimática perdendo viscosidade.

http://adamogama.blogspot.com.br/2012/01/geis-sistemas-coloidais.html

Villanova, J. C. O. et al. Aplicações farmacêuticas de polímeros. Polímeros: Ciência e


Tecnologia, vol. 20, nº 1, p. 51-64, 2010.

Produção de géis

Processo de dispersão do Carbopol

Primeiro método: o polímero é colocado em contato com água e deixado em repouso


até a hidratação do polímero. Gera produtos de maior viscosidade (não ocorre
cisalhamento do polímero pela dispersão), ocorre menor incorporação de ar.

Segundo método: o polímero é submetido ao cisalhamento de um agitador elétrico


(misturador). A redução parcial de viscosidade final de gel e proporcional ao
cisalhamento aplicado.

Não passar em moinho para evitar de “quebrar gel”

Processo de dispersão de polímeros derivados da Celulose

Método a frio: o polímero é disperso na água na fria e misturado até a completa


hidratação. Este método demanda um tempo de dispersão de 30-60 minutos.

Segundo método, acelerado: utiliza água quente (60-80°C) para reduzir sensivelmente o
tempo de dispersão do polímero.

Hidratação do polímero

Quais fatores devem ser levados em consideração na hidratação do polímero?

R: Tipo de polímero, modo de adição do polímero, quantidade de água para hidratação


e o tempo de hidratação.
C: A fase mais crítica na preparação de géis refere-se à hidratação do polímero. Esta
deve ser feita de modo criterioso e gradual. A adição de excesso de água pode levar à
formação de grumos que dificultam a dispersão mecânica de forma a comprometer a
homogeneidade ou a uniformidade da formulação.

NOTA: Ressalta-se ainda que, a adição de outros adjuvantes (ex.: solubilizantes), bem
como o acerto de volume e pH (neutralizantes), devem ser feitos só após a
homogenização (uniformização) parcial do veículo.

https://littlebabsi.wordpress.com/2011/06/09/formas-farmacuticas-plsticas-ou-semi-
slidas/

Problemas no preparo:

Formação de grumos de gelificante → principal problema observado no preparo


de géis.

Para evitar a formação de grumos:

 Adicionar o gelificante aos poucos na água, para evitar que os pós se juntem e
forme grumos.

 Evitar a aglomeração – utilize tamis ou dispersor mecânico.

 Quando manipulado em pequena escala adicionar no centro do vórtex

Para o Carbopol:

 Adicione o Carbopol no início do processo e disperse em água fria;


 Após a dispersão, deixe completar a total hidratação do Carbopol (sob
mistura em velocidade baixa).
OBS: a dispersão depende: do tamanho do lote, equipamentos disponíveis e o tipo de
polímero.
Tradicional (Carbopol 980NF) Carbopol Ultrez

Agitação cria espuma => Iniciar agitação lentamente;

Para o Ultrez temperaturas < 60 pode diminuir tempo de dispersão.

Recomendações gerais:

Dispersar uniformemente o polímero para evitar a aglomeração


Consequência: (Olhos-peixes) aparência irregular, alterações na viscosidade, a
instabilidade

Permitir a hidratação completa do polímero (o tempo e a agitação), antes de se adicionar


outros excipientes.

Consequencia: Rugoso, Aparência irregular, alterações na viscosidade, a volatilidade

Evitar uma agitação excessiva ou inadequada


Consequencia: Ar, Variação da viscosidade, a volatilidade

Evite agitaçao vigorosa, especialmente depois de ajustar o pH


Consequencia: A perda de viscosidade instabilidade

Adição gradual de uma base para permitir o equilíbrio do pH


Consequencia: Variação de instabilidade viscosidade

Para evitar incompatibilidades, a ordem de adição é crítica (por exemplo, electrólitos


antes do ajuste de pH)
Consequencia: Aspecto variação não uniforme da viscosidade, a volatilidade
Excesso de neutralizante (Gel de Carbopol): adição de uma quantidade de
alcalinizante maior que a necessária para a formação de gel, ocasionará:

 A rede que forma o gel é quebrada e o gel fica mais ralo.

 Não tem como corrigir esse erro!

 Para evitar, adicione o alcalinizante aos poucos sob agitação leve => ir
verificando o valor do pH.

Utilização de homogeneizador / moinho → quebra a rede do gel e faz com que o


gel fique ralo.

 Quando a rede é quebrada, não tem como o produto voltar a ser gel.

Propriedades reológicas dos Géis

A reologia é o estudo da deformação e escoamento da matéria, ou seja, é o estudo da


maneira, segundo o qual os materiais respondem à aplicação de uma determinada tensão
ou deformação.

A reologia é de grande interesse para Indústria Farmacêutica, tendo em vista que a


consistência e o espalhamento dos produtos devem ser reproduzidos lote a lote, para
assegurar qualidade tecnológica do produto acabado.

C: Sendo assim, uma vez que as características reológicas interferem na fabricação,


estocagem e na aplicação de uso tópico, a reologia torna-se parâmetro permanente a ser
adotado nas alterações pós-registro de medicamentos.

O tipo de polímero empregado na formulação do gel pode influenciar o comportamento


reológico desta e, portanto, pode influenciar a estabilidade física do produto, assim
como no seu comportamento sobre a pele, resultando em diferentes graus de aceitação
do mesmo pelo consumidor. (ADRIANO, 2009)

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