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A Arte de Arrepender-se

Carlos Cardoso Aveline

Não é muito frequente encontrar um texto sobre a utilidade prática do ato de arrepender-se. Até
mesmo referências ao assunto são relativamente raras. [1]

O arrependimento pode ser definido como a capacidade de identificar, reconhecer, observar, extrair
lições e abandonar – às vezes com profundo desgosto – os nossos erros. Esta é uma prática de
grande importância em teosofia, e ela exige um certo grau de coragem.

O peregrino deve rejeitar prontamente os seus próprios erros, tão logo eles sejam identificados, para
que o verdadeiro aprendizado e o progresso sejam possíveis.

O arrependimento nada tem a ver com sentimentos negativos a respeito de si mesmo. Na verdade,
constitui o seu oposto. É necessário possuir autoconfiança e confiança na vida para que haja uma
capacidade de olhar de frente para as fontes do sofrimento pessoal – e renunciar a elas.

O processo do arrependimento pertence ao mundo da ação. Ele inclui a capacidade de mudar para
melhor a direção da sua existência pessoal e de compensar, pacientemente, a força acumulada dos
erros passados.

Cada ser humano está sempre rodeado de oportunidades para aprender e renovar a sua vida, e isso
inclui o caminho da sabedoria.

Um mestre dos Himalaias escreveu:

“Todo membro [ do movimento teosófico ] que se arrependa verdadeira e sinceramente deve ser
aceito de novo.” [2]

A prática da renúncia aos erros pode ser posta em ação diariamente. Tanto a tradição pitagórica
como os ensinamentos teosóficos convidam seus estudantes a fazer um exame diário das suas ações,
durante o qual eles podem renovar a decisão de abandonar ações erradas e de expandir as ações
corretas, perseverando no caminho da verdade.

A Arte de Pedir Desculpas

Resultado do arrependimento correto, o ato de pedir desculpas nos liberta do erro cometido. Não
nos livra das consequências da ação infeliz; mas nos permite tirar lições e evitar a repetição.

Quando falhamos em relação a alguém, devemos pedir desculpas à pessoa com quem fomos
injustos, e também devemos pedir desculpas, de algum modo, à nossa própria consciência interior.

Cabe rejeitar honestamente o erro. Isso faz bem à pessoa injustiçada, e faz bem à nossa alma. Não
importa se a pessoa com quem fomos injustos também falhou: em teosofia um erro não justifica
outro. A ação correta é incondicional. A ética não é uma troca entre comerciantes.

Cabe pedir desculpas silenciosamente, em nosso coração, às pessoas em relação a quem erramos. A
correção interior do erro é válida mesmo na ausência das pessoas injustiçadas, e em qualquer ponto
da linha do tempo: é eficaz inclusive muitos anos depois da injustiça acontecer. Nunca é tarde para
rejeitar um erro e aprender a lição. Sempre é tempo para renascer.

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