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O caminho do monge
Como estudávamos no artigo “o caminho do faquir”, a transformação interior deve ir muito mais além da
simples mudança de conduta. Do contrário, nossas limitações acabam mutando, saindo de uma forma
aberta para uma forma disfarçada, mas que segue nos aprisionando. Todo mundo conhece alguém que
parou de fumar, por exemplo, e passa a ter ódio de qualquer pessoa que fuma. O mecanismo psicológico
que aciona isso está relacionado a uma espécie de revolta que a pessoa cria porque, enquanto ela “não
pode mais fumar”, a outra continua fazendo isso. Mesmo que tenha sido, portanto, uma auto-disciplina,
não traz o reconhecimento daquela mudança como benefício e sim como privação e nessas condições,
retornar ao erro é só uma questão de tempo, pois existe uma pulsão secreta que cresce a cada dia, até
que toma conta da pessoa e ela compensa os meses que não deixou aquilo aflorar com uns poucos dias
de intensa imersão no vício, seja qual for. E as pessoas que não retornam ao erro, mas não passam além
dessa luta contra a “tentação” se tornam amargas, frustradas e cínicas. Por isso no artigo “a aniquilação
do ego” falamos dos perigos da abordagem insistente acerca da tentação e do pecado; para realmente
mudar, precisamos estabelecer um outro tipo de abordagem.
Por exemplo, ninguém considera uma tentação comprar uma roupa rasgada e fedorenta. E por que não?
Porque aquilo não tem valor nenhum. Mas onde está o valor de uma calça ou uma bolsa que custa R$
10.000,00 (acreditem, existe!)… o valor não está no objeto em si, mas na construção mental que
fizemos daquilo, pois uma pessoa que compra uma bolsa ou calça assim é de tal jeito e é admirada
pelos outros, etc. A coisa em si, não vale nem um décimo disso, obviamente. Mas um bom trabalho de
marketing fez a marca ser associada a um estilo de vida que algumas pessoas gostariam de ter e então
elas pagam. Fica claro aqui que é o valor que atribuímos que deve mudar para que a tentação cesse, em
qualquer situação. Para milhares e milhares de pessoas, uma calça tão cara não é de forma nenhuma um
atrativo, uma tentação. Se mudamos a relação de valores, as tentações deixam de existir, pois é
sobre elas que se fundamenta essa batalha interior.
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Mas pode ocorrer do organismo não ter vitalidade suficiente para lidar com a doença e então este se
exaure em sua luta, o que fará os sintomas desapareçam. A doença não está curada, só que agora nós
não a sentimos mais, porque nosso corpo parou de lutar. Isso, de forma bem resumida, é o que
chamamos de doenças crônicas. Elas seguem silenciosamente agindo sobre nós e podem inclusive nos
levar à morte, embora aparentemente estejamos muito bem.
Os maus hábitos, vícios e debilidades emocionais são exatamente iguais a uma doença crônica. Estão lá,
quietinhos e nós convivemos muito bem com eles, não nos incomodam. Porém quando resolvemos mudá-
los, algo estranho acontece, similar ao processo de cura de uma doença crônica através da medicina
natural, que chamamos de crises curativas.
Se a pessoa começa um tratamento para recuperar a vitalidade do corpo, chega um momento em que ele
volta a manifestar a força para curar aquela doença, e então a pessoa volta a sentir febre, vômitos, etc.,
mas com um agravante: a doença já se tornou mais forte e por isso os sintomas são muito mais
agressivos do que lá no início, quando a doença estava em um estágio inicial.
Assim, uma crise curativa nos faz ter a impressão de que estamos piorando e que “o tratamento” vai
acabar nos matando. Lezaeta Acharan, grande terapeuta naturalista, em seu livro “Medicina Natural ao
Alcance de Todos” descreve como se curou de uma doença em estágio terminal, passando por esses
processos.
Nas crises emocionais (crises curativas psicológicas) se faz necessário adotar estratégias que irão nos
auxiliar a mudar os valores que depositamos sobre aquele erro (chamado dentro do gnosticismo de
transvalorização). E por isso chamamos de caminho do monge, pois o que o monge busca a elevação
de um estado que vai conectá-lo com forças divinas, que o arrancam dos infernos psicológicos.
No dito popular, se diz que só se cura um amor com outro maior ainda. O mesmo vale para a superação
interior. Não é possível destruir uma ponte sem construirmos outra, que substitua aquela pela qual antes
transitávamos. Por exemplo, por amor ao convívio familiar, e ao bem-estar e segurança que um pai de
família deve proporcionar, é possível que um homem abdique do alcoolismo. Mas somente quando ele
tirar o valor que a bebedeira, o bar e os amigos do bar têm pra ele. E ainda quando passar a valorizar
mais a família.
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que produzem uma transformação na percepção. Uma pessoa tocada pela inspiração divina, por
exemplo, consegue olhar para seus maus hábitos e perceber o ridículo deles. Através da
familiaridade com essas percepções, vamos saindo dos infernos psicológicos que nos
colocamos, produzindo a cura interior. Nesse nível, a transformação é uma escolha, uma opção
saudável, não uma imposição da mente que luta contra o coração.
Para a maioria das pessoas, chegar à transvalorização já é o indício de um alto estágio de transformação.
No entanto, o verdadeiro aspirante à sabedoria começa a se dar conta que, apesar de estar conseguindo
avançar no caminho do autoconhecimento, ele continua cego quanto às verdades dos mundos superiores
e ao domínio de si em um nível superior. Por isso a seguir, começa a surgir a necessidade de trilhar uma
terceira etapa: o caminho do yogue, assunto de nosso próximo artigo.
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