Você está na página 1de 3

21/7/2014 O caminho do monge | Revolução Interior

revolucaointerior.com.br http://www.revolucaointerior.com.br/comportamento/o-caminho-do-monge/

O caminho do monge
Como estudávamos no artigo “o caminho do faquir”, a transformação interior deve ir muito mais além da
simples mudança de conduta. Do contrário, nossas limitações acabam mutando, saindo de uma forma
aberta para uma forma disfarçada, mas que segue nos aprisionando. Todo mundo conhece alguém que
parou de fumar, por exemplo, e passa a ter ódio de qualquer pessoa que fuma. O mecanismo psicológico
que aciona isso está relacionado a uma espécie de revolta que a pessoa cria porque, enquanto ela “não
pode mais fumar”, a outra continua fazendo isso. Mesmo que tenha sido, portanto, uma auto-disciplina,
não traz o reconhecimento daquela mudança como benefício e sim como privação e nessas condições,
retornar ao erro é só uma questão de tempo, pois existe uma pulsão secreta que cresce a cada dia, até
que toma conta da pessoa e ela compensa os meses que não deixou aquilo aflorar com uns poucos dias
de intensa imersão no vício, seja qual for. E as pessoas que não retornam ao erro, mas não passam além
dessa luta contra a “tentação” se tornam amargas, frustradas e cínicas. Por isso no artigo “a aniquilação
do ego” falamos dos perigos da abordagem insistente acerca da tentação e do pecado; para realmente
mudar, precisamos estabelecer um outro tipo de abordagem.

Por exemplo, ninguém considera uma tentação comprar uma roupa rasgada e fedorenta. E por que não?
Porque aquilo não tem valor nenhum. Mas onde está o valor de uma calça ou uma bolsa que custa R$
10.000,00 (acreditem, existe!)… o valor não está no objeto em si, mas na construção mental que
fizemos daquilo, pois uma pessoa que compra uma bolsa ou calça assim é de tal jeito e é admirada
pelos outros, etc. A coisa em si, não vale nem um décimo disso, obviamente. Mas um bom trabalho de
marketing fez a marca ser associada a um estilo de vida que algumas pessoas gostariam de ter e então
elas pagam. Fica claro aqui que é o valor que atribuímos que deve mudar para que a tentação cesse, em
qualquer situação. Para milhares e milhares de pessoas, uma calça tão cara não é de forma nenhuma um
atrativo, uma tentação. Se mudamos a relação de valores, as tentações deixam de existir, pois é
sobre elas que se fundamenta essa batalha interior.

Tudo isso que estamos falando pertence ao caminho do monge. O


caminho do monge, como vimos no artigo anterior, não está relacionado a
viver como um monge, mas sim a uma etapa do nosso caminho de
autoaperfeiçoamento, quando começamos a trabalhar os valores que
atribuímos às coisas.

No caminho do faquir, que é a ante-sala de um trabalho real sobre si


mesmo, aprendemos a nos desintoxicar, deixando de fazer as coisas que
nos prejudicam. Entretanto, com isso iniciam as tentações. E então se faz
necessário começar a trilhar o caminho do monge, que é o
Assim como a flor de lótus, que
momento de fazer esse processo curativo atingir um nível mais
extrai seu perfume do lodo, são
profundo, reformulando a relação de dependência emocional por de nossas debilidades que
aquela conduta viciosa. brotarão os aspectos mais
superiores de nossa
Consciência
O processo de superação de um vício, defeito ou complexo é muito
similar à cura de uma doença crônica. Quando uma pessoa adoece,
logo sente as reações em seu corpo, que nada mais são do que a tentativa (do nosso organismo) de
voltar a um ponto de equilíbrio. Então a pessoa sente dores e são ativados os mecanismos para destruir
ou expulsar o agente causador da doença. A febre, a diarréia, o vômito, a infecção, as alergias, etc. são
alguns desses mecanismos, ou seja, não são propriamente causados pelo agente da doença, pelo
contrário: são causados pelo corpo, combatendo a doença.

http://www.revolucaointerior.com.br/comportamento/o-caminho-do-monge/ 1/3
21/7/2014 O caminho do monge | Revolução Interior

Mas pode ocorrer do organismo não ter vitalidade suficiente para lidar com a doença e então este se
exaure em sua luta, o que fará os sintomas desapareçam. A doença não está curada, só que agora nós
não a sentimos mais, porque nosso corpo parou de lutar. Isso, de forma bem resumida, é o que
chamamos de doenças crônicas. Elas seguem silenciosamente agindo sobre nós e podem inclusive nos
levar à morte, embora aparentemente estejamos muito bem.

Os maus hábitos, vícios e debilidades emocionais são exatamente iguais a uma doença crônica. Estão lá,
quietinhos e nós convivemos muito bem com eles, não nos incomodam. Porém quando resolvemos mudá-
los, algo estranho acontece, similar ao processo de cura de uma doença crônica através da medicina
natural, que chamamos de crises curativas.

Se a pessoa começa um tratamento para recuperar a vitalidade do corpo, chega um momento em que ele
volta a manifestar a força para curar aquela doença, e então a pessoa volta a sentir febre, vômitos, etc.,
mas com um agravante: a doença já se tornou mais forte e por isso os sintomas são muito mais
agressivos do que lá no início, quando a doença estava em um estágio inicial.

Assim, uma crise curativa nos faz ter a impressão de que estamos piorando e que “o tratamento” vai
acabar nos matando. Lezaeta Acharan, grande terapeuta naturalista, em seu livro “Medicina Natural ao
Alcance de Todos” descreve como se curou de uma doença em estágio terminal, passando por esses
processos.

Psicologicamente, geralmente as pessoas se encontram em um estado de total passividade frente aos


seus defeitos psicológicos. Porém quando se posicionam contra os próprios erros (parando de agir
daquele jeito), é como ativar as forças curativas, após um longo período de crescimento silencioso
daquela doença psicológica criada pelo ego. Obviamente que a “doença” (o ego) vai reagir e vai
desendear muitas crises emocionais. Não é raro a pessoa abandonar esse processo por achar que antes
de tentar mudar, aquilo não era tão forte dentro dela. Mas esse tipo de crise curativa é o que vai gerar
dentro da pessoa a força para não retornar ao vício, uma vez que tenha sido superado.

Nas crises emocionais (crises curativas psicológicas) se faz necessário adotar estratégias que irão nos
auxiliar a mudar os valores que depositamos sobre aquele erro (chamado dentro do gnosticismo de
transvalorização). E por isso chamamos de caminho do monge, pois o que o monge busca a elevação
de um estado que vai conectá-lo com forças divinas, que o arrancam dos infernos psicológicos.

A transvalorização significa fazer um duplo trabalho:

Aprender a tirar a importância que depositamos na atitude negativa;


Aprender a valorizar alguma coisa que nos é privada por conta da atitude negativa, a tal
ponto que se queira abdicar do vício para alcançar essa nova necessidade.

No dito popular, se diz que só se cura um amor com outro maior ainda. O mesmo vale para a superação
interior. Não é possível destruir uma ponte sem construirmos outra, que substitua aquela pela qual antes
transitávamos. Por exemplo, por amor ao convívio familiar, e ao bem-estar e segurança que um pai de
família deve proporcionar, é possível que um homem abdique do alcoolismo. Mas somente quando ele
tirar o valor que a bebedeira, o bar e os amigos do bar têm pra ele. E ainda quando passar a valorizar
mais a família.

A transvalorização costuma processar-se mediante técnicas de meditação e de visualização,


onde nos conectamos com forças superiores que permitem a superação dos nossos
paradigmas. Einstein dizia que “os problemas não podem ser solucionados no mesmo nível em que são
gerados”. Em outras palavras, a mente que cria uma situação só a criou porque está condicionada a ela e
pra enxergar a solução é necessário entrar em outro estado de consciência. As pessoas verdadeiramente
religiosas conseguem fazer isso, pois na oração ou na meditação nos conectamos com forças superiores

http://www.revolucaointerior.com.br/comportamento/o-caminho-do-monge/ 2/3
21/7/2014 O caminho do monge | Revolução Interior

que produzem uma transformação na percepção. Uma pessoa tocada pela inspiração divina, por
exemplo, consegue olhar para seus maus hábitos e perceber o ridículo deles. Através da
familiaridade com essas percepções, vamos saindo dos infernos psicológicos que nos
colocamos, produzindo a cura interior. Nesse nível, a transformação é uma escolha, uma opção
saudável, não uma imposição da mente que luta contra o coração.

O caminho do monge, portanto, é uma etapa de transformação interior, emocional, de


substituição de valores prejudiciais por valores conscientivos. Relaciona-se à coluna da religião
(dos quatro pilares) e ao elemento água, pois é o elemento mais adaptável e maleável de todos,
assumindo a forma do recipiente (o que indica total adaptabilidade às circunstâncias e necessidades da
vida). A água sempre se associa à religião pois nela repousa a origem da vida, dentro e fora de nós.

Para a maioria das pessoas, chegar à transvalorização já é o indício de um alto estágio de transformação.
No entanto, o verdadeiro aspirante à sabedoria começa a se dar conta que, apesar de estar conseguindo
avançar no caminho do autoconhecimento, ele continua cego quanto às verdades dos mundos superiores
e ao domínio de si em um nível superior. Por isso a seguir, começa a surgir a necessidade de trilhar uma
terceira etapa: o caminho do yogue, assunto de nosso próximo artigo.

http://www.revolucaointerior.com.br/comportamento/o-caminho-do-monge/ 3/3

Você também pode gostar