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CULPA,ARREPENDIMENTO,AUTO PERDÃO

Se procurarmos em vários autores das áreas da psicologia, da psiquiatria e do espiritismo, iremos encontrar
conceitos algo diferentes para estas três palavras: culpa, remorso e arrependimento. Em alguns dicionários,
encontraremos culpa e remorso como sinónimos, e entre estes, os que até consideram que arrependimento e
culpa, são a mesma coisa.
O conceito da palavra não é substancialmente importante, mas o seu significado nas nossas vidas, sim.
CULPA - a consciência de termos dito ou feito algo errado, algo que nos martiriza, acompanha-nos vida fora.
Quando não nos perdoamos ou não nos damos a hipótese de superar o erro.
REMORSO - quando acreditamos que falhámos, que errámos com alguém ou com algo que podíamos ter feito
de modo diferente. Lamentamos o erro, mas não o levamos connosco pela vida fora.
ARREPENDIMENTO - o pesar por alguma falta cometida e o desejo de sermos perdoados, de corrigirmos o
erro tanto quanto seja possível, e o estarmos determinados a não voltar a errar.
Culpa e arrependimento geralmente estão associadas aos conceitos de castigos ou recompensas de acordo
com a idéia de Deus incutida em nossa mente, por causa da educação religiosa que recebemos. O sentimento
de culpa é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si
mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o
que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido.
Há também outra definição para "sentimento de culpa", quando se viola a consciência moral pessoal (ou
seja, quando pecamos e erramos), surge o sentimento de culpa.

4- Na q. 171 de "O Livro dos Espíritos", os Espíritos superiores nos dizem que "o bom pai deixa sempre aberta a
seus filhos uma porta para o arrependimento". Assim, podemos conceber que Deus também nos oferece todas
as ferramentas necessárias para refazermos o caminho, e buscarmos a nossa felicidade.
Culpa é o sentimento de ser indigno, mau, ruim, carrega remorso e censura. A culpa é o resultado de muita
raiva guardada que se volta contra nós mesmos. Poderíamos resumir assim:
(...) A culpa ou apenas o remorso, são sentimentos estáticos que não nos trazem nada de positivo. E a culpa
torna as pessoas indefesas e sem ação; não resolve os conflitos, pelo contrário, leva-nos a estados de
depressão, a doenças, etc. Enquanto o arrependimento liberta e prolonga a vida, o remorso pode levar-nos ao
ódio a nós próprios e à autoflagelação."Os culpados, em qualquer lugar, antes de serem julgados pelas leis
humanas, já se sentem culpados pela consciência. É por isso que os infratores fogem. De quem fogem? Quem
os está espantando é a própria consciência, é o tribunal dentro do homem, cumprindo a lei natural. É o que
chamamos DEUS dentro de nós.
Este sentimento aparentemente negativo, na realidade, quando bem trabalhado, serve de excelente
ferramenta para a evolução espiritual do ser.
Quando a pessoa toma ciência de que é culpada (responsável) por determinadas atitudes e suas
consequências, é sinal de que já existe um despertamento importante da sua consciência para as situações
equivocadas de que é agente e que desarmonizam não só o ambiente exterior como o mundo íntimo.
É preciso libertarmo-nos de qualquer tipo de sentimento negativo, para que possamos agir positivamente,
com progresso, acertar ou consertar os erros. O sentimento de culpa, de auto-piedade ou de raiva, não nos
deixa agir objetivamente para resgatarmos das nossas faltas.
Começa-se pelo auto-perdão. Reconhecer-se o erro, arrepender-se e perdoar-se. Reconhecer-se falível, mas
também com o direito de retoma do caminho certo.".
O mais indicado sempre é responsabilizar-se e não se culpar, pois a culpa faz com que permaneçamos no papel
de vítima e esse traz apenas estagnação e repetição de padrão, não proporciona crescimento. A
responsabilidade faz com que acreditemos na capacidade de mudar. E todos nós temos essa capacidade!O
sentimento de culpa foi um recurso muito utilizado pelas antigas religiões dogmáticas com o intuito de frear as
ações consideradas pecaminosas, condenando à pena do inferno eterno todos os que não seguiam a sua
cartilha.
Modernamente trabalha-se a culpa não mais pelas imposições exteriores, mas no sentido psicológico e nos
transtornos internos que ela pode impactar no indivíduo.
Há indivíduos que, por exemplo, aparentemente não sentem culpa ou remorso por qualquer ato errôneo,
mesmo quando praticantes de crimes hediondos ou ações inescrupulosas. Esses seres ainda estão no estágio
de primitivismo do desenvolvimento moral e ainda não despertaram para as responsabilidades ou então estão
procurando mascarar, de diversas formas, os avisos que a própria consciência lhes faz. Isto pode ocorrer
temporariamente, pois o tempo e a vida se encarregarão das lições necessárias.
Todos têm um guia absoluto e seguro onde está escrita a lei de Deus: a própria consciência. Este guia se
encontra em germe no cerne de todo ser humano e deve ser desenvolvido individualmente ao longo das
múltiplas reencarnações. Quando em processo de afloramento, proporciona o alargamento do senso moral.
Assim, a regra do bem proceder se torna mais nítida, bem como a distinção do bem e do mal. A fórmula para
não haver enganos está resumida na recomendação de Jesus: o que quereis que os outros vos façam, fazei-o
também vós a eles.
Mas e a culpa? Como conviver com ela?
A culpa tem um único e exclusivo objetivo: alertar a pessoa que está equivocada. Ela nada mais é do que um
sinal de perigo na trajetória da vida avisando que a permanência naquele caminho vai provocar consequências
graves. A culpa é uma advertência para a alma assim como a dor é uma advertência para o corpo, é o sinal
vermelho mandando parar; serve para corrigir e não destruir. Pode, muitas vezes, junto à culpa, vir o remorso
e o arrependimento, que são situações que confirmam a rota equivocada e abrem as portas para a etapa
seguinte.
Com este despertamento volta-se a atenção para outro ponto fundamental: a retomada do caminho correto.
O mais importante de todo este processo é a reparação do mal cometido. Como todo erro deve ser corrigido,
o quanto antes se tomar esta atitude, mais próximo o indivíduo se encontrará da paz. A reparação é a
verdadeira reabilitação moral que se inicia no sentimento de culpa.
Quando nos mantemos presos a complicados sentimentos de culpa e remorso, deixamos de perceber que as
atuações que tivemos no passado eram compatíveis com o grau de entendimento e de experiência que
possuíamos na época. Daí a necessidade reavaliarmos, constantemente, atitudes, pensamentos e sentimentos,
para não ficarmos cometendo sempre os mesmos erros. Infrutíferos são, portanto, os dramas de consciência,
porque não dá para voltar atrás e refazer o curso da história.
É possível viver sem culpa?
Somente o sujeito com a consciência tranquila não sente culpa e esta é conquistada no momento em que o
indivíduo assume o compromisso com o seu próximo segundo o preceito do Cristo, procurando sempre fazer
todo o bem que está ao seu alcance com total desinteresse. Mesmo que possa haver equívocos no trajeto, a
intenção de fazer o bem redime do sentimento de culpa e, ao corrigir a atitude naquilo em que se está
errando, isto é feito sem remorsos e sem grandes transtornos.
Arrependimento
(...) O arrependimento já é uma característica de evolução do espírito. Allan Kardec caracteriza o
arrependimento em três hipóteses: desejo de melhora, sentimento de culpa e esforço de superação. (O Livro
dos Espíritos)
Essas afirmativas, passadas à Kardec pelo mundo espiritual nos dá a certeza de que, quando tomamos
consciência dos erros cometidos, começamos nossa jornada, mesmo que timidamente, de evolução moral.
Mas, o que significa arrependimento e porque sofremos com ele? Freud afirma que o arrependimento está
paralelamente ligado ao sentimento de culpa por alguma coisa errada que o homem pratica e tem consciência
do ato praticado. Porém, a maioria ainda convive e sofre com esses sentimentos, arrependimento e culpa, sem
nada fazer para corrigir ou superar os erros cometidos e, passam a vida inteira sofrendo estacionados e inertes
diante do fato.
Com relação às hipóteses do arrependimento, conforme palavras de Kardec, o desejo de melhora não é muito
simples e fácil de aceitar, haja vista, que isso implica em reconhecer nossa inferioridade moral, ou “reconhecer
a própria sombra”, (Ermance Dufaux – Reforma Íntima sem Martírios). Porém, não existe outra maneira ou
outro caminho para o arrependimento senão reconhecer de imediato que ainda somos imperfeitos e, que
devemos dia-a-dia fazer um esforço muito grande para darmos os passos iniciais à nossa reforma íntima.
Sofremos muito convivendo com o sentimento de culpa sem entender, conforme nos falam os espíritos
superiores, que no estágio em que nos encontramos nesta encarnação se não fosse esse sentimento, a culpa,
não iríamos sair do lugar, pois é justamente o sentimento de culpa, de ter feito algo errado ou de não ter feito
algo de bom, que nos empurra para o progresso e para a evolução, entendendo que os erros devem servir de
ponto de partida para nosso futuro e não como prisão mental, moral ou espiritual.
A terceira hipótese para conquistar equilíbrio no processo do arrependimento, conforme Kardec, é o esforço,
juntamente com o desejo e força de vontade de reparar toda e qualquer situação equivocada. Isto nos faz
lembrar Paulo de Tarso que disse “A mim, que fui antes recrimino, perseguidor e injuriador, mas alcancei a
misericórdia de Deus porque o fiz por ignorância e por ser incrédulo”.
Não devemos conviver com a culpa e o arrependimento em auto-flagelação. Não precisamos sofrer e nos
auto-punir, lembremos das palavras de Kardec, afirmando, que somente ocorrerá a regeneração do espírito
quando este atingir as três condições para apagar os traços de seu erro, que são: arrependimento, expiação
e reparação. Não importa se sofremos nos arrependemos e nos culpamos mais com o que deixamos de
fazer ou com o que fizemos, o passado deve apenas servir como ponto de partida, vendo onde, como e
porque agimos desta ou daquela maneira.
No livro “O Céu e o Inferno” Kardec afirma que somente ocorrerá a regeneração do Espírito quando este
atingir as Três condições necessárias para apagar os traços de seu erro. Ou seja, arrependimento, expiação e
reparação.
Quando convertemos a culpa em responsabilidade, crescemos psicologicamente. Disto resultará a disposição
para o heteroperdão (perdoar o outro) bem como para o autoperdão (perdoar-se), passos fundamentais para
a reparação.
Lembrando que nem sempre precisamos sofrer a dor e nos auto punirmos com o não perdão... Façamos o que
os Espíritos nos instruíram, alcemos vôo à prática da Caridade e Amor ao próximo.
. Deus não condena ninguém. Todos nós erramos com frequência e não há na face da Terra quem esteja
livre de tropeços. (...) O que mais importa é a nossa capacidade de recuperação diante do erro praticado.
Deus não quer choros, lamentações, dramas de consciência. (...) a vida coopera para a nossa reabilitação,
não para que fiquemos em vão na prisão de nossas culpas. Por isso, diante do erro, busquemos sanar o
equívoco pelo amor. Esse é o remédio sagrado para nossas feridas. (...) Culpar-se, nunca, mas reabilitar-se,
sempre, eis aí um programa de amor que podemos estabelecer em razão das nossas inevitáveis quedas. [6]
Autoperdão, um bem necessário
O autoperdão se encaixa aí: na capacidade da auto-aceitação. Aceitar que a forma de expressar o ser humano
que somos não é certa nem errada e, sim, única.
Autoperdão não tem nada a ver com autocondescência.
Autocondescência tem uma pitada de autopiedade, pois a pessoa se “perdoa” falando assim: “Ah, mas coitado
de mim, eu não podia fazer diferente. A culpa é do outro”!
Para que possamos nos compartilhar com o outro e com o mundo precisamos ter uma noção clara de quem
somos (autoconsciência) e quais são nossas necessidades físicas, intelectuais, espirituais e psicológicas para
que possamos colocar quem somos na forma mais fiel possível e requisitar o que precisamos do meio
ambiente e das pessoas.
Por exemplo, se você for possessivo não adianta fazer o “tipo” liberal porque a pessoa que estiver consigo
agirá livremente e você não se sentirá feliz, e, normalmente, terá crises de ciúmes incompreensíveis para o
outro, que tem de você uma imagem e um discurso de “O liberal”.
O contrário também é verdadeiro. Se você é uma pessoa que precisa de liberdade não adianta buscar
relacionamentos que exijam grande comprometimento porque, com certeza, se sentirá preso e sufocado pelas
exigências óbvias que virão.
Ao perdoar-se, a pessoa pára de exigir de si mesma aquilo que ainda não está pronta para dar, bem como pára
de se culpar por algumas “bolas fora” que dá.
Pára de se auto-exigir e dar ao outro ou para o mundo o que “acredita” que estão exigindo. É a libertação da
ditadura auto-imposta que se acredita vir de fora.
O processo do autoperdão começa tirando-se os “deverias” e os “terias” do seu dicionário e cotidiano. É dizer
para você mesmo: “Eu não tenho que... nada!”, “Eu não devo fazer... nada!”.
Aceitar que têm necessidades físicas, intelectuais e emocionais distintas das dos outros; e mais, aceitar que
tem todo o direito de satisfazê-las, desde, é lógico, que não interfira nem invada os direitos do outro.
A ética não se aplica apenas nas relações interpessoais, mas, também, na relação intrapessoal: se você não
respeita seus limites nem se perdoa por tê-los, você está sendo antiético consigo mesmo. Como pode haver
relacionamentos éticos em sua vida se você não tem consigo mesmo?
Ser diferente é, muitas vezes, percebido como der inferior e inadequado e portanto, muitas vezes, as pessoas
se envergonham de quem são. Essa sensação de falta de amor não é porque não se tem o amor das pessoas,
mas sim porque não se tem auto-amor, pois, por alguma razão, queremos ser perfeitos e não nos perdoamos
por não sê-lo. Por isso, autoperdão tem a ver com auto-aceitação.
Autoperdão é viver “de bem” consigo mesmo.

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