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CLUBE DE REVISTAS

27
00119
ISSN 1809-466X

9 77180 9 46 6007

Ano 17
Número 119
juLho/2023
R$ 29,99

€ 5,00

FÓRUM DOS GOVERNADORES DA AMAZÔNIA LEGAL

ROBÔ AJUDA A REVERTER DESMATAMENTO

O QUE AS ABELHAS SABEM?


CLUBE DE REVISTAS

EVENTO PRESENCIAL

Novo Local
20 A 22
SETEMBRO
2023 Av. das Nações Unidas, 12551 - São Paulo - SP

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Gás de
cozinha
Resíduo
orgânico

Resíduo
Esterco orgânico
animal

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EXPEDIENTE
PUBLICAÇÃO

25º FÓRUM DE GOVERNADORES DA AMAZÔNIA LEGAL


Editora Círios SS LTDA EDITORA CÍRIOS
ISSN 1677-7158
CNPJ 03.890.275/0001-36
O evento reuniu governa-dores e representantes dos Estados do Amapá, Rua Timbiras, 1572-A
Acre, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Roraima, Pará, Rondônia e do Fone: (91) 3083-0973
Maranhão. Os compromissos iniciaram em reunião com o governador do Fone/Fax: (91) 3223-0799
Cel: (91) 9985-7000
Mato Grosso, Mauro Mendes, e em seguida, foi aberta a Assembleia Geral www.revistaamazonia.com.br
para debates sobre os resultados das reuniões das Câmaras Setoriais de

06
E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br
Meio Ambiente, Saúde, Se-gurança Pública e Agricultura e eventos da CEP: 66033-800
agenda Pan-Amazônia. “Os Estados da Amazônia Legal estão buscando Belém-Pará-Brasil
o fortalecimento institucional para que sejam capazes de enfrentarem... DIRETOR
AUTORIDADES FEDERAIS, ESTADUAIS Rodrigo Barbosa Hühn

E MUNICIPAIS DEFENDEM E EXPLICAM PRODUTOR E EDITOR


Ronaldo Gilberto Hühn
IMPORTÂNCIA DA COP30 EM BELÉM COMERCIAL
A reunião de trabalho, que acontece ao longo do dia no Hangar Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn
Convenções e Feiras, em Belém, reúne também ministros, prefeitos,

08
ARTICULISTAS/COLABORADORES
diplomatas, especialistas e ambientalistas. “Hoje é dia de imersão ABB Robotics, Amy Imdieke, CAMS, CDB, Dr. Andrew Fanning, Emma Bryce,
sobre a COP. Conseguimos reunir palestrantes que são parceiros do Emily Cassidy, IGC, Lindsey Doermann, Michael Carlowicz, Michael Heithaus,
Ronaldo G. Hühn, Sally Younger, Simon Torkington, Stephen Buchmann,
Governo do Estado nas iniciativas que fizeram com que o Pará... Universidade do Arizona, UNFSA;

O ROBÔ “YUMI” ESTÁ AJUDANDO A FOTOGRAFIAS


REVERTER O DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
ABB Robotics, Addenbrooke’s Hospital, AIE, Cambridge University Hospitals,
Concordia Station/ Lagrange Laboratory, Copérnico, Dong Lei/Nature, Dr.
Andrew Fanning, EOSDIS LANCE, Esa Journals, GIBS/Worldview, Marco
A ABB Robotics desenvolveu um projeto piloto, usando um robô Santoa/Ag.Pará, HardeepSPuri, ICCI, IISD/ENB | Pam Chasek, IISD/ENB
colaborativo (cobot) chamado YuMi, em colaboração com a | Mike Muzurakis, IUCN, IUCN/u/DarreToBe, Izanbar via Getty Images,
Marcelo Halpern, Marcos Vicentti/Secom, MGN, Michael Heithaus, NASA
organização sem fins lucrativos Junglekeepers para demonstrar Earth Observatory, NASA Earth Observatory por Wanmei Liang, NASA Earth
o potencial dos robôs na reversão do desmatamento. A YuMi usa

10
Observatory/Lauren Dauphin, NASA-JPL/Caltech, NASA Ozone Watch, NASA
energia solar para automatizar o plantio de sementes, acelerando o via AP/Arquivo, Nature Sustainability, NHS Foundation Trust/PA, NOAA,
reflorestamento na Amazônia e tornando o processo mais eficiente. Norman Kuring/MODIS da NASA, NWS Alaska-Pacific River Forecast Center,
OMM, Pincheira-Donoso, Paul Souders via Getty Images, Queen’s University
Usando a tecnologia de nuvem RobotStudio da ABB, os especialistas... Belfast, Reuters, Rudolph Hühn, Ruby E Stephens et al., Santiago Ramirez
Barahona, SB58, Steve Gschmeissner/Science Photo, Universidade de Leeds,
CONFERÊNCIA SOBRE ESTOQUES Universidade Internacional da Flórida, Unsplash, Xiang Zhèng, Wikicommons;

DE PEIXES DAS NAÇÕES UNIDAS


FAVOR
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA POR
Editora Círios SS LTDA
O UNFSA compromete suas partes a progredir em quatro áreas de
gestão pesqueira: conservação e gestão de estoques; mecanismos DESKTOP
de cooperação internacional através de organizações regionais de Rodolph Pyle

A
CIC

RE

ST
I
LE ESTA REV
gestão pesqueira (RFMOs); monitoramento, controle e vigilância,

17
e conformidade e execução; e participação efetiva de estados em NOSSA CAPA
desenvolvimento e não-partes. A Conferência de Revisão Resumida Abelha na colmeia sobre favo de mel. Há um pôster de abelha pendurado no Centro
oferece uma oportunidade periódica para fazer um balanço do de Ciências Espaciais da NASA que diz: “Aerodinamicamente o corpo de uma abe-
lha não é feito para voar; o bom é que a abelha não sabe”. A lei da física diz que uma
progresso e explorar novas formas de fortalecer a gestão eficaz... abelha não pode voar, o princípio aerodinâmico diz que a amplitude de suas asas

AS PRIMEIRAS FLORES DO MUNDO


é muito pequena para conservar seu enorme corpo em voo, mas uma abelha não
sabe, ela não conhece nada sobre física nem a sua lógica e voa de qualquer maneira.

FORAM POLINIZADAS POR INSETOS


Isso é o que todos nós podemos fazer, voar e prevalecer em cada instante diante de
qualquer dificuldade e diante de qualquer circunstância apesar do que disserem ou
fazerem. Sejamos abelhas, não importa o tamanho das nossas asas, erguemos voo e
O que polinizou essas primeiras plantas com flores, o ancestral de desfrutaremos do pólen da vida. Foto: Cortesia NASA
todas as flores que vemos hoje? Seriam insetos carregando pólen entre
aquelas primeiras flores, fertilizando-as no processo? Ou talvez outros
animais, ou mesmo vento ou água? A pergunta tem sido complicada

50
de responder. No entanto, em uma nova pesquisa publicada no
New Phytologist, mostramos que os primeiros polinizadores eram
provavelmente insetos. Além do mais, apesar de alguns desvios
evolutivos, cerca de 86% de todas as espécies de plantas com flores...

AS ABELHAS PODEM APRENDER,


LEMBRAR, PENSAR E TOMAR DECISÕES
As abelhas e outros polinizadores são essenciais para a sociedade
humana. Eles fornecem cerca de um terço dos alimentos que
comemos , um serviço com um valor global estimado em até US$ 577
bilhões anuais. Mas as abelhas são interessantes de muitas outras

53
maneiras menos conhecidas. Em meu novo livro, “ What a Bee Knows:
Exploring the Thoughts, Memories, and Personalities of Bees”, eu me
baseio em minha experiência estudando abelhas por quase 50 anos
para explorar como essas criaturas percebem o mundo...

MAIS CONTEÚDO
[12] 5ª Sessão da Conferência Intergovernamental (IGC) sobre Biodiversidade de áreas além
da jurisdição nacional (BBNJ) [15] Derretimento do gelo e aumento do nível do mar: por que
2 graus Celsius é muito alto [22] Fitoplâncton costeiro em ascensão [23] A poeira atmosférica
tem um grande impacto na saúde dos oceanos globais [26] Imagens de satélite mostram que a
Para receber edições da
proliferação de algas costeiras aumentou nas últimas duas décadas [30] Turbulenta separação
Revista Amazônia gratuita-
de primavera [31] A Terra “está mais perto de outra extinção em massa do que pensávamos”
mente é só entrar no grupo
[35] O gelo na Antártica já derreteu antes [40] O aquecimento global nas regiões polares
www.bit.ly/Amazonia-Assinatura
[43] O Norte Global deve US$ 170 trilhões por emissões excessivas de CO2 [46] Imagens de
ou aponte para o QR Code
antes e depois que mostram como estamos transformando o planeta [56] Peixe dormindo?
[59] Quais animais sobreviverão às mudanças climáticas? [64] Algumas das principais invenções Portal Amazônia
médicas que mudaram o mundo até 2022 www.revistaamazonia.com.br
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Carta de Cuiabá
O 25º Fórum dos Governadores da
Amazônia Legal começou com reuniões
das Câmaras Setoriais que debateram es-
tratégias contra crimes na Amazônia Le-
gal, desenvolvimento sustentável, entre
outros assuntos.Durante o evento, tam-
Durante a Assembleia Geral dos Governadores da Amazônia bém foram realizadas oficinas para formu-
Legal, no Palácio dos Paiaguás, em Cuiabá (MT)
lar contribuições para a Carta de Cuiabá,
com o posicionamento sobre a Cúpula da

25º Fórum de
Amazônia, que acontece no mês de agosto,
em Belém, entre os países da Pan-Ama-
zônia e membros da Organização do Tra-

Governadores da
tado de Cooperação Amazônica (OTCA):
Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana e Suriname.

Amazônia Legal
O documento, validado durante a As-
sembleia Geral, reúne informações so-
bre as metas de gestão, o fortalecimento
de trabalho através de políticas públicas
Fórum dos Governadores da Amazônia Legal para que os Estados possam alcançar
suas metas de redução de emissões de
lança Carta de Cuiabá destacando importância gases, economia verde, matriz energéti-
de tratamento estratégico da Amazônia ca sustentável e descarbonização, além
do ponto de vista de que a Amazônia
deve ser tratada de forma estratégica
Fotos: Marco Santoa/Ag.Pará, Marcos Vicentti/Secom para o Brasil, e a criação de uma frente
parlamentar mista da Amazônia Legal.

O
evento reuniu governa-
dores e representantes
dos Estados do Amapá,
Acre, Amazonas, Mato
Grosso, Tocantins, Ro-
raima, Pará, Rondônia e do Maranhão.
Os compromissos iniciaram em reunião
com o governador do Mato Grosso,
Mauro Mendes, e em seguida, foi aberta
a Assembleia Geral para debates sobre
os resultados das reuniões das Câmaras
Governadores debatendo interesses sociais em benefício da Amazônia
Setoriais de Meio Ambiente, Saúde, Se-
gurança Pública e Agricultura e eventos
da agenda Pan-Amazônia. “Discutimos assuntos ligados à regu- “Em defesa da Amazônia, nós defen-
“Os Estados da Amazônia Legal estão larização fundiária, questões ambien- demos que: a Amazônia deve ser trata-
buscando o fortalecimento institucional tais, segurança pública, compras com- da do ponto de vista estratégico para o
para que sejam capazes de enfrentarem partilhadas e essas câmaras produziram Brasil em todas as suas esferas: ambien-
os seus desafios e, particularmente, importantes contribuições de uma troca tal e de desenvolvimento sustentável e
o desafio territorial certamente é um de experiências e, acima de tudo, nessa humano. Apoiamos a criação de uma
dos maiores, seja pela extensão, seja construção de agenda comum para que Frente Parlamentar Mista da Amazônia
pelas dificuldades logísticas e também nós possamos, juntos, fazer com que Legal, para que senadores e deputados
pela sobreposição de jurisdição destas essas ações, ao serem implementadas, federais do Estados da Amazônia Le-
áreas”, disse Helder Barbalho.O chefe produzam um resultado mais efetivo e gal possam atuar na defesa dos inte-
do Executivo do Mato Grosso reforçou mais eficiente para essa população que resses comuns da região no Congresso
que o fórum é importante na construção nós representamos na condições de Nacional”, disse o governador Helder
de uma agenda comum para a integra- chefes do executivo”, explicou o gover- Barbalho ao ler a Carta de Cuiabá. Ain-
ção de todos os Estados da região. nador Mauro Mendes. da durante a reunião dos governadores
foi referendada a nomeação de Marce-
llo Brito, como secretário-executivo do
Consórcio da Amazônia Legal, e as cria-
ções das Câmaras Setoriais de Agricul-
tura e Economia Verde, e de Cultura.

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CARTA DE CUIABÁ
Nós, os governadores dos estados da Amazônia Legal, reu- 3. A Amazônia será tratada do ponto de vista estratégico
nidos neste dia 16 de junho de 2023, em Cuiabá/MT, durante para o Brasil, em todas as suas esferas: ambiental e de desen-
o 25º Fórum dos Governadores, apresentamos à sociedade volvimento sustentável e humano, dando voz às pessoas que
e ao Governo Federal as nossas deliberações e subsídios ao vivem nessas localidades;
posicionamento brasileiro na Cúpula da Amazônia, a reali- 4. O protagonismo de defender a Amazônia será exercido
zar-se em agosto de 2023, em Belém/PA, entre os países da por aqueles que de forma legítima representam os estados
Pan-Amazônia e membros da Organização do Tratado de Coo- que integram esse bioma.
peração Amazônica (OTCA): Brasil, Bolívia, Peru, Equador, 5. Apoiamos a criação de uma Frente Parlamentar Mista da
Colômbia, Venezuela, Guiana, e Suriname. Amazônia Legal, para que os Senadores e Deputados Fede-
Em atenção ao pacto federativo estabelecido pela Constitui- rais dos estados da Amazônia Legal possam atuar na defesa
ção Federal de 1988 e à atuação legal dos governos da Ama- dos interesses comuns da região no Congresso Nacional.
zônia Legal em seus respectivos territórios, é essencial que Os governos nacionais e subnacionais Pan-Amazônicos,
o Governo Federal, em seu posicionamento para a Cúpula da em especial os Governos Federal e estaduais da Amazônia
Amazônia, leve em consideração o posicionamento conjunto Legal brasileira, agora têm local e data para apresentar
dos nove estados consorciados (Acre, Amapá, Amazonas, Ma- ao mundo os resultados de suas políticas públicas e ações
ranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), para a região. O anúncio da escolha de Belém/PA como
que são objetos e agentes dos compromissos a serem estabe- anfitriã da COP-30 pela ONU nos abre uma janela de opor-
lecidos, sobre temas relativos ao meio ambiente, segurança tunidades que se encerrará em dezembro de 2025. É neste
pública, direitos dos povos indígenas e povos e comunidades sentido que pactuamos a colaboração mútua e pré-com-
tradicionais, crise climática, segurança energética e alimentar, petitiva, a fim de que possamos construir e compartilhar
produção com geração de emprego, renda e fomento a ativida- soluções para os desafios comuns. Por isso, reivindicamos
des que valorizem a floresta em pé. que as recomendações acima estejam representadas no
A unidade dos governadores se manifesta em defesa dos posicionamento do Governo Federal durante a Cúpula, as-
interesses da Região Amazônica: sim refletindo, de um lado, as nossas trajetórias, estraté-
1. Os Estados continuarão executando ações para o de- gias e colaborações; e, de outro, o empenho democrático
senvolvimento sustentável e a qualidade de vida de cerca que, seguramente, havemos de observar na articulação
de 30 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, com regional. Apenas pela atuação conjunta e estratégica po-
investimentos em segurança, saúde, educação, no social e deremos viabilizar o combate à pobreza e o salto de de-
meio ambiente; senvolvimento desejado para a região, impulsionado por
2. Estaremos envidando todos os esforços para garantir que os uma economia sustentável que preserve o meio ambiente
potenciais e riquezas naturais possam ser aproveitados de maneira e contribua para a qualidade da vida na Terra.
sustentável e garantindo a proteção da floresta, para gerar melho-
rias significativas à população desses Estados; Cuiabá,16 de junhode 2023

HELDER ZAHLUTH BARBALHO


Governador do Estado do Pará
Presidente do Consórcio da Amazônia Legal

GLADSON LIMA CAMELI CLECIO LUIS VILHENA VIEIRA WILSON MIRANDA LIMA
Governador do Estado do Acre Governador do Estado do Amapá Governador do Estado do Amazonas

MAURO MENDES FERREIRA SÉRGIO GONÇALVES DA SILVA ANTONIO GARCIA DE ALMEIDA


Governador do Estado do Mato Grosso Vice-Governador do Estado de Rondônia Governador do Estado de Roraima
PEDRO CARVALHO CHAGAS MARCELLO DE LIMA LELIS
Secretário Estado de Meio Ambiente Secretário de Estado de Meio Ambiente
representando o Governador do Estado e Recursos Hídricos representando o
do Maranhão, CARLOS ORLEANS
revistaamazonia.com.br Governador do Estado do Tocantins
REVISTA AMAZÔNIA 13
BRANDÃO JUNIOR WANDERLEI BARBOSA CASTRO
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Autoridades federais, estaduais e
municipais defendem e explicam
importância da COP30 em Belém
O governador Helder Barbalho e a vice-governadora do Estado, Hanna Ghassan,
junto com gestores, presidentes de autarquias e secretários de Estado, participa-
ram nesta segunda-feira (26) da primeira reunião técnica expandida de trabalho,
como ação preparatória para a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças
Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém
Fotos: Joyce Ferreira/Comus, Marco Santos / Ag. Pará

A
reunião de trabalho, que
acontece ao longo do dia
no Hangar Convenções e
Feiras, em Belém, reúne
também ministros, prefeitos, diplo-
matas, especialistas e ambientalistas.
“Hoje é dia de imersão sobre a COP.
Conseguimos reunir palestrantes que
são parceiros do Governo do Estado nas
iniciativas que fizeram com que o Pará
viabilizasse a candidatura e, agora, ser
sede deste evento global que vai gerar
oportunidades aos paraenses”, explicou
o governador Helder Barbalho.

A nossa agenda é dar conta do reca- Barbalho reafirmou que a COP irá ge-
do e fazer a melhor COP do mundo aqui rar oportunidades e legado aos paraen-
em Belém do Pará”, alertou o chefe do ses. “Essa agenda é para cada um que
Poder Executivo Estadual paraense. ama esse Estado e tem a oportunidade
Helder Barbalho também exemplificou de deixar um legado.
que uma edição da COP tem proporção Cada um vai ter que fazer a sua parte.
similar com uma edição de Copa do Essa é uma agenda transversal”, con-
Mundo ou dos Jogos Olímpicos. vocou o governador.

“Estamos falando de um evento que


vai reunir desde os povos tradicionais
até os presidentes dos maiores e mais
importantes países. Serão 197 países
presentes em nosso Estado. Precisamos
estar preparados e termos a dimensão
de nossas responsabilidades. Para o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, Belém vai
ter uma das maiores COP da história e a maior COP popular

08 REVISTA AMAZÔNIA revistaamazonia.com.br


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A vice-governadora Hanna Ghas-
san, que atua na coordenação das
ações da COP, ponderou que o com-
partilhamento de informações com
os servidores é uma oportunidade de
esclarecer dúvidas e permitir avanços
da máquina pública.
“Espero que esse dia seja muito pro-
dutivo e esclarecedor para todos nós.
Que todos saiam daqui compreenden-
do melhor o que é a COP.
Esse é o grande objetivo”, disse.
“Muito nos orgulha sediar um even-
to deste porte. Que cada um presente
seja multiplicador e dissemine infor-
mações para o restante de suas equi-
pes nas secretarias e órgãos.
Esse evento só vai dar certo se es-
tivermos engajados e com uma força
conjunta. Essa força envolve os go-
vernos federal e estadual, prefeitura,
iniciativa privada e sociedade. Secretária nacional do Clima, Ana Toni, afirma que “vamos ter um grande desafio, já que
essa COP vai ser, talvez, depois do acordo de Paris, uma das mais importantes COP”
Assim, podemos nos programar
e realizar a melhor COP de todos os
tempos”, avaliou Hanna Ghassan. Não é simplesmente uma COP, ele “Celebramos a escolha de Belém para
A ministra Liliam Chagas, do De- vem 33 anos após a Rio 92 e 10 anos receber a COP. Estou muito animado com
partamento de Clima do Ministério de após o acordo de Paris”, avaliou a se- o que Belém vai demonstrar para o mun-
Relações Exteriores (MRE), ponderou cretária de Clima do Ministério do do com sua capacidade de organização,
que a COP é um evento que cresce em Meio Ambiente (MMA), Ana Toni. O receptividade e ao ambiente que os nego-
tamanho e participação a cada edição. secretário adjunto de Meio Ambiente, ciadores terão aqui para fazer uma COP
A ministra explicou que a COP é Clima, Agricultura e Relações Exterio- histórica. Que seja lembrada de forma
uma reunião intergovernamental en- res, da Secretaria Especial de Articu- significativa como foi em Paris. Tenho
tre países. “É um evento dinâmico que lação e Monitoramento da Casa Civil, certeza que vamos fazer uma COP his-
aumenta de dimensão e importância Gabriel Lui, argumentou que a expec- tórica”, disse. Entre as autoridades pre-
a cada ano. Possivelmente a de 2025 tativa é realizar uma edição marcante. sentes na reunião de trabalho estavam a
seja a maior da história”, ex-ministra Meio Ambiente e
ponderou Liliam Chagas. Co-Chair do Painel Intergover-
“Esse evento é o maior namental de Recursos Natu-
encontro das Nações Uni- rais ONU, Izabella Teixeira; o
das. Belém estar recebendo embaixador e secretário de
um evento desta magni- Clima – Ministério Relações
tude e importância é algo Exteriores, André Corrêa do
especial. Quero agradecer Lago; o diplomata embaixador
aos paraenses que estão Everton Vieira Vargas; e a pre-
dispostos em receber um sidente da Frente Parlamentar
evento deste porte. da Câmara Federal para o For-
talecimento da COP30 no Bra-
sil, deputada federal Elcione Barbalho.
Também estiveram presentes deputados
estaduais e prefeitos.

COP
A Conferência das Partes da Conven-
ção das Nações Unidas sobre Mudan-
ças de Clima, a COP, reúne anualmente
lideranças mundiais para debater solu-
ções para conter o aquecimento global
e criar alternativas sustentáveis para a
vida na Terra. A conferência deste ano
será nos Emirados Árabes. A de 2024
ainda não tem sede definida.

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O robô “YuMi” está ajudando a reverter
o desmatamento na Amazônia
Projeto piloto entre a ABB Robotics e a organização sem fins lucrativos Junglekeepers demonstra o
potencial da robótica e da tecnologia Cloud na reversão do desmatamento. Usando energia solar, o
YuMi® automatiza o plantio de sementes, tornando o reflorestamento na Amazônia mais rápido, eficiente
e escalável. Projeto da tecnologia RobotStudio® Cloud, possibilita especialistas da ABB simular, refinar
e implantar programação robótica em tempo real a partir de 12.000 km de distância da Suécia

Fotos: ABB Robotics

A
ABB Robotics desenvolveu
um projeto piloto, usando
um robô colaborativo (co-
bot) chamado YuMi, em
colaboração com a organização sem
fins lucrativos Junglekeepers para de-
monstrar o potencial dos robôs na re-
versão do desmatamento.
A YuMi usa energia solar para auto-
matizar o plantio de sementes, acele-
rando o reflorestamento na Amazônia
e tornando o processo mais eficiente.
Usando a tecnologia de nuvem RobotS-
tudio da ABB, os especialistas da ABB
simularam, refinaram e implantaram
programação robótica em tempo real a
12.000 km (7.460 milhas) de distância
em Västerås, Suécia, tornando o YuMi
um dos robôs mais remotos do planeta.
“A colaboração da ABB com a Jun-
glekeepers demonstra como a robótica
e a tecnologia de nuvem podem desem-
YuMi, o robô da ABB, ajudando a reverter o desmatamento na Amazônia
penhar um papel central no combate ao

desmatamento como um dos principais


contribuintes para a mudança climá-
tica”, disse Sami Atiya, presidente da
ABB Robotics and Discrete Automation.
“Nosso programa piloto com o robô
mais remoto do mundo está ajudando a
automatizar tarefas altamente repetiti-
vas, liberando os guardas florestais para
realizar trabalhos mais importantes na
floresta tropical e ajudando-os a conser-
var a terra em que vivem”.
O cobot está automatizando tarefas de
plantio em um laboratório de selva em
uma região remota da Amazônia perua-
na, acelerando o processo e permitindo
que os voluntários dos Junglekeepers
concentrem seu tempo e recursos em
trabalhos mais impactantes, como pa-
trulhar a área para deter madeireiros
ilegais, educar os moradores sobre a
preservação da mata atlântica e o plan-
YuMi assume tarefas repetitivas para liberar um guarda florestal tio de mudas maduras.
Junglekeeper para realizar tarefas de maior valor agregado

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Acelerando tarefas de plantio na selva, em uma região remota da Amazônia peruana. Assista o Video em: www.youtu.be/hmPsKy1Q3nY

YuMi é capaz de cavar um buraco ótima maneira de expor nossos pa- “É muito importante ter uma com-
no solo, jogar as sementes, compactar trulheiros a novas formas de fazer as binação de alta tecnologia e conserva-
o solo por cima e marcá-lo com uma coisas. Ele acelera e expande nossas ção. Existem muitas tecnologias que
etiqueta com código de cores. Com o operações e avança nossa missão”. podemos usar para preservar a flores-
YuMi, o Junglekeepers pode replantar O YuMi não apenas torna o reflores- ta, e esse robô pode ajudar muito a re-
uma área do tamanho de dois campos tamento mais rápido e eficiente, mas florestar mais rápido, mas temos que
de futebol a cada dois dias em zonas também permite que os Junglekee- ser muito seletivos. Temos que usar
que requerem reflorestamento. pers continuem fazendo o trabalho de em áreas de alto desmatamento para
“Até agora, perdemos 20% da área reflorestamento sem ter que encontrar acelerar o processo de replantio”.
total da floresta amazônica; sem o pessoas dispostas a ficar e trabalhar O projeto piloto está findando e
uso da tecnologia hoje, a conserva- em um local distante da selva. Após a após o término do programa, a ABB
ção ficará paralisada”, disse Moshin instalação, o YuMi funciona de forma planeja continuar explorando opor-
Kazmi, co-fundador da Junglekee- autônoma e só precisará de solução de tunidades para ajudar os Junglekee-
pers. “Ter Yumi em nossa base é uma problemas conforme surgirem. pers de forma mais ampla.

Acelerando tarefas de plantio na selva, em uma região remota da Amazônia peruana. Assista o Video em: www.youtu.be/hmPsKy1Q3nY

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5ª Sessão da Conferência
Intergovernamental (IGC) sobre
Biodiversidade de áreas além da
jurisdição nacional (BBNJ)
Encerrando um processo de negociação que durou quase duas
décadas, a quinta sessão retomada do IGC, realizada na sede
da ONU em Nova York, de 19 a 20 de junho de 2023, reuniu
mais de 200 delegados representando governos, sociedade civil,
academia e ONU e outros organizações internacionais
Fotos: IISD/ENB | Pam Chasek, Marcelo Halpern

U
ma sensação palpável de
entusiasmo permeou a
Câmara do Conselho Eco-
nômico e Social (ECO-
SOC) na sede da ONU
em Nova York, quando os membros da
Conferência Intergovernamental (IGC)
se reuniram para adotar o novo trata-
do sob a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar (UNCLOS) em
a conservação e uso sustentável da bio-
diversidade marinha de áreas fora da
jurisdição nacional (BBNJ).
Abrindo a reunião, o presidente do
IGC, Rena Lee, elogiou os delegados por
seus esforços incansáveis para chegar a
um consenso sobre o novo instrumento
Aplausos para a adoção do Acordo BBNJ
juridicamente vinculativo.

Csaba Kőrösi, Presidente da Assem-


bleia Geral da ONU, agradeceu a todos
os delegados por seu trabalho árduo
em direção a esta “conquista históri-
ca, que testemunha seu compromisso
coletivo com a conservação e uso sus-
tentável de BBNJ”. O secretário-geral
da ONU, António Guterres, enfatizou
que o acordo injeta nova vida no ocea-
no em um momento crítico, ameaça-
do pelas mudanças climáticas, perda
de biodiversidade e poluição.
Ele destacou que “o espírito de coo-
peração multilateral está vivo e bem”,
e pediu a ratificação oportuna do
acordo para entrar em vigor e alcan-
çar os objetivos comuns.
Secretário-geral da ONU, António Guterres

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Ele agradeceu à presidente do IGC,
Lee, por sua liderança e dedicação, bem
como a todos os delegados e participan-
tes, parabenizando-os por sua conquista.
Várias delegações também saudaram
as disposições específicas do Acordo,
particularmente a referência ao patri-
mônio comum da humanidade, e aque-
las relacionadas à repartição de benefí-
cios dos recursos genéticos marinhos,
incluindo informações de sequência
digital e capacitação, bem como aquelas
sobre assistência financeira e técnica, a
transferência de tecnologia marinha e
pesquisa científica marinha.
O Oceano, que cobre 70% do planeta,
sustenta todas as facetas da vida na Ter-
ra. Quase dois terços dela, junto com suas
espécies e ecossistemas únicos, estão em
A presidente do IGC, Rena Lee, encerra a sessão final do IGC
áreas fora da jurisdição nacional.

A Terra depende do Oceano para os


múltiplos benefícios que proporciona.
Da nutrição e benefícios para a saúde
ao controle climático, o oceano é vital
para a vida na Terra. Quase dois terços
do oceano, juntamente com suas espé-
cies e ecossistemas únicos, estão em
áreas fora da jurisdição nacional. No
entanto, estruturas legais fragmenta-
das deixaram a biodiversidade nessas
áreas vulnerável a ameaças crescen-
tes, incluindo mudanças climáticas,
poluição por plásticos, derramamen-
tos de óleo, pesca predatória, destrui-
ção de habitats, acidificação dos ocea-
nos e ruído subaquático.

Estruturas legais fragmentadas dei-


xaram a biodiversidade nessas áreas
vulnerável a ameaças cada vez maiores,
incluindo mudanças climáticas, poluição
plástica, derramamentos de óleo, pesca
predatória, destruição de habitats, acidi-
ficação dos oceanos e ruído subaquático.
Embora as negociações sobre o Acor-
do tenham sido concluídas com sucesso
no início de março de 2023, o rascunho
do texto teve que passar por uma edição
técnica por um grupo de trabalho infor-
mal aberto antes que pudesse ser ado-
tado. Assim, em 19 de junho de 2023,
os governos finalmente adotaram o
novo instrumento internacional juridi-
camente vinculativo sobre BBNJ. Este é
o terceiro acordo de implementação no
âmbito da UNCLOS, após o Acordo de
1994 que estabelece a Autoridade In-
ternacional dos Fundos Marinhos e o
Oceano
Acordo de Estoques de Peixes de 1995.

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Delegados aplaudem a adoção do Acordo BBNJ

Ao comemorar sua conquista, muitos


também pediram a ratificação antecipada
do novo Acordo para garantir que a im-
plementação possa começar o mais rápido
possível. Várias delegações representando
tanto o Sul Global quanto o Norte Global
pediram esforços robustos de mobilização
de recursos para reforçar a implementação
do Acordo. Olhando para o futuro, várias
delegações pediram aos Estados que assi-
nem o Acordo quando ele for aberto para
assinatura em 20 de setembro de 2023.
Eles também pediram o início de um pro-
cesso preparatório para preparar o cami-
nho para a entrada em vigor do Acordo,
juntamente com uma conferência de doa-
dores para mobilizar os recursos necessá-
Presidente do IGC , Rena Lee , Singapura
rios para ratificação e implementação.

Durante o tão esperado evento, os de-


legados celebraram a conquista histórica
como um triunfo do multilateralismo,
com muitos reconhecendo que o Acordo
não poderia ter chegado em breve, pois as
ameaças ao Oceano continuam a aumen-
tar. A adoção do novo Acordo foi anuncia-
da como uma nova era para a governança
dos oceanos, com várias delegações esta-
belecendo vínculos com a Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável e o
Quadro de Biodiversidade Global Kun-
ming-Montreal 2022 sob a Convenção so-
bre Diversidade Biológica. Embora o Acor-
do tenha sido adotado por consenso, as
delegações concordaram em incluir uma
nota de rodapé no Relatório da Conferên-
cia registrando a declaração da Federação
Russa distanciando-se do consenso. As de-
legações elogiaram a presidente do IGC,
Rena Lee, por seus esforços para “dirigir
o navio com segurança até a costa”.
Conservação e uso sustentável da diversidade biológica marinha além das áreas de jurisdição

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Derretimento do gelo e
aumento do nível do mar: por
que 2 graus Celsius é muito alto
por *Amy Imdieke Fotos: ICCI, OMM, SB58

N
as negociações climáticas
anuais de junho 2023 em
Bonn (SB58), na Alema-
nha, um encontro de nações
montanhosas, polares e de baixa altitu-
de se reuniu em um evento paralelo da
Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC )
. O evento, intitulado “Perda de recursos
hídricos nas montanhas e aumento do
nível do mar: por que 2°C é muito alto
para 3,5 bilhões”, enfocou as implicações
do desaparecimento constante do gelo
do planeta para a ambição e mitigação
do clima, perdas e danos e adaptação.

O evento deixou claro que as princi- O evento paralelo construído em


pais vias de negociação, como mitigação, parte em um workshop de criosfera
perdas e danos e adaptação, estão pro- pré-sessão - o primeiro desse tipo em
fundamente interconectadas com as rea- uma negociação da UNFCCC - sob
lidades físicas do derretimento da neve e os auspícios do Grupo de Alto Nível
do gelo. Conforme declarado pelo rela- Ambition on Melting Ice (AMI) sobre
tório anual State of the Cryosphere pu- Elevação do Nível do Mar e Recursos
blicado durante a COP27 , “Não há como Hídricos de Montanha , que inclui
negociar com o ponto de fusão do gelo”. países não apenas em regiões polares

Joanna Post (secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas


sobre Mudanças Climáticas), Eduardo Silva, do Chile, e Annika Christell,
da Suécia, em um evento paralelo da SB58 em junho em Bonn, Alemanha

As reuniões de Bonn dos órgãos


subsidiários da UNFCCC, conhecidas
como “SB58”, acontecem este ano de
5 a 15 de junho. Embora de natureza
amplamente científica e técnica, essas
reuniões ocorrem em um momento
chave no processo da UNFCCC, esta-
belecendo as bases enquanto os nego-
ciadores se preparam para a COP28 em
dezembro, com os Emirados Árabes
Unidos como presidente da COP.

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e montanhosas, mas também nações
costeiras e de baixa altitude vulnerá-
veis à perda de água por acúmulo de
neve e geleiras, bem como pelo au-
mento do nível do mar na Groenlân-
dia e nos mantos de gelo da Antártida.
No evento, negociadores de diver-
sos países expressaram sua preocu-
pação com os impactos da perda da
criosfera, incluindo Eduardo Silva,
do Chile (país copresidente da AMI);
Carlos Fuller de Belize; Annika
Christell da Suécia polar; e Namgay
Choden, um jovem delegado da na-
ção do Butão, no Himalaia. Juntos,
esses negociadores se uniram aos
principais cientistas para fornecer
uma mensagem clara: 2 graus Cel-
sius de aquecimento é muito alto.
“Cinquenta por cento da popu-
lação do Caribe vive ao longo da
zona costeira”, disse Fuller, sobre
a necessidade de reduções urgentes
Não há como negociar com o ponto de fusão do gelo
de emissões para manter as tempe-
raturas globais abaixo de 1,5 grau
Celsius. Ele continuou: “No final Izabella Koziell, vice-diretora do Cen- desencadear consequências devastado-
das contas, se isso não for feito ago- tro Internacional para Desenvolvimen- ras em comunidades em todo o mundo.
ra, já vemos a migração em massa to Integrado de Montanhas ( ICIMOD Um estudo da Nature publicado na se-
ocorrendo da África para a Europa, ), que apoia oito países membros regio- mana passada ressalta essa mensagem.
das Américas para os EUA. Vai ficar nais, fez o discurso principal, destacan- Koziell descreveu o papel funda-
muito pior, a menos que comecemos do os desafios enfrentados pela região mental das geleiras e da neve no Hin-
a lidar com isso agora”. de Hindu Kush Himalaia. du Kush Himalaia, uma região onde as
Uma visão geral da mais recente ciên- As principais dinâmicas, incluindo montanhas oferecem o maior estoque
cia da neve e do gelo examinada no camadas de gelo, geleiras e neve nas de água congelada fora dos pólos. “1,5
workshop pré-sessão foi dada por Pam montanhas, permafrost, gelo marinho graus Celsius já está ao nosso alcance,
Pearson, diretora da Iniciativa Interna- e oceanos polares têm limites críti- como ouvimos recentemente da OMM
cional do Clima da Criosfera (ICCI), que cos em torno de 1,5 a 2 graus Celsius [Organização Meteorológica Mun-
atua como secretaria da AMI. de aquecimento, com o potencial de dial], e isso já é muito quente porque
os impactos já estão presentes”, disse
Regiões caribenhas das Grandes Antilhas, Pequenas Antilhas e Bahamas. ela. “As implicações potenciais de che-
50% da população do Caribe vive ao longo da zona costeira gar a 1,5 grau Celsius e além são enor-
mes e afetarão a todos nós.”
“Estamos perdendo rapidamente
nossas geleiras, e isso não afetará ape-
nas nossa segurança hídrica e alimen-
tar”, disse Choden. “GLOFs [inunda-
ções de explosão de lagos glaciares]
causarão enormes riscos às florestas
e biodiversidade, infraestrutura, pes-
soas e economia… [incluindo] energia
hidrelétrica e agricultura, dois dos se-
tores mais vulneráveis às mudanças
climáticas, intimamente relacionados
à estabilidade da criosfera.”
Reduções urgentes de emissões são
essenciais para enfrentar a crise cli-
mática e reduzir as consequências de
longo alcance, de longo prazo e inter-
geracionais da perda de neve e gelo em
escala global. “Sabendo o que sabemos
hoje, 2 graus Celsius não deveria nem
estar na mesa”, disse Fuller.

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Conferência sobre Estoques


de Peixes das Nações Unidas
O oceano está em perigo, pois os ecossistemas marinhos e todas as espécies vivas
enfrentam desafios crescentes relacionados à sobrepesca, mudanças climáticas,
perda de biodiversidade, poluição e acidificação, para citar alguns. Os esforços
para enfrentar os desafios relacionados à pesca para garantir a saúde e a susten-
tabilidade a longo prazo dos recursos e ecossistemas marinhos vivos em um am-
biente de política oceânica em evolução foram o foco da atenção na Conferên-
cia de Revisão Retomada do Acordo para a Implementação das Disposições da
Convenção da ONU sobre o Direito do Mar (UNCLOS) relativo à Conservação
e Gestão de Estoques de Peixes Transzonais e Altamente Migratórios, conhecido
como Acordo das Nações Unidas sobre Estoques de Peixes (UNFSA)

Fotos: IISD/ENB | Mike Muzurakis, Rudolph Hühn,

O
UNFSA compromete suas
partes a progredir em qua-
tro áreas de gestão pesquei-
ra: conservação e gestão de
estoques; mecanismos de cooperação
internacional através de organizações
regionais de gestão pesqueira (RFMOs);
monitoramento, controle e vigilância, e
conformidade e execução; e participação
efetiva de estados em desenvolvimento e
não-partes. A Conferência de Revisão Re-
sumida oferece uma oportunidade perió-
dica para fazer um balanço do progresso
e explorar novas formas de fortalecer a
gestão eficaz dos oceanos. A este respeito,
a reunião foi bem-sucedida.
Os delegados que se reuniram na
sede da ONU em Nova York puderam
revisar as recomendações da última
reunião da Conferência de Revisão em
2016 e fazer uma infinidade de pro-
postas nas áreas de gestão pesqueira.
As últimas notícias sobre a sustenta-
bilidade dos estoques de peixes sob o
mandato do UNFSA não são reconfor-
tantes nem desoladoras. As evidências
mostram que, por um lado, a situação
geral dos estoques de peixes altamen-
te migratórios e dos estoques de peixes
transzonais não melhorou desde 2016.

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Por outro lado, as histórias de suces-


so da gestão de estoques específicos
deixam espaço para otimismo que, por
meio de estratégias cuidadosamente
planejadas e cientificamente iniciativas
de gestão informadas, a melhoria está
ao nosso alcance.

O UNFSA visa garantir a con-


servação a longo prazo e o uso
sustentável dos estoques de
peixes transzonais e altamen-
te migratórios, e inclui princí-
pios gerais para sua conser-
vação e gestão, e disposições
sobre, inter alia: aplicação da
abordagem de precaução;
compatibilidade das medidas
de conservação e gestão;
cooperação para a conservação
e gestão; ORGP; recolha e disponi-
bilização de informação e coope-
ração em investigação científica;
não membros de RFMOs;
deveres de, e conformida-
de e execução por, estados
de bandeira; internacional,
sub-regional e regional na
aplicação; procedimentos de
embarque e inspeção; medi-
das tomadas pelos estados
do porto; requisitos especiais
e formas de cooperação com
países em desenvolvimento; e
solução de controvérsias.
O Acordo estabelece um con-
junto de direitos e obrigações
dos Estados para conservar e
gerir os tipos de estoques pes-
Abertura da conferência Estoques de Peixes: Joji Morishita
de revisão retomada (Japão) por aclamação. Em segui-
queiros sob sua jurisdição, bem da, Morishita enfatizou que, apesar
como espécies associadas e Na abertura, 22 de maio, na sede do progresso, persistem problemas
dependentes, e para proteger o da ONU, em Nova York os delega- com a conservação e gestão de es-
meio ambiente marinho. dos elegeram o Presidente da Con- toques de peixes altamente migrató-
ferência de Revisão Retomada sobre rios e transzonais.

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Rodrigo Barenho , Brasil

Governos membros não estão adotando as medidas reco-


mendadas suficientes para melhorar a sustentabilidade

Ele destacou importantes desenvolvi- Ele disse que o nível geral de imple- que expressa preocupação com a falta de
mentos recentes, incluindo o Acordo de mentação melhorou, embora de forma progresso em outras áreas, inclusive so-
Subsídios à Pesca da Organização Mundial desigual, já que alguns estados e RF- bre a situação geral dos estoques de pei-
do Comércio (OMC); a adoção do GBF; e o MOs procederam de forma mais expe- xes altamente migratórios e transzonais,
Acordo BBNJ. Ele enfatizou que se espera dita do que outros. Vários delegados e que não avançou desde 2016, apesar de
que os RFMOs desempenhem um papel observadores fizeram declarações ge- melhorias em alguns estoques e regiões.
de coordenação chave na estrutura BBNJ. rais, que podem ser encontradas em: Sobre a conservação e gestão dos sto-
Sublinhou ainda os desafios colocados pe- www.bit.ly/3WLwhwB cks, as recomendações incidem sobre:
las alterações climáticas e pela pesca IUU. No documento final de 20 páginas, a a adoção e implementação de medidas
Mathias, em nome do secretário-geral Conferência de Revisão reafirma que eficazes de conservação e gestão; a apli-
da ONU, António Guterres, destacou os UNCLOS e UNFSA fornecem a estrutura cação das abordagens de precaução e
benefícios relacionados com a pesca, em legal para conservação e gestão de esto- ecossistêmica; determinar pontos de
particular para os países em desenvolvi- ques de peixes transzonais e estoques de referência ou pontos de referência provi-
mento. Ele destacou que a sobrepesca, peixes altamente migratórios, levando sórios para estoques específicos; fatores
a pesca IUU e as práticas de pesca des- em consideração outros instrumentos ambientais que afetam os ecossistemas
trutivas prejudicam a sustentabilidade internacionais relevantes. marinhos, incluindo impactos adversos
da pesca mundial. Ele pediu “redobrar Congratula-se com o progresso signifi- das mudanças climáticas e acidificação
nossos esforços para preservar a sus- cativo feito na implementação de várias dos oceanos; desenvolvimento de ferra-
tentabilidade da pesca a longo prazo” das recomendações da Conferência de mentas de gestão por área; a redução da
implementando totalmente o UNFSA. Revisão em 2016, ao mesmo tempo em capacidade de pesca para níveis compa-
tíveis com a sustentabilidade dos esto-
ques pesqueiros; a eliminação de subsí-
dios que contribuem para a pesca IUU,
sobrepesca e sobrecapacidade; artes de
pesca perdidas, abandonadas ou de ou-
tra forma descartadas, incluindo detritos
marinhos; coleta de dados e comparti-
lhamento de informações e arranjos de
dados da FAO e banco de dados de es-
tatísticas globais de pesca; conservação
e gestão de tubarões e conservação de
aves marinhas; medidas de conserva-
ção e gestão da pesca de profundidade;
fortalecimento da interface ciência-po-
lítica; estabelecimento de estratégias de
reconstrução e recuperação dos estoques
pesqueiros; gerenciamento de bycatch
e descartes; e cumprimento das obriga-
ções como membros ou não membros
cooperantes de RFMOs; e estabeleci-
mento de novos RFMOs ou acordos.

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e prestação de apoio à Rede Interna-


cional de Monitoramento, Controle e
Vigilância para Atividades relaciona-
das com a Pesca, bem como no Gru-
po de Trabalho Conjunto FAO/Orga-
nização Internacional do Trabalho/
Organização Marítima Internacional
Ad Hoc sobre pesca IUU e assuntos
relacionados; e participação no Acor-
do para Promover o Cumprimento
das Medidas Internacionais de Con-
servação e Gestão por Embarcações
de Pesca em Alto Mar e avançar nas
ferramentas de intercâmbio de infor-
mações relacionadas.

Plenária de Encerramento
O Presidente Morishita enfatizou
que os membros do UNFSA, RFMOs
e seus membros, e todas as partes in-
teressadas são responsáveis pela con-
servação e gestão dos recursos e ecos-
sistemas vivos marinhos.

Sobre monitoramento, controle e vi-


gilância, conformidade e fiscalização,
as recomendações se concentram em:
fortalecimento da responsabilidade do
estado de bandeira e avaliação do de-
sempenho do estado de bandeira; em-
barcações de pesca sem nacionalidade;
participação no PSMA, promoção de
medidas do estado do porto e controle
das atividades de pesca predatória dos
nacionais; fortalecimento de esquemas
de conformidade, cooperação e fiscali-
zação em RFMOs e desenvolvimento de
mecanismos alternativos para confor-
midade e fiscalização; regulamentação
de embarcações de transbordo, abaste-
cimento e reabastecimento; fortalecer
os acordos de acesso à pesca e medidas Joji Morishita, Presidente da Conferência de Revisão, agradeceu a todos os delegados e participantes
por seu trabalho árduo e compromisso e suspendeu a Conferência de Revisão Retomada às 16h27
relacionadas ao mercado; participação

Para melhorar a gestão eficaz e fortalecer a operacionalização da Abordagem Ecossistêmica para a Pesca

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No encerramento de Conferência de Revisão Retomada do Acordo de Estoques de Peixes da ONU, à frente o Presidente Morishita

Ele lamentou o baixo nível de re-


presentação do Sul Global, destacan-
do que, apesar das dificuldades e li-
mitações relacionadas à participação,
“sabemos que a produção, utilização
e responsabilidade pela conservação
dos recursos genéticos marinhos está
agora, em muitos casos, nas mãos dos
países do Sul Global”.
O Presidente Morishita observou que
o relatório da reunião, contendo um
resumo das discussões e o documento
final em anexo, será disponibilizado
em algumas semanas no site da Divisão
das Nações Unidas para Assuntos Ma-
rítimos e Direito do Mar, com vistas a
permitindo que as delegações interes-
sadas apresentem correções técnicas. A
Conferência de Revisão Resumida tam-
bém atraiu sentimentos contraditórios
entre os participantes. Com a partici-
pação de mais de 100 delegados, repre-
sentando governos, RFMOs, agências
especializadas da ONU e organizações
não-governamentais.
Ele observou ainda que a conferência As marés estão mudando na agenda oceânica. Como observou
será retomada em um momento a ser um delegado, embora o pacote de reco-
determinado, não antes de 2028. Ele As “marés estão mudando” é o tema mendações possa não ser tão ambicio-
agradeceu a todos os delegados e parti- do Dia Mundial dos Oceanos de 2023, so quanto o desejado, “há uma onda de
cipantes por seu trabalho árduo e com- a ser comemorado em 8 de junho de novos acordos e arranjos oceânicos que
promisso e suspendeu a Conferência de 2023. Alguns disseram que é um indica- fornecerão as ferramentas necessárias
Revisão Retomada às 16h27. dor adequado das mudanças positivas para consertar o tecido oceânico!”

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Fitoplâncton costeiro em ascensão


Florescimentos de organismos semelhantes a plantas perto de
áreas costeiras tornaram-se mais frequentes no século XXI
Fotos: NASA Earth Observatory/Lauren Dauphin, usando dados de Dai, Yanhui, et al. (2023), Norman Kuring/MODIS da NASA EOSDIS LANCE e GIBS/Worldview

O
crescimento explosivo das
populações de fitoplânc-
ton pode produzir cores
vibrantes de azul, verde ou
vermelho , cobrindo milhares de quilô-
metros quadrados do oceano. Embora o
fitoplâncton desempenhe um papel cru-
cial na vida na Terra, às vezes eles po-
dem ameaçar os ecossistemas costeiros,
a pesca e a saúde humana ao liberar to-
xinas e causar esgotamento local do oxi-
gênio. Pesquisas recentes descobriram
que as flores se expandiram e se torna-
ram mais frequentes no século XXI.
Uma equipe internacional de cien-
tistas analisou 18 anos de imagens do
Moderate Resolution Imaging Spectro- Imagem do dia 30 de maio de 2023. As florações de fitoplâncton – que ocorreram ao longo das costas de 126
países – tornaram-se 60% mais frequentes durante o período de estudo e aumentaram de tamanho em 13%
radiometer (MODIS) no satélite Aqua
da NASA para desenvolver um banco de
dados global inédito de florações cos- um proxy para a mistura oceânica, es- que adiciona nutrientes às áreas costei-
teiras de fitoplâncton de 2003 a 2020. tava correlacionado com a frequência ras, também foram correlacionados com
O banco de dados documenta quando e de floração. O fitoplâncton prospera a proliferação costeira em alguns países,
onde as florações ocorreram. com os nutrientes trazidos da mistura embora essa relação não tenha sido clara
Depois de analisar 760.000 imagens de águas mais frias no fundo do ocea- em todas as áreas costeiras.
MODIS, a equipe de pesquisa descobriu no com águas mais quentes acima – um O fitoplâncton é fundamental para a
que as florações de fitoplâncton – que processo conhecido como ressurgência. biologia oceânica e para o clima, pelo que
ocorreram ao longo das costas de 126 Alguns dos maiores aumentos na fre- qualquer alteração na sua produtividade
países – tornaram-se 60% mais fre- quência de floração ocorreram nas pro- pode ter uma influência significativa na
quentes durante o período de estudo e ximidades de correntes de alta latitude, biodiversidade, nas pescas e no ritmo
aumentaram de tamanho em 13%. As como a corrente Oyashio no Mar do Ja- das alterações climáticas. Esta pesquisa
florações costeiras afetaram 31,5 mi- pão e a corrente no Golfo do Alasca. Mas é a primeira a fornecer um mapa global
lhões de quilômetros quadrados, o que algumas correntes, como a corrente da abrangente das tendências da prolifera-
representa 9% de toda a área oceânica. Califórnia no Oceano Pacífico, reduziram ção de fitoplâncton costeiro, possibilita-
O mapa acima mostra tendências na a ressurgência, o que levou a menos flo- da pelo sensoriamento remoto.
frequência de florações costeiras de fito- rações. O uso de fertilizantes e a expan- A equipe de pesquisa observou, no en-
plâncton durante o período de estudo. As são da produção de aquicultura costeira, tanto, que o método não diferencia entre
áreas vermelhas são onde as espécies de fitoplâncton que
flores começaram a aparecer são inofensivas e aquelas
com mais frequência. Essa que produzem toxinas ou são
tendência foi observada na prejudiciais aos ambientes
maior parte do Hemisfério marinhos. Mas o futuro lan-
Sul e nas altas latitudes do çamento da missão Plank-
Hemisfério Norte, de acor- ton, Aerosol, Cloud, ocean
do com Lian Feng, que lide- Ecosystem (PACE) da NASA
rou a pesquisa e é professor - que fará medições do ocea-
da Southern University of no do mundo em um espec-
Science and Technology em tro mais amplo de compri-
Shenzhen, China. A equipe mentos de onda - permitirá
descobriu que o gradiente aos pesquisadores separar
nas temperaturas da super- quais espécies de fitoplânc-
fície do mar, usado como ton estão presentes.
Imagem do Golfo do Alasca em 12 de abril de 2017

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Fitoplâncton costeiro em ascensão.indd 22 30/06/2023 16:25:37


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Fitoplânctons, servem como base da cadeia alimentar marinha e desempenha um papel fundamental no ciclo de carbono da Terra. As partí-
culas de poeira podem viajar milhares de quilômetros antes de cair no oceano, onde alimentam o fitoplâncton a longas distâncias da fonte de
poeira, disse a coautora do estudo Lorraine Remer, professora de pesquisa da Universidade de Maryland, no Condado de Baltimore. “Sabía-
mos que o transporte atmosférico de poeira do deserto é parte do que faz o oceano ‘clicar’, mas não sabíamos como encontrá-lo”, disse ela.

A poeira atmosférica tem


um grande impacto na
saúde dos oceanos globais
Como a poeira do deserto nutre o fitoplâncton: Nas últimas décadas, os
cientistas observaram eventos naturais de fertilização oceânica – episódios em
que nuvens de cinzas vulcânicas, farinha glacial, fuligem de incêndios florestais
e poeira do deserto sopram na superfície do mar e estimulam a proliferação
maciça de fitoplâncton. Mas além desses eventos extremos, há uma chuva
constante e de longa distância de partículas de poeira no oceano que promove
o crescimento do fitoplâncton quase o ano todo e em quase todas as bacias
por *Sally Younger/Equipe de Notícias de Ciências Fotos: Ciência, NASA Earth Observatory, NASA Earth Observatory por Wanmei
da Terra da NASA, com Michael Carlowicz. Liang, usando dados MODIS da NASA EOSDIS LANCE e GIBS/Worldview

P
ela primeira vez, os pes- A pesquisa destaca a importância da O oceano serve como um componente
quisadores demonstra- poeira como fonte de nutrientes essen- crítico no ciclo do carbono, pois o dióxi-
ram o impacto significati- ciais para o fitoplâncton, que serve como do de carbono da atmosfera se dissolve
vo da deposição de poeira base da cadeia alimentar marinha e de- nas águas superficiais, permitindo que o
nos ecossistemas oceâni- sempenha um papel fundamental no ci- fitoplâncton converta o carbono em ma-
cos globais e nos níveis atmosféricos clo de carbono da Terra. O fitoplâncton, téria orgânica por meio da fotossíntese.
de dióxido de carbono. Liderada pelo organismos semelhantes a plantas que Essa matéria orgânica recém-formada
cientista da Oregon State University, habitam as camadas superiores do ocea- então afunda no oceano profundo, onde
Toby Westberry, a equipe publicou no, dependem da poeira de fontes terres- é armazenada, por meio de um processo
suas descobertas na Science. tres para obter nutrientes essenciais. conhecido como bomba biológica.

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O estudo, que envolveu cientistas
do estado de Oregon, da Universida-
de de Maryland, do condado de Bal-
timore (UMBC) e do Goddard Space
Flight Center da NASA, estima que a
deposição de poeira suporta 4,5% do
sumidouro anual global de carbono.
Em determinadas regiões, essa contri-
buição pode chegar a 20% a 40%.
O papel da bomba biológica em
remover carbono da atmosfera e ar-
mazená-lo nas profundezas do ocea-
no é crucial para regular os níveis
de dióxido de carbono atmosférico,
que influenciam significativamente
o aquecimento global e as mudanças
climáticas. Até agora, a compreensão
da resposta dos ecossistemas mari-
nhos às entradas atmosféricas era
limitada a eventos singularmente Esta imagem de 8 de abril de 2011, pelo espectro radiômetro (MODIS) no satélite Terra da
grandes, como incêndios florestais, NASA , mostra a poeira do Saara sobre o Golfo da Biscaia. Uma floração de fitoplâncton
erupções vulcânicas e tempestades na baía faz com que a água pareça verde e azul brilhante. Os sedimentos provavelmente
contribuem para algumas das cores, especialmente em áreas mais próximas da costa
extremas de poeira.

Poeira da África em 18 de junho de 2020, satélite Suomi NPP da NASA-NOAA

Neste estudo, os pesquisadores examina-


ram a resposta do fitoplâncton às entradas
de poeira em escala global usando dados
de satélite para observar mudanças na cor
do oceano. As imagens coloridas do oceano
refletem a abundância e a saúde do fito-
plâncton, com águas mais verdes indican-
do populações saudáveis e abundantes e
águas mais azuis representando fitoplânc-
ton escasso e subnutrido. Os pesquisadores
da UMBC e da NASA se concentraram em
modelar o transporte e deposição de poeira
na superfície do oceano. Lorraine Remer,
professora pesquisadora do Goddard Earth
Sciences Technology and Research Center
II, liderado pela UMBC, explicou que deter-
minar a deposição de poeira no oceano é um
desafio devido à interferência de tempesta-
A poeira atmosférica desempenha um papel surpreendentemente des durante as observações de satélite.
crucial na estabilização dos ecossistemas oceânicos

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Nutrição atmosférica dos ecossistemas oceânicos globais

A equipe usou um modelo global con- Esse contraste é atribuído a diferentes A equipe de pesquisa planeja continuar
firmado da NASA para superar esse relações entre o fitoplâncton e seus pre- seu trabalho usando ferramentas de mo-
obstáculo. A pesquisa revelou que a dadores. Em ambientes estáveis de baixa delagem aprimoradas e dados avançados
resposta do fitoplâncton à deposição de latitude, o equilíbrio entre o crescimento de satélite da próxima missão de satélite
poeira varia de acordo com o local. do fitoplâncton e a predação é estreito, Plankton, Aerosol, Cloud, ocean Ecosys-
Em regiões oceânicas de baixa latitu- resultando em rápido consumo de nova tem (PACE) da NASA, incluindo dados
de, a entrada de poeira melhora predo- produção e transferência imediata para a coletados pelo instrumento HARP2
minantemente a saúde do fitoplâncton cadeia alimentar. Por outro lado, em re- projetado e construído pela UMBC.
sem afetar a abundância. giões de latitude mais alta com condições Westberry antecipa que a ligação entre
Em águas de latitudes mais altas, a de- em constante mudança, a ligação entre o a atmosfera e os oceanos mudará à me-
posição de poeira leva tanto à melhoria fitoplâncton e seus predadores é mais fra- dida que o planeta continuar a aquecer,
da saúde quanto ao aumento da abun- ca, permitindo que o crescimento do fito- enfatizando ainda mais a importância de
dância de fitoplâncton. plâncton estimulado pela poeira floresça. entender essas interações complexas.

Cientista da Oregon State University começa a desvendar o papel que a poeira desempenha na nutrição
dos ecossistemas oceânicos globais enquanto ajuda a regular os níveis de dióxido de carbono atmosférico

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Imagens de satélite
mostram que a proliferação
de algas costeiras aumentou
nas últimas duas décadas
Fotos: Lian Feng, Nasa, Nature

Florações de fito-
plâncton costeiro se
expandem e se inten-
sificam no século 21.
Pesquisadores usaram
imagens de satélite
para calcular a área
oceânica coberta por
proliferação de algas
a cada ano desde
2003. Eles revela-
ram que a área total
afetada pelo cresci-
mento do fitoplâncton
aumentou 13,2%.
Acredita-se que isso
seja o resultado do au-
mento da temperatura
da superfície do mar
e do escoamento de
fertilizantes e esgoto

U
ma equipe de cientistas da
Terra afiliados a várias insti-
tuições na China e nos EUA
descobriu que a proliferação
de algas costeiras (também conhecidas
como florações de fitoplâncton) tem au-
mentado nas últimas duas décadas.
Em seu estudo, publicado na Nature,
o grupo analisou dados de satélite for-
necidos a eles pela NASA para compa-
rar o tamanho e a frequência da proli-
feração de algas ao longo das costas dos
continentes do mundo.
Intensificação da proliferação de fitoplâncton nos oceanos costeiros.

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O rio Amazonas despeja uma pluma de sedimentos no Oceano Atlântico. O rio envia uma média de
273.361 jardas cúbicas de água para o oceano a cada segundo. É o maior cinturão de algas do planeta

A proliferação de algas é um acúmulo Pesquisas anteriores mostraram aumentou em tamanho e frequência du-
de algas em uma área compartilhada que a proliferação de algas pode rante as duas primeiras décadas deste sé-
no topo de uma fonte de água. As algas servir como fonte de alimento para culo, à medida que os oceanos do mundo
são plantas aquáticas que contêm clo- algumas criaturas marinhas, mas esquentaram, de acordo com uma análise
rofila, mas não possuem folhas, raízes, também pode causar problemas, de cerca de 760.000 imagens de satélite.
caules, tecido vascular ou flores. como transportar e dispersar ma- As florações de fitoplâncton são acumula-
Eles variam em tamanho, desde es- terial tóxico. Descobriu-se que es- ções de algas microscópicas que formam
pécies unicelulares até grandes cadeias sas toxinas se acumulam nas redes redemoinhos fluorescentes característicos
de algas marinhas. Eles podem ter co- oceânicas, às vezes levando ao esgo- na superfície dos oceanos, rios e lagos
res diferentes e podem habitar siste- tamento do oxigênio, o que pode le- que, quando grandes o suficiente, podem
mas de água doce ou salgada. var a zonas mortas oceânicas. Nesse ser vistos do espaço. Essas algas são um
A proliferação de algas cresce à novo esforço, a equipe de pesquisa nutriente essencial para os animais mari-
medida que sua fonte de alimento encontrou evidências de que a proli- nhos, de peixes a baleias, mas a prolifera-
cresce, particularmente nitrogênio e feração de algas está aumentando, o ção de florações tornou-se um grande pro-
fósforo, ambos fornecidos indireta- que sugere que o escoamento de fer- blema ambiental em todo o mundo, pois
mente por fontes humanas, como o tilizantes está aumentando. A proli- algum crescimento descontrolado produ-
escoamento de fertilizantes. feração de algas nas áreas costeiras ziu efeitos tóxicos ou prejudiciais.

a, A distribuição espacial da contagem


média anual de blooms com base nas de-
tecções diárias de satélites. b, Estatísticas
continentais e globais para contagem
média anual de floração (América do Sul
(SA), n = 3.846.125; África (AF), n=2.516.225;
Europa (UE), n =17.703.949; América do
Norte (NA), n=10.034.286; Ásia (AS),
n =5.371.158; Austrália (AU), n =2.781.998
observações de pixel). A linha central re-
presenta o valor mediano, os limites infe-
rior e superior das caixas são o primeiro e
terceiro quartis, e os bigodes mostram no
máximo 1,5 vezes o intervalo interquartil.
c, Estatísticas continentais para a média
anual de longo prazo das áreas afetadas
pela floração (n =18 anos). As porcenta-
gens mostram as contribuições corres-
pondentes ao total global. As barras re-
presentam sd Os círculos abertos são
as áreas afetadas durante os diferentes
Padrões globais de florescimento de fitoplâncton costeiro entre 2003 e 2020
anos. Mapa criado usando Python 3.8

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a, Padrões espaciais das tendências
na frequência de floração em uma es-
cala de grade de 1° × 1°. Os perfis latitu-
dinais mostram as frações de grades
com tendências significativas e insig-
nificantes (positivas ou negativas) ao
longo da direção leste-oeste. b, Va-
riabilidade interanual e tendências na
frequência mediana de floração anual
e área total global afetada pela flora-
ção. As inclinações lineares e o valor P
(teste t bilateral) são indicados. O som-
breamento associado aos dados de
frequência de bloom representa um ní-
vel de incerteza de 5% na detecção de
bloom. Mapa criado usando Python 3

Mais de 80% dos países costeiros do


Tendências de florações costeiras globais de fitoplâncton entre 2003 e 2020
mundo experimentaram proliferação
de algas entre 2003 e 2020, de acordo
com um estudo liderado por Lian Feng,
pesquisador da Southern University of
Science and Technology em Shenzhen,
China. A pesquisa, publicada sta Natu-
re, descobriu que as florações aumen-
taram 59,2% em frequência e 13,2% em
tamanho durante o período de 17 anos.
Essas mudanças têm uma correla-
ção significativa com o aquecimento
dos oceanos como resultado da mu-
dança climática provocada pelo ho-
mem, segundo o artigo.
Os oceanos têm uma alta capacidade
de captar calor e absorveram quase 40%
do dióxido de carbono que os humanos
emitiram pela queima de combustíveis
fósseis desde 1750.
Os cientistas analisaram imagens do
satélite Aqua da NASA e descobriram
que as maiores áreas de floração esta-
vam ao longo das áreas costeiras da Eu-
ropa, representando um terço da área
total impactada, e da América do Norte,
com 21,5% das águas afetadas.
As regiões do Hemisfério Sul, es-
pecialmente a África e a América do
Sul, experimentaram florações mais
frequentes. Embora a análise não te-
nha distinguido entre florações se-
guras e prejudiciais, as toxinas pro-
duzidas por algumas espécies de
algas podem levar a surtos veneno-
sos que no passado adoeceram ou
até mataram animais e humanos.
Em outros casos, a decomposição de
densas florações esgotou o oxigênio nas
águas abaixo, formando as chamadas
“zonas mortas” que podem resultar em
mortandade em massa de peixes.
O aumento da temperatura do mar aumentou a frequência de proliferação de algas nas últi-
mas duas décadas, pois as águas mais quentes aumentam a duração da estação de floração

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Efeitos das mudanças climáticas na proliferação de fitoplâncton

a, Padrões globais de tendências no gradiente de SST (a) e SST (b) de 2003 a 2020. c, Mudanças de longo prazo na frequên-
cia de bloom nas regiões marcadas em a e b, e sua relação com o SST e SST gradiente. A inclinação linear (S) da frequência de
bloom e o coeficiente de correlação (r) entre a frequência de bloom e o SST e o gradiente de SST (∇ SST) são mostrados. Os as-
teriscos indicam correlações estatisticamente significativas (P < 0,05). Mapas criados usando ArcMap 10.4 e Python 3.8

A pesquisa é a primeira tentativa de escala global e em alta resolução. É tam- elas carregam e os animais que se ali-
estabelecer um sistema para detectar bém um passo para entender como as mentam delas estão mudando à medida
e monitorar a proliferação de algas em correntes oceânicas, os nutrientes que que as águas esquentam.

Localizações de todos os registros HAEDAT que foram usados para validações de algoritmos deste estudo. Criado usando ArcMap 10.4*

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6 de maio de 2023 14 de maio de 2023

Imagens dos dias 6 e 14 de maio de 2023, com visualização em 24 de maio de 2023. Terra Água Neve e gelo, pelos Lan-
dsat 8 — OLI, Landsat 9 — OLI-2 , da Nasa

Turbulenta separação de primavera


O rápido degelo no Alasca causou inundações prejudiciais nos rios em maio de 2023.
O derretimento da neve acumulada no inverno e a quebra do gelo do rio causaram inunda-
ções prejudiciais ao longo de Yukon, Tanana, Kuskokwim e outros rios do Alasca durante
várias semanas em maio de 2023. O governador do Alasca declarou estado de emergência
em 13 de maio em resposta aos impactos generalizados nas margens do rio comunidades
Fotos: NASA Earth Observatory por Lauren Dauphin, usando dados Landsat
por *Lindsey Doermann
do US Geological Survey; NWS Alaska-Pacific River Forecast Center

E
ssas imagens revelam uma pai- Em vez disso, eles especularam que as Inundações nessa extensão podem
sagem rapidamente transfor- inundações na cidade poderiam ter sido ocorrer a cada 10 a 20 anos em alguns
mada ao longo do rio Yukon. A causadas por engarrafamentos menores, locais, disse ele, mas dados preliminares
imagem anterior (à esquerda), fluxo mais lento onde o rio se torna tran- indicam que a inundação em Circle foi
adquirida em 6 de maio de 2023, pelo çado perto de Circle e grandes quantida- próxima do nível recorde de 1945.
Operational Land Imager (OLI) no satéli- des de água e detritos liberados de engar- Temperaturas mais frias do que a
te Landsat 8 , mostra um trecho congela- rafamentos rio acima. média em abril, seguidas por um aque-
do do rio Yukon perto da cidade de Circle, cimento rápido e atrasado em maio,
no Alasca, cortando a neve paisagem. A carregam grande parte da culpa. Uma
outra imagem (à direita), obtida oito dias camada de neve de inverno acima da
depois pelo OLI-2 no Landsat 9 , mostra a média também contribuiu para a gra-
terra quase sem neve e o rio fluindo mais vidade das enchentes. As temperaturas
livre até aproximadamente 25 milhas (40 subiram enquanto grande parte da neve
quilômetros) rio abaixo (noroeste) de Cir- e do gelo estavam intactos, desenca-
cle, próximo ao topo da imagem. deando o que é conhecido como uma
Nesse ínterim, a cidade de Circle sofreu separação dinâmica. Nesse cenário, o
uma inundação dramática à medida que o gelo do rio se quebra em grandes pe-
gelo quebrado empurrava o rio. As inun- daços que têm maior probabilidade de
dações na cidade começaram por volta emperrar à medida que descem o rio.
das 17h de 13 de maio. “Foi relatado que As águas da enchente pareceram recuar O escoamento do derretimento da neve
a água subiu 3 metros em um período de tão rapidamente quanto subiram, de acordo adiciona mais água ao sistema, agra-
30 minutos logo depois disso”, disse o com relatos da mídia. Um piloto observou vando as inundações. Em contraste,
meteorologista Jim Brader, do escritório que a pista do aeroporto estava seca por volta um aquecimento mais gradual resulta
de previsão do Serviço Nacional de Me- das 10h da manhã seguinte, em 14 de maio. em uma ruptura térmica, na qual o gelo
teorologia (NWS) em Fairbanks. No entanto, prédios e infraestrutura da cida- apodrece lentamente no local e resiste à
Atolamentos de gelo - pedaços de gelo de sofreram danos significativos, com várias formação de congestionamentos.
quebrado que obstruem o fluxo de um casas sendo arrancadas de suas fundações. A O rompimento da primavera causou
rio - geralmente contribuem para inunda- fotografia acima, do NWS Alaska-Pacific Ri- mais inundações ao longo do rio Yukon
ções. A extensão em que esses congestio- ver Forecast Center , mostra uma vista aérea no final de maio, quando o gelo quebrado
namentos foram um fator nas inundações de Circle às 14h40 do dia 14 de maio. “Embo- do rio prosseguiu rio abaixo aos trancos e
em Circle é incerta. Os observadores do ra os congestionamentos de gelo aconteçam barrancos. O Serviço Nacional de Meteo-
NWS no campo não encontraram evidên- todos os anos, este ano foi muito pior do que rologia continuou a rastrear a localização
cias de uma única grande parada de gelo. a média”, disse Brader. de engarrafamentos e inundações.

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A Terra “está mais perto de
outra extinção em massa
do que pensávamos”
Quase metade das espécies do planeta está experimentando um rápido declínio
populacional. 33% dos animais ‘não ameaçados’ estão realmente enfrentando
declínios, dizem os biólogos. Apenas ‘minúsculos 3%’ das espécies estão se benefi-
ciando das condições ambientais atuais, de acordo com um estudo bombástico
Fotos: IUCN, IUCN/u/DarreToBe , CC BY-SA, Pincheira-Donoso, Queen’s University Belfast, Thierry Caro/Wikimedia Commons, Wikimedia Commons

A
Um grande número de criaturas que foram previamente rotuladas como ‘não ameaçadas’ (canto su-
perior direito) ou ‘quase ameaçadas’ (gráfico inferior) estavam sofrendo de declínios populacionais
destruição humana da vida
selvagem global está ocor-
rendo em um ritmo alar-
mante, de acordo com um
novo estudo publicado na Biological Re-
views recentemente. A defaunação, de-
finida como “o declínio em escala global
da biodiversidade animal” é uma conse-
quência perturbadora da vida humana
na Terra, postularam os autores do es-
tudo revisado por pares. A extinção tem
sido tradicionalmente rastreada pelas
categorias de conservação da Lista Ver-
melha da União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN).
Quase metade dos animais do planeta
está enfrentando quedas acentuadas na
população, que é quase o dobro das esti-
mativas anteriores, alertam os cientistas.
O biólogo evolutivo Daniel Pincheira-
-Donoso, principal autor do novo estu-
do, disse que achou os resultados de sua
própria pesquisa ‘muito alarmantes’.
A equipe analisou mais de 700.000
espécies, incluindo mamíferos, aves,
répteis, anfíbios, peixes e insetos, para
entender quais populações correm o
risco de desaparecer do nosso planeta e A gama de elefantes da floresta africana é desta-
quais têm chance de sobrevivência. cada em verde claro. A maior população sobre-
vivente está no Gabão, na costa da África central

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O estudo descobriu que a distribuição global de animais com populações decrescentes estava mais concentrada nos trópicos.
Os pesquisadores mapearam as populações ‘em declínio’, ‘estável’ e ‘crescente’ por grupo: mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes e insetos

Pincheira-Donoso disse que a investi- Embora as estimativas da IUCN te-


gação descobriu que 48% das espécies nham mostrado menos do que o novo
estão em declínio. O maior choque de- relatório encontrou a metodologia usa-
les? Um total de 33% das espécies an- da por Pincheira-Donoso e seus colegas
teriormente consideradas “não ameaça- também foi aprovada pela IUCN como
das” estão passando por sérios declínios. uma medida de risco de extinção.
Para efeito de comparação, a União E seus dados também vieram das ten-
Internacional para a Conservação da dências populacionais de espécies co-
Natureza classificou apenas cerca de letadas pela IUCN e seus parceiros de
28% das espécies conhecidas como grupos de conservação governamentais
atualmente ameaçadas de extinção. e civis internacionais para 2022.
Pincheira-Donoso, que atua como Mamíferos, pássaros e insetos foram
chefe do Laboratório de MacroBiodiver- os grupos que enfrentaram declínios
sidade da Queen’s University Belfast, e surpreendentes, com base na nova
sua equipe fizeram avaliações tradi- análise. Os anfíbios, há muito conhe-
cionais de risco de extinção da IUCN e O leopardo-das-neves (Panthera
(Panthera uncia)
uncia) cidos por serem excepcionalmente vul-
compararam esses números com dados está na Lista Vermelha da IUCN desde 1986. neráveis à disseminação globalizada de
A partir de 2016, os grandes felinos foram
mais amplos sobre o declínio das popu- classificados como ‘vulneráveis’ com uma produtos químicos industriais, doen-
lações de espécies conhecidas como ten- população global acima de 2.500, mas infe- ças e fungos, enfrentaram alguns dos
dências ao longo do tempo. rior a 10.000 espécimes adultos maduros, riscos mais terríveis em geral.
de acordo com o grupo de conservação

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As notícias foram surpreendente- O Galaxy Frog da Índia (Melanobatrachus indicus) foi colocado em risco pela
mente melhores para peixes e répteis, expansão da agricultura em seu habitat no sul do Ghats Ocidental. A Lista
Vermelha da IUCN atualmente lista este sapo como ameaçado de extinção
com mais espécies nesses grupos pa-
recendo ter números populacionais
estáveis. De forma alarmante, poucas
espécies pareciam estar realmente se
beneficiando dos motores gêmeos do
crescimento da população humana e
das mudanças climáticas, com apenas
um número muito pequeno de espé-
cies prosperando.
“Apenas três por cento deles estão
vendo suas populações aumentarem”,
disse Pincheira-Donoso. “Não é sur-
preendente, mas ainda é alarmante”.
As espécies mais atingidas tendem a
residir nos trópicos, de acordo com o
estudo, com a mudança climática cita-
da como um fator chave. “Os animais
nos trópicos são mais sensíveis a mu-
danças rápidas em suas temperaturas
ambientais”, disse Pincheira-Donoso.
Curiosamente, as aves dos trópicos
se saíram melhor do que as aves de
outros lugares, uma descoberta que
ele atribui à sua capacidade de mi-
grar, literalmente voando para longe
de seus problemas.

A distribuição global de animais com tendências populacionais desconhecidas. Cada grupo taxonômico é mapeado individualmente. Números
de espécies foram contados dentro de cada célula de grade de 1° × 1° cobrindo o globo, usando uma projeção de área igual de Behrmann

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Enquanto especialistas externos elo-
giaram o estudo por “combinar meti-
culosamente trajetórias populacionais”,
os autores foram rápidos em reconhecer
as lacunas nas informações disponíveis.
As populações de espécies desconhe-
cidas e sub-registradas foram estimadas
usando um cálculo de Deficiência de
Dados (DD) que considerou as médias
dos cenários de pior e melhor caso.
Aqui também as regiões tropicais eram
únicas. “Há uma tendência para as regiões
tropicais terem maior número de espé-
cies para as quais não existe informação
sobre as tendências populacionais’, disse
Pincheira-Donoso, ‘em comparação com Existem apenas 125 Kakapo noturnos e incapazes de voar (Strigops habroptilus) ou
os números nas regiões temperadas”. “As ‘Papagaios-coruja’ na Nova Zelândia, de acordo com a IUCN. Mas esses números são,
na verdade, uma melhoria resultante de esforços dedicados à conservação local
regiões tropicais tendem a ter um número
excepcional de espécies”, observou.
As extinções, de acordo com o estudo, para enfrentar essas condições - ou seja, de declínio podem ser múltiplas”, expli-
são o resultado de um declínio progres- quando os padrões da seleção natural cam os autores, “mas têm em comum
sivo da população que eventualmente mudam a taxas que excedem a capaci- uma alteração nas interações entre as
atinge um “ponto de inflexão” após o dade de uma espécie de responder ou se condições ambientais e os traços que as
qual não pode se recuperar.“As cir- adaptar a tais mudanças”. As extinções, espécies evoluíram para enfrentar essas
cunstâncias que desencadeiam o início de acordo com o estudo, são o resultado condições - ou seja, quando os padrões da
desses processos de declínio podem ser de um declínio progressivo da popula- seleção natural mudam a taxas que exce-
múltiplas”, explicam os autores, “mas ção que eventualmente atinge um “pon- dem a capacidade de uma espécie de res-
têm em comum uma alteração nas in- to de inflexão” após o qual não pode se ponder ou se adaptar a tais mudanças”.
terações entre as condições ambientais recuperar.“As circunstâncias que de- O rastreamento das mudanças popu-
e os traços que as espécies evoluíram sencadeiam o início desses processos lacionais pode, portanto, ser uma ferra-
menta indispensável para prever o futuro
de uma espécie e pode fornecer uma com-
preensão muito mais sutil da posição de
uma espécie do que uma categorização da
Lista Vermelha sozinha pode fornecer. O
rastreamento das mudanças populacio-
nais pode, portanto, ser uma ferramen-
ta indispensável para prever o futuro de
uma espécie e pode fornecer uma com-
preensão muito mais sutil da posição de
uma espécie do que uma categorização da
Lista Vermelha sozinha pode fornecer.
Enfocar e divulgar a taxa de declínio
da biodiversidade deve ser uma priori-
dade universal, concluiu o estudo. “Ago-
ra é um momento crítico para aumentar
os esforços em direção à conservação
A tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) é uma tartaruga preventiva – protegendo as espécies an-
marinha criticamente ameaçada pertencente à família Cheloniidae
tes que elas se tornem ameaçadas”.

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Coletando pedras na montanha Månesigden, em Heimefrontfjella, Queen Maud Land. A superfície polida da pedra mostra que ela foi coberta por
uma camada de gelo. Os pesquisadores analisaram a pedra em busca de isótopos cosmogênicos que podem dizer quanto tempo se passou desde
que a pedra foi coberta pelo gelo. Carl (Calle) Lundberg está fazendo anotações enquanto a estudante de doutorado Jenny Newall coleta amostras

O gelo na Antártica
já derreteu antes
Fotos: Ola Fredin, Nature, Norsk Polar Institute, NTNU

Os pesquisadores conseguiram encontrar uma maneira de desvendar


o mistério do rápido derretimento, estudando as rochas dos nunataks
na Queen Maud Land para exposição à radiação cósmica

S
essenta por cento da água doce A maior parte do derretimento/perda Os resultados mostram que esse setor
do mundo está concentrada nas de gelo na Antártica ocorre por meio do de manto de gelo variou muito ao lon-
camadas de gelo da Antártica. derretimento das plataformas de gelo e go do tempo. Esta informação é impor-
Trinta milhões de quilômetros desprendimento de gelo causado pelo tante à medida que os pesquisadores
cúbicos de gelo talvez seja um número oceano. Isso, por sua vez, leva a uma ace- tentam aprender mais sobre o clima do
difícil de entender. Mas se absolutamen- leração das correntes de gelo em terra e planeta e como ele está mudando.
te todo o gelo da Antártida derretesse, os a uma maior descarga de gelo no oceano, O grupo de Rogozhina estudou a ca-
mares subiriam 58 metros em média. onde se perde devido ao derretimento/ mada de gelo na Antártica Oriental e
“A camada de gelo na Antártica Orien- desprendimento, disse ela. Esta tam- um derretimento ocorrido há alguns
tal armazena enormes quantidades de bém foi provavelmente a causa da maior milhares de anos. Os resultados foram
água. Isso significa que esta é a maior perda de gelo durante os períodos mais publicados na Nature Communications
fonte possível de aumento futuro do quentes do passado. Na Groenlândia, es- Earth & Environment.
nível do mar – até 53 metros se todo o ses dois processos contribuem com cerca
gelo da Antártica Oriental derreter – e é de 65% de toda a perda de gelo. O gelo no Leste está na terra
vista como a maior fonte de incertezas Mas nem todo o gelo precisa derreter
no futuro planejamento de adaptação antes de ter grandes consequências. A camada de gelo na Antártida não é
do nível do mar”, diz Irina Rogozhina, Pesquisadores da NTNU estavam uniformemente distribuída ou uniforme.
professor associado do Departamento entre um grupo de cientistas que exa- No Oeste, grandes partes da camada de
de Geografia da Universidade Norue- minou o gelo em Queen Maud Land, gelo ficam abaixo do nível do mar, até
guesa de Ciência e Tecnologia (NTNU). na Antártica Oriental. uma profundidade de 2.500 metros.

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Área de estudo a) Antártica e o Oceano Antártico. O sombreamento antártico indica a elevação do manto de gelo e os contor-
nos do Oceano Antártico mostram a função do fluxo de transporte integrado verticalmente. As cores vermelhas (azuis) indicam
uma circulação ciclônica (anticiclônica), e o Giro de Weddell é destacado por uma seta branca. Os intervalos de contorno são 10
Sv (1 Sv = 1,0 × 106 m3 s−1). EAIS Manto de Gelo Antártico Leste, SR Shackleton Range, WS Mar de Weddell, WG Weddell Gyre. A
caixa preta marca o local mostrado em b. b) Visão geral de Dronning Maud Land e a localização da área de estudo de Gjelsvik-
fjella (caixa preta, c) dentro da bacia hidrográfica de Jutulstraumen (linha tracejada azul). Os círculos amarelos e a estrela verde
são locais onde as temperaturas da água do mar são extraídas do modelo de circulação geral atmosfera-oceano e a mudança
regional do nível do mar é calculada, respectivamente. A linha tracejada azul indica a área da bacia hidrográfica de Jutulstrau-
men usada para experimentos com modelos de placas de gelo. A seta vermelha mostra a direção aproximada do fluxo das Águas
Circumpolares Profundas (CDW) mais quentes. c) Visão geral de Gjelsvikfjella, incluindo Rabben, Grjotfjellet e Terningskarvet. As
setas indicam a direção do fluxo de gelo. Pequenas caixas brancas correspondem à Fig. 2a–c. Olhos azuis indicam localizações
aproximadas para as fotografias da Fig. 3. O mapa base é do pacote de dados Quantarctica GIS79 para QGIS. As velocidades do
gelo80 e os contornos da superfície do gelo (a cada 100 m) são sobrepostos na imagem Landsat da Antártica (LIMA)

Mapas topográficos detalhados de Grjotfjellet. As localizações das amostras e suas idades de exposição 10Be de Grjotfjel-
let (a), Rabben (b) e Terningskarvet (c) são mostradas junto com os pontos de referência de elevação correspondentes na
camada de gelo contemporânea. As cordilheiras bem definidas em Grjotfjellet são contornadas por linhas amarelas com al-
garismos romanos indicando os números da morena (I–IV). As idades de exposição 10Be de amostras erráticas coletadas das
cordilheiras da morena são rotuladas por seus números de moraina correspondentes. Linhas tracejadas azuis indicam locali-
zações passadas contemporâneas (negrito) e inferidas (finas) da margem do manto de gelo. Os contornos topográficos estão
em metros acima do nível do mar (m a.s.l.), com base no Modelo de Elevação de Referência da Antártica (REMA) de resolução
36deREVISTA
2 m eAMAZÔNIA
no Modelo Gravitacional da Terra 2008. A imagem de fundo é um mapa de imagem de relevo vermelho de índice
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de proteção morfométrica produzido a partir do mesmo DEM com áreas glacialícias sombreadas em azul semitransparente.
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“Embora esse tipo de resposta do
manto de gelo da Antártica Oriental ao
calor durante o Holoceno não seja com-
pletamente inesperado, ainda é difícil e
preocupante acreditar que o lento man-
to de gelo da Antártica Oriental possa
mudar tão rapidamente”, disse ela.
É difícil encontrar uma explicação
simples e fácil para esse comportamen-
to, ou determinar o momento exato em
que ocorreu o derretimento, até porque
as condições nesta parte do mundo às
vezes são bastante inóspitas. Mas os
pesquisadores encontraram uma ma-
neira de desvendar esse mistério.
Grande parte da camada de gelo da Antártica fica no leste e em terra acima do nível do
nível do mar, o que significa que é menos sensível à influência do oceano
A radiação cósmica
altera as rochas
Isso o torna muito vulnerável ao aque- Quando essas camadas de gelo der-
cimento dos oceanos. Em contraste, reteram, elevaram o nível do mar em O grupo de pesquisa examinou rochas
grande parte da camada de gelo no leste mais de 100 metros. de vários nunataks em Queen Maud
fica diretamente na terra, acima do ní- “A partir das evidências que apre- Land para exposição à radiação cósmi-
vel do mar, o que significa que é menos sentamos em nosso estudo, concluí- ca.
sensível à influência do oceano. mos que a camada de gelo da Antárti- “Nunataks são montanhas que se pro-
Este setor de manto de gelo na Antár- ca Oriental na Terra da Rainha Maud jetam através do gelo. Visitamos nu-
tica Oriental era mais fino no passado também derreteu rapidamente ao nataks e coletamos amostras”, diz Ola
do que é agora, e também não muito longo de suas margens entre 9.000 e Fredin, professor do Departamento de
tempo atrás. Na verdade, ficou mais fino 5.000 anos atrás, em um período que Geociências e Petróleo da NTNU.
após o fim da última era glacial, quan- chamamos de Holoceno médio. Nesta Os pesquisadores examinam diferen-
do enormes mantos de gelo cobriam a época, muitas partes do mundo experi- tes isótopos, ou variantes, de elementos
América do Norte, o norte da Europa e mentaram verões mais quentes do que como cloro, alumínio, berílio e néon nas
o sul da América do Sul. os atuais”, disse Rogozhina. rochas dos nunataks.

Fotografias de Grjotfjellet, Terningskarvet e Rabben. As localizações aproximadas dos locais de amostra são mostradas
por círculos amarelos junto com as idades de exposição 10Be. a Visão geral de Grjotfjellet, com Terningskarvet ao fundo. As
idades de exposição 10Be de amostras erráticas coletadas de três cordilheiras de morenas são rotuladas por seus números
de morainas correspondentes. b Locais de amostragem em Grjotfjellet imediatamente adjacentes à superfície da camada
de gelo contemporânea. Linhas tracejadas amarelas em a, b delineiam cordilheiras bem definidas em Grjotfjellet, com al-
garismos romanos indicando números de morena que correspondem àqueles em c Visão geral de Rabben. A elevação da
superfície do manto de gelo no lado oeste de Rabben (onde a fotografia foi tirada) é de aproximadamente 150–200 m mais
baixa do que no lado oposto. d Os 2690 m a.s.l. cume de Terningskarvet..

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Imagem esquemática de um afinamento do EAIS em DML. a O EAIS avançou devido à queda do nível do mar durante
o LGM19. b O aquecimento do CDW iniciou o recuo da plataforma de gelo, conforme observado no setor do Mar de We-
ddell20. c O mar alto regional desencadeou o derretimento basal e o rompimento das plataformas de gelo, facilitado
pelo influxo de CDW mais quente, que atingiu um pico de 9–8 ka e continuou até ~5 ka, resultando no recuo da linha
de aterramento e no afinamento da camada de gelo. d A queda do nível do mar devido ao GIA do continente antártico
estabilizou as plataformas de gelo e/ou pode ter causado um novo avanço do EAIS, apoiado por fixação em elevações
de gelo e sulcos de gelo ao longo da margem DML

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Com a ajuda de isótopos cosmogêni-
cos, eles podem descobrir a altura do gelo
ao longo do tempo geológico em Queen
Maud Land. Fredin compara isso a usar
uma vareta para medir o nível de óleo do
motor em seu carro. Desta forma, os pes-
quisadores podem dizer algo sobre quanto
tempo as rochas foram expostas à radia-
ção cósmica. Eles também podem dizer
algo sobre quanto tempo se passou desde
que as rochas estiveram sob uma camada
protetora de gelo e, portanto, não absorve-
ram nenhuma radiação cósmica. Para isso,
utilizam dados de diversas áreas e fazem
diversas simulações computacionais.

O aumento do mar e a água O gelo na Queen Maud Land é espesso ao longo da costa

mais quente quebraram o gelo


Isso leva à quebra de grandes icebergs sua vez, levou a que a camada de gelo se
Os pesquisadores também acreditam e acelera o movimento do gelo da terra tornasse muito mais fina em um perío-
que estão no caminho para encontrar para o oceano, o que, por sua vez, afina a do relativamente curto. tempo, geologi-
uma razão pela qual o setor de manto seção interna da camada de gelo. O pro- camente falando, ou algumas centenas
de gelo na Antártica Oriental diminuiu cesso é semelhante a quando uma casa a milhares de anos.
tanto imediatamente após o fim da úl- em uma encosta perde sua fundação de
tima era glacial. “Acreditamos que a suporte e começa a deslizar para baixo”, O gelo espesso é o mais
camada de gelo se tornou menos está- disse Rogozhina. Em suma, as partes comum ao longo da costa
vel devido aos níveis regionais do mar menos estáveis e que fluem rapida-
mais altos e à água mais quente subindo mente da camada de gelo na Antártica A radiação cósmica também pode aju-
das profundezas do oceano nas regiões Oriental, chamadas de plataformas de dar os pesquisadores a descobrir o quão
polares, penetrando sob as margens do gelo e flutuam no oceano, foram que- comum é o gelo cobrir uma área. Os pes-
gelo e derretendo-as por baixo. bradas com mais facilidade, o que, por quisadores também investigaram isso.
Os resultados mostram que é mais co-
As massas de terra ao longo da costa de Queen Maud Land foram cober- mum que o gelo em Queen Maud Land
tas por gelo entre 75 e 97% do tempo durante o último milhão de anos seja espesso ao longo da costa. Mas
não mais no continente, onde os picos
das montanhas se projetam através do
gelo e a terra pode ter vários milhares
de metros de altura. “Descobrimos que
as massas de terra ao longo da costa de
Queen Maud Land foram cobertas por
gelo entre 75 e 97% do tempo durante
o último milhão de anos”, disse Fredin.
Ele fez parte de outro estudo, que tam-
bém teve seus resultados publicados na
Nature Communications Earth & Envi-
ronment. Este grupo examinou rochas de
várias áreas diferentes em Queen Maud
Land e encontrou grandes variações.
“Em contraste com as áreas ao longo
da costa, que estiveram cobertas de gelo
na maior parte do tempo, descobrimos
que os cumes das montanhas mais dis-
tantes do continente estiveram cobertos
de gelo apenas 20% do tempo”, disse
Fredin. A espessura do manto de gelo
e a velocidade de movimento, portanto,
variam muito em períodos mais longos,
e a cordilheira mais adentro do conti-
nente parece ser uma divisão importan-
te entre a costa dinâmica e o manto de
gelo mais próximo ao Pólo Sul, que va-
ria muito menos em espessura.

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O aquecimento global
nas regiões polares
Os polos norte e sul experimentaram ondas de calor sem precedentes em
2022 – as temperaturas chegaram a 40 graus Celsius acima da média sazonal
regional. Enormes extensões de florestas boreais foram destruídas por in-
cêndios florestais no Círculo Polar Ártico. Por outro lado, o Permafrost está
derretendo, invertendo o papel do solo congelado do Ártico como um impor-
tante sumidouro de carbono. As pessoas que vivem no Ártico estão liderando
o caminho de como todos devemos nos adaptar às mudanças climáticas.

por *Simon Torkington Fotos: Concordia Station/ Lagrange Laboratory, Copérnico, NASA Earth Observatory, NOAA, Unsplash/mlenny

P
inguins, ursos polares e frio
moribundo são o que a maio-
ria de nós associa às regiões
polares da Terra.
Mas o aquecimento global está mu-
dando essas áreas há muito congeladas
no topo e na base do planeta. Agora
podemos adicionar incêndios florestais
subterrâneos, ondas de calor e derreti-
mento do permafrost ao nosso conheci-
mento dos efeitos do clima nesses am- Aquecimento global: os polos norte e sul experimen-
taram ondas de calor sem precedentes em 2022
bientes desolados e frágeis.

3 tecnologias inteligentes que protegem os ursos De muitas maneiras, as regiões po-


polares. Assista o Video em www.bit.ly/3Np2pDX lares são o canário na mina de carvão
quando se trata de mudança climática.
Os polos Norte e Sul se tornaram nos-
so sistema de alerta precoce, prevendo
como os humanos no resto do mundo
podem ter que se adaptar à medida que
o planeta esquenta. Aqui estão 3 fatos
surpreendentes sobre a mudança cli-
mática nas regiões polares - e como os
povos indígenas estão liderando o cami-
nho da adaptação climática.

Ondas de calor no Ártico


e na Antártida
O ano de 2022 registrou altas tem-
peraturas recordes no Ártico e na An-
tártida. Em 18 de março , cientistas da
estação Concordia, na Antártica, regis-
traram uma temperatura de -11,8°C . À
primeira vista, isso não parece particu-
larmente quente, mas é surpreendente
quando você percebe que está 40 graus
mais alto do que a norma sazonal.

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A onda de calor antártica de 2022
seguiu um evento semelhante em 2021,
levando os cientistas a sugerir que hou-
ve um aumento na intensidade dos epi-
sódios climáticos extremos na região.
Ao mesmo tempo, as estações meteo-
rológicas próximas ao Pólo Norte regis-
traram temperaturas 30 graus acima do
normal para a época do ano, de acordo
com relatórios do The Guardian.

Incêndios Zumbis
Com o aumento das temperaturas nas
regiões polares, o risco de incêndios flo-
restais no Círculo Polar Ártico está cres-
cendo. A Reuters relata que, em 2021,
A Antártida experimentou altas temperaturas recordes em março de 2022
os incêndios florestais que eclodiram na
Sibéria queimaram 168.000 quilômetros
quadrados de floresta boreal.

Incêndio perto de Zyryanka, República de Sakha, perto do Círculo Polar Ártico, Rússia

Os incêndios florestais no Ártico li- forma de fogo no Ártico é mais difícil de carbono tanto da vegetação quanto
beraram cerca de 16 milhões de tone- detectar. Os chamados incêndios zum- da turfa, que é um depósito natural
ladas de carbono em 2021, de acordo bis podem arder na turfa sob a superfí- de dióxido de carbono. Um relatório
com um relatório do Copernicus Cli- cie gelada do Ártico, durante os meses de cientistas do clima concluiu que o
mate Change Service. de inverno. Quando chega a primave- aumento no número desses incêndios
Enquanto a maioria dos incêndios ra, os incêndios reacendem a vegeta- florestais durante o inverno está dire-
florestais ocorre a céu aberto, outra ção da superfície, emitindo dióxido de tamente ligado à mudança climática.

As emissões de carbono dos incêndios florestais no Ártico aumentaram nos últimos anos

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Comunidade na Groenlândia

Adaptação às mudanças
climáticas polares
A Antártica é um dos lugares mais iso-
lados e inóspitos do planeta. Talvez não
seja surpresa, então, que não haja assen-
tamentos humanos permanentes no con-
tinente. Do outro lado do mundo, o Ártico
abriga quatro milhões de pessoas, muitas
delas de comunidades indígenas.
O Conselho do Ártico diz que o povo do
Ártico já está sentindo os efeitos das mu-
danças climáticas e acredita que o mundo
O aquecimento do Ártico continua a superar a média global
em geral terá muito a aprender com o povo
do Ártico à medida que se adapta às
Sumidouros de A equipe de pesquisa concluiu que: mudanças climáticas. O Conselho diz:
carbono esgotados “1,7 bilhão de toneladas métricas de “Entender como a mudança climática
carbono foram perdidas nas regiões de afetará o sistema climático e os ecos-
As regiões polares estão aquecendo permafrost do Ártico durante cada in- sistemas do Ártico é fundamental para
muito mais rápido do que a média glo- verno de 2003 a 2017. No mesmo perío- adaptar os meios de subsistência e in-
bal. No Ártico, 2022 foi o 6º ano mais do, uma média de 1 bilhão de toneladas formar a tomada de decisões nos níveis
quente nos registros que datam de métricas de carbono foram absorvidas regional, nacional e internacional”. As
1900. Essa taxa de aquecimento conti- pela vegetação durante as estações de opiniões expressas neste artigo são de
nua uma tendência ascendente que vem crescimento do verão . Isso muda a re- responsabilidade exclusiva do autor e
ocorrendo há décadas. gião de um ‘sumidouro’ líquido de dió- não do Fórum Econômico Mundial.
Uma das consequências do aqueci- xido de carbono - onde é capturado da
mento do Ártico é que o permafrost – atmosfera e armazenado - em uma fonte [*] Escritor Sênior, Agenda do Fórum WEF
solo congelado por milênios – está co- líquida de emissões”.
meçando a derreter. O derretimento do
permafrost é um duplo negativo para o Grande parte do
Círculo Polar Ár-
clima. Em primeiro lugar, o permafrost tico é coberta por
é um dos maiores sumidouros de car- permafrost, que
bono do planeta. Os cientistas estimam está descongelan-
do à medida que
que ele armazena cinco vezes mais car- as temperaturas
bono do que já foi liberado por huma- aumentam
nos queimando combustíveis fósseis.
Em segundo lugar, os cientistas do
Observatório da Terra da NASA fizeram
parceria em um estudo que descobriu
que o permafrost do Ártico está passan-
do de um importante sumidouro de car-
bono para um grande emissor de CO2 .
Eles descrevem a transição como;
“uma reversão total para uma região
que capturou e armazenou carbono por
dezenas de milhares de anos”.

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O Norte Global deve US$ 170 trilhões
por emissões excessivas de CO2
Compensação por apropriação atmosférica. As nações industrializadas responsáveis por níveis
excessivos de emissões de CO2 podem ser responsabilizadas por US$ 170 trilhões em compensação
até 2050 para garantir que as metas de mudança climática sejam cumpridas, dizem os pesquisadores

Fotos: Dr. Andrew Fanning, Nature Sustainability, Universidade de Leeds

O
dinheiro, que equivale a qua-
se US$ 6 trilhões por ano
ou cerca de 7% do Produto
Interno Bruto (PIB) anual
global, seria distribuído como compen-
sação a países de baixa emissão que de-
vem descarbonizar suas economias muito
mais rapidamente do que seria necessá-
rio. A compensação financeira pelas per-
das e danos que os países vulneráveis ao
clima enfrentam devido às emissões ex-
cessivas de CO2 de outros é vista como
uma parte cada vez mais importante
das negociações internacionais sobre
mudanças climáticas. Os delegados nas
Níveis excessivos de emissões de CO2
negociações da COP27 no Egito no ano
passado concordaram em estabelecer um
Fundo de Perdas e Danos para os países um grande estudo sobre como um esque- interativo que permite às pessoas explo-
afetados pela mudança climática. Pes- ma de compensação baseado em evidên- rar quais países podem ter direito a rece-
quisadores - liderados por um acadêmico cias poderia funcionar em quase 170 paí- ber compensação e quanto, e quais países
da Universidade de Leeds - publicaram ses. Eles também desenvolveram um site podem ser obrigados a pagar.

Emissões cumulativas mundiais e regionais de CO2 com relação a parcelas justas dos orçamentos
globais de carbono, tendências históricas (1960–2019) e tendências de cenários (2020–2050)

a, mundo. b, região Sul Global. c, região Norte Global. As emissões históricas (área preta), trajetória projetada de negócios
como sempre (linha tracejada) e trajetória líquida zero (linha azul) mostram emissões cumulativas relativas a parcelas jus-
tas do orçamento de carbono de 1,5 °C (linha amarela), com parcelas justas de 350 ppm (linha verde) e orçamentos de 2 °C
(linha vermelha) também mostrados. Os totais mundiais e regionais são agregados a partir de valores nacionais. Intervalos
de previsão prováveis (66%) são mostrados em tons mais claros em torno das projeções de negócios como sempre.

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É o primeiro esquema em que os países
historicamente responsáveis por emissões
excessivas de CO2 são obrigados a finan-
ciar a compensação. O estudo foi liderado
pelo Dr. Andrew Fanning, Pesquisador
Visitante no Instituto de Pesquisa em Sus-
tentabilidade da Universidade de Leeds, e
Líder de Pesquisa e Análise de Dados no
Donut Economics Action Lab em Oxford.
Ele disse: “Para que o mundo evite os
piores impactos das mudanças climáti-
cas, todos os países devem parar urgen-
temente de queimar combustíveis fósseis
e outras atividades que emitem gases de
efeito estufa na atmosfera. Mas nem todos
os países contribuíram igualmente para
este problema. “É uma questão de justi- Emissões cumulativas de CO2 ultrapassam e diminuem por
grupo de países com relação a parcelas justas de 1,5 °C
ça climática que, se estamos pedindo às
nações que descarbonizem rapidamente
suas economias, mesmo que não tenham a, período histórico de 1960-2019. b, Projeção mediana de negócios como
responsabilidade pelo excesso de emis- sempre em 2050. c , Cenário líquido zero em 2050
sões que estão desestabilizando o clima,
elas devem ser compensadas por esse far-
do injusto”. O estudo Compensação por Os EUA poderiam pagar US$ 80 tri- Para definir um valor monetário para
apropriação atmosférica está publicado lhões durante o período ou um paga- as perdas sofridas pelos países com bai-
na Nature Sustainability. mento per capita anual de mais de US$ xas emissões de carbono, os pesquisado-
7.200 até 2050. A Índia historicamente res primeiro obtiveram os ‘orçamentos
Níveis de compensação tem sido um baixo emissor de carbono e de carbono’ globais remanescentes mais
pode ter direito a receber uma compen- recentes estimados pelo Painel Intergo-
De acordo com o estudo, o Reino Uni- sação de US$ 57 trilhões, ou quase US$ vernamental sobre Mudanças Climáticas
do poderia pagar US$ 7,7 trilhões por 1.200 per capita a cada ano até 2050. (IPCC). Um orçamento de carbono repre-
emissões excessivas de CO2 no período O sistema de compensação é baseado senta quanto carbono poderia ser libera-
até 2050 – o que equivale a um paga- na ideia de que a atmosfera é um bem do na atmosfera para atingir uma deter-
mento anual de quase US$ 3.500 per comum, um recurso natural para todos minada meta climática, como manter o
capita a cada ano até 2050. usarem de forma equitativa e sustentável. aquecimento global em 1,5 grau Celsius.

Os cinco maiores responsáveis por emissões excessivas – e quanto terão de pagar de compensação até 2050.
A tabela também mostra os cinco principais países que produziram baixas emissões e receberão indenizações

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a, Compensação média anual per capi-
ta devida aos países dentro de suas cotas
justas (N = 101). b, Compensação média
anual per capita devida pelos países su-
peremissores (N =67). A compensação é
expressa em preços constantes de 2010.
Os círculos dos países são dimensiona-
dos de acordo com a população. Dois paí-
ses (Hong Kong SAR (China) e Luxembur-
go) estão além da área do gráfico

Colonização atmosférica
O professor Jason Hickel, do Instituto
Emissões cumulativas mundiais e regionais de CO2 com relação a parcelas justas dos orçamentos de Ciência e Tecnologia Ambiental da
globais de carbono, tendências históricas (1960–2019) e tendências de cenários (2020–2050)
Universidade Autônoma de Barcelona
(ICTA-UAB) e coautor do estudo, disse:
“As mudanças climáticas refletem pa-
A partir de 1960, esse orçamento de Sob o esquema, esse dinheiro seria drões claros de colonização atmosférica.
carbono é equivalente a 1,8 trilhão de to- dividido entre os países com baixas “Movimentos sociais e negociadores
neladas de CO2. Os pesquisadores então emissões de carbono com base enquan- do Sul global há muito argumentam
calcularam uma ‘parte justa’ com base na to de sua alocação justa eles perderiam. que os países que produziram emissões
igualdade desse orçamento total de carbo- O Dr. Fanning disse: “Descobrimos excessivas devem compensações ou re-
no para 168 países, com base no tamanho que 55 países sacrificariam mais de parações por danos relacionados ao cli-
da população. Eles compararam a aloca- 75% de suas parcelas justas, incluindo ma, que recaem desproporcionalmente
ção justa de cada país com a quantidade a maior parte da África subsaariana e sobre os países mais pobres que contri-
de CO2 que o país liberou historicamente da Índia. Nossos resultados mostram buíram pouco ou nada para a crise.
desde 1960, juntamente com um cenário que esse grupo de países com baixas “Nosso estudo se concentra apenas na
ambicioso em que descarboniza dos níveis emissões teria direito a receber uma compensação devida pela apropriação
atuais para ‘líquido zero’ até 2050. compensação média de US$ 1.160 per atmosférica, e isso deve ser considerado
Alguns países estavam dentro de sua capita por ano, em um mundo que adicional a questões mais amplas sobre
alocação de parcela justa, enquanto ou- mantém o aquecimento global abaixo custos de transição, adaptação e danos.
tros, principalmente as nações industria- de 1,5 grau. “Enquanto isso, os países “Também devemos prestar atenção às
lizadas do Norte global, já ultrapassaram que teriam menos de suas partes jus- grandes desigualdades de classe dentro
significativamente sua alocação - na ver- tas apropriadas também teriam direito das nações. A responsabilidade pelo ex-
dade, apropriando-se de parcelas justas a menos compensação. Encontramos cesso de emissões é em grande parte das
de outros países dos bens atmosféricos 13 países que sacrificariam menos de classes ricas que têm um consumo mui-
comuns. Por exemplo, o Reino Unido 25% de suas parcelas justas em nos- to alto e que exercem um poder despro-
usou 2,5 vezes sua parte justa - e os EUA so cenário líquido zero, incluindo a porcional sobre a produção e a política
usaram mais de quatro vezes sua parte China, que teria direito a receber US$ nacional. São eles que devem arcar com
justa. A Índia, por outro lado, usou pouco 280 per capita por ano, em média”. os custos da indenização”.
menos de um quarto de sua parte justa.
Os países que produziram emissões excessivas devem compensações ou re-
Precificando as perdas enfrentadas parações por danos relacionados ao clima, que recaem desproporcionalmente
sobre os países mais pobres que contribuíram pouco ou nada para a crise
pelos países de baixa emissão
Usando os preços do carbono dos
últimos cenários do IPCC, os pesqui-
sadores conseguiram colocar um valor
monetário nas emissões em excesso de
cada país em um mundo que respeita a
meta climática de 1,5c. Esse valor total
foi de US$ 192 trilhões (dentro de uma
faixa entre US$ 141 trilhões e US$ 298
trilhões), com o Norte global responsá-
vel por 89%, ou US$ 170 trilhões, e o
restante de países com altas emissões
no Sul global, especialmente os produ-
tores de petróleo estados, como Arábia
Saudita e Emirados Árabes Unidos.

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Imagens de antes e depois que mostram
como estamos transformando o planeta
À medida que a população da Terra se aproxima de 8 bilhões, a Nasa, através do Landsat 9 amplia nossa
capacidade de detectar e caracterizar mudanças na superfície terrestre, e o faz em uma escala para que
os pesquisadores possam diferenciar entre mudanças naturais e induzidas pelo homem. A cobertura e o
uso da terra estão mudando globalmente a taxas sem precedentes na história da humanidade

E
ssas mudanças trazem pro-
fundas consequências para o
clima, ecossistemas, gestão
de recursos, economia, ar-
mazenamento e emissões de carbono,
saúde humana e outros aspectos da so-
ciedade. Os conjuntos de dados Landsat
são uma ferramenta crítica no monito-
ramento e gerenciamento de recursos
essenciais em um mundo em mudança.
Os seres humanos substituíram a natu-
reza como a força dominante que molda
a Terra. Desmatamos florestas, represa-
mos rios caudalosos, pavimentamos vas- Landsat 9 da Nasa em operação
tas estradas e transportamos milhares de
espécies ao redor do mundo. “Em gran-
de parte”, escreveram dois cientistas em
2015 , “o futuro do único lugar onde se
sabe que existe vida está sendo determi-
nado pelas ações dos humanos”.
Então, o que isso parece? Nas úl-
timas décadas, a NASA tem acom-
panhado via satélite as principais mesma floresta tropical, geleira ou incluindo urbanização, riscos naturais,
transformações que realizamos. Em cidade com anos ou décadas de dife- eventos climáticos e os efeitos do aque-
sua série “Imagens da Mudança” , a rença. As imagens a seguir apresen- cimento global. As diferenças costumam
agência publicou várias imagens de an- tam exemplos de mudanças globais ser de tirar o fôlego. Aqui mostramos al-
tes e depois mostrando exatamente a observadas pelos satélites da NASA, gumas das mudanças mais reveladoras:

O rio Paraguai-Paraná antes e


depois da construção da barra-
gem de Yacyretá em 1985, que
deslocou 15.000 moradores. Foto:
Departamento do Interior dos
EUA / US Geological Survey.

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As florestas tropicais são
engolidas por fazendas no
Brasil. Imagens de satélite de
Rondônia, no oeste do Brasil,
tiradas em 1975 (esquerda) e
2009 (direita). Foto: Nasa

Cancún se expande a um ritmo


impressionante. Cancún, México,
visto em 1979 e 2009. Foto: Nasa

Dubai constrói uma


cadeia de ilhas artificiais.
Dubai, Emirados Árabes
Unidos, visto em 2001 e
2011. Foto: USGS e Nasa

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O boom das areias


betuminosas em Al-
berta, Canadá. Minas
a céu aberto perto
de Fort McMurray,
em Alberta, Canadá,
visto em 2000 e
2007. Foto: Nasa

Paisagem da Ucrânia se recu-


pera após Chernobyl. Usina
Nuclear de Chernobyl, vista
em 1986 e 2011. Foto: Nasa

Os esforços para domar o


rio Colorado encontram um
obstáculo. Lake Powell, visto
em 25 de março de 1999 e 13
de maio de 2014. Foto: Nasa

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O Mar de Aral, outrora maciço, quase desaparece. O Mar de Aral, visto em 2000 e 2014. Foto: Nasa

A Geleira Columbia, no
Alasca, recua rapidamen-
te. Columbia Glacier, no
Alasca, vista em 28 de
julho de 1986 e 2 de julho
de 2014. Foto: Nasa

O Mar de Aral, outrora maciço,


quase desaparece. O Mar de Aral,
visto em 2000 e 2014. Foto: Nasa

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As primeiras flores do mundo


foram polinizadas por insetos
As plantas existiram na Terra por centenas de milhões de anos antes que as
primeiras flores desabrochassem. Mas quando as plantas com flores evoluíram,
há mais de 140 milhões de anos, elas foram um enorme sucesso evolutivo

O
que polinizou essas primei- Fotos: Esa Journals, Ruby E Stephens et al., Santiago Ramirez Barahona
ras plantas com flores, o
ancestral de todas as flores
que vemos hoje? Seriam
insetos carregando pólen entre aque-
las primeiras flores, fertilizando-as no
processo? Ou talvez outros animais, ou
mesmo vento ou água?
A pergunta tem sido complicada de
responder. No entanto, em uma nova
pesquisa publicada no New Phytologist,
mostramos que os primeiros poliniza-
dores eram provavelmente insetos.
Além do mais, apesar de alguns des-
vios evolutivos, cerca de 86% de todas
as espécies de plantas com flores ao lon-
go da história também dependeram de
insetos para polinização.

Como mover o pólen De fato, pesquisas recentes sobre in-


setos fósseis mostram que alguns inse-
O momento da evolução das primei- tos podem ter polinizado plantas antes
ras plantas com flores ainda é uma mesmo de as primeiras flores evoluírem.
questão de debate. No entanto, seu A maioria das plantas com flores de
sucesso é indiscutível. hoje depende de insetos para polini-
Cerca de 90% das plantas modernas zação. As flores da planta evoluíram
– cerca de 300.000 a 400.000 espé- para atrair insetos por meio de cor,
cies – são plantas com flores, ou o que cheiro e até mimetismo sexual, e a
os cientistas chamam de angiospermas. maioria os recompensa com néctar,
Para se reproduzir, essas plantas produ- pólen, óleos ou outros tipos de ali-
zem pólen em suas flores, que precisa ser mentos, tornando a relação benéfica
transferido para outra flor para fertilizar para ambas as partes.
um óvulo e produzir uma semente viável. Algumas flores, no entanto, depen-
Pequenos e altamente móveis, os Insetos fósseis mostram que alguns inse- dem de outros meios para transportar
insetos podem ser transportadores de tos podem ter polinizado plantas antes seu pólen, como animais vertebrados
mesmo de as primeiras flores evoluírem
pólen altamente eficazes. , vento ou mesmo água.

As flores desenvolveram todo tipo de forma e cor para serem polinizadas

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Cerca de 90% das plantas modernas – cerca de 300.000 a 400.000 espécies – são plantas com flores, ou o que os cientistas chamam de angiospermas

Que tipo de polinização evoluiu primeiro? Descobrimos que a polinização por insetos tem
Os insetos estavam lá no começo ou foram sido o método mais comum ao longo da histó-
uma “descoberta” posterior? ria das plantas com flores, ocorrendo cerca
Embora as primeiras evidências sugi- de 86% do tempo. E nossos modelos su-
ram que provavelmente foram insetos, gerem que as primeiras flores provavel-
até agora isso nunca foi testado em mente foram polinizadas por insetos.
toda a diversidade de plantas com flo-
res - sua árvore evolutiva completa. Aves, morcegos e vento
Uma árvore genealógica Também aprendemos sobre a evolu-
ção de outras formas de polinização. A
Para encontrar uma resposta, polinização por animais vertebrados,
usamos uma “ árvore genealógi- como pássaros e morcegos, pequenos
ca “ de todas as famílias de plan- mamíferos e até lagartos , evoluiu pelo
tas com flores, amostrando mais de menos 39 vezes – e voltou à polinização
1.160 espécies e remontando a mais por insetos pelo menos 26 vezes. A poliniza-
de 145 milhões de anos.Esta árvore ção pelo vento evoluiu ainda mais frequente-
nos mostra quando diferentes famílias mente: encontramos 42 instâncias. Essas plantas
de plantas evoluíram. Nós o usamos para raramente voltam à polinização de insetos.
mapear o que poliniza uma planta no presen-
te para o que pode ter polinizado o ancestral A árvore evolutiva para todas as famílias de plantas com flores
dessa planta no passado. mostra quando a polinização pelo vento, pela água e pelos
vertebrados evoluiu da polinização por insetos

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Polinização por animais vertebrados, como pássaros e morcegos, pequenos mamíferos e até lagartos

Que tipo de insetos foram os


primeiros polinizadores?
Se você pensa em um inseto polini-
zador, provavelmente imagina uma
abelha. Mas, embora não saibamos exa-
tamente quais insetos polinizaram as
primeiras plantas com flores, podemos
ter certeza de que não eram abelhas.
Por que não? Porque a maioria das
evidências que temos indicam que as
abelhas não evoluíram até depois das
primeiras flores .
Então, o que sabemos sobre os poli-
nizadores das primeiras plantas com
flores? Bem, algumas flores primitivas
foram preservadas como fósseis – e a
maioria delas é muito pequena.
Os primeiros polinizadores de flores
também devem ter sido bem pequenos
para bisbilhotar essas flores . Os culpa-
dos mais prováveis \u200b\u200bsão
As flores polinizadas pelo vento
costumam ser muito pequenas algum tipo de mosca pequena ou besou-
e simples, como essas flores de ro, talvez até um mosquito, ou alguns
grama, que só podem ser vistas tipos extintos de insetos que desapare-
claramente ao microscópicas
ceram há muito tempo.
Se tivéssemos uma máquina do tem-
Também descobrimos que a poli- latitudes mais altas. A polinização ani- po, poderíamos voltar e ver esses poli-
nização pelo vento evoluiu com mais mal é mais comum em florestas tropi- nizadores em ação – mas isso exigirá
frequência em habitats abertos, em cais fechadas, perto do equador. muito mais pesquisa.

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As abelhas podem
aprender, lembrar,
pensar e tomar decisões
por *Stephen Buchmann, Universidade do Arizona Fotos: Anke Jentsch, Mani Shrestha, Pixabay, Universidade do Arizona

Os cientistas estão aprendendo coisas incríveis sobre a percepção


sensorial e as capacidades mentais das abelhas. À medida que as
árvores e as flores desabrocham na primavera, as abelhas emergem
de seus ninhos e tocas de inverno. Para muitas espécies, é hora de
acasalar , e algumas iniciarão novos ninhos ou colônias solitárias

A
s abelhas e outros polini- Abelha Blackthorn em Flores de mel
zadores são essenciais para
a sociedade humana. Eles
fornecem cerca de um ter-
ço dos alimentos que comemos , um
serviço com um valor global estimado
em até US$ 577 bilhões anuais.
Mas as abelhas são interessantes de
muitas outras maneiras menos conhe-
cidas. Em meu novo livro, “ What a Bee
Knows: Exploring the Thoughts, Memo-
ries, and Personalities of Bees”, eu me
baseio em minha experiência estudando
abelhas por quase 50 anos para explorar
como essas criaturas percebem o mun-
do e suas incríveis habilidades para na-
vegar, aprender , comunicar e lembrar.
Aqui está um pouco do que aprendi.

Não é tudo sobre colmeias e mel Algumas abelhas são cleptopara-


sitas, entrando sorrateiramente em
Como as pessoas estão amplamente fa- ninhos desocupados para botar ovos
miliarizadas com as abelhas, muitos as- , da mesma forma que os chupins de-
sumem que todas as abelhas são sociais positam seus ovos nos ninhos de ou-
e vivem em colméias ou colônias com tras aves e deixam os pais adotivos
uma rainha. Na verdade, apenas cerca de desconhecidos criarem seus filhotes .
10% das abelhas são sociais e a maioria Algumas espécies de abelhas tropi-
dos tipos não produz mel. A maioria das cais, conhecidas como abelhas abu-
abelhas leva uma vida solitária, cavando tres, sobrevivem comendo carniça.
ninhos no chão ou encontrando tocas Suas entranhas contêm bactérias
de besouros abandonadas em madeira ácidas que permitem às abelhas dige-
morta para chamar de lar. rir carne podre.

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Abelha buraqueira de Dawson (Amegilla dawsoni). Nativas da Austrália Ocidental, são espécies solitárias que nidificam no
solo e as adultas só ocorrem de julho a setembro. Durante o resto do ano, existem como larvas subterrâneas dormentes

Cérebros ocupados Durante as seis a 10 horas que as abe- Por exemplo, os humanos veem o
lhas passam dormindo diariamente , as mundo através das cores primárias ver-
O mundo parece muito diferente para memórias são consolidadas em seus in- melho, verde e azul.
uma abelha do que para um ser huma- críveis cérebros – órgãos do tamanho de As cores primárias para as abelhas são
no, mas as percepções das abelhas di- uma semente de papoula que contêm 1 verde, azul e ultravioleta.
ficilmente são simples. As abelhas são milhão de células nervosas. Existem algu- A visão das abelhas é 60 vezes menos
animais inteligentes que provavelmente mas indicações de que as abelhas podem nítida do que a dos humanos : uma abe-
sentem dor , lembram-se de padrões e até sonhar. Eu gostaria de pensar assim. lha voadora não consegue ver os deta-
odores e até reconhecem rostos huma- lhes de uma flor até que ela esteja a cer-
nos. Eles podem resolver labirintos e Um mundo sensorial alienígena ca de 25 centímetros de distância. No
outros problemas e usar ferramentas entanto, as abelhas podem ver padrões
simples. A pesquisa mostra que as abe- A experiência sensorial que as abe- florais ultravioleta ocultos que são invi-
lhas são autoconscientes e podem até ter lhas têm do mundo é marcadamente síveis para nós, e esses padrões levam as
uma forma primitiva de consciência. diferente da nossa. abelhas ao néctar das flores.

Experiência sensorial das abelhas

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O naturalista David Attenborough usa luz ultravioleta para mostrar como as flores podem parecer diferentes para as abelhas e para os humanos

As abelhas também podem detectar por segundo, as imagens individuais de nossos sistemas visuais de resolver
flores detectando mudanças de cor à parecem borradas em movimento. Esse imagens em movimento. As abelhas
distância. Quando os humanos assis- fenômeno, chamado de frequência de têm uma frequência de fusão de cintila-
tem a um filme projetado a 24 quadros fusão cintilante, indica a capacidade ção muito maior – você teria que rodar
o filme 10 vezes mais rápido para que
O olfato de uma abelha é 100 vezes mais sensível que o nosso parecesse um borrão para elas – então
elas podem voar sobre um prado florido
e ver pontos brilhantes de cores florais
que não resistiriam para os humanos.
À distância, as abelhas detectam as flo-
res pelo cheiro. O olfato de uma abelha é
100 vezes mais sensível que o nosso. Os
cientistas usaram abelhas para farejar
produtos químicos associados ao câncer
e ao diabetes no hálito dos pacientes e
para detectar a presença de explosivos.
O sentido do tato das abelhas também
é altamente desenvolvido: elas podem
sentir pequenas saliências semelhantes
a impressões digitais nas pétalas de al-
gumas flores. As abelhas são quase sur-
das à maioria dos sons aéreos, a menos
que estejam muito perto da fonte, mas
são sensíveis se estiverem em pé sobre
uma superfície vibrante.

A dança das abelhas é uma das formas interessantes de comunicação social que as espécies usam para se comunicar entre si. As abelhas são quase surdas

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Peixe dormindo?
por *Michael Heithaus Fotos: Michael Heithaus, Universidade Internacional da Flórida, Unsplash, Xiang Zhèng

De tubarões a salmão, guppies a garoupas, eis como eles tiram uma soneca
Você poderia explicar como os peixes dormem? Eles se afastam nas
correntes ou se ancoram em um local específico quando dormem?

D
o peixinho dourado em seu
aquário a um robalo em um
lago e aos tubarões no mar
– 35.000 espécies de peixes
estão vivas hoje , mais de 3 trilhões delas.
Em todo o mundo, eles nadam em fon-
tes termais, rios, lagoas e poças. Eles des-
lizam através de água doce e salgada. Eles
sobrevivem nas águas rasas e nas profun-
dezas mais escuras do oceano, a mais de
oito quilômetros de profundidade. As arraias também são um tipo de peixe, mas são desossadas

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Assim como você, os
peixes precisam dormir
Desses trilhões de peixes, existem
três tipos principais: peixes ósseos ,
como trutas e sardinhas; peixes sem
mandíbula, como o peixe- bruxa vis-
coso ; e tubarões e raias , que não têm
ossos – em vez disso, eles têm esque-
letos feitos de tecido firme e flexível
chamado cartilagem.
E todos eles, até o último, precisam
descansar. Seja você um humano ou um
hadoque, o sono é essencial. Dá ao cor-
po tempo para se reparar e ao cérebro a
chance de redefinir e organizar. Caverna de tubarões adormecidos. Veja o local misterioso na costa do México,
onde os tubarões tiram uma soneca. Assista o Vídeo: www.youtu.be/B_hxMs-oHro
Como biólogo marinho, sempre me per-
guntei como os peixes podem descansar.
Afinal, em qualquer corpo d’água, os pre-
dadores estão por toda parte, à espreita,
prontos para comê-los. Mas de alguma
forma eles conseguem, como praticamen-
te todas as criaturas da Terra.

Como eles fazem isso


Os cientistas ainda estão aprendendo
sobre como os peixes dormem. O que sa-
bemos: o sono deles não é como o nosso.
Por um lado, as pessoas estão pratica-
mente fora disso quando dormem. Em-
bora um barulho alto possa acordá-lo,
você não tem consciência do ambiente ao
seu redor. Mas os peixes ficam atentos o
suficiente para detectar um predador que
se aproxima – pelo menos na maioria das
Os peixes dormem às vezes, a céu aberto, no fundo ou perto dele
vezes. Parece que a maioria dos peixes
tem ciclos de sono como nós. Os peixes
de aquário dormem entre sete a 12 horas Como saber se um peixe está dormin- peixes em um aquário, olhe de perto. Você
por dia . Muitos peixes são ativos durante do? A maioria dos peixes não tem pálpe- verá como eles param de nadar e perma-
o dia e dormem à noite , embora para al- bras, então seus olhos não fecham. Isso necem muito quietos, meio que pairando
guns, como vários tipos de enguias, raias por si só torna difícil dizer quando eles na água. Suas guelras bombearão menos
e tubarões, seja o contrário. estão descansando. Mas se você observar também. Para os peixes, isso é dormir.

Dormindo com o inimigo


Onde os peixes dormem? Às vezes, a
céu aberto. Mas muitas vezes eles estão
no fundo ou perto dele.
Se puderem, eles se espremem em um
local perto de rochas ou plantas para
que os predadores não possam pegá-los
e as correntes não possam varrê-los. Al-
guns peixes vão ainda mais longe.
Os peixes- papagaio envolvem-se
num casulo de muco e dormem no
coral. Parece muito esforço – essen-
cialmente, fazer seu próprio saco de
dormir todas as noites – mas o casulo
protege o peixe-papagaio não apenas
de predadores, mas de parasitas.
Segurança noturna para um peixe-papagaio: um casulo
de muco Assista o Vídeo: www.youtu.be/wtf5AXfMhQQ

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Como os tubarões dormem
Existem, no entanto, muitas espécies
de peixes que precisam nadar constan-
temente apenas para respirar. Pense
nisso – pare de nadar e você morre. Isso
é verdade para muitos tubarões, como
os grandes brancos .
Então, como eles dormem se estão
sempre em movimento? Em vez de pa-
rar completamente, os tubarões sim-
plesmente diminuem sua natação ou
nadam em uma corrente. Isso é como
dormir – pelo menos os tubarões pa-
recem menos conscientes do que está
acontecendo ao seu redor.
Existem espécies de tubarão, como
o tubarão de prancheta, que respiram
sem nadar . Os cientistas observaram
recentemente este tubarão – que tem
1 metro de comprimento e uma cabeça
chata – dormindo no fundo.

Baleias e golfinhos
Baleias e golfinhos não são peixes –
são mamíferos, como gatos, cachorros e
pessoas. Eles passam a vida no oceano, Um tubarão tirando uma soneca? Assista o Vídeo: www.youtu.be/B7ePdi1McMo
mas não conseguem respirar debaixo
d’água. Em vez disso, eles periodica-
mente sobem à superfície e inalam ar Então eles dormem descansando me- Há muito mais para aprender sobre
através de seu espiráculo, que fica no tade de seu cérebro de cada vez . A outra como os peixes dormem. Biólogos ma-
topo de suas cabeças. metade se lembra de subir à superfície, rinhos como eu têm muitas perguntas
Se eles adormecessem profundamen- respirar e ficar alerta o suficiente para e passamos nossas carreiras em ocea-
te, como as pessoas fazem, baleias e gol- detectar o perigo. É possível que alguns nos, rios, lagos e laboratórios tentando
finhos se afogariam; eles não estariam peixes possam fazer a mesma coisa? Os encontrar respostas. Mas eu vou deixar
conscientes o suficiente para vir à su- cientistas estão tentando descobrir, mas você com isso, algo que eu sempre quis
perfície para respirar. ainda não sabem. saber: os peixes sonham?

Baleias e golfinhos

[*] Reitor Executivo da Faculdade de Artes, Ciências e Educação e Professor de Ciências Biológicas, Universidade Internacional da Flórida (FIU)

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Quais animais sobreviverão
às mudanças climáticas?
Mesmo as espécies mais resistentes podem ter um limite sob as mu-
danças climáticas. As coextinções dominam as perdas futuras de
vertebrados devido às mudanças climáticas e de uso da terra
por *Emma Bryce Fotos: Dong Lei/Nature, Izanbar via Getty Images, Paul Souders via Getty Images, Steve Gschmeissner/Science Photo

À
medida que as mudanças cli- A mudança climática está colocando em perigo grandes espécies no topo da cadeia alimentar,
máticas transformam nosso incluindo os ursos polares, vistos aqui no derretimento do gelo em Svalbard, na Noruega
mundo, os impactos serão
sentidos de forma desigual,
com alguns animais lutando para sobre-
viver e outros encontrando maneiras de
superar os desafios resultantes.
Este fenômeno é cada vez mais descri-
to como os “vencedores e perdedores sob
a mudança climática “, disse Giovanni
Strona, ecologista e ex-professor associa-
do da Universidade de Helsinque, agora
pesquisador da Comissão Europeia. Stro-
na liderou um estudo de 2022, publicado
na revista Science Advances, que cons-
tatou que, em um cenário intermediário
de emissões, podemos perder, em média,
em todo o mundo, quase 20% da biodi-
versidade de vertebrados até o final do
século. No pior cenário de aquecimento,
essa perda sobe para quase 30%.

Diversidade de vertebrados observada versus modelada em 2020 no cenário CMIP6 SSP4-6.0

A diversidade observada (A) é calculada sobrepondo faixas de distribuição de todos os vertebrados usados como um
molde ecológico para as espécies virtuais (ver Materiais e Métodos). A diversidade modelada (B) corresponde ao log e-
número transformado de espécies virtuais por localidade (média de 100 réplicas do modelo). A distribuição das espécies
virtuais não resulta diretamente da distribuição dos vertebrados do mundo real. Em vez disso, a diversidade modelada é
uma propriedade emergente do sistema simulado, decorrente da interação entre as espécies virtuais e a comunidade vir-
tual local/rede alimentar e ambiente. A resolução do mapa é de 1° × 1°

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Perda local relativa simulada de diversidade, interações e conectividade de vertebra-


dos terrestres até 2100 em comparação com 2020 sob diferentes projeções climáticas.

Tudo está conectado


Os mapas mostram a perda local em 2100 em relação às condições iniciais, enquanto os gráficos mostram a perda
média em todas as localidades da Terra por ano de 2020 a 2100. Tanto nos mapas quanto nos gráficos, os resultados
são a média de 100 réplicas (para os gráficos, primeiro calculamos a média perda local nas 100 réplicas e valores mé-
dios de perda local em todas as localidades. As áreas sombreadas são intervalos de confiança de 95%, mostrando a
variação entre localidades no mapa médio obtido com 100 simulações).

Então, quais animais são os “vencedores” Enquanto isso, 1 milhão de espécies Afetará diretamente as populações ao
e como eles realmente se sairão sob tempe- agora enfrentam a extinção em nosso induzir eventos climáticos extremos,
raturas crescentes, seca e perda de habitat? planeta por causa dessas ameaças gê- como tempestades; elevando as tem-
Não há dúvida sobre as ameaças à meas, de acordo com o relatório. peraturas ou reduzindo as chuvas além
biodiversidade da Terra decorrentes Agora há evidências crescentes de que dos limites de que uma espécie precisa
das mudanças climáticas e da des- a Terra está passando por sua sexta ex- para sobreviver; e diminuindo os prin-
truição do habitat. Em 2022, o World tinção em massa . cipais habitats dos quais os animais
Wildlife Fund (WWF) lançou o Living As mudanças climáticas contribuem dependem. Como a pesquisa de Strona
Planet Report, que descreveu um declí- para esses riscos de extinção de manei- mostrou, a mudança climática também
nio de 69% na abundância relativa de ras complexas e interconectadas, algu- pode ter efeitos indiretos que se espa-
espécies monitoradas desde 1970. mas das quais ainda desconhecidas. lham por um ecossistema.

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Efeito de coextinção até 2050

Isso é quantificado como o aumento percentual na perda de diversidade no cenário de coextinção em comparação com
o cenário de referência (somente extinções primárias). Para facilitar a visualização e as comparações, definimos o valor
máximo da barra de cores como 2 (ou seja, 200% de aumento), mas os pixels pretos indicam todos os valores ≥ 200%.

Ele e sua equipe construíram vários


modelos de Terras incorporando mais
de 15.000 teias alimentares para repre-
sentar as conexões de muitos milhares
de espécies de vertebrados terrestres.
Em seguida, eles simularam vários ce-
nários de mudanças climáticas e de uso
da terra nesses ecossistemas.
Suas simulações mostraram que
quando a mudança climática causou
diretamente a perda de uma espécie,
resultou em uma perda em cascata de
várias espécies que dependem dessa es-
pécie para alimentação, polinização ou
outros serviços ecossistêmicos.
Devido à sua dieta de nicho, os coalas correm um risco maior devido às mudanças ambientais

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Esse efeito dominó, conhecido como
“co-extinção”, conduzirá a maior parte
do declínio da diversidade de espécies
de vertebrados terrestres sob a mu-
dança climática projetada, prevê a pes-
quisa. Como o estudo não modelou o
impacto da mudança climática nas co-
munidades de insetos ou plantas, essas
descobertas provavelmente também
são otimistas, disse Strona.
A enorme complexidade das relações
entre os animais dentro dos ecossiste-
mas naturais, além da incerteza sobre
quão extremas serão as mudanças cli-
máticas, torna difícil aprofundar esses
dados e identificar quais animais se sai-
rão melhor do que outros à medida que
nosso mundo esquenta.
No entanto, a pesquisa de Strona
pegou uma tendência geral: “O que
descobrimos é que espécies maiores
e espécies em altos níveis tróficos [da À medida que o mundo esquenta, milhares de espécies estão mudando seus habitats para escapar
de temperaturas instáveis e padrões de precipitação que alteraram permanentemente seus habitats
cadeia alimentar] serão mais adversa-
mente afetadas”, disse ele.
Assim, animais com posições mais “O que descobrimos em nosso estudo Enquanto isso, os animais de re-
baixas na cadeia alimentar, como inse- é que as espécies que se reproduzem produção mais lenta mostraram a
tos ou roedores, podem se sair melhor muito rápido são muito boas em explo- tendência oposta no estudo, e suas
em um mundo em aquecimento. rar novos habitats – pegando energia e populações diminuíram quando a
transformando-a em descendentes”, dis- temperatura e o habitat mudaram.
Animais adaptáveis se o principal autor do estudo, Gonzalo O tamanho é um fator que também
Albaladejo Robles, um biólogo de con- pode funcionar contra as espécies.
Espécies maiores tendem a se repro- servação da University College London. Por exemplo, animais maiores po-
duzir mais lentamente, e essa é outra A reprodução mais rápida pode bene- dem sofrer mais com a mudança cli-
pista que os pesquisadores associaram ficiar as espécies em um clima em mu- mática porque normalmente precisam
à vulnerabilidade climática. Outro estu- dança porque elas são mais adaptáveis de extensões maiores de habitat inin-
do recente, publicado na revista Global a habitats em mudança; ciclos de repro- terrupto, bem como mais comida, que
Change Biology, analisou 461 espécies dução rápidos dão a essas espécies uma é facilmente ameaçada pela perda de
de animais em seis continentes e ana- “oportunidade de sobreviver a esses habitat e pelos impactos da mudança
lisou os efeitos perturbadores do uso picos de perturbação ambiental”, como climática na paisagem e nos recursos,
histórico da terra e das mudanças de clima extremo ou perda de habitat, ex- disse Albaladejo Robles.
temperatura em suas populações. plicou Albaladejo Robles. “Se você é um elefante, é mais pro-
vável que seja sensível a secas severas
Espécies maiores, como elefantes, terão dificuldades com as mudanças climáticas e também ao desmatamento do que
outras espécies menores que precisam
de menos recursos”, disse Albaladejo
Robles. “De um modo geral, espécies
pequenas terão maior probabilidade de
sobreviver às interações de mudanças
humanas, como mudanças climáticas e
mudanças no uso da terra”.
Espécies com mais dietas de nicho,
como pandas e coalas, também podem
estar sob maior risco sob mudanças
ambientais. Em contraste, as dietas
amplas de alimentadores generalistas,
como corvos e guaxinins, fornecem a
eles uma ampla variedade de alimen-
tos aos quais recorrer se uma fonte de
alimento desaparecer. A capacidade de
migrar e adaptar-se a diferentes habi-
tats também poderia proteger os ani-
mais contra um futuro incerto.

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“Os tardígrados são super resistentes
sozinhos, mas precisam de outras es-
pécies para sobreviver”, disse Strona.
Essa é a falha na ideia de “espécies
sobreviventes”, disse ele, porque per-
de a necessidade de ecossistemas in-
teiros e sua rede de interações com-
plexas de espécies para sustentar a
vida na Terra, como mostrou a pes-
quisa da Science Advances.
Em vez de depositar nossas esperan-
ças em algumas espécies resilientes
para sobreviver às mudanças climá-
ticas, precisamos proteger ecossiste-
mas inteiros. Isso significa diminuir o
aquecimento reduzindo o consumo de
combustível fóssil, limitando a des-
O tamanho da asa do grande morcego de folha redonda ( Hipposideros armiger ) truição do habitat e reduzindo outros
aumentou 1,64% desde 1950, provavelmente em resposta às mudanças climáticas
impactos humanos na vida selvagem,
dizem os especialistas.
Por exemplo, muitas criaturas que E, no entanto, mesmo seus corpos As projeções podem ajudar destacan-
podem sobreviver apenas em latitu- aparentemente indestrutíveis têm limi- do os animais mais vulneráveis que pre-
des congeladas ou em recifes de corais tes, de acordo com algumas das pesqui- cisam de nossa atenção imediata. Ainda
, que diminuirão sob o aquecimento sas anteriores de Strona. Este estudo, melhor, emparelhado com pesquisas re-
contínuo, enfrentam riscos maiores. A publicado na Scientific Reports, simu- centes que identificam refúgios de habi-
pesquisa também descobriu evidências lou como os tardígrados se sairiam sob tat projetados para animais ameaçados
de que animais como papagaios, morce- frio e aquecimento extremos com base pelo clima, podemos proteger proativa-
gos e musaranhos estão “ mudando de apenas em seus níveis de tolerância à mente ecossistemas inteiros que man-
forma “ao longo de gerações, desenvol- temperatura. A pesquisa confirmou que têm as espécies interconectadas.
vendo bicos, asas e caudas maiores para os tardígrados podiam suportar extre- Pode haver “vencedores” de curto
ajudá-los a esfriar de forma mais eficaz mos incríveis. Mas quando os pesqui- prazo sob as mudanças climáticas pro-
em climas mais quentes e, possivelmen- sadores consideraram as interações de jetadas. “Mas o que importa, eu acho, é
te, torná-los mais adaptáveis. outras espécies que compõem os ecos- o saldo líquido”, disse Strona. “Minha
Tudo isso sugere que os animais mais sistemas dos quais dependem, as popu- percepção é que haverá muito mais
resistentes à perturbação do habitat e lações de tardígrados despencaram sob perdedores do que vencedores” - e, em
às mudanças de temperatura têm maior o aquecimento extremo projetado que última análise, esses perdedores podem
probabilidade de prosperar em um dizimaria esses outros animais. nos incluir, disse ele.
mundo mais quente. Para obter pistas
sobre quais espécies esse futuro pode
incluir, basta olhar para as espécies des-
complicadas, generalistas e de reprodu-
ção rápida que ocupam os habitats mais
perturbados do nosso planeta: as cida-
des. Isso inclui baratas, camundongos,
ratos, corvos, pombos, algumas aves de
rapina, macacos e guaxinins.
E isso supondo que não termine-
mos com níveis catastróficos de calor
que ultrapassem os limites térmicos
dessas espécies. Se esse cenário se de-
senrolasse, estaríamos olhando para
um mundo povoado por extremófilos
como os tardígrados , também conhe-
cidos como ursos d’água. Essas minús-
culas criaturas podem entrar em um
estado de hibernação que desliga quase
completamente seu metabolismo, per-
mitindo que algumas espécies de tar-
dígrados resistam ao frio extremo de
menos 320 graus Fahrenheit ( menos
196 graus Celsius ). e calor de até 300 Mesmo o tardígrado mais resistente pode ter um limite sob as mudanças climáticas. Aqui vemos
graus Fahrenheit (150 graus Celsius). uma imagem ampliada e colorida de um tardígrado, um microanimal que vive na água, também
conhecido como urso d’água, que tem oito patas e vive em habitats úmidos, como musgo ou líquen

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Algumas das principais
invenções médicas que
mudaram o mundo até 2022
Descubra invenções médicas revolucionárias que revolucionaram a saúde!
Fotos: Addenbrooke’s Hospital, Cambridge University Hospitals, NHS Foundation Trust/PA, Unsplash

A
indústria da saúde testemunhou
avanços notáveis na tecnologia
médica, levando a invenções
revolucionárias que transfor-
maram para sempre a forma como diagnos-
ticamos, tratamos e cuidamos dos pacien-
tes. De hospitais de holograma de ponta a
dispositivos vestíveis e sistemas de imagem
avançados, essas inovações redefiniram os
limites da medicina moderna. Neste artigo,
vamos mergulhar no mundo das invenções
médicas inovadoras que revolucionaram o
setor de saúde, abrindo caminho para um fu-
turo em que o atendimento ao paciente seja
mais eficiente, preciso e acessível. Vídeo cativante mostra os avanços mais recentes. Assista-o em: www.youtu.be/4f6ZUYEeNbU

Em um vídeo cativante que mostra os


avanços mais recentes, testemunhamos
como a tecnologia médica ultrapassou os
limites do que antes se pensava ser pos-
sível. Hospitais com hologramas, como o
HoloScenarios desenvolvido pela Cam-
bridge University Hospitals NHS Foun-
dation Trust, surgiram como uma ferra-
menta revolucionária de treinamento para
profissionais médicos. Ao fornecer situ-
ações holográficas realistas de pacientes
em tempo real, esses hospitais permitem
que os médicos aprimorem suas opções
de tomada de decisão e tratamento.
Pacientes holográficos de realidade mista sendo usados por Os sistemas de cirurgia robótica, como o
estudantes de medicina no Addenbrooke’s Hospital em Cambridge
Sistema Cirúrgico Vinci Xi, transformaram
o campo da cirurgia minimamente invasiva.
Os cirurgiões agora podem realizar procedi-
mentos complexos com precisão e controle
sem precedentes, resultando em incisões
menores, dor pós-operatória reduzida e
tempos de recuperação mais rápidos. O de-
sign modular e a configuração simplificada
do sistema cirúrgico da Vinci contribuíram
para sua ampla adoção e sucesso.
Dispositivos vestíveis também tiveram
um impacto significativo na área da saúde.
O Kinsa Smart Ear Thermometer, por exem-
plo, tornou-se um salva-vidas para pais que
buscam leituras de temperatura precisas e
convenientes para seus filhos.
Sistema Cirúrgico Vinci Xi, transformaram o campo da cirurgia minimamente invasiva

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Ao registrar dados de temperatura e asso-
ciá-los a sintomas, como tosse, esse dispo-
sitivo ajuda os pais a monitorar a saúde de
seus filhos com mais eficiência.

A saúde é uma das indústrias mais importantes, e desenvolvê-la ajuda a curar muitas
doenças raras. Principalmente graças aos avanços tecnológicos no setor médico, que
possibilitaram uma compreensão mais profunda da humanidade

Empresas como a Craft Health Private Esta compacta caixa de ferramentas vo-
Limited em Cingapura estão utilizando ca- adora carrega materiais essenciais para
beças de impressão 3D para criar estruturas salvar vidas, incluindo desfibriladores ex-
complexas usando materiais como silicones, ternos automáticos (AEDs), medicamentos
pastas de cerâmica e poliuretanos. Essa tec- e assistência de RCP. Ao fornecer essas in-
Leituras de temperatura precisas nologia tem o potencial de revolucionar os tervenções críticas a pacientes necessitados,
e convenientes para seus filhos
sistemas de administração de medicamentos o Ambulance Drone tem o potencial de sal-
e a medicina personalizada, oferecendo tra- var vidas, principalmente em emergências
O advento da impressão 3D abriu novas tamentos sob medida para os pacientes. como insuficiência cardíaca, afogamento,
possibilidades no campo dos nutracêuticos Outra invenção notável apresentada no trauma e problemas respiratórios.
e farmacêuticos. vídeo é o Ambulance Drone. A indústria da saúde está em uma jornada
transformadora, impulsionada por inven-
Ambulance Drone, Salva vidas com uma rede de drones. Aumenta drasticamente a taxa de sobrevivência. ções médicas revolucionárias que mudaram
o cenário da medicina. Por meio de hospi-
tais com hologramas, sistemas de cirurgia
robótica, dispositivos vestíveis, impressão
3D e muito mais, testemunhamos o imen-
so potencial da tecnologia para melhorar os
resultados dos pacientes e revolucionar as
práticas de saúde.
À medida que abraçamos o futuro da
tecnologia de saúde, podemos esperar um
mundo onde as intervenções médicas sejam
mais precisas, personalizadas e acessíveis
a todos. Essas invenções inovadoras apre-
sentadas no vídeo fornecem um vislumbre
desse futuro, lembrando-nos das extraordi-
nárias possibilidades que temos pela frente
no campo da inovação em saúde.

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