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Pontes e Travessias
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Índice
7. Legislação ........................................................................................................... 77
8. Anexos ................................................................................................................ 87
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Elaboração da Apostila: Dalva Rosa Watanabe e Shirley Rodrigues Maia
1ª Revisão 2012
2ª Revisão 2020
Coordenação do Curso
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“Não se desencoraje. Não tenha medo. Não se desespere. Há
ainda uma oportunidade para que você aproveite a vida, não
importando o quanto se sinta em posição desfavorável. Tenha
ânimo, pois aquilo que eu mesma realizei você poderá realizar,
desde que persista jamais desistindo. Agarre-se a sua fé, num
poder interior mais alto, que seja capaz de ajudá-lo a ajudar-se
a si mesmo”.
Helen Keller
1 - Contextualização Histórica
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Durante muito tempo, os cegos foram considerados como seres inúteis, como
uma espécie inferior, totalmente voltado à ignorância. A sociedade considerava-se
perfeita e media a competência do indivíduo pela sua perfeição anatômica. Caso
contrário tornava-se inviável a sobrevivência do indivíduo no grupo social ao qual
pertencia. Em Esparta, uma criança ao nascer era submetida a testes de resistência,
que lhe daria o direito à vida ou não.
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empresários esta clientela não conseguiria produzir no mesmo nível dos demais, o
que tornaria sua contratação inviável.
Áries, relatando a história social da criança e da família, nos faz conhecer que no
século XII que a infância não era reconhecida ou não tinha espaço definido.
O Imperial Instituto dos Meninos Cegos foi criado por interferência de José
Alvarez de Azevedo que era cego e do Médico Dr. Xavier Sigaud que também tinha
uma filha cega. Estes homens uniram-se e reivindicaram junto ao imperador D.
Pedro II a criação de programas para pessoas cegas. Em 12 de setembro de 1854,
foi então oficialmente inaugurada a escola que motivou em 1856 o atendimento aos
surdos denominado Instituto dos Surdos-mudos.
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deficiência intelectual e tinha como objetivo principal adaptação do “excepcional” à
sociedade.
9
O primeiro paradigma formal identificado no país foi o da Institucionalização,
caracterizado pela retirada das pessoas com deficiências de suas comunidades de
origem e por sua manutenção em instituições residenciais, segregadas.
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superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas
fixadas pelos competentes Conselhos de Educação”. (BRASIL – LEI 5692/71 art. 9º,
In BRASIL (1994)).
Nos anos 70, surgiu uma nova concepção sobre a deficiência, em que não só
a pessoa com deficiência, mas o ambiente geral que a cerca, deveria criar condições
para sua integração na sociedade. Dentro dessa nova visão, a Organização das
Nações Unidas adotou nessa década duas declarações pioneiras quanto a essa
questão. A Declaração dos Direitos do Deficiente Mental e a Declaração dos Direitos
das Pessoas Deficientes. Em 1.973, através do Decreto número 72.425 de
03.07.1973, foi criado no Ministério da Educação e Cultura, o Centro Nacional de
Educação Especial (Cenesp), Órgão Central de Direção Superior, com a finalidade
de promover em todo território nacional, a expansão e melhoria do atendimento aos
excepcionais. O Cenesp veio para proporcionar oportunidade e educação, propondo
e implementando estratégias decorrentes dos princípios doutrinários e políticos para
orientar a Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de primeiros e
segundo graus, superior e supletivo, para pessoas com deficiência de visão,
audição, intelectuais, físicos, educandos com problemas de conduta, para os que
possuem deficiências múltiplas e os superdotados, visando sua participação
progressiva na comunidade.
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Assim a década de 80 foi marcada por um período de desinstitucionalização
chamado de Maisntreaming, cujo objetivo era de desenvolver o relacionamento de
maneira mais participativa dentro do organismo social, a pessoa com deficiência era
inserida no âmbito social comum, sem que houvesse modificação deste ambiente.
O modelo atual denominado Inclusão diz que todos têm direito à educação e
ao acesso aos bens culturais. Há uma legislação para a educação das pessoas com
deficiência, cujo nome é Educação Especial, fundamentada nos princípios de acesso
e permanência. Os artigos 4º e 5º são claros quanto à obrigatoriedade e gratuidade
de ensino fundamental. “Acesso ao ensino fundamental é direito público, subjetivo,
podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização
sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda o Ministério
Público, acionar o Poder Público para exigi-lo como consta no Caput 5º” (ART. 4º
inciso II da Lei 9394/96).
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órgãos que a defendem, principalmente no que se refere às políticas educacionais
atendimento.
Elas treinaram outras pedagogas que continuaram esta luta contando sempre
com o apoio das famílias das pessoas com surdocegueira.
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Especial na criação dos setores de surdocegueira nos CAP’s Centro de Apoio
Pedagógico ao Deficiente Visual e ao CAS - Centro de Apoio ao Surdo. O
reconhecimento das profissões professor de pessoa com surdocegueira e guia-
intérprete através da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) do Ministério do
Trabalho. A privação cultural tem se destacado como uma das causas de um pobre
rendimento intelectual das pessoas com deficiência no qual a ausência de fatores de
estimulação no meio ambiente resultam em dificuldades no desenvolvimento das
habilidades cognitivas, motora e principalmente verbal.
Hoje temos a Convenção da ONU que foi ratificada pelo Brasil em 2006 e
assim ela tem a legalização como nossa constituição, temos também a Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146/2015.
Referências
15
“Tarefa árdua, e ao mesmo tempo empolgante, é a de enfrentar o desafio de
iniciar um novo trabalho de campo da educação especializada”.
Em 1830 Dr. Samuel Gridley Howe abriu a escola Perkins para Cegos nos
Estados Unidos, interessou-se pela pessoa com surdocegueira quando entrou em
contato com Laura Bridgman, uma jovem que era surdocega desde os dezoito
meses de idade, ela foi admitida na Perkins e o próprio Dr. Howe a ensinou. Em
1860 a França foi o primeiro país da Europa a efetivar a educação de crianças
surdocegas quando uma menina, Germanine Cambom, que era surdocega, foi
aceita na escola de meninas surdas em Larney, perto de Poitiers.
1
Texto integrante da dissertação de mestrado de Shirley Rodrigues Maia - Educação de Pessoa com
surdocegueiras - Diretrizes Básicas para pessoas não especializadas-2004 - Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
16
A reflexão constante sobre o quanto e o que falta para se atingir os
objetivos propostos a uma atenção integral à pessoa surdocega.
Fora do Brasil
2
TADOMA “Este Método de comunicação consiste na percepção tátil da língua oral emitida,mediante
uso de uma ou das duas mãos da pessoa surdocega. A recepção das mensagens orais ocorre,
geralmente mediante o posicionamento suave do dedo polegar da pessoa surdocega , sobre os
lábios do interlocutor. Os demais dedos se mantêm sobre a bochecha, a mandíbula e a garganta do
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Helen Keller formou-se pelo Colégio Cambridge para Moças, frequentou a Escola
Perkins e formou-se em filosofia em 1904. Dominou várias línguas. Destacou-se por
sua brilhante inteligência, marcante personalidade, culta e sensível. Helen Keller fez
conferências pelo mundo todo demonstrando como havia vencido as barreiras
impostas pela surdocegueira, dando um exemplo de vida a todos. Foi poetisa,
escritora (escreveu vários livros inclusive sua biografia), mas sua maior glória foi ser
considerada cidadã do mundo devido ao alcance de sua atuação e sua
grandiosidade como pessoa que se revela em frases como essa: “Desejo aprender
quatro coisas na vida: pensar com clareza e serenidade, amar a todos sinceramente,
proceder sempre com nobreza e colocar toda confiança em Deus”.
No Brasil
interlocutor. Essa posição viabiliza ao acesso á pessoa surdocega á produção da fala pelos seus
interlocutores” (Maia e Nascimento,2002).
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ALEX GARCIA – gaúcho nascido em 1976, pessoa com surdocegueira parcial, o
primeiro a cursar nível superior no Brasil, especialista em Educação Especial pela
Universidade Federal de Santa Maria - Rio Grande do Sul, atualmente é presidente
da Agapasm- Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Pessoa com
surdocegueiras.
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JANINNE PIRES FARIAS- baiana nascida em 1992, na cidade de Guanambi,
Estudante de Pedagogia.
Com o passar dos anos foram surgindo novas instituições com o mesmo objetivo
educacional que a Escola Municipal Anne Sullivan, entre elas encontram-se:
A partir de 1992 vários trabalhos começaram a emergir por todo o Brasil. No Estado
de São Paulo, em São José dos Campos. No estado de Santa Catarina, em São
José, Brusque e Santo Amaro. No estado do Ceará em Fortaleza. No Estado da
Bahia em Barreiras, Alagoinhas e Salvador. No Estado do Rio Grande do Norte em
Natal. No Estado de Minas Gerais em Juiz de Fora, Belo Horizonte e Prata. No
Estado do Rio Grande do Sul em Cruz Alta, Santa Maria e Caxias do Sul. No Estado
de Rondônia em Ji-Paraná. No Estado do Paraná em Umuarama, Maringá e Pato
Branco. No Distrito Federal em Brasília, no Estado do Rio de Janeiro em Angra dos
Reis e Rio de Janeiro. No Estado de Mato Grosso do Sul, em Dourados e Campo
Grande, No estado de Mato Grosso na cidade de Cuiabá, No Paraná nas cidades de
Francisco Beltrão, Maringá, Londrina e Cascavel.
3
São consideradas pessoas múltiplas deficientes sensoriais, pessoas surdas ou deficientes visuais que
apresentam outros comprometimentos ou deficiências (motora e/ ou mental) associadas
22
Apesar da Educação da pessoa com Surdocegueira no Brasil existir há quarenta e
quatro anos,4 somente a partir dos anos 90 conseguiu um avanço profissional
significativo, que caracterizou-se pelo intercâmbio com instituições internacionais.
Encontros
1997
4
Fonte: Grupo Brasil de Apoio ao Pessoa com surdocegueira e ao Múltiplo Deficiente Sensorial,apostila em
mimeo, 2004.
23
I Encontro da região Sul- no Centro de Reabilitação da Audição – CENTRAU- em
Curitiba - Paraná, participação de 80 pessoas.
1998
1999
2000
IV- Encontro da Região Sul na Universidade Federal de Santa Maria - Santa Maria -
Rio Grande do Sul, com participação de 150 pessoas.
2001
24
2002
2003
Criação
1998
1999
2001
Centro de Integração e Famílias Vitor Eduardo - CIVE em São Caetano do Sul – SP.
2002
2003
Lançamentos
1998
25
1999
2001
2002
2003
Livreto – O que pensamos das pessoas surdocegas e o que elas fazem para viver.
Parcerias e Intercâmbios
2000
2002
26
2003
Elaboração
2002
Fóruns
2000
2004
Simpósios
2001
1999
27
Fórum Nacional sobre Surdez, no Instituto Nacional de Surdos sobre Surdocegueira
2001
2003
2004
Cursos de Capacitação
2000
2001
2002
2004
Implantação
1997
São José dos Campos - na Associação para Deficientes da Visão - Pró - Visão
2000
2002
2003
2004
2015 - Grupo de Estudos com parceria com USP- com professora Karina Soledad
Maldonado Molina.
30
Entre o guia-intérprete e a pessoa com surdocegueira
deve haver uma interdependência, e o mais importante é
criar um vínculo de confiança e sabermos que o nosso
intérprete será o nosso elo de ligação com o mundo.
Daniel Alvarez
Líder pessoa com surdocegueira da ONCE
31
Existem diversas formas de comunicação tátil, é necessário conhecer as
especificidades de cada uma, para saber qual será a mais indicada para
determinada pessoa que se tornou surdocega recentemente. Num segundo
momento, a pessoa com surdocegueira poderá aprender outras formas de
comunicação, isso a ajudará a melhorar a qualidade e a quantidade de interação
com as demais pessoas, com surdocegueira ou não. Ocorre, ainda, dessas pessoas,
eventualmente, apresentarem perdas progressivas de visão e audição e no decorrer
da vida terem a necessidade de aprender novas formas de comunicação, que se
apóiem mais no tato e não tanto nos resíduos visuais e auditivos (VIÑAS e REY,
2004).
32
Em seguida apresentamos um quadro com os pré-requisitos relacionados às formas
de comunicação:
ALFABETO DAS X X X
DUAS MÃOS
ALFABETO X X X
MANUAL TÁTIL
BRAILLE TÁTIL X X X
ESCRITA X X
AMPLIADA
ESCRITA NA X X
PALMA DA MÃO
FALA X X
AMPLIADA
LIBRAS EM X X X
CAMPO
REDUZIDO
LIBRAS TÁTIL X X X
MEIOS
TÉCNICOS COM
SAÍDA EM X X X
BRAILLE
PLACAS X X X
ALFABÉTICAS
COM O
ALFABETO EM
BRAILLE
PLACAS X X
ALFABÉTICAS
COM O
ALFABETO EM
RELEVO
TADOMA X X
USO DO DEDO X X
COMO LÁPIS
Elaborado por: Dalva Rosa Watanabe (2009 curso Surdez/Deficiência Auditiva – Libras na
Universidade Gama Filho).
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Alfabeto das Duas Mãos
34
Fonte: Grupo de Estudos de Comunicação - 2008
35
Alfabeto Manual Tátil
Corresponde ao alfabeto manual usado pelas pessoas com surdez, porém, feito
sobre a palma da mão da pessoa com surdocegueira.
36
Braille Tátil
37
Guia-intérprete posicionado ao lado da pessoa com surdocegueira.
Fonte:http://www.yomiuri.co.jp/dy/national/20080611TDY02307.htm
38
Temos ainda, a possibilidade da pessoa com surdocegueira oferecer os dedos
indicador e médio e o guia-intérprete tocar as falanges como se estivesse
escrevendo na cela Braille.
Fonte: Viñas e Rey (2004, p. 218), adaptado por Dalva Rosa Watanabe, 2010.
39
Escrita Ampliada
40
Fonte: Viñas e Rey (2004, p. 212), página 212
41
Fala Ampliada
42
Libras em Campo Reduzido
Libras Tátil
43
Meios Técnicos com saída em Braille
44
Placas Alfabéticas com Letras
O guia-intérprete utiliza uma placa com letras e números em braille, sobre os quais
toca o dedo indicador da pessoa com surdocegueira, de modo que ela perceba pelo
tato os pontos de cada uma das letras ou números que formam a mensagem.
Fonte: Viñas e Rey (2004, página 245) Fonte: arquivo Ahimsa - 2009
45
Tadoma
46
Fonte: Encontro Helen Keller Colômbia (1997)
47
Caneca Miniatura da Caneca
Referências:
DIAS, D. T.; GIACOMINI, L.; PETERSEN, M. I.; ALVAREZ, M.M. R.L.; MONTEIRO, M. A.;
CAMBRUZZI, R.C.S.; JESUS, R. M.; MAIA, S.R. Síndrome de Usher. Série Surdocegueira e Múltipla
Deficiência Sensorial. Grupo Brasil de Apoio ao Pessoa com surdocegueira e ao Múltiplo Deficiente
Sensorial, São Paulo, 2001.
MASINI, E. F. S. (Org.) Do Sentido Pelos Sentidos Para os Sentidos. São Paulo, Vetor, 2002
ROSA, Dalva et al. Pessoa com surdocegueira pós-lingüístico. Série Surdocegueira e Múltipla
Deficiência Sensorial. Grupo Brasil de Apoio ao Pessoa com surdocegueira e ao Múltiplo Deficiente
Sensorial, São Paulo. 2005.
VINÃS, P. G.; REY, E. R., La surdocegueira. un análisis multidisciplinar. ONCE. Madrid, 2004.
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...A principio necessitaremos de um período para difícil
adaptação psicológica com objetivo de aceitar a realidade e
recuperar auto confiança. Esta aceitação nos levará a mudar
a idéia de que “o mundo se acaba na ponta dos dedos” por
outra nova “o mundo começa de novo nas pontas dos dedos”.
Daniel Alvarez
Líder pessoa com surdocegueira da ONCE
49
con su entorno, actuando como sus ojos y sus oidos. De esta manera él promueve la
integración y participación independiente de la persona sordociega en su entorno.”
50
Os pontos de referência são dados com relação à pessoa com surdocegueira,
o guia-intérprete deve usar palavras como: à sua direita, à sua esquerda, à frente,
atrás, a tantos metros, não usar aqui, lá, ali ou outras informações vagas ou que
dependam de pontos de referência não acessíveis à pessoa com surdocegueira.
52
direções e ainda, as expressões faciais e corporais que acompanham o sinal e que
geralmente, são indicadas pelo grau de tensão empregado no movimento. O guia-
intérprete deve sempre se lembrar que os surdos compreendem os sinais inclusive
observando as expressões de rosto e de corpo do intérprete, possibilidade que,
geralmente a pessoa com surdocegueira não tem, mas que necessita para
compreender a mensagem, restando ao guia-intérprete, geralmente, apenas a pista
tátil para passar as informações.
Algumas pessoas podem ter “defesa tátil”, isso significa que elas apresentam
algumas restrições, não se sentindo bem ao serem tocadas por pessoas com as
53
quais têm pouca convivência ou mesmo por familiares. A defesa tátil pode ser
vencida ou diminuída com paciência e perseverança, tanto por parte da pessoa com
surdocegueira como pelas demais pessoas.
Referências Consultadas
54
“Quando se recupera a autoconfiança e a segurança sente que
seu mundo habitual (isolamento) se torna pequeno, então
começa sentir a necessidade de sair para o mundo exterior e
se construir novamente dentro dele.”
Daniel Alvarez
Líder pessoa com surdocegueira da ONCE.
5. Ética e Guia-interpretação
55
A ética está presente em todas as profissões, mas aparece de maneira mais
contundente nas que prestam um serviço direto aos seres humanos. Nesse sentido
as ações não limitam seus efeitos à própria pessoa, mas também sobre o outro com
quem se está trabalhando.
DO OBJETIVO
Parágrafo único: As normas do presente Código de Ética são aplicáveis aos sócios
em qualquer cargo ou função, independentemente do estabelecimento ou instituição
a que estejam prestando serviço.
DA ÉTICA PROFISSIONAL
Artigo 6º - O guia-intérprete deve ser discreto no uso de sua roupa, para uma
atuação. Deve sempre usar roupas lisas (de uma cor só) e que contrastem com sua
pele. Da mesma forma, evitar o uso de enfeites e ornatos pessoais (no cabelo,
brincos salientes, colares, anéis, relógios, etc.). Ainda, ele deve saber o seu lugar no
ambiente em que atuará – qual o melhor lugar para ele se posicionar, sendo
confortavelmente visível para o público surdo, sem atrapalhar as pessoas, que não
dependem dele. Estas normas gerais de bom senso e de padrão mundial valem
também ao Guia-intérprete, sendo que este tem maior liberdade quanto ao vestuário
e à posição de atuação.
57
A intenção de tornar disponíveis informações básicas em um código, voltado
prioritariamente, para quem está iniciando o exercício profissional, mas também, aos
atuantes veteranos nesta área profissional, vai ao encontro desta preocupação num
contexto mais geral de facilitador para o dia a dia.
Esperamos que a Comissão do Código de Ética possa estar presente não apenas
neste momento de sua vida profissional, mas que se torne um local de reflexão
conjunta com estratégias de construção do nosso cotidiano profissional, para que ele
seja um instrumento importante na transformação de paradigmas sociais e afim de
que rumemos para uma sociedade mais justa e solidária e mais independente.
Referências:
58
“A educação do duplo deficiente sensorial surdocego é, não só
uma ciência, não só uma arte, mas antes de tudo um ato de
amor, de dedicação ante a sociedade, perante os homens e
perante Deus, merece o nosso carinho, nossa atenção e
dedicação constante. Isto se faz necessário para que o
portador dessas deficiências não seja, como tantas vezes tem
sido, marginalizado não só dentro da sociedade, mas dentro da
própria família, como ser inútil, e incapaz de receber e de se
beneficiar de cuidados especializados, os quais tem
demonstrado sua eficácia, com resultados altamente
apreciáveis”. (Bassetto, 1977,pg.142)
59
Ainda segundo os autores as necessidades da pessoa com surdocegueira são:
Neste capítulo, abordaremos o impacto que esta nova identidade adquirida causa
em relação :
1. À própria pessoa
2. A seus familiares
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1. O Impacto da segunda perda sensorial
Ainda para autora, esses jovens com surdocegueira têm algumas emoções,
pensamentos e sentimentos comuns nessa fase:
Então o que fazer para ajudar esses jovens a sair do isolamento? Em primeiro lugar
proporcionar encontros desses jovens com outras pessoas surdocegas, jovens ou
61
adultos que já passaram por essa situação de não aceitação da deficiência e
rejeição pelo grupo e agora estão ajustadas em seu novo grupo e sua nova vida.
Eles precisam acreditar que essa nova vida é possível, e que ela pode ser de
qualidade.
Partindo desse convívio com pessoas que tem a mesma condição, encaminhá-los
aos centros que tenham programas ajustados às suas necessidades, principalmente
no que se refere ao aprendizado de um sistema de comunicação alternativo, e de
treinamento de suas habilidades para desenvolver a maior independência possível
dentro de suas limitações sensoriais, e treinamento para melhor utilização de seus
resíduos, auditivos e/ou visuais.
A família é outra parte importante dessa fase, ela também precisa de ajuda técnica
para entender as mudanças que estão ocorrendo com esse jovem e como ela pode
ajudar na independência dele, e precisa de ajuda psicológica para aceitar a nova
perda sensorial e os ajustes que essa família precisará fazer em sua rotina para
proporcionar melhor qualidade de vida a esse jovem.
Samaniego (2004), afirma que: nesse momento de vida a pessoa já adquiriu muitos
dos aspectos primordiais que o permite desenvolver-se como um sujeito adulto
integrado em nossa sociedade, e dentre o mais relevante está:
62
- estar integrado em um grupo social. No transcurso de sua vida vai
consolidando suas relações e seu pertencimento a um grupo com o qual
compartilha características em comum;
- desempenhar ou buscar uma atividade de trabalho. Nesta etapa pode
estar já integrado no mundo do trabalho, o qual lhe proporciona autonomia e
independência pessoal e econômica;
- equilíbrio pessoal e maturidade. Etapa em geral que alcança maior
estabilidade graças à maturidade;
- estabelecimento de relações emocionais estáveis ou ter formado sua
própria família;
- se desenvolve em um ambiente conhecido e controlado que favorece a
formação de planos futuros, assim como a sensação de exercer certo
controle de domínio sobre os acontecimentos que possam surgir pelas
experiências que já se tem acumulado durante esse tempo.(Ibid, p. 285)
Como ocorre na fase de adolescência a segunda perda sensorial provoca uma série
de reações e sentimentos na pessoa que passa pela não aceitação da deficiência
levando-o a uma revolta de “porque comigo?”
Quanto maior o tempo que durar esse isolamento, mais complexo fica para os
profissionais trabalharem com a pessoa com surdocegueira, porque a dificuldade é
grande para voltar a integrar-se ao ambiente, aumentando o medo do grupo de
rejeitá-los.
63
dificuldade de comunicarem-se ou pela falta de paciência, pois o pessoa com
surdocegueira muitas vezes requer uma atenção especial (na locomoção, na
interpretação do que está acontecendo no ambiente), uma pessoa dentro do grupo
tem que ser seu intérprete. Essa situação nem sempre é aceita por ambas as partes,
para o pessoa com surdocegueira é pior porque se sente humilhado por depender
de outros para atividades que antes não dependia, mesmo que a pessoa que o
ajuda tenha a maior boa vontade e esteja disposta a ajudá-lo, nem sempre é fácil ser
dependente do outro.
Segundo Kinney em Samaiego (2004), “como pessoa com surdocegueira, uma vez
passado esse tempo onde a gente mesmo aceita o porque do ocorrido, é
conveniente que se aceite a situação e que comece a resolver os problemas, a
buscar soluções para eles, sendo que é mais fácil enfrentar primeiro os menores e
com a experiência adquirida ir enfrentando os problemas maiores.” (Ibid, p. 289 )
Tudo se altera e nosso papel como profissionais é dar apoio a esta pessoa que
necessita reestruturar, replanejar seu modo de vida.
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2. Familiares
Em outras ocasiões não acreditam que a pessoa com surdocegueira será capaz de
aprender coisas novas e de adaptar-se a nova vida e ser independente novamente.
Nesses casos é de grande ajuda para essas famílias conhecerem familiares e outros
pessoa com surdocegueira que já estão adaptados à nova identidade e que seguem
com sua vida de forma independente (dentro de suas limitações) e que tem vida
social, trabalham e constituem suas próprias famílias.
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- respeitar os momentos livres: Todos na vida nos esgotamos, nos
cansamos, nos fadigamos... O guia-intérprete não é uma exceção. Pelo
contrário, o grau de fadiga de nossos colaboradores é muito alto, devido a
tensão muscular da postura e da concentração mental. É, portanto, nosso
dever e obrigação, dar-lhes seu devido descanso e permitir-lhes um
momento livre para seu relaxamento. Quando se termina uma sessão de
trabalho, o pessoa com surdocegueira deve permitir que o deixe em
companhia de outra pessoa ou em outra atividade, e oferecer-lhe o
descanso adequado a nossos guias.
- ser agradecido e recíproco: É necessário na vida ser agradecido com
aquelas pessoas que se oferecem a nós, ainda mais a nosso guia-
intérprete, profissional ou voluntário. Não interessa se remunerado ou não,
o que importa é saber que é importante que ele se sinta bem em nossa
companhia, sem diminuir-lhe o valor, nem menosprezá-lo, e muito menos
humilhá-lo. Dar-lhe o verdadeiro lugar importância que tem.
- bom-trato: Devemos tratar-lhe como um colaborador inestimável, como
um tesouro a quem se deve cuidar para não perder, como o maior de
nossos aliados, porque eles são nossos olhos e ouvidos. Devemos saber
contornar os momentos difíceis e logo expor nossa insatisfação ou nossa
preferência. Como se vê, não é nada difícil ser uma pessoa com
surdocegueira. Basta um pouco de controle de nossa parte e um grande
sentido de retidão. (Ibid, p. 3)
“O que acontece com a gente, é que, não sei dos outros, mas vou falar de mim, é
que a gente sente muita solidão, porque poucas pessoas se aproximam da gente.
Então quando a pessoa é mais afetiva, mais atenciosa com a gente, aí a gente
também se apega a ela, e às vezes, a gente não vai com má intenção, mas as
outras pessoas que estão ao redor que levam isso com má intenção. No caso da
minha monitora, foi isso que aconteceu. Na Universidade, a coordenadora do curso
estava com ciúmes da atenção e do carinho que eu tinha com a monitora, e ela
comigo. Então ela estava falando que a gente queria namorar e não sei o que, mas
não era o real, era uma aproximação de irmãos de amizade, mas por causa disso,
porque a gente não tem contato com outras pessoas, então aquela pessoa que a
gente atrai mais, que cativa mais, que dá mais atenção pra gente, a gente caí por
ela, pelo lado da afetividade, né.”
“Eu acho que ela poderia ter falado alguma coisa, porque eu gosto muito da
sinceridade. O que eu sinto muito, o que acontece com a gente é que as pessoas
não vêem a gente como pessoa, só a surdocegueira, às vezes começam a tratar a
gente como criança, eles não vem pra gente falar diretamente o que está
acontecendo, eles ficam usando outras pessoas pra falar com a gente, então isso é
uma coisa muito ruim também.”
68
Depoimento de surdocega de 37 anos:
“Eu ficava frustrada com certas coisas como, por exemplo, se precisasse ir a um
médico como ginecologista como seria se não tivesse uma mulher, eu teria que
perguntar se o guia-intérprete teria a coragem de estar comigo e foi isso que fiz.
Antes de tudo eu perguntei a um guia-intérprete masculino se teria coragem. Ele me
respondeu que sim e claro que o médico ia mandar ele sair da sala na hora do
exame e depois parei para pensar se minha comunicação fosse outra como o
médico ia se comunicar comigo, não teria outro jeito o guia-intérprete teria que estar
presente se não tivesse outra alternativa.”
Esta deficiência pode acarretar problemas de saúde mental nas pessoas com
surdocegueira e as necessidades de apoio psicológicas e inclusive psiquiátricas são
vitais, apesar de encontrarmos poucos profissionais aptos a lidar com a pessoa com
surdocegueira, principalmente porque não apresentam condições para se
comunicarem com eles, mesmo contando com o guia-intérprete para auxiliá-lo, este
tipo de contato é muito intimo e fica comprometida a atuação do profissional.
Em alguns casos encontramos pessoas com profunda depressão e sem ânimo para
superar a segunda perda sensorial, a perda da independência e autonomia, um
médico psiquiatra poderia ajudá-lo ministrando medicação condizente para sua
necessidade.
4. Resiliência
SISTEMA DE CRENÇAS
- perseverança
- aceitar o que não pode ser mudado e confrontar o que é possível, não ter
ilusões.
3 - Transcendência e Espiritualidade:
PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO
4 - Flexibilidade:
5 - Coesão:
71
- a família extensa e rede social dão assistência trazendo informações, serviços
concretos, suporte, companheirismo e repouso.
- as famílias precisam ser fortes o suficiente para aceitar que está em crise a
receber essa ajuda externa, ou até mesmo procurar a ajuda e recursos da
comunidade e de serviços especializados.
PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO
7- Clareza:
72
E porque algumas pessoas passam por essa experiência mais rápida e
conseguem recuperar-se logo, e partir para a nova vida, enquanto outros ficam
anos nesse luto, sem aceitar sua nova condição, por mais que familiares e
profissionais tentem ajudá-lo?
A resiliência pode explicar esse fenômeno, algumas pessoas têm mais recursos
internos para passar por experiências traumáticas e recuperar-se e outras não,
as pessoas resilientes, são capazes de continuar a vida, depois de um trauma e
viver essa vida de maneira natural, com qualidade, sem se lamentar pela nova
condição, sem assumir o papel de vítima, lutando por seus direitos e trabalhando
para melhorar suas condições de vida e de seus semelhantes.
Essas pessoas aceitam a surdocegueira como uma missão, como diz Ximena
Serpa, Diretora da Sense Internacional Latino América (2001), passam a ver o
lado positivo da surdocegueira, como por exemplo, Stig Ohlson e Yolanda de
Rodríguez, e cada uma das pessoas com surdocegueira líderes das associações
de seus países, que dedicam suas vidas para proporcionar aos outros uma
melhor qualidade de vida, tirando-os do isolamento.
73
Vicente in Monteiro (2001) afirma que a resiliência pode ser promovida.
Determinando três fatores que promovem resiliência:
5. Conclusão
A primeira barreira que a pessoa com surdocegueira tem que enfrentar é ele mesmo,
ou seja, aceitar a nova perda e as implicações que ela traz para sua vida. Na maioria
dos casos a pessoa com surdocegueira demora a procurar ajuda específica para
suas novas necessidades:
- segundo, porque nem sempre tem conhecimento das instituições que podem dar
apoio técnico e psicológico para sua nova condição.
Seguem alguns recursos que para Samaniego (2004) podem ajudar a pessoa com
surdocegueira a realizar os ajustes necessários para sua nova vida:
74
O trabalho do guia-intérprete é muito importante e para ser eficiente é necessário
que seja encarado com total respeito e ética, sempre lembrando que a pessoa com
surdocegueira depende dele para se comunicar com o mundo e tem o direito de ser
informado de tudo o que está acontecendo.
Referências Bibliográficas
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GIACOMINI, Lilia; MAIA, Shirley R.;ROSA, Dalva; SERPA, Ximena. Pessoa com
surdocegueira Pós-Linguístico da Série Surdocegueira e Deficiência Múltipla
Sensorial. Grupo Brasil de Apoio ao Pessoa com surdocegueira e ao Múltiplo
Deficiente Sensorial, São Paulo, 2005.
WALSH, Froma. Strengthening Family Resilience. New York: The Guilford Press,
1998.
76
"Algo é só impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário”
Albert Einstein
7. Legislação
Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,
mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no
mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e
de comunicação.
77
entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de
mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de
massa;
Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos parques e dos demais
espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los
acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Parágrafo único. As vagas a que se refere o caput deste artigo deverão ser em
número equivalente a dois por cento do total, garantida, no mínimo, uma vaga,
devidamente sinalizada e com as especificações técnicas de desenho e traçado de
acordo com as normas técnicas vigentes.
Art. 9º Os semáforos para pedestres instalados nas vias públicas deverão estar
equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem
estridência, ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientação para a
travessia de pessoas portadoras de deficiência visual, se a intensidade do fluxo de
veículos e a periculosidade da via assim determinarem.
79
CAPÍTULO IV - DA ACESSIBILIDADE NOS EDIFÍCIOS PÚBLICOS OU DE USO
COLETIVO
III – pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas
as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá cumprir os
requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e
80
CAPÍTULO V - DA ACESSIBILIDADE NOS EDIFÍCIOS DE USO PRIVADO
Art. 21. O Poder Público, por meio dos organismos de apoio à pesquisa e das
agências de financiamento, fomentará programas destinados:
Art. 25. As disposições desta Lei aplicam-se aos edifícios ou imóveis declarados
bens de interesse cultural ou de valor histórico-artístico, desde que as modificações
necessárias observem as normas específicas reguladoras destes bens.
83
Classificação Brasileira de Ocupações – Ministério do Trabalho e Emprego
Títulos
2614-05 - Filólogo
2614-10 - Intérprete
2614-15 - Lingüista
2614-20 - Tradutor
Descrição Sumária
Traduzem, na forma escrita, textos de qualquer natureza, de um idioma para
outro, considerando as variáveis culturais, bem como os aspectos terminológicos
e estilísticos, tendo em vista um público-alvo específico. Interpretam oralmente
e/ou na língua de sinais, de forma simultânea ou consecutiva, de um idioma para
outro, discursos, debates, textos, formas de comunicação eletrônica, respeitando
o respectivo contexto e as características culturais das partes. Tratam das
características e do desenvolvimento de uma cultura, representados por sua
linguagem; fazem a crítica dos textos. Prestam assessoria a clientes.
Esta família não compreende
2346 - Professores nas áreas de língua e literatura do ensino superior
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84
Decreto n°. 6949 de 25 de agosto de 2009
Artigo 24
Educação
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8. Anexos:
Malossi
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Alfabeto Lorm
http://www.feneis.com.br/page/libras_alfabeto.asp#feneis
88
Fonte: http://escoladeinclusaouff.blogspot.com/2010/11/alfabeto-braille.html
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