Você está na página 1de 56

Autismo e Escola

Breve História da Deficiência: Egito

No Antigo Egito, segundo Gurgel (2010),


há evidências de que ter alguma
deficiência não era um fator de
discriminação ou exclusão. O fator
preponderante para a participação ou
não participação era a classe social.
Imagem: Placa de calcário representando um homem com
deficiência em um ritual familiar à deusa Astarte.
Breve História da Deficiência: Grécia

Já na Grécia Antiga, a deficiência era considerada um desvio do


ideal estético da beleza, perfeição e saúde, conforme aponta
Emmel (2002). Como eram sociedades militarizadas, havia
também a ideia de que deficientes eram “inúteis” ou “subumanas”
para o Estado. Enquanto em Esparta era o Estado quem era
responsável pela eliminação de crianças deficientes, em Atenas
era o pai que decidia se a criança viveria ou morreria. Em geral
eram abandonadas em campos e morriam por falta de cuidados
ou devoradas por animais.
Breve História da Deficiência: Roma

Em Roma, crianças nascidas com alguma deficiência ou do


sexo feminino, consideradas inferiores, eram depositadas aos
pés do pai da família para decidir se ela viveria ou não. Segundo
Emmel (2002), havia o ideário de que era necessário que a
criança se tornasse um adulto saudável, trazendo orgulho para
a família.
Breve História da Deficiência: Europa Cristã no Medievo

A cristandade alterou profundamente o lugar do deficiente na


sociedade. O homem era considerado sagrado, criado à imagem e
semelhança de Deus. Assim, os deficientes passaram a ser poupados
e ter até algum tipo de assistência. O primeiro hospital para cegos,
por exemplo, foi criado na França em 1260. Instituições “de caridade”
foram criadas para dar abrigo e alimento para deficientes
abandonados.
Breve História da Deficiência: Europa Cristã no Medievo

Apesar de representar um avanço, a


deficiência era vista como “castigo
divino”, muitas vezes o deficiente era
entendido como possuído por
demônios, sendo “aconselhável o
exorcismo com flagelações para
expulsá-lo”, segundo Pessotti (1984)
Imagem: “A Extração da Pedra da Loucura”, pintado
pelo flamenco Hieronimus Bosh, em 1485.
Educação Especial

● Tem início no século XVI;


● Entrelaçamento entre a Pedagogia e Medicina - e até recentemente
essa proximidade existiu, quando falamos de Educação Especial;

Segundo Mendes (2006): “(...) médicos e pedagogos que, desafiando os


conceitos vigentes da época, acreditaram nas possibilidades de indivíduos
até então considerados ineducáveis. Centrados no aspecto pedagógico,
numa sociedade em que a educação formal era direito para poucos, esses
precursores desenvolveram seus trabalhos em bases tutoriais, sendo eles
próprios os tutores de seus pupilos.”
Pedro Ponce de Léon (1520-1584)

Um dos fundadores da educação


especial, ainda no século 16, foi o
monge beneditino espanhol Pedro
Ponce de León (1520-1584). O religioso
foi tutor de jovens nobres com
deficiência auditiva, trabalhando
principalmente a alfabetização e
desenvolveu alguns gestos para
comunicação, apesar de não
constituírem um sistema de sinais
organizado.
Séculos 17/18: Iluminismo

A partir do século XVII, culminando no século


XVIII, o pensamento iluminista - que valorizava a
ciência e a razão - e os valores burgueses foram,
novamente, transformando o lugar do deficiente
e da deficiência.

A ciência passou a explicar como a deficiência


mental se manifesta no ser humano: não mais
seria explicada como castigo divino ou
possessão demoníaca, mas como resultante de
estruturas cerebrais defeituosas ou eventos
neurais falhos, como demonstrou Thomas Willis
no livro Cerebri anatome, em 1664.
John Locke e An Essay Concerning Human Understanding

Outro pensador que colaborou para esta


ruptura de entendimento foi John Locke,
autor fundamental do liberalismo inglês.
Locke propôs em An essay concerning
human understanding, de 1694, que as
deficiências têm origem orgânica, desde as
primeiras fases do desenvolvimento
intrauterino e que dificilmente a condição
poderia ser solucionada. Contudo, Locke
também apontou que o ensino poderia
ajudar pessoas deficientes a alcançar
melhora na qualidade de vida e no
desenvolvimento de habilidades.
Instituição Escolar
A partir do ideário iluminista e todas as transformações sociais após o domínio
da classe burguesa como principal força social - após a queda do Antigo
Regime e da nobreza - não só a Educação Especial alcança um novo patamar,
mas a Educação como um todo.

A escola pública surge como instituição basilar nesta nova sociedade:


responsável por formar cidadãos comprometidos com valores pátrios e aptos
para as novas transformações socioeconômicas e para a vida urbana.

A educação passa a ser vista como um direito de todos, não um privilégio. A


escola passa a ser uma obrigação do Estado, que deve garantir acesso
gratuito e universal, garantir também a laicidade, retirando da Igreja a
supremacia do ensino.
Educação Especial

● A educação especial se torna uma preocupação e dever do Estado, a partir das


transformações no século XVIII;
● A educação de jovens com deficiência não estará restrita às classes nobres e feita
apenas através da atuação de tutores;
● São criadas instituições especializadas no ensino para jovens e crianças com
diferentes deficiências.
Marcos Históricos da Educação Especial

1799 - Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris passou a ser custeada pelo


governo. Fundada pelo abade L’Epée, o religioso é considerado fundador da
educação para surdos.

1784 - Também em Paris, foi fundado o Instituto Nacional dos Jovens Cegos. Além
de abrigar jovens e crianças deficientes visuais, tinha programas para o ensino
especial. Em 1829, um dos alunos do instituto, Louis Braille, adaptou sistema de
comunicação militar para auxiliar jovens cegos na leitura. Até hoje conhecemos esse
sistema como Braille.

1800- O médico Jean Marc Gaspard Itard aplica métodos sistematizados para
reeducar o “garoto selvagem” Victor de l’Aveyron, que fora afastado do convívio
humano e tinha deficiência mental.
Educação Especial no Brasil

Paradoxo entre inclusão/exclusão na escola: a universalização e


obrigatoriedade do ensino permitiu que o acesso à escola não fosse mais
um privilégio restrito às camadas sociais mais ricas. Contudo, a ausência de
políticas públicas que garantissem condições equitativas entre os alunos -
com enormes diferenças: origens socioeconômicas, culturais, linguísticas,
religiosas e com deficiências. Assim se observava que a escola, ao invés de
colaborar para a diminuição das desigualdades, acabava por reforçá-la.
Educação Especial no Brasil

Os alunos que não alcançavam bom rendimento escolar ou não se


adequavam à escola tradicional, eram tidos como “anormais” ou
excepcionais. Assim, passaram a ser atendidos principalmente em
instituições ou classes especiais, específicos para atendimento de
deficientes, separados dos alunos ditos “normais”, uma educação
segregadora.

Esse tipo de educação especial, fundamentava-se na concepção de


normalidade/anormalidade e principalmente na intervenção do médico no
processo de ensino. Atendimentos clínicos-terapêuticos e testes
psicométricos definiam os métodos pedagógicos aplicáveis aos alunos com
deficiência.
Brasil Império: Século XIX

● Ideais de modernidade, avanços científicos e as experiências positivas que


médicos e pedagogos tiveram com o ensino de jovens deficientes na
Europa, fomentaram a criação de instituições especializadas para o ensino
especial no Brasil.
● 1854: Fundado no Rio de Janeiro, então capital brasileira, o Imperial Instituto
dos Meninos Cegos, hoje chamado Instituto Benjamin Constant.
● 1857: Instituto Nacional de Surdos-Mudos, também no Rio de Janeiro.
Instituto Benjamin Constant
(antigo Imperial Instituto dos
Meninos Cegos). Rio de
Janeiro, 1854. Acervo
Biblioteca Nacional.
Disponível em:
http://www.bn.gov.br Acesso
em 17/08/2020.
Instituto Nacional de
Surdos-Mudos. Rio de Janeiro,
1857. Disponível em
:https://diariodecaratinga.com.b
r/. Acesso em 17/08/2020.
Brasil Republicano

Em fins do século XIX e início do século XX, o Brasil passava por profundas
mudanças. Não apenas deixamos de ser governados por uma monarquia e
adotamos o sistema republicano, mas um conjunto de novas concepções
de que tipo de sociedade deveríamos construir neste “novo” Brasil.

Essa época ficou marcada pela valorização da educação e da saúde, como


dois pilares que seriam capazes de restaurar a nação brasileira.
Institucionalização da Educação Especial

A partir da década de 1920, a educação especial assistiu a uma grande


transformação. Segundo Aranha (2005), esse período foi caracterizado “pela
retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem e pela
manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas especiais,
frequentemente situadas em localizações distantes de suas famílias.”

Estas instituições estavam fundamentadas na concepção médico-pedagógica,


nesses tipos de escolas frequentemente diretor e professores eram médicos e
as salas de aula eram anexas aos prédios dos hospitais psiquiátricos.
Segregação versus Integração

Segundo Januzzi (2004): “(...) passou a


ser estabelecida na educação da
pessoa com deficiência a questão
segregação versus integração na
prática social.”

Pavilhão Escola Bourneville era um


espaço destinado ao ensino de
crianças epilépticas na cidade do Rio
de Janeiro. As instalações eram
anexas ao Hospital dos Alienados.
Concepção Médico-Pedagógica da Educação Especial

Esse entrelaçamento entre medicina e pedagogia criou formas de avaliar


(considerar casos normais ou anormais) baseadas no grau de inteligência ou
aproveitamento escolar. Mesmo nas escolas regulares, eram feitas
inspeções acerca da saúde e da capacidade intelectual dos alunos.
Características físicas, dados antropométricos e até atenção, memória,
comportamento e iniciativa eram quantificadas em fichas avaliativas, usadas
como critérios para separar os “bons” dos “maus” escolares, segundo Mello
(2007).
Brasil pós 1960: Integração na Educação Especial

A partir da década de 1960, a Educação Especial se consolida no âmbito


da lei.

Em 1961, a LDBEN - primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, definiu


o acesso à educação como direito dos “excepcionais”, preferencialmente
no sistema geral do ensino.

Ainda que houvesse um esforço para o atendimento à educação especial,


este visava integrar e não incluir os alunos com deficiência na escola
regular.
Integração versus Inclusão

Ainda que pareça ser a mesma coisa, há uma grande diferença entre integrar e
incluir. Na perspectiva inclusiva, a escola - empresa, igreja, comunidade ou
qualquer grupo - aceita a pessoa com deficiência assim como ela é. Há uma
busca por transformação de práticas sociais e do espaço, visando garantir
acessibilidade e acolhimento à todos, independente de necessidades
específicas. Já na perspectiva integracionista, é o sujeito (a pessoa com
deficiência) que precisa se adaptar às condições sociais que são postas. O
grupo não precisa se esforçar para ser acessível a todos, mas é quem está “fora
do padrão” que precisa se adequar a “normalidade”.

Para conhecer melhor a diferença entre estes dois conceitos, leia o texto do site
Deficiente Eficiente:
https://www.deficienteciente.com.br/conheca-diferenca-conceitual-entre.html
Insucesso da Política Integracionista
Como era de se esperar, dificilmente crianças e jovens com deficiência
conseguiam se adequar à escola regular, já que não havia nenhum tipo de
mudança ou adaptação para atender às necessidades especiais

10 anos após a LDBEN, em 1971 , uma lei propôs “tratamento especial” para os
estudantes com deficiências físicas, mentais, os que se encontram em atraso
considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”.

Foi neste contexto que surgiram e ganharam força importantes instituições


especializadas no ensino e atendimento de pessoas cegas, surdas, com
deficiência física ou deficiência cognitiva Essas instituições filantrópicas
passaram a receber visibilidade e investimento, especialmente do Estado, mas
também de associações, organizações religiosas, empresas e pessoas físicas.
AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente

Fundada em 1950 pelo médico Renato da


Costa Bonfim, tinha como objetivo dar
assistência à criança com deficiência física,
buscado reabilitá-la, favorecendo a
integração na sociedade.
Associação Pestalozzi

Nessa época a instituição assistiu


à uma grande expansão. Fundada
em 1926, por iniciativa do casal
Tiago e Joana Wurth, no Rio
Grande do Sul, a Pestalozzi
passou a ter pólos em várias
cidades brasileiras a partir dos
anos 1960. A Associação atende
crianças com deficiência cognitiva.
APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

Fundada em 1973, no Rio de


Janeiro. Ao longo dos anos,
muitas outras APAEs foram
fundadas em outros municípios,
tendo presença em 1500
cidades brasileiras
atualmente.Isso torna a APAE o
maior movimento comunitário
do mundo, segundo Silva (2012).
Importância de Garantir Atendimento

Ainda que as associações especializadas sejam fundamentais para o


atendimento à pessoa com deficiência e suas famílias, compondo
junto com o Sistema Único de Saúde uma importante rede de
assistência para tratamento, prevenção e reabilitação de crianças,
jovens e adultos deficientes, não colaboram diretamente para a
inclusão de PCDs na sociedade geral. Dessa forma, a perspectiva
inclusiva na educação especial busca responder à esta demanda.
Educação Especial versus Educação Inclusiva?

Educação Especial: Modalidade de Essa forma de organizar alunos da


educação escolar oferecida Educação Especial em salas regulares,
preferencialmente na rede regular de como veremos, não foi a regra na história da
ensino, para educandos com deficiência, Educação Especial. Essa ideia é fruto da
transtornos globais do desenvolvimento e perspectiva da Educação Inclusiva, que
altas habilidades ou superdotação, de compreende que a educação, o acesso,
acordo com a LDB. É transversal à todos os permanência e qualidade de aprendizagem
níveis do ensino, o que quer dizer que são direitos de todos, independente de
abrange desde a Educação Infantil até o quem for.
Ensino Superior.
Não são a mesma coisa, mas de modo
algum são oposições.
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

Resultante de décadas de luta de movimentos sociais e educadores e no


contexto da conquista de direitos por grupos minoritários - como os
negros, mulheres e indígenas - as pessoas com deficiência alcançaram
importantes conquistas no âmbito legal nas últimas décadas.

Ainda que na prática, a realidade não coincida exatamente com as leis,


foram importantes passos na direção de uma sociedade mais justa e
inclusiva. Veremos a seguir os marcos históricos da perspectiva inclusiva na
educação especial brasileira.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

Principal documento que organiza a Educação Especial no Brasil, foi produzida em


2008 pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(MEC). Seus principais objetivos são:

● Superação da lógica de exclusão escolar;


● Combate às práticas discriminatórias;
● Transversalidade da Educação Especial em todos os níveis do ensino;
● Atendimento educacional especializado;
● Formação de professores visando à inclusão escolar;
● Participação da família e da comunidade;
● Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos
transportes, na comunicação e informação;
● Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.
Marcos Históricos e Legais na Perspectiva Inclusiva

● Lei de Diretrizes e Bases (1996): legislação que regulamenta todo o sistema educacional, seja o ensino
público ou privado, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Reitera a garantia universal do
acesso, permanência e qualidade da educação à todos, define as responsabilidades entre os entes
federativos em regime de colaboração (União, estados, municípios e Distrito Federal) e ainda garante a
Educação Especial como modalidade de educação transversal.

● Lei nº 10.436/02: reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras);

● Programa Educação Inclusiva: em 2003 o MEC lança o programa com vistas a promover transformação
dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo formação de gestores e
professores, organizando o atendimento especializado e a garantia de acessibilidade;

● Decreto n° 6571/2008: alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas


habilidades/superdotação passam a ser computados com dupla matrícula - na educação regular e no
atendimento especializado - garantindo recursos necessários para atendê-los em suas necessidades
específicas, através do FUNDEB.
Marcos Históricos e Legais na Perspectiva Inclusiva

● Constituição Federal de 1988: conhecida como a “Constituição Cidadã”, tem como um dos
objetivos fundamentais garantir a educaçã, pleno desenvolvimento da pessoa, exercício da
cidadania e a qualificação para o trabalho para todos. Reiterando como dever do Estado “o
atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino” (art.
208).

● Estatuto da Criança e do Adolescente (1990): a lei nº 8.069/90, reforça o dever de pais e


responsáveis de matricular filhos e dependentes, em idade escolar, na rede regular de ensino.

● Declaração de Salamanca (1994): documento produzido após a Conferência Mundial de


Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, promovida pela UNESCO. A
Declaração, de que o Brasil é signatário, reconhece que “toda criança possui características,
interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas”, que os sistemas
educacionais devem valorizar a diversidade e levar em conta necessidades específicas. Além
de entender que a perspectiva inclusiva é o meio mais eficaz para combater a discriminação e
construir uma sociedade mais justa.
Marcos Históricos e Legais na Perspectiva Inclusiva

● Lei 13.146/2015: conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, a legislação é “destinada a
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. Essa lei é
abrangente, abordando desde o direito à saúde, atendimento prioritário, direito ao trabalho, ao
transporte e mobilidade, educação e muito mais. Pensando na educação, por exemplo, garante
acesso à profissional de apoio escolar ou acompanhante para auxílio de atividades de alimentação,
higiene e locomoção dos estudantes com deficiência no espaço escolar - em todos os níveis de
ensino, seja a instituição pública ou privada, adaptação curricular e material didático, além do apoio no
contraturno escolar, o Atendimento Educacional Especializado - desenvolvido de forma
individualizada, em sala de recurso por professor especialista.

● Lei 12.764/2012:conhecida como “Lei Berenice Piana”, uma de suas proponentes, institui a Política
Nacional de Proteção aos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A lei reconhece o
autista como pessoa com deficiência e estende as garantias dos direitos da pessoa com deficiência
para o autista, como atendimento prioritário, direito à assistência e previdência social, direito ao
diagnóstico precoce e atendimento terapêutico adequado, etc.
Desafios da Escola Inclusiva

A Educação Inclusiva parte das necessidades e especificidades de um sujeito real,


que será centro do processo ensino-aprendizagem, que tem como fim o
desenvolvimento de potencialidades e da autonomia, seja na escola regular ou
especial. Antes de tudo, é necessário acreditar na capacidade de aprendizagem e
desenvolvimento da pessoa com deficiência.
Qual Melhor Escola para meu Filho Autista?

Não há uma solução padronizada e universal para todos os alunos com


necessidades educacionais especiais. A escolha entre escola regular ou
especial dependerá da observação de equipe multiprofissional sobre o caso
específico da PCD e também da família, sobre qual será a opção mais adequada
para a criança ou jovem.

No caso do autismo, na maioria dos casos, a indicação é que a criança


frequente a escola regular, a não ser em quadros mais severos e quando há
deficiência intelectual associada.
Adaptações Ambientais: Acolhimento e Inclusão

Na maioria dos casos de alunos autistas é possível - e preferível - que a criança


frequente a escola regular e realize as mesmas atividades que os colegas da turma.

Caso seja necessário, adaptações devem ser feitas visando atender as necessidades
específicas da criança, como por exemplo, modificações no espaço da sala de aula,
mobiliário ou estratégias de previsibilidade da rotina. Como sabemos, pessoas
autistas podem ter dificuldades no processamento de estímulos ambientais (luz,
barulhos, excesso de informações visuais), então é possível adaptar o ambiente da
sala de aula deixando-a mais acessível e acolhedora ao autista. Assim, é preciso
conhecer as especificidades do perfil sensorial daquele aluno em específico para
que a adaptação seja efetiva.

Como vimos, o Espectro é amplo, variado e nenhum autista é igual ao outro, assim
não é possível generalizar, não há receita pronta para a inclusão.
Adaptações que Mantenham a Aprendizagem Desafiadora

Adaptações são fundamentais para a escola inclusiva e são direitos assegurados por
lei para alunos com necessidades especiais. As adaptações podem ocorrer no
âmbito do currículo, dos materiais didáticos utilizados, da organização do mobiliário e
do desenho arquitetônico predial, da rotina escolar, do apoio para realização de
atividades de cuidados, alimentação e higiene, etc.

Contudo as adaptações não devem de maneira alguma esvaziar o desafio que é a


aprendizagem. Como vimos quando estudamos a teoria de Piaget, é numa situação
de desconcerto, do desequilíbrio. A criança precisa ser desafiada, precisa entrar num
conflito interno para construir novos conhecimentos.

Era muito comum - e infelizmente ainda é - que alunos com necessidades especiais
em salas regulares, sejam deixados de lado fazendo atividades sem nenhuma
proposta pedagógica. Uma escola inclusiva não garante apenas a convivência na
sala regular, mas o direito à aprendizagem de qualidade.
Garantir Espaços de Formação e Difusão de Informação

Parcerias entre as Secretarias Municipais de Educação e as equipes gestoras


das escolas é de fundamental importância para promoção de espaços
formativos e oportunidades de capacitação para os educadores. Cursos,
palestras, rodas de debate são importantes para a difusão e capacitação sobre
diversidade, inclusão, sobre deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades.

Onde houver um aluno com necessidades especiais, será necessário garantir


que não apenas os professores, mas toda a equipe educadora - monitores,
pessoal administrativo, equipe de limpeza - saibam como atender e
compreender os alunos com necessidades especiais.
Estudo de Caso: Escola Helena Zanfelici

https://diversa.org.br/estudos-de-caso/o-caso-da-escola-helena-zanfelici-sao-bernardo-do-campo-sao-paulo-brasil/
Estratégias Práticas para Inclusão na Sala de Aula

Adaptações em sala de aula não são novidades para os professores. Ainda que
trabalhar com alunos com necessidades especiais representam um desafio, o
fazer docente nos mostra que, todos os dias, precisamos adaptar o que foi
planejado para que funcione naquela turma em específico. Cada grupo de
alunos e cada aluno é único, tem suas experiências, tempo para aprender,
dificuldades e facilidades.
Alunos autistas ou com outras condições não são diferentes. E ainda que não
haja uma “receita” pronta para ser aplicada, a experiência de escolas ou
professores comprometidos com a educação inclusiva pode servir de modelo
para inventarmos ou reinventarmos nossa atuação na sala de aula (em casa ou
no consultório), vejamos algumas sugestões:
1. Quadro de Rotinas

Uma estratégia que pode auxiliar na adequação à


rotina escolar é permitir que o aluno autista tenha
uma previsão do que ele fará ao longo do dia.
Pessoas no TEA tem forte apego às rotinas e na
uniformidade, assim, criar estratégias para que o
autista saiba o que ele fará, permite que ele se
organize mentalmente, evitando a ansiedade. Uma
boa estratégia é a confecção de um quadro de
rotinas, indicando o horário e a atividade a ser
realizada, de preferência usando linguagem visual,
para melhor compreensão. Essa estratégia funciona
muito bem para alunos neuroatípicos e
neurotípicos, principalmente na Educação Infantil.
Usar Interesse do Aluno

Muitos autistas desenvolvem interesses específicos e


restritos (hiperfoco), tornando-se especialistas em
determinado temas (carros, trens, dinossauros, filmes,
qualquer coisa). Valorizar estes interesse e
conhecimentos, utilizando-os como incentivadores do
processo de aprendizagem é uma boa estratégia para
engajar, manter a concentração e desenvolver o prazer
por aprender. No livro O Cérebro Autista, Temple Grandin
faz um apelo direcionado aos pais e professores de
autistas: de que não foquem apenas nos déficits, mas que
enxerguem e utilizem seus interesses como ferramentas
para melhorar a aprendizagem, autonomia e a qualidade
de vida do autista.
Engajar o Autista na Sala de Aula

As dificuldades de socialização e
comunicação existentes no TEA não
impedem que a criança se sinta acolhida
e inserida na turma se utilizarmos formas
de engajá-lo no dia a dia da escola.
Podemos, por exemplo, solicitar à criança
que seja o “ajudante do dia”, entregando
materiais ou folhas de atividades. Usar
elogios e reforçadores (pequenas
recompensas, carimbos, figurinhas) para
incentivar a participação nas aulas.
Ter Regras Claras

Alguns autistas podem ter dificuldades em


entender e obedecer regras sociais, para se
adequar ao modo como funcionam as coisas
e como ele deve agir em um lugar específico.
Confeccionar um painel ou quadro reunindo
estas principais regras de convivência (por
exemplo, esperar a vez de cada um brincar
ou falar, compartilhar material escolar) pode
auxiliar o aluno autista a compreender com
algo concreto (painel ou quadro) um conjunto
de regras abstratas. Usar frases e/ou
recursos visuais são preferíveis.
Desenvolver Atividades de Contação de Histórias ou Leituras sobre Diversidade

Contar histórias é uma ferramenta fundamental na aprendizagem na educação


infantil, desenvolve a capacidade imaginativa, aguça a curiosidade e enriquece
o vocabulário. No Ensino Fundamental, a alfabetização e a competência leitora
são base aprender qualquer ciência, para a efetiva participação cidadã e para o
sucesso escolar/acadêmico.

Por que não usar livros de temáticas de valorização à diversidade, inclusive


sobre as deficiências? Essa escolha pode contribuir para desconstruir
preconceitos e discriminação
Meu Amigo Faz iii

Escrito por Andrea Werner, “Meu Amigo Faz iii”


traz a história de amizade entre Nil, um garotinho
autista que ainda não sabe falar, mas está
aprendendo, e Bia, sua amiga que está
aprendendo a se comunicar e desvendar o que o
Nil quer dizer. É da Editora CR8.
FLICTS

FLICTS é um clássico da literatura


infantil, escrito em 1969 por Ziraldo,
mesmo autor de O Menino Maluquinho.
FLICTS é uma cor estranha, que não
consegue encontrar seu lugar no arco-
íris e nada que seja “flicts” na Terra, mas
acaba descobrindo que a lua é “flicts”.
Essa história é uma alegoria a
autoaceitação e a aceitação do
diferente, do “fora do padrão”.
Eugênia e os Robôs

Eugênia é uma garota de 11 anos que é mais


inteligente que Einstein e Da Vinci juntos. Na
escola, Eugênia não tem amigos. Acha muito
difícil entender as reações das pessoas e a forma
como se comportam; acha-as incompreensíveis.
Eugênia decide, então, construir amigos robôs,
com quem brinca e se diverte muito. A menina
decide transformar todos os humanos em robôs,
será que vai dar certo?
O livro, escrito por Janaína Tokitaka, propõe
reflexão sobre o que ser diferente, sobre bulliyng,
isolamento, aceitação e autoaceitação,
diversidade e até tecnologia. Foi publicado pela
Editora Rocco.
A Escova de Dentes Azul

Este livro escrito por Marcos Mion é


baseado na experiência com seu filho
Romeo. O menino e seus irmãos,
Stefano e Donatella, organizaram uma
lista de desejos para o Papai Noel.
Enquanto os irmãos pediram
brinquedos modernos e presentes
caros, Romeo só queria uma escova de
dentes azul. “A escova de dentes azul”
foi publicado pela Panda Books.
O Menino Só

Escrito por Andrea Viviana, “O Menino Só” é


um livro que aborda o Autismo em versos
traz informação e reflexão sobre a condição
que atinge mais de 2 milhões de “meninos e
meninas sós” no Brasil. O livro traz belas
ilustrações e pictogramas para facilitar a
compreensão do Transtorno do Espectro
Autista. Foi publicado pela Editora Escrita
Fina, em 2015.
Um Por Todos, Todos Por Um

Um Por Todos e Todos Por Um é um livro


escrito pela autora austríaca Brigitte
Weninger. A história mostra como cada
um tem habilidades e talentos especiais,
mesmo que não sejam bons em outras
coisas. Assim, o trabalho conjunto pode
nos fazer muito mais fortes, pois cada um
tem sua própria força especial. Foi
publicado pela Editora Ciranda Cultural,
2005.
Referências Bibliográficas
MENDES, E.G. Colaboração entre Ensino Regular e Especial: o caminho para o desenvolvimento pessoal para a inclusão escolar. In:
MANZINI, E. J. (Org.) Inclusão e Acessibilidade. Marília: ABPEE, 2006.

CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com Pingos nos Is. Porto Alegre: Mediação, 2005.

GAIATO, Mayra. SOS Autismo: Guia Completo para entender o Transtorno do Espectro Autista. São Paulo: nVersos, 2018.

GRANDIN, Temple; PANEK, Richard; tradução Cristina Cavalcanti. O Cérebro Autista: Pensando Através do Espectro. 9° edição. Rio de
Janeiro: Record, 2018.

MANTOAN, Maria Teresa Égler. A Integração de Pessoas com Deficiência: Contribuições para Reflexão sobre o Tema. São Paulo:
Memnon, 1997.

MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2008.

SILVA, Aline Maria. Educação Especial e Inclusão Escolar: História e Fundamentos. Curitiba: Intersaberes, 2012.

Você também pode gostar