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DEFICIÊNCIA
01. INTRODUÇÃO
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Para maiores informações sobre o selvagem de Aveyron e o trabalho de Itarde, consultar BANSK-LEITE, L. A
educação de um selvagem: as experiências pedagógicas de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000.
Fundamentos da Educação Especial e Inclusiva.
Belo Horizonte: CAED/UFMG, 2018.
hospitais psiquiátricos, junto como os adultos. Nesses lugares, eram depositados todos os
que se encontravam à margem da sociedade.
A especificidade da infância, como um momento da vida diferente da fase adulta, provoca
a necessidade de se pensar na criação de lugares específicos para o tratamento das crianças
com deficiência.
Mendes (2010) afirma que, no Brasil, no início do século 20, os médicos - primeiros a
estudar os casos mais graves de criança com deficiência - criaram instituições para crianças
junto a sanatórios psiquiátricos. Em 1900, no 4º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia,
Carlos Eiras apresentou sua monografia “A Educação e Tratamento Médico-Pedagógico dos
Idiotas”, defendendo a necessidade pedagógica dos deficientes intelectuais.
Em 1922, foi realizado o I Congresso Brasileiro de Proteção à Infância. Em 1924, foi
aprovada pela Liga das Nações, em Genebra/Suíça, a primeira declaração internacional de
direitos da criança. Esse documento preconizava proteção à infância, em especial às crianças
abandonadas ou com necessidades de cuidados especiais como obrigação dos estados-
membros.
As instituições de tratamento e educação para crianças anormais, com forte influência do
movimento higienista2, vão surgindo nesse contexto. Em um primeiro momento, como já dito,
as iniciativas para o tratamento e a educação das crianças anormais ficaram sob a
responsabilidade dos médicos. O Pavihão Bourneville (inaugurado em 1903 no Rio de
Janeiro) e o pavilhão anexo ao Juqueri (inagurado em 1921 em São Paulo) foram as primeiras
tentativas para se oferecer um tratamento diferenciado às crianças anormais (até então
misturadas como os adultos nos hospitais psiquiátricos). Além do tratamento médico, a
educação também começava a ser vista com algo importante para as crianças anormais.
Uma figura relevante no cenário nacional para o tratamento das crianças anormais foi o
médico recifense Ulisses Pernambuco de Mello Sobrinho. Em 1925, ele criou o Instituto de
Psicologia de Pernambuco, cujo trabalho seria semelhante ao desenvolvido por Helena
Antipoff em Minas Gerais que, em 1929, organizou uma das primeiras equipes
multidisciplinares de que se tem notícia, com pedagogos, médicos e psicólogos para trabalhar
com crianças deficientes.
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O movimento higienista, na transição do século XIX para o século XX, com o avanço de vários campos da
medicina, inclusive o de bacteriologia, almejou aplicar medidas profiláticas para prevenção de doenças como
varíola, tuberculose, e também problemas como insanidade e criminalidade. Vinculava-se à necessidade de
mudanças de hábitos relativos ao trato do corpo e dos espaços. No Brasil, Borges (2014, p.57), citando Faria e
Veiga (1999), afirma que o movimento higienista não tinha como objetivo eliminar pessoas “mais desfavorecidas
geneticamente, mas pretendia estabelecer lugares específicos para reformá-las.”
Fundamentos da Educação Especial e Inclusiva.
Belo Horizonte: CAED/UFMG, 2018.
Minas Gerais, a princípio, contava com o mesmo tipo de condutas, presentes em outros
estados: internação em hospitais psiquiátricos e a falta de oferta de tratamento ou educação
para as crianças nomeadas no período como deficientes.
Para essas crianças, até o ano de 1932 com a criação da Sociedade Pestalozzi de Minas
Gerais por Helena Antipoff, havia somente o Instituto São Rafael, criado em 1926, que atendia
a cegos e surdos. Não havia instituições para atender a outras deficiências.
De acordo com Jannuzzi (2004), Antipoff fundou instituição de ensino especializado, e,
junto com profissionais especializados do Instituto Pestalozzi, organizou oficinas de trabalho,
sempre enfatizando o uso de métodos e técnicas de ensino. Seu trabalho tinha como foco
aqueles que eram considerados deficientes mentais, embora tenha desenvolvido um trabalho
com os alunos mais talentosos.
O acesso à educação pelos deficientes era uma raridade em todo o país. De acordo com
Borges (2014), a partir de Alvim (1967), em Minas Gerais não havia trabalhos com essas
crianças até o ano de 1931. Nesse ano, são estabelecidas as classes especiais, previstas
pelo Regulamento de Ensino Primário do estado de MG, que permitiram o acesso das crianças
com deficiência ao sistema educacional. Este é um marco importante da Educação Especial.
Em Minas, foi fundamental a participação de Helena Antipoff em todo o processo,
assessorando as escolas e aplicando os testes de inteligência, exigência do período.
Essas crianças, nomeadas como difíceis, anormais, retardadas e, mais tarde,
excepcionais, não possuíam lugar. A categoria “criança anormal” englobava uma
multiplicidade de casos: de criança teimosa a abandonada.
Em 1927, em Minas Gerais, o decreto governamental 7680, através do Regulamento da
Assistência e Proteção a Menores Abandonados, afirmava que eram
Segundo Mendes (2010), refletir sobre as perspectivas para a educação especial é pensar
que, para uma estimativa de cerca de seis milhões de crianças e jovens com necessidades
Aponta que, além da falta de acesso para grande parte desse alunado, aqueles que
chegam a algum tipo de escola não tem garantido o direito a uma educação apropriada, uma
vez que faltam recursos e profissionais habilitados.
Serviços que envolvem segregação, descaso do poder público em relação ao direito à
educação especial, tendência à privatização, lenta evolução na oferta de vagas destinadas a
crianças e jovens com necessidades especiais são alguns dos problemas elencados por
Mendes (2010).
Vivendo em uma sociedade na qual os discursos neoliberais perpassam vários setores,
inclusive o educacional, ampliar os direitos à educação especial para crianças e jovens,
através de políticas públicas que realmente garantam a inclusão, é um dos grandes desafios
do nosso tempo.