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Igreja Inclusiva: em busca de caminhos: novos, velhos, re-


feitos, re-formulados...
Sandra Kamien Tehzy

Ao olharmos para a história da humanidade em sua relação com as pessoas


com deficiência, percebemos que a compreensão, a preocupação e o tratamento dados
a estas pessoas são diferentes em culturas e épocas. Por exemplo, o sacrifício de
bebês que nascem com deficiência (e também gêmeos) que são enterrados vivos, é
encarado com naturalidade, conforme relato do cacique Jakalo, da tribo Kuikuro:

[...] é costume [...] nasce dois criança gêmea, ninguém tem dó [...] num gosta [...]
se já nasce uma [...] criança [pausa] tem festa, tudo bem [...] tem festa [...] é
costume nosso, num tem pouco tempo [...] muitos ano que faz isso [...] Ninguém
aceita dois gêmea nem criança com pobrema [...] é um coitado que nasceu [...]
nasceu assim com pobrema [...] a gente sente também [...] coitado [...] ele ta com
1
problema [...]

Relacionar-se com pessoas com deficiência sempre foi um desafio. São


evidentes na história as dificuldades e limitações no lidar e falar claramente sobre o
assunto. E apesar dos avanços das ciências e da sociedade na compreensão e no
conhecimento das deficiências e suas causas, ainda nos deparamos com grandes
dificuldades de aceitação da deficiência como uma realidade humana e,
conseqüentemente, dificuldade em aceitar e relacionar-se com as pessoas com
deficiência. “É visível que o conhecimento sobre deficiência não confere nem traduz a
habilidade e destreza em lidar com essas pessoas.”2
A atual discussão em torno da educação especial (escola inclusiva) gerada pela
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional número 9394/96, “joga” para
dentro da sociedade a “diferença das pessoas com necessidades educacionais
especiais”, que estavam antes confinadas dentro das instituições especializadas,
evidenciando tanto um sistema político-educacional-social excludente quanto a
valorização humana baseada na produção e no consumo.
Quando confrontados com a diferença é que nos damos conta de que não
sabemos e muitas vezes não queremos nos relacionar e integrar com ela. Isso porque,

1
Kuikuro é uma das dezesseis aldeias do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, fundada em 1916. cf.
FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação inclusiva. Rio de Janeiro: DP&A, 2003,
p.67.
2
FERREIRA; GUIMARÃES, 2003, p.51
2

[...] a diferença altera a serenidade ou a tranqüilidade dos demais, nada há de tão


perturbador como aquilo que a cada um lembra seus próprios defeitos, suas
próprias limitações, suas próprias mortes; é por isso que as crianças e os jovens
perturbam os adultos; as mulheres, os homens; os fracos, os fortes; os pobres,
os ricos; os deficientes, os eficientes; os loucos, os cordatos; os estranhos, os
3
nativos [...] e, talvez, vice-versa.

Falar em inclusão é um convite a re-ver e re-pensar nossos conceitos de


identidade, diferença, diversidade e deficiência. Precisamos resistir ao ímpeto de diluir a
diferença na deficiência, buscando normalizá-la, disfarçá-la ou apagá-la, como algo
indesejável que deve ser corrigido e/ou tolerado.
A reflexão sobre inclusão pode revelar incoerências em nossas falas e
descaminhos em nossas propostas, mas também possibilidades de refletir sobre
nossas inter-relações humanas e, repensar nossas práticas sociais, educacionais ou
eclesiais, visando transformá-las ou resignificá-las. Ou pelo menos, a oportunidade de
desconstruir “verdades”.
A deficiência não é a única diferença que precisa ser incluída. Há muitas
pessoas e grupos “fora”, socialmente excluídos , aos quais é negado o direito de ser e
estar, que nem mesmo contam, ou são contados como cidadãos. A deficiência é uma
das diferenças que constituem os sujeitos com deficiência. Mas, ela não é a única
diferença do indivíduo com deficiência, a pessoa com deficiência não é a sua
deficiência.
Neste sentido, inclusão não pode se resumir a um caminho, mas a muitos, não
ao ponto final deles, mas a inícios, não a velhas estradas, mas a novos caminhos,
caminhos re-feitos e que serão re-formulados a cada nova pergunta, a cada novo
questionamento. Portanto, a inclusão não pode se resumir a acolhimento, integração ou
cidadania. Não que não sejam importantes, mas inclusão é mais... precisa ir além de
definições, precisa possibilitar não só iguais condições de acesso às pessoas com
deficiência, mas também iguais condições de participação nos diferentes âmbitos
sociais. É ter garantida a possibilidade de desenvolver-se e reconhecer-se como sujeito,
é ter sua dignidade respeitada e reconhecida, independente de ser criança, negro,
mulher, pobre, ou com deficiência.4

3
FERRÉ, Núria Pérez de Lara. Identidade, diferença e diversidade: manter viva a pergunta. In: LARROSA,
Jorge; SKLIAR, Carlos. Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica,
2001, p.198
4
LOPES, Maura Corcini. Inclusão escolar: Diversidade, diferença e processos identitários. In: Anais do V
Simpósio Nacional de Educação: diversidade na educação – diálogos possíveis. Evandro PREUSS, et. al.
Frederico Westphalen: URI, 2006, p.25-29.
3

E, muitas vezes são as falas, a forma como nos referimos às pessoas com
deficiência, que evidenciam as nossas reais concepções de sujeito, revelando nossos
pré-conceitos, parâmetros, padrões pelos quais avaliamos e decidimos o valor, a
capacidade e a dignidade das pessoas. Nossas palavras muitas vezes nos traem e
traem nossos discursos “pseudo-inclusivos”. Ou melhor, revelam. Revelam a
necessidade urgente de rever nossa compreensão de inclusão, além da transformação
de nossos conceitos e pré-conceitos, padrões, valores, saberes e vivências.
Ele não aprende a ler e a escrever, mas conversa, brinca com as outras
crianças... (professor de escola, 1ª série, 2000).
A universidade, desde a sua criação, é feita para pessoas normais (professor de
universidade, 2006).
Os professores no geral, não estão preparados para receber pessoas deficientes.
(professora de escola, 2006).
Não consigo imaginar viver uma situação dessas. Imagina ter um cego ou um
surdo na turma. Se continuar assim, até deficiente mental vai entrar na
universidade. (professora universitária, 2006).
Ela se dá bem com todos. Os outros até ajudam ela a copiar, emprestando
material... Ela tira xerox. Ela só não gosta daquele negrinho na frente dela.
5
Brigam o tempo todo enquanto estão perto. (professora de escola 1998).

Talvez o início deste re-pensar esteja em nossa compreensão de ser humano e


sua dignidade como tal. Somos seres humanos falíveis, inacabados, frágeis e
incompletos e nos constituímos como sujeitos nas nossas inter-relações com outros
sujeitos e com o mundo. Biblicamente a dignidade humana do indivíduo, com ou sem
deficiência, provém deste ser imagem e semelhança de Deus, independentemente de
qualquer qualidade, aparência, diferenças sociais ou culturais, funcionalidade,
produtividade, etc.6 É neste contexto que somos chamados a ser igreja, comunidade de
sujeitos diferentes, que se relacionam entre si e nesta relação buscam “ser”. É diante da
diversidade e através dela, com seus conflitos, diferenças, alegrias, desafios,
esperanças, que precisamos re-fletir e re-visar constantemente nossas práticas
comunitárias.
Inclusão não é opção da igreja ou uma tarefa desempenhada na Semana da
pessoa com deficiência, mas faz parte do “ser igreja”. Por isso, cabe a ela propiciar um
lugar de orientação, acolhimento, apoio, fortalecimento e integração da pessoa com
deficiência na vida comunitária, expresso em atividades e espaços, onde a inclusão não
esteja apenas no discurso, mas seja concreta na reflexão transformadora das práticas.

5
LOPES, 2006, p.31,33.
6
BRAKEMEIER, Gottfried. O Ser humano em busca de identidade. São Leopoldo: Sinodal, São Paulo:
Paulus, 2002, p.9-48
4

Por diversas vezes no trabalho pastoral somos confrontados com situações


concretas que nos desafiam e nos fazem pensar sobre a prática desenvolvida em
nossas comunidades. Apontam, também, para a possibilidade de contribuir enquanto
igreja, para re-formular conceitos e pré-conceitos em relação à deficiência, reforçados
ou construídos erroneamente muitas vezes a partir de discursos religiosos. Diante
disso, muitos desafios nos são colocados, por exemplo:
• Uma mãe de um filho com deficiência, que pela idade deixará de obter
acesso a aprendizagem dentro de uma determinada instituição de uma
cidade próxima, busca junto ao obreiro, após um culto em que a oferta
era destinada ao trabalho com pessoas com deficiência, uma
possibilidade de continuar o processo educativo de seu filho através da
Igreja ou entidade ligada a ela, pois este ensino é oferecido somente na
capital.
• Pais que procuram o pastor para inserir seu filho com deficiência mental
grave no ensino confirmatório. Este obreiro apesar da boa vontade em
“integrá-lo”, depara-se com a falta de preparo didático, pedagógico e
vivencial e com a falta de integração com outros confirmandos, já que
até este momento, tanto a família como o jovem não participavam da
vida comunitária.
• Pais que escondem seu filho do convívio social e comunitário, motivados
por compreensões errôneas e estereótipos estabelecidos a respeito da
deficiência. Sentindo-se sozinhos e culpados (deficiência = castigo de
Deus), excluem-se assim da possibilidade de integração e inclusão na
comunidade.
• A não participação da família da pessoa com de deficiência na
comunidade, deve-se muitas vezes à sobrecarga que a deficiência traz
para dentro da vida familiar como um todo. Por exemplo: a necessidade
constante de cuidados para com a pessoa com deficiência faz com que
a família não tenha tempo e até ânimo para lazer, cuidados pessoais,
inserção na comunidade eclesial e social. Isto se reflete em crises
pessoais, de fé e de relacionamentos com outras pessoas da família, até
mesmo entre o casal. Muitas vezes, a vontade de participação esbarra
na falta de outra pessoa que possa cuidar do familiar em seu lugar.
5

• Encontramos pessoas dentro de nossas comunidades dispostas a doar


seu tempo, conhecimento e dons junto às pessoas com deficiência, que
precisam ser canalizadas (como? onde?) para uma contribuição efetiva.
Inclusão não é automática, precisa ser assimilada e assumida como forma de
pensar e planejar o trabalho comunitário. Precisa ser aprendida! E aprender “significa
construir experiências de aprendizagem”.7 Precisa ser ensinada como testemunho do
Evangelho de Cristo, para que vá além da remoção de barreiras arquitetônicas. A
inclusão precisa sair do saber, passar ao saber-fazer e transformar-se no saber-ser.
Neste sentido, é fundamental compreendermos que ensinamos com nossas
palavras, gestos, corpo, espírito. A reflexão sobre, da e para a nossa prática educativa
deve despertar em nós e a partir de nós a vontade, o desejo de seguir refletindo, re-
formulando, re-vendo, re-pensando e renovando. Falo em prática educativa, não como
educadora, pois não teria essa pretensão, mas como pastora, buscando olhar o
“educativo” presente no trabalho pastoral. Pois, “ser educador é, nesse sentido,
essencialmente ajudar cada homem e mulher a se encontrar com sua vocação. O
educador usa as palavras para fazer nascer mundos e criar projetos.”8
Compreendo a práxis educativa como toda reflexão do trabalho, métodos,
momentos, pessoas, onde há troca de conhecimento, constantemente refletido e re-
elaborado em diálogo com outros saberes, visando um melhor e maior crescimento e
aprofundamento da mensagem do Evangelho, que é de transformação pessoal,
comunitária e social.
Neste sentido, precisamos transformar diariamente as comunidades em um lugar
de comunhão, aberto e acessível a todas as pessoas. Um lugar de hospitalidade,
igualdade, respeito, formado por pessoas com dons diferentes que se complementam,
o “corpo de Cristo” (1 Coríntios 12. 12ss), onde todos são indispensáveis e têm seu
lugar e função (Rm 12.4s). Precisamos mudar nossa tendência de olhar e considerar as
pessoas com deficiência como “fracas” e que carecem de nossa piedade e nosso
cuidado.
As pessoas com ou sem deficiência existem como indivíduos, sujeitos e como
tais devem ter sua individualidade respeitada. Isto requer da igreja enquanto instituição,
obreiros, obreiras e lideranças, disposição para compreendê-las em suas

7
ASSMANN, 2003, p.293.
8
STRECK, Danilo. Educação para um novo contrato social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p.134.
6

particularidades e pessoalidades. Valorizá-las em seus dons e possibilidades. Ter


sensibilidade e discernimento é fundamental na construção deste processo relacional.
Compreensão e sensibilidade têm sido apontadas como essenciais nas
relações de inter-dependência dos seres humanos. Segundo Edgar Morin9, “a
compreensão de nossas fraquezas ou faltas é a via para a compreensão das do outro.
Se descobrirmos que somos todos seres falíveis, frágeis, insuficientes, carentes, então
podemos descobrir que todos necessitamos de mútua compreensão.”10 E segundo
Hugo Assmann:

A sensibilidade solidária é uma forma de conhecer o mundo que nasce do


encontro e do reconhecimento da dignidade humana dos que estão “dentro-e-
fora” do sistema social; um conhecimento marcado pela afetividade, empatia e
compaixão (sentir na sua pele a dor do/a outro/a). Por isso mesmo, é um
conhecimento e uma sensibilidade que estão comprometidos, que vivem a
relação de interdependência e mútuo reconhecimento de um modo existencial,
11
visceral, e não somente intelectual.

A compreensão e a sensibilidade em relação às pessoas com deficiência


podem e devem concretizar-se nas comunidades na comodidade física como
iluminação, sistema de som, bíblias e hinos impressos com letra grande, assentos
apropriados que permitem acesso a todos, rampas e corrimões, banheiros adaptados,
tolerância com aquelas pessoas que necessitem ficar de pé, movimentar-se, falar em
voz alta, emitindo sons. Também nossas palavras, reflexões, metáforas e liturgias,
podem refletir a inclusão.
Aprender ser uma igreja inclusiva é buscar construir espaços que fomentem e
oportunizem às pessoas com deficiência colocarem seus dons a serviço do Evangelho
também em cargos de liderança, como todos os “membros do corpo de Cristo”. “Toda
criança e todo adulto, com ou sem deficiência, contribuirá com dons e talentos
específicos e especiais para a Igreja. Esse é o desafio lançado a todos nós.”12
Saber-ser uma igreja inclusiva é uma busca constante de construção e
descoberta de novos caminhos, novos desafios, novos aprendizados, descobertas de
novos papéis, novas verdades provisórias e incompletas, novas esperanças...

9
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários á educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco,
2005, p.99-104.
10
MORIN, 2005, p.100.
11
ASSMANN, Hugo; MO SUNG, Jung. Competência e sensibilidade solidária. Educar para a esperança.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p.134.
12
CONSELHO MUNDIAL DE IGREJA. Uma igreja de todos e para todos. Uma declaração teológica
provisória. São Paulo: Aste. 2005, p.31.
7

Acredito que num destes pequenos, ingênuos e sonhadores diálogos entre a


pedagogia e a teologia, quem sabe, conseguiremos descobrir a “localização de algumas
pedras e andar sobre as águas”. Quem sabe este andar seja os primeiros e pequenos
passos em busca de uma “igreja inclusiva” ou melhor, igreja.

[...] a pedagogia de um novo contrato social provavelmente será formulada


numa linguagem polifônica, pelo reconhecimento da complexidade do ensinar
e do aprender que, como parte da vida, estão constantemente rompendo
13
enquadramentos e atravessando fronteiras.

Qual o nosso papel é uma pergunta inquietadora. Qual o nosso papel diante de
um jovem de 11 anos que já se “con-formou” com a situação vigente e não tem mais
esperança, chegando à conclusão de que nada pode ser mudado, e tudo vai piorar,
porque para o progresso é necessário destruir a natureza. “Deus criou o ser humano,
ele sabia que ia ser assim...” Qual é o nosso papel ou melhor os nossos papéis diante
de uma sociedade que se acostumou à exclusão? Qual é papel enquanto igreja, escola,
cidadão, cristão? Será que temos um? Coerência humana?! Ela existe? Não sei...
conhecemos mais a incoerência... Diz uma música da Legião Urbana: “Vamos celebrar
a estupidez humana...” ou não será estupidez humana, termos que falar em humanizar
o ser humano? Hugo Assmann nos fala que “os seres humanos não são ‘naturalmente’
tão solidários quanto parecem supor nossos sonhos de uma sociedade justa e
fraternal”14. Podemos incluir nesta lista, além da solidariedade, a tolerância, o respeito,
a inclusão, a dignidade humana, o valor da vida e assim por diante. Por que é tão difícil
vivermos esses valores, que todos nós tanto defendemos como necessários e
essenciais para nossa vida em sociedade? Como colocar em prática aquilo que já
sabemos ser necessário fazer?
Talvez nossa busca por respostas deva iniciar pela pergunta sobre nós mesmos.
Ao olharmos nossa própria história, que é plural, relacional, cultural, imperfeita,
incompleta, percebemos que também nossas respostas não podem ser únicas,
estanques, donas da verdade ou das verdades. Não é possível transformarmos o
mundo se não conseguimos transformar nossa maneira de viver e refletir o mundo.
Assim, continuo me perguntando com Freire pela coerência e pelos diversos
papéis das “igrejas”, continuo ouvindo Paulo, o apóstolo, dizendo: “Não vos conformeis
com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”.(Romanos

13
STRECK, 2003, p.134-135.
14
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo a sociedade aprendente. Petrópolis, RJ: Vozes p.2001,
p.20.
8

12.2). Continuo esperando que nossos sonhos e desejos de um “mundo melhor”, mais
justo, humano, inclusivo, solidário, - os “Reinos de Deus” despertem nossas
inteligências (não as incoerências). Segundo Rubem Alves,15 elas, as inteligências,
obedecem àquilo que o desejo determina, como no caso das pitangas. E a inteligência,
por sua vez, precisa do corpo para transformar o pensamento em realidade.
E outra pergunta vem me incomodar. O que estamos desejando? Afinal, todos
desejamos muitas coisas. Talvez precisamos aprender a desejar... Existe isso? Qual é
o lugar do desejo na educação, nas igrejas?
Talvez a resposta de Rubem Alves à pergunta da tarefa do professor seja uma
pista para refletirmos sobre os nossos papéis como igreja: “A tarefa do professor:
mostrar a frutinha. Comê-la diante dos olhos dos alunos. Provocar a fome. Erotizar os
olhos. Fazê-los babar de desejo. Acordar a inteligência adormecida. Aí a cabeça fica
grávida: engorda com idéias. E quando a cabeça engravida não há nada que segure o
corpo.”16
E para a pastora fica a provocação de Alves: “Cessa o teu canto’ Deixa que a
Beleza, sem palavras ou catecismos, evangelize o mundo. Deus é Beleza.”17 E a fé,
“um pássaro que canta quando ainda é escuro”...
Sandra Kamien Tehzy
sandraktz@hotmail.com

Referências:

ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação. Rumo a sociedade aprendente.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
ASSMANN, Hugo; Mo SUNG, Jung. Competência e sensibilidade solidária.
Educar para a esperança. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
BRAKEMEIER, Gottfried. O Ser humano em busca de identidade. São Leopoldo:
Sinodal, São Paulo: Paulus, 2002.
CONSELHO MUNDIAL DE IGREJA. Uma igreja de todos e para todos. Uma
declaração Teológica provisória. São Paulo: Aste, 2005.
FERRÉ, Núria Pérez de Lara. Identidade, diferença e diversidade: manter viva a
pergunta. In: LARROSA, Jorge; SKLIAR, Carlos (Org.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação inclusiva. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
LOPES, Maura Corcini. Inclusão escolar: Diversidade, diferença e processos
identitários. In: Anais do V Simpósio Nacional de Educação: diversidade na

15
ALVES, Rubem. Cenas da vida. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997. p.125-128.
16
ALVES, 1997, p.127-128.
17
ALVES, 1997, p.75.
9

educação – diálogos possíveis. Evandro PREUSS, et. al. Frederico Westphalen:


URI, 2006.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários á educação do futuro. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unesco, 2005.
Rubem ALVES, Cenas da vida. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
STRECK, Danilo. Educação para um novo contrato social. Petrópolis, RJ: Vozes,
2003.

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