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Introdução
Neste capítulo, você irá entender porque as questões de “identidade” e
“diferença” precisam estar muito bem esclarecidas e compreendidas por
todos(as) aqueles(as) que irão trabalhar de alguma forma com os sujeitos
da educação especial.
No caso da escola, esse trabalho precisa ser sistemático e dinâmico.
Isso porque a instituição escolar é o espaço mais importante para a consti-
tuição de identidades. É no espaço escolar que as diferenças aparecem de
todas as formas. Ou seja, a escola é, ou deveria ser, o lugar onde todos(as)
se sintam respeitados e acolhidos.
Nesse sentido, a escola precisa estar preparada e pensar estratégias
para receber esses sujeitos. Além disso, as questões de acessibilidade,
tanto arquitetônica quanto humana precisam estar na pauta do dia.
Para entender mais sobre esse assunto, este capítulo serve como
base teórica.
2 Marcações da identidade e da diferença no espaço escolar
Esses são alguns exemplos de tipos de identidades surdas, elas são múltiplas
e não são fixas, ou seja, elas podem se modificar de acordo com a cultura em que
os sujeitos estão inseridos. Além disso, há a questão da escolha pessoal do sujeito,
ou seja, o surdo pode preferir viver como um ouvinte ou assumir a sua identidade
surda, conviver em comunidades surdas e assumir a surdez pela concepção
cultural. Todas essas identidades são legítimas, não há uma melhor e nem pior.
No espaço escolar é fundamental que essas concepções de surdez sejam
trabalhadas, mas não somente com o professor da criança ou do adolescente,
toda equipe escolar precisa estar ciente da forma como esses assuntos são en-
tendidos e serão tratados na escola. Isso inclui todos(as) os(as) funcionários(as).
Não somente os profissionais que trabalham diretamente com esses sujeitos.
4 Marcações da identidade e da diferença no espaço escolar
Os sujeitos surdos que utilizam implante coclear ou aparelho auditivo são entendidos
pela concepção clínico/terapêutica. Nessa concepção, os surdos buscam se aproximar
o máximo possível da cultura ouvinte. Na maioria dos casos, eles não utilizam a língua
de sinais e não participam das comunidades surdas. Já os surdos que utilizam a língua
de sinais, convivem em comunidades surdas e têm orgulho de serem surdos, são
entendidos pela concepção cultural.
líticas de inclusão, cada vez mais parece haver um apagamento das diferenças
em prol da ‘inclusão de todos’ no espaço escolar.” Esse processo é bastante
complexo e requer um entendimento da surdez para além da entrada desses
sujeitos na escola. Não basta apenas oportunizar a matrícula deles na escola,
mas sim possibilitar que esses sujeitos permaneçam na escola e tenham apren-
dizagens significativas. Isso perpassa sem dúvida as questões de identidade
e de diferença.
Ao pensar em uma educação inclusiva, voltada para os sujeitos surdos, é
fundamental que se estabeleça de forma demarcada as questões identitárias e da
diferença. Não há como a escola pensar uma educação de qualidade e inclusiva
sem que os sujeitos da diferença tenham as suas especificidades respeitadas.
As práticas pedagógicas pensadas pelo professor precisam ser construídas a
partir do entendimento que se tem da surdez. No caso dos sujeitos surdos, que
utilizam a língua de sinais, é fundamental que a escola tenha intérprete de
língua de sinais, caso o professor não seja bilíngue. E esse intérprete precisa
estar o tempo todo acompanhando esses sujeitos. Ele não é o professor, mas
sim o profissional que irá interpretar e traduzir os conteúdos que o professor
planejar para aquela turma. Além disso, a escrita surda é diferenciada, ou seja,
no momento da avaliação o professor precisa ter conhecimento das diferenças
linguísticas desses sujeitos. Outra questão importante é a de que as identidades
são forjadas na relação com o outro, nesse caso é fundamental que os sujeitos
surdos se relacionem entre seus pares e também com os sujeitos ouvintes,
através da língua de sinais.
Segundo Casarin (2014, p. 241), ao partir dessa perspectiva, “[...] a escola
deverá pensar em modelos pedagógicos que venham ao encontro dessa
realidade, contemplando aspectos relativos à cultura surda.” Nesse sentido
e ampliando as discussões para além dos surdos, é fundamental que os
aspectos relativos às necessidades e especificidades dos sujeitos sejam
respeitados e contemplados. Entendo ser esse o primeiro passo para que
esses sujeitos permaneçam na escola e tenham aprendizagens significativas.
A língua brasileira de sinais é a primeira língua – (L1) dos sujeitos surdos,
isso significa que, assim como para nós ouvintes, a língua portuguesa é a
nossa primeira língua ou a língua materna, para eles é a língua de sinais
e para a escrita a língua portuguesa é a segunda língua. Por esse e outros
motivos existe a busca das comunidades surdas e das famílias dos sujeitos
surdos por uma escola bilíngue (Figura 2).
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Uma das grandes discussões que se tem hoje em relação à educação dos
surdos é sobre matricular esses sujeitos na escola regular ou na escola especial. A
grande questão em jogo é a de que as comunidades surdas e os familiares desses
sujeitos acreditam que a escola regular ainda não sabe trabalhar e respeitar as
formas de ser surdo, ou seja, não sabe respeitar as identidades e as diferenças.
Isso porque a escola não foi construída e pensada para as diferenças e sim para
a normalização e homogeneização dos sujeitos. Essa questão é importante
porque perpassa a tradição escolar e o entendimento que se tem de escola. Ou
seja, ao mesmo tempo em que se prega que a escola é para todos, no ingresso
percebe-se a dificuldade da mesma em lidar com as diferenças. A legislação
em vigor é categórica e afirma que os sujeitos da educação especial precisam
frequentar a escola regular. Um dos motivos mais destacados para esse projeto
de inclusão é o de que esses sujeitos precisam conviver com as diferenças e não
somente com os seus pares. O que acontece na escola especial.
A escola é uma instituição constituidora de identidades. Nela aprendemos a
dar sentido às coisas, aprendemos além dos conteúdos escolares, formas de se
colocar e de estar no mundo. Sabemos também que a escola foi construída com
alguns objetivos específicos. Um espaço de normalização e de hegemonização de
determinadas práticas culturais. A partir disso, nos cabe perguntar de que forma
a escola que temos hoje está ensinando formas de ser surdo? Será que a escola
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Para saber mais sobre os tipos de identidades surdas, leia o capítulo intitulado Identida-
des surdas de autoria de Gladis Perlin, no Livro A surdez: um olhar sobre as diferenças, 2005.
são loiros, alguns são magros, outros são gordos, enfim, há uma infinidade de
diferenças que nos acompanham durante a vida e que nos constituem enquanto
sujeitos de uma determinada forma e não de outra. No caso dos sujeitos surdos
há mais uma diferença marcada no corpo que é a falta de audição. No entanto, a
escola entendida como a principal instituição na construção de subjetividades, não
pode enxergar o sujeito surdo apenas pelo viés da diversidade, ou seja, pela marca
no corpo. Além de serem surdos, esses sujeitos são uma infinidade de outras
coisas e a surdez não pode defini-los e encarcerá-los apenas nessa identidade.
Segundo Casarin (2014, p. 238), “o sujeito surdo interage com o mundo a
partir de uma experiência visual. Todas as suas construções de conhecimento
se dão pelo canal espaço-visual mediados pelo seu instrumento natural de
comunicação: a língua de sinais e a língua escrita.” Nesse sentido, o principal
desafio da escola é de justamente conhecer os sujeitos da educação, nas suas
múltiplas identidades e estar preparada e aberta ao movimento da inclusão
escolar. Entendendo que a inclusão seja pensada para todos(as), criando con-
dições de permanência e aprendizagens.
Mas como preparar a escola para que ela saiba lidar com as questões de
identidade e diferença? Com certeza não é uma tarefa fácil, trata-se de um
processo complexo e que vai muito além de abrir as portas da escola para as
diferenças. Esse é apenas o primeiro passo, mas a partir disso é necessário
pensar estratégias para manter esses sujeitos na escola e principalmente que
esses sujeitos tenham aprendizagens.
O primeiro passo foi dado, vários eventos internacionais (Declaração de
Salamanca, 1994; Declaração de Jomtien, 1990) foram realizados no sentido
de pensar estratégias para que todos(as) estejam na escola, independente das
suas deficiências. A partir desses eventos, muitas políticas públicas foram
sendo construídas e implementadas no Brasil no sentido de garantir esse
acordo pela inclusão firmado internacionalmente.
No caso dos sujeitos da educação especial, o desafio se torna ainda maior
tendo em vista que a escola como uma instituição da modernidade não foi
pensada para as diferenças. Muito pelo contrário, a escola foi criada e pen-
sada justamente para a homogeneização e normalização dos sujeitos. A
educação especial veio justamente para desconstruir essa ideia moderna de
escola. Nesse sentido, a escola precisa rever desde a sua base os principais
documentos dessa escola e verificar de que forma a inclusão é pensada para
aquela comunidade escolar,
Antes de se pensar em estratégias pedagógicas para os(as) alunos(as) com
deficiência, é necessário revisitar o projeto político pedagógico (PPP) dessa
instituição para verificar de que forma essa comunidade escolar enxerga a
10 Marcações da identidade e da diferença no espaço escolar
As pessoas com deficiência têm garantido por lei o direito de frequentar a escola
regular. No entanto, essa questão ainda gera muitas dúvidas e questionamentos
para as famílias dessas crianças. Nesta reportagem você vai entender um pouco mais
sobre a escola regular e a escola especial para surdos. Assista ao vídeo no link a seguir.
https://goo.gl/pnmmgP
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Leituras recomendadas
STROBEL, K. História da educação de surdos. Florianópolis: UFSC, 2009. Disponível em:
<http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDa-
EducacaoDeSurdos/assets/258/TextoBase_HistoriaEducacaoSurdos.pdf>. Acesso
em: 23 dez. 2018.
VEIGA-NETO, A. Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de Educação, n. 23, maio/
jun./jul./ago., 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n23/n23a01>.
Acesso em: 23 dez. 2018.
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