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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Disciplina: Educação e Comunicação II: Libras

MÚLTIPLAS IDENTIDADES SURDAS

Os surdos possuem sua própria identidade, diferente da identidade imposta pela ideologia
dominante – o ouvintismo.

Segundo Skliar (1998:15) sobre o ouvintismo:

“Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o


surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além
disso, é nesse olhar-se, é nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser
deficiente, do não ser ouvinte; percepções que legitimam as práticas
terapêuticas habituais.”

O ouvintismo não é o mesmo que o oralismo. Enquanto ideologia dominante, o oralismo, na


descrição de Carlos Skliar, significa que:

“O oralismo foi e segue sendo hoje, em boa parte do mundo, uma ideologia
dominante dentro da educação do surdo. A concepção do sujeito surdo ali
presente refere exclusivamente a uma dimensão clínica – a surdez como
deficiência, os surdos como sujeitos patológicos – em uma perspectiva
terapêutica. A conjunção de idéias clínicas e terapêuticas levou em primeiro
lugar a uma transformação histórica do espaço escolar e de suas discussões e
enunciados em contextos médico-hospitalares para surdos.”

A partir dessa conceituação, entendemos que surdo não é DEFICIENTE, é apenas


DIFERENTE, com signos diferentes dos ouvintes, os surdos tem signos visuais, enquanto os
ouvintes têm signos auditivos.

É uma perda de tempo usar os signos que os surdos não têm, os surdos têm a sua
comunicação visual, a sua própria língua. A Língua de Sinais permite que o surdo crie a sua
linguagem interior, entenda os conceitos da vida, também permite que ele forme uma
linguagem própria, pensamento e orgulho de sua diferença. Além disso, também é possível
afirmar que a língua de sinais é uma língua mais rica do que a língua falada, como já foi
comprovado em pesquisas feitas na área de surdez.

Sobre a influência do poder ouvintista, que prejudica construção da identidade surda, segundo
Gládis:

“É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em


vista das fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder
ouvintista que lhe impões regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo
uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito
surdo.”

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Levando em conta as questões sociais, familiares e o poder ouvintista, vemos há fatores que
determinam a construção da identidade do sujeito surdo. Vejamos aqui as categorias de
identidades surdas identificadas nos sujeitos surdos, que são heterogêneas. Todas as
identidades surdas apresentam facetas diferentes que podem ser facilmente classificadas.

Identidade Surda – são as pessoas que tem identidade surda plena, geralmente são filhos de
pais surdos, tem consciência surda, são mais politizados, têm consciência da diferença, e tem
a língua de sinais como língua nativa. Usam recursos e comunicações visuais.

Identidade Surda Híbrida – são surdos que nasceram ouvintes e, posteriormente tornam-se
surdos, mas conhecem a estrutura do português falado.
Conforme Gládis:

“Isso não é tão fácil de ser entendido, surge a implicação entre ser surdo,
depender de sinais, e o pensar em português, coisas bem diferentes que
sempre estarão em choque. Assim, você sente que perdeu aquela parte de
todos os ouvintes e você tem pelo meio a parte surda. Você não é um, você é
duas metades.”

Identidade Surda de Transição – são os surdos oralizados, que foram mantidos em uma
comunicação auditiva. São filhos de pais ouvintes e tardiamente descobrem a comunidade
surda, e nesta transição os surdos passam pela desouvintização, isto é, passam do mundo
auditivo para o mundo visual.

Identidade Surda Incompleta – são os surdos que são dominados pela ideologia ouvintista,
eles não conseguem quebrar o poder dos ouvintes, que fazem de tudo para medicalizar o
surdo, negam a identidade surda como uma diferença, são surdos estereotipados e vêem os
ouvintes como superiores.

Identidade Surda Flutuante – são os surdos que têm consciência (ou não) da própria surdez,
vítimas da ideologia ouvintista. São surdos conformados e acomodados às situações impostas
pelo ouvintismo, não fazem parte da militância pela causa surda, oscilando entre uma
comunidade e outra, sem conseguir viver em harmonia em nenhuma comunidade, isso se dá
por falta de comunicação com ouvintes e pela falta da Língua de Sinais com surdos.

Reflexão Final

Antes de tudo, é essencial lutar em prol da educação de surdos, aprender a respeitá-los como
diferentes e não como deficientes, lutar contra o ouvintismo e respeitar a Língua de Sinais, só
assim, poderemos ver a trajetória do surdo em direção a sua identidade surda plena, bem
como a de uma pessoa bilíngue-bicultural.

Referência Bibliográfica

PERLIN, Gládis T. T. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos (Org.) A surdez, um olhar
sobre as diferenças. Cap. 3, p. 51 a 73. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

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