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O historiador e o

falsário: usos públicos do passado e


alguns "marcos" da história
contemporânea
texto por Caroline Silveira Bauer e Fernando
Felizardo Nicolazzi
slides e apresentação por Salem Constantine
de Mendonça Oliveira Santos e Daniel de Brito
Veraz
Teoria da História - 2023/1
biografias
Caroline Silveira Bauer
Doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS).
2007 - 2011

Doutorado em Mon Contemporàni pela Universitat de Barcelona


(UB), Espanha.
2009-2011

Coordenadora do LUPPA (Laboratório de Estudos sobre os Usos


Políticos do Passado) e professora do departamento de História da
UFRGS.

biografias
Fernando Felizardo Nicolazzi
Mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS).
2002 - 2004

Doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do


Sul (UFRGS), com período sanduíche em Ecole des Hautes Études en
Sciences Sociales (orientador: François Hartog).
2004-2008

Fundador e coordenador do LUPPA (Laboratório de Estudos sobre os


Usos Políticos do Passado) e professor do departamento de História
da UFRGS.

Referência na área da teoria da história e demais áreas de


historiografia no Brasil.

biografias

Enric Marco Battle


Foi um impostor catalão que se dizia sobrevivente do campo de
concentração alemães de Flossenburg e Mauthausen, na Segunda
Guerra Mundial.

Agraciado com a Cruz de São Jorge pelo governo catalão em 2001,


que a retirou em 2005.

Foi presidente da Amical de Mauthausen, dedicada a defender os


direitos, promover a solidariedade e preservar a memória de
sobreviventes de campos de concentração espanhóis e seus
familiares.
biografias

Marco Antonio Villa


Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de São Paulo
(USP).
1983-1989

Doutorado em História Social pela Universidade Federal de São


Paulo (USP).
1989-1993

Foi professor associado do Departamento de Ciências Sociais da


Universidade Federal de São Carlos (UFScar).
1994-2013
O SUPOSTO "SOBREVIVENTE"
Nasce no dia 14 de abril de 1921, em Sabadell.

Teria atuado intensamente ao lado das forças


anarquistas na guerra civil espanhola (1936-
1939), preso, posteriormente, durante a ditadura
de Franco.

Escapou clandestinamente para a França, onde


foi preso pelo regime de Vichy em Marselha,
entregue às autoridades alemãs e deportado
para o campo de concentração de Flossenbürg,
no sudeste da Alemanha, perto de Munique.
A VERDADEIRA HISTÓRIA
Descoberta pelo historiador Benito Bermejo.

Marco mentiu sobre a sua data de nascimento,


nunca fora confinado em um campo de
concentração, não teve tanta participação na
guerra civil espanhola e se foi detido por alemães
em 41, não fora por sua "ação na resistência".

Marco seguiu voluntariamente para a Alemanha


como mão de obra, assim como previsto em um
acordo de Franco aos nazistas.

ética na história
Qual a definição de "ética" na área
historiográfica?

Há uma "função social da história" e uma "função


social do historiador", mas é mais adequado
discutir o uso "público" e o uso "político" da
história?

"De que forma a história é usada?" em


contraposto a "para que serve a história?"

O medo atual da área: Enzo Traverso e o uso


inadequado da memória do holocausto para fins
políticos
elementos de discussão

Charge do cartunista Iotti para a GZH. 8 dez. 2014.


ELEMENTOS DE DISCUSSÃO
O estudo da história realmente previne a
repetição de erros passados?

Transformação do passado em objeto de


consumo e ambivalência no fascínio pelo
passado x descrença na capacidade da história
em ensinar

Marco Antonio Villa, seu livro "Ditadura à


brasileira" e a teoria dos dois demônios em 1960

A "DITADURA à BRASILEIRA"
Equiparação da luta revolucionária da ditadura de 64
com a violência estatal da época em ideal político e
uso de repressão

"Suavização" e negação da existência de uma


ditadura militar, que para Villa, existira apenas de 68
a 79

Retomada da teoria dos dois demônios, acusando


ambos o movimento conservador e o movimento
progressista de serem antidemocráticos

Revisionismo histórico quanto ao passado da


monarquia escravista e quanto à figura de João
Goulart
A "DITADURA à BRASILEIRA"
Villa termina seu texto se vitimizando
historiograficamente, se dizendo como um
historiador pobre, "perseguido" por ambos os
movimentos por contar "a verdade"

Villa critica o "movimento militante", por "taxar de


adepto à ditadura" quem critica sua versão
historiográfica do período ditatorial militar

Villa termina sua tese convocando os leitores a


refutar as "versões falsas", e romper com o ciclo de
adversários à democracia
LEGITIMIDADE DA HISTÓRIA
A narrativa falsa surge a partir da paranoia em
relação ao esquecimento de uma memória histórica

É importante questionar a autoridade e a


legitimidade de autores que se atestam como
vivenciadores de certo assunto

Quem tem e não tem direito de falar sobre assuntos


que não vivenciaram diretamente? Cabe a nós
determinar isso?

conclusão
O caso de Enric Marco Battle e Marco Antonio Villa:
utilizando publicamente e politicamente o passado e
exemplificando os usos da história e sua reflexão
crítica

A história não é uma "ciência objetiva" e seus usos


devem ser refletidos, pensando o uso da história e
repensando sobre os fundamentos da sua disciplina,
à fins de evitar seus próprios "Marcos", entre
historiadores e falsários
referÊncias
BADCOCK, J. How spanish Nazi victim Enric Marco was exposed as
an impostor. BBC, Madrid, 2015. Disponível em:
https://www.bbc.com/news/world-europe-32582420. Acesso
em: 21 jun. 2023.
BAUER, C. S; NICOLAZZI, F. F. O historiador e o falsário: usos
públicos do passado e alguns marcos da cultura histórica
contemporânea. Varia Historia, vol. 32, n. 60, p. 807-835, 2016.

TRAVERSO, E. El pasado, instrucciones de uso. Historia, memoria,


política. Barcelona: Marcial Pons, 2007.

Universidade Federal do Espírito Santo 2023

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