Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O ANARQUISMO
Da doutrina à ação
Tradução
Manuel Pedroso
Prefácio de
Davi Galhardo
2a. Edição
Esta obra foi desenvolvida em plataforma Linux (Ubuntu), com os
softwares livres LaTeX, Texmaker, Sigil e Calibre
Tradução
Manuel Pedroso
Diagramação e Revisão
Mauro José Cavalcanti
Capa
Angela Barbirato
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 320
CDU 321
***
STIRNER
BAKUNIN
PRIMEIRA INTERNACIONAL
COMUNA DE 1871
KROPOTKIN
MALATESTA
SINDICALISMO
Pierre Besnard. Les Syndicats ouvríers et la révolution sociale. 1930.
REVOLUÇÃO RUSSA
CONSELHOS DE FÁBRICA
REVOLUÇÃO ESPANHOLA
AUTOGESTÃO CONTEMPORÂNEA
Notas:
1
“Libertários” e “socialismo libertário” ou “libertarismo”: Sinônimos de
“anarquistas” e “anarquismo”, criados por Joseph Déjacques, anarquista
francês, autor da famosa obra “Humanisfério” (utopia anarquista),
publicada inicialmente era folhetins, no jornal “Le Libertaire”, editado,
redigido, administrado e expedido por ele sozinho de 1858 a 1861, em
Nova York, onde se havia exilado após a revolução de 1848 de Paris. Mais
tarde outro teórico francês do anarquismo, Sebastien Faure, autor, entre
outras obras, da “Dor Universal” e das “Doze Provas da Inexistência de
Deus” (esta, editada pela GERMINAL), retoma estas expressões, como
sinônimos e em substituição de “anarquistas” e “anarquismo”, sobre os
quais as atividades terroristas dos chamados “bandidos trágicos”, que se
proclamavam “anarquistas” (Ravachol, os da quadrilha Bonot e outros),
haviam concitado o ódio de grandes Sectores da opinião pública mundial e
contribuído para que estas palavras se convertessem em sinônimos de
“desordem” e “desordeiros”. Ainda hoje, os anarquistas alemães preterem
designar-se por “socialistas libertários”. (R.N.)
2
Sede da Polícia de Paris. (R.N.)
3
“A Revolução desconhecida”, já publicada em alemão, francês,
espanhol e inglês. (R.N.)
4
“La Science et la tâche révolutionarie urgente”, ed. Kolokol, Genebra,
1870
5
Sem citar Stirner, o que significa não ser certo que Proudhon o haja
lido.
6
Mais comumente, os anarquistas designam os marxistas por “primos”
(R.N.)
7
Compreendo estas percentagens com a estabelecida pelos decretos da
República argelina, que em Março de 1963 institucionalizou a autogestão,
nota-se que os diversos fundos são, mais ou menos, os mesmos. A
propósito, deve dizer-se que a última das percentagens, destinada a
remunerar o trabalho, originou grande controvérsia.
8
Conf. A mesma discussão na “Crítica do programa de Gotha”
(redigido por Karl Marx em 1875 e publicado somente em 1891).
9
Ramo da Internacional na Suíça, que adotara as ideias de Bakunin.
10
Quando em Janeiro de 1937, numa conferencia pública de Pi e
Margall, Gaston Leval censurou-o por ser pouco fiel a Bakunin.
11
Sendo fundamentalmente contra o Estado, contra todos os Estados,
não podem os anarquistas defender os “Estados Unidos da Europa” ou “os
do mundo inteiro”. Não conhecemos o texto citado por Daniel Guérin.
Estamos certos, porém, de que Bakunin quis referir-se a uma federação de
povos, não de Estados, unidades políticas baseadas na autoridade, no
governo, ou seja na violência, de que o anarquismo é a negação (R.N.).
12
Os anarquistas não são “internacionalistas”. O “internacionalismo”
pressupõe a existência de “nações”, expressão territorial, física e
administrativa, do Estado, que os anarquistas não reconhecem. Qualquer
burguês reacionário, qualquer socialista autoritário e qualquer comunista à
maneira russa, todos eles defensores do Estado, é “nacionalista” e, portanto,
“internacionalista”, pois ninguém, por mais “naciona1ista” que se diga,
pode pretender que as nações vivam isoladas umas das outras, e o
“internaciona1ismo” não é outra coisa senão a doutrina que advoga as
relações entre as nações. Os anarquistas, ao contrário, são anti-
nacionalistas, anacionalistas, cosmopolitas, “cidadãos do mundo”, pois
insurgem-se contra a divisão do mundo, por meio das fronteiras artificiais
erguidas pela ambição dos senhores feudais, que tolhem os homens de
confraternizar e que constituem acendalha constante de guerras. Em vez do
“internacionalismo”, que é sempre burguês, reacionário, patrioteiro, os
anarquistas propugnam o federalismo libertário, visando a federação das
associações comunais e regionais dos diversos ramos de atividade, numa
planificação mundial baseada na cooperação de todos os produtores,
independentemente de raça e de nacionalidade. A confusão de Bakunin,
apesar da sua extraordinária clarividência, como a da maioria, senão
totalidade, dos anarquistas do seu tempo e também de muitos da nossa
época, é compreensível: Sendo as nações, aglomerados de seres humanos
ligados por uma língua universal, viam-se forçados a aceitar a estrutura que
o mundo burguês, estatal e capitalista, apresentava, ou seja um mundo
dividido em compartimentos-estanques (as nações), por meio das fronteiras
geradas pela sorte de armas dos mais fortes aventureiros. O panorama do
mundo modificou-se, porém, com o aparecimento da língua mundial, o
esperanto, esse terrível ácido sulfúrico das fronteiras, um dos fatores mais
revolucionários de todos os séculos, que já hoje conta centenas de jornais e
revistas, numerosas editoras que fazem aparecer diariamente livros no
idioma da pátria humana, e milhões de pessoas de pessoas que por todo o
mundo o falam e escrevem. Coerentes com as suas ideias de liberdade, de
fraternidade e de antidiscricionarismo linguístico, os anarquistas, refugando
o patriotismo convencional e criminoso (porquanto gerador da guerra) dos
senhores do mundo, adotaram o esperanto como idioma oficial, no
congresso mundial, que recentemente celebraram em Carrara, Itália.
Assinale-se também a existência de uma vasta organização mundial,
cultural e revolucionária, de esperantistas, tendo por lema “O esperanto ao
serviço do proletariado”: A “Sennacieca Asocio Tutmonda” (Associação
Anacionalista Mundial), com dois órgãos na imprensa, um jornal e uma
revista, no idioma da pátria planetária. A S.A.T. que anualmente celebra
congressos mundiais em esperanto sobre os problema da emancipação do
proletariado e que, por este motivo, tem sido da sanha de todos os ditadores,
deste Hitler à Stálin até Salazar, possui a sua sede em Paris (20), rua
Gambetta, 67. Só quem maneja este admirável instrumento revolucionário e
aglutinador dos povos, que é o esperanto, pode ser totalmente anarquista,
isto é, emancipado dos preconceitos patrióticos e nacionalistas, e, como
Diógenes, proclamar-se “cidadão do mundo”. Sem esperanto, o grito da 11o.
Associação Mundial de Trabalhadores, “Trabalhadores do Mundo, uni-
vos!”, permanecerá sem eco. Pois como poderão unir-se OS trabalhadores
de todo o mundo se, carentes de um idioma comum, continuam condenados
à terrível maldição lançada por Jeová sobre os pobres construtores da Torre
de Babel? (R.N.)
13
Hoje, preterimos usar a expressão “federação mundial”, mais de
acordo com o ideário anacionalista dos anarquistas. (R.N.)
14
Robert Louzon observou ao autor deste livro que, de um ponto de
vista dialético, os dois testemunhos, o de Pelloutier e o seu, não se excluem:
O terrorismo teve sobre o movimento proletário efeitos contrários
15
Ao regressar, desiludida, à América do Norte de onde emigrara para a
Rússia, como voluntária, para colaborar na Revolução de Outubro, Emma
Goldman publicou, nos jornais anarquistas norte-americanos, uma série de
artigos de análise à obra contrarrevolucionária de Lênin, sob o título de “O
Grande Jesuíta” (Lênin). (R.N.)
16
É sabido que a tática de guerrilhas usada na Sierra Maestra, que deu a
vitória a Fidel Castro e Ernesto Guevara que hoje corre mundo da imprensa
sob o nome de “Che”, foi decalcada sobre a tática de guerrilhas dos
anarquistas da Ucrânia (exposta pormenorizadamente na obra de Volin, “A
Revolução desconhecida”), também adotada pelos anarquistas espanhóis na
Revolução da Espanha. (R.N.)
17
A discussão entre anarcossindicalistas sobre os méritos dos conselhos
de fábrica e dos sindicatos operários não constituía, aliás, uma novidade: Na
Rússia, acabava de cindir os anarquistas, nomeadamente a equipe do jornal
libertário Golos Truda, em que uns permaneceram fiéis ao sindicalismo
clássico, e outros, como G. P. Maximoff, optaram pelos conselhos.
18
A K.A.P.D. viria a constituir, em abril de 1922, com grupos de
oposição holandeses e belgas, uma “Internacional Comunista Operária .
19
Em França, os sindicalistas da tendência (libertária) de Pierre
Besnard, excluídos da confederação Geral do Trabalho Unitário (C.G.T.U.),
fundaram, em 1924, a Confederação Geral do Trabalho Sindicalista
Revolucionária (C.G.T.R.), aderente à A.I.T. (anarcossindicalista).
20
Em Castela, nas Astúrias, etc., predominava uma Central Sindical
socialdemocrata, a União Geral dos Trabalhadores (U.G.T.).
21
A C.N.T. só em 1931 aprovou a criação de federações de indústria,
ideia que havia sido rechaçada em 1919. Os “puros” do anarquismo temiam
que a propensão destas federações para o centralismo e para burocracia,
mas tornara-se imperativo responder à concentração capitalista com a
concentração dos sindicatos de uma mesma indústria.
22
Fuzilado pelos franquistas nos primeiros dias da revolução de julho de
1936 (R.N.)
23
Nome que se dava aos governos regionais autônomos.
24
A associação Internacional dos Trabalhadores, à qual estava filiada à
C.N.T., realizou em Paris, de 11 a 13 de Junho de 1932, um congresso
extraordinário, que censurou a central anarcossindicalista pela sua
participação no governo e as concessões que, em consequência, foi
obrigada a aceitar. Com este precedente, Sebastien Faure decidiu-se
publicar em Le Libertaire (8, 15 e 33 de junho), sob o título La pente fatale,
uma série de artigos que criticava os anarquistas espanhóis pela sua
colaboração com o governo. Desgostosa com estas críticas, a C.N.T.
provocou a demissão do secretário da A.I.T., Pierre Besnard.
25
Dizemos “em princípio”, pois a este respeito verificaram-se litígios
entre algumas aldeias.
26
Todavia, nas localidades do Sul, não controladas pelos
anarcossindicalistas, as expropriações das grandes propriedades, operadas
autoritariamente pelas municipalidades, não constituíram verdadeira
mudança revolucionária para os trabalhadores rurais: A sua condição
salarial não foi alterada; não houve ali autogestão.
27
Grande parte dos textos anarquistas, esgotados ou inéditos, são
reproduzidos na história e antologia do anarquismo, organizada por Daniel
Guérin e lançada, em 1967, pelas Edições de Delphes, 29, rua Trévise,
Paris, tendo por título NI DIEU NI MAITRE.
28
Esta obra está editada, em português, pela Editorial Verbo, Lisboa,
1967. (N. Ed.).
Sobre o autor
QUESTÃO DE VOCABULÁRIO
O HORROR AO ESTADO
NA DEMOCRACIA BURGUESA
NECESSIDADE DE ORGANIZAÇÃO
A AUTOGESTÃO
AS BASES DA TROCA
A CONCORRÊNCIA
UNIDADE E PLANIFICAÇÃO
SOCIALIZAÇÃO INTEGRAL?
SINDICALISMO OPERÁRIO
AS COMUNAS
UMA PALAVRA LITIGIOSA: O “ESTADO”
FEDERALISMO
INTERNACIONALISMO
DESCOLONIZAÇÃO
OS SOCIALDEMOCRATAS VITUPERAM OS
ANARQUISTAS
A “MAKHNOVITCHINA”
KRONSTADT
A IMAGEM SOVIÉTICA
BAGAGEM DOUTRINÁRIA
OS ANARQUISTAS NO GOVERNO
OS ÊXITOS DA AUTOGESTÃO
A AUTOGESTÃO SABOTADA
À GUIZA DE CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
Notas:
Sobre o autor