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F2 Prevencao Do Suicidio
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MINISTÉRIO DA
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SAÚDE
Copyright © 2020 Fundação Demócrito Rocha
1. Epidemiologia do suicídio 5
1.1. Suicídio segundo variável socioeconômica 5
1.2. Suicídio entre homens e mulheres 6
1.3. Suicídio e faixa etária 7
1.4. Etnia: um enfoque especial para os negros e indígenas 9
1.5. Suicídio na população LGBT 11
Referências bibliográficas 15
INTRODUÇÃO
o fascículo anterior, o
leitor pôde ter uma vi-
são sobre o suicídio na
história, compreenden-
do aspectos conceitu-
ais, fatores de risco e
estigmas envolvidos no
fenômeno. Atualmente,
o suicídio é conside-
rado como um pro-
blema grave de saúde pública. Neste
fascículo, a epidemiologia será aborda-
da sob diferentes ângulos, considerando
variáveis como faixa etária, renda, raça e
grupos específicos, como os indígenas.
Serão abordados também os impactos
sociais e a importância das políticas públi-
cas voltadas para a prevenção.
De acordo com a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS), o desenvolvimento
e a implementação de estratégias volta-
das à prevenção ao suicídio dependem
da qualidade dos dados reportados.
Contudo, ainda nos dias atuais, existe
uma subnotificação desses dados re-
conhecida mundialmente. Isso ocorre
em função de vários fatores: protoco-
los não padronizados, países que até
o presente momento não reportam
dados para a OMS, estigma social
e diferenças conceituais. No Bra-
sil, apesar de a notificação com-
pulsória estar prevista em lei
desde 1975 (Lei nº 6.259/2011
com a Portaria MS nº 104, de
25/01/2011), os casos de sub-
notificações são significativos
devido aos problemas referi-
dos. Tal incerteza sobre as esta-
tísticas dificulta o planejamento
e execução de políticas públicas
voltadas à prevenção ao suicídio.
60
notificados 106.374 óbitos por suicídio 50
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). Contudo, 40
há uma grande variabilidade nas regi-
30
ões brasileiras, sendo os municípios com
20
maior coeficiente de mortalidade por
suicídio: Taipas do Tocantins, em Tocantins 10
Prevenção ao Suicídio 5
1.2. SUICÍDIO ENTRE
HOMENS E MULHERES
A prevalência de tentativas de suicídio em uma proporção de 3,5 vs. 1,6 (TURECKI;
é maior no sexo feminino. Apesar de esse BRENT, 2015). Contudo, em alguns países
índice ser mais elevado em mulheres, o como, Bangladesh, China, Lesoto, Marrocos
número de mortes por suicídio é três vezes e Mianmar, a taxa de suicídio é maior entre
maior em homens (OMS, 2014). Na mesma as mulheres (OMS, 2019).
direção dos números globais, no Brasil, há Quanto ao estado civil, os dados de-
grande prevalência de suicídios no sexo monstram que os suicídios são menos fre-
masculino, sendo quatro vezes maior quan- quentes em pessoas casadas, aumentando
do comparados ao índice de suicídio em expressivamente entre solteiros, viúvos e
mulheres, representando 79% das ocorrên- divorciados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
cias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Trata-se A companhia de um(a) parceiro(a), como
de um paradoxo, que pode ser explicado nos casos de pessoas casadas, pode ser
pelo fato de os homens utilizarem métodos um fator de proteção, o que poderia
mais letais, terem mais dificuldades em pro- explicar esse índice.
curar ajuda e se isolarem mais que as mu-
lheres, enquanto estas geralmente utilizam
mais fatores de proteção, como busca por
tratamento dos transtornos psiquiátricos e
engajamento em atividades comunitárias
(ABP, 2014). Outro importante fator de pro-
teção das mulheres é a menor prevalência
de estigma em relação aos transtornos
mentais, o que facilita a procura por trata-
mento (PEEL; BUCKBY; MCBAIN, 2017).
É relevante considerar também uma
interação entre as variáveis sexo e ren-
da. A taxa de suicídio em homens é
maior em países de alta renda quan-
do comparados aos índices de países
em desenvolvimento e de baixa renda,
Figura 2. Número de óbitos por suicídio segundo sexo e ano, na população geral e na de 15
a 29 anos. Brasil, 2011 a 2017.
12.000
10.000
8.000
Óbitos
6.000
4.000
2.000
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Masculino (total) 8.168 8.498 8.759 8.794 9.163 9.399 10.218
Feminino (total) 2.321 2.516 2.426 2.425 2.570 2.543 2.828
Masculino (15 a 29 anos) 2.438 2.434 2.411 2.420 2.424 2.445 2.649
Feminino (15 a 29 anos) 683 638 609 627 651 626 733
Prevenção ao Suicídio 7
Idosos
Nos idosos, o índice de mortes por suicí-
dio também é elevado, principalmente em
indivíduos com doenças físicas, depressão
e ansiedade (CONWELL; VAN ORDEN; CAI-
NE, 2011). Dentre as doenças físicas, pode-
-se citar: doenças degenerativas, aplasias e
as que envolvem dores crônicas. No Brasil,
segundo dados do Ministério da Saúde, a Além destes, é relevante mencionar a
prevalência de suicídio entre 2011 e 2016 perda do(a) parceiro(a), podendo au-
nessa população foi de 8,9 por 100 mil ha- mentar o risco de comportamento sui-
bitantes, conforme ilustrado na Figura 3. cida. Corroborando isso, de acordo com a
Além das patologias físicas e mentais Escala de Avaliação de Readaptação Social,
mencionadas, há outros fatores de risco desenvolvida por Thomas Holmes e Richard
para a população idosa, como: restrições Rahe, a perda do cônjuge é um dos prin-
e dificuldades impostas pelo envelheci- cipais fatores estressantes, juntamente
mento, incluindo a impotência sexual e a com adoecimento e aposentadoria (HOL-
dependência de terceiros para a realização MES; RAHE, 1967). Outro aspecto observado
de atividades cotidianas, além de possíveis na população idosa é que, segundo a OMS,
perdas financeiras. Estes fatores, por sua em 70% dos óbitos por suicídio, houve com-
vez, podem gerar uma sensação de inca- partilhamento da ideação suicida com fami-
pacidade, impotência e baixa autoestima. liares, amigos ou outras pessoas próximas
1,7
05 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 e mais
Prevenção ao Suicídio 9
Figura 4. Proporção de óbitos por suicídio, segundo faixa etária e raça/cor da pele. Brasil,
2011 a 2015.
50
45
40
35
30
25
20
15
10
0
5a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 ou +
Fonte: Boletim epidemiológico, vol. 50, n. 24, 2019 – Secretaria de Vigilância em Saúde
Prevenção ao Suicídio 11
2.
família, amigos e sociedade. (MEREISH;
PETERS; YEN, 2020).
rem no mínimo 20 tentativas. Segundo o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IMPACTO SOCIAL (IPEA), os óbitos decorrentes de suicídios
no Brasil em 2001 representaram uma per-
E ECONÔMICO da total de 1,3 bilhão de reais (IPEA, 2007).
DO SUICÍDIO Além disso, o suicídio afeta significativa-
mente pessoas da rede social daquele que
suicídio é um fenômeno tirou a própria vida. Estima-se que, no mí-
multideterminado, que nimo, 100 pessoas do círculo de convivên-
envolve diversos fatores, cia de quem morreu sofrem um profundo
como a economia. Gra- impacto negativo, que as torna mais vulne-
ves crises econômicas ráveis ao desenvolvimento de transtornos
que afetam a taxa de em- mentais (SCAVACINI, 2018). A depender da
prego têm o potencial de gravidade destes transtornos, os enlutados
aumentar o coeficiente precisam se afastar do trabalho, o que sig-
de suicídio. O debate so- nifica um custo adicional para a economia.
bre o impacto da econo- Há um custo social relacionado ao sui-
mia no risco de suicídio evoluiu de teorias cídio. O processo de luto de uma morte por
não testadas para estudos epidemiológicos suicídio sugere uma dificuldade maior na
mais consistentes (MANN; METTS, 2017). sua elaboração, com possíveis prejuízos à
Nesse sentido, traz consequências tam- saúde do enlutado. Saúde física, mental,
bém econômicas para a sociedade. Existe emocional e espiritual do enlutado são di-
um custo relativo à utilização dos serviços mensões que podem ser afetadas negativa-
de saúde, como as internações decorrentes mente. O desenvolvimento de transtornos
de tentativas de suicídio que tendem a ser depressivos, de ansiedade, agravamento
prolongadas. Além do custo imediato, outra de doenças físicas preexistentes, abuso de
questão financeira importante diz respeito substâncias e comportamento suicida são
às pessoas que ficam afastadas do trabalho algumas das possíveis consequências des-
em função de sequelas posteriores às ten- se processo. Desta forma, percebe-se que o
tativas, assim como àquelas que perdem a suicídio causa um importante impacto na
vida. Com frequência, são indivíduos da faixa comunidade onde ocorre.
etária da população economicamente ativa. Por fim, com relação aos impactos na
Os dados da OMS (2014) dão a dimen- comunidade, o suicídio pode exercer um
são do alcance desta questão quando efeito de contágio (efeito Werther) em indi-
apontam 1 milhão de mortes por suicídio víduos vulneráveis ou que já tenham idea-
por ano no mundo. Também relevante é ção e/ou propensão a comportamentos au-
o dado de que, para cada suicídio, ocor- todestrutivos, principalmente jovens.
Prevenção ao Suicídio 13
específicos; entre eles, pessoas em situa- IV - identificar a prevalência dos deter- Em 2017, foi lançada pelo Ministério da
ção de rua, vítimas de abuso sexual, tra- minantes e condicionantes do suicídio Saúde a Agenda de Ações Estratégicas para
balhadores rurais expostos a agentes tó- e tentativas, assim como os fatores pro- a Vigilância e Prevenção ao Suicídio, estabe-
xicos, indígenas e portadores de doenças tetores e o desenvolvimento de ações lecendo ações para a promoção de saúde,
degenerativas ou outras doenças graves. intersetoriais de responsabilidade pú- prevenção e atenção às vítimas de tentativa
A Portaria 1.876 determinou também blica, sem excluir a responsabilidade de suicídio e seus familiares. Desse proces-
o desenvolvimento de estratégias de for- de toda a sociedade; so inicial, foi sancionada a Lei 13.819, de
talecimento dos fatores de proteção e ca- V - fomentar e executar projetos estra- 26 de abril de 2019, que instituiu a Política
pacitação dos profissionais de saúde atu- tégicos fundamentados em estudos de Nacional de Prevenção da Automutilação e
antes na atenção primária, inclusive dos custo-efetividade, eficácia e qualidade, do Suicídio, a ser implementada pela União
integrantes do Programa Saúde da Família bem como em processos de organiza- em cooperação com os Estados, Distrito Fe-
– PSF. Além disso, foram definidas diretri- ção da rede de atenção e intervenções deral e Municípios. Em 2020, foi publicado
zes para uma estratégia nacional. Confira a nos casos de tentativas de suicídio; o Decreto 10.225, que regulamenta a Lei
seguir o Artigo 2 da Portaria. VI - contribuir para o desenvolvimento 13.819/2019, criando o Comitê Gestor da
Art. 2° Estabelecer que as Diretrizes de métodos de coleta e análise de da- Política Nacional de Prevenção da Automu-
Nacionais para Prevenção do Suicídio dos, permitindo a qualificação da ges- tilação e do Suicídio.
sejam organizadas de forma articulada tão, a disseminação das informações e Por fim, é relevante destacar a grande
entre o Ministério da Saúde, as Secreta- dos conhecimentos; importância do desenvolvimento das po-
rias de Estado de Saúde, as Secretarias VII - promover intercâmbio entre o líticas públicas brasileiras até o momento.
Municipais de Saúde, as instituições Sistema de Informações do SUS e ou- Entretanto, os respectivos protocolos de
acadêmicas, as organizações da socie- tros sistemas de informações setoriais implementação destas políticas devem ter
dade civil, os organismos governamen- afins, implementando e aperfeiçoando igual destaque, para que os objetivos sejam
tais e os não-governamentais, nacio- permanentemente a produção de da- alcançados, principalmente a redução das
nais e internacionais, permitindo: dos e garantindo a democratização das taxas de suicídio e automutilação no Brasil.
I - desenvolver estratégias de promo- informações; e
ção de qualidade de vida, de educa- VIII - promover a educação permanen-
ção, de proteção e de recuperação da te dos profissionais de saúde das uni-
saúde e de prevenção de danos; dades de atenção básica, inclusive do
II - desenvolver estratégias de infor- Programa Saúde da Família, dos ser-
mação, de comunicação e de sensibi- viços de saúde mental, das unidades
lização da sociedade de que o suicídio de urgência e emergência, de acordo
é um problema de saúde pública que com os princípios da integralidade e
pode ser prevenido; da humanização.
III - organizar linha de cuidados inte-
grais (promoção, prevenção, tratamen- Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/sau-
to e recuperação) em todos os níveis delegis/gm/2006/prt1876_14_08_2006.html
de atenção, garantindo o acesso às di-
ferentes modalidades terapêuticas;
Prevenção ao Suicídio 15
AUTORES
Andrea Amaro Quesada Josianne Martins de Oliveira
PhD em Neurociências e Cognição pela Ruhr-Universität Bochum. Médica formada pela Universidade Federal de Goiás. Psiquiatra
Mestre em Psicologia e Psicóloga pela Universidade de Brasília Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e
(UnB). Docente do Curso de Psicologia na Universidade de Residência Médica em Psiquiatria pela Pax Clínica – Instituto
Fortaleza (UNIFOR). Professora do curso de Especialização em de Neurociência. Residência Médica em Psiquiatria da Infância
Neurociências e Reabilitação (UNIFOR). Professora do curso e Adolescência pelo Hospital São Vicente de Paulo. Diretora
de pós-graduação em Neuropsicologia e Terapia Cognitiva Secretária Adjunta da Associação Psiquiátrica de Brasília no
Comportamental na Unichristus. Trabalhos apresentados em período de 2017 a 2019, quando atuou como Coordenadora
Congressos Nacionais e Internacionais (Alemanha, EUA, Japão, Regional da Campanha de Prevenção ao Suicídio do Setembro
Argentina). Artigos publicados nos periódicos internacionais Amarelo. Trabalhou no Instituto do Câncer Infantil e Pediatria
Psychoneuroendocrinology, Stress. Pesquisadora nas áreas Especializada (Hospital da Criança de Brasília José Alencar)
de estresse, maus-tratos, Síndrome Congênita do Zika vírus no período de 2016 a 2018, atuando como médica psiquiatra
e Fenilcetonúria (PKU). Autora do livro infanto-juvenil A Caixa assistente e preceptora voluntária na Residência Médica de
Mágica e a Busca do Tesouro Escondido. Psiquiatria da Infância e Adolescência do Centro de Orientação
Médico-Psicopedagógica. Trabalhou na Saúde BRB Caixa de
Carlos Henrique de Aragão Neto Assistência, atuando como médica psiquiatra assistente no
Psicólogo e Psicoterapeuta; Especialista em Tanatologia; período de 2014 a 2020 e como coordenadora da equipe médica
Formação em Estudos do Luto; Mestre em Antropologia (UFPI) e da psiquiatria no período de 2018 a 2019. Atualmente, é
com a dissertação “Os Aspectos Socioantropológicos da membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Regional
Tentativa de Suicídio”; Doutor em Psicologia Clínica e Cultura de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Diretora-Tesoureira da
(UnB) com a tese “A Relação entre Autolesão sem Intenção Associação Psiquiátrica de Brasília e atua na rede privada como
Suicida e Ideação Suicida”; Membro da Associação Brasileira médica psiquiatra assistente e diretora técnica médica da Clínica
para Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS). Membro da EKIP – Emil Kraepelin Instituto de Psiquiatria.
International Society for the Study of Self-Injury (ISSS). Membro
da International Association for Suicide Prevention (IASP).
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MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SAÚDE