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INTRODUÇÃO

A FILOSOFIA DA HISTóRIA

A Filosofia da História é uma disciplina bas­


tante recente. Neste ensaio introdutório, W. H.
Walsh expõe as controvérsias que seu apare­
cimento suscitou (e continua suscitando), bem
como os problemas que o estudo da história
em si apresenta, e revis.a com lucidez e con­
cisão as diversas teorias filosóficas. Este "pe­ INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTóRIA
queno tratado lógico do pensamento histórico•·
constitui uma introdução indispensável ao tema.

A Filosofia da História pode ser dividida em


dois campos de estudo distintos. O primeiro,
também conhecido como Filosofia Crítica da
História, compreende questões mais diretamen-
te relacionadas com o trabalho prático dos
historiadores, que procuram reconstituir o pas­
sado, e focaliza problemas como as rel ações
com outras formas de cónhecimento, a· verda­
de e o fato, a objetividade histórica, a expli­
cação histórica, problemas esses intimamente
relacionados entre si e que só podem ser bem
compreendidos se examinados como partes de
um mesmo todo. O segundo campo de estudo
da Filosofia da História é mais especulativo ..
ocupando-se de problemas metafísicos ( como
faz o ramo mais tradicional desse estudo) e
também da formulação de uma teoria da in­
terpretação e causação históricas que procura
identificar os principais fatores que motivam a
evolução da humanidade.

De açorda com essa distinção, a Filosofi a da


História é tratada neste livro em duas partes. uch leaming e
Na primeira, e mais longa, o autor se ocupa umuch
- EcuB -
principalmente da natureza do pensamento
(continua na 2.º uba·1
Título original:
An Introduction to Phílosoplzy of History

Traduzido da terceira edição revista inglesa, publicada em


1977 por HUTCHINSON & co., LTD., de Londres, Inglaterra.

Copyright @�by W. H. Walsh

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro,


salvo as citações nos veículos de comunicação.

Capa de Érico (NDICE

Prefácio à terceira edição ....... .. ......... . ........ ......... ... 7


Prefácio à primeira edicão ........ . .. . ............ ........... . . . 9
1. O QUE É FILOSOFIA DA HISTóRIA? ................... 11
1. Desconfiança atual em relação ao assunto ......... ...... 11
2. Filosofia crítica e especulativa da história ............... 15
3. Filosofia crítica da história ........... .................. 17
a) A história e outras formas de conhecimento .......... 17
b) Verdade e fato na história .......................... 18
c) Objetividade histórica . .. .................. ........ . 20
d) A explicação na história ...... .. . ................... 23
4. Filosofia especulativa da história ... .... .. . ............... 25
5. Plano do livro .............. . ....... .................. . 28
2. A HISTÓRIA E AS CIÊNCIAS ............... .............. 30
1. Caracterização preliminar da história. História e percepção
sensorial ......... . ..... . ............. ........... .... 30
2. Características do conhecimento científico ... . ............ 34
3. História e conhecimento científico ...................... 37
4. Duas teorias do pensamento histórico . ................... 41
3. EXPLICAÇÃO HISTÓRICA ................ ............... 47
1. A teoria da história de Collingwood ..................... 47
1 9 7 8 2. Crítica da teoria de Collingwood ........................ 51
3. A "coligação" na história .............................. 57
Direitos para a língua portuguesa adquiridos por 4. História e conhecimento da natureza humana ............ 62
5. Dificuldades dessa concepção ........................... . 63
ZAHAR EDITORES
Caixa Postal 207, ZC-00, Rio Nota adicional ao capítulo 3 69
que se reservam a propriedade desta versão 4. VERDADE E FATO NA HISTÓRIA ...................... . 71
1 . Introdução .......................................... . 71
Impresso no Brasil 2. Verdade como correspondência e verdade como coerência .. 72
6 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA

3. A história e a teoria da Correspondência ................. 78


4. A história e a teoria da Coerência .................... • . 83
5. Críticas à posição intermediária ... ................... . .. 87

5. PODE A HISTÓRIA SER OBJETIVA? ..................... 91


1. Importância da noção de objetividade na história ........• 91
2. Apresentação preliminar do problema ............... ..... 94
3. Fatores de discordância entre historiadores ............... 96
a) Inclinação pessoal .................................. 97
b) Preconceito de grupo .............................. 98
c) Teorias contraditórias de interpretação histórica ...... 99
d) Conflitos filosóficos subjacentes ..................... 100 PREFÁCIO A TERCEIRA EDIÇÃO
4. R�apitulaç�o , ......................................... 104
5. Ceticismo h1storico ..................................... 105
6. A teoria da perspectiva ................................• 106
7. A teoria de uma consciência histórica objetiva ............ 111 Nesta edição ampliada, o texto principal é o mesmo da edição
revista de 1958, com exceção de pequenas modificações formais.
6. A FILOSOFIA ESPECULATIVA DA HISTÓRIA: KANT E
HERDER ........................................•..... 114 Umas poucas notas foram acrescentadas, entre colchetes. As su­
gestões de leitura foram completamente revistas. A principal
1. Características gerais ................................... 114 modificação, porém, é que, graças à generosidade dos editores,
2. A filosofia da história de lvult .. ; ....................... 117 foi-me possível acrescentar mais dois ensaios recentes sobre o
3. Crítica da teoria de Kant ............................... 121
4. A filosofia da história de Herder ....................... 125 mesmo campo geral. "Os Limites da História Científica", origi­
nalmente publicado em Historical Studies III, em 1961, aqui re­
7. A FILOSOFIA ESPECULATIVA DA HISTÓRIA: HEGEL .. 130 produzido pela gentil permissão de Bowes & Bowes, desenvolve
1. Transição para Hegel ................................•. 130 pontos antes apresentados rapidamente num Apêndice II, agora
2. A dialética e a filosofia do espírito ...................... 131 eliminado. "Causação Histórica", apresentado como um trabalho
3. A filosofia da história de Hegel ......................... 134 à Sociedade Aristotélica em 1963 e reproduzido por permissão
4. Crítica das teorias de Hegel ............................ 139 dessa entidade, procura preencher algumas sérias lacunas de um
8. OUTROS AUTORES ...................................... 146 estudo anterior. Ambos os apêndices, como será óbvio, foram
escritos com uma preocupação quanto à prática histórica maior
1. Comte e os movimentos positivistas ...................... 146 do que a evidenciada no restante do livro. Se eu tivesse de es­
2. Marx e o materialismo histórico ........................ 149
3. O estudo da história por Toynbee ....................... 154 crever novamente este livro, procuraria estender essa modifica­
ção a todo ele.
Ensaios Adicionais: Gostaria de dedicar este volume, em sua nova forma, ao
(A) OS LIMITES DA HISTÓRIA CIENTÍFICA 163 meu amigo e ex-Professor de História, Robin Harrison, do Mer­
ton College, Oxford.
(B) CAUSAÇÃO HISTóRICA ................................ 182
NOTA BIBLIOGRÁFICA ..................................... . 201 w. H. WALSH
1967
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

O plano dos assuntos que este livro pretende cobrir é exposto no


capítulo introdutório. Resumindo-os em termos cômodos, embora
pretenciosos, podemos dizer que os Capítulos 2 a 5 tratam de ques­
tões de lógica do pensamento histórico, enquanto os Capítulos 6 a 8
fazem uma discussão crítica das várias tentativas de se chegar a
uma metafísica, ou uma interpretação metafísica da história. Se o
leitor surpreender-se com o fato de assuntos tão diferentes serem
tr1:J.tados num mesmo volume, terei de reconhecer que tenho cons­
ciência dessa incongruência, embora não esteja tão convicto quanto
antes de que os problemas focalizados nos capítulos finais sejam
totalmente irrelevantes para os tratados na parte inicial do livro.
Para evitar mal-entendidos, quero deixar claro que meu obje­
tivo principal é escrever para filósofos, e não para historiadores.
Parece-me muito estranho que os professores de Filosofia esperem�
com tanta unamidade, que seus alunos falem da lógica das Ciên­
cias Naturais e das Matemáticas, assuntos que poucos deles conhe-•
cem bem, e quase nunca lhes façam perguntas sobre os processos e
postulados dos historiadores, embora em muitos casos esses alunos.
estudem também, além de Filosofia, História. Se eu puder mostrar
que existem problemas de história aos quais os filósofos bem po­
deriam dedicar sua atenção, terei atingido meu objetivo principal..
Naturalmente, ficarei satisfeito se os historiadores se mostrarem
interessados no que tenho a dizer. Mas se afirmarem que minhas.
questões são em grande parte, ou mesmo no todo, irrelevantes pa­
ra os estudos históricos propriamente ditos, não considerarei isso
uma crítica séria. Os filósofos são notoriamente homens temerá­
rios, mas espero que não me atribuam a presunção de dizer aos.
historiadores como devem ocupar-se de sua especialidade.
� evidente que devo muito a Collingwood, embora tenha ten­
tado segui-lo de forma crítica. Também aprendi muito em discus­
sões com P. G. Lucas, da Universidade de Manchester, que leu o
primeiro esboço de quatro dos meus cinco capítulos, e cujos co­
mentários chamaram minha atenção para alguns simplismos cho-
10 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA

cantes de pensamento. Ele não deve ser responsabilizado pelos que


continuam existindo no livro. Gostaria de agradecer também ao
Prof. Paton, que leveu todo o original datilografado e salvou-me,
entre outras coisas, de um erro crasso no Capítulo 6.

w. H. WALSH
Dezembro de 1950.

O QUE É FILOSOFIA DA HISTóRIA?

I. Desconfiança atual em relação ao assunto

Quem escreve sobre filosofia da história, pelo menos na Grã-Bre­


tanha, deve começar justificando a própria existência de seu as­
sunto. Isso pode provocar certa surpresa, mas os fatos são claros.
Nenhum filósofo questionaria a afirmação de que há um grupo
razoavelmente bem-definido de problemas que pertencem à filoso­
fia das ciências físicas, e que surgem quando pensamos nos méto­
dos e pressupostos dessas ciências, ou ainda, sobre a natureza e
condições do próprio conhecimento científico. A filosofia da ciên­
cia é considerada, em certo sentido, um estudo legítimo. Mas não
há essa aceitação quanto à filosofia da História.1
Talvez seja interessante indagar como surgiu tal situação, já
que tal pergunta pode lançar luz sobre a temática do ramo de es­
tudo de que nos pretendemos ocupar. Os estudos históricos têm
florescido na Grã-Bretanha há mais de dois séculos, e não obstan­
te a filosofia da história foi, até os últimos anos, praticamente
inexistente. Por quê?
Uma razão encontra-se, sem dúvida, na orientação geral do
pensamento filosófico na Europa. A moderna filosofia ocidental
nasceu da reflexão sobre o extraordinário progresso feito pela física
matemática em fins do século XVI e princípios do XVII, e sua li­
gação com as ciências naturais permaneceu inalterada, desde então.
A equação do conhecimento propriamente dito com o conhecimento

1 [Isso foi escrito em 1949, e a referência à "Nota bibliográfica", no final


deste volume, mostrará que muitas obras importantes foram escritas so­
bre o assunto desde então. Mesmo assim, a filosofia da história continua
tendo uma respeitabilidade apenas marginal nas universidades britânicas.)
12 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA Ü QUE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 13

obtido pelos métodos da ciência foi feita por quase todo grande mento nas ciências, ou a prática de ações morais - que os britâ­
filósofo, desde Descartes e Bacon até Kant. É certo que entre esses nicos foram bons. Esses problemas eram hem adequados ao gen10
pensadores podem-se distinguir, nitidamente, duas escolas: os que nativo, com sua combinação de cautela e acuidade crítica. Em
ressaltaram o aspecto matemático da física, e os que deram ênfase contraste, a metafísica, considerada uma tentativa de interpreta­
à sua base na observação e sua dependência das experiências como ção geral da experiência ou de explicação de todas as coisas em
o aspecto mais importante. Embora assim divididos, os aurores em termos de um único sistema capaz de compreender tudo, não en­
questão eram unânimes em afirmar que, metafísica e teologia à controu muita simpatia entre os britânicos. Os que se destacaram
parte, a física e a matemática eram as únicas depositárias do co­ nesse setor foram poucos, e em geral o assunto foi encarado com
nhecimento genuíno. Nem é de surpreender que os filósofos clás­ ceticismo e desconfiança .
sicos, pelo menos, tenham adotado essa posição, vendo que essas Uma vez considerados esses fatos, a indiferença que os pen­
ciências eram de fato ( e, novamente, com exceção da metafísica e sadores britânicos evidenciaram pela filosofia da história no passado
teologia) os únicos ramos desenvolvidos do conhecimento, na épo­ torna-se mais compreensível. A filosofia da história, tal omo
ca em que escreviam. concebida tradicionalmente, era sem dúvida um assunto metafísi­
O fato de e os filósofos britânicos tiveram até agora, pou- co, o que podemos perceber examinando rapidamente sua evolu-
--
co a zer sobre a história _pode, assim, explicar-se, em parte, pe o ção.
caráter geral aa moderna tradiçao filosófica européia. Essa tradi-� O problema de e terá inventado a filosofia da � i, .
çãÕtendeu sempre a procurar nãs ciências naturais material para controverso: há argumentos que justificam a atribuição ao filóso-
'seus estüaos, e ormou seus criterios�do que e e ser aceito como o italiano-Jico ( 1668-1744 ), embora sua obra tenha passado em
-sabido pela referência aos modelos científicos. A história, expulsa grande parte despercebida na sua época, o que justifica remon-
'do corpo do conhecimento propriamen e füto por Descartes na tar a um passado ainda mais distante, .aos textos de Santo Agos­
Parte I do seu Discurso, é ainda hoje vista com suspeita por seus tinho, ou mesmo a certos trechos do Velho Testamento. Para efei-
sucessores. De qualquer modo, a história como a conhecemos atu­ tos práticos, porém, temos razão em afirmar que a filosofia da
almente, como ramo desenvolvido do conhecimento, com seus mé­ história coJ,11eçou a ser considerada matéria indepei'.idente no pe- _-..J
todos e padrões próprios, é comparativamente nova: na verdade, �íodo q�e �inicia com a publicação, em 1784, da primeira parte
ela não existia praticamente antes do século XIX. Mas essas con­ das {déias para uma História Filosófica da Humanidmie, de fu!· (!

siderações, embora válidas, não podem explicar a totalidade da po­ der,. e terminou ouco de ois do a arecimento obra póstym, �
sição, pois em outros países europeus a filosofia da história tornou­ de Hegel, Conferências sobre a Filosofj,p, ..da .História, em 1837. -1
se objeto de sérios estudos. Na Alemanha e na Itália, elo menos, Mas esse estudo tal como concebido durante o .Ee..tijdo, era em -
os prohle1.aas do �ecimento histórico despertaram, e continurun gran e parte uma questão de especulação metafísica�eu objetivo 7
despertando, um vivo interesse. Na Grã-Bretanha, porém, quase não _era chegar a um entendimento do curso da historia como um___:_-;:,
1:,e tem consciência desses problemas. Como se pode explicar essa todo; mostrar que, apesar das muitas anomalias e inconseqüên- �-f
diferença de atitudes? cias que apresentava, a história podia ser considerada como uma
A resposta, ao que nos parece, deve estar em algumas das unidade que compreendia um plano geral, um plano que, umJ
características predominantes do espírito e temperamento britâni­ vez percebido, esclareceria o curso. detalhado dos acontecimentos
cos. Há alemães que professam acreditar que a aptidão filosófica ao mesmo tempo em que nos permitiria ver o processo histórico
não está entre os dons dos habitantes das Ilhas Britânicas, pois como satisfatório à razão, num sentido especial seus expoen­
estes sempre revelaram pouco gosto pela especulação metafísica do tes, ao tentarem realizar esse objetivo, evidenciaram as qualida­
tipo mais remoto. Mas dizer isso é ignorar as notáveis contribui­ des habituais dos metafísicos especulativos: audácia de ima ina­
ções feitas por autores como Locke e Hume à filosofia crítica, �ão fer!_ilidade de hi óteses, um zelo pela unidade que não fugi,a
contribuições pelo menos tão notá\feis quanto as dos pensadores de da violência aos fatos classificados como "apenas" empíricos. Pre­
qualquer outro país. É na formulação e solução de problemas de tendiam oferecer uma compreensão da história mais profunda e
análise filosófica - problemas surgidos quando refletimos sobre a valiosa do que qualquer coisa que os historiadores pudessem apre­
natureza e condições de atividades como a consecução do conhePi- sentar, uma compreensão que_, no caso de Hege o maior desses
14 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA O QuE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 15

autores, tinha sua base não num estudo direto da evidência his­ um penetrante ensaio intitulado "Pressupostos da História Crí­
tórica ( embora Hegel não fosse tão in i erente em re açao aos fà­ tica", mas nada !indica que tenha atribuído uma importância
tos, como pretende ser, por vezes), !!!ªS em considerações pura­ especial à história na formulação de sua visão metafísica geral.
mente filosóficas ./Á filosofia da história, como pratica a por es­ Seu colega Bosanquet certamente não tinha dúvidas sobre o as­
ses autores, passou a s1gmficar um tratamêiito espec ativo e sunto. "A história", disse ele, "é uma forma "híbrida de experi­
to o o curso da hístóría, com o qual se esperava revelar seu se­ ência, incapaz de qualquer grau considerável de 'existência ou,
greclo, de uma vez por todas . ,,, verdade'."ª Um idealismo autêntico deve existir nos fatos rela­
Tudo isso re resentava um anátema para a cautelosa men­ cionados com a experiência estética ou religiosa, ou a vida social;
talidade britânica.2 A filosofia a natureza, em que os metafí­ para essas esferas, e não para a história, é que nos deveríamos
sicos alemães da época já eram famosos, parecia demasiado for­ voltar em busca do entendimento concreto de que os autores do
te aos britânicos. Os filósofos da natureza pareciam, pelo menos continente europeu falavam. E a opinião de Bosanquet era parti­
aos críticos hostis, prometer um atalho para a compreensão da lhada, em geral, por todos os idealistas britânicos anteriores a
natureza, uma forma de descobrir fatos sem o trabalho tedioso Collingwood. Ainda hoje, a história continua sendo um objeto
da pesquisa empírica. Como eles ró rios reconheciam, seu obje­ de suspeita para alguns membros dessa escola, mesmo que seja
tivo era che ar a um tratamento "espec ativo dos EE_OCe�o!! apenas em razão da tendência evidenciada pelos que dela se ocu­
naturais, e a es ecu açao, ness contexto não se 1stmguia faci!:: pam de sustentar que, como a única forma válida de conheci­
mente a suposi 40. Em seus piores exemp õs,su"âobra era �r­ mento, ela deve absorver a própria filosofia;
eada por """üm apriorismo fantástico que a desacreditou totalmente
aos olhos dos sóbrios. Assim, a filosofia· da natureza era vista com
profunda desconfiança pelos pensadores britânicos, que transfe­ 2 . Filosofia crítica e especulativa da história
riram sua aversão para a filosofia da história, a qual consideraram
apenas uma tentativa de fazer, na esfera histórica, o que os filó­ Sendo essa a reação geral dos filósofos britânicos ao assunto que
sofos da natureza estavam tentando em seu setor. Em ambos os pretendemos tratar, poderíamos perguntar por que pretendemos
casos, tanto o projeto como os resultadoss foram considerados diferir deles . Se a filosofia da história é em geral tão despre­
como absurdo. zada r ue àventurar-se a revive-la?·- ma as respos as a essa
A tendência contra a filosofia da história, assim criada, pergunta poderia ser a de que a · osofia da história, em sua
continuou sendo uma característica permanente da filosofia bri­ forma tradicional, não che ou ao fim com a morte de He el . �
tânica. Quanto a isso, é muito esclarecedor notar que a aversão Embora com um aspecto diferente, contmuou com arx e foi
não se limita a uma escola. Não foram apenas os empiristas e praticada novamente em nossos dias por-:mtm- como penglm
e Toynbee. A filosoha da lüs oria, como ou ras partes-da-meta­
�ramo de estu o. m m�sec o X e
nos primeiros anos �1 osofos da ãuropa con­ tÍfica, parece na verdade exercer um fascínio continuado sobre
tlnen.ta e ten en!::ia i ealista ilt ey e ic ert ri Ãleman a, os seres humanos, apesar das repetidas afirmações de seus ad­
Croce, na Itália, podem ser mencionados como exemplos) foram versários, de que ela consiste de uma série de pressupostos ah•
encontrar na história uma forma de conhecimento _pi� iõcleriã surdos . E a argumentação em favor de uma nova pesquisa dos
ser cons1 erada concreta e individua , em�omparação com .2-!?.2: problemas tradicionais do assunto bem se poderia desenvolver
n ecimento geral strato o erec1 o pelas ciências naturais, e ao longo dessas linhas. No presente contexto, porém, não dese­
�onstruíraü; seus s�as -� to�dessetãiõ�al ou suposto. jamos recorrer a argumentos que alguns leitores, pelo menos,
Não houve, porém, um movimento correspondente no idealismo 3 The Principie of Individuality and Value, pp. 78-9.
britânico. É certo que Bradley começou sua carreira escrevendo 4_ Essa tendência ao chamado historicismo (que não tem ligação essen­
cial com a filosofia da história) é bem ilustrada pelas últimas obras de
Collingwood, influenciado por Croce e Gentile, na sua formulação. Para
2 Houve, é claro, autores que se sentiram à vontade com essa forma a atitude de um idealista contemporâneo em relação a ela, o leitor deve
de pensamento, como Coleridge e Carlyle. Em geral, porém, o Roman­ �onsultar a introdução do Prof. T. M. Knox ao livro póstumo de Col­
tismo não teve maior destaque na filosofia britânica. lmgwood, T'he Idea of History.
16 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA O QuE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 17
podem considerar pouco convincentes. Em lugar disso, dese · a• caráter e pressupostos do pensamento científico, a análise adequa­
mos mostrar e há um sentido no qual os filósofos de todas as da das idéias científicas e a relação de um ramo da ciência com
esco as devem admitir qÜe a filosofia da nistória é a denomin!• outro, e seu domínio das técnicas lógicas pode ajudar a eliminar
ção de um estudo autêntico . as dificuldades práticas no trabalho científico. Dificilmente ele
Cõmo �liminar, devemos mencionar o fato simples e fa. dirá algo de valor sobre esses assuntos, a menos que tenha um
miliar de que a alavra "história" é, em si mesma, ambígua. bom conhecimento daquilo que os cientistas fazem. Mas, de qual­
( J Ela compreende ( 1 ) a totalidade as ações h�as do p�- quer modo, as questões que formula não serão científicas. Per­
( do, e ( 2 ) a narrativa ou relato que delas fazemos, agora. Essa tencerão não à busca direta de verdade ou entendimento factual,
ambigüidade é importante porque abre; logo de início, do�s cam­ que é o objeto da indagação científica, mas sim ao estágio de re­
pos possíveis à filosofia da história. Esse estudo se poderia �cu­ flexão que se segue quando começamos a considerar a natureza e
par, como em sua forma tradicional, �e descrev�mo_ � rapida­ as implicações das próprias atividades científicas.
mente acima, do curso real dos acontecimentos historicos. Po­ Ora, como dissemos no início, concorda-se geralmente que a
deria, por outro lado, ocupar-se com os J?roc�ss?s. de pensamen• filosofia da ciência é um ramo de estudo perfeitamente autêntico.
to histórico, o meio pelo qual se chega a historia, no segundo Até mesmo o filósofo mais antimetafísico admitiria isso. Mas nesse
sentido. É claro que seu conteúdo será muito diferente, depen• caso deve também admitir a possibilidade da filosofia da história,
dendo de qual desses caminhos é o escolhido. pelo menos numa de suas formas. Pois, assim como o pensamento
Para compreender-se a relevância dessa distinção para os científico dá origem a dois possíveis estudos, um sobre a atividade
nossos objetivos aqui, basta voltar a atenção, por um momen• em si, e o outro com seus objetos, o mesmo ocorre com o pensa­
to, para o paralelo com as ciências naturais. Há, na verdade, mento histórico. "Filosofia da história" é, na verdade, o nome de
dois termos para as investigações, correspondentes aos que esta­ um duP-lo grup� ro emas oso ico� parte
mos distinguindo, embora nem sempre sejam usado_s co� rigor�­ especulativa como uma arte analítica. E mesmo os 41.:!-e rejeitam
sa precisão. São eles a filosofia da natureza e a filosofia da Cl• à primeira elas _po em :per eitamente ( e �verda e, deveriam
ência. O primeiro volta-se para o estudo do curso real dos aco�­ aceitar a se�nda.
tecimentos naturais, com o objetivo de construir uma cosmologia
ou explicar a natureza como um todo. O segund� te?': como ob­
jeto a reflexão sobre o processo do pens�me�to cientifico, o exa­ 3. Filofosia crítica da história
me dos conceitos básicos usados pelos cientistas, e assuntos cor•
relatos. Na terminologia do Professor Broad, a primeira é uma Que questões são, ou deveriam ser, discutidas pelos que se ocupam
disciplina especulativa, e a segunda, uma disciplina crítica. Não das duas partes do assunto aqui distinguidas? Parece-nos que os
será necessária grande reflexão para ver que o filósofo que re• problemas da filosofia crítica da história se enquadram em quatro
jeita a possibilidade do primeiro desses estudos não está com- grupos principais. Talvez seja útil ao leitor se procurarmos indi­
prometido com a rejeição ao segundo. . car rapidamente quais são esses grupos.
. . .
Pode ser ' como acreditam certos autores, que a filosofia
. da
natureza ( no sentido de um estudo do curs� dos aconte�imentos (a) A história e outras farmas de conhecimento. O primeiro
_ grupo é constituído de questões sobre a natureza mesma do pen­
naturais de certa forma suplementar ao realizado pelos cientistas
naturais) constitua um estudo ilegítimo; que as cosmologias se­ samento histórico. O que é a história e como ela se relaciona com
jam, na verdade, sumários de resultados científicos ( e nesse caso outros estudos? Temos em questão um ponto crucial: o conheci­
deveriam ficar aos cuidados dos cientistas) ou fantasias ociosas mento histórico é sui generis ou terá ele o mesmo caráter de outras
da imaginação. Mesmo que assim fosse, não se segue que nã� formas de conhecimento - como o visado pelas ciências naturais,
exista uma matéria como a filosofia <;la ciência. Mesmo que o fi. por exemplo, ou o conhecimento perceptual.
A interpretação da história que talvez seja mais comum é a
lósofo não possa contribuir, de modo algum, para a soma de nosso
que a relaciona com o conhecimento perceptual. Sustenta que a
conhecimento da natureza ou de nosso entendimento dos proces­
tarefa essencial do historiador é descobrir os fatos individuais
sos naturais, pode ainda assim ter algo de útil a dizer sobre o
sobre o passado, tal como é tarefa essencial da percepção des-
18 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA Ü QUE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 19

cobrir os fatos individuais sobre o presente. E, da mesma forma que to, devem ser considerados autênticos pelos filósofos de todas as
os dados da percepção constituem o material sobre o qual trabalha escolas. E o mesmo podemos dizer do segundo grupo de proble­
0 cientista natm·al, também os dados dos historiadores, argumenta-se, mas pertinentes à filosofia crítica da história, que se centralizam
fornecem material ao cientista social, cuja tarefa é contribuir para em torno das concepções de verdade e fato na história. Aqui,
a ciência do homem, de suma importância. Mas essa nítida divisão como no problema da objetividade histórica, que discutiremos a
do trabalho, que atribui ao historiador a tarefa de descobrir o que seguir, temos questões que surgem na teoria do couhecimento em
aconteceu, e ao cientista social a de explicar o que aconteceu, geral, mas dotadas de certas características especiais quando as
não se mantém de pé quando nos voltamos para os exemplos con­ consideramos em relação com a esfera da história.
cretos do trabalho histórico. O que percebemos imediatamente ê Essas características são bastante óbvias quando perguntamos
que os historiadores não se contentam com a simples descoberta o qué é um fato histórico, ou ainda quais os critérios para conside­
de fatos passados: aspiram, pelo menos, não só a dizer o que acon­ rar as afirmações dos historiadores verdadeiras ou falsas. Podemos
teceu, mas também a mostrar por que aconteceu. A história não supor que os fatos em qualquer ramo do conhecimento devem,
é simplesmente um registro de acontecimentos passados, mas o de certa forma, ser passíveis de inspeção direta, e que as afirma­
que chamamos de registro "significativo" - um relato no qual ções dos especialistas em cada ramo podem ser verificadas pela
os acontecimentos são relacionados entre si. E surge imediatamente sua conformidade com esses fatos. Mas, quaisquer que sejam as
a questão do que o fato de serem relacionados significa para a na­ virtudes dessa teoria sob outros aspectos, ela não se pode aplicar
tureza do pensamento histórico. com plausibilidade ao campo da história.
Ora, uma das respostas ( por v.ezes considerada a única) é a O que há de mais notável na história é que os fatos por ela
de que os historiadores relacionam os fatos precisamente da mes­ descritos são passados, e fatos passados já não são acessíveis à ins­
ma maneira pela qual os cientistas naturais o fazem - conside­ peção direta. Em suma, não podemos testar a exatidão de afirma­
rando-os exemplos de leis gerais. Segundo esse argumento, os his­ ções históricas simplesmente verificando se correspondem a uma
toriadores têm à sua disposição toda uma série de generalizações realidade conhecida independentemente. Como, então, podemos
como "situações do tipo A dão origem a situações do tipo B", testá-las? A resposta que qualquer historiador praticante de sua
por meio das quais esperam elucidar seus fatos. É essa convicção matéria daria a essa questão seria a de que podemos testá-las refe­
que está por trás da teoria dos positivistas do século XIX, de que rindo-nos à evidência histórica. Embora o passado nos seja acessível
o pensamento histórico é, com efeito, uma forma de pensamento à inspeção direta, ele deixou amplos traços de si mesmo no presente,
científico. O que esses autores ressaltaram é que há leis da his­ na forma de documentos, edifícios, moedas, instituições, processos
tória, como há leis da natureza, e argumentaram que os historia­ e assim por diante. É sobre isso que qualquer historiador que se
dores devem concentrar-se em tornar essas leis explícitas. Mas, na respeite edifica sua reconstrução do passado: toda afirmativa que o
realidade, os historiadores mostraram pouco ou nenhum interesse historiador faz deve ser confirmada por alguma forma de evidência,
por esse programa, preferindo, em lugar dele, dar sua atenção, direta ou indireta. As chamadas exposições históricas que se funda­
como antes, ao curso detalhado dos acontecimentos individuais, mentan em qualquer outra base ( por exemplo, a imaginação pura
pretendendo não obstante oferecer uma explicação para eles. E e simples do historiador) não são dignas de crédito. São, no má­
isso sugere a possibilidade de que o pensamento histórico seja, ximo, suposições inspiradas; no pior dos casos, serão simples
afinal de contas, uma forma de reflexão própria, coordenada com ficção.
o pensamento científico e a ele não redutível. Não podemos afir­ Isso certamente nos proporciona uma teoria prática inteligí­
mar que o seja à base de uma ou duas dificuldades aparentes nas vel da verdade histórica, mas que não satisfaz todos os escrúpulos
outras teorias mencionadas: a autonomia da história, se realmente filosóficos. Se refletirmos sobre o caráter da prova histórica em si,
existir, tem de ser demonstrada com razões independentes, é cla­ podemos perceber isso. Os traços do passado, existentes no pre­
ro. Mas é difícil negar que tal opinião tenha certo fundamento. sente, incluem, como já dissemos, documentos, moedas, processos,
e assim por diante. Mas quando pensamos sobre isso, tais coisas
( b) Verdade e fato na história. Essas questões sobre o status não encerram na sua aparência seu verdadeiro significado, nem
do pensamento histórico e sua relação com outros estudos, acredi- sua autenticidade. Assim, quando o historiador lê uma declaração
20 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA
Ü QUE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 21
numa ou outra das_ "fontes orig" is" :para o eríod em estudo, e
rião a aceita automaticamente. Sua atitude ara com ela, s cõ­ ( i) De um lado, todo historiador de boa reputação reconhe­
�ce bem sua tarefa,-é s� crític� em e ãecidir s-;a_eve ce a necessidade de alguma forma de objetividade e imparciali­
ou não ac1·editar nel�u ainda ;m que partes dela pode acre­ dade em sua obra: distingue a história da propapanda e condena
ditar. À história propriamente dita, como Collingwood nunca se o s que permitem que o s sentimento s e idéias pessoais afetem a
êansou de observar, não pode ser considerada uma questão reconstrução do passado. Se isso lhes fosse indagado, a maioria
de tesoura e cola: ela não se faz com um historiador extraindo dos historiadores poderia ser levada a concordar que sua atividade
pedaços de informação fidedigna de uma ou de toda uma série é primordialmente cognitiva, relacionada com um objeto inde­
de "autoridades". Os fatos históricos têm, em to.dQLOs__casos, de pendente, o passado, cuja natureza tinham de investigar por si
�er com rovados: eles nã� são sim lesniente dad�. E isso se ·apli­ mesma, embora sem dúvida acrescentassem que nosso conheci­
ca não só aos produtos acabad os do pensamento do historiador, mento desse objeto é sempre fragmentário e incompleto . Não obs­
mas também às declarações das quais ele parte. Isso, porém, não tante, ( ii) continua sendo verdade que as divergências entre his­
impossibilita o reconhecimento de que algumas dessas declara­ toriadores não apenas são comuns, mas também insistentes, e que,
ções sejam consideradas por ele como muito mais fidedignas do uma vez solucionadas as questões técnicas sobre precisamente
que outras. quais conclusões podem ser extraídas desta ou daquela prova, em
Podemos resumir dizendo que o dever do historiador pão _é lugar de uma interpretação unânime de qualquer período, sur­
apenMbas�to as as suas afirmações em provas exi_stentes, mas gem várias leituras dessas provas, 3iparentemente contraditórias -
decidir também�issaoas provas. A evidência histórica, em marxista e liberal, católica, protestante e "racional", monarquis•
ta e republicana, e assim por diante. Essas teorias são defendidas
outras palavras,não constitui um dado final a que possamos recor­
de tal modo que seus partidários as consideram, se não a verdade
rer para comprovar a verdade de juízos históricos. Mas isso, como
final sobre o período em estudo, pelo menos corretas em seus as­
será óbvio, reabre toda a questão do fato e verdade na história. pectos essenciais. Tal convicção leva-os a repudiar todas as inter­
Não nos podemos ocupar aqui das novas tentativas de estudar a pretações rivais como evidentemente errôneas. �o só pode su­
questão - das quais podemos mencionar a teoria de que certas gerir a um observador honesto ue a pretensão da historia moderna
provas históricas ( ou seja, as proporcionadas por certos julgamen­ a um status científico não se justifica, pois os 1storia ores n�
tos de memória) são, afinal de contas, irrefutáveis, e a afirmação cônseguiram desenvo ver o que se o e cliamar de uma "cons­
idealista, contrária à primeira, de que toda história é contempo­ éiência geral" histórica, uma série de cânomes de interprefãçãÕ,
- -- ----
rânea ( isto é, que o pensamento histórico está na realidade interes­ aceitos por t odos os que se edicam ao assunto. -v
sado não no passado, mas no presente). Elas serão discutidas num / Que dizer �obre tal situação ? Parece haver três formas prin­
. .
capítulo posterior. Mas talvez já tenhamos dito o suficiente para c1pa1s pelas quais podemos tentar examiná-la.
mostrar que surgem problemas sérios quando refletimos sobre Primeiramente, podemos sustentar a tese de que não somen­
essas questões, e para deixar claro que elas constituem o objeto te os historiadores são influenciados por fatores sub· etivos �
adequado da indagação filosófica. também que isso é inevitave . istória imparcial, lo� e de
ser 1:m ideal-;-e uma imP.ossíh' 1 a e concreta. m apoio a essa
.
pos1ça o, podemo s observar que todo historiador examina
( c) Objetividade histórica. A terceira de nossas questões re­ o passado
laciona-se com a noção de objetividade histórica, da qual podemos d� um certo ponto de vista, o que é inevitável, pois o histo
riador
dizer, sem exagero, que clama por um exame crítico. As dificul­ º?º po�e ?eixar de ser �uem é. Poderíamos manter ainda que as
_
discordancias dos historiadores, quando analisadas com
dades provocadas por esse conceitoü talvez possam ser melhor ob­ cuidado
parecem surgir em pontos que não são objeto de discussã
servadas examinando-se as duas posições seguintes, cuja compati­ o , ma�
bilidade não é óbvia. q__ue d�pendem a1_1tes dos interesses e desejos das partes em oposi­
çao, seJam pessoais ou grupais. As disputas histórica
. s, segundo essa
teoria, relacionam se no fundo não com o que é verdadeiro ou falso,
A leitura da secção 2 do Capítulo 2 pode ser útil para o entendimento as _-
: , com
5
o que e ou não desejável e, em conseqüênc
da exposição que se segue. _ ia, os juízos
istonc o s não são rigorosamente cognitiv
os, mas "emotivo s". Isso
22 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA O QuE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 23
ma longe, no sentido de abrir a distinção entre história e propa­ do leitor para algumas das reflexões que podem ser feitas sobre
ganda, e portanto solapar a pretensão de que a história é ( ou pode o problema. Deixamos aqui o assunto, por ora, e passamos ao quar­
tornar-se) um estudo realmente científico. to e último de nosso grupo de problemas na filosofia crítica da
Em segundo lugar, podemos tentar argumentar que os fracas­ história.
sos passados dos historiadores em chegar à verdade objetiva não
constituem prova de que essa verdade sempre lhes escapará, e (d) A explicação na história. O problema central neste grupo
procurar mostrar que o desenvolvimento de uma consciência his­ é o da natureza da explicação histórica. Haverá peculiaridades
tórica comum não é impossível. Com isso, estaríamos adotando a sobre a maneira pela qual o historiador explica ( ou tenta expli­
posição dos positivistas do século XIX, da qual partiu o filósofo car) os acontecimentos que estuda? Já vimos que há uma argu­
alemão Dilthey ( embora tivesse mudado de opinião mais tarde): mentação justificativa para a afirmação de que a história é, tipi­
a de que a história objetiva deve basear-se no estudo objetivo da camente, a narração das ações do passado, disposta de tal modo que
natureza humana. As dificuldades desse projeto são enormes, e a vemos não só o que aconteceu, mas também por quê. Devemos
visão positivista é pelo menos demasiado simples. Mas a idéia não perguntar que tipo, ou tipos, de "porquê" estão envolvidos na
deve ser rejeitada apenas por essa razão. Ela tem a seu favor o história.
fato de que, como iremos argumentar mais tarde, os julgamentos Podemos abordar melhor essa questão examinando a maneira
gerais sobre a natureza humana têm um papel importante na pela qual o conceito de explicação é usado nas ciências naturais.
interpretação e explicação históric1:1s. É um lugar-comum filosófico dizer que os cientistas já não pro­
Finalmente, poderíamos dizer que o conceito de objetividade curam explicar o fenômeno de que tratam, em qualquer sentido
histórica é radicalmente §!_e�e do co_!!ceito d_e o jetividade cie_!!• final: eles não pretendem dizer-nos por que as coisas são como são,
filica, resu tan o as diferenças do fato de que enquanto todos os a ponto de revelar o objetivo da natureza. Contentam-se com a
historia õres de reputação condenam o trabalho tendencioso, não tarefa muito mais modesta de construir um sistema de uniformi­
endosSlffil com a mesma clareza o ideal científico de um pensa­ dades observadas, em termos do qual esperam elucidar qualquer
mento completamente impessoal. A obra do historiador, tal como situação que deva ser examinada. Em determinada situação, seu
a do artista, pode ser considerada, em certo sentido, a expressão procedimento é mostrar que ela constitui um exemplo de uma ou
de sua personalidade. É plausível, portanto, argumentar que isso mais leis gerais, que se seguem de outras leis de caráter mais am­
tem importância vital para o problema que examinamos. Embora plo, ou com elas estão relacionadas. As principais características
seja moda rejeitar a arte como uma atividade totalmente prática, desse processo são, primeiramente, a de consistir na resolução
a verdade é que falamos dela com freqüência como se fosse, em de determinados acontecimentos em casos de leis gerais, e, em se­
certo sentido, também cognitiva. Dizemos que o artista não se gundo lugar, envolver nada menos que uma visão externa dos
contenta apenas em ter e expressar suas emoções: também quer fenômenos em exame ( já que o cientista não pretende revelar o
comunicar o que considera uma certa visão ou percepção da natu­ objetivo deles). Assim, podemos dizer que ele resulta num entendi­
reza das coisas, e pretende que sua obra encerra a verdade e a ob­ mento que é descrito como "abstrato". Muitos autores que se
jetividade, por essa mesma razão. E poderíamos dizer que a me­ ocuparam da filosofia da história pretenderam que o entendimen­
lhor maneira de tratar o problema da objetividade histórica é assi­ to histórico não é abstrato, mas concreto, de certa forma. É evi­
milar o pensamento histórico ao pensamento do artista, sob esse dente que a veracidade dessa afirmação dependerá de ser o histo­
aspecto. Poderíamos então dizer ue a história nos dá uma série
- -:-:-ca--.;....-----� -----...-...-.....---'--.--
r!ador capaz de explicar seus fatos da mesma forma que os cien­
( de retratos diferentes, mas nao incompat1ve1s, o passado, cada tIStas naturais explicam os seus, ou dispor de alguma percepção
[
qual refletindo-o de um diferente ponto de vista. - -­ peculiar do assunto que lhe permita apreender sua natureza indi­
--itá dificuldades evidentes nessa teori , como nas duas ante­ vidual.
riores, mas elas não podem ser discutidas aqui. O máximo que Há alguns filósofos que respondem a essa questão pela ne­
.
podemos pretender nesta breve exposição é mostrar que nossa afir­ gah va. A explicação, dizem eles, é e só pode ser de um tipo, o
mação original de que o conceito de objetividade na história clama e �pregado pelo pensamento científico. Um processo de explica­
por um exame crítico é mais do que evidente, e chamar a atenção çao é essencialmente um processo de dedução, e no centro dele
24 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA Ü QUE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 25

sempre há, portanto, alguma coisa que os pode expressar em ter­ a generalização, em particular as generalizações sobre as diferentes
mos gerais. Mas concluir, por isso, que não pode haver um con­ maneiras pelas quais os seres humanos reagem a diferentes situa­
ceito especial de explicação na história não é convincente. A abor­ ções. A história pressupõe, portanto, ro osições gerais sobre a
dagem correta da questão seria começar pelo exame das medidas natureza humana, e nenhuma e!Jllicação do pensamento histórico
que os historiadores tomam, na prática, quando se propõem escla­ seria co�pleta sem a apreciação ade_g:uada desse fato.
recer um acontecimento histórico ou uma série de acontecimen­
tos. E, 1uando fazemos isso, notamos imediatamente que eles não É o que tínhamos a dizer, como descrição preliminar dos pro­
parecem empregar generalizações da mesina maneira que os cien­ blemas principais da filosofia crítica da história. Nosso levanta�
tistas. Pelo menos ostensivamente, os historiadores não procuram mento deve ter deixado claro que há dificuldades autênticas na
esclarecer determinadas situações por referência a outras situações matéria, e que são do tipo tradicionalmente enfrentado pelos filó­
do mesmo tipo. Seu processo inicial é bastante diferente. Assim, sofos analíticos ( embora não tenham sido cuidadosamente exami­
quando lhe pedem para explicar um determinado acontecimento - nadas pelos filósofos da Grã-Bretanha, até pouco tempo.) O prin­
por exemplo, a greve geral britânica de 1926 - o historiador co­ cipal problema em relação a elas talvez seja o fato de estarem in­
meça estabelecendo ligações entre esse acontecimento e outros com timamente relacionadas entre si, de modo que, ao tratarmos de
os quais mantém uma relação íntima ( no caso em questão, certos um grupo - digamos, o grupo dos problemas da objetividade his­
acontecimentos anteriores na história das relações trabalhistas na tórica - somos obrigados a levantar questões que, rigorosamente
Grã-Bretanha). A suposição aqui implícita é a de que diferentes falando, pertencem a outro - questões sobre as relações entre his­
acontecimentos históricos podem ser considerados reunidos num tória e ciências, por exemplo, ou ainda sobre a explicação históri­
processo único, como um todo de que são partes e ao qual perten­ ca. Mas essa dificuldade, se aguda na filosofia da história, não se
cem de uma forma especialmente íntima. O primeiro objetivo do
historiador, quando tem de explicar um acontecimento, é vê-lo limita a esse assunto, e devemos fazer o que pudermos para re­
como parte desse processo, localizá-lo no seu contexto, mencionan­ solvê-la, tendo presente que nosso agrupamento de problemas
do outros acontecimentos com os quais está relacionado. não deve ser considerado dotado de qualquer valor intrínseco, mas
Ora, esse processo de "coligação", como podemos chamá-lo simplesmente como um recurso metodológico destinado a impedir
( seguindo o hábito de Whewell, lógico do século XIX), é certa­ que formulemos demasiadas perguntas ao mesmo tempo.
mente uma peculiaridade do pensamento histórico, sendo, em
conseqüência, de grande importância quando estudamos a nature­ 4. Filosofia especulativa da história
za da explicação histórica. Mas devemos não tentar exagerá-lo.
Alguns dos autores que escreveram sobre o assunto parecem pas­ Voltando-nos agora para os problemas da filosofia da história, em
sar da proposição de que podemos estabelecer conexões íntimas sua parte especulativa ou metafísica, devemos admitir desde logo
entre certos acontecimentos históricos para a afirmação muito que há muita discordância sobre a autenticidade desses proble­
mais geral de que a história é totalmente inteligível, e argumen­ mas. Alguns filósofos diriam que os únicos tópicos de que a filo­
tar, em conseqüência, que é superior às ciências naturais. Trata-se,
sofia da história se deveria ocupar são os problemas analíticos do
é claro, de um erro. A verdade parece ser q_ue o pensamento his­ t�po já descrito, e que todas as outras indagações ( do tipo das que
tórico possui certas ecu 1an a es proprias, mas nem or isso é to­
sao formuladas por autores como Hegel) são na realidade inúteis.
ta mente aiferente do pensamento científico. Ê difícil negar <J!!_e o Mas devemos admitir que há uma forte tendência a levantar ques­
1storia or, como o cientista, reéorreã
ie
proposições gerais no curso tões sobre o curso da história, bem como sobre a natureza do pen­
de seu estudo, embora não as tõri explícitas como o faz�en­ samento histórico.
tista. A história difere as ciências naturais pe o ato e que o
objetivo do historiador não é formular um sistema ae leis gerais. . Podemos distinguir dois grupos dessas questões. O primeiro
Mas isso não significa que essas lêís não estejam pressupostas no mclui todos os problemas metafísicos que, como já deixamos claro,
foram tratados pelo que chamamos de filosofia tradicional da his­
pensamento histórico. De fato, como esperamos demonstrar deta­
tória. O ponto fundamental de que se ocuparam esses filósofos
lhadamente, mais adiante, o historiad� utiliz!_ com freqüência foi a descoberta do significado e propósito de todo o processo his-
26 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA O QuE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA? 27

tórico. A história, como apresentada pelos historiadores comuns, do que à filosofia da história, tal como a determinação dos fatores
parecia-lhes consistir de pouco mais do que uma sucessão de acon­ causais importantes no mundo material cabe às ciências, e não à
tecimentos não relacionados, totalmente sem ritmo ou razão. Não filosofia das ciências.
havia uma tentativa na história "empírica", como foi chamada, Há, porém, certa justificativa para considerarmos as opi­
de ir além do que acontecia realmente, até chegar ao plano que niões de Marx sobre o assunto como tendo certa importância fi.
estava atrás dos acontecimentos, nenhuma tentativa de revelar a losófica. Podemos dizer que a teoria marxista da interpretação
trama subjacente da história. Achavam óbvia a existência dessa histórica é filosófica na medida em que apresenta seu principal
trama, pois do contrário a história seria ·considerada totalmente pressuposto não como simples hipótese empírica, mas como muito
irracional. Empenharam-se, por isso, em identificá-la. A tarefa mais do que uma verdade a priori. Se examinarmos sua opiniões
da filosofia da história, na sua opinião, era escrever uma com cuidado, veremos que Marx não está afirmando apenas que
exposição do curso detalhado dos acontecimentos históricos de tal os fatores econômicos são, evidentemente, as forças mais poderosas
forma que a sua "verdadeira" significação e sua racionalidade
na determinação do curso da história - ele afirma também que
"essencial" se tornassem evidentes. Como já vimos, é fácil criticar
tais fatores são, e devem ser, os elementos básicos de todas as situa­
tal projeto, e o programa foi condenado tanto pelos historiadores ções históricas. Basta-nos refletir sobre a forma pela qual os mar­
práticos ( que viram nele uma tentativa de acabar com seu traba­
xistas usam sua tese para vermos que lhe atribuem mais validade do
lho) como pelos filósofos antimetafísicos ( que consideraram total­
que seria possível se a considerassem como uma hipótese empíri•
mente impossível sua realização). Mas o problema fundamental
ca. Na verdade, o que parecem estar fazendo é defender o princí­
que suscita - o problema do significado da história, para lhe darmos
pio de que o materialismo histórico é uma verdade necessária,
seu verdadeiro nome - tem um interesse permanente, e nenhum
que não poderá ser refutada por qualquer experiência futura. E
exame de nosso assunto poderia esquecê-lo totalmente.
se isso for realmente correto, seu procedimento certamente merece
O segundo grupo de questões talvez não seja rigorosamente
a atenção dos filósofos.
filosófico, embora - graças à moda do marxismo - seja dele que,
As implicações dessas observações não devem ser mal-inter­
na opinião do público em geral, a filosofia da história se ocupa.
pretadas. Não estamos sugerindo que a tentativa, dos marxistas e
A filosofia marxista da história tem mais de um aspecto: na medi­
de outros, de propor teorias gerais de interpretação histórica seja
da em que procura mostrar que o curso da história tende para a
inadequada. Parece-nos bem o contrário, que todos os que se
criação de uma sociedade comunista sem classes, por exemplo, apro­
ocupam do estudo da história devem interessar-se por isso. O que
xima-se de uma filosofia da história do tipo tradicional. Mas seu
estamos querendo dizer é que a tarefa de desenvolver essa teoria
principal objetivo é apresentar uma teoria da interpretação e causa­
pertence não ao filósofo, mas ao historiador. A contribuição de
ção históricas. Se Marx estiver certo, os principais fatores da história
Marx para o entendimento da história, na verdade, não foi feita à
são todos econômicos, e nenhuma interpretação do curso detalha­
filosofia da história propriamente dita. Mas a teoria marxista é
do dos acontecimentos que não admita isso terá qualquer valor.
Devemos dizer, porém, que a questão dos principais fatores da his­ de interesse para o filósofo devido à importância que Marx pare­
tória não parece filosófica. É uma questão que só pode ser resolvi­ ce atribuir ao seu princípio fundamental. A validade irrestrita
da por um estudo das conexões causais concretas na história, e atribuída pelos marxistas a esse princípio é incoerente com a sua
e não vemos por que o filósofo deva ser considerado especialmente classificação como simples hipótese empírica ( embora não como
equipado para esse estudo. Ele poderia ser feito, com muito maior fato de ter sido sugerida pela experiência); e a questão da justifi­
proveito, por um historiador prático e inteligente. Além disso, cativa para considerar dessa forma o princípio certamente mere­
deve resultar na formação não. de uma verdade auto-evidente, ce cuidadosa atenção.
mas de uma hipótese empírica, a ser testada pela ,ma eficiência Todos esses aspectos serão discutidos detalhadamente, mais
em lançar luzes sobre situações históricas individuais. Na medida adiante. O objetivo desta exposição é apenas o de ilusti·ar o tipo
em que isso for verdade, o desenvolvimento de uma teoria da de questão de que se ocupa a filosofia da história, ou de que po•
interpretação histórica parece pertencer mai!l à história em si deria ocupar-se. Podemos resumir dizendo que, se o filósofo tem
Ü QUE É FILOSOFIA DA HISTÓRIA 29
28 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA HISTÓRIA

terialismo histórico, desenvolvendo alguns aspectos mencionados


qualquer preocupação específica com o curso da história, deve ser neste capítulo. Se algum leitor estiver descontente com a brevida­
com esse curso como um todo, isto é, com a significação da totali­ de deste tratamento, só podemos dizer que lamentamos. Mas de­
dade do processo histórico. Esta segunda parte de nosso estudo deve, vemos deixar claro que, em nossa opinião, uma decisão final so­
na verdade, ser metafísica ou inexistente.6 E dizer isso será, sem bre a validade da teoria em questão depende não do filósofo, mas
dúvida, criar um preconceito contra ela em certos leitores. Mas do próprio historiador.
não é evidente que esse preconceito se justifique, seja em geral ou
no caso específico que temos à frente. Supor que assim é, sem dis­
cussão, dificilmente seria justificável.

5. Plano do livro

O tratamento da filosofia da história no presente volume divide-se


em duas partes, correspondentes às que distinguimos antes. Na
primeira, e mais longa, focalizaremos principalmente a natureza
do pensamento histórico. Mostraremos, ou procuraremos mostrar,
as características mais destacadas desse pensamento, tentando des­
cobrir aquelas que o distinguem de outros tipos de pensamento.
Discutiremos seus pressupostos e examinaremos o caráter episte­
mológico de seus produtos. N:osso procedimento, aqui, será pura­
mente reflexivo: partindo do fato de que as pessoas realmente pen­
sam sobre as questões históricas, nosso objetivo será descobrir o
que, precisamente, estão fazendo. Com isso, seremos capazes de
atingir todas as questões que acima consideramos como pertencen­
tes à filosofia crítica da história. Não será necessário ressaltar que,
numa obra elementar como esta, não seria possível senão indicar
os principais problemas surgidos e discutir, de forma mais ou me­
nos dogmática, uma ou duas das soluções mais óbvias. Mesmo isso,
porém, pode ter sua utilidade, num assunto tão negligenciado
como este.
A segunda parte de nossa investigação, relacionada com os
problemas tradicionais da filosofia da história, será necessariamen­
te ainda mais geral. O máximo que poderemos fazer, no caso, é
examinar as linhas-mestras de uma oa duas tentativas de criar fi­
losofias da história, do tipo metafísico, e tirar, da reflexão sobre
elas, algumas conclusões sobre a possibilidade da empresa. Como.
apêndice a essa Parte I pretendemos examinar rapidamente o ma-

6 Isso poderia ser negado sob a alegação de que é parte da função da


filosofia da história elucidar conceitos como "progresso", "aconu:cimento
histórico", "período histórico". Não tenho certeza de que assim seja, mas,
se for, a questão evidentemente se relaciona, de perto, com os tópicos
mencionados na secção 3, supra.

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