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O CONTO DA
TABACARIA
Hamlet retomou uma corrida além-
mundial iniciada 1016 anos antes pelo
Papa Gregório, o Grande (também
chamado de “O Eleito” por Thomas
Mann). O Santo Padre, hoje Santo, no
ano de 593, presenteou a humanidade
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pecadora do berço ao túmulo com uma
nova esperança: o Purgatório.
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Expressado o arrependimento até o
exato instante do último suspiro, à alma
imortal desprendida da matéria se
concede a densidade do éter com
autonomia de elevação até o
Purgatório.
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poucas. Perdeu, sobremaneira, seu
interesse pela humanidade... Nem
chegou a tomar conhecimento da
hipótese científica de Hamlet que
mudaria a sua existência.
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nesse escudo terrestre; feito pelo
próprio Senhor e que servia como
mirante da criação. A área estava
abandonada.
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Olympic Tabacaria, aconteceram os
encontros mais desconcertantes e os
diálogos menos prováveis da
eternidade.
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pessoa naquele plano espiritual desde a
sua ressurreição – Maria, aliás, também
estava no Reino de corpo e alma, mas
não se dava com os fumantes desde
que achou uma carteira de cigarros na
pilha de túnicas do Filho).
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fabricadas por entidades religiosas
concorrentes. O Sábio de Roccasecca
ainda chamava a atenção para a atitude
dos fiéis infelizes compradores que,
tendo deixado de comprar o pão,
encontravam na embalagem do
produto uma filipeta com dizeres em
glossolalês que não compreendiam,
mas criam ser uma procuração
outorgada pelo próprio Deus em edição
limitada, como se fosse um artista a
produzir litogravuras, conferindo plenos
poderes para julgar os vivos e
conspurcar os mortos.
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verdade de uma vez por todas. A fim de
convencê-Lo, disse ao Mestre com toda
ternura e reverência:
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verdade jamais. Não tendo nada mais a
perder, em nome dos velhos tempos,
gritou:
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– S’il y a une vérité, c’est que la vérité est
un enjeu de luttes. [Se existe uma
verdade é que a verdade está em jogo
nas lutas.]
O QUE É A
VERDADE?
Se, de um lado, a ciência despreza, por
essência, a admissão do conhecimento
da verdade, não é certo, por outro, que
ela descarte a aparência verdade. Pois,
mesmo que a verdade triunfe sobre a
aparência da verdade, não é verdade
que sua aparência seja sempre uma
mentira.
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Logo, em ciência, a aparência da
verdade pode ser:
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tese nova (e passa a ser tratada
como memória científica); ou
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Já no campo da religião, cumpre
esclarecermos que a ela não se aplica,
em absoluto, o método científico,
motivo pelo qual sempre trataremos
dogmas como elementos da verdade
religiosa ou como deliberadas mentiras
– aquelas detectadas a partir do
confronto com seus textos sagrados.
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estúpido). Disso, uma primeira
conclusão se extrai:
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(i) o verdadeiro cientista, por
saber que não detém a verdade,
através dos elementos alteráveis
da verdade que sucessivamente
descobre, sempre caminha para
ela reconhecendo que, talvez,
nunca chega até ela e que,
acaso chegue, não sabe o que
esperar (ou seja, o cientista não
tem expectativa do que seja a
verdade completa); ao passo que
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compreende que só Deus é
onisciente, através dos
elementos imanentes da
verdade que lhe foram
revelados, sempre caminha para
ela com a certeza de que nela
chegará, seja no plano vindouro
ou mesmo neste (se der a sorte
de estar vivo no dia do Juízo),
bem como na certeza de que a
verdade é Deus (o religioso, por
sua vez, tem uma expectativa do
que seja a verdade), que, por ser
Deus, não se deixa ser dominado
e completamente conhecido
pela criatura.
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Uma segunda conclusão vem à tona:
enquanto o cientista
verdadeiro espera qualquer
verdade, o religioso
verdadeiro espera uma
verdade preconcebida, mas
ambos têm consciência de
que só esperam.
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verdade mesmo na posse dos
elementos que dela dispõem, extrai-se
uma terceira conclusão:
O que é a verdade?
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existem, inclusive daquelas que
desconhecemos.
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que a astronomia se desenvolvia”. Ou
seja, a verdade plena não pode ser
conhecida por qualquer pessoa neste
tempo e neste plano.
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aparência da verdade nem sempre é
um elemento da verdade.
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Se o cientista tem liberdade no curso
da vida porque não gera uma
expectativa da verdade e sabe que os
seus elementos da verdade podem
mudar, o religioso guarda rituais e
modos de percorrer a vida
preestabelecidos, voluntariamente
renunciando de alguma liberdade para
as possibilidades de agir em sua via,
porque tem uma expectativa da
verdade e fé que os elementos
revelados são e sempre foram
verdadeiros e assim continuarão in
sæcula sæculorum. Ambos, insistimos,
não confundem, contudo, o elemento
da verdade com a verdade.
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Ao leitor com dificuldade de enxergar o
reconhecimento, da parte do religioso
verdadeiro, de que não lhe é dado saber
da verdade absoluta, vale recorrer à
lição do monoteísmo: o religioso tem a
certeza de que a verdade absoluta está
em Deus e que ela é Deus.
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não sabe sobre tudo. E porque, na posse
das suas faculdades mentais, está
ciente de tudo isso, tendo certeza de
que a verdade está em Deus, porque é
Deus todo-poderoso, ou seja,
onipotente e, sendo-o, é também
onipresente e onisciente, outra
conclusão não pode extrair senão a de
que a verdade tudo pode, tudo sabe e
em tudo está. Somente um religioso
estúpido, portanto, eleva-se à condição
de detentor da verdade quando, na
verdade, é a verdade que o detém.
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forma que, em ciência, a revelação da
verdade anularia a ciência.
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algoritmos e nem haveria razão para
que se pensasse na misericórdia divina,
já que, escancarada a verdade sem
nuances igualmente para todos os seres
humanos, ou a misericórdia é para
todos (o que dispensa ouvir o profeta,
que fica desacreditado por Deus) ou
não é para ninguém; porque uma
misericórdia seletiva não é misericórdia;
e não é misericórdia porque é injusta –
e, fazendo-o, Deus seria injusto (muito
embora não possamos descartar essa
hipótese a título de argumentação, pois
Deus pode o que ele quiser).
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definido no fantástico Diccionario
Sopena não como conhecimento,
garantia ou certeza, mas como
obediência, confiança, persuasão –
cabendo assinalar, desde já, que Paulo,
um incrível intelectual, foi muito cioso
na escolha das palavras. Se toda a
verdade estivesse diante de nós, o jogo
da vida estaria resolvido; o livre-arbítrio
seria expressão vazia e não haveria a
necessidade de profetas, religiões e
sacerdotes, pois são eles nada mais que
intermediários da verdade.
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verdade e com a verdade, mas com ela
não se confunde; a fé é a mais confiante
de todas as apostas que um ser
humano pode fazer.
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Como dissemos, os elementos da
verdade religiosa não são passíveis de
averiguação pelo método científico e,
fora da razão, perguntas dessa natureza,
mesmo que inevitáveis, ficarão sem
resposta, invariavelmente.
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E, mais do que a própria ressurreição, o
silêncio de Jesus é muito mais relevante
para aqueles que acreditam que Ele é o
próprio Deus na Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade. Pois, na verdade, a
verdade cristã (e, na esteira dela, a
islâmica) é uma promessa. Essa
promessa da verdade está profetizada
na ressurreição de Cristo e, se alguma
verdade pode ser extraída do Deus vivo
além da promessa da verdade, é que
nos é negado saber, antes da vida
eterna, quer dizer, durante toda a
condição humana, o que a verdade de
fato é.
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reiterar, de maneira muito mais eficaz
ao bom entendedor, aquilo que João
disse que o Deus homem dissera:
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portadores da verdade libertadora
anunciada na Palavra. Mas o fato é que
a Palavra não anuncia o conteúdo da
verdade integral. Diz onde ela está, mas
não a revela em todo o seu esplendor;
apenas mostra qual o caminho para
que nela se chegue.
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chegada a uma situaçãofutura; jamais
antes.
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verdade inteira – repitamos – não agora,
mas no futuro (cf. Jo 8,32).
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extrai que o caminho da verdade, por
conter a verdade, não é a verdade
integral, mas um elemento da verdade
que leva à verdade.
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chegue ao destino, o caminho é só uma
parte (elemento) da verdade. Não fosse
isso, a verdade integral se confundiria
com o caminho (e deixaria de ser fé,
que é mistério) e a chegada, destino
definido como verdade, de modo que
não poderia mais ser sustentada a
hipótese da vida eterna ou da existência
da alma imortal, condenando o homem
a uma infundável privação de muitos
gozos nesta vida com a anulação do
gozo supremo no plano divino – o que
não pode ser verdadeiro a não ser que
concluamos que a promessa final (a
verdade como destino que ainda não
foi alcançado porque o caminho só se
esgota com o fim da vida humana) é
uma mentira e, portanto, ou Deus é
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ummentiroso ou uma mentira divina –,
o que também levaria, fatalmente, à
constatação de que o próprio caminho,
enquanto caminho, é uma mentira por
não levar a lugar algum (só percorre um
caminho quem tem um destino; não há
caminho pra quem anda sem rumo).
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último da verdade. Descartar essa
possibilidade é negar a Deus a
onipotência; e aquele que nega essa
verdade, ou nega a divindade de Deus
ou quer se tornar deus de Deus e,
portanto, em qualquer fé que professe,
peca. Mas, cientes dessa verdade,
aqueles que, mesmo privados da
explicação última de todas as coisas,
tiverem Nele a verdade apresentada
como verdade primeira, mesmo que Ele
decida alterar o conceito último que só
Ele sabe e que, a nós, só cabe esperar
acreditando no conceito primeiro,
continuarão estes na verdade, porque a
verdade primeira que é Deus, mesmo
que se altere como verdade última,
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continuará sendo, por todo e sempre, a
única e toda verdade.
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última, ele é um elemento da verdade
total que se desdobra em outros
elementos da verdade como se fosse
um manual de instruções.
os elementos da verdade
revelados no campo religioso
e que são deixados à
disposição da raça são, no seu
conjunto, um convite para a
festa da revelação da verdade
final; um convite que
determina os trajes e pede, ao
final do subscrito, Répondez
S’il Vous Plaît (RSVP).
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É verdadeiramente religioso, portanto,
aquele que é feliz somente por
entender que é um convidado para a
ceia do Senhor (e não o senhor da ceia).
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(ou seja, foi substituído) nos Evangelhos
de Marcos, Mateus, Lucas e João como
“verdade”. Logo, toda vez que lemos a
expressão “em verdade vos digo” ou, na
escrita joanina, “em verdade em
verdade vos digo”, nos deparamos com
uma mentira.
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(alēthḗs) que, ademais, informa que o
uso bíblico sequer tem significado
autônomo por servir apenas como um
marcador de ênfase, um elemento
indicador e introdutivo empregado no
início de qualquer afirmação de crucial
importância, de indispensável
compreensão.
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Em João, em seu Evangelho teologal e
profundamente diverso dos três
anteriores, “verdade” aparece vinte
vezes (1,17; 3,21; 4,23-24; 5,33; duas vezes
em 8,32; 8,40; duas vezes em 8,44; 8,46;
14,6; 14,17; 15,26; 16,7; 16,13; duas vezes em
17,17; 17,19; 18,37; e 18;38), mas, em
nenhuma delas, a verdade é definida.
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inauguraram a tradição cristã presente
em todas asformas de expressão ao
redor do mundo atual.
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dominação comunitária. Disso decorre
que, conforme assevera nosso Filósofo
de Rabat, tudo o que é reputado como
verdadeiro (ou justo; que acaba
recebendo o mesmo significado) na
doutrina paulina “não se deixa remeter
a nenhum conjunto objetivo, nem do
ponto de vista de sua causa, nem do
ponto de vista de seu destino”.
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comunicação militante para
comunidades de convertidos.
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confundido com a verdade
integral, sendo, contrario
sensu, uma mentira tudo
aquilo que dele se extrair a
título de verdade integral; de
maneira que a verdade se
revela, na qualidade de um
elemento (ou seja,
parcialmente) difuso e
indefinível acerca daquilo que
a pretensa verdade quer
estipular, negativamente (a
verdade não pode estar no
engano – mentira não
deliberada – nem na mentira
propriamente dita, restando
que a verdade coincide, então,
com toda e qualquer
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possibilidade imaginável – ou
inimaginável – com exceção
da mentira; quer dizer, a
verdade é a hipótese de tudo e
todas as hipóteses, inclusive
irracionais, enquanto não
existir definição; em resumo:
só não será verdade a
definição da verdade).
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porque confunde elemento da
verdade com verdade, a
verdade do estúpido é uma
mentira.
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nenhum limite, é a própria divindade.
Segundo à razão, assim, é ordenado o
plano do mundo em geral; é a razão
que ensina o homem a conhecer o seu
destino, a incondicionada finalidade de
sua vida”.
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de aceitar ou não essa verdade: A opção
de ser verdadeiro em respeito à verdade
ou de negar a verdade e reprimir o seu
ser verdadeiro por acreditar em uma
mentira ou a ela se subordinar.
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