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SABERES E PRÁTICAS

DO ENSINO AO
TURISMO

ELIZA CARMINATTI WENCESLAU


MAXWELL LUIZ DA PONTE
(Organizadores)

2022
Eliza Carminatti Wenceslau
Maxwell Luiz da Ponte
(Organizadores)

SABERES E PRÁTICAS do ensino ao turismo

ISBN: 978-65-994536-8-7

Editora: Reconecta Soluções Educacionais


São José do Rio Preto SP
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Saberes e práticas [livro eletrônico] : do ensino


ao turismo / Eliza Carminatti Wenceslau, Maxwell
Luiz da Ponte, (organizadores). -- São José do Rio
Preto, SP : Reconecta - Soluções Educacionais,
2022.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-994536-8-7

1. Educação ambiental 2. Educação - Finalidade e


objetivos 3. Inovações educacionais 4. Prática de
ensino 5. Prática pedagógica 6. Professores -
Formação 7. Tecnologia educacional 8. Turismo -
Aspectos ambientais 9. Turismo - Aspectos culturais
10. Turismo - Aspectos econômicos 11. Turismo -
Aspectos sociais I. Wenceslau, Eliza Carminatti.
II. Ponte, Maxwell Luiz da.

22-125514 CDD-370.11
Índices para catálogo sistemático:
1. Educação : Finalidade e objetivos 370.11
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Editoração: Maxwell Luiz da Ponte, Eliza Carminatti Wenceslau


Arte Gráfica: Maxwell Luiz da Ponte
Arte da capa: Maxwell Luiz da Ponte
Editora: Reconecta Soluções Educacionais
CNPJ 35.688.419/0001-62
Rua Silva Jardim, 1329 Parque Industrial.
Fone: (17) 99175-6641. Website: reconectasolucoes.com.br
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Conselho Editorial: Profa. Me. Alana Della Torre da SILVA, Profa. Dra. Ana Carolina dos Santos
GAUY, Prof. Me. Diogo Augusto Frota de CARVALHO, Profa. Me. Eliza Carminatti WENCESLAU,
Dra. Fabíola Menezes SANTOS, Profa. Me. Gabriela Sousa Martins, Dra. Gisele Victor BATISTA,
Prof. Me. Ivan Fernandes GOLFETTI, Prof. Me. João Paulo SOARES-SILVA, Prof. Dr. Maxwell Luiz
DA PONTE, Profa. Nayara Campos dos SANTOS, Prof. Me. Roberto José ALESSANDRO, Profa.
Dra. Tatiane Pereira SCARPELLI.
Os textos divulgados são de inteira responsabilidades de seus autores, nos termos do edital de trabalhos do
congresso, disponíveis na página da Editora.
Capítulo 14
UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA PARA
O ENSINO DE BIOLOGIA CELULAR

Tatiane Pereira Scarpelli, Maxwell Luiz da Ponte

Resumo: O ensino tradicional adotado pelas escolas parece não atender as demandas de
aprendizagem, uma vez que ignoram o contexto de vida dos estudantes. Algumas
propostas didáticas têm se mostrado mais eficazes ao abordarem os conteúdos
programáticos de forma mais contextualizada. Desta forma, o aluno torna-se capaz de
inserir no seu cotidiano e sua realidade aquilo que está aprendendo, sobretudo para
compreender os conteúdos que naturalmente tenham cunho abstrato. Assim, foi
desenvolvida, no contexto de um Estágio Supervisionado Obrigatório do curso de
Ciências Biológicas na modalidade Licenciatura, uma proposta de livreto pedagógico,
integrando conceitos e atividades de resolução de problemas, que buscou colaborar para
abordagens diferenciadas de conteúdos de Biologia Celular, relacionando os hábitos
cotidianos com a funcionalidade das células e tecidos, fundamentando também tomadas
de decisões saudáveis.

Palavras-chave: Ensino de Ciências. Formação de Professores. Estágio Supervisionado.


Saúde.

T. P. Scarpelli ( ). Doutora em Biociências, Programa de Pós-Graduação em Biociências, Instituto de


. E-mail:
tati.scarpelli@gmail.com.

M. L. da Ponte ( ). Doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de


Ciências da Terra, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas.

© Este trabalho integra a obra: E. C. Wenceslau & M. L. Ponte (eds.). Saberes e práticas do ensino ao
turismo. São José do Rio Preto, SP: Reconecta Soluções, 2022.
INTRODUÇÃO

A realização de estágio supervisionado é obrigatória em cursos de licenciatura no Brasil,


visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à
contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida
cidadã e para o trabalho, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
LDB (BRASIL, 1996).
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de
Professores para a Educação Básica, dentre as oitocentas horas mínimas voltadas à prática
pedagógica nos cursos de licenciatura, quatrocentas horas devem ser de estágio
supervisionado, em situação real de trabalho em escola (BRASIL, 2019). O Estágio
Curricular Supervisionado oportuniza ao futuro professor conhecimento, prática e
engajamento profissional (BRASIL, 2019).
Os estágios possibilitam a aproximação entre teoria e prática, sendo uma atividade
de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, no contexto da sala
de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade (ANDRADE, 2005; PIMENTA;
LIMA, 2018). Além disso, o estágio pode ser entendido como uma oportunidade de
pesquisa-ação, possibilitando o reconhecimento de situações e demandas, o estudo e
proposição de soluções, práticas e coletivas, mediante intervenção nas comunidades
escolares (ELLIOT, 2005; 2010; LATORRE, 2005).
Nesse contexto, este estudo descreve um percurso formativo e investigativo de um
estágio supervisionado em docência desenvolvido em um curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas. A partir da integração entre a estagiária e uma comunidade escolar,
foi possível perceber demandas, propor e validar um recurso didático para o ensino de
Biologia Celular, com vistas à contextualização do ensino.

Biologia celular: um conteúdo basal das Ciências Biológicas

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Ciências


Biológicas (BRASIL, 2001), dentre os conteúdos básicos que deverão englobar
conhecimentos biológicos e das áreas das Ciências Exatas, da Terra e Humanas, consta a
Biologia Celular, Molecular e Evolução, que devem possibilitar

Visão ampla da organização e interações biológicas, construída a partir do


estudo da estrutura molecular e celular, função e mecanismos fisiológicos da
regulação em modelos eucariontes, procariontes e de partículas virais,
fundamentados pela informação bioquímica, biofísica, genética e imunológica.
Compreensão dos mecanismos de transmissão da informação genética, em
nível molecular, celular e evolutivo (BRASIL, 2001).

A Biologia Celular pode ser considerada basal aos estudos em Ciências


Biológicas, pois a célula é a unidade estrutura da vida, extremamente complexa, dinâmica
e econômica (BOUZON; GARGIONI; OURIQUES, 2010, p. 15), de modo que o estudo
das células serve de base para o entendimento do organismo como um todo (DANTOS;
OLEQUES; BOELTER, 2018). Ponte e Maldarine (2019) elencaram quatro motivos
principais que reiteram a pertinência do desenvolvimento de estratégias e recursos
educacionais para o ensino do corpo humano no Ensino Médio: em primeiro lugar,
entende-se que do modo como o conteúdo está distribuído nas diretrizes curriculares não
possibilita a aprendizagem adequada deste conteúdo por jovens do Ensino Médio,
resultando em uma abordagem superficial. Em segundo lugar, os autores apontam a
importância desse conhecimento para orientar tomadas de atitudes adequadas
Scarpelli & Ponte

relacionadas à saúde, sobretudo na juventude. Em terceiro lugar, evidencia-se a carência


de práticas pedagógicas, estratégias e recursos educacionais que potencializem a
aprendizagem adequada desses conteúdos. E, por fim, destaca-se que tais conteúdos são
frequentemente cobrados em exames de ingresso nas universidades públicas, como Ponte
e Maldarine (2019) evidenciaram mediante a análise de provas do Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) e dos vestibulares para ingresso na Universidade Estadual

(UNICAMP) e na Universidade de São Paulo (USP).


Devido às características das estruturas e processos abarcados (Figura 1) escalas
micro a nanoscópicas, complexos, dinâmicos e abstratos -, muitos estudantes possuem
dificuldade acentuada na aprendizagem da Biologia Celular, o que requer o uso de
estratégias e recursos didáticos para o ensino (GONÇALVES et al. 2014; OLIVEIRA et
al., 2013; PAIVA; GUIMARÃES; ALMEIDA, 2018). Se o ensino de
células não for ministrado de maneira cativante e envolvente, fazendo uso de práticas
(WOMMER;
MICHELOTTI; LORETO, 2019, p. 191).
Dentre as estratégias adotadas estão o uso de modelos didáticos tridimensionais
analógicos e virtuais; experimentação/aulas práticas com microscopia; jogo didático;
elaboração de paródias musicais; exibição de vídeos; uso de acervos digitais de imagens
obtidas a partir de microscopia/lâminas escaneadas para visualização de diversos tipos
celulares e organelas; simuladores (PAIVA; GUIMARÃES; ALMEIDA, 2018). Apesar
das diversas iniciativas, registra-se que poucas rompem com um viés conteudista e
cientificista, que facilite a apropriação desses conteúdos pelos estudantes, vinculando o
ensino de Biologia Celular a experiências cotidianas (PAIVA; GUIMARÃES;
ALMEIDA, 2018).

Figura 1 Mapa conceitual da Biologia Celular.

Fonte: Bouzon, Gargioni e Ouriques (2010).

É de suma importância que o ensino de Biologia Celular tenha o enfoque de


possibilitar aos estudantes a compreensão do funcionamento do corpo humano como um
todo, sobretudo de aspectos relacionados à saúde, orientando as tomadas de decisão e de
autocuidado (PAIVA; GUIMARÃES; ALMEIDA, 2018). Os hábitos pessoais e os
diferentes modos de vida (prática de exercício, alimentação, exposição à radiação e
consumo de drogas, entre outros hábitos) afetam diretamente o funcionamento das células
e, em consequência, de tecidos, órgãos e sistemas do corpo humano (PRADO, 2014).
Neste sentido,

[...] será mais atraente se o ponto de partida for o próprio aluno, em vez de serem
tomados exemplos genéricos, de células genéricas. Uma questão é o aluno saber
que existem células, como elas funcionam e que organelas contêm. Realidade
bem diferente é ele se dar conta de que todos esses processos e acontecimentos
têm lugar em seu próprio corpo e em sua própria pele e outros órgãos, como
resultado de fenômenos biológicos complexos e intrincados que devem ser
cuidados e preservados. O aprendizado que permite tal constatação deve
conduzir, por sua vez, a atitudes para além do conhecimento científico, levando
o aluno a desenvolver atitudes de valorização da própria vida e da de seus
semelhantes. Em tempos em que a violência alcança níveis intoleráveis, não
deixa de ser oportuna qualquer iniciativa no sentido da valorização da vida e do
resgate da auto-estima do cidadão (BRASIL, 2006, P. 38).

Nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Médio,
documento que orienta a elaboração de currículos e planos de ensino no Brasil, propõe-
se, para a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, que os estudantes possam
construir e utilizar conhecimentos específicos da área para argumentar, propor soluções
e enfrentar desafios locais e/ou globais, relativos às condições de vida e ao ambiente:

Tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa, ética, democrática,


inclusiva, sustentável e solidária, a escola que acolhe as juventudes deve ser
um espaço que permita aos estudantes: conhecer-se e lidar melhor com seu
corpo, seus sentimentos, suas emoções e suas relações interpessoais, fazendo-
se respeitar e respeitando os demais (BRASIL, 2018, p. 465).

À luz do referencial teórico apresentado, que reitera a importância de promover


juntos aos jovens a compreensão dos diferentes tipos celulares, particulares a cada órgão
e sistema, suas diferenças morfológicas com vistas ao entendimento dos mecanismos
fisiológicos e ao reconhecimento de relações de interdependência existente entre os
órgãos, seus tecidos e suas células e destes com os hábitos de vida dos estudantes, buscou-
se, no contexto do estágio curricular supervisionado, desenvolver e validar uma proposta
de abordagem didática, integrativa e contextualizada, visando contribuir na tomada de
decisões conscientes com relação ao estilo de vida e aos cuidados com a saúde que
garantem um bom funcionamento do organismo e bem-estar do indivíduo.

ETAPAS E LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

A metodologia do Estágio desenvolvido integra ações de investigação e desenvolvimento


(GAY apud CARMO; FERREIRA, 2008). Segundo Gay apud Carmo e Ferreira (2008,

fins e de
e desenvolvimento (I & D) ao estudo decorre do propósito de desenvolvimento de
recursos e estratégias que integrem o contexto de vida dos estudantes e os conceitos de
Biologia Celular. A pesquisa foi realizada no âmbito de um estágio supervisionado
obrigatório, que teve as seguintes etapas:
Scarpelli & Ponte

1 Observação e levantamento das demandas e potencialidades no ensino de


Biologia Celular: nível de dificuldades de compreensão da turma, comportamento
dos alunos, modo de trabalho do professor supervisor da escola;

2 Elaboração de estratégia e/ou recurso didático para ser utilizado no ensino de


Biologia Celular, visando dialogar com os aspectos do contexto/cotidiano da
comunidade escolar observados na compreensão dos conceitos pertinentes no
estudo da Biologia Celular;

3 Uso do recurso didático, registro e coleta de dados;

4 Avaliação em conjunto com a professora supervisora e com os alunos sobre


contributos do recurso para compreensão da Biologia Celular, recolha de devolutivas
para aprimoramento do recurso;

5 Reflexão sobre a experiência formativa.

Coleta, registro e interpretação dos dados da pesquisa

O estudo envolveu constituintes metodológicos tradicionais de registro e avaliação.


Conforme instruíram Carmo e Ferreira (2008), fez-se uso de bloco-notas e diário de
pesquisa.
O bloco-notas foi uma importante ferramenta para o registro de primeiras
impressões, sendo constituído de breves notas e tópicos fundamentais, assim como
informações importantes que não poderiam ser esquecidas como nomes, endereços e
indicações. O diário de pesquisa foi utilizado a partir do início das atividades práticas,
constituindo registro narrativo, permanente e mais detalhado dos acontecimentos,
incluindo as sensações e percepções, conforme sugerido por Elliot (2005).
Optou-se por realizar os registros em suporte informático, devido a possibilidade
de inserção de anexos como fotografias, mapas, gráficos e tabelas, que complementam o
registro, conforme indicado por Carmo e Ferreira (2008, p. 198).

Local de realização

O projeto foi realizado conjuntamente com a equipe gestora e a docente E. E. Profa.


Amira Homsi Chalella, em São José do Rio Preto, São Paulo. Trata-se de uma escola de
Ensino Médio, que contempla o programa de Ensino Integral da Secretaria de Educação
do Estado de São Paulo.O trabalho foi desenvolvido juntamente com as turmas do
segundo ano do ensino médio, totalizando o envolvimento de 107 alunos. Sendo uma
escola de período integral, a infraestrutura conta com salas equipadas de projetores
multimídias, mesas e cadeiras bem conservadas, armários de uso permanente dos alunos
para cada sala, laboratório de ciências e de informática, e todos os ambientes bem limpos
e equipados.

DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

Durante o primeiro semestre letivo, parte do Estágio Curricular se deu com o


acompanhamento e observação das aulas de cinquenta minutos de duração das disciplinas
Biologia e Práticas de Ciências (PC), realizadas no laboratório de ciências, ambas
ministradas pela professora supervisora, com o objetivo de conseguir uma primeira
aproximação com os alunos, entender o ritmo de aprendizado das turmas e o perfil dos
alunos dentro de sala de aula. Desta forma, procedeu-se ao acompanhamento das
atividades realizadas durante as aulas, a fim de nortear posteriormente as intervenções
por meio das aulas propostas pela aluna estagiária, possibilitando um maior
aproveitamento das turmas nos conteúdos desenvolvidos.
As aulas tinham caráter didático com intervenções de experimentações práticas
propostas pela professor
então vigente, e sempre que solicitado pela professora, foi prestado auxílio na
preparação da sala ou disposição dos materiais nas bancadas para a realização das aulas,
bem como a solução de dúvidas aos alunos sobre a metodologia da prática.

Aulas

Após o período de observação, procedeu-se à regência das aulas contou principalmente


com recurso audiovisual de apresentações em Power Point ®. A preparação das aulas foi
baseada nas Orientações Curriculares do Estado de São Paulo então vigentes (SÃO
PAULO, 2012) e no material didático utilizado pelas escolas da Rede Estadual de Ensino.
Os conteúdos são distribuídos em dois volumes, referentes aos bimestres do ano e

Foram ministradas duas aulas fora da disciplina de PC, dentro dos horários
referentes às aulas teóricas para as três turmas.
Na primeira aula foram abordados os conteúdos aprendidos até aquele momento
(membrana plasmática, organelas, células animal e vegetal, DNA, replicação, transcrição
e tradução). Nesta oportunidade fez-se uso de diversos recursos (conforme elencados por
PAIVA; GUIMARÃES; ALMEIDA, 2018) muitas ilustrações e de vídeos didáticos
retirados da internet, com a intenção de retomar conceitos, levantar novos
questionamentos e sanar possíveis dúvidas. Promoveu-se, assim, uma retomada dos
conceitos já estudados, com especial atenção à correta estruturação de uma sequência
didática e contextualizada para os conteúdos que seriam ensinados na segunda
intervenção didática. Oportunamente, realizou-se uma introdução sobre a formação dos
tecidos.
Para a regência da segunda aula, desenvolveu-se e utilizou-se um material didático
(livreto) e, aliado à apresentação preparada em Power Point®, contendo as ilustrações
didáticas do livreto, projetadas para melhor visualização pelos estudantes (Figuras 2a,
2b).
Abordou-se alguns tipos celulares de diferentes tecidos do corpo humano, dando
ênfase às diferenças morfológicas, especializações e variações, tais como diferenças nas
quantidades de determinadas organelas em algumas células. De maneira geral, a
abordagem evidenciou a relação do conteúdo ministrado diversidade celular e suas
funcionalidades com a funcionalidade tecidual e, ainda, relacionando com os hábitos
do cotidiano, envolvendo alimentação, prática de atividades físicas e o descanso
adequado. Deste modo, buscou-se por meio da estratégia didática adotada, experienciar
uma abordagem mais integradora da biologia celular, que não se resumisse à
memorização das organelas e/ou de suas funções, mas evidenciando a diversidade e a
dinamicidade celular, relacionando outros conceitos do conteúdo curricular paulista e
considerando os contextos de vida dos estudantes.
Scarpelli & Ponte

Figura 2 Registros da etapa de regência.

Fonte: Acervo dos autores.

Material didático

Elaborou-se um material paradidático do tipo livreto Booklet ,


Apêndice I), para ser utilizado com recurso
no ensino de Biologia Celular, a partir da transposição de conhecimento de Junqueira e
Carneiro (2008), considerando as especificidades das turmas, auscultadas no período de
observação. O livreto trouxe, ao final, situações cotidianas para que os estudantes se
envolvessem ativamente na proposição de soluções, à luz dos conceitos de Biologia
Celular estudados, quais sejam:

Células epiteliais de revestimento - foram vistas as células que fazem parte do


revestimento da pele como os queratinócitos e os melanócitos, destacando as
diferenças morfológicas básicas de ambas e também suas importantes associações,
bem como as funcionalidades e os efeitos nocivos dos maus hábitos da exposição a
raios UV sem proteção adequada;

Células do tecido muscular buscou-se evidenciar pequenas diferenças


morfológicas nas células do tecido muscular esquelético e cardíaco estriado,
funcionalidades e relações de hábitos saudáveis na estrutura funcional de cada uma
delas.

Células nervosas abordou-se a morfologia dos neurônios, funcionalidade básica de


uma sinapse química e relações com moléculas utilizadas como neurotransmissores.

Diversas pesquisas indicam que a elaboração do livretos (Booklet) integrando


conceitos pertinentes aos estudantes com atividades dinâmicas (como jogos e resolução
de problemas) possibilita dialogar os conteúdos da Biologia com a realidade dos alunos,
resultando em engajamento e eficácia na apreensão de conteúdo (ALMEIDA;
MARINHO, 2021; SOARES et al., 2019).
A aprendizagem é sempre relacional, isto é, os seres humanos aprendem
relacionando novas informações a conhecimentos anteriores, pois somente assim as
informações ganham sentidos, sem os quais não ocorre aprendizagem (FILHO;
GERHARD, 2012). Nesse sentido, considera-se importante destacar que os conceitos do
livreto visam resgatar os conteúdos estudados para discutir conflitos e esclarecer dúvidas
que ainda estavam em pauta e, por fim, introduzir pequenos novos conceitos junto com
os alunos, mediante as questões problematizadoras.
Na elaboração das questões cuidou-se para que estivessem vinculadas aos desafios
da juventude, fase do desenvolvimento humano, físico e social, que influencia
diretamente nos perfis e nos papéis sociais da vida adulta (ARAÚJO et al., 2015;
MACEDO; CONCEIÇÃO, 2015). Nesse sentido, diversos autores apontam a importância
do conhecimento sobre a constituição e funcionamento do próprio corpo durante a
adolescência, pois contribui para o reconhecimento e cuidado com o corpo, respeito à
diversidade e valorização das particularidades (FREITAS et al., 2017; GONÇALVES et
al., 2016; VASCONCELOS et al., 2015). O estudo contribui, assim, para mudanças de
hábitos e valores dos estudantes na educação básica, orientando e favorecendo, sobretudo,
tomadas de decisões adequadas em favor da saúde dos jovens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A EXPERIÊNCIA FORMATIVA

A fase de observação das aulas da professore supervisora foi fundamental no primeiro


momento de contato com o espaço e a comunidade escolar, pois, tal aproximação
resultaria, mais tarde, no estabelecimento de uma relação de confiança por parte dos
alunos em aprender de outra pessoa que não a professora titular. Em diálogo e mediante
o uso de questionários de opinião, anônimos, os alunos avaliaram positivamente as aulas
ministradas diretamente pela estagiária.
O uso de um material didático alternativo, diferente da apostila e livros
usualmente utilizados nas aulas de Biologia, parece ter sido bem aceito por grande parte
dos alunos, despertado atenção e interesse, e possibilitou para relacionar e contextualizar
os conteúdos que estão sendo desenvolvidos.
A experiência com a prática docente vivenciada neste projeto possibilitou à
estagiária concluinte de Ciências Biológicas em modalidade Licenciatura, a transposição
prática dos ensinamentos teóricos adquiridos durante a formação acadêmica.
O exercício de transposição das competências adquiridas ao longo do curso para
elaborar e ministrar as aulas, possibilitou o reconhecimento das dificuldades que podem
emergir da relação ensino-aprendizagem no contexto da educação básica. Além disso, a
imersão no cotidiano escolar promoveu o conhecimento das diretrizes, da organização e
do funcionamento das instituições. Uma vez que inserida no ambiente escolar é possível
conhecer parte da organização e funcionamento dos eixos envolvidos na escola. Além
disso, promoveu-se o reconhecimento das relações dinâmicas existentes entre todos os
integrantes da comunidade escolar, desde professores, alunos, gestores e funcionários, o
que promove uma relação além do exercício profissional, mas, sobretudo humano.

REFERÊNCIAS

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Scarpelli & Ponte

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Scarpelli & Ponte

Apêndice:

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