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Da gaveta
<F016_Jorn_QuartoANDAR_n3: cidade afetiva, um coração e a paisagem urbana.>
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Curioso para bisbilhotar a leitura alheia, logo notei algo familiar no projeto gráfico. Sim, era
uma de nossas coleções de Geografia para o Ensino Médio. Eu, com meu grau zero de traquejo
social, soltei um "Tá gostando do livro?". A garota nem olhou. Só disse "É da escola". Entendi o
recado e me calei.
Percebi que ela não tirava os olhos de um mapa da Grande São Paulo. Então sacou uma caneta
vermelha para hereticamente escrever no livro didático! Eu quase gritei "Para, não leu a tarja
azul com o aviso para não escrever no livro?". Dessa vez me contive e só observei. Ao lado da
cota Diadema, ela desenhou um coração e, quando ia terminar de escrever o nome Sílvi..., o
sacana do ônibus sacolejou todo e borrou a última letra. Que romântico, ela estava apaixonada
por algum Sílvio! Ou Sílvia, claro. Perdoei. Ela tinha todo o direito de escrever no livro.
Meu ponto se aproximava e me levantei, não sem antes curtir a cena pela última vez. No mapa,
a garota preenchia o coração de vermelho; no rosto, pintava um sorriso. Mas o ônibus chegou ao
ponto e esta crônica, ao fim.
Não. Antes do the end, deixo um pedido para a Brunna Paulussi. Por favor, nos mapas dos
próximos livros, junto dos insensíveis ícones quadradinhos e circulares, inclua um ícone de
coração para cidades afetivas. Ah, como precisamos de cidades mais afetivas!
Eduardo Sigristi
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