TANATOLOGIA FORENSE • É o capítulo da Medicina Legal que estuda a morte e as suas conseqüências
Definição de morte: é a cessação de todos os
fenômenos vitais de modo definitivo, total e permanente
• A morte não é um instante, um momento, mas
um verdadeiro processo em que há um progressivo desmantelamento que vai do organismo como um todo passando por sistemas, órgãos, tecidos até chegar ao nível celular Critérios atuais para diagnóstico de morte
• A morte atualmente é definida por critérios
estabelecidos pelo CFM (Resolução 1480/97) que a considera como sendo a parada total e irreversível das atividades encefálicas • É o que se denomina morte encefálica: – comprometimento de forma irreversível • da vida de relação e • da coordenação da vida vegetativa MODALIDADES DE MORTE
• MORTE APARENTE: provocada por estados
patológicos que simulam a morte – o indivíduo se mantém vivo por tênues ou débeis sinais de circulação (as funções vitais se reduziram a um mínimo tal que dão a impressão errônea da morte) – ocorre nas intoxicações graves produzidas por soníferos e nos congelamentos – não confundir “morte aparente” com catalepsia (vida em suspensão), um conceito bastante discutido em Medicina Legal associada ao medo de ser enterrado vivo MODALIDADES DE MORTE
• MORTE RELATIVA: é um estado
temporário de morte – com parada “cárdio-respiratória” ou – parada de outras funções vitais – este estado pode ser modificado e o indivíduo ser recuperado por manobras artificiais (reanimação) MODALIDADES DE MORTE
• MORTE REAL ou ABSOLUTA: é a
verdadeira morte, ocorrendo paralisação total, definitiva, permanente e irreversível de todos os fenômenos e atividades vitais TANATOGNOSE • É o diagnóstico da morte Momento da morte: Parada cárdio-respiratória irreversível Morte cerebral ou encefálica. 1. Lei nº 8489/94 – Lei dos transplantes e retirada de órgãos para fins terapêuticos ou científicos. 2. Lei nº 9434/97 – art. 4º: caracterização do doador presumido. 3. Lei nº 10.211/01 – Altera a Lei nº 9434/97 e condiciona a retirada de órgãos à autorização do cônjuge ou parente de maior idade na sucessória reta ou colateral CRONOTANATOGNOSE • É o diagnóstico do tempo da morte (também chamado de realidade da morte) pela observação das evidências ou dos sinais abióticos ou não vitais positivos: – Sinais recentes – Sinais mediatos – Sinais tardios • Destrutivos • Conservativos SINAIS RECENTES OU IMEDIATOS
1. Aspecto do corpo: Fácies Hipocrática
(cadavérica) 2. Perda da consciência 3. Perda da sensibilidade 4. Imobilidade – perda do tônus muscular 5. Arreflexia – relaxamento dos esfíncteres (dilatação das pupilas, abertura dos olhos, queda do maxilar inferior, eliminação de fezes e urina) 6. Parada cardíaca (da circulação) SINAIS RECENTES OU IMEDIATOS
7. Parada respiratória: cessação da respiração
prova da vela, prova do espelho 8. “Silêncio” de aparelhos: eletrocardiograma eletroencefalograma - cessação de atividade cerebral 9. Fenômenos oculares: 1. Opacificação do cristalino 2. Pálpebras semi-cerradas 3. Midríase 4. Mancha na esclerótica (sinal de Sommer e Larcher) SINAIS MEDIATOS OU CONSECUTIVOS 1. Desidratação: – Desidratação cutânea e do globo ocular – Diminuição do volume com conseqüente “crescimento” de unhas e pêlos – Decréscimo de massa (peso) – Pergaminhamento da pele – Dessecamento das mucosas dos lábios 2. Resfriamento do corpo: – Lento nas 3 primeiras horas (0,5°C/hora) – Rápido nas 6 horas seguintes (1ºC ou +/hora) – Nas últimas horas volta a ser lento – Se o ambiente estiver quente, em lugar do resfriamento, poderá se dar o aquecimento do cadáver, já que a sua temperatura tende a se igualar a do ambiente SINAIS MEDIATOS OU CONSECUTIVOS 3. Rigidez cadavérica – A partir da 3ª hora – Inicia-se pela pálpebra e maxilar inferior, seguindo-se a nuca e membros superiores e, por último, inferiores – Pode durar de 1 a 2 dias para depois desaparecer na mesma ordem em que apareceu – Espasmo cadavérico (morte violenta) 4. Livores ou hipóstases (depósito ou sedimento de matéria orgânica) – Nas áreas de decúbito, respeitando as áreas de contato, pressão ou dobras (viscerais ou cutâneos) – Início: imediato. Evidente: 2 a 3 horas. Fixação: 6 a 8 horas. 5. Mancha verde abdominal – Sinal de início de putrefação, evidente 16 a 18 horas e decorrente de ação microbiana – Mais precoces nos idosos, fetos e afogados (no tórax) SINAIS TARDIOS DESTRUTIVOS
1. Autólise: rara e típica de terrenos
ácidos é úmidos. É a destruição do corpo pela liquidificação ácida, intra e extra celular. a) Mais comuns nos recém-nascidos ou b) No início da putrefação SINAIS TARDIOS DESTRUTIVOS 2. Putrefação: é o sinal mais comum. Apresenta 4 fases: a) Cromática: tonalidade escurecida da pele (20 horas) com cheiro característico (transformação da hemoglobina) b) Gasosa (expansiva): (2º ao 8º dia) 1. Aumento do volume do corpo Enfisema cutâneo 2. Circulação póstuma de Brouardel – desenho produzido pelos vasos sangüíneos subcutâneos preenchidos por sulfahemoglobina e hematina 3. Flictenas (pequena pústula em forma de vesícula) 4. Eliminação de gases 5. Aspecto gigantesco e deformado (posição de lutador) SINAIS TARDIOS DESTRUTIVOS
c) Coliquativo: dissolução pútrida com
liquefação de vísceras e dos tecidos moles. Desidratação e enrugamento (2 a 3 meses) d) Esquelitização: pela ação da fauna e do meio ambiente com destruição dos tecidos, restando apenas o esqueleto, cabelos e dentes (3 anos) FAUNA CADAVÉRICA • Quando o cadáver permanece insepulto e abandonado sobre o solo por razoável tempo, nele se instalam pequenos animais (principalmente insetos) denominados como fauna cadavérica • Existe uma certa ordem de instalação destes animais: – Moscas comuns – Moscas verdes – Coleópteros, lepidópteros etc • O estudo da fauna cadavérica pode ser importante para a cronotanatognose, pois o aparecimento de determinados insetos está relacionado ao tempo de morte SINAIS TARDIOS DESTRUTIVOS Maceração: em ambientes úmidos e quentes Destruição em meio líquido Comum nos fetos e nos afogados com formação de bolhas de conteúdo líquido e pardacento Observa-se no cadáver o destacamento de amplos retalhos de tegumentos cutâneos O corpo perde a consistência inicial, o ventre se achata e os ossos se livram dos tecidos, ficando como se estivessem soltos SINAIS TARDIOS CONSERVATIVOS
• Saponificação: formação de adipocera
(massa branca, mole, quebradiça, que se forma nos diversos tecidos e órgãos dos cadáveres) – Ocorre principalmente nos cadáveres inumados em lugares úmidos e com má ventilação (valas comuns) SINAIS TARDIOS CONSERVATIVOS
• Mumificação: processo pelo qual
qualquer cadáver cujos tecidos moles, em vez de se decomporem pela putrefação, endurecem pela dessecação – Natural: desidratação e secamento do corpo e da pele provocados pela ventilação, pela alta temperatura do solo ou local de sepultamento – Artificial: requer processo especializado – formolização e embalsamamento SINAIS TARDIOS CONSERVATIVOS • Calcificação – petrificação ou calcificação: ocorre nos fetos mortos e retidos na cavidade uterina (litopédios = criança de pedra) • Corificação – fenômeno muito raro: cadáveres inumados em urnas metálicas (zinco)têm o corpo preservado da decomposição pela inibição dos fatores transformativos. • Congelação – Um cadáver submetido a baixíssima temperatura e por tempo prolongado pode se conservar integralmente por muito tempo Destino do cadáver (caro data vermis) 1. Inumação com ou sem necropsia 2. Imersão 3. Destruição 4. Cremação 5. Peças anatômicas e membros amputados: não necessitam do preenchimento do atestado de óbito, mesmo que o destino seja o sepultamento (melhor solução é a incineração) para partes ou parte de cadáver (esquartejamentos,
explosões), desde que haja uma identificação
criteriosa, pode ser expedido o respectivo atestado ASPECTOS JURÍDICOS DA MORTE 1. Morte natural: patológica e etária 2. Morte violenta: suicídio, homicídio ou acidente 3. Morte suspeita: sem evidências ou imprevista ou simuladamente acontecida 4. Morte agônica (previsível e esperada): culmina da evolução de uma doença ou de um grave estado pós-traumático, sempre dentro do prognóstico do médico 5. Morte súbita (inesperada ou imprevista): a pessoa falecida apresentava boa saúde, mas, na maioria dos casos, já era portadora de qualquer doença potencialmente fatal e inesperadamente falece