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Modelos de Atenção À Saúde No Brasil
Modelos de Atenção À Saúde No Brasil
no Brasil e a PNAB?
Ao falar sobre modelos de atenção, refletimos também sobre as políticas públicas. Este é um campo
de conhecimento interdisciplinar que busca analisar as ações impulsionadas pelo governo e que situa
diversas partes do conhecimento em totalidades organizadas, configurando um território de várias
disciplinas comportando teorias, metodologias e modelos analíticos. Nesses diversos olhares, as
políticas públicas desenhadas e formuladas desdobram-se em planos, programas, projetos, bases de
dados, sistema de informação e pesquisas.
A iniciativa do PSF e de seu antecessor, o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), em seus
primórdios, ao modelo que denomina de “sanitarista”, caracterizado por programas verticais e
hierarquizados, voltados ao controle de determinadas doenças. Não obstante, entende que o PSF foi
redefinido progressivamente como uma estratégia de mudança dos modelos de atenção hegemônicos1.
A Estratégia Saúde da Família (ESF) caracteriza-se como modelo alternativo que busca aliar a prática
do cuidado individual à abordagem populacional na perspectiva da vigilância em saúde, integrar
vigilância epidemiológica e sanitária, territorialização/distritalização, atenção clínica e políticas
intersetoriais, ações programáticas e reorganização do atendimento à demanda espontânea com
acolhimento centrado no usuário, consolidando diretrizes e princípios da PNAB como universalidade,
integralidade e equidade.
Modelos de atenção à saúde são combinações tecnológicas estruturadas para a resolução de problemas
e para o atendimento das necessidades de saúde da população, sejam elas individuais ou coletivas.
Os modelos podem ser concebidos por meio de normas, padrões e referências para o campo
técnico-científico, para orientar escolhas técnicas, decisões políticas e financiamentos.
São as formas de organização tecnológica do processo de prestação de serviços de saúde que resultam
do estabelecimento de intermediações entre o técnico e o político.
O processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis que
envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas estão interligadas
e são consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito, a determinação do estado de
saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve diversos fatores. O conceito de
saúde-doença estuda os fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles, pretende
obter possíveis motivações para o surgimento de alguma enfermidade.
Vigilância da Saúde como uma proposta de redefinição das práticas sanitárias, havendo duas concepções,
que, embora não sejam divergentes, enfatizam aspectos distintos: uma, que privilegia a dimensão técnica,
ao conceber a vigilância à saúde enquanto um modelo assistencial alternativo conformado por um conjunto
de práticas sanitárias que encerram combinações tecnológicas distintas, destinadas a controlar
determinantes, riscos e danos;
Outra que privilegia a dimensão gerencial da noção de vigilância à saúde, caracterizando-a como uma
prática que organiza processos de trabalho em saúde sob a forma de operações, para confrontar problemas
de enfrentamento contínuo, num território delimitado através de operações montadas sobre os problemas
em seus diferentes períodos do processo saúde-doença.
Modelo de atenção é uma forma de combinar técnicas e tecnologias para resolver problemas de saúde
e atender necessidades de saúde individuais e coletivas. É uma maneira de organizar os meios de
trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas ou processos de trabalho em saúde. Aponta
como melhor combinar os meios técnico-científicos existentes para resolver problemas de saúde
individuais e/ou coletivos. Corresponde à dimensão técnica das práticas de saúde. Incorpora uma
“lógica” que orienta as intervenções técnicas sobre os problemas e necessidades de saúde (modelo de
intervenção em saúde).
Transição Demográfica explica uma mudança específica na dinâmica demográfica, que é a queda
acentuada das taxas de fecundidade, de natalidade e de mortalidade. Essa teoria foi proposta
considerando-se as relações entre o crescimento populacional e desenvolvimento socioeconômico.
Essa oscilação só ocorre uma vez em cada país e acontece alinhada ao processo de desenvolvimento
urbano-industrial. Portanto, o desenvolvimento econômico e a modernização das sociedades são os
principais fatores responsáveis pelas mudanças nas taxas de natalidade e de mortalidade,
refletindo no crescimento populacional.
É importante salientar que da mesma forma que os países se desenvolveram de formas diferentes, a
Transição Demográfica também não ocorre da mesma maneira entre as diversas sociedades.
Modelo sanitarista
Esse nome remete a um conceito histórico, nascido em 1970: o de Reforma Sanitária. Naquela época,
o mundo passava pela chamada “transição demográfica”, que desembocaria na mudança das
principais causas de mortalidade (de infecciosas a doenças crônicas degenerativas). Nos últimos 50
anos, o Brasil está vivendo dois processos de transição com impacto direto na vida das pessoas: uma
transição demográfica, com aumento da população idosa em detrimento das crianças e dos
jovens e uma transição epidemiológica, com diminuição da carga de doenças infecciosas e
aumento das doenças crônico-degenerativas - responsável em grande parte pela mortalidade e
morbidade.
Transição demográfica é uma teoria que analisa a evolução populacional por meio de quatro
diferentes fases com base no comportamento das taxas de natalidade e de mortalidade.
"Primeira fase: pré-transição demográfica
A primeira fase da transição demográfica é também descrita como sendo a pré-transição. Essa fase é
caracterizada por elevadas taxas de natalidade e de mortalidade, isto é, por um grande número de
nascimentos e também de mortes. Trata-se de uma fase longa em que a população de um país vive
majoritariamente no campo, e hoje se processa em algumas das nações consideradas
subdesenvolvidas. Nos países desenvolvidos, essa fase perdurou até a chegada da Revolução
Industrial.
Essa fase aconteceu nos países desenvolvidos a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial e
as transformações no modo e no ritmo de vida da população, que passou a se concentrar nos centros
urbanos. Nos países emergentes, como o Brasil, a explosão demográfica se deu a partir de meados do
século XX. Registra-se, atualmente, o andamento dessa segunda etapa da transição demográfica em
países subdesenvolvidos como Níger, Sudão do Sul, Burundi e Síria, sendo este último o país com
maior taxa de crescimento do mundo (6,39% ao ano).
Fatores como o avanço da urbanização, melhorias na saúde, maior oferta de métodos contraceptivos e
a presença cada vez maior da mulher no mercado de trabalho estão relacionados ao menor número de
nascimentos nessa terceira etapa. Observa-se o transcorrer da terceira fase da transição demográfica
na maioria dos países emergentes ou em desenvolvimento.
Transição Epidemiológica
Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte,
morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em
conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas (Omram, 2001;
Santos-Preciado et al., 2003).
O processo engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças
não-transmissíveis e causas externas; deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais
jovens aos grupos mais idosos; e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade
para outra na qual a morbidade é dominante.
A definição da transição epidemiológica deve, assim, ser considerada componente de um conceito
mais amplo apresentado como transição da saúde, que inclui elementos das concepções e
comportamentos sociais, correspondentes aos aspectos básicos da saúde nas populações humanas.
A transição da saúde pode de dividir em dois elementos principais: de um lado, encontra-se a
transição das condições de saúde (referindo-se às mudanças na freqüência, magnitude e
distribuição das condições de saúde, expressas através das mortes, doenças e incapacidades) e de
outro, a resposta social organizada a estas condições que se instrumenta por meio dos sistemas
de atenção à saúde (transição da atenção sanitária), determinada em grande medida pelo
desenvolvimento social, econômico e tecnológico mais amplo (Frenk et al., 1991).
O conceito de transição epidemiológica tem merecido críticas pelo fato de a transformação dos
padrões de saúde não obedecer aos mesmos parâmetros na seqüência, intensidade e velocidade, em
diferentes regiões.
Outra principal falha do esquema teórico da transição epidemiológica seria a de enfatizar a tecnologia
médica como principal alternativa interveniente no curso da transição, desconsiderando o papel que as
variáveis econômicas e sociais desempenham neste processo (Barreto & Carmo, 1995; Barreto et al.,
1993).
IV - Quais são os modelos de atenção à saúde? Quais as características mais marcantes entre eles?
Modelo hegemônico
O conceito de hegemonia aqui empregado para qualificar os modelos de atenção diz respeito à
capacidade de direção política e cultural para obtenção do consenso ativo de segmentos da população
(Gruppi, 1978). Assim, o modelo médico hegemônico apresenta os seguintes traços fundamentais:
1) individualismo;
2) saúde/doença como mercadoria;
3) ênfase no biologismo;
4) a historicidade da prática médica;
5) medicalização dos problemas;
6) privilégio da medicina curativa;
7) estímulo ao consumismo médico;
8) participação passiva e subordinada dos consumidores.
Como integrantes do modelo médico hegemônico, podem ser mencionados o modelo médico
assistencial privatista e o modelo da atenção gerenciada (managed care).
Pode-se concluir que o modelo médico hegemônico, centrado no atendimento de doentes (demanda
espontânea ou induzida pela oferta), apresenta sérios limites para uma atenção comprometida com a
efetividade, a eqüidade e as necessidades prioritárias em saúde, ainda que possa proporcionar uma
assistência de qualidade em determinadas situações
O modelo sanitarista
influenciado por interesses agroexportadores no início do século XX – baseou-se em campanhas
sanitárias para combater as epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, implementando
programas de vacinação obrigatória, desinfecção dos espaços públicos e domiciliares e outras ações
de medicalização do espaço urbano, que atingiram, em sua maioria, as camadas menos favorecidas da
população. Esse modelo predominou no cenário das políticas de saúde brasileiras até o início da
década de 1960.
No Brasil, as doenças mais relevantes no início do século passado foram as infecciosas. Para
combatê-las, utilizou-se todo conhecimento tecnológico disponível à época, tais como as descobertas
da bacteriologia e de medicamentos e vacinas para prevenir e tratar, com o objetivo de interromper o
ciclo dessas doenças.
A estratégia organizada pelos médicos sanitaristas para chegar até os doentes, em diferentes regiões
ou sob o risco de adoecimento, foram as campanhas, o que caracterizou, em nosso país, o modelo
sanitarista-campanhista.
Esse modelo, institucionalizado no Brasil durante o século XX, trata os problemas de saúde da
população mediante campanhas (vacinação, combate às epidemias, reidratação oral etc.), de caráter
temporário, e programas especiais (controle de tuberculose e da hanseníase, saúde da criança, saúde
da mulher, saúde mental etc.). Tradicionalmente, essas formas de intervenção não contemplam a
totalidade da situação de saúde, isto é, centram sua atenção no controle de agravos ou em alguns
grupos supostamente em risco de adoecimento ou morte, sendo limitadas no que se refere ao conjunto
de necessidades de saúde dos indivíduos.
Já os programas especiais possuem um conjunto de recursos (humanos, materiais e financeiros) e
apresentam um caráter mais permanente do que as campanhas. Existem programas de controle de
tuberculose ou de saúde da criança e da mulher que devem interagir com programas e
campanhas de imunização e com as atividades da vigilância epidemiológica. Muitos programas
substituíram campanhas que se prolongaram, enquanto outros constituem respostas pontuais a certas
mudanças do perfil epidemiológico. O seu vínculo institucional tem origem basicamente no
Ministério da Saúde, e eles são reproduzidos pelas secretarias estaduais e municipais de saúde.
Como exemplos do modelo sanitarista, cabem ser citados os programas especiais, inclusive o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs) e o Programa de Saúde da Família (PSF), as
campanhas sanitárias e as vigilâncias sanitária e epidemiológica.
V - Demanda espontânea e Necessidades: como isso se relaciona com os Modelos de Atenção à Saúde
e quais os limites/desafios dessa relação?
O modelo médico-assistencial é baseado na demanda espontânea. Este modelo reforça a atitude dos
indivíduos de só procurarem os serviços de saúde quando ficam doentes. É a pressão espontânea e
desordenada da demanda que condiciona a organização de recursos para a oferta. Outras vezes, é a própria
oferta, distorcida em relação às necessidades de saúde, que determina o consumo de serviços médicos e de
saúde.Como a maioria das demandas espontâneas em saúde é guiada por sintomas e queixas dos
pacientes, há pouco espaço para a prevenção no modelo hegemônico.
Demanda espontânea
É preciso entender que a ciência e os profissionais de saúde não são os únicos definidores das
necessidades de saúde. Queiramos ou não, o usuário também define, com formas e graus variados, o
que é necessidade de saúde para ele, podendo apresentá-la enquanto demanda ao serviço de saúde. E é
importante que a demanda apresentada pelo usuário seja acolhida, escutada, problematizada,
reconhecida como legítima. Às vezes, há coincidência da demanda e do olhar técnico-profissional. No
entanto, quando isso não acontece, é necessário um esforço de diálogo e compreensão, sem o qual são
produzidos ruídos que se materializam, por exemplo, em queixas, reclamações, retornos repetidos,
busca por outros serviços.
Vários tipos de demanda podem, em grande parte, ser acolhidos e satisfeitos na atenção básica,
inclusive com as modalidades de tecnologias leve-duras (conhecimentos, protocolos) e duras
(materiais, equipamentos), que podem e devem estar disponíveis nesse tipo de serviço. Vejamos
alguns exemplos de situações não programadas que podem ser acolhidas na atenção básica:
usuário com cefaleia ou tontura; pessoa com ardência ou dor ao urinar; alguém que está com insônia
há uma semana; criança com febre; mulher com sangramento genital, entre outros. Essas situações
revelam que, apesar de ser necessário programar o acompanhamento das pessoas nas agendas dos
profissionais (sob pena de a atenção básica se reduzir a um pronto-atendimento), também é
fundamental que as unidades de atenção básica estejam abertas e preparadas para acolher o que não
pode ser programado, as eventualidades, os imprevistos. Como um usuário poderia decidir o dia e
hora em que ficaria gripado ou teria dor de cabeça? Seria possível prevenir todos os casos de
ansiedade e dor muscular? É evidente que não. O que não quer dizer que, diante desses casos, o modo
de atuar seja somente do tipo queixa-conduta. Muitas vezes, o acolhimento a essas situações
demandará continuidade no cuidado. Em outras, poderá requerer, inclusive, apoio matricial e/ou
encaminhamento para outros serviços.
Demanda Espontânea:
A base no atendimento no modelo clássico de saúde é a demanda espontânea. Demanda
espontânea consiste no paciente que comparece na unidade de saúde de forma inesperada, seja
por motivo agudo ou que o próprio paciente julgue necessidade de saúde. A ESF não deve ignorar
a demanda espontânea, porém, como sua prioridade é a promoção de saúde, deve organizar suas
atividades de modo a superar os problemas prioritários de saúde/doença da população. Este aspecto é
fundamental para que o trabalho de saúde da família consiga impacto nos indicadores de saúde local,
reduzindo o atendimento ambulatorial nos serviços de urgência.
A demanda espontânea pode acontecer de duas formas: com casos de intervenção que podem ser
programados (não agudos) e de casos de atendimento imediato, prioritário (agudos). Nos casos não
agudos pode requerer ações voltadas à orientação e atendimento O acolhimento é uma prática presente
em todas as relações de cuidado, baseado no encontro de trabalhadores de saúde e usuários, no ato de
receber e escutar as pessoas.
Realizar o acolhimento com escuta qualificada, classificação de risco, avaliação das
necessidades de saúde e vulnerabilidade é o objetivo que se deve alcançar.
Demanda programada
Definem como demanda programada os atendimentos agendados previamente, sendo um importante
serviço para a atenção básica, pautada em ações preventivas. Deve-se, portanto, observar a demanda
espontânea e programada, para que seu atendimento seja ágil, resolutivo, humanizado e acolhedor. É
preciso ter equilíbrio entre demanda espontânea e atenção agendada. O modelo fragmentado voltado
para o atendimento espontâneo e de condições agudas desequilibra as respostas sociais e de
acompanhamento longitudinal do usuário e seus familiares. Segundo Mendes, sempre haverá
demanda espontânea para atendimentos agudos em decorrência de agudização de doenças crônicas ou
eventos novos não esperados. Deve haver, portanto, uma rede de atendimento preparado para casos de
urgência e emergência, que não deve ser de responsabilidade da atenção básica de saúde.