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RAQUEL FREIRE DO AMARAL

DANÇAS CIGANAS E OS CIGANOS NA TURQUIA

SÃO PAULO
2023
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RAQUEL FREIRE DO AMARAL

DANÇAS CIGANAS E OS CIGANOS NA TURQUIA

Trabalho apresentado a Cia Lady Agatha Danças como requisito para


obtenção do certificado do Curso Livre de Aprofundamento em
Danças Ciganas.

SÃO PAULO
2023
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Dedico esse trabalho aos meus ancestrais, pois foi através desse trabalho
que passei a conhecer mais a minha família, a minha identidade enquanto ser
subjetivo e autêntico. É conhecendo o passado que descobrimos também parte de
nossa história.

Gratidão a todos que vieram antes de mim, e aos meus descentes, e que
vocês honrem a história agradecendo o passado, no presente fazendo das suas
vidas o mais feliz possível, mais consciente e do mundo mais saudável possível.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus ancestrais por me permitirem a força e a vida de estarem


aqui. Agradeço à minha família, em especial ao Celso, meu marido por entender
minhas horas ausentes em meu escritório redigindo esse trabalho que foi custoso
em tempo familiar. Agradeço à minha filha Iara, que mesmo sem a compreensão
disso que Celso passou, ela também passou, e por ser meu refrigério das minhas
horas de descanso. Agradeço à minha amada Mestra Teresa Cristina, nome tão
forte e que faz dessa mulher valente e sem fronteiras, e que acho que ela não deve
saber nem 10% de seu peito de ferro de uma guerreira de fato, agradeço suas
intermináveis horas de amizade e paciência com todo meu processo de construção
nas danças ciganas, por vezes de mal humor, por vezes de revolta, pelas vezes de
indignação, e de tantos outros sentimentos que compuseram hoje quem sou nessas
danças, mas que ela me ensinou a ser também essa pessoa chata (num excelente
sentido da palavra!), crítica, pensadora, que cobra de seus alunos, que não
apresenta qualquer coisa em palco, e que hoje me faz saber o meu lugar enquanto
artista.

Agatha, Teresa Cristina, quero lhe agradecer por toda orientação que foi de
extrema importância, pois você me fez iniciar nesse estudo do aprofundamento em
especial do estudo das danças ciganas. Estudar as danças em especial na teoria é
fundamental. Uma dança não pode ir à palco sem saber de seu enredo histórico e
isso lhe devo a minha enorme Gratidão!

À Jéssica Prestes, pelas indicações, meu muito obrigado.

À minha amiga Léticia, Mahaila Dara, que segurou a minha mão e o meu
coração por não me deixar sair correndo por diversas vezes. Essa minha
companheira na dança, essa companheira de longas conversas, que amo de paixão.

Às amizades que fiz nesse curso maravilhoso, e que sempre levarei no meu
coração.

Quero aproveitar a oportunidade de agradecer à uma pessoa hiper especial e


que Deus abençoe meus passo para um dia me dar a oportunidade de abraça-la
pessoalmente que é a Reyhan Tuscuz por tanto! Ela sem falar uma língua em
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comum a mim se mostrou a criatura mais maravilhosa do mundo! Empática, querida,


energia unânime e sem fronteiras. Com esse contato pude perceber que temos
famílias energéticas espalhadas pelo mundo e o quanto o mundo é o nosso lar!

Nesse ensejo também agradeço à Buscuz, aluna de Reyhan, graciosa,


querida, tal como sua mestra! Parece que quem está em nossas vidas, de verdade
se liga em energia, e essas duas, se ligaram assim!
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“Estudar Danças Romani é estudar a história da humanidade. É rever sua própria


ancestralidade, é conhecer a história dos povos, não somente do povo cigano, mas
de todos aqueles que vieram antes de nós. Os ciganos possuem uma peculiaridade
em que carregam tanto em herança cultural quanto genética, pois carrega em suas
entranhas a história da humanidade”. - Raquel Freire
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RESUMO
Pesquisar sobre a História dos Ciganos no mundo é contar uma história de um povo
que vive na resiliência, na persistência e na luta constante para manter- se vivo em
todos os sentidos, além disso, as formas em que se mantém- se são únicas e em
seu próprio grupo, pois a cultura e língua são passadas de maneira oral, ou seja,
ágrafa (não escrita). Os documentos que se utiliza para contar a história dos ciganos
no mundo são poemas, deportações, contos, cantigas. O presente trabalho visa
contar a história do povo cigano desde sua diáspora na Índia, seguindo o percurso:
Índia - Brasil, enfatizando o núcleo das danças ciganas, em especial na região da
Turquia, e a modalidade da Roman Havasi, objeto de estudo central no presente
trabalho.

Palavras- chave: Danças Ciganas. Povos tradicionais ciganos. Roman Havasi.


Ciganos na Turquia.
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ABSTRACT

Researching the History of Gypsies in the world is to tell a story of a people who live
in resilience, persistence and constant struggle to stay alive in every way. in their
own group, as the culture and language are passed on orally, that is, unwritten (not
written). The documents used to tell the history of gypsies in the world are poems,
deportations, tales, songs. The present work aims to tell the history of the gypsy
people since their diaspora in India, following the route: India - Brazil, emphasizing
the core of gypsy dances, especially in the region of Turkey, and the modality of
Roman Havasi, central object of study in the present work.

Key-words: Gypsy Dances. Traditional gypsy people. Roman Havasi. Gypsies in


Turkey.
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13
2 O POVO ROMANI: Quem são os Ciganos 13
2.1 GRUPOS E SUBGRUPOS 15
3 CULTURA: Costumes e ritos de passagens dos Romanis 19
3.1 3.1 A MULHER ROMI: Imaginário popular X realidade (Reflexão) 26
4 SANTA SARA KALI E A RELIGIÃO DO CIGANO 28
5 A LUTA DO POVO ROMA 30
6 A BANDEIRA CIGANA 31
7 O HINO CIGANO 31

7.1 GELEM GELEM 32

8 DIA NACIONAL DO CIGANO NO BRASIL: 24 DE MAIO 34

9 O ANTICIGANISMO 34

10 DANÇAS CIGANAS 38

10.1 DANÇAS CIGANAS: Uma Dança característica, uma modalidade de dança 39

10.2 DANÇAS CIGANAS E O PERCURSO DOS CIGANOS PELO MUNDO 40

11 A DIÁSPORA CIGANA 41

12 CIGANOS NA ÍNDIA 43

12.1 KALBELIA 45

12.2 BANJARA 45
10

13 TURCO, ÁRABE, Libanês, e IRANIANO: É a mesma coisa? 47

14 CIGANOS NO EGITO 50

14.1 Ghawazee Mazin 51

14.2 Gawazee Soumboti 51

15 CIGANOS NO IRAQUE 53

16 CIGANOS NA TURQUIA 55

16.1 O IMPÉRIO OTOMANO 57

16.2 OS CIGANOS TURCOS 59

16.3 LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO 60

16.4 GRUPO E IDENTIDADE 65

16.5 COMO SE DIVIDEM EM GRUPOS OS CIGANOS NA TURQUIA 68

16.6 A DIVERGÊNCIA DOS TERMOS ROMAN vê ROMANLAR 69

16.7 CIGANOS TURCOS NO BRASIL: SUBGRUPOS HORABANÉ, HORAHANE,


XORAXANÊ 72

16.8 INFORMAÇÕES E DOCUMENTAÇÕES HISTÓRICAS DOS CIGANOS NA


TURQUIA 74

16.9 RELIGIÃO 76

16.10 FESTIVIDADE ERDELEZI 77

16.10.1 HIDIRELLEZ/ EDERLEZI: UM FERIADO CIGANO 81

16.11 BAIRRO SULUKULE 86

16. 12 A POBREZA MULTIDIMENSIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS


BIOPSICOSOCIAIS 94

16.13 ROMAN HAVASI: A DANÇA DOS CIGANOS NA TURQUIA 99

16.14 RITMO 102


11

16.15 FIGURINO 103

16.16 REYHAN TUZSUS 105

16.17 DANÇA CIGANA TURCA NO BRASIL 107

16.18 ADENDO: CIGANA ILARIN 108

17 BALCÃS 109

18 CIGANOS NA ROMÊNIA 112

18.1 A DANÇA MANEA OU MANELE 112

19 CIGANOS NA HUNGRIA 115

19.1 MÚSICA E DANÇA NA HUNGRIA, E COM OS CIGANOS NA HUNGRIA 114

20 CIGANOS NA GRÉCIA 117

20.1 MUSICALIDADE E DANÇA DOS CIGANOS NA GRÉCIA 118

21 ROMANÊS 119

22 RUSKA ROMA 120

22. 1 A DANÇA, A MÚSICA E O FIGURINO NA RUSKA ROMA 121

22.2 TEATRO ROMEN 122

22.3 NIKOLAI SLICHENKO 126

24 CIGANOS NA ESPANHA 127

24.1 O FLAMENCO 129

24.2 AS RUMBAS 130

24.3 ZAMBRA 131

25 CIGANOS NO BRASIL 132

25.1 A HISTÓRIA DOS CIGANOS EM PORTUGAL 132


12

25.2 JOHÃO DE TORRES, 1574: O PRIMEIRO CIGANO A SER DEPORTADO


PARA O BRASIL 137

25.3 REFERÊNCIAS DE ALGUMAS DATAS IMPORTANTES PARA O ESTUDO DO


TEMA DE CIGANOS NO BRASIL 139

25.4 DANÇA CIGANA NO BRASIL 141

25.5 A CULTURA CIGANA DOS CIGANOS NO BRASIL 142

26 CONCLUSÃO 143

REFERÊNCIAS 151
13

1 INTRODUÇÃO

Pesquisar sobre a História dos Ciganos no mundo é contar uma história de


um povo que vive na resiliência, na persistência e na luta constante para manter- se
vivo em todos os sentidos, além disso, as formas em que se mantém- se são únicas
e em seu próprio grupo, pois a cultura e língua são passadas de maneira oral, ou
seja, ágrafa (não escrita). Poucos são os documentos de suas passagens no
mundo. Pouco também são seus números comparados ao restante da população
mundial. Segundo o site BEHANCE, 2022 existem 6 milhões de ciganos perante
7.950.268.456 (Sete bilhões, novecentos e cinquenta milhões, duzentos e sessenta
e oito mil , quatrocentos e cinquenta e seis) pessoas de população mundial (World o
Meters <dados de 08-07-2022 às 18:03h>). No Brasil estima-se Segundo o IBGE
(2011), população cigana do Brasil possui três diferentes etnias (Calon, Rom e Sinti),
totalizando cerca de 500 mil pessoas, espalhadas em 21 estados e mais de 290
cidades. Os estados que mais abrigam comunidades ciganas são Minas Gerais,
Bahia e Goiás (CRESS- PR, 2021).

Os documentos que se utiliza para contar a história dos ciganos no mundo


são poemas, deportações, contos, cantigas. Ao longo desse trabalho visa contar a
história do povo cigano desde sua diáspora na Índia, seguindo o percurso: Índia -
Brasil, enfatizando o núcleo das danças ciganas, em especial na região da Turquia,
e a modalidade da Roman Havasi, objeto de estudo central no presente trabalho.

2 O POVO ROMANI: Quem são os Ciganos?

Os ciganos são grupos de pessoas que se dividem entre si por conta de suas
andanças. Eles criam suas histórias à medida que vive.

À medida que vão convivendo com a cultura local vão mantendo os costumes
daquela região, se adaptando às diversas condições, tal como um camaleão.
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É muito bonito por esse ângulo observar que os ciganos talvez seja o povo
mais universalista que existe. Ao mesmo tempo tão subjugados por não haver uma
pátria única e própria, pensar que um povo nômade carrega em sua memória
genética, e cultural a riqueza da humanidade. Por onde passa, vão levando um
pouquinho daquele lugar, e faz de sua história o todo.

E pensar que muitos deles desconhecem essa riqueza, e tamanha dimensão


de sua potência cultural, tamanha sua ingenuidade vivencial. Ao conversar com
muitos, percebemos na simplicidade do diálogo, e que é fácil ser cigano, o difícil é
explicar ser cigano para quem não é.

Para os historiadores também se mostra complexo UMA definição de quem


os são tamanha diversidade cultural e etnográfica, porém a grande maioria dos
ciganólogos concorda que os ciganos surgiram do Noroeste da índia, atual
Paquistão (PEREIRA, 2009, p.19). Por diversas mudanças históricas (por não
quererem se submeter ao sistema de castas), e mudanças geográficas utilizaram-se
de ofícios “mal vistos” como amestradores de animais, forjadores de metal e
quiromantes. Séculos mais tarde com a chegada dos muçulmanos ocorre a diáspora
(dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição política,
religiosa ou étnica (ref4)) na Índia, e então os ciganos começam a se dispersar,
percorrendo outros lugares no mundo.

Quando se trata do objeto de pesquisa Povo Cigano, não há como fechar


uma verdade absoluta em termos de pesquisa, e muito menos conclusões
arbitrárias. Há uma grande diversidade de cada família e não há uma só cultura, e
sim uma “policultura” ao estudar ciganos, e como já diz TEIXEIRA, 2009: “(...) os
ciganos são múltiplos e unos. Nenhum cigano conhece todos os detalhes da
identidade em que está inserido. Tal como não conhece o espaço cultural que o
comporta, não sabendo, pois ler todo o seu ‘mapa cultural’ (...) Cada cigano é
portador de um conjunto singular de elementos dessa identidade, embora não haja
uma noção de individualidade tal como no mundo ocidental.” (“Ciganos no Brasil”:
22).

Os ciganos que estão no Brasil foram criando identidade cultural (se assim
pode-se dizer) ao conhecer a cultura brasileira tamanha diversidade cultural também
brasileira. E cada família irá levar sua própria peculiaridade cultura passada de
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família para família. E assim ocorre também nos diversos países em que percorrem.
Portanto, há uma multiplicidade cultural cigana em seus grupos e subgrupos.

Em termos políticos não poderia ser diferente, grande parte das autoridades
os vêem como um grupo único e homogêneo, e que deveriam ter suas lideranças
bem consolidadas, porém não é isso que acontece na prática, tamanhas são as
divergências de opiniões por parte de seus componentes, que assim como
concordam com as opiniões e decisões políticas sobre seu povo, também
discordam: “Apesar da sua heterogeneidade, os ciganos são vistos como em grande
parte pelas maiorias como sendo ‘uma massa altamente homogênea,
despersonalizada, cujos membros coletivamente podem ser caracterizados por
analfabetismo, falta de trabalho disciplina e desrespeito às normas legais e sociais”
(Csepeli & Simon 2004:133 apud OPRISEN, 2007).

Recebendo a crítica das autoridades tanto nacionais, bem como


internacionais, que deveriam entrar num consenso a fim de estabelecer políticas
inclusivas para o próprio povo, como cita Nicolae apud OPRISAN, 2007: “os ciganos
são não unidos e que deveriam ter “uma só voz” para melhor representar seus
interesses. Reconhecendo a grande diversidade entre os diferentes grupos de
ciganos têm, na prática, é uma utopia ter também uma unidade política cigana: "é
um mito, uma vez que os ciganos “têm interesses que não coincidem e conflitos
entre eles não são incomuns e essa “não tem como os ciganos jamais poderiam estar
unidos” (2013:11apud OPRISAN, 2007).

Porém, apesar de todas as diversidades culturais e multiplicidades intrínsecas


ao povo cigano, sabe- se que pelos lugares desde sua diáspora cigana na Índia
foram se criando grupos e subgrupos de ciganos. Como grandes grupos têm os:
Romá, Sinti e Calon (MIGOWSKI, 2008).

2.1 GRUPOS E SUBGRUPOS

Roma ou Romá ou Roms trata-se de um grupo de ciganos que podem


apresentar subgrupos, podendo ser Nômades ou sedentários. Alguns desses
subgrupos Roms segundo PEREIRA, 2009 são:
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Kalderash: Fazem parte nesse grupo, muitos caldeireiros e circenses, industriais, e


alguns profissionais liberais. As mulheres algumas usam como fonte de renda a
cartomancia. As principais regiões de origem são: Itália, Alemanha, Grécia, e Rússia.
Podem ser foresco (sendentários); ROM dromesco (nômade) ou seminômade.

Xoraxané (horahané): Sua origem vem da Turquia. Muitos são músicos, alguns são
Profissionais liberais, comerciantes, mulheres cartomantes. A maioria no Brasil são
sedentários, apesar da origem ter sido nômade.

Macwaia (matchuaia): Origem Iugoslávia. Profissionais liberais, Comerciantes,


donos de oficinas mecânicas, mulheres cartomantes. Em sua maioria são
sedentários, apesar de sua origem ser nômade.

Lovara: Emigrantes italianos. Sua origem eram tratadores de cavalos, cavaleiros e


nômades. Hoje estão mais no comércio de tapete, seda, veiculo motorizado, e são
sedentários.

Rudari: são mais raros no Brasil, sua origem vem da Romênia; já foram nômades, e
hoje são sedentários.

Manuche (Manoushe) e Sinti: não são encontrados no Brasil. A Origem vem da


França, Alemanha, e Itália. Uma minoria é nômade, e a maioria são sedentários.

Romanichal: originários do Reino Unido, em especial da Escócia, Inglaterra e País


de Gales.

Calon, Calé: Península ibérica, Espanha e Portugal, mais ainda França (Camargue);
ainda também na África (Marrocos), e mais atualmente nas Américas.

Interessante ver uma organização que CAPELLA, 2017, faz do grupo Rom:

Grupo Rom
17

Kalderash

Nacionalidade Serbijája
(sérvios)

Vitsa: Minéshti

Família Marcovitch

Nome: Yovanka
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Fonte: Organograma Exemplificativo da organização social no grupo Rom. Livro “Romani Droma: Caminhos ciganos” de Mikka Capella, 2017. Rio de Janeiro:
Ed. clube de autores. (p.43)

Enquanto os Roms, em especial do norte e leste europeu, tinham esse


costume de se subdividirem entre clãs de acordo com as profissões exercidas, os
Sinti e os Calons não se subdividem em clãs, mas se reconhecem com nomes
distintos devido à localidade de onde vêm:

Nacionalidades Sinti

Estraxarja Austríacos ou originários da Áustria

Gáchkane Alemães ou originários da Alemanha

Valshtiké Franceses ou originários da França

Piemontákeri Italianos da região de Piemonte

Lombardo Italianos da região de Lomardia

Marche Italianos da região de Marche (As marcas)

Brasiliako Brasileiros ou originários do Brasil

Fonte: Organograma Exemplificativo da organização social no grupo Rom. Livro “Romani Droma: Caminhos ciganos” de
Mikka Capella, 2017. Rio de Janeiro: Ed. clube de autores. (p.44)

Nacionalidades Calé

Catalão Catalães ou originários da Catalunha

Granadino Granadinos ou originários de Granada

Andaluz Andaluzes ou originários da Andaluzia

Tropeiro É como são chamados, no Brasil, os Calé da Região Sul

Carrapicheiro É como são chamados, no Brasil, os Calé das regiões Norte e


Nordeste.
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Português Portugueses ou originários de Portugal. Apesar de simples menção


da palavra Calon nos remeter de imediato à Espanha, a maior parte
dos Calé brasileiro são descendentes de portugueses.

Tacheiro É como são chamados os cale de descendência espanhola,


sobretudo nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Fonte: Organograma Exemplificativo da organização social no grupo Rom. Livro “Romani Droma: Caminhos ciganos”
de Mikka Capella, 2017. Rio de Janeiro: Ed. clube de autores. (p.49)

Segundo CAPELLA, 2017, esse é o grupo mais numeroso, em especial do


norte e leste da Europa. Há costumes e tradições típicos da cultura eslava, como as
Slavas, que falaremos a seguir, e a Pomana, que são de origem não cigana.

Apesar de o Povo Rhomá ser um só, e na atualidade eles serem mesmo


serem tratados uns aos outros de “primos” e “primas”, (a fim de que se sintam mais
próximos para estarem ali mais unidos em favor de seus direitos enquanto ciganos.
Uma tentativa de universalização mesma que no trato entre ciganos, mesmo que
informal); os Roms, em especial do norte e leste europeu, tinham esse costume de
se subdividirem entre clãs ( palavra que não é romani, que tem sua origem no gaélico escocês ) de acordo
com as profissões exercidas. Já os Sinti e os Calons não se subdividem em clãs,
mas se reconhecem com nomes distintos devido à localidade de onde vêm.

3 CULTURA: Costumes e ritos de passagens dos Romanis

Os ciganos são batizados com três nomes: o primeiro é o que a mãe sopra
em seu ouvido ao nascer. É a identidade secreta daquele cigano que acaba de
nascer, pois assim eles entendem que essa criança estará protegida de influências
espirituais malignas, ou seja, tendo um nome secreto não tem como um espírito
maligno dominá-lo; o segundo nome trata-se do nome tradicional cigano, daquele clã
o qual pertence; o terceiro nome é o nome que será chamado pelos gadjós, um
nome que pertença à cultura local em que a criança nasceu. Gadjós é a palavra
usada pelos ciganos para se referir aos não ciganos.
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Slava é o nome que se dá a uma comemoração de dedicada a um santo


específico. Cigano não tem religião universal, ele se apropria da crença local, que
pode ser católica, evangélica, muçulmana, e assim por diante, dependendo da
localidade que vive. A Slava comumente é passada de pai para filho. É comum
aquela família ter sua própria Slava. Só o pai carrega a tradição da Slava, ou seja, a
tradição de cultuar um santo de devoção é trazida pela família do homem, e não da
mulher. Essa Slava é sempre cultuada em um mesmo dia e mesma hora específica
daquela família.

O Abial Romani é o Casamento Cigano. É uma grande festa, pois eles vêem
o casamento não só como a união do casal, mas como o elo entre famílias.
Casamento para os ciganos é algo extremamente sério, e tem muitas celebrações,
que duram dias. No primeiro dia festivo, a noiva, ou Bori, como eles chamam, é
trajada com vestido branco, e seus vários ducados (moedas, que também, também
chamados de dobrões) ofertados em seu dote no vestido da noiva como se pode ver
na foto a seguir:

Figura 1: Noiva Romani https://m.facebook.com/617893944913367/photos/lepotiica-


/1430341467001940/

Borí é o termo utilizado para se referenciar à noiva, nora. A maneira de tratar


“pegar bori” significa “noivar” ou “pagar dote” que é comum na tradição cigana. Os
ciganos não vêm esse dote como um comércio, eles vêm como um acerto entre
famílias, um laço, um combinado, por isso é tão comum primos casarem entre si, já
que é importante para o cigano permanecer unidos entre sangue.
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Figura 2 Instagram @ibeatrizmotta stories


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Dentro da cultura cigana é comum casar primos de primeiro, segundo, quinto


grau, o que para os gadjós soa estranho. Nesse sentido o soar estranho para
gadjós, para os ciganos são laços perpétuos de sanguinidade.

“Ducados” é o nome dado a moedas, que são as moedas utilizadas na


indumentária das mulheres que são prometidas a um cigano. Quando “noivas”
(Bori), elas utilizam um ducado no pescoço, um dobrão de ouro que é pertencente à
família em que se fez o acordo. No dia do casamento vê se nas vestimentas vários
deles que são normalmente o que foi usado no dote, ou seja, que foi acordado entre
a família aquela aliança, aquela parceria, aquele acordo entre família. Para eles o
casamento é algo muito sério, é uma união e que dura para sempre.

As meninas casam próximo de sua primeira menstruação para que não tenha
“risco” de ser influenciada pela cultura externa. Os ciganos tentam cuidar de todas
as formas a permanência cultural para que se propague durante muitas gerações a
tradição.

O amor é aprendido no convívio, e não primeiro se amar para depois casar,


mas aprende a amar. Conhece- se o amor como esses laços familiares. Cigano não
namora, para eles, o amor é construído à medida que convivem. Eles aprendem o
amor na prática.

É algo muito rico, muito sério, muito entranhado desde cedo esses valores
ciganos, e talvez só um cigano entenda o que é ser um cigano!

O branco do vestido da noiva simboliza a pureza da menina que então casa-


se virgem. Para o cigano é imprescindível a virgindade ao casar. Na festa há um
momento segundo alguns relatos, e com base em novelas como “Explode Coração”
da Globo, que a noiva junto com o noivo tem o momento de núpcias, em que ao
desvelar a virgindade no lençol é estendida uma bandeira vermelha após essa
cerimônia nupcial. Costumes ciganos diferentes de não ciganos, é entendido ali o
laço entre as famílias.

No segundo dia de casamento a noiva surge com o vestido vermelho,


simbolizando que uma mulher comprometida, a paixão e a vida, o sangue da vida.
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É comum um ritual dentro desse casamento que os convidados ofertem


dinheiro à noiva e em troca ela lave as mãos de quem oferta dinheiro com água de
rosas para que tenham sorte.

Quando uma ou um cigano desacorda de algum termo, por exemplo, no


casamento, em que não se quer casar com determinado cigano, ou foge uma cigana
convoca-se uma Kris Romani, que é uma reunião entre ciganos, em especial
aqueles mais velhos, e mais ativos na comunidade daquela família. Essa Kris
Romani tem como intenção decidir sobre algum assunto, uma espécie de “júri”,
“tribunal” cigano. Cigano quando precisa resolver algo não recorre ao poder público
como Polícia, Ministério Público, eles convocam uma Kris Romani. Qualquer cigano
pode convocar uma reunião dessas, e os motivos são os mais diversos: casos de
separação, furto, traição, e o que acharem que deva ser resolvido pelo grupo, e
quando há discordância entre as partes, assim como os gadjós quando não
conseguem entrar em acordo.

Interessante falar que dentro dessa reunião somente os homens que tem voz
ativa, e podem participar e falar, com exceção dos Sinti, em que a mulher mais velha
tem direito de se pronunciar.

Há um costume entre os Sinti, que se chama “Rapto da Noiva” em que a bori


(noiva) “foge” com seu noivo e fica distante durante uns três dias a fim de se
conhecerem antes do casamento. Essa fuga na verdade ela é permitida na cultura, e
é incentivada a fim de que os noivos se conheçam antes da oficialização do
casamento. Após esse período de três dias, eles voltam e encenam uma briga entre
o noivo e o pai da bori. O noivo traz consigo uma garrafa de vinho e os dois brindam,
e “fazem as passes”, e assim se inicia os preparativos do casamento.

O teste de Bori segundo a Romanichel, Alessandra Tubbs, é o período que a


mulher Romá após casada passa com a sogra conhecendo os costumes da sua
nova família que passa a ser a família do seu marido. Ali é um período teste em que
a sogra mostra a recém casada tudo o que seu filho gosta: as comidas, a maneira
que é preparada, como ele gosta de suas roupas passadas, como se faz o serviço
doméstico, e tudo o que se refere aos cuidados domésticos. A mulher cigana ela fica
responsável pela casa, enquanto o homem pelo sustento da casa. Por mais que hoje
em dia algumas mulheres sejam permitidas estudar, fazer uma faculdade, como foi o
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caso de Alessandra, e inclusive trabalhar, tudo tem que ser antes conversado com o
marido, e se ele permitir ela pode fazer. O marido ele é o núcleo responsável por
todas as decisões importantes sobre os pertencentes aquela família, e a mulher
deve respeito a ele.

No meio social dos ciganos Roms, eles são fechados, mais introspectivos
com os gadjos por vários motivos: não confiam em quem não é da cultura, e só se
aproximam depois de verem provas de que realmente podem confiar nessa pessoa.
Há segundo Alessandra uma “desconfiança natural, um instinto de sobrevivência
animal” (sic). Ela faz menção aos enormes preconceitos que os ciganos passam e já
passaram na história da humanidade.

Pomana é o funeral cigano que acontece quatro vezes: 7 dias após o


falecimento, 40 dias depois, 6 meses, e 1 ano depois é saudado a memória do ente
querido. A Pomana é um rito fúnebre em que tudo o que pertencia ao morto é
queimado. Costuma-se colocar duas moedas de ouro em seus olhos.

É interessante falar que isso se deve, pois acredita- se que essa moeda ao
fazer sua passagem, e chegar do outro lado, a alma do falecido possa pagar ao
barqueiro sua viagem ao paraíso. Para os Ciganos até mesmo o rito fúnebre é festa,
onde há sempre comida e música, em especial as músicas, e comidas que o morto
gostava. Apesar dos ciganos não terem religião própria, eles são místicos e,
portanto, demonstram certas “superstições” como não tocar no morto. Respeito e
superstição conversam nesse momento, e também uma leve brincadeira fazem no
momento de comerem a comida da Pomana, em que o primeiro ou o último a sair da
mesa será o próximo a falecer.
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O luto Romani dura cerca de 40 dias porque é dentro desse período que
acredita- se que é o período que o morto ainda pode estar preso ao corpo. E nesses
40 dias fazem de tudo para estar com sua vibração elevada, tamanha resiliência
costumeira do povo cigano.
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Ao mesmo tempo em que se tem o respeito pela morte, também encontra- se


manifesto o sentimento de alegria, pois entende que aquela pessoa que fez sua
passagem desse mundo cumpriu sua missão.

O Diklô é o lenço usado pelas mulheres que são casadas. Elas usam nos
eventos, em especial eventos como o Partiu, que é um evento que homenageia- se
um amigo, uma festa dos Roms.

Quando se estuda a origem do Povo cigano, os ciganólogos indicam sua


origem na Índia, e vê- se semelhanças com o que se refere à língua Romani ao
sânscrito, língua indiana. Segundo Pereira, 2009 (p.48), “possui inúmeros pontos de
correlação com sânscrito e é somente oral, já que os ciganos não escrevem em
Romani com vistas à publicação.”. Sua tradição é oral, ágrafa, ou seja, não escrita, e
por sua maioria não mostram interesse em mudar essa maneira, essa forma de ser.

A dança Romani é a base para outras danças Ciganas como a Russa, a


dança dos ciganos na Romênia. Seus passos são simples e graciosos. A mão da
dança Romanê é uma mão mais “simples”, não muito dedilhada se comparada com
a mão que bailamos por Rumba e os ritmos quaternários. É uma mão charmosa,
mas não muito trabalhada, mais simples, discreta. Os ombros, uma leve quebrada.
O figurino da dança Romani são roupas de festas como de madrinhas de casamento
(vestido longo), ou saias que não possuam muita roda, uma saia mais justa, um
bolero, sem decote. A música utilizada em especial às tocadas por violinos, ou
cantadas em Romani.

Interessante explanar aqui que a dança para os ciganos não é só uma


expressão de alegria, mas parte da cultura cigana. É uma forma em que alguns pais
se utilizam para casar suas filhas. Alguns pais na ânsia de “conseguir bori”, ou seja,
arrumar um noivo para elas, nas festas em família “incentiva” as meninas solteiras a
27

dançar. E com isso, é visível o desconforto das meninas; seus semblantes


acanhados, nessas ocasiões, como vêem- se em vídeos divulgados na internet.

Muitas das vezes insatisfeitas com essa situação constrangedora, muitas nem
querem casar, ou não entendem essa situação. É mais uma preocupação
mantenedora do pai, do que dela. Portanto, a dança no sentido cultural Romani nem
sempre é expressão de alegria e festividade, mas sim de indicativos para
estabelecer socialmente relacionamento e perpetuação do laço entre as famílias
pelos mais velhos, o que para os mais novos nem sempre é tão compreendido.

3.1 A MULHER ROMI: Imaginário popular X realidade (Reflexão)

Romi é o nome que se dá à mulher Romani, ou mulher Romá.

Pelo que se percebe a mulher é um dos pontos fortes da cultura cigana, mas
ao mesmo tempo também extremamente frágil em termos de “livre-arbítrio”, no que
se refere ao desejo pessoal, e decisões sobre a própria vida: Elas quem dançam
com seus longos vestidos coloridos, usam os adereços da cultura, tanto enquanto
noivas quanto casadas, mantendo assim a cultura do seu povo. Elas quem cuidam
da casa, dos filhos, porém não podem decidir sobre seu próprio destino dentro de
sua cultura.

Seu noivo normalmente é um primo, que é escolhido pela família (um acordo
entre família, casamento arranjado), em que a mulher não tem muito poder de
decisão. Na cultura Cigana quem fica responsável por prover a casa é o homem,
mas sabe- se que muitas mulheres também trabalham com leitura da sorte. E não
somente os homens trabalham, como também as mulheres, já que muitas delas
possuem ofício fora de casa, mas mesmo assim elas lhe devem respeito, tem que
pedir permissão ao marido ante qualquer decisão a ser tomada. Seu dinheiro
conquistado deve ser colocado em favor da casa, e da família, e não pode ser usado
para uso pessoal sem consultar seu marido. Elas tanto podem trabalhar com a
quiromancia, como outro ofício, desde que o dinheiro seja para a casa, e com
autorização prévia.
28

Soa estranho a nós gadjés, gadjós, que o marido deve ser o que ganha mais,
o “lado mais forte”, aquele lugar de destaque, aquele a quem deve satisfação. Que a
mulher não pode de maneira alguma ofuscar o “brilho” de seu marido.

Vê se uma cultura em que resalta a figura masculina, uma cultura muito


diferente dos gadjós, ou que vem mudando. Enquanto o mundo vem lutando pelos
direitos das mulheres na linha do feminismo (o que inclusive hoje já se tem grupos
feministas ciganas, mas bem poucos); e lutamos por uma igualdade social, não um
femismo (ou seja, a mulher acima do homem), nem um machismo (homem acima da
mulher), na cultura cigana essa posição jamais pode ser questionada. Quando há o
questionamento através do pensamento, vem a explicação: é cultural!

Isso de certa maneira “entala” quem não é da cultura Romá, e nesse


momento deve-se ter o olhar fenomenológico: observar o fenômeno tal como ele se
mostra! Somente observar, sem ter (ou tentar!) ter nenhum grau de julgamento.

A mulher cigana apesar de passar por todas essas diferenças, ela se mantém
forte, peito para frente, mas sabendo do que lhe convém ou não em sua cultura.

Os ciganos por mais discriminados em todos os lugares do mundo como


vemos na literatura, fascinam. Fascinam os gadjos por serem diferentes, sejam na
sua maneira de viver, sejam em sua expertise em ser resilientes e fortes apesar dos
pesares (e que são muitos!), ainda sim conseguem ter a força e ao mesmo tempo a
doçura. São agridoce, eu diria.

Os ciganos apesar de não ter religião, são supersticiosos, porém essa


“superstição” provém da cultura, e pode ser visto assim. Apesar de cigano não ter
uma religião universal entre todos os seus clãs, eles são místicos. Apesar de não ter
uma cultura respeitada pela maioria, ainda sim conseguem se mantiver no tempo.
Por mais invisíveis que tentem fazer os ciganos parecerem ser, por exemplo, na
escola aprendemos sobre os índios, negros, mas eu não me lembro de falarem
sobre Ciganos! O Holocausto atingiu diversas populações como os judeus, mas não
me lembro de na escola ninguém citar os ciganos! Mas mesmo assim, eles
permanecem vivos na cultura, sejam amados ou odiados. Sejam eles descritos pela
verdade ou pela insanidade.
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E a mulher Cigana encanta mais ainda! A mulher Cigana como muitos gadjos
pensam, é uma mulher sensual, empoderada, peito aberto, livre sexualmente, diva,
poderosa, livre, solta, enquanto que na realidade a cigana Romi, a cigana
Culturalmente real, sem ser a imaginária, é uma mulher recatada, que casa
virgem, que só tem um homem na vida, muitas das vezes (com exceção das
viúvas que podem casar novamente).

Elas se dedicam extremamente ao lar. Nem todas gostam de dançar. O


dançar para elas não há prazer, e na pré- adolescência, naquela fase que se
menstrua, e que seu pai fica “ansioso” para ela arrumar um casamento, enquanto
elas querem mais é se esconder. Imagine o psicológico de uma pré- adolescente
com as transformações corporais, a aceitação do novo corpo, nova mentalidade, e
ainda tendo a cultura entranhada. Talvez, eu como gadjé, não possa explicar, mas
uma cigana possa com seu sentimento falar melhor que eu, como é essa fase, essa
experiência subjetiva, que lógico será diferente de uma para outra!

Concluindo, no imaginário dos não ciganos, toda cigana gosta de dançar, toda
cigana vive livre, leve, solta, sorrindo, de bem com a vida, sem boletos a pagar,
enquanto que na realidade, a vida de uma cigana é bem difícil. Cigana sofre, cigana
chora, cigana pode ser resiliente, mas é mulher como tantas outras: sensível, com
medos, e na maioria não tem nada de sensual, nem ao menos de experiência
sexual! Apesar de a maioria aprender o ofício de ler a sorte (tabarité), nem todas
querem, nem todas gostam, e algumas decidem não fazer mesmo tendo aprendido
na cultura.

4 SANTA SARA KALI E A RELIGIÃO DO CIGANO

O Povo Cigano passou por diversos locais do mundo, e em cada local, se faz
mantenedor cultural. Mantendo a cultura local e incrementando seus costumes. Ao
passar em cada região, tal como um camaleão, vão se adaptando aos costumes
daquela região no que se refere à comida, às vestimentas, danças, e inclusive
religião/ crença. Cigano não tem religião fixa, ele tem a religião da qual aquele clã se
adaptou, e foi originário, ou se tornou. Em uma entrevista para o Grupo Sarah Íshis,
Renan Cigano, Calon natural de São Paulo conta que a religião do Cigano é a
liberdade.
30

No Brasil, os Ciganos se tornaram devotos de Nossa Senhora Aparecida, na


Turquia, São Jorge, no México, Nossa Senhora de Guadalupe, na França, Nossa
Senhora de Lourdes e Santa Sara Kali, pois sua gruta oficial, onde foram enterrados
seus ossos estão depositados em Saint Marie de La Marie.

Gruta de Santa Sara em Saint Marie de La marie. Fonte: Romani Dromá Caminhos ciganos. org

Tem cigano que desconhece Santa Sara Kali, pois seu clã de origem, e sua
crença qual seja, se não tiver associação com a mesma, não tem essa informação.
Hoje sabe- se que ciganos tem diferentes religiões podendo ser católicos,
umbandistas, evangélicos, como é o caso do censo do IBGE, 2010 registra 22,2%
de brasileiros evangélicos, em sua maioria (60%) pentecostais e neopentecostais
(AQUINO, 2018).
31

Igreja evangélica com Romani Calons. Fonte: imagens Google

Para entender a religião do povo cigano é interessante conhecer e


compreender a base etnográfica, histórica e antropológica a fim de entender sua
cultura.

5 A LUTA DO POVO ROMÁ

Alguns momentos na história do mundo foram importantes para os ciganos e


marcam como datas importantes como oficializado o primeiro Congresso Romani
Mundial que foi organizado pela “Comité Internacional Rom” no ano de 1971, mais
especificamente no dia 08 de abril em Orpington, perto de Londres (Romedia
Foundation, 2016). A partir de então ficou conhecida essa data como “Dia
Internacional do Povo Romani”, ou “Roma Day”. Nessa data histórica foi quando foi
escolhida a bandeira cigana e o hino cigano.
Essa data foi muito importante para todo o Povo Roma, pois apesar do povo
cigano já estar vivendo na Europa durante séculos só foi promovido esse
reconhecimento nessa data. No momento, 23 representantes de nove nações
estiveram presentes para tratar de assuntos pertinentes à cultura como uso da
linguagem própria, e assuntos sociais de interesse da etnia.
32

6 A BANDEIRA CIGANA

A bandeira verde e azul com o chakra vermelho de dezesseis raios com o


emblema oficial do Povo Romani foi oficializada como sendo própria e cultural à
etnia Romá (Foudantion Romedia, 2016).
Os significados da bandeira são que o azul representa o céu, o verde, a terra,
a roda vermelha uma alusão à bandeira indiana, ao “Ashoka Chakra”, que possui
seus 24 aros, os quais simboliza o movimento da vida, lembrando também às rodas
das carroças que percorrem o mundo levando os ciganos aos seus diversos
destinos mundo afora, mostrando aí a parte da cultura ligada ao nomadismo típico
Romá; em vermelho simbolicamente motivo de vida bons presságios (CAPELLA,
Mikka, CaminhosCiganos.Org).

Nesse congresso também, a Índia foi uniformizado como país de origem, e


não mais o Egito, como outrora. (LOPES, 2021).

7 O HINO CIGANO

Foi também nessa data que e nesse congresso que ficou oficializado o Hino
cigano, a canção composta pelo músico sérvio Žarko Jovanović (Парко Јовановић,
“Gelem, Gelem”, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. Zarko fugiu de Belgrado,
onde estava ocupado pelos alemães. Ele, jogador de Balalaika indo a uma vigaem
para Londres para Birmingham escreveu essa canção (Romedia Foundation, 2016).
No presente trabalho desenha-se um atento que por descuido, ou falta de
conhecimento, ou os dois, algumas bailarinas não se atém ás traduções das
músicas em especial de outras línguas (que não às suas), o que é muito perigoso ou
enfadonho, por vezes.
Há músicas em Romani que não é de “bom tom” dança- las, por conta de sua
interpretação “dúbia”, ou seja, de uma interpretação, que somente o próprio autor da
composição, ou quem é da cultura poderá saber o que significa propriamente seu
significado.
Em se tratando de “Gelem, Gelem”, a situação fica ainda mais séria e
arriscada. Não dançamos o Hino Brasileiro, portanto não fica interessante também
dançar o Hino Cigano. Apesar de algumas versões dessa canção e sua sonoridade
parecerem alegres, sua referência não se faz com esse intuito, e sim contar um
momento da história cigana desse povo, em especial, do Holocausto Sinti. Tal
referência se faz à resiliência de um povo que resistiu e ainda nos dias atuais resiste
com perseverança a fim de manter- se vivo em todos os aspectos, culturais e
sociais, como um todo.
Tal como aqui se refere ao Hino, que será visto logo mais adiante, a Bandeira
cigana deve-se ter uma referência de respeito, já que por esse momento, e por
delinear a história dos ciganos, precisamos entender os contextos etnográficos-
socio- históricos e compreender que, sim, o povo cigano é uma população que teve
suas peculiaridades subjugadas. Portanto, qualquer pessoa que for fizer uso dessa
cultura seja cigano, ou não cigano, deverá manter a memória desses que passaram
por tais momentos a fim de que estejam correndo seu sangue em vossas veias para
que estejam vivos, no mínimo o respeito.
Como diz muitíssimo bem Capella em seu Blog “CaminhosCiganos.Org”:
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“Ela foi escolhida e adotada no contexto do primeiro Congresso Mundial Romani,


num momento de fortalecimento étnico, num esforço de construção – e afirmação –
de identidade. Nos parece, pois, incoerente, e até desrespeitoso que essa bandeira
seja usada fora de seu propósito original(...) Temos visto, com bastante desagrado,
uma fetichização contemporânea da bandeira romani no Brasil, bem como de outros
símbolos nossos, tomados num processo de verdadeira antropofagia – ou
apropriação – cultural. O objetivo, aparentemente, é dar corpo a um cenário deveras
poético, daquilo que a imaginação não-cigana, bombardeada por estereótipos muito
antigos, pensa ser o universo romani. (...) Gostaríamos, então, de propor esta
reflexão, uma reflexão baseada, principalmente, no respeito necessário à
convivência entre os povos. E nos causa estranheza – e tristeza – quando este
respeito não parece importar, principalmente para aqueles que dizem amar
entidades que supostamente são nossas ancestrais. Como pode haver amor sem
respeito?”.

(Capella, Mikka. Fonte: A Bandeira Cigana – Romani Dromá - Caminhos Ciganos


acessado em 12/07/2022 às 10:37h)

7.1 GELEM, GELEM

Gelem, gelem lungone dromensar


maladilem baxtale Rromençar
A Rromalen kotar tumen aven
E chaxrençar bokhale chavençar
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A Rromalen, A chavalen
Sàsa vi man bari familja
Mudardás la i Kali Lègia
Saren chindás vi Rromen vi Rromen
Maskar lenoe vi tikne chavorren
A Rromalen, A chavalen
Putar Dvla te kale udara
Te saj dikhav kaj si me manusa
Palem ka gav lungone dromençar
Ta ka phirav baxtale Rromençar
A Rromalen, A chavalen
Opre Rroma isi vaxt akana
Ajde mançar sa lumáqe Rroma
O kalo muj ta e kale jakha
Kamàva len sar e kale drakha
A Rromalen, A chavalen

Caminhei, andei por longas estradas


, encontrei roma
da sorte, Roma, de onde você vem?
com tendas e crianças famintas?
Ó Roma, ó Romani youths!
Eu também tinha uma grande família
foi morta pela Legião
Negra homens e mulheres foram desmembrados
entre eles também crianças pequenas.
Ó Roma, ó Romani youths!
Abra, Deus, as portas
negras eu posso ver onde meu povo está.
Eu vou voltar para as estradas
e eu vou andar com Roma sorte
Ó Roma, ó Romani youths!
Para cima, ciganos! Agora é a hora
Vem comigo os Roma do mundo
O rosto escuro e os olhos
escuros eu gosto tanto deles quanto uvas negras
Ó Roma, ó Romani youths!

Fonte: Gelem - Unión del Pueblo Romaní (unionromani.org)


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8 DIA NACIONAL DO CIGANO NO BRASIL: 24 DE MAIO

Foi decretado em 25 de maio de 2006 no Brasil o dia Nacional do Cigano, a


ser comemorado todo dia 24 de maio de cada ano através das Secretarias Especiais
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos da
Presidência da República (CRESS- PR, 2021). Essa data escolhida simbolicamente
em menção à Padroeira dos Ciganos, Santa Sara Kali. Ressalta-se a importância da
data frente às discrepâncias sociais em que os ciganos do Brasil até hoje enfrentam.
Estimam-se mais de 500.000 ciganos no Brasil, em que essa minoria carece de
acesso às instituições jurídicas e políticas brasileiras, carências de leis e políticas
publicas voltadas aos ciganos, o que os deixa mais vulneráveis sociais. A
inacessibilidade dos recursos do governo, o preconceito sofrido, a habitação
improvisada. Com isso o surgimento da data visa o acolhimento e a empatia de
todos os modos de viver em sociedade, o respeito e a dignidade humana. (IDDH).

9 O ANTICIGANISMO

O termo anticiganismo se refere de acordo com o CoE “...uma forma


específica de racismo: racismo contra pessoas de comunidades ciganas. É
muito semelhante tanto em significado quanto em termos de impacto, Romafobia,
que descreve o medo, antipatia ou ódio dos ciganos (...) Anticiganismo [é] um
termo que indica a expressão específica de preconceitos e estereótipos que
motivam o comportamento diário de muitos membros de grupos majoritários para
com os membros da Roma e comunidades viajantes...” (2015:30 apud OPRISAN,
2017).

O conceito de Anticiganismo é bem amplo, e complexo ao mesmo tempo de


“diagnosticar” por vezes certos comportamentos, tanto do dia- a- dia quanto nas
mídias sociais, filmes, enredos literários e diversas formas discriminatórias. Alguns
exemplos na prática é quando alguns estereótipos em termos lúdicos são vistos em
músicas, filmes, telenovelas, e muitos outros veículos de comunicação para a
população, em que grande parte da população não tem conhecimento suficiente
para discernir o que é e o que não é a cultura cigana, seus grupos, subgrupos, e em
especial, o respeito às diferenças.
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Exemplos de estereótipos comuns relacionados aos ciganos: cigano violento


e selvagem; mulher cigana hipersexualizada; crianças sem educação e mal criadas;
pessoas livres, libertidas, rebeldes e que vivem em festa. Extravagantes. Alegres e
descompromissados e que só pensam em festas.

Ao longo desse trabalho será mostrado a história dos ciganos no mundo, e


dentro de cada capítulo as conduções pelo porquê de cada contrasenso atual (se é
que alguns deles tenha lógica!).

Segundo MOONEN, 2011, o termo “Anticiganismo” é relativamente novo no


Brasil, porém, já existe em outras línguas e países há mais tempo, como em inglês
“antigypsyism”, em francês, “antitsiganisme”, em alemão “Antiziganismus”. O mesmo
autor ainda destaca a existência do Centro Europeu para Pesquisa Anticigana
(www.ezaf.org), que em 2005 realizou a “II Conferência Internacional sobre
Anticiganismo”.

O Anticiganismo tem raízes tão profundas que poderia se assemelhar ao


antisemitismo, e compor toda e qualquer preconceito anticigano: comportamentos,
doutrinas, políticas hostis que seja contra os direitos dos ciganos. Na história da
humanidade as populações ciganas vêm enfrentando há séculos as mais diversas
políticas anticiganas como o período dos séculos 14 aos 19, a escravidão que
ocorreu em Valáquia e Moldávia (Atual Romênia). De igual maneira, no que se
refere à escravidão, em outros 7 países, à exemplo dos países ibéricos em que era
permitida a escravidão Romani. Sem contar na história com as diversas passagens
de acusações (o que até os dias atuais ocorre), condenação às galés, castigos
físicos, trabalhos forçados, prisões, deportações para outras cidades e países (como
foi o caso de Portugal para o Brasil no Século 16).

Como se não bastasse o passado funesto, no momento presente ainda na


Europa vemos os diversos casos das expulsões e deportações sejam de indivíduos
ciganos ou de seus grupos inteiros, tal como o exemplo do década de 90, que com o
nome de “repatriação” diversos ciganos que residiam em países da União Européia,
França, Alemanha, em especial na Holanda, foram deportados.

Outra demonstração de anticiganismo que povo Romani já enfrentou em sua


história é o comportamento da própria condição de isolamento, em que lutando por
37

sua sobrevivência, e não encontrando espaço na sociedade geral, procuram


mecanismos de manutenção para se isolar com seus pares, incluindo as áreas que
menos convivem os grupos majoritários. Tal como ocorre a Marginalização, ou seja,
vivendo à margem da sociedade, em lugares que ninguém quer, nas periferias, onde
crêem que ninguém vai implicar com eles. Esses casos ocorrem em todo o mundo,
mas um exemplo é nas “Gitannerias” na Espanha (MOONEN, onde pela política
local são obrigados a morarem em lugares fixos como sítios e acampamentos, na
maioria em periferias.

Há um termo de “integração ou pluralismo” (Jenkins citado por Acton


1974:238 apud MOONEN, 2011) que diz sobre as diferenças culturais de religião,
língua, costumes, aparências físicas, origem poderiam ser toleradas, que se trará de
uma política recente presente em diversos países da Europa a fim de ciganos e não
ciganos conviverem com respeito, porém na prática se mostra crítico, pois algum
desses grupos irá divergir e irá querer se impor.

Parte da história dos Romani na humanidade, ao chegar em países em que a


cultura era muito distinta da sua, passaram pela assimilação compulsória ou
etnocídio, em que pessoas que não são da cultura cigana desejam que esses Roma
incorporem a cultura local, os costumes da localidade e da sociedade majoritária.

O passado negro por volta do Século 18 na Holanda havendo o extermínio


físico ou genocídio (que é um termo utilizado para retratar o aniquilamento de grupos
humanos, parcial ou total, seja ela de uma comunidade, um grupo religioso, étnico
ou racial), e durante a II Guerra Mundial na Alemanha pelo movimento Nazista, no
qual cerca de 250 a 500mil ciganos foram massacrados (MOONEN, 2011). embora
só o holocausto judeu costume ser lembrado pelos meios de comunicação, pelo que
poucas pessoas sabem que também foram massacrados cerca de 250 a 500 mil
ciganos.

O movimento para erradicar o anticiganismo na Europa começou no final da


década de 60, mesmo já existindo movimentos de associaçãoes e grupos de
ciganos na metade do século 20, de nome Movimento Cigano. Esses movimentos
surgiram numa forma de compensação a esse passado naxista, e também através
da crescente movimentação de grupos de organizações não governamentais
ciganas, que se fizeram a fim de denunciar e reinvindicar seus direitos.
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Foto do Dia Internacional dos Romani, um apelo à coragem e clareza para compreender a antiga “questão cigana”.
Fonte: Jovanovic, Ž apud https://www.cafehistoria.com.br/romani-questao-cigana/

O que se sabe sobre as organizações ciganas no Brasil é que esses


movimentos começaram a partir de 1987, e o anúncio das primeiras políticas a favor
do povo cigano (políticas pró-ciganas), em 2005, mesmo que já fossem ensaiadas
desde 2000. (<www.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html> apud MOONEN,
2011).

Esses trabalhos referenciados pelo autor no ano de 2000 se referem aos


“Rom, Sinti e Calon: os assim chamados ciganos”; “As Minorias Ciganas: direitos e
reivindicações”; “Ciganos Calon na Paraíba, Brasil (1993)”; com a segunda versão
de 2008 intitulada “Anticiganismo: os ciganos na Europa e no Brasil”.

A fim de ilustrar uma frase que impactou o autor Frans Moonen, numa cena
em numa passeata de ciganos em Amsterdam, nos anos 90, em que um menino
carregava um cartaz com as seguintes vpalavras: “IGNORÂNCIA gera MEDO gera
PRECONCEITO”, e ele acrescenta que o PRECONCEITO gera DISCRIMINAÇÃO
com o desejo de que seu trabalho contribua para que a ignorância sobre o tema do
Povo Cigano diminua, e assim diminua as ocorrências do anticiganismo.
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Penso que todo autor de trabalho deseja em um escrito, seja ele qual for, um
objetivo, e com esse escrito, passando uma reflexão, pois que trabalha com o
conhecimento não pode ter imposição, mas sim querer a liberdade do pensamento.
Portanto, meu mais profundo desejo é também o desejo desse jovem cigano de
Amsterdam, o de Frans, e enredando que a consciência, a reflexão, a tolerância, o
respeito sejam construídos a fim de que a humanidade possa compreender como
sendo uma só, sem esquecer-se de nenhum.

10 DANÇAS CIGANAS

Fala- se “Danças Ciganas”, pois são muitos tipos de Danças diferentes dos
Povos Romani, já que eles passaram por diversos lugares do mundo. Por onde
passaram se tornaram mantenedores culturais, resgatando a cultura local, e também
agregaram com sua cultura, e lógico incrementando com seu tempero e arte típico e
especial cigano.

Diferente de outras etnias que possuem uma localidade fixa como é o caso
dos Japoneses no Japão, dos Franceses na França, o Povo Rromá não tem uma
estadia específica, pois a morada deles é o mundo: por onde percorrem deixam um
pouquinho de si, e por aonde vão carregam a história da humanidade com eles.
Porém, apesar disso, é uma etnia e tem hino, bandeira, direito e deveres como todo
cidadão, e estão vivos!

Por isso que se faz necessário o estudo em Danças Ciganas não somente na
prática, mas também na teoria, estudar a história de cada etnia que possui sua
especificidade, sua música específica, sua roupa específica, seu jeito de dançar, sua
cultura que não pode ser esquecida!

Desde a diáspora cigana na região do Rajastão na Índia, onde faz fronteira


com o Paquistão, os ciganos foram percorrendo o mundo, nem sempre porque
quiseram, mas porque foram obrigados pelas circunstâncias. É um povo resiliente,
persistente, e batalhador, portanto, o pressuposto de que é livre não se faz
verdadeiro. Durante a história da humanidade já foram torturados, maltratados de
diversas formas, não só fisicamente, mas psicologicamente, e em sua cultura.
40

A Dança Cigana não fala especificamente de um único povo, mas sim de


diversos povos, tribos ciganas, já que são múltiplas por sua dispersão no mundo.
Portanto, Danças Ciganas são diversas, pois a cultura de cada grupo étnico cigano é
diferente em costumes, características, vestimentas, enfim, peculiaridades, sem
contar com os costumes específicos de cada vitsa.

A dança enquanto expressão cultural e emocional mostra em sua música e


letras muitas histórias contadas de um povo. As Danças Ciganas nasce de uma
relação intercultural, já que ao viajar diferentes lugares, e entrar em contato com a
cultura local onde irão residir por um tempo, os romá nesse contato farão uma
imersão cultural, onde resultará num estilo de dança, além de musicalidade
específica, e figurinos próprios, fazendo assim com que sua dança e música estejam
interconectadas dentro de um contexto sociohistórico (histórico, geográfico, e
cultural). A partir disso os Romá podem ser considerados polinizadores e
mantenedores culturais, já que ao mesmo tempo em que absorvem a cultura
regional, promovem e preservam a cultura, que em muitas circunstâncias poderia ter
perdido-se no tempo por inteperies históricas como as guerras. Um exemplo do
acima dito são as danças que carregam os movimentos pélvicos típicos da região da
Turquia, mas que foi inserido através do Império Otomano, como é o caso do Manea
e das Danças Ciganas dos Balcãs (LOPES, 2021 apud LINHARES, S.).

É através dessa contextualização etnográfica que as danças ciganas são


formadas, com características próprias, musicalidade específica, e figurino
condizente a determinada época e trajetória dos ciganos no mundo, como cita
LOPES, 2021: “Por meio da influência e absorção das culturas, os ciganos formatam
estilos de dança e música específicas, com passos específicos, movimentos típicos”.

10.1 DANÇAS CIGANAS: uma Dança característica, uma modalidade de dança

Ficaram conhecidas por um tempo as Danças Ciganas no Brasil entre


diversas bailarinas como a “dança de alma”, aquela em que a expressão deve
prevalecer a técnica, e até mesmo, em muito momento, se abster dela. Pois bem, a
dança como uma modalidade como outra qualquer, sindicalizada, por sinal, portanto,
reconhecida enquanto estilo de dança possui características específicas a serem
41

seguidas, portanto, pode – se dizer que é uma dança característica tal como é o
Flamenco (FERREIRA, 2021).

Podemos notar na fala de ciganos calons, como exemplificada nessa


ilustração da página do Instagram “Orgulho Calon” (produção do ICB) em que a
mulher da etnia fala de dançar com alma. De fato quem não vai a palco pode não
haver o estudo fundamentado, e por vezes a dança que se faz em acampamento
não é a mesma que a artística. Porém ao se tratar daquela dançada em uma
academia por artistas, penso ser importante a profissionalização, o estudo constante
da mesma, já que se torna uma profissão de fato, onde os alunos pagarão pelas
mensalidades, pelo espaço, e por todo o contexto, demandando uma seriedade tal
como outra profissão. Seria estranho um médico que faz uma cirurgia abrir alguém
sem ter feito medicina, então por que na Dança seria diferente?

Quero então aqui dizer que há uma demanda de estudo, uma necessidade,
pois precisa de conhecimento, de uma notoriedade, e especialidade quando se fala
de profissão, professor seja de qual área for. Dançar com alma não basta quando
não se é cigano. Sendo cigano e ao adentrar na academia, as situações também
mudam de figura, pois há toda uma legislação incutida aí.

Portanto, não basta nascer de certa nacionalidade, ou etnia, há que se ter o


conhecimento aprendido. Conversando com diversas pessoas que não tiveram a
cultura desde cedo vimos isso. A dança é algo que se aprende, não
necessariamente algo que surge geneticamente. No meu trabalho de 2021 sobre o
aprendizado na Dança e os Neuronios Espelho dá para ter uma idéia sobre
(AMARAL, 2021).

Pensamentos, idéias a serem refletidas a fim de construir um universo da


dança cada vez mais sólido, profissional, agradável, e justo.

10.2 DANÇAS CIGANAS E O PERCURSO DOS CIGANOS PELO MUNDO

Esse trabalho teórico sobre as Danças Ciganas será apresentado na ordem


da Diáspora Cigana baseada pelos estudos de historiadores, pesquisadores
ciganólogos levantados até hoje. Começaremos da Índia até a Espanha.
42

11 A DIÁSPORA CIGANA

Falar da História dos Ciganos no mundo é peculiar, pois a cultura e língua são
passadas de maneira oral, ou seja, não escrita. Poucos são os documentos de suas
passagens no mundo. Pouco também são seus números comparados ao restante da
população mundial. Segundo o site BAHANCE, 2022 existem 6 milhões de ciganos
perante 7.950.268.456 (Sete bilhões, novecentos e cinquenta milhões, duzentos e
sessenta e oito mil , quatrocentos e cinquenta e seis) pessoas de população mundial
(World o Meters <dados de 08-07-2022 às 18:03h>). No Brasil estima-se Segundo o
IBGE (2011), população cigana do Brasil possui três diferentes etnias (Calon, Rom e
Sinti), totalizando cerca de 500 mil pessoas, espalhadas em 21 estados e mais de
290 cidades. Os estados que mais abrigam comunidades ciganas são Minas Gerais,
Bahia e Goiás (CRESS- PR, 2021). Os documentos que se utiliza para contar a
história dos ciganos no mundo são poemas, deportações, contos, cantigas.
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Fonte: https://www.behance.net/gallery/9347095/Povos-Ciganos-Gipsy-people-infographic

Stephan Valyi utilizando a etnolinguística confirmou a origem indiana cigana


pelas estruturas de linguagem entre o Sânscrito e o Romani, língua então falada por
eles. Não só a área acadêmica e os ciganólogos reconhecem essa origem desde
XVIII (esse impasse foi resolvido nessa época, se era a origem entre Egito ou Índia),
como no Primeiro Congresso Romani organizado pela União Romani Internacional
em 1971, ocorrido na Inglaterra, foi reconhecida como origem ancestral cigana, a
Índia (LOPES, 2021).

No livro “Enterrem-me em pé: a longa viagem dos ciganos”, (FONSECA, 2004


APUD LOPES, 2021) na página 118 a autora conta que os ciganos da Europa usam
a palavra “rom” para chamar entre si mesmos, e que também usa-se para comunicar
“homem” e “marido”; e “lom” é usado pelos ciganos na Armênia. O “Dom” é usado
pelos ciganos em seus dialetos persa e sírio. Unindo essas informações
linguisticamente falando mostra certa familiariadade entre os fonemas associado a
certo grupo específico chamado “Domba”.
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12 CIGANOS NA ÍNDIA

Região Noroeste do que hoje denominamos (chamamos) de Punjab, Índia, é


a localidade que será retratada daqui em diante, e do povo que ali se localiza.
Antigamente essa região ultrapassava a região do Paquistão. A civilização do Vale
do Indu, tal qual era a Mesopotâmia e o Antigo Egito começaram a crescer próximas
a uma nascente, e a do Vale do Indu equivalente ao lado do Rio do Indu.

O povo Domba/ Dom, cuja palavra originária provém do sâncristo “Damaru”


que representa “tambor” supostamente deu origem ao povo “Domari” (*informações
provenientes da aula teórica APDC). Esse grupo está associado ao Deus Shiva cuja
representação mitológica emite/ emana o som do universo “Om”.

Politicamente falando na Índia até os dias atuais o sistema é o sistema de


castas. Os Doms, estão abaixo de outro grupo considerado desprovido de condições
sociais que são os Dalits, numa comparação hierárquica.
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Os Doms são os únicos que tocam o corpo dos mortos, na Índia esse ritual é
extremamente sagrado. Porém, ao mesmo tempo em que esse grupo é respeitado
por esse culto de preparação do corpo dos mortos, mesmo assim é discriminado, e
sofre até os dias atuais preconceito e discriminação, e são vistos como “impuros” e
“sujos” pela mesma qualificação que os torna especiais! Nem os “dalits” chegam
perto dos corpos dos falecidos.

As pesquisas históricas apontam que os Rajputs, Domba, Doms, povos


antigos da Índia são antepassados dos ciganos, continuam lá e também na condição
de sistemas de castas.

Fonte: https://revistacontinente.com.br/edicoes/198/a-terra-do-cla-dos-rajputs Foto de Ana


Caroline de Lima

A visão ocidental do colorido oriental destoa da realidade insólita do deserto e


da realidade dos dias atuais. A palavra “Rajput” significa “Rei” em sânscrito, e no
século VI até XIX a região, na era do seu apogeu, chegou a ser dividida em 36 clãs
reais, dividida em 19 principados, duas chefias principais, e o distrito britânico de
Ajmer- Merwara. Seu declínio iniciou no século 19 com ataques bélicos de diversos
impérios. Mesmo, contudo, Rajput ainda hoje é a maior província, tendo 10% do
território indiano (extensão geográfica). Até hoje o modo político nessa região é
vivenciado por castas, é possível, por exemplo, reconhecer um indivíduo em sua
casta, sua crença, religião e região através das suas vestimentas: seu modo de
amarrar o turbante, já que esses trajes típicos são específicos de cada região
específica. Pode-se dizer que na Índia muda a forma de vestir um turbante a cada
15 Km, por diversos motivos culturais e religiosos (ALBUQUERQUE, 2017).
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12.1 KALBELIA

Quando trata- se sobre Kalbelia encontra-se aí duas definições, uma um povo,


uma etnia, uma tribo; e a outra uma dança.

A Tribo Kalbelia: “caçadores de serpentes”, são lembrados por terem sido


durante muito tempo “encantadores de serpente”, e por usarem o veneno animal
para fins medicinais, tanto uso próprio, quanto para venda. O governo indiano
proibiu em 1972 (Tubbs). A palavra Kalbelia significa serpente.

© 2009 Centro Cultural da Zona Oeste, Udaipur, Rajastão https://ich.unesco.org/en/RL/kalbelia-


folk-songs-and-dances-of-rajasthan-00340

Por não poder utilizar mais as serpentes como comércio tantos em shows,
quanto em seus antigos atributos, a dança feita pelas mulheres acabou sendo
reconhecida na comunidade o seu sustento, e ganhou o mundo. Desde 2010 a
Kalbelia é considerada pela Unesco patrimônio imaterial da humanidade (UNESCO,
2010).

A dança Kalbelia mostra movimentos das serpentes, e também da rotina. As


roupas típicas são pretas para representar as serpentes,
e nos pés os passos são ritmados pelos “Ghungroo”, que
são tornozeleiras feitas com guizos.

Enquanto as mulheres danças, os homens tocam


instrumentos musicais, entre eles: Pungi, Dufli, Beer,

“Ghungroo”, tornozeleiras feitas Khanjain, Morchang, Khuralio, Dholak.


com guizos.
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A religião da tribo é Hindu, e eles são conhecidos como Sapera ou Jogira.

A região que mais se encontra pessoas pertencentes à Kalbelia são nos distritos
de Pali, Ajmer, Chittorgarh e Udairpur.

Figura: © 2009 Centro Cultural da Zona Oeste, Udaipur, Rajastão


https://ich.unesco.org/en/RL/kalbelia-folk-songs-and-dances-of-rajasthan-00340

12.2 BANJARI/ BANJARA


Banjari é uma etnia e também uma dança desse povo. As roupas típicas do
povo banjari são coloridas, cores vibrantes, fluorescentes, como por exemplo
Pink, verde limão. A forma de dançar é a mesma da Kalbelia, tudo o que se faz
com a Kalbelia, a forma de dançar e de vestir se faz com banjari, só que se faz
com banjari colorida.
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Trata-se de outra comunidade também nômade localizada no cinturão do


noroeste do subcontinente indiano (Afeganistão ao estado do Rajastão),
conhecidos também como Gor, Lambadi e Gormati. A origem da palavra Banjara
provém do sânscrito vana chara, que significa vagabundos na selva. Outra
palavra associada à esse povo é “Lambani” ou “Lamani”, que em sancscrito,
lavana é o mesmo que sal, produto que transportaram por todo o país, além da
criação de gados, e outras mercadorias. Banjaras pode ser encontrado em toda
a Índia, principalmente na região do Rajastão. Em 2012 existiam 1,1 milhão de
banjaras em Kanataka. Os povos de Banjara professam ser hindus. Eles
também adoram deuses como Balaji, Jagadamba
Devi, Mahadev, Khandoba e Hanuman (Joshua Project).

Figura 1 e 3: © 2009 Centro Cultural da Zona Oeste, Udaipur, Rajastão


https://ich.unesco.org/en/RL/kalbelia-folk-songs-and-dances-of-rajasthan-00340

13 TURCO, ÁRABE, LIBANÊS E IRANIANO: É a mesma coisa?

Antes de entrar nos próximos capítulos, em especial, os “Ciganos no Egito”,


“Ciganos no Iraque, e “Ciganos na Turquia” entender as especificidades de cada
região, e etnias para que não se confundam os estudos, e assim fique mais clara a
didática. Segundo o professor de línguas do <aprendaarabe.com.br>, a diferença
entre os povos e terminologias facilmente confundidas como “árabe”, “turco” e
“libanês” é que, “Árabe” segundo ele é uma etnia, já que raça somos todos que
habitam o globo terrestre.
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Dentro da etnia Árabe há 22 nacionalidades, entre elas a fim de citar como


exemplos: Líbano, Síria, Egito, Marrocos, Somália, Reino da Arábia Saudita. Quem
nasce no Líbano é libanês; sua nacionalidade é libanesa. Quem nasce na Síria é
sírio. Quem nasce no Marrocos é Marroquino. Quem nasce no Egito é Egípcio.
Quem nasce no Marrocos é Marroquino. Quem nasce no Reino da Arábia Saudita é
Saudita.

E todas essas nacionalidades


além da especificidade do seu país são
árabes, portanto, quem nasce no Líbano, é Libanês e árabe. Quem nasce na Síria, é
sírio e árabe, quem nasce no Egito, é egípcio e árabe, e assim por diante.

Segundo o Correio Braziliense, o total dos 22 países árabes são: Arábia


Saudita, Argélia, Barein, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos,
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Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Omã,


Palestina, Somália, Sudão, Síria e Tunísia.

Existe também uma liga dos países árabes. Segundo o professor do “Aprenda
Árabe.com.br”, é tido como árabe segundo essa liga aquela pessoa que nasceu
árabe, fala árabe, e mantém costumes árabes .

Quando chega ao assunto Turco, árabe e iraniano, aqui especificamente no


Brasil há cerca confusão devido à chegada desses povos em meados do século IX e
XX, pois ao adentrar em terras brasileiras, o passaporte desses novos visitantes/
moradores constavam, “Turco” devido ao Império Otomano. O Império Otomano
durante muito tempo dominou parte da Europa, e praticamente o Oriente Médio
interior, e todos os países que faziam parte dele, eram considerados suas colônias,
portanto, quando alguém que morava ali e tirava um passaporte, vinha no registro
“Turco Otomano”, pois vinha do Império Otomano.

Porém a Turquia possui uma língua própria, costumes próprios, e


nacionalidade própria, e não está entre as 22 nacionalidades árabes, portanto não é
árabe.

Um terceiro fator de grande confusão entre diversas pessoas nesse assunto é


a religião e a nacionalidade. Religião nem sempre tem a ver com a nacionalidade. O
árabe ele possui diversas religiões, ele pode ser judeu, muçulmano, cristão, ou
simplesmente não seguir religião alguma.

O Irã é outro local que costuma- se apresentar equívoco. Sua língua é o Farsi/
Persa, e até o século XX, esse local era conhecido como Pérsia. Também não são
árabes, não tem costumes árabes, e não estão na lista das 22 nacionalidades
árabes.
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14 CIGANOS NO EGITO

Quando se trata de história nada se fecha, porém há diálogos entre hipóteses


baseadas em documentações históricas e ensejos envolvidos. A palavra “Cigano”
tão costumeiramente usada hoje
em dia, saiba que provém de
muita longa data, possivelmente
no início do século 15 quando
migraram para a Europa Ocidental
o grupo que saiu da Índia e veio
parar nessa localidade que
estudaremos agora, no Egito.

E por que falei desse


termo? Porque “cigano”
provém de “egiptano”,
“Egypciano” ou “egípcios”, e daí vem
no inglês, “Gipsie” ou “Gipsy”, onde Moonen (2013) (apud Lopes 2021) cita como
terra de origem o Pequeno Egito.

“Além disso, Prestes (2019) aponta também outras caminhadas dos ciganos, após a
diáspora da Índia, indicando sua entrada no continente europeu e também sua
presença em outras regiões: (...) pequenos grupos teriam partido em diferentes
regiões, cada grupo com uma liderança diferente, no qual aparecem em fontes
europeias se autodenominando “condes e duques”. Essa, ao que tudo indica, não é
a primeira vez que há uma divisão entre os ciganos, já citada anteriormente, uma
divisão entre grupos já ter ocorrido antes desse período, antes de adentrarem o
território europeu, via Bizâncio, essa seria uma explicação para a existência de
grupos ciganos no continente Africano, em países como o Egito e o Marrocos, e
também no Oriente Médio, como no Iraque (pp. 16-17)”. (LOPES, 2021 PAG 24)

Entende-se “Alto Egito” como sendo o Sul do Egito, e “Baixo Egito”, o Norte
do Egito: assim ao contrário!
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Além de ser uma dança, “Ghawazee” refere-se a um povo, onde inclui tanto
homens quanto mulheres. “Ghazia” é o singular para se referir à mulher, e “Ghazal”
o singular para se referir a homem.

A dança que encontra- se no Egito é a Ghawazee no Sul do Egito, ou Alto


Egito. A Dança Ghawazee é uma dança com movimentos circulares e de
movimentos pélvicos em que são realizados por mulheres. Essa dança era realizada
popularmente na rua a fim de entreter a população, em sua maioria, o público
composto de homens. As mulheres usavam para fazer dinheiro, gerar renda familiar.
“Ghawazee”, Ghawa significa ladrão, portanto, Ghawazee, ladra que rouba
corações, se referindo aos homens que ficavam estupefados com as danças e os
malabarismos dessas mulheres que dançavam, significando invasora do coração
(dos homens!).

Encontra- se duas formas de dança- la: a Ghawazee Mazin e a Ghawazee


Sombouti.

14.1 Ghawazee Mazin usa salto e se dança mais durinho, e obrigatoriamente com
snujs nas mãos. As roupas são coloridas com moedinhas/pastilhas, pés no chão ou
com sapatos, joelho flexionados. Alto Egito (Sul do Egito). As referências para essa
dança são Nisa e Aisha Almer Gawazee Mazin (Grupo Banat Mazin) que significa
“As rmãs Mazin”. Grupo criado em 1985 pelas filhas de Mazin.

14.2 Gawazee Soumboti: Ondulação, bordados com fios de ouro, colar meia lua
para baixo, colar em formato de meia lua para baixo representando a religião
53

muçaulmana. Pés no chão. Dança mais enraizada no chão, mais “pesada”, quadril
mais arredondados, Baixo Egito (Norte do Egito)

As danças Ghawazze eram dançadas tipicamente na rua. Danças populares


dançadas por mulheres, em que se movimenta muito a pelve, quadris, roupas
simples, uso de adereços brilhantes e típicos daquela região e época.

https://quizizz.com/admin/quiz/5e877876000a02001b01d05a/folclore-arabe

Khawals = homens que se vestiam de mulheres e dançavam ghawazee. Palavra


significa “escravo”.

Orientalismo= palavra, termo que serve para o oriente ser visto pelo ocidente com a
visão do ocidente, em sua maioria, uma deturpação. Sugestão de leitura:
“Orientalismo - o Oriente Como Invenção do Ocidente”, de Edward W. Said.
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15 CIGANOS NO IRAQUE

Segundo o site Ecclesia. PT (Pastoral dos Ciganos em


Portugal), ao sair da Índia, os Doms foram para Líbano,
Jordânia, Turquia, Síria, Palestina, Arábia Saudita, Kuwait,
Emirados Árabes, Irã e Iraque, que é o local que será falado
daqui em diante, onde permanecem há mais de 100 anos.

“Kawlyia”, “Kawleeya”, “Kawleya”, “Qawliya” são formas encontradas para se


referir à tribo cigana da região do Iraque. Portanto, o povo Kawliya é muitas vezes
confundido com o povo “Corbath” ou “Gorbath”, nômades iraquianos, que não são
ciganos. Também existe um povo que se chama “Curbet”, que são ciganos
muçulmanos da Iugoslávia.

A dança dançada pelos ciganos no Iraque se chama Raqs el Kawliya. A


forma de dança possui herança rural suméria com influência indiana. Uma das
maiores referência de dançarinas são Sashina Ubat e Assala Ibrahim.

Alguns movimentos de cabelo, como por exemplo, girar o cabelo possui uma
influência suméria. Quando fala- se aqui no trabalho sobre Suméria, significa terra
entre rios. Esses movimentos de cabelos esvoaçantes fazem uma alusão a Deusa
Erehkigal, irmã de Inana (Babilônia), a deusa do alho Poró (“cabelinho para cima”), e
Ishta, a deusa de cabelos esvoaçantes e quadris largos. Inana faz referência à
Suméria.

http://marcia-nut.blogspot.com/2016/09/danca-iraquiana-kawliya.html
55

Outros dois movimentos muito importantes na dança, Raqs El Kawliya, são a


pisadinha do escorpião e o Básico de Inana. A
Pisadinha do escorpião porque culturalmente tem
a ver com a região árida do deserto, em que as
dançarinas ao dançarem tinham que
constantemente se esquivarem dos escorpiões, https://www.youtube.com/watch?v=geGzFTJ
wGYA
tendo que incorporar na dança ao longo do tempo esse movimento, ficando
conhecido mesmo com o passar do tempo com esse nome: “a pisadinha do
escorpião”. E o outro “Básico de Inana” que é um leve balancinho para frente e para
traz remontando à deusa Inana, tão importante para a história e criação dessa
dança.

É comum ver a dança sendo feita com dois punhais. O “Raqs El Racha” é um
estilo de dança em que mostra uma mulher guerreira, e traz uma “lenda”,
possivelmente influenciada na Mesopotâmia, inspirada na
mulher em defesa, daquela, da Mulher forte, de sua
resistência. Além disso, contam algumas outras lendas que
há uma brincadeira de dança com punhais, em que as
mulheres brincavam com a arma dos homens, e com eles
também. Essa lenda tem origem de base judaica, não cristã.

Sobre a musicalidade, quando chegaram na região,


cantavam lamentos por conta dos companheiros que
http://marcia-
nut.blogspot.com/2016/09/danca- morreram vindo da Índia ao Iraque, e não sobreviveram
iraquiana-kawliya.html
às fronteiras.

Historicamente, depois da primeira guerra se libertaram da influência


Otomana. No Iraque, o domínio Britânico perdurou até 1932, e a religião de muitos
Ciganos nessa região é a de que são muçulmanos. Carga histórica escritos do Torá
(deuses babilônicos) Regiões da Mesopotamia- Babilonia.
56

16 CIGANOS NA TURQUIA

No primeiro parágrafo do Capítulo 1 do livro “Anticiganismo: OS CIGANOS


NA EUROPA E NO BRASIL” de Frans Moonen 3ª edição digital revista e atualizada
RECIFE – 2011, o autor já cita os “Adsincani” no ano de 1050 quando um dos
escritos mais arcaicos, feito por um monge grego sobre a descrição do imperador da
então, Constantinopla, nos dias atuais, Istambul, Turquia. Segundo o imperador,
mandou chamar os “Adsincani”, que eram “feiticeiros e adivinhos” para ajudar a
matar alguns animais ferozes.

Posteriormente, no século adiante, outro monge cita mais outros “domadores


de animais”, ursos e cobras, que eram inclusive os mesmos que liam a sorte, nesse
momento, foram chamados de “Athinganoi”.

Além de citar que no século 13, o termo “Adingánous” foi usado para pessoas
que eram domadores de ursos, encantadores de cobras e adivinhos, e o patriarca
então de Constantinopla advertiam para que o clero não se comunicasse com eles,
mostrando que a passagem dos ciganos na Turquia remonta meados do século 11,
quando podiam estar fazendo estadia por ali, indo para países balcânicos, e parte
também para Grécia.

Nesse momento da história do mundo, estava ocorrendo nesse lugar,


Turquia, o Império Otomano. Esse momento histórico vai marcar sua cultura, sua
língua, dança, como toda passagem em que o povo Rhomá faz em suas incursões
históricas como polinizadores culturais.

Além desses dados, o Pesquisador em estudos Romani, e também de origem


cigana, Dr Adrian Marsh em um escrito de 2020, nos conta que povos viajantes
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turcos como os Romanlar, Domlar, Lomlar, Gezginler, Abdallar entre outros, e que
estiveram antes na Anatólia e em Trácia (Anadolu ve Trackya), desde o período
Bizantino. Assim como seus ancestrais da índia, cujas atividades laborais eram de
ferreiros, cavalariços e ferradores, carpinteiros, artistas, músicos, dançarinos,
advinhos, praticantes de adivinhação, podendo ser também auxiliares militares e
ghulâm (servidores- soldados), migraram por resultado do Império Turco- Afegão
Ghaznavid Ocidental, quando chegam a Bizâncio são notados nas profissões de
contadores de histórias, líderes de uros, acrobatas, adivinhos, sapateiros, soldados
e moradores de tendas, porém não mostra registro de serem dançarinos ou músicos
(durante o Império Bizantino). O registro mais conhecido é uma crônica do Reinado
de Basileus Constantino IX Monomachus (1042dc a 1055dc).

Se no Império Bizantino os dançarinos e músicos ciganos não eram vistos, no


Império Otomano ganharam notoriedade, um alto reconhecimento. Conseguiram se
adaptar “ao sistema clássico otomano de organização social e étinica para se tornar
uma comunidade pagadora de impostos (o ‘Çingene’ sancak)” (MARSH, 2020). A
partir dessa presença social, começaram a serem vistos regularmente na festa típica
Hdrilez, que na língua romani chama-se Erdelezi.

Porém, no início do século XIX, com a influência européia sobre questões de


raças, etnia, heranças e “boas maneiras”, de certa forma essa influência penetrou na
Turquia durante esse período, atingindo os ciganos no final do século XIX, quando a
dança, a musicalidade, e o canto dos romanis turcos foram vistos como “suspeitos”
pela política da época, e por seu líder, Sultão Abdulhamid II (1876-1909), o qual
proibiu um grupo de Dança e música Cigana viajar e se apresentar na “Exposição
Mundial Colombiana” de 1893 alegando ser inaquada à imagem do Império e do
califado. Hoje o cenário se modifica, em especial representado pelo casal Tuzsuz,
Reyhan e Hasan, que leva a cultura romani turca para o mundo. Ambos originários
de Sulukule.

16.1 O IMPÉRIO OTOMANO

O nome desse Império traz esse nome não à toa, pois vem com a influência
de seu fundador, Osmã, que em Turco é pronunciado “Ottman” (IMPÉRIO AD,
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2019). Até hoje é considerado um dos mais fortes impérios que ocorreu em todo
planeta, na história dos povos, sendo percorrido no período de 1299 a 1923. Antes
de se chamar Turquia, era denominado de Costa Ocidental da Antólia.

Em 1299, momento de origem do Império Otomano, estados- islâmico estava


em discordância entre si, o que foi aproveitado por Osmã. O fundador do Império
Otomano visava Constantinopla que na época era a maior potência daquela época.
Porém antes disso, conquistaram o Mediterrâneo Oriental, a cidade de Bursa, o
Oriente sob o Império Bizantino, Hungria, Sacro Império, França, Valáquia, Polônia,
Inglaterra, Escócia, Confederação Helvética, República de Veneza, República de
Gênova e a Ordem dos Hospitalários.

Em Setembro de 1396 nas Planícies da Bulgária, 47.000 cavaleiros lutaram


contra 70.000 otomanos na Batalha de Nicópolis. O Resultado desse momento foi
que os cristãos perdem e os turcos venceram e conquistaram o norte da Grécia e
Macedônia.

Depois disso os turcos invadiram Constantinopla, liderados pelo Sultão


Maomé II. Nesse momento, Constantino XI (líder de Constantinopla) se prepara para
o enfrentamento, pois ele com 7000 cavaleiros para lutar contra 200mil otomanos
seria impossível. Então procura seu então rival, o Papa Nicolau V. Apesar de
Constantino ser Ortodoxo e Nicolau ser católico fazem uma aliança de que o Papa
liderasse junto à igreja ortodoxa. O povo não concordou muito, pois havia uma
rivalidade entre católicos e ortodoxos, e a população estava dividida entre si, uma
rivalidade entre os bizantinos. Em 29 de maio de 1453 depois de quase dois
meses de cerco, os turcos com mais de cem mil homens mais mercenários atacam
as muralhas com força total, porém os cristãos conseguem repelir o ataque. Foi
quando os turcos conseguem abrir um buraco na muralha com um canhão, e então
começam a invadir a cidade. Mesmo com tudo, a decisão bizantina, os turcos
conseguem encontrar outra passagem que dá acesso à cidade o que os cristãos não
conseguem combater. Constantino cai, e Constantinopla se torna a capital do
império otomano, conseguinte, decadência do Império Bizantino.

No Século XV com uma frota armada, o Império Otomano, domina o


mediterrâneo, o mar Egeu, fecha a rota comercial com a Europa, derrota os
mamerucos, conquista o Egito, domina o comércio do mar vermelho, e o Oceano
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Índico. Na mesma época, os portugueses entram em confronto direto com os


otomanos pela dominação do Oceano Índico, quando após 50 anos de confrontos,
os portugueses derrotam o temido almirante otomano, Piri Reis* e expulsa
definitivamente do Oceano Índico que passa a ser território europeu por 500 anos.
Apesar de terem perdido o Índico, continuam guerreando a Europa e Oriente- Médio.

Em 1560 sob a liderança do Sultão Solimão, conquistaram os territórios da


Hungria, Grécia, Pérsia. A população cresce em 16 milhões de pessoas dominando
todo o mediterrâneo, quando foi o “Pico do Império Otomano”.

Em 1571 acontece a “Batalha de Lepando”, que foi uma coalizão, cujo


objetivo se dá através de uma aliança entre nações, um acordo político que tenha o
mesmo fim. Essa coalizão, a Batalha de Lepando, os países envolvidos foram entre
a República de Veneza, Espanha, Estados papais, Gênova, Cavaleiros de Malta e
Portugal. Preparou- se 212 navios cristãos contra 251 otomanos, uma das maiores
batalhas navais da história. Trinta mil otomanos morreram, a armada foi destruída, e
perderam o mediterrâneo para os cristãos.
A Batalha de Viena ocorre em 1683 em que a Áustria vence, dando início à
dinastia de Habsburgo na Europa Central, e acaba com a expansão otomana na
Europa.

A Independência da Grécia dos otomanos acontece em 1829 depois de oito


anos de conflitos sangrentos que causaram um estrago enorme no exército e na
população turca que vivia na Grécia.

Nesse momento histórico, o Império Otomano já não se encontrava tão forte.


Começou a ser manipulado pelas maiores potências da Europa, e uma dessas
manipulações foi a Aliança com o Reino Unido e França para conter a Rússia na
Guerra da Criméria (1853-1856).

No Final do Século XIX, o território do Império Otomano contava com seu


território original da Ásia menor e a parte ocidental.

Em 10 de agosto de 1920, teve um grande golpe que foi a Tríplice Aliança na


primeira guerra mundial. Os turcos assinaram o Tratado de Sevre com os aliados.

A derrota otomana mais humilhante foi chamada Cerco do Acre, quando


Napoleão Bonaparte na Batalha de Tabor propositalmente cercou a cidade de Acre
(hoje Akko, (Cerco do Acre (1799) (stringfixer.com)), em 1799 com apenas 4.000
60

homens. Sabendo que o império Otomano tinha mais de 30.000 homens, 6mil
otomanos morreram, enquanto o exército francês perdeu dois militares (Imperio AD).

*Piri Reis foi considerado na história do Império Otomano o almirante mais


temido e ovacionado. Criou o primeiro Mapa Mundi, unindo mapas portugueses. Foi
citado no Jogo “Assassin’s Creed”. Decapitado pelo Sultão do Egito ao voltar lá,
depois de ter fugido da luta contra os portugueses na campanha de Ormuz.

A “Tropa de Elite” dos Otomanos era chamada de “Janízaros”, que era


composta de cristãos capturadas desde infantes e preparadas para guardar o rei,
para serem a guarda pessoal do rei.

16.2 OS CIGANOS TURCOS

A fim de localizarmos dos ciganos turcos nos grupos e subgrupos da etnia


Rhomá utilizarei MOONEN, 2011. Segundo esses autores os ciganos Turcos são da
etnia Rhomá, grupo Rom, e subgrupo Horahané* e suas profissões principais são as
de vendedores ambulantes. A seguir com a palavra o próprio autor:

“Segundo Vilas Boas da Mota, os Rom brasileiros pertencem aos seguintes sub-
grupos: ‘Kalderash, que se consideram nobres e, por conseguinte, os verdadeiros
guardiães da identidade cultural cigana; os Macwaia, muito propensos à
sedentarização ... e, por isto mesmo, inclinados à perda da identidade étnica... ; os
Rudari, provenientes sobretudo da Romênia, localizam-se em São Paulo e no Rio de
Janeiro e com bom nível econômicofinanceiro; os Horahané, oriundos da Turquia e
da Grécia, são renomados vendedores ambulantes; os Lovara, em franco recesso
cultural, fazem-se passar por emigrantes italianos” (Mota 1984: 32; 1986: 32).
Nenhum autor brasileiro faz referência a sub- grupos Calon com denominações
específicas.”

(MOONEN, 2011 Pág 126 apud Vilas Boas da Mota)

Após a diáspora cigana na Índia, passam pelo Egito, e chegam na Turquia no


século 12, passam pelo período do Império Otomano de 1299 a 1923.
61

* A autora Ana Oprisen traz um dado interessante que esse termo “Horahane
Romá”, que na língua romani é o mesmo que “Ciganos Turcos” ou “Roma Turcos”.
dentro dos diversos grupos dos ciganos turcos, se refere aos Ciganos Turcos da fé
Muçulmana, como veremos mais adiante (Grigor & Oprisan 2001: 32 apud Oprisan,
2007:67).

16.3 LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO

Segundo (REISDEC, 2016 apud PAMPURINI) vivem em “mahalles” (“bairros”)


específicos tais como Kasimpasha, Curukluk, Küçükbakkalköy, Kulukule, está
selamsiz. Nestes bairros se encontram os ciganos turcos sedentários, e os
nômades percorrem caminhos já conhecidos em especial nas estações de
primavera e outono por questões profissionais.

Na Turquia eles são chamados de “çingene”, “kipti”, (na anatólia oriental),


“mirti” (em hakkari, mardin, siirt e parte sul de van), “kocer” e “arabaci” (para os que
usam como veículo o cavalo e carruagens). Há ainda determinado grupo dos Romás
turcos que são cristãos, os quais são os “balamorons”, identificada em turco como
"Yunan cingeneleri" que significa "Ciganos gregos”.

Esse termo “Çingene” e “Kipti” também são relatados em pesquisa por Acton
e Marsh em 'The Development of Roma/Gypsy/Traveller Identity', 2007. Segundo
eles, historicamente, o termo 'Cigano' é usualmente referido à tradução da palavra
turca 'Çingene', mesmo quando não haja a intenção ofensiva; e o termo 'Kıpti' foi
referenciado aos ciganos nas fontes otomanas e republicanas, e impressas em
carteiras de identidade turcas para indivíduos ciganos no passado como 'K' (como
era 'Ç' anteriormente) até a década de 1980. Numa grande reunião de ciganos, que
contou com 16.000 participantes, além do então primeiro-ministro Tayyip Erdoğan,
em Zeytinburnu, em maio de 2010, ficou oficializada a auto-atribuição 'Romanlar'.
(Marsh, 2010).

Alguns outros termos usados para denomiar ciganos na Turquia são


encontrados como: como 'Romanlar', 'Domlar' e 'Lomlar', não como 'Roma'. Romani
é uma tradução aceitável de 'Romanlar'.
62

Nesses termos também são encontrados nos registros fiscais dos arquivos
otomanos mostram identificações diferenciadas ao tratar dos ciganos com o termo
“Kipti”, cujas maiorias nômades durante século 15 e 16. Kipti, para os ciganos
nômades e cristãos da época do século 15, e quando no século 16 tornaram- se
predominantemente muçulmanos, sendo que no século 19, passando a ser
sedentários (OPRISAN, 2017 apud MARUSHIAKOV & POPOV 2001:57). Em 1923
com a República Turca, famílias ciganas muçulmanas chegam à Turquia.

Tabela dos SubGrupos Rom de Ciganos que se encontram na Turquia


segundo REISDEC, 2016 apud PAMPURINI:

Nome do SubGrupo Região Nota

Çingene Anatólia oriental

Kipti Anatólia oriental

Mirti Hakkari, Mardin, Siirt e


parte sul de Van

Kocer e Arabaci Para os que usam como


veículo o cavalo e
carruagens.

Balamorons Romás turcos que são


cristãos, os quais são
os, identificada em turco
como "Yunan
cingeneleri" que significa
"Ciganos gregos”.

*1: Esses subgrupos possuem documentos oficiais (REISDEC, 2016)


63

Turquia mapa - Mapas Turquia (Ásia Ocidental e a Ásia) (maps-turkey.com) modificado com o
nome dos subgrupos segundo REISDEC, 2016 apud PAMPURINI

Essa tabela foi criada a partir dos dados levantados a partir do texto de
Reisdec, 2016, e há outra tabela, encontrada no site Radar Missionário:

Fonte: http://www.radarmissionario.org/povos-nao-alcancados-cigano-balca-na-turquia/

Ainda nesse mesmo site que apresenta esse mapa, cita essa tabela com
esses dados:

Grupo Cigano
Étnico: balcã
País: Turquia
64

Janela
Sim
10/40:
População
70,000
Nacional:
População
1,249,000
Mundial:
Romani,
Idioma:
Balkan
Religião
Islã
Principal:
Bíblia: Completa
Áudio NT
Não
– Internet:
Flime
Sim
Jesus:
Áudio
Sim
gravação:
Poucos,
Cristãos: menos de
2%
Não-
Situação:
Alcançados
Escala de
Progresso:
Dados: Formas de se envolver com grupos de pessoas não
alcançadas | Projeto Josué (joshuaproject.net) dentro do site:
Povos Não Alcançados: Cigano balcã na Turquia —
RadarMissionário (radarmissionario.org) acessado em 19/08/2022
às 15:16h

Há um termo discriminatório que é o "Esmer Vatandas" ("Brunet cidadão*").


*Nota: aqui devido a tradução não consegue- se entender literalmente o que pode
significar esse termo “Brunet cidadão” como o autor quis passar.

O dialeto Romani é falado pelos ciganos Romá Turcos, que diferencia a forma
de uma região para a outra, de comunidade para comunidade. Há uma mistura entre
o Romani e palavras de outros dialetos turcos falados na Anatólia, de curdo ou
grego. Não incomum também observar a mistura de palavras turcas e persas.
Segundo o mesmo autor, num censo realizado no ano de 1935 mostrou que 3,847
homens e 4,008 Mulheres (um total de 7,855 pessoas) tinha o Romani como língua
materna. Nessa mesma pesquisa outro dado levantado foi de que os ciganos tinham
65

menos pessoas que sabia ler e escrever. Levantou-se a estatística de que 141
homens e 25 mulheres da etnia Romani apenas sabiam ler e escrever.

Num comparativo com um novo censo realizado em 1945, então realizado


mostrou 4,463 pessoas que têm como língua materna o Romani, 193 pessoas, como
segunda língua, então um total de 4,656 Romani Oradores. Alpem disso, as
localidades que mais se concentram ciganos turcos são: edirne, çanakkale e
Istambul. Dentro dessa mostra, considerou grande parte sem religião, totalizando
23.7%, e que são os que têm como Kiptice como língua materna, e que são
consideradas e conhecidas como “çingene”. (TR. Dinsiz apud REISDEC, 2016).

Dia 08 de abril é memorado o Dia Internacional do Povo Roma em todo o mundo,


e nesse dia, uma Organização não governamental que existe desde 2012, chamado
RODA (Rede de Diálogo Roma) sediada em Istambul, onde se reunem Grupos de
Roma, Dom, Lom, Abdal e ativistas em entrevista para Daily Sabah (08-04-2022) contam
que são na Turquia uma população estimada de 2,75 milhões de ciganos, a mais alta da
Europa. Em um comunicado, contam dos problemas que ainda hoje sua comunidade
enfrentam, e pressionanm as autoridades por soluções. Que apesar do interesse da
população pela história e cultura Romani, ainda passam por dificuldades sociais, como
acesso a serviços públicos de saúde, educação, moradia e seguridade social.

Fonte: HTTP://www.dailysabah.com/turkey/minorities/turkish-romani-community-expects-
concrete-steps-on-its-problems 08-04-2022

No ano de 2016 o governo da Turquia anunciou um plano para melhoria das


condições na vida dos ciganos. O atual presidente (Recep Tayyip Erdoğan) mostra- se
amistoso da causa Romá mostrando saudosismo do tempo de sua infância em que
viveu em Kasımpaşa, bairro de Istambul, e local onde grande parte de ciganos viviam, e
66

foi o primeiro político a pedir desculpas à comunidade em 2010 pelas privações dos
direitos dos Romani na Turquia no passado.

Apesar das melhoras nas políticas públicas com incentivo na profissionalização e


incentivar o povo Romá em cursos gratuitos, e parcerias com empresas privadas, a
Educação e emprego continuam sendo áreas de desafio para essa população, já que a
maioria desses cidadãos está em empregos de baixa remuneração, e cargos inferiores.

16.4 GRUPO E IDENTIDADE

Enquanto grupo e identidade, depois da ocupação, os Romá na Turquia foram


se agrupando em ramos. A “Classificação de subgrupos” (se é que pode- se assim
dizer) não foi sendo feita só pela atividade laboral, mas também pela orientação
religiosa, e pela região em que vivem.

Boa parte dos ciganos turcos não se sente confortáveis em serem chamados
de “Çingene”, pois essa palavra, esse termo pode estar associado à significados
pejorativos como por exemplo “Çingene Dugunu” que significa “casamento cigano”,
indicando nas palavras de REISDEC, 2016 apud PAMPURINI: “algo que não é feito
como é suposto ser feito”.

Outra expressão de que não gostam é: "Çingene Kavgasi", que significa


"Cigana lutar" ou luta violenta". “Çingene Borcu" carrega o mesmo que "cigana
dívida”, termo utilizado para quando uma dívida triplicou por outras dívidas. "Çingene
calar, Kurt Oynar", denotando: "The Gypsy canta, o lobo dança", que pode
representar uma expressão do tipo “pessoas erradas no lugar errado” ou “uma
pessoa despreparada fazendo algo que não pode fazer.

Outro exemplo de pejorativo envolvendo os Romá e seu grupo na Turquia é a


palavra “posha (ou bosha)”, quando usada para se referir onde é usada para os
armênios em Istambul, em especial, para aqueles que vivem em áreas “boyabat
tashkopru ou re-chamado ‘Posha’”, mesmo quando não tem relação, ou origem
cigana. Desse termo Posha e Bosha são referenciados os Loms, que são grupos de
mesma origem cigana, mas que são divididos na Turquia em localidades, crenças e
outros critérios (Andrews 1992:194; ZDA 2012 apud Oprisan, 2007) como será
mostrados mais adiante.
67

Antes de começar a citar os variados grupos que existem na Turquia que são
de mesmas possíveis origens ciganas é preciso entender uma questão de políticas
públicas que ocorre no país. Desde 2002 algumas ONGs em defesa dos Romani
juntamente com ativistas começaram a se manifestar em defesa deles a partir dos
processos de Gentrificação dos bairros habitados por eles. Em 2010, houve uma
maior abertura política no que se refere aos direitos dos ciganos, o que despertou
uma identificação étnica de certos grupos, e por isso a importância de agrupar, e
denominar certos critérios e suas localidades.

As diferenças entre grupos que não se sentiam pertencentes aos outros por
diferenças lingüísticas (cuja língua é a turca e alguns dialetos Romani) e religiosas
tal como os ciganos muçulmanos (a maioria muçulmanos) sunitas de Hanefi,
adeptos de seitas islâmicas (como os Nakshibendi encontrados em Istambul), Ismaili
presentes em Istambul, os Melani em Manisa, Menzir (região de Adiyaman), sendo
poucos os ciganos que se converteram ao Cristianismo e suas ramificações.

As regiões em que residem são as de Trácia e Mármara. Os “Roma


Europeus” são localizados especialmente em Mármara, nas regiões de Trácia na
Turquia. Esses não falam mais a língua de origem (língua mãe), e sim o turco, e sua
cultura diz respeito também à cultura turca.

Ciganos que vivem em países que pertencem à União Européia (EU)


possuem os mesmos direitos dos cidadãos nativos desses países, incluindo os das
fronteiras de Estados- Membros.

Os Doms são Muçulmanos sunitas do rito Shafi (mardin, Bitlis, Bingöl) ou rito
Hanefi (Diyarbakir, Hatay), cuja língua é o Domari e Curdo, e se localizam no
sudeste da Turquia. Os Doms, no Sudeste da Turquia, estão localizados numa
região em conflito com o exército turco e a guerrilha curda. Ali trata- se de uma
região menos desenvolvida devido a esses conflitos. Seu modo de viver é
sedentário, e sua cultura é a dos curdos.

Os Loms em sua maioria são Mulçumanos sunitas de rito Hanefi, sendo


também alevitas e falem em turco. Boas partes dos Lomca Lomavren vivem
especialmente no Norte da Turquia. Os Loms vivem no Norte da Turquia, e na
região do Mar Negro. Conhecidos com o nome de “Posha” ou “Bosha” Não vivem
68

agrupados, e sim dispersos do restante dos habitantes de sua região. Costumam


não se identificar enquanto etnia, se misturando aos demais nesse quesito. Em
comparação ao nível educacional aos demais grupos Romani, se destacam.
(Andrews 1992:194; ZDA 2012 apud Oprisan, 2007).

O grupo Abdal, grupo com estilo de vida semelhante e hetero- identificados


também como “ciganos” são alevitas, os quais falam curdo, teberce, turco, e até
mesmo persa e romani, o que não foi devidamente pesquisado profundamente. Sua
origem é relatada por alguns de seus líderes, historiadores e etnógrafos sua origem
provém de uma tribo turcomena proveniente de uma província de Khorasan no Irã
(Andrews 1992 apud oprisan 2007). Esse grupo, os Abdal, já foi chamado pela
denominação de “Teber”, “Tahtaci”, também identificados como os “Çingene”
(ciganos) por possuírem estilos de vida semelhantes, tradições e atividades laborais.
“Ganham a vida” como fabricantes de peneira (elekçi); fabricantes de cestas
(sepetçi); lateiros (kalayci); ferreiros (demirci); vagão (arabaci); vendedor de flores
(Çicekçi), entre outras atividades.

Há outro grupo na Turquia chamado “Alevi”, cuja comunidade em sua maioria


Muçulmana minoritária, e não reconhecida pelo Estado, a qual vem sofrendo
preconceito e discriminação dentro de uma sociedade dominada por muçulmanos
sunitas. Os Alevi falam árabe, estão localizados no Sul da Turquia, sendo a
extensão do Alawi da Síria (Nusayri), e não tem laços com os outros alevitas, os
quais falam turco e curdo.

Os estudos acadêmicos impactam diretamente nas políticas públicas como


vemos o caso do anúncio dos direitos dos Romani na Turquia. Após o anúncio da
política governamental sobre ciganos de 2010, as entidades que os representavam,
como as ONGs e os ativistas que começaram a se agrupar em especial depois de
2002, quando as discussões e debates acadêmicos sobre as questões romani
surgiram na Turquia, as particularidades religiosas e lingüísticas dos grupos foram
levantadas, levando em consideração suas regiões do país, e os grupos ainda não
citados. Nesse momento, inclusive os ativistas estrangeiros começaram a enredar as
possíveis origens de alguns povos relacionados com as mesmas origens ciganas,
como é o caso dos muçulmanos sunitas de Hanefi, adeptos das diferentes seitas
69

islâmicas como Nakshibendi (Istambul), Ismaili (Istambul), Melani (Manisa), Şıh


Menzir (Adiyaman) em que alguns chegam a falar turco e romani.

Dentro do quesito religioso, o que se percebe é que são poucos os que se


convertem ao cristianismo, e quando acontece, tais em sua maioria são clandestinas
e são testemunhas de Jeová. Os Doms são Muçulmanos sunitas do Rito Shafi
(mardin, Bitlis, Bingöl) ou rito Hanefi (Diyarbakır, Hatay), cujo dialeto se predomina
no Domari e curdo, localizando-se no Sudeste da Turquia. Os Loms são
especialmente Muçulmanos sunitas de Rito Hanefi, com exceção de alguns que são
alevitas, onde sua língua é a turca, e uma pequena quantidade que fala Lomca/
Lomavren; estão na localidade ao Norte da Turquia. Os Abdal são considerados
hetero-identificados e com estilo de vida muito semelhante aos dos ciganos, são
alevitas, cuja língua é o Kur.

Até então grupos como os Dom, os Lom e os ciganos não haviam tido ligação
cívica em conjunto.

16.5 COMO SE DIVIDEM EM GRUPOS OS CIGANOS NA TURQUIA

Há um grupo diálogo da Administração Pública dos Romani na Turquia que é


coordenado pela ZeroA (Associação de Discriminação, que contém membros das
ONGs Roma, Dom, Lom, e Abdal), o qual defende as seguintes designações:

ROMANLAR: identificam-se também como os Roma Europeus

DOM: Romá do Oriente Médio (“Middle Eeastern Roma”)

LOM/ LOMLAR: Caucasian Roma

Em 2010, Ongs Ciganas juntamente com o governo turco começou a usar um


novo termo: “Roma e Roma” (“Roma and Roma”) a fim de abranger os grupos
Roma, Dom, Lom e Abdal.
70

16.6 A DIVERGÊNCIA DOS TERMOS ROMAN vê ROMANLAR

(gibi y aşayan agrupar) Roma= estilo de vida semelhante

Na intenção de reduzir as situações de vulnerabilidades sociais, surge então


um documento público com o termo “Romanlar”. Porém houve divergências entre
líderes ciganos usando diferentes argumentos, entre os quais preocupações com os
fundos dos quais seriam beneficiados até mesmo aqueles que segundo esses
líderes, não seriam ciganos, ou os benefícios europeus destinados aos ciganos para
a inclusão social não seria suficiente para os “verdadeiros ciganos”, já que teriam
que dividir com os “outros grupos”.

Esses “outros grupos” se referem a pessoas com semelhantes estilos de vida,


e que enfrentam os mesmos problemas, e são considerados hetero- identificados
como “ciganos” ou “çingene” (na língua turca), os quais são beneficiários das
mesmas políticas na Turquia.

Ao nível das instituições intergovernamentais usam os termos “Roma e


viajantes”, por exemplo, para abranger a diversidade dos grupos abrangidos pelo
seu trabalho nesse domínio:

a- Roma, Sinti, Manoushi, Calé, Kaale, Romanichaels, Boyash, Rudari;


b- Egipcio dos Balcãs (Egípcios e Ashkali);
c- Grupos orientais (Dom, Lom e Abdal); e por outro lado grupos como a
sociedade civil cigana.

Todas essas denominações e etnônimos são costumeiramente usadas


dentro da Turquia, e de países vizinhos, sejam eles para denominar certo grupo,
pessoa, alguns termos também usados para discriminar, e outros termos usados
somente dentro do próprio grupo daquele indivíduo. (Svanberg 1989 apud oprisan
2007) sem contar os termos do passado dos arquivos otomanos da administração
local que os diferenciava enquanto ciganos nos usos dos termos/nomes específicos
para cobrar seus impostos diferenciados e critérios distintos para os romá
muçulmanos e os romá cristãos: os “Kıbts, Chingene, Chingane, Chigan” (p.71).
Nessa passagem histórica, os cristãos pagavam sempre os impostos mais altos.
Esses documentos datam registro do Império Otomano de 1430, em que mostra o
registro de 431 famílias ciganas, cerca de 3,5% da população total da época
71

(Kağıthane, 2002, notas de campo de Istambul; Marushiakova & Popov 2001:27


apud Oprisan, 2007: 72).

Os ciganos também participaram nas invasões do exército otomano na região


dos Balcãs. Os arquivos mencionam posicionamentos para “Çingene Sancağı ] ou
Liva-iKibtiyan , com sua Lei sobre o líder do Cigano Sanjak (1541)”(p.73). Segundo
Marushiakova & Popov 2001 apud oprisan, 2007, Sanjak refere- se não a um
território, mas sim a certo grupo auxiliar do exército (composto por ciganos).

Já autores como Paspati, Boue, Cantemir apud oprisan, 2007: 74, discordam
ao dizer que faziam parte do exército, e que tais registros os citavam como “dinsiz”
(pessoas sem religião), mostrando que o Censo de 1945 ocorreu uma
sedentarização dos nômades (“gezende”, termo que será retratado mais adiante) por
força das autoridades otomanas, e que os ciganos cristãos eram nômades. Mostram
esses registros de que na época dentro desses núcleos ciganos, a mistura entre
grupos dos romá muçulmanos e não muçulmanos era proibido por lei decretada na
província de Rumélia (Kanunname-iKibtiyan-ivilayet-iRumili) em 1530 pelo Sultão
Suleiman I, o Magnífico, como mostra p. 74:

“(1) Os ciganos muçulmanos de Istambul, Edirne e outros lugares da


Rumelia pagam 22 akche para cada casa e cada solteiro. O infiel (cristão)
cigano pagam 25 akche, e quanto as viúvas, elas pagam 1 akche de impos
to. (…) (7) Se os ciganos muçulmanos começarem a viajar com ciganos não
muçulmanos, viver com eles se misturar com eles, eles devem ser advertido;
depois de punidos, os ciganos infiéis devem pagar seus impostos como de
costume. (8) Aqueles, Os ciganos que possuam uma autorização do Sultão
devem pagar apenas o imposto do sultão [ harach-i padishahi ] e não pagam
imposto predial… e os outros habituais impostos” (Marushiakova & Popov
2001:32).

O termo “gezende” refere-se na Turquia aos ciganos viajantes, ou seja,


aqueles que são nômades. Há no registro fiscal de 1498, e dentro da Lei sobre os
Ciganos na província de Rumelia emitida por Suleiman, O Magnífico, onde dispõe
sobre o cumprimento das obrigações fiscais dos ciganos nômades.
72

Em 1630 pelo Sultão Murad IV foi decretada a sedentarização dos ciganos


(Marushiakova & Popov 2001 apud oprisan, 2007).

Uma terminologia usada para se referir aos ciganos muçulmanos é o Kipti


Muçulmano; Çekiç para designar pessoas que falam Kiptice, ou seja, a língua dos
Kıpti como sendo a sua língua materna (Andrews 1992 apud oprisan 2007:74).

Há muitos termos dentro da Turquia para definir esses grupos étnicos e suas
habilidades, alguns são vistos assim:

“Aşık” é usada para se referir a músicos que estão no sudeste da Turquia que
viajam constantemente, e que são rurais; Çuki para representar os romá nômades e
a grupos marginais, esse termo também é encontrado no Irã para o mesmo sentido
da palavra; Gawandi proveniente do curdo gawand para se referir a pastor de gado,
palavra que também originou a palavra gundi que significa: “camponeses não
polidos”, uma forma semelhante que em árabe seria “gawad”. Encontra- se também
Ghorbati para citar os ciganos nômades, palavra originária do Oriente Médio; Gurbet
palavra turca para dizer “ciganos vindos de outro lugar”; mutrib/ mirtip, palavra árabe
que referencia violinista/músico; Kereçi/Qaraçi palavra originada do árabe “khārijiyy”
para se referir: “o de esquerda”, ou “o que saiu”, ou seja, aquele que escolheu viver
longe das regras habituais da sociedade em que está inserido, e mais
especificamente esse termo retrata dos ciganos da localidade de Diyarbakır, os
quais chegaram antes dos anos 90 de origem incerta, apesar de a palavra turca
denominar “que eles venham” (p.68 oprisan, 2007; Oprişan 2005).
73

16.7 CIGANOS TURCOS NO BRASIL: SUBGRUPOS HORABANÉ, HORAHANE,


XORAXANÊ

As referências de pesquisa que têm- se sobre os Roms da Turquia, é o


subgrupo HORABANÉ, formado pelos Roms provenientes da Turquia e da Grécia
segundo TEIXEIRA, 2009 apud MOTA, 1982. Essa imigração começou no final do
século XIX com poucos dados levantados, porém que o principal ofício desse
subgrupo, segundo o autor era de renomados vendedores ambulantes.

Continuando a pesquisa esse subgrupo no Brasil, encontra- se referência em


CAIRUS, 2018 sobre outro termo utilizado para se referir aos ciganos de origem
turca, os “Roms XORAXANÊS”. Em entrevista com o cientista social Igor Shimura,
as informações de que o próprio possui descendência turca (porém, não especifica
se cigana, nessa parte da pesquisa), e que na Venezuela encontram- se Roms
desse subgrupo. Ao falar sobre ciganos vindos da Turquia, Brigidte reforça que é
quase que impossível não falar sobre temas religiosos, e pergunta sobre a religião
deles aqui no Brasil se é em sua maioria Muçulmana, e ele contextualiza que
tratando- se de Brasil especificamente o cigano brasileiro é plural com a seguinte
fala:

“Igor: Nunca ouvi falar, já perguntei, por eu ter uma descendência turca também, só
que eles vieram a mais de 100 anos e eles vieram fugindo do Chile, por causa de
brigas internas, e o cigano você sabe como é, questão de religião é neutra, pois
pode ter várias, pode ter uma ou nenhuma, não existe uma religião cigana. Você vai
falar com a Miriam Stanescon e ela vai bater o pé que a religião do cigano é a Santa
Sara, mas você vai ver uma igreja de Romanies muito mais numerosa do que os
adeptos da Santa Sara ciganos no Rio de Janeiro, tem igreja evangélica em
Campinas, Goiânia, Uberlândia, você vai ver ciganos maçons, o Cláudio Ivanovitch
que é maçon e ele é assim multireligioso, para ele todos os deuses são bons, você
vai ver uma cigana mulçumana, a Yaskara, que é a jornalista de São Paulo. Então,
acerca da religião islâmica, tem ciganos Calons mulçumanos em Goiânia, então
assim, você vai ver que o mundo religioso cigano é muito livre, os ciganos são livres
em tudo, até nas viagens deles, então não tem como prender os ciganos em uma
religião, então há ciganos que são evangélicos, espíritas, feiticeiras, maçons,
católicos, muçulmanos, e isso é um negócio tão neutro.” (Pág.166)
74

Na extensão sobre esse assunto da religião dos ciganos brasileiros


independentes de seus grupos, Igor Shimura é autor de “Duvelismo: identidade e
pluralidade religiosa cigana” (2014).

O Islamismo foi associado aos ciganos no curso do período histórico do


Império Otomano. Ciganos muçulmanos que são encontrados no mundo em sua
maior quantidade são encontrados na Turquia, Bósnia e Herzegovina, Albânia,
Egito, Kosovo, República da Macedônia, Bulgária, Roménia, Croácia, no sul da
Rússia, Grécia, Crimeia e Cáucaso. Porém, com as mudanças entre países
encontram- os em diferentes lugares do mundo. Com o término do Império
Otomano, nas regiões em que o Islamismo era predominante os ciganos sofreram
dupla discriminação em termo tanto da etnia (por serem ciganos), e também por
serem muçulmanos. Na Europa, “os ciganos Rom muçulmanos em todo o sul da
Europa se chamam de Xoraxanê, (também escrito como Horahane, Khorakhane,
Kharokane, Xoraxai, etc.) e são coloquialmente referidos como ciganos turcos nos
países anfitriões (MARUSHIAKOVA e POPOV, s.d. apud CAIRUS, 2018).

Em OPRISAN, 2007 cita que o termo “Horahane Roma” é uma palavra que
provém do Romani, e esse grupo possui fé muçulmana. Em pesquisa nas
comunidades de Badadag em Dobrugea, uma área da Romênia em 2001, um dos
participantes de sua pesquisa relatou que sua fé muçulmana se devia ao país em
que se localizava (Turquia): “Somos muçulmanos, por isso acreditamos no Deus dá
os turcos” (Grigor e Oprisand, 2001:32 apud OPRISAN, 2007). O que dá para notar
que se alinham à cultura local a fim de não terem conflitos, como é o caso dos
Romanis turcos na Bulgária, onde apóiam os partidos políticos turcos que são fortes
dentro do país, se afastando dos propósitos de sua própria etnia para evitar o
estigma que as comunidades ciganas enfrentam, alinhando- se com a nação e as
forças políticas turcas.

Portanto, o que se vê entre a diferença entre as formas de tratar sobre um


mesmo povo e sua mudança de localidade, como é o caso dos Ciganos turcos que
vieram para o Brasil, muda. Na pesquisa de Oprisan, 2007 o Romani apresentado
para o grupo Romá é “Horahane Roma” (p.66) somente, e na vinda dos turcos para
o Brasil no final do século XIX (MOTA, 1982 apud TEIXEIRA, 2009), e suas
pesquisas o termo apresentado para o grupo dos ciganos turcos é o “Horabané”, e
75

nas pesquisas de CAIRUS, 2018, ela esclarece que em especial no Sul da Europa
esse grupo também é chamado de Xoraxanê, podendo ser escrito em diversas
formas como “Horahane, Khorakhane, Kharokane, Xoraxai” (MARUSHIAKOVA e
POPOV, s.d. apud CAIRUS, 2018) a fim de se referir aos Romanis turcos.

16.8 INFORMAÇÕES E DOCUMENTAÇÕES HISTÓRICAS DOS CIGANOS NA


TURQUIA

No século XIV, em pleno Império Otomano, muitos Roma vieram da região


dos Balcãs foram para Turquia como membros do exército Otomano ou como
companheiro das tropas. Os documentos oficiais mostram que os Romani eram
nomeados pelas palavras “Çingene", "Chingane" ou "Kibti" *1.

Documentos históricos relatam o primeiro registro de impostos na Região dos


Balcãs, em Rumelia Vilayet datado de 1475. Há outro registro que data 1487-1489
sobre ciganos cristãos. Porém, a documentação mais enriquecida de detalhes se
refere à data de 1522-1523, imposto detalhado na secretaria de Rumelia Vilayet,
onde relata o número de casas ciganas, as referências religiosas, as áreas
povoadas, ocupações, e estatuto jurídico.

Além desses documentos relatando impostos, há indicações de leis para


ciganos na Turquia como a lei de 1530 feita para os Ciganos da região de Vilayet de
Rumelia, emitida pelo Sultão Solimão, O Grande; e outra emitida em 1541 para
supervisão da unidade administrativa Romá de Sandjak Roma. Sandjak Roma não
era um terrirório e sim unidade administrativa conferida por Romás que serviram so
exército Otomano.

No período de XV-TH e século XVI os romá foram mudando de religião,


quando então no século XIX se tornaram a maioria Muçulmana.

Como cultura e religião afetam uma estrutura social, e apesar do empenho


dos ciganos na organização administrativa do império otomano, vê- se estruturas
distintas a eles. Dois distintos e importantes lados foram criados para eles: de um
lado os crentes, e de outro os pagãos ou também chamados de “Reaya”. Os Romani
havia um estatuto especial independente da religião (sem se ater em muçulmanos
76

ou cristãos), mas especificamente aos Romá quando o assunto eram os impostos, e


esse fato era algo que não era comun no império otomano.

Segundo Reisdesc, 2016, como os turcos e muçulmanos viam os ciganos


nesse período e sua cultura é algo diferenciado, e ainda relacionado ao Egito, sendo
relacionados como “O povo do Faraó”:

“o povo dos ciganos estão relacionados com o faraó e afirmar que o grande
império dos faraós, exaltado na Holly Escrituras, pertencia aos ciganos; e também
dizem que as mesmas pessoas (quando Moisés e todos os profetas do Senhor
amaldiçoado) , não tendo conhecimento de cartas, livros e qualquer outra lei divina
ou humana, espalhados por todo o mundo”.

Assim, terminando esse texto com uma parte que conta que ao invés das
escrituras sagradas, das orações muçulmanas e dos jejuns, cometiam fraudes
segundo eles, encantos e bruxarias, o que para a cultura local era proibido.

Nesse momento histórico, o Sultão Solimão aperfeiçoa sua política Canon (o


que é?) e outras adequações, e o que incluem os ciganos. Todos aqueles que
acreditassem em Cristo, a partir de então, deveriam crer em Maomé

“Ele lhes deu imãs e hodjas para ensinar os idosos e as crianças o


maometano lei (sheriat) e outros arranjos e muçulmano cerimónias, depois para
ensiná-los a freqüentar o Mesquita, para véu das suas mulheres e fazer casamentos
de acordo com a lei religiosa”.(REISDEC, 2016)

Passados seis meses dessa ordenação, visto que os ciganos não iam para a
Mesquita, e que não tinha realizado casamento sem imã, compreendeu sua
situação, permitindo a liberdade religiosa e a isenção dos impostos a todos que se
diziam maometanos. Aos ciganos cristãos, recebeu o haradj, uma ordem de
pagamento

Com essa forma de pagamentos de impostos, passados mais seis meses, os


cobradores descobriram que nenhum cigano admitiu ser cristão, e com isso o sultão
ordenou que quem fosse cristão pagasse o haradj juntamente com o dobro dos
impostos que os cristãos pagariam. Incluído a essa forma de pagar os impostos, os
muçulmanos também.
77

Este decreto se refere a 1722, e foi a partir dele que mostra uma explicação
pelo alto número de ciganos que crêem em Maomé a partir de então.

16.9 RELIGIÃO

No passado a grande maioria dos ciganos sedentários na Turquia eram


cristãos, porém os romá turcos e que são nômades muitos são muçulmanos. Apesar
disso, encontra- se muitos em diferentes formas de culto como é o caso da
participação na festa típica chamada Hirdelezi/ Hidrelezi, que é um festival iniciado
na primeira semana de maio, que não tem a ver com o Islã, possuindo elementos da
“Christian Sacrality”. Esse festejo também é celebrado na região balcã, pelos não
ciganos da Turquia, e pelos Romá que muçulmanos.

No sudeste turco, os ciganos mostram- se mais próximos das crenças de


Cuki, Alevi (grupo Abdala) ou Ismaili. Nessa região os Mirtip de Shafi Rito são
Muçulmanos. Na área (região) de Van, os grupos Posha são conhecidos por serem
muçulmanos, porém outrora aqueles que viviam na região de Tokat Agiu eram
Cristãos.

Religião e cultura são por vezes confundidas por diversas vezes na cultura de
um povo. No caso dos ciganos mais ainda por seu estido de vida, por vezes
nômade, suas roupas, e outros aspectos mencionados nesse
trabalho. O Cigano é um povo livre, e ele é livre para escolher
sua religião. Sua religião será definida a partir da convivência
familiar, na maior parte das vezes. Porém, uma pessoa quando
não entende essas especificidades culturais acaba confundindo
religião com cultura como cita o site “Radar Missionário”, em que
Fonte://www.radar sua postura se mostra um tanto autoritária no sentido de não
missionario.org/po
vos-nao- compreender a cultura cigana. O título da matéria: “Povo não
alcancados-cigano-
balca-na-turquia/
alcançado do dia”, traz as informações de que segundo eles, os
Ciganos Balcãs que vivem na Turquia se chamam Rom, derivado da...:

“da palavra índio Dom, significando “um homem de casta inferior que ganha o seu
sustento cantando e dançando.” Os ciganos tem as suas raízes na Índia. Onde quer
que eles viveram, eles permaneceram misteriosos e distintas. Curiosidade sobre
eles acabaram por levar ao ódio e à discriminação. No século XX, muitos ciganos
78

foram assassinados pelos nazistas. Hoje, eles ainda são discriminados. Muitos
ciganos mantiveram suas antigas tradições e crenças religiosas.
Obstáculos ao Ministério
Os Rom são fortemente inclinados a manter as influências externas bem distantes.
Ore Pelos Seguidores de Cristo
Ore pelos poucos seguidores de Cristo entre os ciganos Rom, na Turquia. Eles
vivem num ambiente hostil a sua fé. Ore para que permaneçam firmemente
estabelecidos em Cristo e nas Suas promessas e provisão.
Ore Por todo grupo de Pessoas
Ore para que os ciganos não sejam julgados por seu status na sociedade, que
possam viver uma vida honrada ganhem respeito e aceitação.
Foco Escritura
“e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros,
como o pastor separa dos cabritos as ovelhas;” Mateus 25.32” (Povos Não
Alcançados: Cigano balcã na Turquia — RadarMissionário (radarmissionario.org)

16.10 FESTIVIDADE ERDELEZI

Ederlezi (Goran Bregovic)


Same amala oro kelena
Oro kelena dive kerena
Sa o roma
79

Amaro dive
Amaro dive, ederlezi

Sa o roma, babo, babo


Sa o roma, o daje
Sa o roma, babo, babo
Ej, ederlezi
Sa o roma, daje

Sa o roma babo, e bakren cinen


A me coro, dural besava
A a daje, amaro dive
Amaro dive erdelezi
Ediwado babo, amenge bakro
Sa o roma, babo. E bakren cinen
J, sa o roma, babo babo, sa o roma daje
Sa o roma, babo babo, erdelezi. Erdelezi, sa o roma daje
Sa o roma, babo babo, sa o roma daje. Sa o roma, babo babo
Erdelezi, erdelezi
Sa o roma daje

Mulher Roma na frente do fogo


Dia de São Jorge

Todos os meus amigos dançam o oro


Dançam o oro, celebram o dia
Toda a Roma
80

Nosso dia
Nosso dia, Dia de São Jorge

Toda a Roma papai, papai


Toda a Roma mamãe
Toda a Roma papai, papai
Ederlezi, Ederlezi
Toda a Roma mamãe

Toda a Roma, papai, sacrifica cordeiros


Mas eu pobrezinho, sinto-me só
Um dia romaní, nosso dia
Nosso dia, dia de São Jorge
Oferecemos, papai, um cordeiro
Toda a Roma, papai, sacrifica cordeiros
Toda a Roma papai, papai
Toda a Roma mamãe
Toda a Roma papai, papai
Ederlezi, Ederlezi
Toda a Roma mamãe

Desejos amarrados em uma roseira

É no mês de Maio que ocorre uma festividade cuja origem provém da época
pré-islâmica quando comemora- se a chegada da Primavera. A concentração desse
festejo ocorre em Edirne, antiga Adrianópolis, região fronteiriça com a Bulgária e
Grécia. Em entrevista a Euronews, 2014, uma jovem chamada Gurbet Demirkiran
relata que nessa festa costumam fazer uma enorme fogueira em que os jovens
saltam em cima do fogo, e “as raparigas ciganas de Edirne saem para dançar” (sic).
81

Muitas pessoas participam dessa festividade, entre eles turistas, e também os


ciganos dos Balcãs e da Turquia.

De acordo com o calendário ortodoxo no dia 06 de maio é celebrado o Dia de


São Jorge, ou St. George, conhecido também como “Djorge Dan” (LORENZONI,
2018). Na língua turca, chama- se “Hidirellez”, que é o feriado que anuncia a
primavera.
Para os cristãos, São Jorge foi um mártir que morreu na defesa de sua fé. Na
maioria das ilustrações mostra em cima de um cavalo branco matando um dragão.
Algumas lendas contam que em certa época esse dragão era muito temido, e São
Jorge defendeu uma das filhas do Rei ganhando
respeito e notoriedade.
Ao norte da Croácia, é comum ver a presença
de fogueiras, onde são escolhidas cinco belas moças
para brincar como “Dodola”. Elas se vestem de folhas e
cantam para a vila em todos os dias de festejos até o
fim do feriado.
As casas dos ciganos balcânicos ganham um
charme há mais com flores e galhos em forma de
guirlhandas entoando a vinda da primavera. Da mesma
forma incluem banhos com flores e lavagem das mãos
com água dos poços das igrejas. Essas águas também
são usadas para abençoar as paredes das casas.
Uma das comidas típicas da festa é a carne do
cordeiro nos jantares.
http://cathystoykodance.blogspo A música e a dança são abundantes e muito
t.com/2011/05/celebrating-spring- importante nesse festejo, incluindo as bandas
ederlezi-hidirellez.html
tradicionais do local, muitas delas as novas bandas, as
“Gipsys styles”, que são bandas que tocam Roman Havasi mais moderna e atual.
82

16.10.1 HIDIRELLEZ/ EDERLEZI: UM FERIADO CIGANO

Durante pesquisa, no site Balkan prime, foi muito interessante ver a história e
o cuidado da UNESCO e do esforço do Sr. Daniel Petrovski (Diretor de Programa da
Associação de Amantes da Arte Folclórica Roma "Romano Ilo" e iniciador do
procedimento para a oficialização de Ederlezi como patrimônio cultural imaterial dos
ciganos na Macedônia pela UNESCO) para que essa festividade fosse oficializada
como feriado cigano protegido pela UNESCO.

Figura: Izmir celebrates Hıdırellez, 1965

Chamada de Ederlezi pelos ciganos, e Hidirellez, pelos turcos em geral, e


para os ortodoxos, Dia de São Jorge, esse feriado possui suas peculiaridades,
costumes e folclores próprios. Até o final da década de 1990 era comum iniciar o
festejo dia 6 e terminar dia 9 de maio, próximo do cemitério francês.
83

Figura: O pote é preenchido com itens e deixado perto de uma roseira durante a noite

A tradicional festa durante longos anos mostram comportamentos que são


reforçados durante longos anos como as famílias que se agrupam em pequeniques
com diferentes comidas ao som de grupos de músicos de Zurli e tambores. Na
década de 90 as orquestras de estanho tocavam para as famílias, o que nos últimos
15 anos mudou devido ao confinamento e também em celebrações mais reservado
nas casas, ou até mesmo menos celebrado.
84

Símbolos peculiares à essa tradição são apontados pelo antropólogo como de


grande importância de se manter a cultura viva. Segundo ele em muitos locais na
região da Macedônia, durante a festa de São Jorge, são identificados as crenças e
os símbolos peculiares dessa cultura, como a “verdura”, predominante durante o
festejo, a qua faz parte dos rituais da coleta das ervas onde há a presença do
gramado verde e áreas montanhosas, ou lugares de florestas cheios de árvores.
Outro símbolo é a nascente, representante da boa saúde que são encontradas perto
das igewjas ou templos próximos dos rios e lagos que ficam próximos dos
assentamentos de ciganos da região. A água da nascente ou a água natural crê-se
que ajuda na qualidade de vida e longevidade.

Images google

Nos casos dos ciganos que vivem em Stip, eles costumam visitar a nascente
Shadrvan Bashi, os ciganos de Skopje usam-no da igreja St. Jovan (São João) no
assentamento Kapishtec, um local de culto conhecido pela comunidade cigana sob o
nome aloutalo Pani (macedônio: Kisela Voda). “Também é importante mencionar o
local de culto na encosta perto do Cemitério Francês em Skopje, onde agora está
construída a Embaixada dos Estados Unidos. Os ciganos de Skopje e arredores, no
dia 5 de maio, visitam a igreja de St. Gjorgjija (São Jorge) localizada perto da vila
Deljadrovci - Kumanovo e outros lugares. No dia 5 de maio, os ciganos de Tetovo
vão apanhar ervas e plantas verdes na zona junto à Estação Ferroviária, em
Gostivar, nas zonas de Fazanerija e Ciglana, em Kicevo, apanhando ervas
aromáticas nas zonas de Chuka e Vrska Vodenica”. (Balkan Prime).
Apesar das adversidades, e com o curso do tempo, mesmo assim a cultura se
mantém viva, como é o caso do assentamento de Skopje de Suto Orizari, em que
todos os anos, no dia 2 de maio, há uma competição entre os ciganos (sem ganhos,
ou premiações), o cordeiro mais bonito, em que é escolhido como sendo o campeão
é trazido e mostrado aos outros. Eles gostam tanto dessa tradição e se mostram tão
85

assíduos, que mesmo na pandemia, onde todos estiveram de máscaras,


conseguiram reunir 20 cordeiros de famílias ciganas ao som de um apito de Zurli e
tambores.

Campeonato do cordeiro mais bonito https://www.balkanprime.tours/en/blog/article/macedonia-


celebrates-ederlezi-the-roma-holiday-protected-by-unesco

No ano de 2011, o Dia de São Jorge/Ederlezi, costume e tradição dos ciganos


na Macedônia, o feriado ficou registrado como bem imaterial do patrimônio cultural
recebendo proteção do Estado. O Ministério da Cultura custeou projetos que
ajudaram a manter a importância desse feriado, e a Associação Romano Ilo da
Macedônia, foi consultada pelo Instituto Folclórico Marko Cepenkov e um
representante da UNESCO para apresentar uma proposta para a obtenção do status
- Dia de São Jorge / Ederlezi, bem intangível bem protegido pela UNESCO,
juntamente com o feriado com o mesmo nome na Turquia.

Os esforços a fim de manter a cultura viva não param por aí: em 1998, a
associação produziu uma exposição "Dia de São Jorge em Skopje" da autora Elsi
Ivanчиiќ Dunin, e quando em 2018, com o mesmo título foi produzida uma exposição
multimédia pelo autor americano Dunin, exposta no Museu da Macedónia, exibida
nos museus etnográficos de Zagreb, Belgrado, Dubrovnik, Rijeka, Pula e outros
museus. Além disso, o documentário “SA O ROMA” destinado à celebração do
feriado Erdelezi foi exibido em festivais etnográficos em Skopje, Kratovo, Belgrado,
Zagreb, Berlim, Dusseldorf e Sofia.
86

Campeonato do cordeiro mais bonito ao som de instrumentos típicos


https://www.balkanprime.tours/en/blog/article/macedonia-celebrates-ederlezi-the-roma-holiday-
protected-by-unesco

https://www.balkanprime.tours/en/blog/article/macedonia-celebrates-ederlezi-the-roma-holiday-
protected-by-unesco
87

16.11 BAIRRO SULUKULE

Quando os ciganos chegam à Turquia, seus primeiros assentamentos foram


feitos na região conhecida como “Sulukule. Sulukule é um bairro histórico localizado
em Istambul, faz parte do distrito de Fatih, situado junto à parte ocidental das
muralhas de Teodósio, junto à Edirnekapsi.

Os primeiros ciganos ali chegam à época do Império Bizantino após a


conquista otomana da cidade. Supostamente Sulukule foi o primeiro bairro a abrigar
ciganos sedentários (Google Arts and Culture). Esses moradores fizeram história na
localidade e deixaram o bairro conhecido pelas casas de entretenimento, onde
faziam de suas residências o convite para que turistas que não eram da região e
visitantes também da localidade conhecesem sua cultura, sua música e sua forma
de dançar.

Em 1950 e 1960, a arte e a cultura de Sulukule estavam no seu Apogeu, em


que artistas turcos renomados como Zeki Müren, Müzeyyen Sena, Adnan Sensen e
Zeki Müra chegaram a atuar nessa localidade. Porém também entre as décadas de
60 e 90 que a região passa por uma revitalização (as casas de 1950) foram
derrubadas (Favela em Pauta).

O declínio das casas artísticas de Sulukule ocorreu em 1992, o que afetou


gravemente a economia da localidade.
88

Sulukule. Fonte: Oriente-se 2020.

Sulukule. Fonte: Oriente-se 2020.


89

Sulukule. Fonte: Oriente-se 2020.

Sulukule Made in turquia, 2021.


90

Sulukule Made in turquia, 2021.

Figura Imagens Google sulukule


91

Sulukule Made in turquia, 2021.

Sulukule Made in turquia, 2021.

Esse momento histórico não só mudou a paisagem do bairro, como também


interferiu na cultura na música e na dança Romani. O hábito que eles tinham de abrir
suas casas para mostrar a Dança típica Roman Havasi durou até a Era Moderna e
Republicana, em especial no que chamavam de “casas de entretenimento”. Os
prédios que foram fechados na década de 1960, em sua maior parte perto do distrito
original foram demolidos, e com isso a prática da dança juntamente com a tradição
secular dentro dessa comunidade ficou sob ameaça. Ongs Pró-Romani turcas, e
92

também internacionais se uniram conseguindo que a comunidade fosse reacolada à


força no ano de 2005. A comunidade Romanlar passou pelo redesenvolvimento
urbano, como foi o caso de Küçükbakkalköy de Istambul, onde o belediye (governo
local) ordenou demolições, forçando a comunidade Romanlar a se mudar, junto com
suas artes e cultura.

Balıkesir, Turquia (2004): casamento Romanlar em que a noiva e o noivo são vistos dançando
à noite.

Na tese “The Roma in Turkey from survival mecanisms to devilopment


strategies” (A Roma na Turquia- Dos mecanismos de sobrevivência às estratégias
de desenvolvimento), 2017, a Pesquisadora Ana Oprisan da University of London
(SOAS) estuda os motivos da pobreza e exclusão social que os Romá turcos
enfrentam, e as estratégias que o Estado vem desenvolvendo para a mudança
desse cenário, contextualizando desde a abordagem étnica, influências políticas, as
mudanças durante o percurso histórico a fim de entender o “contexto
contemporâneo” de inclusão social dos ciganos europeus que foram aplicados na
Turquia. Compreende o percurso das diferentes comunidades ciganas em toda a
Europa, nas experiências nacionais e nas abordagens políticas à pobreza e à
exclusão social, destacando a variedade e especificidade dos grupos que estão
reunidos sob o etnônimo cigano.
93

Segundo sua pesquisa, em 2010, o governo da Turquia reconheceu a


discriminação e a precariedade que os Roma enfrentam no país, e a partir dessa
concepção, tem concedido políticas específicas. A primeira grande questão
investigada pela autora é a habitação, e as políticas que envolvem a comunidade
Romani Turca a fim de entender quais estratégias são realizadas. A partir desses
pontos de investigação, focou dois casos centrais, que foram sobre as habitações e
os processos de “regeneração urbana” (OPRISAN, 2017) que ocorreu na cidade de
Samsun (parte norte da Turquia) quando em 2008 o município demoliu um bairro
antigo que trazia o nome de “200 casas” oferecendo a essa população outras casas
na forma de um “esquema de modelo de habitação” disposto em formas de blocos
de apartamentos em outra localidade da cidade. O outro caso de estudo que Ana
realizou foi sobre o distrito de Küçükbakkalköy (Istambul) em 2006, onde os antigos
habitantes da região se dividiram para outras localizações da cidade. Segundo os
termos utilizados pelo próprio município tratava- se de um projeto de “regeneração e
renovação” urbana.

A partir dessas renovações urbanas, as entrevistas durante a pesquisa de


campo nos locais que ocorreram tais intervenções dos municípios, foram levantadas,
as estratégias de subsistências tanto antes quanto após os deslocamentos dessa
população em questão, seja em abrigos temporários, improvisados, ou qualquer
outra forma de deslocamento.

Os processos de Gentrificação, que é o processo de transformação urbana


que “expulsa” moradores de bairros periféricos e transformam essas regiões em
nobres afetam a população da região em diferentes esferas, sejam elas econômicas,
sociais, culturais, e de identidade. O termo “gentrification” se origina de gentry, o
qual condiz com “pequena nobreza”. Tal termo foi criado pela socióloga britânica
Ruth Glass em London: Aspects of change (1964), a fim de observar, descrever, e
contextualizar os impactos das mudanças ocorridas em diversos bairros operários
em Londres. Dentro desse termo, muitos estudiosos vêm utilizando- o para definir
quando há uma desigualdade, e segregação urbana, mesmo sob a égide de
“calamidade pública”, e “riscos urbanos” em diferentes áreas de estudos como
Sociologia, Antropologia, Geografia e Arquitetura, além de Planejamento e Gestão
Urbana, Economia e Estudos Urbanos em geral (ALCÂNTARA, 2018 apud GLASS,
1912-1990). Como foi o caso dos ciganos na Turquia em “Urban
94

TransformationProjeto” em 2015 onde se lê no site da Direção Geral de Serviços de


Infraestruturas e Transformação Urbana do Ministério do Meio Ambiente e
Urbanização (2015) lê que sua intenção é: criar “áreas de risco de desastre
resgatadas, mais saudáveis e mais seguras” na Turquia. Locais esses cuja
população residente sua grande maioria são os romani (OPRISAN, 2017 apud
KentselDönüşümProjeto2015).

As conseqüências desses despejos forçados atingem não somente a perda


de suas moradias, bem como, a perda de seus meios de subsistência, e como
resultado, mais pobreza, maior vulnerabilidade, além de impactar na perda de suas
referências, cultura e identidade.

A partir do ano de 2002, aonde com a mudança de governo, diversas


questões referentes ao estatuto e a situação dos grupos étnicos dos curdos e dos
Roma na Turquia vieram a ser tratados, e aí em diante progressos foram
observados em alinhamento com critérios da UE (OPRISAN, 2017), além das
discussões públicas e debates acadêmicos no que imperam as questões dos
ciganos.

Em 2008, o COE assinalou que tais situações não se tratavam de serem


situações esporádicas, e sim eventos “sistemáticos, não esporádicos e muitas vezes
visam afastar os ciganos dos centros das cidades para o isolamento” (OPRISAN,
2017 apud COE, 2008).

Segundo levantamentos da autora, a partir do anúncio governamental da


política de 2010, chamada de “Abertura Roma”, os Roms, que antes se mostravam
menos interagidos socialmente e sem compromisso cívico em conjunto sobre as
questões Roma juntamente com os Doms e os Loms, passaram a ser mais ativos e
as representações dentro das ONGs juntamente com os ativistas foram formadas.
Foi um passo para que o governo entendesse as necessidades desses grupos, e
uma maior visibilidade. Em 2014, em termos de políticas sociais na Turquia voltada
para os Romani eram sobre habitações.

No artigo 66 Parágrafo 1 da Lei Turca de 1982, a Constituição Turca prevê


que “todos que se vinculam ao Estado turco pelo vínculo da cidadania é um turco”
(OPRISAN, 2017 apud TC, 2001). Nesse ensejo o Tratado de Lausanne firmado em
95

24 de julho de 1923, prevê um tratado de Paz entre a Turquia e o Império Britânico,


França, Itália, Japão, Grécia, Romênia, e o Estado Serbo- Croata- Esloveno. Aqui
incluem o direito das minorias não muçulmanas como os judeus, armênios e gregos.

16. 12 A POBREZA MULTIDIMENSIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS


BIOPSICOSOCIAIS

Dados da Comissão Européia de 2008 indicou relevantes indicadores


primários e secundários de inclusão social e listou as INDICADORES PRIMÁRIOS:
Taxas de risco de pobreza; Taxa de risco persistente; Lacuna mediana de risco de
pobreza; Taxa de desemprego de longa duração; População que vive em domicílios
desempregados; Abandono escolar precoce sem educação ou formação; Diferença
de emprego dos imigrantes; Privação de materiais; Habitação; Necessidade não
atendida auto relatada de cuidados médicos; Utilização do cuidado; Bem- estar
infantil. INDICADORES SECUNDÁRIOS: Taxa de risco de pobreza; Risco de
pobreza por tipo de agregado familiar; Risco por intensidade de trabalho das
famílias; Risco de pobreza por intensidade de trabalho das famílias; Risco de
pobreza por status de atividade mais freqüente; Risco de pobreza por status de
posse de acomodação; Dispersão em torno do limiar de risco de pobreza; Pessoas
com baixo nível educacional; Baixo desempenho de alfabetização de leitura dos
alunos (EC 2008 apud OPRISAN 2007). Esses indicadores sinalizam as atuais
situações que abalam essas populações carentes, estigmatizadas e carentes, e que
são abaladas por um complexo sistema social de longos anos, por falta de
perspectiva e tantos outros fatores inclusivos.

Segundo Allen & Thomas 2000:17; Bugra & Keyder 2003:19; Chambers
&Conway (1991) e Carney (1999) (apud OPRISEN, 2007), a pobreza
multidimensional (Shildrick & Rucell 2015:15 apud OPRISEN, 2007), ou seja,
passada de geração para geração traz conseqüências de privação em diversos
aspectos para quem passa por ela causando “danos profundos” entre indivíduos e a
sociedade em que está inserido (OPRISEN, 2017 p. 19). Considera- se não mais
uma situação transitória, e sim “transmitida”, por intermédio de comportamentos,
96

crenças, atitudes, valores. Dessas circunstâncias em que são acometidos os


ciganos de maneira global, e em específicos os Roma da Turquia, a falta de políticas
públicas prejudica a falta de perspectiva para as futuras gerações, por vezes
condenando-os à marginalização. A conseqüência da falta de oportunidade monta-
se um ciclo perigoso, em que tentar fica cada dia mais difícil, e que a sobrevivência
impera na luta do pão de cada dia. Seus locais de habitação são os piores possíveis,
e toda vez que começam a criar vínculo, são arriscados através dos processos de
transformação urbana, muitos em condições de subsistência.

A Gentrificação em que escolhe os bairros mais pobres para executar seus


planos mais grandiosos e díspares das condições daqueles que ali se encontram. As
“renovações urbanas” são projetadas pensando no urbanismo, porém sem calcular
os danos sociopsicológicos dos moradores que ali estão. A parte mais vulnerável é
recolhida, sem perspectiva dos vínculos criados naquele chão, dos vínculos
comerciais e de sustento, das escolas de seus pequeninos, e de toda sua história
até então.

As constantes dificuldades enfrentadas nas comunidades, sendo a pobreza


uma condição complexa e sistêmica, invisibilizando determinada classe, chegando
ao ponto de sua invisibilidade social que acaba por trazer aspectos na formação de
uma “subcultura autônoma” (LEWIS, 1971 apud OPRISAN, 2007) sendo observados
enquanto status social como uma subclasse, tendo como sua evolução econômica e
social também um subdesenvolvimento (MUNCK 2005:21 e 26 apud OPRISAN
2007). No caso da população Roma são séculos de exclusão social, privação de
seus direitos como um todo, o que inclui os direitos políticos e de identidade, ficando
à margem da sociedade se tornando díspares à população em que estão.

Outra questão quando o assunto são os assentamentos, os projetos de


renovação urbana e as novas políticas governamentais é que os inquilinos não
possuem critérios suficientes para habitações alternativas, e o ciclo se repete: o
sentimento de “desabitação”, gerando a conseqüente sensação de desconforto,
desamparo e conseqüências psicológicas nessa população a médias e longo prazo.
A situação multidimensional (OPRISAN, 2007) que se caracteriza “pela falta de
recursos da ação de pobreza constante gera conseqüências devastadoras, sendo
um fenômeno multidimensional caracterizado pela falta de capacidade de indivíduos
97

de acessar recursos e obter renda suficiente e sustentada, educação inadequada e


por uma saúde precária, levando à vulnerabilidade persistente e impotência” (p.18)
confundindo sua situação social com suas reais potencialidades humana, e
aspirações que se em outras condições poderiam ser desenvolvidas caso não
tivesse que se cercar de tamanho desamparo social. Ocupam espaços de punição
(OPRISAN, 2007) quando segregados do restante da sociedade tendo que explorar
recurso marginais na tentativa de sobreviver.

O estigma que enfrentam é tamanho ao ponto de quando na conquista de


bens materiais usarem de forma indevida, como quando fazem a aquisição de um
aparelho de TV, telefones celulares, antenas parabólicas (OPRISAN, 2007) sendo
eles criticados pelo restante da população, sendo um “consumo copíscuo” (p.30).

Os impactos na saúde mental atraídos por essas condições de desamparo


social são inúmeros, como cita Hulme & Sheperd 2003; Pastor 2006 apud oprisan
2007 sobre os efeitos na auto- estima, saúde física e todo o contexto do
desenvolvimento físico e mental dos indivíduos que passam por tais condições.
Essas marcas dentro de sua personalidade que se formam ao longo dos anos são
repercutidas não só numa questão de suas individualidades, como também num
estigma de marginalidade (Oscar Lewis 1969, 1971, 1996, 1998 apud OPRISAN,
2007) deixando afetar estados de desamparo, sentimentos de desamparo,
dependência emocional, sensações de constante inferioridade, impotência perante a
vida e à sociedade, indignidade pessoal sob a esfera da perda da dignidade social,
além de se sentirem não merecedores de continuar a criar vínculos com as demais
pessoas, se desqualificando constantemente através de crenças de que não são
vistos, amparados por instituições que poderiam acolhe-los, ou até mesmo se
interessar por suas demandas. A perda da fé, da esperança aliado a um tipo de
vergonha faz com que essas pessoas em vulnerabilidade social recuem cada dia
mais e não se sintam pertencentes à sociedade de que fazem parte (Schildrick &
Rucell 2015:27 apud Oprisan 2007).

Consequências graves como as “negligências dos deveres parentais,


desestruturas familiares, laços conjugais frouxos

Por isso, OPRISAN, 2007 cita o termo “armadilhas da pobreza” para enredar
as limitações dos Ciganos na Turquia quando se deparam com os diversos
98

despejos, privações e limitações sociais. Ao serem deslocados de seus espaços, as


chances de oferecer subsídios às gerações futuras fica cada vez mais difícil quando
o assunto é a própria sobrevivência. Fatores que acarretam esses limitadores
sociais são os constantes índices de desemprego (e perdas de empregos fixos), a
incapacidade de ser inseridos na educação, vulnerabilidade e falta de proteção
contra o risco de desabrigo como são os casos dos despejos, e riscos ocupacionais
tornando cada vez mais os ciclos da pobreza intergeracional.

As políticas públicas impactam a identidade dos cidadãos em sociedade em


que estão inseridos, influenciando como se vêem e se posicionam repercutindo seu
lugar em seu grupo, e em sua própria construção enquanto pessoa: “a política molda
a forma como os indivíduos molda a forma como os indivíduos constroem-se como
sujeitos” (Surdu & Kovacs, 2005:743 apud OPRISAN, 2007).

Apesar de algumas apólices serem concedidas a essa população vulnerável


(Nicolae 2012b apud OPRISAN 2007), a polarização entre as populações
majoritárias, e em especial a mentalidade entranhada nas estruturas mais
fundamentais da sociedade e na reforma de seus sistema são os aspectos de luta
do povo roma. O engajamento de ser um cidadão participante e ativo da sociedade
civil, tendo os recursos necessários com a devida visibilidade de suas condições e
dificuldades por vezes afasta seus membros no exercício de seus direitos plenos. A
busca de tais soluções para mudar esse quadro de exclusão e perpetuação das
desvantagens da comunidade cigana na Turquia através de programas que engajem
a população em seus direitos é de fundamental importância, sendo um dos fatores
de maior dificuldade para que ocorra a “guetização” (p.13), a marginalização (um
grupo à margem da sociedade em que se está) é sua invisibilidade, o
distanciamento e a preocupação tanto das pessoas da sociedade civil bem como do
governo.

O entendimento criado das especificidades étnicas do povo Roma abre uma


possibilidade de não mais ocorrerem certos erros do passado como a construção de
novas formas desenvolvidas de favelas urbanas, as gecekondu (OPRISAN,
2007:82), ao mesmo tempo em que também não se perpetue a segregação e a
estigmatização do lugar inferior do grupo construindo mais vulnerabilidade, e a
incapacidade de articular suas próprias redes de segurança. E que essas políticas
99

possam permitir uma ampliação nas desconstruções dos deslocamentos sucessivos


que deram início aos gecekondumahallesi (favela) e que possa se pensar em novos
constructos sociais mais inclusivos onde romanis e não romanis possam conviver,
não sendo somente locais apenas os romanomahallesi (bairro dos Roma).

Ativistas, ONGs com ciganos têm alertado o poder público quanto às


necessidades da população Roma devido a sua suscetibilidade social carregada por
séculos de privação de inclusão social (OPRISAN, 2007) em que estão dispostos em
espaços que partilham da pobreza entre o povo cigano na Turquia, cabendo à eles
um rótulo de inferioridade repercutindo em suas próprias crenças de futuro e
chances de uma vida melhor. As desigualdades de direitos e condições e dos
direitos em políticas pública aos poucos ganha forma quando essas instituições
ensejam a voz ao povo cigano em sua auto estima e poder social de serem
fazedores da própria história.

Resignar em condições difíceis em meio à sensação constante de hostilidade


se torna difícil aos grupos Roma, e por isso esses constantes sentimentos de
rejeição são aferidos na comunidade. A busca por sua alteridade, a luta contra o
estigma social, o preconceito e a rejeição social são lutas diárias enfrentadas pelos
Roma Turcos. É preciso um esforço e um entendimento dessas questões levantadas
por parte do poder público para que o povo mais carente consiga se empoderar de
suas reais capacidades exercendo sua cidadania e dignidade como cidadãos de
fato. As teorias de exclusão e conseguinte, inclusão social (BYRNE, 1999; LEVITAS,
1998; SILVER 1994; WB2013:xxiv/26 apud OPRISAN, 2007) reverberam para uma
sociedade mais igualitária, integrativa, inclusiva entre as diferenças sociais que
ocorreram ao longo da história de cada povo, e sociedade.

O cerne da questão do processo inclusivo da inclusão dos ciganos não se


refere somente a este grupo étnico, como também a todos os outros grupos em
estado de minoria e que carregam como características o estigma, a origem, a
história, as condições socioculturais, e que se encontram marginalizados, e que
podem se desenvolvidas estratégias ocupar outros lugares próprios, mas que foi
dificultado ao longo do tempo.
100

16.13 ROMAN HAVASI: A DANÇA DOS CIGANOS NA TURQUIA

Ciganas na Turquia dançando o ritmo Roman Havasi na Turquia. Oriente-se Cia 2020.

Desde que os ciganos chegaram à Turquia, a cultura artística fez parte de sua
cultura. Abriam suas casas para que pessoas, inclusive turistas pudessem
presenciar suas apresentações. São comuns desde crianças aprenderem a tocar um
instrumento, e com isso se tornar uma tradição familiar e também uma atividade
laboral. Era nesse enredo que conseguiam de forma lúdica manter sua língua,
cultura e tradições para as futuras gerações.

Os ciganos ao adentrarem em uma nova cultura, começam a se relacionar


também em sua musicalidade e arte. No caso da Turquia, não foi diferente. Os
ciganos que ali chegaram, começam a dançar o Karsilama, ritmo Greco que
costuma também ser dançado em danças de roda (Oriente-se 2020), e que é um
folclore encontrado no noroeste da Turquia (COELHO, 2022). Esse cenário começa
a mudar por volta de 1960 em Edirne, fronteira com a Bulgária, onde surge o Roman
Havasi, um ritmo criado pelos ciganos daquela região e nesse histórico.
101

Comparativo das métricas musicais do Karsilama e Roman Havasi. Fonte Oriente-se Cia, 2020.

O Ritmo Roman Havasi é diferente do ritmo da música turca em termos de


composição e criação. Comparado, se assim podemos citar, ao Karsilama, são
ritmos assimétricos em 9 tempos e com sonoridade parecida, porém o que diferencia
um do outro é a velocidade e a localização da parte mais forte da escala musical.

A dança é individual e improvisada, seus ritmos são combinações do que a


pessoa que dança sente no momento com gestos típicos do estilo de vida dos
ciganos daquela região.
102

Nativos dançando o ritmo Roman Havasi na Turquia. Fonte: Oriente-se 2020

Roman significa Romá, logo origem cigana, e Havasi especificando uma origem
turca. Portanto, Roman Havasi significa Dança dos Ciganos na Turquia, ou Dança
dos Ciganos Turcos.

Roman= Romá

Havasi= Ritmo específico na língua turca (“temperamental”)


103

Fotos de Mustafa Özünal. Fonte: http://www.romaniarts.co.uk/romani-dance-and-music-in-


turkey/

Por conta dos movimentos de quadris e troncos isolados observados em


Izmir durante eventos comunitários, ou seja, eventos em que continham puramente
aspectos culturais nativos do folclore local, pode- se segundo AYDIN, E. (2016),
confundir alguns observadores com uma espécie de “Dança do ventre” ou “Belly
Dance”, porém com seus movimentos característicos específicos os diferencia a
Roman Havasi enquanto dança da Belly Dance, como: o impulso dos quadris para
cima seguindo o ritmo 9/8 simultaneamente em que há uma “delicada palpitação do
glúteo e o salto simultâneo da barriga”. Além dessas características na região
pélvica, outros movimentos como o dos pés em que suas variações fazem com que
as partições pélvicas ganhem novas formas, incluindo “toe e heal tapping e
empinadas sem balançar a cabeça” tudo o que ilustra a qualidade desigual do ritmo
9/8.

16.14 RITMO

O Ritmo da Roman Havasi é estruturado na música e na dança com estrutura


própria e específica, ou seja, criada pelos próprios romá dessa localidade. Seu ritmo
é forte, marcado e com acentuações. Seu ritmo se faz em 9/8.
104

D-T-D-D-T
1 23456789

RITMO: O que está marcado são os acentos musicais

SOM: 1 sempre bem marcado

Seu modo de dançar é “aterrada”, bem “terra”, ”chão”, ou seja, com


movimentações para baixo e fortes e com impactos. Observa- se movimentações
pélvicas.

Trazem seu cotidiano na performance, apresentação de palco através da


linguagem na dança, como lavar roupa, estender pendurá-las nos varais, cozinhar.

ALGUNS PASSOS (Algumas idéias de movimentos):

 Braço aberto e bater com esse braço aberto a outra palma


 Soco em cima
 Saia lavando roupa
 Suor
 Estender roupa com a ponta dos dedos (todos os movimentos, seguindo a
batida e o ritmo da música)
 Se banhando com água
 Mão quadril + 3º olho
 Movimentos circulares com colher como se estivesse cozinhando

16.15 FIGURINO

Pode ser dançada de saia (com pouca roda) ou calça (gênio); 1 lenço na
cabeça com “penduricalhos” específicos e típicos estilo turco; lenço amarrado para
105

frente no quadril (não para o lado); “colarzão” (colar grande); brinco grande;
maquiagem bem marcada, em especial nos olhos.

Esses figurinos são de fotos históricas que encontramos ao pesquisar tempos


remotos. Com o tempo, os figurinos vão se adaptando, como a seguir os figurinos
usados em palco por Reyhan Tuzsus, uma das maiores referências dentro e fora da
Turquia quando o assunto é Roman Havasi.
106

16.16 REYHAN TUZSUS

Reyhan é uma das divulgadoras mais ativas da arte e cultura Romá e que
vive na região de Istambul. É citada por Dr Andrew Marsh como sendo uma das
referências étnicas originárias da região de Sulukule, berço da arte e cultura dos
ciganos turcos. Seu maridotambém é músico e a acompanha com uma banda de
músico folclóricos, sendo todos de origem Romani. A partir de seu contato com
Elizabeth Strong, uma praticante bem estabelecida na dança de Califórinia,
107

identificou na personalidade e carisma de Reyhan uma figura central para a


expansão da adivulgação da cultura Romá no geral. A partir daí, Reyhan ficou
conhecida no cenário internacional sendo convidada a ministrar workshops em
diversas instituições acadêmicas e artísticas, inclusive nos EUA.

Mas isso foi só o começo, ela já organizou aulas de dança no Japão,


Espanha, Brasil, e continua ministrando suas aulas também na Turquia, além de
expandir esse conhecimento mundialmente para dançarinas, e pessoas de todo o
mundo que se afinizam com a cultura cigana da Turquia. Continua fazendo e
participando de eventos, construção de manteriais audiovisuais, inclusive
documentários com produtores de outros países, como foi o caso que no curso de
uma das aulas com ela, cheguei a participar.

Hoje ela é uma das referências dentro dessa modalidade tanto dentro da
Turquia e no mundo. Ministrou aulas para grandes mestras da dança no Brasil como
Juliana Lorenzoni, Safira, e a Clara Sussekind, quem
ajudou no seu laboratório para a Novela Salve Jorge.

Seu carisma é magnético e deixam todos


inebriados com sua simplicidade e jeito de danças,
estabelecendo as conexões Turquia e Brasil, o que
deixa a cultura Romá com um jeito mais carinhoso e
acessível de ser enquanto vivência de dança. Quando
se dança com Reyhan, uma nativa, ou seja, que
nasceu no berço da cultura, perebe uma simplicidade
e facilidade nos movimentos, convidando a todos que
acham que o ritmo 9/8 um monstro, ser leve e
agradável.

Foto cedida pela própria Reyhan, contribuiu muito para esse trabalho na
Reyhan. Arquivo pessoal.
construção do figurino, na parte artísitica da dança, e
no corpo de dança. Ela com seu jeito doce, e carinhoso fez não desistir jamais desse
ritmo envolvente que é a Roman Havasi. Minha eterna gratidão.
108

16.17 DANÇA CIGANA TURCA NO BRASIL

As danças ciganas no Brasil é uma modalidade de Dança (característica,


aprendida em escolas de dança) relativamente nova (LOPES, 2021). Porém vendo o
curso das transformações e das referências das Danças ciganas no Brasil é notório
que uma das referências dentro da Roman Havasi, a quem trouxe conhecimento
ampliando o estudo desse estilo foi Clara
Sussekind.

A popularização desse estilo ganhou


forma em meados de 2012 a 2013 com a
Novela Salve Jorge, segundo a Profa Agatha
em aula “Ciganos na Turquia”. Segundo
Márcia Bahia do site “LuLacerda.Ig”, quando
jovem, Clara foi vizinha de Glória Perez, a
autora da Novela, anos mais tarde (morando
na Capadócia, Turquia) foi entrevistada pela
autora, segundo o site, se tornou inspiração
para o personagem representado por Cleo
Pires. Na trama, a personagem se casou com
um turco chamado Ziah, interpretado por Domingos Montagner.

O profissionalismo de Clara é ímpar desde sempre, sendo bailarina clássica


desde jovem, e quando na Turquia, ganhou reconhecimento por suas apresentações
com públicos grandiosos, cerca de 70 mil pessoas por ano.

Em entrevista à Fatima Bernardes (2013), sua ida às terras Turcas se deu ao


seu amor à Dança, onde foi apresenter sobre as danças “Sufi”, uma dança típica de
lá. Fica claro também em entrevista à fotógrafa Paula Lobo (2012), quando diz que é
um sonho inesperado viver dessa paixão.

Após a imersão na Turquia trouxe conteúdos das danças típicas como a


dança do Tahiti, a Roman Havasi.

Conversando com bailarinas do Brasil nota- se claramente o carinho por essa


referência quando se trata de Dança Cigana Turca. Muitas comentam quando trouxe
a dança, trouxe também roupas para vender. Ministrou Cursos e Workshops para
109

diversas professoras de Danças Ciganas do Brasil como Juliana Lorenzoni, Lady


Agatha, Safira, Dunyah Zaidam, e em 2021 tive o prazer de ter aula com essa
grande pioneira.

16.18 ADENDO: CIGANA ILARIN

Ao realizar a pesquisa sobre os ciganos turcos, não pude fazer vista grossa à
“Cigana Ilarin”. Na Aula de Ciganos no Brasil é relatada que na religião brasileira
Umbanda, muitos de nossos povos que aqui chegaram a nossas terras brasileiras
mais tarde foram incorporadas no credo da Umbanda (“a Banda Do Um”, entre
tantas traduções, deixo essa aqui citada por SARACENI, 2012 e CUMINO, 2016).

Segundo o site WeMystic, a origem dessa


cigana espiritual provém e Punjabi na Índia, porpem
seu falecimento decorreu na Turquia, o que muitas
pessoas associam sua nacionalidade e pátria
espiritual no local de desencarne.
Seu aspecto de tez morena, com olhos
amendoados, e cabelos negros. Em vida, era filha
de uma tradicional família comerciante de jóias, e
um de seus principais adornos é o anel de
diamantes.
Faleceu decorrente a mal nos pulmões jovem aos 15 anos em uma viagem à
terras Turcas. Mesmo após sua passagem jamais Ilanin, a Cigana das Rosas Fonte:
abandonou seu grupo percorrendo Portugal, https://www.wemystic.com.br/cig
Espanha e Brasil auxiliando seu povo nas fugas ana-ilarin-a-cigana-das-rosas/
enquanto espírito. A partir de seus feitos mágicos que Bel- Karrano permitiu que
entrasse para a Áurea das Mulheres não ciganas.

Dentro da magia é conhecida por resgatar pessoas que se afastaram de seus


valores morais, culturais e religiosos. Ao “se perder”, ela ajuda a pessoa a se
encontrar novamente. Uma de suas frases mais conhecidas se tornou “Esta é a sua
purificação, da cabeça, do corpo e da alma”.
Sua imagem vem acompanhada dela abraçadas com muitas rosas vermelhas
simbolizando o amor.
110

17 BALCÃS

Em meados do século 19, ao saírem da Turquia sob Influência do Império


Otomano alguns ciganos vão para Região dos Balcãs, onde vão ficar localizados no
campo, e é também ali que passarão um dos piores momentos do marco histórico
Romani: a escravidão. São nessas regiões: regiões dos Balcãs, Romênia e Hungria,
em que os Roms passarão grande parte de escravidão. Porém nesse quesito, será
mais aprofundada nos capítulos seguintes, e nesse mais específico, a dança será
mais tratada.

A Dança dos Balcãs bem como muitas danças e países são influenciados
pela cultura otomana, e nessa região, essa cultura influencia suas danças e a
cultura. Os passos da bailarina Balcã vai se assemelhar com os pés da Húngara.
Um dos acessórios utilizados é o lenço, e o figurino, lembrar o do campo, fazendo
referência a essa data histórica e diáspórica romani.

Uma dança também vista associada à região dos Balcãs é a dança circular,
que tem a cultura ligada desse momento, com gestos sutis e graciosos dos pés. Pés
111

pequenos, graciosos, e dançados com mãos juntas (de mãos dadas com
companheiros) em um círculo.

Aqui deixa- se um breve comentário de que havia um chamado “Povo


Curpeche” que tem uma descendência muçulmana, e que era encontrado na região
dos Bálcãs, que são ciganos, Antiga Iugoslávia.
112

18 CIGANOS NA ROMÊNIA

Continuando a diáspora cigana, em meados do século XII após migrar para


Turquia, foram para Transilvânia,
Valáquia e Moldávia, atuais Romênia e
Moldávia (MOONEN, 2011), foi na
região balcânica que “dezenas de
milhares deles foram capturados e
escravizados, e isto até meados do
século 19” (pág. 24, MOONEN, 2011).
Não se sabe definir se foram prisioneiros de
guerra, ou se propriamente escravizados, ou ainda pessoas em extrema pobreza se
venderam para sobreviver. Hancock 1987 apud MOONEN, 2011 cita que
proprietários costumavam abusar das jovens ciganas, e seus descendentes
escravizados igualmente. Em 1837 que começou em Valáquia as primeiras
libertações de escravos ciganos (documentos históricos relatam que a Coroa libertou
4.000 famílias de escravos ciganos da igreja dos mosteiros), e em 1842, Moldávia.
Somente em 1855 em moldávia e em 1856 em Valáquia, que a escravidão foi
considerada ilegal, porém extinta completamente, em 1864 ao unir os dois
principados se constituindo a atual, Romênia.

Em sua maior parte os ciganos eram Roms Kalderash, ou seja, caldeireiros


(Hancock 1987; Fraser 1992 apud MOONEN, 2021) e segundo os autores, as
sombras do passado são tão fortes, que eles tentam esquecer, e esconder, pois
foram 500 anos de escravidão documentada e comprovada.

A cultura dos ciganos dessa localidade conseguiu manter mais do que os


ciganos de outras localidades do mundo, como o dialeto, a Kris Romani, que é uma
espécie de tribunal cigano, a Pomana, que é um rito funerário, que apesar de não
ser de origem cigana, e sim Balcã.

Ainda hoje é possível encontrar 6% da população nacional quantidade de


seus descendentes, em torno de 1.410.000 pessoas.
113

“Segundo outros autores, a população cigana seria aproximadamente 10% da


população nacional, ou seja, 2.500.000 ciganos pertencentes a no mínimo 40 grupos
diferentes, com auto-denominações próprias; 30% destes ciganos vivem nas
cidades e 70% na área rural. A maioria - cerca de 90% - é sedentária e estima-se
que uns 10% ainda viajam, mas apenas durante a primavera e o verão. Cerca de
60% dos ciganos romênos falam ainda o romani, mas muitos falam apenas romêno
ou húngaro”

(Helsinki Watch 1991b; Fox 1995 apud MOONEN, 2021).

18.1 A DANÇA MANEA OU MANELE

A dança dos ciganos da Romênia atravessa gerações. Passado esse


momento triste, a música e a dança Manea hoje é um fenômeno e já se torna
também algo já bem modificado pelo tempo, sendo mais “moderno”. Porém ao
performar no palco podemos ver o Manea em diferentes estruturas, como o “Pop
manea”. Mas aqui no presente trabalho falarei sobre um “geral” do ritmo, dança e
música, pois não é o objeto central da minha linha de pesquisa.

O Ritmo do Manea é 1, 2, 3, 4, e ele tem contratempo de base, Dum tak tak


Dum tak.

Trazendo para uma alusão brasileira o ritmo lembra o da “pisadinha” aqui do


Brasil (Banda “Barões da Pisadinha”, 2020- 2021) em que há a presença de
instrumentos musicais eletrônicos, agilidade musical tanto na forma de dançar
quanto de tocar e cantar.

Figurino que compõe é uma camisa social de botão, e uma saia com pouca
roda.

Se a Húngara lembramos como “a bela, a recatada, e a do lar”, agora na


Manea, pode- se criar a Manea como sendo mais jovem e despojada.

Alguns movimentos corporais que encontra- se na dança são as mãos que


são soltas, porém não é como as mãos da dança do ventre (que são bem leves),
114

mas não tem floreios; e lembra as mãos do Romanês. Lembramos que aqui estamos
no Leste Europeu, portanto, o Romanês se faz presente no corpo dançante!

19 CIGANOS NA HUNGRIA

Os Ciganos chegam à Hungria em


meados do século 14- 15 com a tomada do
Império Bizantino. Nessa região em algumas
documentações históricas eram chamados de
“Cigani”, com aquela alusão a “egipciano”,
“egiptano”, “gipsy”- Egito, por menção a serem “seguidores, descendentes dos
Faraós descendentes dos Faraós, ou originários do Egito.

Por onde se vê, e à medida que se estudam os ciganos, a cultura, e seus


costumes são vistos como “exóticos”. Não compreendidos por suas aparências,
formas, vestimentas, pele, e por vezes confundidos, como acima em sua origem e
identidade. Durante a passagem dos povos ciganos pelo mundo percebe-se
“curiosidades”, vamos assim dizer, certas peculiaridades, a fim de nos referir mais
adiante.

Uma delas foi uma passagem de século XVIII, Maria Teresa da Áustria
(FAZITO, 2006) em sua tentativa de proibir a cultura dos ciganos, e até mesmo de
serem chamados de uma etnia, que não fosse “novos Húngaros”. Eles para
permanecerem ali deveriam ser introduzidos no campo como camponeses, e não
terem cultura de ciganos nômades. Aqueles que não queriam seguir à coroa, que
não eram camponeses, não assimilavam a cultura local, e não demonstravam
interesse em seguir, seriam extintos do país.

Interessante dizer que não somente na Hungria, mas em diversos lugares se


passaram tentativas parecidas, projetos assimilacionista das minorias étnicas:

“Várias tentativas também foram feitas no sentido de assimilar ou exterminar


a “raça” cigana, pois, sendo ela uma “raça degenerada”, poderia haver duas formas
de combate: assimilar seus indivíduos, diluindo seus traços genéticos e seus
115

costumes entre a população “saudável”; ou o extermínio completo, eliminando tanto


sua cultura quanto sua herança genética. A primeira forma possui exemplos antigos
e modernos”. ((Liégeois, 1987; Hancock, 1987; Crowe, 1995; Stewart, 1997 apud
FAZITO, 2006).

No momento histórico pós II guerra mundial ocorre o “Bloco dos estados


socialistas” (União soviética e países satélites: Albânia, Bulgária, Hungria,
Iugoslávia, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e a República Democrática Alemã
(Alemanha Oriental)). Em 1948 a Iugoslávia se separa desse grupo, e a Albânia, em
1961. Hungria tenta sair do bloco em 1956, e a Tchecoslováquia em 1968 sem
conseguir por força maior através das tropas soviéticas.

Chega o período da queda do muro de Berlim em 1989 simbolizando o fim da


União soviética, e a Lituânia, Letônia e Estônia retomam sua independência. Nesse
momento países da Hungria, polônia, Romênia e Bulgária acabam desfazem de
seus partidos comunistas e iniciam eleições democráticas. A República Tcheca e a
Eslováquia surgem da Tchecoslováquia (ou seja, antes era uma, e agora são duas,
ocorre essa divisão).

Surge também a Nova Iugoslávia: Sérvia, Montenegro e Kossovo, e a


Iugoslávia: Bósnia Herzegovina, Eslovenia, Croácia, e Macedônia.

E por que é interessante contar esses fatos históricos? Pois é na Europa


Central que até os dias atuais que encontra- se a maior população romani no
mundo. Dados levantado por Liégeois em 1994 apud MOONEN, 2021:

“Albânia 90 a 100.000; Belarússia 10 a 15.000; Bosnia-Herzegovina 40 a


50.000; Bulgária 700 a 800.000; Croátia 30 a 40.000; Eslováquia 480 a 520.000;
Eslovênia 8 a 10.000; Estônia 1.000 a 1.500; [Grécia 120 a 140.000]; Hungria 550 a
600.000; Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) 400 a 450.000; Letônia 2 a 3.500;
Lituânia 3 a 4.000; Macedônia 220 a 260.000; Moldávia 20 a 25.000; Polônia 40 a
50.000; República Tcheca 250 a 300.000; Romênia 1.800.000 a 2.500.000; Rússia
220 a 400.000; Turquia 300 a 500.000; Ucrânia 50 a 60.000 (Liégeois 1994: 34)”.

A população romani na Hungria é estimada em 600.000 pessoas, o que


resulta em 5,7% da população nacional. Outras estimativas, no entanto, variam de
143.000 a 1.000.000 de ciganos (Fox 1995 apud MOONEN, 2021).
116

“Estes ciganos são divididos em pelo menos três grandes grupos. O maior
(70%) é formado pelos "Ciganos Húngaros" que vivem espalhados por todo o país; a
maioria fala apenas o húngaro. Outro grupo (10%) é formado pelos "Ciganos
Boyash", originários da Romênia e da Sérvia. O terceiro grupo (20%) é de ciganos
que a partir de meados do século 19 migraram da Transilvânia e Romênia, sendo a
maioria de ciganos Vlach (oriundos da Moldávia e Valáquia); falam vários dialetos
romani”.

E mesmo com as mudanças e inovações atuais, muitos ainda vivem com


medo do preconceito negando suas origens.

19.1 MÚSICA E DANÇA NA HUNGRIA, E COM OS CIGANOS NA HUNGRIA

A música e a dança que serão tratadas nesse capítulo se referem ao


grupo de ciganos “Vlach”, ou seja, Ciganos camponeses, que viviam no campo,
entre século 14 e 15.

A dança e a musicalidade dos ciganos Vlach se divide em 2:

1- Khelimaski Gili: estalar de dedos e jarros, e colheres, e vocais, que se


chama baixo orde.
2- Lokigili: Músicas para ouvir (e “músicas de mesa”) como costumam chamar,
também são canções fúnebres.

A mulher tem papel secundário na dança. O homem dança primeiro, e um pouco


à frente. Já a mulher dança mais quietinha”, “recolhida”. Essas são algumas
características específicas da forma de dançar.

O Ritmo é 1,2. 2,1;2,1;2,1.

Os Pés é o básico do Romanês adicionada à uma graciocidade típica e


pequenininha dos pés da forma de dançar dos Ciganos na Hungria.

Alguns passos: abre planta, movimento abre e fecha: segura a base (no
calcanhar) abre planta, fecha calcanhar, e fecha calcanhar). Movimento abre e
117

fecha: segura a base no calcanhar, abre planta, fecha calcanhar, e fecha calcanhar.
“Cavalinho”: mais rápido e num pé para frente, e outro para trás Estão presentes o
estalar de dedos nos tempos e contratempos:, shimmies superiores, pés específicos
como se fossem passos esmagando uvas, pode ser utilizado sapatinho de boneca
simples. Quanto mais rápido for, menor o passo.

A Criação do Personagem pode ter duas formas: 1-uma menina ou uma mulher
recatada, “do lar”;ou ainda 2- crianças camponesas.

O figurino é simples, pode ter trancinha, uma ou duas trancinhas, lacinhos nas
pontas.

Há a dança do bastão, onde a mulher não segura o bastão, só os homens


dançam com o bastão

O tempero da Dança Húngara, em específico aqui com a dança dos ciganos na


Hungria são os passos curtos e pequenos, mais acanhado, estalo de dedos,
movimento dos pés ágeis.

As czardas também são usadas pelos ciganos na Hungria.

Quando trata- se de danças características/ étnicas, fala-se da cultura de um


povo, e lembra-se que essa cultura à medida que evolui as décadas e séculos, as
roupas, as diversidades culturais e musicais também modificam a musicalidade e a
dança. Portanto, com as danças étnicas também. Ao levar a Dança dos Ciganos na
Hungria, especificamente a que agora estamos tratando, o figurino se refere ao
campo. Nos dias atuais, na Hungria e na mesma localidade, as mulheres já usam
jeans.

Cimbalon é um instrumento de
cordas, tipo um cordofone que
possui uma caixa trapezoidal nas
pernas com cordas de metal
esticadas na parte superior e um
pedal de amortecimento por baixo.
Sua origem é persa, e entrou na
118

música Húngara no final do Século VIII.

Cizinka Panna, Cingaban= mulher que tocava violino

20 CIGANOS NA GRÉCIA

Quando chega- se nesse ponto da nossa viagem com os ciganos pelo mundo,
aqui eles serão chamados de “Atsinganoi” relatados por um frade franciscano em
1322 quando pela Ilha de Creta, pessoas que se hospedagem em
tendas e cavernas, músicos e
adivinhadores nômades. Ainda na Grécia,
relatam turistas, mercadores ou peregrinos
europeus que iam a caminho da Terra
Santa, próximo do que hoje chamam de
Methoni, antigo Modon, no Porto Marítimo
Grego, que outrora era colônia de Veneza
(Foletier 1983; Liégeois 1988; Fraser 1992
apud MOONEN, 2021). Bandeira da Grécia. Fonte:
https://www.eurodicas.com.br/bandeira-da-
grecia/
Outra citação histórica é no século
15 quando ocorre a migração para Europa Ocidental, e seus discursos eram de que
vinham do Pequeno Egito. Esse discurso de que eles vem do Egito, já nessa parte
do trabalho já fica conhecida de compreender o porquê! Mas não custa Lembrar,
que é daqui a específico, que eles começam a receber a denominação nas outras
localidades por virem de uma região da Grécia, que confundida com o Egito.
Pensando: Grécia (Europa), Egito (África). Mesmo assim o termo “egípcios”,
“egitanos”, e daí começam os termos pelo mundo: Gipsy, em Inglês, Egypter
(holandês), Gitan (Francês), Gitano (espanhol). Apesar disso, MOONEN, 2021 faz
uma distinção dos termos quando diz que alguns grupos fizeram questão de definir
que não vinham especificamente do Egito, e sim da Grécia, e então chamados
“atsinganos”, no espanhol antigo: “grecianos”, no francês: tsiganes, português, e no
italiano: zíngaros.
119

20.1 MUSICALIDADE E DANÇA DOS CIGANOS NA GRÉCIA

Os ciganos aqui dançarão uma modalidade chamada “Tsifteteli”. E aqui de


uma forma, e uma vestimenta mais “recatada” que as que costumeiramente vemos
no Tsifteteli árabe.

O Tsifteteli possui movimentos sinuosos de quadril, e seu ritmo é embalado


num som agradável

Segundo Virna Lize, bailarina e residente desde 2008 da Grécia, o Tsifteteli é


uma das danças populares da Grécia. Segundo ela a partir de 1922 dá-se para
entender históricamente a união de diversas danças, pois foi através desse marco
histórico que a dança tsifteteli foi levada para a Grécia, em especial pelo gregos da
Ásia menor, onde mudou a região devido ao Império Otomano. E diga-se de
passagem, essa dominação durou 400 anos (século XV ao XIX), somente
retornando a independência em XIX.Nesse enlace cultural, haviam muitas pessoas
turcas e origem islâmica, bem como ortodoxa grega na Turquia.
Em 1922 houve uma guerra entre Grécia e Turquia, um desastre para ambos.
Com o resultado dessa grande catástrofe, houve uma grande mistura de povos:
gregos, turcos, armênios e árabes.
Com nova localidade, e uma tradição riquíssima, esses novos moradores
levaram consigo a fim de saudar a lembranças de sua terra materna. Pode- se citar:
Zeibekiko, Reibetiko (que inclui a Hassapiko e Tsifteteli).
Estudiosos contam que as mulheres dançavam o Tsifteteli em terras gregas
em menção à deusa Afrodite, porém na Idade Média com o Império Bizantino gregos
conversavam culturalmente com árabes e Oriente Medio. A dança que hoje se
conhece, em especial dos últimos 90 anos são alegres, modernas e engraçadas,
vistas em muitas festividades. As antigas falavam das tragédias ocorridas em
tempos remotos. Por isso hoje o Tsifteteli é considerada uma dança popular, e como
se dança popularmente pode ser vista dançada em casal: homem- mulher; mulher-
mulher; homem-homem. Sendo uma dança popular e típica se dançam em grande
quantidade de bailarinos em cena. Vê- se no palco dançarinos fazendo solo de
dança do ventre grega.
Esse nome tem origem turca, e vem de “Chifteteli”, que significa cordas
duplas. Outras culturas também dançam o tsifteteli, e os estilos tsifteteli egípcio, e
árabe são diferentes em especial no que se refere aos movimentos pélvicos (com a
pélvis para frente) e um leve cambrê. Movimentos de quadris arredondados, quase
que sendo um “arrastamento” dos pés, com calcanhares apoiados no chão, não
fazendo como no básico egípcio. No ritmo a acentuação das batidas é para cima em
sua maioria, e a dança para o chão. Sugestão da autora para livro: “Paradise Lost,
Esmirna 1922”.
Portanto, o Tsifteteli por ser dança popular grega, e a passagem dos ciganos
na Grécia irão fazer parte da cultura também Rhomá. Os ciganos irão dançar em
festas e eventos seus vestidos de festas da época, os Roms, com seus brilhos, e
irão dançar com a música daquela época. No palco irá representar essa data de
passagem documentada em torno de 1322: um bolerinho, uma saia com pouca roda,
e com esses movimentos sinuosos e grandes de quadril aliado aos movimentos da
pelve por influência otomana devido a esse marco histórico.
120

21 ROMANÊS

A dança Romanês é a dança que o grupo Rom dança. E nessa modalidade


incluem todos os países em que os grupos de ciganos são Roms, como por
exemplo, Ciganos na Romênia e na Rússia. Quando se fala “Romanês”, portanto, é
um estilo típico e tradicional para a dança dos ciganos Roms.

A mão nessa dança não é dedilhada como acontece quando dançada na


Rumba, e outros palos do Flamenco; no Romanê as mãos são delicadas,
“charmosinha”, e “mais simples”. Os pés são a base. O ombro é como se fosse uma
leve “quebradinha”, como se fosse um “shimmie superior”.

Um acessório cênico que pode ser usado na dança Romanês é o pandeiro


com fitas.

O figurino são saias com pouca roda. Aqui entra uma questão um tanto
“polêmica”. Ao falarmos sobre figurino, trata- se sobre roupa de bailarina, ou seja,
uma artista no palco, então é o mesmo que dizer que a roupa será uma roupa
característica, cênica, baseada na realidade da cultura daquele povo (PINGARILHO,
2019).

Indo de encontro a esse conceito, o figurino é o mais próximo do que


encontramos nas festas dos nativos (pessoas daquela cultura), ou seja, nas festas
tradicionais desse povo podemos ver os vestidos como se vestido de madrinhas de
casamento. Vestidos longos de festa, por vezes um boleto por cima compondo o
traje, e salto alto.

Outro pensamento recorrente para compor esse figurino Romanês é a


inspiração de como eles usualmente se vestem em seu dia-a-dia, ou se vestiram em
certa época segundo seu grupo étnico, no caso aqui os Roms.

. Portanto, ao compor um figurino Romanês, se pensa em uma saia com


pouca roda, um “cinturão cigano”, blusa com mangas esvoaçantes ou estilo
“ciganinha”, os vestidos com mangas longas, sem excessos de decotes por ali estar
representando um povo, uma etnia de um figurino tradicional.
121

22 RUSKA ROMA

Nesse capítulo é quando borboletas saem voando, sim! Sabe aquelas saias
maravilhosas, estupendas, coloridas, e que as
mulheres amam?! É aqui que encontra-se,
dentro da Ruska Roma.
Esse nome tão aclamado entre
as bailarinas, em especial aquelas
que amam um bailado florido e
alegre dentro das Danças Ciganas,
devem compreender enquanto etnia que
“Ruska Roma” trata-se de um grupo
descendente de romanis poloneses que
chegaram na Rússia no final do Fonte: https://i.ytimg.com/vi/_DNp5Ty4-U0/hqdefault.jpg
século XVII. Hoje são considerados o maior grupo cigano no país, sendo
encontrados em Bierolu Bielorrússia, Ucrânia, França, Canadá e
Estados Unidos (ANGEL, B., 2013).
Sua atividade laboral é comércio de cavalos,
musicistas, danaçarinos e cartomantes. A grande
maioria dos artistas
ciganos que vivem
na Rússia são Ruska
Roma. As músicas
eram afamadas pelos
camponeses. Em sua
grande maioria são
nômades, sendo que
usavam as estações
para a viagem: no verão
viajando, e no inverso
passava no campo,
usando as demais
atividades como seu
trabalho com os cavalos.
Na história, quando em 1812 (quando Napoleão invadiu terras
russas), como também no período da primeira Guerra Mundial (1914-1918), muitos
romanis saíram do país. Muitos foram exterminados até a década de 1930 em
perseguições e em campos de batalha.
No período de 1939-1945, findada a 2ª Guerra Mundial, os Ruska Roma
retornaram sua popularidade, fazendo com que até mesmo os demais ciganos
percebessem a Ruska Roma como a principal cultura dos Rhomá naquela região,
aceitando a cultura, e reproduzindo as músicas e danças.
Porém quando em diversos momentos do século XX suas artes foram
proibidas, como a literatura e a imprensa, entre esses momentos o decreto de
1956 quando houve a interdição da vida nômade. Com isso a cultura Romani
122

sofreu mudanças profundas, decaindo na década de 1990, perdendo sua


popularidade.
Na atualidade, a Ruska Roma tem ganhado novamente o apreço da
população sendo os convites para shows, casamentos e festividades aumentados.

22. 1 A DANÇA, A MÚSICA E O FIGURINO NA RUSKA ROMA

Fonte: https://www.quora.com/What-do-Russians-think-of-Roma-Gypsy-people

A origem da Ruska Roma segunda ANGEL, B.,


2013 é uma interpretação do Folclore Russo, no século
XIX, porém incluído de movimentos de danças ciganas
orientais e do Flamenco. O modo de dançar possui
chutes, giros bem rápidos, movimentos de ombros
braços, e movimentação de saias, todos esses
movimentos em tom “altivo”, grande e elegante.
Encontra- se presente o estalar dos dedos, e o
movimento rápido dos pés encontrados no Romanê.
123

Na música dá para se notar que é embalada por uma suave e doce melodia, e
aos poucos vai aumentando, ou seja, acelerando, e com isso a dançarina vai
também seguindo a muscialidade nos movimentos sendo muito rápida. Algumas
quando temrina a música chega a ser bem acelerada de
fato, tendo que essa bailarina ter habilidade para seguir Fonte:
https://www.facebook.com/caravana
o ritmo e a coordenação necessária. dovento/videos/dan%C3%A7a-
cigana-russa-
1930/590905814725403/
O figurino é um show à parte, pois as saias são extremamente encantadoras:
com babados, muito longas a fim de fazer o movimento altivo, grande e necessário a
fim de acompanhar o bailado da dançarina. Podem ser floridos, e coloridos. As
blusas são aquelas usadas pelas Romis: esvoaçantes, com mangas longas, para
também proporcionar encanto no dançar. Os acessórios são brincos, colares,
pulseiras, flores, lenços na cintura. Exemplos de figurinos e composições que podem
ser feitas são encontrados no filme “Os Ciganos vão para o Céu (1975)”, é um dos
exemplos das composições que podem ser feitas.

A Ruska Roma de fato levanta quem está parado pelo encantamento das
saias, pelo colorido, brilho, vigor, e liberdade!

22.2 TEATRO ROMEN

Teatro Romen em Moscou

O Teatro Romen abriu as portas no dia 24 de janeiro de 1931, com o nome


“Estúdio de teatro Romani ‘Indo- Romen’”, localizado em Moscou, Rússia
(TYSHLER, 1966). Um mês após sua abertura realizou sua primeira apresentação.
Teve como primeira equipe: o diretor e o primeiro compositor musical de "Indo-
Romen" ativistas judeus, Moishe Goldblat e Semen Bugachevsky. Alexander
Tyshler foi mais frequentemente convidado para cenografia.
Na data de 16 de 1931 o musical dramático Life on Wheels (em russo: Жизнь
на колёсах ) foi encenado, baseado na obra peça do autor Romani Alexandr
124

Germano . Após essa apresentação, o estúdio foi renomeado para Romen


Theatre. O primeiro diretor de teatro foi Georgy Lebedev (um Rusko Rom).
Até então as peças eram em Romani, posterioramente adaptadas em Russo
a partir de 1940.
Em 2008 do
diretor teatral ficou
sendo Nikolai
Slichenko, grande
ator Romani
afamado na
Rússia.

Uma foto sem data


representando "The
Gypsy Theatre" na
URSS, da Coleção de
Teatro Billy Rose da
Biblioteca Pública de
Nova York .

Para Nikolai Slichenko, um teatro cigano era mais do que um lugar de


apresentações, mas sim um espaço que produzia um festival de folclore utilizando
técnicas dramáticas segundo ele “a paixão que queima nos ciganos e lhes dá um
esplendor simbólico”.

(...) os pés descalços já estavam avançando ao longo de um caminho que levaria a este povo para a
sua maturidade, torná-lo uma parte orgânica da comunidade humana, e levá-lo para a renovação
espiritual. Convidamos o público a participar da dança de Esmeralda, o mais breve e apaixonado
como a sua vida, em meio às multidões barulhentas de Paris medieval. Queremos transmitir aos
nossos públicos alguns dos nossos conhecimentos da força irresistível do amor, tão bem ilustrado
pela impetuosa Carmen. E o cigano russo Masha, depois de perfurar o coração de Fedia Protassov
no de Tolstoi "Viver Perfeição Elusive". (Ciganos no Teatro por Nikolai Slichenko )
125

Utilizando a dança e o canto trazia muito mais que o folclore imbuído de


inspiração autêntica, mas também um espaço em que os próprios artistas também
com o passar do tempo se desenvolveram. Slichenko conta que desde a
inauguração muitas dificuldades foram encontradas como o analfabetismo entre os
artistas, que eram quase que a metade deles. Os textos tinham que ser decorados
de forma oral e através de constantes repetições. Porém foi com mesmo as
dificuldades que esse povo persistiu ao seu modo em preservar sua vitalidade e
criatividade usando da poesia para lembrar seus antepassados. Mesmo tendo
passado por diversos lugares e com tantos ocorridos, e diversos destinos, sempre
foram eles mesmos.
126

“Vida sobre Rodas" (encenada em 1931). Foto dos arquivos G.I.Uvarovoy

O teatro para além das cenas é lugar de criar forma do pensamento livre e
“para a formação da consciência de um povo”. Nikolai sabe da importância dessa
construção, e da autoestima para a identidade cigana artística e cultural, o
fortalecimento da memória da existência do povo Romani, que o teatro Romen traz
como missão, já que foram os primeiros a ter um teatro profissional.

Este teatro experimental foi inaugurado solenemente em 24 de janeiro de


1931.
O Teatro Romen adquiriu tanta consistência que fez turnê em 1982 no Japão,
com a peça “Nós, os ciganos”, uma das quinze peças de seu repertório. Ora,
Japonês e Russo se compreendiam? Como foi essa tradução? Pois bem, Nicolai
conta que depois de se apresentarem por seis semanas para casas lotadas, em dias
com mais de dois mil espectadores, as músicas e as narrativas não precisavam se
fizer entender racionalmente, já que pela expressão artística já era suficiente. O
público com os aplausos os aplaudia muitas vezes e isso se fazia ser o retorno que
precisavam para entender de que ali já havia a comunicação. O Signatário japonês
Okada Yoshika, expressou seu deleite ao dizer que "Suas canções se assemelham
às nossas músicas tradicionais, mas diferem acentuadamente em seu espírito
apaixonado".
127

“Vida sobre Rodas" (encenada em 1931). Foto dos arquivos G.I.Uvarovoy

Teatro Cigano Contemporâneo (meados da década de 70 e 80)


128

22.3 NIKOLAI SLICHENKO

Nikolai Slichenko, Nascido em 27 de Dezembro de 1934, na Rússia, em plena


2ª guerra mundial. Seu pai assassinado na sua frente, sua infância continuou não
sendo fácil tendo sendo criado junto à família em uma fazenda coletiva romani, onde
os pequeninos também trabalhavam na lavoura tanto quanto adultos. Desde muito
cedo sua veia artística era notória, já que gostava de dançar e cantar, quando em
1951 começou no Teatro Romen, sendo auxiliar, e em pouco ganhando destaque.
Dedicou sua vida às artes, obtendo grande reconhecimento. Diretor-chefe do Teatro
Romen, desde 1977, tem seu nome cravado na Star Square em Moscou e em 1981,
recebeu o título de “Artista do Povo” da URSS. Faleceu em 02 de Julho de 2021 aos
87 anos.

Nikolai Slichenko Fonte: https://chernayakobra.ru/died-actor-nikolai-slichenko/


129

24 CIGANOS NA ESPANHA

Os Ciganos na Espanha chegaram por


volta de século XV na Espanha (MENINI,
2016).

Um dos palos mais dançados pelos


ciganos, bem como pela população
espanhola, em especial em momentos festivos e
alegres são as Rumbas. Rumbas é um palo de ida y vuelta, ou seja, ritmo que
passou por influências de trocas culturais de diversos países e regiões, como o
contato da Espanha com Cuba. Essas trocas não só se fizeram através da
musicalidade, como também do vestuário, como é o caso do mantón de Manilla que
ao chegar aos portos na Espanha, eles eram simples sedas que serviam para
envolver os charutos cubanos (JIMENEZ, 2012). As espanholas admiradas com o
tecido incrementaram com bordados de flores e franjas, e tornou-se o que hoje
conhecemos como Xale espanhol e os enormes mantóns. Algo muito semelhante foi
também o caso dos leques provenientes da China (PELAES, 2018). Ao chegar à
Espanha com os belos dragões chineses foram substituídos pelas flores
estampadas, e coloridas das espanholas, se tornando o abanico (leque pequeno), e
o pericón (leque grande).

O Leque é de origem oriental, entre China e Japão, bem como o xale. Ele
chega à Espanha por volta de 1821 (DONOSO, 2013) vindo das Filipinas, por isso o
nome Mantón de Manilla (Manilla, Capital das Filipinas).

O Leque surge nos séculos XVII a XX pelas elites européias a fim de menorar
o calor, além de se tornar um adorno para as mulheres. Além da Europa, foi feito
presença na Ásia, partes da África e da Oceania. Um nome português, abreviado em
“abano léquio” fazendo uma alusão às Ilhas Léquias, situadas ao Sul do Japão.

Na Antiquidade e no período Medieval foram usados como arma branca e


para uso decorativo, onde seu surgimento remonta os séculos VI e VIII.

No Egito, Assíria, Pérsia, Índia, China, Grécia e Roma, grandes civilizações


fizeram uso dele, sendo símbolo de Feminilidade e poder. Em meados dos séculos
XII e XIII chagam na Europa através das Cruzadas através do Oriente, sendo que só
130

no século XVI pelos Portugueses foram levados os primeiros leques para suas
colônias da Ásia que começou o grande modismo.

Impossível falar da grande presença dos leques no teatro japonês Kabuki e


Noh, que eram usados a fim de acentuar os movimentos de Dança.

As sedas que faziam os xales das espanholas se originaram da época da


colonização, os tabacos que chegavam a Sevilha (DONOSO, 2013) vinham da
China através de Manila. Eles então eram ampacotados em telas de seda a fim de
absorver a umidade para proteção de sua qualidade. A seda não tinha importância,
apenas os tabaco, porém quando chegaram à Espanha, as mulheres se encantaram
as mulheres que trabalhavam na fábrica, e então cortaram e adicionaram franjas.
Tempos depois as bailaoras e cantaoras passaram a usar em suas apresentações.
Aos poucos as espanholas foram substituindos os enormes dragões por flores e
pássaros, e assim reinventando esses artefatos, e colocando o tempero espanhol.
tituídos por flores e pássaros, adaptando-se ao gosto local. Com o passar do tempo
a alta sociedade foi refinando esses mantóns deixando-os cada vez mais nobres,
com belos bordados com temas variados, e em diferentes tamanhos.

A palavra leque vem de origem Portuguesa “abano léquio” sugerindo uma


origem às Ilhas Léquias situadas a Sul do Japão (PELAES, 2018) nos períodos dos
séculos XVII a XX a fim de abrandar o calor aliado a seu uso estético. Muitos
autores sugerem a origem entre os séculos VI e VIII no Japão, já alguns outros
desde surgimento do homem, sem contar com as lendas e os mitos que envolvem
esse objeto. Diversas civilizações se utilizaram dele como o Egito, Assíria, Pérsia,
Índia, Grécia e Roma para simbolizar poder e feminilidade.

Palos são estilo musicais, e a Rumba é considerada um palo de ida y vuelta,


ficando, vamos assim dizer no tronco dessa grande árvore genealógica do
Flamenco.
131

Fonte: FERREIRA, 2021.

24.1 O FLAMENCO

O Flamenco é considerado pela UNESCO desde 2010 (Folha de São Paulo,


2010) patrimônio imaterial da humanidade. É considerada uma Dança Folclórica, e
ao mesmo tempo característica (FERREIRA, 2021). Folclórica, pois foi passada de
geração em geração, faz parte da cultura de um povo e com o passar do tempo
historicamente vai criando novas formas à medida que a cultura e sociedade
também mudam; e mais tarde foi para o palco sendo uma dança característica, pois
hoje é ensinada por professores em escolas de dança e possui método próprio de
ensino.

Flamenco é cante, é baile, é guitarra, é cultura! Está enraizado na cultura


espanhola e surgiu em meados de 1492 no Sul da Espanha, (Site Flamencópolis)
nas regiões de Andaluzia, Estremadura, e , em especial nos bairros pobres ciganos.
Os povos que ajudaram a criar essa cultura foram os mouros, os judeus, e os
Ciganos.

Segundo o site Headinghometodinner.org fica difícil compor uma data certa


para origem dessa cultura, pois só foi documentada durante dois séculos. “Reza a
lenda” que para fugir da Inquisição Espanhola, Judeus, Mouros e Ciganos
escaparam para as montanhas. Na união musical destes grupos originou o que
132

conhecemos como Flamenco, porém o povo que deu continuidade na disseminação


foram os ciganos.
Durante muito tempo ouviam Flamenco nos bairros pobres, periferias, onde
habitavam os ciganos, sendo assim no século XVIII foi se evidenciando nas aldeias
e vilas em Andaluzia, já que diminuiu a perseguição aos gitanos (Ciganos na
Espanha). Os habitantes do local achavam exótica essa música deles, e os convites
começaram a surgir em festas da alta elite.
Chama-se Idade de Ouro do Flamenco a fase de 1850 a 1910, em que os
shows começaram a se popularizar, e os cantaores se tornaram reconhecidos.
A seguir mostra-se uma tabela cronológica do site Flamencópolis:

Flamenco de tablado é aquele que tem músicos tocando instrumentos.

Flamenco de teatro é quando os artistas vão se apresentar.

Flamenco acadêmico trata-se das escolas de dança.

Flamenco popular que é o Flamenco de rua, aquele dançando nas festas.


133

24.2 AS RUMBAS

As Rumbas se popularizaram por volta de 1960. É considerado dentro da


árvore genealógica do Flamenco, um palo de ida y vuelta, o que quer dizer que
passou por fusões culturais e outras direções, como o caso com Cuba. Palo
quaternário, compás de 4 tiempos, velocidade rápida para bailar, braço redondo
plexionado, pés em linhas. O Ombro é “seco”, ou seja, não é solto como quando se
dança no Romanês, bem como o quadril, em que não há muitos movimentos
circulares. Algumas referências para Rumbas: Pescadilla Antonio Flores, e Lola
Flores.

Rumba é sempre Rumba, porém quando há uma influência maior em certo


tipo de Rumba com a cultura de determinada região, apadrinhou- se grupos, como
certos “estilos”, como é o caso da Rumba Catalã e Cubana.

Rumba Catalana ou à catalã: mais debochada e solta. Cataluna, catalão, que vem
da Catalunia. Começo do século 20. Peret surge em 1950, e estoura em 1960, é o
Rei da Rumba Catalã. O ritmo é rápido, e em determinadas momentos da música
ouve- se um som como um “ventilador”.

Rumba à Cubana: seus passos são realizados mais para “baixo”. Imita a briga dos
animais. A musicalidade mostra com instrumentos de percussão como o chocalho. O
modo de dançar também traz quase que uma peculiaridade que é o lenço, muitas
bailarinas usam esse lenço na Rumba Cubana, ou Rumba à cubana.

Rumba Flamenca ou Gitana: tem esse nome por uma definição geográfica, é a
rumba mais próxima do Flamenco.
134

Rumba com acessórios cênicos: podemos usar abanico, pericón, xale, mantón,
lenço, sombrero (chapéu de asa dura).

24.3 ZAMBRA

Outro estilo dançado na Espanha é a Zambra. Por volta de 1492, na chegada


dos ciganos, os mouros* estão sendo expulsos. A musicalidade tem grande
influência árabe, e é mais lenta se comparado à Rumba, porém seus passos e
gestos se assemelham.

25 CIGANOS NO BRASIL

A iniciar falar de ciganos no Brasil é preciso entender o contexto etnográfico


que se deu ao chegarem aqui. De que maneira, em que modos, e quais
circunstâncias foram sua vinda. Para tanto será discorrido primeiro sua passagem
da Espanha a Portugal até terras brasileiras.

25.1 A HISTÓRIA DOS CIGANOS EM PORTUGAL


135

Continuando o Mapa da Diáspora Cigana, e a fim de entender a chegada dos


ciganos no Brasil, começa-se esse enredo compreendendo como foi a passagem
deles em terras lusitanas. Os primeiros ciganos em Portugal, em torno de 600
romanis através das divisas entre Espanha e Portugal (MENINI, 2014 apud
COELHO, 1892). Porém, apesar da quantidade não ser exorbidante, não foi invisível
sua chegada. Uma das primeiras referências a esse momento é de Gil Vicente em
“O Auto das Ciganas” em que mostra os primeiros conflitos e as manifestações em
formas de petições para a não permanência desses novos moradores em Portugal.
Ora, pois, em 1525 após a população queixosa e petições sendo realizadas as
petições foram realizadas das Cortes de Torres Novas, e em 1535 que as “Petições
de Évora” onde havia relatos de furtos e feitiçarias em que os ciganos no reino
negavam foram também realizadas, manifestando o desejo da retirada desse grupo.

GRUPO DE CIGANOS ALENTEJANOS INDO PARA A FEIRA DE ALTER-DO-CHÂO (O velho e a


mulher à esquerda são os pais dos outros ciganos, excepto da mulher à direita, casada com o
homem que está junto dela) Fotografado no Almarjão por A Neuparth, fot. Amador Fonte: img-1.jpg
(1062×657) (openedition.org)

Não bastando os instrumentos escritos (petições), o “incômodo


social”(MENINI,2014), a “atmosfera” hostil contra a presença dos romanis em
Portugal, foi em 1538 que as reinvindicações das Cortes começaram a de fato
ficarem mais duras. Através do Monarca Dom João III foi categórico nessa época
ao proibir entrada no Reino de Portugal sob a pena de prisão, açoites,
confiscos e expulsões. É nesse mesmo marco histórico que ficou estabelecido que
os “naturais do Reino” (ciganos nascidos em Portugal) não seriam expulsos, mas
degredados para as colônias portuguesas ultramarinas na África. No ano de
136

1549, a então colônia do Brasil passou a ser uma opção de destino para essa
degredação.

“Eu El Rey faço saber aos que este Alvará virem que por se ter entendido o grande
prejuízo e inquietação que se padece no Reino com uma gente vagabunda que com
o nome de siganos andam em quadrilhas vivendo de roubos enganos e embustes
contra o serviço de Deus e meu, Demais das ordenações do Reino, por muitas leis e
provisões se procurou extinguir este nome e modo de gente vadia de siganos com
prizones e penas de asoutes, degredos e galés, sem acabar de conseguir; e
ultimamente querendo Eu desterrar de todo o modo de vida e memória desta gente
vadia, sem assento, nem foro, nem Parochia, sem vivenda própria, nem officio mais
que os latrocínios de que vivem, mandey que em todo Reyno fossem prezos e
trazidos a esta cidade, onde serião embareados e levados para servirem nas
conquistas divididos.

(MENINI, 201 APUD COELHO, 1892 (pág 12)): COELHO, Francisco Adolfo. Os
ciganos de Portugal com um estudo sobre o calão. Lisboa: Imprensa Nacional, 1892.
21 Lei XXIII de 1538. Volume: Capitulo de cortes e leys que se sobre os siganos
fezeram. Disponível em: COELHO, Francisco Adolfo. “Apendice documental” In:
______. Os ciganos de Portugal com um estudo sobre o calão, 1892. 22 ANTT.
Decreto de 15 de fevereiro de 1549. Maço 82, Doc. 52, N° 10665

Em 1592, período onde as Coroas Ibéricas se uniram, foi reforçada uma


repressão no que se refere- se ao modo de viver (nômade), sua cultura, suas
vestimentas criando-se esforços aos romanis nascidos em terras lusitanas a fim de
aderirem às normas da sociedade portuguesa.

Em maio de 1654, um documento Alvará relatava que a população da Vila do


Pombal se mostrava intimidada na presença dos ciganos, e com essa
documentação ordenava as justiças dessa Vila, a expulsão deles. No mesmo ano,
em Setembro, o Visconde de Vila Nova de Cerveira recebeu do monarca português,
D. João IV, a ordem para aprisionar todos os ciganos que encontrasse em Portugal,
e destinasse para as conquistas ultramarinas.
137

No período de 1707-1750, qual reinado de D. João V, foi quando ocorreram


as perseguições ao Romani, e as degradações dos ciganos de Portugal para o
Brasil. Em documentos históricos mostra-se a data de 1708 um Alvará ordenando a
proibição de comportamentos culturais dos ciganos nascidos no país, se não
atendido, a pena seria a degredação das mulheres às terras brasilienses , e dos
homens para galés.

Como se vê, por todo percurso em Portugal, os ciganos passaram por


diversas formas de discriminações. Era acusada de crimes, sua cultura não era
aceita e seu modo de vida e de ser era visto como errante. Sempre os errantes
numa cultura européia de sua maioria cristã foram deturpados culturalmente em
terras lusitanas sendo acusados de serem uma ameaça social, religiosa e moral.
Vistos como pecaminosos por não atenderem aos “bons costumes”, ou seja, aos
costumes de Portugal, e como cita MENININ, 2014: “conformação étnica no
mundo lusófono”. Autoridades seculares inquisisitoriais da época não
compreendiam a identidade cigana como, por exemplo, o comportamento cultural
de “buenas dichas” (“leitura de mãos”) tão comuns como atividade laboral para esse
povo. Seus trajes, sua língua caló foram reduzidos ao puritanismo em suas “Santas
missões” das autoridades reais e eclesiásticas da Coroa Portuguesa, que
pressionaram de todas as formas a saída dos calons de Portugal, sendo os
indesejáveis do reino (MENINI, 2014).
138

Trecho do documento que proibia os Ciganos no Reino (D. João V)- Fonte: Anexo da Aula: “Ciganos
no Brasil” Curso de Aprofundamento em Danças Ciganas (APDC) Lady Agatha, SP, 2020.
139

25.2 JOHÃO DE TORRES, 1574: O PRIMEIRO CIGANO A SER DEPORTADO


PARA O BRASIL

Já sabido da trajetória percorrida pelos ciganos em terras lusitanas, nesse


capítulo dá-se ênfase à primeira deportação dos primeiros Calons para terras
brasilienses. Documentações históricas marcam a data de 1574 quando o então
“Çyguano preso Johão de Torres no lymocyro” (Coelho, A., 1892), sua mulher
Amgylyna, e seus filhos foram degredados para o Brasil (Coelho, A., 1892; Teixeira,
2009). O documento ainda prevê que João deve permanecer durante 5 anos em
terras estrangeiras. Caso o degredo não siga o recomendado, a pena seria o açoite
público com “baraço e pregão”, ou seja, com cordas e pregos.

Como vê- se abaixo no documento, mostra-se o degredo, é visto a acusação


da justiça, porém não se sabe ao certo qual crime cometido. Mostra que Johão
passou as informações de sua origem, sua estadia e de sua família, porém não fica
claro o que cometeram criminalmente.
140

Archivo Nacional Liv. 16 de Legitim D. Seb. e Henr., Fl. 189. Apêndice I


Documentos No. 5 do livro "Os Ciganos de Portugal: Um estudo sobre o
Calão” de Adolpho Coelho, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.
141

Nesses diálogos históricos entre registros, e fatos, e a sucessão dos


“incômodos sociais” (MENINI, 2014) desde a chegada dos ciganos em Portugal,
pode-se pensar no Teixeira, 2009 levanta onde o maior crime do primeiro degredado
foi o de ser cigano.
Não há vestígios até a presente pesquisa de outro fator. Após esse incômodo,
as palavras do cigano foram que “era fraco e quebrado, e não era para servir em
coisa de mar e muito pobre, que não tinha nada seu”, pedindo para ir para o Brasil
eternamente. Algumas informações ficaram incompletas na história como o número
de filhos de João e Angelina, se ele de fato chegou no Brasil, se ele embarcou no
navio, aonde desembarcou, nem se voltou para Portugal, porém é quase que
unanimidade quando se tratam das pesquisas históricas indicar João de Torres
como o primeiro cigano a chegar no Brasil.
Contudo, foi a partir de 1686 que as deportações de ciganos portugueses
começaram em maior número para o Brasil com destino ao Maranhão, na intenção
de povoar os sertões nordestinos, então ocupados pelos índios. Antes eles eram
enviados para a África.

25.3 REFERÊNCIAS DE ALGUMAS DATAS IMPORTANTES PARA O ESTUDO DO


TEMA DE CIGANOS NO BRASIL

1686: quando aumentou o número das deportações de ciganos portugueses para o


Brasil com destino ao Maranhão, na intenção de povoar os sertões nordestinos.

1718: João V usou uma forma de exposição pública e a fim de usar um status
criminoso para os ciganos em que foi deportado acorrentados mostrando à que via a
cena o esforço do Reino pelo controle social contra os ciganos (TEIXEIRA, 2009
apud DONAVAN, 1992). Essa ordenação imediata foram de 50 homens, 40
mulheres e 3 crianças que estavam detidos na prisão municipal de limoeiro.

Séc. XVII (fins): mostra a presença dos ciganos logo após as descobertas nas Minas
de Ouro em MG. Porém foi a partir de 1718 que diversas famílias ciganas foram
juntas para Minas, entretanto a presença deles só é documentada no início do
Século XVIII.

1726: São solicitadas medidas contra ciganos a fim de serem retirados dentro de 24
horas sob a pena de serem presos em São Paulo. A alegação de andarem com
jogos e outros perturbações. Em 1760 também em São Paulo, vereadores se
reúnem para pedir que se retirem num prazo de 24 horas da cidade cuja alegação é
142

que esses homens, essas mulheres e suas crianças vieram de Minas Gerais com
queixas de desagrado, e com expulsão por más condutas. E a história continua
como diz Teixeira, 2009, de MG para SP. De SP para o RJ, que expulsa para o
Espírito Santo, que a expulsa para Bahia, onde são novamente expulsos para Minas
Gerais, e assim sucessivamente.

Início do Século XVIII: encontra-se a presença dos ciganos no Rio de Janeiro, em


especial nos lugares de grande insalubridade, brejos, e locais de grande
desvalorização, como o que viria a ser o Campo de Sant’ Ana, que mais tarde ficou
conhecido como Campo dos Ciganos. Depois, em 1821 foi nomeado como Largo do
Rossio, que hoje chama- se Praça Tiradentes (TEIXEIRA, 2009). Essa ocupação
durou o período entre 1779 a 1790, ao iniciar o saneamento da localidade por Luis
de Vasconcellos e Sousa, fazendo com que os Ciganos se retirassem depois da
melhoria (VIANA, 2018).

O período que antecede a independência do Brasil foi quando os Romanis


tiveram maior aceitação da Corte, e nesse mesmo período que alguns tiveram
alguma ascensão, como o caso do cigano José Rabelo que ajudou artisticamente
muitos outros ciganos e patrocinava as danças para a Corte. Uma dessas
ilustrações remonta o período de 1813, na festividade do casamento da Princesa da
Beira, filha de D.João VI.

Porém conta documentações de 1823, ciganos foram acusados de furtos no


interior do país, já não eram mais chamados para as festividades. E o que em 1810
o reduto da alegria e da arte do Campo dos Ciganos, que compunha artistas e
estrangeiros, no final de 1820 foi se extinguindo, retornando a velha fama de
“ladrões e trapaceiros” (VIANA, 2018).
143

Interior de uma habitação de ciganos, em trabalho de Jean Debret Novo Milênio: Histórias e Lendas
de Santos: Ciganos inspiram estudo universitário em 2010 (novomilenio.inf.br)

25.4 DANÇA CIGANA NO BRASIL

Segundo TEIXEIRA, 2009 e VIANA, 2018, a Princesa da Beira, filha mais


velha de D. João VI casou com um infante proveniente da Espanha quando em
1810, onde Ciganos estiveram presentes dançando o Fandango Espanhol.
Mello Moraes Filho em “Um casamento de Ciganos em 1830” relata sobre
suas observações: “Erguiam- se brindes, rasgavam- se cumprimentos, bebia- se
com entusiasmo à saúde do ditoso par. Ao anoitecer, as danças, os chorados de
viola, os fandangos, aos brilhos das luzes nas mangas de vidro e nas serpentinas,
ao aroma encantado das flores nativas exornando as portadas e os aparadores
magníficos” e ainda: “E o bródio recomeçava, acordando a noite com o sapateado
dos fandangos, o sonido das violas e as cantilenas meigas e plangentes (...)
(p.200)”.
Daqui de instrumento histórico dá-se para entender é que os ciganos
chegaram no Brasil trazendo sua cultura. Do Grupo Calon, os Fandangos, e os
outros grupos, o que na pesquisa até aqui não tem- se referência até então,
pressumi-se que também. Do que são percebidos em acampamentos eles usam a
musicalidade e danças locais como o Forró, e vão se adaptando, na medida em que
vão se regionalizando, e criando uma musicalidade atualmente chamada “Modão
Cigano”.
144

25.5 A CULTURA CIGANA DOS CIGANOS NO BRASIL

Os ciganos são como camaleões, ao mesmo tempo em que possuem suas


peculiaridades e sua forma de viver e conviver, conseguem se adaptar ao local em
que estão. No caso dos Ciganos no Brasil, não foi diferente. Ao adentrar em terras
brasileiras, se adaptaram à música, à comida, e às vestimentas como vemos a
seguir nas fotos adiante.

Ciganos Calón em trajes tradicionais Como os povos ciganos ajudaram a construir a identidade
brasileira - DiversEM - Estado de Minas.

Apesar de saber enquanto pesquisa que há diversidade de cada família e não


há uma só cultura, e sim uma “policultura”. Já cita: TEIXEIRA, 2009:

“os ciganos são múltiplos e unos. Nenhum cigano conhece todos os detalhes
da identidade em que está inserido. Tal como não conhece o espaço cultural que o
comporta, não sabendo, pois ler todo o seu ‘mapa cultural’ (...). Cada cigano é
portador de um conjunto singular de elementos dessa identidade, embora não haja
uma noção de individualidade tal como no mundo ocidental” (Ciganos no Brasil: 22).

Os Romani que estão inseridos na cultura brasileira foram criando identidade


cultural (se assim pode-se dizer) ao conhecer a cultura brasileira tamanha
145

diversidade cultural também brasileira. E cada família irá levar sua própria
peculiaridade cultura passada de família para família.

Aluízio e sua família, todos ciganos da etnia Calón Fonte: Como os povos ciganos ajudaram a
construir a identidade brasileira - DiversEM - Estado de Minas

Com isso, singularidades deverão levar-se em conta, como a singularidade


religiosa, as mudanças subjetivas em que a mudança da localidade irá influenciar
também. Os Ciganos no Rio foram se adaptando ali, os do RS também, porém
ficou- se compreendido de que mesmo estando em terras brasileiras e adaptando-
se aos costumes brasileiros, os primeiros que chegaram aqui foram os Calons por
todo estudo apresentado até aqui.

26 CONCLUSÃO

Gibran Nasrallah Mamari é o nome que ficou conhecido na história da minha


infância em que minha avó contava sobre meu tetravô, de descendência libanesa,
sobre seu avô (avô de minha avó). Ela me contava suas histórias e seu contato com
ele.
146

Fui uma criança que passou boa parte com a minha avó, então posso dizer
que tenho muitas histórias de família para contar, entre elas de que quando Gibran
chegou ao Brasil, trocaram seu nome por Gabriel. Dados que anos depois pude
reconhecer com verídicos ao ver no túmulo da família escrito em visita ao cemitério
Francisco Xavier, mais conhecido como “Cemitério do Cajú, no Rio de Janeiro. Foi
na construção do presente trabalho que pude também adentrar maiores detalhes de
sua origem no Consulado do Líbano no Rio de Janeiro, em que há o cadastro dos
primeiros libaneses que vieram para o Brasil.

Ele chegou até aqui com um montante em dinheiro que deu para montar um
comércio no Saara, bairro em que se reúnem muitos árabes no Rio de Janeiro. Até
então foi essa a história ágrafa passada pela minha avó, na construção do trabalho
fui pesquisando sobre a diáspora libanesa e encontrando muitas informações e
fatos, unindo a informações de família e de história que mostro a seguir.

Minha avó conta que conheceu minha teravó Edwiges e se casaram. Tiveram
seis filhos. De fato os dados do consulado mostram que o nome da esposa e seis
filhos, confirmando a versão da minha avó. Esses seis filhos são: Demétrio, João,
Jorge, José, Alberto, e Rosa Mamari (minha bisavó). O que confirmam essas
147

informações no total de seis filhos de Gibran no próprio site do Consulado, e o nome


de sua esposa, minha tetravó.

Rosa Mamari casou com Edward Lacerda Freire e tiveram 4 filhas: Lourdes
Maria Freire Mamari (minha avó); Cele; Sônia e Wanda. E o sobrenome Mamari aqui
nesse caso se perdeu, perpetuando nesse núcleo, os “Freires”. Minha avó casou-se
com Máximo do Amaral, deixando de ser Mamari.

E aqui conto toda essa história familiar para dizer que sempre tive uma
vontade enorme de descobrir sobre minhas raízes orientais, porém nunca tinha
justificativa aparente para tal. Ao realizar o estudo profundo da etnia cigana, me veio
o desejo de entender também a minha própria história. E os ciganos têm isso de
fantástico porque percorrem o mundo, então podemos conhecer um pouco de cada
parte, não necessariamente específica, mas aquela parte até mesmo próxima, como
no meu caso, que escolhi a Turquia na esperança de conhecer certa familiaridade.

E de fato, pois quando no Império Otomano, os libaneses em também sua


diáspora- já que esse povo teve sua diáspora peculiar- (e aqui compartilho de um
desejo pós TCC de me aprofundar nesse tema, pois no enredo TCC em tema
Cigano, foi quando surgiram pesquisas atreladas ao Líbano, inclusive conhecendo
historiadores que conversam entre si em suas pesquisas de origem turca e libanesa,
o que fica muito interessante!), e nesse período histórico (otomano) ao chegar
aqui os novos moradores vinham com um passaporte carimbado do Império
Otomano (FALA Árabe, 2016), ou seja, TURCO. E daí surge a generalização
deturpada dos árabes no Brasil como Turcos. Os narizes grandes, as olheiras
fundas, a estatura alta, a tez por vez mais morena, os cabelos escuros soa como
sendo um povo “turco”, também colcaborado por esse período histórico na
humanidade, em que meu tetravô fez parte.

Conversando com minha mãe, ela relata inclusive que Gabriel Mamari
gostava de deixar bem claro que ele era “sírio- libanês”. Curiosa essa ênfase em
se declarar de determinado grupo certo?!
Em BERCITO, 2021 (Brimos: Imigração Sírio- Libanesa no Brasil) conta-nos
que a vinda dos povos Árabes começou no século 19, e trouxe 10 milhões de árabes
para o Brasil. Diferente do que o brasileiro costuma pensar sobre o estereótipo
“árabe rico e comerciante” (MEIHY, 2021) nesse período muitos imigrantes vieram
para o Brasil na esperança de enriquecer acreditando que aqui era a América,
muitos até por engano, pois compraram passagens para os EUA, e chegaram no
148

Porto de Santos- SP, vindo a saber que era o Brasil. A intenção deles era fazer
algum dinheiro e voltar para sua pátria libanesa, porém nem todas as histórias foram
conforme seus planos.
Em sua terra de origem, era de costume as plantações de azeitonas, trigo,
tabaco, porém ao ver o sofrimento dos imigrantes italianos e japoneses daqui já
desgastados, e muitos até endividados, decidiram de uma maneira mais rápida de
fazer dinheiro a fim de voltar para o Líbano, o comércio. E assim surge a idéia de
comprar caixas de madeira, transportando produtos para vendas nas ruas, o que
ficou conhecido como os primeiros “caixeiros viajantes”(sic). Começando assim, as
primeiras lojas, os primeiros núcleos árabes de comércios foram se formando no
Brasil exclusivamente, assim como esfiha de frango, já que no Líbano não é uma
tradição (MEIHY, OSMAN, BERCITO, 2021 - Ciclo Diáspora: Os libaneses na
formação do Brasil, live no Yutube organizada pela editora Tabla) mostram essas
diferenças e essa história da vinda dos árabes para o Brasil.
Sabendo dessa habilidade comerciante que os sírios e os libaneses criaram
no Brasil, liga- se ao fato da profissão dos seis filhos de Gibran serem alfaiates.
Costumeiramente, associam o comércio de tapetes ao árabe... Bisavó Rosinha
sustentou suas filhas com sua máquina Singer.

Ao desejar conhecer um povo, descobrimos também sobre o nosso próprio


povo, a nossa origem. Como falei numa frase introdutória, os ciganos são chave do
mundo, pois por onde passam fazem história de fato, e é através do estudo em
danças ciganas que aprendi a estudar (ou reaprender) história e ganhar gosto de
entender o porquê de cada coisa.

Assim como na gramática do nosso amado idioma brasileiro, o português do


Brasil, um dos idiomas mais difíceis de serem escritos e falados corretamente, como,
por exemplo, no uso de “porquês”, cada coisa tem um sentido, e precisa fazer
sentido, e ter lógica, valor, substância para ser levada por longos períodos.

Para se fazer danças ciganas, precisa de fato amar, não amar um pouquinho,
mas se aprofundar, criar casca, ferida, sofrer, e nesse curso, eu fiz tudo isso. Pensei
em desistir, pensei em não mais dançar essa dança, conheci, conversei com calons,
roms, fui para laboratórios de fato, e depois de todo esse aprofundamento ainda sim
digo que não aprendi tudo, ainda sou uma estudante em danças ciganas, pois
mesmo com DRT, mesmo me intitulando profissional, e sendo de fato na categoria,
sou aprendiz das danças, da cultura, da vida, da observação. Ponho-me nessa
observação fenomenológica, pois quando se trata de cultura aprendi com a Mestra
149

Lady Agatha, Teresa Cristina a não julgar, a observar, é a cultura do outro em


questão, não a nossa.

Portanto, descalço meus sapatos, permito-me nudez para pesquisar e


continuar pesquisando as danças ciganas, mas desse agradecimento a essa mulher
incrível que é Agatha, é no próximo Capítulo.

Retomando à justificativa, justifico esse trabalho, em torno de minhas raízes


orientais e a escolha do Núcleo Roman Havasi por ser entre as Danças Ciganas a
mais próxima do povo Libanês seguindo a Diáspora Cigana, onde pude realizar uma
profunda pesquisa teórica, prática da cultura, da dança, respirando durante meses
esse estilo de dança, essa cultura turca, e entendendo a história desse povo, suas
especificidades, parafraseando Caetano Valoso: suas dores e suas delicias de ser
quem são!

Fiquei apaixonada, confesso pela cultura Turca. Nós enquanto serem


humanos, podemos na pesquisa sermos imparcias, mas jamais seremos neutros
quando se trata de Ciências Humanas, para humanos de fato. Portanto, estudar
Homan Havasi me trouxe muita gratidão por conhecer seres de luz e Abençoados.
Foi como conhecer uma família perdida que retornei contato com uma
ancestralidade. Desse contato me refiro à minha professora que devo muita gratidão
por ser tão solícita em tudo a que precisei, tanto em sugestão, dúvidas sobre
figurino, movimentos de dança, e cultura que é a Reyhan Tuszuz.

Foi um sonho de fato realizar essas aulas com Reyhan, pois a seguia nas
redes sociais, como um sonho distante, do tipo “quem sabe um dia, eu faço aula
com essa diva”. Há dois anos seguia ela, e sempre me identifiquei com a
personalidade ela, pois ela é extremamente carismática, espontânea, autêntica,
como eu também me identifico. Conversei com ela ao adicioná-la no instagram, e a
minha surpresa foi sua empatia, ao me seguir de volta, curtir meus posts, e
trocarmos mensagens sem pretensões profissionais da parte dela, como muitas
bailarinas fazem.

Reyhan é cigana e vive em Istambul. Ministra aulas para pessoas de todas as


regiões do mundo, inclusive brasileiras, que saem daqui para fazer aulas com ela,
como foi o caso de Clara Sussekind, que mora hoje na Turquia e acrescentou para a
150

“Novela Salve Jorge” na TV Globo em 2012. Seu marido é músico e toca em show
enquanto Reyhan dança. Eles têm um grupo em que se apresentam em diversos
eventos e casamentos locais.

Para compor esse trabalho de conclusão de curso tentei ser o mais fidedigna
à cultura turca possível. O conceito de Fidedignidade é muito importante nas
Ciências Psicológicas em especial quando se tratam de instrumentos de Avaliação
Psicológica, e instrumentos como elaboração de instrumentos técnicos, como laudos
e perícias. Carreguei a mesma Fidedignidade (Característica ou qualidade
de fidedigno; AUTENTICIDADE: fidedignidade da narrativa
histórica: fidedignidade dos documentos apresentados [ Antôn.: infidedignidade;
falsidade. ] [F.: fidedigno + -(i)dade.] AULETE, 2022) para o presente trabalho em
términos de figurino, música, dança, historicidade dos fatos, entrevistas, dados,
assim tendo respeito e amor na prática ao Povo Cigano na prática como
aprendizado desses anos de estudo nesse APDC.

Tivemos aulas particulares, pude nesse contato com Reyhan tirar dúvidas
sobre figurinos, sobre os movimentos nas danças, e em uma das aulas até participar
de um documentário em que ela estava participando dirigido por um italiano.

A experiência com outra cultura é enriquecedor de todas as formas se amplia


a consciência para uma compreensão da própria realidade.

Muitos momentos enfrentados como as dificuldades em traduzir pesquisas


científicas em turco, materiais como músicas, livros, vídeos em turco, haja tradutor,
pedidos aos novos conhecidos e amigos turcos! Os limites Brasil e Turquia foram
aos poucos sendo rompidos. Até mesmo enviar dinheiro, a dificuldade de uma
cliente enviar dinheiro da Alemanha para a Turquia, e entender o quanto que o país
é visto por ter trapaças de ordem cibernética como golpes de amor virtuais.

Quantos trabalhos maravilhosos foram encontrados ao longo da pesquisa,


entre eles monografias dos cursos mais diversos: arquitetura e urbanismo, direito,
psicologia, ciências sociais, e todos eles falando sobre ciganos. Com isso estudar
ciganos é um interesse em comum a muitos. Ter a sensibilidade de ver sua
especificidade e sua trajetória cultural, em especial quando traz esse recorte
Espanha- Portugal- Brasil, e estudar os Calons.
151

Quem se é enquanto profissionais, permeia quem fez ser enquanto


subjetividade, e pessoa. Nossa história cria nossos tecidos carnais e de interesse e
as teias do destino. As historias que escutamos desde pequeninos, os gostos, os
interesses, os livros que lemos, a nossa família, tudo fica entranhado, a fim de
sabermos e conhecermos as particularidades desse todo. Até que ponto o ser
humano é livre? Até que ponto o cultural fez ser o nosso enredo, é um dos
questionamentos que um amigo fez em sua análise, e questiono aqui?

Na situação política dos Ciganos na Turquia percebemos um enredo desde a


diáspora na Índia de lutas, dificuldades da subsistência, e como muitas questões são
parecidas, quando comparadas aos também ciganos do Brasil, em que atualmente
nem o Estatuto do povo cigano ainda foi aprovado, o que dificulta a inclusão de
cotas, e outros benefícios a fim de inclusão social. A educação, a habitação, a saúde
são assim como na Turquia prioridades para melhorar a qualidade do Povo Cigano,
o que também reverbera as dificuldades diárias e as crenças limitantes que os
descendentes ciganos permeiam entre “é difícil”, “ninguém quer saber de cigano”,
são falas que ao ter contato com nativos escutamos, e o quanto é difícil empoderar
esse público em tecelar sua própria história e coloca-los em tom de também
protagonistas desta luta.

Mas essas questões serão tratadas quem sabe em breve em outro trabalho.
Por fim, fica a reflexão de que mesmo com todas as dificuldades o povo cigano
resiste e existe de fato, e que os cenários de pobreza e invisibilidade serão mudados
na raiz, no cerne da questão quando poderemos ficar satisfeitos de vê-los cada dia
mais com sua voz, e seu espaço.

Além de ser um país com histórico de muitas lutas, peculiaridades históricas,


os ciganos da Turquia trazem a dança Roman Havasi objetivo de minha pesquisa, a
qual é um ritmo original cigano, um dos poucos se observado aos demais países em
que percorreram, com gestos típicos, e roupas que caracterizam essa modalidade.
Seu ritmo 9/8 entre todos os ritmos turcos, que costumam fazer parte o 9, porém
com sua variações, e ser descendente do Karsilama, a Roman Havasi por onde
passa enquanta com suas batidas fortes.

Estudar Danças ciganas, sua musicalidade, seus figurinos se tornam algo que
necessita dedicação, empenho, e amor, pois só quem aprofunda é que sabe o
152

trabalho, e a engenhosidade que dá, e todo o percurso sociohistórico que cada povo
detalhou ao longo dos séculos. Por fim, meu minha enorme Gratidão a todo
aprendizado até aqui.
153

REFERÊNCIAS

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Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 09 e 12 de
dezembro de 2018, Brasília- DF. UFRPE, 2018. Disponível em:
file:///C:/Users/falan/Downloads/A%20ANTROPOLOGIA%20E%20OS%20ESTUDO
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YOUTUBE. Tv serie dos turcos Uc Kurus. Disponível em:


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https://www.youtube.com/watch?v=Iklwl6Yze0Y. Acesso em: 19 ago. 2022.

YOUTUBR. Ciganos Pelo Mundo Turquia. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=D3Ju0DsbBWU. Acesso em: 19 ago. 2022.

ZOOM. Workshop “Tradição e conservadorismo: uma visão contemporânea de


uma família cigana” com a Romanichel Alessandra Tubbs- Festival de Dança
Cigana Brasil- 27 de junho de 2021 às 11:30h via Zoom. Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CQpGrdwMtXg/?utm_source=ig_web_copy_link.
Acesso em: 27 jun. 2021.

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