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“Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil” de

Thomas Hobbes de Malmesbury

Book Summary: "Leviathan or the Matter, Form and Power of an


Ecclesiastical and Civil State" by Thomas Hobbes of Malmesbury

BRAGA, Paulo H.F.S.F.


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Resumo: "Leviatã", escrito pelo filósofo inglês Thomas Hobbes e publicado em


1651, é uma obra relevante da filosofia política moderna. O livro apresenta uma
visão elaborada sobre o Estado e o contrato social, fornecendo uma análise
profunda da natureza humana e das formas de governo. Hobbes argumenta que
o estado de natureza é caracterizado pela guerra de todos contra todos,
resultando em uma vida solitária, pobre, brutal e curta. Para escapar dessa
condição, propõe Hobbes, as pessoas devem transferir seus direitos individuais
a um soberano absoluto, criando um contrato social. O Leviatã, o soberano,
possui autoridade inquestionável e poder absoluto para garantir a paz e a
segurança. Hobbes defende o absolutismo como a melhor forma de governo
para manter a ordem social. Embora controverso, "Leviatã" influenciou
significativamente o pensamento político e continua a ser objeto de estudo e
debate acadêmico até os dias atuais.

Palavras chave: Thomas Hobbes; Filosofia; Estado de Natureza; Leviatã.

Abstract: "Leviathan", written by the English philosopher Thomas Hobbes and


published in 1651, is a relevant work of modern political philosophy. The book
presents an elaborate view on the state and the social contract, providing an in-
depth analysis of human nature and forms of government. Hobbes argues that
the state of nature is characterised by the war of all against all, resulting in a
solitary, poor, brutal and short life. To escape this condition, Hobbes proposes,
people must transfer their individual rights to an absolute sovereign, creating a
social contract. Leviathan, the sovereign, possesses unquestionable authority
and absolute power to guarantee peace and security. Hobbes advocates
absolutism as the best form of government to maintain social order. Although
controversial, "Leviathan" significantly influenced political thought and remains
an object of study and academic debate to this day.

Keywords: Thomas Hobbes; Philosophy; State of Nature; Leviathan.


Capítulo 1
O livro de Hobbes explora os pensamentos e sensações humanas, destacando
que os pensamentos são representações das qualidades dos objetos externos,
enquanto as sensações surgem quando esses objetos pressionam os órgãos
sensoriais. Essas sensações são interpretadas como qualidades perceptíveis,
como luz, cor, som, cheiro, entre outras. Hobbes ressalta a importância de
corrigir equívocos para compreender melhor o pensamento humano.

Capítulo 2
Esse capítulo discute a natureza do movimento, destacando que os objetos
permanecem imóveis a menos que algo os mova, e os objetos em movimento
continuam em movimento a menos que algo os pare. Ele desafia a crença de
que todas as coisas buscam naturalmente o repouso, enfatizando que objetos
inanimados não têm desejo ou conhecimento do que é bom para sua
conservação. A imaginação e a memória são abordadas como formas de
sensação diminuída, presentes tanto nos seres humanos quanto em outros
animais.

Capítulo 3
A cadeia de pensamentos e a natureza do discurso mental são os temas desse
capítulo. Hobbes afirma que o pensamento não é fortuito, e há uma sequência
de pensamentos que se seguem de maneira coerente. Essa sequência é dividida
em dois tipos: um livre e sem objetivo definido, e outro mais constante e
direcionado por desejos ou metas. O texto também aborda a memória, a
gravação de ações passadas e a previsão de eventos futuros com base na
experiência. A prudência é mencionada como a capacidade de fazer previsões
mais acuradas.

Capítulo 4
O capítulo quatro aborda a importância da linguagem e da invenção da escrita.
O autor afirma que a invenção da imprensa é de pouca importância em
comparação com a invenção das letras. Ele menciona que o primeiro a trazer as
letras para a Grécia foi Cadmus, filho do rei fenício Agenor. A linguagem é
descrita como a mais nobre e útil das invenções, permitindo que os seres
humanos registrem seus pensamentos, se comuniquem e estabeleçam a
sociedade. Hobbes menciona a perda da linguagem na Torre de Babel e como
a diversidade de línguas se desenvolveu ao longo do tempo devido à dispersão
da humanidade. Também aborda os abusos da linguagem, como o uso
enganoso, a declaração falsa de vontade e o uso ofensivo. O texto conclui
enfatizando a importância das definições corretas na busca do conhecimento
verdadeiro e criticando aqueles que confiam cegamente nos livros sem
questionar suas bases.

Capítulo 5
No quinto capítulo, Hobbes discute a relação entre o pensamento humano e a
razão, enfatizando que o pensamento envolve a concepção de totalidades a
partir de parcelas ou restos. Isso pode ser realizado tanto numericamente quanto
por meio do uso de palavras. Exemplos de operações matemáticas são
mencionados, assim como a aplicação dessas operações em diferentes áreas
do conhecimento.
A razão humana é elogiada como uma faculdade superior que permite investigar
consequências e alcançar conhecimento geral. No entanto, a filosofia em
particular é apontada como suscetível a absurdos devido à falta de definições
claras e métodos adequados. O autor considera que a razão não é inata, mas
adquirida através de esforço, impondo nomes apropriadamente e usando um
método ordenado para conectar asserções e alcançar conhecimento científico.
A ciência é vista como o conhecimento das consequências e das relações entre
fatos, permitindo que os seres humanos saibam como fazer algo com base no
conhecimento atual.

Capítulo 6
O texto aborda os movimentos dos animais, divididos em dois tipos: o vital e o
animal/voluntário. A sensação é o movimento provocado pelos órgãos em
resposta a estímulos externos, e a imaginação é o destino desse movimento,
sendo a origem interna dos movimentos voluntários. Esses movimentos podem
ocorrer de forma invisível ou em espaços imperceptíveis.
O texto também aborda as paixões, que recebem diferentes nomes dependendo
da possibilidade de obtê-las, do objeto amado ou odiado, da consideração de
várias paixões juntas e da violação da sucessão das paixões. O bem e o mal são
relativos a cada pessoa, sem uma regra comum.

Capítulo 7
O texto discute a natureza do discurso e da crença, destacando que todo
discurso busca alcançar um objetivo, seja obter ou evitar algo. O autor afirma
que o conhecimento absoluto dos fatos é inalcançável através do discurso, pois
depende da sensação e da memória. O conhecimento que se pode obter é
condicional, baseado na relação entre as coisas. O texto também aborda a
consciência como um testemunho importante e ressalta que a fé e a crença estão
relacionadas à confiança nas pessoas e em suas palavras, seja na religião ou
em outras áreas. Por fim, destaca-se que a fé em escritos e históricos é uma fé
nos próprios autores, não necessariamente nas entidades ou eventos
mencionados.

Capítulo 8
O capítulo oitavo discute a importância da virtude e das diferentes formas de
talento. Ele destaca que a virtude é valorizada por sua excelência e está
relacionada à comparação entre pessoas. O autor diferencia as virtudes
intelectuais naturais e adquiridas, enfatizando que as naturais são aquelas que
são desenvolvidas apenas pela prática e experiência, enquanto as adquiridas
são obtidas por meio de métodos e instrução.

Capítulo 9
No capítulo nove, Hobbes distingue os objetos do conhecimento. Ele identifica
duas espécies de conhecimento: o conhecimento dos fatos e o conhecimento
das consequências de uma afirmação para outra. O conhecimento dos fatos é
baseado nos sentidos e na memória, sendo absoluto e necessário para
testemunhas. Já o conhecimento das consequências é chamado de ciência e é
condicional, usado por filósofos para raciocinar.

Capítulo 10
O texto discute o poder e a honra como conceitos relacionados. O poder de um
homem pode ser natural, como força, beleza, prudência, capacidade,
eloquência, ou adquirido, como riqueza, reputação, amigos e boa sorte. O maior
poder é aquele que é composto pelos poderes de vários homens, como o poder
de um Estado. Ter servidores e amigos é poder. A reputação, o amor e o medo
são formas de poder. O sucesso, a afabilidade, a reputação de prudência e a
nobreza também são poder. As ciências e as artes têm algum poder, mas apenas
em alguns casos. O valor de um homem é seu preço, determinado pelos outros.
A honra é o reconhecimento público do valor de um indivíduo. Honrar alguém
envolve respeitar, elogiar, obedecer, oferecer presentes, buscar conselhos e
colaborar com essa pessoa. A honra civil é determinada pelo Estado e inclui
títulos, cargos e emblemas. Ser honrado, amado e temido por muitos é honroso,
assim como ter riqueza, magnanimidade, coragem e habilidades. Por outro lado,
a pobreza, a pusilanimidade, o medo e a ignorância são desonrosos. A honra
está ligada ao poder e não depende da justiça das ações.

Capítulo 11
O autor afirma que os homens têm um desejo constante por poder e mais poder,
o que leva à competição, à busca por fama e honra, e à guerra. Diversos outros
desejos e emoções, como conforto, prazer sensual, conhecimento e elogios,
também influenciam as ações dos homens. A obrigação de retribuir benefícios
recebidos pode gerar amor ou ódio. A ignorância das causas e dos fundamentos
do direito e da justiça leva os homens a confiar no costume e no exemplo. O
texto conclui que a doutrina do bem e do mal é constantemente disputada,
enquanto questões como linhas e figuras geométricas não geram controvérsia,
pois não ameaçam os interesses e ambições das pessoas.

Capítulo 12
O texto discute a natureza da religião e a crença nos poderes invisíveis. Afirma
que a semente da religião está presente apenas nos seres humanos, devido a
qualidades peculiares que eles possuem. Essas qualidades incluem a
curiosidade para buscar as causas dos eventos, a crença em uma causa para
tudo o que tem um começo e a capacidade de observação e memória das
relações entre eventos passados e futuros. Quando os humanos não conseguem
descobrir as verdadeiras causas das coisas, eles tendem a supor causas e
acreditam em poderes invisíveis. O medo da incerteza leva os homens a atribuir
suas sortes e infortúnios a esses poderes invisíveis, levando à criação de deuses
e espíritos. A adoração a esses poderes assume a forma de reverência e práticas
cerimoniais. A religião se desenvolveu de diferentes maneiras de acordo com as
diferentes imaginações e crenças dos homens, mas seu propósito é promover
obediência, leis, paz, caridade e sociedade civil. A parte da religião relacionada
à natureza dos poderes invisíveis levou à divinização de várias entidades,
lugares e qualidades. Os homens invocam essas entidades em suas preces e
atribuem a elas o poder de afetar seu destino.

Capítulo 13
Hobbes discute a natureza humana e a condição de guerra em que os seres
humanos se encontram quando vivem sem um poder comum que os mantenha
em respeito. Afirma-se que, apesar das diferenças individuais, os homens são
essencialmente iguais em suas capacidades físicas e mentais. A competição, a
desconfiança e a busca pela glória são as principais causas de discórdia entre
os indivíduos. Sem um poder que os governe, os homens vivem em constante
rivalidade e estão sujeitos ao medo e perigo de morte violenta.

Capítulo 14
O texto discute o conceito de direito natural, também conhecido como jus
naturale. Segundo Hobbes, o direito natural é a liberdade que cada indivíduo tem
de usar seu próprio poder da maneira que desejar, para preservar sua vida e agir
de acordo com seu julgamento e razão. O texto enfatiza a distinção entre direito
e lei, onde o direito refere-se à liberdade de agir ou omitir, enquanto a lei
determina ou obriga uma ação específica. Em uma condição de guerra de todos
contra todos, cada pessoa tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos
outros. No entanto, enquanto esse direito persistir, ninguém pode ter a
segurança de viver pelo tempo que a natureza permite. A transferência de
direitos é chamada de contrato e pode ser expressa por palavras ou inferida a
partir de ações ou omissões. A promessa de cumprir um contrato é considerada
obrigatória, e aquele que cumpre sua parte é considerado merecedor do
cumprimento da outra parte. O texto também destaca que há certos direitos que
não podem ser renunciados, como o direito de resistir a um ataque que coloque
em risco a vida de alguém.

Capítulo 15
Segundo Hobbes, no capítulo quinze, a lei de natureza nos obriga a cumprir os
pactos que celebramos para evitar conflitos e garantir a paz. O rompimento de
um pacto é injusto e a definição de injustiça é o não cumprimento desses
acordos. Para que haja justiça, é necessário um poder coercitivo capaz de
garantir o cumprimento dos pactos através do medo de punição. Isso só é
possível com a instituição de um Estado. A justiça consiste no cumprimento dos
pactos válidos, e a propriedade só é estabelecida quando há um poder coercitivo.
A justiça é uma regra da razão que nos proíbe de fazer coisas que prejudicam
nossa vida e é uma lei natural. Aqueles que argumentam que a quebra de pactos
pode levar à felicidade eterna após a morte estão baseando-se em crenças
sobrenaturais, não na razão.

Capítulo 16
O texto explora a personificação de coisas inanimadas, como igrejas e hospitais,
por meio de representantes designados pelos proprietários ou governadores
dessas coisas. No entanto, as coisas inanimadas não podem ser autores nem
conferir autoridade aos seus atores. Isso só é possível em um estado de governo
civil. Por fim, o texto aborda os diferentes tipos de autores, incluindo o autor da
primeira espécie, que realiza a ação de outro, e o autor condicional, que assume
uma ação ou um pacto caso o outro não o faça dentro de um determinado prazo.

Capítulo 17 e 18
O capítulo dezessete de Leviatã fala sobre a natureza dos homens e a
necessidade de um governo para garantir a segurança e a paz. Os seres
humanos têm um desejo natural de liberdade, mas reconhecem que a restrição
imposta por um Estado é essencial para preservar sua própria conservação e
buscar uma vida mais satisfatória.
A união de um pequeno número de homens não é suficiente para garantir a
segurança, pois um pequeno aumento em qualquer lado pode desencadear uma
invasão. A multidão necessária para a segurança não pode ser definida por um
número exato, mas é determinada pela comparação com o inimigo temido.
Para garantir a paz e a segurança duradouras, é necessário conferir todo o poder
a um homem ou a uma assembleia de homens, que representará a vontade e os
interesses comuns. Esse poder comum, chamado Estado, é estabelecido por
meio de um pacto em que cada homem transfere seu direito de governar-se a si
mesmo para o representante, submetendo sua vontade à vontade do
representante. O poder soberano do Estado é adquirido pela força natural ou
pelo consentimento voluntário dos homens em se submeterem a um governante
em troca de proteção. Essa forma de Estado é chamada de Estado por aquisição
ou Estado por instituição, respectivamente.

Capítulo 19
O capítulo dezenove discute as três formas de governo: monarquia, democracia
e aristocracia. Afirma que a diferença entre eles está no soberano, que pode ser
um indivíduo ou uma assembleia. Explica que a monarquia é governada por um
único indivíduo, a democracia é governada pela assembleia de todos os
membros e a aristocracia é governada por uma assembleia de uma parte dos
membros. Menciona que outros termos como tirania e oligarquia são usados
para descrever as mesmas formas de governo, mas quando são detestadas.
Hobbes discute as vantagens e desvantagens da monarquia em relação às
outras formas de governo, como a capacidade de promover o interesse comum
e a possibilidade de receber conselhos de especialistas. Também aborda os
riscos e inconvenientes, como a influência de favoritos e a possibilidade de
herdar o poder em uma criança. Conclui que qualquer forma de governo pode
ser afetada pela ambição e injustiça dos governados.

Capítulo 20
O capítulo descreve a aquisição de poder soberano por meio da força. Distingue
entre o domínio adquirido por instituição, em que as pessoas escolhem um
soberano por medo mútuo, e o domínio adquirido por conquista, em que um
vencedor impõe sua vontade ao vencido. No domínio paterno, o pai tem o poder
sobre os filhos por meio do consentimento destes. No domínio despótico, que
ocorre após a conquista militar, o vencedor adquire o direito de domínio sobre o
vencido por meio de um pacto de obediência. O autor também menciona a
importância das Escrituras como fonte de ensinamentos sobre essas questões.

Capítulo 21
Liberdade, em seu sentido próprio, significa a ausência de restrições externas
ao movimento, aplicando-se tanto a seres racionais como irracionais. Quando
um ser é impedido de se mover além de um certo espaço devido à oposição de
um corpo externo, dizemos que ele não possui liberdade para ir além.
No contexto humano, liberdade significa a capacidade de fazer o que se deseja,
desde que não haja impedimentos. É importante ressaltar que a liberdade não
se aplica a entidades não corpóreas, como caminhos ou doações, pois essas
coisas não estão sujeitas a movimento ou restrições externas.
É possível que o medo e a liberdade coexistam. Por exemplo, alguém pode jogar
seus bens ao mar com medo de afundar o barco, mas faz isso por vontade
própria e poderia escolher não o fazer. Da mesma forma, algumas ações são
realizadas por medo da lei, mas os indivíduos têm a liberdade de não as realizar.
A liberdade e a necessidade também são compatíveis, já que as ações
voluntárias dos homens derivam de sua vontade, mas também são influenciadas
por causas anteriores em uma cadeia contínua de causas.
O capítulo também menciona a variedade dos corpos políticos em termos de
atividades, governos provinciais e colônias. No caso do governo de uma
província por uma assembleia, as decisões dependem da maioria dos votos.

Capítulo 22
O capítulo fala sobre as partes orgânicas do Estado, que são os ministros
públicos. Ministros públicos são encarregados pelo soberano (monarca ou
assembleia) de representar a pessoa do Estado em missões com autoridade. O
texto descreve diferentes tipos de ministros públicos, como aqueles
responsáveis pela administração geral do domínio, aqueles encarregados de
funções especiais, os responsáveis pela economia do Estado, pela milícia, pela
instrução do povo sobre seus deveres e os responsáveis pelo poder judicial.

Capítulo 23
O texto aborda a nutrição de um Estado, que consiste na abundância e
distribuição dos materiais necessários à vida. A matéria dessa nutrição é
composta por animais, vegetais e minerais, os quais estão disponíveis na
natureza através do trabalho e esforço dos seres humanos. Esses materiais
podem ser nativos (obtidos dentro do território do Estado) ou estrangeiros
(importados do exterior). Além disso, o acondicionamento dos bens é realizado
por meio do uso de ouro, prata e dinheiro, que facilitam a troca e circulação dos
bens dentro e fora do Estado. O ouro e a prata têm o privilégio de ter valor estável
e podem movimentar os Estados. No entanto, a moeda legal pode ter seu valor
alterado pelo poder do Estado.

Capítulo 24
O capítulo discute a diferença entre conselhos e ordens, ressaltando a confusão
que muitas vezes ocorre devido ao uso inconstante das palavras. O autor define
ordens como instruções baseadas unicamente na vontade de quem as dá,
visando ao seu próprio benefício. Por outro lado, os conselhos são dados com
base nos benefícios que trarão para aquele que os recebe. O autor também
enfatiza a necessidade de experiência e estudo aprofundado nas áreas em que
se aconselha, especialmente em questões de Estado. No geral, o texto trata das
características e requisitos de bons conselheiros.

Capítulo 25
O texto discute a natureza e definição das leis civis. O autor argumenta que as
leis civis são aquelas que os indivíduos são obrigados a respeitar como membros
de um Estado, e não apenas devido à sua afiliação a um Estado específico. O
conhecimento das leis particulares de cada país é responsabilidade daqueles
que estudam o direito, mas o conhecimento da lei civil é de interesse geral e
deve ser compreendido por todos os homens.
Outros pontos mencionados no texto incluem a autoridade das leis
consuetudinárias, a dependência do poder legislativo do soberano, a
interpretação da lei com base na vontade do legislador e a aplicação da lei
apenas àqueles que têm conhecimento dela.
Além disso, o texto argumenta que as sentenças dos juízes anteriores não
podem criar uma lei contrária à equidade natural, e nenhum juiz está vinculado
a seguir uma sentença errada. A interpretação das leis escritas não pode ser
feita por comentaristas, a menos que sejam autorizados pelo soberano, e os
juízes subordinados não são obrigados a seguir as mesmas sentenças em casos
idênticos.

Capítulo 26 e 27
Nessa parte, Hobbes explora a relação entre pecado, crime e lei, afirmando que
um pecado não apenas viola a lei, mas também demonstra desprezo pelo
legislador. Também menciona que um pecado pode ocorrer não apenas por meio
de ações proibidas, mas também por meio de intenções ou propósitos de
transgredir a lei.
O texto examina as paixões como causas comuns de crimes, mencionando a
vanglória e a presunção de valor próprio como fatores que levam as pessoas a
cometer crimes na esperança de evitar punição. O homicídio é apontado como
o crime mais grave, seguido de outras lesões que não resultam em morte.

Capítulo 28
O texto aborda o tema das penas, descrevendo-as como danos infligidos pela
autoridade pública em resposta a transgressões da lei, com o objetivo de
incentivar a obediência. As penas podem ser corporais, pecuniárias, de
ignomínia, prisão ou exílio, e sua aplicação visa promover a obediência à lei, não
a vingança.

Capítulo 29
O texto discute o papel do soberano na garantia da segurança e comodidade do
povo, enfatizando a importância da instrução pública sobre os direitos essenciais
da soberania. Hobbes argumenta contra a ideia de mudar a forma de governo
com base em admiração externa, destacando a obediência e concórdia dos
súditos como elementos-chave para a prosperidade. A instrução do povo é vista
como fundamental, com a leitura e explicação das leis, bem como a educação
inicial pelos pais. A qualidade das universidades e a administração justa da
justiça são discutidas, assim como a importância de leis boas, impostos
equitativos e a aplicação adequada de punições e recompensas.
Considera-se relevante ouvir as necessidades e queixas do povo ao tomar
decisões internas, e destaca-se a importância de líderes militares bons e fiéis.
Quanto às relações entre soberanos, busca-se a segurança dos povos, regida
pela mesma lei natural. A consciência é considerada o tribunal de justiça natural,
onde Deus reina e suas leis são aplicadas. O texto indica que o reino de Deus
será explorado mais adiante.

Capítulo 30 e 31
O texto discute a natureza do poder soberano e a importância das leis divinas na
sociedade. Argumenta-se que a ausência de um poder soberano resulta em
anarquia e guerra, sendo as leis da natureza fundamentais para evitar essa
condição. Um Estado sem um poder soberano é vazio e não pode sobreviver.
Os súditos devem obedecer aos soberanos em todas as coisas, sem que isso
seja incompatível com as leis de Deus. Para evitar conflitos entre a obediência
civil e os mandamentos divinos, é necessário conhecer as leis divinas. Deus é o
rei cujo poder abrange tudo, embora a expressão "reino de Deus" seja apenas
uma metáfora, pois governar significa governar os súditos por meio de palavras,
promessas de recompensa e ameaças de punição.
O direito soberano de Deus é baseado em seu poder irresistível e não em
gratidão por seus benefícios. O direito soberano pode surgir tanto de um pacto
quanto da natureza, e Deus, como poder irresistível, tem o direito natural de
governar os seres humanos.
O texto também explora a questão da prosperidade dos maus e do sofrimento
dos justos, argumentando que o poder de Deus é a base para entender essas
situações. As leis divinas são ditames da razão natural, que incluem equidade,
justiça, compaixão e outras virtudes morais. A obediência às leis de Deus é
considerada o maior culto, e desobedecê-las é uma ofensa grave.

Capítulo 32
O autor do texto também discute a autoridade das Sagradas Escrituras, a
importância da autoridade soberana na determinação dos livros canônicos, a
questão da obediência a Deus e a utilização da razão natural para compreender
a vontade divina. O autor também aborda a questão dos autores originais dos
livros e a época em que foram escritos: apresenta alguns argumentos
relacionados à autoria de Moisés, Josué, Samuel, Reis, Esdras, Neemias, Ester,
Jó, Salmos e Provérbios, destacando trechos que indicam que esses livros foram
escritos após os eventos que descrevem.

Capítulo 33
O texto discute a importância da compreensão do significado das palavras na
Bíblia para um raciocínio verdadeiro. O autor destaca que o sentido das palavras
nas Escrituras não depende da vontade do autor nem do uso comum, mas sim
do sentido que elas têm nas próprias Escrituras. O autor começa analisando as
palavras "corpo" e "espírito". Ele define corpo como algo que preenche ou ocupa
um espaço real no universo e que está sujeito a mudanças e variações de
aparência. Já substância incorpórea seria uma expressão contraditória, pois a
substância implica corpo. No uso comum, apenas as partes do universo que
podem ser percebidas pelos sentidos, como o tato ou a visão, são chamadas de
corpos. O autor também aborda o uso metafórico da palavra "espírito", que pode
se referir a disposições mentais, paixões, capacidades eminentes, entre outros.
A palavra "anjo" geralmente significa um mensageiro, frequentemente um
mensageiro de Deus. Na Bíblia, os anjos são descritos como espíritos, que
podem ser entendidos como corpos tênues ou imagens que surgem na fantasia
durante sonhos e visões. Os judeus acreditavam que essas aparições eram
substâncias independentes da imaginação, enquanto os gentios concebiam os
anjos como coisas realmente existentes.

Capítulo 34
O autor argumenta que, nos textos religiosos, o Reino de Deus é frequentemente
entendido como a felicidade eterna no céu após a morte, mas ele defende que
essa interpretação está equivocada. Segundo o autor, o Reino de Deus, na
maioria das passagens das Escrituras, refere-se a um reino literal estabelecido
pelo pacto entre Deus e o povo de Israel. Esse reino envolveu a escolha de Deus
como seu rei e a promessa da posse da terra de Canaã.

Capítulo 35
O capítulo trinta e cinco argumenta que o Reino de Deus, mencionado nas obras
religiosas, como sermões e tratados de devoção, não se refere apenas à
felicidade eterna após a vida, mas também a um reino terreno estabelecido por
meio de um pacto entre Deus e o povo de Israel. Esse reino envolveu a escolha
de Deus como rei pelos israelitas e a posse da terra de Canaã. O autor defende
que o Reino de Deus é um estado civil com governo e controle do
comportamento tanto em relação a Deus como em questões de justiça e relações
com outras nações. O texto cita passagens bíblicas que sustentam essa
interpretação e conclui que o Reino de Deus é restaurado por Cristo e é por isso
que os cristãos oram pela vinda desse reino.

Capítulo 36
O texto discute a natureza da palavra de Deus e sua interpretação. Afirma-se
que a palavra de Deus não se refere apenas a uma parte da linguagem, como
nomes ou verbos, mas sim a um discurso completo, onde o orador afirma, nega,
ordena, promete, ameaça, deseja ou interroga. No texto, é discutida a maneira
como Deus se manifestava no Antigo e no Novo Testamento, tanto por meio de
sorteios como por visões, sonhos e dons especiais. No Antigo Testamento, Deus
revelava sua vontade por meio de sorteios realizados por pessoas com
autoridade sobre o povo, como no caso de Saul, Josué e Achan. No Novo
Testamento, Deus falou a Maria através de um anjo, a José em sonhos, a Paulo
em uma visão no caminho de Damasco, a Pedro por meio de uma visão celestial
e a todos os apóstolos e autores do Novo Testamento através das graças do
Espírito Santo.
O texto adverte que, se os cristãos não aceitarem seu soberano como profeta de
Deus, serão governados por seus próprios sonhos e ambições, ou então serão
manipulados por um líder estrangeiro ou por alguém que incite rebelião, levando
à destruição das leis, da ordem, do governo e da sociedade, resultando em
violência e guerra civil.

Capítulo 37
Hobbes argumenta que, os milagres são obras de Deus, realizadas além da
intervenção natural, e não podem ser realizados por demônios, anjos ou outros
espíritos criados. O poder dos encantamentos e feitiçarias mencionados nas
Escrituras não é verdadeiro, mas sim ilusório e impostor.

Capítulo 38
O texto discute a questão da vida eterna e dos tormentos eternos com base nas
Sagradas Escrituras. Argumenta-se que Adão teria desfrutado da vida eterna se
não tivesse pecado, mas perdeu essa oportunidade ao ser expulso do Paraíso.
No entanto, Jesus Cristo redimiu os pecados da humanidade, permitindo que
aqueles que acreditem nele recuperem a vida eterna. Acredita-se que a vida
eterna será vivida na terra e não no céu, e as referências bíblicas mencionadas
indicam que a Nova Jerusalém, o Reino do Céu, descerá do céu para a terra.
Capítulo 39
Hobbes discute o significado da palavra "Igreja" nas Sagradas Escrituras. A
palavra pode ser entendida de várias maneiras. Em alguns casos, é usada para
se referir a uma casa de Deus, um templo onde os cristãos se reúnem para
cumprir seus deveres religiosos. Também pode ser usada metaforicamente para
designar a congregação reunida nesse templo. A palavra também pode se referir
ao edifício em si, diferenciando os templos cristãos dos templos dos idólatras.
O texto argumenta que governo temporal e espiritual são duas palavras usadas
para confundir as pessoas quanto ao soberano legítimo. Na vida atual, o único
governo que existe é o governo temporal, seja do Estado ou da religião. É
ilegítimo que qualquer súdito ensine doutrinas proibidas pelo governante do
Estado e da religião.

Capítulo 40
O texto discute o contrato estabelecido por Deus com Abraão, no qual ele e sua
descendência se comprometeram a reconhecer e obedecer às ordens de Deus.
Esse contrato tinha como objetivo receber revelações especiais de Deus por
meio de sonhos e visões, além das leis morais conhecidas pela luz da natureza.
Abraão era o único com quem Deus falava diretamente, e ele transmitia as
ordens divinas à sua família. O autor destaca três pontos importantes sobre o
governo do povo de Deus: 1) Aqueles que não recebiam revelações diretas de
Deus deveriam obedecer às ordens do soberano; 2) Abraão tinha o direito de
punir seus súditos que alegassem ter revelações especiais contrárias às suas
ordens; 3) Somente aqueles que ocupam a posição de Abraão no Estado são os
intérpretes da palavra de Deus. O contrato foi renovado com Isaac, Jacob e
depois com os israelitas libertos dos egípcios, quando Moisés se tornou seu
representante.

Capítulo 41
O texto discute a natureza da filosofia e seu desenvolvimento ao longo da
história. Argumenta-se que a filosofia é o conhecimento adquirido por raciocínio,
visando produzir efeitos desejados na vida humana. Exemplos são dados, como
o geômetra que constrói figuras e descobre propriedades, e o astrônomo que
estuda os movimentos celestes para compreender o tempo. O texto diferencia a
filosofia do conhecimento originado pela experiência e da crença baseada em
revelação sobrenatural ou autoridade de livros. Afirma-se que a filosofia surgiu
quando surgiram grandes cidades e as pessoas tinham mais tempo livre. As
escolas filosóficas foram estabelecidas em várias partes do mundo, como
Grécia, Índia e Egito. No entanto, o texto critica as escolas filosóficas antigas,
argumentando que elas não contribuíram significativamente para o avanço do
conhecimento. Também questiona a utilidade das escolas filosóficas e critica a
metafísica de Aristóteles. Por fim, menciona as universidades, que incorporaram
várias escolas públicas, e destaca a importância da geometria como uma
disciplina independente.

Capítulo 42
O autor, Thomas Hobbes, critica a influência do Papa e do clero romano, bem
como do clero presbiteriano, na sociedade cristã. Ele argumenta que esses
líderes religiosos utilizam várias estratégias para estabelecer e manter seu poder
sobre os soberanos e o povo, visando benefícios terrenos, autoridade e domínio.
Algumas dessas estratégias incluem reivindicar infalibilidade papal, estabelecer
dependência dos bispos em relação ao Papa, isentar o clero do poder das leis
civis, controlar a legitimidade dos casamentos e sucessão ao trono, e usar o
confessionário para obter conhecimento sobre os assuntos do Estado. Além
disso, o autor menciona a utilização de doutrinas como o purgatório, indulgências
e a canonização de santos para enriquecer o clero. Ele conclui que tanto o Papa
quanto o clero romano, juntamente com aqueles que propagam a ideia de que a
Igreja atual é o Reino de Deus, são responsáveis por essas práticas obscuras.
O autor também critica os imperadores e outros soberanos cristãos por
permitirem a disseminação dessas doutrinas e usurpações eclesiásticas em
seus domínios.

Revisão e conclusão
O texto em questão discute a contrariedade entre as faculdades naturais do
espírito humano, as paixões e seu impacto nas relações sociais. Alguns
argumentam que é impossível para um indivíduo cumprir todas as suas
obrigações civis devida a essas contradições. A severidade do juízo torna as
pessoas inflexíveis e incapazes de perdoar os erros dos outros, enquanto a
velocidade da imaginação torna os pensamentos menos estáveis para distinguir
corretamente entre o certo e o errado.
Além disso, a deliberação e os litígios exigem a capacidade de raciocínio sólido,
mas também é necessário ter uma eloquência persuasiva para influenciar os
outros. Essas faculdades são contraditórias, pois a primeira é baseada em
princípios de verdade, enquanto a segunda depende de opiniões, verdadeiras
ou falsas, e das paixões e interesses mutáveis dos seres humanos. As paixões
também têm um papel importante: a coragem pode levar à vingança pessoal e à
perturbação da paz pública, enquanto a timidez pode levar à deserção da defesa
pública.
Argumenta-se que, devido à diversidade de opiniões e costumes, é impossível
manter uma amizade civil constante com todos aqueles com quem se convive,
já que muitas vezes o convívio consiste em uma luta constante por honras,
riquezas e autoridade. No entanto, o autor defende que, por meio da educação
e disciplina, essas dificuldades podem ser reconciliadas.
O texto também aborda o tema da conquista e submissão dos povos. Discute-
se quando um indivíduo se torna súdito de um conquistador e como a submissão
implica um contrato no qual se promete obediência em troca de vida e liberdade.
A conquista é definida como a aquisição do direito de soberania por meio da
vitória e da submissão do povo.
Além disso, são levantadas questões sobre a justificação das ações passadas
dos conquistadores e como a exigência de aprovação das ações passadas pode
ser prejudicial para a estabilidade de um Estado. O autor também critica a
tolerância ao ódio declarado pela tirania, argumentando que isso pode levar ao
ódio generalizado ao Estado.
O texto conclui mencionando a execução das penas capitais entre os israelitas,
onde era uma lei que o povo deveria apedrejar os culpados até a morte. Discute-
se como as testemunhas deveriam lançar a primeira pedra, seguidas pelo
restante do povo, mas apenas após a culpa ser estabelecida e a sentença ser
proferida pela congregação.
Sobre o autor
Thomas Hobbes foi um filósofo inglês conhecido por suas contribuições na área
da filosofia política. Ele é mais conhecido por seu livro "Leviatã", no qual
desenvolve uma teoria política baseada em uma visão pessimista da natureza
humana.
Hobbes acreditava que os seres humanos são movidos por seus próprios
interesses egoístas e que, em seu estado natural, eles vivem em um estado de
guerra constante, onde a vida é "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta". Embora
sua visão tenha sido controversa, Hobbes desempenhou um papel importante
no desenvolvimento da teoria política moderna. Suas ideias sobre o contrato
social e o papel do Estado influenciaram diversos pensadores posteriores e
continuam sendo debatidas até os dias de hoje.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado


Eclesiástico e Civil. Martin Claret, 1ª edição, 2015.

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