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Sobre a missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira hodierna

ou quais são os problemas vitais brasileiros: considerações de pensadores


brasileiros da década de 1970, uma resenha

On the mission of Philosophy in relation to today's Brazilian cultural life or


what are the vital Brazilian problems: considerations of Brazilian thinkers
of the 1970s, a review

BRAGA, Paulo H.F.S.F.


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Resumo: Nessa resenha é retomada a questão da missão da Filosofia em


relação à vida cultural brasileira hodierna colocada no livro “Rumos da filosofia
atual no brasil em auto-retratos” de Stanislavs Ladusãns. A maioria dos autores
respondeu a essa pergunta em subcapítulos de suas próprias sessões na obra.
Nos textos discutiu-se o papel e a função da Filosofia em diferentes contextos.
Foi ressaltada a importância de cultivar a própria Filosofia antes de buscar
resultados práticos, destacando que o pensamento filosófico especulativo pode
levar a resultados imprevisíveis. Além disso, enfatizou-se que a Filosofia traz
consigo características individuais e culturais, refletindo a influência do sujeito e
da raça. Também se abordou a necessidade de refletir sobre a validade da noção
de nacionalidade e sua relação com a humanidade, assim como a importância
de uma análise contínua do projeto coletivo de liberdade. Em suma, os textos
exploraram o papel da Filosofia como uma disciplina reflexiva, crítica e
problematizadora, capaz de analisar e contribuir para questões universais e
específicas de diferentes contextos culturais, sociais e políticos.

Palavras chave: Filosofia; Filosofia do Brasil; Cultura Brasileira.

Abstract: In this review, the question of the mission of Philosophy in relation to


today's Brazilian cultural life posed in the book "Rumos da filosofia atual no brasil
em auto-retratos" by Stanislavs Ladusãns is taken up again. Most of the authors
answered this question in subchapters of their own sessions in the work. In the
texts, the role and function of Philosophy in different contexts were discussed.
The importance of cultivating Philosophy itself before seeking practical results
was stressed, highlighting that speculative philosophical thinking can lead to
unpredictable results. Furthermore, it was emphasised that Philosophy brings
with it individual and cultural characteristics, reflecting the influence of subject
and race. The need to reflect on the validity of the notion of nationality and its
relation to humanity was also addressed, as well as the importance of an ongoing
analysis of the collective project of freedom. In short, the texts explored the role
of Philosophy as a reflective, critical and problematizing discipline, capable of
analysing and contributing to universal and specific issues in different cultural,
social and political contexts.
Keywords: Philosophy; Brazilian Philosophy; Brazilian Culture.
Qual é a missão da Filosofia em nosso tempo para Agostinho José
Ferreira?
O texto de José Ferreira aborda a relação entre a Filosofia e os problemas
sociais, destacando a importância de direcionar o pensamento filosófico para a
humanização da técnica e o novo rumo da política. O autor expressa um dilema
pessoal entre sua inclinação natural em contemplar o Cosmos e o desejo de
dedicar-se aos problemas sociais. Ele reconhece que a Filosofia desempenha
um papel fundamental na resolução dessas questões, especialmente ao unir o
conhecimento das ciências experimentais e da filosofia natural para contribuir
com a humanização da técnica.

O texto ressalta que a Filosofia não se limita apenas à parte que aborda
diretamente os problemas sociais, mas é um edifício único, onde as partes
gnosiológica, metafísica e ética estão interconectadas. Os problemas sociais não
estão exclusivamente na Ciência ou na Filosofia, mas na mente do pensador. O
filósofo tem o papel de apontar caminhos e teorizar, não necessariamente
executar, embora não haja prática sem teoria.

Em relação à humanização da técnica, o autor destaca que a civilização


tecnocrata trouxe benefícios, mas também problemas próprios de nosso tempo.
Ele argumenta que a volta à vida simples é um caminho para a humanização da
técnica, ressaltando que a técnica deve estar a serviço do homem, como um
meio para atingir fins racionais, e não um fim em si mesma. O autor menciona a
necessidade de encontrar os meios para alcançar uma vida simples, algo que
cabe ao filósofo buscar, não ao físico ou matemático.
Quanto ao novo rumo da política, o texto enfatiza que cada época precisa
de sua própria política, mas também ressalta a importância de certos princípios
racionais que são válidos para todos os tempos e lugares. O critério máximo de
uma boa política é o bem comum dos cidadãos, evitando tanto a opressão do
grupo sobre o indivíduo quanto a elevação do indivíduo acima do grupo.

A democracia é definida como o regime que possibilita a aplicação do


princípio do bem comum, evitando a anarquia. O autor ressalta que a democracia
não está ligada apenas à forma como o governo é constituído, mas sim à maneira
como ele se comporta. A autoridade também é discutida, enfatizando a tendência
de diluir a autoridade individual do governante em uma ideia de governo,
tornando-o menos propenso a erros e atitudes intempestivas.

A missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira para


Alcântara Nogueira
Nogueira enfatiza a importância da flexibilidade e abertura na reflexão
filosófica, evitando o fanatismo e a adesão exclusiva a uma única corrente de
pensamento. Destaca-se a necessidade de considerar correntes como o
racionalismo naturalista, o historicismo dialético e outras abordagens que
colocam o ser humano no centro do conhecimento e da filosofia.
Em suma, a missão da Filosofia na cultura brasileira é a da formulação
crítica dos problemas nacionais. Argumenta-se que o desenvolvimento da
cultura depende de um suporte filosófico que sirva como seu fundamento. Os
problemas enfrentados pelo Brasil estão relacionados às mudanças sociais,
políticas e econômicas, e há uma crescente demanda por participação e
igualdade de oportunidades para todos. A Filosofia é vista como um instrumento
cultural capaz de atender a essas demandas e promover a transformação da
vida cultural brasileira. No entanto, surge o desafio de tornar a Filosofia acessível
às grandes massas populares e à juventude do país. A questão levantada é se
isso é possível de ser alcançado.

“A Filosofia hoje” para Alvino Moser


Para Alvino Moser o filósofo não surge do nada, mas está inserido na
história e faz parte dela. A atividade filosófica parte do ponto onde outros filósofos
pararam, levando em consideração o acervo de correntes filosóficas existentes.
O autor destaca algumas correntes filosóficas que considera relevantes para a
reflexão atual.
Ele menciona o pragmatismo, que valoriza a utilidade e eficiência, mas
alerta para sua fraqueza interior e falta de consideração pelas diferenças nas
condições humanas.
O autor aponta a importância de considerar as teorias alternativas e critica
o anti-humanismo e a posição a-histórica dessa corrente. Também menciona o
estruturalismo, que considera uma nova forma do naturalismo, mas alerta para
o perigo do esvaziamento do humano. A fenomenologia e o existencialismo são
destacados por sua busca pelo sentido da existência humana, abordando
questões como encarnação, historicidade, liberdade e morte.
Por fim, menciona o neotomismo ou aristotélico-tomismo, que equilibra a
abstração e o empirismo, e oferece múltiplos pontos de reflexão e sugestões
para questões contemporâneas. O tomismo é elogiado por sua noção de pessoa
humana e sua base substancial no evangelho cristão. O autor destaca a
importância de compreender a inspiração original do tomismo, além de evitar
confusões entre lógica e ontologia.

A missão da Filosofia no Brasil para Antônio Joaquim Severino


Na visão de Severino, a missão específica da Filosofia diante da realidade
brasileira atual é realizar uma profunda reflexão para compreendê-la, interpretá-
la e possivelmente orientá-la, influenciando aqueles que desempenham um
papel eficaz na construção social. O objetivo final é tornar o homem uma pessoa
no âmbito cultural, sendo o elemento mais elevado e racional dessa
personalização. No contexto brasileiro, a Filosofia deve se constituir, acima de
tudo, como uma sincera e descomprometida investigação da realidade humana
nacional em suas dimensões individuais e sociais.
Os problemas vitais do Brasil, que requerem urgentemente a contribuição
do pensamento filosófico, estão relacionados à construção de uma sociedade
mais humana, envolvendo questões relacionadas à pessoa e à comunidade.
Portanto, há uma necessidade cada vez mais urgente de uma reflexão filosófica
original sobre nossos problemas políticos, econômicos, sociais, religiosos e
culturais em geral. Todas as esferas que envolvem a existência humana no Brasil
aguardam uma reflexão direcionada a elas, refletindo-as e germinando dentro
delas mesmas.
Apesar dos avanços e progressos na vida cultural brasileira, ainda
existem contradições que podem ser fatais e ameaçam o destino do país. Muitos
estão lutando para eliminar essas contradições, mas falta a contribuição da
reflexão filosófica nessa batalha pelo desenvolvimento. Resolver tecnicamente
a contradição fundamental apenas aumenta a antinomia, criando um divórcio
total entre aqueles que agem e aqueles que poderiam pensar e inspirar a ação.
As questões existenciais do país hoje devem ser pensadas de acordo com
nossos próprios padrões, em vez de serem importadas do espaço ou repetidas
no tempo como se a evolução espiritual da humanidade não tivesse uma direção
irreversível. Importar soluções puramente técnicas e prontas resultaria no
fracasso do resultado e condenaria nossa própria razão à esterilidade.

O valor do estudo da filosofia para Beda Kruse


Kruse discute a sua fase contemporânea de progresso técnico-científico,
que ameaçava envolver a mente humana de tal forma que a reflexão filosófica e
o autoconhecimento parecem não ter mais espaço. O utilitarismo imediatista
prevalece, levantando a questão se o homem, nessas circunstâncias, está
plenamente realizado ou se lhe falta algo mais profundo.
Refletindo sobre a possibilidade de mudança do homem, Kruse
argumenta que, em relação à sua orientação, sim, é possível haver mudanças,
mas em relação à sua constituição e natureza, ele permanecerá o mesmo. A
inteligência faz parte da constituição natural do homem e tem uma tendência
natural para buscar o conhecimento do ser. No entanto, a extensão dessa busca
intelectual depende da iniciativa pessoal e de vários fatores condicionantes.
Nesse contexto, o papel do professor de Filosofia é fundamental. Um
professor bem orientado e conhecedor da matéria filosófica pode transmitir ao
jovem estudante suas experiências vividas na Filosofia, abrindo sua
compreensão do mundo e do homem. Portanto, é necessário ensinar a Filosofia
com uma orientação cristã, a fim de guiar a mente humana para o seu melhor
desenvolvimento e felicidade.

Como devemos filosofar hoje no Brasil para Carlos Lopes de Mattos


Mattos aborda a questão do pensamento filosófico no Brasil, destacando
a influência estrangeira que permeou a filosofia brasileira desde sua
independência. Apesar de alguns filósofos terem inserido elementos brasileiros
em suas ideias, a filosofia praticada no país permaneceu estrangeira. No
entanto, o texto indica que a situação está começando a mudar, com uma
crescente consciência da necessidade de se libertar da dependência
estrangeira. Os intelectuais, especialmente os mais jovens, estão despertando
para o problema e reconhecendo a importância de uma filosofia genuinamente
brasileira, adaptada às demandas do país. O texto enfatiza a necessidade de os
filósofos estarem atentos aos problemas nacionais, não se alienando ou
desdenhando das questões vitais enfrentadas pelos cidadãos. Embora não se
espere que a filosofia resolva todos os problemas do país, os filósofos têm um
papel importante a desempenhar ao oferecerem reflexões mais profundas,
incluindo aspectos metafísicos.

O pensamento sobre a filosofia brasileira segundo Cruz Costa


Cruz Costa aborda a importância da filosofia para a vida cultural brasileira,
destacando a necessidade de coordenar racionalmente as riquezas existentes
no povo brasileiro. Ele argumenta que a reflexão filosófica pode ajudar a
conscientizar politicamente o povo, cumprindo assim uma parte de sua tarefa. O
autor ressalta a importância de considerar todas as correntes filosóficas que
expressem o sentido e as contradições do tempo atual, e enfatiza a importância
dos dados científicos para a reflexão filosófica, tornando-a delicada e difícil nos
dias de hoje.
Ele também expressa a ideia de que não existe uma filosofia nacional,
mas que tudo o que é feito deve refletir a maneira de ser do povo brasileiro. O
autor defende uma visão imanente da realidade, com base em razões científicas
e práticas. Ele afirma que teoria e prática são duas faces da inteligência e que a
filosofia é uma ciência objetiva, mas com aspectos subjetivos. O autor conclui
mencionando a influência das ideias no Brasil ao longo da história e como a
filosofia tem sido útil para ação social e política. Ele destaca diferentes correntes
filosóficas que surgiram no país e observa a evolução do pensamento brasileiro
ao longo do século XIX e XX, com ênfase na importância de uma nova formação
e compreensão mais precisa dos problemas culturais do país. No entanto, ele
ressalta que ainda há características da falta de conhecimento e compreensão
abrangente, como exemplificado pela figura de Macunaíma, que representa a
ignorância cultural.

Um ecletismo sábio e temperado, exigências do pensamento


filosófico hodierno para Emílio Silva
Silva discute a proliferação de sistemas e doutrinas filosóficas, resultando
em uma anarquia de sistemas e um aumento do ceticismo. Ele menciona duas
tendências opostas que disputaram a verdade: o empirismo/positivismo, que
nega a metafísica e considera ilusórias a liberdade humana e a espiritualidade
da alma, e o racionalismo, que absorve todo conhecimento na razão e busca
identificar todos os seres em uma substância única.
O texto também menciona a restauração da Escolástica e destaca as
tendências atuais, como a fenomenologia, o existencialismo, a neoescolástica,
a antropologia filosófica, o pragmatismo, o neopositivismo, a filosofia analítica e
o estruturalismo. Apesar da diversidade, há um núcleo de problemas e
pensadores que mantêm a disciplina filosófica em alta. O autor defende a
importância de adquirir conhecimento das correntes do pensamento mundial,
mas não aderir a elas por moda, pois a missão dos filósofos é serem dirigentes
e submeter tudo à crítica lúcida.

O autor também discute a questão da existência de uma filosofia nacional


e a relação entre a filosofia e a cultura de um país, se referindo a questão da
possibilidade de um Filosofia Indígena. Ele argumenta que a filosofia não tem
fronteiras nem nacionalidade, pois estuda questões universais e
transcendentais, como as últimas causas do ser e o sentido da vida. No entanto,
reconhece que diferentes povos e culturas podem dar tonalidades e irradiações
variadas à filosofia, devido às suas origens, formação intelectual, ambiente e
vivência histórica. Assim, embora a filosofia seja una e única, ela pode adquirir
um aspecto indígena e fazer parte do patrimônio intelectual de cada povo.

Qual é a missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira para


Evaldo Pauli
Pauli reflete a possibilidade de uma filosofia brasileira ou nacional e a
relação entre a reflexão filosófica e uma visão transcendental da realidade. O
autor argumenta que, para um relativista, historicista ou culturalista, pode haver
uma filosofia brasileira, assim como uma filosofia alemã ou francesa, pois não
há nada absoluto nessas abordagens, apenas tendências cósmicas e humanas.
No entanto, a questão da transcendência requer uma análise mais
aprofundada. Enquanto alguns sistemas filosóficos, como o aristotélico,
permitem caminhar em direção ao transcendente através do uso do raciocínio,
outros, como o kantiano e o de Sartre, apresentam dificuldades em conciliar a
noção de Deus com a realidade imperfeita e contingente do mundo. A negação
dessas exigências leva à não consideração do transcendente.

A Filosofia e a vida cultural brasileira hodierna para Fernando Arruda


Campos
Arruda Campos conclui a parte introdutória de seu livro "Tomismo e
Neotomismo no Brasil" destacando a importância de o pensamento tomista atual
no Brasil não se limitar a repetir e comentar teses filosóficas passadas ou
estrangeiras. Ele enfatiza a necessidade de uma cultura brasileira integrada ao
espírito ocidental, mas enraizada na realidade do Brasil, e afirma que a filosofia
no Brasil deve ser a expressão cultural mais elevada. Nesse sentido, o tomismo
tem um papel importante a desempenhar, contribuindo para a criação de uma
filosofia genuinamente brasileira capaz de oferecer soluções para os problemas
fundamentais da cultura nacional. Por exemplo, a filosofia tomista poderia
abordar o problema socioeconômico da oposição entre assalariados e
proprietários de capital e propor soluções com base no solidarismo cristão. Além
disso, a filosofia tomista poderia analisar e refletir sobre o problema da educação
nacional, levando em consideração não apenas o aluno, mas também o
ambiente e as condições da atividade educacional no Brasil. O autor sugere que
este é um momento oportuno para abordar, à luz da filosofia, o importante e vital
problema da universidade brasileira.

Qual é a missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira para


Fernando Campos
A Filosofia no Brasil está começando a desenvolver uma consciência de
si mesma, refletindo sobre sua história, suas falhas, limitações e possibilidades.
A Universidade, onde se encontra a Faculdade de Filosofia, desempenha um
papel relevante no pensamento filosófico atual do país. A reflexão filosófica,
estruturada de forma científica nas faculdades de Filosofia, tem condições de
produzir obras valiosas e originais. No entanto, para falar em uma Filosofia
Brasileira autêntica, é necessário que a reflexão filosófica seja baseada em
fundamentos genuinamente nacionais, sem negar a universalidade do
conhecimento filosófico, mas surgindo das profundas necessidades da
Nacionalidade.
Essa reflexão deve estar enraizada na unidade orgânica de nossa cultura
e buscar uma compreensão profunda e abrangente dela, oferecendo soluções
para os problemas que emergem dessa cultura.

Missão da Filosofia no Brasil para Gilberto de Mello Kujawski


Kujawski conclui que a condição espiritual brasileira é pré-cartesiana, ou
seja, nunca fomos modernos, mas sim herdamos um estatuto pré-moderno de
Portugal. Enquanto alguns proclamam orgulho em relação a essa condição,
acredito que nosso orgulho será mais justificado quando alcançarmos uma
condição pós-cartesiana. O estágio pré-cartesiano é caracterizado por uma
consciência tradicionalista, onde a tradição é o método para compreender a
realidade. Já o estágio cartesiano, característico da Europa moderna, é
dominado pela consciência racional, com a razão pura do racionalismo como
método para atingir o real.
O estágio pós-cartesiano é marcado pela consciência histórica, onde a
História se torna o caminho para compreender a realidade. No Brasil,
abandonamos o estágio tradicionalista sem aderir ao estágio moderno, o que
resultou em uma equivocação histórica. A tarefa da Filosofia no Brasil é conduzir
a consciência nacional à idade da razão, mas não à razão pura do racionalismo,
e sim à razão histórica. A razão histórica nos permite compreender quem somos,
de onde viemos e para onde vamos, pois fluidifica todas as coisas no curso do
acontecer temporal. A razão histórica é narrativa, compreendendo através da
narrativa.
A Filosofia no Brasil tem a responsabilidade de conduzir o país à
consciência de si mesmo por meio da razão histórica. Isso inclui evitar uma
revolução político-social anacrônica, pois as revoluções se tornaram soluções
historicamente falsas. A razão histórica é a forma mais dialética de razão, pois
considera todos os aspectos da vida e mantém uma rigorosa continuidade entre
presente, passado e futuro. Portanto, a razão histórica é alheia tanto à revolução
quanto à reação, transcendendo as divisões políticas.
O Estoicismo foi o único exemplo de uma forma de Filosofia popular em
larga escala, que se tornou dominante após o declínio das crenças antigas. No
entanto, isso só foi possível devido à natureza rudimentar do Estoicismo, que
não se comparava aos grandes sistemas filosóficos anteriores, como os de
Platão ou Aristóteles. Assim, ao se popularizar, a Filosofia se vulgarizou.

A Filosofia no Brasil para José Parsifal Barroso


Para Parsifal Barroso, a missão da Filosofia no Brasil não é encarada com
otimismo devido à falta de conclusão do processo de formação da Cultura
Nacional no plano das ideias e conceitos. A civilização brasileira ainda carece de
uma nitidez de contorno que corresponda à originalidade do pensamento
filosófico e à autenticidade de nossa cultura intelectual.
Devido aos defeitos presentes na formação da Cultura Brasileira, somos
mais sentimentais do que racionais, o que dificulta o desenvolvimento de
doutrinas filosóficas que exerçam hegemonia sobre a vida cultural de um povo
indiferente ou avesso às questões do espírito. Enquanto esse processo de
construção da cultura estiver em andamento, a reflexão filosófica brasileira
sofrerá com a falta de capacidade de se afirmar como uma doutrina
sistematizada, uma vez que será influenciada pelas diferentes etapas das
atividades espirituais do povo. Portanto, não é possível falar em uma filosofia
nacional madura e perfeitamente definida.
Para o autor somos um pensamento cultural em evolução, em busca de
afirmar-se positivamente e se tornar uma realidade fundamental que possa
sustentar uma reflexão filosófica específica.

Qual é a missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira para


Leonardo Van Acker
Para Van Acker, antes de nos preocuparmos com os resultados práticos
da Filosofia, é importante cultivar a própria Filosofia. As contribuições práticas
surgirão naturalmente como um acréscimo. Assim como as pesquisas teóricas
da Ciência físico-matemática levaram a aplicações técnicas inesperadas, o
pensamento filosófico especulativo também leva a resultados práticos
imprevisíveis. Por exemplo, os planos de reforma moral, social e política
concebidos por Platão falharam, mas a filosofia de Plotino, que não valorizava a
ação prática, influenciou a reforma moral e religiosa de Santo Agostinho, cujas
consequências morais e sociais se estenderam ao longo dos séculos.
Atribuir à Filosofia uma missão social e política é suprimi-la e substituí-la
por uma ideologia político-social. Isso equivale a confundir Filosofia com
filodoxia, como diria Platão.
A Filosofia, assim como qualquer outra ciência, não é totalmente objetiva,
pois reflete o sujeito envolvido nela e a influência de sua raça. A psicologia
inglesa e alemã, por exemplo, têm características distintas, como observado por
Ribot. O surgimento da Física Moderna não se deve apenas a um grande número
de trabalhadores anônimos, mas a personalidades altamente talentosas,
destacando-se a figura de Einstein, cujo espírito reflete a genialidade israelita,
manifestada não apenas nas ciências, mas também na Música e na Filosofia. A
Matemática, por sua vez, é uma criação da raça helênica, embora
progressos notáveis já tivessem sido feitos anteriormente por assírios, babilônios
e egípcios. A Filosofia passou por uma evolução similar, em que o pensamento
filosófico dos antigos persas e hindus, misturado com religião, se tornou uma
disciplina racional puramente graças à influência do espírito helênico. Portanto,
mesmo na Filosofia mais abstrata, não se pode reivindicar a característica de
"impessoalidade", pois ela é uma expressão concreta de um indivíduo ou grupo
de indivíduos, influenciados pela raça, clima e nacionalidade.

A missão da filosofia em relação à vida cultural brasileira hodierna


para Maria Isabel Moraes Pitombo
Para Pitombo, o objetivo da Filosofia é refletir sobre os problemas não
resolvidos pelas ciências específicas, buscando soluções em uma visão
universal do ser. Nessa perspectiva, é importante examinar as características
cognitivas e axiológicas humanas, atribuindo um papel privilegiado ao homem.
No entanto, a base dessa reflexão universal deve ser o exame concreto da
realidade, tanto em seu aspecto cósmico quanto humano, incluindo a realidade
brasileira.
Embora não se afaste do nacionalismo filosófico exagerado, a Filosofia
deve relacionar-se não apenas com a vida cultural brasileira e hispano-
americana, mas também alcançar o âmbito universal em busca da verdade.
Nesse sentido, a Filosofia pode adotar uma perspectiva pluralista de liberdade.
O filósofo deve desenvolver sua teoria de maneira harmoniosa com suas
convicções pessoais, ao mesmo tempo em que compreende as demais posições
filosóficas. Portanto, uma Filosofia Nacional Brasileira pode beneficiar tanto o
pensamento filosófico estrangeiro quanto ser beneficiada por ele.

A missão da filosofia na vida cultural brasileira hodierna para Mário


Ferreira dos Santos
Ferreira dos Santos defende, para os brasileiros, a capacidade de
desenvolver uma Filosofia de caráter ecumênico, que corresponda ao verdadeiro
propósito da busca pela Sabedoria. A Filosofia é o esforço contínuo para
alcançar essa suprema instrução, e existem diferentes caminhos para isso,
embora haja apenas um caminho verdadeiro. A autoridade na Filosofia reside na
demonstração apodítica, baseada em juízos necessários e exclusivos.
Pode-sr compreender e vivenciar o universal, entendendo os diferentes
modos de ver e sentir dos povos, mas não devemos apenas receber ideias de
todas as partes sem encontrar um caminho próprio. Precisamos criar nosso
próprio caminho filosófico.
Para o autor, sem uma visão positiva e concreta da Filosofia, não seremos
capazes de resolver os inúmeros problemas vitais que enfrentamos no Brasil,
pois a diversidade de ideias e posições dificulta a busca por soluções adequadas
às nossas necessidades.

A missão da Filosofia em relação à vida cultural brasileira hodierna


para Miguel Reale
Para Reale a maturidade cultural brasileira depende de estudos filosóficos
objetivos e metódicos. É necessário substituir o intuicionismo fácil por uma
reflexão próxima à experiência concreta, buscando uma solução que poderia ser
considerada como "positividade sem positivismo". Dessa forma, evitamos que o
pensamento filosófico se perca na abstração formal ou se fragmente no
empirismo. O papel da Filosofia é sempre crítico e problemático, e não há razão
para acreditar que deva ser diferente no Brasil.
Reale destaca a importância do ser humano sobre a máquina, ressaltando
o aspecto humano presente na tecnologia: "Observem aquela máquina,
harmoniosa em seu ritmo sincrônico de polias e engrenagens, obedecendo com
precisão a comandos remotos. Ela é feita de aço, alumínio, fios, válvulas,
bobinas, tudo o que há de mais material e físico, mas não devemos nos enganar:
aquela máquina resume felizmente milênios de história, incorporando os
momentos criativos que iluminaram as vias ascendentes das hipóteses
triunfantes, assim como as longas e árduas jornadas dos sábios em seus
laboratórios, dos operários nos tumultos das usinas e dos empreendedores
lançados no campo do lucro e do risco."

Filosofia e Brasil para Übiratan de Macedo


Macedo considera que, por algum tempo, houve a ideia de que a função da
Filosofia no Brasil era "elaborar uma ideologia para o desenvolvimento
econômico". No entanto, essa perspectiva parece ser fruto de uma confusão
epistemológica. O pensamento ideológico não é inerente à reflexão filosófica,
embora possa coexistir com ela. A Filosofia, como reflexão racional sobre o real,
é distinta e independente da ideologia. A missão da Filosofia no Brasil é
desenvolver uma ciência crítica do país e de seus problemas, que são humanos
e, ao mesmo tempo, universais. Nesse sentido, sua função é criticar as soluções
propostas para os problemas, analisando os valores que as fundamentam, pois
é próprio do pensamento racional estabelecer e justificar valores.

Dentro dessa definição de função da Filosofia, o autor afirma que o


problema principal é a análise crítica das teorias globais que surgiram sobre a
realidade nacional. Além disso, é necessário um plano de Filosofia Social,
examinando as questões relacionadas aos direitos de determinadas classes
sociais em contraste com a privação desses direitos para outras classes e
regiões. Outro problema importante é a validade do conceito de nacionalidade e
sua relação com a humanidade, como elementos condicionantes das soluções
político-sociais. Também é necessária uma reflexão sobre a discrepância
evidente entre a estrutura política da sociedade brasileira e sua atual composição
social e econômica.

Conclusão geral sobre as respostas


Nos textos se ressaltou a importância de cultivar a própria Filosofia antes
de buscar resultados práticos, destacando que o pensamento filosófico
especulativo pode levar a resultados imprevisíveis. Além disso, enfatizou-se que
a Filosofia traz consigo características individuais e culturais, refletindo a
influência do sujeito e da raça. Também foi abordada a relação entre a Filosofia
e a reflexão sobre problemas não resolvidos pelas ciências particulares,
defendendo-se a necessidade de uma abordagem pluralista e libertária. Os
textos também mencionaram a importância de uma Filosofia brasileira capaz de
beneficiar e ser beneficiada pelo pensamento filosófico estrangeiro.
Outro tema discutido foi a relação entre Filosofia e ideologia, apontando-se
a distinção entre ambas e destacando o papel crítico da Filosofia na análise das
ideologias propostas. Foi ressaltada a importância da Filosofia como uma ciência
crítica do país, analisando questões sociais, políticas e econômicas. Também se
abordou a necessidade de refletir sobre a validade da noção de nacionalidade e
sua relação com a humanidade.
Em suma, os textos exploraram o papel da Filosofia como uma disciplina
reflexiva, crítica e problematizadora, capaz de analisar e contribuir para questões
universais e específicas de diferentes contextos culturais, sociais e políticos.

LADUSÃNS, Stanislavs. Rumos da filosofia atual no Brasil em autorretratos. São


Paulo: Edições Loyola, 1976.

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