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Máximas morais, reflexões, sentenças ou aforismos do filósofo francês

François de La Rochefoucauld: ideias da França do século XVII

Moral maxims, reflections, sentences or aphorisms from the French


philosopher François de La Rochefoucauld: ideas from 17th century France

BRAGA, Paulo H.F.S.F.


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Resumo: Este texto apresenta uma resenha do livro: “Reflexões ou sentenças e


máximas morais” do filósofo francês François de La Rochefoucauld. As suas
máximas morais discutem uma variedade de temas relacionados à natureza
humana, às emoções, aos relacionamentos sociais e à busca pela felicidade.
Elas abordam a influência do amor-próprio nas paixões e nos gostos, a
decadência da moralidade e dos costumes devido ao desejo de comodidade, a
importância da moderação na zombaria e o poder de cura da atividade física.
Também exploram a relação entre elogios e críticas, a vingança através do bem,
a dificuldade de expressar opiniões por medo, a falta de humildade mesmo na
busca pela devoção, a ilusão de felicidade e a tendência de se atormentar para
parecer feliz. Os textos também discutem a vantagem de não se comprometer
para o sábio, a conexão entre felicidade e posse, a busca por elogios e a ilusão
de ser amado. Além disso, abordam a preferência por ver aqueles a quem se faz
bem, a dificuldade em esconder sentimentos e a importância do estudo das
pessoas. No geral, os textos revelam reflexões sobre as contradições e
complexidades da natureza humana e dos relacionamentos interpessoais.

Palavras chave: Filosofia; Filosofia Francesa; Aforismos; Máximas Filosóficas.

Abstract: This text presents a review of the book: "Reflections or sentences and
moral maxims" by the French philosopher François de La Rochefoucauld. His
moral maxims discuss a variety of topics related to human nature, emotions,
social relationships and the pursuit of happiness. They address the influence of
self-love on passions and tastes, the decay of morality and manners due to the
desire for convenience, the importance of moderation in mockery, and the healing
power of physical activity. They also explore the relationship between praise and
criticism, revenge through goodness, the difficulty of expressing opinions out of
fear, the lack of humility even in the pursuit of devotion, the illusion of happiness
and the tendency to torment oneself to appear happy. The texts also discuss the
advantage of not compromising for the wise, the connection between happiness
and possession, the pursuit of praise and the illusion of being loved. In addition,
they address the preference for seeing those to whom one does good, the
difficulty in hiding feelings and the importance of studying people. Overall, the
texts reveal reflections on the contradictions and complexities of human nature
and interpersonal relationships.
Keywords: Philosophy; French Philosophy; Aphorisms; Philosophical maxims..

Apresentação do autor
François VI, futuro duque de La Rochefoucauld, foi um moralista e
pensador francês do século XVII. Sua carreira militar foi bem-sucedida,
alcançando o posto de mestre de campo após a campanha na Itália. No entanto,
foi exilado por supostamente discordar das estratégias militares francesas,
embora a verdadeira razão tenha sido seu envolvimento em conspirações contra
o primeiro-ministro Richelieu, devido à sua relação de confidente com a rainha
da Áustria. Durante a guerra civil francesa conhecida como a Fronda, La
Rochefoucauld participou ativamente e foi ferido na cabeça por um tiro de
mosquete, quase perdendo a visão.
Após encerrar sua carreira militar, La Rochefoucauld se dedicou à sua
saúde e mudou-se para Verteuil, onde escreveu suas Memórias. Mais tarde,
retornou a Paris e se tornou um influente membro dos círculos sociais,
frequentando reuniões e salões literários. Em 1659, foi readmitido nos círculos
da corte e recebeu uma pensão real. Suas máximas, um gênero literário que
ajudou a consolidar, foram publicadas sob o título "Réflexions ou sentences et
maximes morales" com o apoio financeiro do rei.

Máximas ou sentenças de 1 até 30


Nas máximas em questão, La Rochefoucauld aborda diversas reflexões
sobre as paixões humanas, o amor-próprio, a moderação, a constância e outros
aspectos da natureza humana. Ele sugere que o que geralmente consideramos
virtudes muitas vezes são apenas ações e interesses que o destino ou nossa
própria astúcia nos levam a adotar. Destaca o amor-próprio como o maior
adulador e ressalta que ainda há muito a ser descoberto nessa área.
O autor enfatiza que as paixões têm um poder convincente e injusto, e que
devemos desconfiar delas mesmo quando parecem racionais. Afirma que as
paixões podem gerar outras que são contrárias a elas, e que muitas vezes somos
firmes por fraqueza e audaciosos por timidez.

La Rochefoucauld observa que, por mais que tentemos esconder nossas


paixões com aparências de devoção e honra, elas sempre transparecem.
Destaca também a tendência das pessoas a esquecer os benefícios recebidos
e odiar aqueles que os beneficiaram, enquanto deixam de odiar os que as
ofenderam.
Ele questiona a verdadeira natureza da clemência dos príncipes,
argumentando que muitas vezes é motivada por vaidade, preguiça e medo. A
moderação, segundo ele, surge da calma proporcionada pela boa fortuna, mas
também pode ser uma tentativa de parecer maior do que o destino.
O autor sugere que a constância dos sábios é a habilidade de reprimir a
agitação interna. Observa que muitas vezes a constância aparente daqueles
condenados ao suplício é apenas um disfarce para o medo da morte. Destaca
que a filosofia pode ajudar a superar os males passados e futuros, mas os males
presentes são mais difíceis de enfrentar.
La Rochefoucauld conclui afirmando que precisamos de virtudes maiores
para suportar a boa fortuna do que para suportar a má fortuna. Ele menciona
que não podemos encarar diretamente o sol ou a morte, e que costumamos nos
orgulhar de nossas paixões, mesmo as mais criminosas, mas a inveja é uma
paixão tímida e vergonhosa que não ousamos confessar. Argumenta também
que nossas boas qualidades atraem mais perseguição e ódio do que o mal que
praticamos. Por fim, sugere que muitas vezes imaginamos as coisas como
impossíveis para nos desculparmos diante de nossas fraquezas e falta de
vontade.
Alguns exemplos de máximas são:
“10. Há no coração humano uma geração perpétua de paixões, de modo
que a ruína de uma é quase sempre o nascimento de outra”.
“16. Essa clemência que apresentamos como virtude se pratica ora por
vaidade, às vezes por preguiça, muitas vezes por medo, e quase sempre pelas
três razões juntas”.

Máximas ou sentenças de 31 até 60


Nessas máximas, La Rochefoucauld aborda várias reflexões sobre a
natureza humana, destacando o papel do orgulho, do interesse, do
temperamento e da felicidade. Ele argumenta que, se não tivéssemos defeitos,
não teríamos prazer em apontar os defeitos dos outros. Observa que o orgulho
é igual em todos os homens, manifestando-se de diferentes maneiras, e sugere
que ele nos poupa da dor de reconhecer nossas imperfeições.
O autor ressalta que muitas vezes advertimos os outros não tanto para
corrigi-los, mas para convencê-los de que somos superiores a eles. Afirma que
prometemos de acordo com nossas esperanças, mas cumprimos de acordo com
nossos medos. Destaca que o interesse pode cegar algumas pessoas e iluminar
outras, e que aqueles que se preocupam demais com coisas insignificantes
muitas vezes se tornam incapazes de lidar com questões importantes.
La Rochefoucauld argumenta que muitas vezes pensamos estar
conduzindo, quando na verdade estamos sendo conduzidos, e que o poder do
espírito está ligado à boa ou má condição dos órgãos do corpo. Ele observa que
o capricho de nosso humor é mais estranho do que o da fortuna.
O autor sugere que o apego ou a indiferença dos filósofos em relação à
vida era apenas uma questão de amor-próprio e que a felicidade está no gosto
pessoal, não nas opiniões dos outros. Afirma que muitas vezes nos vangloriamos
de ser infelizes para demonstrar nosso mérito e critica a incoerência de
desaprovar algo no presente que aprovamos no passado.
La Rochefoucauld sugere que, apesar das diferenças nos destinos, há uma
certa compensação entre os bens e os males que os iguala. Argumenta que tanto
a natureza quanto o destino contribuem para a formação dos heróis. Destaca
também que o desprezo pelas riquezas era um desejo oculto dos filósofos de
vingar seu mérito diante da injustiça do destino.
Também afirma que o ódio pelos favorecidos é, na verdade, um amor pelo
favorecimento, e que muitas vezes tentamos parecer estabelecidos no mundo.
Ele sugere que nossas ações são influenciadas pela sorte e que tanto os
habilidosos quanto os imprudentes podem tirar proveito ou prejuízo das
circunstâncias.
Máximas ou sentenças de 61 até 100
Nas máximas até a centésima, La Rochefoucauld aborda uma série de
reflexões sobre a natureza humana, especialmente relacionadas à felicidade,
sinceridade, amor, amizade e julgamento. Ele argumenta que a felicidade e a
infelicidade dos indivíduos dependem tanto do temperamento quanto do destino.
O autor sugere que a sinceridade é rara e muitas vezes é apenas uma
forma dissimulada de atrair a confiança dos outros. Observa que a aversão à
mentira muitas vezes é impulsionada pela ambição de ter testemunhos
considerados dignos e receber respeito pelas palavras. Destaca que as
aparências muitas vezes causam mais mal ao mundo do que a verdade.
La Rochefoucauld elogia a prudência, mesmo que não possa garantir
eventos futuros, e argumenta que um indivíduo habilidoso deve regular seus
interesses e atender a cada um deles em ordem de importância. Ele aponta que
nossa ganância muitas vezes nos leva a desejar coisas menos importantes,
resultando na perda das coisas mais significativas.
O autor discute o amor, afirmando que é difícil defini-lo, mas que ele pode
assumir várias formas e ser tanto paixão quanto simpatia. Ele sugere que o amor
puro está oculto no fundo do coração e muitas vezes desconhecemos sua
existência. Observa que o amor não pode subsistir sem um movimento contínuo
e que a maioria das pessoas fala sobre o amor, mas poucas realmente o
experimentam. Por fim, La Rochefoucauld discute o bom gosto do espírito, que
consiste em pensar coisas honestas e delicadas, e a galanteria do espírito, que
envolve expressar elogios de maneira agradável.

Máximas ou sentenças de 101 até 125


La Rochefoucauld apresenta uma série de reflexões, entre as máximas
centésima até a centésima vigésima quinta, sobre a natureza humana. Ele
observa que muitas vezes as coisas parecem mais completas ao nosso espírito
do que realmente são. Argumenta que o espírito é frequentemente enganado
pelo coração, destacando que nem todos que conhecem o espírito de alguém
realmente conhecem seu coração.
O autor discute a perspectiva que temos das pessoas e dos assuntos.
Algumas coisas precisamos observar de perto para fazer um bom julgamento,
enquanto outras só conseguimos julgar adequadamente quando estamos
distantes. Ele enfatiza que não é racional encontrar a razão por acaso, mas sim
conhecê-la, discerni-la e apreciá-la.

La Rochefoucauld aborda a natureza superficial e imperfeita de nossos


conhecimentos, afirmando que é uma forma de afetação nunca demonstrarmos
isso. Ele sugere que o espírito não pode representar o papel do coração por
muito tempo.
O autor comenta sobre as mudanças de gostos da juventude e a
preservação dos gostos na velhice. Observa que, quanto mais amamos uma
mulher, mais próximos estamos de odiá-la.
La Rochefoucauld discute a decepção causada por inimigos e amigos
traiçoeiros, e sugere que muitas vezes nos satisfazemos quando somos
enganados por nós mesmos. Ele reflete sobre a capacidade de nos enganarmos
sem perceber e sobre a falta de sinceridade ao pedir e dar conselhos.
O autor aborda a astúcia de fingir cair em armadilhas e argumenta que
somos mais facilmente enganados quando tentamos enganar os outros. Destaca
que a intenção de nunca enganar nos expõe a sermos frequentemente
enganados e que estamos tão acostumados a nos disfarçar para os outros que
acabamos nos disfarçando para nós mesmos.
La Rochefoucauld aponta que traímos mais por fraqueza do que por um
plano deliberado de trair, e que frequentemente fazemos o bem para poder fazer
o mal impunemente. Observa que resistimos às nossas paixões mais por sua
fraqueza do que por nossa força.

O autor sugere que não sentiríamos prazer se não nos lisonjeássemos e


que os mais habilidosos fingem criticar as perspicácias durante toda a vida, para
usá-las em algum momento crucial e por algum grande interesse. Ele considera
o uso constante da astúcia como característica de uma alma pequena e afirma
que, quase sempre, aquele que a utiliza para se proteger de um lado acaba se
revelando em outro.

Máximas ou sentenças de 126 até 150


La Rochefoucauld aborda várias reflexões sobre a natureza humana. Ele
argumenta que as astúcias e traições resultam da falta de habilidade e que
aqueles que se consideram mais espertos que os outros são os mais propensos
a serem enganados. O autor discute a sutileza exagerada como uma falsa
delicadeza, destacando que a verdadeira delicadeza é uma forma sólida de
sutileza.
La Rochefoucauld sugere que às vezes ser grosseiro é uma maneira de
evitar ser enganado por pessoas astutas. O autor reflete sobre a dificuldade de
ser sábio para si mesmo e destaca que as melhores cópias são aquelas que
revelam o ridículo dos maus originais. Ele argumenta que muitas vezes somos
mais ridículos pelas qualidades que fingimos ter do que pelas que realmente
possuímos. La Rochefoucauld observa que às vezes somos tão diferentes de
nós mesmos quanto somos dos outros.
O autor comenta que algumas pessoas só teriam amado se nunca tivessem
ouvido falar do amor. O autor ironiza que, muitas vezes, um homem de espírito
se sentiria bastante constrangido sem a companhia de tolos. Ele sugere que
poucos são sábios o suficiente para preferir uma crítica útil ao elogio que os trai.
O autor comenta que há repreensões que elogiam e elogios que amaldiçoam.
Ele ironicamente observa que recusar elogios é desejar ser elogiado duas vezes.
La Rochefoucauld argumenta que o desejo de merecer os elogios que
recebemos fortalece nossa virtude, e os elogios que fazemos à inteligência,
coragem e beleza contribuem para aumentá-los.

Máximas ou sentenças de 151 até 200


Essas máximas refletem sobre as interações humanas, o comportamento,
a natureza humana e a importância das aparências. Ele destaca que é mais difícil
evitar ser governado por outros do que governar, e que a adulação dos outros
pode nos prejudicar se nos adulamos a nós mesmos. A natureza cria o mérito,
mas é a fortuna que o torna valioso. Às vezes, a fortuna corrige defeitos que a
razão não consegue corrigir. O mérito de uma pessoa nem sempre está alinhado
com sua aparência ou comportamento, e a glória de grandes homens deve ser
medida pelos meios que utilizaram para obtê-la. A adulação é uma moeda falsa
que circula apenas por causa da vaidade. Ter grandes qualidades não é
suficiente, é preciso administrá-las adequadamente. A ação só pode ser
considerada grande quando resulta de um grande propósito, e as ações devem
estar em proporção com os propósitos para obter todos os efeitos desejados. O
texto também discute a curiosidade, a constância no amor, as recaídas nos
vícios e a importância da virtude e da vaidade. Em resumo, o texto explora os
diferentes aspectos da natureza humana e como eles afetam nossas interações
e realizações.

Máximas ou sentenças de 201 até 240


Essas máximas, escolhidas do número duzentos e um até o duzentos e
quarenta, abordam diferentes aspectos relacionados ao comportamento
humano, envolvendo temas como a importância das relações sociais, a
sinceridade, a honestidade, a coragem, a vaidade e a hipocrisia. O autor destaca
que não devemos nos considerar superiores aos outros nem acreditar que
somos insubstituíveis, mas sim reconhecer nossas próprias falhas e ser
verdadeiros conosco mesmos. Também ressalta que a verdadeira virtude está
em não se vangloriar e em agir com honestidade e gravidade. Além disso, o texto
menciona a presença da loucura ao longo da vida, a variedade de tipos de
coragem e a influência do medo da morte na coragem das pessoas. O autor
discute o papel da vaidade, da vergonha e do temperamento na formação da
coragem dos homens e da virtude das mulheres. Aborda-se também a
importância do exemplo, a gratidão, o orgulho, a aflição, a hipocrisia e as
diferentes motivações por trás das lágrimas. Por fim, o texto menciona a busca
pelo reconhecimento, o amor-próprio, a bondade e o encanto como elementos
que influenciam as interações humanas.

Máximas ou sentenças de 241 até 280


Essas sentenças morais discutem aspectos relacionados ao
comportamento humano, como a coqueteria, a habilidade de esconder
habilidades, a falsa humildade, a importância das aparências, a gravidade como
forma de esconder defeitos, a importância do amor próprio, a generosidade como
forma de busca por interesses maiores, a influência das paixões e virtudes, a
preguiça como dominante, a necessidade de investigação antes de julgar, a
busca por reconhecimento, a influência da juventude, a valorização de pequenas
conquistas, a aprovação baseada em vícios, a efemeridade do amor, a influência
dos interesses pessoais, a diminuição das paixões na ausência, a diferença entre
coqueteria e amor, o abandono de amigos em prol do sucesso pessoal e a inveja
em relação ao sucesso alheio.

Máximas ou sentenças de 281 até 320


Nessas máximas selecionadas, o filósofo francês reflete sobre a moral
humana. Fala sobre o orgulho como um meio de moderar a inveja, a habilidade
de aconselhar a si mesmo, a presença de falsidades que parecem verdadeiras,
a dualidade entre bondade e maldade, a dificuldade de amar novamente o que
deixamos de amar, a influência dos humores do corpo em nossas ações, a
gratidão como um desejo de receber mais benefícios, a propensão à loucura e à
ingratidão, a importância das aparências nos pequenos interesses, a falta de
aprendizado quando falam bem de nós, a dificuldade em perdoar e a
complexidade do interesse como motivador de ações boas ou más. Faz menção
à moderação como virtude, à tolice como destino, à importância de falar de si
mesmo para os amantes, à memória seletiva em relação a eventos pessoais, à
dificuldade de mostrar nosso verdadeiro eu aos amigos, à insinceridade dos
fracos, à desgraça de ser favorecido por uma pessoa desonesta e à
impossibilidade de endireitar uma mente extraviada. Também menciona a
importância de não falar dos defeitos dos amigos e benfeitores e adverte sobre
o risco de elogiar virtudes inexistentes nos príncipes.

Máximas ou sentenças de 321 até 360


O filósofo moralista propõe várias reflexões sobre a complexidade do amor
e do ódio, o medo do desprezo, a influência da fortuna em nossa sabedoria, a
relação entre ciúme e amor-próprio, a dificuldade de consolo racional diante de
certos males, a importância do respeito e do ridículo, a natureza da inveja e da
adulação, o perdão ligado ao amor, as nuances da fidelidade e do ciúme, as
características das mulheres, a intensidade das paixões e o efeito do tempo, a
influência do ambiente de origem, a importância de aproveitar as oportunidades,
a conexão entre temperamento e regra, a tendência de concordar com pessoas
de bom senso, a dúvida no amor, a acrimônia causada por espertezas alheias,
a dificuldade de terminar um relacionamento quando não se ama mais, o tédio
nas relações restritas, a valorização dos defeitos, a ambiguidade das perdas, a
admiração mútua, a capacidade de lidar com mágoas, a importância da
humildade como prova de virtude, a reação diante de infidelidades e a percepção
da gravidade das mesmas.

Máximas ou sentenças de 361 até 400


O autor também fala sobre o luto pelos amantes, a violência contra si
mesmo, a dificuldade de falar sobre si e sobre as mulheres, a dualidade das
qualidades naturais e adquiridas, a crença na sinceridade alheia, a busca pela
honestidade e seu valor oculto, as violências internas que impedem o amor, o
medo e a covardia, a dificuldade de perceber quando deixamos de ser amados,
a confusão entre naturalidade e má educação, as lágrimas enganadoras, o amor
por interesse, o julgamento dos espíritos medíocres, a superação da inveja e da
coqueteria pelo amor e amizade verdadeiros.

Máximas ou sentenças de 400 até 450


O filósofo fala sobre a relação entre elevação e mérito, a oposição entre
fraqueza e virtude, a intensidade das dores da vergonha e do ciúme em contraste
com a vaidade, a importância da decência como uma lei observada, a facilidade
de submeter-se a mentes tortuosas em vez de direcioná-las, as dificuldades de
manter-se em um lugar de destaque sem um caminho gradual, o aumento do
orgulho ao suprimir outros defeitos, a ausência de amor no galanteio, a utilização
dos defeitos por parte da fortuna para elevar certas pessoas, a revelação de
talentos e habilidades desconhecidos pelas paixões.
Ele continua argumentando sobre a dificuldade de ser natural devido ao
desejo de parecer natural, a participação nas belas ações ao elogiá-las
sinceramente, a falta de inveja como marca verdadeira de possuir grandes
qualidades, a indiferença diante dos sinais de amizade quando amigos nos
enganam, o papel da fortuna e do temperamento na governança do mundo, a
dificuldade de conhecer um homem em particular em comparação com o homem
em geral, e a felicidade na ignorância em amizade e amor.

Máximas ou sentenças de 451 até 503


Nessas máximas o autor discute várias questões sobre a natureza humana,
abordando temas como talento, bondade, preguiça, maledicência, paixão,
avareza, orgulho, juventude, beleza, amor, amizade, inveja, negócios,
julgamentos. Destaca-se a ideia de que os seres humanos muitas vezes não
reconhecem seus próprios defeitos e tendem a valorizar qualidades que não
possuem. Também menciona que nossos inimigos podem ter uma visão mais
acurada sobre nós do que nós mesmos. A velhice é vista como uma fase em que
os prazeres da juventude são proibidos, e o orgulho pode levar ao desprezo
pelas boas qualidades que não possuímos.

Máxima ou sentença moral 504


O autor discute a falsidade do desprezo pela morte, afirmando que é difícil
acreditar sinceramente nessa atitude. Embora muitos tenham escrito sobre a
morte como algo não tão terrível, o autor duvida que alguém de bom senso
realmente acredite nisso. Ele argumenta que, mesmo aqueles que tiram a própria
vida, não a consideram trivial quando chega por outros meios. A coragem diante
da morte varia entre as pessoas, e muitos acabam temendo aquilo que
conhecem. O autor sugere que não devemos encarar a morte em todas as suas
circunstâncias, pois isso pode levar a vê-la como o maior de todos os males. Ele
menciona que a ideia de morrer com firmeza, ser lembrado, ter uma boa
reputação e escapar das misérias da vida podem ser remédios para enfrentar a
morte, mas não devemos considerá-los infalíveis. O autor alerta que é ilusório
pensar que a morte será como a imaginamos de longe e que o amor-próprio não
pode nos ajudar a desprezá-la, pois é a própria razão que muitas vezes revela
seu caráter terrível. Ele menciona exemplos de pessoas famosas que
encontraram outros objetivos para lidar com a morte. No final, o autor sugere
desviar o olhar e pensar em outras coisas como uma forma de lidar com a morte.

Máxima suprimida depois da primeira edição: 1


O amor-próprio é descrito como um amor intenso por si mesmo e por tudo
o que é relacionado a si. Ele faz com que as pessoas se tornem egocêntricas e,
se tivessem os meios, seriam tiranos sobre os outros. O amor-próprio está
constantemente focado em si mesmo e só se interessa por assuntos externos
na medida em que pode obter benefícios próprios. Suas vontades são
impetuosas, suas intenções ocultas e suas ações habilidosas. É flexível,
transformando-se e refinando-se de maneiras inimagináveis. É obscuro e
complexo, protegendo-se dos olhos mais perspicazes e gerando uma infinidade
de afetos e ódios dentro de si. O amor-próprio tem convicções ridículas sobre si
mesmo, comete erros, é ignorante e tolo em relação a si próprio. No entanto,
consegue enxergar claramente o que está fora de si, e parece possuir uma
espécie de magia em suas paixões. É íntimo e poderoso em seus vínculos,
tentando rompê-los quando enfrenta adversidades extremas. Por vezes, ele
consegue fazer isso em pouco tempo e sem esforço, enquanto que durante anos
não conseguiu. Isso sugere que seus desejos são despertados por ele mesmo,
e não pela beleza ou mérito dos objetos em questão. O amor-próprio é uma
mistura de características opostas: é imperioso e obediente, sincero e
dissimulado, misericordioso e cruel, tímido e audacioso. Ele se adapta aos
diferentes temperamentos e se dedica à glória, às riquezas ou aos prazeres
conforme o momento e as circunstâncias. Está presente em todas as situações
e condições da vida, adaptando-se e vivendo de tudo e de nada. O amor-próprio
até mesmo se alia aos inimigos, conspirando contra si mesmo e trabalhando para
sua própria ruína. Sua única preocupação é existir, e aceita ser seu próprio
inimigo, mesmo quando parece se destruir. O amor-próprio é retratado como
uma constante agitação, comparável ao fluxo e refluxo do mar, refletindo a
turbulenta sucessão de pensamentos e movimentos eternos.

Máximas suprimidas depois da primeira edição: 2 até 50


O autor francês discute várias reflexões sobre as paixões humanas, o
amor-próprio, a moderação, a virtude e a verdade. Destaca-se a ideia de que as
paixões são influenciadas pelo calor e frieza do sangue, e que a alegria pela
felicidade dos amigos é motivada pelo amor-próprio. O orgulho é apontado como
uma forma perigosa de cegueira, que nos impede de reconhecer nossos
defeitos. A virtude é vista como um fantasma formado pelas paixões, usado
como justificativa para fazer o que se deseja. A confiança em si mesmo influencia
a confiança nos outros. O texto também aborda temas como a imitação, a
bondade, a modéstia, a moderação, a justiça e o amor.

Máximas suprimidas depois da primeira edição: 51 até 74


As máximas tratam de diferentes temas, como a magnanimidade, a
decadência dos Estados devido ao luxo e à civilidade exagerada, a preguiça
como uma paixão insidiosa, o amor e suas complexidades, a habilidade de se
submeter ao governo dos outros, a importância de manter segredos, a mudança
de amizades por conveniência, a distinção entre virtudes e vícios, a glorificação
de crimes quando têm brilho e excesso, os limites impostos ao reconhecimento
e aos desejos, a preferência por desvendar os outros em vez de ser desvendado
e as complicações relacionadas ao amor e à infidelidade.

Máximas descartadas anteriores à primeira edição: 1 até 57


As máximas descartadas do número um até o cinquenta e sete discutem
diversos temas, incluindo a felicidade encontrada na simplicidade, a condenação
das riquezas pelo mau uso que delas fazemos, a vaidade humana, a dificuldade
em julgar as virtudes dos outros, o medo da mortalidade e o desejo de
imortalidade, a contradição entre a razão e os sentimentos humanos, a
importância da autopercepção e do autoconhecimento, a relação entre preguiça
e virtudes, a tendência em acreditar no que desejamos, o interesse como a
essência do amor-próprio e a influência do interesse na interação com os outros.
Também a zombaria como um gracejo que pode alegrar ou perturbar a
conversação e a sociedade, a importância da cortesia na zombaria, a ofensa
causada pela falta de capacidade de tolerar a zombaria e a necessidade de usá-
la com moderação com amigos e pessoas mais sensíveis.
Por fim, La Rochefoucauld discute a tendência de nos criticarmos para
sermos elogiados, a ilusão de acreditar que somos amados, a preferência por
ver aqueles a quem fazemos o bem, a dificuldade de dissimular sentimentos e a
importância do estudo dos homens.

LA ROCHEFOUCAULD, François. Reflexões ou sentenças e máximas


morais, Penguin-Companhia, 2014.

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